PDF da edição 248 do Brasil de Fato MG

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LU C

25 DIAS DE GREVE DE FOME

Sete lutadores do povo denunciam retrocessos do Brasil pós-golpe, como volta do país ao Mapa da Fome, e pedem liberdade de Lula

Minas Gerais

Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto de 2018 • edição 248 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita

Lula Marques / Liderança do PT na Câmara

Editorial

Baixa renovação à vista

Por defe dire ser c

O Brasil d o ex-pres é mais um

Estudo do Diap prevê nova Câmara muito semelhante à atual. Nas eleições de 2018, Minas vai eleger 53 representantes. Dos atuais deputados mineiros, 81% tentam a reeleição e largam em vantagem na corrida pelo Legislativo. O Brasil de Fato explica a função dessa casa e as regras para preencher as 513 cadeiras Mariana Kreischer

Cátia de França

Mais inteligência, menos truculência

Conheça a arretada cantora de 71 anos que está encantando a juventude

Organizações de combate à violência apresentam programa para segurança pública

Cultura 14

Brasil 8


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OPINIÃO

Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

Editorial | Brasil

É preciso derrotar as forças do atraso em Minas Gerais

ESPAÇO DOS LEITORES

“O Senado serve para garantir que nada mude no país, mesmo se por acidente for aprovado no Congresso de conservadores. Caso os dois falhem em garantir o retrocesso, tem os políticos-juiz togados no Judiciário, não eleitos, para não correrem o risco de serem democráticos” Jonathas R. de Almeida comenta a matéria “Para que serve o Senado?” __________ “Jornal Brasil de Fato está disponível na sede do sindicato à Av Brasil-2444” Sinttel-MG Regional Zona da Mata, em Juiz de Fora, escreve sobre as edições impressas do Brasil de Fato MG __________ “Parabéns, Belo Horizonte ! Obrigada, militância! Obrigada, Brasil de Fato pela visibilidade que vocês trazem a esses atos!” Maria Silva fala sobre a transmissão ao vivo do ato em solidariedade à greve de fome de sete militantes pela libertação de Lula e contra a volta do Brasil ao mapa da fome

Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br

A campanha eleitoral começou e será uma luta de classes aberta entre as forças neoliberais, que promoveram o golpe em 2016 e sustentam o governo Temer (Alckmin, Bolsonaro, Marina), e as forças progressistas, que seguem resistindo aos ataques contra os trabalhadores, entre as quais se destaca a candidatura Lula/Haddad, registrada dia 15 com a presença de 50 mil pessoas em Brasília. Essa polarização se reflete também em Minas Gerais, em que se sobressaem dois blocos. De um lado, as forças do atraso, costuradas por Anastasia/Aécio Neves e o PSDB. Esse bloco aglutina as forças mais vivas do gol-

Volta do PSDB ao governo de Minas é retrocesso pismo, protagonista na farsa do impeachment contra Dilma e um dos pilares de Michel Temer no Senado. Derrotá-los tem importância nacional. Foram eles que aprovaram a reforma trabalhista, a terceirização, o congelamento dos gastos públicos e lutam contra a aposentadoria dos trabalhadores por meio da reforma da Previdência. Do outro lado, está o bloco de forças progressistas em torno de Fernando Pimentel, candidato à reeleição, que está na defesa do direito de Lula ser candidato e na oposição a Temer. Seu governo nos últimos três anos e meio vem sofrendo com os boicotes do governo federal. Fernando Pimentel é a continuidade de um projeto que, nos estreitos limites do deformado siste-

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

ma político brasileiro, impulsionou políticas públicas e direitos civis no combate ao conservadorismo, ao machismo, ao racismo e à homofobia, além de políticas para o campo. Embora as aberrações do sistema político gerem a presença indigesta de setores conservadores na base do

Anastasia é Aécio, Anastasia é Temer governo, deve-se reconhecer que na aliança existem as forças progressistas que hoje constroem a Frente Brasil Popular. Ademais, considerando que a classe trabalhadora vivencia hoje um momento de resistência, na qual estas eleições têm importância decisiva, o apoio a Fernando Pimentel leva em conta: 1) o impacto para as políticas públicas e a conquista de direitos, no caso de vitória do bloco conservador; 2) as consequências para a correlação de forças em Minas Gerais e no Brasil; 3) os desdobramentos quanto às condições da luta popular, inclusive em relação à repressão policial; e 4) a relevância de um porta-voz da luta democrática no espaço institucional mineiro. Aplicando tais critérios a nível nacional é que se deve posicionar nas eleições para as duas vagas do Senado. Os atuais senadores Anastasia, Aécio Neves e Zezé Perrella são fiéis aliados de Temer. É necessário, portanto, eleger uma representante fiel da classe trabalhadora, isto é, Dilma Rousseff, que, como presidenta, lutou contra o golpe e resistiu a imposição das forças do atraso.

REDE SOCIAL: facebook.com/brasildefatomg CORREIO: redacaomg@brasildefato.com.br PARA ANUNCIAR: publicidademg@brasildefato.com.br TELEFONES: (31) 3309 3314 / (31) 3213 3983

conselho editorial minas gerais: Adriano Pereira Santos, Aruanã Leonne, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Cida Falabella, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, Jô Moraes, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Marcelo Almeida, Makota Celinha , Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Rosângela Gomes da Costa, Robson Sávio, Samuel da Silva, Talles Lopes, Titane, Valquíria Assis, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Amélia Gomes, Larissa Costa, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes, Thainá Nogueira e Wallace Oliveira. Colaboradores: Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Bruno Mateus, Diego Silveira, Fabrício Farias, Felipe Marcelino, João Paulo Cunha, Jordânia, Souza, Léo Calixto, Luiz Fellippe Fagaráz, Pedro Rafael Vilela, Renan Santos, Rogério Hilário, Sofia Barbosa, Taciana Dutra. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Distribuição: Felipe Marcelino. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares.


? PERGUNTA DA SEMANA

Há cinco anos, o Brasil de Fato fala “uai”. O jornal impresso, presente em diversos estados do Brasil, começou a circular nas terras mineiras em agosto de 2013. Nosso objetivo é oferecer um contraponto à mídia empresarial, mostrando o que de fato acontece no Brasil, a partir do interesse do povo. E, de novo, a gente foi às ruas perguntar:

Qual o seu recado nesses cinco anos do BdF?

O Brasil de Fato constrói uma comunicação da perspectiva do trabalhador, de um olhar preocupado com os mais pobres, os que mais precisam e é muito importante que ele cresça, exista em diversas mídias, que ele faça 5 ... 10 anos e que possa ser mais forte!

Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

GERAL

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Renato Stockler-Divulgação

Declaração da Semana “Quando os imigrantes no Brasil têm traços eurocêntricos é outra fit. Um salve pros meus parsa de Bolívia, Haiti, Angola, Senegal, Egito, Nigéria, Chile. Envergonhado com o que rolou com os venezuelanos”

Rincon Sapiência, em seu perfil no Twitter. No último final de semana, venezuelanos foram agredidos por brasileiros em Pacaraima, em Roraima. Depois do episódio, mais de mil imigrantes deixaram o Brasil

Periferias em Rede Divulgação

Os 5 anos do Brasil de Fato significam a nossa resistência, é povo no poder e a comunicação popular! Fortalecer o Brasil de Fato é fortalecer a voz do povo. Toda força e vida longa ao Brasil de Fato! Agatha Azevedo Jornalista

Milton Bicalho Psicólogo

5 ANOS

DO BRASIL DE FATO MG

VENHA CELEBRAR COM A GENTE!

Para juntar iniciativas e projetos transformadores desenvolvidos em áreas periféricas, o Seminário Periferias em Rede acontece neste sábado (25), em Belo Horizonte. Organizado pela ONG Favela é Isso Aí, em parceria com a Casa do Beco, o evento é gratuito e conta com rodas de conversa e grupos de trabalho. Integração internacional, direito à cidade, cultura e território são alguns dos temas que serão abordados. O seminário começa às 8h30, no Galpão Cine Horto, na Rua Pitangui, 3613. As inscrições podem ser feitas pelo link goo.gl/8nViD6 .

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DE AGOSTO, ÀS 18H ARMAZÉM DO CAMPO (AV. AUGUSTO DE LIMA, 2136)

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Em memória à luta de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em março deste ano, lésbicas e mulheres bissexuais marcham em Belo Horizonte. A ação marca o 29 de agosto, Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. A 14ª caminhada acontece na sexta (31), a partir das 16h, na Praça Sete. Mais informações em goo.gl/m4v7rR.


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ELEIÇÕES

Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

Como funciona a Câmara Federal? ELEIÇÃO 81% dos deputados federais de Minas tentam a reeleição. Entenda o que eles fazem e como são eleitos Luis Macedo / Câmara dos Deputados

Rafaella Dotta

vestigador parecido com as autoridades judiciais.

sistema político brasileiro é complexo e um pouco complicado de entender. Na edição 247 o Brasil de Fato MG trouxe matéria sobre as funções de um senador da República. Agora, explicamos as funções do deputado federal, que você também vai eleger neste ano.

Como eles são eleitos? A contagem dos votos dos deputados federais funciona em duas etapas. Em Minas, o número de votos para um candidato se eleger deve ser de 200 mil neste ano. As coligações (aliança de vários partidos) somam os votos de todos os seus candidatos a deputados federais e dividem o total por 200 mil. Os mais votados dentro da coligação são os eleitos. Por exemplo: a coligação conseguiu 600 mil votos, somando todos os candidatos. Eles poderão eleger três deputados federais. Os escolhidos para ocupar as vagas serão os que mais tiveram votos, mesmo que não atinjam individualmente os 200 mil.

O

Quantidade A ideia da Constituição é que os deputados são os representantes diretos do povo no ente federal. O número de deputados é, então, proporcional à população de cada estado, sendo no mínimo 8 e no máximo 70 eleitos. Os maiores beneficiários dessa conta são estados da região sudeste: São Paulo elege 70

deputados, Minas Gerais 53 e Rio de Janeiro 46. O mandato de um deputado federal é de quatro anos. Funções Eles criam leis de assuntos nacionais e fiscalizam os recursos públicos. Quando o presidente, um deputado, um

Análise: reeleição de Minas será uma das mais altas do país De quatro em quatro anos, a população tem a chance de renovar todos os 513 deputados federais, mas não é o que acontece. Apenas 55% da Câmara Federal é geralmente renovada nas eleições e neste ano pode ser ainda menor, segundo avalia Neuriberg Dias, analista do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP). “Neste ano, em função da reforma política eleitoral, os candidatos em reeleição tiveram uma margem muito grande para negociar vantagens com os partidos”, cita Neuriberg. Eles devem receber mais dinheiro público para a campanha, na comparação com quem se candidata pela primeira vez. Além disso, eles já têm nome conhecido e possuem estrutura de gabinetes tanto no Congresso quanto na sua base eleitoral. Neuriberg analisa que 60% ou 65% dos deputados devem se reeleger. Os deputados federais mineiros também seguem esta tendência. Dos 53 parlamentares, 43 estão se candidatando novamente à Câmara Federal, de acordo com estudos do DIAP. Se todos forem reeleitos, isso significaria uma renovação de apenas 19%.

senador ou a própria população quer propor uma nova lei, são os deputados federais que começam a analisá-la. A proposta passa por comissões (grupos de deputados por temas) e depois vai a plenário, que é onde todos os 513 deputados votarão “sim”

ou “não”. Se for aprovada, a lei segue para o Senado. Os deputados podem também criar as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), dentro da sua função fiscalizadora. Eles podem averiguar qualquer órgão em qualquer parte do país, tendo poder in-

ATUAÇÃO DOS DEPUTADOS Desde 2016, os deputados se dividiram em dois blocos principais na Câmara Federal, aqueles que apoiaram Michel Temer e aqueles que rejeitaram. Veja o desempenho de alguns deputados federais de Minas em quatro projetos polêmicos: Impeachment de Dilma Rousseff, rejeição da denúncia contra Michel Temer, PEC do Teto de Gastos (Emenda 95) e reforma Trabalhista

Votaram CONTRA os quatro projetos • • • • •

Adelmo Carneiro Leão (PT) Gabriel Guimarães (PT) George Hilton (PSB) Jô Moraes (PCdoB) Leonardo Monteiro (PT)

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Margarida Salomão (PT) Miguel Corrêa (PT) Padre João (PT) Patrus Ananias (PT) Reginaldo Lopes (PT)

Votaram A FAVOR dos quatro projetos • • • • • • • • • • • •

Bilac Pinto (PR) Caio Narcio (PSDB) Carlos Melles (DEM) Delegado Edson Moreira (PR) Domingos Sávio (PSDB) Fábio Ramalho (MDB) Franklin Lima (PP) Jaime Martins (PSDB) Leonardo Quintão (MDB) Luis Tibé (PTdoB) Luiz Fernando Faria (PP) Marcos Montes (PSD)

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Marcus Pestana (PSDB) Mauro Lopes (MDB) Misael Varella (DEM) Newton Cardoso Jr (MDB) Paulo Abi-Ackel (PSDB) Raquel Muniz (PSD) Renzo Braz (PP) Rodrigo de Castro (PSDB) Saraiva Felipe (MDB) Tenente Lúcio (PSB) Toninho Pinheiro (PP)


Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

MPF critica homenagem a Rondon Pacheco MEMÓRIA Ministério mandou recomendação à Câmara de Vereadores para que revoguem projeto que pretende instituir comenda em nome de envolvido na ditadura Câmara de Uberlândia

Julia Cabral

O

Ministério Público Federal, na figura do Procurador da República Leonardo Andrade Macedo, enviou uma recomendação à Câmara Municipal de Uberlândia para que os vereadores revoguem o projeto do vereador Ronaldo Alves (PSC) que pede a instalação de um monumento em homenagem a Rondon Pacheco, além de instituir uma Comenda de mesmo nome. Segundo documento do MPF, Rondon “teve papel destacado em atos de graves violações a direitos humanos no período da dita-

Gil Leonardi / Imprensa MG

Projeto, autoriza utilizar recursos da Câmara para custear o monumento

dura militar; como se sabe, o período da história brasileira iniciado em 1964 foi marcado por graves violações a direitos da população brasileira”. O inquérito também menciona a participação direta de Pacheco nas deliberações para a aprovação do Ato Institucional nº 5 e às violações contra os índios Krenaks.

UMA PROFISSÃO QUE DEFENDE, COM CORAGEM E ÉTICA, OS DIREITOS HUMANOS

O documento do MPF se baseia nas recomendações deixadas pela Comissão Nacional da Verdade, que repudiam homenagens feitas a apoiadores e integrantes da ditadura militar e também nos relatórios da Comissão Regional da Verdade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba Ismene Mendes, que solicita o “reconheci-

mento dos crimes de lesa humanidade praticados pelo Sr. Rondon Pacheco, como um dever do Estado brasileiro e mineiro”. Na contramão disso, o presidente da Câmara, Alexandre Nogueira (PSD), disse que os vereadores irão manter as homenagens.

Comissão da Verdade repudia homenagens feitas a apoiadores e integrantes da ditadura

MINAS

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LEIA NO SITE Movimentos pedem que governo não aprove novos empreendimentos minerários na Grande BH https://goo.gl/9xCUZD

Em BH, Casa Tina Martins denuncia problemas financeiros https://goo.gl/ALUxuv

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OPINIÃO

Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

Opinião

O povo, o papa, a ONU e a mídia João Paulo Cunha Em poucas semanas a candidatura de Lula ganhou uma impensável força, mesmo com os ataques desferidos sem trégua. Além do incansável esforço para impedir o debate sobre a injustiça de seu julgamento, conforme avaliação de especialistas em todo o mundo. A primeira constatação foi a ampliação da margem de preferência popular em todas as pesquisas, mesmo com o candidato preso e sem autorização para falar à nação. Não há dúvida de que o eleitor brasileiro, em sua maioria, quer Lula na eleição. As pesquisas flagraram um momento de inédita união virtuosa em torno do candidato: a crítica ao golpe, a condenação das medidas antipopulares do atual governo e a recuperação da memória histórica das conquistas populares. A pauta destrutiva, bancada a princípio pela hipertrofia do moralismo e pela confiança desmedida na manipulação midiática, se esqueceu de que contra evidências do fracasso não há neoliberalismo

Mídia comercial fecha os olhos à realidade que se sustente. A candidatura do PT é um símbolo de retomada de trajetória política, social e econômica interrompida, que agora ganha outra dimensão. A recuperação da força da base política popular é inadiável. Nessa eleição – e, sobretudo, depois – não cabe carta ao povo brasileiro, mas olho no olho. A segunda situação que conflui para a campanha petista foi a decisão do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, em defesa da candidatura de Lula e acesso adequado aos meios de comunicação e aos integrantes de seu partido. O grupo é formado por especialistas independentes, sem participação de brasileiros. Suas decisões são mandatórias.

Os países que descumprem as medidas do comitê não perdem apenas oportunidades de negócios, como nos tratados comerciais, mas o conceito de nação civilizada, o que é muito mais grave. A decisão coloca o Judiciário brasileiro em teste: populismo midiático ou responsabilidade jurídica? O terceiro fator que reforça a campanha de Lula é a manifestação do papa Francisco, feita em reunião com o chanceler Celso Amorim, na presença de dois ex-ministros do continente. Em homilia recente, Francisco fez a mais sucinta e exata descrição dos processos de deslegitimação das conquistas populares no continente, com a consequente derrubada dos governos eleitos democraticamente: o ataque pela mídia como fundamento simbólico na construção de um caldo de cultura autoritário e antipolítico; o conluio judiciário como arremedo de legitimidade; e o golpe. Sem misericórdia. O mais incrível tem sido a capacidade da mídia comercial em fechar os olhos à realidade. Entre o povo, a ONU e o papa, a mídia brasileira preferiu fazer uma opção preferencial pela mentira. Não é questão de ideologia, mas de caráter.

Indígenas retomam terra em São Joaquim de Bicas POVOS TRADICIONAIS Aldeia Naô Xohã surgiu para recuperar terra degradada e proporcionar uma vida melhor para famílias Reprodução /IndianizaBH

Ser indígena No último censo do IBGE – Instituto Brasileiro de Economia e Estatística, em 2010, havia 817.693 indígenas no Brasil, dos quais 502.783 vivem no meio rural e 315.180 no meio urbano. Em Minas Gerais, de acordo com o Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva, há 13 etnias, pertencentes ao tronco lingüístico Macro-Jê, com cerca de 15 mil indivíduos aldeados.

Wallace Oliveira

U

m grupo de 30 indígenas, sendo nove crianças ou idosos, decidiram criar uma comunidade em São Joaquim de Bicas, Região Metropolitana de Belo Horizonte. A aldeia, que surgiu de ocupação feita em novembro de 2017, reúne diferentes etnias e recebeu o nome de Naô Xohã, que na língua maxacali significa “espírito guerreiro”. A área fica perto do Acampamento Pátria Livre, do MST, em terras exploradas pelo empresário Eike Batista e a mineração. “A terra está muito degradada, ainda não dá para viver dela. O rio está poluído e tem que ser salvo. Temos que estar lá para guardar o rio Paraopebas, o resto de mata que ainda tem e parar essa mineração”, afirma a professora Avelin Buniacá Kambiwá, da et-

nia Kambiwá, de Pernambuco. Ela explica que, além de recuperar a terra degradada, eles pretendem conquistar condições de vida que a cidade não oferecia. As famílias de Naô Xohã viviam no meio urbano, sobretudo em Belo Horizonte, trabalhando em escolas, casas de família, bares, construção

civil, no artesanato e outras ocupações. Pela precariedade do local, o grupo está recebendo doações: água, panelas, roupas de cama, materiais de construção e outros bens. As contribuições podem ser entregues na sede da Federação Indígena: rua São Salvador, 25, Lagoinha, BH.

As famílias de Naô Xohã viviam no meio urbano, trabalhando em casas de família e outras ocupações

Só na capital, segundo o IBGE, há 3.477 membros de alguma etnia indígena; em Uberlândia, 926; em Contagem, 810; em Ribeirão das Neves, 677; em Betim, 498. Já o número de aldeias costuma variar, por conta das migrações e formação de novas aldeias. Em todos esses lugares, um dos grandes problemas enfrentados é o preconceito. “Aqui em Minas, pensam que indígena não existe. Ser indígena é estar totalmente enraizado na mãe terra. Quando ela morre, você morre um pouco. É senti-la muito viva, ter a espiritualidade ligada nela, saber que não estamos aqui por acaso. Você pode ir para a cidade, que você vai carregar isso dentro de você. Tem indígena claro, escuro, até de olho claro! O que faz o indígena é a cultura, não é a cor da pele, o cabelo”, afirma Avelin Buniacá.


Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018 Steh Boaventura

OPINIÃO

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Wagner Xavier

Golpe contra Getúlio segue atual

Visibilidade lésbica (?) Agosto, dia 29! Dia da visibilidade lésbica. Mas afinal, o que é visibilidade? Significa ver mulheres lésbicas em locais e meios de grande alcance. Ou seja, é expor a existência dessas mulheres. E o que é representatividade? Representatividade lésbica é expor os inúmeros tipos dessas mulheres. É preciso ter em mente, antes de tudo, a existência de uma enorme diversidade entre as mulheres que se relacionam com mulheres no mundo. A discriminação tem base no preconceito, originado pela ignorância que, por sua vez, vem do estranhamento, resultante de uma invisibilidade. Tal invisibilidade afeta não só aquelas pessoas que experimentam um estranhamento quando veem duas mulheres juntas, mas também mulheres lésbicas, que assim como eu, se autodiscriminaram na infância. Quanto mais visíveis as relações entre duas mulheres, mais comum se tornará, logo, menos estranhamento causará, principalmente entre as crianças e, consequentemente, entre os adultos. Por isso é importante bater na tecla da visibilidade, pois sem ela não há o resto. Se a pessoa não existe, ela Sou lésbica não é representada, não se faz em políticas para tal, não é pensada a saúde para ela, não é cobrado respei- e existo to, não há direitos e nem condições de exigi-los! Temos que mostrar que existimos! E uma das ocasiões para isso é a 14ª Caminhada das Mulheres Lésbicas e Bissexuais de Belo Horizonte, que acontecerá dia 31 de agosto às 16h na praça Sete de Setembro. Este ano, o tema escolhido, “Marielle vive em nós: no amor, na luta, na política” explicita também o importante lado político da nossa luta. Ser chamada de sapatão ou lésbica é um ato de militância. É uma diminuição diária do peso imposto a essa palavra. Por isso eu digo, sou lésbica e existo! Fernanda Silva faz parte da organização da 14ª Caminhada das Lésbicas e Bissexuais de BH e é estudante de física da PUC Minas

Wagner Xavier é assessor do Sindágua-MG e pedagogo Na edição 247 ...

ACOMPANHANDO

Fernanda Silva

É preciso superarmo nossa incapacidade de apresentar a verdade a população brasileira. Não podemos deixar algumas oportunidades passarem. É impressionante como nos faz falta uma organização política forte para fazer a disputa da narrativa da história. Vejamos. Getúlio Vargas quando participou da Revolução de 1930 tinha cinco fazendas. No dia do seu suicídio tinha três. Seu governo foi contraditório, por um lado foram 15 anos de ditadura, o Estado Novo. Mas por outro, era odiado por boa parte da elite brasileira, sobretudo pelo fato histórico de ter aumentado em 100% o salário mínimo em fevereiro de 1954. E, claro, pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Além de ter criado a Petrobrás. Hoje a CLT está rasgada, a Petrobrás sendo entregue e os direitos sociais sendo extintos. Todos os nossos meios de comunicação, parlamentares, sindicatos e aliados deveriam neste momento estar falando desses fatos. Denunciando a presença e a atuação do imperialismo estadunidense para essa destruição. Expondo para a população o desmonte das bases de um projeto nacional e o atraso da nossa elite econômica e política. Getúlio Vargas não conseguiu vencer a “república do Galeão”. Não podemos esquecer que no dia do suicídio, 24 de agosto, os operários quebraram os carros do jornal O É preciso auGlobo, invadiram a sede do mentar nossa Jornal Tribuna da Imprensa e capacidade de Carlos Lacerda teve que fugir fazer a disputa do Brasil. Hoje temos a greve de fome de sete companheiros dos movimentos populares em defesa da democracia, temos a república de Curitiba fazendo uso do Judiciário para perseguir a esquerda, temos os nossos Lacerdas e a mesma Rede Globo. É preciso superar nossa incapacidade de fazer disputa para além da nossa bolha.

Candidatura de Lacerda ainda é incerta E agora... Lacerda anuncia que não é mais candidato ao governo e nem membro do PSB O ex-prefeito de Belo Horizonte comunicou na terça (21) que não concorrerá mais ao governo e que se desfiliou do PSB. Em carta à imprensa, Lacerda declarou que a “velha política” retirou sua candidatura. Já o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, disse que o ex-prefeito é “um político inseguro, indeciso e vacilante” e que “os mineiros se veem livres de um político que tem essas características”. Mesmo após afirmar que o PSB não lançaria uma candidatura ao governo estadual, a Executiva Nacional do partido informou que deve lançar um nome do MDB ou do Pros para concorrer ao Palácio da Liberdade.


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BRASIL

Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

Existe solução para a segurança pública no Brasil? ALTERNATIVAS Organizações da sociedade civil apresentam propostas para enfrentar os desafios do setor G.Dettmar / AG 5

Pedro Rafael Vilela

N

ão há dúvida de que a segurança pública é um dos principais desafios do país e está em praticamente qualquer lista de prioridades da população nestas eleições. Não seria para menos. O Brasil fechou o ano de 2016 com a marca de 61 mil homicídios, 70% deles cometidos com arma de fogo. Some-se a isso o registro de 49 mil casos de estupro e uma mulher morta a cada duas horas. São índices que superam até mesmo o de países em guerra, como a Síria. Ao mesmo tempo, a população carcerária só cresce e já está entre as três maiores do mundo, sem

que isso signifique o fim da violência. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apesar da “imensa quantidade de mortes violentas registradas anualmente”, do total de detentos no país, apenas 11% estão na prisão por causa de homicídio. Além disso, a gran-

de maioria dos estados nem sequer possui dados estatísticos sobre investigação e julgamento de quem comete esse tipo de crime, o que poderia ajudar na construção de indicadores para esclarecer melhor as motivações e ajudar a reduzir o número de mortes violentas. O Fórum, em parceria com o Instituto Igarapé e

o Instituto Sou da Paz lançaram o documento “Segurança pública é solução” com diversas propostas agrupadas em sete grandes eixos. O texto também foi revistado por oito dos principais especialistas do país no tema. A ideia central é prevenir e reduzir os chamados crimes violentos

e enfraquecer as estruturas do crime organizado. A plataforma tem sido entregue diretamente aos candidatos à Presidência da República. Além disso, um evento realizado em Brasília nesta semana debateu medidas para o setor com representantes dos candidatos. “Muitas das respostas dadas pelos sucessivos governos e defendidas por diferentes candidatos a esse desafio, que afeta a vida de toda a população brasileira, já se mostraram ineficientes. Apresentadas como soluções milagrosas, tais propostas são simplistas, não se baseiam em evidências e não tornam - ou tornarão - nosso país mais seguro”, diz um trecho do texto de apresentação das propostas das três entidades.

Política de drogas e armas

Sistema carcerário e penas alternativas

Mais inteligência, menos truculência

Entre os temas elencados pelas entidades, está a necessidade de atualizar a política de drogas no país, baseada em forte criminalização do usuário e dos pequenos traficantes. A proposta é retirar o consumo de drogas da esfera criminal, criando critérios claros para distinguir uso do tráfico e investir em programas de prevenção e tratamento do abuso de substâncias. No caso das armas de fogo, usadas para a prática de 70% dos homicídios cometidos no Brasil, as organizações propõem medidas para fortalecer o registro periódico de armas e munições, inclusive com bancos de dados balísticos, que facilitem a elucidação de crimes. Outro ponto é aprimorar o trabalho das polícias Federal, Rodoviária Federal e Forças Armadas no combate ao tráfico nacional e internacional de drogas. A liberação do porte de armas, como defendem algumas candidaturas, caminha no sentido contrário à redução da violência e o combate ao crime, segundo a maioria dos especialistas no assunto.

Nos últimos 11 anos, a população carcerária do país cresceu mais de 180%, sem que os crimes fossem reduzidos na mesma proporção. Além disso, com a falta de estrutura nas prisões e o controle de boa parte delas por facções criminosas, o processo de recuperação de pessoas que cometem crimes ficou comprometido, avaliam as organizações que atuam no tema da segurança pública. No documento apresentado aos candidatos, eles sugerem a adoção de uma política de alternativa à pena de prisão. Auditorias nos sistemas prisionais, para combater corrupção por parte de agentes, bem como retomada do controle do complexo carcerário pelo Estado são outras medidas consideradas essenciais. Para atacar a raiz do problema, dizem especialistas, também é preciso investir em programas para que egressos do sistema penitenciário tenham condições de se reinserir no mercado de trabalho, bem como políticas específicas para prevenção de violência contra crianças, adolescentes e mulheres.

Uma combinação entre valorização policial com foco na investigação e no combate aos crimes violentos é o que deve mudar na atuação das polícias brasileiras, segundo o documento do Instituto Sou da Paz, Instituto Igarapé e Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Para melhorarmos as ações de investigação são necessárias ações como o estabelecimento de metas estaduais de redução de mortes violentas, alocação de efetivo onde mais ocorrem crimes e investimentos na modernização de equipamento e atualização das técnicas de perícias criminais”, sugere a plataforma, que propõe ainda a criação de uma Escola Nacional de Segurança Pública, para a formação de policiais e gestores. As organizações apontam a necessidade de criação de um conselho nacional de inteligência para investigar o crime organizado, a partir da articulação com órgãos de diversas áreas e dos estados. Isso pode auxiliar em ações que enfraqueçam a atuação do crime organizado, que costuma operar por meio da lavagem de dinheiro.


Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

BRASIL

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Militantes resistem há quase um mês sem comida GREVE DE FOME STF não se posiciona e mobilizações pela vida dos grevistas seguem por todo o país. Estado de saúde dos manifestantes é preocupante Comunicação da Greve de Fome

CONHEÇA OS LUTADORES EM GREVE

Jaime Amorim

Tem 58 anos, quatro filhos e um neto. É integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e afirma que “não há tempo para ter medo”. “Se for preciso, a gente coloca a vida em disposição. Se eu não voltar, não tem problema. A gente cumpriu uma tarefa”.

Luiz Gonzaga (Gegê)

Integrante da Central de Movimentos Populares (CMP), é ex-preso político da ditadura militar. “Eu comecei a militância muito menino. Quando eu tinha entre 13 e 14 anos, eu estava chegando em casa e a polícia prendendo meu pai. A partir daquele dia me juntei à luta”.

Rafaela Alves

Da redação ovimentos populares de todo o mundo intensificam a pressão para que a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, coloque em votação as Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs), que questionam a legalidade da prisão após julgamento de segunda instância – nesta etapa, o acusado ainda pode apresentar recursos e até ter sua inocência decretada pela Justiça. O tema afeta diretamente a situação do ex-presidente Lula (PT), que está na condição de preso político desde o dia 7 de abril e segue líder em todas as pesquisas de intenção de voto para o Palácio do Planalto. A urgência da cobrança é uma corrida contra o tempo para preservar a vida dos sete militantes que estão em greve de fome desde 1º de agosto. Os grevistas iniciaram a mobilização justamente para que as

M

ADCs fossem analisadas pelo Supremo. Eles denunciam, ainda, a volta do Brasil ao mapa da fome da Organização das Nações Unidas (ONU). Desdobramentos Preocupados com a saúde dos militantes em jejum, organizações populares do Brasil e de outros países, assim como apoiadores e parlamentares, se reúnem diariamente para atos em Brasília (DF) e em outros estados. A ministra Cármen Lúcia chegou a se comprometer a receber os manifestantes durante uma audiência no último dia 14, mas não se pronunciou até o momento. Os grevistas se encontraram com o ministro Ricardo Lewandowski e, na quinta-feira (23), com a ministra Rosa Weber. De acordo com os relatos, a magistrada ouviu atentamente as considerações dos manifestantes. No entanto, o Supremo ainda não sinalizou

qualquer tipo de solução para o caso. Saúde Os militantes estão há quase 30 dias sem alimentação, ingerindo apenas soro e água. Eles já perderam entre 8 e 11 quilos, apresentando fortes dores musculares e quadros de hipoglicemia (alteração do nível de açúcar no sangue) e hipotensão (pressão arterial mais baixa do que o normal). Estão em greve de fome Frei Sérgio Gorgen, Rafaela Alves, Vilmar Pacífico, Jaime Amorim, Zonália Santos, Luiz Gonzaga (Gegê) e Leonardo Soares. A idade deles varia entre 22 e 62 anos. Solidariedade Todo o Brasil se une em apoio aos grevistas, com vigílias diárias ocorrendo em diversos estados. Em Minas Gerais, a iniciativa acontece até o fim da greve no Centro de Belo Horizonte, em frente ao Palácio da Justiça (av. Afonso Pena, 1420).

Camponesa, pedagoga e atriz. Com 31 anos e quase 20 de militância, a nordestina é integrante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). “Hoje a gente já vê um número muito grande de pessoas batendo nas portas, passando e pedindo alimento. Eu via isso há muitos anos. O número de pessoas pedindo esmolas na feira”.

Frei Sérgio Görgen

Essa é sua quinta greve de fome pelo fim da miséria do povo. Ele tem 62 anos e também lutou contra a ditadura militar. Seu maior tempo sem alimentação havia sido 22 dias. “Não tem novidade, o Judiciário está fazendo agora com os pobres o que sempre fizeram”.

Zonália Ferreira

Mãe de oito filhos, avó de sete netos e grevista. Ela é camponesa, filha de camponês nordestino e está no MST desde 1990. Zonália é uma das que está com a saúde mais debilitada. “Foi uma opção minha vir para a greve de fome. Meus netos e filhos são assentados e têm a terra para produzir. Minha preocupação é pelos outros que não têm”.

Leonardo Soares

Militante de 22 anos, atua no Levante Popular da Juventude. Filho único, foi criado pela mãe. “Eu nunca ouvi falar de saques nos sertões ou no agreste por conta de fome, mas eu temo que isso [a fome] volte a abater a população do sertão e do semiárido do Nordeste e outras partes do Brasil”.

Vilmar Pacífico

Ele é do MST, tem 60 anos e fez parte das grandes greves dos anos 1980, quando era operário no ABC Paulista, em São Paulo. “O Lula foi chutado e esmagado pela Polícia. Levou várias borrachadas. A causa dele sempre foi defender o povo brasileiro”.


10 BRASIL

Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

Renda da população brasileira retrocede enquanto salário de juízes pode subir 16% DESIGUALDADE Ministros do STF já estão entre os 1% mais bem pagos do país, apesar de a crise impactar cada vez mais os brasileiros Nelson Jr /STF

Júlia Dolce, de São Paulo

C

aso seja aprovado pelo Congresso brasileiro, o reajuste de 16,38% para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que já fazem parte da fatia de 1% dos maiores salários da população brasileira, pode distanciá-los ainda mais da realidade da maioria. Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e divulgada neste mês mostra que a renda da população brasileira caiu 3,4% nos últimos quatro anos. A pesquisa mostra também que a concentração de renda aumentou 3,2%, o que representa a terceira alta consecutiva nos últimos anos, um recorde na série nacional de desigualdade.

Os salários dos ministros do STF servem como teto pelo qual é baseada a remuneração de juízes, desembargadores, promotores e defensores públicos por todo o país. Segundo o professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro

de Estudos de Conjuntura (Cecon), Guilherme Santos Mello, há um “efeito cascata” com o aumento do teto, e muitas categorias podem ser influenciadas. “Há um impacto fiscal, por um lado, e também um abismo entre a grande massa da população que ganha basicamente o salário mínimo, e

uma camada do funcionalismo público. O que está em questão não é se o juiz merece ou não ganhar isso, mas que muitos trabalhadores brasileiros merecem ganhar mais, trabalham muito e não têm nem de longe uma renda desse tamanho. Essa casta vai se descolando da realidade brasileira”, afirmou. De acordo com os dados do Imposto de Renda de 2016, o mais atual disponível, a média do rendimento total de membros do Poder Judiciário, de procuradores, promotores do Ministério Público e de integrantes dos tribunais de contas é próximo a R$ 52 mil mensais. O valor inclui todos os benefícios como auxílio-moradia, creche e paletó, além de verbas indenizatórias, ao atual teto de R$ 33.763. No dia 8

Rendimento total de membros do Poder Judiciário chega a R$ 52 mil mensais de agosto, os ministros da Suprema Corte aprovaram uma correção para R$ 39 mil. Já a média do 1% mais rico é de R$ 59 mil mensais. A Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS/MTE) de 2016 colocou os promotores e magistrados como topo das dez profissões com maior remuneração no mercado de trabalho formal do país.

Cortes em políticas sociais e aumento do desemprego

S

egundo o economista Thiago Luiz Rodarte, técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a quantidade de profissionais que ocupam todas as dez profissões não ultrapassa 0,22% do total de trabalhadores do país. Em compensação, ele destaca que o governo de Michel Temer (MDB) já realizou uma série de desmontes nas políticas públicas, com a alegação de falta de recursos. O Bolsa Família, por exemplo, maior programa de transferência de renda do país, sofreu um reajuste neste ano de apenas 5,67%, representando o corte de mais de R$ 200 milhões do

ANPr /Divulgação

programa somente neste ano. “Existem hoje no Brasil 16 mil magistrados. Esse reajuste vai beneficiar 16 mil pessoas enquanto o Bolsa Família beneficia milhões de pessoas, com um valor per capita muito menor”, afirmou, destacando ainda que a desigualdade é igualmente grande em relação aos demais servidores públicos, inclusive no Poder Judiciário, que compõem a média salarial do país. Para Guilherme Mello, da Unicamp, a contradição da situação revela-se principalmente no aumento do desemprego no país, que pela taxa oficial do IBGE, está em torno de 12,7%. “A manutenção desses privilégios se dá em detrimento de outras

Bolsa Família sofreu corte de R$ 200 milhões áreas carentes de recursos. Enquanto isso, a maior parte da população sofre para encontrar emprego, 77% dos empregos criados no governo Temer pós reforma trabalhista são intermitentes”, afirmou. O Ministério do Planejamento já adiantou que para contemplar o reajuste aprovado pelos ministros do STF será necessário fazer uma nova Lei de Diretrizes Orçamentárias, que demandaria um novo projeto de lei e uma nova votação no Legislativo.


Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

Irã adota moeda chinesa como referência no lugar do dólar SANÇÕES EUA proibiram importação de produtos com sua moeda Reprodução

Da redação

O

governo iraniano decidiu assumir o Yuan, moeda chinesa, no lugar do dólar. A mudança vem após as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos contra empresas que importarem produtos do Irã com dólar. Anunciada no dia 6 de

agosto, a medida prejudica a aeronáutica,atividade extrativista e o setor bancário do país oriental, além de seus parceiros comerciais. “Qualquer um que tenha negócios com o Irã não o terá com os Estados Unidos”, ameaçou o presidente Donald Trump. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin

Netanyahu, apoiou a medida e fez um apelo para que países europeus seguissem os EUA. Outros países criticaram duramente a sanção. “Vamos responder de maneira completamente simétrica, porque os estadunidenses não podem sentir-se impunes ou cômodos, pensando que têm o passaporte de acesso a todos os países do mundo”, declarou, na quarta (22), o vice-ministro de relações exteriores da Rússia, Serguéi Riabkov. O primeiro ministro do Iraque negou que obedeceria as sanções contra os iranianos. Já a China decidiu continuar importando petróleo.

11

MUNDO

Colaboradores de Trump confessam crimes à Justiça EUA Ex-advogado admitiu fraude eleitoral e coordenador foi julgado culpado Da redação

O

advogado Michael Cohen, que trabalhou para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confessou ter comprado o silêncio de duas mulheres, durante a campanha presidencial de 2016. O objetivo, segundo ele, era “influenciar as eleições”. As mulheres seriam a atriz pornô Stormy Daniels e a ex-modelo da revista Playboy Karen McDougal. O presidente teria mantido casos com elas em 2006. Cohen fez um acordo com a Justiça estadunidense e também confessou ter cometido fraude fiscal, fraude bancária e crime eleitoral. Por todos os delitos, o ex-advogado de Trump pode pegar até 35 anos de cadeia. Já o ex-chefe de campanha de Trump, Paul Manafort, foi considerado culpado em acusações de sonegação fiscal, fraude fiscal e fraude bancária. Sua pena será decidida em outro julgamento. “Isso não tem nada a ver comigo”, afirmou Trump.

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12 12 VARIEDADES

Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

Amiga da Saúde

BAFAFÁ A SESSENTONA...

Reprodução

Tenho 22 anos e acho que já fui vacinado contra sarampo. Devo tomar outra dose? Bruno Felipe, operador de caixa.

Grande rainha do pop, Madonna completou na última semana (18) seis décadas de vida com uma carreira artística fenomenal - que lucrou bilhões - e uma vitalidade impressionante. Desde 1983, quando começou sua carreira, Madonna nunca deixou de gravar álbuns de sucesso, cada um com um renovado conceito. Não é por menos que todas as outras cantoras do mundo pop, de alguma forma, trazem uma referência à Madonna. Sem dúvida, Madonna tornou-se o grande ícone que é porque, além de sua música, com canções imortais e performances incríveis, seu estilo sempre inovador e personalidade marcante, ameaçou os padrões e normalidades desde que despontou para o sucesso na década de 80. Viva a diva Com muita sensualidade e erotismo, contra o antes uma garota e agora uma mulher – e contra muito machismo, repressão machismo, e caretismo – Madonna quebrou muirepressão e tos tabus, invertendo muitos papéis tracaretismo dicionalmente masculinos, afirmando que o lugar da mulher é onde ela quiser. A girl power dos anos 80 é um marco para a emancipação das mulheres. E também não é à toa que Madonna é exaltada pelo público LGBT. Ela foi a primeira grande popstar a defender abertamente a causa e encabeçar campanhas de doações na chamada época da epidemia da Aids. E quem não se lembra das suas polêmicas com a Igreja Católica? A cantora sempre abusava de símbolos religiosos, denunciando, muitas vezes, a hipocrisia e atraso em muitas instituições e doutrinas. Sessentona, Madonna se mantém firme no alto do seu pedestal, mesmo que alguns, aqui e acolá, tentem derrubá-la, considerando-a velha e ultrapassada. Ultrapassada? Jamais: até o fim do ano teremos um novo álbum seu. E nessa homenagem aos 60 de Madonna, lembramos ainda outra rainha que nos deixou essa semana e que também influenciou a nossa diva do pop: Aretha Franklin. Poderosa voz da música soul, nos deixou no último dia 16. Para quem não a conhece, fica a sugestão de ler a biografias dessa mulher, negra, sofrida; mas lutadora e que encantou o mundo! Viva nossas rainhas! Um abraço Felipe Marcelino é professor de filosofia.

Olá, Bruno! Estamos vivendo um surto de sarampo no norte do Brasil. Essa doença é altamente contagiosa, e é transmitida de forma parecida com a gripe. Diante disso, é ainda mais importante que todos estejam com as vacinas em dia para se proteger. As crianças com idade entre 1 e 5 anos devem tomar uma dose adicional da vacina contra o sarampo, independente da situação vacinal. O esquema básico é de duas doses para pessoas entre 1 e 29 anos. Para quem tem entre 29 e 49 anos, a dose é única. Para as pessoas acima de 49 anos não há vacina disponível no SUS. Se você acha que tomou, mas não tem nenhum comprovante, é melhor se vacinar novamente e solicitar o registro. É mais seguro. Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Sofia Barbosa é enfermeira do Sistema Único de Saúde I Coren MG 159621-Enf.

Nossos direitos Adoção de crianças e adolescentes Segundo o cadastro do Conselho Nacional de Justiça, atualmente, há 44 mil adultos pretendentes e 9 mil crianças e adolescentes à espera de uma família. Como o processo de adoção é realizado com cautela, costuma ser demorado, mas novidades no cadastro nacional vêm avançando no sentido de garantir com mais rapidez este direito. O primeiro passo que deve ser dado por quem pretende adotar uma criança ou adolescente é buscar a Vara de Infância e Juventude do seu município. A idade mínima

para se habilitar à adoção é 18 anos, independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida. O candidato é submetido à avaliação psicossocial e descreverá o perfil da criança desejada. É possível escolher o sexo, a faixa etária, o estado de saúde, os irmãos etc. Quando a criança tem irmãos, a lei prevê que o grupo não seja separado. Os demais passos serão orientados pela equipe técnica, assessorada pelo Judiciário e Ministério Público.

Adília Sozzi é advogada da Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP


Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

13 VARIEDADES 13

www.malvados.com.br

Dicas Mastigadas CALDO DE BANANA VERDE

Reprodução

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br Solução química para alvejar Conterroupas râneo encardidas do ator Malvino Salvador

© Revistas COQUETEL

Alimento não con- Ilha de (?), Nova nomenclatura para "chefe de sumido pelo vegano local do família", segundo o IBGE (Econ.) Atração da Quinta da exílio de Nem, em Deserto atravessado Napoleão inglês pelo rio Nilo Boa Vista (Rio)

A parte mais macia do pão francês

Conta-(?): mostra a velocidade de rotação do motor (Mec.)

Elogios (fig.) Árvore de paisagismo "Em (?)": placa de construções

Bom, em italiano

(?)-da-índia, fibra de móveis rústicos

Sábado de (?), dia de malhação de judas

Fora, em inglês Conquista de Senna

Apenas Foco da rinoplastia (Med.)

Erva, em tupiguarani Fúria Barulho feito por mosquitos

Torben Grael, iatista Carinho

(?) financeira: um dos motivos da inadimplência

Código para ligações internacionais (?) Agassi, tenista dos EUA

Movimento como a ola E, em francês

(?) Hari, dançarina considerada espiã

A feição da máscara da tragédia (Teat.)

Dispositivo usado no Cindacta Gracejar

A cor da bochecha da criança saudável "Tensão", em TPM

Medo excessivo

Junta; liga

Escola (?): forma oficiais da Marinha em postos iniciais da carreira Tapa desferido nas orelhas de alguém (gíria)

• • • • • • •

Conectado à web Saudação latina O natural é extraído da camada pré-sal

Anita Malfatti, pintora paulista (?) chi chuan, arte marcial

2/et. 3/caá — nor — out. 5/buono. 6/on-line. 18/pessoa de referência.

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Solução P M D B

A M G I U O A L S O A N A I F T E A T R O I A U N T E

A S T R A L T R I C A R N E

Z O N E O S L O O B L U I A O U T G I R I Z A C U L D O N D A I R A D A O N L A G A V A L E F O N

T R I S T E C A N A N O R

A I M A NC

P S E A S A S R O A A D D RE D E I F E I R N E

BANCO

Ingredientes

Letra da placa de "Proibido estacionar"

O natural da Inglaterra (p. ext.)

Mapa (?): traça o perfil do signo (Astrol.)

5 bananas nanica verdes 2 cebolas médias picadas 4 dentes de alho picados 1 colher de óleo ou azeite (para dourar) 250g de peito de frango desfiado ou outra carne (opcional) 1 colher de sobremesa de páprica picante 2 copos grandes de água

Modo de preparo • Leve as bananas à panela de pressão. Assim que chiar a panela, aguarde 5 minutos e desligue. • Bata as bananas no liquidificador com a água e reserve. • Em uma panela doure a cebola, o alho e a páprica. • Acrescente o peito de frango ou outra carne, se quiser (já cozido e desfiado) e deixe fritar, sempre mexendo em fogo baixo por um minuto. • Coloque a banana batida e deixe ferver 5 minutos • Salpique cebolinha e coentro a gosto • Acrescente água se achar necessário

Participe enviando sugestões para redacaomg@brasildefato.com.br.


14 CULTURA 14

Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

Cátia de França, a filha de uma negra que deu aula quando nenhuma podia abrir a boca ENTREVISTA A compositora, que leva no canto a voracidade da mãe, fala do boicote da mídia e analisa o papel da arte no cenário político do Brasil Andreia Roseno e Raíssa Lopes

“E

u tenho dois pés / dor dos meus olhos / vai pros meus pés / e dos meus pés / pra dentro da terra / da terra para a morte” Diz a cantora e compositora Cátia de França nos versos da música “Kukukaya”. Como ela mesma define, a canção é um arrebatamento. Arrebatamento que vem de um povo perseguido, de quem tem no sangue a dor dos índios, negros, ciganos. Nesta entrevista, ela, que nasceu na Paraíba e tem “acidentalmente” 71 anos, mas lá dentro continua menina, fala do papel da arte e do seu posicionamento político. Brasil de Fato - Como você classifica a sua música e por que ela não está tocando nos grandes meios?

Cátia de França - O que é a minha música... Ela é uma soma daquilo que foi. Começa tudo na família, sobre quem foi minha mãe, Adélia de França, a primeira negra a lecionar na Paraíba. Ela se foi na década de 1980. Tenho uma argamassa que vem de Adélia de França. Minha música também vem dos livros. Eu digo que quando eu leio um livro, eu engravido. Saber ouvir me sacode. É o constante pipocado. Manoel de Barros tá impregnado, Zé Lins do Rego... É tudo minucioso. Eu bebo nessa fonte e me torno eterna. E a mídia me esnoba,

Quando eu leio um livro, eu engravido

Eric Gomes / Divulgação

mas a internet me foi a ressurreição. A minha música incomoda.

Convocou, tem que ir. Não tem como esperar que a roupa enxugue sozinha

Cada vez que eu subo no palco é um ato político, por causa de todas as coisas que eu defendo

afora. O presidente dos EUA [Donald Trump] tem aquela coisa de um menino que o pai alisou muito a cabeça e virou essa incongruência aí. É isso, temos que ir. Convocou, tem que ir. Não tem como esperar que a roupa enxugue sozinha.

Como é sua relação com a mídia?

Quando a música não vem embrulhada em beleza física... Eu não tenho as pernas lindas de uma Elba Ramalho, não tenho a insinuação de uma Tânia Alves. Então, tenho que vencer pelo que eu defendo. O meu trabalho não tem preço e me violenta só discutir dinheiro. De repente, a internet me coloca na linha de frente. É uma responsabilidade grande, mas eu não tenho medo, porque os 71 anos que eu carrego me dão consistência de repousar com a consciência tranquila porque eu nunca me vendi. E a direita me acenou para eu entrar nessa porta larga da pouca vergonha. Mas minha mãe tinha como livro de cabeceira o “Geografia da Fome” [do Josué de Castro], pôsteres de Dom Helder e Che Guevara. Não posso nunca passar por cima disso pra ter uma tranquilidade financeira. Como você vê as mulheres no mundo da arte?

Quais eram as mulheres que estavam fazendo música em 1979? São dois eixos. Tem o que transita livremente pela mídia, que era a Gal, Bethânia, e tinha também as que

A juventude canta muito as suas músicas. O que você acha disso e qual mensagem você deixa para os jovens?

incomodavam, que era a Marli Miranda, Sueli Costa... Várias. A Elza [Soares] anda nos dois caminhos e não se conta-

É um golpe dentro do outro, e não fiquem achando que passou mina, principalmente a Elza de hoje. Mas o que fazer e como representar? O grande divisor de águas é a sobrevivência. É fazer sucesso, ter um retorno rápido, ser reconhecida. Mas é muito fácil se deixar levar e se inebriar, por isso a responsabilidade é enorme. Cada vez que eu subo no palco é um

ato político, por causa das coisas que defendo. Minha música “Kukukaya” é um arrebatamento que vem de um povo perseguido. Eu tenho no meu sangue descendência cigana, negra e índia. Eu luto por isso. E isso não termina nunca. No atual contexto político do Brasil, qual seria a contribuição do setor cultural?

Ô xente! Começa é com a gente. Veja só, Lula está preso e nas pesquisas de opinião ele está na frente. Então, somos nós que criamos esse tsunami pra não haver acomodamento. Não tem pra onde correr. Não é só o sapato brasileiro que tá apertando, existe uma tendência de direita terrível pelo mundo

Ah, isso foi a maior alegria. Eu cantei no Circo Voador em 1984, e de repente, a plateia cantando a letra comigo. Eu chorei por dentro. Isso foi um soco no estômago, um haraquiri. Foi a minha ressurreição na mídia burra. O recado pros jovens é isso: sacudam. Nada é impossível, e isso não é uma pieguice religiosa. É um golpe dentro do outro, e não fiquem achando que passou, porque todo dia é aprovado um retrocesso. Mas não são só os jovens, está na mão de todos nós. Eu tenho responsabilidade, todos nós. Acidentalmente, tenho 71 anos, mas continuo uma menina lá dentro.


Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

ESPORTE

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Os três sonhos de Helena, guerreira do MST de Alagoas Júlia Dolce

Diego Sartorato, de Brasília

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oi na adolescência que os sonhos de Maria Helena da Silva, de 41 anos, voaram alto pela primeira vez. Apaixonada por futebol, ela integrou as categorias de base do CSA, time tradicional de sua terra, Alagoas. Para garantir o suporte financeiro, ofereceu-se para cuidar do filho da patroa do pai, produtor rural. O esforço rendeu frutos: seu talento teve patrocínios e chamou a atenção de um olheiro do Fluminense, que a convidou ao Rio de Janeiro para jogar pelo time. “O que eu queria era vestir a camisa da Seleção Brasileira, eu tinha essa visão lá na frente. Esse era um caminho, né?”, conta. Infelizmente, não foi daquela vez. “Meu pai dizia que eu ia mulher e ia voltar lésbica, que eu ia ser influenciada, que as pessoas iam falar. Eu dizia: ‘papai, eu sou eu, o meu interesse é o jogo’, mas não adiantou, a visão

O que eu queria era vestir a camisa da Seleção Brasileira

dele era outra, ele me tirou do jogo”, relembra. A desilusão precoce marcou o início de uma vida profissional eclética. “Ah, decidi ser independente, acho que foi isso mesmo, né? Rebeldia, desafio mesmo”. Em desafio ao preconceito em sua comunidade, dedicou-se a diversas profissões consideradas “masculinas”. Helena foi

pedreira, técnica de laboratório, segurança, bombeira civil e dona de restaurante. Mas onde depositou um novo sonho foi na profissão de serralheira. “Aprendi numa oficina da minha cidade, trabalhei por três meses. Primeiro, eu produzia lixeiras, e recebia R$20 por cada uma. Quando comecei a entregar cinco por

dia, o dono da oficina disse que não ia ter como me pagar. Então comecei a fazer portões, mas ele decidiu me dispensar, para que eu não fosse concorrência”, diz. No dia 15 de agosto, Helena participou de sua primeira marcha com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), como integrante da coluna Ligas Cam-

ponesas. Ela vive no acampamento Rosa Luxemburgo, em Barra do Santo Antônio, e luta para transformá-lo em assentamento. Enquanto participava do ato político que exigiu a liberdade de Lula, seus companheiros encaravam um despejo por ordem judicial, mas isso não abala seu maior sonho neste momento. “A liberdade de Lula”, responde, sem hesitar. “Veja como está o país, 14 milhões de desempregados, sem visão de futuro. Só o Lula pode trazer de volta uma melhora, uma alegria para as pessoas. Eu conquistei muito no tempo dele, isso tem de voltar”, pondera.

Espanhóis farão greve para não jogar nos EUA J

ogadores da primeira divisão do Campeonato Espanhol podem entrar em greve. Isso porque a Liga Espanhola, controlada pelo Banco Santander, fechou um contrato com a multinacional Relevant, prevendo a realização de jogos do Campeonato Espanhol nos Estados Unidos. A parceria, intitulada La Liga North America, valeria por 15 anos e incluiria o clássico entre Real Madrid e Barcelona.

@AFEfutbo

Dezenas de atletas rejeitaram a medida. Por meio de um comunicado da Associação de Futebolistas da Espanha (AFE), eles convocaram seus colegas a uma greve, prevista para acontecer até o início de outubro. “Estamos cansados de decisões unilaterais que afetam diretamente os jogadores de futebol, como jogar fora da Espanha”, declarou o presidente da AFE, David Aganzo, ex-atacante do Rayo Vallecano.


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Belo Horizonte, 24 a 30 de agosto 2018

Guerrero fica sem jogar até ano que vem

A Justiça da Suíça revogou o efeito suspensivo que liberava o peruano Guerrero, recém-contratado pelo Internacional de Porto Alegre. Assim, o atacante só poderá entrar em campo em abril de 2019. O atleta também fica impedido de treinar nas dependências do Colorado até março. Guerrero foi suspenso pela

ESPORTES

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DECLARAÇÃO DA SEMANA André Bueno /CMSP Ricardo Duarte/ Divulgação Inter

Comissão Disciplinar da Fifa em novembro do ano passado, após um anti-doping acusar o uso de bencoliecgonina, um produto à base de cocaína. Depois, sua pena foi suspensa e ele chegou a disputar a Copa do Mundo pela Seleção do Peru, quando foi eliminado na fase de grupos.

É uma vitória! José Maria Marin é uma pessoa que tem sabido histórico de crimes e abusos e faz parte daquele grupo de pessoas que se achavam intocáveis pela lei” Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, comentando a condenação criminal do ex-presidente da CBF, antigo apoiador da ditadura militar. Em 1975, Marin discursou pedindo a perseguição a Vladimir, que foi assassinado dias depois pela ditadura.

Gol de placa No jogo entre Independiente e Santos, em Avellaneda, pela Libertadores, a torcida argentina distribuiu um panfleto dando as boas-vindas aos brasileiros e uma mensagem contra o racismo e a xenofobia.

Gol contra O Palmeiras perdeu 9 dos últimos 16 pênaltis que cobrou, os últimos cinco consecutivos. O Palestra paulista encara o Cruzeiro pelas semifinais da Copa do Brasil. O goleirão Fábio está de olho no retrospecto alviverde...

Decacampeão

É Galo doido

La Bestia Negra

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Fabrício Farias

As limitações do elenco do América estão sendo superadas pela entrega, disciplina defensiva e eficiência do time. Na vitória fora de casa contra o Sport, deu gosto ver a disposição dos atletas e a sabedoria em aproveitar a má fase do adversário. EsDecacampeão sa postura tem influência do técnico Adilson Batista, a começar pela forma absolutamente participativa em que orienta o time durante as partidas. Em seis jogos, desde que chegou ao clube, foram três vitórias, dois empates e apenas uma derrota. É a melhor sequência do time na Série A deste ano, renovando a esperança de manutenção do Coelho na primeira divisão, e quem sabe, até de vaga inédita em um torneio continental.

O Atlético começa o segundo turno com boas perspectivas. O colombiano Yimmi Chará revelou, finalmente, as qualidades que levaram à sua contratação; o equatoriano Cazares se recuperou tecnicamente e outros recém-contratados mostram disposição e talenÉ Galo to. As próximas partidasdoido! serão fundamentais para manter o Galo entre os primeiros colocados. Mas, cabe lembrar, duas vão ser fora de Belo Horizonte. Vencer no campo do adversário é decisivo para uma competição de pontos corridos. E, no turno, o Alvinegro venceu apenas duas vezes – Atlético-PR e Botafogo – nestas condições. Portanto, além de não perder pontos no Independência, é preciso melhorar o desempenho além fronteiras.

Salve, salve, nação azul! Seguimos com o jejum de vitórias no Brasileirão. A coisa poderia ter sido pior, não fosse mais um pênalti defendido por Fábio. Mesmo que o Grêmio seja um time de respeito, o Cruzeiro não pode estar nessa situação. AinLaMenezes Bestiaprivilegie Negra um futeda que Mano bol reativo e de cuidados defensivos, pelo 11º jogo consecutivo no Brasileiro vimos a bola estufar nossas redes. Por mais que o foco sejam as copas, temos que pontuar, pois, se não vierem os títulos, teremos dificuldade para chegar à Libertadores ano que vem. E três pontos contra um grande rival seriam uma injeção de ânimo. Vamos dar mais um show na Toca 3, sábado (25), e buscar a vitória!


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