Edição 303 do Brasil de Fato MG

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Reprodução / Cetesb

Amazônia Entenda o que está em jogo com a exploração desenfreada da maior floresta equatorial do planeta, que sofre com aumento de queimadas, desmatamento e caráter entreguista do governo Bolsonaro ESPECIAL

MG Minas Gerais

Belo Horizonte, 18 a 28 de outubro de 2019 • edição 303 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita

O DE CIMA SOBE, O DE BAIXO DESCE 1%

Tânia Rêgo / Agência Brasil

50%

da população ganha em média

da população brasileira vive com a média de

R$ 27.744

R$ 820

por mês

mensais

BRASIL 13

Os mitos sobre o servidor público

Nova Escola Base?

Fernanda Montenegro, 90 anos

A maioria desses trabalhadores tem salário baixo e trabalha muito, ao contrário do que muita gente diz

Polícia Civil de Minas Gerais inocentou um trabalhador acusado de abuso. Mas imprensa já o havia condenado

Trajetória da atriz brasileira é um culto à inteligência humana, ao respeito e à valorização do teatro

CIDADES 14 E 15

CIDADES 4

OPINIÃO 2


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OPINIÃO

Belo Horizonte, 18 a 24 de outubro de 2019

Opinião

Fernanda, uma brasileira João Paulo Fernanda Montenegro completou esta semana 90 anos de vida. Com quase 75 anos de trabalho, a atriz representa para o Brasil a consagração de um destino pelo qual vale a pena viver: o valor do ofício, o respeito ao outro e a luz da consciência. Sem preconceitos com gêneros ou formas estéticas, a atriz foi escolhida por personagens que chegavam aos espectadores com uma verdade muitas vezes reveladora e tocante, mas por vezes profundamente incômodas e desagradáveis. Humana, demasiado humana, não havia escolha ética mais importante que a verdade. E, por vezes, a verdade está exatamente na ambiguidade em ser complexa com a mais absoluta transparência. Se a alegria de partilhar um talento extraordinário preencheu a

Atriz nos lembra da dimensão transformadora da cultura

Escreva pra gente também: redacaomg@brasildefato.com.br ou em facebook.com/brasildefatomg

vida de várias gerações, há por outro lado o preço de um ingresso especial a ser pago por isso: a responsabilidade em ser contemporâneo de Fernanda Montenegro. Em pelo menos três aspectos. O primeiro é a relação determinada com o trabalho, o respeito por um ofício milenar – e milenarmente perseguido. A artista nunca abrandou sua dedicação profissional, mesmo nos momentos, que não foram poucos,

O jornal Brasil de Fato circula com edições regionais na Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

de profunda dificuldade, próprios da trajetória de vida que escolheu. Em mais de sete décadas, demonstrou que servir ao ofício nem sempre é um ato de entrega, mas um esforço de recriação das circunstâncias. O trabalho que aliena só pode ser vencido pelo ofício que cria. Fernanda fez de sua carreira a realização dessa verdade. A segunda responsabilidade que a atriz nos convoca a assumir é a dimensão transformadora da cultura. Ela não foi portadora de um grande mérito nato, mas a construtora de uma trajetória. As grandes atrizes são sempre uma composição de dom e personalidade. O que o talento projeta, o esforço em desenvolver a cultura pessoal completa. Não se nasce atriz, torna-se atriz. Sempre com o empenho de muito trabalho, estudo e entrega. A terceira dimensão que Fernanda nos deixa como herança benfazeja é a lucidez permanente do espírito e da crítica frente aos muitos descaminhos da vida da sociedade. Mulher de seu tempo, de todos os tempos, a atriz chega aos 90 anos trazendo na bagagem uma história de coerência, enfrentamentos e olhar sempre marcado pela busca de um mundo melhor a partir de seu ofício. Cada brasileiro tem seu trabalho preferido de Fernanda Montenegro na memória afetiva. É a parte da dádiva de uma atriz tão generosa. Ficamos agora com a missão de honrar seu ofício e sua trajetória de vida na cultura brasileira. Somos, todos os brasileiros, um pouco melhores por causa dela. É a parte da dívida que nos responsabiliza ao compromisso, cada um com seu trabalho, com o palco da vida real.

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conselho editorial minas gerais: Aruanã Leonne, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Helberth Ávila de Souza, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, Jô Moraes, José Guilherme Castro, José Luiz Quadros, Juarez Guimarães, Laísa Campos, Marcelo Almeida, Makota Celinha, Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Rosângela Gomes da Costa, Robson Sávio, Samuel da Silva, Talles Lopes, Titane, Valquíria Assis, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Amélia Gomes, Larissa Costa, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes e Wallace Oliveira. Colaboradores: Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, Fabrício Farias, Izabela Xavier, João Paulo Cunha, Jonathan Hassen, Jordânia Souza, Pedro Rafael Vilela, Renan Santos, Rogério Hilário e Sofia Barbosa. Revisão: Luciana Gonçalves. Administração e distribuição: Paulo Antônio Romano de Mello e Vinícius Moreno Nolasco. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares. Razão social: Associação Henfil Educação e Comunicação


Belo Horizonte, 18 a 24 de outubro de 2019

Crise no PSL

GERAL

Número da Semana

Fábio Rodrigues Pozzebom /Agência Brasil

500 mil

Número de militantes feministas de toda a América Latina e de outras partes do mundo que participaram do 34º Encontro Plurinacional de Mulheres, Lésbicas, Travestis, Pessoas Trans e Não Bináries. O evento aconteceu entre 12 e 14 de outubro na cidade argentina de La Plata, na província de Buenos Aires. Foi a maior edição do evento em suas mais de três décadas de história.

Filme sobre Helena Antipoff Igor Carvalho O líder do PSL na Câmara dos Deputados, Delegado Waldir (GO), chama Jair Bolsonaro de “vagabundo” e afirma que vai “implodi-lo”, em áudio vazado na tarde desta quinta-feira (17). O parlamentar ameaça divulgar uma gravação que comprometeria o presidente. “Vou fazer o seguinte, eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação. Não tem conversa, eu implodo o presidente, cabô, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo” , vociferou o parlamentar. O desabafo de Waldir ocorreu após o presidente tentar tirá-lo da liderança da legenda na Casa. O episódio é mais um nó na infindável crise que coloca em rota de colisão a família Bolsonaro e a cúpula do PSL. O presidente articulou uma manobra para retirar Delegado Waldir da liderança da Câmara dos Deputados e a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), aliada de primeira ordem, da liderança do governo no Congresso. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) chegou a ser nomeado para o posto. Porém, alguns minutos depois, o partido se articulou e Waldir retornou a liderança. A saída de Hasselman da liderança do governo tam-

bém foi decidida pelo próprio Jair Bolsonaro, já que a parlamentar não apoiou o nome de Eduardo como líder do partido. A relação tem piorado desde que Bolsonaro criticou abertamente o presidente do PSL, Luciano Bivar, afirmando que ele estaria “queimado para caramba”. Na última segunda-feira (14), a Polícia Federal, que investiga um esquema de laranjas no PSL, foi até a casa de Bivar em Pernambuco cumprir mandado de busca e apreensão. No fim da tarde de quinta (17), Delegado Waldir declarou que quer “pacificar” a bancada do partido. Ele comparou sua relação com Bolsonaro com a de uma “mulher traída”. “Apanha, não é? Mas mesmo assim ela volta ao aconchego”, disse a jornalistas.

Fundo partidário Apesar da crise, Bolsonaro ainda não decidiu sair da legenda. No centro do impasse está o Fundo Partidário, que reserva R$ 123 milhões ao PSL. No Fundo Eleitoral, de onde as siglas acessam recursos para as campanhas eleitorais, o partido possui outros R$ 245 milhões, que podem variar de acordo com a saída ou chegada de parlamentares.

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O documentário “Entre Mundos Vida e obra de Helena Antipoff” será lançado em BH na próxima quarta (23), no auditório do Centro Universitário Una, Campus Aimorés (1451, Lourdes), às 8h. O evento contará com a presença do diretor Guilherme Reis e da pesquisadora Marilene Almeida, que comentarão a obra. Na quinta (24), o longa será exibido na

CDPHA

Faculdade de Educação da UEMG, às 14h (rua Paraíba, 29, Funcionários). Helena foi uma educadora e psicóloga russa que viveu durante um período em Minas Gerais e trabalhou na educação básica e rural pela reforma do ensino, que utilizava métodos inspirados na psicologia e pregava a autonomia dos alunos e o respeito às diferenças. Reprodução

Declaração da Semana Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”

Paulo Freire, em “Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos”.


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CIDADES

Belo Horizonte, 18 a 24 de outubro de 2019

Mais uma vez, mídia condena sem provas CASO MAGNUM Polícia Civil inocentou um trabalhador acusado de abuso Reprodução

Amélia Gomes

N

as últimas semanas, o suposto caso de abuso de uma criança de 3 anos tomou conta do noticiário. No dia 2 de outubro, a mãe de um aluno do Colégio Magnum, em Belo Horizonte, procurou a polícia para registrar um Boletim de Ocorrência contra um trabalhador da instituição. Em seguida, outras denúncias contra o trabalhador também foram apresentadas. Ao todo, sete boletins foram registrados. Todos apontando para um mesmo suspeito: o ajudante de professor Hudson Nunes de Freitas, de 22 anos. Em duas semanas, os veículos da mídia comercial mineira divulgaram o caso

Cartazes colocados por estudantes em frente ao colégio

endossando a conclusão de que o ajudante não seria um suspeito, mas o culpado das acusações. Na quinta (17), após uma intensa investigação, a Polícia Civil suspendeu as acusações contra o rapaz e decidiu pelo não indiciamento do suspeito por falta de provas. Ao todo mais de 41 pes-

soas foram ouvidas, inclusive as crianças envolvidas no caso. Além dos depoimentos, as investigações também contaram com vídeos de segurança da escola, a perícia no celular do suspeito e diversos exames. A equipe multidisciplinar da Polícia Civil concluiu ainda que as outras crian-

ças envolvidas no caso provavelmente foram influenciadas em seus depoimentos por conversas entre os pais e principalmente pela cobertura midiática do caso. A Polícia Civil afirma ainda que nunca expôs o nome do investigado, nem mesmo da instituição de ensino ou das supostas vítimas Na avaliação de Lina Rocha, diretora do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, a condenação prévia da mídia desnuda a falsa imparcialidade pregada pelos veículos de comunicação “Esse tipo de abordagem é totalmente exploratória da mazela humana. O papel ético da imprensa tem que ficar muito bem definido, porque de uma forma ou de outra so-

mos condutores do ponto de vista da população”, ressalta. Escola Base Essa não é a primeira vez que a busca irresponsável por audiência assola a vida de inocentes. Em 1994, quatro pessoas que trabalhavam na Escola Base, instituição de ensino privada, em São Paulo, foram acusados de cometer abusos sexuais contra crianças. Por causa da repercussão da mídia, a Escola Base teve que fechar as portas. No ano seguinte, em 1995, os quatro acusados entraram com processos contra diversos meios de comunicação, como a Folha de S. Paulo e a Rede Globo, por danos morais.

A reforma da Previdência significa O FIM da Previdência Pública no Brasil O Brasil demorou séculos para construir a Previdência Social. O passado sem a previdência era esmola, miséria e desamparo. O que o futuro reserva para a família brasileira? Se a Reforma da Previdência passar não vai restar muita coisa, não! O que o governo chama de “nova previdência”, “necessária” vai é “destruir” a seguridade social que lutamos tanto pra conquistar. Perdem todos! Todos vão pagar mais, trabalhar mais e quando conseguirem se aposentar, vão receber menos. E PIOR, ano após ano, o teto da idade vai aumentar e o sonho da aposentadoria vai ficando mais distante. Diga não à reforma da Previdência!

Veja o que o economista, Eduardo Moreira disse sobre a reforma

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BRASIL

Belo Horizonte, 18 a 24 de outubro de 2019

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1% dos brasileiros ganham 34 vezes mais do que 50% da população DESIGUALDADE Pesquisa divulgada pelo IBGE mostra aumento da distância entre mais ricos e mais pobres Fernando Frazão / Agência Brasil

Da redação

A

remuneração do 1% da população que ganha em média R$ 27.744 por mês - normalmente executivos de grandes empresas - é 34 vezes maior do que o rendimento da metade da população brasileira, os trabalhadores que vivem com a média de R$ 820 mensais. Os números constam da Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc) 2018 divulgada nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A diferença entre o topo e a base, segundo o IBGE, é a mais

alta da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. A distância salarial vinha caindo até 2013, ficando es-

tável em 2016. Essa tendência foi revertida a partir de 2017, se alargando em 2018. A desigualdade aumenta

quando o rendimento real do trabalho dos mais pobres cai ou sobe menos do que o dos mais ricos, o que tem acontecido nos últimos anos. Metade dos brasileiros vive com menos de um salário mínimo A pesquisa também mostra que os 10% mais pobres ficam com apenas 0,8% de toda a massa de salários do país, enquanto os 10% mais ricos concentram 43,1%. Com isso, o Índice de Gini, que mede a concentração de renda, subiu de 0,537 para 0,545, levando em consideração todas as rendas das famílias (trabalho, apo-

Carlos Eloy

Ex-presidente da Cemig

Aloísio Vasconcelos Ex-diretor da Cemig e expresidente da Eletrobras

/SINDIELETRO

sentadoria, pensões, aluguéis, Bolsa Família e outros benefícios sociais). Esse é o maior Gini desde 2012, ano em que foi publicada a primeira pesquisa. Nessa base de dados, quanto mais próximo de 1, pior.

A distância salarial vinha caindo até 2013. Essa tendência foi revertida a partir de 2017, aumentando em 2018 ANÚNCIO


14 CIDADES 14

Belo Horizonte, 18 a 24 de outubro de 2019

As pessoas que cuidam de BH (e de você!) TRABALHO INVISÍVEL Histórias e números que vão mudar a sua visão sobre os servidores públicos Rafaella Dotta

T

empo vai e tempo vem, em crises ou na época de vacas gordas, há trabalhadores que estão sempre cuidando do nosso dia a dia. O Brasil de Fato MG foi procurar quem são e como é o trabalho dos servidores públicos de Belo Horizonte. Descobrimos pessoas por detrás dos semáforos, das grandes panelas dos restaurantes populares, na reciclagem, na educação e até no aquário municipal. fotos: Rafaella Dotta / Brasil de Fato MG

GERSON COZINHA PARA 3 MIL PESSOAS Os Restaurantes Populares da Prefeitura de BH atendem cerca de 5 mil pessoas por dia, com refeições a preços populares. R$ 0,70 o café da manhã, R$ 3 o almoço, R$ 1,50 a janta, e todas gratuitas para quem é cadastrado na assistência social. Mas quem é o coração desse projeto? Gerson Jaime Guimarães é um dos cozinheiros que comandam as enormes panelas de 350 litros no Restaurante Popular I, o Hebert de Souza, que fica no Centro. Todos os dias Gerson entra às 6h30 para começar o preparo do almoço. Além de coordenar os auxiliares, a cada semana faz uma tarefa diferente: pica, faz salada, guarnição ou a carne. “O que eu mais gosto de fazer é a feijoada, dobradinha, pescoço de peru... As comidas que dão mais trabalho são as que mais me dão prazer”, comenta. E o que Gerson gostaria que as pessoas soubessem? “O quanto eu gosto de trabalhar aqui. Quando eu saio de casa de manhã, eu posso estar cansado, mas venho com vontade de fazer. Cozinho para quase 2 mil pessoas como se estivesse cozinhando para cinco amigos em casa. Eu tenho amor em cozinhar”.

PERDIGÃO TRANSFORMA O ENTULHO Há 28 anos, Reginaldo Perdigão trabalha na coleta de resíduos. Hoje, o seu local de trabalho é bem distante: quilômetro 531 da BR 040, onde funciona a Central de Tratamento de Resíduos sólidos. Perdigão é a pessoa que, junto com os colegas, faz a triagem dos entulhos que são jogados no lixo pelos cidadãos. “Eu retiro a impureza do entulho. Retiro plástico, faca, prego, o que vier eu recebo. Eu faço a triagem para o material ser processado”, conta. O trabalho de Perdigão é uma reciclagem. Depois da triagem, o entulho entra no britador e sai como bica corrida, rachão, brita 1, brita 0 e areia, que são usados em construção, pavimentação de estradas e de viadutos. Os trabalhadores da central se orgulham de esses materiais serem “melhores que os comprados”. E se Perdigão pudesse mudar alguma coisa, o que mudaria? “O salário. Não só para mim, mas também para os meus amigos de trabalho, para os meus chefes. A minha profissão e todos os amigos que trabalham na superintendência de limpeza urbana têm um salário muito desvalorizado”, lamenta Perdigão.

JOZI CUIDA DO TRÂNSITO Joziane Tulher é servidora pública há 21 anos, e desde 2015 assiste o trânsito de BH por um computador e uma tela de cinema enorme. Ela e seus colegas que mudam o tempo dos semáforos, mandam equipes de fiscalização para a rua e organizam o trânsito. Você achava que o trânsito era espontâneo? Não, ele é vigiado por meio de câmeras em uma sala cheia de pessoas, a Central de Operação da Prefeitura (COP), na BHTrans. A COP trabalha intensamente, conta Joziane, supervisora da Gerência de Integração e Operação de Tráfego. “No horário de pico é muito puxado. Não podemos tirar os olhos das câmeras para ajustar os semáforos e atender às solicitações dos usuários”, explica. E se existisse um gênio da lâmpada do trabalho, que pedido Joziane faria? “Eu gostaria que as pessoas entendessem melhor o que as instituições públicas fazem. A gente trabalha 24 horas, incansavelmente, sábados, domingos, Natal... e as pessoas não têm ideia. Acham que servidor público tem ‘vida boa’. É importante que lembrem que tem gente por trás trabalhando em função de fazê-la chegar [ao destino final]”.


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CIDADES

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Brasil tem poucos funcionários públicos É

costume criticar que nosso país tem o “maior número de funcionários públicos do mundo”. Porém, a afirmação não é verdadeira. Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que os países mais ricos do planeta são os que mais possuem funcionários públicos, e o Brasil não é um deles. A Noruega, a Dinamarca e a Suécia lideram a lista, e possuem uma quantidade de servidores que chega a quase 30% do número de habitantes. Canadá e Grécia possuem 18%, enquanto Estados Unidos empregam 15% de servidores. Já o Brasil possui apenas 5,5% de servidores públicos em relação à sua população, segundo o Atlas do Estado Brasileiro. Mas os países ricos não são contra os servidores públicos? Para a professora da UFMG e advogada de direito público Maria Tereza Fonseca Dias, é preciso analisar a função de cada modelo de Estado. Os países de bem-estar social (preocupados com o bem-estar de toda a população) têm mais serviços públicos, enquanto os países liberais (que deixam os serviços essenciais nas mãos de empresas) investem em atividades regulatórias e fiscalização. O que os liberais pregam, assim, não seria a extinção dos funcionários, mas sim que eles cumpram outras funções.

Salário

No caso do Brasil, “comparando dados, a gente conclui que não existe excesso de servidores. Considerando o modelo de Estado que está na nossa Constituição Federal, o que é preciso desenvolver, nós temos uma força de trabalho dentro de uma expectativa condizente”, avalia Maria Tereza. Já Israel Arimar, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos e Empregados Públicos de Belo Horizonte (Sindibel), é enfático em dizer que há número excessivo de funcionários em cargos de confiança, cargos burocráticos e no legislativo, enquanto faltam em áreas de saúde e educação. Ele classifica isso como uma “má distribuição” de pessoal.

O servidor municipal recebe em média

R$2000

“Veja em uma UPA: o sindicato não consegue nem fazer reunião com os trabalhadores porque eles não têm 15 minutos para se ausentar, por

conta do volume de trabalho”, exemplifica. Na opinião do presidente do sindicato, a ideia de que o país tem muitos servidores é um mito.

Brasil tem apenas

[ 5,5% [ DE SERVIDORES PÚBLICOS EM RELAÇÃO À POPULAÇÃO TOTAL

Outra desigualdade levantada por Israel é quanto ao salário. “Alguns setores ganham muito bem, como o pessoal que trabalha no Judiciário. Tem juiz que recebe R$ 500 mil no contracheque. 60 procuradores e 100 fiscais de tributos recebem acima do teto (R$ 24.700). Porém, temos 4 mil ACEs e ACSs que recebem até R$ 1.300. A média de salário do servidor municipal em Belo Horizonte é R$ 2.000, e ainda se descontam a previdência e o vale transporte”, pondera.

Números em Belo Horizonte Na capital mineira existem hoje 46.806 agentes públicos municipais. Do ano 2000 até hoje houve um aumento de 179%. A Prefeitura afirma que, em novembro, irá colocar em prática um novo método de avaliação dos funcionários públicos, que será online e irá analisar os pontos fortes e fracos de cada servidor. ANÚNCIO


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Belo Horizonte, 18 a 24 de outubro de 2019

ESPORTES

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Daniel Brasil

DECLARAÇÃO DA SEMANA

Próxima Libertadores será decidida no Maraca Justo quando vai completar 70 anos, o Estádio do Maracanã vai receber a grande decisão, em jogo único, da Copa Libertadores 2020. A sede foi escolhida na última reunião do Conselho da

Conmebol na sede da entidade, no Paraguai. O Maraca concorreu com a Arena Corinthians, Arena do Grêmio, Beira-Rio, Mineirão, Morumbi, Estádio Nacional de Lima e o argentino Mário Kempes.

O jogo deve acontecer no dia 21 de novembro de 2020. Dificilmente essa decisão no Brasil terá algum time mineiro, já que Cruzeiro e Atlético estão distantes do G4 e lutam contra o rebaixamento.

“Não deveria ter repercussão grande dois treinadores negros na área técnica, depois de serem protagonistas em campo. Essa é a prova de que existe o preconceito, porque é algo que chama atenção” Roger Machado, técnico do Bahia, que deu uma aula sobre racismo estrutural na coletiva de imprensa após a partida contra o Fluminense, no último sábado (12).

Gol de placa O técnico do Bahia, Roger Machado, deu uma senhora aula sobre o racismo no Brasil, após a derrota de seu time para o Fluminense, no Maracanã, sábado (12). “Negar e silenciar é confirmar o racismo”, afirmou. Vale assistir!

Gol contra Na Bulgária, torcedores gritaram frases racistas e fizeram saudações nazistas, em jogo de sua seleção contra a Inglaterra. Em Fortaleza, o radialista Daniel Campelo, da Jovem Pan, disse: “Não acho uma boa ter mulheres na arbitragem. Mulher deve tomar conta da casa, dos filhos e do marido”.

Confiança lá em cima

Tudo bem, no ano que vem

Há esperança

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Fabrício Farias

Faltando nove rodadas para o fim da Série B, duas vagas no G4 praticamente já foram carimbadas por Bragantino e Sport. Porém, a disputa pelas duas restantes ainda está bem aberta. O América é um dos favoritos nessa briga, junto com Coritiba, AtlétiDecacampeão co-GO e Paraná. Para alcançar 60 pontos e ter 90% de chance de acesso, o Coelho precisa de mais 16 pontos, ou seja, cinco vitórias e um empate. Se vencer as quatro partidas que fará em casa, terá que ganhar uma e empatar outra fora de casa. Se olharmos o retrospecto do América nos últimos 20 jogos, esse feito é algo plenamente possível. O time segue atuando de modo seguro, competitivo e eficiente, além de estar com a confiança lá no alto.

O Atlético vive uma estratégia camicase. Busca em Vagner Macini a salvação de um ano perdido. O ideal seria iniciar um planejamento para 2020, pois buscar uma vaga na Libertadores é perda de tempo com o elenco atual. Renovação e reformulação são urgentes. E pouÉ Galo co se pode esperar do doido! novo treinador, mais um franco-atirador. O Atlético vive sempre no limite. Aprendemos isto quando abraçamos a causa alvinegra. À semelhança de ser brasileiro na atual e em outras conjunturas, sob a égide de um sistema cruel. Só nos resta acreditar, nem que seja um pouco, na capacidade do novo comandante atleticano de superar os revezes. E apostar num futuro próximo melhor. Ou seja, tudo bem no ano que vem.

Salve, nação celeste! Desta vez, não teve VAR no fim do jogo para nos tirar três pontos. Contra um adversário que costuma dar trabalho, finalmente saiu a vitória de que tanto precisávamos. A batalha ainda é longa. Com todas críticas Negra que podemos faLaas Bestia zer a Thiago Neves, nos jogos em que realmente precisamos, ele não costuma falhar. O cabuloso, mesmo sem ser brilhante, soube buscar o resultado. Sábado (19), vamos a São Paulo enfrentar um adversário que também não está no seu melhor momento. Contra o Corinthians, precisaremos de ainda mais empenho e dedicação. Se sairmos de lá com mais três pontos, a injeção de ânimo será grande e seguiremos firmes no nosso objetivo. Saudações cheias de esperança!

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