Edição 201 do Brasil de Fato MG

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MST

MINAS

Minas Gerais

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CULTURA

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Semana Paulo Freire

Circuito da reforma agrária

Série de eventos celebra os 96 anos do pedagogo e discute a importância da educação libertadora e humanista

Nos próximos meses, MST percorre Minas para mostrar a riqueza da culinária, arte e cultura dos acampamentos

Belo Horizonte, 6 a 14 de setembro de 2017 • edição 201 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita • facebook.com/brasildefatomg Divulgação

Caminhos para superação da crise

Nesta edição você encontra um encarte especial de 12 páginas que reúne informações sobre as medidas que estão destruindo o Brasil e as saídas para essa situação. Inclui análise sobre o risco do fim da aposentadoria e as ameaças à soberania nacional. Confira também entrevista exclusiva com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante caravana realizada pelo Nordeste. Ele fala sobre os motivos do golpe, a importância de ter esperança na política e de lutar para barrar os retrocessos. Como parte das mobilizações, no dia 7, Grito dos Excluídos ecoa em todo o país I ESPECIAL

Rafaella Dotta / Brasil de Fato MG

cIDADES

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ENTREVISTA

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Da rua para a penúria

Advogados populares em BH

Camelôs sobrevivem à míngua em shoppings populares. Nesses estabelecimentos, maioria das bancas estão desocupadas

Como fazer direito para o povo em tempos de golpe? Leia entrevista com as organizadoras do 22º Encontro da Rede Nacional de Advogados Populares, que acontece de 6 a 10 de setembro


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OPINIÃO

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Opinião

Crônica de uma morte tucana anunciada João Paulo Cunha Os tucanos morreram. O aviso não veio dos adversários, mas foi sendo construído, passo a passo, pelos próprios comandantes do Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB. O partido vinha se aproximando do óbito por meio de manifestações que aprofundavam sua decrepitude. O primeiro sinal veio da própria executiva do partido, que levou ao ar um programa em horário político gratuito, em rede nacional, em que reiterava que “o PSDB errou” a cada 15 segundos. A mensagem aprofundou a cisão interna entre os cabeças de prata e os cabeças pretas. Entre os fisiológicos de hoje e os oportunistas do amanhã. O que estava em jogo era a permanência ou desembarque do governo Temer. O PSDB conspirou, participou do golpe e se fez representar com ministros. Foi arquiteto, executor e sócio de um crime.

PSDB é arquiteto, executor e sócio do golpe O caminho da dissidência interna foi aberto pelo então presidente do partido, Aécio Neves. Um dos responsáveis pelo golpe contra a democracia brasileira, que aprofundou ainda mais com a cruzada moralista que quebrou a economia e dividiu o país entre torcidas de ódio, Aécio se viu no centro de um processo de corrupção que trazia ainda elementos de violência, ameaça e prepotência. O senador mineiro arrastou para o lixo da história, além do futuro político, a mitologia de seu passado de administrador e negociador competente. No domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo para o jor-

nal O Estado de S. Paulo, mantém o apoio às medidas que estão sendo tomadas, sobretudo as que mais afrontam direitos sociais. E ainda tem a cara de pau de falar em candidatura agregadora. Recapitulando. O PSDB é sócio fundador do golpe e do governo que a ele se segue, com quatro ministros de plantão. O presidente do PSDB recebeu uma mala de dinheiro, provam gravações incontestáveis. O PSDB errou, confessa sua executiva em cadeia nacional. O PSDB vai continuar errando, assevera seu maior líder político, FHC, em artigo que exala realismo cínico. É um epitáfio triste para a socialdemocracia. Mas há muito os tucanos já não voam por esses ares. A hora é de atenção. Entre os vários sinais emitidos pelo ocaso de um partido está a regra número um da política: o poder tem horror ao vazio.

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A IGUALDADE SÓ EXISTE QUANDO TODOS OS DIREITOS SÃO RESPEITADOS. PARTICIPE. Inscrições e entrega de documentação: até 11/09 pelos Correios ou na sede do Conepir Av. Amazonas, 558 - Centro Belo Horizonte/MG CEP: 30180-001

INfORmAçõES: www.DIrEITOShUmANOS.mg.GOv.bR (31) 3270-3616

Estão abertas as inscrições para participar do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial de Minas Gerais (Conepir): um conselho criado para combater o racismo e propor políticas públicas que promovam a igualdade racial dos povos e comunidades tradicionais. Inscreva-se. Construir um Estado para todos é um dever de cada um.


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GERAL

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Declaração da Semana

NOVELA Bibi, a perigosa! Divulgação

Divulgação

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ma das personagens mais polêmicas da novela “A Força do Querer” é, com certeza, a Bibi, interpretada pela atriz Juliana Paes. No início da trama, ela foi apresentada como uma boa moça, apaixonada e dedicada ao marido Rubinho (Emílio Dantas). Como ele estava desempregado, o casal estava sempre passando por duras dificuldades econômicas, com um filho ainda criança e a constante reclamação da mãe de Bibi que não se dava bem com o genro. Mas nada disso abalava o amor entre os dois (o dela, principalmente). No entanto, capítulo após capítulo, a vida de Bibi se transformou totalmente. Rubinho começa a se envolver com o tráfico de drogas, chegando a se tornar um chefe do crime. A abnegada esposa se enfia em diversas encrencas para salvar a pele do marido, envolvendo-se intensamente com seus “negócios”. De boa moça, ela se torna a “Bibi Perigosa”, deslumbrada pela ostentação do poder paralelo. Para quem não sabe, a inspiração da autora Glória Perez para essa personagem veio da história real de Fabiana Escobar, Personagem é Perigosa, baseada na história aqueBibi foi casada por

de Fabiana Escobar

14 anos (até 2010), com o traficante Saulo de Sá Silva, mais conhecido como Barão do Pó, da favela da Rocinha, no Rio. Com o marido preso, ela mesma comandou os negócios ilícitos, sem nunca ter sido pega. Essa história foi publicada no blog pessoal de Fabiana e no livro “Perigosa”, lançado em 2013. Umas das polêmicas que surge em torno desse relato é a seguinte: é ou não apologia ao crime retratá-la como está sendo feito? Difícil uma resposta! No entanto, merece uma reflexão a glamorização e a romantização dessa nada fácil história. E você, o que acha disso? Aguardemos os próximos capítulos para vermos qual será o futuro de Bibi, a perigosa! Um abraço, Felipe *Felipe Marcelino é coordenador da distribuição do Brasil de Fato MG

Tive a honra de cantar no MST, movimento dos sem-terra. Movimento dos com amor, generosidade, luta e coração” Escreveu a cantora Ana Cañas, em sua rede social no domingo (3), após visitar a Escola Nacional Florestan Fernandes, localizada em Guararema (SP).

De olho nos direitos das mulheres

Com o objetivo de dar visibilidade a causas das mulheres, o coletivo de programadoras “Nossas” lançou um robô feminista, no último dia 28. Apelidada de Beta, a robô funciona por meio do Facebook e monitora projetos no Congresso Nacional que ameaçam direitos das mulheres. Além de interagir com os internautas pelo bate -papo, Beta envia alertas e convida as pessoas a se mobilizarem. Para ficar por dentro, é só acessar o link www.beta.org.br.

Ampliação em teste A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou, na sexta (1), que o metrô vai funcionar até meia noite, do dia 4 até o dia 30 de setembro, em BH. A ampliação do horário de atendimento é experimental, pois a empresa ainda vai realizar estudos de demanda, custos adicionais, intervalos de viagens, segurança operacional e modificações necessárias nas rotinas de manutenção e operação.


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CIDADES

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Dois meses depois: onde estão os camelôs de BH? SHOPPINGS VAZIOS Ambulantes afirmam que política municipal de os enviá-los a shoppings populares não deu certo Mídia NINJA

res Uai é de 120 dias e termina em meados de novembro. Rua ainda é melhor opção Enquanto uns resistem dentro de shoppings, outros resistem à fiscalização nas ruas. Centenas de camelôs voltaram a expor seus produtos no centro da cidade. Muitos montam a banca “na tora” e outros estão acompanhados de pessoas portadoras de deficiência física, que são autorizadas a continuar comercializando na rua de acordo

Em julho, ambulantes organizaram vários protestos

Rafaella Dotta

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ma volta dentro do Shopping Uai Centro e é possível ver uma cena crítica. A grande maioria das bancas montadas para receber os camelôs está absolutamente vazia. Das 1.547 bancas nos shoppings populares Uai Centro e Uai Venda Nova, apenas 280 estão ocupadas, segundo a “chamada” realizada periodicamente pela administração. Ou seja, 18% de ocupação. A percepção é ainda mais dramática quando se conversa com os camelôs. “Não vendi nada desde que cheguei”, dizem, completando que não ganham nem o suficiente para as passagens de ônibus e para o lanche. “Está pingando cliente. Um aqui, um ali, às vezes nada. O máximo que consigo levar para casa é uns R$ 30 num dia”,

conta o ambulante Ricardo Correia. Os camelôs se mantêm no shopping na esperança de conseguirem um “box” para montar seus negócios. A Prefeitura promete realocá -los com base no Projeto de Lei 309 de Operação Urbana Simplificada, aprovado pela Câmara Municipal em 16 de agosto, e que prevê a parceria entre PBH e shoppings privados para que os aluguéis se-

Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br

para quem for pego em situação irregular. Entenda Em 3 de julho, a Prefeitura deu início à expulsão de mais de mil camelôs do Centro. Durante três dias os ambulantes protestaram, mas o prefeito Alexandre Kalil (PHS) manteve a operação e sorteou 1.547 bancas. Apenas 300 ambulantes aderiram aos shoppings populares.

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no episódio #4 uM debate sobre o pacote de maldades do governo temer. não perca!

Tem Base? SINDIFES PODCAST

Não vendi nada desde que cheguei aqui” jam baixos. Em contrapartida, os empresários recebem autorização para aumentarem andares em seus prédios. O contrato entre ambulantes e os Shoppings Popula-

com a Lei Municipal 10.947. A ambulante Viviane Cristina, entrevistada pelo Brasil de Fato MG à época da expulsão dos camelôs, voltou a trabalhar no mesmo local depois de um mês. “O meu nome nem saiu no sorteio do shopping. Não arranjei emprego e tenho filho pequeno para cuidar. Meu sustento eu tiro daqui”, explica. Para esses camelôs, a prefeitura continua com a fiscalização, a apreensão de mercadoria e multa no valor de R$ 1.902,65

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O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

REDE SOCIAL: facebook.com/brasildefatomg correio: redacaomg@brasildefato.com.br para anunciar: publicidademg@brasildefato.com.br TELEFONES: (31) 3309 3314 / (31) 3213 3983

conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Adriano Ventura, Aruanã Leonne, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Cida Falabella, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, Jô Moraes, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Marcelo Oliveira Almeida, Makota Celinha , Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Rosângela Gomes da Costa, Samuel da Silva, Talles Lopes, Temístocles Marcelos, Titane, Valquíria Assis, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Amélia Gomes, Larissa Costa, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes e Wallace Oliveira. Colaboradores: Alan Tygel, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, Fernanda Costa, João Paulo Cunha, Léo Calixto, Luiz Fellippe Fagaráz, Marcelo Pereira, Nadia Daian, Pedro Rafael Vilela, Rogério Hilário, Sofia Barbosa. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Administração: Vinicius Nolasco. Distribuição: Felipe Marcelino. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares.


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MINAS

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Evento celebra a importância de Paulo Freire EDUCAÇÃO Debates, conversas e manifestações defendem os métodos de educação do pernambucano Reprodução

Raíssa Lopes

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o dia 19 de setembro de 1921 nascia Paulo Freire, declarado o patrono da educação brasileira. Em homenagem ao seu 96º aniversário, de 17 a 24 de setembro acontece em BH uma semana de eventos para saudar o legado do pedagogo. Com o tema “Ação cultural pela liberdade”, a Semana Paulo Freire reúne estudantes e trabalhadores para atos e debates. Está confirmada a participação do professor Mariano Alberto Isla Guerra, da Associação de Pedagogos de Cuba e mestre em História e Ciências Sociais. Para Maria José da Silva, uma das organizadoras, em tempos de golpe e de faixas que pedem por “menos Pau-

riam funcionar nas universidades e nas escolas de hoje. “É imprescindível uma pedagogia aliada à psicologia, que consiga ouvir, acolher. Como uma criança com

Ditadura militar interrompeu plano de alfabetização lo Freire”, a iniciativa é uma forma de exigir democracia. “Quem está no poder e não quer perdê-lo não deseja que as pessoas tenham consciência, que sejam capazes de ler o mundo”, defende ela, que tem 79 anos e é pedagoga há 60.

Freire também foi perseguido durante a ditadura, quando o golpe de 1964 interrompeu o Plano Nacional de Alfabetização, que havia sido iniciado pouco antes e continha alguns de seus métodos de trabalho – ferramentas que, segundo Maria, deve-

fome, traumatizada por abusos consegue estudar? É por isso que defendemos e celebramos Paulo Freire”, continua. Escola Paulo Freire Quem também fez parte da criação da semana e acreditou na força do evento foi

a ex-vereadora Neila Batista (PT). Ela acompanhou o processo de escolha do nome Paulo Freire para uma escola municipal no bairro Ribeiro de Abreu, na periferia de BH. “Depois de uma grande participação, a prefeitura explicou quem era Paulo Freire e os moradores falaram: ‘é tudo que estamos fazendo e o que queremos pra gente’”, relata. Hoje, a instituição é considerada uma das mais inclusivas de Minas Gerais. A programação vai discutir também a educação em Cuba, que conseguiu erradicar o analfabetismo de todo o território nacional ainda em 1961. Para conferir as atrações, acesse goo.gl/MR4fzY.

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CULTURA

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Alimentar a luta, cultivar a arte

Amiga da Saúde

MST Circuito Mineiro de Arte e Cultura da Reforma Agrária passa por oito cidades de Minas Gerardo Gamarra

Ouvi dizer que o sal rosa do Himalaia faz bem pra saúde. Mas o preço é muito alto! Vale a pena mesmo fazer esse investimento? Larissa Emanuelle, 27 anos, fotógrafa Cara Larissa, se o seu objetivo for melhorar sua saúde, não vale a pena investir no sal do Himalaia. Este sal é retirado de rochas na região do Himalaia. A quantidade de sódio presente nele é a mesma do sal comum refinado. Alguns minerais, como magnésio e cálcio, estão presentes em maior quantidade no sal do Himalaia. Porém, os valores desses minerais em qualquer sal é tão pequeno quando comparado com as nossas necessidades diárias, que não faz diferença você consumir um ou outro sal. Ou seja, você gastaria dez vezes mais e não teria mais benefícios para sua saúde. O processo de refinamento do sal faz com que se percam alguns minerais provenientes de microrganismos marinhos. Além disso, branqueadores e antiumectantes são acrescidos ao sal no processo de industrialização e refino. Dessa forma, o sal grosso é uma opção mais saudável que o refinado. Você pode moê-lo em casa mesmo, utilizando aparelhos específicos ou pode bater no liquidificador, acrescentando ervas que deixarão seu sal mais saboroso. Sofia Barbosa I Coren MG 159621-Enf. Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br

Amélia Gomes

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om o objetivo de promover a produção orgânica, a reforma agrária e a cultura popular, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promove um grande circuito que percorre Minas Gerais nos próximos meses. Luana Oliveira, uma das organizadoras, destaca que a proposta surgiu após a experiência do Festival Nacional de Arte e Cultura da Reforma Agrária, que aconteceu em julho do ano passado, em BH. “O nosso principal objetivo é dialogar com a sociedade sobre reforma agrária popular, alimentação saudável, comida sem veneno e sobre um projeto para o campo brasileiro. Uma proposta que não é esta que está aí, que só produz alimento envenenado, que só produz alimento para os animais, para ex-

portação, mas que deixa o nosso povo sem comida”, diz. O circuito já passou por Governador Valadares, no Vale do Rio Doce e agora

Mais de 100 artistas vão se apresentar está no Norte de Minas, em Montes Claros, onde fica de 7 a 10 de setembro. De lá, segue para outras seis cidades nos quatro cantos do estado. Muitas atrações Na programação, shows, teatro, exposições fotográficas, cortejos, folia de reis, danças e muito mais. São esperadas mais de 15 atrações por dia, em todas as cidades. Ao todo, mais de 100 artistas populares estão envolvidos no circuito. “A gente quer mos-

trar toda a riqueza cultural que há em Minas. Queremos falar de luta ocupando as praças e mostrando, através da arte, o que somos e o que produzimos”, afirma Luana. Além das atrações culturais, quem passar pelo circuito também pode provar a culinária típica de cada região, produzida com alimentos saudáveis e sem agrotóxicos. Além do Festival Gastronômico, o circuito também conta com uma feira de produtos orgânicos, mudas e artesanatos produzidos pelos trabalhadores sem-terra. Os organizadores esperam comercializar pelo menos 230 toneladas de alimentos. São esperadas mais de 120 mil pessoas durante os três meses em que acontece o circuito. Confira a agenda do Circuito de Arte e Cultura da Reforma Agrária em: www.brasildefato.com.br

Nossos direitos Direito à folga no feriado Feriados são datas previstas em lei, nas quais a legislação trabalhista garante o direito ao “afastamento”. Para quem executa atividades regulares de trabalho (não essenciais para o funcionamento social), a folga em feriados é um direito garantido, inclusive para as trabalhadoras domésticas e babás. No entanto, se o empregado precisar cumprir seu dia de trabalho durante um feriado, ele possui o direito de compensação em outro dia da semana, ou pagamento dobrado por aquele dia de serviço. É importante ficar atento, pois alguns patrões podem querer negar esse direito. Para evitar conflitos, é importante fazer o controle de ponto para registrar a jornada de trabalho no feriado. Desse modo, pode-se comprovar a realização do trabalho, caso o empregador se recuse a cumprir as determinações previstas em lei. Adília Sozzi é advogada da Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP


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ENTREVISTA

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“A Justiça não é cega, ela escolhe o lado que quer ver” DIREITO Abertura de encontro nacional de advogados populares, em BH, será aberta ao público direito, de direito de defesa, de julgamento, etc. Vocês avaliam que está sendo atacada a ideia do direito como conhecemos ou apenas está ficando mais clara uma situação que já ocorria?

Joana Tavares

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Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap), criada em 1995 para articular pessoas que fazem assessoria jurídica para causas populares, realiza em Belo Horizonte seu 22º Encontro Nacional, de 6 a 10 de setembro. Com o tema “Nenhum direito a menos”, cerca de 120 advogados e estudantes de direito de todas as regiões do Brasil vão trocar experiências e organizar a atuação em tempos de golpe. A abertura, no dia 6, às 18h, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), será aberta ao público. Segundo Michelle Cristina Farias e Maria do Rosário de Oliveira Carneira, o objetivo é ocupar o espaço com pautas populares e pressionar pela criação de uma comissão específica para o tema. Confira entrevista que elas concederam ao Brasil de Fato MG.

Brasil de Fato: O que é a Renap, qual sua história e objetivos?

Rosário: A Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap) foi formada em 1995, a partir de uma articulação de advogados que atuavam junto às lutas do campo e perceberam que sofriam uma série de perseguições comuns. A partir daí, vários coletivos de advogados populares vão se articulando no Brasil. Michelle: A Renap reúne um conjunto de advogados em todo o país. Todos os anos é realizado um encontro nacional. Este ano, Minas Gerais sedia o encontro e vamos discutir os impactos do crime das minerado-

Michelle Farias e Maria do Rosário de Oliveira estão na organização do encontro, que acontece de 6 a 10 de setembro

O Judiciário é uma caixa preta no Brasil” ras Vale, Samarco e BHP na bacia do Rio Doce. Por que fazer a abertura na OAB?

Rosário: A escolha de ocupar a OAB diz muito. A advocacia popular sente que não existe um reconhecimento do trabalho da forma como se deseja. Existe um apoio de algumas comissões, como a de Direitos Humanos, mas a Ordem não pensa a fundo essa temática. Queremos fazer um requerimento para que haja uma comissão de advocacia popular. Consideramos que já é hora de a OAB reconhecer que temos uma forma de fazer advocacia há mais de 20 anos no Brasil, que é diferente da advocacia tradicional. Michelle: A OAB representa um espaço hegemônico, masculino e branco. As comissões concentram homens na presidência, mu-

lheres brancas. E a gente busca desconstruir isso. E a gente quer que a OAB se abra para essa diversidade. A advocacia popular traz isso. Um dos atores do golpe por que passa o Brasil é o Judiciário. Como é fazer advocacia popular nesse contexto?

Michelle: Sempre foi difícil fazer advocacia popular, mas agora se torna ainda mais. Sempre fomos criminalizados. E com essa onda de retrocessos, com a perda de direitos, o advogado popular acaba sendo tolhido nas suas prerrogativas. Quando somos chamados em processos de reintegração de posse, por exemplo, há vários embates com a polícia, que muitas vezes não entende que as pessoas têm o direito de defesa. É preciso mostrar o tempo todo para as instituições

O direito o tempo todo legitima os donos do poder e do capital”

que é direito das pessoas terem um advogado. Rosário: É importante lembrar que a própria OAB legitimou o impeachment da presidenta Dilma. O sistema de Justiça tem se mostrado muito seletivo, escolhe um lado. A Justiça não é cega, ela escolhe o lado que quer ver. Ela está qua-

Queremos uma comissão de advocacia popular na OAB” se sempre a serviço do Estado, dos interesses dos detentores de capital e de poder. E a maioria fica à margem mesmo. Quem escolhe fazer advocacia para quem está à margem, para as vítimas desse sistema, também é vítima da criminalização e é colocado para escanteio no sistema de Justiça. A advocacia popular é uma disputa para que o direito sirva também às pessoas excluídas do sistema. Esse golpe está atacando a ideia de um Estado de

Michelle: O governo golpista que está instalado no país se articula em várias esferas. A gente diz que é um golpe jurídico, parlamentar e midiático. E o Judiciário é uma caixa preta no Brasil, não conseguimos saber o que acontece ali. Não existe voto direto, e eles se organizam conforme seus próprios interesses. Está em curso uma retirada dos direitos básicos. E o Judiciário é a cabeça disso. Eles querem um país em que as pessoas não tenham direitos, acesso à educação, a alimentos. A conquista de alguns desses direitos para eles foi um desaforo. Querem extirpar qualquer direito dos trabalhadores. Não é possível um país que teve vários ganhos nos últimos anos voltar a esse nível de situação. Rosário: Importante também situar o golpe no contexto internacional. O capitalismo está na sua fase mais severa. Não importa a popularidade, não importa se o povo está gostando ou não. As questões são decididas no governo independente da vontade popular. Quem manda é o capital financeiro internacional. O poder ser devolvido ao povo é fundamental. É preciso fazer trabalho de base, formação jurídica, conscientização, para fazermos o motor funcionar de novo, voltar para as ruas com força. Pensar em como articular isso também é um desafio da Renap.


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ESPORTE

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Paulista apita final da Copa do Brasil

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m sorteio na terça-feira (5), a CBF definiu o árbitro do primeiro jogo das finais da Copa do Brasil 2017, a ser disputado na quinta (7), no Maracanã, entre Flamengo e Cruzeiro. É o paulista Marcelo Aparecido de Souza, o mesmo que apitou a derro-

DECLARAÇÃO DA SEMANA Reprodução

Lucas Figueiredo / CBF

ta do Cruzeiro para o Grêmio, no primeiro jogo das semifinais, em Porto Alegre. A partida de volta acontece no dia 27 de setembro, no Mineirão. Na decisão, a regra dos gols fora de casa não vale mais como critério de desempate.

“Parei jogando bem, parei jogando em bom nível e parei com a cabeça muito boa. Hoje eu olho para trás e não sinto vontade nenhuma de jogar futebol, prefiro jogar tênis” Alex de Souza, ex-camisa 10 do Cruzeiro, Palmeiras e Fenerbahçe. Ele está prestes a lançar documentário sobre sua trajetória no futebol.

Gol de placa Mayra Aguiar é bicampeã mundial de judô! A gaúcha é a maior medalhista brasileira em mundiais, pois, além dos dois ouros, ela tem uma prata e dois bronzes. Além dela, David Moura e Rafael Silva conquistaram a prata e o bronze, respectivamente.

Gol contra Pelé não aprende: autografou uma camisa da seleção brasileira que foi entregue a Xi Jinping, presidente da China, a pedido do golpista Temer – que foi vender o Brasil na Ásia. Romário já disse que Pelé, calado, é um poeta. Mas é pior que isso. Pelé sempre sorriu para quem usa o poder contra o povo.

Decacampeão

É Galo doido

La Bestia Negra

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Leo Calixto

A independência, apesar das limitações e contradições que envolve, é uma busca constante das pessoas e organizações que desejam ter a possibilidade de tomar as decisões por conta própria e não ser limitados pela tutela a superiores. No futebol mineiDecacampeão ro, em pelo menos dois quesitos, o América pode se honrar de ser mais independente que os rivais: Atlético e Cruzeiro têm dívidas de, respectivamente, mais de R$ 500 milhões e mais de R$ 200 milhões; e não possuem estádio próprio. É sintomático o nome do Estádio Independência: o América, que incorporou em 1997 a equipe fundadora – o Sete de Setembro – não precisa pagar para jogar, nem pedir emprestado, nem pagar aluguel.

Na bacia das almas, o Atlético encontrou motivação na Copa da Primeira Liga. Com arremedo de futebol e, ainda assim, exaltado pelo treinador, o Alvinegro está na final da competição e, de lambuja, viu a eliminação do arquirrival. O treinador tem tempo para prepararÉaGalo equipedoido! para o tão sonhado título. Rir é o melhor remédio. E não há Rogério que me cale. Gostaram do trocadilho? Não! Nem eu. Vale apenas para ganhar o prêmio em dinheiro, que mal, mal dá para pagar Robinho e Fred. Duro mesmo foi pagar para ver a vitória monumental sobre o surpreendente Paraná Clube. Ora, o que interessa mesmo é o Brasileiro. A próxima parada é contra o Palmeiras, em BH. Que Deus salve todos nós.

Como tenho falado em colunasAnúncio anteriores, está chegando o período de eleições no Cruzeiro. As chapas que irão disputar o pleito – “Tríplice Coroa” e “União – Pelo Cruzeiro, Tudo”, já começaram a corrida para angariar votos no conselho celeste. Enquanto a La Bestia Negrapor Gilvan chapa da situação, apadrinhada de Pinho Tavares, não se pronuncia, colocando suas ideias, o candidato da oposição, Sérgio Rodrigues, segue presente nas mídias, expondo quais são seus projetos para o Cruzeiro no futuro. Sendo assim, a China Azul pode avaliar e discorrer sobre as propostas apenas de um dos lados. É lamentável e um total desrespeito para com a torcida um processo de eleição sem transparência como este.


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