Brasil de Fato edição 174

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Minas Gerais

24 de fevereiro a 10 de marco de 2017 • edição 174 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita • facebook.com/brasildefatomg

MINHA CIDADE É DE CARNAVAL Mídia NINJA

Chegou uma das festas mais esperadas por todos. A folia já começou faz tempo, mas é durante cinco dias que ela toma conta das ruas. A festa vem crescendo ano a ano e em 2017 está ainda maior. Em Belo Horizonte os blocos são uma realidade em todas as regiões e bairros da cidade e oferecem opções para todas idades e gostos. O Brasil de Fato MG entrevistou o produtor carnavalesco José Guilherme Castro e foi atrás das escolas de samba e dos blocos de bairro Isis Medeiros / Levante Popular da Juventude

MINAS

Mulheres Cabulosas, presentes! Projeto que recria fotos de mulheres fortes da história pode virar livro a partir de doações. Modelos também são lutadoras que interpretam personagens como Valentine Y. Orlikov (foto)

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BRASIL

Reforma contra quem trabalha Governo não eleito de Temer (PMDB) prepara o mais violento ataque à CLT em toda a história

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OPINIÃO

Belo Horizonte, 24 de fevereiro a 10 de março de 2017

Editorial | Brasil

Eu quero botar meu bloco na rua

Nilson

O carnaval, um dos principais fenômenos culturais do Brasil, tem uma relação profunda com a política. Há empresas ou grupos políticos que financiam escolas de samba, há blocos populares que não aceitam se vender, há marchinhas que dizem mais verdades que a grande mídia, há um resgate da história e da formação do povo brasileiro. O fato é que nestes dias de fe-

ESPAÇO dos Leitores “Grandes mulheres” Hélio Jost comenta o artigo “Mulheres que colocaram o homem na lua”, sobre o filme “Estrelas além do tempo”

“Uma matéria esclarecedora, pena que a maioria das pessoas que precisam ler esse conteúdo não o farão” Moisés Alejandro Rosell Facciuto escreve sobre a matéria “Desmilitarizar a PM não é desarmá-la, explicam especialistas”

“Os efeitos nocivos do golpe de 2016! Chegou! Reginaldo Conceição Anastacio comenta a matéria “Servidores de Uberlândia ocupam Câmara Municipal por melhores salários”

“É esse tipo de youtuber que precisa ser reconhecido e visualizado. Não as porcarias que os adolescentes de hoje em dia multiplicam por aí” Samantha Aragão comenta a matéria “Profissão: Youtuber”, da edição 172

O povo não pode ficar como espectador vereiro os principais fatos e conflitos atuais ou históricos da realidade aparecem na rua de uma forma criativa e descontraída. Este será o primeiro carnaval pósgolpe. Neste grande sambódromo chamado Brasil, encontramos algumas das alegorias mais bizarras de nossa história. A “escola de samba” dos golpistas “ensaiou” e já está “desfilando” o maior ataque aos direitos do povo que o país já vivenciou. Já passaram “carros alegóricos” que congelam os gastos públicos, degradam todo o sistema de educação e de saúde e limita os gastos com os mais pobres. Já iniciaram também as privatizações das empresas mais estratégicas do Brasil. Entram em cena agora os ataques à aposentadoria (reforma da previdência) e aos direitos trabalhis-

tas. Caso forem aprovadas essas reformas, o povo passará a trabalhar

A “escola de samba” dos golpistas ataca os direitos do povo a vida toda e em condições muito piores do que as que já vivemos. As mulheres, jovens e a população rural serão os mais afetados, já que perderão muitas das garantias conquistadas com suas lutas históricas. Criatividade ativa Diante destas bizarrices no sambódromo, o “público” deve tomar cuidado para não bater palmas para “fantasias” ainda mais bizarras, como Bolsonaros (bolsomitos), que fingem honestidade para implantar o fascismo no país. O fato é que o povo não pode ficar como espectador, deve ter a ousadia de botar o bloco na rua, combater os projetos que atacam seus direitos e a democracia e colocar na ordem do dia o seu próprio projeto, construído pelas próprias mãos. O povo possui uma criatividade infinita. Na história tão sofrida do Brasil, foi capaz de criar e fazer acontecer um fenômeno cultural fantástico, que é referencia de alegria para o mundo. O povo que criou tal fenômeno, sem dúvida, é capaz de construir uma nação que sirva ao seu povo, um Brasil popular.

Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

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Esse Supremo que temos [...] é coerente com seu passado à época do regime militar. O mesmo Supremo proficiou a reversão da nossa democracia sobre o impeachment de Dilma Rousseff. O golpe estava consumado, não há como ficar calado”.

O Carnaval é uma festa plural, tempo de dançar e curtir. É uma época do ano em que a criatividade ganha forma e mostra que o melhor do Brasil é mesmo o povo brasileiro.

Na folia, você vai se fantasiar de quê?

Stefany Stradioto, escritora

“Se Deus quiser eu vou sair no carnaval. De fantasia tenho muita coisa em mente, sair de samba canção, gravata. Mas gosto mesmo de fantasia de grupo, sempre combino com meus amigos qual é a moda. A gente tá pensando em sair de Power Ranger neste ano”.

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Declaração da Semana

PERGUNTA DA SEMANA

“Eu vou me fantasiar de palhaça e de sereia. Um dia, eu também vou com aquela roupa clássica da personagem feminista. Procuro blocos que têm mais essa pegada de valorizar a mulher”.

GERAL

Reprodução

Discursou o escritor brasileiro Raduan Nassar ao receber, na sexta (17), o Prêmio Camões de Literatura

Trilhas neste carnaval?Vá em frente!

Kainã de Amorim, comerciante

Como protestar na greve mundial das mulheres?

Mídia NINJA

Uma greve geral das mulheres será realizada em todo o mundo no 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres. No Brasil, a paralisação terá como tema central a reforma da Previdência. Confira dicas de como protestar na data: • Greve total, parar no trabalho e nas tarefas domésticas e sociais • Greve em tempo parcial, parando o trabalho por algumas horas • Caso não seja possível parar no seu trabalho, usar elementos que simbolizem a causa, como roupa preta • Boicotar lugares misóginos (que desprezem ou diminuam mulheres) • Bloquear caminhos e ruas • Participar de marchas, piquetes e escrachos • Protestar nas redes sociais e usar uma foto de perfil que apoie a causa (para sugestões, acesse: www.parodemujeres.com)

Já quis fazer uma caminhada interessante e abortou o plano por falta de ideias? O aplicativo Wikiloc traz centenas de sugestões para caminhada, bicicleta, corrida, montanhismo e outras variações. Ele funciona como um banco de mapas enviados por internautas. Clicando na trilha “Travessia BH – Nova Lima”, por exemplo, é possível ver o mapa com marcadores do caminho, a distância, a altitude, quantidade de subida, quantidade de descida e dificuldade. Há ainda relatos das pessoas que já fizeram a trilha, com detalhes e pontos de referência pelo caminho. O app pode ser acessado em www.pt.wikiloc.com

Camisinha na bolsa é coisa de mulher

Se cuidar é importante em qualquer ocasião, principalmente no carnaval. A camisinha, além de evitar a gravidez, previne a transmissão de doenças. Levá-la não deve ser uma obrigação exclusiva do homem, assim como a concepção não deve ser vista apenas como responsabilidade da mulher. Quem ainda se sente insegura para comprar um pacote na farmácia, deve tentar pensar diferente: se proteger é prova do seu amor próprio e de que você se importa com seu corpo e saúde, além de uma expressão da sua sexualidade. Qual o problema?


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CIDADES

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Movimentos organizam resposta contra desmonte da Previdência DIREITOS No Dia Internacional das Mulheres, movimentos realizam ato unificado com a pauta da aposentadoria Lidyane Ponciano / Foto Imagem

Wallace Oliveira

Cronograma da PEC 287

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governo não eleito de Temer (PMDB) pretende aprovar, em abril, a PEC 287, que vai desmontar a Previdência e acabar com vários direitos sociais da população brasileira. Diversas organizações prometem opor uma forte resistência a esse ataque. Em Minas, dezenas de entidades organizam ações de protesto e conscientização. “Temos duas frentes de ação. Uma delas é desconstruir a propaganda mentirosa do governo e da mídia oficial, que fala pelos grandes grupos econômicos, produzindo material e divulgando. Na outra frente, é preciso cada vez mais promover a mobilização dos trabalhadores, a união no campo, na cidade, servidores públicos e mesmo a classe média, pois todos serão atingidos por essa reforma”, explica Lindolfo Fernandes, presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Estadual de Minas Gerais (Sindifisco-MG).

15/03 - Leitura do parecer do relator da proposta, Arthur Maia (PPS-BA), na comissão especial da Câmara dos Deputados 21/03 – Votação do texto na comissão especial 28/03 – Votação em primeiro turno no plenário da Câmara dos Deputados 06/04 – Votação em segundo turno Depois, para ser aprovada em definitivo, a proposta deve passar por votação em dois turnos no Senado. Sindicalistas distribuem material de formação na Cidade Administrativa

Exatamente no ano em que se completa meio século de conquista da aposentadoria aos 60 anos para as mulheres, elas podem ser as mais prejudicadas pelas novas regras. “Mulheres recebem, em média, cerca de 25% a menos que os homens, pois estão nas ocupações que pagam menos. Em determinados setores, a diferença pode chegar a 50% ou mais. A taxa de desemprego entre as mulheres é o dobro da taxa masculina”, explica a economista Marilane Teixeira. “Quando há

uma crise, as mulheres são as primeiras a ir para o trabalho doméstico, para a informalidade, para o trabalho terceirizado. A maioria das mulheres, hoje, se aposenta por idade, pois não trabalharam com registro”, reforça. Ações contra o golpe na Previdência Em todo o estado, organizações realizam diversas atividades no âmbito municipal. Já nos dias 8, 15 e 31 de março, elas se unem em grandes atos unitários na capital.

Cronograma da luta

22/02 – Barraca da CUT na Praça Sete, para esclarecer a população sobre a PEC 287

07/03, Formação sobre o tema na Assembleia Legislativa de Minas Gerais 08/03 – Dia Internacional das Mulheres: - 9h, ALMG: atividades e oficinas de preparação - 13h30h, ALMG: Assembleia estadual de trabalhadoras da educação - 17h: Concentração para ato unificado na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte 15/03 – Greve nacional da educação, pelo cumprimento da lei do piso salarial e contra o desmonte da Previdência

Secretário da Previdência do governo Temer é denunciado por conflito de interesses

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secretário da Previdência do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, foi denunciado na quinta (23) pela central sindical Pública, que representa servidores públicos da ativa e aposentados dos poderes Le-

Antônio Cruz / Agência Brasil

gislativo, Executivo e Judiciário. Segundo a entidade, o ministro, que é um dos principais articuladores da proposta de reforma da Previdência do governo Temer, estaria criando conflitos de interesses por também ocupar o cargo de conselheiro na Brasilprev,

uma das maiores empresas de previdência privada do país. A denúncia foi protocolada na Comissão de Ética Pública da Presidência da República, em Brasília, e será encaminhada ao Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF).


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MINAS

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“Mulheres Cabulosas da História” quer virar livro REGASTE Projeto do Levante Popular da Juventude inicia financiamento coletivo para publicação que reunirá fotos e biografias de mulheres fortes Jessica Marroques

bém negra. Ela conta que não conhecia a obra de Teresa, mas ao pesquisar se emocionou com os relatos sobre as consequências da escravidão, ainda presentes na sua rotina. “Teresa fala de representatividade, escreve para crianças negras e eu gostaria de ter lido algo assim na infância. Sei que ela sofreu, como eu, por ainda ser vista como um objeto, por acharem que racismo é vitimismo. Na faculdade onde estudo, as pessoas ainda me olham como se ali não fosse meu lugar”, conta.

Raíssa Lopes

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ompletando um ano de nascimento, o projeto fotográfico “Mulheres Cabulosas da História”, do Levante Popular da Juventude, ganha ainda mais fôlego em 2017. No Dia Internacional de Luta das Mulheres, 8 de março, o movimento inicia um financiamento coletivo para a realização de um livro que conterá o resultado das fotografias e também a biografia de mulheres que fizeram a diferença no mundo. A publicação reunirá releituras de fotos de 100 personagens consagradas, que foram, cada uma a seu modo, agentes importantes na batalha contra o machismo e pela igualdade de direitos. As imagens foram produzidas utilizando jovens comuns, e também fortes, como modelos.

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“Quando vamos pesquisar a trajetória de mulheres é que percebemos que não existem informações sobre elas. São sempre tratadas como esposas de alguém, mesmo tendo realizado trabalhos tão significativos quanto os homens”, relata a fotógrafa Ísis Medeiros. Ela explica que esse foi um dos motivos para a ideia do livro, que está sendo construído com linguagem

ERESA CÁRDENAS é uma escritora, atriz, bailarina e ativista social cubana e que hoje se dedica à literatura. É uma das mais destacadas figuras da nova geração de escritores cubanos, tendo ganhado o Prêmio Casa das Américas, o Prêmio David e o Prêmio Nacional da Crítica Literária com os livros Carta Para Mãe e Cachorro Velho.

Além das modelos, todas as etapas do projeto são feitas por mulheres simples e tem como objetivo democratizar esse conhecimento e compor acervos de escolas e bibliotecas públicas. O texto será desenvolvido pelas sociólogas Maria Fernanda Caldeira e Nathália Ferreira. Construção coletiva Além de modelos, as meninas participantes tomam conta da produção, maquiagem e figurino. Cada “cabulosa” foi também uma escolha pessoal, que, de alguma forma, traduzia vivências em comum entre personagem e fotografada. “É incrível perceber o quão marcante o processo está sendo para as meninas. Elas se sentem felizes por conhecerem a vida de outras mulheres, e isso também faz parte de um amadurecimento íntimo. Muitas já me falaram que começaram a se amar mais a partir das fotos”, revela Ísis. É o caso de Emanuely Tenório, estudante negra que escolheu representar a escritora cubana Teresa Cárdenas, tam-

Foto: Isisi Medeiros / Levante Popular da Juventude Foto: Isisi Medeiros / Levante Popular da Juventude

“A história dela me transformou” Já a história de Minerva Mirabal ajudou Bruna Coelho a ter mais força para continuar na universidade. Ela veio do meio rural e quis retratar uma mulher como ela, também do campo. Minerva e suas duas irmãs, Patria e

Antonia, formaram na República Dominicana um grupo de oposição ao ditador Rafael Trujillo. O grupo ficou conhecido como “Las Mariposas”. Elas foram presas e torturadas diversas vezes, sendo assassinadas no dia 25 de novembro de 1960. “A história dela me transformou. É uma mulher que representa mais minha realidade, todo dia atravesso quatro cidades para estudar. Vi o quanto ela resistiu à violência, nunca desistiu da luta e isso me encorajou”, diz Bruna. Daniela Chagas realizou um sonho antigo ao se vestir, para as fotos, de Valentine Y. Orlikov, comandante da marinha russa. Daniela sempre quis fazer parte da aeronáutica brasileira, que há alguns anos só aceitava homens no time, e, por um minuto, pôde experimentar um pouco do que é ser mulher nas Forças Armadas.

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ÁRBARA GITTINGS foi uma das ativistas mais destemidas em prol da igualdade de direitos para a comunidade LGBT. Ela atuava para que bibliotecas estadunidenses tivessem livros que discutissem a questão sexual, para combater o preconceito contra casais do mesmo sexo. Foto: Isisi Medeiros / Levante Popular da Juventude


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MINAS

Belo Horizonte, 24 de fevereiro a 10 de março de 2017

Opinião

Depressão e esperança João Paulo Cunha O recente afastamento de José Serra do governo não eleito por motivos de saúde foi interpretado por alguns analistas como um episódio que carregava também motivações políticas e emocionais. O que passa a ganhar interesse público a partir de agora é a consequência do ato. Ao deixar o Ministério das Relações Exteriores, no qual se esforçou para reduzir a altivez alcançada pelo Brasil nos últimos anos, Serra parece sinalizar para uma fratura no bloco do poder. Em sua gestão ele imprimiu uma ação menor, sempre submissa aos países ditos centrais e aos interesses do capital internacional em matéria de comércio e exploração das riquezas nacionais. Essa direção não deve se alterar. No campo político, a atitude significa uma torção do interesse público às ambições pessoais. Todos sabem que Serra tem anseios maiores e que sua opção desde o início da aventura golpista se dirigia para pastas mais influentes. Sua

atuação como incentivador do entreguismo das riquezas brasileiras reforçou a dimen-

Serra rebaixou o Brasil no contexto internacional são econômica do ministério. Ao mesmo tempo, virava as costas para o caminho trilhado com êxito em direção a um novo concerto multilateral. A substituição de Serra por outra plumagem do mesmo partido – como também ocorreu na pasta da Justiça –, vai consagrando uma divisão de tarefas sórdida. De um lado, a ideologia neoliberal extrema dos tucanos dá as cartas, de outro, o pragmatismo sem ética do peemedebismo viabiliza o jogo. Todas as ações voltadas para a desmontagem

do Estado social, para a entrega do patrimônio nacional e para o extermínio das conquistas da Constituição de 1988 não são tiros dados a esmo, mas componentes de um programa antipopular orgânico, jamais bancado pelas urnas. Mas a renúncia de Serra tem ainda um componente simbólico forte. O ex-chanceler, pelo que noticiaram comentaristas próximos ao poder, estava, além de desgastado fisicamente, padecendo de depressão. Serra tem motivo para se deprimir. Fez um péssimo trabalho e rebaixou o Brasil no contexto internacional. Os tristes decaem. Deixemos a depressão para os inimigos do povo. O futuro precisa ser desenhado na luta ferrenha e destemida. Deve ainda ser provida de força política, mobilização popular e propor alternativas consequentes de transformação. Mas os novos dias devem ser alimentados em doses poderosas pela felicidade do encontro e pela esperança de justiça social. A revolução, como a alegria, é a prova dos nove.

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Acompanhando Bruno Cantini

Galo busca recuperação e Cruzeiro enfrenta Flamengo

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OPINIÃO

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cultura | pág. 14

Blocos de rua ainda fazem a festa em BH Chama O Síndico e Baianas Ozadas se organizam como bandas. Ao lado de outras grupos, pedem mais condições para o carnaval do ano que vem

Confira também artigo comentando as peripécias do torcedor mineiro Pag.15

Foto da semana

Julia Lanari

Edição

esporte | pág. 16

Uma visão popular do Brasil e do mundo

Belo Horizonte, de 6 a 12 de setembro de 2013 | ano 1 | edição 3 | distribuição gratuita | www.brasildefato.com.br | facebook.com/brasildefato

minas | pág. 5

Professores acampam no Palácio das Mangabeiras

cidades | pág. 9

PARTICIPE Viu alguma coisa legal? Algum absurdo? Quer divulgar? Mande sua foto para redacaomg@brasildefato.com.br.

Joana Tavares

brasil | pág. 11

Energia vai ficar mais cara A partir de março, Aneel vai cobrar mais pelo uso de luz no horário de pico. Empresas e indústrias de eletrônicos vão lucrar com a medida

NASA JPL - Caltech

minas | pág. 3

Juventude denuncia Globo Protesto pôs à tona irregularidades da emissora, que deve R$ 2 bilhões em impostos. Acuada, Globo admite que apoiou a ditadura

Maíra Gomes

Continuando a série sobre ocupações, o Brasil de fato visitou a Eliana Silva esta semana. São mais de 200 famílias que vivem no local há um ano. A maioria das casas já é de alvenaria. No entanto, PBH não efetivou o direito à moradia Mídia Ninja

Servidores estaduais denunciam que governo do Estado não ouve as reivindicações dos trabalhadores e descumpre os acordos firmados. Professores até hoje não ganham o piso, plano de carreira da saúde está parado e não há previsão de reajuste para a data-base, estipulada para outubro. Sindicatos afirmam que comitê de negociação sindical é apenas fachada para forjar participação.

Na edição 3... Aécio Neves é denunciado em sua cidade natal ...E agora MPF pede suspensão da rádio Jovem Pan O Ministério Público Federal (MPF) ordenou à Justiça a suspensão da rádio mineira Jovem Pan. O requerimento foi realizado porque a empresa contaria com a participação acionária do senador Áecio Neves (PSDB) e, de acordo com o artigo 54 da Constituição Federal, políticos não podem ser donos ou diretores de companhias que mantenham contrato com o poder público. Aécio se tornou sócio da rádio em 2011, transferindo na época todas as suas ações, que chegaram a representar 44% do capital social da instituição. Na edição 128... Liminar suspende inquérito sobre tragédia em Mariana ...E agora MPF se posiciona contra recurso da Samarco O MPF contestou o pedido da Samarco para trocar a vara judicial que julga as ações do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. No parecer, a Procuradoria Regional da República ressaltou que a Samarco deve atender a vários pedidos de reparação também no Espírito Santo, inclusive a adequação de todas as estações de tratamento da água na cidade de Colatina.

DESCOBERTA A NASA (Agência Espacial Norte-Americana) divulgou que foram descobertos sete planetas do tamanho da Terra na órbita de uma pequena estrela, a Trappist-1. Segundo os pesquisadores, os planetas são a chance mais relevante para se descobrir vida além do sistema solar.

Padre João

Rosane Bertotti

Temer quer acabar com a Previdência dos brasileiros

Só mobilização barrará desmonte das conquistas

O governo golpista de Michel Temer afunda o país em uma crise sem fim. O caos social ainda pode piorar com a destruição da Previdência Social e das leis trabalhistas. A reforma da Previdência é cruel, desumana, injusta e autoritária. O governo deixa claro que não quer que ninguém se aposente quando eleva a idade mínima para 65 anos e exige 49 anos de contribuição. Passou a régua e igualou todo mundo: homem, mulher, professores e trabalhadores rurais. A reforma tal como está proposta vai aprofundar a crise, afetar a vida das famílias e a economia dos municípios. Além de ser um direito, o benefício previdenciário faz girar a economia e, consequentemente, diminui o desemprego. Outra maldade é a desvinculação do benefício do salário mínimo. Quem recebe o Benefício de Prestação Continuada (BPC), por exemplo, que são atualmente 4,2 milhões de pessoas, poderá ficar com Empresas devem bilhões metade do salário para a Previdência mínimo ou menos. Dificilmente alguém vai atingir o benefício integral ao se exigir 49 anos de contribuição ininterrupta. Para o trabalhador rural, isso é impossível. Além de a renda ser pequena, depende da safra e do mercado de trabalho. O argumento usado é de que a Previdência Social está quebrada. Mas é mentira! As grandes empresas devem para a Previdência cerca de R$ 500 bilhões. Por que o governo não cobra essa dívida? Temer tira dinheiro da Previdência para pagar juros da dívida. Quer privatizar o sistema. Esse (des)governo está rifando nosso patrimônio. É o maior ataque ao povo brasileiro.

Para consolidar o seu projeto, a direita excludente, rentista, anti-nacionalista e entreguista precisa destruir todas as possibilidades de construção do pensamento crítico da sociedade brasileira. É preciso vergar a força dos trabalhadores, dificultando sua reação a tantos desmandos e saques em nossos direitos conquistados. Por isso não temos tempo para nos lamentar, é hora de organizar a esperança na prática. As estatais estão sendo desmontadas e privatizadas. O desmantelamento da educação pública e da seguridade social é parte das estratégias das grandes corporações para que a classe trabalhadora pague a conta da crise econômica criada globalmente pelas grandes corporações transnacionais. Há algo muito errado em um país em que instituições como MP, Judiciário e Congresso expõem as principais empresas geradoras de empregos, atacam sua imagem no Brasil e exterior e contribuem para gerar um desemprego histórico no país dobrando a taxa de de- É hora de organizar sempregados em dois a esperança anos: em 2014 eram 6,7 milhões de trabalhadores desocupados, saltando para 11,7 milhões em 2016. Há algo muito errado num país em que o comando da Vale/Samarco, que matou o vale do Rio Doce e envenenou o solo, subsolo e a água de Minas ao Espírito Santo, não tenha sido julgado e condenado. Há algo errado no Brasil onde a agricultura familiar produz 70% dos alimentos de nossa mesa e grande parte dos recursos, investimentos, apoio técnico são para latifúndios do agronegócio. Foi na luta que nos reconhecemos como classe e será na luta que a classe trabalhadora barrará a retirada de direitos conquistados.

Padre João é deputado federal pelo PT-MG

Rosane Bertotti é secretária de formação da CUT


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BRASIL

Belo Horizonte, 24 de fevereiro a 10 de março de 2017

Alexandre de Moraes será revisor da Lava Jato JUSTIÇA Diversos setores sociais apontam parcialidade na escolha de Temer Da redação

Rosinei Coutinho / SCO - STF

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pesar das críticas, Alexandre de Moraes será o novo ministro do Supremo Tribunal Federal. Moraes foi aprovado para o cargo em sabatina realizada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, na quarta-feira (22). Sua nomeação foi aprovada por 19 votos contra 7 oposições dos senadores que compunham a comissão. O ex-ministro da Justiça ocupará a vaga deixada por Teori Zavaski, que também era relator da Lava Jato, e faleceu em um acidente de avião em janeiro deste ano. A escolha foi questionada por diversos setores da sociedade, que apontaram fal-

ta de imparcialidade na indicação de Temer. Moraes será o novo revisor da operação Lava Jato e ficará responsável

inclusive por investigar os nomes citados nas delações, entre eles, destacam-se o do próprio Temer, a quem

MTST resiste após ataques em Pernambuco

Keila Vieira MTST Pernambuco

Moraes está diretamente subordinado na hierarquia do Executivo, e os dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Essa questão que foi apontada durante a sabatina de Alexandre, que se conteve em responder apenas que fazia questão de julgar a operação. Além da polêmica envolvendo o processo, o ex-ministro foi evasivo nas perguntas relacionadas também à sua indicação para o Ministério da Justiça. A data de posse de Moraes ainda será divulgada pela Ministra Carmem Lúcia. Depois de empossado Alexandre Moraes poderá ocupar a vaga no Supremo Tribunal Federal por até 27 anos.

Deputado do PMDB será novo Ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB– PR) foi o nome escolhido por Michel Temer para assumir a vaga deixada por Alexandre de Moraes. Serraglio é presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, por indicação de Eduardo Cunha, preso por corrupção, em outubro do ano passado. Em seu quinto mandato como deputado federal, é ligado à bancada ruralista, exercendo a coordenação da Frente Parlamentar da Agricultura. O primeiro convidado para a vaga foi o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Velloso, que recusou a proposta.

Ricos de privatização dos ativos da Petrobras

Da redação

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entenas de militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) foram brutalmente atacados pela Polícia Militar na última terça (21), em Pernambuco (PE), ao protestarem contra a ausência do Secretário Estadual de Habitação Bruno Lisboa em uma reunião marcada com o movimento. Tanto os manifestantes que tiveram acesso ao prédio da Companhia Estadual de Habitação de Obras (CEHAB) quanto os que ficaram do lado de fora foram recebidos com alta repressão da PM, que utilizou balas de borracha, munição letal e bombas de efeito moral para barrar o protesto. Na ação, dez integrantes do MTST foram presos -

uma mulher e nove homens. Eles só foram liberados nessa quarta (22), após audiência judicial que contou com a presença de advogados populares e uma grande mobilização de apoiadores nas redes sociais. Ocupa Paulista Desde a noite do dia 15 de fevereiro, o movimento ocupa também a Aveni-

da Paulista, em São Paulo. O ato tem como tema central, além da insatisfação com o governo Temer, a falta de políticas públicas para a habitação no país. Os manifestantes pretendem permanecer no local até que haja negociações com o Executivo Federal. Eles organizam mutirões de limpeza, alimentação, atividades culturais e aulas públicas.

BR Distribuidora, uma das principais empresas subsidiárias da Petrobras, segue na mira do governo Temer para ser vendida ainda este ano. Empregados da empresa, apoiados por partidos de esquerda, já se posicionaram contra a privatização da companhia e de outros ativos, como a Nova Transportadora do Sudeste (NTS), a participação da Petrobras em campos de águas rasas nos estados do Sergipe e Ceará e no campo do pré-sal em Carcará. Na quarta (22), o senador Lindbergh Farias (PT) protocolou uma representação na Procuradoria Geral da República que levanta irregularidades no procedimento das vendas. “O governo Temer está entregando tudo, e está fazendo isso de forma sorrateira porque não quer admitir que está privatizando a Petrobras. No caso da BR Distribuidora, vão entregar inclusive o controle acionário da empresa”, declarou. O documento acompanha também uma petição que exige a suspensão da privatização. Ela foi assinada por outros 16 parlamentares do PT, PSB, PDT, PCdoB, Rede e PMDB.


Belo Horizonte, 24 de fevereiro a 10 de março de 2017

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Menos empregos, mais precarização REFORMA DE TEMER Projeto que altera legislação trabalhista permite aumento de jornada e redução de salários Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Pedro Rafael Vilela, de Brasília (DF)

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onsiderada prioritária pelo governo de Michel Temer, a chamada “reforma trabalhista”, que tramita como Projeto de Lei (PL) nº 6787/2016, mexe em direitos básicos da CLT, como salários, jornada de trabalho, intervalo de descanso e férias. O ponto central da proposta é estabelecer de forma explícita o chamado negociado sobre o legislado, permitindo que os acordos entre empresas e seus empregados se sobreponham à lei, mesmo que isso signifique, por exemplo, um aumento da jornada diária e até redução de salários. A velocidade com que a proposta está tramitando e a falta de negociação do governo com os trabalhado-

MPT alerta que altas jornadas destroem a saúde do trabalhador

Projeto de Lei está sendo avaliado por comissão especial da Câmara dos Deputados

res têm irritado as principais centrais sindicais do país, até mesmo aquelas mais simpáticas à gestão Temer, como a Força Sindical. Quando foi enviada ao Congresso Nacional, no final do ano passado, o governo federal pediu regime de urgência na análise do PL. Após a péssima repercussão da inicia-

tiva, o governo ensaiou um recuo e retirou o pedido de urgência, mas acabou solicitando a criação de uma comissão especial para examinar a medida na Câmara dos Deputados, o que mantém o ritmo acelerado de tramitação, já que o projeto não precisa passar por outras comissões da Casa.

Aumento da jornada

Reprodução

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m exemplo concreto é a jornada de trabalho. Segundo o PL 6787, patrões e empregados poderão negociar livremente a jornada de trabalho desde que respeitem o limite de 220 horas mensais. Na prática, poderão ser aprovadas jornadas diárias de 16, 18 até 24 horas ininterruptas nos casos mais extremos. “A regra pretendida pelo PL conduziria, portanto, a situações odiosas, como a admissão de jornadas de trabalho típicas do século 17, que levam à destruição da saúde do trabalhador”, diz outro trecho da Nota Técnica do MPT. O intervalo intra-jornada também poderá ser reduzido de uma hora para apenas 30 minutos, sem sequer uma contrapartida das em-

Exclusão de direitos Ao permitir que o negociado prevaleça sobre o legislado em ao menos 13 pontos da CLT, a proposta do governo, na prática, abre caminho para a redução de direitos garantidos ou até mesmo sua exclusão. Essa é uma das conclusões da Nota Técnica do Ministério Público do

Trabalho (MPT) sobre o assunto, publicada ainda em janeiro. A Nota ressalta que a Constituição Federal já prevê que o negociado prevaleça sobre o legislado, desde que seja para situações que ampliem os benefícios para os trabalhadores, mas nunca o contrário. “Há que se concluir que a exclusiva razão de ser da proposta é garantir que se possa reduzir direitos dos trabalhadores através de acordos e convenções”, diz um trecho do texto, assinado pelo procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury.

O intervalo inter-jornada também poderá ser reduzido de uma hora para 30 minutos

presas em termos de oferta de refeitórios no local de trabalho, por exemplo. As férias de 30 dias poderão ser parceladas em até três vezes, diminuindo o tempo de descanso ininterrupto do trabalhador. Nos casos em que o local de trabalho é de difícil acesso e, muitas vezes, o trabalhador depende de transporte es-

pecial, o PL também prevê o fim da contabilização das horas de deslocamento na jornada de trabalho. Até mesmo o registro de ponto poderá ser flexibilizado, o que pode mascarar a real jornada de trabalho do empregado e ainda prejudicar aquelas empresas que cumprem a legislação trabalhista.

Reforma vai aumentar precarização e rotatividade O PL 6787 também aumenta o número de horas do contrato de jornada diária parcial, das atuais 25 horas para até 32 horas diárias (incluindo as horas extras), reduzindo a diferença para a jornada integral, que é de 44 horas se-

manais. Na prática, as empresas serão estimuladas a demitir trabalhadores com jornadas integrais e contratar mais pessoas para jornadas parciais, reduzindo salários e benefícios. O mesmo efeito ocorrerá com o aumento do prazo para os contratos de trabalho temporário, que sairão dos atuais 90 dias para 120 dias, renováveis por mais 120. Esses contratos não preveem o pagamento de multa por demissão sem justa causa e as empresas poderão contratar de forma temporária e substituir os trabalhadores a cada oito meses, aumentando a rotatividade nos postos de trabalho sem aumento de emprego.


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MUNDO

Belo Horizonte, 24 de fevereiro a 10 de março de 2017

Equador terá segundo turno, confirma Conselho Eleitoral ELEIÇÕES Lenín Moreno e Guillermo Lasso disputam a presidência do país Agência Brasil

Da redação

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Conselho Nacional Eleitoral do Equador anunciou oficialmente que o país terá segundo turno nas eleições para presidente. O pleito ocorrerá no dia 2 de abril e será disputado entre o candidato do governo, Lenín Moreno, da Aliança País, e o conservador Guillermo Lasso, do Criando Oportunidades. Moreno teve 39,3% dos votos, enquanto Lasso ficou com 28,1%. A eleição no primeiro turno foi marcada por muita tensão no país. Segundo a legislação eleitoral equatoriana, para eleger-se no primei-

ro turno, Moreno precisava de 40% dos votos. Durante a apuração, que só terminou na quarta (22), algumas pesquisas apontavam o candidato com um percentual maior do que o exigido. Apoiadores de Lasso, então, começa-

ram a protestar na porta da sede do Conselho, exigindo segundo turno. O anúncio do CNE põe fim à tensão. Candidatos Lenín Moreno tem 63 anos

e foi vice de Rafael Correa, atual presidente do Equador. O candidato do movimento Aliança País promete a criação de 250 mil postos de trabalho ao ano, construção de 40 escolas técnicas e erradicação da desnutrição infantil. Ele se apresenta como continuador da política da “Revolução Cidadã”, que, em 2008, implementou uma nova constituição no país, de caráter bolivariano. Já Guillermo Lasso é banqueiro. Ele propõe a eliminação de impostos e o fim da lei de meios, que regula, disciplina e democratiza os meios de comunicação no país.

Trump endurece medidas contra imigrantes ESTADOS UNIDOS Estrangeiros sem documentos serão deportados sem o processo legal Com informações da Opera Mundi

Macri privatiza direitos de transmissão do futebol na Argentina O RETROCESSO Fim do programa Futebol para Todos faz país andar oito anos para trás

Daniel Giovanaz

A

temporada 2016/2017 do Campeonato Argentino termina dia 27 de maio e, com ela, chega ao fim uma experiência única de democratização do acesso ao futebol na América Latina. Ao contrário do que prometeu durante a campanha, em

2015, o presidente Mauricio Macri oficializou o desmonte do programa Futebol para Todos (FPT), lançado no âmbito da Lei de Meios Audiovisuais de 2009. Através do programa, o governo financiou a transmissão gratuita de todas as partidas de futebol da primeira divisão na TV pública. Para isso, a ex-presidenta Cristina

Kirchner (2007-2015) precisou comprar uma briga com o maior conglomerado de mídia da Argentina, o Grupo Clarín. Como era antes “Na Argentina, quase não existia TV aberta. Então, muitas famílias pagavam um pacote, uma espécie de parabólica, para ter acesso aos

canais. E o Clarín é a maior empresa que oferece esse tipo de serviço”, conta André Pasti, pesquisador da Lei de Meios Audiovisuais. “Antes, eles iniciavam a transmissão do jogo, mas, quando a bola rolava, viravam a câmera para o lado e não transmitiam para quem não pagava. Deixavam só o áudio e, depois, não passavam nem os gols da rodada”, explica. Em 2009, o Ministério das Comunicações considerou que práticas como essa violavam o acesso à informação, condição indispensável para o exercício da liberdade de imprensa. Por isso, o futebol foi incluído entre as alterações previstas na Lei de Meios Audiovisuais, passando a ser tratado pelo governo como um “bem público”.

presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na terça (21) o endurecimento da política contra imigrantes sem documentos. Para a execução das medidas, o Departamento de Segurança Nacional contratará 10 mil agentes para o Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas e 5 mil para o Escritório de Alfândegas e Proteção de Fronteiras. Passam a ser autorizadas deportações “expressas” para quem não conseguir comprovar que vive nos EUA de forma contínua por ao menos dois anos. Antes, a deportação imediata cabia apenas a estrangeiros sem documentos detidos a menos de 160 quilômetros da fronteira e com menos de duas semanas no país.


Belo Horizonte, 24 de fevereiro a 10 de março de 2017

ENTREVISTA

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“Se não fosse a luta, não teria carnaval em Belo Horizonte” FOLIA Produtor e militante cultural, José Guilherme Castro fala de projetos e desafios para a festa Joana Tavares

Rafaella Dotta / Brasil de Fato - MG

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e folião amador de vários carnavais em Recife e Olinda, José Guilherme Castro passou pela radiodifusão comunitária, pela discussão da luta antimanicomial e agora se firma como carnavalesco profissional. Neste ano, atua em um projeto de fantasiar os principais monumentos da cidade, organiza um bloco em homenagem à revolução russa que sai o ano inteiro e desfila no Bloco Reciclado, com as fantasias todas de material reaproveitado, se somando ao coletivo que constrói o “Carnaval Lixo Zero”. Brasil de Fato – A retomada do carnaval em Belo Horizonte veio da mobilização dos grupos. Você acha que o caráter contestador se mantém neste ano? José Guilherme Castro Se não fosse a luta, não teria carnaval em Belo Horizonte. Aqui, é um carnaval conquistado. Mas ainda há muitas burocracias a serem vencidas. A gente fazia o carnaval inteiro sem pedir alvará, agora é difícil conseguir tocar os

Estamos na resistência ofensiva projetos, é muito difícil ainda o diálogo com a prefeitura. Mas ainda é uma festa de disputa da cidade. Em 2009, começa o movimento quando o Marcio Lacerda [PSB, prefeito de Belo Horizonte de

Bloco Soviético vai sair o ano inteiro do. É um grande palco de falas, de reunir pessoas. O bloco tenta ser um facilitador, fazer com que militantes virem foliões e foliões virem militantes. José Guilherme Castro: “O fenômeno do carnaval politizado é do momento, acontece no Rio e em São Paulo também”

2009 a 2016] proibiu os eventos na Praça da Estação, em 2010 começa a ter mais blocos, depois vai só crescendo. O principal ator politizador do carnaval de BH era o Lacerda, que tentou acabar e depois disputar com o carnaval. Agora tem essa pos-

O carnaval movimenta a economia, é a tal folia criativa tura ambígua do [Alexandre] Kalil [PHS], que tenta se aproximar, que traz patrocínios para a cidade. Os blocos começam a se entender com essa ideia, que pode ter a ver com a profissionalização. Mas o fenômeno do carnaval de luta é do momento. Isso está acontecendo em São Paulo, no Rio. Como era na ditadura. Saíram blocos como o “Segura a coisa”, com um baseado gigante, o “Eu acho é pouco”, sobre a tortura, o “Nóis sofre mas nóis goza”. Essa coisa da políti-

ca, da contestação, ficou um pouco adormecida, mas está voltando. Estamos na resistência ofensiva. Mas há investimentos suficientes este ano? Como fica a relação entre os blocos e as escolas de samba? Aqui se gasta muito pouco no carnaval. Tanto é que o argumento contra as escolas de samba é que elas gastam muito. Que elas gastam só para armar a estrutura na Afonso Pena 49% do orçamento. Que 70% das despesas do carnaval de BH são com as escolas de samba. Mas 70% de pouco é quase nada. A prefeitura ganha com o carnaval. É a tal folia criativa, que está trazendo valores altos para a cidade. Falta um investimento na riqueza cultural. Poderia ter dinheiro para embelezar a cidade, chamar os artistas plásticos, trazer todos os ritmos do Brasil para o carnaval, com bandas e tudo. Poderia se aproveitar para renovar as estátuas, ao invés de colocar cercadinhos para supostamente protegê-las. É a lógica estranha de para onde vai o recurso. E é preciso mais cuidado com as escolas de samba,

que são historicamente detonadas, desrespeitadas. Belo Horizonte tinha muitas escolas de samba. Se não tivessem sido paralisadas essas atividades pelo poder público, seria uma das principais manifestações culturais da cidade. Como diz um amigo meu, as escolas são óperas na rua. Qual a ideia do Bloco Soviético, em homenagem aos 100 anos da revolução russa? Ele traz duas grandes contribuições: contribuir com a politização e trazer a ideia de fazer o carnaval o ano inteiro. Vai durar 2017 todo, todo dia 17, às 17h, na Praça Sete. Outras cidades já têm esse bloco Soviético, como São Paulo, que o organiza há cinco anos. Aqui fazemos mais uma performance política, ainda não tem grupo muito consolida-

É preciso mais cuidado com as escolas de samba de BH

Qual a proposta do Carnaval Lixo Zero? Belo Horizonte tem um dos principais artistas plásticos brasileiros, o Léo Piló, que atua com reciclagem e é um grande conhecedor do carnaval. E é com ele que é lançado agora o Carnaval Lixo Zero, com as fantasias que ele faz, com 100% de material reciclado. Vão sair no Bloco Reciclado, feito com roupas do ano passado. E ele está executando um projeto com a prefeitura, que é a confecção e instalação de 25 fantasias em 25 monumentos da cidade. E vamos fazer também uma discussão sobre o cerrado. Fizemos uma alegoria de um tatu, que vai sair em vários blocos este ano. O que falta no carnaval de BH? Falta cultura carnavalesca. Temos carnaval, mas não cultura carnavalesca, que tem que ser o ano todo. A preparação, o ensaio, precisa começar muito antes. Aqui falta espaço, recurso, discutir mesmo o carnaval. Nosso carnaval não é amador, é muito eficiente. Mas ainda é pequeno. Falta descentralizar para a periferia, para a região metropolitana.


12 12 VARIEDADES

Belo Horizonte, 24 de fevereiro a 10 de março de 2017

Amiga da Saúde

Nossos direitos Perda da Comanda Muitos estabelecimentos comerciais cobram multa nos casos de perda ou extravio da comanda pelo cliente. Porém, o Código de Defesa do Consumidor considera essa prática ilegal e abusiva, porque o estabelecimento comercial não pode transferir ao consumidor a responsabilidade pelo controle de suas vendas. Caso o cliente seja obrigado a pagar algum valor pela perda da comanda, deve imediatamen-

te exigir a nota fiscal que especifique o valor cobrado e levá-la a algum órgão de defesa do consumidor, para reaver em dobro o valor cobrado indevidamente. Por fim, é importante mencionar que a gorjeta do garçom não é obrigatória. Mesmo que ela esteja embutida no valor total da conta, o consumidor pode optar por não pagar, sem sentir-se constrangido! Fique atento aos seus direitos! Evite sofrer abusos!

Adília Sozzi é advogada da Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP.

Amiga da saúde, fiquei sabendo que a mulher que tira o útero fica “fria”, perde o apetite sexual. Isso é verdade? Cassia Morais, 35 anos, balconista. Essa é uma questão controversa, Cássia. Há mulheres que observam redução da libido após a histerectomia (retirada do útero). Porém outras não alteram ou até aumentam o desejo. Existem três tipos de histerectomia: parcial (retiram-se parte do útero mantendo o colo uterino), total (retira-se o útero inteiro) e radical (retira-se o útero inteiro, as trompas e os ovários). Quando a cirurgia é radical, a mulher vivencia algo parecido com a menopausa, com baixa dos hormônios pro-

duzidos pelos ovários, podendo ter redução do apetite sexual sim. Nos outros casos, a produção hormonal é mantida. Entretanto, a resposta sexual feminina está concentrada na parte distal da vagina (terço inferior), e no clitóris. Dessa forma, com estimulação correta a mulher pode ter o prazer assegurado. Observa-se que as questões emocionais são as que mais influenciam nas alterações de prazer pós cirurgia e devem ser acompanhadas também.

Sofia Barbosa I Coren MG 159621-Enf. Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br

Anúncio Senhor governador,

Carta aberta ao governador Pimentel

Em entrevista ao jornalista Fabio Serapião, da revista Carta Capital, divulgada em 18 de agosto de 2014 (Blog do Serapião), V. Exa., então candidato ao governo de Minas Gerais, questionado sobre os principais problemas na administração tributária estadual na gestão tucana, declarou: “São 12 longos anos e eles produziram uma legislação tributária antiquada, obsoleta, que expulsa empresas e indústrias de Minas e resulta na maior carga tributária de todos estados. Tudo tem solução, mas essa é a questão mais complicada, a tributação de ICMS. Do jeito que eles montaram, estimularam a elisão fiscal e concentraram a arrecadação em alguns produtos: telecomunicações, combustíveis, energia, minérios de ferro. Tínhamos 44 postos fiscais em Minas e hoje temos cinco. O estado desestruturou o corpo fiscal de Minas e foi criando regimes especiais para atender interesses de grupos particulares.”

composta em 85% pelo ICMS, esse trabalho assume importância ainda maior, tornando inaceitável o fechamento dessas unidades.

Encerrar as atividades dos postos de fiscalização é abrir as fronteiras do Estado, favorecendo o aumento da circulação livre e irregular

No dia 16/2/2017, foi publicada a Resolução nº 4892, pelo seu governo, que determina o fechamento dos cinco postos fiscais restantes no Estado, contradizendo a afirmação acima. Depois de eleito, V.Exa. mudou de ideia ou a Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais (SEF/MG) não o consultou?

Desde 2009, quando o governo estadual iniciou o processo de desativação dos postos de fiscalização mineiros, os auditores fiscais da Receita Estadual de Minas Gerais vêm alertando sobre os riscos do enfraquecimento da fiscalização de trânsito de mercadorias. Encerrar as atividades dos postos de fiscalização é abrir as fronteiras do Estado, favorecendo o aumento da circulação livre e irregular, como comprovam diversas ocorrências, noticiadas pela Polícia Militar e pelas Polícias Rodoviária Estadual e Federal, de mercadorias com documentação fiscal irregular ou ainda sem nenhum documento fiscal.

Os postos de fiscalização instalados nas rodovias mineiras exercem função estratégica no combate à sonegação de tributos, por meio do controle, mapeamento e levantamento de indícios para futuras auditorias; é a fiscalização preventiva, ostensiva e a presença do Estado nas fronteiras. Considerandose que a receita tributária de Minas em 2016 foi

Enquanto o governo de Minas fecha seus postos fiscais, na contramão do interesse público, outras unidades federativas vêm ampliando sua presença e controle, principalmente nos postos instalados nas divisas de estados, com investimento maciço em estrutura física e tecnológica. A iniciativa tem se mostrado fundamental

no aumento da arrecadação direta e na mudança de comportamento do contribuinte desses estados. Na condição de agentes públicos de uma das mais estratégicas secretarias do Estado, é nosso dever alertar para os prejuízos irreparáveis que uma decisão unilateral e impensada, como parece ser o caso do fechamento dos postos, pode causar à Administração Tributária, ao Estado e à sociedade, configurando desperdício de recurso tão importante para a garantia de serviços com qualidade, principalmente em áreas primordiais como saúde, educação e segurança. Corredores por onde circula parcela importante das riquezas de Minas Gerais, como as principais rodovias nas divisas com São Paulo e Rio de Janeiro, não contarão mais com a presença do Fisco mineiro. Abrir mão desses recursos, sobretudo considerando a atual dificuldade financeira enfrentada pelo Estado, é um desrespeito ao povo mineiro que o elegeu confiando no compromisso de V. Exa. de tornar Minas um Estado mais justo e próspero. Pelo exposto, contamos com o discernimento e espírito público de V.Exa. para a reversão da decisão de fechamento dos postos de fiscalização da SEF/MG.

sindifiscomg.org.br


Belo Horizonte, 24 de fevereiro a 10 de março de 2017

13 VARIEDADES 13 Por Alan Tygel*

www.malvados.com.br

Dicas Mastigadas Ensopado de Peixe com Jiló PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br

© Revistas COQUETEL

Processo de multipli- Cosmético cação da feminino para efeito matriz de moreno A popular um CD pós-praia vaquinha Augusto (?), criador do Teatro do Oprimido

Frutas (?): itens do A mais cardápio do verão famosa Locais onde constam foi Irmã os preços de roupas Dulce

Tecnologia de monitoramento usada por transportadoras de caminhões

O custo da ligação 0800 Gado Arco-(?), símbolo do movimento LGBT Conseguir; conquistar

Trapo, em inglês

Conserta (roupa), costurando pedaço de pano "(?) Like the Movies", sucesso de Katy Perry A marca do Zorro De caráter normativo

Gracejar Festival do prêmio Kikito

Região brasileira do Encontro das Águas

"(?) de Baixo", humorístico da TV

Cidade francesa na Côte d'Azur

Área do passeio de bugre no Nordeste

3/erê — not — rag. 4/boal — nice — niro. 10/telemetria.

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Solução C E R B O

P R O A B T R E O I N O Z E G A R D A O M R A D P O

T E N S L G E R M E N E S T C R I R I M E A D N I U I N C A E R M I L V O O

A M S A N T O R O T I E D R O

V A G E M R A T IS I R I S A Q I D U O E N T A A R S AI B V A E I U NA S A

BANCO

Escolha uma panela funda, onde o peixe caiba sem ficar um por cima do outro. Corte o jiló e a cenoura em cubos de 1cm, e o alhoporó em rodelas. Refogue tudo na panela com um fio de azeite por 3 minutos. Em seguida, coloque o peixe por cima, e depois derrame o leite de coco. Tampe a panela até que o peixe fique cozido. O tempo de cozimento dependerá do peixe, mas costuma ser em torno de 15 minutos. Cuidado para não passar! Se desejar, jogue um punhado de coentro por cima ao final.

Sentimento ausente no sádico Moléculagrama (abrev.)

3 postas de peixe (ou filé grosso) 10 jilós (verde ou vermelho) 1 cenoura 1 alho-poró 1/2 vidro de leite de coco Coentro picado (opcional)

Modo de fazer Dança dos Sete (?), cena bíblica

Robert De (?), ator de "Taxi Driver"

"Criança", no Candomblé (?) Digital: teve início com a internet "(?) Casmurro", obra de Machado de Assis Em (?): em grande agitação e excitação

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Documento da reunião de condomínio

Local de implante da prótese mamária

Altar de sacrifícios religiosos A pessoa que se expressa bem em público

Ingredientes:

Enfado Pagamento a prestações

Supresa boa O jiló é um alimento bem peculiar da cultura brasileira. Amado por poucos, odiado por muitos, o fruto do jiloeiro, originário da África, tem um gosto amargo e possui significativas quantidades de vitaminas A, B e C, além de ser uma boa fonte de cálcio, fósforo e ferro. Garanto que a receita de hoje vai surpreender muita gente!

* Alan Tygel é da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Participe enviando sugestões para receita@brasildefato.com.br.


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CULTURA

Belo Horizonte, 24 de fevereiro a 10 de março de 2017

Minha rua é lugar de carnaval PEQUENOS BLOCOS Mesmo após crescimento do carnaval de BH, moradores seguem fortalecendo a festa de forma tradicional Reprodução / Bloco atrás da Língua

Rafaella Dotta

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em tudo são milhares de pessoas e um grande trio elétrico. Ainda há, nos mais recônditos bairros de Belo Horizonte, um contente número de bloquinhos que saem com suas baterias para comemorar o carnaval de forma mais “ca-

seira”. Calcula-se que pelo menos 100 blocos desfilam fora do centro ou zona leste da cidade, onde os grandes coletivos costumam se apresentar. No bairro São Paulo, na região norte, sai o bloco Du Sô Tché, organizado para homenagear o ex-policial Tenente Câmara, mais conhecido no bairro como

Tché. “Tudo começou com um bate-papo entre amigos e familiares, e acabou virando um bloco de carnaval. Este é o primeiro ano, com o tema ‘axé dos anos 90’”, diz a descrição do bloco. Ele sai às 12h de domingo (26) e terça (28), na Rua Manoel Alexandrino, 362. “Ideal para quem quer curtir o carnaval sem muvuca

e relembrar os grandes sucessos do passado”, explicam. Já o Bloco da Língua desfila no bairro de outro santo, o São Salvador, que fica no extremo oeste da região noroeste da capital. O bloco é formado por um grupo que já promovia ações no bairro, conta um dos organizadores, Rafael Gregório, e que desde 2014 resolveu formar uma bateria. “O nosso público é de pessoas que diziam ‘não gostar de carnaval’. Eu mesmo só via carnaval na TV”, lembra, “mas

quando o carnaval é inserido na cultura dessas pessoas, elas participam”. Neste ano, os foliões encontram o Bloco da Língua na Rua Barbosa, 355, às 12h, no sábado (25). O Bloco dos Reciclados sai pela primeira vez neste ano e reúne pessoas de vários bairros para celebrar a valorização dos catadores e do tratamento adequado do lixo, como a coleta seletiva e o projeto Lixo Zero. Acontece também um concurso de carrinho de catadores, na terça de carnaval (28) na Avenida do Contorno, 10.564 (esquina com a Rua Paracatú).

Veja a programação dos blocos em:

www.brasildefato.com.br

Blocos caricatos e escolas na Afonso Pena TRADIÇÃO Em BH, desfiles começaram em 1959 Nélio Rodrigues / PBH

Wallace Oliveira

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ma das manifestações mais tradicionais do carnaval de Belo Horizonte são os desfiles das escolas de samba e blocos caricatos. O evento foi realizado pela primeira vez em 1959, foi interrompido em 1992 e retomado em 2003. Neste ano, dez blocos caricatos desfilam no dia 27 de fevereiro, na Avenida Afonso Pena, a partir das 19 horas. Já no dia 28, a partir das 20 horas, será a vez de quatro escolas de samba de BH. Dificuldades Francisco Gonçalves é presidente da Escola de

Samba Acadêmicos de Venda Nova, tetracampeão dos carnavais de 2008, 2009, 2014 e 2015. Este ano, a agremiação desfila com o lema “Sonhos de Toninho Veterinário”, abordando a história do cuidador de animais João Antônio Teixeira, que realiza, por ano, cerca de 90 mil atendimentos a animais. Dessa forma, a escola pretende homenagear todos os veterinários. Francisco comenta as dificuldades da realização dos desfiles nos últimos anos. “No retorno do carnaval, em 2003/2004, houve um crescimento muito grande. A partir de 2007, tivemos alguns investimentos do governo estadual,

mas a ajuda encerrou em 2010. O problema é que os custos do carnaval não caíram”, aponta. O historiador Marcos Maia, estudioso do carnaval de BH, acredita que há uma insuficiência no tratamento do poder público às escolas, que é anterior à eclosão dos blocos de rua, em 2009. O problema foi agravado com a crise econômica. Ele vê no fortalecimento dos blocos algo positivo para as escolas de samba. “A Prefeitura tem que responder às demandas que os mais de 2 milhões de pessoas nas ruas da cidade provocam”, comenta. Confira a programação no site: brasildefato.com.br


Belo Horizonte, 24 de fevereiro a 10 de março de 2017

ESPORTES

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O que o Atletiba tem a dizer sobre o poder da Globo MONOPÓLIO Grupo controla transmissão do futebol brasileiro Reprodução de vídeo

Wallace Oliveira

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último clássico entre Atlético-PR e Coritiba, no domingo passado (19), não aconteceu. Tudo começou quando os dois clubes não assinaram contrato de cessão dos direitos de transmissão à Globo, por discordarem dos valores oferecidos pela empresa. Como alternativa, eles

Não podemos ficar reféns de ideias estreitas como está acontecendo agora”, disse o presidente do Atlético-PR

organizaram uma transmissão gratuita e independente, com equipe própria, através de seus canais oficiais no Youtube e Facebook. Porém, às 17h, com jogadores em campo e o estádio repleto de torcedores, a Federação Paranaense de Futebol (FPF) tentou impedir que os clubes transmitissem a partida. O presidente da FPF, Hélio Cury, alegou

A cota de TV é injusta Em 2017, as cotas de TV do Brasileirão devem manter a distribuição desigual dos outros anos. Na série A, Flamengo e Corinthians receberão R$ 170 milhões, cada; o São Paulo receberá R$ 110 milhões; Palmeiras e Vasco, R$ 100 milhões; Santos, R$ 80 milhões; Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Botafogo, Fluminense e Botafogo, R$ 60 mi; Sport, Bahia, Vitória, Atlético-PR e Coritiba, R$ 35 mi; os demais, R$ 23 milhões. Na segunda divisão, Inter (R$ 60 mi) e Goiás (R$ 35 mi), juntos, recebem mais do que todos os outros 18 clubes. O mesmo modelo é aplicado em torneios menores, como os campeonatos estaduais, o que torna o futebol menos competitivo e mais previsível, com as probabilidades de títulos se concentrando nas mãos dos ditos grandes. Dá para entender a disparidade entre os clubes? Eles seriam tão grandes se não fossem tão privilegiados? “A Primeira Liga é uma demonstração disso. Já começou com desigualdade. Ah, o time do Rio tem que ganhar mais que o time de Santa Catarina? Por quê? Eles vão jogar o mesmo torneio”, questionou o ex-jogador Alex, durante um programa do canal ESPN.

que a equipe de transmissão não estava credenciada, mas o quarto árbitro, Rafel Traci, disse à beira do gramado: “O pessoal não pode transmitir porque não é detentor do campeonato”. Em outras palavras, o “pessoal” não pertencia à Globo. Em nota publicada na Sportv, o Grupo Globo disse que não tem nenhuma ligação com o episódio. Por sua vez, Atlético e Coritiba não abriram mão da transmissão e o jogo foi cancelado. Os atletas entraram em campo de mãos dadas e fizeram um protesto no círculo central, sendo apoiados pela torcida, ao som de “Fora, Rede Globo” e “Federação, vai se f... O Atletiba é maior do que você!”.

“Nós vamos quebrar essa barreira de intransigência da federação. Não podemos ficar reféns de ideias estreitas como está acontecendo agora. Isso é uma vergonha mundial”, disse o presidente do Atlético-PR, Luiz Sallim Emed. Na segunda (20), a FPF recuou e ofereceu o dia 1º de março para a realização da partida. O mais importante, porém, são as lições que o episódio traz sobre a relação entre mídia e futebol. Quem manda é a TV “A CBF cuida apenas da seleção. Quem cuida do futebol brasileiro é a Globo”, declarou, em 2013, o ex-jogador Alex de Souza, ídolo de Cruzeiro, Palmeiras, Coritiba e Fenerbahçe.

Para o craque, federações e CBF atuam como meros intermediários nos acordos com a empresa que controla a difusão do esporte e determina unilateralmente onde, quando e como se joga futebol no país, sem a participação de jogadores e representantes das torcidas. Hoje, a principal fonte de receita dos clubes vem do repasse dos grandes meios de comunicação. Como ensinou, há décadas, o escritor Eduardo Galeano, esses meios transformaram os estádios em imensos estúdios, fazendo o futebol chegar não apenas aos milhares que cabem nas arquibancadas, mas aos bilhões que podem consumir qualquer coisa que os manipuladores de imagens queiram vender. “Os clubes foram ficando dependentes demais das cotas de TV. Cada vez mais, passaram a planejar o próximo ano conforme o dinheiro da cota. E a Globo começou a adiantar a cota, inclusive”, aponta o jornalista Thiago Cassis, coordenador do Coletivo Futebol, Mídia e Democracia.

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Belo Horizonte, 24 de fevereiro a 10 de março de 2017

Torneio implanta cartão verde no Brasil

ESPORTES

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DECLARAÇÃO DA SEMANA Serkan Yakin

Lucas Figueiredo / CBF

Comissão de Arbitragem da CBF A anunciou que, em 2017, a Copa Verde, que reúne equipes do CentroOeste e Norte do Brasil, terá o uso do cartão verde. O cartão será aplicado a jogadores que praticarem o fair play

(jogo limpo). Por exemplo, um jogador que parar o ataque de sua equipe para pedir atendimento a um adversário que se lesionou receberá o cartão. A Copa Verde surgiu em 2014. O último campeão foi o Paysandu (PA).

O Coritiba e o Atlético-PR são protagonistas no Paraná e esses clubes são egoístas também, porque eles querem ganhar mais no estadual do que ganham os times do interior. Alex de Souza, ex-jogador, comentando a incoerência de times que reivindicam igualdade em âmbito nacional, mas reproduzem desigualdades nos campeonatos estaduais.

Gol de placa Errar é humano, reconhecer é bacana. O árbitro Thiago Duarte Peixoto, que apitou o clássico Palmeiras e Corinthians, expulsou o volante Gabriel, mas quem fez a falta foi Maycon. Após o jogo, analisando o vídeo da partida, o árbitro constatou o erro e se retratou publicamente.

Gol contra Na quarta (22), teve vitória por 1 a 0 do Atlético Paranaense sobre o Deportivo Capiatá, em Asunción (PAR), na Libertadores. Parte da torcida paraguaia atirou objetos em direção aos jogadores brasileiros e proferiu ofensas racistas contra os meias Carlos Alberto e Nikão.

Decacampeão

É Galo doido

La Bestia Negra

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Nadia Daian

A semana foi de resultados trágicos. No domingo (19), derrota de goleada para o Atlético. Na quarta (22), eliminação precoce na Copa do Brasil para o Murici, lanterna do Campeonato Alagoano. Apesar da atuação contra o Atlético não ter sido tão ruim e oDecacampeão gramado ter dificultado, esses resultados não podem acontecer para um time que se quer grande. Portanto, a luz de alerta tem que ter sido acesa: para os jogadores, que precisam jogar com mais vontade e determinação, para o técnico, que precisa tentar novas alternativas e parar de insistir com Tony, Auro, Pará e Felipe Amorim, e para a diretoria, que erroneamente apostou em atletas sub-23 de outras equipes.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Quando se enfatiza o alto aproveitamento do Atlético, cria-se a ilusão de que tudo está no lugar. Tal conclusão ignora o nível dos adversários enfrentados. No estadual, só o América pode ser considerado Galo assim, doido! parâmetro e,Émesmo sofreu a goleada por duas falhas individuais. Salientese, contudo, o retorno de Robinho, a rápida adaptação de Elias, o oportunismo de Fred e o furor repentino de Maicosuel. Mas as oscilações do técnico Roger Machado persistem e falta uma coordenação continuada na armação das jogadas, pois amargamos a inconstância de Cazares e Otero. É melhor ser cauteloso e aguardar um confronto mais qualificado.

A equipe do Cruzeiro começou a temporada de 2017 encantando. Sim, eu estou empolgada! O time está mostrando entrosamento, vencendo bem os adversários mais fracos tecnicamente e apresentado um futebol que tem animado até mesmo aqueLa cruzeirenses Bestia Negra les torcedores mais céticos. O técnico Mano Menezes tem aproveitado o Campeonato Mineiro como oportunidade para rodar o elenco e dar ritmo de jogo a todos os jogadores. A diretoria tem feito promoções para trazer seu torcedor novamente para perto do time e, depois de dois anos muito desanimadores, a esperança volta a florescer na Toca II. Que, neste ano, possamos voltar ao lugar que nos é de direito: o topo!


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