Edição 276 do Brasil de Fato MG

Page 1

J.R. Duran / Divulgação

"Sou totalmente feminista e Lula livre", diz Bela Gil

Reprodução

ENTREVISTA 11

A luta da juventude indígena em múltiplas expressões BRASIL 8

MG Minas Gerais

Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril de 2019 • edição 276 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita Gil Lonardi / Imprensa - MG

REFORMA ENCOLHE POLÍTICAS PÚBLICAS

Mineração na Serra da Piedade Serra da Piedade /Omar Freire Imprensa - MG

Decisão do Copam coloca em risco área que é reserva da biosfera e patrimônio histórico e artístico nacional e estadual MINAS 6

Seleção feminina em campo De olho na Copa da França, Vadão convoca jogadoras para amistosos na Espanha ESPORTE 16

Risco de BH ficar sem água

Projeto substitutivo da reforma administrativa não satisfaz oposição e não é consenso entre deputados da base do governo. Parlamentares afirmam que Zema tem falta de familiaridade com política e que proposta, além de economizar pouco, dá seguimento a problemas antigos I MINAS

Após morte do Rio Paraopeba com crime da Vale, demais reservatórios só garantem abastecimento para próximos 18 meses MINAS 4


2

OPINIÃO

Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

Editorial | Brasil

É cilada, Bino Nos tempos atuais não faltam informações: elas chegam aos montes, o dia inteiro, pela TV, pelo rádio, jornais, nos computadores, pelos celulares. São tantas, que dificilmente conseguimos guardar onde lemos uma determinada notícia ou como ficamos sabendo de tal coisa.

Mais de 90% das notícias são produzidas pelos interesses da classe dominante

ESPAÇO DOS LEITORES “Zema, né” Maria Emília Caixeta comenta o artigo de João Paulo Cunha da edição 275: “Zema não gosta do que faz” “Um retrocesso terrível ter esse fantoche como chefe do Estado brasileiro.” Douglas Neves escreve sobre o artigo de Padre João: “Trump recebe recompensa pelo apoio ao golpe no Brasil” “Armações ilimitadas contra ele. Lula preso político, o mundo está vendo...” Rô Nascimento Gonçalves escreve sobre a matéria do site do Brasil de Fato “Manifesto assinado por 464 juristas é entregue ao STJ pedindo liberdade de Lula”

Escreva para a gente também: redacaomg@brasildefato.com.br ou em facebook.com/brasildefatomg

Informações são produzidas por alguém, com alguma intencionalidade, seja ela comercial, pessoal, política ou por puro prazer. Com as redes sociais, tem sido crescente o envio de campanhas. Tem campanha para salvar baleia, curar doentes, proteger florestas, impedir a extinção, e, claro, contra os políticos e os poderes da República. É preciso prestar atenção nessas últimas. Tudo funciona como se fossem todos iguais: individualistas, corruptos e corporativistas. Será assim mesmo? Não, não é bem assim. Falhos sim, todos somos. Mas política é jogo de interesses, refletem disputas no interior da sociedade. No modelo de sociedade em que vivemos, uma disputa é a central e deve ser utilizada como lupa para se entender qualquer notícia. No capitalismo, uns poucos são os donos dos meios de produção (fábricas, terras, propriedades) e a grande maioria da população só tem sua força de trabalho para vender. A principal disputa então se dá entre os interesses dos trabalhado-

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

res e da classe patronal. Façamos esse exercício de análise. Por exemplo. O vice-presidente Mourão declarou a empresários que foi um absurdo o salário mínimo ter sido corrigido acima da inflação durante os governos de Lula e Dilma. A partir de quais interesses ele estaria falando? Outro exemplo: Bolsonaro defendeu que os trabalhadores têm direitos demais, o que prejudicaria a economia. De que lado ele está? Paulo Guedes, o ministro da economia, disse que pretende tirar da Constituição a obrigatoriedade de investimentos em saúde e educação. Agradaria qual classe social essa alteração constitucional? Mesmo quem produziu a notícia deve ser analisado por essa disputa na sociedade. Os veículos de co-

É preciso ver a quem interessam as campanhas que dizem que político é tudo igual municação são também empresas. A maneira como produzem a notícia é neutra? O que se escolhe noticiar, quem entrevistar sobre aquele assunto, quanto tempo dar para um ponto de vista ou outro, o que ser dito, que imagem utilizar para ilustrar um fato... tudo são escolhas políticas marcadas pelo recorte de classe. Mais de 90% das notícias que nos chegam são produzidas pelos interesses da classe dominante e são contrárias aos interesses dos trabalhadores. O bordão da série “Carga Pesada”, imortalizado na boca de Antonio Fagundes, nessa hora faz todo sentido: é cilada, Bino.

PÁGINA: www.brasildefatomg.com.br CORREIO: redacaomg@brasildefato.com.br PARA ANUNCIAR: publicidademg@brasildefato.com.br TELEFONES: (31) 3309 3314 / (31) 3213 3983

conselho editorial minas gerais: Aruanã Leonne, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Helberth Ávila de Souza, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, Jô Moraes, José Guilherme Castro, José Luiz Quadros, Juarez Guimarães, Marcelo Almeida, Makota Celinha, Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Rosângela Gomes da Costa, Robson Sávio, Samuel da Silva, Talles Lopes, Titane, Valquíria Assis, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Amélia Gomes, Larissa Costa, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes e Wallace Oliveira. Colaboradores: Adília Sozzi, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, Fabrício Farias, João Paulo Cunha, Jordânia Souza, Luiz Fellippe Fagaráz, Pedro Rafael Vilela, Renan Santos, Rogério Hilário e Sofia Barbosa. Revisão: Luciana Gonçalves. Administração e distribuição: Paulo Antônio Romano de Mello e Viícius Moreno Nolasco. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares.


? PERGUNTA DA SEMANA

No Brasil e em outros países, 1º de abril é considerado o Dia da Mentira. A brincadeira surgiu na França, no século 16. Na época, a festa de ano novo começava no dia 25 de março e ia até 1º de abril. Em 1562, porém, o papa Gregório XIII transferiu a festividade para 1º de janeiro. Alguns franceses resistiram à mudança, mantendo a antiga data. A partir de então, muitos começaram a fazer chacota, tratando quem se apegava à antiga data como “bobos de abril” e o dia 1º de abril como símbolo da mentira.

Qual foi a maior mentira que você ouviu em 2019?

Abaixar o preço dos combustíveis, quando na verdade vai aumentar, é uma delas. E esses políticos aí, que prometem e não fazem nada.

Foi do Zema. A pior mentira: cheio de promessas e não cumpre com nada. A população está sofrendo com isso, esse monte de promessas.

Márcio Rodrigues, taxista

Ana Maria Gonçalves, auxiliar de apoio à saúde

Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

GERAL

3 Reprodução

Declaração da Semana Ao mostrar que não tem propostas para a nossa educação, o ministro deixou claro que não está preparado para estar à frente de um posto tão importante Tuitou a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) após seus questionamentos na reunião da Comissão de Educação ao ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez

Drogaria Araújo está proibida de cadastrar CPFs

Divulgação

Se você já comprou nas Drogarias Araújo, certamente alguém te ofereceu desconto se você “cadastrasse” seu CPF, não é? Porém, a rede de farmácias está agora proibida de recolher CPFs. O Ministério Público de MG argumenta que a empresa não tinha objetivo de desenvolver um cadastro de fidelidade, mas sim “captar” os CPFs, o que pode prejudicar o consumidor. Em um vazamento de dados, por exemplo, um plano de saúde pode cobrar mais caro ao saber dos medicamentos que a pessoa adquire, ou até negar cobertura.

Estressado e ansioso? Tente um detox digital Reprodução

Estudos afirmam que o uso cada vez maior do celular aumenta nosso stress, ansiedade e até a insônia. Assim, alguns têm sugerido uma “limpeza digital”, que são horas ou dias longe de qualquer telinha. As dicas para um detox vão desde deixar a câmera de lado (e curtir!) até comprar um despertador analógico, para não depender do aparelho para acordar. Procure e experimente!


4

CIDADES

Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

Três barragens da Vale têm risco de rompimento elevado para iminente DOIS MESES DE BRUMADINHO Em Macacos e Ouro Preto, sirenes foram acionadas. Em Congonhas, Ministério Público pede remoção de moradores Lu Sudré

Amélia Gomes

N

a semana em que se completam dois meses do crime que vitimou 216 pessoas e chocou o mundo, outras dezenas de comunidades de Minas Gerais vivem o medo de o drama se repetir. Barão de Cocais, Macacos, Congonhas, Itatiaiuçu e Ouro Preto são apenas algumas delas. Na quarta-feira (27), três sirenes tocaram em duas cidades, já que o nível do risco de rompimento passou para iminente. Em Itabira, cidade onde nasceu a Vale, o alarme foi soado por engano. No caso de Macacos e Ouro Preto, a Defesa Civil de Minas Gerais inclusive denunciou que a empresa já sabia da reclassi-

Vale saberia do risco desde cedo, mas sirene só foi acionada à noite blica sobre o assunto realizada nesta quinta (28) na ALMG, em BH. Essa foi a segunda reunião da CPI sobre o rompimento da barragem de Brumadinho, que prevê encontros periódicos para falar do assunto. Barragem Casa de Pedra, em Congonhas, é classificada como Classe 6, a mais alta em categoria de risco

ficação do risco das barragens durante o dia, mas deixou para acionar os alar-

mes apenas à noite. Esta e outras denúncias foram divulgadas em audiência pú-

Em Congonhas, moradores podem finalmente ter resposta O promotor de justiça Vinícius Alcântara Galvão, do Ministério Público de Minas Gerais, recomenda a remoção dos moradores

dos bairros Cristo Rei e Residencial Gualter Monteiro, em Congonhas, por risco de rompimento da barragem da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). O promotor exige, entre outras ações, o pagamento de aluguel para as famílias, auxílio financeiro e solução, em caráter emergencial, para o fechamento da creche Dom Luciano e da Escola Municipal Conceição Lima Guimarães, que deixaram de atender mais de 200 crianças. Após se negar a acatar a recomendação, a CSN solicitou na quarta-feira (27), que as negociações com o órgão fossem retomadas. Ainda nesta semana, a empresa e o Ministério Público devem se reunir para iniciar as negociações

BH e Região Metropolitana podem ficar sem água por causa do crime da Vale Larissa Costa / Brasil de Fato MG

Amélia Gomes

I

ntegrantes da CPI das Águas e Barragens da Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte realizaram, na terça (26), uma visita técnica ao ponto de captação de água da Copasa no Rio Paraopeba. Desde o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, no dia 25 de janeiro, o abastecimento no local está interrompido, já que o rio foi atingido pelos rejeitos da lama. A captação é responsável pelo abastecimento de água de quase 30% da ca-

pital mineira e 51% da região metropolitana. Após dois meses de interrupção, a situação do sistema de abastecimento da RMBH é grave. A quantidade de água nos reservatórios só é suficiente para o abastecimento durante os próximos 18 meses. Além da captação de água

Paraopeba é responsável por 51% do abastecimeto da RMBH

no Rio Paraopeba, outra situação que é questionada pela CPI das barragens é a segurança do Rio Das Velhas. Após a contaminação do Paraopeba, o manancial é a principal fonte de abastecimento da RMBH e também pode estar em alerta. “Estamos preocupados com o risco de algum rompimento de barragem no Rio das Velhas porque, se isso acontecer, Belo Horizonte vai ter seu abastecimento imediatamente colapsado, isso é muito grave”, ressalta a vereadora Bella Gonçalves (PSOL), integrante da CPI.


Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

MINAS

5

Zema altera projeto de reforma administrativa, mas não agrada população e deputados SEM TRAQUEJO Governo sofre derrota na ALMG e vive impasses com a própria base na Casa Fernando Chaves

Raíssa Lopes

O

governador Romeu Zema (Novo) continua com dificuldades para aprovar a reforma administrativa na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Nesta semana, o projeto substitutivo foi analisado durante três dias pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas, devido à falta de acordo entre governo e parlamentares, foi retirado para ser discutido diretamente em plenário. O novo texto traz mais de 50 mudanças em relação ao anterior. A maioria foca na estrutura interna, como a criação de cargos. A proposta principal do Executivo, de redução do número de secretarias de 21 para 12, foi mantida. Após pressão popular e para tentar avançar com a reforma na Casa, Zema voltou a considerar algumas políticas sociais no projeto atual, ainda consideradas insuficientes pelos blocos de esquerda. Outra mudança foi a respeito do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), que o governo propunha transferir para a Secretaria de Estado da Fazenda, mas desistiu e decidiu manter na Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag). “O encolhimento de políticas públicas na reforma irá diminuir 1% do déficit que o Estado tem. Ou seja, o governador não só reduz

o Palácio das Artes e interrupção do trabalho das superintendências de interiorização. “O orçamento da cultura sempre foi mínimo, mas agora é abaixo do mínimo.

Cortes na cultura e no Fica Vivo refletem visão distorcida a atuação do Estado, como também não dá resposta para uma dívida pública que precisa ser questionada, inclusive com a União”, avalia a deputada estadual Andreia de Jesus (Psol). Andreia afirma que Zema estaria tendo problemas para negociar até com sua própria base na ALMG, e que isso seria consequência do estilo empresário do governador, não compatível com a administração pública. “Na visão empresarial, o empregado que não atende aos interesses do patrão é demitido. Política não é assim. É debate, mediação, argumentação. Não é ‘você manda e o outro obedece’. A gente não atende só ao mercado”, diz a parlamentar.

Menos políticas públicas não significa menos déficit

Pontos da reforma

O Brasil de Fato MG ouviu especialistas em algumas áreas essenciais para o bom funcionamento do Estado. O consenso é de que a reforma não traria muitas inovações, insistindo em problemas já identificados em gestões antigas e justificados com a alegação de economia.

Segurança pública

O programa Fica Vivo, que trabalha com jovens para a prevenção da criminalidade, sofreu cortes que resultaram em um núcleo fechado neste início de mandato do go-

Estilo de empresário não é compatível com cargo

vernador. Para o pesquisador Robson Sávio, também coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas (NESP), a tendência é essa: pouco interesse em setores de inteligência, investigação e prevenção, e alto investimento em policiamento repressivo e custos prisionais. “Minas teve um incremento de mais de 500% na taxa de encarceramento, assim como a Polícia Militar consome, com pessoal, em torno de 70% do orçamento da segurança. Mas isso é uma caixa preta que nenhum governador teve coragem de mexer”, declara.

Cultura

Zema segue insistindo na fusão das secretarias de Turismo e Cultura. Além disso, como menciona a atriz e vereadora Cida Fallabella (Psol), continuam os ataques ao patrimônio cultural, a instituições como

A cultura, o turismo, a tecnologia e a agroecologia poderiam ser alternativas para a construção de outras matrizes econômicas em Minas, principalmente no momento do fracasso desse modelo minerário que custa vidas. Só que nem se pensa sobre isso. É só desmontar, nunca vi uma visão tão distorcida do que é cultura”, comenta a artista.

Saúde

Outra ideia polêmica envolve a Escola de Saúde Pública, que permanece sob risco de passar para a pasta de Secretaria de Estado da Saúde. Com isso, a instituição perderia a autonomia administrativa e ficaria impossibilitada de tocar atividades acadêmicas. “Zema quer fazer isso por meio de um projeto de lei paralelo ao da reforma administrativa, que está suspenso por conta de manifestações da sociedade”, afirma a deputada Andreia de Jesus.


6

OPINIÃO

Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

Opinião

Como deseducar uma nação João Paulo A crise do Ministério da Educação e a defesa da celebração do golpe militar de 1964 não são fatos isolados. Fazem parte da mesma forma de conceber o conhecimento e do mesmo projeto político: deseducar a sociedade, desvalorizar o saber, instaurar o revisionismo, exterminar os critérios de verdade em nome do individualismo e dos interesses do mercado. O ministro da educação, Ricardo Vélez Rodriguez, só se sustenta no cargo por falta de brio. Criticado pelo próprio patrão, já coleciona avaliações negativas em termos gerenciais, políticos, técnicos e de caráter. Falsificou dados de seu currículo na plataforma Lattes; determinou que frase de campanha se tornasse prática obrigatória nas escolas; perdeu seguidos colaboradores que não quiseram se associar às práticas de arrasa-civilização. Tem muito mais para tão pouco tempo. Submeteu-se a pressões ideológicas externas espúrias; não foi capaz de manter um diálogo técnico e político com o Congresso, em sessão humilhante na qual pa-

Governo quer fake história, fake saúde, fake Previdência recia um aluno que não estudou para a prova. Cancelou a realização da avaliação das crianças em fase de alfabetização, anunciando um vácuo de quatro anos que impediria a correção das políticas; nomeou colaboradores para postos importantes, que foram demitidos antes de tomar posse sem sua aquiescência. Chamou a todos os brasileiros de ladrões. As lambanças são sem fim. Garantiu abrir o sigilo do Enem ao presidente, para evitar eventuais distorções sexistas na prova. Suspendeu temporariamente programas da pasta em nome do discurso da austeridade que só atinge a área dos direitos sociais.

É bem verdade que, em muitos desses casos, voltou atrás. Não por força da razão, do debate de ideias, da troca de experiência ou da humildade em aprender e reconhecer erros. Quando retrocedeu, foi sempre por fraqueza e apego ao cargo. Jogou a culpa na imprensa (um clássico no governo Bolsonaro), nos demitidos, nos adversários. Não há dúvidas de que é um ministro ruim. Péssimo mesmo. Ricardo Vélez faz parte dos revisionistas que não consideram que o Brasil viveu um golpe militar em 1964 e passou por um período de mais de 20 anos de ditadura. Aceitar ou não que se tratava de uma ditadura não é questão de decisão pessoal ou interpretação. É desconhecimento da história e negação dos fatos. Vélez, que não se sabe quanto dura no cargo, pode ser descartável. Mas sua função parece ser estratégica: destruir a educação para abrir o flanco de ataque à verdade. Depois da fake história, o terreno estará preparado para a fake saúde, fake segurança, fake habitação, fake previdência. Tudo patrocinado pelo mercado e seus interesses.

Mineração na Serra da Piedade pode destruir patrimônio histórico e meio ambiente INTERESSES Além de santuário, todo o monumento é protegido por diversos reconhecimentos, inclusive da Unesco Reprodução / IEPHA

Wallace Oliveira

N

as últimas semanas, crescem as mobilizações contra a mineração na Serra da Piedade. No dia 20 de março, o assunto foi debatido em audiência pública na Assembléia Legislativa, com a participação de centenas de pessoas. O motivo é que, poucas semanas após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) autorizou a exploração da encosta da serra pela empresa AVG Empreendimentos Minerários, pertencente ao grupo EBX, de Eike Batista.

Máquina de aprovar licenças A Licença Prévia e a Licença de Instalação do empreendimento foram aprovadas simultaneamente no dia 22 de fevereiro, por 7 votos a 3, na Câmara Técnica de Atividades Minerárias do Copam. Entidades criticaram o fato de a aprovação ter sido feita sem anuência

do Ibama, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), de municípios da região e outros órgãos e entidades. Além disso, todo o Monumento da Serra da Piedade, incluindo a área que vai além do Santuário, é prote-

gido por diversos reconhecimentos, como reserva da biosfera pela Unesco, título internacional por conter a menor basílica do mundo, maior número de espécies ameaçadas de extinção no estado, entre outras. Nada disso impediu a aprovação das licenças. A ambientalista Maria Teresa Corujo, do Movimento SOS Serra da Piedade, votou contra. Ela explica que há uma presença desproporcional das mineradoras na Câmara Técnica. Em dois anos e 40 reuniões, essa composição só reprovou um licenciamento em mais de 200: “É uma máquina de validar licenças da mineração”, define.

Santuário No alto da Serra da Piedade, fica um santuário da Padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade. O espaço, localizado a 48 km da capital, é dedicado à peregrinação, religiosidade e preservação. “Vimos o ocorrido em Brumadinho. Por isso, é importante a nossa união, independente da fé professada, pensando na conservação e preservação desse território sagrado, que é o rosto da nossa Minas Gerais”, diz o reitor do Santuário, Fernando Cesar do Nascimento.


Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019 Divulgação/ Brasil Gov

OPINIÃO

7

Robson Sávio Reis Souza

1964 nunca mais: pela verdade, memória e justiça

Não há déficit na Previdência Antes de tudo queria lembrá-los de que a Previdência Social não tem o chamado déficit que justificaria uma reforma para equilibrar a relação entre receita e despesa. O argumento patronal e governamental de que a Previdência Social precisa ser reformada devido ao envelhecimento da população, à queda na taxa de natalidade e ao valor pago pelas aposentadorias é insustentável e, no mínimo, equivocado - para não dizer criminoso e mal-intencionado. De fato, atualmente o gasto com benefícios previdenciários é maior do que o arrecadado com as contribuições previdenciárias. É como se eu tivesse um salário de R$ 3 mil, por exemplo, - que chamo aqui de receita - e um gasto mensal de R$ 4 mil (com, por exemplo, aluguel, compras e contas) - que eu chamo de despesa. Quem olha essa relação, apenas desse ponto de vista, facilmente constataria que há um déficit e é preciso cortar gastos. Acontece que eu poderia, facilmente, omitir que, além do meu salário, eu ainda recebo auxílio moradia, vale transporte, vale re- Governo feição entre outros. No fim das contas, a minha receita é omite bem maior do que a minha despesa. contribuição O que os patrões e o governo de Bolsonaro não nos do Estado contam é que além da receita por meio das contribuições previdenciárias (de patrões e empregados) há, ainda, a contribuição do Estado. Isso é o que caracteriza o modelo triparte de financiamento da Seguridade Social como um todo, ou seja, trabalhadores e empregadores, através da contribuição em folha ou autônoma, e o Estado, através do PIS/PASEP, Cofins, CSLL, percentual sob jogos, importações etc. Ao somar as receitas e subtrair as despesas, a Previdência Social tem superávit e não déficit. Juliane Furno é doutoranda em Desenvolvimento Econômico na Unicamp, formadora da CUT. Leia artigo na íntegra em brasildefato.com.br

Robson Sávio Reis Souza é ex-coordenador da Comissão da Verdade em Minas Gerais.

ACOMPANHANDO

Juliane Furno

Apesar de vozes antidemocráticas ainda hoje negarem, com o golpe militar de 1964, instalou-se um regime de exceção, violência e arbítrio em nosso país. Um governo de decretos e atos institucionais autoritários. Políticos eleitos democraticamente foram cassados. As eleições eram controladas e figuras esdrúxulas, como governadores e senadores biônicos, foram criadas. Para se manter no poder, os generais calaram os meios de comunicação impondo censura e ameaças. Houve forte repressão aos movimentos sociais e populares, no campo e na cidade. A utilização da tortura transformou-se em política de estado. Ocorreram diversos desaparecimentos forçados, exílios e incontáveis violações dos direitos humanos. Como demonstrou o relatório final da Comissão da Verdade em Minas Gerais, pela ação, conivência, parceria e omissão às graves violações de direitos, associações, empresas e instituições privadas foram parceiras com o regime ditatorial. Além dos agentes e órgãos públicos de diversos setores dos três poderes do Estado que atuaram com os militares. Conhecer essa complexa rede de agentes e instituições Golpe instalou públicas e privadas partícipes regime de do regime ditatorial é um ele- exceção mento importante para o des- e violência velamento das armadilhas do passado de tão triste memória. E é luz para entendermos as imensas violências, injustiças e desigualdades que ainda vicejam em nosso país atualmente. Nos dias de hoje, vozes agourentas clamam pelo passado de arbítrio e exceção. Mas o Brasil precisa acertar suas contas com esse passado ditatorial. Por isso, é preciso lutar para que a verdade ecoe dos porões da ditadura. Para que a memória das vítimas seja luz no presente e a luta por justiça seja a bússola a indicar o caminho à verdadeira democracia.

Na edição 275... Conservadores tentam criminalizar práticas de religiões de matriz africana E agora...

Em votação na quinta (28), os ministros do STF entenderam, por unanimidade, que o sacríficio de animais em ritos de religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, são parte do direto à liberdade religiosa, previsto na Constituição. “É o momento próprio para que o Direito diga em favor das religiões de matriz africana que não há nenhuma ilegalidade no culto de professam e nas liturgias que praticam”, afirmou o ministro Luiz Fux.


8

BRASIL

Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

Jovens indígenas: como eles vivem hoje? ESPECIAL Desde artistas a youtubers, a juventude indígena traz reflexões e volta às raízes ancestrais Arquivo pessoal

apresenta o youtuber de 20 anos, criador do canal mais popular de indígenas, o “Wariu”. Ele nasceu no Mato Grosso, próximo à Terra Indígena Parabubure, e viveu entre os rituais xavantes e a escola, onde sofreu discriminação por ser indígena. O jovem tentava responder às agressões explicando aos colegas aspectos da cultura Xavante como, por exemplo, a furação de orelha, e percebeu que a informação era a melhor arma contra o preconceito.

Emilly Dulce

D

a pele retinta à pele clara, com cabelos escorridos ou cacheados, na aldeia ou na cidade, a identidade indígena é muito mais do que a história do Brasil colônia. É o que relatam cinco jovens de diferentes regiões do país ouvidos pelo Brasil de Fato. Laís Zinha, do povo Maxakali, tem 23 anos e estuda Ciências Sociais na USP. Neta de Guarani Nhandewa com Maxakali, ela cresceu com a mãe e a avó em ambiente urbano. Apesar de ter contato com os costumes, não se reconhecia como Guarani. Após conhecer seu avô, em 2010, Laís confirmou sua identidade indígena: Maxakali.

Para ela, esse processo de autoconhecimento preencheu um vazio de sua história. “Minha avó não aceita ser chamada de indígena, ela fala que é mestiça, porque a minha bisa foi estuprada”, diz.

Um youtuber indígena “Olá! Meu nome é Cristian Wariu Tseremey’wa, sou indígena Xavante com ascendência Guarani Nhandewa, nativo originário dessa imensa terra chamada Brasil”, é como se

Rádio Comunicativa 9h às 10h 87,9 FM JOÃO MOLEVADE - CENTRAL

Terça-feira Rádio Web Brasil de Fato www.brasildefato.com.br 15h às 16h

Quarta-feira Rádio Alternativa 87,9 FM 17h às 18h CABECEIRA GRANDE - NOROESTE

Quinta-feira

R

REPORTAGEM ESPECIAL

Conheça detalhes das histórias dos jovens indígenas entrevistados pelo Brasil de Fato. Acesse: tinyurl.com/y5xagj5q ou www.brasildefato.com.br ANÚNCIO

Aqui você tem voz!

Segunda-feira Rádio Autêntica Favela 11h às 12h 106,7 FM BELO HORIZONTE E RMBH

Ativista e artista Já a Guajajara de 25 anos Kaê conheceu a Aldeia Maracanã em 2014 e está na trincheira de luta junto aos seus parentes. Localizada

na zona norte do Rio de Janeiro, a aldeia urbana foi erguida por indígenas de diferentes etnias, em 2006, no espaço onde era abrigado o antigo Museu do Índio. O terreno é alvo de uma disputa entre o governo estadual e os povos originários. Kaê canta e compõe músicas.

A D Rde Conversa

Sábado Rádio Sertão FM 8h às 9h 87,9 FM CHAPADA GAÚCHA - NORTE Rádio Planalto FM 12h às 13h 87,9 FM BRASILÂNDIA DE MINAS - NOROESTE Rádio Divinópolis FM 12h às 13h 720 AM DIVINÓPOLIS - CENTRO OESTE Rádio Bom Sucesso FM 17h às 18h 95,5 FM MINAS NOVAS - ALTO JEQUITINHONHA Rádio 98 FM 17h às 18h 98,5 FMDIAMANTINA

Sexta-feira

Rádio Quintal FM 20h às 21h 105,9 FM VIÇOSA - ZONA DA MATA

Rádio Liberdade FM 9h às 10h 87,9 FM RIACHINHO - NOROESTE

Rádio Vale FM 17h às 18h 96,7 FM ARAÇUAÍ - JEQUITINHONHA

Rádio Formoso FM 16h às 17h 87,9 FM FORMOSO - NOROESTE

Rádio Cidade FM 18h às 19h 87,9 FM TURMALINA - JEQUITINHONHA

Rádio Líder FM 16h às 17h 87,9 FM BONFINÓPOLIS DE MINAS - NOROESTE

Participação:

(31) 9 7146-7456

Realização:

Curta a nossa página fb.com/rodadeconversanoradio


Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

Bolsonaro manda celebrar ditadura, que torturou e matou milhares no país HISTÓRIA Regime militar assassinou mais de 430 pessoas e prendeu e torturou ao menos outras 30 mil Divulgação /Memórias da Ditadura

BRASIL

99

Oposição é contra a reforma da Previdência A oposição ao governo Bolsonaro anunciou, nesta semana, que vai votar contra a reforma da Previdência. Os votos dos deputados do PDT, PT, PCdoB, PSB, PSOL e Rede somam 133 no total. Para barrar a proposta, é preciso que pelo

menos 205 parlamentares não votem a favor. Se passar pela Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania, a proposta precisa ser aprovada por uma comissão especial e, em seguida, vai para votação em plenário.

Jornada mundial Lula Livre

Pedro Rafael Vilela

O

golpe de 1964 completa 55 anos no dia 31 de março e Jair Bolsonaro (PSL) determinou que quartéis e unidades militares celebrem a data, que deu início à intervenção que colocou o país em uma ditadura que durou 21 anos (1964-1985). Na ocasião, o presidente João Goulart, que cumpria regularmente seu mandato democrático, com base na Constituição então vigente, a de 1946, foi tirado do poder. Os militares que assumiram o comando do país passaram a perseguir opositores do regime, inclusive entre os próprios integrantes das Forças Armadas. No auge do autoritarismo, o regime fechou o Congresso Nacional, instalou a censura prévia, realizou prisões sem processo legal, além de aprofundar a prática de tortura e morte de quem se opunha ou simplesmente criticava a ditadura. A ditadura deixou um sal-

do de 437 mortos e desaparecidos, além de 6,5 mil militares perseguidos, segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregue em 2014 à Presidência da República.

A ditadura deixou um saldo de 437 mortos e desaparecidos Para Bolsonaro, não houve ditadura Capitão reformado do Exército, Bolsonaro já afirmou diversas vezes que, em sua opinião, não houve ditadura no país. Durante a sessão que analisou o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016, Bolsonaro, que era deputado federal, prestou homenagem ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido pela Justiça como

comandante de um centro de torturas do regime e um dos responsáveis pela tortura contra a ex-presidenta. Entre as torturas praticadas por Ustra, estava a introdução de ratos em órgãos genitais de mulheres. Ele chegou a levar filhos de pessoas presas para acompanhar a tortura de seus pais, sem contar as centenas de sessões de espancamento, choques elétricos e mutilação de pessoas presas, apenas por se manifestarem contra o regime autoritário.

Às vésperas de completar um ano da prisão sem provas do ex-presidente Lula, movimentos populares organizam a jornada Lula Livre entre os dias 7 e 10 de abril. No dia 10, será julgada no Supremo Tribunal Fede-

ral (STF) a validade da prisão em segunda instância, ou seja, antes de um processo ser encerrado. A campanha também está organizando comitês por todo o país para denunciar o caso de Lula.

Atingida por barragem é assassinada no Pará Divulgação /MAB

Reação O Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União, além de associações de parentes vítimas da ditadura, ingressaram com diversas ações na Justiça contra Bolsonaro por autorizar a celebração do golpe militar.

A coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) Dilma Ferreira Silva foi assassinada na quinta (21), no Pará. Na terça (26), a Polícia Civil prendeu o fazendeiro Fernando Ferreira Rosa Filho, identificado

como mandante do crime. Com ela, também foram mortos o marido Claudionor Costa da Silva e Hilton Lopes, amigo do casal. Dilma era atingida pela hidrelétrica de Tucuruí e militava pela garantia de direitos.


14 MUNDO 10

Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

Enquanto Bolsonaro propõe comemorar o golpe no Brasil, Argentina grita: “Nunca mais” Emiliano Lasalvia /AFP

Luiza Mançano

O

presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PSL), militar da reserva, determinou na última segunda-feira (25), por meio do porta-voz Otávio Rêgo Barros, que o Ministério da Defesa faça “as comemorações devidas” pelos 55 anos do golpe de Estado de 1964, que inaugurou a ditadura no país, no próximo 31 de março. A declaração de Bolsonaro não contradiz sua trajetória pessoal, embora ganhe outros contornos à frente da Presidência da República. O 31 de março de 1964 é uma data relembrada ano a ano pelas vítimas da ditadura no Brasil, como é na Argenti-

Declaração pede políticas pela Memória, Verdade e Justiça

Manifestantes carregam uma extensa faixa com os nomes e fotos dos desaparecidos na Argentina durante a ditadura militar (1976-1983)

na o dia 24 de março de 1976, que marca o início do último regime ditatorial do país – encerrado em 1983, com a transição democrática. Para recordar a data, agora denominada “Dia Nacio-

nal da Memória pela Verdade e Justiça”, milhares de argentinos saíram às ruas do país no último sábado (24) e gritaram “Ditadura nunca mais”, atitude que revela não só uma visão crítica so-

bre o passado, mas também em relação ao presente e ao futuro. No começo da marcha, as mães da Praça de Maio adentraram o local – onde realizam a tradicional ron-

da pela aparição de seus filhos – carregando uma quilométrica faixa azul com fotos e nomes de desaparecidos durante a ditadura militar. Junto a avós, filhos e familiares de vítimas, elas leram uma declaração a todos os presentes na qual reivindicam a continuidade das políticas pela Memória, Verdade e Justiça no país. ANÚNCIO


Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

ENTREVISTA 15 11

“Os chefs são sempre homens, já a cozinha do dia a dia sempre esteve na mão da mulher” diz Bela Gil COZINHA E POLÍTICA Para apresentadora, que acaba de lançar seu quinto livro, brasileiros só terão alimentação saudável barata quando houver distribuição de terras José Eduardo Bernardes

José Eduardo Bernardes e Mariana Pitasse Rio de Janeiro (RJ)

A

limentação saudável passou a ser uma preocupação nacional. A cada dia mais brasileiros procuram produtos sem agrotóxicos, com menos gordura, menos industrializados. A apresentadora e chef de cozinha Bela Gil responde algumas das perguntas que rondam nossa cabeça quando pensamos nesse tema. Bela recebeu a reportagem do Brasil de Fato horas antes do lançamento de seu quinto livro. A publicação “Da raiz à flor” traz receitas com casca de melancia, com semente de mamão, com folhas de couve-flor e ramas da cenoura. A ideia, segundo a apresentadora, é ensinar as pessoas a usarem partes dos alimentos que são descartadas e, assim, debater o desperdício. Brasil de Fato: É a primeira vez que você publica um livro sobre aproveitamento de alimentos. O que motivou essa escolha? Bela Gil: Venho trabalhando com culinária há muitos anos, e depois de dez temporadas do programa “Bela Cozinha” [no canal GNT] eu decidi focar na questão do desperdício para chamar atenção para esse problema. Cerca de um terço da comida produzida no mundo é desperdiçada, e quando a gente fala de frutas, legumes e verduras, esse número pode

chegar a 50%. Também entra aí a questão da economia. Muita gente fala que comida “limpa”, comida orgânica é caro, mas se você pagar um pouco mais na banana orgânica e usar a casca dela, você está gastando o mesmo dinheiro de uma banana com veneno, porque você só come parte dela. Como baratear a alimentação saudável no Brasil? Não tem outra resposta a não ser a reforma agrária. A comida vem da terra. Precisamos ter uma distribuição de terras democrática. Se a gente não democra-

Para a alimentação saudável no Brasil, não tem outra resposta a não ser a reforma agrária

tizar a terra, como vamos ter alimentação saudável para todo mundo? Impossível. No Brasil, 46% das terras cultiváveis estão nas mãos de 1% da população. É uma desproporção enorme. Será que estamos fazendo o caminho inverso, com o governo Bolsonaro? Eu queria muito ouvir do presidente suas posições em relação a isso, porque não se fala. Teve a aprovação de mais de 80 agrotóxicos em poucos dias de governo. Quem está ganhando com a liberação de agrotóxicos não é a população. Quem nos alimenta hoje é quem nos vende remédios. Eles nos alimentam com veneno para inventar um medicamento novo para a população. É um ciclo que poderia ser interrompido se a gente der ênfase à reforma agrária, agroecologia e educação alimentar.

O Brasil é líder no uso de agrotóxicos no mundo. Isso se intensificou com o governo Temer (MDB) e Bolsonaro pode aumentar o uso. Qual o limite? Não temos para onde escapar? Existem no Congresso Nacional dois pesos e duas medidas: o Pacote do Veneno de um lado e a PNaRA [Política Nacional de Redução dos Agrotóxicos] do outro. A gente precisa fazer pressão para que o PNaRa seja aprovado, e fazer com que o PL do Veneno seja reprovado. É o que a gente consegue fazer para estabilizar essa situação. Muita gente fala que queria comer melhor e não consegue, não pode. A gente precisa estimular a população a enxergar isso como prioridade. A alimentação é a base da nossa vida. Se a gente não presta atenção nisso no cenário político, a gente não está prestando atenção na vida. Você acredita que utiliza a cozinha de forma revolucionária? Eu ficava receosa de falar isso, mas agora, sinto que as pessoas vêm mudando. Ser

Se a gente não presta atenção na alimentação no cenário político, a gente não está prestando atenção na vida”

vegano, vegetariano, comer consciente, não está dentro de uma caixinha. Tem gente de todos os tipos, todas as raças e classes. Todo mundo pode ser assim – da esquerda à direita. Eu uso a cozinha e

Eu uso a cozinha e encaro o ato de comer e cozinhar como um ato revolucionário encaro o ato de comer e cozinhar como um ato revolucionário. É um ato de transformação positiva para a população e permeia tudo: uma mudança cultural, social, ambiental. Posso dizer que a minha culinária é revolucionária. Você acredita que seu jeito de apresentar a culinária colabora para mudar a visão sobre o papel da mulher na cozinha? Eu acho que sim, porque essa questão de gênero na culinária e na cozinha sempre foi muito machista. Os chefs renomados são sempre homens, já a cozinha do dia a dia sempre esteve na mão da mulher. Isso tem mudado. Não tem mais “menina não pode ser chef de restaurante” e nem “menino não pode fazer comida para a família”.

MATÉRIA COMPLETA NO SITE WWW. BRASIL DEFATO.COM.BR


14 VARIEDADES 12

Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

DE OLHO NA MÍDIA

Amiga da Saúde Minha mãe está com osteoporose, apesar de não sentir nada. Como prevenir essa doença? Pâmela Dias, 40 anos, professora.

Olá leitor, olá leitora, Nesta coluna, vamos falar sobre mídia. Vai ter um pouco de tudo: análise crítica, dicas, novidades, eventos legais. A ideia é refletir sobre os instrumentos que nos fazem ter acesso ao que acontece no mundo. Este é um assunto importante demais, já que influencia nosso modo de pensar, de nos relacionar e até nossos sentimentos. Estamos abertos a sugestões e pitacos.

A osteoporose é uma fraqueza dos ossos provocada pela redução da massa óssea. Isso acontece quando, no processo constante de renovação celular, a quantidade de células novas é menor que as que morrem. É um processo lento, assintomático e relacionado com o envelhecimento. Mas pode ser intensificado pelo sedentarismo, tabagismo, queda de hormônios, dentre outras causas. Para prevenir a osteoporose é preciso ingerir alimentos ricos em cálcio e vitamina D, tomar sol para fixá-la no organismo e fazer exercícios físicos regulares. Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br

Triste notícia A Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a primeira iniciativa de construção de uma comunicação pública no país, vem sofrendo sucessivos ataques desde a deposição de Dilma Rousseff. Na gestão Bolsonaro, contínuas ameaças de cortes e extinção convivem com mudanças que ferem a ideia principal da empresa. Agora, além de provável fusão com a NBR, que se tornou um veículo oficial, o governo desfere novo golpe: na programação, quem ganha novos programas e séries são as Forças Armadas, aquelas que foram responsáveis por um dos períodos mais sombrios da nossa história.

Seminário de comunicação pública A Câmara Municipal de BH promoveu, no dia 22 de março, um seminário sobre comunicação pública, com o tema: “Possibilidades, formatos e desafios na era digital”. O cientista político Bruno Reis trouxe uma reflexão sobre as formas de disseminação de mensagens e a pergunta: será que a internet fortalece mesmo a democracia? O jornalista Vitor Colares deu dicas de atuação nas redes sociais. A professora Ângela Carrato apresentou um histórico da TV pública no Brasil e o jornalista Rodrigo Lucena falou sobre as TVs e rádios legislativas. Você pode conferir o vídeo com todo o conteúdo no link: encurtador.com.br/dzNP7

Anote na agenda No dia 13 de abril, o coletivo Intervozes e a ONG Internet Sem Fronteiras promovem um evento sobre cibervigilância. O nome é “CriptoTrem”, e será aberto e gratuito, no CRJ, na Praça da Estação, em BH. Na programação, debates sobre dados, segurança na rede e tecnologias livres. Mais informações em: encurtador.com.br/ABKWX Joana Tavares – Escreva suas sugestões e impressões para: joana@brasildefato.com.br

Sofia Barbosa é enfermeira do Sistema Único de Saúde I Coren MG 159621-Enf.

Nossos direitos Direito de quem mora em áreas de risco De acordo com o IBGE, mais de 8 milhões de brasileiros moram em áreas com alto risco de desastres, como deslizamentos. Em alguns casos, os governos promovem a desocupação dessas pessoas, mas é bom lembrar que elas não podem ser tratadas de qualquer forma: estes cidadãos possuem direitos que devem ser garantidos. O poder público é responsável por possibilitar que as pessoas vivam em um lugar seguro, e isto

não se dá apenas com o albergamento emergencial, é preciso oferecer alternativas dignas, já que o direito à moradia está garantido no artigo 6º da Constituição Federal. Quem estiver passando pela situação de ser removido deve procurar seus direitos. Um dos caminhos é procurar a Defensoria Pública Federal ou Estadual, que prestam assistência jurídica gratuita para quem não possui condições de pagar os custos de um processo na Justiça.

Adília Sozzi é advogada da Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP


Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

13 VARIEDADES 15

www.malvados.com.br

Dicas Mastigadas LASANHA VEGETARIANA DE ABOBRINHA

Preencha os espaços vazios com algarismos de 1 a 9. Os algarismos não podem se repetir nas linhas verticais e horizontais, nem nos quadrados menores (3x3). www.coquetel.com.br

© Revistas COQUETEL

4 9 6 2 8 2 4 3 9 8 6 7 1 5

7 1 8 5 2 3 4 6 9

5 6 7 8 9 1 2 4 3

1 8 4 7 3 2 9 5 6

9 3 2 6 4 5 1 8 7

Solução

6 9 5 1 7 4 3 2 8

1

3 2 Ingredientes

2 5 1 8 6

4

3 5 9 4 1 8 6 7 2

8

8

4 2 6 3 5 7 8 9 1

5 3

5

1

8 7 1 2 6 9 5 3 4

7 1 2 3

7 1

• • • • •

2 abobrinhas fatiadas; 350g de queijo muçarela; 3 xícaras de molho à bolonhesa ou o que você preferir; 1/2 xícara de queijo parmesão. Sal e orégano a gosto

Modo de Preparo 1. Cortar as abobrinhas em rodelas e colocar sal; 2. Espalhar em um refratário uma camada de molho de tomate, uma camada de abobrinha, outra de muçarela e molho. 3. Repetir as camadas e por cima distribuir o parmesão e o orégano. 4. Assar por 30 a 40 minutos.

Participe enviando sugestões para redacaomg@brasildefato.com.br.


14 CULTURA 14

Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

Adolescentes lançam campanha para financiar coletivo de comunicação VAQUINHA Grupo foi premiado com reportagem de rádio sobre o direito à infância e adolescência em ocupação urbana Divulgação /MTD

lizar o material para divulgar uma festa. “Fizemos um spot para tocar em alguns lugares e, com isso, conseguimos até entrada para uma festa, pois ficou muito bem editado”, conta a estudante.

Amélia Gomes e Wallace Oliveira

P

elo direito de falar e ser ouvido, um grupo de adolescentes de 14 a 19 anos resolveu fazer comunicação na periferia de BH. O grupo se reúne na Ocupação Pátria Livre, uma ação do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), situada na comunidade Pedreira Prado Lopes. “Tudo o que ocorre no bairro nós vamos comunicar. Estamos reunindo para aprender a mexer com máquinas, tem gente querendo virar repórter, a gente apren-

de muito”, conta Pablo Henrique Santos, de 14 anos. Ele particpa de oficinas de produção de rádio, vídeo, alimentação de redes sociais, material impresso, fotografia e produção de texto, feitas

em parceria com a Associação Henfil de Educação e Comunicação e a ONG Internet Sem Fronteiras. Clézia Vitória Santos, de 15 anos, aprendeu a fazer spots de rádio e chegou a comercia-

Premiação e financiamento No ano passado, com o apoio do Brasil de Fato, os adolescentes produziram uma reportagem que mostrou a vida na ocupação: “Direito à infância e a luta por moradia”. Com a produção, eles participaram do II Prêmio Jornalismo Cidadão Radiotube 2018, do Instituto Criar Brasil. O concurso ti-

nha como temática os direitos das crianças e adolescentes. A matéria ficou com o terceiro lugar e, além do reconhecimento, também recebeu uma premiação de R$ 1 mil, que será revertida para adquirir equipamentos. Para completar o recurso e comprar câmera fotográfica, computadores, gravadores e outros materiais, o grupo lançou uma campanha na internet, que vai até o dia 28 de maio. Pode ser doado qualquer valor. A meta é chegar aos R$ 5 mil. Para efetuar doações, é preciso acessar o link: vaka.me/514590. ANÚNCIO

PRIORIDADES Há 14 anos o programa oferece cursos livres para jovens em cinco áreas artísticas 1 • Limitar ou reduzir o acúmulo de aposentadoria com pensão por morte é roubo

4 • A reforma piora a vida dos/as mais pobres e trabalhadores/as privados/as

Impedir o acúmulo de pensão por morte e aposentadoria é roubar a pessoa que pagou previdência a vida toda e faleceu. Pensão por morte é um direito de quem paga e não um favor. O governo não pode simplesmente ficar com o dinheiro das contribuições e não pagar o beneficio devido aos dependentes, ainda que esses recebam aposentadoria fruto de contribuição própria.

Ao exigir quarenta anos de contribuição e idade mínima elevada, essa reforma acaba com a perspectiva de aposentadoria dos/das mais pobres. Além disso, para se ter qualquer direito a aposentadoria apenas com 25 anos de contribuição, ela condena grande parte da população a nunca se aposentar, pois no Brasil, onde a informalidade domina, é dificil conseguir tanto tempo contínuo de carteira assinada.

2 • A reforma não tira privéligios

5 • Pessoas com câncer e doenças graves terão aposentadoria parcial

Desde de 2013, todo servidor que ingressa no serviço público se aposenta com, no máximo, o teto do INSS. O maior impacto da reforma é sobre o/a trabalhador/a privado/a, que passará a ter uma idade mínima para aposentadoria ridiculamente alta.

3 • A reforma não melhorará a assistência aos idosos O governo não está ampliando o Benefício de Prestação Continuada (BPC) para quem tem 60 anos, mas, sim, retirando a aposentadoria dos/as sexagenários/as e oferecendo um pequeno benefício de 400 reais no lugar. É quase impossível no Brasil alguém ter 40 anos corridos de carteira assinada: a maioria das pessoas serão desempregadas aos 60 anos e terão de viver de BPC. No regime de hoje muitos estariam aposentados/as nessa idade, por tempo de contribuição. Em resumo: você, que antes se aposentaria com 60 anos ou menos, vai provavelmente ficar desempregado/a e ter que se virar com 400 reais por mês.

Hoje é garantido para quem tem doenças definidas como graves o direito a aposentadoria integral. Com a reforma, ao descobrir um câncer ou outra doença grave o/a trabalhador/a pode ter que se aposentar com seus ganhos cortados quase pela metade.

Piorando todas essas questões, se aprovada a reforma da previdência de Bolsonaro, podemos desistir da segurança de qualquer direito previdenciário, pois ela retira a necessidade de novas PEC’s para solapar os direitos da população. A reforma é um roubo a poupança (forçada) dos trabalhadores do Brasil e só beneficia bancos e quem lucra com a capitalização.


Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

Três atletas que a ditadura assassinou

B

olsonaro, o tenente que tomou cartão vermelho do Exército por indisciplina, quer que os brasileiros acreditem que a ditadura foi uma coisa boa. Por isso, autorizou os militares a gastarem dinheiro público para festejar o tenebroso golpe que começou em 1964 e marca o Brasil até hoje, inclusive no esporte, como mostram essas histórias. Helenira Rezende A paulista foi jogadora de basquete da seleção de Assis, em São Paulo. Em 1969, ela passou a compor o movimento estudantil e depois partiu para o Araguaia, sul do Pará, para construir a resistência armada ao regime. Em 1972, a jogadora foi capturada por um grupo de soldados e metralhada nas pernas. Ferida, enfrentou o destacamento, causando ira nos soldados. Eles, então, a torturaram por horas e depois a assassinaram com golpes de baioneta. O corpo foi ocultado na localidade de Oito Barracas. Carlos Alberto Freitas O mineiro sonhava em jogar na Seleção Brasileira de basquetebol. Pivô do Minas Tênis Clube, ele deixou a equipe para cursar a faculdade. Em 1969, a organização da qual fazia parte, a VAR-Palmares, foi posta na clandestinidade. O jogador foi preso em 1971

15 15

CURTA E GROSSA

Time grande faz assim!

Divulgação Racing

Reprodução

Jordânia Souza

Wallace Oliveira

ESPORTE

e reconhecido na Casa da Morte, em Petrópolis, onde foi torturado e morto. Segundo algumas vítimas, o algoz foi seu treinador. O corpo de Carlos Alberto nunca foi encontrado. Sua história é contada no livro “Seu amigo esteve aqui”, de Cristina Chacel. Stuart Angel Jones Filho da famosa estilista Zuzu Ángel, Stuart foi bicampeão carioca de remo pelo Clube de Regatas Flamengo. Sequestrado no dia 28 de setembro de 1971, Stuart foi espancado na Base Aérea do Galeão e depois preso a um carro e arrastado por horas no pátio do quartel. Sorridentes, os militares alternavam o interrogatório com sessões nas quais o atleta era obrigado a colocar a boca no escapamento do automóvel ligado e aspirar a fumaça. Depois, o deixaram com o corpo esfolado no chão, noite adentro, clamando por água. Morto Stuart, sua mãe recebeu uma carta, no dia das mães, informando o paradeiro do filho, cujo corpo ela não teve o direito de sepultar. Zuzu morreu cinco anos depois, em um “acidente de automóvel” considerado suspeito até os dias de hoje.

O futebol é uma paixão nacional, não há dúvidas. É justamente por isso que vejo no esporte um potencial enorme para incentivar e propor reflexões além dos campos. Ainda que muitos discordem, este é um espaço de visibilidade que não deve ser ignorado. É importante que os clubes entendam seu papel social. Vamos ver o caso de nossos hermanos, por exemplo. 24 de março foi o Dia Nacional da Memória pela Verdade e Justiça na Argentina. A data relembra e homenageia as vítimas do golpe civil-militar, ocorrido em 1976 no país. Em repúdio ao golpe, as maiores equipes argentinas, como Boca Juniors, River Plate, Independiente, Racing e Estudiantes se uniram e divulgaram em suas redes sociais mensagens com a tag #NuncaMás. É um gesto simples. Não envolve grandes ações ou gastos com marketing. Mas é simbólico. Uma corrente contra um período nefasto, que trou-

xe mortes, torturas, medo, censura e vergonha para a história da democracia argentina. Paralelo a isso, o dia 31 de março marca, no Brasil, uma data semelhante: do golpe que instaurou a ditadura militar no país. Para quem não conhece ou ignora, foram 21 anos que também deixaram marcas profundas e vergonhosas em nossa história. Em vez de repúdio, vemos manifestações de apoio por parte do atual governo e de seus seguidores. Poderia ser um pesadelo, mas, infelizmente, há quem comemore torturas e assassinatos. Qual vai ser a posição dos nossos clubes? Dos jogadores? Times não estão isolados da sociedade. E, mais do que nunca, os brasileiros precisam refletir. Conhecer e reconhecer o passado é fundamental para um país olhar para o futuro. Como bem publicou o Racing: “o tempo passa, mas o pedido por memória, verdade e justiça não cessa e se faz cada vez mais forte”. Time grande faz assim! ANÚNCIO


16

Belo Horizonte, 29 de março a 4 de abril 2019

Vadão convoca Seleção feminina para amistosos

ESPORTES

16

DECLARAÇÃO DA SEMANA Кирилл Венедиктов Lucas Figueiredo /CBF

“Para alegria de muitos e para outros nem tanto, meu ciclo se encerrou”

N

esta quinta-feira (23), o técnico da Seleção Brasileira feminina de futebol, Vadão, convocou as 23 jogadoras que enfrentarão a Espanha e a Escócia, nos dias 5

e 8 de abril, respectivamente. Os dois amistosos serão disputados em território espanhol. A Espanha é a 12ª colocada do ranking da Fifa, enquanto a Escócia é a 20ª, o

que representa um bom teste para as meninas do Brasil. Os jogos servem como preparação para a Copa do Mundo da França 2019, que será disputada em junho.

Gonzalo Higuaín anuncia sua aposentadoria pela Seleção Argentina, após ter perdido muitos gols feitos.

Gol de placa Fim de semana de futebol e política! Recife: torcida do Sport levou ao estádio uma faixa contra a reforma da previdência. Chile: as torcidas de Universidad de Chile e Colo-Colo protestaram contra a visita de Bolsonaro ao país. Argentina: clubes lançaram a tag #NuncaMás para lembrar a ditadura iniciada em março de 1976.

Gol contra A seleção brasileira masculina de futebol empatou com o Panamá em 1 a 1, no amistoso realizado no sábado (23), em Portugal. Futebol fraco, a grande parte da torcida desinteressada e a outra parte desiludida com a Seleção Canarinho.

Melhor em semifinais

Lampejos e sofreguidão

Tensão de Libertadores

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Fabrício Farias

O retrospecto recente do América contra o Cruzeiro não é favorável. Por outro lado, nas três semifinais desta década que envolveram os dois times, o Coelho se deu melhor em duas. Em 2012, o América de Rodriguinho, Moisés, Alessandro e Fábio Júnior ganhouDecacampeão os dois jogos frente ao Cruzeiro de Fábio, Roger, Montillo e Wellington Paulista. Naquele ano, o Coelho acabou perdendo a final para o Atlético de Ronaldinho. Já em 2016, um time bem pior do América, com João Ricardo e Danilo Barcelos, comandado por Givanildo Oliveira, passou pelo Cruzeiro e venceu o campeonato contra o Atlético, acabando com uma longa espera de 11 anos. Apenas em 2017 a equipe celeste ganhou do América na semifinal.

Em meio ao sofrível Campeonato Mineiro, o Atlético comemora 111 anos. E ofereceu à torcida uma atuação preguiçosa contra o Tupynambás. Cumpriu a obrigação com a vitória e Levir Culpi ainda reclamou da arbitragem. A arbitragem errou, mas pouco influenÉ Galo doido! ciou no resultado. Há muito tempo não via uma partida com tantos erros de passes, finalizações e domínio de bola. Ainda bem que o estadual está acabando. Não deixará saudades. Equipes que não passam de remendos mal feitos e times da capital em formação. O Atlético enfrentará o Boa em situação vantajosa. Serão jogos de dar sono ou insônia. Vamos depender dos lampejos de Cazares e da sofreguidão do Luan, enquanto a Libertadores nos espreita.

Salve, nação azul! A torcida viveu uma noite com tensão de Libertadores, na quarta (27). O Cruzeiro saiu na frente contra o Deportivo Lara, com gol do aniversariante Rodriguinho. Se o gol de Fred não tivesse sido incorretamente anulado, talvez o jogo fosLa Bestia Negra se mais tranquilo. Durante praticamente o restante da partida, o Cruzeiro não conseguia acertar o gol. Enquanto isso, o Lara ia se assanhando, arriscando alguns chutes. O alívio só veio no último lance, com Jadson. Domingo (31), temos o primeiro confronto das semifinais do estadual. É importante um bom placar para que a equipe já possa voltar do Equador, no meio de semana, com a classificação nas duas competições. Saudações celestes!


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.