Samuel Macedo
Rola Moça ameaçado
Mourão Panda / América
Mineiros em campo
Justiça barra provisoriamente mineração no parque, que colocaria em risco o abastecimento de água da RMBH
Felipão reestreia no Mineirão pelo Cruzeiro. América vai a Santa Catarina lutar pela liderança. Galo só joga segunda-feira (2)
CIDADES 4
ESPORTE 16
MG Minas Gerais
30 de outubro a 5 de novembro • edição 327 • brasildefatomg.com.br • distribuição gratuita Vinícius Denadai
5 anos sem reparação . Atingidas relatam o impacto do crime continuado em suas vidas . Após cinco anos, atingidos em Mariana continuam sem suas casas . Justiça tarda e falha. Fundação das mineradoras determina as indenizações
Após muita pressão popular e política, Bolsonaro recua de privatização do SUS BRASIL 6
STF suspende medidas de Salles que flexibilizam proteção de manguezais e restingas BRASIL 11
Reforma administrativa legaliza a precarização dos serviços públicos BRASIL 11
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OPINIÃO
Belo Horizonte, 30 de outubro a 5 de novembro de 2020
Maior o amor, menor a dor João Paulo Cunha Frei Betto está de quarentena. Ele faz parte do grupo de risco. Não pelos 76 anos bem vividos. Tem uma saúde íntegra, de corpo e alma, fruto de seus cuidados e método que aprendeu com exercícios dos místicos. O risco que corre é em função de amar demais. O amor salva, mas também cobra
ESPAÇO DOS LEITORES
“Muitas pessoas estão iludidas ainda pelas ideias retrógradas do Bozo e da política do atraso deste desgoverno” Alexandre Dias Soares comenta o artigo “O futuro não está pronto”, de João Paulo Cunha. -“Viva o coletivo Alvorada BH! Viva Lula” Vânia Morais Andrade comenta postagem sobre o ato do coletivo Alvorada, que estendeu uma faixa no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro na terça (27), pedindo que o STF anule a sentença de Lula. -Meu Deus! Região investida por apoiadores do desgoverno e ruralistas. Tentam enfraquecer o MST. Absurdo. A Europa apoia a produção orgânica, doméstica e familiar. Aqui, certa parte da sociedade, que se acha civilizada, promove a barbárie. Tristeza. Cadê MP, o poder Judiciário, a Polícia Civil? Erica Soares Leal, sobre o assassinato de Ênio Pasqualin, liderança do MST do Paraná, que foi encontrado no domingo (25) com sinais de execução.
Escreva pra gente também: redacaomg@brasildefato.com.br ou em facebook.com/brasildefatomg
Há um pouco de tudo nas páginas do diário, da reflexão filosófica à análise política seu quinhão de necessidade de zelo em razão da sensibilidade à flor da pele, da empatia com as dores dos irmãos (inclusive o irmão sol, a irmã lua e a Mãe-Terra) e da missão irrevogável de trabalhar para combater as injustiças e melhorar o mundo. O novo livro de Frei Betto, Diário de quarentena – 90 dias em fragmentos evocativos, é um registro desse momento único na vida da humanidade, do planeta e do nosso combalido tempo, que ele nomeia de “capitaloceno”, com sua incitação inumana ao consumo. Com ele, o escritor se aproxima da incrível marca dos 70 títulos (sem contar as obras em colaboração), numa trajetória literária que reúne contos, cartas, romances, reportagens, entrevistas, ensaios, cartilhas e orações. O Diário de certa maneira é uma síntese dessas formas de expressão experimentadas por Frei Betto ao longo dos anos e de suas dezenas de livros. Cronologicamente esticado en-
O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.
tre 18 de março e 16 de junho de 2020, como um varal sobre os dias da pandemia, cada entrada oferece ao leitor uma expressão singular, do registro estrito ao pequeno conto, do lirismo à evocação mística, da tentativa de futurologia desencantada à retomada da memória. Diverso como a vida. Em seu novo livro, a pandemia parece herdar, na incompetência de seu combate por parte do governo federal, alguns indicadores da injustiça social que estão na base dos dois momentos. Em alguns momentos, fala diretamente da doença, do número de casos e mortes, da dor dos doentes, do medo do contágio, da angústia frente ao futuro e da perda das pessoas amadas. Em outros, retoma lembranças evocadas pela situação, como os bastidores da agonia do presidente Tancredo Neves, os albores da militância política, a experiência de uma viagem à União Soviética e a visita a um campo de concentração. Declara, em par-
Benditos os que têm fome de si e mergulham fundo no âmago do ser ceria com o Criador, seu amor a Chico Buarque. Em alguns momentos de sua obra e de suas orações, os dois caminhos parecem se juntar na mesma via, a um só tempo contemplativa e ativa. “Benditosw os que têm fome de si e mergulham fundo no âmago do ser, arrancam dissabores do paladar medíocre, fartos das migalhas caídas da mesa de Narciso”.
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conselho editorial minas gerais: Aruanã Leonne, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Ênio Bohnenberger, Felipe Pinheiro, Frederico Santana Rick, Helberth Ávila de Souza, Jairo Nogueira Filho, Jefferson Leandro, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, Jô Moraes, José Guilherme Castro, José Luiz Quadros, Juarez Guimarães, Laísa Campos, Marcelo Almeida, Makota Celinha, Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Robson Sávio, Rogério Correia, Samuel da Silva, Talles Lopes, Titane, Valquíria Assis, Wagner Xavier. Redação: Amélia Gomes, Bruna Bentes , Larissa Costa, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes e Wallace Oliveira. Colaboradores: Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, Fabrício Farias, Izabela Xavier, João Paulo Cunha, Jonathan Hassen, Jordânia Souza, Pedro Rafael Vilela, Renan Santos, Rogério Hilário, Sofia Barbosa e Z Carota. Revisão: Luciana Gonçalves. Administração e distribuição: Paulo Antônio Romano de Mello e Vinícius Moreno Nolasco. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 20 mil exemplares. Razão social: Associação Henfil Educação e Comunicação
Belo Horizonte, 30 de outubro a 5 de novembro de 2020 Divulgação
Declaração da Semana Tentar privatizar o SUS é grave demais! Dentre outras coisas, é tirar o direito de tratamentos gratuitos aos que não têm recursos. Vamos defender o que é nosso. Vamos defender o que funciona e é modelo de saúde, mesmo que precise melhorar. Chega!
GERAL
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Número da Semana 86,5 mil
postos de trabalho para jovens aprendizes deixaram de ser abertos no Brasil entre abril e agosto deste ano. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Perdeu a carteirinha do SUS?
Ludmilla, pelo Twitter.
O Conecte SUS é uma plataforma, desenvolvida pelo Ministério da Saúde, que permita que cidadãos, profissionais e gestores da saúde tenham acesso a informações sobre histórico médico, atendimentos realizados, caderneta de vacinas e medicamentos disponibilizados pelo SUS. O aplicativo também permite que a população possa acessar uma versão virtual da carteirinha utilizada em toda a rede do SUS. O endereço é conectesus.saude.gov.br e o aplicativo pode ser baixado no celular, é só buscar na Play Store e App Store.
31 de outubro é Dia do Saci
Mas quem é o Saci? Segundo a descrição da Cecília Scapim, de 8 anos, ele é um menino negro que usa um gorro vermelho e vive aprontando por aí. Corajoso, vive no meio da mata e adora pregar peças nos caçadores e fazendeiros. Mas por que ele tem uma perna só? Diz a lenda, que Saci foi escravizado e teve sua perna presa para não fugir. Em busca de sua liberdade, ele corta a própria perna para escapar. Por isso, o Saci Pererê não é só mais um personagem do folclore brasileiro, ele também é símbolo da força e da liberdade do povo preto. Ouça mais sobre o Saci no Radinho BdF, em brasildefato.com.br.
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CIDADES
Belo Horizonte, 30 de outubro a 5 de novembro de 2020
Decisão para minerar na Serra do Rola Moça é adiada AMEAÇA Justiça barrou temporariamente processo no Copam que poderia autorizar mineração colocando em risco o abastecimento de água da RMBH Tiago Degaspari / wikimedia commons
Marcelo Gomes
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a terça-feira (27/10), o Tribunal de Justiça de Minas (TJMG) barrou um processo no Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), que iria autorizar ou não a mineração na Serra do Rola Moça. A decisão monocrática é da juíza Cláudia Costa Cruz Teixeira Fontes. Ela decidiu em resposta a uma provocação de cidadãos contrários à instalação de atividades minerárias na Unidade de Conservação que podem acarretar no desabastecimento de água da capital. A decisão da magistrada pode ser revista em instâncias superiores da justiça estadual.
Requerimento para minerar no Rola Moça No Copam, o requerimento para minerar no Rola Moça chegou em 25 de setembro. Embora este ano tenha se intensificado, a pretensão da mineradora na Serra do Rola
Parque do Rola Moça é o terceiro maior parque em zona urbana do país
Moça é antiga. Tudo começou quando a empresa Extrativa Paraopeba abandonou a Mina de Casa Branca em 2001. Os direitos de exploração minerário destinnaram-se à MGB. O Ministério Público Estadual (MPMG) desde então se esforça no Judiciário para barrar a mineração na serra. Atualmente, tramita no Tribunal de Justiça de Minas uma ação movida em 2018, em que ONGs, como a Ecoavis, pede o impedimento de qualquer atividade sobre o parque do Rola Moça. Essa ação não tem relação com a que foi deferidana terça. A petição dessas organizações foi gerada após a MGB
naquele ano ter conseguido a permissão do Copam para minerar, o que não ocorreu. Por decisão monocrática em fevereiro de 2019, a juíza Renata Bomfim Pacheco decidiu anular a anuência do órgão estadual. Segundo a magistrada, “o princípio da prevenção é balizador no direito ambiental. A finalidade é evitar que o dano chegue a ser produzido”, disse. O pedido da MGB pôde retornar à pauta do Copam este ano porque o veredito de Renata Bomfim não foi em caráter definitivo. De modo geral, a decisão desta terça se assemelha à concedida anteriormente.
Risco ao meio ambiente e ao abastecimento de água Samuel Macedo
O maior risco que as atividades minerárias representam na Serra seriam os impactos sobre as nascentes de água lá localizadas. Naquela região, considerada o terceiro maior parque em zona urbana do país, encontra-se a maior parte das nascentes de rios e ribeirões abastecedores de Belo Horizonte. A região do Barreiro, por exemplo, segundo o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), é toda abaste-
Na região encontra-se a maior parte das nascentes de rios e ribeirões abastecedores de BH
Copam: maioria pró mineração
cida graças às nascentes do Rola Moça. O parque estadual do Rola Moça atua como uma “caixa de água”. E das grandes. A área do Rola Moça acumula bilhões de litros de água, as quais poderiam secar ou não aflorar no terreno mediante os impactos da mineração. “Em área de preser-
vação a mineração não pode existir. A gente não pode começar a abrir precedente para isso”, opinou Julio Grilho. A reportagem não conseguiu entrar em contato com a empresa pelos telefones encontrados na internet. Também não conseguimos encontrar emails.
Os movimentos sociais estavam apreensivos com a reunião do Copam da tarde desta terça. Havia uma grande chance de a solicitação da MGB sair exitosa. Isso porque na Câmara de Atividades Minerárias (CMI) do órgão, onde são decididos processos similares ao do Rola Moça, existem 14 conselheiros, sendo que oito são do governo e representantes do setor econômico. Portanto, a palavra final lhes pertence. A sociedade tem apenas um representante. Foi essa Câmara que autorizou em 2018 o aumento da barragem que mais tarde se rompeu matando ao menos 270 pessoas em Brumadinho, em janeiro de 2019. Foi também esse colegiado do Copam que praticamente “rasgou” o novo marco da mineração no estado, aprovado depois da tragédia-crime no município. No final do ano passado, o Copam promoveu uma reunião para decidir sobre o pedido da mineradora Anglo American para aumentar sua barragem em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, cidades da região Central mineira. Esse pedido não deveria sequer constar na pauta do colegiado, uma vez que fere o novo Marco da Mineração. Mas com apoio do governo, a empresa poderá seguir com seus planos.
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MINAS
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Em iniciativa inédita, Vespasiano (MG) tem candidatura coletiva para prefeitura ELEIÇÕES Formada por cinco pessoas, o objetivo é repensar a política tradicional e aumentar a participação popular Divulgação
res, pelo professor Ronaldo Izzi, por Cássia, que é psicóloga, por Angelina Pereira, que é do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e pela professo-
Com uma população de quase 130 mil habitantes, Vespasiano conta com sete candidaturas para a prefeitura
ra Beatriz. “A ideia da candidatura compartilhada é ter mais pessoas dentro do governo, ser mais povo dentro do governo, ser governo mais no meio do povo”, ressalta Edinaldo. A cidade Com uma população de quase 130 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Vespasiano conta com sete candidaturas para a prefeitura. Além do coletivo CreSer, que sai pelo PT, há candidatos do PSOL, PSB, PSD, Republicanos, MDB e PSDB. ANÚNCIO
Larissa Costa
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cidade de Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), vive algo que parece inédito no país. Uma candidatura compartilhada para o executivo, formada pelo coletivo CrerSer, que reúne um candidato a prefeito, outro a vice-prefeito – que são os nomes oficiais inscritos no Tribunal Regional Eleitoral – e mais três coprefeitas. Para Edinaldo Soares, que faz parte do coletivo, o tipo de governo tradicional não atende à demanda popular e aos anseios da população. “Eles governam de acordo com suas vontades e seu grupo político. Podem até fazer um pouco do que o plano de governo propõe, mas isso não chega decisivamente na vida das pessoas, porque elas não participam da vida política depois que passa a eleição”, afirma.
O coletivo CreSer é formado por um advogado, um professor, uma psicóloga e uma professora O CreSer, segundo Cássia Oliveira, que também faz parte da candidatura, é um chamado à população para debater a participação popular, de modo que a população da cidade se engaje na construção da política municipal. “O coletivo, como são vários perfis [de candidatos], se aproxima mais das pessoas. E isso atrai e estimula a participação. Tá todo mundo curioso por esse formato, o povo quer conhecer, quer que a gente explique como pode funcionar. E isso resgata o sentido de fazer política, que é do coletivo para o coletivo”, comenta. A candidatura é formada pelo advogado Edinaldo Soa-
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BRASIL
Belo Horizonte, 30 de outubro a 5 de novembro de 2020
Após rejeição geral, Bolsonaro revoga seu decreto que possibilitava privatizar SUS DIREITOS Medida incluía unidades básicas de saúde em programa de privatização Marcello Casal Jr. / Agência Brasil
Cristiane Sampaio
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pós intensas críticas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recuou e revogou, na quarta (28), o Decreto 10.530, que inseria a rede de atenção primária à saúde entre as parcerias com a iniciativa privada. Editado na terça (27), o texto vinha sofrendo uma ampla rejeição que atingiu diferentes espectros políticos, da esquerda à extrema direita. Na prática, o decreto sedimentava o caminho para que as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) pudessem ser privatizadas. Ex-ministros da Saúde estão entre os que rechaçaram a medida do presidente. “Sem explicar do que se trata, é um tiro no escuro”, dis-
se o ex-ministro de Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta (DEM). “Não vamos permitir que Bolsonaro faça isso. Vamos defender o SUS. Bolsonaro não sabe o que é o SUS, nem ministro da Saúde o Brasil tem. Proteger o SUS
é dever de todo cidadão deste país”, disse o senador e ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT-PE). SUS atende 150 milhões de pessoas Integrante do PSL, partido
de extrema direita que elegeu Bolsonaro, o deputado federal Junior Bozzella (SP) criticou. “Publicar na surdina, em meio à pandemia, um decreto que faça qualquer tipo de aceno à privatização do Sistema Único de Saúde é apunhalar mais de 150 milhões de brasileiros pelas costas na
Um sistema privado só pensaria no lucro hora em que mais precisam”. Já o senador Paulo Paim (PT-RS) disse ser “inacreditável que o governo queira privatizar o SUS” e qualificou a medida de irresponsável. “O
Brasil precisa fortalecer o serviço público de saúde. Cerca de 150 milhões de pessoas dependem dele, principalmente os pobres”. A ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) também reagiu, “Bolsonaro e Guedes cometem um atentado contra a população e contra a Constituição. O Congresso não pode aceitar esta violação constitucional”. “Não podemos deixar isso acontecer. Um sistema privado nunca iria se preocupar em criar políticas públicas de saúde, só pensaria no lucro. O SUS é o maior programa de distribuição de renda do mundo”, publicou a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES).
Vitória do Sind-UTE/MG em defesa da vida! Supremo Tribunal Federal (STF) nega pedido do governo de Minas e mantém liminar que suspende o retorno das aulas presenciais na Rede Estadual de Educação.
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Vinícius Denadai
especial
Minas Gerais
MG Belo Horizonte • novembro • edição especial
5 anos sem reparação . Atingidas relatam o impacto do crime continuado em suas vidas . Após cinco anos, atingidos em Mariana continuam sem suas casas . Justiça tarda e falha. Fundação das mineradoras determina as indenizações
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ESPECIAL
Belo Horizonte, novembro de 2020
Em cinco anos, história do crime da Samarco é marcada pela injustiça PODER Procuradores, advogados e movimentos denunciam atuação do Judiciário favorável às mineradoras Nívea Magno/ Mídia Ninja
Wallace Oliveira
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inco anos após o rompimento da barragem de Fundão, pertencente à Samarco, Vale e BHP, atingidos seguem sem reparação. Essa é a avaliação de atingidos e figuras públicas das instituições de Justiça de toda a Bacia do Rio Doce. “Absolutamente nenhum grupo, sejam eles agricultores, lavadeiras, artesãos, pescadores, pequenos comerciantes, foi integralmente indenizado. O ambiente também não foi recuperado. Os reassentamentos das vilas não aconteceram, casas trincadas não foram consertadas, o auxílio para pessoas que pararam de trabalhar foi suspenso em plena pandemia”, avaliou Silmara Cristina Goulart, coordenadora da Força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) para o caso do Rio Doce. Parcialidade e conflitos de interesses Atingidos, movimentos e profissionais do direito apontam que o Judiciário tem uma atuação francamente favorável à mineradora. Os casos são conduzidos na 12ª Vara Federal de BH pelo juiz substituto Mário de Paula Franco Júnior. Segundo os movimentos, um dos problemas é o conflito de interesses. Por exemplo, a mesma empresa que faz perícias para o juiz já realizou estudos a serviço da Fundação Renova, uma organização controlada pelas mineradoras. Em outra situação, uma liminar autorizou a Samarco a descontar os valores de auxílios emergenciais das
Se esses processos fossem coisa boa, não estariam sendo feitos de maneira oculta
indenizações finais que seriam pagas às vítimas. A decisão depois foi derrubada pelo Tribunal Regional Federal (TRF-1). Em uma audiência em 2016, o juiz teria se referido às vítimas como oportunistas, interessadas em enriquecer com o caso. Segundo o MAB, o magistrado também resiste a implementar as assessorias técnicas, um corpo de profissionais escolhido com aval dos atingidos, previsto em um acordo que as próprias empresas assinaram em 2016. “As assessorias são quem tem estrutura para garantir que os atingidos de todas as categorias participem do processo”, argumenta Thiago
Absolutamente nenhum grupo, sejam eles agricultores, lavadeiras, artesãos, pescadores, pequenos comerciantes, foi integralmente indenizado”, afirma MPF
Alves, do movimento. Thiago ressalta que o problema vai além da atuação de apenas um indivíduo. “Existe uma espécie de acordo entre a mineradora, o governo federal, o Supremo Tribunal Federal e o Conselho Nacional de Justiça para garantir que as coisas sejam assim”, denuncia. O procurador Edilson Vitorelli avalia que a não contratação das assessorias dificulta a reparação. “Como as assessorias não foram contratadas, muitos programas não foram executados, as pessoas não foram devidamente atendidas. Vencido o prazo, o Ministério Público fez uma petição dizendo que queríamos a retomada de uma ação de R$ 150 bilhões. Essa petição foi feita há algumas semanas e, até agora, não foi decidida pelo juiz da 12ª Vara Federal em BH”, recorda. Acordo pelo alto, sem participação Em 2016, um Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) firmado entre a Samarco, a União e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo, estabeleceu os programas de reparação, que seriam executados pela Fundação Renova, uma entidade privada
A Renova é um escudo que protege as mineradoras que se apresenta como figura neutra, mas está sob controle das mineradoras. “A Renova é um escudo que protege as mineradoras, do ponto de vista formal, administrativo, jurídico, mas também é um escudo de publicidade. Por meio dela, as mineradoras controlam um orçamento bilionário e a agenda financeira das cidades”, aponta Thiago Alves. De acordo com advogados, os critérios para identificar quem são os atingidos e aferir perdas e direitos de cada família não tomam como base nenhuma matriz de danos construída pelas comunidades, mas a visão da própria Renova. Vitória permitida De acordo com o MPF, no final de julho de 2020, o juiz da 12ª Vara estabeleceu 13 novos processos, desmembrados do processo prin-
cipal, sendo que nove foram mantidos em segredo de Justiça. “Se esses processos fossem coisa boa para os atingidos, não estariam sendo feitos de maneira oculta”, alerta Edilson Vitorelli. Nos outros três, o Ministério Público descobriu que foi fixada uma matriz de danos de comissões, com um critério aleatório, utilizando dados que não foram discutidos nos próprios processos. “Há uma decisão que define quantas lavadeiras vão receber, quantos areeiros vão receber, quantos pescadores vão receber e nós não sabemos de onde vêm esses números. Advogados ganham esses processos porque eles obtêm uma matriz de danos que diz quantos atingidos têm que receber. Essa vitória combinada gerou uma matriz que é prejudicial aos atingidos”, denuncia o procurador. Política de atingidos De acordo com o MAB, a reparação também é dificultada pela ausência de uma lei específica para os atingidos por barragens, tanto em âmbito estadual quanto federal. Na ALMG, tramita um projeto dessa natureza (PL 1200/2015), que vai a Plenário para votação final. No âmbito federal, a Câmara aprovou o Projeto de Lei 2788/2019, que está parado no Senado.
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ESPECIAL
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Após cinco anos, atingidos em Mariana continuam sem suas casas CRIME SAMARCO/VALE/BHP Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo estão com obras atrasadas e Gesteira ainda nem começou a ser construída Reprodução / MAB
Larissa Costa
“A
vida na cidade não é fácil. Porque tudo tem que buscar no mercado. Muitos parece que perderam a esperança de viver. A gente vê nos olhos das pessoas. E muita gente já desistiu, nem quer mais voltar, porque cinco anos já se passaram, não tem nenhuma casa pronta, e a Fundação Renova mente muito”. O desabafo é da agricultora Maria Geralda Oliveira da Silva, que morava em Paracatu de Baixo, em Mariana (MG), até 5 de novembro de 2015. Nessa data, a barragem de Fundão, de propriedade da Samarco – empresa controlada pela Vale e pela BHP Billiton – rompeu e despejou 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro ao longo de toda a bacia do Rio Doce. Cinco anos depois, 334 famílias de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira – distritos que foram totalmente devastados – não foram reassentadas. É o caso da Maria Geralda, que está morando em Mariana com cinco, dos seus seis filhos. De acordo com informações da Fundação Renova, as obras da nova comunidade de Paracatu de Baixo estão em andamento. No entanto, Maria Geralda, que faz parte do grupo de atingidos que fiscaliza as obras, alerta que não existe nenhuma casa construída. “Tem seis bases, que foram feitas em maio e estão do mesmo jeito. E até hoje não tivemos resposta de como vai ser a água. Nós te-
Para denunciar a lentidão, atingidos construíram uma casa a partir do trabalho coletivo e solidário
conceitual aguarda homologação na Justiça Federal. “A Renova vem postergando, cometendo erros primários de engenharia. Tudo leva a crer que esses erros são propositais, afim de dar uma sobrevida para a Fundação”, critica Mauro Marcos da Silva, comerciante, que teve sua casa destruída em Bento Rodrigues.
Vida nova?
mos medo de ter casa, mas não ter água”, comenta. Bento Rodrigues e Gesteira Bento Rodrigues, o primeiro distrito a ser atingido pela lama, está com a obra um pouco mais avançada. Segundo a Fundação Renova, as obras de infraestrutura e dos bens coletivos do reassentamento estão na fase final. O prazo para entrega das
O prazo para entrega das comunidades prontas já teve três adiamentos comunidades prontas já teve três adiamentos, passando de março de 2019 para fevereiro de 2021. Já a nova comunidade de Gesteira ainda não começou a ser construída e seu projeto
Casa solidária
Para denunciar a lentidão na construção das novas comunidades, atingidos organizados no MAB iniciaram, em novembro do ano passado, a construção de uma casa a partir do trabalho coletivo e solidário. Yolanda Gouveia, o marido Douglas Basílio e seus três filhos foram os escolhidos para morar na casa nova, com inauguração dia 30 de outubro. Até hoje, a família de Yolanda não foi reconhecida como atingida pelo crime da Samarco/ Vale/BHP. A casa onde moravam apresenta rachaduras e oferece risco, foi impactada pela movimentação de maquinário da mineradora nas obras de reparação em Barra Longa.
Os atingidos pelo crime da Samarco/Vale/ BHP ainda sofrem pelas perdas que tiveram. A lama deixou 19 pessoas mortas, derrubou casas, levou pertences, documentos, matou animais, destruiu plantações e assolou os modos de vida das comunidades. “Nunca mais vamos viver igual, não vamos ter a mesma convivência no novo reassentamento. A gente era como se fosse família em Paracatu. Hoje está todo mundo diferente, a própria Fundação foi colocando as pessoas contra as pessoas”, comenta Maria Geralda. Mauro concorda. “Bento era um local pacato, um vilarejo: o compartilhar, a amizade, o sentar na beirada da rua, o dividir o pouco que tinha com os vizinhos. Após cinco anos, as pessoas se habituaram à vida na cidade. Resgatar o vínculo de pertencimento vai ser difícil”, aponta.
Cinco anos depois, 334 famílias de Bento, Paracatu e Gesteira não foram reassentadas Comunidades subservientes às empresas
Para Letícia Faria, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a demora na entrega das obras está relaciona com o modelo de reparação realizado pela Renova, que “protege a imagem das empresas, faz boa propaganda do que está sendo feito e cria um precedente para que futuras reparações, sejam feitas por uma fundação privada. É para aumentar o poder das empresas nos territórios. Recurso tem. O objetivo é manter as comunidades subservientes às empresas”, completa.
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ESPECIAL
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Mulheres atingidas pela barragem da Samarco, Vale e BHP completam cinco anos sem reparação DESIGUALDADE Atingidas relatam o impacto do crime continuado em suas vidas Nivea Magno/Mídia Ninja
Cristiane Ribeiro
Raíssa Lopes
Barra Longa/MG
A
s mulheres atingidas pelas barragens vivem uma realidade de violação de direitos duplicada, pois enfrentam as situações que lhes foram impostas pelas mineradoras em uma sociedade já desigual para elas. Como ocorre no restante do Brasil, também na bacia do Rio Doce, as mulheres são a maior parcela da população brasileira a vivenciar a informalidade. E por isso, elas são menos reconhecidas como atingidas pela Fundação Renova. Isso compromete a independência financeira das mulheres. Até hoje a maioria das mulheres, que tiveram suas vidas completamente alteradas pelo rompimento da barragem da Samarco, recebe o dinheiro do auxílio financeiro e das indenizações - quando pagas - apenas por meio dos maridos. Somente um terço dos cadastros foi registrado em nome delas, revelam dados recolhidos pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Os muitos impactos na vida das mulheres Dona Maria Helena Barreto, de 54 anos, mora em Barreto, subdistrito de Barra Longa devastado pela ruptura da barragem de Fundão. Em 2015, ela e o marido perderam os móveis, o engenho de onde tiravam o sustento, as criações de animais e a casa, que foi recentemente reformada pela Renova, mas segue em área de risco. Da Vale/Samarco/BHP, ela continua recebendo uni-
Depois de cinco anos nós lutamos muito, mas até hoje não fomos reconhecidos como atingidos. A Renova só faz as coisas pros ricos, pra prefeito. Hoje tem tanto homem dessas firmas na cidade que a gente fica até com medo de soltar nossos filhos nas ruas.
Fernanda Guimarães Regência/ES
camente a promessa de uma nova casa mais segura. Em seu quintal, convive diariamente com os rejeitos altamente tóxicos que até hoje não foram retirados. Sua família já apresentou diversos problemas de saúde. As idas ao hospital e exames foram pagos com dinheiro do próprio bolso. “Eu e minha cunhada, a gente trabalhava e tinha o dinheirinho da gente. Agora a gente não tem mais nada porque para eles [Samarco/Vale/BHP] não somos trabalhadoras. O pior de tudo é a humilhação. Aqui em casa, quem sempre comprava roupa, sapato, material da escola, era eu. Agora tem que ficar pedindo. E o dinheiro não dá”, desabafa.
Quem comprava roupa, sapato, material da escola, era eu. Agora tem que ficar pedindo”
As mulheres enfrentam também a perda de trabalho e renda, indenizações baixas, tentativas de retiradas do auxílio financeiro emergencial, falta de reestruturação da comunidade, entre outros. Saúde e educação “Outra coisa que tem pesado muito é a saúde. Tem contaminantes no rejeito e o povo que está usando a água que vem do Rio Doce, e os que moram perto de áreas onde a lama chegou estão ficando doentes. E fica sob responsabilidade das mulheres cuidar de quem adoece, além delas mesmo estarem doentes”, declara Letícia Oliveira, integrante do MAB. Fernanda Portes, também militante do MAB, chama a atenção para o cuidado com a educação. “Elas se preocupam mais com a educação dos filhos. Se uma barragem faz com que a escola da comunidade tenha que ser transferida para outro local, é ela que tem que levar as crianças. A alimentação muda, tudo muda”, analisa.
Desde o rompimento da barragem, a gente sofre muito com o abastecimento de água aqui na vila. Os caminhões-pipa nunca foram suficientes para a quantidade de pessoas. Começaram a misturar a água do caminhão com a água do rio sem termos nenhuma pesquisa que comprove que a água está boa.
Joselita Maria Correia Colatina/ES A água faz até o café que a gente faz ficar ruim, de tanto remédio que eles colocam, ela vem com gosto. As mulheres aqui tão todas reclamando que o cabelo está caindo desde o dia do crime. As crianças estão todas com coceira.
Gisele Soares Periquito/MG Cinco anos atrás nos foi tirado o direito de pescar no rio, de deitar e dormir com segurança, sabendo que o outro dia seria um dia de paz. Com esse rompimento, o que me restou foi uma hipertensão, sofrimento, falta de água, mas também muita luta.
Belo Horizonte, 30 de outubro a 5 de novembro de 2020
Veto do STF a resoluções de Salles é “alívio” para a natureza, diz Molon MEIO AMBIENTE Normas foram editadas em setembro após articulação do ministro do meio ambiente Ricardo Salles
Lula Marques
Rosa Weber considerou que a iniciativa mostrou o “agravamento da situação de inadimplência do Brasil” na área de meio ambiente. “A supressão de marcos regulatórios ambientais, procedimento que não se confunde com a sua atualização, configura retrocesso no campo da proteção e defesa do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”, acrescentou ainda a magistrada. As normas do Conama já haviam sido suspensas anteriormente pela Justiça Federal do Rio de Janeiro, mas acabaram voltando a valer após outra decisão judicial, desta vez do Tribunal Regional da 2ª Região (TRF-2), que havia dado sinal verde para as novas resoluções.
A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu as resoluções recentes do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), na quinta-feira (29), que flexibilizavam a proteção de manguezais e restingas. A decisão vale até que os ministros analisem as diferentes ações sobre o tema que tramitam no STF. “Foi um alívio para os nossos ecossistemas, que vêm sendo duramente atacados pelo ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Ele tem se preocupado mais em favorecer a especulação imobiliária do que em proteger os biomas brasileiros. Isso, além de todo o prejuízo que tem trazido para o nosso Com a liminar, meio ambiente, tem voltam a valer as gerado péssimas reregras que garanpercussões e consetiam a proteção quências internaciode manguezais e nais”, afirmou Molon, em nota enviarestingas da à imprensa. Com a liminar, voltam a valer as regras que garantiam a proteção dessas áreas. As normas questionadas pelo PSB foram editadas pelo Conama em setembro, sob intensas críticas de ambientalistas e após uma articulação de Ricardo Salles, que preside o colegiado. Na decisão desta quinta, a ministra
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Para professora, reforma administrativa legaliza a precarização dos serviços públicos NEOLIBERALISMO “Substituir os concursos por indicação do ‘coronel’ de plantão em cada cidade é um enorme retrocesso”, afirma Graça Druk Danielle da Gama
Cristiane Sampaio
BRASIL
A pandemia de covid-19 evidenciou a importância dos servidores públicos no enfrentamento à crise: foram homenageados profissionais de saúde e visibilizada a atuação dos professores ante a inoperância do governo em propor medidas unificadas para o país. Pesquisadores avançaram em medidas de prevenção e combate à doença, e trabalhadores foram responsáveis por operacionalizar políticas públicas prestando serviços à população. Ao mesmo tempo, se articula a reforma que mina direitos desses trabalhadores, denominados pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, como “parasitas”. Para Graça Druck, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), “a PEC 32 é mais uma das chamadas “reformas estruturais” defendidas pelo atual governo e pelo empresariado brasileiro em sua agenda
neoliberal, que vem sendo aplicada desde o golpe de 2016. A Lei da Reforma Trabalhista e a Lei da Terceirização, aprovadas em 2017, e da Reforma da Previdência, de 2019, têm em comum a rejeição da função social e protetiva do Estado”, analisa. “A reforma trabalhista e da Previdência foram justificadas como necessárias para retomar o crescimento econômico. Decorridos quase três anos da nova legislação que retirou um conjunto de direitos, rebaixando o custo da força de trabalho, não houve recuperação de empregos, mas um aumento da informalidade e do trabalho precário”, critica. “A PEC 32 põe fim aos trabalhadores estatutários com estabilidade, e os substitui por contratos por tempo determinado e pela terceirização. É uma alteração constitucional que legaliza a precarização do trabalho e dos serviços, que já é uma realidade na saúde e educação”, denuncia Graça Druck. ANÚNCIO
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VARIEDADES
Belo Horizonte, 30 de outubro a 5 de novembro de 2020 www.malvados.com.br
DE OLHO NA MÍDIA VIVA VLADO Torturado e assassinado pela ditadura militar em 25 de outubro de 1976, o jornalista Vladimir Herzog acabou se tornando um grande símbolo da luta contra as violências do regime. Nascido na Iugoslávia, atual Croácia, foi exilado com sua família judia depois da ocupação nazista. Eles chegam ao Brasil no final de 1946 e aqui ele faz sua carreira, que passa pelo cinema, pelo ensino, pelo compromisso com o jornalismo crítico e com a comunicação pública e educativa. O prêmio com seu nome foi fundado em 1978 e a partir de 2009 um grupo de amigos, familiares e ex-colegas de Vlado criam um instituto para implementar ações em defesa da democracia, dos direitos humanos e da liberdade de expressão.
LEGADO VIVO
Em sua 42º edição, o Prêmio Vladmir Herzog de Anistia e Direitos Humanos destaca as principais produções nacionais de bom jornalismo e defesa da dignidade. Deixamos o convite para que acessem a reportagem “Ameaças, milícia e morte: a nova cara do Velho Chico”, produzida pelo mineiro Daniel Camargos e equipe da Repórter Brasil. Em cinco capítulos e em formato multimídia, são narradas diversas formas de violência contra comunidades tradicionais no Norte de Minas. Além desse trabalho, os mineiros levaram outros 6 dos 13 prêmios deste ano. Uma novidade de 2020 foi a criação da categoria Destaque Continuado, que homenageou o mineiro Renato Aroeira, ameaçado de ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional depois de retratar Jair Bolsonaro pichando uma cruz vermelha em formato de suástica, e outros 109 cartunistas que fizeram charges em apoio a ele. Entre eles, está André Filipe Dutra Siqueira, o André Fidusi, que assina as charges aqui no Brasil de Fato MG na página 16. Acesse as produções que ganharam o prêmio em: encurtador.com.br/kqE38
FIQUE
BEM Oi gente, na semana passada falei sobre o vinagre. E foi tanto sucesso que resolvi trazer mais uma dica de uso desse poderoso produto.
MEUS CABELOS ADORAM O vinagre de maçã é ótimo para o couro cabeludo. Os ácidos presentes nele combatem o fungo que contribui para o surgimento da caspa. Você pode misturar uma pequena quantidade de vinagre no seu xampu ou comprar um que seja feito com base de vinagre. Se preferir, depois de lavar o cabelo com xampu condicionador, adicione uma pequena quantidade do produto, diluído em água. Isso fecha as cutículas dos fios e dá muito brilho.
VOCÊ JÁ SE ELOGIOU HOJE? Pode reparar: é fácil demais criticar a gente mesma. Já quando recebemos um elogio de outra pessoa, vamos logo respondendo: “imagina!”, “são seus olhos!” ou qualquer coisa do tipo. Que tal praticar o exercício de exaltar uma qualidade que você tenha? Vai, pensa aí, comece hoje. Todo mundo tem alguma coisa que faz bem, alguma característica muito boa dentro de si. E que tal tentar fazer disso um hábito? Tente todo dia pensar em pelo menos uma qualidade sua e assuma que você é ótima nisso! Ah, e quando alguém te elogiar, tente receber sem se diminuir. Um beijo da Jana! Janaína Cristina escreve sobre dicas de bem-estar e autocuidado
75 ANOS DE SINDICATO Além da defesa incessante da liberdade de imprensa e de boas condições de trabalho para os jornalistas, a história do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais faz parte da luta pela democracia e da construção de reflexões e ações para um país e um estado mais justo e inteligente. A Casa do Jornalista, fundada em 1965, foi palco de inúmeras iniciativas e reuniões, como aquelas que levaram à fundação do sindicato dos Médicos, dos Trabalhadores em Educação e deste querido Brasil de Fato, que já promoveu cursos, festas e ciclos de debates na casa da Álvares Cabral. O Sindicato precisa do apoio da categoria para seguir nessa trilha. Se você é jornalista, filie-se ou fique em dia com o sindicato. Se não é, seu apoio também é fundamental. Siga as redes do sindicato (@jornalistasdeminas) e saiba mais.
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NÃO VOTO EM CANDIDATO QUE NÃO DEFENDA O SUS!
Joana Tavares é diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais
www.facebook.com/SindSaudeMG
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Belo Horizonte, 30 de outubro a 5 de novembro de 2020
AMIGA DA SAÚDE
Preencha os espaços vazios com algarismos de 1 a 9. Os algarismos não podem se repetir nas linhas verticais e horizontais, nem nos quadrados menores (3x3).
Sofia Barbosa é enfermeira do Sistema Unico de Saúde I Coren MG 159621
www.coquetel.com.br
© Revistas COQUETEL
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Ouvi falar de um teste do pezinho que detecta 50 doenças. O SUS faz esse exame? Aparecida Lima, 37 anos, corretora.
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Com exceção do Distrito Federal, nos outros estados o SUS não faz o Teste do Pezinho Ampliado, como é chamado esse teste que pode detectar até 53 doenças raras. O teste que é obrigatório no Brasil pelo SUS abrange seis doenças. Algumas maternidades da rede particular fazem versões com dez ou mais doenças. Há movimentos populares e ONGs que tentam pressionar os governos para implementarem a testagem mais abrangente no SUS, pois hoje o acesso a esse exame é somente particular. Por mais que isso represente um custo para o sistema, ele ainda pode ser bem menor que o custo com o tratamento das doenças quando diagnosticadas tardiamente, fora o enorme impacto que traz para a vida das crianças e das famílias.
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Mande sua dúvida para amigadasaude@brasildefato.com.br
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Solução
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Ingredientes • • • • •
1 xícara de fubá 1 xícara de farinha de trigo 1 xícara e meia de açúcar 1 xícara de leite 1/2 xícara de óleo
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1/2 xícara de queijo ralado 2 ovos 1 colher de sopa de fermento em pó
Modo de preparo 1. Bata no liquidificar o leite, o óleo e os ovos; 2. Acrescente o açúcar, depois o fubá, a farinha e o queijo. Bata até ficar homogêneo. 3. Por último, adicione o fermento em pó e bata mais um pouco. 4. Coloque em uma assadeira, untada e enfarinhada, e deixe assar por 30 minutos. ANÚNCIO
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Belo Horizonte, 30 de outubro a 5 de novembro de 2020
Roteiro Luciano Viana
Divulgação
Divulgação
Tambor virtual
Filmes infantis
CineBH online
Com programação virtual, o projeto Tambor na Praça conta com diversos shows instrumentais até dia 21 de novembro. A estreia será na sexta (6), às 20h, com a presença do violonista, guitarrista, compositor e arranjador Juarez Moreira. Os shows são gravados e exibidos no canal do YouTube da Cia. Burlantins.
Termina na segunda (2), o 18º Festival Internacional de Cinema Infantil (FICI). A programação é online, gratuita e conta com mais de 150 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens, séries de TV e conteúdos diversos, divididos em 15 salas, de acordo com temas e faixa etária. É só acessar www.fici. com.br.
A 14ª edição da CineBH – Mostra de Cinema de Belo Horizonte acontece até o dia 2 de novembro. Ao todo, a programação, que é gratuita, conta com 54 filmes nacionais e internacionais, além de debates, painéis e rodas de conversa, e várias outras atividades. Todas as informações estão em www. cinebh.com.br.
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Belo Horizonte, 30 de outubro a 5 de novembro de 2020 Edilson Rodrigues/Agência Senado
Olimpíadas: Vila dos Atletas terá ala para infectados
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ESPORTE
Fórmula 1: Anistia Internacional questiona escolha de Arábia Saudita
Divulgação FMF
LAT Images for Mercedes-Benz Grand Prix Ltd
Projeto de lei quer "proibir censura" no esporte
O Comitê Organizador das Olimpíadas de Tóquio, previstas para julho de 2021, anunciou que os atletas que testarem positivo para o coronavírus nas competições terão uma ala específica na Vila dos Atletas. O objetivo, segundo o Comitê, é preservar os demais competidores e proporcionar aos infectados um tratamento específico. Um centro de controle para doenças infecciosas também deve ser construído, com ênfase para a Covid-19. Inicialmente, os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 estavam marcados para começar no dia 24 de julho de 2020, mas foram adiados em um ano em função da pandemia. A decisão do adiamento foi tomada em março
Após a censura à jogadora de vôlei de praia Carol Solberg, punida por falar "Fora, Bolsonaro", um projeto de lei (PL) quer proibe quer entidades esportivas impeçam seus atletas de se manifestarem politicamente. O PL 5004/2020, de autoria do senador Romário Faria (Podemos), considera que a autonomia das entidades esportivas não pode se sobrepor à Constituição. “As punições devem ser aplicadas em casos de ofensas diretas a envolvido na disputa, organização e patrocínio da própria competição”, ressalta o parlamentar. Carol foi julgada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e punida com multa de R$ 1 mil, transformada em advertência. A atleta está recorrendo da decisão.
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Nas discussões sobre o calendário da Fórmula 1 para o próximo ano, uma das etapas pode ocorrer na e Arábia Saudita, na cidade de Jidá. Porém, a organização de direitos humanos Anistia Internacional questionou a possível escolha do país como sede, alertando que se trata de um dos principais focos de violação de direitos humanos no mundo. O governo saudita, apoiado pelos Estados Unidos, é notoriamente responsável por inúmeros atos de prisão política, torturas e assassinatos de opositores, jornalistas e militantes sociais. No país, as mulheres não têm seus direitos civis e políticos reconhecidos e a homossexualidade é tratada como crime. ANÚNCIO
Em defesa do SUS,
dos serviços públicos e dos direitos sociais
DR. BRUNO PEDRALVA
drbrunopedralva13321 (31) 9 8322-2277 www.brunopedralva.com Propaganda Eleitoral|CNPJ: 38.585.341/0001-49|Diagramação: 39.343.216/0001-95|Partido dos Trabalhadores|Valor: R$400,00
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Belo Horizonte, 30 de outubro a 5 de novembro de 2020
CRUZEIRO BUSCA SAIR DO Z4 Gustavo Aleixo / Cruzeiro
Após uma vitória e um empate fora de casa, a equipe do técnico Luiz Felipe Scolari entra em campo nesta sexta-feira (30), às 21h, contra o Paraná, no Mineirão. A partida marca a reestreia de Felipão como mandante no Mineirão. O
Paraná não é nenhuma Alemanha e está na 5ª colocação da Série B, com 28 pontos. Já o Cruzeiro, com 17 pontos na 18ª posição, precisa vencer ou vencer, para ter chances de terminar o primeiro turno fora da zona de rebaixamento.
ESPORTES
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DECLARAÇÃO DA SEMANA
COELHO QUASE LÍDER
Érico Leonan / sãopaulofc.net
Sábado (31), quem entra em campo é o América, fora de casa, contra o Avaí. Com 35 pontos, a dois do líder Chapecoense, o Coelho usa os bons resultados das últimas partidas como combustível para lutar pelo título da série B. O jogo começa às 19h
Eu entrei em um shopping e fui mandado embora por causa da minha cor. O cara falou: ‘você está aqui pra pedir dinheiro?’ e começou a me ofender. Eu era um menino, cara! O racismo não é de agora, é de muito tempo, já vem de anos” Léo (Leonardo Pinheiro), lateral esquerdo do São Paulo, em entrevista à SPFCTV.
Gol de placa O britânico Lewis Hamilton se tornou o maior vencedor de corridas da Fórmula 1. No domingo (25), Hamilton venceu o Grande Prêmio de Portugal e conquistou sua 92ª vitória em GPs, superando o alemão Michael Schumacher.
Gol contra A CBF rejeitou pedido do São Bento (SP) para adiar o jogo contra o Criciúma, em Sorocaba, após o clube descobrir que 15 atletas estavam com Covid-19. O jogo aconteceu na segunda (26), o São Bento levou 12 jogadores e ainda colocou o goleiro reserva para atuar na linha. O resultado foi 0 a 0.
Vitória urgente
Sobressaltos à vista
Fazendo história Bráulio Siffert
Rogério Hilário
Fabrício Farias
Ganhar do Corinthians em São Paulo - pela primeira vez na história e por um confronto mata-mata - não é pouca coisa, embora não seja exatamente uma surpresa, tendo em vista que o Coelho tem, atualmente, um time mais organizado e em melhor fase. A força doDecacampeão conjunto tem prevalecido e o técnico Lisca tem mostrado muito conhecimento de futebol, dos adversários e das circunstâncias de cada jogo, fazendo um time padronizado, mas também com capacidade de adaptações. Nesse jogo, o América teve menos posse e menos finalizações, mas, firme na marcação, na compactação e na transição, não foi sequer ameaçado, e soube aproveitar bem o erro do adversário e o contra-ataque para matar a partida.
A semana ficou restrita a especulações e loas: quem substituirá Keno? Quando contrataremos um goleador? Sampaoli recusou proposta da Arábia; R$ 75 milhões foram arrecadados na compra de camarotes e cadeiras na futura Arena MRV. Jogo mesmo, só segunda (2), É Galo doido! com o Palmeiras. Em cinco jogos, apenas uma vitória, com dois empates em BH. Resumo: se esvaiu a confiança e há muito a fazer. O Galo é sujeito a acertos e equívocos, como qualquer equipe. E apresenta deficiências claras desde o início. A defesa falha, a armação do contra-ataque depende da marcação na saída de bola do adversário, o time domina a partida, mas finaliza mal. Isso não nos tira da briga pelo título, mas teremos muitos sobressaltos na competição.
Salve, nação celeste! Sexta (30) é dia de Felipão reestrear no Mineirão. O Cruzeiro enfrenta o Paraná após conquistar quatro pontos dos seis disputados fora de casa. Estamos apenas com 1 ponto a menos do que tínhamos na virada turno naNegra fatídica temporaLadoBestia da de 2019. Em uma semana em que finalmente caiu a punição que nos impedia de registrar novos jogadores, é fundamental mais uma vitória. Além da necessidade de um padrão de jogo urgente, sofremos com um elenco desequilibrado, muitas promessas, jogadores que chegaram e já saíram, retornos inesperados, lesões e outros fatores. Vivenciamos a sequência de 2019 uma divisão abaixo. Em todo caso, somar três pontos é imperativo. Pra cima deles, Cruzeiro!
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