Pedro Souza / Atlético
Gritinhos e emoções
Lutar, lutar, lutar
Exposição virtual mostra fotos e história do primeiro Miss Travesti de Minas Gerais, há 55 anos
Filme conta a história do Galo na perspectiva dos torcedores, destacando elementos políticos
CULTURA 14
ESPORTES 15
MG Minas Gerais Belo Horizonte, 14 a 20 de janeiro de 2022 • edição 366 • brasildefatomg.com.br • distribuição gratuita Douglas Magno / AFP
O que é "natural" e o que poderia ser evitado? Primeiros dias de 2022 chegaram com acontecimentos doloridos para Minas Gerais. Até o momento, mais de 24 mil pessoas estão desabrigadas. Políticas de habitação, saneamento e ambiental, como o controle popular sobre a mineração, e ações de prevenção poderiam evitar as consequências das chuvas Edição especial Confira nossas reportagens especiais sobre a luta das pessoas atingidas pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, que completa três anos em 25 de janeiro Violência é a pior parte Funcionários de centros de saúde e UPAs passam por onda de agressões vindas de pacientes CIDADES 4
Governador sem brio Zema tem se esmerado em defender as mineradoras e culpar a natureza por todos os males OPINIÃO 2
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OPINIÃO
Belo Horizonte, 14 a 20 de janeiro de 2022
OPINIÃO
Um governador sem brio João Paulo Cunha
ESPAÇO DOS LEITORES
Mas essa falta não é só com a mineração não... Já deram uma olhadinha na Educação e na Saúde? Estão ao léu... Ao Deus dará” Cecília Lula Villaça comenta matéria “Instituto dos Arquitetos do Brasil lamenta ‘falta de governo’ no trato com a mineração em MG” -“Nós, moradores dos bairros Cristo Rei e Residencial, precisamos urgente de uma solução, pois, caso venha acontecer alguma coisa, serão 5 mil pessoas soterradas! Nós moradores estamos sem dormir por causa dessa barragem! Pedimos encarecidamente que vocês comecem a dar prioridade nessa situação, ou melhor, liberem esses aluguéis até vocês resolverem o que fazer com a gente! Desse jeito não podemos ficar! O depois pode ser tarde demais!” Luuh Azevedo sobre a matéria “ANM garante estabilidade de barragem em Congonhas (MG), mas preocupação na cidade continua” -“Será que essa onda de ignorância e violência tem alguma relação com o fato do ser abjeto que preside a nação incentivar corriqueiramente a ignorância e a violência? Thomas Guimarães sobre a matéria “Funcionários do SUS de BH dizem que agressões têm sido a parte mais difícil do trabalho”
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As chuvas que caem sobre Minas Gerais, com seu saldo de destruição, mortes e dezenas de milhares de desabrigados, não fez Romeu Zema (Novo) assumir suas responsabilidades. Quem acompanha as declarações recentes do governador do estado percebe que ele retoma seu conhecido repertório: a culpa é sempre do outro (por vezes até mesmo da vítima), enaltecimento das empresas privadas (mesmo as com passivo criminoso de destruição ambiental) e criação de comitês. Zema é o tarado dos comitês. Na sua obsessão em se safar das responsabilidades do cargo, está sempre criando uma instância burocrática entre os problemas do mundo real e suas atribuições constitucionais. Assim, suas palavras prediletas em todas as cri-
Lavou as mãos na pandemia e nas chuvas ses são sempre: monitorar, levantar danos, criar protocolos, solicitar ajuda do governo federal. Foi o que fez com a pandemia, com os crimes ambientais e agora com as chuvas. Não abriu leitos, não contratou médicos e enfermeiros, não testou, não multou empresas devastadoras, e ainda reduziu investimento nas ações de fiscalização. Seu discurso era sempre o da correia de transmissão: repasse de vacinas e insumos, transferência de responsabilidades, edição de protocolos, afago às mineradoras
O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.
Governador terceiriza suas funções e apetite em gerir os resultados financeiros obtidos na justiça. Ao terceirizar suas funções de forma tão explícita, vem construindo uma carreira administrativa feita de fugas, desculpas e projeções. Com a criação do Comitê Gestor de Medida de Prevenção e Enfrentamento das Consequências do Período Chuvoso, o governador reuniu dezenas de órgãos do Executivo, assessores e consultores com o intuito de não agir. A atribuição do grupo, de acordo com o decreto que o criou, é a de articular ações e levantar problemas. Não fala em recursos, em investimento, em criação de forças-tarefas, em apoio aos responsáveis pelas medidas de enfrentamento na ponta. Uma espécie de anteparo, uma barreira, um guarda-chuva imaginário. Zema tem se esmerado em defender as mineradoras e culpar a natureza por todos os males que afligem o estado. Garante que não há risco de rompimento de barragens, num processo quase patológico de negação. Faz questão de valorizar as parcerias com o setor extrativista e usa recursos de reparação de danos ambientais para alavancar sua campanha à reeleição. A tragédia que bate mais uma vez à porta das famílias que perderam tudo em Brumadinho e outras regiões é uma expressão da ausência completa de memória e empatia.
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Belo Horizonte, 14 a 20 de janeiro de 2022 Felipe L. Gonçalves / Brasil247
Declaração da Semana
Marcia Tiburi, professora de filosofia e escritora
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Números da Semana 18.153
Minas Gerais está sendo devorada pela ganância das empresas mineradoras há décadas. O preço a pagar são cidades inteiras mortas, rios mortos, pessoas mortas?
GERAL
novos casos de covid-19 em Minas Gerais, entre 11 e 12 de janeiro. É o maior número de casos em 24h desde o início da pandemia.
Menos 106 ônibus em BH
Divulgação PBH
Duas empresas de ônibus decidiram parar de rodar em BH. Até domingo (16), 106 ônibus deixarão de fazer o serviço de transporte, afetando cerca de 30 linhas. As linhas já confirmadas atendem as regiões Barreiro, central, área hospitalar, Centro-sul, BH Shopping e anel rodoviário. As empresas afirmam que o motivo é a “falta de dinheiro”, por conta do preço do diesel. A redução das linhas acontece depois que a prefeitura anunciou que a passagem em BH cairá de R$ 4,50 para R$ 4,30 em fevereiro. A decisão aguarda aprovação dos vereadores.
Solidariedade salva
Comunicação Santuário Nossa Senhora do Rosário Brumadinho
Devido às fortes chuvas que atingem o estado de Minas Gerais, mais de 340 municípios estão em situação de emergência. Risco de rompimento de barragens, pessoas ilhadas e desabrigadas, além de estradas interditadas, preocupam a população mineira. Para contribuir com as famílias atingidas, movimentos populares, igrejas e coletivos realizam campanhas para arrecadação de água, mantimentos, roupas, material de limpeza e itens de higiene. Se você tem interesse em doar, acesse brasildefatomg.com.br e conheça algumas iniciativas de solidariedade.
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CIDADES
Belo Horizonte, 14 a 20 de janeiro de 2022
Funcionários do SUS de BH dizem que agressões têm sido a parte mais difícil do trabalho EXAUSTÃO Atendimento de síndromes gripais cresceu 211% na capital mineira, que ainda sofre com a pandemia de covid-19 Márcio Martins
Rafaella Dotta
“V
ai tudo queimar no inferno quando morrer”, “tem que ganhar é salário mínimo mesmo, tem que ganhar é bosta mesmo”. Esses são alguns dos xingamentos ouvidos diariamente pelos profissionais da saúde de Belo Horizonte. Há pouco mais três semanas, eles passaram a atender uma demanda 211% maior de pessoas com síndrome gripal, o que tem deixado as unidades superlotadas e os pacientes enfurecidos. No lado de dentro do balcão de atendimento, a enfermeira de um Centro de Saúde na Regional Norte, cuja identidade não pode ser revelada, relata que a agressividade dos usuários tem trazido uma sobrecarga emocional desgastante aos profissionais. “Com 15 anos de formada, já enfrentei três grandes epidemias de dengue em Belo Horizonte, mas nunca percebemos tanta insatisfação do usuário como temos visto agora”, conta. “Quando são intolerantes e nos agridem, isso traz angústia pra gente. Falam que estamos à toa, que não estamos fazendo nada, que somos moles, devagar”, afirma. A tristeza pelas agressões se soma à redução da equipe nos postos de saúde. O mês de janeiro, segundo a enfermeira, costuma ter profissionais de férias, além dos que estão adoecidos por conta da covid-19 e do vírus da gripe. Violência na UPA Leste Uma ocorrência na UPA Leste foi filmada por usuários do SUS. Nos vídeos, di-
Contracheque mostra que um técnico de radiologia em BH recebe um salário base de R$ 919
versos pacientes discutem exacerbadamente com a Guarda Municipal, chamada para conter as ofensas dirigidas aos funcionários e funcionárias. Mesmo com a presença dos policiais, usuários gritam “Vão trabalhar p***a”, “está se ofendendo fácil demais”. A confusão é generalizada, e uma usuária chega a pegar um banco da sala de espera para lançá-lo contra o balcão. Agredida por usuários e pela falta de valorização “É cruel a gente sair de casa com a missão de cuidar do outro, colocando nossa própria vida em risco e ser, como eu disse, atacada”, conta uma técnica de radiologia, trabalhadora
A tristeza pelas agressões se soma à redução da equipe nos postos de saúde
Belo Horizonte está em alerta vermelho na sua capacidade de atendimento da UPA Nordeste, que também não pôde se identificar. Mesmo não trabalhando na porta da unidade, a técnica diz que as agressões e ofensas são diárias, visto que não possui profissional para revezamento no seu turno, que é de 12 horas. “Se saímos para pegar material, ou até mesmo água, falam que estamos ‘passeando’ em vez de atender. Temos sido o tempo todo hostilizados”, entristece-se. “Confesso que fico muito deprimida, desmotivada, sabe? A gente estuda, se dedica, procuramos fazer o melhor para o usuário, e nos deparamos com essa situação toda”. Além das ofensas, a profissional destaca o problema da baixa remuneração entre os colegas. Um con-
tracheque enviado à reportagem, mostra que um técnico de radiologia recebe um salário base de R$ 919. Com abonos, que são direitos que podem se perder e que não contam para a aposentadoria, a remuneração chega a R$ 1.253. “Desde a pandemia, e agora com o surto de gripe, os técnicos em radiologia estão trabalhando em exaustão, porque há anos estamos implorando à prefeitura que contrate um segundo técnico para todos
Na UPA Leste, uma usuária pegou um banco da sala para lançá-lo contra o balcão os plantões”, afirma. “Mas quem vai querer trabalhar por um salário desse, neste cenário?”, questiona. Contratação de novos profissionais Aumentar o quadro de funcionários da saúde é uma an-
tiga reivindicação do Sindicato dos Servidores de Belo Horizonte (Sindibel), apontada novamente como uma solução para a epidemia de gripe, somada à pandemia de covid-19, em que a cidade vive. “Faltam médicos, médicos especializados, enfermeiros, técnicos de enfermagem”, explica Israel Arimar, presidente do Sindibel. “A Secretaria Municipal de Saúde, ainda que tenha dinheiro para contratar, tem achado dificuldade de contratar pois os salários são muito baixos”, reforça. Para a campanha de vacinação do ano passado, a prefeitura havia contratado 467 trabalhadores, mas o contrato se encerrou em 31 de dezembro. Segundo a PBH, 335 estão sendo recontratados. Além desses, a PBH afirma ter contratado 720 profissionais de saúde desde o Natal.
Índices em BH A capital mineira passa por uma onda de contaminação de covid-19 e sintomas gripais nas semanas entre o Natal e o pós Ano Novo. O Boletim Epidemiológico da Prefeitura de BH de 13 de janeiro mostra que a ocupação dos leitos de enfermaria para coronavírus está em 77,1% e os leitos de UTI em 70,8%. Ou seja, a cidade está em alerta vermelho na sua capacidade de atendimento. O número de atendimentos com síndromes gripais e suspeita de covid-19 saiu de 8.601, antes do Natal, para o triplo: 26.792 atendimentos na primeira semana deste ano.
Belo Horizonte, 14 a 20 de janeiro de 2022
Capitólio: tragédia expõe ausência de análise de riscos geotécnicos nos órgãos públicos TURISMO Prefeito do município afirmou que a região, onde desabamento da rocha matou dez pessoas, nunca passou por um estudo de riscos
Corpo de Bombeiros de MG
Caroline Oliveira O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), informou, no início da semana, em coletiva de imprensa, que a região do Lago de Furnas, em Capitólio, será submetida a avaliações geológicas. Também afirmou que o acidente que matou dez pessoas e deixou 32 pessoas feridas no último sábado (8) foi uma fatalidade que não poderia ser prevista. Um dia antes, o prefeito de Capitólio, Cristiano Geraldo da Silva (Progressistas), no entanto, admitiu que nunca foi feita uma análise de risco geológico da região onde ocorreu o desabamento do paredão de rocha. Acidentes com vítimas são evitáveis Segundo Gerardo Portela, engenheiro e doutor em Gerenciamento de Riscos e Segurança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as análises de risco existem rigorosamente para diminuir a imprevisibilidade e, consequentemente, reduzir as ameaças. “Nós temos metodologias e técnicas de análise de risco justamente para que possamos prever de alguma forma os cenários futuros, avaliar se serão de grande, média ou baixa probabilidade e gerar salvaguardas”, afirma. “A gente trabalha justamente para antever os problemas e mitigar os riscos relacionados a eles”, completa. Em nota, a Sociedade Brasileira de Geologia (SB-
MINAS
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Pessoas desalojadas em Minas Gerais chegam a 24 mil Da Redação
A prefeitura é a responsável pela fiscalização da segurança geológica do local GEO) afirmou que a tragédia de Capitólio expõe “a ausência de laudos geológicos e geotécnicos para identificar e tipificar os riscos geológicos dos locais a serem visitados, bem como determinar as restrições de uso e os procedimentos de segurança”. Ainda segundo a SBGEO, as autoridades são responsáveis pelos laudos “para que não coloquem em risco a vida de visitantes e condutores que atuam no geoturismo”. Segundo a organização, na última década, entre 2011 e 2021, o Brasil esteve em 5º lugar entre os países do mundo em número de vítimas relacionadas a evento geológicos, com cerca de 41 milhões de pessoas afetadas.
Quem deve fazer a análise de risco? Hoje, a prefeitura de Capitólio é a responsável pela fiscalização da segurança do local, no que diz respeito aos estudos geológicos. Uma lei sancionada em fevereiro de 2019 regulamenta a exploração turística do local dos cânions. A legislação estabelece a fiscalização das embarcações na entrada do canal, o limite de velocidade a três nós, o máximo de 40 embarcações ao mesmo tempo, o limite de 30 minutos de permanência no local, a proibição de sons mecânicos em alto volume, entre outros aspectos. Não há, no entanto, qualquer menção a regras de
Segundo engenheiro, há técnicas de análise de risco que ajudam a prever cenários futuros
uso do local em caso de dias chuvosos ou constatação de riscos de desabamentos, por exemplo. A responsabilidade da Marinha do Brasil é sobre a segurança e o licenciamento das embarcações. Ainda no âmbito federal, o Serviço Geológico do Brasil, vinculado ao Ministério de Minas e Energia, poderia ser responsável por estudos geológicos da região. No entanto, o serviço deve ser solicitado pelo município interessado, o que não foi feito pela Prefeitura de Capitólio. Prefeitura de Capitólio O Brasil de Fato questionou por e-mail a Prefeitura de Capitólio sobre os motivos que nunca levaram a o poder municipal a realizar análises de riscos geológicos na região onde ocorreu o acidente. Até a publicação desta reportagem, no entanto, não houve um retorno.
Os impactos das fortes chuvas continuam castigando a população mineira. Segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), 24.610 pessoas estão desalojadas, sendo que 10 mil tiveram que sair de suas casas somente de quarta (12) para quinta (13). O órgão totaliza 24 mortes desde o início do período chuvoso, em outubro. O número de cidades em situação de emergência passou passando de 145 para 341, equivalente a 40% dos municípios. Deslizamentos de terra As estradas ainda estão em situação delicada. De acordo com o Comando de Policiamento Rodoviário, são 91 pontos de interdição parcial e 32 pontos de interdição total, contabilizadas na quinta (13), por deslizamentos de terra ou inundações. Em Ouro Preto, a população viveu um susto. Um deslizamento de terra, na quinta (13), destruiu um casarão histórico da prefeitura e um depósito. De acordo com a Defesa Civil Municipal, o local já vinha sendo monitorado e a área estava isolada. Ninguém se feriu.
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OPINIÃO
Belo Horizonte, 14 a 20 de janeiro de 2022
A fatura chegou! LEGISLAÇÃO Consequências ambientais e humanas das chuvas abundantes podem ser evitadas se implementarmos a legislação aprovada pelas CPIs Beatriz Cerqueira e Rogério Correia As chuvas abundantes que caíram sobre Minas no fim de 2021 e início deste ano dão um recado claro e duro para quem quiser ouvir: 1) Não foi por falta de aviso; 2) É preciso impor limites à sanha lucrativa da mineração, sob pena de mais tragédias no futuro breve; e 3) Já há legislação proposta, fruto de intensos debates na sociedade, que impediriam ou minorariam os problemas, mas ela esbarra no lobby empresarial. Quem melhor resumiu o dilema foi o jornalista André Trigueiro, que nos úl-
timos anos especializou-se nas questões ambientais: “as enchentes de Minas vem revelando há algum tempo o lado mais perverso do marco regulatório frouxo, licenciamento irresponsável e fiscalização ausente sobre as mineradoras”. Ele continua: “a fatura chegou!”. E como é pesada essa “fatura”. Vidas humanas se perdem e um caos ambiental vai se formando com consequências literalmente inestimáveis, mas certamente muito danosas, para o futuro dos mineiros e dos brasileiros em geral. Atuamos como relatores da CPI do crime da Vale em Brumadinho, na Câmara dos Deputados e na ALMG.
Por isso afirmamos: muitas das consequências ambientais e humanas de fenômenos “naturais” como as chuvas abundantes podem ser minoradas, ou até anuladas, se aprovarmos a legislação aprovada pelas CPIs.
É urgente aprovar a legislação das barragens Alguns exemplos: o PL 2788 que cria a Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB) - já aprovado na Câmara em
2019, e segue parado no Senado - que reduz substancialmente os temores de quem vive nessas regiões; a legislação mineira da Política Estadual dos Atingidos por Barragens (PEAB) e do Mar De Lama Nunca Mais. A Comissão Externa de Brumadinho e depois a CPI em Brasília, da mesma forma, aprovou a Lei 14.066, instituindo compensações aos moradores atingidos por barragens, da mesma forma que aumenta a fiscalização sobre a atividade minerária e a punição das empresas em caso de rompimentos. O governo Zema não ajudou nem ajuda, pelo contrário. Importante
lembrar que a reunião que decidiu pela ampliação da pilha de resíduos na Mina Pau Branco, do grupo francês Vallourec, ocorreu em 2021 da pedido a própria mineradora. O Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), sob orientação da Secretaria de Meio Ambiente, ambos sob orientação de Zema, acataram o pedido da multinacional francesa. Novamente, a fatura chegou, pondo em risco milhares de mineiros e mineiras. Beatriz Cerqueira (PT MG) é deputada estadual e integrou a CPI do crime da Vale em Brumadinho da ALMG e Rogério Correia (PT MG) é deputado federal e foi relator da CPI de Brumadinho na Câmara Federal ANÚNCIO
Bruno Castalonga Camila Moraes Ferrete
especial
MG janeiro de 2022
Brumadinho: três anos depois, chuvas trazem ameaça de novos rompimentos
Transbordamento na barragem da Mina Pau Branco (foto), da Vallourec, causou a interdição da BR040 e feriu um motorista. Pelo menos 31 barragens estão em situação de emergência. As chuvas em Minas Gerais mostram, mais uma vez, o descaso das mineradoras com a população e a conivência dos governos com o modelo predatório de mineração. Após três anos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que matou 272 pessoas, atingidos se organizam em toda bacia, lutando por justiça e reparação integral
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ESPECIAL
Belo Horizonte, janeiro de 2022
Há três anos, população atingida se organiza para conquistar cada um dos seus direitos VITÓRIAS Minas Gerais foi o primeiro estado a ter lei sobre impacto de barragens, em 2021 Nadia Nicolau / Midia NINJA
Rafaella Dotta O dia 25 de janeiro de 2019 mudou a vida de milhares de pessoas em Minas Gerais. A população atingida pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, enfrentou morte, lama e também um vazio de leis que poderiam protegê-la. “Nas construções e rompimento de barragens, as empresas é que determinam quem é atingido, o que são os danos e como deverão ser reparados”, afirma Fernanda de Oliveira Portes, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). “Essa prática tem violado sistematicamente os direitos humanos”, completa.
das de bens como impactos do crime. “Com o rompimento da barragem, 272 vidas humanas foram ceifadas e milhares de famílias passaram a sofrer com sérios danos à saúde, à segurança hídri-
As assessorias técnicas são uma Minas Gerais foi o pri- tas pelos atingidos, conta conquista dos meiro estado do Brasil a Fernanda. atingidos aprovar a Política Estadual dos Atingidos por Barragens (Peab), por meio da Lei nº 23.795, em 2021. A legislação prevê quais direitos os atingidos possuem, e a aprovação da lei foi alcançada após anos de protestos e denúncias fei-
Anos de luta e conquistas A primeira conquista dos atingidos garantiu que a Vale reconhecesse uma ampla gama de atingidos em toda a Bacia do Rio Paraopeba. A mineradora considerava apenas as mortes e per-
ca, aos modos de vida, aos meios para geração de trabalho e renda”, relata Fernanda. Após inúmeras manifestações, essas pessoas passaram a ser consideradas atingidas e, como uma das consequências, tiveram
direito ao auxílio emergencial financeiro. O auxílio foi obtido para 100 mil atingidos. Durante as negociações do acordo celebrado entre a mineradora, o governo de Minas e as instituições de Justiça, os atingidos propuseram e conseguiram que o Programa Transferência de Renda assistisse mais de 150 mil atingidos. Fernanda lembra outra conquista importante: as assessorias técnicas. Os atingidos, com muita pressão, conseguiram na Justiça que a Vale financiasse grupos de profissionais para auxiliar com análises e informações. Até então, populações atingidas tinham que confiar nos estudos feitos pela mineradora.
Assessorias Técnicas explicam como ficarão as indenizações individuais O Brasil de Fato MG conversou com as Assessorias Técnicas Independentes Instituto Guaicuy, com o Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab) e com a Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas) sobre como ficarão os atingidos que pretendem entrar com processos de indenizações individuais na Justiça. O Código Civil de 2002 prevê que uma indenização por danos morais ou materiais deve ser ajuizada até três anos depois do dano. Porém, “há algumas teses que apontam datas futuras”, explica Isis Menezes Táboas, da Aedas. Um dos motivos, seria a pandemia da covid-19.
Quais são os caminhos para se conseguir uma indenização individual? “Temos três caminhos: o primeiro é referente ao processo coletivo, que está em curso na Ação Civil Pública, ajuizada pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública. O segundo caminho é o processo judicial individual por meio da Defensoria Pública do estado ou a contratação de advogado privado. E o terceiro é o acordo extrajudicial individual com a Vale, que é somente uma das possibilidades de recebimento da indenização”, explica Paula Constante, do Guaicuy.
Qual a relação das indenizações com a Matriz de Danos? “A Matriz de Danos é a base e o parâmetro para a indenização individual. É uma tabela em que estão descritas as perdas, os danos, os parâmetros de valoração, as possíveis formas de comprovação, bem como os grupos de pessoas atingidos que sofreram cada dano. Ela é utilizada dentro do processo coletivo para determinar uma indenização individual justa”, elucida Paula Constante, do Guaicuy.
Está em curso a Ação Coletiva que contempla indenizações individuais. O prazo de 3 anos também vale para elas? “O prazo prescricional não se aplica às ações coletivas já em curso, nem às indenizações individuais já protocolizadas. Entendendo que prosseguem as ações coletivas, sabemos que por meio delas também podem ser decididas e aplicadas as indenizações individuais, sem prazo limite para a decisão. Desse modo, é possível que as pessoas atingidas obtenham sua indenização individual por meio das Ações Civis Públicas”, explica Isis Táboas, da Aedas.
Depois de completado três anos, os atingidos ainda poderão entrar na Justiça por meio de um processo individual? “Se o atingido entrar com sua ação depois do dia 25 de janeiro de 2022, a Vale poderá alegar que ela está prescrita porque, em geral, de acordo com a lei brasileira, o prazo para entrar com ações comuns de indenização é de três anos. Essas ações serão decididas inicialmente por juízes locais, caso a caso, e o sucesso da ação dependerá da argumentação do advogado, das provas produzidas e do entendimento do juiz”, explana Sarah Alves Zuanon, do Nacab.
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ESPECIAL
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Caso Vallourec revela falta de prioridade das mineradoras com a segurança da população MODELO PREDATÓRIO Em janeiro de 2021, Copam autorizou a ampliação da pilha de estéril, que deslizou e provocou a tragédia Comunicação Encontro dos Atingidos
Ana Carolina Vasconcelos A população mineira recebeu com preocupação, no sábado (8), a notícia do transbordamento do dique, parte da barragem de rejeito da Mina Pau Branco, da mineradora francesa Vallourec, localizada entre os municípios de Brumadinho e Nova Lima. A rodovia BR-040 foi inundada e interditada por dois dias. Para Guilherme Camponêz, biólogo e coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), são muitos os impactos imediatos do transbordamento. “A primeira coisa que a gente pode dizer é que uma pessoa ficou ferida”, lamenta, ao lembrar de um motorista que passava pela rodovia no mo-
Estruturas da mina deveriam suportar chuvas fortes
mento e precisou ser hospitalizado. Guilherme acredita que a mineradora também precisa ser responsabilizada, mesmo que indiretamente, pela morte de uma família. “A gente tem que colocar na conta da mineradora a família que saiu de Paula Cândido para o aeroporto de Confins. Por conta do bloqueio da BR-040, eles fizeram um desvio e pas-
saram pela Serra da Moeda. Teve um deslizamento de terra que atingiu o carro e matou toda a família, cinco pessoas, incluindo duas crianças”, explica. Após vistoria ao dique na tarde de sábado (8), a Agência Nacional de Mineração (ANM), determinou que a estrutura da mina passasse para o nível 3 de emergência, de alto risco e com possibi-
lidade de rompimento. Seis famílias precisaram ser evacuadas e o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), do Ibama, com mais de 400 animais que precisaram ser removidos às pressas A culpa é das chuvas?
Guilherme, do MAB, defende que, ainda que seja necessária uma maior apuração sobre o que aconteceu no dique, não se pode culpar a natureza. Ele argumenta que as estruturas presentes na Mina
do Pau Branco deveriam suportar chuvas muito fortes. Em janeiro de 2021, a pedido da Vallourec, foi realizada uma reunião de urgência do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) que garantiu a ampliação da pilha de estéril Cachoeirinha da Mina Pau Branco. Na ocasião, ambientalistas alertaram sobre os riscos do aumento da pilha, que deslizou e provocou a tragédia. Porém, as críticas não foram consideradas. Após recomendação da Secretaria de Meio Ambiente (Semad), a Câmara de Atividades Minerárias (CMI) do Copam atendeu o pedido de urgência da Vallourec e realizou um processo acelerado de licenciamento.
Em todo o estado, pelo menos 31 barragens de rejeito estão em situação de emergência CRIME CONTINUADO Bacia do Rio Paraopeba tem 700 pessoas desabrigadas segundo movimento Com o aumento das chuvas, moradores de cidades próximas a estruturas de barragens estão em alerta. Segundo levantamento do governo de Minas Gerais, 31 barragens de rejeito estão em situação de emergência. Segundo a União, esse número chega a 36. No domingo (9), moradores de Congonhas (MG) assistiram a deslizamentos de terra na Casa de Pedra, maior barragem de rejeitos de mineração localizada em território urbano da América Latina, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Já a Prefeitura de Pará de Minas emitiu, na segunda (10), um alerta de urgência para que moradores de Pará
Douglas Magno /AFP
Aldeia Naô Xohã foi alagada
de Minas, Pitangui e Onça do Pitangui deixassem suas casas. A Defesa Civil da cidade informou que a represa da Usina do Carioca tinha 99% de chance de romper.
Enchentes com água contaminada
Com o aumento das chuvas, famílias de regiões próximas ao Rio Paraopeba, contaminado após o rompimento da barragem em
Córrego do Feijão, em 2019, vivenciam situação de risco de vida e saúde. “Não há como reparar um crime tão grande como esse. É a nossa natureza e o bem maior que a gente tem, o ser humano. Agora com as enchentes, o minério está chegando dentro das residências”, declarou uma moradora da comunidade Vale do Sol, em São Joaquim de Bicas, atingida pelo rompimento da barragem da Vale. Ela pediu para não ser identificada. No município de São Joaquim de Bicas, a aldeia Naô
Xohã, de indígenas das etnias Pataxó e Pataxó Hã-hã-hãe, também atingidos pelo rompimento da barragem em Brumadinho, foi alagada pela cheia do Rio Paraopeba. As famílias precisaram ser alojadas em abrigos da prefeitura da cidade. “Ainda não é oficial se temos condições de voltar a morar naquele local. Mas a gente sabe que não, o território já era contaminado e agora está pior”, desabafa Sucupira, vice cacique da aldeia. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), monitorou que cerca de 700 pessoas estão desabrigadas nos municípios da bacia do Rio Paraopeba. (Ana Carolina Vasconcelos)
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ESPECIAL
Belo Horizonte, janeiro de 2022
Atingidos constroem plano popular de recuperação e desenvolvimento para a Bacia do Paraopeba e Lago de Três Marias COLETIVO Proposta prevê participação das populações atingidas nas decisões sobre projetos que serão executados nos municípios atingidos pelo crime da Vale Comunicação MAB
Izabella Bontempo Fruto da luta dos atingidos, o Plano de Recuperação e Desenvolvimento da Bacia do Rio Paraopeba e Lago de Três Marias prevê o direito de participação no chamado Anexo 1.1 do acordo, firmado entre o governo de Minas, instituições de Justiça e a Vale. Esse anexo prevê R$ 3 bilhões para a realização de projetos, sendo R$ 1 bilhão para criação de crédito e microcrédito e R$ 2 bilhões para projetos coletivos que serão executados nas comunidades atingidas pelo rompimento da barragem em Córrego do Feijão. “O nosso plano é a possibilidade que o nosso povo tem de construir um futuro diferente. Um futuro que enfrente as mazelas provocadas pelo modelo de desenvolvimento que foi imposto para esse território: o modelo da mineração, do agronegócio, da fome e da morte”, explica Silvio Neto, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O plano exige a participação dos atingidos em todas as decisões, desde a concepção das ações nas comunidades até a implementação das atividades. Exigem também a discussão coletiva da governança que vai gerir o recurso, além da realização de reuniões regulares para debate de todos os pontos do anexo do Acordo. O plano popular também exige
“Justiça, para mim, é sermos reparados por todos os danos que a Vale nos causou, ter a nossa vida de volta, porque isso foi roubado de nós, assim como nossos sonhos e nossos projetos. Ver a Vale pagar pelo crime cometido seria, efetivamente, justiça. Nossas comunidades só não estão mortas e acabadas atualmente porque ainda existem pessoas que sonham e confiam nesta justiça” Eunice Ferreira Atingida de Curvelo
a reparação ambiental, a garantia do direito individual dos atingidos e a punição da empresa para que novos crimes não aconteçam. O plano popular, que é parte da reparação integral requerida pelos atingidos, foi debatido em dezembro do ano passado no primeiro Encontro de Atingidos e Atingidas da Bacia do Paraopeba. Além de moradores das regiões afetadas, o evento reuniu representantes do MST, do Movi-
O Plano Popular é a possibilidade de o povo ter um futuro diferente mento dos Atingidos por Barragens (MAB), do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), da Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser), da Cáritas e das Assessorias Téc-
nicas dos territórios (Aedas, Nacab e Guaicuy). Ao todo, foram 250 participantes. A união entre os movimentos populares e as comissões de atingidos no debate do plano popular é importante na luta pela reparação justa. “A reparação integral é um direito que os atingidos têm, que passa também pela punição da empresa, pela garantia e qualidade do direito individual, pela Matriz de Danos adequada e pela participação nas deciões sobre os recursos do Anexo 1.1”, afirma Joceli Andrioli, do MAB. Para Joelísia Feitosa, atingida de Juatuba e integrante do MAB, a punição das empresas é um dos passos fundamentais da reparação integral. “Não dá para gente sofrer o tanto que nós já sofremos, ter um crime que causou a morte de 272 pessoas, de um rio e de milhares modos de vida, e os atingidos não verem esse criminoso ser punido pelo que ele fez”, denuncia.
EXPEDIENTE O Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em sete estados. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e em nosso estado. Este especial é uma parceria do Brasil de Fato MG com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Tiragem: 45 mil exemplares. www. brasildefatomg.com.br / (31) 9 8468-4731
“A gente já está cansado de viver nesta “minerodependência”, em que a gente não consegue ver outras perspectivas e outros horizontes. O que a gente quer, não é pedir muito. É o justo. A gente quer água de qualidade, comida na mesa de todo mundo, educação. A gente quer que encontrem as joias desaparecidas na lama e que a verdade seja contada” Marina Oliveira Articuladora da Renser:
“A única ferramenta que foi construída de forma participativa e coletiva para mensurar os danos e quais seriam as medidas de reparação, que é a Matriz de Danos elaborada com as Assessorias Técnicas Independentes, está sendo ameaçada. Consequência desse cenário é o não atendimento das demandas reais das comunidades atingidas” Marcelo Barbosa Integrante do MAM:
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Bolsonaro libera classe executiva para “alto escalão” O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), protocolou uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU), pedindo providências urgentes contra o decreto do presidente Jair Bolsonaro (PL) que, na terça (11), liberou, para membros da elite do governo, a compra de passagens aéreas na classe executiva. Bilhete que custa mais que passagens na classe econômica. O parlamentar pede a suspensão cautelar da norma, que vale para voos internacionais com duração acima de sete horas.
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Governo Bolsonaro bate próprio recorde e libera uso de 550 novos agrotóxicos em 2021
Desde 2016, o Brasil tem sido palco de uma enxurrada de novas liberações de agrotóxicos. Naquele ano ocorreu a liberação de 277 produtos. No ano seguinte, 404 novos venenos. Em 2018, mais 449 registros. Mas o governo de Jair Bolsonaro foi ainda mais condescendente com o veneno agrícola. Em seu primeiro ano, 474 pesticidas foram liberados e em 2020, 493. E em 2021 novo recorde, 550 no-
vos agrotóxicos aprovados. “O sujeito aplica o veneno na sua lavoura e a seis quilômetros de distância tem gente sendo intoxicada. Usamos no Brasil um bilhão de litros (desses produtos) por ano e tudo isso vai parar na água. Então, a possiblidade de se contaminar, mesmo estando longe das lavouras, é grande. Sem falar na alimentação”, afirma o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo.
BRASIL
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Eleições 2022: Lula tem 45% no 1º turno Na projeção de primeiro turno, Lula figura com 45% das intenções de voto, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), com 23%, e pelo ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro (Podemos), que tem 9%. Na sequência, aparecem o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), com 5%, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com 3%, e a senadora Simone Tebet (MDB), que tem 1%. Já os brancos e nulos somam 8%, enquanto os indecisos representam 4%. A pesquisa ouviu 2 mil pessoas com idade a partir de 16 anos, sendo aplicada entre os dias 6 e 9 de janeiro. Foi feita pela Genial Investimentos e a Quaest Consultoria e tem 95% de índice de confiança. ANÚNCIO
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VARIEDADES
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CRÔNICA
ADIVINHE QUEM VEM PARA O JANTAR Ele era carismático, bonito, inteligente e gente boa. Andava com camisa do Che Guevara e de time de futebol. Ela era a mais rica e inteligente. Mandava muito bem no skate. Ele ia de ônibus para a faculdade. Ela ia de motorista particular. Ela se apaixonou por ele já no primeiro dia de aula. Ele estava tão feliz por ter passado no vestibular. Aliás, ele comemorou com os amigos na quebrada aquela façanha toda. Já no segundo dia de aula, ela deu um jeitinho de se sentar ao lado da carteira dele. Nos primeiros dias de aulas, tem muita dinâmica de grupo para que todos se conheçam. Ela ficou deslumbrada com o que ele falava. Ela nunca tinha visto uma pessoa que se declarava socialista e que morava na quebrada. Era um mundo novo para ela. No terceiro dia, foi o trote. Ela ficou sabendo que ele não bebia. Era outra novidade. Ele tratava todo mundo com muita generosidade e atenção. Só que até aquele momento o máximo que trocaram foram palavras de “bom dia” e “até amanhã”. Ela voltou para sua cidade muito feliz com a primeira semana de aula. Também falou com a mãe sobre ele. A mãe ficou toda alegre e disse: “ele deve ser muito bonito, educado e inteligente”. Ela confirmou com a cabeça. A mãe teve a ideia de fazer um jantar para os novos amigos da faculdade. “Minha filha, convida seus amigos daqui a vinte dias para uma noite muito especial. Não se esqueça de convidar esse moço aí, quero conhecê-lo”. Assim, a filha fez como o combinado e chamou todo mundo da sala. Com quase um mês de aulas, a interação já estava melhor e o jantar na casa da grã-fina era o assunto que dominava as rodinhas. A menina era muito rica. Riquíssima. Ele ficou preocupado com a roupa, com o lugar e com toda aquela gente burguesa. Mal sabia que a menina tinha um plano para se declarar e com ajuda da mãe. O apartamento era numa cobertura com uma piscina gigante. A mãe estava ansiosa para conhecer o tal. Ele foi o último a chegar, seu ônibus atrasou, desceu no Centro da cidade para pegar outro ônibus e ainda tinha que andar um trecho a pé. Finalmente, ele chega ao local do jantar e vai direto dar um abraço e um beijo na sua “amiga” de faculdade. A mãe fica atônita com o carisma dele e a beleza. Mas, um detalhe no olhar da mãe denunciava algo de errado: a cor do moço não agradou. - Filha, você não me falou que ele era negro. - Mãe, seu pai é mais escuro que ele, né? - Filha, por isso, casei com seu pai bem branquinho. Olha você, filha! - Mãe... Que decepção, meu Deus! - Filha, meus netinhos de cabelo duro? - Mãe! - Tá bom, minha filha! Vamos fazer o combinado.
Nossos direitos JÁ ESTÁ DISPONÍVEL O SAQUE ANIVERSÁRIO DO FGTS PARA 2022 O saque aniversário é uma modalidade criada para que trabalhadores tenham acesso anualmente a parte dos valores do FGTS depositados em conta. A regra atual é que somente em algumas situações é possível retirar o valor, como em caso de demissão sem justa causa, doença grave, aquisição de moradia própria, dentre outros. Porém, é possível aderir ao saque aniversário, para que haja a possibilidade de saques anuais. Após a adesão, os saques podem ser realizados em até dois meses do mês de aniversário. Por exemplo, quem nasce em janeiro, pode sacar até
31 de março. O valor permitido para saque depende do saldo em conta. No site da Caixa Econômica Federal é possível consultar os percentuais permitidos. Quem aderir ao saque aniversário, em caso de demissão sem justa causa, por exemplo, somente poderá receber a multa de 40% do FGTS. Para receber o valor integral, é necessário retornar à modalidade saque rescisão antes do desligamento. Há um prazo de 25 meses para o retorno definitivo ao saque rescisão.
Jonathan Hassen é advogado popular
AMIGA DA SAÚDE Sofia Barbosa é enfermeira do Sistema Unico de Saúde I Coren MG 159621
Minha avó fez exames de rotina, que mostraram infecção urinária. Mas o médico dela disse que não precisaria tratar. Não tem risco? Clara Souza, 22 anos, estudante. Como eram exames de rotina, provavelmente sua avó estava com uma bacteriúria assintomática, que é quando o exame de urocultura mostra um quantitativo de bactérias compatível com infecção, mas a pessoa não apresenta nenhum sintoma. Nesse caso, principalmente em pessoas idosas, não é recomendado o tratamento porque isso não é uma infecção. As bactérias estão presentes na uretra e/ou na bexiga, mas não estão causando mal algum. O risco só vai existir se a pessoa tiver sintomas como dor ao urinar, dor na região abaixo do umbigo, dor lombar, febre e sangramento na urina. Nesse caso, é preciso tratamento, que deverá ser feito conforme a prescrição de um médico. :: CONHEÇA O CANAL DA AMIGA DA SAÚDE NO SPOTIFY! ::
Se você tem alguma dúvida sobre saúde e vida saudável, manda um zap para mim! O número é (31) 9 8468.4731. Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte
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www.malvados.com.br Separamos aqui uma combinação infalível para você conquistar o coração da sua parceira. Trata-se da junção entre limpeza e um bom jantar. Em outras palavras, a demonstração de afeto e cuidado. Pode ter certeza que é a melhor declaração!
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CAÇA-PALAVRA
© Revistas COQUETEL
Procure e marque, no diagrama de letras, as palavras em destaque no texto.
O Triângulo Mineiro Localizado entre os rios Grande e PARANAÍBA, o Triângulo Mineiro tem pelo menos 1,2 milhão de habitantes e é composto por 35 MUNICÍPIOS, a maior parte deles situada no Sudeste de Minas Gerais. O TRIÂNGULO Mineiro faz DIVISA com os estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás e é uma das dez REGIÕES do estado, DIVIDIDA, por sua vez, em sete microrregiões: Araxá, Frutal, ITUIUTABA, Patos de Minas, Patrocínio, Uberaba e UBERLÂNDIA. Conhecida, no passado, como SERTÃO da Farinha Podre, passou a se chamar Triângulo Mineiro devido a seu FORMATO similar a um triângulo. Responsáveis por quase 14% do PRODUTO Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais, os municípios do Triângulo MINEIRO se destacam pela economia bastante produtiva, especialmente o AGRONEGÓCIO, favorecido pela GEOGRAFIA e pelo clima da região. Entre os principais produtos de EXPORTAÇÃO vindos dessa área de Minas estão o AÇÚCAR, o café, o milho, a soja e seus DERIVADOS, além de carnes de ave, BOVINA e suína.
Ingredientes
ILUSTRAÇÃO: CANDI
F D N O O E A O R L U T Y F
L I L T O D D T A Ç U C A R
M V G U I G E S B H U E N H
H I T D C T R L A S D T A U
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G T R S T H A D E O O B A B G I R D B I I P I D I A Õ I E E A S E C N X N I S I I P A V O N M O R I G U E R A D I M O T P S A O T A L R D T A Ç G E G T E Ã D A N I V O
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Solução
1 abobrinha 1 cebola 1 alho poró 1/2 xícara de azeite 8 colheres de sopa de farinha de trigo 1 colher de sopa de fermento químico 3 colheres de queijo parmesão ralado (opcional) 1/2 xícara de leite 3 ovos Pimenta-do-reino, sal e salsinha a gosto
Modo de preparo
O T A M R O F D I V I D I D A
D E R I V A D O S
O T U D O R P O I C O G E N O R G A
A B A T U I U T I Ç U T R I A N G U L O C A R U B E R L A N D I A
S E R T Ã O A B I A N A R A P R S E O O G I R I P I A Õ I E E S E C N X I S I I P V N M O I U R D M T A Ç Ã A N I V O
1. Rale a abobrinha e coloque em uma peneira; aperte bem para escorrer o máximo de líquido. Reserve. 2. Pique a cebola e o alho poró. Em uma panela, refogue bem em um fio de azeite. Reserve. 3. Em um liquidificador, bata o leite, os ovos, o azeite. Por último, acrescente a farinha e bata até fica homogêneo, e depois o fermento; 4. Em uma tigela, misture a abobrinha crua, a cebola e o alho poró refogados, o parmesão e a massa. Misture bem e tempere com sal, pimenta e salsinha; 5. Transfira para uma assadeira e leve ao forno pré-aquecido a 180 graus por aproximadamente 30 a 40 minutos.
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Exposição online conta história dos 55 anos do primeiro Miss Travesti de MG GLAMOUR E LUTA Após sete anos de proibição, em novembro de 1966, enfim, travestis realizam seu concurso de beleza Divulgação
Rafaella Dotta Está em cartaz no portal do Museu Bajubá uma exposição fotográfica e histórica do primeiro concurso Miss Travesti de Minas Gerais. Realizado em Belo Horizonte em novembro de 1966, o desfile marcou a resistência LGBTI+ num período em que a comunidade era abertamente reprimida pelo governo militar, pela polícia e pela mídia. A exposição “Entre gritinhos e emoções – 55 anos de Miss Travesti Minas Gerais em Belo Horizonte” conta com oito salas virtuais com fotos, recortes de jornais e textos explicativos. Ao longo da visitação, o in-
ternauta conhece como foram as tentativas da realização do concurso entre 1950 a 1964; tem acesso a uma sala específica sobre “Censura”; e pode visitar as salas do Miss Travesti de 1966, 1967, 1968 e sobre a vence-
dora da primeira edição, Sofia de Carlo. Sete anos de tentativas O Miss Travesti de novembro de 1966 foi o primeiro a conseguir autorização oficial
Carlos Marighella é interpretado por Seu Jorge
A Aedas presta solidariedade às pessoas atingidas pelas fortes chuvas em Minas Gerais, especialmente às que sofrem com o transbordamento do Rio Paraopeba e os deslizamentos de terra na região. Que o poder público e as empresas mineradoras envolvidas assumam a responsabilidade de oferecer assistência, informação e reparação dos danos às famílias atingidas.
da Polícia Civil. Porém, a população LGBTI+ da capital mineira já vinha há mais tempo fazendo a prática da montação e organizando concursos de forma clandestina. Luiz Morando, pesquisador sobre memórias LGBTI+ de Belo Horizonte e curador da exposição, explica que a prática de “fazer o travesti” já era muito comum a partir do fim dos anos 50. Na cidade, as tentativas de realizar um concurso Miss Travesti aconteceram desde 1959, mas sempre foram oficialmente impedidas pela polícia. “Isso mostra a atenção constante da Polícia Civil para proibir a realização de
formas de sociabilidade por parte de homossexuais, travestis, lésbicas, mas por outro lado, mostra que sempre houve essas formas de sociabilidade”, relata o pesquisador. Ele destaca que a população LGBTI+ tem uma história de comunidade, de agregação e de fortalecimento de sua identidade. “Conhecer a história do primeiro Miss Travesti, leva a gente a compreender um pouco mais sobre essa identidade de gênero (travesti) e essa prática de performance teatral que se aproxima do que hoje designamos Drag Queen, de ‘fazer o travesti’”, completa. ANÚNCIO
Seja solidário. Confira os pontos de coleta de doações da Aedas Betim Av. Juscelino Kubitschek, 700 - Centro
Belo Horizonte Rua Espinosa, 196 - Bonfim Segunda a quinta de 08h às 18h Sexta de 08h às 17h
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“Lutar, lutar, lutar”: o filme que conta a história do Galo pela ótica da torcida ATLÉTICO MINEIRO Em entrevista, diretor aborda as mudanças que o clube tem passado nas últimas décadas Bruno Sousa / Atlético
Wallace Oliveira O Atlético Mineiro vive o momento mais próspero de sua história nas quatro linhas. Em menos de uma década, conquistou a maioria de seus títulos importantes; figura entre os melhores times dos últimos anos nas Américas; e está prestes a comemorar a construção de um estádio próprio, com sua simbologia e identidade. Por décadas, seu principal trunfo era ter ao lado uma torcida que se orgulhava de pertencer à massa alvinegra nos bons e maus momentos. O Galo, porém, não está imune ao processo de elitização que tomou conta do futebol brasileiro e afasta a imensa maioria dos torcedores, pobres, negros, trabalhadores dos estádios. Para o cineasta Sérgio Borges, esse conflito é a própria luta de classes, que perpassa o futebol. No documentário “Lutar, lutar, lutar”, Sérgio se dedica a contar a história centenária do Atlético Mineiro. Confira. Brasil de Fato MG – Sérgio, qual a história desse projeto? Como ele foi pensado e conduzido? Sérgio Borges – Helvécio, que é codiretor do filme, propôs um projeto com o Atlético, que dissesse um pouco sobre a história do clube e que fosse para a torcida. Menos uma análise sociológica ou crítica do futebol e mais um filme em que o próprio torcedor pudesse se reconhecer e que, ainda assim, esses próprios elementos políticos aparecessem, em razão da própria história do time.
Conseguimos o aval do Atlético em 2014, mesmo ano em que o time acabou sendo campeão da Copa do Brasil. Nós filmamos esses momentos e, junto das filmagens, fomos atrás da história do Atlético em fotos, vídeos, matérias de jornal, para tentar compor essa narrativa. O projeto acabou sendo muito maior do que imaginávamos e só o lançamos em 2021. Um dos motivos é que a história do clube, que é centenária, é muito grande. Encontramos cerca de 500 horas de material, afora 100 horas que gravamos de entrevistas com jogadores, torcedores, jornalistas. A experiência do torcedor como parte do clube tem um lugar privilegiado?
Exato. É claro que o Atlético também é o Reinaldo, o Éder, o Luizinho, o Ronaldinho Gaúcho, mas a coisa só se configura com a torcida. São as pessoas que fazem a diferença com sua paixão, a mobilização da torcida. Eu tenho 46 anos, nasci depois que o Atlético foi campeão, em 1971, e convivi com esse “quase” no Brasileiro. Fomos oito vezes semifinalistas e estivemos em três, quatro finais, sem nunca ganhar. Temos histórias de injustiça e roubalheira. Então, mais importante do que ter títulos, ser atleticano era massa por conviver, ir ao Mineirão, viver a alegria da coletividade, da festa, independentemente de ser campeão ou não. A maioria dos documentários de futebol no Brasil se prestam mais a celebrar
as conquistas do que falar de outra coisa. No nosso filme, também celebramos as conquistas, mas também falamos dos momentos difíceis, dos momentos injustos, dos momentos de não ganhar títulos, da queda para a série B, da dificuldade, algo que forja o torcedor atleticano. A história do Galo parece ter como fio condutor essa lógica do sofrimento, sacrifício e superação. Mas, agora, na temporada fantástica de 2021, o time venceu com facilidade três campeonatos. Isso é uma virada na história do Galo? O Galo é um time fundado quase que com a cidade. Em 1908, provavelmente, era um lugar de encontro
social. Diferentemente do América, que se dizia um time da aristocracia, ou do Cruzeiro, um time da colônia de trabalhadores italianos, o Atlético era um time para o qual qualquer pessoa podia torcer, tinha uma torcida feminina organizada, o primeiro jogador negro do futebol mineiro, os jovens que os mais velhos não queriam deixar jogar e que fundaram seu próprio time, que foi administrado por uma mulher de descendência uruguaia. Nossos grandes ídolos foram Dadá Maravilha, que viveu na rua, Reinaldo, que se machucou muito jovem, que tem uma história de sofrimento e, por sua posição política, foi muito boicotado. Posso pensar no Guará, que abandonou a carreira precocemente em um acidente, jogando futebol. Essa história de sofrimento, resistência e superação acompanha o Atlético. Grande parte da torcida acompanha o clube por reconhecê-lo como um grande símbolo disso. Agora, tem investidores, uma certa capitalização do futebol. Desde que a Copa do Mundo veio para o Brasil, o público que vai aos estádios é muito mais elitizado. Ainda assim, as pessoas menos privilegiadas ainda torcem, fazem suas economias para ir ao estádio.
SERVIÇO Além do cinema, o filme está disponível para alugar no endereço filmedogalo.com.br, por R$ 13,92
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Seleção Brasileira Feminina Sub-17 é convocada para preparação para 2022
ESPORTES
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DECLARAÇÃO DA SEMANA William West /AFP
Adriano Fontes /CBF
um total de dez e equipes diferentes. No último confronto de 2021, também no Uruguaia,
a Seleção enfrentou a anfitriã Seleção Uruguaia Feminina Su-17, a “Canarinho”. Foram dois jogos, o Brasil
Gol de placa América e Cruzeiro se classificaram para a terceira fase da Copa São Paulo de Futebol Júnior! O Coelho derrotou nos pênaltis o Athletico-PR, após empate por 1x1, em Araras (SP), na quarta (12). Já o Cruzeiro venceu o Bragantino por 1x0, na quinta (13), em Itapira (SP).
“Na minha opinião, o mundo tem sofrido o bastante para não se seguir as regras”. Rafael Nadal, tenista, comentando sobre o caso do tenista sérvio Novak Djokovic, que enfrenta possível deportação da Austrália por falta de comprovação da vacina contra a covid-19
Gol contra Já o Atlético está eliminado da Copinha. O Galinho perdeu por 3x1 para o Mirassol, no estádio Manezão, em Bálsamo (SP), na quarta (12), pela segunda fase do torneio. O time paulista enfrentará o Sport Recife na próxima fase.
Tomando corpo
Tocando em frente
ATLÉTICO JÁ TEM UM NOVO TÉCNICO
@ANDREFIDUSI
A técnica da Seleção Brasileira Feminina da categoria, Simone Jatobá convocou as 26 jogadoras para preparação visando o Campeonato Sul-Americano Sub-17. O campeonato acontece em março, no Uruguai. O período de treinamento inicia no dia 16 de janeiro e vai até 5 de fevereiro. Dentre as jogadoras, 15 já vinham de convocações anteriores. São 9 jogadoras do Brasil, e uma dos Estados Unidos, de
Independência para quem?
Bráulio Siffert
Rogério Hilário
Fabrício Farias
Enfim o América de 2022 vai tomando corpo. Já foram anunciadas as contratações de cinco jogadores com boa experiência de Série A e até internacional, que chegam para buscar vaga no time titular. São eles: os zagueiros German Conti, Iago Maidana e Eder, o meia ÍnDecacampeão dio Ramirez e o atacante Everaldo. Somando-se a eles os jogadores do ano passado que foram mantidos, os meninos da base que já estão treinando com o time principal e mais umas contratações pontuais. O Coelho vai começar a temporada com um elenco bem promissor, podendo fazer testes e ajustes nos primeiros jogos do Mineiro para chegar bem à Libertadores. Aparentemente, o América também mudou de patamar já na montagem do elenco.
O Atlético, neste início de 2022, após o tsunami de 2021, se espelha em Renato Teixeira e Almir Sater: “Ando devagar porque já tive pressa e trago esse sorriso porque já chorei demais”. O condomínio de mecenas 4R buscou ser criterioso na escolha do novo treinador. Analisou É Galo doido! currículos, comparou perfis e, sem Carvalhal e Jorge Jesus, optou por outro estrangeiro, o argentino Antonio “Turco” Mohamed. Como a diretoria o encontrou como solução é difícil de imaginar. Ele, que está sem clube desde 2020, quando deixou o Monterrey, do México, chega no dia 14. Não se sabe se vai dar certo. Sampaoli, sem compatriota, contribuiu para montar o elenco vitorioso de 2021, mas fracassou na busca de títulos. Aguardemos.
Salve Nação celeste! O modo como o ídolo Fábio deixou o Cruzeiro é o retrato da destruição do clube. Junta em um mesmo evento a incompetência das gestões anteriores, com a frieza do choque de gestão proposto por Ronaldo e sua trupe. Mais do Negra que a marca de ser La Bestia o jogador que mais atuou pelo clube, no futuro Fábio será a representação de como o processo de destruição de um clube não se dá apenas em termos materiais, mas também em termos simbólicos. Fábio representa em campo um momento vitorioso que convivia com a destruição institucional do Cruzeiro. Com a mudança de gestão, teve uma saída que nenhum ídolo merece. Alguém ainda acredita que de fato a constituição de uma SAF significa independência?
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