Edição Especial Nº 12 / 2019 Circulação nacional Distribuição gratuita
BOLSONARO QUER DESTRUIR O BRASIL Em 200 dias, governo sucateia serviços públicos e entrega bens nacionais a empresas privadas
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O xadrez do governo Bolsonaro Preconceito, autoritarismo, desmonte das organizações e aproximação com milícias são marcas da atuação do presidente
DESMONTE DE TODA FORMA DE ORGANIZAÇÃO
PRECONCEITO CONTRA OS MISERÁVEIS E CONTRA A ELITE
HORROR A QUALQUER TIPO DE DIVERGÊNCIA
▶ Assim como em outros mo- ▶ Uma característica da classe ▶ O horror à divergência é POR LUIS NASSIF
▶ As movimentações políticas que
expressam o caráter do governo Jair Bolsonaro (PSL) já podem ser percebidas em poucos meses de atuação. Ataques aos direitos, como a reforma da Previdência; cortes de investimentos em diversas áreas; desregulamentação da economia; e propostas de venda do patrimônio nacional são exemplos do que está sendo posto em prática pelo governo federal. O jornalista econômico Luis Nassif, criador do site GGN, apresenta as peças deste xadrez e as características de Bolsonaro neste tabuleiro político.
ELITE, POVO E LÚMPEN
▶ Uma das peças centrais do
governo Bolsonaro é o desmonte de qualquer forma de proteção social e de regulação capitalista da economia. Embrulha tudo isso na embalagem do empreendedorismo e da liberdade de atuação das empresas. Mas não se trata nem de um representante da elite, nem do proletariado, nem do empreendedorismo. A divisão é outra: é entre a economia formal e a economia da zona cinza, ou irregular ou criminosa.
Lúmpen: termo usado pelo filósofo alemão Karl Marx. Refere-se à população socialmente abaixo do proletariado [trabalhadores], com condições de vida e trabalho miseráveis.
DESREGULAÇÃO E ECONOMIA DO CRIME
▶ Sua última decisão, de proibir
que as Juntas Comerciais comuniquem suspeitas de crimes na constituição de empresas, somada ao apoio às restrições do Coaf, visa justamente abrir espaço para a ocupação da economia pelas organizações clandestinas, algumas nitidamente criminosas. Não se pense em motivação ideológica ou qualquer forma de pensamento elaborado. A escola de Bolsonaro são as milícias. Vez por outra, ele vai buscar no neoliberalismo selvagem motes para o desmonte do Estado formal.
Coaf: O presidente do STF, Dias Toffoli, suspendeu, em julho, todas as investigações baseadas em relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras. A decisão atendeu ao senador Flávio Bolsonaro (PSL) no caso Fabrício Queiroz. Ex-assessor de Flávio, Queiroz é investigado por movimentações bancárias incomuns de mais de R$ 1 milhão.
vimentos fascistas, Bolsonaro não admite o contraditório ou qualquer forma de organização, seja social, seja de corporações públicas. É o que explica o fim dos conselhos, os ataques às organizações sociais e o fato de colocar Supremo, Procuradoria Geral da República e Lava Jato de joelhos.
APROPRIAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS PELO LÚMPEN EMPRESARIADO Uso o termo lúmpen empresariado para diferenciar dos setores empresariais modernos e tradicionais. São os que exploram nichos como bingo, manicômios, clínicas psiquiátricas, escolas para deficientes e, no caso das milícias, transporte público, construções irregulares em áreas de preservação e venda de gatos, gás e proteção privada.
média baixa, em seu processo de ascensão econômica, é a ampla rejeição a qualquer forma de miséria que possa lembrar suas origens, e a revolta contra qualquer grau de hierarquia social, como expressão da revolta pelas humilhações sofridas. O resultado é um tipo com profundo preconceito em relação aos mais pobres e uma repulsa contra os salões da elite, aos quais nunca teve acesso. A família Bolsonaro enquadra-se perfeitamente nesse perfil. Por isso, é tolice considerar Bolsonaro como aliado das elites. Ele é um representante típico do lúmpen. Fica à vontade com o lúmpen, as formas de expressão são típicas do lúmpen, assim como as demonstrações de machismo, o símbolo fálico das armas, as piadas escatológicas.
consequência automática do complexo de inferioridade que os acompanha a vida toda, seja pelas vulnerabilidades de origem, seja pela fraqueza intelectual. Só confiam nos seus. Daí a exigência de obediência absoluta, que faz os espíritos mais fracos se comportarem de forma vergonhosamente subserviente. Não há saída democrática nesse perfil. A cada dia que passa, mais aprofundará as posturas autoritárias e o atropelo das instituições e das normas, até o confronto final, a hora da verdade, quando se conferirá se as forças que aglutinou em seu apoio serão superiores ou não ao grande pacto de resistência às suas loucuras que começa a se formar.
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Caixa A equipe de Bolsonaro já vendeu R$ 16 bilhões de ativos (bens, patrimônios, serviços) da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil (Fonte: Fenae). A Caixa é a maior operadora de programas como Bolsa Família, PIS, Minha Casa Minha Vida e FGTS. Os bancos públicos, diferentemente do capital financeiro privado, têm a missão de estimular medidas sociais e econômicas de interesse do país.
Fábio Pozzebom / Agência Brasil
Bolsonaro, mas os estragos já são expressivos e a população sente na pele. Um dos impactos mais graves é a ameaça à soberania do país, que é princípio fundamental da nossa Constituição. Ele garante que o Brasil é uma nação que decide seu próprio destino, protege o seu território e utiliza as riquezas em benefício do seu povo. Mas por que o Bolsonaro é um perigo à soberania? Porque ele torna o país vulnerável a interesses do mercado e do capital estrangeiro, inclusive ao privatizar empresas e patrimônios estratégicos. “Vender empresas que controlam áreas sensíveis da economia; abrir mão da capacidade de controlar recursos importantes, como petró-
leo ou minérios; enfraquecer a competitividade dos produtos brasileiros, diminuindo as tarifas para produtos importados. Tudo isso afeta diretamente a qualidade de vida da população de diferentes formas”, avalia Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL. A estratégia do atual governo é ir além, segundo ele: “Bolsonaro pretende colocar o Brasil de joelhos aos Estados Unidos e Israel, numa subserviência inédita na história das relações exteriores brasileiras”. É para resistir a esse entreguismo de Bolsonaro que partidos políticos, movimentos populares e organizações da sociedade civil lançam, em 4 e 5 de setembro, o Movimento em Defesa da Soberania Nacional e Popular, no Congresso Nacional. Acompanhe as notícias sobre essa iniciativa no site do Brasil de Fato.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) está sob ameaça de privatização desde o golpe de 2016. A proposta ganhou força no governo Bolsonaro. A venda entregaria ao mercado uma das maiores e mais eficazes empresas públicas brasileiras e que promove a integração nacional por meio do serviço postal.
Petrobras A privatização na Petrobras já começou. Em julho, a subsidiária de postos de combustíveis BR Distribuidora foi vendida em mais uma medida de desmonte da companhia. Agora, a distribuidora possui mais capital privado que estatal. O próximo passo na estratégia de desmonte é a venda de refinarias. Ou seja, deixamos de ter o controle sobre o petróleo, que é um bem extremamente estratégico em qualquer lugar do mundo.
Base de Alcântara Os governos do Brasil e dos Estados Unidos fecharam, em março, um novo acordo que concede o uso comercial do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, para o país comandado por Donald Trump. A medida ainda tem que passar pelo Congresso Nacional. Com o acordo, os EUA teriam acesso ao local mais estratégico do mundo para lançamento de satélites. Comunidades quilombolas que resistem na região temem ser despejadas.
Eletrobras A venda da Eletrobras pode ocorrer ainda neste ano, de acordo com a expectativa do governo federal. A estatal gera energia para 1/3 dos brasileiros, sendo a maior empresa do setor no país. O Sindicato dos Eletricitários estima que a privatização da Eletrobras pode aumentar o preço da energia em 160%.
Valter Campanato / Agência Brasil
▶ São apenas sete meses de governo
Marcello Casal / Agência Brasil
Da Redação
Correios
Antônio Cruz / Agência Brasil
Entrega da Base de Alcântara aos EUA e privatização da Petrobras e dos Correios são algumas das propostas de Bolsonaro
Xeque-mate nos interesses do povo brasileiro
Fábio Pozzebom / Agência Brasil
Governo vende empresas estratégicas do país
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PLANO DE BOLSONARO AMEAÇA GRATUIDADE NO ENSINO SUPERIOR, DIZ REITOR DA UFABC
Painel dos cortes da Educação Retirados
30%
dos recursos da educação superior Foto: Fernanda Rezende - IEA/USP
Dácio Matheus aponta que reitores não foram convidados para debater o programa “Futurese”: "Soubemos na véspera" Por Igor Carvalho
▶ O Ministério da Educação tem sido
responsável por boa parte das manchetes negativas produzidas contra o governo de Jair Bolsonaro (PSL). Em abril deste ano, ele cortou 30% do orçamento das universidades federais. Estudantes e professores foram às ruas para protestar contra o desmonte. Agora, sem consulta pública, o governo anunciou o programa “Future-se”, que prevê a criação de um fundo de R$ 102 bilhões para atrair investimentos privados para o ensino superior. Para Dácio Matheus, reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC), em Santo André (SP), a proposta pode levar à cobrança de mensalidade. “Não há nada no projeto que explicite que não haverá cobrança e que a gratuidade será garantida”, afirma. BRASIL DE FATO: Qual sua opinião sobre o “Future-se”? DÁCIO MATHEUS: O programa precisa de uma análise técnica legal do ponto de vista acadêmico e de uma maior clareza sobre a adoção obrigatória das organizações sociais [OS] como única forma de acessar recursos que estão previstos nos diferentes fundos que os programas se propõem a movimentar: os fundos patrimoniais e imobiliários. Outro aspecto que não estamos dis-
cutindo é que várias parcerias com a iniciativa privada e outras fontes de recurso já são uma prática das universidades. Porém, elas não foram citadas no programa, nem como alternativa, o que causa estranheza no desenvolvimento disso. Ao mesmo tempo, devemos destacar que qualquer adesão ao programa não é decidida, e não pode ser decidida, pelos reitores. É pelos conselhos deliberativos. BDF: O senhor acha que o “Future-se” se aproxima de uma proposta de privatização? DÁCIO MATHEUS: Nos documentos que nós temos, que estão disponibilizados, não há menção à cobrança do ensino. Nas declarações que escutamos de representantes do Ministério [da Educação], há uma afirmação de que não é o caso. Por outro lado, não há nada no projeto que explicite que não haverá cobrança e que a gratuidade será garantida. BDF: De que forma os cortes impactaram as universidades federais? DÁCIO MATHEUS: O primeiro impacto é que o planejamento feito pelas uni-
95% da pesquisa no país está em universidades públicas
versidades em suas atividades já fica comprometido em 30%. A outra questão é que, diferentemente de anos anteriores, o anúncio já pressupõe que não devemos acessar esses 30% do orçamento. Essa tem sido nossa reivindicação, que não se coloque isso como meta, mas que nós possamos acessar 100% do orçamento até o final do ano. Cada universidade tem contratos com prazos de vencimento muito diferentes, então esse comprometimento do funcionamento vai variar no segundo semestre em cada uma das universidades. O que já temos sentido é que já tem universidade que não está conseguindo honrar com seus compromissos. BDF: Nós temos um governo e um presidente que constantemente questionam dados científicos e pesquisadores. Como o senhor lida com esse enfrentamento? DÁCIO MATHEUS: Vemos com preocupação, porque a produção do conhecimento que nós temos é reconhecida nacional e internacionalmente. Ela vem em grande parte das universidades públicas brasileiras: 95% da pesquisa no país está em universidades públicas. Na medida em que se colocam em questão essas instituições e a produção de conhecimento delas, fragiliza-se a imagem do país diante da comunidade internacional. As informações e os dados científicos que embasam tomadas de decisão têm origem nas pesquisas e nos institutos reconhecidos nacionalmente. Então, no mínimo, fragiliza demais a imagem do próprio país.
Mais de 1,3 milhão de estudantes de graduação e 200 mil mestrandos e doutorandos prejudicados
400 mil vagas ameaçadas
Mais de 5 mil cursos em 298 municípios em risco
4.798 novas bolsas de pesquisa da Capes suspensas
Fonte: Andifes, com atualização diária, com base no Sistema de Administração Financeira do Governo Federal. Dados referentes a 24 de julho de 2019.
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Corte em universidades atinge em cheio jovens de baixa renda e negros Percentual de acesso por meio de cotas aumentou 15 vezes em relação a 2005
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Com renda familiar per capita de um salário mínimo e meio
Por Lu Sudré
O perfil dos estudantes das 63 universidades federais das cinco regiões do país mudou muito nos últimos 15 anos. Os universitários brasileiros que ingressam no ensino superior de instituições públicas são, em sua maioria, pessoas de baixa renda, negros e mulheres. Os dados são de uma pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Um dos principais fatores para o aumento da diversidade e igualdade de acesso às universidades federais é a Lei de Cotas, sancionada pela ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) em 2012. A lei garante metade das vagas para estudantes do sistema público e reserva vagas para indígenas, pretos e pardos. Antes disso, o Estatuto da Igualdade Racial, sancionado em 2010 pelo ex-presidente Lula, já traçava políticas de cotas na educação. Com isso, o percentual de cotistas saiu de 3%, em 2005, para 48%, em 2018. Os cortes de 30% dos recursos da Educação, anunciados pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL), colocam em risco as políticas de permanência, por meio da assistência estudantil, que garantem esse novo perfil de estudantes nas universidades federais.
PERFIL DOS ESTUDANTES DE UNIVERSIDADES FEDERAIS
2013
2018
43%
Desde criança, sempre ouvi que a universidade federal era para os filhos da elite.'' "Hoje sou a primeira pessoa da família a cursar uma universidade pública. Mas o governo apresenta medidas que buscam nos excluir desse espaço, através dos cortes que querem acabar, principalmente, com as políticas de assistência estudantil. Além, é claro, do sucateamento das universidades públicas para abrir caminho à iniciativa privada, apresentando a cobrança de mensalidades como alternativa à falta de investimento público na educação. Este ataque é diretamente a nós, estudantes negros, cotistas, que nunca tivemos acesso a esse espaço.” Eduardo Campos de Mesquita, 23 anos, Economia na Universidade Federal Fluminense (UFF)
70%
Oriundos de escola pública 2013
2018
37%
65%
Entrar em uma universidade pública foi um divisor de águas na minha história e na de minha família." "Sou a primeira [da minha família] a entrar em uma universidade pública, mudando assim o curso do rio que nos era posto, e tive essa possibilidade com muita luta e estudo, pois sempre estudei em escola pública, na periferia da zona sul de São Paulo. Um programa como o ‘Future-se’ do atual governo é brutal ao colocar a possibilidade de mensalidade em universidades públicas, isso ameaça totalmente minha sobrevivência em Santa Catarina e na UFSC, pois trabalho para sobreviver na cidade e me formar. Pagar uma mensalidade seria impossível, ameaçando assim completamente meu futuro como geógrafa.”
Elen Cristina Dornelis, 25 anos, Geografia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Negros 2013
34% Fonte: Andifes
2018
51% Sou uma das primeiras da minha família a ingressar no ensino superior público." "Entrei na universidade em 2014 por meio das cotas. Sou filha de cozinheira e de um feirante; logo consegui uma bolsa de auxílio para conseguir me manter na universidade. Naquela época ainda existia uma perspectiva de futuro, emprego e investimento de fomento à pesquisa. De alguns meses para cá, com a notícia dos cortes, todo esse sonho de universidade e educação corre sérios riscos. Os laboratórios para aulas e pesquisas já sofrem com os cortes. Já sentimos a falta de equipamentos para ter aulas e fazer pesquisas com qualidade. Eu defendo um país que invista na educação, na ciência, tecnologia e inovação, e não é isso que o atual governo vem fazendo.” Manuella Mirella Nunes da Silva, 23 anos, Química na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
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“É um dia pelo outro”, conta desempregado há dois anos Assim como outros 13 milhões sem trabalho no Brasil, Daniel Silva recorre a “bicos” e, sem dinheiro, teve que deixar sua casa
O que o país precisa para criar empregos
Aumentar o salário mínimo e o valor de benefícios sociais
Retomar o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para estimular investimentos
Mutirão em São Paulo mostra o drama do desemprego no Brasil / Vanessa Nicolav/BdF Por Lu Sudré
“Um dia eu trabalho de panfleteiro, no outro dia vou para a região central para vender algumas coisas. O que aparecer vou fazendo. Vou me virando como Deus quer. É um dia pelo outro.” O relato de Daniel Alexandre da Silva, 54 anos, retrata a realidade de milhares de brasileiros que sobrevivem por meio dos famosos “bicos”. O Brasil tem mais de 13 milhões de desempregados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa está entre os maiores patamares desde 2003. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em junho, mostra que mais de 3 milhões de brasileiros, como Daniel, estão sem emprego há mais de dois anos. Desde 2015, o número de pessoas nessa condição aumentou 42%. Desse total, quase 29% são mulheres. O trabalho informal é a única opção que Daniel tem para garantir alguma renda. Ele era auxiliar de limpeza no Hospital das Clínicas, em São Paulo, mas desde janeiro de 2017 está desempregado. Os bicos não foram suficientes para Daniel pagar o aluguel da casa onde morava, em Mogi das Cruzes, no interior paulista.
Quando o patrão paga por dia, tudo bem. Quando eles pagam por semana, ficamos sem dinheiro. Eles dão uma refeição e, de resto, a gente se vira.” Atualmente, ele vive em uma ocupação de moradia no centro da capital paulista e se coloca à disposição para qualquer tipo de serviço, mesmo com péssimas condições. “Quando o patrão paga por dia, tudo bem. Quando
eles pagam por semana, ficamos sem dinheiro. Eles dão uma refeição e, de resto, a gente se vira.” Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), aponta que o alto índice de desemprego no país faz com que as pessoas aceitem postos de trabalho abaixo da qualificação e “com remuneração e condições de trabalho precárias”. “Como a geração de empregos é baixa e o desemprego é alto, há uma quantidade de pessoas disputando cada vaga e um desespero para parte da população que já está desempregada por um longo período”, avalia.
Melhorar o gasto público para manter a qualidade dos serviços e estimular o crescimento da infraestrutura
Estimular a venda de produtos brasileiros para outros países
Desemprego subiu após golpe de 2016 (%)
Arte: Fernando Badharó
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CORRUPÇÃO
Moro prendeu Lula para ser ministro de Bolsonaro
Enquanto isso, o procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, enriquecia com palestras
Plano de Dallagnol para enriquecer com a Lava Jato ◼ O procurador Deltan Dallagnol articulou a criação de um negócio de fachada utilizando as esposas como “laranjas” para vender palestras.
dor, Roberson Pozzobon, e as suas respectivas esposas. A lei não proíbe que procuradores sejam sócios, investidores ou acionistas, desde que não tenham poderes de administração ou gestão da empresa. Procurada pela reportagem, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse, em nota, não reconhecer as mensagens que têm sido atribuídas a seus integrantes. “O material é oriundo de crime cibernético e não pode ter seu contexto e veracidade confirmados”, diz o texto. Afirma ainda que os procuradores “pautam sua conduta pela lei e pela ética”. O Ministério da Justiça não respondeu aos questionamentos do Brasil de Fato.
“Se tudo der certo nas palestras, vai entrar ainda uns 100k [R$ 100 mil] limpos até o fim do ano [2018]. Total líquido das palestras e livros daria uns 400k [R$ 400 mil].”
◼ O coordenador da Lava Jato também
cogitou criar um instituto sem fins lucrativos para pagar altos cachês a ele mesmo.
Moro usou “combate à corrupção” para obter benefícios pessoais
“Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários.”
Lula sem provas, Moro impediu que o candidato à frente nas pesquisas concorresse à presidência. Depois de eleito, Jair Bolsonaro recompensou o então juiz com o posto de ministro da Justiça.
◼ A farsa. As mensagens reveladas
pelo The Intercept Brasil comprovam que Moro interferiu nas investigações, sugerindo inclusive provas para o processo. Quem deveria ser juiz imparcial era também acusador.
ações de Moro não tinham como real intenção combater a corrupção. O ex-juiz já mirava o Ministério da Justiça e uma vaga no STF.
salário líquido de R$ 25.600, além de R$ 7.310 em auxílios alimentação, pré-escola e moradia. Mas ele queria mais.
◼ Mudando o foco. Inquérito da
◼ No Ceará, Dallagnol palestrou para
a Federação das Indústrias do estado por R$ 30 mil e ainda pediu ingresso e estadia em um caro parque aquático para ele e a família. “Eu pedi pra pagarem passagens pra mim e família e estadia no Beach Park. As crianças adoraram.”
◼ A escada política. Ao condenar
◼ Falso combate à corrupção. As
◼ Como procurador, Dallagnol já recebe
Deltan Dallagnol: procurador federal que coordena a Operação Lava Jato
Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula
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Por Rafael Soriano e Ana Flávia Marx
Um dos materiais obtidos legalmente pelo site The Intercept Brasil prova o uso da Operação Lava Jato como forma de conseguir benefícios pessoais e políticos. O procurador Deltan Dallagnol viu a operação como uma oportunidade de enriquecer. Sérgio Moro, por sua vez, usou a perseguição contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como escada política. “Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking [rede de contatos] e visibilidade”, escreveu Dallagnol em um grupo no aplicativo de mensagens Telegram com outro procura-
Sérgio Moro: atual ministro da Justiça e ex-juiz federal de primeira instância nos casos da Lava Jato
Polícia Federal, que investiga o vazamento das mensagens dos celulares de Moro e Dallagnol, prender três suspeitos. Um dos presos alegou que venderia as mensagens ao PT. “É criminosa a tentativa de envolver o PT num caso em que é Moro que tem de se explicar”, disse em nota o Partido dos Trabalhadores.
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Enem: dicas que vão preparar você para a prova
É hora de lutar por emprego, educação e soberania nacional
Mais de 5 milhões de pessoas estão inscritas para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorre nos dias 3 e 10 de novembro deste ano. Pratique a leitura: a interpretação de textos é essencial para acertar questões do Enem. Quanto mais você exercitar a leitura, com maior agilidade e facilidade lerá os textos da prova. Planeje seus estudos: organizese com antecedência para estudar os principais temas de cada área da prova e arrasar no dia do exame. Pratique a escrita: a redação é uma das partes mais temidas do Enem. Se você praticar, será mais fácil escrever e argumentar sobre qualquer tema.
Mobilizações debatem problemas estruturais para o país sair da crise
Fique ligado no que está acontecendo no mundo e no Brasil: ler jornais e estar atento às discussões atuais da sociedade é fundamental. Faça simulados e provas antigas do Enem. Isso ajuda também a controlar melhor o tempo. No dia da prova, chegue com antecedência ao local e descanse na véspera do exame. Leve uma garrafa de água para se hidratar e algo para comer.
Agosto começa com mais um Tsunami da Educação. No dia 13, escolas e universidades vão parar para protestar contra os cortes feitos pelo governo federal e contra programas que representam a privatização das universidades. A ideia é repetir os atos ocorridos em cerca de 200 cidades em 15 e 30 de maio, quando mais de três milhões de pessoas foram às ruas para defender a educação pública. (Saiba mais nas páginas 4 e 5). Nos dias 13 e 14 de agosto, mais de 100 mil camponesas são esperadas na capital federal para a 6ª edição da Marcha das Margaridas, que ocorre todos os anos desde 2000. Entre os temas trazidos por elas neste ano está a defesa da produção agroecológica. Desde o início do seu governo, Jair Bolsonaro (PSL) liberou 290 novos agrotóxicos no Brasil.
Nos dias 4 e 5 de setembro, será lançado, na Câmara dos Deputados, o Movimento em Defesa da Soberania Nacional e Popular. Um dos focos da articulação é a defesa do emprego (Saiba mais na página 3).
Helô D'Angelo
A luta pela anulação dos julgamentos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também será tema de mobilização em agosto com a Semana Latino-Americana por Lula Livre, de 26 de agosto a 1º de setembro. A programação termina com o 4º Mutirão Lula Livre, com debates em todo o país. Em Curitiba, haverá um ato de rua pela liberdade de Lula.
AGENDE-SE 13/08 - 3° Tsunami da Educação 13 e 14/08 - Marcha das Margaridas 26/08 a 01/09 - Semana LatinoAmericana por Lula Livre 4 e 5 /09 - Lançamento do Movimento em Defesa da Soberania Nacional e Popular
O Comitê Lula Livre está reunindo assinaturas para anular os julgamentos do ex-presidente Lula com base na comprovação de que Sérgio Moro não foi um juiz imparcial.
Expediente: Edição especial. Circulação nacional gratuita. Agosto/2019 | Reportagem: Ana Flávia Marx, Igor Carvalho, Lu Sudré e Rafael Soriano | Edição: Beatriz Pasqualino, Camila Maciel e Nina Fideles | Revisão: Daniel Giovanaz e Aline Scátola | Jornalista responsável: Beatriz Pasqualino (MTB 42.355/SP ) | Artes e diagramação: Fernando Badaró, Fernando Bertolo e Michele Gonçalves | Foto da capa: Helvio Romero/Estadão Conteúdo | Contato: brasildefato.com.br / jornalismo@brasildefato.com.br