Edição 213 do Brasil de Fato MG

Page 1

Reprodução

BRASIL

CULTURA

45 milhões de prejudicados

Marighella no teatro

Governo negocia cargos em troca de votos a favor da reforma, que tornará o acesso à aposentadoria extremamente difícil no país

Inspirada em livro do guerrilheiro, peça fala de batalhas atuais dos atores, como a luta das mulheres e dos negros

Minas Gerais

Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017 • edição 213 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita Coletivo Corrente Cultural

MST muda a cara de Ariadnópolis

SUL DE MINAS Após histórico de exploração e humilhação, local é reconstruído pelos sem-terra e hoje gera trabalho para mais de mil pessoas e moradia para 570 famílias agricultoras. Acampamentos e assentamentos garantem produção de alimentos sem veneno e planejam escola com ensino de qualidade, do maternal até a faculdade. Dois anos depois de decreto ter sido assinado pelo governador, famílias aguardam decisão da Justiça para ter acesso definitivo à terra e aos direitos I REPORTAGEM Ricardo Stuckert

Divulgação

ESPORTE

Liga gay O título do primeiro campeonato de futebol LGBT é de BH. Time Bharbixas comemora e dá uma goleada no preconceito

ENTREVISTA

Lula: “Eu quero viver para ver a dona Globo me pedir desculpas no ar” Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, ex-presidente fala de candidatura, denúncias, propostas de governo e caravanas


2

OPINIÃO

Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

Editorial | Brasil

Reforma da Previdência: vai entornar o caldeirão!

ESPAÇO dos Leitores

“É com dinheiro público/nosso que o governo está pagando pelas propagandas que enterram nossos direitos. Não caiam nessa! Greve geral/nacional dia 5 de dezembro. Saiam para as ruas!” Marília Fonseca comenta o editorial da edição 212 “Precisamos derrotar a reforma da Previdência” “Quer saber o que acho? Desliguem a TV. Fora Globo! Hipocrisia é essa Globo falar que quer fazer algo pelo social. Faz-me rir. Globo é lixo. Aqui em casa nunca assistimos novelas” Mara Regina de Oliveira responde à provocação da coluna de novela “Polêmica sobre o ‘O outro lado do paraíso’” “Marginal extremamente perigoso” Ana Maria Lima escreve sobre a capa da edição 212, que traz foto de Adriano Chafik, foragido da Justiça após ter comandando massacre contra cinco sem-terra

Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br

A cada dia é adicionado um novo ingrediente no caldeirão de maldades da classe dominante colocado à mesa para o povo brasileiro pelo golpista Michel Temer. A maldade da vez, que novamente tenta ser colocada no caldeirão, é o ataque às aposentadorias através da reforma da Previdência. Será que este é o ingrediente que vai entornar o caldeirão? Os trabalhadores já apontam um caminho para que isso ocorra: fazer greve e pressão nas ruas, a partir do dia 5 de dezembro. Neste caldeirão, muitos direitos já foram cortados. Em menos de dois anos de golpe, Temer congelou os gastos em saúde e educação; cortou programas sociais que garantiam ren-

Povo já sofre efeitos do golpe no dia a dia da, alimentos, moradia e direitos básicos; foram criadas condições para ampliar a terceirização, aumentar o poder dos patrões sobre os trabalhadores, aumentar jornadas de trabalho, com a reforma trabalhista e o desmonte da CLT. Isso sem falar nos ataques para desmontar o Brasil, fragilizando o Estado, a democracia, a soberania, entregando empresas, petróleo, energia, terras, água do povo para empresas transnacionais, tentando dificultar que o povo brasileiro seja capaz de construir um projeto de desenvolvimento independente. Afronta aos trabalhadores Somado a isso, o novo “ingrediente do mal”, a reforma da Previdência, se aprovada, vai impossibilitar que muita gente se aposente, fazer com que o tempo mínimo de trabalho seja de 40

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

Mobilização começa no dia 5 anos, e a idade mínima para se aposentar seja 65 anos, além de aumentar a exploração das mulheres e dos agricultores. É uma afronta às pessoas que doaram suas vidas para construir o Brasil e merecem descansar, é um ataque aos trabalhadores de hoje e aos seus filhos e netos. A questão é que este ingrediente tem um potencial explosivo. No início de 2017, esta mesma reforma provocou a fervura do sangue dos trabalhadores brasileiros, levando à maior Greve Geral da história do Brasil, no dia 28 de abril. Agora a pretensão dos golpistas é votar a reforma da Previdência no dia 6, na Câmara dos Deputados. As organizações populares e sindicatos já apontaram um novo início desta batalha para o dia 5: uma nova greve, com mobilizações já preparadas para todo o país. Este pode ser o início do entornar do caldeirão, o início do acerto de contas com os exploradores do povo. Já sentimos na pele os impactos dos ataques que sofremos, o retorno da fome e da miséria, o desemprego, a piora nas condições de trabalho, o aumento do preço do gás, luz, água, a perda dos direitos, da soberania e da democracia. Não vamos aceitar mais este ataque! Agora é a hora de entornar o caldeirão. É a hora de todo o povo brasileiro, que constrói com sangue e suor este país, assumir a história nas mãos, mostrando o seu tempero, seu calor, sua cor, seu sabor. Destruir o caldeirão, revogar as maldades e construir uma nação que sirva de fato ao seu povo.

REDE SOCIAL: facebook.com/brasildefatomg correio: redacaomg@brasildefato.com.br para anunciar: publicidademg@brasildefato.com.br TELEFONES: (31) 3309 3314 / (31) 3213 3983

conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Aruanã Leonne, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Cida Falabella, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, Jô Moraes, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Marcelo Oliveira Almeida, Makota Celinha , Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Rosângela Gomes da Costa, Samuel da Silva, Talles Lopes, Temístocles Marcelos, Titane, Valquíria Assis, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Amélia Gomes, Larissa Costa, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes e Wallace Oliveira. Colaboradores: Alan Tygel, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, Fernanda Costa, João Paulo Cunha, Léo Calixto, Luiz Fellippe Fagaráz, Marcelo Pereira, Nadia Daian, Pedro Rafael Vilela, Rogério Hilário, Sofia Barbosa. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Distribuição: Felipe Marcelino. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares.


? PERGUNTA DA SEMANA

O governo não eleito de Temer (PMDB) pretende aprovar uma reforma da Previdência que vai endurecer ainda mais as regras para aposentadoria e acesso a outros direitos. A desculpa é um suposto corte de privilégios, mas setores privilegiados pressionam para que não sejam afetados pela reforma. O Brasil de Fato MG foi às ruas perguntar:

Você acredita que essa reforma vai atingir juízes, deputados e parlamentares?

Eu acho que só vai atingir os setores mais pobres, só vai beneficiar os de classe mais alta. Deviam olhar mais pela periferia, pelo pessoal que mora na favela. A população precisa de mais ajuda. Eu não trabalho de carteira assinada, trabalho como autônomo. Eu tenho 38 anos, como é que eu faço? Fábio dos Santos, artesão

Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

GERAL

3

Declaração da Semana Divulgação

“Ser você mesma é maravilhoso” Disse a cantora Ludmilla ao assumir para o Brasil o seu cabelo natural. Ela passou por sete meses de transição e se livrou completamente da química.

Serviço ambulatorial para trans

Marcelo Sant’Anna/ Imprensa MG

Vai afetar só a gente. Quem está lá em cima sempre tem aquele contato forte que vai adiantar alguma coisa. A gente tem que esperar o tempo deles, sempre tem um atraso pra gente e pra eles vai ser mais fácil. Meu avô foi aposentar e teve uma burocracia que ele teve que pagar mais um ano, sem poder. Luana Romênia, operadora de caixa

Gengibre é bom demais

De sabor picante, o gengibre é grande conhecido dos brasileiros por ser um dos principais ingredientes do quentão, bebida típica das festas juninas. Além de saboroso, o tubérculo é rico em antioxidantes e melhora o sistema imunológico. Pode ser consumido em chá, em água e até mesmo cru. De todo jeito, é um grande aliado para melhorar os sintomas da gripe e da dor de garganta. Além disso, o gengibre auxilia na digestão, na diminuição dos gases e no tratamento da azia.

O primeiro serviço ambulatorial de atenção especializada para travestis e transexuais foi inaugurado em BH, na última semana. O “ambulatório trans” do Hospital Eduardo de Menezes (HEM) é o segundo em Minas Gerais no âmbito do serviço público e o primeiro ligado a uma instituição de saúde pública estadual. O atendimento às pessoas em processo transexualizador será realizado por uma equipe interdisciplinar e multiprofissional, e será realizado às quintas, entre 8h e 13h, com agendamento telefônico e também pelo Sistema Nacional de Regulação (Sisreg).

Festival na PPL

O Festival de Cultura Urbana do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) acontece neste domingo (3), na Ocupação Pátria Livre. A programação, que começas às 9h, conta com atividades para crianças, como brincadeiras e contação de histórias, apresentações de danças, teatro, samba, pagode e hip hop. Para fechar o dia, um grande show com a cantora Aline Calixto. O evento é gratuito e o endereço é Rua Pedro Lessa, 435, na Pedreira Prado Lopes.


4

CIDADES

Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

Prefeitura quer dividir recursos da habitação com outras áreas POLÊMICA Projeto de lei criado por Kalil não agradou movimentos de moradia, que defendem que mudança pode prejudicar setor Amira Hissa

Raíssa Lopes

O

Projeto de Lei 413/17, enviado à Câmara de Vereadores e assinado pelo próprio prefeito Alexandre Kalil (PHS) prevê a retirada de recursos do Fundo Municipal de Habitação (FMH) para colocá-los em obras do Orçamento Participativo (OP) e também em outras ações, que não a moradia. Atualmente, a receita do fundo vem da venda do terreno do antigo Mercado Distrital da Barroca, onde hoje está localizado o Hospital Mater Dei, na avenida do Contorno, e de outros 41 terrenos, de menores tamanhos. O Fundo tem direito a 100% da arrecadação gerada pelo mercado e a 60% dos demais espaços. Caso o PL seja aprovado, essas verbas serão divididas com as obras do Orçamento Participativo, sem especificar os valo-

res destinados a cada setor. O receio é que a mudança, que não foi aprovada pelo Conselho Municipal de Habitação (CMH), não contemple as necessidades de uma política habitacional de qualidade. “Com a nova lei, pode acontecer de, por exemplo, 90% ser destinado ao OP e 10% ao Fundo Municipal de Habitação. E mesmo que esses valores fossem declarados, a PBH ainda estaria retirando recursos da área de ha-

bitação”, explica o representante do CMH Luís Barros, que aponta que com o total da renda proveniente do terreno da Barroca (R$ 58 milhões), o município poderia construir 500 unidades habitacionais. Além disso, as consequências do PL na vida da população de baixa renda preocupam. “Estamos em um cenário de crise, vendo o desemprego, os cortes de gastos sociais, e justamente aqueles

que mais sofrem com o que está acontecendo, que são as pessoas que demandam políticas de habitação, vão ficar sem atendimento. Esse é o oposto de governar para quem precisa, como prometeu Kalil”, critica Luís. Quem também se posiciona contra o projeto é o vereador Pedro Patrus (PT), que classifica a proposta como uma “escolha ruim” da PBH.

Esse é o oposto de governar para quem precisa, como prometeu Kalil”, diz representante do conselho Para ele, a mudança não deve beneficiar nem o Orçamento Participativo e nem o Fundo Municipal de Habita-

ção. “É tirar de um lugar que precisa para botar em outro lugar que precisa. É colocar as entidades da população que acompanham o OP contra os movimentos sociais”, avalia o vereador. Minimizando danos Junto a Arnaldo Godoy (PT), Patrus propôs duas emendas para reduzir os prejuízos de uma possível aceitação do projeto. Uma delas obriga a prefeitura a comunicar quais obras do OP serão feitas com o dinheiro do fundo, e outra impõe que a administração municipal reponha a verba utilizada em até dois anos. Reuniões foram realizadas na Câmara de Vereadores para discutir o assunto, porém a PBH não enviou representantes. Movimentos populares estudam acionar o Ministério Público para impedir a continuidade da medida.

Governador regulamenta política de desenvolvimento de povos tradicionais TERRITÓRIO Minas tem mais de 800 comunidades quilombolas, mas nenhuma delas titulada Marcelo Sant’Anna / Imprensa MG

Wallace oliveira

O

governador Fernando Pimentel assinou decreto que define o papel do governo de Minas no atendimento às comunidades e povo tradicionais. Dirigente quilombola explica que a legislação estadual faz uma grande diferença na concretização dos direitos desses grupos, com os quais o país tem uma dívida histórica. Dívida histórica O decreto foi assinado em

cerimônia do 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. O texto define os procedimentos para certi-

ficar terras pertencentes aos povos e comunidades tradicionais e simplifica a concessão de título coletivo. De acor-

do com o governador, o decreto dá mais segurança jurídica a esses povos e ajuda o estado a elaborar outras políticas públicas na área. Jesus Rosário Araújo, diretor-presidente da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais - N’Golo, explica que indígenas e quilombolas são reconhecidos por documento feito apenas no âmbito federal. Já a titulação de territórios pode ser feita também por estados e municípios. Para ele, a política estadual é uma inovação

que ajuda a superar a dívida histórica de Minas. “Os estados que mais avançaram, que mais criaram terras, como São Paulo, Pará, Maranhão, Piauí, Bahia, é porque criaram legislação própria, além daquela do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]. O decreto traz essa legislação para o nosso estado. De mais de 800 comunidades quilombolas, até hoje não temos nenhuma comunidade titulada”, recorda.


Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

OPINIÃO

5

Opinião

Desembarcando como ratos João Paulo Cunha Os tucanos, como animais bicudos, coloridos e barulhentos, se prestam a muitas fábulas. A mais recente delas é a do desembarque do governo ilegítimo de Temer. O PSDB esteve na origem, na articulação e na condução do golpe em todas as suas fases. Em seguida, foram colaboradores confiáveis, compuseram a base parlamentar, aprovaram a destruição do Estado social e receberam por isso a paga combinada. Agora, quando se arma a linha de largada das eleições de 2018, os peessedebistas abandonam o navio que naufraga na mais baixa popularidade já registrada. Como os ratos. O projeto é buscar uma diferenciação para catapultar uma pretensa candidatura de centro, que se tornou quase um mantra entre os conservadores, a direita que não ousa dizer o seu nome. Aécio Neves, o mais peemedebista dos tucanos, trouxe o rancor da derrota e a contabilidade

da partilha. Ainda tenta manter a participação no governo, mesmo às custas do esfacelamento do próprio ninho. Sempre atuan-

Nada resta de socialdemocracia no PSDB te, se revela seguidamente metido em atos condenáveis, que vêm sendo seguidos de perto pela Polícia Federal e Ministério Público. Nem a desmoralização popular, as investigações, o risco de condenação e até o presumível constrangimento de empurrar parentes para a cadeia, nada disso foi capaz de cessar seu dom em conviver com o lado escuro da força. Esta semana, teve revelada pela Polícia Federal sua relação com laranjas (um tra-

balhador rural e um montador de andaimes), proprietários dos celulares pré-pagos com os quais mantinha suas conversas. Poucos dias depois, a mesma PF registrou a goela larga de Aécio em planilhas de cargos públicos federais dispostos a seus aliados. O PSDB vive divisões que apontam para a perda de sua consistência política. O nome não retrata mais a realidade. Nada resta do projeto socialdemocrata. Mesmo em processo de desembarque, não se pode negar aos tucanos a identidade com as contrarreformas em andamento no país, sobretudo no campo da retirada de direitos e aceleração da entrega do patrimônio nacional. O que há não é propriamente um rompimento, mas uma reacomodação no consórcio do golpe, tendo em vista o pragmatismo eleitoral e as disputas internas pelo poder. Cada vez menos PSDB, o partido abandona o PMDB para se tornar mais parecido com ele.

Anúncio

FAZEMOS A DIFERENÇA. direitoshumanos.mg.gov.br

EM MINAS GERAIS ESCOLHEMOS RESPEITAR OS DIREITOS HUMANOS. ESCOLHEMOS PRIORIZAR AS MINEIRAS E OS MINEIROS. VENHA CONHECER O RESULTADO DAS AÇÕES DA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS, PARTICIPAÇÃO SOCIAL E CIDADANIA E PARTICIPAR DE OFICINAS, RODAS DE CONVERSA, EXPOSIÇÕES E ATIVIDADES CULTURAIS. AFINAL, NOSSA CONSTRUÇÃO É FEITA COM DIÁLOGO, É FEITA COM VOCÊ.

ENTRADA GRATUITA 13/12/17: DAS 9H ÀS 22H. 14/12/17: DAS 9H ÀS 14H. SERRARIA SOUZA PINTO: AV. ASSIS CHATEAUBRIAND, 809 - CENTRO


6

REPORTAGEM

Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

Sul de Minas: área do MST emprega 80% mais que fazenda de café da região CAMPO DO MEIO Terreno de usina falida, ocupado há 20 anos pelo MST, é hoje dividido entre 570 famílias agricultoras, que aguardam a desapropriação oficial Reprodução

Rafaella Dotta de Campo do Meio

U

sina Ariadnópolis: a maior área organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Minas Gerais. O caso jurídico mais complexo do país. A ocupação da área começou em 1998 e passou por muitas complicações. Ocupação, organização, reocupação. Hoje, os 3.600 hectares são ocupados por mais de 500 famílias agricultoras. O terreno da antiga Usina Ariadnópolis encontra-se no município de Campo do Meio, Sul de Minas, margeado pela represa da Hidrelétrica de Furnas. Durante muitas décadas, a usina de açúcar e álcool foi um dos motores econômicos da cidade e promoveu a plantação contínua de 3.600 hectares de cana de açúcar. A empresa ficou famosa por contratar trabalhadores rurais da região para as épocas de colheitas, mas em 1970 começou a se familiarizar com a palavra “falência”. Mesmo em tempos de “canas gordas” a situação era ruim para os funcionários, conta Olivério de Carvalho, conhecido como Seu Ném. Ele trabalhou na usina desde os 12 anos e passou por falta de calçado e roupas para entrar no canavial, transporte que oferecia risco de vida e problemas salariais. Ele lembra com tristeza das condições ainda piores que passavam os trabalhadores rurais trazidos de outros estados. “Aquele povo apavorado, com aquela miséria, entrava no caminhão e vinha trabalhar na usina. Lá era uma proposta, chegando aqui era outra. Dormiam de qual-

Hoje existem 10 acampamentos do MST na área, dois assentamentos e três acampamentos ao lado

A área da antiga Usina Ariadnópolis corresponde de 30 a 40% da áerea do município de Campo do Meio

quer jeito, tomavam banho de qualquer jeito, alimentação péssima, péssima mesmo, uma exploração fora do normal”, descreve. 400 processos trabalhistas Segundo o Sindicato dos Empregados Rurais de Campo do Meio, aproximadamente 400 ex-trabalhadores da usina Ariadnópolis processam a empresa na Justiça. A estimativa é de que a empresa deve R$ 8 milhões somente nestes processos, em valores de 2011. A conquista que vem aos poucos A exploração e as dívidas foram razões que motivaram os trabalhadores do MST a ocuparem a fazenda. A área de Ariadnópolis foi confor-

Usina coleciona dívidas e responde a mais de 400 processos trabalhistas

mada por diversas ocupações e despejos ao longo desses 20 anos. Em 1998, 2005, 2007 e 2009 os sem-terra passaram pelas mais violentas expulsões de acampamentos instalados dentro do terreno da usina. Mas voltaram. A cada vez que o Estado e o fazendeiro agiam, mais o movimento se fortalecia e retornava para ocupar terras ainda

maiores. Hoje são dez acampamentos que foram ocupados um a um dentro do perímetro da antiga empresa Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia). O MST tem ainda dois assentamentos e três acampamentos ao lado da área. Neles, moram 570 famílias em lotes de 5 a 10 hectares. Os efeitos para a economia

local também demonstram a força dos agricultores. A fazenda Campo Verde, de um dos maiores produtores de café do país, João Faria, tem mil hectares e fica ao lado de Ariadnópolis. A Campo Verde emprega hoje cerca de 200 trabalhadores, segundo a administração da empresa. Dois funcionários a cada 10 hectares. Já as áreas do MST, que somam 3.600 hectares, empregam aproximadamente 1.300 pessoas: 3,6 trabalhadores para cada 10 hectares. Um resultado empregatício 80% maior que o modelo de produção do agronegócio. Coletivo Corrente Cultural


Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

REPORTAGEM

7

Da terra ocupada, sai educação e comida de qualidade Coletivo Corrente Cultural

S

e o primeiro passo é conquistar o terreno, o

segundo é mantê-lo. Mesmo com todas as dificuldades, os ocupantes são incentivados e de certa forma cobrados pela produção de alimentos. O integrante do setor de produção do MST e presidente da Cooperativa Camponesa, Roberto Carlos Nascimento, estima para este ano a produção de 12 mil sacas de café, 6 a 10 mil

Café, feijão, milho e viveiro de mudas são produzidos ali

sacas de feijão e 50 mil sacas de milho, fora as demais culturas em menor quantidade. Segundo Roberto Carlos, os sem-terra produzem hoje

milho, banana, feijão, abóbora, mandioca, cereais, hortaliças, criam pequenos animais e abastecem cerca de 70% da demanda destes produtos de

Campo do Meio, através das feiras semanais de domingo e de vendas individuais ao longo da semana. Ali funciona também um viveiro de mudas ligado ao projeto “Recuperando Áreas Degradadas em Assentamentos de Reforma Agrária em Minas Gerais” (Radar). O objetivo é produzir 720 mil mudas em Ariadnópolis e 4 milhões de mudas nativas no estado para serem plantadas ao redor de nascentes e áreas desmatadas no estado. O projeto trabalha com o conceito de agrofloresta, que significa a conservação das matas e a produção de alimentos no mesmo território.

Para soletrar a liberdade O projeto do MST é que ali funcione um complexo de educação, com escola maternal, escola infantil, ensino fundamental, médio e faculdade com a parceria já em andamento com o Instituto Federal de Machado. O sonho foi interrompido pela última desocupação, feita em 2015 por acordo judicial. O projeto do complexo educacional já tem um processo de desapropriação avançado. O governo de Minas Gerais decretou em março de 2016 que um terreno de 82 hectares da sede da Usina Ariadnópolis Açúcar e Alcool S.A. e suas benfeitorias serão desapropriadas por interesse social.

Maior desapropriação do MST em Minas está parada por falta de juiz Marcelo Di Carli / SeGov MG

A

novela da desapropriação da área começou há 20 anos, mas intensificou-se nos últimos dois. Desde 2015 o movimento tem em mãos o decreto estadual 365, que desapropria 3.195 hectares da falida Usina Ariadnópolis para fins de colonização agrícola. Os agricultores pressionam agora por uma decisão final da Justiça. O caso jurídico entre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e a Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia) é considerado um dos mais complexos em que o movimento já esteve envolvido, conforme declara Carlos Torezane, advogado que defende o movimento há 11 anos. São mais de 500 processos envolvendo

Desde 2015, decreto de desapropriação está assinado

as três matrículas empresariais usadas pela usina: A Capia, a Usina Ariadnópolis Açúcar e Alcool S.A. e a empresa Transmarreco. Todas têm os mesmos donos e atuam praticamente no mesmo território, o que deixou a situação jurídica mais complexa.

Processo tenta cancelar decreto O decreto que determina a desapropriação foi assinado pelo governador Fernando Pimentel em 25 de setembro de 2015. Declarouse o interesse social sobre a área de 3.195 hectares e benfeitorias neles construídas com base na Lei Federal

4.132, de 1962, sob os argumentos da “implantação de colônias agrícolas” e a “pacificação do local”. A proposta do governo estadual é desapropriar a área mediante o pagamento de R$ 66 milhões à empresa. Porém, acionistas da Capia não aceitaram acordo e judicializaram o caso, ou seja, levaram à Justiça. A Comarca de Belo Horizonte deu causa ganha ao governo estadual em 22 de setembro, mas, mesmo aprovada pela Justiça, a desapropriação não está garantida. “A AGE aguarda

manifestação do Judiciário, para saber quais serão os próximos trâmites a se seguir no processo”, informa o governo. A ação de desapropriação do governo de Minas Gerais teve que ser entregue à Comarca de Campos Gerais até 25 de setembro, data em que o decreto perdia sua validade. Atualmente, a Comarca de Campos Gerais funciona com a presença do juiz de Alfenas somente um dia por semana.

Confira a cobertura completa sobre Ariadnópolis e Felisburgo no especial “Minas: terras em disputa”, em www.brasildefato. com.br


8 6

OPINIão

Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017 Mídia NINJA

Sinval Pereira da Silva

O lugar dos servidores da Fazenda no enfrentamento à crise

Sobre o discurso hipócrita da corrupção Vejo nas rodas de conversa, na mídia empresarial e nas redes sociais um retumbante discurso sobre a corrupção no Brasil. Há muita hipocrisia e cinismo nesse falatório. Será que a corrupção está somente na política institucional? Vejamos: o cidadão que sonega imposto, fura fila e não respeita o direito alheio é corrupto. O empresário da indústria e do comércio que vive criticando a carga tributária e é responsável por uma sonegação fiscal anual na casa de 100 bilhões de reais é corrupto. A classe média que vive reclamando do Estado e é composta majoritariamente por profissionais liberais também é corrupta. Certamente, você conhece advogados, médicos, odontólogos, veterinários, professores e outros profissionais que prestam serviços e não emitem notas fiscais. São corruptos. Há uma corrupção violenta fruto de um sistema econô- Combate à mico perverso: bancos que cobram taxas de juros como corrupção exige no Brasil estão no topo da corrupção. Empresários que direitos iguais exploram o trabalhador são corruptos. Quando o sistema econômico se sobrepõe aos poderes públicos é sinal de corrupção institucional e generalizada. Esse é o caso do Brasil, onde uma horda de corruptos, a serviço do capital, tomou de assalto o poder. Um sistema de Justiça seletivo e não isonômico é azeite à máquina da corrupção. Para se combater a corrupção os discursos de nada valem. Mecanismos institucionais de controle público e privado, uma cultura cidadã e democrática, justiça isonômica e igualdade de direitos são os melhores remédios. A Dinamarca, por exemplo, é um dos países menos corruptos do mundo. Com pouca desigualdade e bons salários para todos, o pedreiro, o parlamentar e o empresário vivem “num mesmo mundo”: usam transporte público e são tratados com os mesmos direitos e deveres por uma Justiça cujos juízes e promotores têm o mesmo padrão de vida dos demais cidadãos. Robson Sávio Reis Souza é militante social e professor.

Sinval Pereira da Silva é Diretor-Presidente da AFFEMG

acompanhando

Robson Sávio

A grave crise econômica, fiscal e política que se instalou no país desestabilizou toda a classe trabalhadora, inclusive o funcionalismo público. Com salários parcelados, igual à maioria dos setores do Poder Executivo, os auditores fiscais passaram a conviver também com o fantasma dos atrasos no pagamento. É injustificável que, neste cenário, pautas como a do “Acerto de Contas”, proposta pelo governo mineiro, não estejam entre os assuntos mais urgentes, capazes de colaborar com a reversão da situação. Pelas contas do estado, Minas Gerais deixou de arrecadar R$ 135 bilhões nos 20 anos de vigência da Lei Kandir. Se a dívida com o governo federal é de R$ 88 bilhões, é nítido que não há o que pagar, mas sim a receber. E mais, não só ao estado interessa esse acerto, afinal 25% Minas deveria do valor que a União deve a receber da União Minas pertence aos municípios. Servidores da Fazenda, representados por suas entidades de classe, como a Associação dos Funcionários Fiscais de Minas Gerais, têm se empenhado na preservação da integridade da receita tributária, na recuperação dos créditos devidos e no combate à sonegação. Nos seus quase 68 anos, a Affemg manteve o equilíbrio financeiro, com receitas e despesas abertas. Neste período de crise, não poderia ser diferente. A experiência mostra, ainda, que o apoio ao estreitamento das relações interpessoais e à integração de equipes, iniciativas oportunas nesta época do ano, se reflete no fortalecimento do espírito colaborativo de classe e, por consequência, num maior engajamento dos servidores e na melhor prestação de serviços ao cidadão.

Na edição 203... Terceiro maior reservatório de água da RMBH pode secar... E agora Protestos continuam pela preservação de Vargem das Flores O sábado (25) foi mais um dia de luta em defesa da bacia de Vargem das Flores, responsável pelo abastecimento de água de Contagem, Betim e parte de Belo Horizonte. Na data, manifestantes realizaram uma caminhada de cerca de 4 km pela região da lagoa, como tentativa de sensibilizar os vereadores de Contagem para que vetem proposta da prefeitura que pode comprometer a zona rural do município. Atualmente, a bacia já sofre com a crise hídrica, funcionando com apenas 35% de sua capacidade.


Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

ENTREVISTA

9

Fome está voltando no país por irresponsabilidade dos golpistas, diz Lula EXCLUSIVO Ex-presidente fala sobre realidade do país e sobre seu futuro Ricardo Stuckert

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala sobre a possibilidade de ser candidato em 2018, o papel da Rede Globo nas acusações contra ele e sobre o aumento do desemprego no país. Em mais uma caravana, Lula percorrerá o Espírito Santo e o Rio de Janeiro de 4 a 8/12. Confira a entrevista na íntegra no nosso site ou às 11 horas no Programa Brasil de Fato, na Rádio Favela, 106,7, com reprise no domingo às 7h. Leia abaixo alguns trechos da entrevista. Bia Pasqualino, de São Paulo Brasil de Fato: O senhor tirou esta metade do ano para colocar o pé na estrada em caravanas pelo Nordeste, Minas Gerais e agora Espírito Santo e Rio de Janeiro. O que essa experiência tem te ensinado sobre o Brasil e os brasileiros de hoje? Lula: Eu descobri, na campanha de 1989, que não é possível você governar este país para todos os brasileiros e brasileiras, se você não conhecer as entranhas dele. Porque, normalmente, quando você é candidato, você vai de capital em capital, de palanque em palanque, do aeroporto para outro aeroporto. Em 1989, eu descobri que se eu quisesse governar o Brasil efetivamente para os brasileiros, eu teria que conhecer o Brasil. Por isso, em 1992, eu comecei a fazer as caravanas. E agora eu voltei para ver duas coisas: primeiro, ver como está o Brasil de hoje, quais as políticas

vara curta e a onça vai brigar. PERGUNTA DAS RUAS José Mauro (ambulante, Rio de Janeiro/RJ): Hoje temos 14 milhões de desempregados no país. Caso o senhor seja eleito, quais medidas o seu governo tomará de imediato para o Brasil voltar ao ciclo de crescimento e geração de emprego?

Só é possível dizer ao povo brasileiro que a gente vai voltar a gerar emprego

Eu quero viver para ver a dona Globo me pedir desculpas no ar” públicas que tiveram efetivamente sustentabilidade e como é que está a vida do povo hoje. Ou seja, se tiver a campanha de 2018 e se o PT entender que eu devo ser o candidato, eu quero ser candidato com a fotografia muito viva e muito atualizada das aspirações e das esperanças do povo brasileiro. E até agora, essa fotografia tem o quê?

Essa fotografia às vezes me alegra e às vezes me entristece. Ela me alegra porque, em muitos lugares, as pessoas têm a clareza absoluta da evolução da vida delas. Quando você chega numa comunidade agrícola, as pessoas lembram da quantidade de financiamento do Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fami-

liar], do Programa Luz para Todos, etc. Agora, quando você chega em um centro urbano, você começa a perceber que, embora as pessoas lembrem da evolução no salário mínimo, do Bolsa Família, do ProUni [Programa Universidade para Todos], elas também come-

Eles cutucaram a onça com vara curta e a onça vai brigar” çam a se queixar de que a pobreza está voltando. Ou seja, o desemprego aumentou. Então, essa é uma tristeza que eu tenho. Estamos percebendo que a fome está voltando no Brasil por irresponsabilidade das pessoas que deram o golpe neste país. Essa é a fotografia que eu tenho agora. PERGUNTA DAS RUAS Ana Carolina Teixeira, estudante de Jornalismo (São Paulo/SP): Por que você vai se candidatar

sendo que há tantas denúncias contra você?

Eu vou me candidatar porque o fato de ter denúncia não quer dizer nada. No Brasil toda vez que alguém é candidato, sempre aparece uma enxovalhada de denúncias. E eu já provei a minha inocência em todos estes processos que eu estou sendo acusado. Tanto o juiz Moro, quanto o Ministério Público, quanto a Polícia Federal estão reféns, neste momento, de uma política que eles adotaram de condenar as pessoas pela mídia. Ou seja, “primeiro eu quero condenar as pessoas politicamente. Eu conto uma mentira e a mídia vai divulgar aquela mentira como se fosse verdade”. Eu quero viver para ver a dona Globo me pedir desculpas no ar. E eu vou ser candidato por isso: é a chance que eu tenho também de me defender. Se o objetivo deles é tentar não deixar eu ser candidato, vamos brigar para ver. Eu não precisava ser candidato a presidente. Eu já fui, já fui bem-sucedido. Mas eles cutucaram a onça com

Vamos fazer a economia brasileira voltar a crescer” se a gente primeiro tiver o compromisso de dizer que a economia brasileira vai voltar a crescer. E eu falo isso de cátedra, porque tive a satisfação, por conta do apoio que eu tive do povo brasileiro, de junto com a Dilma, de 2003 a 2014, de a gente criar mais de 20 milhões de empregos neste país, com carteira profissional assinada. Vamos fazer a economia brasileira voltar a crescer. E, para isso, nós precisamos fortalecer o mercado interno. Na hora que o povo tiver o mínimo de dinheiro, que ele for ao supermercado, ao shopping, que ele for comprar um caderno, uma camisa, um lápis, um chinelo, a economia brasileira começa a funcionar. E quando a economia brasileira começa a funcionar de baixo, ela vai ajudar o crescimento econômico, como já aconteceu.


10 10

BRASIL

Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

Reforma da previdência vai prejudicar a aposentadoria de 45 milhões de pessoas DISPUTA Temer corre contra o tempo para aprovar emenda constitucional, mas sofrerá resistência no Congresso e nas ruas Marcos Corrêa / PR

Pedro Rafael Vilela, de Brasília (DF)

E

m setembro, o presidente Michel Temer abriu os cofres públicos para distribuir mais de R$ 32 bilhões em emendas parlamentares e se livrar de investigação por corrupção no STF. Agora, negocia cargos na Esplanada dos Ministérios para tentar arregimentar votos a favor da reforma da Previdência que, se aprovada, vai impactar diretamente o direito de aposentadoria de mais de 45 milhões de trabalhadores. Esse número é a soma de pessoas empregadas no setor privado e no setor público das três esferas de governo (municipal, estadual e federal), segundo dados do Boletim Estatístico da Previdência Social. Além da troca de cargos por votos, uma campanha publicitária multimilionária está sendo patrocinada pelo governo para inundar os canais de TV, rádio e a internet de propaganda a favor das mudanças nas regras da aposentadoria. Apesar de alardear que a proposta sofreu mudanças para se tornar mais enxuta, ela ainda carrega a essência original, que na prática vai tornar o acesso à aposentadoria extremamente difícil no país.

Idade mínima e tempo de contribuição O novo texto da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) reforma da Previdência, apresentado na semana passada pelo relator na Câ-

Greve está marcada para dia de votação da PEC

mara, deputado Arthur Maia (PPS-BA), fixa uma idade mínima de aposentadoria de 65 anos para homens e 62 para mulheres, sendo que professores e policiais passam a cumprir exigência de 60 anos e 55 anos, respectivamente, sem distinção de gênero. Mas não basta a idade mínima. O tempo de contribuição que será exigido para a aposentadoria dos trabalhadores privados, pelo Regime Geral da Previdência Social (RGPS), será de 15 anos, enquanto o do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), dos servidores públicos, será de 25 anos. No entanto, para receber o valor integral da aposentadoria, tanto os servidores públicos quanto os trabalhadores do setor privado terão que ter contribuído por 40 anos. Se a contribuição dos trabalhadores do setor privado for 15 anos, ele se aposenta com 60% da renda média da contribuição, com o percentual subindo de acordo com o tempo de contribuição. No caso dos servidores públicos, a aposentadoria só será concedida se a contribuição mínima for de 25 anos, e receberão apenas 70% do valor

médio de contribuição. O novo texto da PEC mantém as atuais regras da aposentadoria rural, com exigência de idade mínima de 60 anos para homens e 55 anos para mulheres, além da contribuição durante 15 anos com base na comercialização da produção. No entanto, o texto elimina a aposentadoria rural por idade, o que deve afetar milhares de trabalhadores do setor que não conseguirem contribuir com regularidade ao INSS. Outro item retirado do texto foi as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC), que continuará vinculado ao aumento do salário mínimo. O BPC é pago a pessoas com deficiência de qualquer idade e idosos de baixa renda que não contribuíram com a previdência social. Aposentadorias ameaçadas Para o presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip), Floriano Martins de Sá Neto, a proposta ataca direitos sociais dos trabalhadores que contribuem para a previdência. “Essa reforma tem um viés de retirada do acesso à apo-

sentadoria e o desgaste parlamentar em torno de sua aprovação se mantém”, analisa. Floriano ressalta que a combinação entre a reforma trabalhista com as novas regras propostas para a previdência vai fazer com que milhões de trabalhadores jamais se aposentem no Brasil. “Imagine o caso do trabalhador intermitente, que recebe menos de um salário mínimo. Para poder contar tempo de aposentadoria, ele vai ter que pagar um valor extra de contribuição, o que sabemos que é absolutamente impensável e ele dificilmente vai conseguir alcançar 15 anos de contribuição. Trata-se de um sistema extremamente maldoso e excludente”, aponta. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, alega que se a reforma não for aprova-

Para auditor fiscal, governo pratica “terrorismo orçamentário” da, em dez anos quase 80% do orçamento público estará vinculado ao pagamento das aposentadorias. Para Floriano Martins, presidente da Anfip, esse tipo de “terrorismo orçamentário” demonstra a incapacidade do governo de dialogar com a população. “A gente sabe que quase a metade do orçamento do Brasil é destinado ao pagamento de juros e rolagem da dívida pública, que soma mais de R$ 1 trilhão por ano. Por que ninguém fala disso?”, questiona. De acordo com a Anfip, por causa da reforma e o terrorismo do governo, o núme-

ro de pedidos de aposentadoria aumentou mais de 30% no país em 2016, o que pode levar a um desequilíbrio do sistema. Greve geral As maiores centrais sindicais do país convocaram uma greve geral para o próximo dia 5 de dezembro, em todo o país, em mobilização contra a reforma da Previdência. Ela ocorrerá na mesma semana em que o governo prevê votar a medida na Câmara dos Deputados, em primeiro turno. Para ser aprovada, a PEC precisa do apoio de 308 deputados, em duas votações seguidas. Só então ela seria remetida ao Senado. Até o momento, no entanto, os aliados do Palácio do Planalto admitem publicamente que não há votos suficientes a favor da proposta, o que pode adiar a votação para final de dezembro ou até mesmo para o ano que vem. Se isso ocorrer, as chances de aprovação em ano eleitoral seriam muito remotas. “Essa reforma continua sendo muito nociva. Vai significar, na prática, o fim do sistema público de aposentadoria no Brasil. A população tem essa compreensão e nós fizemos um trabalho muito intenso nas bases eleitorais dos deputados, que entenderam que a sociedade não concorda, por isso essa resistência forte no Congresso”, afirma Rodrigo Rodrigues, secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores no Distrito Federal (CUT Brasília). De acordo com o dirigente sindical, a greve geral deve afetar diversos serviços no país, inclusive com paralisação geral nos sistemas de transporte público e interrupção se setores da produção industrial.


Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

MUNDO

11

Candidato de esquerda proclama vitória e cobra posição oficial do TSE, em Honduras GOLPE Milhares de pessoas saíram às ruas exigindo o reconhecimento da vitória de Nasralla Reprodução

Giorgio Trucchi, do Nicarágua y Más

O

processo eleitoral em Honduras, que teve a participação de milhões de cidadãos, pode se tornar, em breve, uma nova crise política. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se recusa a anunciar os resultados das eleições de 26 de novembro. O único relatório conseguido pela pressão dos observadores internacionais apontou que o candidato da Aliança da Oposição, Salvador Nasralla, teve vantagem de milhares de votos

em relação ao seu oponente principal, o atual presidente Juan Orlando Hernández. Ambos candidatos se declararam vencedores, os temperamentos estão se

aquecendo e o TSE está em silêncio. Somente o magistrado substituto Marco Ramiro Lobo admitiu que a vitória de Nasralla “é irreversível”.

De acordo com o presidente do TSE, David Matamoros, o tribunal dará resultados finais quando contar todos os votos. A incerteza criada é explorada pelo partido no poder e pelo atual mandatário, Juan Orlando Hernández, que se proclamou vencedor, embora a contagem apresentada por ele faça sempre referência a pesquisas internas do partido. Ele está ficando sozinho, já que o candidato do Partido Liberal, Luis Zelaya, reconheceu a vitória de Nasralla e concordou em trabalhar com ele e a Aliança durante o próximo mandato.

Magistrado assumiu que vitória é “irreversível” “Hernández e seu partido não se atrevem a reconhecer sua derrota generalizada. Não podem reverter isso. O povo decidiu e deve ser respeitado. Espero que o Tribunal nas próximas horas tome a decisão de dizer a verdade”, disse Nasralla diante da multidão reunida, em protesto, em frente ao prédio do TSE.

Anúncio


12 12 VARIEDADES

Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

CiÊNCIA, COISA BOA! HUMANAS, EXATAS OU BIOLÓGICAS? BIOLÓGICAS

Amiga da Saúde Olá! Já tive relações sexuais com homens e com mulheres, mas nunca tive orgasmo. Será que tenho algum problema? Anônima, 22 anos, atendente de telemarketing

EXATAS

HUMANAS

Em tempos de ENEM, uma polêmica que toca diretamente a vida dos jovens ganha força: humanas, exatas ou biológicas? A ciência é constantemente dividida entre essas três áreas. Seriam “de humanas” aqueles que se interessam mais por linguagens, política e arte, e que estudam o ser humano e a sociedade. Aqueles que curtem a natureza, os seres vivos e a saúde, por sua vez, pertenceriam “às biológicas”. E os bons de cálculo e lógica seriam do mundo “das exatas”. Essa divisão, muito presente nas escolas e universidades, tem cada vez mais levado ao reforço de estereótipos e a falsas polêmicas dentro da ciência. Portanto, muito cuidado com ela. Pesquisas científicas de cada área, O grande objetivo sem dúvida, possuem especificidades da ciência é e diferenças teóricas e metodológicas. compreender a Geralmente, a forma como um pesquicomplexidade que sador investiga algo relacionado, por é o mundo exemplo, à cultura, é diferente da forma como investigaria algo como uma rocha. Ou seja, o jeito de fazer ciência é diferente em cada caso. Porém, a ciência é uma só. O desenvolvimento do pensamento científico segue pressupostos que não mudam entre uma área e outra do conhecimento. Essa simplificação tem como pior consequência uma distorção na forma de ver o mundo que atribui mais importância a uma perspectiva. Um famoso pensador alemão disse certa vez que a realidade é a “síntese de múltiplas determinações, a unidade do diverso”. Ou seja, tudo que existe é do jeito que é por diversas causas e fatores que se relacionam, o que resulta numa unidade complexa. O grande objetivo da ciência é compreender essa complexidade que é o mundo. Portanto, ao fazer ciência, devemos sempre evitar as respostas fáceis e as simplificações, basicamente porque nada é simples e fácil na vida. Ser de humanas, de biológicas ou de exatas não deve servir de desculpa para não se interessar, estudar e levar em consideração as outras áreas. O ideal é que, independente de nossas preferências e atuação profissional, busquemos conhecer o que de bom tem sido pesquisado e discutido nas mais diversas áreas do conhecimento. Um abraço e até a próxima! Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de MG

Querida leitora, muito provavelmente você não tem nenhuma limitação física. Algumas pesquisas mostram que 50% das mulheres não têm orgasmos. Porém a maioria dos problemas relacionam-se a questões emocionais e da vivência sexual. Nossa sociedade é bastante machista e reprime o prazer feminino desde a infância. A cultura e muitas religiões colocam o prazer como pecado. Muitos homens têm uma postura machista durante o sexo, preocupando-se somente com o próprio gozo e menosprezando o prazer da mulher. Mesmo entre os casais homossexu-

ais, às vezes é reproduzido esse padrão. As mulheres em geral conhecem pouco o próprio corpo e têm dificuldade para conversar sobre a sexualidade com os/ as parceiros/as. Além disso, traumas relacionados à violência sexual e abuso são muito marcantes nos distúrbios sexuais femininos. O desafio para a sociedade é grande, passando pelo combate ao machismo e pela reconstrução das relações. No seu caso, leitora, recomendo que procure ajuda na sua unidade de saúde de referência. Lá você poderá investigar melhor o que está acontecendo.

Sofia Barbosa é enfermeira do Sistema Único de Saúde I Coren MG 159621-Enf. Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br

Nossos direitos Quem paga mal, paga duas vezes Na hora de pagar alguma dívida, fique atento, pois a falta de alguns cuidados básicos pode te trazer prejuízos! A primeira dica é sempre exigir a prova do pagamento, que, em regra, deve ser feita por meio de um recibo, que deve ser o mais detalhado possível, constando informações sobre a data, lugar, valor e nome de quem está fazendo o pagamento. Caso a dívida seja parcelada, é importante que no recibo esteja clara a parcela que está sendo qui-

tada e, por fim, o recibo deve ser assinado pelo credor. Não efetue pagamento para esposa, marido, filho, pais ou qualquer amigo do credor, a menos que eles possuam uma procuração específica para isto. Se o credor se recusar a dar o recibo, não efetue o pagamento, e imediatamente procure uma orientação jurídica, pois pagar, além de uma obrigação, também é um direito do devedor. Fique ligado e não perca seus direitos.

Adília Sozzi é advogada da Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP


Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

13 VARIEDADES 13

www.malvados.com.br

Dicas Mastigadas

por Alan Tygel*

PÃO DE CASCA DE BANANA

Preencha os espaços vazios com algarismos de 1 a 9. Os algarismos não podem se repetir nas linhas verticais e horizontais, nem nos quadrados menores (3x3). www.coquetel.com.br

© Revistas COQUETEL

6

5

1

7 7

8

6

6005326

7 2 8 9 6 4 1 5 3

6 3 5 7 1 2 4 9 8

9 1 4 3 8 5 6 7 2

8 4 7 2 9 1 5 3 6

1 6 3 4 5 7 8 2 9

2 5 9 8 3 6 7 1 4

Solução

6 4

1

8 4

8

1

3 7 6 5 4 9 2 8 1

9

2

5 9 1 6 2 8 3 4 7

7

6

4 8 2 1 7 3 9 6 5

2

9

3

2

9 3 7

Ingredientes • • • • • • • •

6 bananas com casca; 1 xícara de água; 1 xícara de leite; 30g de fermento fresco; 1/2 xícara de óleo; 1 ovo; 1 pitada de sal; 1/2 kg de farinha de trigo.

Modo de Preparo 1. Bater as cascas de bananas e a água no liquidificador; 2. Juntar o óleo, os ovos e o fermento e bater mais um pouco; 3. Acrescentar a farinha, o sal e o açúcar e misturar; 4. Por último, colocar na massa as bananas em rodelas; 5. Colocar a massa em uma forma untada com margarina e farinha de trigo; 6. Deixar crescer até dobrar de volume e levar para assar em forno pré-aquecido. Essa e outras receitas você encontra no Mapa de Feiras Orgânicas do IDEC: http://feirasorganicas.org.br/receitas

* Alan Tygel é da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Participe enviando sugestões para receita@brasildefato.com.br.


14 CULTURA 14

Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

Peça traz “Manual do Guerrilheiro Urbano”, de Marighella, para os dias de hoje RELEITURA Atores preparam espetáculo baseado no livro e trazem personalidades como Frida Kahlo e Joana D’Arc Divulgação

Rafaella Dotta

E

studantes do Curso Técnico de Teatro do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart) do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, escolheram terminar seu curso com a montagem de uma peça baseada em obra de Carlos Marighella. O livro “Manual do Guerrilheiro Urbano” se transformou no “Manual dx Guerrilheirx Urbanx”, título da peça, e relaciona causas e lutas relacionadas a mulheres, homossexualidade, negritude e pela permanência do próprio Cefart.

Peça traz à tona também as lutas dos formandos

O formando Carlos Luno explica que a ideia surgiu da diretora da peça, Marina Viana, e foi abraçada pelos estudantes, já que, em 2016, eles também viveram uma espécie de “guerrilha” contra a falta de profissionais e de estrutura para as aulas. “A minha turma tem um lugar político que sempre esteve muito presente.

O teatro é político, é a nossa arma, a arte é política, e o Manual surgiu como uma proposta desafiadora e que instigou a todxs”, conta. Ao palco sobem 13 atores interpretando personagens como Maria Bonita, Lampião, Dandara, Frida Kahlo e Joana D’Arc, em diálogos que buscam encontrar novas armas para a luta contra

Divulgação

a opressão vivida pelos próprios atores nos dias atuais. “Na minha turma existem dezenas de causas e lutas que ganharam foco e voz dentro do espetáculo, e, claro, trazendo à tona Carlos Marighella e sua obra”, explica Carlos Luno. O Manual O líder comunista Carlos Marighella escreveu seu último livro, “Manual do Guerrilheiro Urbano”, em 1969, mesmo ano em que foi assassinado pelo governo militar brasileiro. Marighella liderou movimentos contra a ditadura à época do Estado Novo (1930 a 1945) e durante a ditadura militar. À época de sua morte, liderava uma guerrilha através da Ação Libertadora Nacional (ALN) e vivia como clandestino. Ele foi considerado “o inimigo nº 1 da ditadura”. O Manual traz Divulgação

as medidas práticas que um guerrilheiro urbano deveria tomar. Mais sobre o super-herói mulato 40 anos depois, o Racionais MCs produziu a música “Mil faces de um homem leal” com frases reais de Marighella e contando a história do comunista, baiano e capoeirista. A biografia “Marighella – guerrilheiro que incendiou o mundo” do escritor Mário Magalhães, também foi publicada em 2013. A peça “Manual dx Guerrilheirx Urbanx” está em cartaz de 1º a 17 de dezembro no Teatro João Ceschiatti (Avenida Afonso Pena, 1537) com entrada gratuita. De quinta a sábado às 20h, e domingo às 19h. Classificação indicativa 16 anos. Fernando Diniz / Divulgação

Revista de mulheres presas ganha exposição

Arturos: fotografias de tradições quilombolas

Carolinos: fotografias do Reinado de Chico Calu

A revista “A Estrela”, feita por mulheres privadas de liberdade, ocupará as paredes do Sesi do bairro Santa Efigênia. A exposição terá relatos, séries de fotos do cotidiano dentro da cadeia, poemas e imagens artísticas das cinco edições da revista. A inauguração acontece no dia 2, com a presença de mulheres que já saíram da penitenciária e de outras que ainda estão lá, além de autoridades ligadas ao sistema prisional. A partir das 10h, entrada gratuita. A exposição fica aberta das 9h às 18h, de terça a domingo. Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia, BH.

A exposição “Um Olhar sobre os Arturos” traz imagens de uma comunidade de Contagem que ainda preserva costumes e tradições da época colonial, a comunidade dos Arturos. A história conta que Artur Silvério da Silva fundou a comunidade depois que seu patrão negou seu pedido de ir ao sepultamento do pai, que era um trabalhador escravizado, e o agrediu. As fotografias podem ser vistas no Museu da Moda de Belo Horizonte até 14 de janeiro, de terça a sexta das 9h às 21h ou sábado, domingo e feriado das 10h às 14h. Entrada gratuita. Rua da Bahia, 1.141, Centro, BH.

Mais uma tradição mineira centenária apresenta exposição de fotografias. A Guarda de Moçambique e Congo Nossa Senhora do Rosário Sagrado Coração de Jesus, Irmandade dos Carolinos, apresenta seus repertórios sagrados e as fotografias de Patrick Arley e Netun Lima. A abertura acontece no dia 9 de dezembro, às 13h, na Igreja São José, com a presença de quatro guardas de Moçambique, Caboclo e Congo. A exposição ficará no Museu Inimá de Paula e pode ser visitada nas terças, quartas, sextas e sábados das 10h às 18h30, nas quintas de 12h as 20h30 e nos domingos de 10h às 16h30. Rua da Bahia, 1.201, Centro, BH.


Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

Mineiros ganham campeonato de futebol gay BHARBIXAS Time de BH levantou a taça no último dia 25, no Rio

Q

uem gosta e acompanha o futebol sabe muito bem que o esporte é um dos meios mais hostis para a comunidade LGBT. No entanto, ao invés de ficar parado diante dessa realidade, um grupo de atletas resolveu dar um drible no preconceito e partir pra cima. Criado há pouco menos de seis meses, os Bharbixas foram a grande revelação da primeira Champions Ligay, campeonato brasileiro exclusivo para times de futebol formados por gays, travestis e transsexuais. A disputa, que aconteceu no último dia 25, no Rio de Janeiro, reuniu oito equipes de diversos cantos do país. A grande vitória é a consolidação do espaço políti-

co conquistado pela comunidade. “O futebol é um dos esportes mais homofóbicos. Então, foi muito lindo ver em campo a representatividade de todo o meio

Esperamos que a premiação abra os sonhos e a mente dos mineiros LGBT. Nós estamos lutando por um reconhecimento que não temos na sociedade. O que nós fazemos em campo também é um ato político”, afirma Leonardo Machado, jogador dos Bharbixas. Mas não é só com glamour que se ganha campeonato. É preciso muito empenho,

EM DOIS ANOS,

Globo, inimiga do Brasil Diego Silveira Em depoimento a um tribunal de Nova Iorque, há poucas semanas, Alejandro Burzaco, diretor da empresa de marketing esportivo Torneos & Competencias, acusou a Globo de pagar propinas a cartolas para assegurar exclusividade na transmissão das Copas do Mundo de 2026 e 2030 no Brasil. Isto é, acusou a Globo de corrupção ativa. Segundo o diretor, R$ 50 milhões chegaram às mãos de Julio Grondona, ex-presidente da associação argentina e ex-vice-presidente da Fifa, de Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, antigos e atual presidentes da CBF, respectivamente. O responsável pelos pagamentos seria Marcelo Campos Pinto, diretor esportivo da Globo até 2015. Burzaco também disse que Marin e Del Nero reclamaram do atraso, em 2013, no pagamento de propinas relativas à venda dos direitos de transmissão da SulAmericana e Libertadores. Lembre-se que a Rede Globo monopoliza também a transmissão do Brasileiro, da Copa do Brasil e dos estaduais. Essas propinas são migalhas perto do que se arrecada com os contratos de publicidade dos eventos. O monopólio da Globo na transmissão é responsável pelos horários desumanos das partidas dos clubes brasileiros – que nos obrigam a voltar para casa de madrugada ou a assar, junto com os atletas, às 16h do domingo – além dos preços extorsivos dos canais pagos, etc., etc. Mas atenção! O futebol é só um dos negócios da Globo. Na política e na economia, os pontos de vista expressos pelos veículos de informação da emissora golpista nunca são neutros, pois defendem seus interesses comerciais. Para isso, vale até suborno! Assim, quando você vir, ler ou ouvir uma notícia de um veículo do Grupo Globo, lembre-se do que há anos afirma o jornalista Fernando Morais: a Globo é inimiga do Brasil e assim deve ser tratada.

Anúncio

Foram usados nesta fase da expansão:

ENERGIA PARA

9.897 km de redes

40FAMÍLIAS .000

35.747 transformadores 109.665 postes

NOVAS

NA ÁREA RURAL.

talento e dedicação! O time mineiro, que conta com 14 atletas, treina semanalmente. Com a vitória, a expectativa é de que o Bharbixas receba ainda mais jogadores. “Tem muita gente que sonha, mas nem chega a ter uma carreira no esporte por causa do medo e do preconceito. É muito triste isso! Então, nós esperamos que esta iniciativa incentive muitos atletas gays, em qualquer esporte em que eles queiram participar.’” destaca Leonardo. A próxima edição do Champions Ligay já tem data marcada. Será em abril de 2018, em Porto Alegre. Esperam mais de oito times. O campeonato também deve contar com a participação de atletas internacionais.

Silvana de Jesus Lima e Arthur Lima de Oliveira Verdelândia - MG

15 15

Curto e Grosso

Divulgação

Amélia Gomes

ESPORTE

A CEMIG ENFRENTA A CRISE COM TRABALHO. Até 2015, milhares de famílias viviam sem energia em Minas Gerais. Isso precisava mudar. Apesar da crise brasileira, a Cemig continuou trabalhando e levou luz para 40 mil novos lares na área rural. Em 2018, mais mineiros serão beneficiados. Cemig. Cada vez mais presente na vida dos mineiros.


16

Belo Horizonte, 1 a 6 de dezembro de 2017

Brasil brilha em Mundial de natação

N

os dois primeiros dias do Mundial de Natação para deficientes intelectuais, no México, a delegação brasileira dominou as competições, que começaram na terça (29). André Luiz Bento conquistou o primeiro ouro, na prova dos 80 metros freestyle S14. Na mesma modalidade, Ana Karolina Soares foi ouro no feminino, além de vencer os 200 m costas S14 e os 4 x 50m S14, este último no revezamento

ESPORTES

16

DECLARAÇÃO DA SEMANA Lucas Uebel

Daniel Zappe / CPB MPix

com Stephanie Ariodante e as irmãs Debora e Beatriz Borges. Já Felipe Caltran ganhou os 200m medley individual SM14. Por fim, Caique Aimore subiu ao topo do pódio nos 50m masculino freestyle para atletas com síndrome de down. O torneio vai até domingo (3). (Com informações da Federação Internacional de Esportes para Deficientes Intelectuais)

“Desculpe, senhor prefeito, o senhor é uma autoridade. Mas eu, Renato Portaluppi, estou declarando amanhã feriado em Porto Alegre, porque todo mundo está falando que o Grêmio é campeão da América” Renato Gaúcho, treinador do Grêmio e maior ídolo da torcida tricolor, todo serelepe com o tricampeonato na Libertadores.

Gol de placa Quem se aposentou do futebol aos 43 anos jogando como Zé Roberto?! Ele pendurou as chuteiras no jogo entre Palmeiras e Botafogo, na segunda (27). Zé marcou época na Seleção, na Europa e no Brasil. Pelo alviverde, clube brasileiro no qual mais atuou, ergueu duas taças – Copa do Brasil e Brasileiro.

Gol contra Muralha tem cometido falhas atrás de falhas no gol do Flamengo. O goleiro parece insensível a seus erros e insiste em jogar, mas lembremos: as falhas da diretoria rubro-negra na contratação do arqueiro e em mantê-lo são em boa medida responsáveis pelo ano conturbado do time.

Decacampeão

É Galo doido

La Bestia Negra

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Giovanna Fantoni

E o América mais uma vez faz história! Esses profissionais que honraram a camisa mais bonita do Brasil e conquistaram o bi da Série B serão para sempre lembrados – assim como são os heróis de 1997. Ganhar título com o América tem um sabor diferente, pois éDecacampeão sempre contra os prognósticos, os todo-poderosos, a invisibilidade na mídia, a arbitragem, o baixo orçamento. Mas, quando se tem tradição, estrutura, planejamento e determinação, os resultados são plenamente possíveis. Neste ano, o América foi a defesa menos vazada da história da Série B, o time que menos perdeu no ano, à frente do “ex-campeão de tudo” e, com justiça, foi campeão e vai com moral para a Série A.

O título do Grêmio tem dois significados para o Atlético. O primeiro: as chances de disputar a Libertadores em 2018 aumentaram, pois até o oitavo lugar está garantido. O segundo: priorizar é fundamental. As equipes jogam a esmo, e, para a maioria, fiÉ ou Galo cam as sobras, seja,doido! lutar contra o rebaixamento ou buscar uma vaguinha na “bacia das almas”. E dá-lhe promessas de planejamento, como se isso fosse possível na barafunda do futebol brasileiro. No fim de semana, tudo se consuma. Pode ainda restar a última esperança: o Flamengo ganhar a Sul-Americana e surgir mais uma vaga para os times nacionais na Libertadores. Emoção, taquicardia e desalento vão caminhar juntos.

Anúncio A temporada termina com bons resultados para os dois principais times mineiros. O Cruzeiro faturou o penta na Copa do Brasil; o América é bi da Segundona. Mas 2018 inspira preocupações. A direção do maior de Minas foi tomada por uma turma safaLadeBestia da, que gosta ameaçarNegra opositores, roubar dinheiro dos outros e usar a instituição para benefício pessoal. Como é possível que, após um ano tão bom, entremos tão facilmente em um período tenebroso? Espero que o meu temor não se confirme e possamos, enfim, comemorar o tão almejado tricampeonato da Libertadores. Que não repitamos a história de outros clubes que, com trajetória parecida, rapidamente foram da glória ao rebaixamento.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.