Edição especial comunicação e direitos humanos

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Rupestre

MG

ESPECIAL

COMUNICAÇÃO POPULAR Minas Gerais

Belo Horizonte, novembro de 2018 • brasildefatomg.com.br • distribuição gratuita

COMUNICAÇÃO E DIREITOS HUMANOS FOI TEMA DE OFICINAS E CURSOS EM SEIS REGIÕES DE MINAS Funk e consciência: conheça a história do Pancadão dos Montes Jovens de comunidade de BH aprendem a fazer seus próprios programas Uma professora, uma assentada, uma estudante e um sindicalista comentam o papel da comunicação hoje Confira dicas de segurança na rede


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ESPECIAL

Belo Horizonte, 23 a 29 de novembro 2018

Pancadão dos Montes: politização do funk e diálogo com a periferia RÁDIO Pessoas privadas de liberdade viam no programa uma forma de diálogo e diversão, mas perseguição fez com que experiência se interrompesse

Reprodução

Oficinas oferecem formação técnica para jovens de comunidade em BH Wallace Oliveira

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Amélia Gomes

“É

muita treta, mas firmeza. Segue cantando pra espantar toda tristeza”. Com letra de Moleque Doido, o MC Bó do Catarina, esse era um dos funks mais tocados no programa de Rádio Pancadão dos Montes, transmitido nos bairros da periferia de Montes Claros, norte de Minas Gerais. A iniciativa surgiu em 2008 para promover as batidas do funk com letras politizadas. Logo a proposta pegou e em pouco tempo o Pancadão dos Montes já era um dos programas mais ouvidos da cidade. Nos finais de semana os apresentadores chegavam a receber mais de 20 cartas. A

maioria de ouvintes escrevia das penitenciárias. “Os detentos escreviam para a gente e pediam um salve na rádio e os familiares ligavam e pediam música para os detentos. Foi um momento muito legal de interação”, relembra Wender dos Santos, um dos realizadores. O programa virou um fenômeno entre os ouvintes e alcançava o pico de audiência. Além do Pancadão dos Montes, também havia na rádio Studio FM o Atitude no Ar, programa com enfoque nos rappers locais. Perseguição Com a grande repercussão dos programas, a Rádio Studio FM foi ganhando reconhecimento e junto dis-

EXPEDIENTE Esta edição especial é uma produção do Brasil de Fato MG em parceria com o projeto Comunicação e Direitos Humanos nos Territórios de Minas Gerais, promovido pela Associação Henfil, com apoio da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania.

so vieram as perseguições. A falta de outorga e a visibilidade que era dada aos presidiários foram os motes para as retaliações. A emissora foi fechada quatro vezes e a cada

Oficina trouxe novas perspectivas para retomada da rádio em Montes Claros apreensão todos os equipamentos eram recolhidos. Os coordenadores da emissora, os apresentadores do programa e a comunidade ajudavam a retomar a rádio, mas eram novamente apreendidos.

Depois de inúmeras tentativas, ambos os programas migraram de emissora, mas não adiantou. As perseguições continuaram até que em 2013 os coordenadores da rádio decidiram encerrar os programas. Recomeço Depois de cinco anos, Wender pretende retomar o projeto de outras formas. Na oficina de rádio do projeto de Comunicação e Direitos Humanos, viu no Whatsapp e na rádio web a possibilidade de colocar o programa no ar novamente. “Ter feito a oficina ajudou a gente a pensar novas possibilidades de rádio, para dar continuidade ao nosso trabalho”, anima-se Wender dos Santos. APOIO

urante o ano em que foi executado, o projeto “Comunicação e Direitos Humanos” promoveu 45 iniciativas de educação em comunicação. Uma destas foi realizada na comunidade Pedreira Prado Lopes, região Noroeste de BH. Oito adolescentes de 11 a 17 anos aprenderam técnicas de rádio. O conteúdo foi definido a partir das necessidades dos participantes. “O objetivo era ensinar a produção de áudios, que é algo barato, simples, que dá para aplicar na vida deles. Isso funciona nas comunidades, pois há divulgações em motos de som e rádio poste”, explica a jornalista Amélia Gomes, facilitadora da oficina. Útil para a vida O estudante Pablo Henrique dos Santos, 14 anos, produziu dois spots. “Gostei muito de aprender a mexer no programa. Quanto mais projetos assim, melhor, porque a gente só vai aprendendo”, avalia. Os participantes pretendem aproveitar o saber para criar um miniempreendimento de materiais de divulgação para o comércio na região.


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Comunicação é um direito humano MULTILPLICADORES Papel da mídia corporativa e também de outras ferramentas de informação é tema de reflexão

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ssim como a saúde, educação e moradia, a comunicação é um Direito Universal garantido desde 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Isso quer dizer

que todas as pessoas no mundo deveriam ter garantidas a liberdade de expressão, de acesso às notícias e também de produzir informação. Esse direito fundamental também

é previsto na Constituição Brasileira. Mas, na prática, o que isso representa para nossa vida? Em tempos de notícias falsas, manipulações de infor-

mações e da censura, discutir e conhecer novas formas de comunicação são desafios fundamentais para a sociedade brasileira. Confira depoimentos sobre a importância

do assunto, de pessoas que participaram do programa de formação continuada em comunicação e direitos humanos. E você, como vê o papel da comunicação hoje? Rupestre

“Comunicação popular terá um papel essencial” “Eu creio que a eleição de Bolsonaro é a prova mais que cabal do papel da comunicação no cenário político do Brasil. Creio que o ciclo do golpe ainda não se fechou. Teremos um longo caminho de retrocessos e isso vai ser uma perda grande para o campo popular, para a proposta de uma comunicação plural, mas muita coisa foi feita. Há uma mídia popular que está muito bem estruturada, apesar da falta de recursos, e terá uma resistência muito importante. A comunicação popular terá um papel essencial para jogar luz sobre o que será silenciado pela mídia corporativa, que vai se alinhar ao governo Bolsonaro”. Eliara Santana, jornalista e doutoranda em Estudos Linguísticos na PUC Minas/ Capes

“Mídia faz os oprimidos defenderem os opressores”

“Trabalhador precisa conhecer o que está acontecendo”

“Comunicação é poder, em nosso país essa tem sido uma ferramenta da classe dominante para manter sua hegemonia na sociedade, impondo suas ideias e falseando a realidade, colocando os oprimidos para amar e defender os seus opressores, cumprindo com a função de uma mídia irresponsável com os valores humanos e com a verdade. Para nós oprimidos/as, a comunicação tem um papel fundamental: mostrar que as sombras da realidade nem sempre são a verdade, fazendo da comunicação uma ferramenta esclarecedora dos fatos e questionadora da realidade”.

“Olá galera do BdF MG, aqui é o Luizão do Sindicato dos Empregados no Comércio de Uberlândia e Araguari e Frente Brasil Popular. Esse jornal é sensacional, ele leva, muitas das vezes, as notícias que a grande mídia esconde. Para nós é muito importante ter esse material pra distribuir nas bases, pro trabalhador ficar sabendo da realidade do que está acontecendo no Brasil e no mundo. É fundamental levar a notícia ao cidadão, aquele trabalhador que muitas vezes chega ao seu local de trabalho e não tem a informação necessária para conversar com os colegas”.

Maria José Santos, Assentamento Nova Vida - Novo Cruzeiro

Luizão - Sindicato dos Empregados no Comércio de Uberlândia e Araguari (SECUA)

“Mídia hegemônica defende o projeto neoliberal” “A comunicação tem papel fundamental na tomada de decisão das pessoas, é ela que dissemina as informações do que ocorre nos diversos cantos do mundo. Porém, existe no Brasil uma mídia hegemônica que imprime nas notícias as suas opiniões. E nós sabemos que essas opiniões têm um lado e um projeto, o projeto neoliberal, que vem na contramão do que acreditamos para uma sociedade mais justa e igualitária. Portanto, nós vemos os meios de comunicação populares como a saída para a construção de uma resistência na luta pela democratização da mídia”. Karolina Oliveira, estudante de enfermagem

Programa de formação continuada Construir uma visão crítica da mídia e fortalecer a perspectiva de uma comunicação feita por e para o povo. Esses foram alguns dos objetivos do Programa de Formação Continuada em Comunicação e Direitos Humanos, desenvolvido pela Associação Henfil em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos e Participação Social. Mais de 700 pessoas participaram das 45 atividades realizadas em seis territórios do estado de Minas Gerais.


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A internet é um lugar seguro?

Freepick

VIGILÂNCIA Saiba como proteger seus dados e senhas ao navegar nas plataformas digitais

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esde o avanço das redes sociais, têm sido recorrentes os escândalos de vazamento de dados de internautas. Para você não ser mais uma vítima, o Brasil de Fato MG consultou os espe-

Quais as dicas para proteger minhas senhas? André, professor, 29 anos Não use dados pessoais como aniversário, nome do bichinho de estimação e datas marcantes. Não use a mesma senha para várias redes. Não use a opção “salvar senha” dos navegadores. Não compartilhe suas senhas com outras pessoas! Senhas grandes, com letras maiúsculas e minúsculas são indicadas. Lembre-se de se desconectar ao usar computadores públicos. Além disso, é importante mudar todas as senhas com frequência.

cialistas Caio Augusttus, que é Analista de Segurança da Informação, e Taise Assis, Analista de Sistemas. Eles responderam perguntas de quatro leitores sobre esse tema. Confira e fique atento!

Nos últimos anos houve vários vazamentos de dados de internautas no mundo todo. Como nos proteger na internet? Mariana Dupin, bióloga, 26 anos É importante configurar o nível de privacidade das redes sociais de acordo com sua necessidade. Evite usar extensões de navegadores que pedem acesso a seus perfis. Quando participar de brincadeiras, jogos ou coisa do tipo, evite permitir o acesso à sua rede social (por exemplo, logar com Facebook), pois pode ser uma armadilha.

Ouvi dizer que mesmo quando desligamos a internet do celular é possível que ele esteja gravando áudio ou o GPS esteja funcionando. É verdade isso? Luiz Fellippe de Fagaraz, 27 anos, autônomo É possível ter um aparelho rastreado através da triangulação de antenas das operadoras de celular, que são indispensáveis para manter o serviço de telefonia e internet ativos. Mesmo com o pacote de dados desativado, alguém da operadora ou de alguma agência governamental pode ter acesso à localização do seu aparelho. Acredito que esse acesso seja difícil para um hacker ou uma pessoa comum. Mesmo assim a recomendação é manter os aparelhos desligados em momentos mais sigilosos.

SENHAS! Os testes que fazemos no Facebook são perigosos? Thainá Nogueira, jornalista, 23 anos Geralmente, para participar desses testes precisamos aceitar os termos e condições de uso. Pouca gente lê, mas estamos autorizando as empresas a acessarem e utilizarem nossos dados (públicos ou privados), inclusive permitindo que eles sejam repassados. Muitas informações sobre nossos comportamentos, gostos e opiniões são utilizadas para traçar nossos perfis, que também poderão ser vendidos para empresas interessadas em nos vender algo ou manipular uma situação.

E como memorizar tantas senhas? Recomendamos o uso de um “cofre” virtual, que nos ajuda a gerar e armazenar senhas de forma prática e segura. Para acessá-lo, é necessária uma senha e, a partir daí, ter acesso aos sites e serviços em que você tem cadastro. Alguns “cofres” disponíveis são o KeePassX e o LastPass

Quer saber mais?

Acesse o guia Autodefesa contra Vigilância no link ssd.eff.org/pt-br. Lá você encontra dicas, ferramentas e tutoriais para uma maior segurança na comunicação on-line.


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