Edição 241 do Brasil de Fato MG

Page 1

Mídia NINJA

Minas Gerais

Luta pela liberdade

Tomaz Silva / Agência Brasil

Copa no mundo

Agosto será mês de mobilizações pela soltura de Lula em todo o país

Das 32 seleções do mundial, 22 levaram jogadores estrangeiros

Brasil 8

Esporte 16

Belo Horizonte, 6 a 12 de julho de 2018 • edição 241 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita

ORGULHO E RESPEITO

Rômulo Menezes / Estúdio Pose

MINAS 5, 6, 11 e 14 Domingo é dia de Parada LGBT em Belo Horizonte. Nesta edição, conheça histórias de pessoas, de todas as cores e amores, que resistem pelo direito de ser quem são. Leia também matéria sobre artistas LGBT que anunciam um novo projeto em suas obras e conheça a proposta do livro “Hasteemos a bandeira colorida - diversidade sexual e de gênero no Brasil”


2

OPINIÃO

Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

Editorial | Brasil

Golpe elétrico: se privatizar, a conta de luz aumenta

ESPAÇO DOS LEITORES “Toda vez que vejo Marcio Lacerda fazendo campanha para governador, eu me lembro desse viaduto” Sandra Mara comenta a matéria “Queda do viaduto: traumas, impunidade e abandono marcam a vida das vítimas” ________ “Uma outra visão de mundo e de vida” ArteBumBrasil compartilhou nas redes sociais a entrevista com Kota Mulangi: “Somos perseguidos porque temos uma visão de mundo que coloca o capitalismo em risco” ________ “Não consigo nem comentar, é muita frustração” Lobão Carlos comenta a matéria “Sindicato dos farmacêuticos está ameaçado de fechar” ________ “A gente perde as contas, mas não deixa de anunciar: mais um golpe” Fernanda De Oliveira Lage escreve sobre a matéria “Decreto de mineração reduz multas e libera áreas de reserva para exploração”

Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br

A privatização da Eletrobrás causará grandes aumentos nas contas de luz nos próximos anos. O governo de Temer está prestes a privatizar usinas hidrelétricas, linhas de transmissão, subestações e várias distribuidoras de energia elétrica que pertencem à Eletrobras. A Eletrobrás é uma empresa que pertence ao governo. É dona de 100% de 16 empresas: Chesf, Furnas, Eletronorte, Eletrosul, Eletronuclear, CGTEE, Cepel, Eletropar, Amazonas GT, Amazonas D, CERON, CEPISA, CEAL, Eletroacre, Boa Vista e 50% de Itaipu Binacional. O patrimônio da Eletrobras inclui 233 usinas (47 hidrelétricas), cerca de 70 mil km de linhas

Venda da Eletrobras trará 30 anos de aumento na conta luz de transmissão, 271 subestações e 4,3 milhões de consumidores na distribuição. Se privatizar, a consequência será novos aumentos nas tarifas de energia elétrica, que farão com que a população brasileira pague a conta por 30 anos. As usinas que pertencem à Eletrobrás vendem a energia mais barata do Brasil. A maioria das suas hidrelétricas estão vendendo a energia produzida por R$76/1.000 KWh. Após a privatização, o governo pretende autorizar que estas usinas passem a cobrar quatro vezes mais caro, ou seja, acima de R$200/1.000 kWh, em contratos de 30 anos de duração. Se privatizar, os novos preços serão repassados nas contas de luz.

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

Eletrobras pertence ao povo Todo o patrimônio da Eletrobrás pertence ao povo. Não são as empresas que pagam a usina, os verdadeiros

Hidrelétricas já foram pagas, energia deveria ser mais barata donos são as pessoas que consomem a energia e pagam a conta de luz mensalmente. Quando uma hidrelétrica é construída ela possui um custo de construção, o chamado investimento. A usina de Belo Monte, por exemplo, custou R$ 30 bilhões ao todo. Este valor, mais os juros, são diluídos em prestações que são cobradas mensalmente na conta de luz durante 30 anos. Desta forma, após o pagamento, o povo se torna 100% dono de Belo Monte. Assim acontece com todas as demais usinas. Após o pagamento completo, o povo fica dono da usina e a energia gerada passa ser muito barata, algo em torno de R$ 70/1.000 kWh. Para se ter uma noção, os consumidores pagam em média R$ 750/1.000 kWh. Como as usinas foram pagas pelo povo, a população tem o direito de pagar mais barato na conta de luz. No entanto, com a privatização os empresários farão a população pagar duas vezes. A energia não pode ser controlada por empresas privadas. Devemos acabar com as privatizações, reaver tudo o que já foi privatizado, e assim, garantir soberania, distribuição da riqueza e controle popular sobre a energia.

REDE SOCIAL: facebook.com/brasildefatomg CORREIO: redacaomg@brasildefato.com.br PARA ANUNCIAR: publicidademg@brasildefato.com.br TELEFONES: (31) 3309 3314 / (31) 3213 3983

conselho editorial minas gerais: Adriano Pereira Santos, Aruanã Leonne, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Cida Falabella, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, Jô Moraes, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Marcelo Oliveira Almeida, Makota Celinha , Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Rosângela Gomes da Costa, Robson Sávio, Samuel da Silva, Talles Lopes, Titane, Valquíria Assis, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Amélia Gomes, Larissa Costa, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes, Thainá Nogueira e Wallace Oliveira. Colaboradores: Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Bruno Mateus, Diego Silveira, Fabrício Farias, Felipe Marcelino, João Paulo Cunha, Jordânia, Souza, Léo Calixto, Luiz Fellippe Fagaráz, Pedro Rafael Vilela, Renan Santos, Rogério Hilário, Sofia Barbosa, Taciana Dutra. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Distribuição: Felipe Marcelino. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares.


? PERGUNTA DA SEMANA

Com a recente política de preços da Petrobras, o governo anunciou novos aumentos nos preços do gás de cozinha e da gasolina. Os valores subiram 4,4% e 0,9%, respectivamente. O Brasil de Fato MG pergunta:

O aumento dos preços dos combustíveis afetou a sua vida?

“Na minha vida afeta e muito, porque todo dia eu gasto em média R$ 50 de combustível... Tem que baixar esse preço, senão eu não aguento. Imagina só, R$ 1.500 por mês só de gasolina! Eu tô comprando só o necessário do necessário para poder dar conta”. Carlos Antônio, autônomo

“Ah, já mudou muito. Com essa crise a gente deixa de consumir frutas, nós pegamos um iogurte mais barato, de menor qualidade, tudo pra dar um jeito de economizar. Algumas pessoas podem não sentir, mas isso afeta o país de forma geral”.

Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

GERAL

3

Michelle Cardim /Divulgação

Declaração da Semana “O dia que eu me apaixonei, e essa pessoa era uma mulher, não foi uma questão pra mim, nunca foi estranho (...) é estranho que essa tenha que ser uma luta. O amor”

Miss Espanha é uma mulher trans

Escreveu Bruna Linzmeyer em seu Instagram, junto a uma foto com a sua namorada. A atriz chama atenção para o Dia Internacional do Orgulho LGBT, 28 de junho

Divulgação

Maria Inês, administradora

VENCEDORA No dia 29 de junho a Espanha deu mais um passo no rumo do respeito. O país coroou a sua nova Miss Espanha, Angela Ponce, uma mulher transgênero. A modelo é a primeira trans a vencer o concurso espanhol e será a segunda a participar do Miss Universo. A primeira foi a canadense Jenna Talackova, que ficou entre as 12 finalistas em 2012.

Comprou na internet e se arrependeu?

Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

SERVIÇO Sabe aquela consciência pesada de ter feito uma compra que não podia? Ou que não é segura? O Código de Defesa do Consumidor te garante o direito de desfazer! O artigo 49 diz que o consumidor pode desistir do contrato, no prazo de sete dias, a contar da assinatura ou do ato de recebimento do produto. A “Lei do Arrependimento” ainda assegura que os valores pagos devem ser devolvidos de imediato. Além de compras pela internet, vale também para aquisições feitas por telefone, catálogo ou em domicílio.


4

CIDADES

Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

A dor e a delíciade ser o que é

PERFIS Na semana do Orgulho LGBT, leia histórias de pessoas que têm orientação sexual ou identidade de gênero que fogem do padrão imposto heterossexual Amélia Gomes e Raíssa Lopes Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

“Nas atitudes você percebe que te tratam de forma diminuída”

“Todas as trans que eu conhecia não tinham acesso a emprego”

Bruno Inácio, de 24 anos, já notava desde a infância que não era o que diziam que ele deveria ser. Negro, morador da extinta Vila Esporte Cruzeiro (região Oeste de Belo Horizonte) e filho mais velho de uma família com pai ausente, tinha receio de que a sua orientação sexual desapontasse sua mãe e seus três irmãos. Pela sociedade, a ele era delegado o papel de “homem da casa” – e homem da casa não tem vontade de chorar, não ama, não tem fraquezas, temores, inseguranças... Será mesmo? No auge da adolescência, Bruno também temia que o fato de gostar de outros como ele prejudicasse a sua relação com os amigos. “Eu moro numa favela, e a gente sabe como é crescer na favela... Somos muito perseguidos. Procurei apoio nas minhas amigas mulheres, porque as mulheres tendem a nos ouvir com mais facilidade. Foi o primeiro passo. Elas me ajudaram a me entender e a partir daí foi ficando mais fácil”, lembra. Bruno é jornalista e no momento cursa economia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para ele, se impor nesses ambientes, como em todos os outros, é indispensável. “Quem é mulher entende muito quando a gente fala de homofobia, porque em certos pontos ela é muito parecida com o machismo. É aquela coisa, ninguém nunca vai falar que você é menor porque é mulher, mas, nas atitudes você percebe que te tratam de forma diminuída. É da mesma forma”. Já no ambiente de trabalho, ele teve que fugir dos estereótipos destinados aos homossexuais. Teve que provar que não era apenas engraçado, apenas comunicativo, apenas descontraído e que tinha talento para várias tarefas além do entretenimento e do humor. Aprendeu a estar passos à frente: ser duas vezes mais competente, duas vezes melhor repórter, duas vezes mais dedicado. “Se existe outra forma de viver a homossexualidade, eu realmente não sei”, pontua.

Você já imaginou precisar deixar de ser você mesmo para conseguir trabalhar? Laura Zanotti, mulher trans de 30 anos, viveu um extenso período da vida ocultando ser quem era para sobreviver. Nascida em São Paulo, a jovem – mesmo antes da transição – só conseguia trabalho em empresas de callcenter, uma atividade que esconde personalidades por trás de aparelhos telefônicos. Quando mudou para Belo Horizonte, já com nome e corpo femininos, como desejava desde a adolescência, teve que retroceder. Vestiu roupas masculinas, cobriu as mudanças hormonais, o cabelo, e aceitou ser chamada pelo que não se reconhecia. Foi contratada. “Quando comecei a me identificar como pessoa trans passei por um conflito enorme, principalmente por ver que todas as mulheres trans que eu conhecia não tinham acesso ao mercado de trabalho, tinham que ser garotas de programa. Só restava isso. Me chocou muito”, relata. O novo emprego era também na área de telemarketing. Quatro anos depois, a infelicidade e a insatisfação de fingir ser outro alguém fizeram com que Laura, mesmo com medo, rompesse a barreira de uma vida dupla. Com o apoio de amigos, resistiu por mais um ano e decidiu enfrentar novamente o mercado. Junto com ele, um novo dilema: que rumo tomar? “Fiz um curso profissionalizante de maquiagem e consegui me manter por mais tempo. Eu optei porque era o mais acessível pra mim, mas o padrão precisa ser quebrado. Quando você é trans, é para essas ocupações que as pessoas te direcionam sem nem que você perceba”, afirma. Agora, Laura trabalha na administração de uma empresa de tecnologia que preza pela diversidade, a ThoughtWorks. Mas até hoje é questionada se “mexe” com cabelo, maquiagem ou tratamentos para a pele.

Mostre seu orgulho!

A 21ª Parada do Orgulho LGBT de Belo Horizonte acontece neste domingo (8), com concentração às 11h, na Praça da Estação. Esta edição tem o tema “Mais Democracia e Mais Direitos Humanos: esse é o Brasil que queremos para as LGBT” e tem o objetivo de chamar a atenção para o conservadorismo que cresce no país, além de defender a democracia para a conquista do respeito à diversidade. O evento é organizado pelo Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerasi (Cellos-MG).


Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018 Arquivo pessoal

MINAS

5

Rômulo Menezes / Estúdio Pose

“Namorei e morei com homens e mulheres”

“Homens têm dificuldade de me ver com minha esposa”

Regina Helena é pesquisadora e professora de história na UFMG. “Eu não sei se eu me descobri LGBT, na verdade uma parte da minha geração experimentava as coisas, a sexualidade, as relações e a vida. E nisso eu namorei e morei com homens e mulheres. Então nunca foi uma descoberta, isso sempre foi uma coisa muito natural”, conta. Mas para a família de Regina, a questão era, e ainda é, um problema. E no trabalho não foi diferente. Ao longo de sua carreira, a professora passou por inúmeras situações em que foi vítima de preconceito. Dez anos depois de casada, Regina e sua companheira decidiram iniciar um processo de adoção. As duas foram o primeiro casal LGBT do estado a pedir a adoção conjunta, ou seja, em nome das duas mães. Depois de pouco mais de um ano, elas conquistaram a guarda definitiva dos filhos. Regina afirma que durante o processo de adoção ela e sua companheira não sofreram nenhum tipo de preconceito. No entanto, na escola, no trabalho e em outros ambientes a situação não foi bem assim. As mães já foram vítimas de denúncias anônimas caluniosas alegando que elas maltratavam os filhos. Elas também chegaram a ser barradas por uma companhia aérea, que não aceitava o registro de adoção. Apesar do momento atual de avanço do conservadorismo, Regina defende que pessoas LGBT têm que ter sempre o orgulho, o respeito e a felicidade no horizonte.

Iara Pires Viana se descobriu lésbica com apenas 7 anos de idade. E ao contrário de muitas famílias, na casa da geógrafa a diversidade tem voz e vez. A família de Iara nunca questionou sua orientação sexual, pelo contrário, sempre a apoiou. “Agradeço todos os dias a família que me concebeu, que desde essa idade me ensinou a importância da liberdade de viver, os desafios frente a esta liberdade”, diz. Há três anos Iara está casada com Rosane Pires Viana, com quem divide o nome e a vida. “Percebo que nos marcos legais muito caminhamos, mas socialmente ainda não. Muitos homens, principalmente, têm dificuldade de me ver andando de mãos dadas com minha esposa e filha – como se uma família só pudesse ser constituída a partir deles. Nessas ocasiões fica explícito o machismo interseccionado com a intolerância e a homofobia”, critica. Professora, Iara já passou por diversos setores da educação desde a sala de aula, gestão da escola e agora é superintendente na rede estadual de educação. Ao contrário do cenário que encontrava em casa, no trabalho ela sempre enfrentou discriminação por ser lésbica e negra. Sobre o avanço do conservadorismo, ela diz: “Não fui ensinada a esconder o amor, aprendi desde a infância que amor é partilhado e que todos devem nos respeitar como somos”.

Notícia que não sai nos jornais João Paulo Cunha A imprensa comercial brasileira vai mal das pernas. E não é de hoje. No conjunto das crises pelas quais passa o setor estão questões ligadas à tecnologia, ao novo mercado publicitário, à economia contemporânea da informação. Sem falar da crise econômica, que teria na diminuição das receitas das empresas uma primeira correia de transmissão. Mas tudo isso é apenas consequência de uma perda muito maior: a da credibilidade. A nova onda de demissões da Editora Abril com o intuito de salvar a revista Veja (a ponta de lança do jornalismo de guerrilha conservador) e o AI-5 das organizações Globo – que submete todos seus colaboradores e trabalhadores ao silêncio obsequioso nas redes sociais, inclusive as mais pessoais - são exemplos recentes. Mídia e direita O Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública

Cientificamente comprovado: a imprensa comercial brasileira é de direita da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) faz um estudo a partir da análise de jornais e noticiários de TV considerados de maior abrangência e circulação (Folha, Estadão, Globo e Jornal Nacional). Instrumento de pesquisa sem filiação partidária, mais conhecido como Manchetômetro, a plataforma classifica cientificamente o viés da cobertura. Os resultados são publicados semanalmente na internet e se tornaram uma ferramenta de referência no campo da ciência política. No entanto, e não se trata de achismo, a conclusão da plataforma é transparente:

Opinião

a imprensa comercial brasileira é de direita. O Manchetômetro vem acompanhando há alguns anos esse comportamento, em assuntos como eleições, impeachment, debates parlamentares e aprovação de projetos. Por isso é preciso ficar atento ao cenário da informação. Os chamados “grandes veículos” a cada dia perdem seu principal ativo, como mostram os fatos acima: não se sustentam sem mentiras, perderam a dimensão da objetividade, ostentam pautas partidárias, carregam a desconfiança de fontes de qualidade, reduzem a pluralidade ao pensamento único sem contraste. Além disso, a batalha da comunicação pública e da regulação econômica dos meios patina como pauta secundária. O que se desenha é um novo modelo, para o qual a disputa de atenção vem sendo fortalecida pelo lado da comunicação popular e independente. Há um caminho aberto para a informação de qualidade


6

MINAS

Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

Coletivos apontam discriminação em licenciamento de atividades culturais BELO HORIZONTE Audiência pública debateu o assunto na terça Wallace Oliveira / Brasil de Fato MG

Wallace Oliveira

A

pedido das vereadoras Áurea Carolina, Cida Falabella (Psol) e Arnaldo Godoy (PT), na última terça-feira (3), ocorreu na Câmara Municipal de BH uma audiência pública para debater os licenciamentos em atividades culturais na cidade. À mesa, estiveram presentes representantes da Prefeitura e coletivos de cultura da pe-

Estiveram presentes representantes da Prefeitura e coletivos da periferia

Iniciativas culturais são formas de garantir direitos

riferia. Os coletivos criticam principalmente por parte a complicação, alto custo e da polícia. discriminação nos proces- Discriminação sos de obtenção de alvará, As iniciativas culturais são formas de garantir direitos reconhecidos na Constituição, no Estatuto da Cidade e outras leis. Por outro lado, de acordo com o Código de Posturas de Belo Horizonte, o poder público municipal pode licenciar essas atividades. Para conseguir alvará, é preciso percorrer um longo caminho, que passa pelo pagamento de taxas, documentação em diferentes órgãos, obtenção de parecer da PBH, aval da Polícia Militar e agendamentos. Tudo isso requer muitos gastos, deslocamentos, aquisição de gradil, banheiro químico e outros dispositivos. Assim, a maior dificulQuatrocentas famílias do Movimento dos dade recai sobre pequenos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam, grupos sem fins lucrativos, na quinta-feira (5), uma área do grupo de mineração sobretudo os que atuam MMX. O terreno pertence ao empresário Eike Batista, fora da região Centro-Sul, que nesta semana foi condenado a 30 anos de prisão que não são financiados pepor corrupção ativa e lavagem de dinheiro. A nova área los editais de cultura. Para ocupada localiza-se em São Joaquim de Bicas e servirá piorar, eles se queixam do para moradia e plantação, segundo o movimento. A tratamento seletivo do poação integra a campanha de celebração dos 30 do MST der público, especialmenem Minas. O lema escolhido é “30 anos de MST-MG, te a PM. Foi o que aconsemeando e alimentando a ousadia”.

MST ocupa mais uma área em Minas Gerais

teceu com o Masterplano, um coletivo que trabalha com música eletrônica, debates e oficinas, ocupando a cidade e questionando a falta de artistas mulheres e LGBT em eventos no Brasil. Elas iriam comemorar seu terceiro aniversário na pista de skate do Barreiro, mas, após um grande esforço, não conseguiram realizar o encontro. “Contratamos uma empresa especialista em tirar licenciamento, toda a documentação foi obtida, as taxas pagas. Quando levamos o ofício à polícia, eles se recusaram a assinar, alegando que nossa documentação não era verdadeira, que na pista de skate há eventos que são baderna, que desce a população das comunidades, das favelas, que é um caos”, relatou Carolina de Carvalho, integrante do coletivo. Ela lembrou que,

Prefeitura promete deixar processo menos caro e mais rápido em outras ocasiões, quando apresentaram o ofício à PM, foram indagadas se iriam “tocar funk” e, caso isso acontecesse, não seria possível, pois esse estilo musical atrairia o “pessoal da favela”. Para o músico Gordão Uaiss, do grupo Uai Sound System, o que está por trás dessa conduta é o racismo que se volta contra as periferias. “Nós, que promovemos iniciativas públicas ti-

rando do nosso bolso e, às vezes, procuramos órgãos públicos para ter essa licença, não somos inimigos da cidade, não queremos destruir a cidade e não somos amigos da criminalidade. Muito pelo contrário, estamos potencializando o que há de melhor da arte e cultura, que não é amparado por vocês, principalmente quando se trata de periferia e quebrada”, declarou. Revisão A diretora de licenciamento de atividades e posturas da Secretaria Municipal de Política Urbana (SMPU), Helcymara Kutova, explicou que algumas exigências estão contidas na legislação urbana, como banheiros e outros aparelhos. Já as questões de segurança, como presença de brigadistas e fechamento do evento, são definidas por órgãos de segurança pública. Helcymara também disse que a Prefeitura prepara uma revisão do processo de licenciamento, a fim de torná-lo menos caro e mais simples, rápido, acessível e transparente. Entre as mudanças, a regionalização do licenciamento de atividades com até mil pessoas, tornar digitais as consultas e solicitações de local para eventos e rever a cobrança de taxas para pequenos grupos. Encaminhamentos A mesa encaminhou por solicitar uma nova audiência, para acompanhar a revisão do processo de licenciamento, previsto para agosto.’


Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018 Marcos Corrêa / PR

OPINIÃO

7

Paula Silva

Autonomia docente ameaçada

Gol contra: jogando com EUA, programa do golpe acelera Enquanto acompanhamos a Copa do Mundo, as forças golpistas não perdem tempo para acelerar um programa de desmonte das bases da nação. Vejamos quais: Base de Alcântara. Foram decisivas a realização do Plebiscito Popular e a vitória de Lula em 2002 para impedir a consumação por Fernando Henrique Cardoso (FHC) do famigerado acordo para o uso do Centro de Lançamento de Alcântara pelos Estados Unidos (EUA). Agora, após reunião com o secretário de Estado estadunidense, o governo anunciou a retomada de negociações para utilização da Base pelos Estados Unidos. O objetivo principal norte-americano é ter uma base militar em território brasileiro na qual exerçam sua soberania, fora do alcance das leis e da vigilância das autoridades brasileiras. A localização é ideal para operações político-militares na América do Sul e na África, e para sua estratégia mundial em confronto com a Rússia e a China. Submarino Nuclear enviado para as Calendas! Em 2016, o Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear (Prosub), lançado no Governo Lula em 2008, virou alvo da Operação Lava Jato e paralisou. O desmonte da Petrobras. Aceleram a venda de ativos Farão tudo para como campos de petróleo, refinarias e gasodutos. Confe- impedir rem urgência ao Projeto de Lei que permite à Petrobras negociar até 70% dos campos do pré-sal. Privatizaram 3 candidatura mil quilômetros de gasodutos e entregaram o campo de Lula Carcará. São todas medidas que desmontam as bases estruturais da nação. Para revertê-las, mais do que vitória eleitoral, que sem dúvida é importante, cada vez mais será necessário desencadear uma nova correlação de forças. Assim, vai ficando claro. Por que as forças econômicas e sociais que patrocinaram o golpe farão tudo para impedir a candidatura de Lula. Ricardo Gebrim é a advogado e membro da Direção Nacional da Consulta Popular. Leia íntegra em brasildefato.com.br.

ACOMPANHANDO

Ricardo Gebrim

Os adeptos do movimento “Escola sem partido” vêm dando uma mostra, em todo o Brasil, do tipo de intervenção que pretendem realizar no fazer diário de um professor. Sou professora concursada da rede municipal de Belo Horizonte e leciono as disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura. Na última semana fui surpreendida com um documento (nos moldes daqueles textos-padrão disponibilizados pelos que defendem o “Escola sem partido”) no qual a mãe de um aluno solicitava a substituição de uma atividade avaliativa. Ela baseava sua solicitação nos livros de Deuteronômio, Mateus e na carta do apóstolo Paulo, além de citar alguns incisos do artigo 5 no que tange à liberdade de crença religiosa. A atividade em questão consistia na transposição de um mito egípcio para um texto teatral e sua apresentação para a turma. Tal atividade está prevista no projeto de minha autoria denominado “Universo Egípcio”. O estudo de textos literários faz parte da política educacional do município. Eu participo de formações mensais desse programa e sou a articuladora de leitura da escola onde estou lotada. A atitude dessa mãe, alegando motivos de cunho religioso, muito me assusta. Esse tipo de intervenção censura e desqualifica o trabalho proposto nas disciplinas. Apresentar à coordenação um documento - mesmo sem valor legal - é uma forma sutil e pretensiosa de condicionar o trabalho docente a interpretações equivocadas e distorcidas de grupos fundamentalistas. Denunciar práticas como essa no ambiente escolar é fundamental para ampliarmos o debate sobre os verdadeiros propósitos e o impacto do Não podemos “Escola sem partido” no cotidiano do professor. Não po- aceitar que demos aceitar que grupos grupos deterconservadores da extrema di- minem o que se reita e sem nenhum preparo deve ensinar intelectual determinem o que se deve ensinar nas escolas. Paula Silva é professora da rede de educação de BH Na edição 233 ... Creche, cozinha comunitária, horta e organização são rotina na Carolina Maria de Jesus E agora... Moradores conquistam moradia após pressionarem governo de Minas Depois de muita luta, as famílias da ocupação, que estava localizada na Afonso Pena, região Centro-Sul de BH, conseguiram um acordo com o governo de Minas Gerais. O documento prevê a cessão de dois terrenos onde serão construídas casas para os moradores, além de auxílio habitacional até que a obra dos imóveis seja finalizada. Na próxima semana, os ocupantes terminam a mudança temporária para um novo prédio, que também fica no Centro, e podem ficar lá por até três anos.


8 6

BRASIL

Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

Movimentos programam greves, paralisações e atos durante o período eleitoral MOBILIZAÇÃO Abaixo-assinado a favor da liberdade de Lula será entregue no STF no dia 15 de agosto, data do registro de sua candidatura presidencial Mídia NINJA

Confira o calendário aprovado pela Frente Brasil Popular para os próximos meses:

Pedro Rafael Vilela, de Brasília*

A

Frente Brasil Popular (FBP), articulação que reúne mais de 80 organizações da sociedade civil, incluindo movimentos populares e entidades sindicais, aprovou um calendário de mobilizações que inclui um dia nacional de paralisação em 10 de agosto, já em meio ao calendário das eleições gerais em todo o país. “O objetivo é paralisar neste dia nos locais de trabalho, e organizar atos ao final do dia. A convocatória destas mobilizações terá como centro as pautas econômicas: luta por emprego, contra os aumentos dos combustíveis, entre outras”, diz a circular da FBP. Além disso, nesse período, está prevista a convocação de uma nova greve dos petroleiros por tempo indeterminado. O objetivo, segundo a frente, é barrar as iniciativas de desmonte da Petrobras e combater a atual política de preços da companhia, que tem causado sucessivos aumentos nos valores dos combustíveis e do gás de cozinha, penalizando a produção e a população mais pobre. A tentativa de privatização da Eletrobras, que pode gerar aumentos expressivos no preço da conta de luz, também será pauta das mobilizações do período.

No dia 15 de agosto será entregue abaixoassinado pela liberdade de Lula

Julho

Candidatura Lula Além da jornada de lutas programada para agosto, está planejada a entrega de um abaixo-assinado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a liberdade do ex-presidente Lula, preso desde abril. O dia 15 de agosto é justamente a data-limite para o registro de candidaturas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e uma mobilização expressiva está sendo organizada para Brasília nesse dia, a partir da articulação das forças que compõem o Comitê Nacional Lula Livre. Já em novembro, nos dias 25 e 26, está prevista a realização de uma nova conferência nacional do Congresso do Povo. “Esta Conferência terá por objetivo definir uma linha de atuação da FBP após o desenlace da disputa eleitoral, e preparar a etapa nacional do Congresso do Povo, que será realizada em fevereiro de 2019”, diz a Frente, em comunicado.

Trabalho de base durante o mês em torno do Congresso do Povo 11_Mobilização nacional dos sindicatos de trabalhadores rurais da Contag. 14_Ato Nacional de solidariedade à Maré, Rio de Janeiro, denunciando impunidade dos casos Marielle Franco e Marcos Vinícius 18_Homenagem aos 100 anos de Nelson Mandela 25_Dia da/o Trabalhadora/ or Rural

Agosto 4_Dia Nacional de Jejum por Lula Livre 7_Ato Inter religioso em defesa de Lula, em Brasília 10_Dia do Basta – dia nacional de paralisação das/os trabalhadoras/es 15_Data da inscrição da chapa Lula Presidente – Ato nacional no TSE, com caravanas de todo o Brasil 16_Assembleia do Congresso do Povo, para debater temas de projeto com os/ as marchantes e militantes do DF. *Com informações de Camila Vida, do Brasil de Fato Paraná.

Anúncio

Nota Pública EM DEFESA DOS SERVIDORES APOSENTADOS E DA PREVIDÊNCIA PÚBLICA DO ESTADO Diante da entrevista concedida pelo Governador Fernando Pimentel, atribuindo as dificuldades financeiras do estado ao “rombo na folha de pagamento dos aposentados”, as entidades, Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Estadual de Minas Gerais– SINDIFISCO – MG e a Associação dos Funcionários Fiscais do Estado de Minas Gerais – AFFEMG, vêm a público reafirmar que a aposentadoria é um direito legítimo e legalmente conquistado para o qual o servidor contribui durante toda a sua vida ativa (no mínimo 35 anos), com seus recursos, para constituir um fundo financeiro, que deveria se destinar exclusivamente ao pagamento das aposentadorias e pensões. E mais absurdo, continua pagando a contribuição previdenciária mesmo depois da aposentadoria. Ao longo dos anos, as contribuições para garantir as aposentadorias e pensões foram regiamente descontadas dos servidores e o valor, colocado sob a responsabilidade exclusiva de governantes que, além de sonegaram a sua parcela de contribuição, desviaram os recursos descontados dos servidores. Mais recentemente, em 1999, embora com algum prejuízo para os servidores, durante o governo de Itamar Franco, foram adotadas duas importantes medidas de equacionamento da previdência pública estadual: o parcelamento da dívida acumulada e a criação do Fundo de Previdência do Estado de Minas Gerais – Funpemg, para garantir as aposentadorias dos novos servidores. Porém, em 2003, governos posteriores extinguiram aquele parcelamento numa espécie de “auto anistia”. Em 2013, em nova investida, foi extinto o Funpemg, e o valor capitalizado de 3,2 bilhões de reais foi transferido para o caixa do Estado. Dinheiro que pertencia aos servidores. Essas medidas recentes demonstram, com muita contundência, que o servidor aposentado não é o culpado. Ao contrário, foi a dedicação e o trabalho destes servidores que fizeram com que Minas chegasse ao grau de desenvolvimento, organização e respeitabilidade que tem hoje perante o país. As entidades repudiam a tentativa de culpar os aposentados pela grave situação financeira do Estado e esperam que o governador reavalie sua opinião e cesse a discriminação ao aposentado quando do pagamento dos salários.


Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

BRASIL

9

Amizade de Gilmar com Aécio o torna suspeito, dizem especialistas PSDB Na última semana, ministro do STF mandou arquivar processo contra senador tucano, com quem mantém relação de amizade IDP

Leonardo Fernandes de São Paulo

N

a última sexta-feira (29), o ministro do STF Gilmar Mendes tomou a decisão de arquivar o inquérito que investigava a participação do senador Aécio Neves no esquema de corrupção na central elétrica de Furnas, quando era governador do estado de Minas Gerais. A Procuradoria-Geral da República (PGR) havia solicitado o envio do caso para a primeira instância, atendendo ao novo entendimento do STF que limita o foro por prerrogativa de função a crimes cometidos durante o mandato atual. Mas o minis-

Brasil vai perdendo seu petróleo Ricardo Stuckert

Com o Brasil anestesiado pela Copa, a Câmara dos Deputados selou mais uma etapa da venda do petróleo. Os deputados aprovaram a entrega de 70% das reservas do pré-sal a petroleiras internacionais. A matéria segue para apreciação do Senado. Nesta semana, o governo golpista acelerou a entrega também da Eletrobras e da Embraer.

tro Gilmar Mendes, contrariando a solicitação da PGR, decidiu pelo arquivamento do caso. O deputado estadual mineiro Rogério Correa (PT) acompanhou o caso pela Assembleia Legislativa do Estado, e vê desvio de função na decisão do magistrado, que vai no sentido de livrar o senador de ser julgado pela primeira instância.

“Gilmar, de forma escandalosa, arquiva [o processo] sem enviar para a primeira instância. E aqui [em Minas Gerais], o Ministério Público tem várias provas sobre isso. Então, [o Gilmar] não enviou para aqui para livrar o Aécio”, disse Correa. A relação entre Gilmar e Aécio poderia, segundo o Código de Processo Penal, gerar o impedimento do magistrado julgar processos relacionados ao senador. Segundo o artigo 254, um juiz deve ser declarado suspeito para julgar uma ação sempre e quando for “amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes”. “Eu ainda não entendi porque não foi pedida a suspeição, porque ele mesmo poderia ter feito de ofício, até para que a ação andasse com tranquilidade”, disse William Santos, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais (OAB/MG), ao esclarecer que o processo ainda não transitou em julgado, ou seja, ainda cabe recurso da decisão do ministro Gilmar

Mendes à Segunda Turma do STF ou até mesmo ao plenário da corte, o que só deve ocorrer depois do recesso do Judiciário, em agosto. O esquema de Furnas Em 2006, a revista Carta Capital denunciou um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro ocorrido nos anos 2000 na central elétrica de Furnas, e que envolveu aproximadamente 150 pessoas, entre políticos, empresários e magistrados, como os tucanos, Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin e o emedebista Eduardo Cunha. As revelações da revista foram mais recentemente (em 2012) corroboradas pelas delações premiadas do doleiro Alberto Youssef e do senador cassado Delcídio do Amaral. Segundo as informações prestadas ao Ministério Público Federal pelos delatores, o desvio de recursos em Furnas teria ocorrido em contratos de prestação de serviço, tendo chegado aos R$ 54,9 milhões, usados supostamente para financiar campanhas eleitorais.

Anúncio


10

MUNDO

Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

Prisão de Correa é uma traição à democracia, afirma juiz responsável pela punição a Pinochet

Obrador vence no México e derrota neoliberalismo Reprodução

EQUADOR Ex-presidente é acusado de envolvimento no sequestro de um opositor TeleSUR

Da redação, com informações da Telesur e Sputnik

O

judiciário do Equador autorizou, na terça-feira (3), a prisão cautelar do ex-presidente Rafael Correa, que atualmente mora em Bruxelas (Bélgica). A Procuradoria-Geral do Equador o acusa de estar envolvido no sequestro de um ex-deputado da oposição na Colômbia, em 2012. Um ofício à Interpol foi encaminhado, pedindo a extradição de Correa da Bélgica. O advogado do ex-presidente, Caupolicán Ochoa, considerou a ordem de prisão uma “perseguição política” e prometeu recorrer da decisão. Já Rafael Correa afirmou que está sendo acusado “sem provas” e que tentarão humilhá-lo, mas, segun-

Advogado de Correa considerou o pedido uma perseguição política

do ele, “essa monstruosidade jamais prosperará em um Estado de Direito como a Bélgica”, concluiu. Em entrevista ao portal russo Sputnik, o juiz espanhol Baltasar Garzón, responsável pela extradição do ditador chileno Augusto Pinochet, disse que as perseguições contra Correa no Equador, Lula no Brasil e Cristina Kirchner na Argentina são “uma traição à democracia e à sociedade”. “Não se deve utilizar as instituições — e muito menos a Justiça — como armas para tomar parte em relação a determinados grupos ou indivíduos. Pensávamos que na América Latina isso já havia sido superado, mas se torna preocupante novamente”, declarou Garzón.

SINDIFES

NA LUTA

Ele também disse que os processos judiciais no continente são pouco confiáveis e estão contaminados pela influência de “estruturas transnacionais, que veem em risco seu poder, perante a possibilidade de pessoas que apoiam os mais vulneráveis voltarem a governar”, concluiu. Votação tirou Correa de pleito Em fevereiro, um referendo promovido pelo governo equatoriano definiu que presidentes não podem se candidatar mais de uma vez ao cargo. O resultado tirou Rafael Correa das eleições presidenciais de 2021. O processo marcou a ruptura entre o ex-presidente e seu antigo aliado e vice, Lenín Moreno, que atualmente governa o país.

Eleito no último domingo (1º), o próximo presidente do México é o centro-esquerdista Andrés Manuel López Obrador. Sua vitória põe fim a um período de 90 anos de alternância no governo entre o Partido Revolucionário Institucional (PRI) e do Partido de Ação Nacional (PAN), ambos de direita. Após a confirmação do resultado, uma multidão se reuniu na Praça Zócalo, no centro histórico da Cidade do México, para comemorar a vitória, em uma eleição da qual participaram mais de 86 milhões de mexicanos. O novo governante tem uma trajetória ligado ao nacionalismo revolucionário mexicano. “O saldo de 30 anos de governos neoliberais no México é desastroso. López Obrador está consciente de que está propondo uma saída alternativa, sem ir a fundo. Dentro de uma margem de possibilidade, ele propõe fazer ajustes, reformas econômicas e políticas que permitam redistribuir a riqueza”, afirma o secretário de relações exteriores do Sindicato dos Eletricistas do México, José Humberto Montes Oca Luna.

Em Defesa dos Serviços Públicos!

JUNTOS SOMOS MAIS FORTES! www.sindifes.org.br

Anúncio


Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

ENTREVISTA

11

Por que o Brasil é um dos países que mais mata LGBT no mundo? IGUALDADE Publicação traz reflexões sobre identidade de gênero, orientação sexual e mudanças necessárias na realidade brasileira Yebá Ngoamãn

Joana Tavares

E

m um momento em que muito se discute o avanço do conservadorismo sobre os corpos e a política, a população LGBT reflete, formula e propõe enfrentamentos às estruturas de opressão e exploração. O livro “Hasteemos a bandeira colorida: diversidade sexual e de gênero no Brasil”, uma produção coletiva de diversos pesquisadores e militantes envolvidos nas mobilizações por direitos, será lançado no dia 17, como parte da 5ª Jornada pela Cidadania LGBT de BH. Confira entrevista com Leonardo Nogueira, um dos organizadores da obra e militante do Levante Popular da Juventude.

Desconectar as relações de classe da sexualidade e da identidade de gênero é um equívoco Brasil de Fato – O livro envolveu 19 pesquisadores que também são militantes LGBT. Conta um pouco do processo de organização da publicação e de seus objetivos? Leonardo Nogueira - Esse

livro é fruto de várias ações e encontros de formação que fizemos nos últimos anos. Envolveu fundamentalmente movimentos po-

Nossa formação histórica é profundamente patriarcal e racista

O golpe reforça ainda mais o caráter patriarcal, racista e conservador da realidade brasileira

pulares, como o Levante Popular da Juventude, o MST, a Editora Expressão Popular - que atua há mais de dez anos na difusão de um conhecimento crítico sobre a realidade brasileira – a Escola Nacional Florestan Fernandes e a Consulta Popular. Foi uma iniciativa que reuniu esforços de estudantes, professores e militantes. Quisemos pautar a construção do conhecimento que tivesse relação com a luta contra a discriminação de LGBT, para enfrentar a violência que nós LGBT vivenciamos diariamente.

possibilidades. Essa formação racista, patriarcal, que nunca abriu mão da violência, dos assassinatos como uma lógica das relações sociais, também é marcada por um profundo conservadorismo, que não aceita as expressões da orientação sexual e da identidade de gênero. Uma recusa a conviver com pessoas LGBT. E essa recusa se traduz não só como uma violência individual, mas como uma violência institucional, de um Estado que não assegura políticas públicas.

O livro busca articular a questão LGBT com o contexto geral, de como vivem as pessoas LGBT. Por que falar também de relações de exploração?

Partimos da ideia de que é importante discutir a orientação sexual, a identidade de gênero, mas é fundamental precisar isso no contexto concreto. Se falamos da realidade brasileira, estamos falando de uma realidade em que a população LGBT majoritariamente faz parte de uma classe que vive a exploração capitalista, são sujeitos que só têm a condição de vender a força de trabalho em troca de um salário. É fundamental olhar para o LGBT no Brasil sabendo que

A violência é muito banalizada no Brasil ele tem origem trabalhadora, que sofre várias violações, que não tem oportunidade de acessar a educação, lazer, cultura, saúde, que vivencia toda a violência colocada para o restante da população também. Isso tem relação com a desigualdade social que impera no nosso país. Olhar para o LGBT sem considerar de onde ele vem, a classe que ele compõe, é ocultar uma dimensão fundamental da vida do sujeito. Não basta lutar contra a LGBTfobia, se eu não lutar contra a desigualdade social, para ter melhores condições de me inserir na sociedade, participar da política, transformar a sociedade. Por isso é fundamental pautar as condições de vida.

O Brasil é um dos países que mais mata LGBT no mundo, um dos mais homofóbicos do mundo. Por quê?

Nossa formação sócio-histórica é profundamente patriarcal e racista. Esses traços, que vêm do nosso processo de formação como nação, acompanha nossa trajetória até hoje. A violência é muito banalizada no Brasil. Temos índices muito altos de violência contra a mulher, contra negros - especialmente a juventude – e contra a população LGBT. Essa violência também tem um recorte marcadamente de classe. Quem mais morre são LGBTs pobres e principalmente travestis e transexuais, que se encontram muitas vezes em situação de pobreza, na prostituição, nas ruas. Se a gente olhar quem são os LGBTs que morrem, vamos ver que são sujeitos alijados de uma série de direitos, de políticas públicas, de serviços, de

Como o golpe impacta a realidade das pessoas LGBT?

Esse golpe de Estado tem um claro recado contra as pessoas LGBT, contra as mulheres, contra as pessoas negras do nosso país, contra os defensores de direitos humanos. Esse golpe, além de cortar financiamento das políticas públicas para a população LGBT, é claramente contrário aos direitos dessa população. Isso acaba acelerando um contexto de violência que já vivíamos. De 2016 para 2017 cresceu assustadoramente o número de LGBT assassinadas, foram mais de 100. Em 2017, batemos um recorde: foram assassinados 435 LGBT no Brasil.


12 12 VARIEDADES

Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

Amiga da Saúde

CIÊNCIA, COISA BOA! VITAMINA C PREVINE GRIPES E RESFRIADOS?

Reprodução

Descobri que estou grávida e já fico nervosa só de imaginar aqueles exames de toque. Na minha primeira gravidez a médica fazia em toda consulta desde o início. Isso é mesmo necessário? Vilma Gomes, 30 anos, esteticista

Todo mundo já escutou que suco de laranja ajuda a prevenir a gripe. Farmácias oferecem diversos produtos contendo altas doses de vitamina C para fortalecer o sistema imune e evitar resfriados. Mas, será que isso é verdade? Realmente fazemos certo ao consumir esses suplementos? As vitaminas são substâncias orgânicas que participam de etapas importantes do metabolismo, mas que o organismo não é capaz de produzir. Assim, é preciso obtê-las por meio da alimentação. Necessitamos de uma pequena quantidade de vitaminas, alguns miligramas por dia já bastam. A vitamina C (ou Ácido Ascórbico), entre outras funções, participa da formação de uma importante proteína, o colágeno, responsável pela estrutura e rigidez de diversas partes do corpo. A boa notícia é que comendo um pouquinho de vitamina C por dia já estamos seguros. Segundo o Ministério da Saúde, um adulto saudável precisa em média de 45 mg por dia. Essa quantidade é facilmente obtida em uma dieta saudável. Isso porque a viSe você não é um tamina C está presente em diversas frutas maratonista ou e legumes. Assim, se você come por dia soldado em guerra, alguma porção de frutas como goiaba, ingerir muita acerola ou mamão, ou de legumes como vitamina C não vai o pimentão, a couve e o brócolis, já ingere evitar doenças o suficiente de vitamina C. A não ser que seu médico oriente o uso de suplementos vitamínicos, eles são dispensáveis. Em 1970, o bioquímico vencedor do Nobel Linus Pauling publicou o livro “A vitamina C e o resfriado comum”. Nele, apresentou um estudo científico que mostrava que o uso dessa vitamina reduzia os casos de gripe e resfriado. De lá pra cá, essa orientação se popularizou e passou a fazer parte de nosso senso comum. Porém, nos últimos anos, diversos outros estudos tentaram confirmar isso. No mais completo deles, publicado em 2013, foi feita uma metanálise de 29 outros estudos sobre o tema. A conclusão é que a ingestão de vitamina C não ajuda a prevenir gripes e resfriados na população comum. Constatou-se apenas um pequeno efeito em pessoas expostas ao esforço físico extremo. Ou seja, se você não é um maratonista ou um soldado em guerra, não há qualquer evidência científica que indique que ingerir vitamina C o ajudará a evitar essas doenças. Esse é um exemplo legal de como a ciência funciona. Um cientista importante afirmou algo que depois foi desmentido por outros estudos. O que não quer dizer que amanhã, novas pesquisas mostrarão que a ideia inicial é que estava correta. Um abraço e até a próxima! Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais

Tente se acalmar, Vilma! Antigamente, era mais comum a realização do toque vaginal durante o pré-natal. Ainda hoje, os protocolos (normas que orientam a prática dos profissionais) variam entre as instituições. Porém, já há evidências suficientes para acreditar que não é necessário fazer o toque vaginal em todas as consultas de pré-natal de risco habitual. Pode ser preciso realizá-lo uma vez

para avaliação ginecológica de rotina e outras vezes se houver alguma questão, como, por exemplo, uma suspeita de trabalho de parto prematuro. De qualquer forma, o toque só pode ser realizado com o seu consentimento. É seu direito saber tudo o que se refere ao seu corpo e seus tratamentos e participar das decisões sobre intervenções antes, durante e depois do trabalho de parto.

Sofia Barbosa é enfermeira do Sistema Único de Saúde I Coren MG 159621-Enf. Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br

Nossos direitos RECLAME NA ANATEL! Todos sofremos com os abusos das empresas de comunicação. Seja pelas operadoras de celular, TV por assinatura ou internet. As empresas que prestam estes serviços estão sempre no topo das reclamações dos órgãos de defesa do consumidor. Uma boa dica para você resolver seus problemas é reclamar seu direito na Anatel - Agencia Nacional de Comunicação. Funciona assim: primeiro você tenta resolver seu problema com a própria operadora, e anote o nú-

mero do protocolo de atendimento. Se a resolução não for possível ou for insatisfatória, você tem o direito de abrir uma reclamação diretamente na Anatel. O telefone de contato da Anatel é o 1331, ou você pode fazer sua reclamação na página ou aplicativo da agência. A Anatel encaminha a reclamação para a sua operadora de serviços, que terá cinco dias úteis para dar uma resposta ou solução. Em quase todos os casos, o problema é resolvido e o direito do consumidor é atendido!

Adília Sozzi é advogada da Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP


Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

13 VARIEDADES 13

Dicas Mastigadas BOLO DE CENOURA

Ingredientes 1 colher (sopa) de fermento em pó 2 xícaras de farinha de trigo 2 xícaras de açúcar 1 xícara de óleo 1 pitada de sal 3 cenouras médias Canela em pó 3 ovos

Cobertura

1 lata de creme de leite 2 colheres de chocolate em pó ½ lata de leite condensado

Modo de fazer

Bata tudo no liquidificador e coloque em um tabuleiro untado com manteiga e farinha. Asse em forno com temperatura média. Para fazer a cobertura, misture tudo em fogo baixo até gerar um creme. Ponha em cima do bolo e sirva! Receita da época antiga guardada pelas mestras do quilombo Chacrinha, de Belo Vale (MG). A arte de fazer biscoitos começou com Almerinda Dias da Cunha, que era responsável pela lida com o fogão em todas as festas. “– Ao biscoitão, Sô João!’’ era a senha que fazia as crianças correrem! Essa receita é parte do livro “Sabores do Quilombo – Quitandas das Minas Gerais”, acesse completo em goo.gl/BxKfJn.

Anúncio


14 CULTURA 14

Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

Artistas LGBT fazem arte contra o conservadorismo e o preconceito RESISTÊNCIA Fernando, La Cruz e Sophie abordam suas vivências em ilustrações e histórias Gabriela Matos

Larissa Costa

A

arte, historicamente, cumpre um papel importante de propor debates, tocar em assuntos ainda tabus e subverter alguma ordem imposta. Desde o golpe em 2016, o conservadorismo tem saltado aos olhos. No ano passado, o episódio do cancelamento da exposição “Queermuseu”, em Porto Alegre (RS), as manifestações contrárias à exposição de Pedro Moraleida “Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina”, no Palácio das Artes, em BH, são exemplos de que o obscurantismo tem saído do armário. No entanto, artistas continuam atentos e dispostos a enfrentar essa situação. “A arte nunca pode perder seu status de rebeldia. Ela tem que nos instigar a ser diferente a pensar diferente, a olhar para lugares que não olhamos”, acredita o ilustrador e autor Fernando Siqueira. O também ilustrador La Cruz defende que a arte pode,

ao mesmo tempo, ser agitação e propaganda, se referindo a um conjunto de métodos utilizada pelos movimentos populares para fomentar a indignação política. Para ele, a arte é capaz de denunciar,

Nossa arte tem também o papel de anunciar aquilo que queremos enquanto nação”, defende ilustrador

Dia da Música Barreiro

Em sua segunda edição, o Dia da Música Barreiro acontece no sábado (7), no Barreiro, em BH. Cerca de 20 atrações locais do rock, hip hop e congado passam por três palcos localizados na Praça do Cristo, na Pista do Skate e na Praça da Febem. O evento é realizado pelo Instituto Macunaíma de Cultura e propõe a descentralização da cultura e a valorização da produção da região. As atividades acontecem entre 9h e 22h e a Busona, transporte coletivo do Tarifa Zero, vai rodar entre os palcos do evento. Quem quiser também pode doar agasalhos e alimentos em qualquer uma das praças onde acontecem os shows.

mas também de apontar formas de superação das injustiças. “Nossa arte tem também o papel de anunciar aquilo que queremos enquanto nação. A arte faz parte da construção de um Projeto Popular, não somente no sentido estético e superficial, mas no sentido de acompanhar a própria construção do país”, afirma. LGBT na arte Além da ilustração, La Cruz e Fernando são homossexuais e têm em comum a consciência de que essa dimensão das vidas atravessa suas produções artísticas. Preconceito, aceitação, relação com a dife-

rença, homoafetividade, descoberta do próprio corpo são temas que aparecem nos detalhes dos livros de Fernando, um deles direcionado para o público infantil. “Vou convidando as pessoas para a reflexão. Dizendo as coisas de formas mais sutis, usando imagens mais simbólicas e menos diretas, é possível tocar mais fundo”, defende. Atualmente, ele está com uma campanha de financiamento colaborativo para o lançamento do seu segundo livro, chamado “Figuras de Liberdade”, inspirado em memórias da sua infância no interior. La Cruz também usou mão do financiamento colaborativo para lançar sua história em quadrinhos “Comigo-Ninguém-Pode”, que narra a vida de Luís Andaluz, que é negro e gay. “Apesar de não ser autobiográfico, o personagem principal passa por várias turbulências que eu passei na minha vida. Acabei levando para minha produção gráfica o reflexo daquilo

Vozes Mulheres Pretas

Abrindo a programação do “Julho das Pretas”, a Rede de Mulheres Negras de Minas Gerais promove o show Vozes Mulheres Pretas. Com o nome inspirado no poema de Conceição Evaristo, o evento conta com 16 apresentações artísticas. A agenda tem o objetivo de fortalecer o Dia Internacional da Mulher Afro-latina Americana, em 25 de julho, e preparar as mulheres para o Encontro Nacional de Mulheres Negras + 30, que acontece em Goiás, em dezembro. O show acontece no Tambor Mineiro, na Rua Ituiutaba, 339, no Prado, em BH. Os ingressos estão sendo vendidos a R$ 20, no link goo.gl/zjroor.

que tive como vivência e vivo cotidianamente”, diz. Sophie Silva também escreve e desenha quadrinhos, além de cantar e compor. Ela é transexual e lésbica e em sua produção aborda temas como a liberdade de ser quem é e a coragem de amar. Nos quadrinhos, ela gosta de explorar romances entre mulheres, por avaliar que há uma falta desses conteúdos direcionado para as homossexuais. “Hoje, romances lésbicos são muito sexualizados, fetichizados, o que não é legal ler quando se é uma mulher lésbica. Então quis fazer uma coisa de uma forma mais bonita, fofa, romântica”, conta. Conheça mais La Cruz https://goo.gl/4kWNTQ Fernando Siqueira https://goo.gl/5LmkCn Sophie Silva https://goo.gl/svdYL5

Arraial animal em Uberlândia

Nos dias 14 e 15 de julho acontecerá o “Arraial Animal”, organizado pela Associação de Proteção Animal (APA Uberlândia), com muitos shows, bingo, bazar e comidas típicas. Será das 18h até meia-noite, na Acrópole (Rua José Rezende, 4090, bairro Custódio Pereira). A entrada é gratuita e toda a renda do evento será revertida para a compra de ração e medicamento para os mais de 400 animais (cães e gatos) atendidos pela associação.


Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

ESPORTE

15 15

Curta e Grossa

Carta a Neymar Bruno Mateus Belo Horizonte, 5 de julho de 2018 Neymar, provavelmente, você nunca lerá essas palavras. Não que eu me importe com isso. Mas, quem sabe você lê essa carta? Como não temos intimidade, não vou te chamar de Ney; não sou Tiago Leifert, não sou seu amigo da Rede Globo e não faço parte do seu grupo de “parças”. Prometo ser breve. Posso dizer que te vi nascer para o futebol. E, sinto muito: não te conheço pessoalmente,

mas nunca gostei de você. Independentemente da idade, nós estamos sujeitos ao erro. Entendo que a cabeça dá voltas com centenas de milhões na conta bancária e muitas coisas podem perder o significado ou o sentido. Falhamos muito na nossa caminhada. Porém, Neymar, é preciso ter autocrítica, modéstia, simplicidade e, sobretudo, humildade. Eu não me importo com o corte do seu cabelo, quem você namora ou quantas tatuagens você fez no último verão. Eu me entristeço quando você, um jogador brilhante, que pode chegar a ser um dos maiores de to-

dos os tempos, revela uma faceta extremamente babaca, egoísta, centralizadora e mimada. Em janeiro, você poderia ter deixado o Cavani cobrar o pênalti e marcar o gol que daria ao uruguaio o título de maior artilheiro do Paris Saint-Germain. Mas você pegou a bola, como se dono dela fosse, e bateu a penalidade. O que o Neymar de 11 anos diria a esse Neymar multimilionário? O futebol não te ensinou nada? E o que dizer do seu choro patético e midiático após a sofrida e importante vitória diante da Costa Rica? Por que você não foi comemorar com seus

companheiros de time? Por que você não foi abraçar o Philippe Coutinho, que abriu caminho para o triunfo? Por que você insiste em trazer todos os holofotes? De que serve todo esse rancor que você despeja na cara de quem o critica? Por que, ao celebrar um gol, você manda torcida e jornalistas calarem a boca? Um jogador do seu nível atrai olhares de bilhões de pessoas e está sujeito a avaliações e julgamentos. Aprenda a lidar com isso. Você não é mais menino. Não quero ser moralista nessas breves palavras. Como eu disse, todos estamos sujeitos a erros. E você não

sabe o quanto eu já errei nesses meus 35 anos! Espero que você use seu talento para agregar e compartilhar coisas bonitas. Você pode ter o mundo a seus pés, não jogue isso no lixo. O futebol é o esporte mais lindo que existe. O futebol, Neymar, não é uma simples partida de videogame ou mero entretenimento. E você já é bem grandinho para saber disso. Sinceramente, Bruno Mateus.

Anúncio


16

Belo Horizonte, 6 a 12 de julho 2018

DECLARAÇÃO DA SEMANA Arquivo /CBF

ESPORTES

16

Rei belga matou 10 milhões no Congo; hoje, um filho de congoleses é ídolo da seleção FUTEBOL Leopoldo II comandou a região no final do século XIX e escravizou nativos para exploração de recursos naturais Divulgação / Fifa

Daniel Giovanaz e Poliana Dallabrida, da Rússia

O Neymar, jogue como sempre jogou e não se preocupe com os comentários dos outros países, porque muitos já estão em casa” Rivaldo, craque do penta em 2002. Em suas redes sociais, ele manifestou apoio ao atual camisa 10 da seleção brasileira, que está sendo atacado pela imprensa estrangeira.

adversário do Brasil nas quartas-de-final da Copa do Mundo é a Bélgica. O jogo acontece nesta sexta-feira (6), em Kazan, a 800 km da capital Moscou. Muito se fala sobre o bom futebol da equipe europeia, mas é preciso recordar a história desse país que tanto depende de estrangeiros e filhos de estrangeiros em sua seleção. No passado, o reino belga foi responsável pelo genocídio de milhões de habitantes do Congo, terra dos pais do atacante Lukaku, destaque da seleção. Barbárie O genocídio comandado pelo rei belga Leopoldo II, no território que hoje pertence à República Democrática do Congo, é uma das maiores barbáries da história contemporânea. Entre 1885 e 1924, estima-se que ao menos dez milhões de congoleses foram assassinados em nome da exploração de recursos naturais, como marfim e látex, usado para produção de borracha. Hoje, a Bélgica é a 15ª no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mun-

dial e tem o 22º maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta, equivalente a 0,896. O IDH da República Democrática do Congo é estimado em 0,435, o 13º mais baixo do mundo. Na virada do século 20, os africanos eram usados como escravos a serviço dos belgas. Castigos físicos e mutilações de pés e mãos eram usados para punir os trabalhadores que não alcançavam a meta de produção estipulada pelo rei. Legado perverso Um século após o genocídio, um filho de congoleses veste a camisa da Bélgica e enfrenta com gols o racismo – que persiste após a morte do rei Leopoldo. Romelu Lukaku, atacante do Manchester United, é filho de

Adolphine e Roger Lukaku, que também foi jogador de futebol e brilhou em clubes belgas. No Anderlecht, principal time do país, o garoto alcançou, entre 2006 e 2009, a incrível marca de 131 gols em 93 jogos. Em entrevistas concedidas pouco antes da competição, Lukaku conta que passou fome durante a infância e foi discriminado pela cor da pele no início da carreira. Com talento, força física e frieza nas finalizações, ele é um dos atletas mais promissores e disputados no mercado europeu. A boa campanha da Seleção Belga também depende de outros jogadores com raízes africanas. Os meias Fellaini e Chadli, que marcaram gols na classificação histórica contra o Japão, têm ascendência marroquina.

Inglaterra na final movimentaria R$ 2,6 bilhões

U

m estudo do Centro de Pesquisas de Venda a Varejo (CCR) estimou que, sempre que a seleção inglesa faz gol, aumentam em pelo menos R$ 1 bilhão as vendas em bares, hotéis, restaurantes e supermercados no país. A maior parte desse dinheiro é gasta com comida e bebida,

Reprodução

seguida da compra de TVs. Em uma eventual decisão em Moscou com a presença inglesa na disputa, no dia 15, o estudo calcula que seriam movimentados cerca de R$ 13,5 bilhões. Além disso, as possibilidades de vendas e lucros do mercado financeiro podem

variar conforme os resultados em campo. Patrocinadores há tempos fazem suas contas. Por isso, o assunto tem suscitado a questão: se os jogos podem gerar ganhos ou perdas na casa dos milhões, será que não existe interferência na arbitragem, sorteios ou mesmo na atuação dos atletas?


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.