Edição 14 do Brasil de Fato MG

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Mais estupros Minas Gerais registrou 2.007 casos de mulheres violentadas sexualmente em 2012. Estupro corretivo: requintes de crueldade para “curar” lésbicas

esportes | pág. 16

Libertadores Enquanto Atlético Paranaense, Vitória e Goiás disputam vaga na Libertadores, comentarista do Cruzeiro compara títulos com o Galo. E o atleticano avisa: xô, olho gordo!

cultura | pág. 14

Dança! Reproduzindo clássicos da black music nas ruas da capital, Quarteirão do Soul reúne, há nove anos, jovens, crianças e adultos amantes da cultura negra em Belo Horizonte

Edição

minas | pág. 6

Uma visão popular do Brasil e do mundo

Belo Horizonte, de 22 a 28 de novembro de 2013 | ano 1 | edição 14 | distribuição gratuita | www.brasildefato.com.br | facebook.com/brasildefatomg

minas | pág. 5

Sem limite para mineradoras Mídia Ninja

Construção do Mineroduto Minas-Rio, em Santa Maria de Itabira. Com perspectiva de ser o maior do mundo em 2014, a obra prevê 525 km de extensão e atingirá 32 municípios nos dois estados Minas Gerais é o segundo estado que mais exporta minérios no país. E, para liberar ainda mais as regras para as empresas mineradoras, o Congresso Nacional pretende aprovar o Novo Código de Mineração. Com nova lei, movimentos denunciam que os impactos sociais e ambientais irão crescer

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entrevista | pág. 9

Injustiça no caso mensalão

Mais casos de diabetes

Cemig indeniza Prefeitura quer por falta de luz vender BH

Bandeira de Mello, um dos juristas mais brilhantes e respeitados do país, define as prisões como irregulares, devido à ausência de provas contra os réus

Apesar de aumento de 40% nos casos, governo não investe. Entidades denunciam que disponibilizar medicamentos não basta. Faltam especialistas e promoção da saúde

O casamento de Géssila dos Santos ocorreu todo às escuras, iluminado por velas e farol de carros. A vendedora recebeu indenização da Cemig

Professora da UFMG questiona o Nova BH, projeto da Prefeitura de Belo Horizonte: “é um empreendimento montado para favorecer ao setor imobiliário e financeiro.”


02 | opinião

Belo Horizonte, de 22 a 28 de novembro de 2013

editorial | Minas Gerais

editorial | Brasil

Anastasia e governistas contra educação

Um plebiscito para refundar o sistema político

O governador enviou proposta para Assembleia Legislativa de reajuste dos professores de 5%. Muito abaixo do que reivindicavam os profissionais da educação. Professores e deputados comprometidos propuseram então oito emendas. Foram todas derrubadas, por 33 deputados estaduais defensores do governo na Assembleia Legislativa, contra 25 deputados que foram favoráveis as propostas. Mais uma demonstração de que educação não é prioridade para esse governo. Entre as emendas apresentadas, a de nº 7 propunha a utilização do mesmo percentual adotado para o piso salarial dos

Em 2012, o piso nacional teve reajuste de 22,22% e, em 2013, de 7,92%. Já em Minas, o governador propôs apenas 5% de aumento professores, conforme lei federal, que é do custo aluno. Em 2012, o piso nacional teve reajuste de 22,22% e, em 2013, de 7,92%. Já em Minas, o governador propôs apenas 5% de aumento. Desde que foi aprovado, há quase três anos, o governo mineiro não paga o piso salarial aos professores, atropelando decisão do Supremo Tribunal Federal. As outras propostas do sindicato, que foram rejeitadas, tratam do direito à alimentação escolar para o professor, do descongelamento da carreira, do reajuste da vantagem temporária de antecipação de posicionamento, do reconhecimento do tempo de serviço e do direito de opção pelo piso como vencimento básico. A falta do investimento, conforme obrigação constitucional e portanto obrigatória, já retirou da educação em Minas R$ 8 bilhões. A situação se complica se verificarmos que nem o combinado tem sido cumprido. Após os 112 dias de greve em 2011, um acordo foi feito en-

tre governo e professores. Mas o governo descumpriu o acordo. O projeto aprovado nesta semana garantiu, no entanto, uma pequena vitória que contraria o projeto de lei inicial do governador. Os salários serão reajustados em 5% retroativos a outubro de 2013, e a progressão na carreira será concedida em janeiro de 2014. Tem sido difícil a vida dos educadores, e de toda população que depende de uma educação pública de qualidade. Desde governos anteriores, em Minas, o Estado não tem priorizado a educação. Retiraram o direito à carreira, o incentivo à permanência e ao aperfeiçoamento. A categoria tem sido desrespeitada, bem como demais servidores públicos, como da saúde, eletricitários e policiais. Resta à população pressionar os parlamentares eleitos e a Assembleia Legislativa, já que a votação vai agora para segundo turno.

Falando Nilson

No dia 15 de novembro de 2013, oficialmente comemorado como o dia da Proclamação da República, foi lançado o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político. A plenária de movimentos sociais, reunida dia 16 de novembro, representou mais um passo para a construção desse extraordinário exercício de pedagogia de massas e contou com o apoio de mais de 90 entidades e organizações políticas de todo o país. Os setores conservadores no Brasil sempre agiram de forma ágil para impedir, através da força e do consenso, o acúmulo de forças e vitórias das forças populares. O que está em curso é um grande movimento de reoxigenação da democracia. O povo brasileiro, particularmente a juventude, quer prestar contas com a redemocratização incompleta. Uma profunda reforma política poderá corrigir as distorções que,

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora também com edições regionais, em SP, no Rio e em MG. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

no final dos anos de 1980, foram decisivas para conter as forças populares na luta contra a ditadura e refrear as mudanças. Nos anos de 1990, o avanço neoliberal apoiado pela mídia provocou um refluxo dos movimentos sociais. Nos últimos dez anos, as políticas redistributivas e sociais, conquistadas por meio das lutas sociais, recuperaram, relativamente, a capacidade de articulação dos setores populares e abriram uma nova conjuntura. Agora, mais uma vez e sob novo impulso, nos defrontamos com a necessidade de tais reformas para avançar nas conquistas populares. É na luta por suas reivindicações que o povo poderá se conscientizar sobre o papel do atual sistema político na contenção das conquistas que interessam à maioria. O sistema eleitoral é marcado por uma profunda distorção da realidade. De acordo com dados ofi-

Se os trabalhadores são maioria da população, por que não são nos parlamentos? ciais, dos 594 parlamentares eleitos em 2010, 270 são empresários, 160 compõem a bancada ruralista, 73 são da bancada evangélica e apenas 91 parlamentares são considerados representantes dos trabalhadores. Se os trabalhadores são maioria da população, por que não o são nos parlamentos? Completar o processo de redemocratização passa por refundar o sistema político e superar o modelo formal e restritivo da democracia. Completar a redemocratização significa aperfeiçoar o sistema representativo que atualmente está refém do poder econômico. Significa garantir mecanismos de participação popular nas decisões estratégicas de nossa sociedade.

contato..................brasildefatomg@brasildefato.com.br para anunciar : publicidademg@brasildefato.com.br / (31) 3309 3304 - (11) 2131 0800

conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Carlos Dayrel, César Augusto Silva, Cida Falabella, Cristiano Carvalho, Cristina Bezerra, Daniel Moura, Dom Hugo, Durval Ângelo Andrade, Eliane Novato, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Frei Gilvander, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Lindolfo Fernandes de Castro, Luís Carlos da Silva, Marcelo Oliveira Almeida, Maria Brigida Barbosa, Michelly Montero, Milton Bicalho, Neemias Souza Rodrigues, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rilke Novato Públio, Rogério Correia, Samuel da Silva, Sérgio Miranda (in memoriam), Temístocles Marcelos, Wagner Xavier. Administração: Valdinei Siqueira e Vinicius Moreno. Distribuição: Larissa Costa. Diagramação: Luiz Lagares. Revisão: Luciana Santos Gonçalves Editor-chefe: Nilton Viana (Mtb 28.466). Editora regional: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Repórteres: Maíra Gomes e Rafaella Dotta. Estagiária: Raíssa Lopes. Endereço: Rua da Bahia, 573 – sala 306 – Centro – Belo Horizonte – MG. CEP: 30160-010. Contato: redacaomg@brasildefato.com.br


Belo Horizonte, de 22 a 28 de novembro de 2013

Aumentam casos de diabates

Pergunta da semana

SAÚDE Aumento foi de 40%, mas governo não investe em prevenção e educação Maíra Gomes De Belo Horizonte Entre 2006 e 2012 houve um aumento de 40% nos casos de diabetes no país, segundo pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde em 14 de novembro, o Dia Mundial do Diabetes. Os hábitos da vida moderna, como sedentarismo e má alimentação, são as principais rações do aumento de casos. O especialista Rafael Machado Mantovani, endocrinologista e coordenador do Programa de Diabetes da Secretaria Municipal de Saúde, destaca que uma boa qualidade de vida é fundamental para a prevenção do diabetes. Em casa e na escola deve haver um estímulo à alimentação de qualidade, além da prática de esportes. “Evitar o fumo e o excesso de ‘prazeres’, como o álcool, podem tirar uma pessoa do grupo de risco”, diz. Francisco Martins de Carvalho, 54, convive com o diabetes há 29 anos. Após uma série de dores sem explicação, um cardiologista chegou ao diagnóstico da doença. Ele toma três doses de insulina por dia, e diz que viver com diabetes não é fácil. “Muita coisa fica restrita. Os refrigerantes sem açúcar têm alta dose de sódio, e isso aumenta a pressão, problema comum para o diabético. Então não pode tomar refrigerante nenhum”, exemplifica. Outra dificuldade é o atendimento na rede pública de saúde. “Hoje, em BH, somos atendidos somente por um clínico, e não por um especialista. Você só é encaminhado pa-

Maíra Gomes

Francisco de Carvalho e Rubens Ribeiro Leite convivem com a diabetes

ra um endocrinologista quando a situação fica grave”, declara. A presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes/MG, Adriana Bosco destaca que é preciso mais agilidade e facilidade para chegar ao especialista, além de melhor capacitação do clínico. Ela diz que o acesso aos medicamentos, como insulina e insumos necessários para o controle, é satisfatório, mas não garante uma melhora no quadro da doença. “A prefeitura e o Estado gastam demais em medicação e nem por isso estão diminuindo as complicações do diabetes. Pesquisas apontam que 89% dos diabéticos tipo 1 estão mal controlados, assim como 75% do tipo 2”, diz Adriana, que acredita que deve haver uma mudança no tratamento do tema, com foco na educação em

saúde.

Organização

Belo Horizonte tem 135 mil diabéticos e conta com uma Associação dos Diabéticos. O presidente da entidade, Rubens Ribeiro Leite, 58, convive com a doença há 30 anos. Ele conta que o papel da associação é articular políticas públicas de saúde com o governo. “Falta pessoal, falta espaço, falta materiais de educação ao diabético. Lutamos por projetos de educação e promoção da saúde, que são falhos no poder público”, denuncia. Ele frisa a importância de organização do diabético para a melhoria na qualidade do atendimento da saúde. “A gente não tem apoio do poder público, precisamos de mais pessoas na Associação para que ela esteja fortalecida”, aponta Rubens.

Tarifa zero é rejeitada na Câmara TRANPORTE Projeto de iniciativa popular foi arquivado sem ir a votação Renata Evangelista Do Portal Minas Livre Um projeto que sugere a adoção de tarifa zero no sistema de transporte coletivo de BH aos domingos e feriados foi apresentado por membros da Assembleia Popular Horizontal (APH) para a Comissão de Orçamentos e Finanças Públicas da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH). A emenda foi rejeitada recentemente pelo vereador e relator Henrique Braga (PSDB). “O projeto foi indeferido e não chegou a ser enviado para votação dos vereadores. Essa atitude vai contra o desejo da população”, declara o professor de Urbanismo da Universidade Federal de Minas Ge-

rais (UFMG) e membro da APH, Roberto André, que classificou como manobra a atitude do vereador, que não levou o texto para apreciação dos parlamentares. Em sua defesa, a assessoria de Henrique Braga informou que a emenda tarifa zero proposta por iniciativa popular foi rejeitada por apresentar erro técnico. Segundo seu assessor, o estudo foi interessante, mas incompatível, uma vez que sugere o desvio de verbas de outras áreas, o que é crime. Mas essa não é a opinião do professor de urbanismo, que garantiu que a proposta chegou a ser muito elogiada pela comissão quando foi apresentada e entregue. “A Essa decisão do Henrique Braga não cabe

cidades | 03

O diabetes é um conjunto de doenças caracterizado pelo aumento do açúcar (glicose) no sangue. Ocorre pela deficiência de um hormônio chamado insulina que, quando não funciona bem ou é produzido em menor quantidade, causa o aumento do nível de glicose. Esse aumento, quando prolongado, leva a várias complicações. No Brasil, 50% dos diabéticos não sabem que têm a doença, podendo ter complicações sérias e irreversíveis. Os sintomas são cansaço fácil, muita sede, emagrecimento, aumento de apetite e urina aumentada. Caso esteja sentindo algum desses sintomas, vá ao posto de saúde mais próximo e peça pelo o exame.

Você conhece os sintomas do diabetes? Já fez o exame?

Na verdade, não sei. Eu faço check-up todo ano e peço pra fazer o exame, porque o diabetes leva a problemas muito sérios. Há pessoas que perdem a perna, precisa ter mais cuidados na alimentação e, quando é idoso, pode ficar acamado. O povo comenta muito, mas não sabe os sintomas. Maria de Lourdes dos Santos, 72

recurso. Mas podemos voltar a fazer pressão nas ruas”, disse. Tarifa Zero

A APH sugere a ampliação do número de ônibus e linhas disponíveis nos domingos e feriados para garantir a oferta adequada. Conforme o estudo, com a tarifa zero aos domingos e feriados, seria possível reduzir os custos para as concessionárias que atuam na capital mineira em até 25%. Isso porque, nesses dias, os ônibus circulariam sem cobradores, com paradas mais rápidas e com trânsito fluindo melhor. Roberto Andrés lembra que a proposta não é absurda, uma vez que algo semelhante já ocorreu em BH na década de 1990.

Um pouco. Já fiz o exame, porque uma vez eu tive muita dor de cabeça e queda de pressão e o médico pediu. Tenho um tio que tem, mas não tenho medo porque já estou preparado caso aconteça. Lourival Borges de Sá, 39


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Casamento no escuro DESCASO Noiva recebeu indenização da Cemig após provar transtorno Rosana Zica De Belo Horizonte A população do Icaivera, bairro entre Betim e Contagem, sofre com constantes quedas de energia e com a demora da Cemig para restabelecer o serviço. Em setembro, os quase 500 alunos do horário noturno da Escola Estadual João Guimarães Rosa ficaram quatro dias sem aula por falta de eletricidade. Depois de provar na Justiça que a queda de energia lhe causou muitos transtornos, a vendedora Géssila dos Santos de Oliveira recebeu R$ 5.200 de indenização da Cemig.

No dia de seu casamento, faltou luz no bairro inteiro, das 17 às 23 horas. A noiva conta que, por causa do apagão, teve que ser maquiada com a ajuda de uma lanterna. O casamento foi iluminado por velas e farol de carros. “Paguei caro pelo vestido, maquiagem e cabelo, mas ninguém viu. Nossos convidados também foram penalizados, se produziram e foi tudo feito sem luz”. Também faltou energia no casamento da cabeleireira Paula Izabelle Aparecida da Silva Gomes, no dia 7 de setembro. “A luz acabou por volta de 18h e foi um tumulto para arrumar as damas de honra, não da-

Arquivo pessoal

va para usar o chuveiro e o secador”, lembra. Familiares fizeram uma extensão de outra rua para ligar o som. “Deu para fazer a celebração, mas muita gente não veio porque não tinham como tomar banho e se arrumar”, lamenta. Passado o susto, a falta de energia ainda atormenta a cabeleireira, que teve que reduzir o horário de atendimento no salão. “Não tem mais jeito de trabalhar à noite, a luz acaba assim que anoitece e só volta depois de 23h”, conta. Ela planeja cobrar indenização pelos danos causados pela falta de luz no bairro.

Eletricitários cobram condições de trabalho Enquanto os consumidores reclamam da qualidade dos serviços, principalmente da falta de energia e da demora para retomar os serviços, os trabalhadores da Cemig cobram concurso para recompor o quadro próprio e resgatar a confiança da população na empresa. Os eletricitários cobram a contratação direta de 5 mil trabalhadores, até 31 de dezembro de 2014. Também reivindicam a seleção interna para preencher cargos vagos e a abertura do processo de mobilidade, acessível a todos os trabalhadores, de forma transparente e voluntária.

Paula Izabelle teve que se casar à luz de velas

CHEGA DE ENGANAÇÃO. Sonegação Fiscal é crime.

Os auditores fiscais da Receita Estadual são responsáveis por combater a sonegação e arrecadar impostos para investir em Minas Gerais. Mas você sabe se esses recursos estão sendo aplicados em benefício da população? Mesmo com o quadro de auditores fiscais da Receita Estadual defasado, esses servidores têm obtido bons resultados na recuperação de receita para Minas, por meio de ações de fiscalização e combate à sonegação. As autuações no estado atingem uma média de R$ 2 bilhões por ano, sem contar a arrecadação indireta, o que confirma a necessidade de valorização constante desse cargo. Ao mesmo tempo, o governo estadual concede benefícios fiscais para grandes empresas sem obter nenhum retorno social, enquanto itens de consumo essenciais, como combustível, energia elétrica e telefonia, estão cada vez mais caros para os mineiros. O SINDIFISCO-MG acredita que os investimentos em saúde, educação, segurança e saneamento devem ser prioridade e conta com você para dar um basta no descaso do governo de Minas em prestar serviços públicos de qualidade. O dinheiro arrecadado no combate à sonegação pode ser investido para evitar que milhares de pessoas sofram com o péssimo atendimento nos hospitais e postos de saúde e para que a educação seja valorizada com investimentos na remuneração dos profissionais e na infraestrutura das escolas, por exemplo.

Impunidade e desrespeito, não! Saiba mais no www.sindifiscomg.org.br

Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Estadual de Minas Gerais


Belo Horizonte, de 22 a 28 de novembro de 2013

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Brasil: área livre para as mineradoras NOVO CÓDIGO Prestes a ser votado, texto não garante interesses sociais e ambientais   Fotos: Mídia Ninja

Mídia NINJA De Belo Horizonte

Com a proximidade da votação do Novo Código de Mineração Brasileiro, o debate ganha uma amplitude maior. O novo texto apresentado ao Congresso, o PL5807/13, deixa inúmeras aberturas para as comunidades nas áreas atingidas passarem por situações de desrespeito, condições insalubres e descaso do poder público. O Código atual cita a proteção das fontes de água, os impactos na vizinhança e a poluição do ar. Já a nova proposta não apresenta nem uma menção aos impactos de cunho social e ambiental. A atividade extrativista causa ainda uma série de transtornos na vida das cidades que recebem as mineradoras, como o aumento populacional, a circulação de máquinas nas ruas e fortes índices de inflação. Municípios são cortados por ferrovias e minerodutos e ainda são obrigados a conviver com o barulho e incômodos que essa atividade proporciona. O debate em torno do novo código tem sido levantado para a sociedade através do Comitê Nacional dos Territórios Frente à Mineração, que reúne mais de 120 entidades ligadas aos atingidos, populações indígenas, quilombolas e meio ambiente. O grupo tem buscado esclarecer a importância de se olhar para o impacto social das mineradoras. Segundo o comitê, os impactos da mineração afetarão nas próximas décadas não apenas as populações do entorno das minas, mas toda a população brasileira. O alto consumo de água irá comprometer o abastecimento de muitas cidades, pois rios e nascentes estão sendo drenados para a manutenção do

Minas Gerais, berço da mineração Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Minas Gerais é o segundo estado exportador de minério do Brasil. É onde também a empresa Vale S/A iniciou suas atividades no país, em Itabira, cidade que sofre sérias consequências pela mineração. Em 2012, Itabira teve um caso de suicídio para cada 1,5 mil habitantes, enquanto a média nacional no mesmo ano foi de um caso para cada 25 mil habitantes. O estado tem hoje 300 minas em operação, incluindo 57 das 200 maiores do país. Participa com 53% da extração dos metais metálicos do país.

Vista aérea da cidade de Santa Maria de Itabira (MG). A mina aberta, a primeira a ser explorada pela Vale S.A., encontra-se dentro do perímetro urbano do município.

extrativismo. “Só em 2012, a mineração consumiu 52 bilhões de litros de água, o suficiente para abastecer por dois anos a cidade de Niterói (RJ)”, denuncia Carlos Bittencout, do IBASE. Além disso, as mineradoras têm protagonizado uma imensa contaminação de rios, nascentes e aquíferos em todas as cidades e povoados onde atuam. Diversos municípios de Minas Gerais tiveram seu abastecimento comprometido, com contaminação pelos rejeitos de produtos químicos utilizados no processo da extração mineral. Com novo Código, mineração só deve responder ao mercado O projeto de lei que tramita hoje na Câmara Federal foi apresentado no dia 18 de junho em regime de urgência constitucional. O Novo Marco Regulatório da Minera-

ção (PL 5.807/13 está em debate no governo federal há cerca de quatro anos. O texto atual já recebeu mais de 400 emendas e no último dia 11, o relator da Comissão Especial de Mineração, deputado Leonardo Quintão (PT/MG), propôs uma nova redação para o PL. Segundo Katia Visentainer, representante do Comitê Nacional dos Territórios Frente à Mineração, o novo código subordina a extração mineral à lógica exclusiva da competição de mercado, que acelerará o ritmo de exaustão de nossas jazidas sem necessariamente devolver bem-estar social e ainda coloca a atividade como uma prioridade absoluta do Estado, acima de todos os outros usos do território. O Comitê Nacional dos Territórios Frente à Mineração percebeu o relatório como um ataque frontal aos interesses da sociedade civil e,

Enquanto o trem não passa Na eminência da aprovação do Novo Código da Mineração, o Mídia Ninja lança um documentário sobre o tema, “Enquanto o trem não passa”. Produzido de forma colaborativa e coletiva, surge do desejo de mostrar ao maior número de pessoas a realidade de quem vive ao entorno das minas, a vida de populações e comunidades que convivem com a logística desse negócio. O filme está em exibição por todo país e o material disponível para download em www.mineracaonobrasil.com em especial, às comunidades atingidas pela mineração. O texto não apresenta qualquer estratégia alternativa à lógica de mercado de reduzir custos e ampliar lucros, não reconhece direitos sociais e ambientais e trata os territórios do país como áreas livres para os interesses das mineradoras.

Rebeca, de Congonhas: “A gente tá abandonado. Não tem apoio de política nenhuma, nem apoio do poder público”

2030 A mineração é responsável por quase

15%

de toda a exportação brasileira

52%

são bens primários, minérios sem qualquer beneficiamento

Até 2030 a produção mineral deve triplicar e para isso deverão ser investidos no setor

US$ 350

BI


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Belo Horizonte, de 22 a 28 de novembro de 2013

Impunidade é uma das causas para violência sexual

Vinte e cinco de novembro é marcado como o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher. Durante todo o mês, o jornal Brasil de Fato apresenta uma série de reportagens sobre o tema. Reprodução

MACHISMO Vítimas não podem ser culpabilizadas Maíra Gomes De Belo Horizonte

Cresceu 18% o número de estupros no Brasil em 2012, de acordo com o 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado no início de novembro. Em todo o país, foram registrados 50,6 mil casos, superando o número de homicídios dolosos (com intenção de matar). Em Minas Gerais, houve um aumento de 8,9% para 10,1% no número de casos. Ou seja, em cada cem mil mulheres no estado, dez foram estupradas no ano passado. Para a militante da Marcha Mundial das Mulheres Maria Fernanda Marcelino, há um conjunto de fatores que tem levado ao maior aparecimento de casos, o que pode não significar exatamente um aumento. “Mesmo que pequenas, as políticas públicas existem e acredito que podem ter gerado uma maior visibilidade. Outro caminho é o fenômeno das redes sociais, onde a denúncia da violência sexual aparece porque as pessoas podem ser protegidas pelo anonimato”, diz. Maria Fernanda, que também é integrante da Sempreviva Organização Feminista (SOF), aponta que há um aumento de agressões nos transportes públicos, como metrôs e ônibus lotados. Eliane Dias, também militante feminista, acredita que a impuni-

dade dos agressores é outro fator que colabora para o aumento de casos. “A impunidade dá respaldo para cometer o estupro. Deve haver uma ação efetiva, as leis existem mas o Estado precisa exercitar suas políticas”, declara. Belo Horizonte conta com ambulatórios específicos para o atendimento a vítimas de violência sexual, em hospitais como Odete Valadares, Odilon Behrens e Julia Kubitschek. Um equipe multidisciplinar, com ginecologista, enfermeira, psicólogo e assistente social recebe as vítimas. Médica acompanha casos Kenia Zimmerer Vieira trabalha como ginecologista no atendimento a vitimas de violência sexual no Julia Kubitschek. Ela explica que cuidados com a saúde são a preocupação imediata, como realização de exames e aplicação de medicamentos que vão diminuir as chances de doenças e gravidez. “Nossa prioridade é ver se está garantida a integridade física. Depois realizamos exames e medicamos, por exemplo, com retrovirais contra o HIV. A paciente é acompanhada por seis meses a um ano, com exames periódicos”, relata. A médica afirma que o número de pacientes tem aumentado, principalmente entre crianças e adolescentes. O local atendeu, no dia anterior à entrevista, dez pessoas. “Apenas uma era maior de

Estupro corretivo: crueldade para “curar” “Você vai aprender a gostar de homem”. Esta frase inicia o estupro a uma vítima lésbica, com o objetivo “curá-la” da homossexualidade. O fenômeno tem ganhado visibilidade no mundo todo, principalmente após as denúncias de grande ocorrência na África do Sul. Segundo estimativas do Luleki Sizwe, organização de apoio a vítimas de violência sexual, pelo menos 31 mulheres já morreram vítimas desse tipo de ataque nos últimos dez anos. No Brasil, 6% dos casos de estupro que chegam ao Disque 100 são de lésbicas. Para a feminista Maria Fernanda Marcelino, o estupro corretivo é

uma intensificação do machismo, que entende que a mulher deve cumprir um papel social e, quando ela se nega, deve ser “corrigi-

“As marcas que isso traz pra qualquer mulher não têm volta, o psicológico fica destruído. É muita monstruosidade” da”. “Qualquer mulher que não se encaixe no padrão de propriedade do homem é tida como puta, e puta não merece respeito”, afirma. Eliane Dias, também militan-

Em números absolutos, 2.007 mulheres foram violentadas em 2012

idade, o restante tinha entre 11 e 15 anos . A mulher adulta é, geralmente, violentada em via pública, por desconhecidos. No caso de crianças e adolescentes o agressor é alguém do convívio, como vizinho ou parente”, conta Kênia, que diz que as agressões aumentam durante a noite e finais de semana. A vítima de violência sexual, muitas vezes, se sente envergonhada e humilhada, acreditando que a culpa do ocorrido é sua. “A responsabilidade nunca é da vítima, e ela se sente culpada. É possível superar esse trauma junto com outras vítimas. Quando se encontram, a primeira sensação é de conforto, porque ela percebe que isso acontece com muitas, que o

problema está na sociedade e não nela”, diz Maria Fernanda.

te LGBT da MMM, diz que 19 lésbicas morreram vítimas de violência em 2012, de acordo com o Grupo Gay da Bahia. “O número pode, e deve, ser muito maior. A homofobia e lesbofobia estão em todo canto, há décadas”, afirma. Ela conta que, na maioria dos casos de estupro corretivo, os agressores são pessoas próximas, já que muitos da famílias se envergonham de uma homossexual dentro de casa. Mas ela aponta que o estupro, seja corretivo ou não, tem o mesmo fundo: a dominação que o homem acredita exercer sobre a mulher. “A vontade de

‘correção’ é mais um motivo para o agressor chegar na vítima, mas o homem invadindo o corpo da mulher está aí igual, independente de ser com branca, negra ou lésbica”. O estupro corretivo apresenta algumas características no mundo todo, como frases de humilhação à lésbica, a intencionalidade em contagiar a vítima com doenças sexualmente transmissíveis, inclusive o HIV, e a pretensão de engravidar a mulher. “As marcas que isso traz pra qualquer mulher não têm volta, o psicológico fica destruído. É muita monstruosidade”, diz Eliane.

Aborto legalizado Em alguns casos, o estupro pode gerar gravidez. A lei garante que a vítima faça a escolha pelo aborto, o que ocorre na maioria das vezes, segundo a ginecologista. “É um serviço oferecido pra quem foi vítima de violência. Temos que acertar pontos importantes, como a data da violência com o tempo de gravidez. É uma decisão sofrida, mas é muito difícil para a mulher ter um filho fruto de uma relação violenta. Há um suporte psicológico, a recuperação pode ser tranquila”, afirma.


Belo Horizonte, de 22 a 28 de novembro de 2013

Tráfico de pessoas tem pouca visibilidade e muitas vítimas

fatos em foco Privatização do aeroporto de Confins

FRATERNIDADE Campanha da Igreja pretende visibilizar o problema Maíra Gomes De Belo Horizonte

Um crime que estava escondido até pouco tempo acabou por ser tratado em uma novela dando visibilidade para a causa: o tráfico de pessoas. Na trama de Salve Jorge, a protagonista se envolveu com o tráfico em busca de um salário melhor para sustentar sua família. Sirley da Silva, integrante do Instituto das Irmãs Oblata do Santíssimo Redentor, aponta que esta é a principal justificativa no aliciamento de pessoas. “A juventude está querendo melhorar de vida e uma pessoa que chega fazendo uma oferta de levar pra fora do país ou fora do estado conquista. O problema é quando chegam ao local, não encontram o que foi oferecido, e sim uma situação de não liberdade”, denuncia. A Campanha da Fraternidade trata do assunto em 2014, com o tema “Fraternidade e Tráfico de Pessoas” e o lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). O coordenador da Pastoral da Mulher de Belo Horizonte, José Manoel Lazaro Uriol, diz que há necessidade de chamar atenção para este

problema social. “A escolha do tema se deu pelo crescimento espetacular do tráfico humano nos últimos anos. E em parte pelos megaeventos que serão realizado no Brasil, como a Copa e Olimpíadas”, declara. Ele explica que o tráfico de humanos está diretamente ligado ao turismo sexual e ao favorecimento da prostituição. “Quando acontece esse tipo de eventos, vem junto uma grande movimentação ligada ao tráfico de mulheres, crianças e adolescentes, para atender a uma demanda sexual”, aponta José Manoel. Segundo o coordenador da Pastoral, houve um aumento espetacular da indústria do sexo durante as Copas da Alemanha e da África do Sul. A irmã Sirley, que trabalha com questões de mulheres há muito anos, afirma que o Estado tem um importante papel no combate ao tráfico de pessoas. “O governo deve divulgar o problema, fazer campanha sobre isso, produzir material informativo”, afirma. Para José Manoel, as causas do tráfico de pessoas estão ligadas à falta de políticas públicas que apontem oportunidades de boas condições de vida. “As principais vítimas

Reprodução

Para quem está acostumado a ver jovens se preocupando apenas com festas ou com a própria carreira, o último final de semana foi uma surpresa. Durante os dias 15, 16 e 17 de novembro, cerca de 350 jovens mineiros se reuniram em Ribeirão das Neves para discutir projetos para o país. Juntos, eles formam o Levante Popular da Juventude, movimento presente em 16 estados brasileiros. O encontro, chamado de Primeiro Acampamento Estadual do LeLevante Popular

350 jovens participaram do acampamento

vante MG, tratou dos atuais problemas dos jovens, principalmente os da periferia. “Temos dentro do movimento pessoas como a Myrlene Pereira, que viaja 40 km para estudar e 100 km para trabalhar, todos os dias. Como ajudar esses jovens? Nós temos propostas!”, afirmou Júlia Louzada, estudante de psicologia e integrante do Levante. Entre as soluções pensadas pelos jovens estão: mais creches, mais cursinhos populares, mais ajuda financeira aos estudantes pobres e regras para escolas particulares, que hoje podem aumentar a mensalidade livremente. Para o trabalho com os jovens que ainda não estão na universidade, o movimento propôs a utilização do esporte e da cultura. Jean Carlos, representante mineiro da coordenação nacional do movimento, diz que pensar em formas de trabalhar com os jovens da periferia não é fácil, pois eles têm pouco tempo para se dedicar a atividades recreativas. “Mesmo assim, precisamos con-

O leilão do Aeroporto Internacional de Minas Gerais Tancredo Neves, em Confins, está marcado para sexta-feira (22). A expectativa é que três empresas internacionais se candidatem à concessão, e que a vencedora invista R$2,7 bilhões. Entre as opiniões favoráveis à privatização, defende-se que o serviço será menos burocrático. No entanto, para o diretor do Sindicato Nacional dos Aeroportuários, Leandro Pinheiro, a única certeza é que os passageiros começarão a pagar muito mais caro.

Trabalhadores ocupam Fhemig

são mulheres, de 15 a 27 anos, afrodescendentes, com condições econômicas muito vulneráveis. Com a Campanha da Fraternidade, queremos colocar em manifesto a questão estrutural profunda que coloca a pessoa no tráfico, além de denunciar a falta de políticas publicas para enfrentar esse fenômeno”, diz.

Jovens discutem projetos para o país Rafaella Dotta De Ribeirão das Neves

minas | 07

seguir que o jovem tenha acesso ao que é seu direito: a arte, a cultura, o lazer. Para isso, o Levante está indo atrás de editais do governo, nas áreas de cultura e educação”, afirma Jean. Com recursos materiais, o trabalho tem maior possibilidade de acontecer. Porém, Jean declara que uma parcela esmagadora dos trabalhos é feita com boa vontade e “vaquinhas”. Para Felippe Emanuel, jovem de São João del-Rei recém-formado em direito, o encontro entre cultura e política está dando certo. “Eu acho que o acampamento correspondeu muito à expectativa da juventude. A gente não se limita a debates e consegue fazer uma interação entre a política e os anseios dos jovens”, avalia. Perguntado sobre o que o encontro trouxe de mais importante, Felippe responde: “Sem dúvida, o amor ao povo. O acampamento permitiu que eu pudesse ver coisas que não estão no meu dia a dia e pensasse, junto a outras pessoas, que solução vamos dar pra isso”, afirma.

Os trabalhadores da saúde ocuparam, nessa quarta-feira (20), a sede da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e pretendem permanecer no local até que o governo coloque em negociação a proposta de ganho real para a campanha salarial 2013. A decisão de montar acampamento surgiu após Assembleia Geral, onde os servidores rejeitaram a incorporação gradual da Gratificação Complementar nos salários. Os funcionários exigem que a proposta inclua os trabalhadores em geral, sem excluir nível fundamental de todos os órgãos e técnicos administrativos da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES).

Midiativistas reúnem-se no Rio de Janeiro O Facção, Encontro Latino-Americano de Midiativismo, acontece no sábado (23) na Escola de Comunicação da UFRJ e domingo (24), no Ocupa Lapa. O evento reunirá centenas de pessoas do Brasil e da América Latina, entre ativistas, jornalistas, comunicadores, movimentos sociais, blogueiros, artistas, agentes culturais e desenvolvedores de tecnologia. O objetivo é avaliar o cenário contemporâneo da comunicação, pensar o protagonismo do movimento midiativista e midialivrista, compartilhar experiências e pensar coletivamente ações que legitimem a luta pela democratização da comunicação e a garantia da liberdade de expressão e ampliação dos direitos.


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Acompanhando

Foto da semana

Mídia NINJA

Participe Viu alguma coisa legal? Algum absurdo? Quer divulgar? Mande sua foto para redacaomg@brasildefato.com.br. Lembre-se de mandar o endereço onde foi registrado o fato e seu contato

Na edição 10 ... Machismo e polêmica na UFMG

... e agora

No dia da Consciência Negra (20 de novembro), movimentos realizaram ações na Praça Sete, em BH. A foto da semana é do ato organizado pelo grupo Educafro Minas, para dar visibilidade aos assassinatos de jovens negros, que são cometidos principalmente pela polícia.

Bruno Abreu Gomes

Soniamara Maranho

Cadê o Hospital do Barreiro?

Contra as transnacionais

Promessa de campanha de Marcio Lacerda em 2008, a construção do Hospital Metropolitano do Barreiro seria realizada pelo modelo de Parceria Público -Privada (PPP), anunciado como mais eficiente, mais rápido e mais barato. Virou exemplo do mal fazer da Prefeitura e do Estado de Minas Gerais. Cinco anos depois, e a população ainda não pode contar com o hospital em funcionamento. O caso todo é muito estranho. Alguns exemplos: o Tribunal de Contas do Estado investiga o favorecimento de uma empresa, a Estrutura Brasileira de Projetos (EBP), que pode ter sido favorecida na contratação. Em abril de 2009, a Construtora Santa Bárbara abandona a obra, alegando problemas financeiros. Mas foi essa mesma empresa que construiu a faraônica Cidade Administrativa. Em setembro de 2011, a Tratange assume a finalização da primeira fase da obra, numa licitação em que foi a única concorrente. Em dezembro, a Tratenge -Planova desiste de concorrer pela segunda fase, deixando o caminho livre para o consórcio Novo Metropolitano, liderado pela Andrade Guitierrez. Em setembro de 2013, o consórcio vencedor não cumpre a promessa de retomar as obras, por querer uma margem de lucro maior. As empresas demonstraram que seu compromisso é com o lucro, não com o povo. Os governos, por sua vez, demonstraram mais compromissos com as empresas. Segundo o jornal O Tempo, a obra, orçada em R$ 150 milhões, tem expectativa de custo atual de R$ 220 milhões. A promessa de PPPs com mais eficiência, mais rapidez e mais economia revelou-se: mais denúncias, atrasos e gastos públicos.

Mais de 60 pessoas de mais de 35 organizações de 16 países se reuniram em Bilbao, no País Basco, para buscar fortalecer a solidariedade internacional entre os trabalhadores no enfrentamento da voracidade do capital. O seminário “Alimentos, água e energia não são mercadorias”, organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) do Brasil e pela Mundubat, ocorreu no início de novembro. A atividade teve dois objetivos. Primeiro, identificar as estratégias do capital para enfrentar a crise econômica. Segundo, fortalecer a união dos trabalhadores para lutar. Nesse momento de crise, o capital toma medidas muito mais agressivas contra os trabalhadores e a natureza. As transnacionais, que não respeitam pátria, nem trabalhadores, nem recursos naturais, apenas o lucro, são a ponta de lança. Suas estratégias para sair da crise: apropriação das bases naturais mais vantajosas, aumento da exploração dos trabalhadores, criação de novas tecnologias e apropriação das estruturas dos Estados. No seminário também homenageamos os trabalhadores vítimas dessa lógica. Entre elas, estava Carlão, funcionário da Cemig, morto por uma descarga elétrica, fruto da precarização do trabalho. Os participantes fizeram uma marcha, sob a luz de velas, em homenagem aos companheiros assassinados na luta contra as transnacionais. A única saída para os trabalhadores é articular a formação política com a organização popular e as lutas unificadas. Precisamos construir redes contra -hegemônicas de solidariedade internacional e isso significa ter agendas comuns contra um inimigo comum, porque as transnacionais também não tem fronteiras.

Bruno Abreu Gomes é médico de família e comunidade da PBH e diretor eleito do SindiBel.

Soniamara Maranho é da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens.

Na segunda-feira (18), o Ministério Público Federal realizou uma audiência pública para discutir a responsabilidade da reitoria da UFMG em casos de violência, crimes de ódio e preconceito na realização de trotes. No início do ano, alunos de Direito aplicaram trote com teor racista e referências ao nazismo. Sindicância aberta pela universidade indiciou 198 alunos, o que poderia gerar injustiça e impunidade dos reais culpados. Em outubro, a faculdade de Direito da UFMG decidiu que apenas os quatro alunos veteranos que aparecem nas fotos serão investigados. A comissão julgadora tem até o dia 6 de dezembro para entregar o relatório final. A própria universidade está sendo investigada e, caso seja condenada, pode responder por dano moral coletivo. O MPF anunciou que pode proibir trotes na UFMG. Sobre o caso de machismo praticados por professores na universidade, a assessoria informa que não vai se pronunciar, já que o prazo de 60 dias para a entrega do relatório ainda não venceu.

Na edição 10... Sua conta de luz pode ser mais barata

... e agora

A conta de luz em Minas Gerais foi tema do Plebiscito Popular realizado de 19 de outubro a 3 de novembro. A ação fez duas perguntas aos cidadãos mineiros: se eles querem reduzir o preço da energia e se concordam em abaixar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A partir do início de novembro, iniciou-se a apuração dos votos, que até o momento contabilizam 450 mil, vindos de 258 cidades do estado. A expectativa é que o resultado final seja divulgado em uma semana.


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entrevista | 09

“Belo Horizonte está à venda” NOVA BH Projeto que pretende mudar a cidade nos próximos 20 anos não foi debatido com a população Arquivo pessoal

Joana Tavares De Belo Horizonte Um projeto grandioso e polêmico, que pretende estabelecer mudanças no panorama da cidade para os próximos 20 anos, está sendo construído pela Prefeitura de Belo Horizonte. Batizado de “Nova BH”, a operação vai mudar mais de 25 km² da cidade, nos eixos dos corredores Antônio Carlos-Pedro I e no Leste-Oeste, que inclui as avenidas dos Andradas e Tereza Cristina e Via Expressa. Na cartilha oficial de apresentação da PBH, as promessas são muitas: aumento de passarelas, melhoria das calçadas e na circulação de pedestres, construção de parques e complexos de equipamentos públicos, mais árvores e casas. Apesar da complexidade das mudanças previstas, o plano praticamente não foi debatido com a popu-

“No caso de Belo Horizonte, está-se substituindo a legislação aprovada no plano diretor por uma maneira oportunista da gestão municipal de se aliar ao capital privado” lação da cidade. Associações de moradores, professores, estudantes, arquitetos, lideranças comunitárias e representantes de movimentos sociais denunciam que a PBH vem agindo de forma desonesta, ao impedir a participação popular na definição dos rumos da cidade. O projeto, que será operado como uma Operação Urbana Consorciada - através de venda de potencial construtivo às empresas - será enviado para avaliação do Conselho Municipal de Política Urbana (Compur) no próximo dia 28. Caso receba votos favoráveis dos 16 conselheiros, pode ser enviado à Câmara Municipal como projeto de lei. O Ministério Público de Minas convocou uma audiência pública para discutir a Operação na noite de quarta-feira (20). O auditório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais foi lotado por cidadãos descontentes com o projeto, que alertaram para diversos aspectos negativos, como a ausência de planejamento para construção de moradias de interesse social, a falta de diálogo com os moradores, o aumento do adensamento urbano, a segregação social, o privilégio da-

do a empresas privadas na compra de terrenos, além da pouca transparência dos dados. O MPMG afirmou que a entidade vai recomendar à prefeitura para que promova debates entre a população, e não descartou a possibilidade de ajuizar uma ação civil pública sobre o projeto. Grande ausência sentida, a Prefeitura alegou que não compareceu à audiência pois o tempo disponível para apresentar o projeto não seria suficiente. A professora Rita Velloso, professora da Escola de Arquitetura da UFMG e da PUC Minas e coordenadora do Observatório de Política Urbana e integra a rede Observatório das Metrópoles (CNPq/INCT), esteve presente na audiência e, assim como a maioria dos presentes, possui muitas críticas à forma da Operação Urbana Consorciada. “É um empreendimento montado para favorecer ao setor imobiliário e financeiro em primeiro lugar”, alerta. Qual o impacto da operação Nova BH que, segundo a PBH, deve alcançar 25 km² da capital, em relação ao potencial construtivo? O que isso pode significar para o adensamento urbano da cidade? Rita Velloso - Não apenas é uma proposta danosa para as populações locais, mas tem - ou parece ter - o porte de algo que mudará profundamente a configuração das áreas envolvidas, as características daqueles espaços. E essas mudanças não necessariamente serão para melhor, pois percebe-se que é um empreendimento montado para favorecer ao setor imobiliário e financeiro em primeiro lugar. A PBH, em cartilha oficial, coloca que a forma de financiamento do projeto será via Operação Urbana Consorciada (OUC), em que as empresas compram potencial construtivo. O que isso quer dizer? O que significa do ponto de vista político, de soberania da cidade? Do ponto de vista político, isso é uma temeridade, em termos práticos, significa encontrar brechas na lei e nos instrumentos de planejamento urbano legalmente instituídos (do próprio Estatuto da Cidade) para colocar a cidade à venda na bolsa de valores. No caso de Belo Horizonte está-se substituindo a legislação aprovada no plano diretor, que vinha até então sendo discutida com a população nas conferências anteriores de política urbana, por uma maneira oportunista da gestão municipal de se aliar ao capi-

Professora de arquietura Rita Velloso, que coordena o Observatório de Política Urbana

tal privado. É uma operação financeira que favorece exclusivamente à indústria imobiliária. É um raciocínio administrativo perverso, pois os danos para as populações de renda média e para os pobres serão extensos e vão se fazer sentir profundamente nas próximas décadas: populações excluídas de seus territórios, moradores que verão os custos de seus padrões de vida elevados. Uma das maiores críticas ao pro-

“No caso da Operação Consorciada, as populações e os habitantes das áreas em questão jamais foram chamados a participar do processo de concepção, da fase de diagnósticos espaciais para a área” jeto se dá pela falta de participação. A Prefeitura alega que fez Estudo de Impacto da Vizinhança, mas não foi feita uma apresentação mais ampla do programa. Como você vê essa situação? A administração atual despreza os modelos democráticos de gestão de cidades: é preconceituosa, forja aparências de eventos que incluem

“A administração atual despreza os modelos democráticos de gestão, forja aparências de eventos que incluem a população” a população, simula situações participativas que são meramente apresentações superficiais de projetos gráficos quando tornados públicos. Jamais vemos os dados amplos das iniciativas da prefeitura, o debate nunca é aprofundado, o investimento em propaganda que repete e alardeia uma falsa participação é alto. Nesse caso da OUC, as populações e os habitantes das áreas em questão jamais foram chamados a participar do processo de concepção, da fase de diagnósticos espaciais para a área. O que é possível fazer para reverter esse processo de exclusão? A população deve se organizar para enfrentar e se opor a tal estratégia política, que, claramente, segrega e aliena os cidadãos dos processos de tomada de decisão sobre o ambiente urbano em que vivem. Vivemos atualmente sob um governo que tem a dissimulação como prática em seus procedimentos e que não se acanha em vetar o acesso à informação pública.


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Dengue deixa 157 municípios em situação de risco SAÚDE Foram notificados 1,4 milhão de casos prováveis de dengue no país neste ano O novo mapa da dengue no país, divulgado nesta semana, mostra que 157 municípios do país estão em situação de risco e outros 525 em estado de alerta. Os dados são do Levantamento Rápido de Índice para Aedes Aegypti. O ministro da Saúde Alexandre Padilha assinou na terça-feira (19/11) uma portaria que dobra o investimento previsto de combate à doença para 2014, que passa a ser de R$ 1,2 bilhão. De acordo com o Ministério da Saúde, o reforço na assistência básica ao paciente contaminado pelo inseto vem sendo ampliado ano a ano e resultou na redução dos casos graves da doença em 61% quando comparado aos dados de 2010. Também diminuíram em 10% os casos de mortes pela dengue, mesmo com o crescimento dos números de notificações da doença. Neste ano, foram notificados 1,4 milhão de casos prováveis de dengue no país em decorrência de uma circulação do subtipo 4 do vírus, que respondeu por 60% dos casos.

O levantamento foi feito nos meses de outubro e no início de novembro serviu para identificar onde estão concentrados os focos de reprodução do mosquito transmissor em 1.315 cidades. Segundo Padilha, os números ainda não são para comemorar. “Queremos reduzir cada vez mais a chance de óbito neste país. Essa é a principal ação do Ministério da Saúde agora”. Ele ressaltou que, com o Mais Médicos, as ações serão reforçadas uma vez que os profissionais contratados já enfrentaram a dengue nos países de origem, além de ter larga experiência. Três capitais estão em situação de risco: Cuiabá, Rio Branco e Porto Velho. Outras 11 apresentaram situação de alerta: Boa Vista, Manaus, Palmas, Salvador, Fortaleza, São Luís, Aracaju, Cuiabá, Rio de Janeiro e Vitória. Sete cidades ainda não apresentaram os resultados do Levantamento Rápido de Índice para Aedes Aegypti e as outras capitais têm níveis considerados satisfatórios. (Agência Brasil)

Divulgação/Prefeitura de Vila Velha

Ação de equipe de combate à dengue: portaria dobra o investimento para prevenção em 2014

Conta da M.Officer é bloqueada pela Justiça

SITRAEMG – defendendo a valorização e a dignidade dos trabalhadores do Judiciário Federal em Minas e ao lado das causas cidadadãs do povo brasileiro.

Rua Euclides da Cunha, 14 - Prado - Belo Horizonte/MG (31) 4501-1500 / www.sitraemg.org.br

A Justiça do Trabalho determinou o bloqueio de R$ 1 milhão da M5 Têxtil, dona das grifes M.Officer e Carlos Miele. A decisão foi proferida em caráter liminar após pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT). Uma equipe de fiscalização com procuradores e auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) encontrou dois trabalhadores bolivianos produzindo peça da M.Officer em uma confecção no Bom Retiro, bairro da região central de São Paulo, na quarta-feira (13). Segundo Christiane Nogueira, procuradora do Trabalho presente na ação, os trabalhadores estavam em condição análoga à de escravo. Durante a fiscalização, a empresa não reconheceu a responsabilidade pelos trabalhadores e se negou a firmar acordo com o MPT. De acordo com a ação ajuizada pelo MPT, o pedido de bloqueio é “o mínimo necessário para que seja assegurado o pagamento dos direitos sonegados, a manutenção dos trabalhadores em território nacional, às expensas do empregador, até a completa regularização de sua situação no Brasil, em face da condição análoga à de escravo a que foram submetidos, bem como o pa-

gamento de indenização por dano moral coletivo”. Igor Mussoly, diretor da M5, informou que a empresa foi surpreendida com a notícia de “trabalhadores em condições irregulares”, atuando para terceiros ligados a um fornecedor e, portanto, não pode se responsabilizar por fraude ou dolo praticados por esses terceiros. De acordo com ele, estão sendo tomadas as medidas judiciais contra os responsáveis e a M5 trabalhará em conjunto com o MPT e o MTE para esclarecer os fatos. Como a decisão foi emitida durante o feriado de 15 de novembro, o mérito da questão ainda será avaliado pelo juiz da comarca responsável pela ação. Para a decisão, Helder Bianchi Ferreira de Carvalho, juiz de plantão que recebeu o caso, determinou ainda, através da liminar, que a M5 Têxtil transfira os trabalhadores flagrados e seus familiares para um hotel ou outro local que atenda às normas de saúde e segurança, sob pena de multa diária de R$ 50 mil. Além disso, a empresa deve pagar R$ 5 mil a cada trabalhador flagrado, a fim de garantir verbas rescisórias e “eventuais despesas de retorno”. (Repórter Brasil)


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“Direitos foram violados pelo STF”, diz jurista

MENSALÃO Bandeira de Mello, um dos maiores juristas do país, critica julgamento, prisões e transferência para Brasília Agência Brasil

Luiz Felipe Albuquerque De São Paulo

O julgamento do caso “Mensalão” foi político e inconstitucional, na avaliação de Celso Antônio Bandeira de Mello, que é reconhecido como um dos mais brilhantes e respeitados juristas brasileiros. Professor Emérito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Bandeira completa 77 anos na próxima semana envergonhado com o papel cumprido Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento. “Esse julgamento é viciado do começo ao fim. Agora, os vícios estão se repetindo, o que não é de estranhar. Não vejo nenhuma novidade nas violações de direitos. Confesso que fiquei escandalizado com o julgamento”, afirma, em entrevista ao Brasil de Fato. Nesta semana, 11 condenados do processo foram presos, como o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoíno, e o

ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu. Bandeira critica a precipitação das prisões e considera “gravíssimo” o tratamento dado a Genoíno, que passou recentemente por uma cirurgia no coração e está doente. Brasil de Fato – Foi correta a prisão dos condenados da ação antes do julgamento dos embargos infringentes? Celso Bandeira de Mello - Houve um açodamento. Começaram a cumprir em regime fechado mesmo aqueles que deveriam estar em regime semiaberto. A meu ver, todo o julgamento foi ilegal. Diria até inconstitucional. A começar, por suprimir uma instância, quando fizeram todos serem julgados no STF, o que não era o caso. Esse julgamento é viciado do começo ao fim. Agora, os vícios estão se repetindo, o que não é de estranhar. Não vejo nenhuma novidade nas violações de direitos. Confesso que fiquei escandalizado com o julgamento. Agência Brasil

Por que José Dirceu e José Genoíno foram levados para Brasília, se trabalham em São Paulo? Foi por exibição do presidente do Supremo [Joaquim Barbosa], que saiu de foco por uns dias e quis voltar. Mas é uma mera interpretação subjetiva. Só posso dizer que é uma coisa lamentável. Não há nada que justifique. Em princípio, eles deveriam cumprir a pena o mais próximo possível das residências deles. Se eu fosse do PT ou da família, pediria que o presidente do Supremo fosse processado. Ele parece mais partidário do que um homem isento. Genoíno deveria receber um tratamento diferente pelo fato de estar doente? É gravíssimo. Tenho quase 80 anos de idade e nunca na minha vida vi essas coisas se passarem. Nunca. Ele tinha que ter um tratamento em função do estado de saúde dele. É o cúmulo o que está se passando. É vergonhoso. Genoíno e Dirceu dizem que são inocentes e que são presos políticos em plena democracia. Como o senhor avalia isso? Eles têm razão: foi um julgamento político. Não foi um julgamento com serenidade e isenção como deveria ter sido. Basta ver as penas que eles receberam, piores do que de indivíduos que praticaram crimes com atos de crueldade e maldade. José Dirceu foi condenado com base na teoria do domínio do fato. Existem provas concretas que o condenassem? Esse é outro absurdo. Não existe nenhuma prova concreta que justifique essa atitude. É simplesmente um absurdo e um retrocesso no Estado de Direito. Primeiro, o próprio elaborador dessa teoria [o jurista alemão Claus Roxin] já afirmou que foi mal aplicada. Segundo, essa teoria é uma bobagem, pois contraria princípios do Estado de Direito. Uma pessoa é inocente até que se prove o contrário. Isso é uma conquista da civilização. Portanto, são necessárias provas de que realmente a pessoa praticou um crime ou indícios fortíssimos. Sem isso, não tem sentido.

“Tenho quase 80 anos de idade e nunca na minha vida vi essas coisas se passarem”, afirma Bandeira

Genoíno foi condenado por ter assinado um cheque de um empréstimo como presidente do PT. Depois, o valor foi pago pelo partido. Esse procedimento justifica

Bandeira de Mello: “Barbosa parece mais partidário do que um homem isento”

a condenação dele? Não justifica. As condenações foram políticas. Foram feitas porque a mídia determinou. Na verdade, o Supremo funcionou como a longa manus da mídia. Foi um ponto fora da curva. E a atuação do ministro Joaquim Barbosa? Certamente, ele foi o protagonista principal, mas não foi o único, porque não podia ter feito tudo sozinho. Quem brilhou nesse episódio foi o ministro Ricardo Lewandowski, que foi execrado pela mídia e pela massa de manobra que essa mesma mídia sempre providencia. Se o Judiciário desse sanções severíssimas à mídia, como multas nos valores de R$ 50 milhões ou 100 milhões, agiriam de outro jeito. Mas com as multinhas que recebem, não se incomodam a mínima. Você acredita em uma contra ofensiva em relação ao Poder Judiciário, diante das contradições cada vez mais evidentes nesse episódio? Acho muito difícil, porque a mídia faz e desfaz o que ela bem entende. Na verdade foi ela a responsável.


12 | mundo

Belo Horizonte, de 22 a 28 de novembro de 2013

Espanha quer multar em até R$ 1,8 milhão quem participar de protestos CENSURA Projeto de lei prevê punições para insultos a policiais, barricadas e danos ao patrimônio Wikicommons

A Espanha pode aprovar um projeto de lei que prevê multas entre 30 mil e 600 mil euros (de R$ 91 mil até R$ 1,83 milhão) para quem fizer manifestações sem permissão na frente do Congresso. O projeto é do ministro do Interior da Espanha, Jorge Fernández Díaz, que deve levar a proposta ao Conselho de Ministros na sexta-feira (22). Com a legislação, insultar um policial ou participar de “escraches”, como são chamados atos em frente ao local de moradia ou trabalho de alguém que se queira denunciar, também serão atividades passíveis de punição administrativa. O presidente espanhol, Mariano Rajoy, assegurou na quarta-feira (20) que a reforma da Lei de Segurança Cidadã proposta quer “garantir a liberdade e a segurança dos cidadãos”. Além disso, ele negou

que se trate de uma norma que coloque uma “mordaça” em manifestantes, como denunciam os opositores. A lei, ainda em fase de anteprojeto, será conduzida ao Executivo e também passará pelo Parlamento espanhol. A futura “lei Fernández” possui 55 artigos e permite, por exemplo, que a polícia estabeleça “zonas de segurança” no entorno das quais será impedida a reunião de pessoas. Assim, poderiam ser evitados, por exemplo, protestos em frente a residências de políticos. Cidadãos e manifestantes que se opuseram ao projeto já o batizaram de “anti15-M”, em referência às manifestações iniciadas em 2011 contra a política econômica de austeridade imposta pelo governo. (Opera Mundi)

Opositores classificam projeto como “anti-15M”

Um terço da população mundial não tem saneamento básico ONU Na América Latina, mais de 100 mil pessoas vivem sem saneamento adequado Cerca de um terço da população mundial, o equivalente a 2,5 bilhões de pessoas, não tem acesso a serviços de saneamento básico. Além disso, mais de 1 bilhão de pessoas são obrigadas a fazer suas necessidades ao ar livre. Os dados alarmantes são da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgados na terça-feira (19).

Além disso, 800 mil crianças menores de cinco anos morrem a cada ano de diarreia, “mais de uma por minuto”. “O saneamento é um tema central para a saúde humana e para o meio ambiente. É essencial para o desenvolvimento”, afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Na América Latina, estimativas apontam que mais de 100 mil pesValter Campanato/Abr

“O saneamento é um tema central para a saúde”

soas vivem sem saneamento adequado e sem banheiro. Por conta disso fazem suas necessidades em campos, florestas e outros espaços abertos, ou recorrem a sacolas plásticas que são jogadas em estradas ou rios.

A ONU também calcula em cerca de 260 bilhões de dólares anuais as perdas econômicas que provocam as más condições sanitárias e a falta de água potável nos países em desenvolvimento.


variedades | 13

Belo Horizonte, de 22 a 28 de novembro de 2013

A novela Como ela é

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

© Revistas COQUETEL 2013

Cores que, assim coDimensão da psique mo o vermelho, comhumana que controla põem a escala RGB os desejos Retomar (namoro) Lago situado entre EUA e Canadá Congelar Da (?): autêntico (o carioca)

Período de maior audiência das Multa pelo atraso no Não é sen- emissoras, no qual a pagamento de uma tido pelo inserção publicitária Levantado; dívida Buquê é mais cara anósmico erguido

Adornar; enfeitar Acusada em juízo Sentimento causado por ofensa (fig.)

Modo de divisão da pizza

Idem (abrev.)

PALAVRAS

Rondônia (sigla)

Objeto hawww.coquetel.com.br

(?) saber: na seguinte ordem CRUZADAS

Rio suíço Terreno para secar cereais

(?) Guevara, herói Réptil Adornar; quelônio enfeitar Acusada em juízo

Inconcebível; intolerável

Cores que, assim coDimensão da psique mo o vermelho, comhumana que controla põem a escala RGB os desejos Retomar (namoro) Lago situado entre EUA e Canadá Congelar Da (?): (?) Kilmer, Que ocorautêntico (o ator de "O recarioca) depois

Inflamação do ouvido, tem por sintoma a diminuição da audição

(?) Coralina, poetisa que publicou o primeiro livro aos 75 anos

(?) Guevara, herói Réptil quelônio

Objeto habitado pelo Nivelar gênio (Lit.) (terreno) Travor

O soteropolitano

Templo da boemia Casto; puro

Inconcebível; intolerável

Rio suíço Terreno para secar cereais

Musa Segundo

Pessoa muito alta e magra (bras.) Musa Segundo número primo

Hidrofobia

Os conquistados por Napoleão equivaliam a cerca de 2 milhões 2 Reconstitui de km

Espécie de peneira Ensopado de carnes

Flor-de-(?), símbolo do escotismo

(?) Peixoto, repórter televisivo

Mesa de (?) pedra Peixoto,desrepórteraos tinada televisivo sacrifícios

Espécie de peneira Ensopado de carnes

Mesa de pedra destinada aos sacrifícios Canção de Gilberto Gil regravada pelo Skank

3/apá — tie. 4/erie. 5/rasar. 6/cheiro. 7/varapau. BANCO

3/apá — tie. 4/erie. 5/rasar. 6/cheiro. 7/varapau.

BANCO

(o cheque)

Templo da boemia Casto; puro

(?) Coralina, poetisa que publicou o primeiro livro aos 75 anos

Suspender (o cheque)

Aviso próximo a cercas elétricas

Flor-de-(?), símbolo do Suspender escotismo

Nivelar número (terreno) O sotero-primo politano

Os conquistados por Napoleão equivaliam a cerca de 2 milhões 2 Reconstitui de km

Canção de Gilberto Gil regravada pelo Skank

Pessoa (?) Kilmer, de "O muitoatoralta Viajante" e magra (Cin.) (bras.)

Que ocorre depois do tempo devido

Hidrofobia

Aviso próximo a cercas elétricas

(?)-break, set decisivo no tênis Bobas (fig.)

(?) saber: na seguinte ordem Rondônia (sigla)

Sem pé nem cabeça

Viajante" Idem (abrev.) (Cin.)

do tempo devido

Sentimento causado por ofensa (fig.)

Modo de divisão da pizza

(?)-break, set decisivo no tênis Bobas (fig.) DIRETAS

© Revistas COQUETEL 2013

bitado pelo

Período de maior audiência das Multa pelo atraso no gêniono(Lit.) qual a pagamento de uma Não é sen- emissoras, publicitária Levantado; dívida tido pelo inserçãoTravor Buquê é mais cara anósmico erguido

Inflamação do ouvido, tem por sintoma a diminuição da audição

2

2

Solução Solução

V I E A R DE I E D A Z P U E L R I S G U O S T AR A V A M O S F U G I R

M V O E R I E R G E A R DE A G O A E T I E A M P A D A A A RM Z C H E I R O E R E O R TN A R P U G E I RT E A MV A EG LO A F A T I A E T R RA O S AL A RM P A A RI C HLE I A SA R O T I T E T I DN I AV A C E I GT U A V TC OO R RA I ROA SS A B T B A R L A V A D VTA R P R A A I I E R AR I TA O A ET R R AR AI U G A R P SR EF G UE G N E IR R A

nas bancas e livrarias

C H E I R O R N A R E M F A T I A R O L I C HE O T I T I N A C E C O R A B T B R A IV A T E R R I U G A R E G E N V A M O

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e exercícios jogos para você se lembrar de tudo e exercícios para você se lembrar de tudo

Reprodução

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Na primeira vez que nos encontramos por aqui, discutimos que a novela Amor à Vida estava um pouco confusa ao revelar tanto desamor dos personagens. Continuo achando que o autor anda confuso. E tentando nos confundir, ou nos fazer de bobos. Muitos absurdos e coisas sem sentido vêm acontecendo. Nesta semana, a família Khoury confirmou o mau-caratismo de Félix, ao ser revelado que ele foi o responsável pelo sumiço de Paulinha. Nada absurda foi a reação de seus parentes, até da mãe, em desaprovar a má ação do personagem. Absurda é a “justificativa” dada por ele para a tentativa de assassinato da menina, num texto pobre e sem nexo. Félix joga suas motivações para a maldade na rejeição do pai e no ciúme que tinha da irmã. Será isso suficiente para tamanha ruindade? Os psicólogos de plantão poderiam nos ajudar. Outro absurdo que também anda dando pinta por aí é uma misteriosa relação entre Márcia e o vilão. Da noite pro dia, a ex-chacrete começou a chamá-lo de ‘meu menininho’, num tom quase maternal. Como assim? Os dois já se cruzaram tantas vezes na novela, já se ofenderam, se ameaçaram. Por que Márcia não sabia que ele era o seu menininho? Não estou entendendo nada. E o que falar da Amarilys? De amiga e confidente da mocinha da novela se transformou numa megera da pior espécie, que maltrata o filho adotivo do agora ex-melhor amigo e quer roubar dinheiro dele, superfaturando o valor do apartamento. Será que depois do acidente a moça ficou com um neurônio fora do lugar? Sem falar de tantos outros absurdos: a internação e os eletrochoques de Paloma e sua saga do regaste de Paulinha sequestrada no Peru e a prisão na cadeia como traficante; uma procuração de plenos poderes sobre o patrimônio de César para Aline. E por aí vai... É, a novela pode estar até querendo nos fazer de bobos. Mas como somos espertos e temos senso crítico, estamos de olho! Até a próxima semana!

Por Joaquim Vela quimvela@brasildefato.com.br

Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde

AMIGA DA saúde nas bancas e livrarias

Querida Amiga da Saúde, sou negra e tenho o cabelo crespo. Há muitos anos recorro às chapinhas e à escova progressiva, pois sempre achei que meu cabelo fica com muito volume. Porém, recentemente ouvi dizer que os alisantes podem ser nocivos à saúde. Será que posso ficar doente?

Minha filha adolescente está namorando uma rapazinho que estuda com ela. Eu só deixo eles namorarem em casa, com a minha supervisão, mas acho que estão aprontando escondidos. Não sei como devo agir com ela. Tenho medo dela engravidar e perder a vida cuidando de filho.

Angélica, 22 anos, estudante.

Maria do Socorro, 43 anos, empregada doméstica.

Cara Angélica, as escovas progressivas podem sim fazer mal à saúde, principalmente se não tiverem registro na Anvisa ou se contiverem formol em sua fórmula. O formol é cancerígeno, além de provocar doenças de pele, alergias, entre outras. Se for alisar, use produtos confiáveis, registrados. Isso lhe trará menos riscos de adoecimento. Mas procure valorizar seu cabelo crespo. O volume nos incomoda por-

Fique calma, Maria! A adolescência é a fase em que os hormônios e a sexualidade afloram mesmo. Isso é normal. Tentar reprimir as/os adolescentes buscando esconder isso só os deixa com mais curiosidade e desejo pelo “proibido”. Procure conversar de forma natural sobre isso com sua filha. É importante que ela possa confiar em você, busque respeitar ao invés de repri

que aprendemos que cabelo bonito é cabelo liso e loiro. E quem sai desse padrão não seria bonita o suficiente para agradar aos homens. Mas isso já está mudando! Temos que valorizar as diferenças e nos permitir perceber a beleza que há em cada uma de nós.

mir. O melhor momento para iniciar a vida sexual é quando a pessoa se sente preparada para isso. É muito importante que ela saiba como a gravidez acontece, como prevenir e, caso já esteja tendo relações sexuais, que possa prevenir da gestação e das doenças sexualmente transmissíveis. Ter que fazer tudo escondido pode trazer mais riscos e mais dificuldades.

Oi, Amiga da Saúde! Tenho 26 anos e fui diagnosticada com dermatite atópica. Já cansei de tomar antibióticos e corticoides e não consigo acabar com as feridas. Elas aparecem do nada e coçam muito. O que devo fazer para melhorar? Cibele, 26 anos, vendedora. Querida Cibele, é importante que você seja acompanhada por um médico, que terá condições de definir um tratamento contínuo e mais eficaz, já que o problema não tem cura. Você deve evitar alguns fatores que, em geral, podem desencadear lesões como o consumo de leite, ovo, soja, amendoim, etc. O contato com ácaros, fungos, pólen, detergentes, amaciantes de tecido e solvente também deve ser evitado. Além disso, mantenha a pele

sempre bem hidratada, pois isso faz muita diferença.


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Belo Horizonte, de 22 a 28 de novembro de 2013

“Sem dança, o dia não fica completo” BLACK MUSIC Quarteirão do soul é arte garantida nos fins de semana Raíssa Lopes

De Belo Horizonte

Sábado, 15h, dia 16. Uma pequena aglomeração embaixo do Viaduto Santa Tereza. Caixas de som são posicionadas e vinis antigos colocados na vitrola. Aos poucos, clássicos da black music contagiam o ambiente e os mais corajosos dançarinos se arriscam nos primeiros passos de soul. A festa está armada: jovens, crianças, senhores e senhoras se animam, convictos de que começa ali mais um Quarteirão do Soul. Tudo começou em 2004, no cruzamento das ruas Goitacazes e São Paulo. Amigos se reuniam todo final de semana para lavarem seus carros, beberem cerveja, comerem churrasquinho e ouvirem música. Um dia, despretensiosamente, resolveram dançar. Mal sabiam que esse ato levaria à criação do movimento que mobiliza há nove anos amantes da cultura negra em Belo Horizonte. Quem conta a história é José de Souza Filho, um dos criadores e organizadores do evento na capital. “É incrível pensar que de lá pra cá já se passaram quase dez anos”, comenta. Ao longo desse tempo, o Quarteirão conquistou inúmeros adeptos, que consideram o momento como um refresco na pesada rotina da semana. Durante a entrevista, José Caetano dos Santos se apresenta como Brown. O gari aposentado, hoje com 55 anos, começou a

Gari aposentando, Brown dança desde os 15 anos

Fotos: Mídia Ninja

dançar aos 15, nos antigos clubes da cidade. Para ele, um sábado – ou domingo – sem a dança, é um dia incompleto. “Só não venho os dois dias direto por que senão a casa cai! A mulher xinga, meu casamento acaba”, ri. Bem humorado, Brown estava vestido de preto dos pés à cabeça, com um pequeno brinco na orelha. “Essas aqui são as roupas que eu usava na juventude, o brinquinho é apenas uma adaptação. Minhas filhas me ajudam a escolher o estilo que vou usar, mas elas são muito críticas. Às vezes, me visto e elas falam ‘pai, tá feio!’, ou coloco um terno e elas gritam que ‘tá’ muito calor. Mas elas não entendem que tenho que estar no ‘naipe’”, brinca. Dança com lugar marcado Para ele, a administração pública de Belo Horizonte não fornece apoio suficiente para o evento. “Acho que a prefeitura deveria nos ajudar. Agora o Quarteirão só pode acontecer no Viaduto Santa Tereza, mais em nenhum lugar da cidade. Eles nos restringiram muito, deveríamos poder dançar no lugar em que quiséssemos. Isso aqui é arte, é cultura, coisa antiga que perdura desde quanto éramos meninos e o poder público não valoriza”, contesta. É o que confirma José de Souza Filho. “Nós não recebemos verba nenhuma. O pouco dinheiro que cobre a manutenção dos aparelhos de som e paga o carreto é nosso, ou arrecadado aqui mesmo, quando passamos o chapéu. Com uma ‘merrequinha’ daqui e outra dali, conseguimos manter o projeto”, afirma. Os clássicos tocados pelo DJ são tirados de vinis antigos, obras de artistas como Michael Jackson, Kool & The Gang, e The Brothers Johnson. Para dançá-los, segundo Deusdete Pereira, é necessária preparação especial. “No dia do Quarteirão, antes de vir pra cá, eu começo a ouvir música dentro da minha casa. A partir daí vou sentindo a vibração... Só então escolho a roupa, de acordo com o astral que a canção me proporciona. É como um treinamento desses de escola, de faculdade”. Aos 13 anos, Deusdete arrumava bicos de carregador de caixas de som no bairro Ipiranga para poder entrar de graça nos bailes. Hoje dança por todo o palco do Viaduto Santa Tereza. “Quando eu danço, sinto minha alma livre, tranquila. Esqueço dos problemas, apesar de que, pensando bem, eu não tenho nenhum”, revela. Quem estava lá também era um

Tudo começou em 2004, no cruzamento da Goitacazes com São Paulo

O Quarteirão do Soul acontece todos os sábados, a partir das 15h, no Viaduto Santa Tereza e aos domingos, no mesmo horário, na Praça Sete. dos ícones da black music brasileira, Gerson King Combo. Idealizador do movimento Black Rio, criado durante a ditadura militar nos subúrbios cariocas, é classificado pelos companheiros de Quarteirão como um “Quase-Tim-Maia”. Gerson veio pela primeira vez à BH para apresentar seu show, e aproveitou para reencontrar amigos e co-

nhecer a cena soul belo-horizontina. “No Rio, criamos o Quarteirão porque faltavam lugares para festa, vivíamos na opressão, e os periféricos não tinham dinheiro. Assim como em Minas, o projeto continua até hoje, sinal de que a coisa era boa. Hoje, vim dar um passeio para curtir e parabenizar a moçada daqui”, diz.

Festival de documentário apresenta mais de 60 filmes Começa na quinta (21) a 17ª edição do Forumdoc.bh 2013 - Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte. Durante a programação, serão apresentadas aproximadamente 60 sessões de cinema e vídeo, entre mostras competitivas nacionais e internacionais e fórum de debate com sessões comentadas e mesas redondas. A edição deste ano traz à capital inúmeras novidades, incluindo a oficina “O Inimigo e a Câmera”, ministrada pelo jornalista Bruno Figueiredo, que abrange as manifestações ocorridas no Brasil durante o mês de junho. A partir da revolta do público com a cobertura realizada pela mídia tradicional, e através da constante expansão das redes sociais e acesso facilitado a câmeras fotográficas e filmadoras, o país produziu recentemente o que pode ser classificado como o maior exercício de produção, compartilhamento e consumo de conteúdo independente da história brasileira.

Visando o atual momento político do país, a oficina apresentará aos participantes técnicas de confecção de conteúdo jornalístico, como abordagem, apuração, posicionamento em campo, construção de narrativas, publicação e também como se proteger durante conflitos. Já entre os longas que farão parte do projeto, estão o premiado “Batalha do Passinho”, do diretor carioca Emílio Domingos, que abrange o universo dos dançarinos e frequentadores dos bailes funk da periferia da cidade do Rio de Janeiro e “A onda traz o vento leva”, produção recifense que conta a história do deficiente auditivo Rodrigo, que trabalha numa equipadora de automóveis instalando sons em carros. A mostra vai até o dia 01 de dezembro e acontece no Cine Humberto Mauro/Palácio das Artes, Cine 104 e na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da UFMG. Confira a programação completa no site.


Belo Horizonte, de 22 a 28 de novembro de 2013

AGENDA DO FIM DE SEMANA

é tudo de graça!

VISITA

ARTES MANUAIS

Visita guiada para observação de aspectos artísticos e históricos do Cemitério do Bonfim. Para participar é necessária inscrição pelo site http://www.pbh.gov.br/parques. Domingo (24).

Mais uma edição do Circuito Soundsystem, com projeções do Forumdoc.bh.13, revelando o material audiovisual das recentes manifestações ocorridas no Brasil. Domingo (24), de 14 às 22h, no Viaduto Santa Tereza.

TEATRO

INFANTIL

MÚSICA

Segunda a quinta-feira ARTES PLÁSTICAS

EXPOSIÇÃO

A mostra “Paisagens Humanas – Paisagens Urbanas”, de Chichico Alkmim, retrata costumes dos moradores de Diamantina no início do século 20. Até dia 16 de fevereiro. Todas as terças, quartas, sextas e sábados das 10h às 18h e quintas das 10h às 22h, no Memorial Minas (Praça da Liberdade, Funcionários). SEMINÁRIO LITERATURA

“Tradição das Gerais” é um espetáculo cênico do Grupo Folclórico Congá, baseado em pesquisas de expressões tradicionais presentes na cultura mineira. Sexta (22), às 19h, no Centro Cultural Jardim Guanabara (Rua João Álvares Cabral, 277, Floramar).

O espetáculo “Colibri Futebol Clube” conta a história da palhaça Colibri, uma fanática por futebol. Seu sonho é jogar em todas as posições, como lateral, goleira e gandula. Sexta (22), às 16h, no Centro Cultural Zilah Spósito (Rua Carnaúba, 286, Conjunto Zilah Spósito - Jaqueline).

‘FormAção’ é o nome do espetáculo de formatura dos alunos do Curso Profissionalizante de Dança do CEFAR (Centro de Formação Artística). De 22 a 24 de novembro, 20h30 na sexta-feira e sábado, e 20h no domingo, no Espaço Cultural Ambiente (Rua Grão Pará, 185, Sta. Efigênia).

“A casa em debate: Debate com a escritora Pampulha: Um Patrimônio da Humae crítica literária brasileira Noemi Jaffe. Ter- nidade” propõe discussões sobre os vaça (26), às 19h30, na Sala Juvenal Dias do Pa- lores que possibilitam o reconhecimento da lácio das Artes (AveniPampulha como Patrida Afonso Pena, 1537, mônio Cultural. QuarCentro). ta (27), na Casa do Baile (Avenida Otacílio Negrão de Lima, 751, Pampulha).

na geral Terminou a repescagem para a Copa Com os últimos jogos de repescagem realizados na quarta-feira (20), definiram-se os 32 países que disputarão a Copa do Mundo do Brasil no ano que vem. Todos os campeões mundiais garantiram sua vaga. O destaque da repescagem ficou com o espetacular jogo de volta entre as seleções de Suécia e Portugal, o duelo entre os astros mundiais Zlatan Ibrahimovic e Cristiano Ronaldo. Com direito a duas viradas no placar, a partida terminou em 3 x 2 para os portugueses, com direito a dois gols de Ibra e três de CR7. Já a seleção brasileira realizou dois amistosos recentes contra times que vão ao Mundial: goleou com propriedade a seleção de Honduras por 5x0, em Miami; e ganhou de virada do Chile por 2x1, em Toronto. O sorteio dos grupos da Copa será realizado no dia 6 de dezembro, na Costa do Sauípe, Bahia.

Confira as 32 seleções que vêm ao Brasil na Copa de 2014 África: Argélia, Camarões, Costa do Marfim, Gana e Nigéria. Amé-

cultura | 15

O Sesc Palladium traz a BH o artista plástico paulista Stephan Doitschinoff, que criará uma obra inédita no painel do Projeto Parede. A obra ficará em exposição até 5 de janeiro de 2014, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1046, Centro). MÚSICA

Apresentação da banda Gerais Big Band da Escola de Música da UFMG. Quarta (27), às 12h30, no Conservatório UFMG (Avenida Afonso Pena, 1534, Centro).

esporte | ricas: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Honduras, México e Uruguai. Europa: Alemanha, Bélgica, Bósnia, Croácia, Espanha, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Itália, Portugal, Rússia e Suíça. Ásia: Coréia do Sul, Irã e Japão. Oceania: Austrália

perder por um gol de diferença na partida de volta, que será realizada em Mogi Mirim porque o Moisés Lucarelli, estádio da Macaca, não tem os 20 mil lugares exigidos pela Conmebol para a realização da partida.

guetá (41), ABC-RN (42) e Bragantino (43). O Boa terminou a competição no mesmo lugar em que esteve durante todo o seu decorrer: na zona intermediária, em 11º lugar, com 50 pontos.

Últimas definições na Série B, que já tem campeão e vice

Vaquinha para os guerreiros do Icasa

Flamengo e Ponte Preta saem na frente

Faltando apenas duas rodadas para o fim da Segundona, e com campeão (Palmeiras) e vice (Chapecoense) já definidos, restam poucas definições a serem feitas na competição. As duas vagas restantes para a Série A do ano que vem serão disputadas por Icasa-CE, Sport-PE e Ceará (todos com 59 pontos), e ainda por Figueirense-SC e América (estes com 56 pontos). O Coelho terminará sua participação na Série B enfrentando o Joinville, em Santa Catarina, na sexta-feira (22) às 21h50, e o ABC-RN, no sábado seguinte, às 16h20, no Independência. Na ponta de baixo da tabela, o Asa de Arapiraca e o São Caetano já estão garantidos na Série C de 2014. As duas vagas restantes da zona da degola serão disputadas por Atlético-GO (38 pontos), Paysandu (39), Guaratin-

Uma campanha inusitada foi organizada entre os torcedores do Icasa-CE, o “Verdão do Cariri”. Preocupados com o fato de que os demais clubes que disputam a vaga na Série A do ano que vem tenham oferecido a seus jogadores altas premiações para o caso da conquista da vaga, e vendo que o clube não dispõe de recursos para competir com estas polpudas bonificações, a torcida organizou, através de uma rádio local, uma vaquinha. Já foram arrecadados mais de R$ 40 mil, que serão distribuídos entre os jogadores em caso de conquista da vaga na Primeira Divisão. O desafio é grande: o Icasa vai enfrentar o vice-líder Chapecoense em casa neste sábado, e fecha a competição enfrentando o Paraná fora de casa.

Na Copa do Brasil, o Flamengo conseguiu um importante empate contra o Atlético-PR, em Curitiba, no duelo rubronegro que definirá o campeão da Copa do Brasil deste ano. O jogo decisivo será realizado no Maracanã, na próxima quarta-feira (27), com direito a ingresso a R$800. O Flamengo só precisa não levar gols para ser o tricampeão da competição. Novo empate por 1x1 leva a partida para as penalidades, e empates com mais de dois gols para cada lado dão o título (inédito) para o Atlético Paranaense. Pelas semifinais da Copa Sulamericana, a Ponte Preta aplicou uma retumbante vitória por 3x1 contra o São Paulo em pleno Morumbi, e agora pode até


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Belo Horizonte, de 22 a 28 de novembro de 2013

OPINIÃO Atlético

Nem vem que não tem Bruno Cantini

Cristiano Ronaldo, o CR7, bateu um bolão no jogo entre Suécia e Portugal, na terça (19). Com um “hat-trick” (três gols no mesmo jogo), tirou da Copa do Mundo o craque Ibrahimovic.

OPINIÃO Cruzeiro Sem pessimismo, Galo vai contar com Fernandinho e Réver no Mundial

Quando começou o Brasileirão? Whashigton Alves

Rogério Hilário

Assisto, desolado, a uma onda de pessimismo varrendo os atleticanos. Ainda por cima, quando leio os jornais fico mais alarmado. Quanta devastação. É “bruxa solta” pra cá, “maré de azar” pra lá. Meu Deus, quanto desalento, quanto negativismo. Richarlyson de seis a oito meses parado. Não sinto tanta falta. Leandro Donizete só deve retornar no final do mês. Quem está no time vem dando conta do recado. Guilherme em situação indefinida. Jogou tão pouco, que nem lembro mais o último gol dele. Agora o Réver sofreu entorse e corre contra o tempo para se recuperar. Minha gente, no Mundial o Atlético vai fazer apenas dois jogos. Não é possível que o elenco alvinegro não dê conta do recado, mes-

mo sem esses jogadores. Quem deixou saudades mesmo foi o Ronaldinho Gaúcho, cuja recuperação está bem encaminhada. Considero o Réver um grande zagueiro, porém não é insubstituível. E é possível contar com ele, com Leandro Donizete e até com Guilherme. O que me causa alguma apreensão, mesmo assim de leve, é a dúvida sobre o aproveitamento de Fernandinho no Marrocos. Tudo bem, o Luan é esforçado e útil, mas Fernandinho é mais eficiente e suas arrancadas seriam mortais numa provável final contra o Bayern de Munique. O atleticano pode aguardar, sem alarme, com fé e esperança. Neste ano, o time passou por apertos e se deu bem, com as conquistas do Estadual e o feito histórico na Copa Libertadores. E xô, abutres!

artigo | Fernanda Costa O Campeonato Brasileiro série A está na reta final e agora que o grande campeão está definido, resta saber que times serão rebaixados, além do Náutico. Está em aberto também quem vai disputar a Libertadores no ano que vem. Assim como na parte alta da tabela, a diferença de pontos entre os times está muito pequena e, por isso, os quatro rebaixados certamente serão definidos na última rodada. Entre os times que estão com o pé na lama, Vasco e Fluminense, dois dos grandes clubes cariocas, tentarão se safar nas próximas partidas. Os times que representarão o Brasil na Copa Libertadores, além de Cruzeiro e Atlético, ganhador da competição desse ano, provavelmente também serão conhecidos no final do Brasileirão. Nessa disputa, saltam

aos olhos times pouco expressivos nos campeonatos anteriores que, ponto a ponto, tentam agarrar uma das vagas. Atlético Paranaense, Vitória e Goiás têm chances palpáveis de disputar uma competição internacional na próxima temporada. As equipes que ocupam posições intermediárias na tabela não vêm agradando suas torcidas. Santos, Internacional e Corinthians, por exemplo, não despertam expectativas. É importante ressaltar que o número de partidas distribuídas em um curto espaço de tempo é uma das razões do equilíbrio na pontuação das equipes. A regularidade no Brasileirão, como o caso do Cruzeiro, não é regra, e a oscilação dos times é o que o torna tão competitivo, não pela eficiência e sim pela ausência de futebol técnico e moderno.

Com dois Brasileiros e a Taça de 66, Cruzeiro está com tudo

Wallace de Oliveira Sempre que o Cruzeiro ganhar o Brasileirão, uma divergência comparecerá aos nossos ociosos debates de boleiros. Havendo quem classifique a Taça Brasil, jogada entre 1959 e 1968, como campeonato brasileiro, outros rejeitam a classificação feita pela famigerada CBF, contestando a unificação dos diversos títulos nacionais das últimas cinco décadas. Eu me divirto com essas polêmicas, que mais pertencem às mesas de bar do que aos escritórios dos dirigentes esportivos. Lembremos que, no saudoso ano de 2006, os atleticanos festejaram seu “bicampeonato brasileiro”. Ora, a torcida cruzeirense é generosa e deseja que o Cruzeiro nunca dispute essa taça, a fim de que o Alvinegro de Vespasiano seja multicampeão nacional jogando a série B, sua terceira maior conquista em mais de um século.

Também sejamos criteriosos, evitando misturar os diferentes. Não identifiquemos com as competições da CBF a Taça Brasil, que é algo singular. Por ela desfilaram craques como Tostão, Pelé, Garrincha e Ademir da Guia, entre outros. Assim, o Cruzeiro tem dois Brasileiros e a Taça de 66, título que deu expressão nacional ao futebol mineiro e que alguns clubes jamais alcançarão. Penso que a disputa por pontos corridos, distinta de tudo o que veio antes, é o verdadeiro campeonato brasileiro, pois favorece o melhor time do ano, o mais regular, sobre copeiros ou sortudos que acordam às vésperas de um mata-mata. Os campeonatos nacionais precedentes merecem outros apelidos. O Brasileirão começou em 2003 e foi conquistado pelo Cruzeiro e outros cinco clubes, enquanto que o Atlético já tem um título de primeiro turno.


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