Edição 184 do Brasil de Fato MG

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Ricardo Lima

Ricardo Stuckert

BRASIL

CULTURA

Depoimento para história

Festa dos Arturos

Veículos da grande mídia e Sérgio Moro condenam, por antecipação, Lula, apesar da falta de provas. Em seu depoimento, ex-presidente denunciou arbitrariedades

Com muita cultura popular, quilombo celebra luta dos negros escravizados e abolição da escravatura

Minas Gerais

Belo Horizonte, 12 a 18 de maio de 2017 • edição 184 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita • facebook.com/brasildefatomg Mídia NUNJA

Mineração atravessa vidas

Moradores que entraram com Ação Popular cobrando mais informações sobre o projeto de expansão da Anglo American, na região de Conceição do Mato Dentro, agora sofrem ameaças. O projeto Minas-Rio, um dos maiores empreendimentos minerários do mundo, pretende aumentar a exploração de minério de ferro, em um novo plano de exploração, que vai durar 28 anos. Comunidades afetadas e organizações esperam resolução de velhos problemas antes que se iniciem outros. i minas

CIDADES

VARIEDADES

Pagar para trabalhar

Nas ondas do rádio

Trabalhadores denunciam esquema envolvendo empresa que presta serviços à PBH. Câmara convoca audiência pública

O Brasil de Fato MG também tem programa de rádio. A estreia acontece neste sábado (13), na Autêntica FM (106.7), às 11h


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OPINIÃO

Belo Horizonte, 12 a 18 de maio de 2017

Editorial | Brasil

Lula lá em Curitiba

ESPAÇO dos Leitores “Uns oferecem o ensino, outros acabam com as verbas... Não é difícil escolher um lado” Nathália Ramos Lopes, sobre a matéria “Cortes de verbas já afetam a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri” “Agora me contem uma novidade. Nada de novo na máquina de captar dados chamado Facebook” Lucas Coelho sobre a nota “Facebook vendendo emoções?” “Obrigada, Pe. João, pelos e esclarecimentos. Nós precisamos deles” Lúcia Maria da Costa sobre o artigo “Sede de Democracia” do deputado federal Padre João “Tenho um medo descomunal desse relator e presidente” Cláudia Aparecida comenta o artigo “É preciso falar sobre a reforma trabalhista”, de Beatriz Cerqueira

Cinquenta mil pessoas se reuniram em Curitiba durante o depoimento de Lula à operação Lava Jato. Foram dezenas de milhares de todos os cantos do país que se deslocaram à capital do Paraná para demonstrar o apoio popular ao ex-presidente. Tão importante quanto o que ocorreu durante cerca de cinco horas, dentro do prédio da Justiça Federal, foi o que ocorreu do lado de fora, nas ruas de Curitiba. Esse apoio traduz a convicção de milhões de brasileiros/as de que o processo judicial contra Lula é, sobretudo, um processo político. A operação Lava Jato é parte central do golpe em curso no país, cujo objetivo é a retomada do projeto neoliberal, sem que o mesmo tenha sido aprovado

Lava Jato é parte do golpe em curso nas urnas. Milhões de brasileiros/as já percebem como esse golpe afetará suas vidas e já querem a volta do ex -presidente em 2018. As frágeis acusações contra Lula só são levadas a sério por parte da população devido à gigantesca campanha midiática de desconstrução de sua figura. Por trás disso, está a tentativa de inviabilizar a candidatura do ex-presidente nas próximas eleições. Para além do que diz a grande imprensa, o que se percebe a cada dia que passa, com o desenrolar dos fa-

tos, é que todo o sistema político brasileiro opera e sempre operou sobre bases podres. Desde seu nascimento, a república se mantém por meio da relação imoral com o poder econômico, principal corruptor da democracia e que segue impedindo a realização dos reais interesses do povo.

É central lutar contra reformas do governo Portanto, é necessário desmascarar a farsa por trás da Lava Jato e garantir a candidatura de Lula em 2018. Para, então, o povo, soberanamente, decidir se quer mais uma vez apostar nele, ou se prefere outro caminho. Junto a isso, deve seguir a luta contra a retirada de direitos, (principalmente contra as reformas da previdência e trabalhista) e por outro modelo econômico, político e social. Lula é o maior líder popular da história brasileira. Com todos os seus acertos e erros, todas as suas qualidades e limites, é a principal síntese construída até aqui pela resistência do povo brasileiro. Se sua figura e liderança ainda são insuficientes, demonstra-se que ainda é insuficiente a caminhada do povo na construção de sua libertação. Que o processo de luta contra o atual golpe fortaleça o povo brasileiro, suas organizações para que num futuro próximo seja possível a construção de novas sínteses, ainda mais avançadas e belas.

Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

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conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Cida Falabella, Durval Ângelo Andrade, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Marcelo Oliveira Almeida, Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Rosângela Gomes da Costa, Samuel da Silva, Talles Lopes, Temístocles Marcelos, Titane, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Larissa Costa, Pedro Rafael Vilela, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes e Wallace Oliveira. Colaboradores: Alan Tygel, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, Fernanda Costa, João Paulo Cunha, Léo Calixto, Marcelo Pereira, Nadia Daian, Rogério Hilário, Sofia Barbosa. Revisão: Cristiane Verediano. Administração: Vinicius Nolasco. Distribuição: Amélia Gomes. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares.


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Belo Horizonte, 12 a 18 de maio de 2017

O Dia das Mães (14 de maio) está chegando. Nessa data, muita gente aproveita para comprar presentes, roupas, perfumes.

Mas será que adianta dar tudo isso e não dividir o trabalho doméstico?

Lidiane Rodrigues, atendente

“Nem tudo na vida é coisa material. O que vale mais é a presença, compartilhar as tarefas, dar carinho e amor. Mas só eu ajudo a minha mãe, infelizmente. Meu irmão não é presente”.

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Declaração da Semana

PERGUNTA DA SEMANA

“Ah, mãe não liga muito pra presente não. Elas preferem a casa arrumada, ajuda no dia a dia. Tanto que a casa será de responsabilidade minha no domingo”.

GERAL

Rica Retamal

“Comida saudável de verdade é aquela que faz bem para nosso corpo, mas também que faz bem para a terra e para o produtor” Disse Bela Gil, quando participava da 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo. Em entrevista, a apresentadora defende os alimentos sem agrotóxicos

FIM DO BILHETE MÚLTIPLO

Janaína Rocha de Oliveira, arquivista

O governo federal anunciou o fim do bilhete múltiplo do metrô para os usuários de BH. O sistema dava direito a um bilhete grátis a cada nove bilhetes comprados. Em nota, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) afirma que “a decisão visa evitar transtornos aos usuários”, já que 15% dos bilhetes apresentavam problemas na tarja magnética. “Não seria mais fácil melhorar os bilhetes ou a eficiência das catracas?”, questionou um internauta. Coincidência ou não, o fim da promoção aconteceu logo depois da greve geral em 28 de abril, quando o metrô em BH aderiu à paralisação e não funcionou.

Presente mais saboroso Que tal dar uma diferenciada no presente para sua mãe? Essa é a ideia do Movimento de Trabalhadores Sem Terra (MST), que vende nesta semana cestas especiais com produtos agroecológicos para as mamães. Fazem parte do presente o mel de aroeira, o café orgânico, o gel de massagem, a geleia e o licor de umbu, e outros alimentos produzidos pelas famílias das ocupações rurais. Para encomendas: (31) 99409-1779/ 97596-9694 ou concentra.mg@gmail.com.

PESQUISA Neste dia das mães, temos mais um motivo para agradecer a elas. A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil 4ª edição” traz um dado interessante: as mães ou responsáveis do sexo feminino são as pessoas que mais incentivam pessoas a gostarem de ler. 11% dos entrevistados escolheram esta opção. A família também tem papel fundamental: 48% das pessoas que têm o hábito de ler afirmam que recebiam livros de presente.


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CIDADES

Belo Horizonte, 12 a 18 de maio de 2017

Trabalhadores denunciam terceirizada da prefeitura EXPLORAÇÃO Funcionários alegam indicação de vereadores para vagas na cooperativa Abrasâo Bruck / CMBH

Rafaella Dotta e Wallace Oliveira

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ma cooperativa em BH teria achado uma nova fórmula para extorquir dinheiro. De acordo com denúncias, motoristas estão sendo obrigados a pagar para obter uma vaga de trabalho na Cooperativa de Transporte Urbano e Rural (Coopertur), que presta serviços à prefeitura de Belo Horizonte. Além disso, profissionais estariam sendo indicados por vereadores. A Coopertur é uma pessoa jurídica contratada pela Prefeitura de Belo Horizonte pelo valor de R$ 51 milhões, para prestar serviços de motoristas oficiais. O atual contrato foi iniciado em setembro de 2016 e dura um ano. Segundo as denúncias, pessoas procuram a Coopertur em busca de emprego. Chegando lá, a cooperativa orienta o candidato a comprar um carro na empresa Locagerais, especializada em locação de veículos e terceirização de frota. Elas deveriam pagar pelo veículo o preço de R$ 15 mil de entrada, mais R$ 15 mil para garantir a vaga (o valor pode variar). O motorista

também pagaria R$ 750 para ser associado e abriria mão de seus dois primeiros meses de remuneração, com o objetivo de ajudar a estruturar a Coopertur. Vinculado a cooperativa desde setembro de 2016, Bruno Gleidson conta que não passou pela “venda casada”, mas pagou a taxa de R$ 750 e abriu mão de dois meses de remuneração. Ele questiona o fato de que, mesmo com a colaboração à cooperativa, seja demitido sem justificativa. Motoristas declaram, ainda,a que a cooperativa recolhe a contribuição previdenciária dos trabalhadores e não repassa o dinheiro ao INSS, e

que os pagamentos atrasam 20 dias todos os meses. Ligação complexa A acusação vai mais longe e envolve o projeto social Luiz Vidas, que oferece serviços gratuitos de ambulância, transporte e educação na Região Metropolitana de BH. O dinheiro cobrado aos motoristas passaria pela Locagerais, sendo direcionado à compra de ambulâncias no “Luiz Vidas”. Tanto o projeto quanto a empresa Locagerais têm como diretor Luiz Henrique Pires, filho de Luiz Ubiratan, que é presidente do Partido da Mobilização Nacional (PMN) em BH. Ele atuaria, segundo trabalhadores,

como “patrão” na Coopertur. Um motorista que prefere não se identificar disse que a doação de ambulâncias a vereadores seria uma forma de “comprá-los”. “Ubiratan está preparando o filho para ser deputado. Então, está comprando apoio de vereadores”, declara. As demissões também teriam relação com o suposto esquema. Segundo o motorista, os profissionais seriam substituídos por pessoas indicadas por vereadores. “Eles estão nos substituindo e dizendo que é orientação da prefeitura. Todo mundo sabe. Se você tem contato com um vereador, vai lá na Câmara e arranja o serviço”, denuncia o motorista. As demissões também serviriam ao recolhimento indevido de verbas. Recontratando profissionais, a cooperativa poderia arrecadar até R$ 4 milhões. Outro lado Questionada, a PBH afirma que a cooperativa é a única responsável pela substituição de seus cooperados e que as denúncias devem ser apuradas pelos órgãos competentes. À reportagem, a associação Luiz Vidas disse que as acu-

sações carecem de provas e estão sendo analisadas pela sua assessoria jurídica. Luiz Henrique Pires divulgou um vídeo-resposta no Facebook, no qual afirma que as empresas Coopertur e Locagerais têm vínculos apenas comerciais e que seu pai, Luiz Ubiratan, não tem ligação com a Locagerais. Sobre as ambulâncias do Luiz Vidas, diz que o projeto sobrevive com “recursos próprios, de maneira independente”. Audiência pública Os vereadores Pedro Patrus (PT) e Gabriel Azevedo (PHS) solicitaram audiência pública para o dia 16 de maio, às 19h, com o objetivo de debater o assunto. Foram convidados para a reunião o secretário de Governo, Paulo Lamac, de Planejamento, Orçamento e Informação, André Reis, bem como representantes da Coopertur. O debate deve ser acompanhado pela Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público de Minas Gerais.

Terceirização abre brechas para corrupção E

ssas suspeitas, que envolvem uma entidade que presta serviços ao Município, ainda precisam ser comprovadas. Mas o caso mostra o favorecimento de particulares com dinheiro público. Historicamente, a terceirização tem servido a três propósitos no setor público. “O primeiro é a corrup-

ção, viabilizando o repasse de recursos a pessoas que mantêm vínculos com quem está no ente estatal, por intermédio de uma terceirizada”, comenta o economista Frederico Melo, assessor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Outra finalidade da terceirização seria burlar di-

Reprodução vídeo

reitos dos servidores públicos, como estabilidade, limites da responsabilidade fiscal, concursos públicos, além de admitir pessoas ligadas a vereadores e outros políticos. Por fim, ao terceirizar, o poder público se exime de violações de direitos e outros mausfeitos, transferindo responsabilidade à empresa contratada.


Belo Horizonte, 12 a 18 de maio de 2017

Filhos e filhas de Maíra João Paulo Cunha A saga pela retirada de direitos e destruição da arquitetura institucional democrática brasileira continua. Depois dos estudantes, trabalhadores e aposentados, o governo não eleito agora direciona sua mira para as populações indígenas. Tudo em nome de manter vivo o sentido da fotografia registrada na consagração do golpe: um governo sem povo, composto de homens brancos e ricos. O sinal foi dado com a escolha do Ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), comprometido com os interesses dos latifundiários. Os conflitos de terra se intensificaram sob o patrocínio da retirada do Estado. Depois de ataques a populações indígenas, em ações em que o horror fez conviver tiros e tortura, a situação ganhou instabilidade institucional, com o afastamento do presidente da Fundação Nacional do Índio, Funai, Antônio Costa. É bom lembrar que Costa já era uma indicação bastante problemática, já que vinha das hostes do Partido Social Cristão, do Pastor Everaldo, mais evangélico e ruralista que social e cristão.

O governo não eleito direciona sua mira para as populações indígenas Como tudo sempre pode piorar quando se trata de Temer e Serraglio, foi chamado interinamente para a função um general do Exército, Franklimberg de Freitas. A Funai já vem sendo escanteada há tempo pelo governo não eleito. Seu orçamento foi cortado em mais de 40% em relação ao anterior, bases e postos vêm sendo fechados, e os pedidos de demarcação mofam por falta de estrutura. Em março, foram extintos 347 cargos na fundação. Sem falar na ausência de uma política sistemática de segurança e proteção, que ganha ainda mais relevância face à escalada de violência e impunidade. A situação faz lembrar Darcy Ribeiro, um antropólogo que amava os índios e escreveu o mais belo romance sobre eles. Em “Maíra”,

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Opinião

o escritor nos coloca frente a uma nova cosmogonia, profundamente brasileira, que nos ensina que o humano e o sagrado se completam. Um povo não existe sem seus deuses. Mas os deuses precisam do povo para cumprir seus desígnios. Em uma passagem, Isaías/Avá, um índio que atravessa uma crise pela experiência da “desindianização”, assume como seu maior compromisso a capacidade de resistir. “Este é o único mandado de Deus que me comove todo: o de que cada povo permaneça ele mesmo, com a cara que Ele lhe deu, custe o que custar. Nosso dever, nossa sina, é resistir, como resistem os judeus, os ciganos, os bascos e tantos mais. Todos inviáveis, mas presentes”. Um governo que não respeita o povo e que segue afrontando os direitos civis e sociais em nome de interesses de poucos, talvez esteja cometendo um dos maiores crimes que se tem notícia. Depois de ameaçar os homens com o desprezo, agora promove, orgulhosamente, o extermínio de deuses. Os inviáveis, no entanto, já estão pintados para guerra.

Minas acaba de atingir 100 mil certidões de nascimento emitidas pelas Unidades interligadas (UI’s). Uma iniciativa da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania em parceria com a Corregedoria Geral de Justiça de Minas Gerais, Ministério Público Estadual, Sindicato dos Oficiais de Registro Civil (Recivil), hospitais e cartórios que garante a emissão do documento nas próprias maternidades, em todo o estado. Essa ação, que ganhou o Prêmio Direitos Humanos em 2015, ajuda a erradicar o sub-registro civil e aumenta o acesso à cidadania.

Acesse direitoshumanos.mg.gov.br e saiba mais.

MINAS

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MINAS

Belo Horizonte, 12 a 18 de maio de 2017

Lideranças comunitárias são ameaçadas após pedirem mais transparência da Anglo MINERAÇÃO Em ação popular, eles pedem mais informações sobre ampliação do projeto Minas-Rio Joana Tavares

Joana Tavares / Brasil de Fato MG

“Éum massacre. Os poderes usam tudo que têm para massacrar as pessoas”. Lúcio

da Silva Pimenta, um lavrador de 51 anos, resume assim a situação de sua comunidade, e de tantas outras, em Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais, em relação à atividade de mineração na região. Quando começou a correr a informação de que se instalaria ali uma grande obra, Lúcio até ficou empolgado com a perspectiva de melhorias. Mas, ao invés disso, relata ter presenciado a expulsão de seus familiares, o fechamento de estradas, o isolamento das comunidades, o secamento de nascentes, o fim de diversos costumes do local. Apesar de ter documentos que comprovam que é proprietário da terra onde vivia, recebeu o aviso de que teria 15 dias para sair de seu terreno, que estaria em área de “servidão minerária”, ou seja, em área de interesse da Anglo American, que prepara um grande projeto de ampliação

Vanessa e Reginaldo saíram de sua casa devido a tremores do mineroduto

de operações. Lúcio mora atualmente em um galpão próximo da estrada. À noite, se esconde no mato para dormir, pois tem medo do que pode acontecer com ele, desde que foi um dos autores de uma Ação Popular, pedindo mais informações sobre a Etapa 3 do projeto Minas-Rio. Outra autora da ação coletiva, Vanessa Rosa Santos, foi hostilizada nas ruas da cidade e recebeu ameaças de um fazendeiro. Vanessa e seu marido, Reginaldo Rosa dos Santos, também autor da ação, tiveram que sair de sua

casa, na comunidade Cabeceira do Turco, devido aos tremores causados pelo mineroduto, instalado em suas terras. Na zona rural, eles criavam peixes, galinhas, porcos, além de cultivarem hortas e outras plantações. Depois de comprovar que a casa estava com rachaduras e que, efetivamente tremia, devido ao mineroduto, a empresa os colocou em um programa de “aluguel social”, em uma casa na cidade. “A casa não é minha. E quero algo que seja é meu, igual ao que eu tinha. Não quero

depender da empresa”, explica Vanessa. Agressão direta Outro autor da ação, Elias Souza, foi agredido fisicamente na frente de seus filhos pequenos. Não foi a primeira vez. Após a agressão física e psicológica ocorrida no mês de abril, enfrentou problemas de saúde e ficou um tempo internado em Belo Horizonte. O quinto autor da ação, Lúcio Guerra Júnior, que há anos articula o movimento ReajaRede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos pelo Projeto Minas-Rio da Anglo American, recebeu inúmeras ameaças, em grupos de WhatsApp. No dia seguinte à decisão da juíza em acatar a ação e suspender a realização da audiência pública, Júnior recebeu muitas ligações de uma suposta empresa funerária.

dia 11 de abril, devido à pouca quantidade de informações disponíveis sobre o projeto de expansão da Mina do Sapo do projeto Minas-Rio, da Anglo American. A mineradora solicita a Licença Prévia e a Licença de Instalação para começar a expansão de 12 km da cava. A perspectiva é que o projeto dure 28 anos. Representantes do Ministério Público Estadual e Federal se reuniram com os autores da ação. Segundo o promotor da comarca de Conceição do Mato Dentro, Marcelo Mata Machado, o MPE instaurou um Procedimento Investigatório Criminal na Promotoria de Justiça para apurar “autoria e materialidade das ameaças”. Está prevista também uma audiência com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa no dia 24 de maio.

Ação coletiva Os cinco atingidos – que representam uma parte das centenas de pessoas afetadas - pediram, em Ação Popular, o cancelamento da audiência pública, prevista para

Resposta A Anglo American declarou que “é severamente contra a violência de qualquer forma e não tem nenhuma conexão com as ameaças acima mencionadas”.

Clima de hostilidade está ligado a um conflito maior Divulgação / Anglo American

A

pesquisadora Ana Flá-

via Santos, do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (Gesta), da UFMG, chama a atenção para um conjunto de estratégias que a empresa emprega para isolar os atingidos e construir um discurso dominante sobre sua atuação na região. “A empresa tenta isolar as comunidades, faz promessas de melhorias e favorecimentos, para dividir as pessoas. É um processo de coopta-

Segundo a Anglo, no pico das obras da Fase 3 serão gerados 800 empregos

ção que aparenta ser de livre negociação. Mas as pessoas, muitas vezes, se veem

sem opção efetivamente”, pontua. Promessas de emprego

“O discurso criminalizante da Anglo é muito forte. Eles criam um clima de hostilidade e de incentivo às ameaças, isso podemos perceber. E usam a ameaça da interrupção das atividades para isso”, analisa Lucas Furiati, pesquisador do Programa Polos de Cidadania, da Faculdade de Direito da UFMG, que atua na região. Segundo a Anglo American, no pico das obras da Fase 3, serão gerados 800 novos postos de trabalho, sendo

100 definitivos. “Estimamos que, no mínimo, 30% dos trabalhadores serão da região”, diz, em nota.

Dos 800 empregos previstos, apenas 30% seria para pessoas da região


Belo Horizonte, 12 a 18 de maio de 2017

MINAS

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Antes de ampliar, moradores cobram resolução de problemas antigos CONDICIONANTES Cadastro do número total de afetados e impacto sobre as águas são algumas das exigências Divulgação / Anglo American

O

projeto Minas-Rio é um dos maiores empreendimentos minerários do mundo. Ele começa com a extração do minério de ferro, em Conceição do Mato Dentro, e corta 32 cidades e 525 km, até chegar no Porto Açu, em São João da Barra, no Rio de Janeiro. Em 2009, a Anglo American, já proprietária da obra, obteve a Licença de Instalação para a área da mina e para a barragem de rejeitos. A forma como são concedidas as licenças são muito questionadas. Ana Flávia Santos, do Gesta UFMG, analisa que o Estado age de forma condescendente ao conceder as licenças, sem exigir o cumprimento de condicionantes anteriores. “Assusta o altíssimo número de condicionantes cujo cumprimento não foi fiscalizado”, destaca. Indenizações aos afetados Lúcio Guerra Júnior elenca dois aspectos fundamentais que ficam de fora a cada processo de concessão de mais uma licença: o mapeamento dos atingidos e a questão da água. Apenas uma minoria das pessoas é incluída no

Projeto Minas-Rio corta 32 cidades e 525km de Minas Gerais ao Rio de Janeiro

Plano de Negociação Fundiária. Os demais afetados precisam negociar seus casos individualmente. É o caso de Lúcio Pimenta. Ele, assim como centenas de outras pessoas, busca respostas para sua situação. “Não quero nada do governo nem do empreendimento, só quero que me respeitem, de acordo com as leis. É o mí-

nimo. Me respeita, me deixa quieto onde eu estou. Mas se tiver que me remover daqui, me remove com dignidade”, cobra. Água Conceição do Mato Dentro, que já foi conhecida como a capital mineira do ecoturismo, abriga a terceira maior cachoeira do BraJoana Tavares / Brasil de Fato MG

Me respeita, me deixa quieto onde eu estou. Mas se tiver que me remover daqui, me remove com dignidade”, cobra atingido

sil, a Cachoeira do Tabuleiro. No entanto, nos últimos anos, nascentes, córregos e rios têm sido assoreados. O caso mais emblemático talvez seja o da Cachoeira Passa Sete. Apesar de não constar em nenhum estudo apresentado pela Anglo, foi detonada sem licença. Outro lado “A Anglo American cumpriu e vem cumprindo todas as condicionantes do processo de licenciamento do Minas-Rio. Infelizmente, du-

rante a implantação da Fase 1 do empreendimento, dois cursos d’água da região, Córregos Pereira e Passa Sete, sofreram impactos que acarretaram na alteração, momentânea, da qualidade da água. Na ocasião, informamos aos órgãos competentes e foi firmado o compromisso de elaborar e executar um plano de recuperação dessas áreas”, respondeu a empresa, sobre a situação das condicionantes. A Anglo também informa que estabeleceu um “Programa de Convivência”, que busca o aprimoramento contínuo dos processos e ações da empresa. “O objetivo é discutir, em conjunto com a sociedade, os rumos do empreendimento, as alternativas de interesse das comunidades e as medidas que garantirão a qualidade de vida na região”, pontua. A mineradora também informa que começou uma ação batizada de “O Rima Tá na Rua”, para dar publicidade ao estudo de impactos na região. Será investido R$ 1 bilhão nas obras de implantação da Fase 3 do Minas-Rio. (Joana Tavares)

Anglo acusada de trabalho escravo

“Não quero nada do governo nem do empreendimento, só quero que me respeitem”, afirma Lúcio

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Na fase de implantação das obras, em 2009, cerca de 6.000 trabalhadores se rebelaram contra as más condições de trabalho, ateando fogo nos alojamentos e impedindo a entrada de carros no canteiro de obras. Em 2014, o Ministério do Trabalho e Emprego flagrou 185 trabalhadores submetidos a condições de trabalho análogas às de escravos. Desses, 67 prestavam serviço para a Anglo. Em 2013, a empresa já havia sido considerada responsável pela escravidão de 172 trabalhadores, incluindo 100 haitianos. Na época, a empresa afirmou que “repudia qualquer acusação de trabalho escravo”.


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BRASIL

Belo Horizonte, 5 a 11 de maio de 2017

Desmonte da Previdência está liberado para ir a plenário na Câmara PROPAGANDA Segundo economistas, governo usa dados falsos para defender a reforma Antonio Cruz / Agência Brasil

Da redação*

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ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, concedeu liminar permitindo a entrada de qualquer pessoa no Congresso Nacional, durante a votação do desmonte da Previdência. A decisão do ministro, na quarta (10), atende a pedido do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil contra decisão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que havia bloqueado o acesso às dependências do Legislativo. Segundo Fachin, o acesso está resguardado pelo artigo 1º da Constituição. Na terça (9), a Comissão Especial da Reforma da Previdência contou com forte proteção policial para votar os destaques ao texto-base. O relatório já havia sido apro-

vado na semana passada, por 23 votos a favor e 14 contra. Agora, o texto está liberado para ir a plenário, onde precisa de pelo menos 308 votos, em dois turnos, para ser aprovado. O autor do texto, deputado Arthur Maia (PPS -BA), é dono de uma empresa que deve R$ 150 mil ao INSS.

Governo está confiante O governo não eleito de Temer (PMDB) confia na aprovação do relatório de Maia. A proposta prevê aumento da idade para aposentadoria, aumento do tempo de contribuição, regras mais duras para acesso a outros direitos e pagamento de benefí-

cios com valor menor do que é pago atualmente. O texto não diz nada sobre empresas que não pagam o que devem à Previdência. Com maioria de aliados do governo, a comissão derrubou os destaques apresentados pela oposição. O destaque do PCdoB contra o aumento do tempo mínimo de 25 anos de contribuição, para fins de aposentadoria por idade foi rejeitado por 22 votos a favor e 14 contra. Um destaque do PSB pretendia manter o atual sistema de aposentadoria para trabalhadores rurais, mas foi derrubado, com placar de 23 a 14. Uma emenda do PT tentava eliminar nova regra de cálculo, que fixará benefícios menores, mas caiu pelo mesmo placar. Dados falsos No mesmo dia da votação na Câmara, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da

Previdência no Senado recebeu especialistas para debater a reforma. A economista Denise Lobato, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que a União contribui para criar um déficit, pois não cobra os sonegadores e ainda concede renúncias fiscais a empresas. Ela também questionou dados maquiados pelo Palácio do Planalto. Entre eles, a informação de que, em 2060, o país teria 35% da população formada por idosos. “Não é mostrado que a taxa de crescimento da população idosa é decrescente. Nós estaríamos em 2017 no pico do crescimento dessa taxa da população idosa e, daí para frente, teríamos decréscimo. O que nos faz pensar que a ‘despesa’ no futuro teria de cair e não subir”, disse. (Com informações da Rede Brasil Atual)

Deputados aprovam plano de dívidas estaduais CHANTAGEM Para renegociar débitos, estados terão que congelar salários e fazer privatizações Luis Macedo / Câmara dos Deputados

Da redação

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Plenário da Câmara dos Deputados concluiu, na quarta (10), a votação do Projeto de Lei Complementar (PLP) 343/17, do Poder Executivo, que cria o Regime de Recuperação Fiscal dos Estados e do Distrito Federal. O texto substitutivo, do relator Pedro Paulo (PMDB-RJ), requer contrapartidas para que as dívidas dos estados sejam renegociadas. Agora, passa para apreciação no Senado. Um dos destaques votados retirou a exigência de que poderes Legislativo e Judiciário, os tribunais de contas e o Ministério Público devolvam so-

bras de recursos ao caixa único do Tesouro estadual. O segundo destaque permite renegociar, prevendo novo prazo de pagamento de até 240

meses, com dispensa de requisitos fiscais para contratação com a União, e muda a Lei Complementar 156/16, incluindo municípios na re-

negociação de financiamentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O ponto mais polêmico é a manutenção, no texto final, de exigências como privatizações, aprovação de leis de restrição das despesas, congelamento de salários e redução de incentivos tributários. Para ter o refinanciamento da dívida, governos estaduais terão que aderir a esse pacote. Minas Gerais De acordo com os apoiadores da proposta, estados em situação de calamidade financeira, como o Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Ge-

rais, serão beneficiados pela nova lei. Há um mês, reportagem do Brasil de Fato mostrou que a dívida vem sendo acumulada há mais de 20 anos, desde a aprovação da lei Kandir. A lei permitiu a desoneração do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de produtos primários e semielaborados destinados à exportação, como minério de ferro, soja e café. O governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), tem afirmado que Minas deveria receber cerca de R$ 135 bilhões de compensação pela lei Kandir, enquanto deve R$ 88 bilhões ao governo federal.


Belo Horizonte, 12 a 18 de maio de 2017

BRASIL

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Sem provas na Justiça, mas condenado pela mídia JUSTIÇA Após cinco horas de interrogatório, juiz Sergio Moro não conseguiu demonstrar crime de Lula no caso do tríplex em Guarujá (SP) Ricardo Stuckert

Daniel Giovanaz, de Curitiba (PR) Pedro Rafael Vilela, de Brasília (DF)

O

ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prestou depoimento ao juiz federal de primeira instância Sérgio Moro, nesta quarta-feira (10), em Curitiba (PR), na condição de réu da operação Lava Jato. Durante quase cinco horas, Lula respondeu a uma série de perguntas do juiz sobre a suposta propriedade oculta de um apartamento triplex no Guarujá, litoral paulista, que é o objeto do processo judicial. O Ministério Público acusa o petista de ter recebido o imóvel em uma negociação de troca de favores com a empreiteira OAS, que tinha contratos com a Petrobras. “Eu não solicitei, não recebi, não paguei nenhum triplex. Não tenho”, rebateu Lula. O ex-presidente, no entanto, admitiu que visitou o imóvel, porque a empreiteira pretendia vendê

-lo para a sua família, já que Dona Marisa Letícia, falecida esposa de Lula, detinha uma cota habitacional no mesmo condomínio e poderia usar o crédito para comprar o apartamento ou vender a cota para a empreiteira, o que acabou ocorrendo. Ponto alto Sem conseguir apresentar uma prova cabal que envolvesse Lula na posse do apartamento no Guarujá, o juiz Sergio Moro insistiu em perguntas sobre a corrupção na

Petrobras. Ao questionar se o petista sabia dos atos ilícitos cometidos por ex-diretores da Petrobras condenados no âmbito da Lava Jato, Lula respondeu: “Nem eu, nem o senhor, nem o Ministério Público, nem a Petrobras, nem a imprensa, nem a Polícia Federal [sabíamos]”. E emendou: “Nós só soubemos quando houve o grampo da conversa do Youssef com o Paulo Roberto”. Moro então rebateu: “mas eu não tenho nada com isso”. E Lula retrucou: “Foi o senhor que mandou soltar o Youssef e depois

mandou grampeá-lo. O senhor deveria saber mais do que eu”. Ao falar que Moro libertou o doleiro Alberto Youssef, Lula se referia ao caso do escândalo do Banestado, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O esquema resultou em remessas ilegais de mais 19 bilhões de dólares do Banestado para contas nos Estados Unidos. Alberto Youssef foi o principal operador do esquema e, após preso, foi logo solto por Sérgio Moro. Os envolvidos no escândalo jamais foram punidos.

Condenação midiática Lula fez duras críticas aos vazamentos seletivos da Lava Jato, como as conversas entre sua falecida esposa Marisa Letícia e seus filhos, além da relação promíscua entre investigadores e a imprensa. “Não basta alguém levantar uma tese e essa pessoa ser processada e massacrada nos meios de comunicação. Se eu cometi um crime, prove que eu cometi um crime, apresente à sociedade e eu serei, como qualquer cidadão, punido. (...) Pelo amor de Deus, apresentem uma prova”, insistiu o ex-presidente. Lula chegou a dar números ao que chamou de “massacre” e condenação previa da mídia. Foram pelo menos 55 capas de revistas, 1.146 manchetes de jornal e o equivalente a 12 partidas de futebol contra ele no Jornal Nacional, da TV Globo, ao longo dos últimos anos. “A imprensa é o principal julgador disso”, afirmou.

Solidariedade e próximos passos Ricardo Stuckert

O

depoimento encerra a fase instrutória do processo, quando são produzidas as provas. Nos próximos meses, as partes devem apresentar as alegações finais e, em seguida, os autos do processo voltam às mãos de Sérgio Moro, que é o responsável pela sentença. Não há prazo para a decisão do juiz federal, que pode absolver ou condenar os réus em primeira instância. Ou seja, mesmo após a sentença de Moro, cabe recurso.

Solidariedade Enquanto os advogados concediam entrevista coletiva a veículos de todo o mundo,

o ex-presidente Lula preferiu sentir de perto o calor dos trabalhadores de todo o país que foram a Curitiba para apoiá

-lo. No ato de encerramento da Jornada pela Democracia, o petista falou para cerca de 50 mil pessoas – segundo os organizadores – e reafirmou sua condição de pré-candidato à presidência da República em 2018. “Nunca tive tanta vontade de mudar as coisas. Se a elite não consegue consertar o Brasil, o metalúrgico vai provar que pode”, declarou Lula. Dos 20 minutos de pronunciamento, quase a metade foi dedicada aos agradecimentos: “Nada é tão gratificante quanto saber que vocês con-

fiam em alguém que está sendo massacrado. Sem vocês, eu não suportaria o que estão fazendo comigo”, concluiu. Deputados, senadores e representantes de movimentos sociais participaram do ato político e reforçaram a solidariedade ao petista. A ex-presidenta Dilma Rousseff também participou do evento, e aproveitou para criticar as reformas do governo Temer: “Nem na ditadura militar ousaram retirar tantos direitos dos trabalhadores. Estão produzindo um retrocesso que vai nos condenar”, lamentou.


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OPINIÃO

Acompanhando

Belo Horizonte, 12 a 18 de maio de 2017

Foto da semana

PARTICIPE Viu alguma coisa legal? Algum absurdo? Quer divulgar? Mande sua foto para redacaomg@brasildefato.com.br. Rica Retamal

Na edição 180... Entidades se manifestam em apoio a pediatras afastadas pelo prefeito ...E agora Ato contra o abrigamento compulsório de bebês é realizado em BH REFORMA AGRÁRIA Cerca de 170 mil pessoas passaram pela 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que aconteceu em São Paulo, dos dias 4 a 7 de maio. De acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foram comercializadas 280 toneladas de alimentos, que iam desde produtos in natura aos mais elaborados, como geleias e chocolate. A cerveja artesanal “Fora Temer” foi a sensação do evento. Tudo produzido sem agrotóxicos nos assentamentos e acampamentos do movimento, espalhados por todo o Brasil.

Thiago Zoroastro

Software livre: gratuidade e acesso ao conhecimento Foi em 1983 que um técnico de informática do M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology) percebeu que grandes corporações da informática estavam fechando o acesso ao conhecimento tecnológico, obstruindo visualização e o compartilhamento de código-fonte entre programadores. Segundo Richard Stallman, que pediu demissão do M.I.T. posteriormente, a estratégia de confidencialidade envolve riscos de privacidade para usuários e interesses comerciais. Desde então, Richard criou o Projeto GNU e a Fundação pelo Software Livre, sediada em Boston (EUA), instituição sem fins lucrativos para providenciar softwares desenvolvidos com liberdade e proteger a privacidade dos usuários. Enquanto as maiores empresas de software ganhavam dinheiro e desenvolviam rapidamente sistemas para usuários comuns, as linguagens de Software Livre eram utilizadas para construir a Internet atual. As licenças autorais de esquerda (Copyleft) não se tornaram populares entre usuários de computadores por uma questão política, mas são inevitáveis para programadores pela grande técnica. Surgiram inúmeros produtos utilizando-se Copyleft dessas linguagens lidemocratiza internet cenciadas sob “Esquerdas Autorais”, inclusive Facebook, Wordpress, LibreOffice, Ubuntu, Android, dentre outros. O compartilhamento surgiu desse aspecto histórico pouco conhecido do público, enquanto opções facilitadas de sistemas de computadores são oferecidas com Central de Programas repletos de opções gratuitas com qualidade crescente. Inicialmente foram beneficiadas empresas que pudessem empregar muitos programadores, mas isso está sendo revertido com a rapidez da internet. Visite as páginas www.fsf.org e www.gnu.org e saiba mais. Thiago Zoroastro é graduado em Filosofia e entusiasta de Software Livre.

Paulo Henrique Santos Fonseca

Liberdade de Informação? O futebol profissional se tornou um lucrativo investimento financeiro, com apoio do Estado, ao não cobrar os tributos, e com a orquestração de tabelas, datas e horários pelo grande gigante de mídia: o Império Globo, que também conta com a mesma benevolência do Estado. O que se explicitou no domingo 7/5, mais do que quem levantaria a taça, foi o fato de este império ter o poder de veto sobre as publicidades dos estádios, palcos do esporte de preferência nacional. O Império Globo tem lado, pois também é patrão, e usou a censura como método de silenciar a representação dos trabalhadores e proibiu a mensagem da CUT: “Morrer sem se aposentar, isso é a Reforma da Previdência”. Será que as entidades representativas do jornalismo empresarial também condenam tal censura? O que pensam as entidades invocadas tão rotineiramente pela Globo para ter o direito de opinar, sem estabelecer o contraditório? A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo - ABRAJI continua acreditando que o jornalismo deve Direitos de hoje são fiscalizar o poder públifruto de lutas de ontem co? A Associação Brasileira de Rádio e TV – ABERT, a Associação Nacional de Revistas - ANER e a Associação Nacional de Jornais ANJ aprovariam tal prática nas plataformas de notícias que representam? A Rede Globo tem deixado de transmitir as manifestações, tanto visuais quanto sonoras, das torcidas. Afinal têm sido frequentes nos estádios os gritos de “Fora Temer” e “Abaixo a Rede Globo, o povo não é bobo”. Queremos mais que liberdade para as empresas jornalísticas. Queremos liberdade verdadeira de imprensa e direito à informação. Vamos continuar lutando contra a Reforma da Previdência e Trabalhista, como também pela Democratização da Comunicação! Paulo Henrique Santos Fonseca é membro do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação - FNDC/MG

Às vésperas do Dia das Mães, entidades realizam manifestação em frente à Prefeitura de BH, na sexta (12), às 17h, contra o abrigamento compulsório de bebês nas maternidades. A ação pretende provocar uma reflexão sobre a situação das mães em situações de vulnerabilidade, que têm seus filhos levados para abrigos por decisão judicial, sem que seja garantido a elas o direito de defesa e, aos seus bebês, o direito de permanecer com suas famílias. O ato também é em defesa das pediatras Sônia Lansky e Marcia Parizzi, que foram afastadas pelo prefeito Alexandre Kalil de suas funções por se posicionarem contrárias ao abrigamento compulsório. Na edição 171... Reconhecimento de terras indígenas pode ser paralisado no Brasil ...E agora Ex-presidente da Funai diz que foi demitido por recusar pedidos da bancada ruralista Antônio Costa ficou apenas quatro meses à frente da presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai). Durante coletiva de imprensa, Costa denunciou que sua demissão foi motivada por não ter atendido aos interesses políticos da bancada ruralista


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ENTREVISTA

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Eleitores franceses rejeitam candidato de extrema direita POLÍTICA Novo presidente francês, Emmanuel Macron, vence com 66% dos votos válidos. Nulos, brancos e abstenções somam 37% Reprodução dência se recusavam a debater com o partido de Marine Le Pen, por considerá-lo uma ameaça à democracia. Muitos intelectuais temiam que se repetisse na França a tendência de extrema direita mostrada nas eleições dos Estados Unidos, na escolha por Donald Trump. O candidato de esquerda, Jean-Luc Mélechon, que ficou com 19% dos votos no primeiro turno, não estimulou os votos em Macron, mas comemorou o resultado do pleito. “Com abstenção e votos brancos, nulos e em Macron, França rejeitou a extrema-direita”, disse.

Da redação

A

França possui novo presidente. Emmanuel Macron, do movimento Em Marcha!, venceu as eleições presidenciais com 66% dos votos válidos, contra 34% da segunda candidata, Marine Le Pen. O novo governante representa uma linha política de direita e liberal, com intenções de continuidade às relações entre França e União Europeia. O segundo turno francês foi disputado por dois candidatos considerados de direita: Macron e Marine Le

Macron é considerado representante da direita liberal

Pen. Porém, Le Pen defendia as posições mais radicais, como a diminuição de parlamentares, leis du-

ras para imigrantes e reinstauração da pena de morte. Até o último pleito, em 2013, candidatos à presi-

eleição. Ele ficou conhecido pela população francesa há três anos, quando foi nomeado ministro da Economia pelo presidente François Hollande e teve ampla divulgação de suas ações pelos jornais. Antes de ser eleito, ele declarava não ser “de direita nem de esquerda”; depois de eleito, afirma que é “de direita e de esquerda”. Dentre suas propostas estão a remodelação das leis trabalhistas, a extinção do imposto sobre fortuna, o corte de funcionários e orçamentos nos serviços públicos e a diminuição da influência e verbas dos sindicatos. Com seu programa, Macron angariou apoio da mídia, dos fabricantes de armas e das principais emQuem é este presidente Banqueiro e empresário, presas francesas. O eleito Emmanuel Macron nun- começa a governar em 14 ca concorreu a nenhuma de abril.

Somente neste ano, 14 jornalistas foram assassinados na América Latina VIOLÊNCIA Homicídios são empreendidos, principalmente, pela corrupção política e narcotráfico e colocam em risco a liberdade de expressão Colombia informa

Da redação

Q

uatorze jornalistas foram assassinados, em cinco países da América Latina, somente no ano de 2017, segundo apontou um balanço da Federação Latino-americana de Jornalistas. Os dados são referentes aos meses de janeiro a abril. Sete assassinatos ocorreram no México, dois no Peru, dois na República Dominicana, um na Guatemala, um em Honduras e outro na Ve-

nezuela. De 2006 até abril de 2017,ocorreram 401 assassinatos. De acordo com o informe, “as mortes são cometidas por assassinos pagos com dinheiro da corrupção política e de seu principal aliado hoje, o narcotráfico”. Além do medo com que trabalham os jornalistas, alguns jornais fecham as portas para preservar a vida de sua equipe, enquanto outros optam por ignorar as notícias que podem levar a as-

sassinatos, relata o documento. Falta de proteção O relatório ainda avalia que as leis de proteção a jornalistas são ineficazes, em particular a que está vigente no México. “Além disso, em cada país latino-americano, são registradas, de maneira permanente, atentados e violações dos direitos à informação e à liberdade de expressão que pertencem a todos os cidadãos, não somente aos jornalistas”.


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Nossos direitos

Amiga da Saúde

A presunção de inocência Durante muitos séculos, as pessoas que eram acusadas de crimes acabavam sendo punidas antes mesmo de terem sido julgadas e apresentadas provas concretas de sua culpa. Nos regimes autoritários, como as ditaduras, essa prática também é comum, ou seja, basta que alguém com poder dentro da sociedade aponte que determinada pessoa cometeu um ato considerado crime, para ser permitida sua punição. No Brasil, com a Constituição de 1988 foi adotado o justo Princípio da Presunção de Inocência, ou

seja, uma pessoa só poderá ser considerada culpada depois de realizado um sério processo criminal contra ela e apresentadas provas inquestionáveis do seu delito. Infelizmente, na prática, este princípio ainda não é cumprido. Essa violação cria o fato de que quase a metade da população carcerária brasileira está presa provisoriamente, ou seja, estão presos sem terem sido julgados. Cabe à Justiça, e também aos cidadãos, defender o princípio da presunção de inocência, garantindo que ninguém seja responsabilizado por atos que não cometeu.

Adília Sozzi é advogada da Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP.

Amiga da saúde, a pipoca é um alimento nutritivo? Ou é só caloria vazia? Angelina Lisboa, 39 anos, diarista. Sim, Angelina, a pipoca é nutritiva. Ela é uma aliada no bom funcionamento do intestino, por ser fonte de fibras, além de ter efeito antioxidante, devido aos carotenoides. É ótima para o sistema imunológico e para os olhos. As fibras estão principalmente na casca do milho. Elas contribuem no trânsito do bolo fecal pelo intestino e prolongam a sensação de saciedade, por ter digestão mais lenta. Já na parte branca da pipoca, encontrase o amido resistente, que atua como

protetor do intestino grosso, por deixar a área mais ácida, reduzindo o risco de tumores no local. O grande problema é que muitas pessoas abusam de óleo e sal, ou utilizam temperos industrializados, que contêm altos níveis de sal e realçadores de sabor, que fazem mal à saúde. O ideal é preparar a pipoca na panela com o mínimo de óleo ou sem óleo, colocando o milho num saquinho de papel (tipo saco de pão) ou utilizando o micro-ondas para estourar.

Sofia Barbosa I Coren MG 159621-Enf. Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br

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O governo quer acabar com o seu direito de se aposentar. Os deputados Bilac Pinto, Aelton Freitas, Marcus Pestana e Carlos Melles já votaram a favor da Reforma da Previdência na comissão especial da Câmara.

Vamos fazer com que eles mudem de ideia e votem contra a reforma na votação do Plenário. • dep.bilacpinto@camara.leg.br • dep.aeltonfreitas@camara.leg.br • dep.marcuspestana@camara.leg.br • dep.carlosmelles@camara.leg.br

Bilac Pinto

Aelton Freitas

Marcus Pestana

Carlos Melles


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www.malvados.com.br

por Alan Tygel

Dicas Mastigadas Risoto de arroz vermelho

Preencha os espaços vazios com algarismos de 1 a 9. Os algarismos não podem se repetir nas linhas verticais e horizontais, nem nos quadrados menores (3x3). www.coquetel.com.br

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Solução

Ingredientes • • • •

2 xícaras de arroz vermelho 10 talos de beterraba 4 xícaras de água Sal à gosto

Modo de fazer Ponha a água para ferver. Corte os talos de beterraba em pedaços de 1 a 2cm e refogue em uma panela com azeite e sal. Após 3 minutos, coloque o arroz e deixe refogar por mais 3 minutos, sempre mexendo. Coloque a água fervendo e deixe cozinhar em fogo baixo até secar.

Praga ou alimento? Na agricultura convencional, o arroz vermelho é considerado uma praga e usa-se, inclusive, agrotóxicos para eliminá-lo. No entanto, essa variedade é até mais antiga do que o arroz branco. Nos últimos anos, agricultores familiares têm investido na produção do arroz vermelho, sobretudo nos estados do Nordeste. O grão é rico em ferro e zinco, e possui um sabor marcante. Deste modo, pode ser usado como prato principal em diversas receitas de risoto vegetariano ou com carne.

* Alan Tygel é da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Participe enviando sugestões para receita@brasildefato.com.br.


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CULTURA

Belo Horizonte, 12 a 18 de maio de 2017

Festa da Abolição do Arturos celebra antepassados neste fim de semana contagem Festa da Abolição do Arturos celebra antepassados neste fim de semana Ricardo Lima

Raíssa Lopes

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fim de semana será de celebração da ancestralidade negra em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. No sábado (13) e domingo (14), o Quilombo dos Arturos realiza a sua 43ª Festa da Abolição, que marca a data do Dia da Abolição da Escravatura no Brasil e tem o objetivo de relembrar a resistência e o sofrimento do povo negro. Aberto à população, o evento é uma tradição passada de pai para filho, desde que a criança está no ventre da mãe. Quem conta a história é o integrante da comunidade, Jorge Antônio dos Santos, de 49 anos, criado no quilombo. “Tenho uma netinha de um ano que já toca um tamborzinho”, conta ele. A festa dos Arturos começou na década de 70, por meio da Missa Conga, para lutar contra a sociedade que não aceitava as manifestações da cultura africana.

Prefeitura também promete investimento na cultura popular de BH

Desde então, diversas gerações descendentes de negros escravizados aprendem a história da escravidão. A programação começa às 18h do sábado, com a concentração das Guardas de Congo e Moçambique, e termina às 21h do domingo, no descimento das bandeiras. Entre as atividades, está o

Bazar solidário disponibiliza roupas a R$ 2

Desfile de Escravos, no qual um grupo interpreta a vida dos negros do Brasil Colônia até a batalha para a igualdade racial e social dos dias de hoje. Já o Lamento Negro, quando os quilombolas entoam cânticos antigos, é um momento para demonstrar respeito às atrocidades cometi-

das contra os antepassados. Além disso, de acordo com Jorge, é uma celebração do direito à fé, já que a entrada dos negros era proibida nas igrejas católicas. “Temos a Dança do Sol, às 4h, quando a lua está indo, e o sol vindo. Assim, buscamos energia, reflexão, nos comunicamos com nossos ancestrais para que eles nos protejam, abençoem”, explica o quilombola. Para ele, a data da abolição é uma forma de se fortalecer e se conectar com os antigos, pois a escravidão ainda traz consequências para os negros. “Foram mais de 300 anos de dor, a liberdade só veio com muita luta e sem nenhum apoio. Até agora buscamos a regularização fundiária das nossas terras, nossos direitos, que sempre foram colocados à margem”, afirma. A Comunidade dos Arturos fica na Rua da Capelinha, nº 50, bairro Jardim Vera Cruz, em Contagem.

A arte da loucura nos museus de BH

Centro de Africanidade terá nova sede no Calafate O Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afrobrasileira (CENARAB) terá sua nova sede inaugurada no dia 19 de maio, a partir das 16h. A instituição funcionará em um prédio do arquiteto Oscar Niemeyer, construído na década de 1950 e situado na Rua Desembargador Barcelos, nº 102, bairro Calafate, região Oeste de BH. A reabertura contará com a presença de autoridades municipais e estaduais dos Direitos Humanos, além de lideranças religiosas de matriz africana. O novo espaço do CENARAB irá acomodar a Escola de Empreendimento Solidário, que poderá atender mil estudantes por ano nas oficinas de formação e qualificação profissional. Fundado em 1991, o centro trabalha para transformar a realidade das comunidades tradicionais e combater a intolerância religiosa.

Trilhas de filmes em concerto ao ar livre Marcos Hermes - Divulgação

Nesse sábado (13), véspera do Dias das Mães, um bazar solidário, realizado pelo Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) de Belo Horizonte, irá disponibilizar peças de roupas pelo valor de R$ 2 cada. A iniciativa é realizada em comemoração à conquista da Unidade Municipal de Educação Infantil (Umei) Pedro Lessa, que foi reaberta após ocupação de manifestantes em novembro de 2016. O evento acontece de 9h às 13h, na Rua Pedro Lessa, 506, bairro Santo André.

Até o mês de julho, o Circuito Liberdade apresenta em todas as suas 15 instituições o projeto “Arte e Loucura”, realizado em parceria com os Centros de Convivência de BH. Em cada espaço, serão diferentes atividades, todas produzidas por pacientes da saúde mental, como mostras de fotografia, artes plásticas, bordado, sarau de poesia, apresentações musicais, entre outros. A abertura acontece a partir desta sexta (12), no Museu Mineiro (Avenida João Pinheiro, 342, BH), onde acontece a exposição.

No Dia das Mães, domingo (14), a Orquestra Filmarmônica de Minas Gerais realiza o concerto “Da tela para a Orquestra”, que reproduz as músicas marcantes do cinema. Os clássicos serão dos filmes “Guerra nas Estrelas” e “Apocalypse Now”. O evento, que tem entrada franca, será realizado das 11h às 12h, na Sala Minas Gerais (Rua Tenente Brito Melo, 1090 - entre as ruas Gonçalves Dias e Alvarenga Peixoto, BH).


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na geral

Uberlândia é palco dois de seleções Divulgação / Praia Clube

ESPORTES

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Curto e Grosso

Precisamos conversar sobre o futebol Luiz Fellippe Fagaráz

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ntre os dias 16 e 27 de maio, Uberlândia é palco dos campeonatos brasileiros de seleções de base, organizados pela Confederação Brasileira de Voleibol (CBV). Entre os dias 16 e 20, ocorrerá o Campeonato Masculino de Seleções Sub-18, na Arena Sabiazinho, enquanto o Feminino Sub-17 será realizado entre os dias 23 e 27 de maio, no ginásio do Praia Clube. Haverá oito grupos em cada competição.

O mundo do futebol vive uma inversão de valores preocupante. Quem frequenta os estádios no Brasil, infelizmente, sabe a quantidade de xingamentos homofóbicos vindos dos torcedores. Torcidas com iniciativas antifascistas precisam cobrir seus rostos para não sofrerem violência, enquanto racistas têm passagem livre nas arquibancadas. Na última semana, dois envergonharam (ou deveriam) a todos que, como eu, amam esse esporte. Na Itália, o ganês Sulley Muntari, após sofrer ofensas racistas da torcida do Cagliari, solicitou ao árbitro que alguma atitude fosse tomada. Como o árbitro se recusou a fazer algo, o ganês resolveu deixar o campo e acabou sendo expulso por isso. No Brasil, o jogador Richarlyson, multicampeão e com passagens pela seleção, foi contratado pelo Guarani de Campinas. A partir daí, começou um festival de ataques contra o jogador. Por suspeitarem de sua sexualidade, houve protesto da torcida contra a contratação, inclusive com bombas jogadas no centro de treinamento do clube. O debate sobre opressões e preconceitos precisa urgentemente ser inserido na bolha futebolísticas. A questão é saber como isso pode ser feito.

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Mais mulheres deverão apitar jogos masculinos

ESPORTES

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DECLARAÇÃO DA SEMANA Arthur Dallegrave / EC Juvetude

Reprodução

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Fifa pretende ampliar o número de mulheres apitando jogos oficiais. A proposta foi anunciada pela dirigente de futebol feminino da entidade, Emily Shaw, durante o seminário Somos Futebol, na sede CBF, Rio de Janeiro. Raramente mulheres apitam jogos masculinos no Brasil. A maio-

ria atua na função de auxiliar. O país chegou a ficar uma década sem uma mulher no apito, em torneios nacionais. O retorno ocorreu em junho de 2016, quando a pernambucana Deborah Cecília foi árbitra da partida entre Murici e Campinense, pela série D do Brasileirão.

“Não sou saradinho, sou jogador de futebol” João Paulo Oliveira, atacante campeão gaúcho pelo Novo Hamburgo, em sua chegada ao Juventude. Ele respondeu a comentários sobre sua forma física.

Gol de placa O Flamengo ajudará na reabertura dos Restaurantes Populares da cidade do Rio de Janeiro. Em parceria com a prefeitura carioca, o Mengão doará alimentos não perecíveis, que serão recolhidos na partida de estréia do clube, sábado (13), no Maracanã, contra o Atlético-MG.

Gol contra Richarlyson, ex-Atlético, luta contra os rumores sobre sua orientação sexual até hoje –como se ser gay fosse um problema! Os preconceituosos da vez foram os torcedores do Guarani-SP, que se manifestaram com ofensas nas redes sociais e bombas na sede do clube, após a apresentação do jogador.

Decacampeão

É Galo doido

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Começa nesta semana o campeonato mais importante para o América em 2017: o Brasileirão série B. Subir logo para a primeira divisão é fundamental para que não se dê tempo de a equipe se acostumar com a segundona. Apesar de adversários forDecacampeão tes e tradicionais, como Inter, Ceará, Figueirense, Goiás, Náutico e Santa Cruz, o América entra como um dos favoritos a ficar entre os quatro primeiros. A base do time tem certa qualidade e organização, e foi reforçada nos setores que mais inspiravam cuidados. Os atacantes Bill e Luan são os principais reforços, mas precisarão demonstrar na prática que ainda podem fazer os gols que lhes fizeram ter algum sucesso nacional e internacional.

Os atleticanos, felizmente, estão diante da maturidade de Roger Machado. De diletante, ele passou a estrategista nas finais do Campeonato Mineiro. O óbvio: vendo a barba do vizinho arder, melhor deixar a minha de molho. No todo, apenas duÉ Galo as experiências com doido! Marlone e Adilson. Esperam-se desempenhos melhores em competições mais exigentes, como a Copa Libertadores e o Campeonato Brasileiro. É bom lembrar: o Atlético ainda terá a Copa do Brasil pela frente. O primeiro teste será sábado (11), contra o Flamengo, no Rio, pelo Brasileirão. Nada melhor que uma unha encravada logo de cara. Ufa! Que temporada. Emoções não faltarão e arrepios são rotineiros na vida da massa alvinegra.

La Bestia Negra Léo Calixto

Anúncio É simplesmente inadmissível um clube do tamanho do Cruzeiro, com o elenco e o histórico em competições internacionais que tem, ser eliminado na primeira fase da Copa Sul-americana. É lógico que, no futebol, tudo pode acontecer, mas nada justifica o comodismoLa da Bestia equipe aoNegra longo das partidas contra o Atlético-MG e o Nacional. Erros de passes infantis na transição ofensiva e erros individuais no sistema defensivo custaram dois campeonatos, dos cinco que disputamos nessa temporada. O Cruzeiro precisa de um time que consiga agredir o adversário o tempo todo, com ou sem a bola, um time que fique mais tempo com a bola e não abdique de jogar, como vimos nos últimos jogos.


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