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Belo Horizonte, 17 a 23 de setembro de 2021
Filme mostra história de distrito de Ouro Preto abandonado pela mineração
Cinema feminista
Alice Drumond
RETRATO ESQUECIDO Conheça Miguel Burnier, que já foi uma comunidade potente, mas resiste hoje à sua destruição total Divulgação
Karem Andrade O distrito de Miguel Burnier, pertencente a Ouro Preto, é o maior contribuinte ao tesouro da cidade, mas sofre devastações devido à mineração exploratória causada por diversas empresas, como a Gerdau e a Vale. A degradação é tão grande que o distrito, que já contou com uma população de mais de 5 mil habitantes, apresenta atualmente a média de 75 habitantes. É essa história que o documentário “O retrato esquecido de Miguel Burnier” resgata, em quatro capítulos. O filme de Guilherme Oliveira, desenvolvido como trabalho deconclusão do curso de jornalismo na Universidade Federal de Ouro Preto, faz uma construção afetiva da comunidade desenvolvida e esquecida pela economia da extração minerária, e leva ao espectador a sensação de conviver lado a lado com uma cava de minério. “Decidi conhecer o distrito, e a cada conversa percebia que para o capitalismo não existem limites, não importa se existe uma sociedade. Para ele, a única coisa importante é o lucro,
doa a quem doer”, conclui o produtor do filme. Dos anos áureos à tentativa de sua completa destruição, o distrito é um exemplo clássico das cidades exploradas e relegadas à sua própria sorte quando o minério por fim acaba. História No primeiro capítulo, os discursos são saudosos. Cada morador apresenta memórias da era do time de futebol local, dos blocos de carnaval e das celebrações religiosas do distrito. Eram tempos de fartura. “A siderúrgica dava emprego para muita gente”, relata o morador Geraldo Vasconcelos. O documentário conta que, após 11 anos do fechamento da Usina Barra Mansa, a Gerdau começa a explorar minério de ferro na região, mas sem o intuito de construir uma relação íntima com a comunidade. Ao contrário, a empresa elaborou projetos para que a comunidade abandonasse o distrito. A construção de uma barragem no distrito se tornou um pesadelo para a comu-
nidade, mostra o documentário, e uma tragédia se avizinhava. As fortes chuvas de 2011 fizeram a barragem romper e levar junto a estrada de acesso à igreja com a mata nativa. A lama tóxica foi para os afluentes do rio Paraopeba e o caso não foi noticiado pela mídia.
Até o dia primeiro de outubro, a Rede Minas exibe filmes da 6ª Mostra de Cinema Feminista. Organizado pelo Coletivo Malva, o festival traz obras que tratam de temas que circundam o universo das mulheres, abordando temas como maternidade, gênero, racismo e lutas. As produções vão ao ar no programa Faixa de Cinema, sempre às sextas, às 23h. Mais informações em redeminas.tv/faixadecinema. Divulgação
Atualmente O último capítulo mostra o que restou na comunidade e destaca ações para resgatar seus bens e manter sua cultura. Uma das ações é o Projeto Estação Cultura, que transformou a estação ferroviária em uma biblioteca e espaço para atividades culturais.
Serviço O quê: documentário “O retrato esquecido de Miguel Burnier” Onde assistir: brasildefatomg.com.br ou no canal do diretor Guilherme Oliveira, no YouTube
Rolê Lagoinha Na terça (21), acontece um encontro que promete ser um mergulho na riqueza histórica e arquitetônica da Região da Lagoinha, em Belo Horizonte. O evento online e gratuito será das 14h às 16:30. No rolê, os participantes vão conhecer prédios e equipamentos públicos centenários, além da enorme diversidade cultural dos moradores. As inscrições podem ser feitas no perfil Viva Lagoinha, no Instagram.