Divulgação
CULTURA
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Reprodução de vídeo
Rejeitos da Vale contaminam água em Itabira
Música e identidade Relatos comprovam que a música pode ter um papel importante no reconhecimento da negritude
Minas Gerais
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MINAS
Moradores são obrigados a consumir água escura e com mau cheiro na cidade. Casos de diarreia, vômitos e manchas na pele aumentam em áreas afetadas
18 a 24 de novembro de 2016 • edição 162 • brasildefato.com.br • facebook.com/brasildefatomg • distribuição gratuita
Lia de Paula
Ser negro em tempos de golpe
BRASIL 2, 9, 10 e 11
Em um país desde sempre atravessado pelo racismo, a desigualdade e a violência, governo não eleito ameaça direitos conquistados a duras penas pela luta do povo negro. Semana da Consciência Negra vem para lembrar que, como sempre, é preciso resistir. Políticas de ação afirmativa dos últimos anos têm ajudado a diminuir a desigualdade, mas ainda há um longo caminho pela frente
MINAS
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PEC 55 prejudicará municípios Se aprovada, reforma pode aumentar desemprego e recessão nas cidades brasileiras
OPINIÃO
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Seis meses de perdas “Parece muita lambança para apenas 180 dias”. Afirma João Paulo Cunha em artigo que faz balanço dos seis meses do governo Temer
Bruno Cantini
ESPORTES
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Galo decide no Sul Grêmio recorre da punição e STJD mantém mando de campo tricolor para o último jogo da final da Copa do Brasil
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OPINIÃO
Belo Horizonte, 18 a 24 de novembro de 2016
Editorial | Brasil
Onde está o racismo no Brasil?
ESPAÇO dos Leitores “Jornal que mostra os fatos de forma clara, não escondendo posições e muito menos deixando de cobrar de quem quer que seja”. João Vitor
“Um dos melhores veículos de comunicação da atualidade. Confiável, de leitura agradável, com conteúdo relevante para as questões sociais”. Maxwell Vilela
“Jornalismo de luta com a cara e o jeito da classe trabalhadora”. Leonardo Koury Martins
“Eu sempre curto o jornal e indico para amigos que pensam diferente”. Miriam Marcia
Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br
A escravidão foi abolida em 1888 e libertou negros e negras para venderem “livremente” sua força de trabalho em um capitalismo nascente. Mas, junto com a escravidão, foi aniquilado o preconceito? Foi destruída a violência? Nas grandes cidades, os negros ocupam as periferias, com menos serviços públicos, menos postos de saúde, com saneamento básico precário, ausência de transporte público, inexistência de creches e escolas públicas de qualidade. A juventude negra é vítima da falta de perspectivas e de oportunidades causada pelo neoliberalismo. Sobretudo, é vítima da polícia. O que há, na prática, é uma verdadeira chacina que mata
gas por meio de cotas e programas de financiamento promovidos pelos governos do PT (vejam matéria na página 9). No mercado de trabalho, negros e negras são os profissionais que ocupam os postos mais precários, informais ou terceirizados. As mulheres negras sofrem com a conjugação perversa de racismo, patriarcado e capitalismo, que empurra as mulheres negras para a base da pirâmide. São elas que recebem os piores salários, em empregos informais. São chefes de família e acumulam trabalho doméstico de outras casas. O racismo é algo que deve ser combatido cotidianamente. Em tempos de golpe no Brasil, a opressão e a in-
Tempos de golpe tendem a fortalecer opressão
Mortes de jovens negros subiram 699,5%
mais jovens que em locais onde existe invasão de exércitos. O mapa da violência de 2016, demonstra que houve um crescimento do número de mortes de jovens entre 15 e 29 anos no Brasil. Enquanto no conjunto da sociedade, o crescimento de homicídios por arma de fogo cresceu 592,8% no período de 1980 e 2014, entre os jovens o número subiu 699,5%. A maioria desses jovens é negra. Todo dia é dia de combater o racismo Nas universidades, a negritude ainda compõe a menor parcela, embora tenham conquistado mais va-
O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.
tolerância tendem a se fortalecer, devido ao conservadorismo e aumento das desigualdades sociais. A condição do povo brasileiro certamente vai piorar com todas as medidas reacionárias do governo não eleito de Michel Temer. A transformação dessa realidade e o restabelecimento da democracia brasileira dependem, como nunca antes, da construção de unidade entre as forças populares. Os direitos do povo negro, de uma vida sem preconceito, violência e com dignidade, passa necessariamente pelas reformas estruturais que nunca aconteceram no país. É tempo de juntar forças e colocar um projeto de Brasil que seja negro, feminista e popular.
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Belo Horizonte, 18 a 24 de novembro de 2016
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Se eu não falar do Pelé eu estou sendo injusto. Pra nós, que somos da raça negra, ele serve de exemplo porque é uma pessoa que não bebe, não usa drogas e foi um atleta maravilhoso.
Martin Luther King, que fez muito em prol dos negros, pra ajudar na nossa libertação. Ajudou também na conscientização de que o negro deve ter acesso livre a toda a sociedade.
Juarez Araújo, músico
Adriana Almeida, estudante de gastronomia
CONVIDA
CICLO DE DEBATES
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Qual o seu maior ídolo negro?
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Declaração da Semana
PERGUNTA DA SEMANA
20 de novembro, dia da morte de Zumbi, foi instituído como dia da Consciência Negra em 2011. Um dia de fortalecimento da história, dos personagens e do povo negro. Por isso, o Brasil de Fato MG pergunta:
GERAL
“O mundo é organizado pros homens, com tudo a nosso serviço” Criticou Chico César, em entrevista ao programa Estação Plural, da TV Brasil.
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Filmes brasileiros que discutem racismo
Aproveitando o mês da consciência negra, o Brasil de Fato MG selecionou três indicações de filmes. Primeiro, “Madame Satã” conta a história real do transformista João Francisco do Santos, figura icônica da Lapa, no Rio de Janeiro. Negro, pobre e homossexual, sofria diversos tipos de preconceitos na década de 1930. “Branco Sai, Preto Fica” é um longa que denuncia a atitude criminosa do Estado brasileiro contra negros a partir de um crime em um baile funk na periferia de Brasília. Por último, o filme “Besouro” que trata da situação dos negros na Bahia, na década de 1920, que continuavam sendo tratados como escravos, apesar da abolição.
De onde vem o que eu falo?
SISTEMA POLÍTICO, DEMOCRACIA E COMUNICAÇÃO NO BRASIL
22 NOV SISTEMA POLÍTICO E COMUNICAÇÃO
Renata Mielli (FNDC) & João Paulo Cunha (Brasil de Fato)
veja a programação completa: facebook.com/brasildefatomg DOS BANCÁRIOS 19h I SINDICATO Rua dos Tamoios, 611 - Centro APOIO CUT MG, Serjusmig, Sindágua, Sindibel, Sindieletro, Sindifes, Sindifisco, SindMetal BH, Sindsaúde, SindUTE, Sinpro, Sinttel
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Muitas expressões populares são tão usadas nas conversas do dia-a-dia que poucas pessoas se perguntam de onde elas surgiram. Como a história do Brasil é marcada por um vergonhoso passado escravocrata, muitas palavras e frases, que hoje parecem naturais, têm sua origem no racismo. Quem nunca “disputou a nega”? Essa expressão, por exemplo, que significa jogar mais uma partida para desempatar o jogo, surge das disputas esportivas entre os senhores. Quem ganhava, levava como prêmio uma escrava negra. E quem nunca desconfiou que “tem caroço nesse angu”? Essa frase, por sua vez, vem de um truque realizado pelos escravos para melhor se alimentarem. Era comum servirem a eles uma única porção de angu. Burlando as regras, vez ou outra, a escrava que servia os demais conseguia esconder algum pedaço de carne, o que gerava especulações se aquele angu parecia ter uma coisa a mais.
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CIDADES
Belo Horizonte, 17 de março 2016 Belo Horizonte, 18 a 2411 dea novembro de de 2016
PEC 55 vai prejudicar estados e municípios, explica economista PODER Medida impede que governo promova políticas de combate à recessão e ao desemprego Antônio Cruz / Agência Brasil
Wallace Oliveira
M
edidas amargas”: foi o que prometeu o presidente não eleito Michel Temer (PMDB), durante jantar oferecido a ministros e parlamentares na quarta (16). O objetivo central do encontro foi garantir apoio à PEC 55 (antiga 241), que prevê um congelamento das despesas primárias da União, como saúde e educação, mas não diz nada sobre o pagamento dos juros da dívida pública. Embora a medida tenha como foco as despesas da União, estados e municípios serão profundamente afetados pela PEC. Ao menos dois efeitos são espera-
Com PEC 55 governos arrecadarão cada vez menos dos, de acordo com o economista Frederico Melo, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Primeiro, serviços prestados à população por governos estaduais e municipais, em diversas áreas, dependem de repasses federais. A Constituição Federal de 1988 diz que saúde, educação e assistência social, entre outros, são organizados de modo a combinar ações das três esferas municipal, estadual e federal. “Por exemplo, a educação infantil é uma atribuição dos municípios. Porém,
existem programas com financiamento federal, tanto para manutenção de creches quanto para construção de novas creches. Então, a redução dos recursos da União provocará uma redução nos recursos disponíveis para construir novas creches ou mesmo manter as que já existem. Algo semelhante deve ocorrer em outras áreas, seja nos estados ou municípios”, explica. O segundo efeito, de acordo com o economista, é o fato de que os próximos governos federais passam a ter dificuldades para promover políticas de combate à recessão – as chamadas “políticas anticíclicas” – o que acaba por impactar negativamente a arrecadação estadual e municipal. “O Estado brasileiro precisa tomar decisões que levem à reativação econômica e retomada do crescimento, com consequente aumento da arrecadação. Por exemplo, fazer um grande programa de construções, do tipo Minha Casa Minha Vida, ou de investimentos em infraestrutura. Esse tipo de medida dá um empurrão na economia para que ela se reaque-
ça e o desemprego diminua. Com a PEC 55 aprovada, o governo não vai poder fazer isso, e estados e municípios passam a arrecadar cada vez menos”, explica. Reação dos governos Gestores públicos dos diferentes níveis têm se pronunciado contra a PEC. Alguns mandatários manifestaram suas críticas, como o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), cujo partido é da base aliada de Temer. “Na prática, vai acabar o investimento público (...) O governo federal ignora o crescimento na economia. Vai ter problema na
Saúde, vai ter que mudar o SUS e vai cair nas costas dos estados e prefeituras”, disse o
Medida preserva pagamento de juros, e prejudica políticas públicas tucano, durante evento realizado em setembro na Bolsa de Valores de São Paulo. As declarações mais vigorosas, porém, têm vindo de entidades representativas da gestão municipal, como a nota conjunta emitida pelo
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação e o Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social. “Congelar por 20 anos recursos financeiros federais destinados a saúde, educação e assistência, que ano a ano crescem segundo as necessidades da população, pode ser entendido como o estabelecimento da antipolítica da garantia dos direitos sociais, conquistados e registrados na Constituição Brasileira”, afirma a nota.
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MINAS
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População recebe água marrom em Itabira por 2 meses ABASTECIMENTO Cidade do Vale do Aço é rodeada por mineradoras, que podem ser as responsáveis pela contaminação Reprodução de vídeo
Rafaella Dotta
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oradores da cidade de Itabira, no Vale do Aço, estão indignados com o abastecimento de água da cidade. Pelo menos dez bairros estão recebendo água escura e com mau cheiro ou não estão recebendo, segundo o líder comunitário do bairro Fênix, Tiago Batista. A captação de água está sendo feita em local de estocagem de resíduos de minério da empresa Vale S.A. “Terça não teve água, na quinta e sexta deu só para fazer a merenda dos meninos”, conta a professora Creidimar Duarte Azevedo, da Escola Municipal Marina Bragança de Mendonça. Ela afirma que, desde setembro, escolas estão dispensando alunos em diversos dias por falta de água. “A gente chega e não tem água no bebedouro e nem pra merenda. Não
A água, mesmo tratada, teria índice muito alto de manganês, metal que pode trazer sérios problemas à saúde
tem como trabalhar com as crianças nessa condição”, explica. Vídeos enviados por Tiago, que é morador do bair-
ro mais afetado, mostram a água saindo marrom ou amarelada da torneira de várias residências. Ele participa da comissão de morado-
res que, em reunião com o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Itabira (Saae), denunciou que casos de diarreia, manchas na pele e vômitos têm aumentado consideravelmente nos bairros afetados. De onde vem a água? No final de 2015, a Estação de Tratamento Pureza começou a ser insuficiente para a cidade, época em que o Saae começou a implantar a Estação de Tratamento de Rio de Peixe. A água passou a ser captada de uma barragem de rejeitos da Vale S.A., para onde vão resíduos da mineração. O ponto de captação já foi mudado três vezes, na tentativa de captar água de melhor qualidade. Hoje, essa estação abastece 20% dos habitantes da cidade. Foi entregue ao Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente de Itabira (Codema), no dia 10
de novembro, um relatório técnico desaconselhando o consumo da água, elaborado por um engenheiro agrônomo, uma auditora fiscal e uma farmacêutica. A água, mesmo tratada, teria índice muito alto de manganês, metal que pode trazer sérios problemas à saúde. Resposta O secretário de Meio Ambiente de Itabira, Nivaldo Ferreira, defende que a informação sobre o manganês seja complementada com análise de outras substâncias, não sendo possível tirar conclusões apenas pelo relatório. Segundo o vereador Bernardo Mucida (PSB), a cidade está diante de um impasse. “O Saae afirma que, se a captação em ETA de Peixe for suspensa, a população sofrerá um sério racionamento. Precisamos decidir se abrimos a discussão ou se suspendemos já a captação”, explica.
“Era uma cidade de muitas nascentes’’ HISTÓRIA Mineração em Itabira, primeiro lugar explorado pela Vale, pode ser responsável pela escassez de água
O
modelo de mineração implantado no Brasil, e também em Itabira, é uma das atividades econômicas que mais utilizam água na sua produção. Quem afirma isso é o ambientalista Gustavo Gazzinelli. “A mineração concorre com outras prioridades no uso de água, mas parece estar claro que essa concorrência passou do limite”, lamenta. De acordo com ele, existem dois problemas centrais. O primeiro é o uso da água para o beneficiamento do miné-
Reprodução
rio de ferro. O segundo problema seria a destruição de aquíferos. “A mineração de ferro faz uma cava no solo, onde muitas vezes estão localizadas reservas de águas subterrâneas”, afirma. Este processo destrói o reservatório natural formado pelas rochas e extingue os aquíferos ferruginosos, que são fonte de muitas nascentes. Um lugar que não existe mais “O caso de Itabira é úni-
co no mundo. A mineração é vizinha da população, literalmente dentro do perímetro urbano”, critica o vereador Bernardo Mucida. Ele conta que vários moradores lembram-se da abundância de água na região. O mesmo descreve a professora Creidimar Duarte Azevedo. “Itabira era uma cidade de muitas nascentes. O que aconteceu é que não temos cuidado ambiental e, para piorar, temos a Vale, uma estrondosa consumidora de água”. (RD)
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MINAS
Belo Horizonte, 18 a 24 novembro Belo Horizonte, 11de a 17 de marçodede2016 2016
Opinião
Meio ano, meio país João Paulo Cunha Em seis meses, o Brasil foi reduzido à metade. Meio ano, meio país. O processo de desmontagem tem método, objetivo e executores. Em matéria de tática, segue o caminho do ataque à democracia e à Constituição de 1988, somado à criminalização da participação popular. Em relação a seu projeto, mira a entrega irrevogável das riquezas brasileiras – inclusive do fruto do trabalho –, à sanha do capital especulativo. No que toca a seus condutores, conta com um bando formado por políticos venais, operadores da justiça travestidos de justiceiros e ventríloquos da voz do dono, que se acotovelam na busca do brilho da submissão, daquilo que um dia foi chamado de jornalismo. A cronologia das ações desses primeiros seis meses permite ver se acumular frente aos olhos da cidadania uma sucessão de perdas e medidas regressivas estarrecedoras. Fim de ministérios ligados aos direitos humanos. Desprestígio das políticas sociais. Tratamento pornográfico dado ao setor da educação. Ameaças à saúde pública e questio-
namento da universalidade do sistema. Rendição aos interesses internacionais em relação às riquezas estratégicas. Perda de relevância em política externa. Uso violento da repressão contra jovens e trabalhadores. Desqualificação das políticas de assistência consistentes e revivescência zumbi do primeiro-damismo. Re-
Seis meses de perdas e medidas regressivas estarrecedoras baixamento da ciência, tecnologia e inovação. E ainda: congelamento de investimentos públicos por 20 anos em saúde, educação, saneamento e cultura, entre outros, com impacto imediato na qualidade dos serviços e na qualidade de vida. Sepultamento da política de aumento do salário mínimo. Mudança na aposentadoria, com perdas reais. Abertura do pré-sal às empresas estrangeiras em condi-
ções desfavoráveis ao país. Criminalização dos movimentos sociais. No capítulo das recompensas, generosa instauração da bolsa-mídia, com aumento de gastos com publicidade concentrados em empresas parceiras do golpe. Enterro do projeto de comunicação pública e perseguição à comunicação popular, blogs e até mesmo às grandes empresas noticiosas estrangeiras. Parece muita lambança para apenas 180 dias. Mas há algo ainda pior e mais grave. Estamos perdendo a Constituição, a confiança das instituições, a autonomia dos poderes, a liberdade de expressão. Quando se solapam as bases do que entendemos por democracia, não há retorno possível dentro da ordem legal. Por enquanto perdemos meio país, em meio ano. Antes que um ano se complete, se a mobilização não tiver a potência e abrangência necessárias, podemos não ter mais um país para chamar de nosso. Neste caso, as condições serão outras e outros os instrumentos de resistência. Ditadura, nunca mais.
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Belo Horizonte, 18 a 24 de novembro de 2016
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Foto da semana
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OPINIÃO
PARTICIPE Viu alguma coisa legal? Algum absurdo? Quer divulgar? Mande sua foto para redacaomg@brasildefato.com.br. Maxwell Vilela
Na edição 157... Retirar capivaras da Pampulha não combate febre maculosa, alerta Conselho Municipal de Saúde ...E agora Justiça ignora CMS e ordena retirada dos animais A Justiça determinou, na quinta (17), que a Prefeitura de BH (PBH) isole as capivaras da Lagoa da Pampulha em até cinco dias. A notificação é do desembargador do Tribunal Regional Federal de Brasília, e estabelece uma multa de R$5 mil por dia de atraso caso a norma não seja cumprida. A decisão contraria a posição do Conselho Municipal de Saúde (CMS), que alerta que “a retirada dos animais pode ser pior para o combate à febre maculosa, pois remove uma barreira sanitária e biológica, que são as próprias capivaras”, afirmou o presidente do CMS, Bruno Pedralva. Na edição 110... Quem ocupa educa ...E agora Em greve contra a PEC 55, professores da UFMG pedem suspensão do calendário acadêmico Os docentes da UFMG reivindicam a suspensão do calendário acadêmico durante todo o período da greve. A ideia é adequar os dias letivos para quando a paralisação terminar e, se preciso, utilizar datas de 2017. Também aderiram ao movimento os técnico-administrativos da UFMG, do Cefet-MG, da UFVJM e do IFMG.
NEGRITUDE A foto da semana faz parte de um ensaio do fotógrafo Maxwell Vilela com mulheres que lutam todos os dias por reconhecimento, direitos e representatividade. A modelo é Juliana Ramos, mãe de três filhos e moradora de Belo Horizonte.
Mario Augusto Jakobskind
Entrevista com golpista: sem surpresas A entrevista de Michel Temer (PMDB) no programa Roda Viva deve ser analisada a partir do engajamento da mídia conservadora no esquema atual dos ocupantes do governo golpista. Dos entrevistadores estavam presentes, além da própria TV Cultura, as representações de o Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo. Na verdade, a partir do momento em que o governo golpista de Michel Temer abriu as comportas das verbas publicitárias governamentais para tais veículos, os entrevistadores se comportaram tendo em vista essa evidência. Os entrevistadores se comportaram seguindo os parâmetros de interesse do mercado. As perguntas foram feitas para contemplar o próprio entrevistado e também os setores econômicos que apoiam o projeto golpista. Daí a entrevista ser catalogada como mais um convescote, um gênero em que os entrevistadores levantam a bola para o entrevistado colocar o que lhe interessa. Mídia apoia golpistas O golpista se declarou contra Brasil parlamentarista, mas ninguém lembrou que o povo brasileiro nos últimos 53 anos rejeitou essa proposta, por maioria absoluta, em duas oportunidades. O atual apoio de Temer ao parlamentarismo, que poderia ser adotado desta vez sem consulta popular, contemplaria os setores que querem evitar surpresas numa eleição para presidente da República. Temer se esforça ao máximo para agradar os seus parceiros do PSDB, que depois de quatro derrotas eleitorais seguidas para a presidência, não pretendem deixar o poder de forma alguma. Assim caminha o Brasil sob o controle de golpistas com o apoio da mídia conservadora. Mario Augusto Jakobskind é jornalista e escritor.
Silvio Netto
Querem dar golpe em Minas O Brasil teve um governo eleito pelas urnas no voto direto golpeado pelos interessados na implementação do programa, representado por Aécio, derrotado nas eleições de 2014. Talvez dessa vergonhosa etapa de nossa história devemos aprender a lição que nunca devíamos ter esquecido: os interesses das elites nunca deixaram de existir, ter mais lucro mesmo que isso custe o sacrifício do povo. É a regra. Não se importam se o povo vai perder o já frágil acesso à saúde, educação, à terra, à moradia, ao trabalho e aos direitos trabalhistas. O golpe não é um evento. É um programa que inicia suas ações arrancando nossos direitos sociais conquistados com muitas lutas. Apoiados pela grande mídia e por uma parcela do judiciário iniciam seus ataques criminalizando os que contestam o golpismo. Tentam receita Essa avalanche consernacional em Minas vadora e elitista se dispõe neste momento a avançar derrubando o governador eleito em Minas Gerais. Um golpe em Minas enfraqueceria o povo mineiro, que de forma organizada superou o projeto de Aécio e Anastasia, se colocando ao longo dos últimos meses como guardiões das lutas por mais democracia e mais direitos. Não conseguiram e não vão conseguir. O plano golpista era derrubar Dilma e Pimentel ao mesmo tempo. A receita nacional é a mesma que tentam fazer em Minas. Em nível nacional, usaram o vice Temer pra armar contra a presidenta. Em Minas a tarefa é de Antônio Andrade o vicegovernador que tem bico de tucano. O povo mineiro não vai permitir nem mais um passo do golpismo, é bom que o parlamento mineiro saiba disso. O governo Pimentel se atente, não pode continuar achando que é governo de todos, para continuar terá que ser do povo trabalhador. Silvio Netto integra a direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST.
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BRASIL
Belo Horizonte, 18 a 24 de novembro de 2016
Previdência e PEC 55 serão os focos do dia 25 LUTA Centrais sindicais fecham a agenda de manifestações e confirmam paralisações por todo o Brasil Da redação, com Rede Brasil Atual
Mídia NINJA
E
m reunião realizada na quarta-feira (16), na cidade de São Paulo, as centrais sindicais acertaram as ações para o próximo dia 25. Entre as atividades, estão previstos protestos e paralisações por todo o país. Na capital paulista, a concentração acontecerá em frente a uma das sedes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para exigir a não aprovação da reforma da Previdência, atualmente em tramitação no Congresso. Serão realizados, ainda, atos em postos de trabalho e tentativas de negociação com os parlamentares, juristas e ministros a respeito
da terceirização. Os protestos visam também chamar a atenção para os retrocessos da PEC 55. Participaram do encontro representantes da CUT, CGTB, CSP-Conlutas, CTB, Força Sindical, Intersindical, Nova Central e UGT. Na
data, os sindicalistas reafirmaram a importância da união das instituições e respeito às divergências. “Temos de nos concentrar naquilo que nos dá unidade”, afirmou o secretáriogeral da CUT, Sérgio Nobre. “As relações entre as
centrais são pelos consensos”, acrescentou. Reuniões com Senado e Supremo Os dirigentes estão acertando uma reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),
e com a presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmen Lúcia. O objetivo é discutir amplamente sobre as ofensivas impostas pelo presidente não eleito Michel Temer, com foco no fortalecimento da classe trabalhadora. Os respectivos encontros não foram confirmados até então. “Os ministros do STF precisam entender que o que os empresários querem não é terceirizar, eles querem acabar com as garantias, a proteção legal, as obrigações trabalhistas da empresa com o trabalhador”, declarou o presidente da CUT, Vagner Freitas.
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Belo Horizonte, 18 a 24 de novembro de 2016
BRASIL
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Cotas raciais reduzem diferenças, mas golpe ameaça conquistas DESIGUALDADE Políticas de combate ao racismo e promoção da igualdade racial perdem força no governo Temer Pedro Rafael Vilela De Brasília (DF)
O
racismo estrutural continua sendo uma das marcas mais perversas das desigualdades sociais no Brasil. Segundo a Anistia Internacional, dos 56 mil homicídios que ocorrem por ano no país, números típicos de uma guerra, mais da metade são entre os jovens e, desse total, 77% são negros. Se essa população está no topo das vítimas de violência, por outro lado, elas ocupam o pior lugar em termos de distribuição de renda. Se for considerada a fatia mais
Apenas 3% dos candidatos eleitos em 2014 se autodeclararam negros pobre da população, aquela que ganha no máximo R$ 130 por pessoa na família, os negros são maioria, um total de 76%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2014. Já os brancos são menos de 23% da população mais pobre e 79% dos mais ricos. Na política, o quadro não é muito diferente. Apenas 3% dos candidatos eleitos em 2014, para cargos de deputado, senador e governador, se autodeclaram negros. Nenhum governador de estado no país é negro, mes-
11%
PARDOS 2,2%
8,8%
PRETOS 1,8%
1997
2014
(sem política de cotas)
mo essa população sendo maioria no Brasil. Essa disparidade, porém, começou a mudar de forma significativa em um setor: o acesso ao ensino superior, graças às políticas de cotas raciais e sociais aplicadas principalmente durante os governos petistas. Quase quatro anos após a aprovação da lei que instituiu as cotas nas universidades públicas federais, a medida afirmativa garantiu mais de 150 mil vagas para estudantes negros, segundo estimativas da Secretaria de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial. Para se ter uma ideia do que isso significa, de acordo com dados do Ministério da Educação (MEC), no ano de 1997, o percentual de jovens pretos, entre 18 e 24 anos, que cursavam ou haviam concluído o ensino superior era de apenas 1,8%; o percentual de pardos, um pouco mais: 2,2%.
(com política de cotas)
Em 2014, após dezenas de instituições públicas de ensino terem adotado o sistema de cotas, o número de jovens negros na universidade saltou para 8,8%, enquanto o de pardos atingiu 11%. Entre a população branca, esse número é ainda bastante superior, com 31% tendo acesso à universidade. Governo de brancos Os resultados importantes na política de acesso ao ensino superior e as demais políticas públicas de
Medida afirmativa garantiu mais de 150 mil vagas para estudantes negros
promoção da igualdade racial, no entanto, começaram a perder força com a chegada de Michel Temer ao governo, após apoiar o processo de impeachment da presidenta eleita, Dilma Rousseff, em abril deste ano. A face mais visível desse recuo foi a nomeação da equipe ministerial, composta por homens, todos brancos, e nenhuma presença de mulheres ou negros na equipe. A repercussão foi tão ruim que a própria Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA), emitiu nota de preocupação com a exclusão dos mais altos cargos do governo da representação de mais da metade da população do país. A ausência específica de mulheres na equipe governamental só havia ocorrido durante a ditadura militar, lembrou a CIDH.
Temer extinguiu o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos Além disso, Temer também extinguiu o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, subordinando esses setores ao Ministério da Justiça, o que gerou grande apreensão no movimento social. “A subordinação ao Ministério da Justiça faz com que essas áreas percam força”, avaliou, à época, Djamila Ribeiro, feminista e pesquisadora na área de Filosofia Política. Outra preocupação é com o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, do PSDB, que já foi secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo. Durante sua gestão no governo paulista, o número de mortes de jovens pela polícia, na maioria negros, subiu 61%.“ A gente sabe qual é o olhar que será dado para essas questões [raciais], um olhar de reduzir nossos direitos e criminalizar os movimentos”, apontou Djamila. “Não tenha dúvida que a grande meta é desconstruir as políticas que fortaleceram esses grupos, chamados de minorias, mas que na verdade são maiorias”, avalia Douglas Belchior, professor e um dos fundadores do Movimento Uneafro Brasil.
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MUNDO
Belo Horizonte, 18 a 24 de novembro de 2016
Colômbia tem novo acordo de paz entre FARC e governo GUERRILHA Após ser rejeitado por pouco mais da metade da população, acordo passou por reformulações e deve passar por aprovação de parlamentares colombianos Reprodução
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ovamente o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) sentaram à mesa em Havana, Cuba, para firmar um acordo de paz. O documento incorporou reivindicações da população colombiana que rejeitou o primeiro acordo, no referendo de 2 de outubro. Segundo o representante do governo, Humberto de la Calle, este é o “final definitivo”. “Depois de 130 horas de trabalho minucioso com as FARC, isto é o que temos e sobre o que temos que trabalhar. Não podemos per-
der tempo, temos que começar a implementação”, afirmou De la Calle em entrevista coletiva na Casa de Nariño, sede do governo colombiano em Bogotá. Segundo o representante, o novo acordo abrange mais
de 80% das inquietações dos que votaram pelo “não” no referendo. O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, defende que o acordo seja aprovado não por referendo, mas pelo Congresso.
Venezuela também chega a acordo O Tribunal Supremo da Justiça da Venezuela anulou, em 15 de novembro, o julgamento que parlamentares pretendiam fazer contra o presidente do país, Nicolás Maduro. A ação parlamentar foi iniciada e defendia a realização de uma espécie de impeachment, não previsto na Constituição venezuelana. A sentença do TSJ recordou que a atitude dos parlamentares é “manifestamente inconstitucional”. Depois disso três deputados, investigados por fraude, renunciaram ao mandato. Durante o diálogo entre governo e oposição, que está sendo mediado por atores internacionais, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e o Vaticano, as duas partes decidiram pela renúncia dos legisladores e a convocação de novas eleições no Estado de Amazonas para candidatos aos três assentos.
Panteras Negras foram vanguarda dos anos 60 RESISTÊNCIA O grupo que desafiou o racismo e o Estado no país mais poderoso do mundo
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o dia 15 de outubro de 1966 nascia, na cidade americana de Oakland, o Partido Pantera Negra para a Autodefesa. Fundado pelos estudantes Huey P. Newton e Bobby Seale, ambos negros, o movimento rapidamente ganhou as ruas e virou símbolo de quem não mais aceitava os resquícios da escravidão, ainda mais presentes nos municípios do interior dos Estados Unidos. “Eles são a maior ameaça para a segurança interna do país”, disse John Edgar Hoover, lendário chefe do FBI, durante reunião na qual declarou guerra àqueles jovens afrodescendentes que ousavam enfrentar a polícia.
Stephen Shames
O Panteras Negras surgiu no período do chamado “apartheid sulista”, quando a brutalidade repressiva contra os bairros negros ficava cada vez mais forte e forçava os moradores a se mudarem para os grandes centros urbanos do norte e costa oeste - que, como era de se esperar, se torna-
ram uma grande panela de pressão. Com suas reivindicações, o movimento logo se tornou a corrente mais relevante do Poder Negro, conseguindo manter um semanário de circulação nacional e escolas de formação política. O crescimento despertou a ira dos organismos de se-
gurança e fez com que a organização fosse alvo de centenas de assassinatos, prisões em massa, provas plantadas, infiltrações e denúncias forjadas. O grupo teve fim nos anos 80, quando Hoover cumpriu ameaça que chegava a estar presente em documento oficial: “Jovens negros e ati-
vistas moderados precisam entender que, caso resolvam se transformar em revolucionários, serão revolucionários mortos”. Preso 44 anos Eddie Conway foi um dos membros do comitê dos Panteras Negras, de Baltimore, em 1970. Em abril daquele ano, ele foi condenado pela morte de um policial (sobre a qual sempre se declarou inocente) e ficou mais de 40 anos preso. Hoje ele trabalha na pauta antiprisional, junto à sua esposa Dominique Stevenson, e é produtor no canal de notícias “The Real News”. Confira entrevista de Eddie à TV Brasil de Fato em: migre.me/vvL1L (Da redação, com Opera Mundi).
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ENTREVISTA
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“Meu território é mais sagrado do que a minha fé” RESISTÊNCIA Comunidade quilombola de Manzo luta na defesa do território e da religião Arquivo pessoal
Rafaella Dotta e Wallace Oliveira
M
akota Kidoiale (Cássia Cristina), filha de Mãe Efigênia, conta um pouco da história da comunidade quilombola de Manzo Ngunzo Kaiango surgida nos anos 1970, em Belo Horizonte. Aos doze anos, ela começou a desenvolver atividade espiritual na Umbanda. “Minha mãe teve um problema de saúde sem explicação da medicina. Um dia, minha avó aceitou levá-la a um terreiro. Lá, a primeira entidade que veio foi um preto velho chamado Pai Benedito. Assim, ela começou a fazer alguns trabalhos”, recorda. Ela conta que, um dia, o Pai Benedito fez uma cura para uma família que tinha boa
Quando fomos até o município conseguir um alvará, disseram-nos que o terreno não era nosso condição financeira. A família retribuiu com um dinheiro que foi usado por Mãe Efigênia para comprar o terreno onde hoje vive a comunidade. Surgia, assim, a Senzala de Pai Benedito, espaço fundamental na religião e vida do povo de Manzo. Em conversa com o Brasil de Fato MG, Makota Kidoiale relata as dificuldades para defender sua cultura, sua religião e seu território, frente às pressões do poder público, o
preconceito e a intolerância religiosa. Você poderia contar um pouco das dificuldades enfrentadas nos últimos anos? Em 2006, conhecemos algumas organizações não governamentais que cuidavam de documentações e registravam os terreiros. Esse registro era uma forma de proteção, pois havia intromissões da polícia civil nos terreiros. Quando fomos até o município para conseguir um alvará, disseram-nos que o terreno não era nosso. Levamos o maior susto. Mesmo tendo o contrato de compra e venda, as promissórias, não era válido. Quando a minha mãe e minha vó compraram o terreno, não sabiam que precisava ir a cartório registrar isso. A prefeitura diz que o terreno é do estado de Minas Gerais. Nós fomos travados de participar de vários programas, como o Minha Casa Minha Vida para quilombos, por conta disso. Você acredita que essas dificuldades são uma forma pressionar a comunidade para que ela saia daqui? Sim. Um dia, a Defesa Ci-
vil chegou dizendo que ia retirar todo mundo. Nós não queríamos sair, mas a Defesa Civil nos forçava a ir para a casa de parentes, sendo que todos os nossos parentes moravam na comunidade. Quando eu disse que somos um quilombo certificado pela Fundação Palmares, os funcionários se assustaram, mas continuaram insistindo. Nos mandaram para um abrigo, um lugar sem condição para colocar nossa família. Não podíamos deixar o Sagrado no terreiro, pois é o que nos une. Quando vocês foram para o abrigo, o que fizeram com os objetos que vocês usavam no terreiro? É o que chamamos de Sagrado: os assentamentos, o atabaque, a comunheira, os porrões, tudo ligado ao ter-
O que nos identifica como quilombo são as tradições que a gente mantém no terreiro
reiro, ficou aqui, sozinho. Foi como se dividissem a gente ao meio. As outras pessoas do abrigo ouviam suas músicas evangélicas, católicas e até pastor entrava para conversar com as pessoas. Mas toda vez que a gente tocava o tambor chamando a ancestralidade, a coordenação do abrigo reclamava. Meu irmão deu aulas de capoeira durante uma semana. Depois, a coordena-
Se não tem terreiro, não tem família, não tem quilombo. Não vai mais existir o grupo ção também proibiu. Como foi o retorno à comunidade? Já fazia mais de 90 dias que estávamos no abrigo, a pedido da prefeitura, que afirmava que iria reformar nosso quilombo. Porém, ao invés de arrumar, eles quebraram muita coisa, mas só do terreiro. Tudo aquilo que era para
manter um terreiro de candomblé ativo, como a camarinha, a cozinha, estava quebrado. Eu tenho os laudos da Defesa Civil que mostram os locais com risco de desabamento e que não foram mexidos. Na minha opinião, primeiro o poder municipal teve conhecimento do que era a identidade dessa comunidade e depois atuou para descaracterizá-la. O que nos identifica como quilombo são as tradições que a gente mantém no terreiro. A senhora diz que o quilombo não é só lugar de morar, mas também de praticar outras tradições, como a capoeira. Sim. A comunidade recebia orientações pelo Pai Benedito, o preto velho incorporado pela Mãe Efigênia. Ele dizia que, se a gente quisesse quebrar nossas correntes, precisávamos começar a ensinar as crianças. A comunidade sempre foi aberta às crianças e contávamos as histórias que o Pai Benedito nos ensinava, que escravo não vivia só de apanhar e servir aos senhores, mas também tinham um jeito próprio de viver, de curar, cozinhar, plantar. Tinham o seu momento na senzala em que eram muito felizes. Você fala do território com muita força. Qual a relação que vocês mantêm com este lugar? Meu território é mais sagrado do que minha própria fé. A prefeitura tinha esse conhecimento e fez um atentado para destruir a identidade da comunidade. Por quê? Se não tem terreiro, não tem família, não tem quilombo. Não vai mais existir um grupo com sua forma própria de viver.
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Amiga da Saúde Oi Amiga, estou grávida e quero muito ter um parto normal. Porém, ouço dizer que a maioria dos hospitais, principalmente os privados, fazem muita cesárea desnecessária.
Helena Luíza, 34 anos, nutricionista. Cara Helena, isso que você disse é verdade. Muitas mulheres ao longo do pré-natal ou mesmo de última hora são amedrontadas pelos profissionais e acabam fazendo uma cesárea. E o pior é que a grande maioria dos motivos utilizados não deveriam justificar cesáreas. Por exemplo, o cordão em volta do pescoço do bebê, uma cesárea na gestação anterior ou mesmo um bebê pélvico não contraindicam o parto normal. Procure conhecer as estatísticas de cesáreas das
maternidades que te interessam, é um bom indicador da sua chance de parto normal. Estude sobre o assunto, veja vídeos, artigos e procure participar de atividades coletivas sobre o parto normal. Isso te dará mais segurança para discutir com os profissionais e para decidir como será seu parto. Se estiver em BH, visite a Exposição Sentidos do Nascer, no Parque das Mangabeiras, de quinta a domingo. É uma ótima oportunidade para conhecer mais e fazer contatos.
Sofia Barbosa I Coren MG 159621-Enf. Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br
Nossos direitos Lei do Salão Parceiro A partir de janeiro de 2017 começa a valer Lei do Salão Parceiro, que retirou direitos dos mais de 2 milhões de trabalhadores brasileiros do ramo da beleza, como cabeleireiras, barbeiros, esteticistas, manicures, depiladoras e maquiadoras. Pela nova lei, não existe mais obrigação na relação de emprego, ou seja, os trabalhadores perderam o direito à carteira assinada, férias, descanso remunerado e 13º salário. Pela nova lei, a relação se dará por meio de um Contrato de Parceria. Como isso vai funcionar? Os trabalhadores e donos de salão terão que assinar um contrato por escrito, que vai definir os percentuais
que cada um vai receber pelos serviços prestados, os dias de pagamento e a quais estruturas do salão o trabalhador terá direito. Além disso, é o trabalhador quem deverá pagar as contribuições sociais e previdenciárias, o dono do salão terá apenas a obrigação de recolhê -las. No caso concreto, a orientação é para que os trabalhadores não aceitem trocar o vínculo trabalhista pelo contrato de parceria, mas, caso o contrato seja realizado, sugerimos que o trabalhador opte pela inscrição no cadastro de MEI – Microempreendedor Individual, por ter um valor de contribuição menos pesado.
Adília Sozzi é advogada da Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP.
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por Alan Tygel*
www.malvados.com.br
Dicas Mastigadas Tschulent (Feijoada Polonesa) CAÇA-PALAVRAS
www.coquetel.com.br
© Revistas COQUETEL
Procure e marque, no diagrama de letras, as palavras em destaque no texto.
K K S W Y V G S Y I W S Z Z B G O W O Z A M Y T
J A R N X G Y E I R M A X D R D D L X I R T O
I N F A N T I L A T I G K A I O S X D N S A J I
B V R F V H M K T L L I I Y B R I K E M W T T D
V R E P R I S A D O S X E S S P P S O S Z O J U
S S I T C O M S I B O E N W K S E B N T M S G A 23
Solução
O R P S I P E A I I
I N D A S F A N T I L A
R E P R I S A D L O S X
O S I T C O M S
V D I Z Z E N E M V O D R M A I R E D D O J R
Y E I R O S A R B A R G I D O
F A C H A V E S N I V T L B M O E K Y E F I I
R I S A A F C U R H D I A I E V E N E N D S C S N I S A I D T S I B H S A M O
R S H I K D D H B S N F S N A Z V C M M Y R O
N I C K E L O D E O N
O público INFANTIL também tem suas sitcoms, como as criadas pelo canal DISNEY Channel e NICKELODEON. No BRASIL, algumas comédias do gênero também fizeram bastante sucesso, como “Saide BAIXO”,“Toma Lá, Dá Cá” e “Vai que Cola”.
J I F R I E N D S G I Y E I S N F I Y O N K E
O I R O T I D U A
Dentre as características mais conhecidas do formato estão as RISADAS gravadas do público, quando os seriados não são filmados diante de um AUDITÓRIO, as piadas que se sustentam no bate-bola da fala dos atores e personagens por vezes caricatos. Alguns programas se mantiveram no ar por anos ou são REPRISADOS até hoje, como o sucesso “FRIENDS”, o mexicano “CHAVES”, no ar há décadas no Brasil pelo SBT, “Um Maluco no Pedaço”, com Will Smith, e o ainda em produção “The Big Bang Theory”, um dos PROGRAMAS de maior AUDIÊNCIA na TV.
K R A U D I E N C I A D H X H H I N K C V K J
C O M E D I A S F O R M A T O S
Um dos FORMATOS mais comuns da TV norte-americana, e que tem se enveredado no Brasil, são as SITCOMS, as chamadas “COMÉDIAS de situação”. Nesses programas, cada EPISÓDIO conta uma HISTÓRIA diferente com os mesmos personagens, com uma abertura e desfecho próprios, sem necessitar que o telespectador seja obrigado a assistir ao anterior para entender o que se passa.
ILUSTRAÇÃO: MACHADO
Siticoms Feijoada • • • • • • • •
1 kg de cevadinha 1/2 kg de feijão branco 1/2kg de feijão vermelho 1 kg de peito de boi 1 kg de galinha 1 língua defumada 1/2 kg de linguiça 4 cebolas
Salmoura • • • • • •
3 cebolas 1 cabeça de alho pimenta do reino a gosto vinagre azeite sal
Cobertura • 5 batatas grandes • 1 cebola Um dia antes, prepare a salmoura, batendo os ingredientes no liquidificador para temperar as carnes. Deixe as carnes um dia temperando neste molho. Após lavar e escolher os grãos, monte numa panela grande camadas intercalando grãos e carnes, que podem ser colocadas inteiras. Nas camadas das carnes, coloque as cebolas inteiras. Encha de água e comece a cozinhar. Após iniciar a fervura, mantenha em fogo baixo por 4 horas com a tampa fechada. Nesse ponto, é hora da cobertura de batatas. Rale as batatas e a cebola (ou então passe no processador). Misture tudo, e repouse por cima da feijoada. Cozinhe então a feijoada por mais 4 horas, mas agora com a tampa aberta. Uma casquinha irá se formar após o cozimento das batatas. Na hora de servir, retire a batata e coloque num recipiente separado. Retire as carnes para cortar, e coloque os grãos também separado. * Alan Tygel é da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
Participe enviando sugestões para receita@brasildefato.com.br.
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CULTURA
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Negro é lindo: a música como resistência ARTE DE LUTA Especialistas afirmam que composições que exaltam a cultura negra possuem grande influência na reconstrução da identidade Thais Mallon
Música que fortalece O jovem Robson Sales, de 23 anos, teve na música negra apoio para lidar com situações difíceis. Ele conta que para se formar na faculdade, que concluiu com o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), as músicas “Se tu lutas, tu conquistas”, do SNJ, “Negro Drama” e “A vida é um desafio”, dos Racionais MC’s, serviram de grande incentivo. “Foram essas letras e o rap que me ajudaram a me reconhecer como homem negro. Eu me
Raíssa Lopes
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egro é lindo / negro é amor / negro é amigo”, cantou Jorge Ben na composição lançada em 1971. A música, que narra a exaltação da cultura negra, faz parte de um compilado de obras do artista que o levaram ao patamar de referência para o movimento negro do Brasil. Mas com uma canção também se faz luta? Para a psicóloga Andréa Marques, especialista em gênero e diversidade, sim. A pesquisadora, que também é negra, explica que o nosso país viveu um processo intenso de perda da ancestralidade e que, para resgatá -lo, a arte é fundamental. “A música é uma maneira de se contar história, seja quando ela fala do cabelo, e dos hábitos como do enfrentamento ao racismo. Ela cumpre um papel essencial para a reconstrução da identidade”, afirma. A opinião é compartilhada pelo cantor mineiro Sérgio Pererê, que acredita que muitos vazios existenciais podem ser preenchidos através do
conhecimento de seus antepassados. A música, de acordo com ele, representa a conexão com a sua origem e tem a capacidade de dar sentido a algumas questões. “Por isso a coisa ganha um poder psico-
Para Pererê, não se trata de dar poder, mas de reconhecer um poder que já existe” lógico, espiritual. ‘Empoderamento’ não é a palavra correta, porque não se trata de dar poder, mas de reconhecer um poder que já existe e que aparece quando a gente entra em contato com nossas raízes”, declara o artista, que tem como uma das principais influências a “Minas negra” de Milton Nascimento. A professora Ana Lucia Lapolli, em trabalho para a Universidade Fede-
ral do Rio Grande do Sul (UFRGS), abordou a importância de composições que falavam do negro de forma positiva e orgulhosa. O projeto revelou que, até a metade do século 19, a população afrodescendente era alvo de estereótipos preconceituosos, que depreciavam e tiravam de cada indivíduo sua individualidade. “E Ben Jor repete muitas vezes ‘negro é lindo’, querendo incutir essa consciência através da repetição. [...] Em ‘Zumbi’ [música que se refere a Zumbi dos Palmares], a inclusão de instrumentos musicais de origem africana funciona como símbolo da convocação à união e à luta”, exemplifica trecho da obra.
Eu me via naquilo, eu via a luta que seria a minha vida, a luta dos meus pais”
via naquilo, eu via a luta que seria a minha vida, a luta dos meus pais, e sempre que estou com alguma dificuldade, busco ajuda nessas composições”, comenta. Já Caio Jardim-Sousa, estudante, encontrou reconhecimento nas manifestações de rua, como o Quarteirão de Soul. “Passei um dia inteiro dançando, cantando, e tive alegria nos olhos de ver toda aquela galera preta requebrando na Praça 7. Foi de engrandecer o espírito”.
Zumbi, senhor das demandas
Zumbi foi o último chefe do Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, antiga capitania de Pernambuco (atualmente Alagoas). É um dos maiores símbolos da resistência negra contra a escravidão e em sua homenagem foi decretado o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. Ainda bebê, Francisco, como tinha sido batizado, foi capturado e dado de presente a um padre. Aos 15 anos, fugiu para Palmares e adotou o nome Zumbi, que significa “guerreiro”. Logo começou a comandar militarmente o quilombo, passando a chefiar a resistência contra os portugueses, período que durou 14 anos. Segundo dados históricos, em 1678 o quilombo de Palmares já contava com uma população de mais de 20 mil pessoas e onze povoados. Para destruir o local, a Coroa Portuguesa organizou 16 expedições oficiais - 14 delas fracassaram devido às estratégias de combate dos negros, que não possuíam qualquer arma de fogo. Em 1694, a comunidade foi atacada e resistiu durante 22 dias. Depois de lutar bravamente, Zumbi fugiu e se escondeu, sendo capturado e assassinado em 20 de novembro de 1695, após traição de seus companheiros. Como forma de dar exemplo e evitar o fortalecimento dos negros escravizados, a corte mutilou o corpo do líder e expôs sua cabeça em praça pública.
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na geral
Mineiros faturam 18 pódios nos Jogos Escolares Marcus Cicarini / FEEMG
ESPORTES
CBF perde cinco patrocinadores E
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Ricado Stuckert / CBF Reprodução de vídeo
nvolvida em escândalos de corrupção, a CBF enfrenta, agora, problemas com perda de patrocínios. Nos últimos meses, Gillette, Michelin, Sadia e Unimed Seguros romperam com a entidade máxima do futebol brasileiro. Desde a semana passada, já não vigora mais o contrato de cinco anos com a Samsung, assinado em 2013 e que rendia R$ 20 milhões anuais. Há meses, o escândalo da Fifa atinge o alto escalão da CBF. O vice-presidente José Maria Marin vive em prisão domiciliar nos Estados Unidos e o presidente Marco Polo Del Nero foi indiciado pela Justiça estadunidense no ano passado.
Esgrima em cadeira de rodas fecha temporada em São Paulo
Curto e Grosso
Virada de jogo Lucas Figueiredo / CBF
Alaor Filho / MPIX / CBP
Estudantes mineiros já conquistaram 18 pódios em modalidades individuais, durante os Jogos Escolares da Juventude, em João Pessoa (PB). Foram sete ouros, duas pratas e nove bronzes. Do total, 11 foram conquistas no atletismo, cinco do judô, uma no xadrez e uma no tênis de mesa. Destaque para a equipe de atletismo de Lavras, que ficou com três ouros e uma prata. (Com informações da SEESP)
Entre os dias 18 e 20 de novembro, o Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, recebe o Campeonato Brasileiro de Esgrima em Cadeira de Rodas. Participam 44 atletas, dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. O evento encerra o calendário do ano na modalidade e serve para definir o ranking brasileiro no ano. Nas Paralimpíadas do Rio 2016, a equipe do Brasil participou com cinco representantes. O atleta Jovane Guissone, ouro na espada em Londres 2012, obteve o melhor desempenho brasileiro, chegando às quartas-de-final.
Irene Coelho Em poucos meses, as situações de Brasil e Argentina se inverteram. Em junho, o Brasil ocupava a sexta colocação nas Eliminatórias. Dunga era demitido e Tite chegava com a difícil tarefa de reerguer a seleção Canarinho. Hoje, sua equipe lidera o torneio, com 27 pontos, e está com a vaga praticamente garantida na Copa da Rússia. Já a Argentina, que em setembro liderava as Eliminatórias, agora está na 5ª colocação, correndo o risco de jogar a repescagem. Na última semana, veio a BH enfrentar o Brasil e tomou um chocolate. Depois, venceu a Colômbia com facilidade, interrompendo um jejum de quatro jogos, mas ainda sofre com a falta de regularidade. O motivo do ascenso do Brasil, obviamente, é Tite, único treinador brasileiro que ousou se adaptar às mudanças do futebol. Mas, do lado albiceleste, não foi apenas a falta de bons treinadores a provocar a queda de rendimento. Hoje, com Messi e Di Maria no ataque, faltam jogadores de qualidade em outras posições, sobretudo nas laterais. Desde a época em que era treinada pelo Loco Bielsa, a Argentina não tem boas opções pelos lados, a não ser pela qualidade dos atacantes, quando caem pelas pontas. O resultado é que o jogo fica previsível e o meio de campo sobrecarregado na criação das jogadas.
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Copa do Brasil será decidida em Porto Alegre
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Grêmio tinha perdido o mando de campo da final da Copa do Brasil, contra o Galo, mas recuperou nesta quinta-feira (17). A punição se deu por conta da invasão do campo pela filha do técnico Renato Gaúcho, Carol Portaluppi, durante o empate com o Cruzeiro, no dia 2 de novembro. Porém, o tricolor obteve efeito suspensivo junto ao STJD, que considerou a punição exagerada e
Bruno Cantini
ESPORTES
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DECLARAÇÃO DA SEMANA (Divulgação / Seleção Alemã Federação Alemã de Futebo)
manteve apenas uma multa ao clube gaúcho. O primeiro jogo da decisão será disputado no Independência, dia 23. O segundo, na Arena do Grêmio, no dia 30
Nós nos tornamos campeões mundiais derrotando a seleção argentina, que é algo que deve ter chateado você. Então, simbolicamente, esta camisa também nos une a você com esta finalidade.
Até o fechamento desta edição, ainda não havia terminado o jogo entre Atlético e Palmeiras, pela 35ª rodada do Brasileirão.
Disse Reinhard Grindel, presidente da Federação Alemã de Futebol, ao presentear o Papa Francisco com uma camisa da seleção alemã para “selar a paz” com o pontífice argentino.
Gol de placa A seleção brasileira, até a última partida da “Era Dunga”, não sabia se conseguiria a vaga para a Copa da Rússia. Mas, aí, Tite assumiu e, com 6 jogos nas eliminatórias, 6 vitórias e um artilheiro novinho em folha, o Gabriel Jesus, já tem gente querendo saber qual será o grupo do Brasil em 2018!
Gol contra A Confederação Brasileira de Basketball (CBB) foi suspensa de competições mundiais. A Federação Internacional de Basquete alega que a CBB não tem estrutura para organizar eventos e equipes, além de acumular dívidas junto à federação. A decisão pode ser revista em 2017.
Decacampeão
É Galo doido!
La Bestia Negra
Bráulio Siffert
Rogério Hilário
Léo Calixto
Pela primeira vez em sua história, o América em um mesmo ano foi campeão mineiro nos torneios masculino e feminino. O inédito título das meninas veio no domingo passado, após o time repetir o resultado de 1 a 0 que havia feito no primeiDecacampeão ro jogo da final contra o Ipatinga. A campanha no Mineiro foi irretocável: sete vitórias e um empate; 34 gols marcados e só quatro sofridos. As meninas também venceram a Copa BH e fizeram boa participação no Brasileiro, sem perder nenhuma partida em Minas. O feminino do América foi profissionalizado em 2016, algo raro no Brasil e único em Minas. As atletas são funcionárias do Clube e, agora, vão se preparar para a longa temporada de 2017.
Se as chances no Brasileiro são remotas e a disputa do título da Copa do Brasil está bem próxima, pouco valeriam as discussões sobre renovação de contratos. No entanto, quando se fala na permanência de Robinho, a questão ganha destaque. Ele É Galo doido! valorizou cada centavo investido nele, esbanjando talento e determinação. Diante do que o Galo pode ter pela frente em 2017, Robinho é imprescindível, assim como Fred e Lucas Pratto. A diretoria vai conseguir segurar o elenco atual? Considero a saída de Dátolo fato consumado. Foi decisivo em vários momentos, mas não tem sido aproveitado. E, com relação a Marcelo Oliveira, a avaliação depende do resultado das finais da Copa do Brasil.
Na última quarta-feira (16), a equipe sub20 do Cruzeiro foi eliminada nas semifinais da Copa do Brasil, após derrota em casa para o Bahia. Embora a maioria dos jogadores tenha idade para mais dois, três anos de categorias de base, a equipe coLa Bestia Negra mandada pelo competente técnico Marcos Valadares teve um desempenho brilhante. Enfrentar clubes com média de idade maior e chegar longe na competição mostra mais uma vez a tradição celeste no trabalho com a base. No elenco profissional, quase 40% são formados por jogadores da Toca I. O planejamento para 2017 está em andamento e alguns jovens já mostram ter potencial para ocupar seu lugar ao sol no elenco de Mano Menezes.