Rafael Ribeiro / CBF
Fernando Torres / CBF
Minas Gerais
ESPORTE
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CULTURA
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Mais uma vez, Marta
De Contagem para o mundo
A atacante Marta Vieira novamente disputa o prêmio de melhor do mundo, da Fifa. A principal concorrente é a meio-campista Carly Lloyd, dos Estados Unidos
‘Ele investiu na carreira e conseguiu conquistar o público com suas letras. Confira a trajetória de Max Souza, MC finalista de concurso nacional para talentos do Hip Hop
Lucas Santos
4 a 10 de novembro de 2016 • edição 160 • brasildefato.com.br • facebook.com/brasildefatomg • distribuição gratuita
STF vota contra trabalhadores, frentes chamam greve
BRASIL
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Ao lado de Temer e contra servidores públicos, ministros do Supremo, que ganham R$ 39 mil, decidem que trabalhador deve ter o salário cortado, caso decida usar seu direito de greve previsto na Constituição. Em resposta à onda de retrocessos promovidos pelos três poderes nas últimas semanas, movimentos chamam dia nacional de lutas e paralisações para 11 de novembro Lidyane Ponciano / SindiUTE MG e CUT-MG
Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil
GERAL
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Luta pela educação e pelo Enem Em decisão arbitrária, MEC adia exame em escolas ocupadas. Com coragem, secundaristas continuam resistindo por todo o país
Wilson Dias / Agência Brasil
MINAS
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Justiça para a Bacia do Rio Doce Atingidos percorrem região afetada por deslizamento para protestar contra mineradoras. Encontro será encerrado com ato no sábado (5)
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OPINIÃO
Belo Horizonte, 4 a 10 de novembro de 2016
Editorial | Brasil
Crime da Samarco completa um ano
ESPAÇO dos Leitores “Como pode existir este tipo de programa com tanta criança doente sem recursos? Exemplo: crianças com doenças raras e que dependem de remédios do Governo Federal e estão pendentes na Justiça. Crianças com câncer. Cadê o Hospital da Criança Feliz?” Iracema Carolina comenta a matéria “Criança Feliz” é um retrocesso, alertam trabalhadores da assistência social
“A maior tragédia ambiental no nosso país aconteceu no nosso estado, e até hoje, o crime continua... A lama ainda vaza, ninguém foi responsabilizado, as vidas foram destruídas. O lucro continua a fluir para os devidos bolsos...” Jose Geraldo Martins comenta a manchete “1 ano de lama e de luta”
“Que vergonha a Justiça desse país” Marcelo Alex comenta a edição especial “365 dias de impunidade”
Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br
Esta semana marca o primeiro ano do maior crime socioambiental da história do Brasil. Em 5 de novembro de 2015, a barragem do Fundão, localizada no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, se rompeu. A responsável é a empresa Samarco, que pertence a Vale e a BHP Billiton, duas gigantes do setor mineral. O rompimento da barragem levou morte e destruição a toda a Bacia do Rio Doce. Dezenove pessoas perderam suas vidas e mais de 1.600 foram desabrigadas. O rio, a fauna e a flora foram intensamente afetados. 41 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo sofreram impactos. Estima-se que mais de um milhão de pessoas foram atingidas. Nesse um ano, pouco foi feito no sentido da reparação aos atingidos
Um milhão de pessoas foram atingidas e da punição aos culpados. As empresas ainda não foram responsabilizadas e obrigadas a reparar os danos que causaram. Muitas famílias seguem sem suas casas e sem acesso a direitos humanos básicos. Muita coisa aconteceu no Brasil nesse um ano. Em menos tempo, o processo de impeachment da presidenta Dilma foi aberto e encerrado, resultando em mais um golpe na democracia. É estranho como a Justiça pode ser tão rápida em um caso e, no outro, tão lenta. Os movimentos populares de Minas e do Brasil exigem justiça. Não é possível mais que o povo brasileiro siga sofrendo nas mãos dessa elite
O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.
que faz o que quer há 516 anos. O crime foi fruto da ganância das grandes empresas do setor mineral. Essas empresas atuam no território brasileiro sem compromisso com o povo e com o ambiente. Seu interesse é o lucro. Por onde passam, deixam um rastro de destruição e diversos impactos. E quem sofre com esses danos sempre são os mais pobres, os/as negros/as e indígenas, as comunidades tradicionais. Triste papel A mineração desempenha um papel central na economia de Minas e do Brasil. Cabe ao país, na divisão
Brasil exporta barato e importa caro internacional da economia, a função de exportar matérias primas (como os minérios) para os países centrais. Esses países detêm a tecnologia de ponta, que usam para fabricar todo o tipo de mercadoria a partir do material bruto exportado pela periferia do mundo. Em seguida, esses países, como o Brasil, compram as mercadorias com alto valor agregado por um preço muito mais alto do que o conseguido na venda dos minérios. Essa lógica de funcionamento está presente desde que Portugal colonizou este território. Foi assim com o pau-brasil, com o ouro, com a cana, com a soja, o gado e o petróleo. Para que nunca mais ocorram crimes como o da Bacia do Rio Doce, é preciso que o povo brasileiro passe a decidir soberanamente sobre o uso das riquezas do país.
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conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Adriano Ventura, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Cida Falabella, Durval Ângelo Andrade, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Frei Gilvander, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Laísa Silva, Marcelo Oliveira Almeida, Milton Bicalho, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Samuel da Silva, Temístocles Marcelos, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Larissa Costa, Pedro Rafael Vilela, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes e Wallace Oliveira. Colaboradores: Alan Tygel, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, João Paulo Cunha, Léo Calixto, Rogério Hilário, Sofia Barbosa. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Administração: Vinicius Nolasco. Distribuição: Amélia Gomes. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares.
Belo Horizonte, 4 a 10 de novembro de 2016
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“Pra mim é crime. Eles já sabiam da possibilidade da tragédia acontecer. É tanto recurso pra medir, evitar, mas nada foi feito. Quem foi afetado foi a população pobre, índio, etc. Se isso tivesse acontecido na Zona Sul, já tinha sido resolvido na Justiça”.
“Eu vejo como crime. As empresas foram avisadas do rompimento, algo tinha que ser feito antes da tragédia. Por outro lado, é difícil também que os funcionários fiquem sem emprego. Eles também estão sofrendo com a mineradora paralisada”.
Rogéria Cássia Nascimento, 60 anos
Gláucio Venâncio, 42 anos
Dicas para se dar bem no ENEM
Mais de 9,2 milhões de estudantes de todo o Brasil se preparam para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que acontecem no próximo fim de semana (dias 5 e 6 de novembro). Para uma prova tranquila, algumas regras são indispensáveis. Confira: 1. Na véspera da avaliação, descanse. Não gaste as últimas madrugadas tentando rever as matérias já estudadas, dê atenção ao seu sono. 2. Confirme o local das provas com antecedência. Pesquise o trajeto com calma, saiba como chegar ao endereço. 3. Alimente-se bem na véspera e no dia da prova. Nada de exageros e nem de estômago vazio. Frutas e sanduíches leves são recomendados. 4. Separe o material: caneta preta, feita de material transparente, e um documento oficial com foto. 5. Ao receber o cartão de respostas e a folha de redação, confira todos os seus dados. Certifique-se que não esqueceu de preenchê-los. 6. Nada de selfie! Lembre-se que tirar fotos da avaliação, cartão de respostas ou de si mesmo na sala pode causar eliminação. O MEC monitora as redes sociais. Boa prova! Com informações do Grupo A Educacional
arquivo pessoal
Para você, foi um crime o que aconteceu em Mariana?
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Declaração da Semana
PERGUNTA DA SEMANA
O rompimento da barragem de Fundão, gerida pela Samarco (Vale/BHP), irá completar um ano no dia 5 de novembro de 2016. O incidente deixou mortos, feridos e muitos desabrigados.
GERAL
“Na maioria das ocupações a rejeição é mínima. A maioria está do lado da educação, porque eles sabem que a PEC 241 é uma cilada e que o ENEM é necessário”. Bruna Helena, vice-presidente da UBES em entrevista sobre as ocupações e o ENEM
Reprodução de vídeo
BOMBOU NA REDE Um ator da Trupe Olho da Rua, grupo de teatro de Santos (SP), foi preso no último domingo (30) durante apresentação do espetáculo “Blitz - O império que nunca dorme”, que critica a truculência da Polícia Militar. Segundo os artistas, a PM teria interrompido a encenação e apreendido os materiais que compunham o cenário. Um vídeo publicado nas redes sociais mostra o momento em que Caio Pacheco, também diretor e produtor da peça, é algemado e levado até a delegacia para prestar depoimentos sobre a montagem. Internautas se manifestaram contra a medida e compararam o caso aos que aconteciam durante o regime militar. “Grupo proibido de falar da PM com arte? Bem vindos à ditadura”, comentou um usuário.
ENEM adiado em escolas ocupadas
Reprodução
O Ministério da Educação (MEC) divulgou, na quarta (2), que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) será adiado nas escolas ocupadas. Em Minas, são 59 instituições, ocupadas por estudantes que criticam a retirada de investimentos na educação. As provas devem ser aplicadas nos dias 3 e 4 de dezembro, prejudicando cerca de 2% dos inscritos. A medida desrespeita acordo firmado entre Ministério Público (MP) de Minas e estudantes, que haviam se comprometido com a realização do exame em harmonia com as manifestações.
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CIDADES
Belo Horizonte, 11 a 17 de março de 2016 Belo Horizonte, 4 a 10 de novembro de 2016
“Quanto mais se nega a política, mais o conservadorismo ganha”, alerta professor ELEIÇÕES Alternativa seria o aumento da participação popular Arquivo Pessoal
Wallace Oliveira
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as primeiras eleições após o golpe, partidos tradicionais, como PMDB e PSDB, foram os maiores beneficiados em todo o país. Ao mesmo tempo, o número de eleitores que não escolheram nenhum candidato cresceu consideravelmente. Em muitas cidades, a negação da política foi o mote do marketing eleitoral. Para discutir esses temas, o Brasil de Fato MG conversou com o professor Claudemir Francisco Alves, membro da coordenação do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) da PUC Minas. Brasil de Fato – Em várias cidades, a soma dos votos nulos, brancos e abstenções superou a votação do primeiro colocado. Além disso, a proporção de nulos e brancos aumentou cerca de 80% no Brasil, em comparação com o pleito de 2014. Como você interpreta esse fenômeno?
Esta foi uma eleição esvaziada de conteúdo político”
Negar a política beneficia sempre os mais conservadores”
Claudemir Francisco Alves – Primeiramente, é preciso constatar que esta foi uma eleição esvaziada de conteúdo político. Como costuma acontecer no pleito municipal, as propostas são muito genéricas e não mobilizam o eleitor por não discutirem os problemas reais. Então, as eleições municipais costumam ser, de todas as esferas, as mais despolitizadas. Os debates não tocam naquilo que realmente afeta a vida da população. Em segundo lugar, muitos eleitores mostram uma descrença naquilo que os candidatos propõem. Embora o eleitor comum não saiba explicar as disputas ideológicas, ele tem uma vaga impressão de que tudo aquilo que se ouve nas campanhas é genérico demais e de que, afinal, as promessas não serão cumpridas. Em terceiro lugar, neste ano, os candidatos não contribuíram muito para superar esse problema. Em Belo Horizonte, por exemplo, o candidato João Leite
(PSDB) começou o segundo turno fazendo um apelo emocional ao eleitor que se absteve de votar no primeiro turno, mas essa estratégia não deu certo. Ele viu que já havia batido no teto das pesquisas e resolveu abandonar essa abordagem.
A abstenção é resultado da campanha da grande mídia de destruição da política” O que fica como alternativa para quem optou por não ir às urnas ou escolheu votar em “ninguém”? Aqui está o ponto crucial do debate. Hoje, não temos alternativas reais para esse eleitor. A alta taxa de abstenção é resultado da campanha da grande mídia de destruição da política, de
tentar fazer com que a política seja vista como uma coisa suja. Qual alternativa teríamos a isso? A participação efetiva da população. Entretanto, vimos, de Norte a Sul, o crescimento de partidos conservadores – justamente os que são contra o incremento da participação popular. Se a participação seria a alternativa e quem nega isso é quem mais cresceu eleitoralmente, então, estamos em um beco sem saída no curto prazo. A situação de quem não votou não é diferente de quem votou no menos pior. Esse cidadão fez uma escolha não por se identificar com determinado projeto, mas por rechaçar o projeto adversário. A falta de alternativa toca a todos os cidadãos, não apenas a quem não foi votar. O maior número de prefeituras perdidas pelo PT foi para o PSDB e o PMDB. Além disso, esses dois partidos têm o maior número de prefeituras, quanto o governo de municípios com as maiores populações. Esse contexto de descrédito da política e dos partidos beneficia os partidos tradicionais?
Negar a política beneficia sempre os mais conservadores. As manifestações de 2013, por mais que tenham começado por movimentos bem intencionados, foram aos poucos sendo apropriadas. Após o grito “vocês não me representam”, vimos que, em 2014, elegemos um dos congressos mais conservadores de nossa história. Esse é um ponto pacífico nos estudos: quanto mais se nega a política, mais o conservadorismo ganha. É por isso que temos visto o crescimento dos candidatos vinculados aos partidos que conduziram o golpe de Estado recente. Por outro lado, não dá para exagerar o significado desse crescimento. Por exemplo, o PSDB ganhou pouco menos de um terço das grandes cidades do país, mas o presidente da sigla, Aécio Neves, perdeu em BH, com a derrota de João Leite. Por mais que seu partido possa vir a participar da gestão Kalil, ele sofreu uma significativa derrota. Além disso, eu não sei se a importância de uma prefeitura é mensurável apenas pelo tamanho da população do município. Embora seja uma análise possível, não podemos absolutizar tal informação. O voto é sempre muito volátil. O fato de ter grande votação nesta eleição obedece a fatores da conjuntura. Um terço das grandes cidades será governado pelo PSDB, mas isso não significa que o eleitorado tenha identificação ideológica com o PSDB.
Confira a íntegra desta entrevista no site www.brasildefato.com.br
Belo Horizonte, 4 a 10 de novembro de 2016
Marcha de Regência a Mariana marca um ano do rompimento da barragem da Samarco LUTA Cerca de 400 atingidos visitaram comunidades ao longo da Bacia Rio Doce Lidyane Ponciano / SindiUTE MG e CUT-MG
Larissa Costa De Barra Longa (MG)
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ove municípios da bacia do Rio Doce visitados, mais de 700 km rodados e 400 atingidos por barragens esbanjando disposição para resistir aos impactos que o modelo de mineração causa na vida das comunidades e do ambiente. Assim aconteceu a marcha “1 Ano de Lama e Luta”, que partiu de Regência, no litoral do Espírito Santo, e chegou a Mariana, na região central de Minas Gerais. Organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a jornada marca o um ano do rompimento da barragem de Fundão, de propriedade da Samarco/Vale/ BHP Billiton, localizada no distrito de Mariana, em Bento Rodrigues. “O nosso objetivo é ouvir da população como está a situação depois desse tempo. Simbolicamente vamos devolver os rejeitos à empresa criminosa”, explica Joceli Andriolli, do MAB de Minas Gerais. Mesmas queixas De Regência a Mariana, atingidos relatam problemas
similares causados pelas toneladas de lama tóxica derramadas no Rio Doce. Trabalhadores que dependiam do rio perderam sua fonte de renda. Moradores de cidades grandes ou pequenas lamentam a inexistência de água potável. Rosana Firmino mora em Regência desde que nasceu e se entristece por não ter mais como trabalhar. “Eu era marisqueira, mas agora, com a lama, eu não tenho mais como trabalhar. Não posso
mudar de cidade com duas filhas pequenas para criar. A lama acabou com nosso trabalho e com nosso lazer, porque não podemos nem mais tomar banho de mar”, lamenta. A moradora de Colatina (ES) Maria de Fátima Ribeiro reclama que a má qualidade da água é o principal impacto que a lama levou para sua cidade. “De manhã a gente abre a torneira e a água vem com um cheiro muito forte. Moro aqui há 36 anos e nunca passamos por isso”, diz indignada. Leandro Taques / MAB
Já em terras mineiras, em Cachoeira Escura, distrito de Belo Oriente, o problema do acesso à água potável se tornou recorrente entre as famílias atingidas. Maria Chagas conta que tem que buscar água em uma bica improvisada pelos moradores no lote em frente à sua casa. “Quando tem muita gente dentro de casa, nesse tempo de calor, eu vou lá três vezes por dia. Às vezes a aguinha some, depois aparece de novo. É gente demais pra pegar água ali. É uma peleja muito grande”, relata. Encontro Em Mariana, um Encontro do MAB acontece nos dias 3 e 4 de novembro e, no sábado (5), uma manifestação em Bento Rodrigues encerra a jornada “um ano do crime”. Ao todo, o evento conta com a participação de 800 pessoas, além das 400 que já estavam na marcha.
MINAS
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Mídia Democrática na Praça Sete Muito se fala em Democratização da Comunicação, mas pouco se enxerga suas saídas concretas. Por isso o Comitê Mineiro pela Democratização da Comunicação (FNDC-MG) organiza na quarta (9) o Dia pelo Direito à Comunicação, na praça Sete Setembro das 15h às 19h. “A proposta da intervenção é mostrar que existem outras maneiras de comunicar e informar a sociedade, para representar a pluralidade, e a diversidade dos pontos de vistas, das realidades que a compõem”, explica Florence Poznanski, secretária geral do FNDC. A intervenção vai ocupar os quatro quarteirões da praça com esquetes, mural dos invisibilizados e oficinas de teatro do oprimido. Saiba mais: migre.me/vpGAy
Trabalhadores da saúde protestam Trabalhadores da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) contestam a política de corte de gastos entregue pelo governo aos diretores das unidades hospitalares. A proposta pode atingir o serviço de segurança da Fundação, entre outras áreas. Na segunda (31), cerca de 300 servidores protestaram em frente à sede da entidade. Na terça, a diretoria da Fhemig esteve reunida com representantes de sindicatos. “Para os sindicalistas, a ação desastrosa é ilegal, explora o trabalhador e gera risco à saúde pública”, afirma, em nota, o Sind-Saúde.
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MINAS
Belo Horizonte, 4 a 1011 deanovembro de de 2016 Belo Horizonte, 17 de março 2016
Opinião
Precisamos falar sobre religião João Paulo Cunha Em muitas análises dos resultados das eleições esteve presente o fator religião, que, ao lado do chamado “não voto”, parecem ter sidos os protagonistas mais indesejados. Quase sempre a religião foi tratada de maneira crítica, como se explicitasse um erro, um retrocesso, uma antiga reedição da mistura entre interesses do Estado e da Igreja. Outra avaliação negativa remarca o papel conservador da pauta defendida pelas igrejas neopentecostais. O fundamentalismo que começa na visão de mundo se traduz primeiro na constrição moral repressiva para se afirmar numa divisão social que teologiza a política. Talvez seja o momento de se pensar outro sentido para o crescimento da expressão religiosa na política. À esquerda e à direita, atravessamos um momento de redução epistemológica, com a retirada de outras dimensões que não aquelas consideradas estritamente racionais e científicas. Basta
trocar a palavra para ver que há algo a ser considerado: em vez de religião, falemos de espiritualidade. A forte inclinação do eleitorado por apelos no campo da espiritualidade não indica um caminho? Nem recusar nem se submeter: compreender. Algumas gerações atrás, era comum con-
A inclinação do eleitorado por apelos da espiritualidade podem indicar um caminho siderar a dimensão religiosa. Havia a vertente conservadora herdeira do catolicismo tradicional, com sua caridade desmobilizadora; e as tentativas de diálogo com a ciência da história, que veio a dar na teologia da libertação. Nos dois casos, independentemente da ideologia, parecia haver a certeza de um campo que merecia cuidado: a espiritualidade.
Com o tempo, a espiritualidade foi se tornando uma ausência na política. Talvez por isso tenha retornado pela porta dos fundos, da pior maneira possível. Quase sempre empurrada para o terreno das decisões íntimas, quem sabe tenha chegado a hora de se inclinar novamente para a verdadeira dimensão da espiritualidade em política? É uma provocação que parece difícil para alguns de nós. O gesto inicial é de recusa e crítica. Sobretudo quando a onda vem atravessada por representantes do atraso como Malafaias, Crivelas, Macedos, Felicianos e outros. Mais difícil ainda quando sublinham pautas reacionárias, machistas, desumanas, alienantes e homofóbicas. Um profeta judeu, que depois se tornou preso político, propôs há alguns séculos separar o joio do trigo. Ultimamente, a tarefa tem sido feita com o intuito de jogar fora o trigo. É pelos homens que temos que levar Deus a sério, mesmo que não acreditemos Nele. A religião é importante demais para ficar nas mãos de picaretas do eterno. (Leia a íntegra no site)
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Belo Horizonte, 4 a 10 de novembro de 2016
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OPINIÃO
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Isis Medeiros
Evandro Rodney / Imprensa MG
Na edição 159... Maduro cria sessão permanente pela paz e estabilidade no país ...E agora Governo e oposição se reúnem A primeira reunião formal de diálogo entre o governo venezuelano e a oposição aconteceu na segunda (31). Estavam presentes o presidente do país, Nicolás Maduro, cinco representantes da aliança antichavista Mesa da Unidade Democrática (MUD) e mediadores da Unasul e do Vaticano. Como primeira decisão, foi estipulada a criação de mesas de trabalho que tratarão de quatro pautas principais: soberania, reparação de vítimas, cronograma eleitoral e situação econômica da Venezuela. A coordenação das áreas ficará a cargo da União de Nações Sul Americanas (Unasul) e da Igreja. A próxima reunião de diálogo está marcada para o dia 11 de novembro. Na edição 158... Mulheres argentinas realizam greve feminina no país... ...E agora Brasil registrou mais de cinco estupros por hora em 2015 De acordo com o 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado na quinta (3), em 2015, o Brasil registrou 45.460 casos de estupro, sendo 24% nas capitais e Distrito Federal. Em média, mais de cinco pessoas são estupradas por hora no país, contando apenas os casos que foram denunciados.
PARQUE DO IBITIPOCA Na cidade de Lima Duarte (MG) encontra-se o distrito de Conceição do Ibitipoca e, dali a três quilômetros, a entrada do Parque Estadual do Ibitipoca. O local possui diversas cachoeiras e opções de trilha. Um ótimo destino para quem quer conhecer melhor o estado!
Padre João
Beatriz Cerqueira
Faz um ano o crime da Samarco/Vale/BHP Billiton com o rompimento da barragem em Mariana. Dezenove pessoas morreram. Até agora ninguém foi preso. Quer maior afronta ao direito humano do que isto? A vida de dezenas de pessoas foi ceifada e tudo parece normal. Os prejuízos econômicos são incalculáveis: casas, lavouras, bens móveis, documentos pessoais, história, meios de sobrevivência, locais de expressão de fé, de convivência social, de cultura, tudo destruído. Uma bacia inteira, com 700 km de extensão, morta. Espécies, biodiversidade e um ecossistema destruído. Existe ainda um passivo incalculável, que ninguém consegue medir nem reparar, o lado emocional, a história das pessoas e sua convivência com o rio. O rio agora virou um perigo. Temos que rever o modelo de desenvolvimento adotado. Exploração descontrolada dos recursos naturais, busca desenfreada pelo lucro, sem nenhuma preocupação com a vida, com pessoas, comunidades Tamanho do crime é e com o meio ambienincalculável te, aliado ao relaxamento dos órgãos de fiscalização e controle vão continuar produzindo resultados assim. O que temos visto é pressão do poder econômico para mudar as regras nos procedimentos de licenciamento ambiental. Qual será o resultado disso? Não precisamos de nenhuma bola de cristal para prever. Vamos continuar nossa luta pelo desenvolvimento sustentável, com respeito à vida e ao meio ambiente. Cobrando das empresas responsáveis pelo crime cometido, a reparação e mitigação dos danos. Que nenhuma pessoa fique sem seus direitos. E vamos intensificar nossa luta pela melhoria no novo Código da Mineração.
O I Encontro dos Movimentos Populares em diálogo com o Papa Francisco, em outubro de 2014, em Roma, não seria mais um evento na agenda da Igreja, mas o início de uma caminhada de escuta, compromissos e denúncias. Ao abrir as portas do Vaticano para lideranças populares, pela primeira vez na história, muitas delas perseguidas e ameaçadas de morte em seus países, o Papa Francisco selou um compromisso com os excluídos. Em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, no II Encontro, realizado em 2015, ele abraçou e escutou os movimentos latinoamericanos num momento em que o continente sofria (e ainda sofre) forte ataque das forças conservadoras, numa rearticulação que passa por desesPapa luta contra tabilizar econômica e poliexclusão ticamente vários países e financiar golpes de Estado. Ali o Papa reafirmou que esse “sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, os trabalhadores, as comunidades, os povos, nem a Terra”. Assim, neste diálogo permanente, o Papa contribui para arrancar da invisibilidade a luta e resistência de vários povos contra a exclusão e a miséria. Ele novamente abre as portas do Vaticano para um novo encontro. O III Encontro Mundial aconteceu de 2 a 5 de novembro no Vaticano. E neste novo encontro, além de reafirmar o compromisso com os 3 Ts - Teto, Trabalho e Terra – trabalhou o tema “Povo e Democracia: Território, Natureza e Refugiados”. Como nos disse o Papa em Santa Cruz de La Sierra, “digamos NÃO às velhas e novas formas de colonialismo. Digamos SIM ao encontro entre povos e culturas.”
Papa Francisco abre as portas Um ano de crime, sem punição para lideranças populares
Beatriz Cerqueira é professora, coodernadora-geral Padre João é deputado federal e presidente da Comisdo Sind-UTE/MG e presidenta da CUT/MG. são de Direitos Humanos e Minorias da Câmara
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BRASIL
Belo Horizonte, 4 a 10 de novembro de 2016
Movimentos prometem parar o país contra ataques aos direitos sociais TRABALHO Ato acontece dois dias após STF votar recurso pela terceirização ampla, geral e irrestrita Reprodução
Da redação
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enhum ataque aos direitos das brasileiras e brasileiros será tolerado. É o que prometem movimentos organizados nas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo. No dia 11 de novembro, eles realizam, em todo o país, atividades do Dia Nacional de Greve e Paralisações. O objetivo é protestar contra o governo não eleito de Michel Temer (PMDB), a liberação generalizada das terceirizações e a PEC 55 (antiga 241), que acabará com os investimentos em serviços públicos essenciais à população, como saúde e educa-
ção, mas não limitará os benefícios concedidos a banqueiros, juízes, parlamentares e grande mídia. Terceirização Dois dias antes da manifestação, o Supremo Tribunal Federal (STF) votará um recurso contra decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que definiu a terceiri-
zação praticada pela Cenibra (Empresa Brasileira de Celulose) como “transferência fraudulenta e ilegal” de mão de obra. Se o recurso for aprovado pelo STF, abre precedentes para que todas as instâncias da Justiça permitam terceirizações em outras empresas e setores, incluindo a atividade-fim da empresa. Segundo sindica-
listas, seria um ataque frontal aos direitos dos trabalhadores. Serviços destruídos A Proposta de Emenda à Constituição 55 é outro alvo dos protestos. A medida já foi aprovada na Câmara dos Deputados em dois turnos, com o nome de PEC 241. A medida vai à votação no Senado, também em dois turnos. De acordo com a proposta, todos os gastos primários do orçamento da União serão congelados por dez anos, podendo o congelamento ser prorrogado por mais dez. Os gastos primários incluem todas as despesas do governo,
exceto o que vai para o pagamento da dívida pública. Se a PEC for aprovada, os investimentos não poderão aumentar até 2037, por mais que a população continue crescendo e mesmo que a economia volte a crescer. Entrega do petróleo Outro alvo dos protestos é a entrega do pré-sal a empresas estrangeiras. No dia 5 de outubro, a Câmara aprovou o Projeto de Lei 4567/16, que define que não é mais obrigatória a participação da Petrobras na exploração do Présal, com pelo menos 30% do que fosse extraído.
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Belo Horizonte, 4 a 10 de novembro de 2016
STF e governo fazem de tudo para conter greves no serviço público RETROCESSO Decisão do Supremo permite corte de salário de servidores que aderirem a protestos Marcelo Camargo / Agência Brasil
Pedro Rafael Vilela de Brasília (DF)
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m meio ao aumento de protestos e mobilizações contra medidas do governo não eleito de Michel Temer, o Supremo Tribunal Federal (STF) tomou uma decisão, na semana passada, que, na prática, pode ajudar o governo a conter mobilizações. Por 6 votos a 4, os ministros entenderam que os órgãos públicos devem cortar, de forma imediata, o salário de servidores que paralisarem suas atividades para pressionar por melhores condições de trabalho e remuneração. A maioria dos ministros acompanhou o entendimento do relator, Dias Toffoli. A única exceção, para não haver descontos nos salários, será nos casos em que a paralisação for motivada pelo não pagamento de salário por parte do órgão público. Esse entendimento, embora tenha sido formulado para um processo específico, abre precedente e deve orientar a decisão de outras instâncias em casos semelhantes. Representantes das maiores centrais sindicais do país repudiaram a decisão, afirmando que ela esvazia o direito de greve, que é constitucional. Magistrados e especialistas também criticam o resultado do julgamento no STF. “Se você entrar em greve, para protestar por melhores condições de trabalho, por igualdade de gênero, contra o arrocho, pela democracia, pela
saúde, pela segurança, pela educação, ficará sem salário. Não importa se a reivindicação é justa. Não importa se é um direito. Não importa se não é abusiva. Não importa”, escreveu a professora Eloísa Machado de Almeida, coordenadora da FGV Direito, em São Paulo. Como não há uma lei específica para regular a greve no setor público, o STF estabeleceu uma equivalência com a lei de greve dos trabalhadores da iniciativa privada, que ficam sujeitos ao corte de salário, desde que autorizado pela Justiça. Com o servidor público, porém, esse corte deve-
Se a PEC 241 for aprovada, a escolha é entre a morte e a greve”, avalia professora
rá ser imediato. Mais cortes pela frente Na opinião da professora de Direito Eloísa Machado, a decisão do STF parece ter sido feita “sob encomenda” no contexto de tramitação da Proposta de Emenda Constitucional nº 241, conhecida como PEC do Teto dos Gastos, aprovada na Câmara e que agora está em discussão no Senado (como PEC nº 55). Se aprovada, a medida vai congelar investimentos públicos pelos próximos 20 anos, o que deve ampliar a precarização e inviabilizar aumento real no salário dos servidores. “A PEC 241 seria objeto de muitos protestos. A situação que se desenha é curiosa. Se protestar, o salário é cortado e a opção é entre a vida e a greve. Se não fizer protesto e a PEC 241 for aprovada, a escolha é entre a morte e a greve”, critica. Até ministros do Supremo admitiram o temor de
Centrais alertam que medida contraria direito de greve uma onda generalizada de greves no país para justificar a medida de contenção. “É preciso estabelecer critérios para que nós não permitamos que se possa parar o Brasil”, afirmou Luiz Fux, que votou pela aprovação do corte de salários. Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, a escolha do Supremo é um atentado à democracia. “A greve, é conflito inerente às relações de trabalho em uma sociedade democrática. Um país democrático deve regulamentar a negociação coletiva no serviço público e não punir os trabalhadores”, ressaltou.
BRASIL
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Gasto com propaganda para cortar gastos Governo não eleito de Michel Temer faz campanha publicitária para defender a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, antiga PEC 241. A PEC está sendo chamada de “teto de gastos públicos” e vai cortar verbas principalmente da saúde e educação. Enquanto isso, o governo repassou R$ 20 milhões somente para as TVs, referente à propaganda da PEC. Além disso, ofereceu dois jantares luxuosos para os parlamentares, às vésperas das votações, como forma de conseguir apoio para a aprovação.
Juiz que autorizou tortura no DF será denunciado A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) anunciou que entrará com uma representação no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra o juiz Alex Costa de Oliveira, da Vara da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Alex autorizou o uso de práticas de tortura contra alunos que ocupam escolas em Brasília e cidades-satélites. Entre as medidas autorizadas pelo juiz, contam o corte de água, luz e gás, bem como o uso de sons para impedir que os manifestantes durmam à noite.
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MUNDO
Belo Horizonte, 4 a 10 de novembro de 2016
Coreia do Sul vive crise após escândalos de corrupção FRAUDE Acusações envolvem presidente do país, Park Geun-hye, e sua ‘braço direito’, Choi Soon-sil Reprodução
Da redação*
A
s últimas semanas têm sido de grande crise política na Coreia do Sul. Isso porque a então presidente Park Geun-hye, filha de exditador e primeira mulher a ocupar o cargo, estaria envolvida em graves escândalos de corrupção e nepotismo, motivos que ocasionaram pedidos de renúncia por parte da população. A situação começou quando a chefe de Estado foi alvo de rumores que a acusaram de ser aconselhada por uma amiga íntima, Choi Soonsil. Choi, mesmo sem exercer qualquer cargo público, decidiria desde a cor de
roupa usada pela presidenta até participar da formulação de discursos e decisões políticas, possuindo, também, acesso a informações confidenciais. Além disso, ela teria arrecadado US$ 70 milhões - que equivalem a aproximadamente R$ 222mi - em doações da Federação
de Indústrias Coreanas para duas ONGs, desviando parte da verba para sua conta. Existem suspeitas de que a conselheira tenha se aproveitado das suas condições também para que sua filha fosse aceita em uma das melhores universidades do país.
As suposições foram posteriormente confirmadas pela própria presidenta, que acabou por assumir que recebeu “aconselhamentos”. No entanto, no esclarecimento, Park afirmou que as alterações de Choi só foram utilizadas em 2012, ano de sua campanha presidencial, e em 2013, quando ela acabara de iniciar seu mandato. Manifestações A população organizou manifestações que pediam pela saída da presidenta e prisão da amiga. No dia 01, Choi Soon-sil foi detida de forma preventiva. Ela negou as acusações. (*Com informações do OperaMundi)
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Belo Horizonte, 4 a 10 de novembro de 2016
ENTREVISTA
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“A paz se conquista somente quando há a garantia de direitos para ter uma vida digna” COLÔMBIA Jovem analisa o contexto social atual de seu país e das semelhanças com outros lugares Levante Popular da Juventude
Rafaella Dotta
A
Colômbia passa por um dos momentos mais delicados da política do país. Depois da população rejeitar um plebiscito sobre o acordo de paz entre movimentos guerrilheiros e governo, paira no ar o receio da retomada do conflito armado, no qual mais de 200 mil pessoas já morreram. Júlian Reyes, integrante da organização Congreso de los Pueblos conta como sobrevive a juventude colombiana e quais as semelhanças com os jovens de toda a América Latina, perpassados por outros tipos de problemas, como a crise econômica e o golpe político no Brasil. Realista sem ser pessimista, Júlian é taxativo em sua avaliação de que “ser jovem significa força”, e que neste caso significa também “luta”.
Brasil de Fato MG: O que defendem os movimentos populares da Colômbia hoje? Júlian Reyes: Entendemos que é preciso avançar no processo de paz, nos processos de diálogo com o governo. Mas é preciso abrir es-
Em todas as famílias colombianas ou há um militar, ou um policial, ou um guerrilheiro, ou há uma liderança popular”
paços para que a sociedade diga o que entende pela ideia de paz. Para nós, a paz se conquista somente quando há a garantia de direitos para uma vida digna. A garantia de direitos inclui um país soberano, que se autodetermine, que tenha soberania alimentar, soberania minerária e energética, que não tenha a “estrangeirização” da terra. Como está a situação da juventude na Colômbia hoje? A população jovem da Colômbia, neste momento, é composta pelos filhos dos conflitos no país. Nos últimos anos nasceram pessoas que obrigatoriamente tiveram que conviver com o conflito. Em todas as famílias colombianas ou há um militar, ou um policial, ou um guerrilheiro, ou há uma liderança popular. A juventude que nasceu nas décadas de 1990 e 2000 sofre as pressões e resultados de mais de 50 anos de conflito. Um dos efeitos é a violência econômica, pois faltam oportunidades de trabalho. É uma juventude que tem vinculação direta com a guerra, sobretudo as cama-
das mais baixas. Segundo as estatísticas do Estado, são as classes populares que têm sido o corpo da guerra durante esses últimos anos.
Durante o processo de articulação da juventude em luta, fizemos um diagnóstico de quais são os problemas da juventude. Vimos que temos um problema comum na América Latina: o extermínio da juventude. Na Colômbia isso envolve os conflitos armados internos que têm colocado milhares e milhares de jovens abaixo de balas. Mas também há uma juventude que tem sido perdida por causa das drogas e na proposta de consumo capitalista. No Brasil, no Rio de Janeiro, assassinam 9 jovens diariamente, que são negros, da periferia, da favela, homossexuais. Na Argentina está acontecendo o mesmo com o “gatilho fácil”, que é uma estratégia do Estado para eliminar os jovens. Na América Central, parece haver uma inclinação maior à eliminação das mulheres.
Como a juventude colombiana se organiza? Os jovens estão se organizando em coletivos de base, em grupos locais, regionais e nacionais, em movimentos nos quais participam camponeses, estudantes, trabalhadores de bairro, de fábrica e secundaristas. Um dos nossos argumentos é que ser jovem é ser um potencial. Ser jovem significa força. Um potencial que pode ser aproveitado pela direita, para reproduzir o sistema. Ou que pode ser aproveitado pelas forças que querem transformar a sociedade, para manter os processos revolucionários. É possível enxergar características semelhantes nos jovens da América Latina?
Elas são tratadas como mercadorias, com a possibilidade de venda de seus corpos, de venda de mão de obra barata.
Ser jovem significa força”
De que forma a crise atinge a juventude latino-americana? Os jovens sofrem diretamente com toda a crise que está vivendo o capital, atra-
O extermínio da juventude acontece em quase todos os países do América Latina”
A solução é somente o levantamento popular” vés, por exemplo, da restrição de direitos trabalhistas. Os jovens que estão nas fábricas terão mais horas de jornada, menos salários, menos saúde, piores condições em geral. E a maior parte não tem acesso à educação superior, o que significa maior submissão ao emprego que usa mão de obra barata, que se pode comprar a qualquer valor. É isso que as multinacionais estão fazendo na Colômbia, Equador, Bolívia e México, principalmente. Como os jovens conseguirão sair deste estado de coisas? Me parece que, com a crise que vive o mundo, a solução é somente o levantamento popular. Os acordos com os Estados e com as instituições de poder já não são mais suficientes. Estamos em um novo momento histórico e devemos entendê-lo como um momento para nos organizarmos. Compartilhamos os mesmos problemas e temos que compartilhar as soluções também, e isso só se fará com luta.
Os jovens sofrem diretamente com toda a crise que está vivendo o capital”
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VARIEDADES
Belo Horizonte, 4 a 1011 deanovembro de de 2016 Belo Horizonte, 17 de março 2016
Amiga da Saúde Amiga da saúde, meu bebê tem 3 meses. Não sinto mais a moleira dele. Parece que já está fechada. Tem algum problema nisso?
Liz Duque, 23 anos, estudante Tem problema sim, Liz. As moleiras (ou fontanelas), são membranas fibrosas que ficam entre os ossos da cabeça, que não estão totalmente formados. Esse “espaço” permite que durante o parto os ossos do crânio se sobreponham, permitindo a passagem da cabeça do feto pelo espaço estreito da vagina. Além disso, as fontanelas permitem o crescimento e desenvolvimento normal do cérebro. A fontanela an-
terior (região superior da cabeça), deve fechar, normalmente entre os nove e os 18 meses. Fechamento precoce é conhecido como cranioestenose e pode gerar um formato deformado da cabeça, além de alterações neurológicas. Você precisa levar seu filho para avaliação com cerca urgência, pois quanto antes o diagnóstico e o tratamento, menor o risco de sequelas na criança.
Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br
Nossos direitos Reforma da Previdência: o que está em jogo? Sob alegação de existir um rombo nas contas da Previdência Social, somado ao fato de os brasileiros estarem vivendo mais, o governo usurpador de Michel Temer vai enviar neste mês ao Congresso uma proposta de Reforma da Previdência. Serão afetados todos os trabalhadores ativos. O principal ponto da reforma é criar uma idade mínima para os trabalhadores do setor privado se aposentarem: 65 anos, chegando a 70 para novas gerações, válido para ambos os sexos, acabando com a atual diferença de regras entre homens e mu-
lheres. Também pretende-se mexer na fórmula de cálculo dos benefícios previdenciários e pressionar o trabalhador a contribuir por mais tempo. Também deve ser alterado o tempo mínimo de contribuição, de 15 anos para 25 anos. Outras mudanças, que representam também grave retrocessos aos direitos sociais dos trabalhadores, envolvem o fim da aposentadoria especial para professores, bombeiros e policiais, a redução do valor da pensão por morte e o fim da aposentadoria rural apenas por idade sem anterior contribuição.
André Barreto é advogado trabalhista em Recife
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Belo Horizonte, 4 a 10 de novembro de 2016
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por Alan Tygel*
Dicas Mastigadas
BRIGADEIRO DE BATATA DOCE Para enrolar
Castanha de caju picada, nibs de cacau, chocolate em pó, coco ralado ou granulado de chocolate
Preparo
INGREDIENTES • • • •
300g de batata doce bem amassada 2 colheres de sopa de cacau em pó 2 colheres de sopa de aveia em flocos 2 colheres de chá de óleo de coco ou manteiga
Cozinhe a batata doce no vapor para que ela não fique muito úmida. Descasque e, se puder, amasse ainda quente para ficar bem lisinha. Junte os demais ingredientes e amasse bem. A quantidade de seco pode variar, caso a batata esteja muito úmida, talvez precise colocar mais aveia para dar o ponto de enrolar. Unte as mãos e enrole as bolinhas, finalize com o granulado de sua preferência.
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
© Revistas COQUETEL
As sobrinhas da Margarida (HQ)
Espaço onde se realizam atividades relativas às artes País insular cuja capital é Manila Carro, em inglês
Boca de (?): discrição (fam.)
Jiu-(?): Festa literária uma das noturna, típica do técnicas Que pode Brasil do do MMA ser gerido séc. XIX
Plena; completa Narcótico da papoula
Sofia Barbosa I Coren MG 159621-Enf. São realçados pelo rímel Fingido
Hábitat da baleia Sem mistura
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É perseguido pelo Frajola (TV) Asfixiante
O "clone humano", usado em comerciais
Aderir; colar Firmamento Da natureza do enxofre
(?) Batista, locutor Conjunto de fios que se cruzam com a urdidura
Tipo físico nacional "Nariz", em "rinite" (?) ego: o melhor amigo Freguesia
E
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Taxa de Inspeção Sanitária (sigla)
O suposto ser de Varginha (MG)
"(?) logo!", fórmula verbal de despedida
Festa com música eletrônica (ing.)
Indicação à porta do toalete feminino
Silaba de "renda" Telefone (abrev.)
3/car. 4/rave. 5/alter — sarau. 9/filipinas — sulfuroso.
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Solução C C I N F A C S U L T M U R A C L F
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Cor cinzaazulada Forma da ferradura
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CULTURA
Belo Horizonte, 4 a 10 de novembro de 2016
Morte e vida de Max Souza NOVO TALENTO Conheça o jovem contagense que usa psicologia nos seus raps Reprodução
Raíssa Lopes
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oi depois de uma experiência de quase morte que a música de Max Souza nasceu. O garoto de Contagem, que amava Racionais e compunha sem compromisso, decidiu encarar o sonho, quando se viu internado e questionado pela vida: ou vai, ou racha. “Pensei que ia morrer sem ainda ter me tornado alguém”, relata. O caminho escolhido para dar sentido a sua existência foi, então, a arte . “O rap me fez ter orgulho de ser negro, me faz feliz, me dá autoestima. E muito disso eu tive pelo Sabotage, que já se foi. Eu queria isso, sabe? Que meu nome perdurasse como os de vários músicos
que ajudam as pessoas”, diz Max, que hoje não só é MC, como está em fase de produção de CD e é finalista de um concurso de novos talentos do Hip Hop brasileiro. Ganhou visibilidade quando sua composição “Sangue, Suor e Lágrimas” agradou a artistas como Emicida, Criolo, Rael da Rima e Marechal. A canção fala do genocídio
do povo negro, do racismo sentido na pele, da falta de oportunidades. “Esse sistema covarde mata nossos meninos / faz de cada viela escura campo de extermínio / E é no sigilo da noite que o açoite come / pois eles atiram pra depois perguntar o seu nome”, escreve o jovem.
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Rap e Psicologia Max, que estuda Psicologia, usa as influências da área para construir o seu trabalho. Seu primeiro álbum, que deve ser lançado neste mês, leva no nome um conceito famoso do psicanalista Sigmund Freud, o “alterego”. “Significa o que chamamos de ‘outro eu’ e minhas letras falam de conflitos psicológicos, emocionais, sociais”, diz. Já de musicalidade, o artista, cujo pai tinha banda de rock e grunge, leva na bagagem nomes como Chico Buarque, Lenine e Kendrick
Lamar. Sua meta é compor independentemente do estilo musical. “Ainda não vivo do Hip Hop. O rap não é muito consumido, porque incomoda, questiona, manifesta. A mídia não está interessada nisso. Acredito que o grande desafio de quem quer fazer disso sua profissão é lapidar o seu trabalho para que mais pessoas consumam, sem trair a você mesmo”. Para conhecer as rimas de Max, acesse: www.facebook. com/maxsoficial
Praia com música O próximo sábado (5) é dia de Praia da Estação. Dessa vez, o evento irá contar com a mais nova edição da “Festa Transa!”, que em 2016 completa quatro anos e apresenta variados estilos, como rock, samba, soul, anos 80, funk, brega e muito mais. Os DJs Carou Araújo e Alfredo Souza, que se apresentam a partir das 14h30, irão contar com a participação dos artistas Jeferson Baêta e DJ Confusa. O nome da festa é em homenagem ao disco homônimo de Caetano Veloso, lançado em 1972 e considerado um dos grandes álbuns da Tropicália.
Arte de mulher
Também no sábado (5), o Matriz Casa Cultural (Rua dos Guajajaras, 1353 - Centro) sedia a primeira festa “Suspirin Feminista”, que reúne bandas de diversos estilos formadas majoritariamente por mulheres. Nesta edição, se apresentam os grupos de hardcore Miêtta, Subversa e Bertha Lutz. O evento acontece a partir das 20h, com ingressos a R$ 10 (antecipado) e R$ 15 (na porta).
Belo Horizonte, 4 a 10 de novembro de 2016
Marta é indicada à Bola de Ouro
DECLARAÇÃO DA SEMANA Kin Saito / CBF
Ricardo Stuckert / CBF
A atacante Marta Vieira foi indicada para concorrer ao prêmio de melhor do mundo em 2016. A indicação foi divulgada nesta quinta-feira (3). A jogadora, que tem 30 anos, já venceu o prêmio cinco vezes consecutivas, entre 2006 e 2010. Marta concorre ao prêmio com outras nove atletas: as ale-
mãs Melanie Behringer, Sara Dabritz e Dzsenifer Marozsán, a estadunidense Carli Lloyd, atual vencedora, as francesas Camille Abil e Amandine Henry, a japonesa Saki Kumagai, a sueca Lotta Schelin e a canadense Christine Sinclair. A divulgação das três finalistas sai no dia 2 de dezembro.
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ESPORTES
O homem não precisa provar que é capaz de ser técnico, a gente precisa a cada dia. Emily Lima, ex-técnica do São José Esporte Clube e anunciada, nesta semana, como comandante da seleção brasileira feminina de futebol.
Gol de placa Finalmente uma mulher! Emily Lima é a primeira técnica da seleção brasileira feminina de futebol. A substituta de Vadão é ex-jogadora, já treinou as seleções sub-15 e sub-17 e treinava o São José-SP, clube pelo qual foi vice-campeã da Copa do Brasil este ano. Arrasa, moça!
Gol contra O Itaquerão pode ser interditado. Em junho, mais de 10 milhões de litros d’água vasaram sob o estádio, o que, de acordo com um dos técnicos da Odebrecht, construtora responsável pela obra, poderia fazer o estacionamento deslizar até a Radial Leste.
Decacampeão
É Galo doido!
La Bestia Negra
Bráulio Siffert
Rogério Hilário
Léo Calixto
A tardia estratégia do América de deixar o adversário jogar e apostar nos contra-ataques mais uma vez deu certo, dessa feita contra o São Paulo. Soma-se a isto a ótima atuação do goleiro João Ricardo, a disposição de alguns jogadores, como Danilo e Decacampeão Christian Sávio, e a postura do São Paulo, assim como os outros times, de achar que estão diante de um adversário morto e que vão fazer gol quando quiserem. Em várias rodadas do campeonato, isso foi, de fato, o que aconteceu. Mas, agora, o time parece ter se encaixado um pouco melhor e os jogadores parecem ter despertado para a importância de honrar o América e, sobretudo, de mostrar serviço para manter o emprego em 2017.
Na Copa do Brasil, o sofrimento é constante para os atleticanos. Assim foi contra a Ponte, o Juventude e o Inter. Aguardemos mais tensão contra o Grêmio. Quanto ao Campeonato Brasileiro, o papel de franco-atirador dá certa tranquilidade. A É Galo doido! responsabilidade maior é dos que estão à frente. Basta o Galo cumprir sua obrigação para ameaçá-los, sempre. Entre os desafios, superar o até agora líder Palmeiras. Elenco, o Alvinegro mineiro tem de sobra. Se faltar apuro tático, a técnica está à disposição, com Robinho, Cazares, Otero, Fred, Pratto, Luan. Quando cito tantas opções, vejo onde está a deficiência: a defesa. É preciso reforçar o setor, calcanhar de Aquiles da equipe.
À espera da próxima temporada. Este é o sentimento da China Azul após a eliminação nas semifinais da Copa do Brasil. Analisando friamente o elenco celeste e as possibilidades de títulos em 2017, ouso afirmar que é positiva a não classifiBestiacertame Negracontinencação para oLa principal tal. Os equívocos cometidos pela direção em 2016 deixaram um elenco capenga e a pressão para montar um elenco forte para a Libertadores, do nível que o Cruzeiro exige, pode não se efetivar na realidade. Faltam peças de qualidade no mercado para as posições que precisamos. Assim, o melhor é montarmos um elenco forte que possa ganhar corpo ao longo da temporada e lutar pelos títulos nacionais.
16 CONVIDA
CICLO DE DEBATES SISTEMA POLÍTICO, DEMOCRACIA E COMUNICAÇÃO NO BRASIL
8 NOV SISTEMA POLÍTICO E DEMOCRACIA NO BRASIL Aton Fon Filho (Integrou a ALN) & José Luiz Quadros (UFMG / PUC - MG)
16 NOV SISTEMA POLÍTICO E SUBREPRESENTAÇÕES Kenarik Boujikian (Juíza) & Áurea Carolina (Vereadora eleita)
22 NOV SISTEMA POLÍTICO E COMUNICAÇÃO Renata Mielli (FNDC) & João Paulo Cunha (Brasil de Fato)
29 NOV SISTEMA POLÍTICO E CONSTITUINTE Ricardo Gebrim (Consulta Popular) & Beatriz Cerqueira (CUT MG)
19h I
SINDICATO DOS BANCÁRIOS Rua dos Tamoios, 611 - Centro
APOIO CUT MG, Serjusmig, Sindágua, Sindibel, Sindieletro, Sindifes, Sindifisco, SindMetal BH, Sindsaúde, SindUTE, Sinpro, Sinttel
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