Edição 69 do brasil de fato minas gerais

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Agencia Eficaz/Vera Lima

Minas Gerais

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16 ESPORTES

6 MINAS

Retrospectiva da bola

Receita diferente para o Natal

O ano que teve Copa, vexame da Seleção, Minas dominando o Brasil e Argentina no topo das Américas. Relembre os fatos que marcaram o futebol em 2014

Receitas para a ceia são muitas, mas o BFMG escolheu uma diferente: os homens na cozinha! Lombo Natalino é a sugestão, simples e delicioso!

Reprodução

19 de dezembro a 08 de janeiro de 2015 • edição 69 • brasildefato.com.br/mg • distribuição gratuita

MINAS

Fica Vivo fecha núcleos e demite 100 profissionais

Clayton Tomaz Da Costa

Corte de gastos leva ao fechamento de dois núcleos e demissão de 100 estagiários do Programa Fica Vivo. O fato é contrário à promessa do governador Antonio Anastasia, que em sua campanha garantia aumentar o programa em 194%. O político fecha seu mandato com o programa apenas 6% maior

7 MINAS

Reprodução

9 ENTREVISTA

Censura no Estado de Minas

Sentido do Natal

Ex-editor João Paulo Cunha foi proibido de falar de política

Natal é mais que consumo, diz o monge Marcelo Barros

Reprodução


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OPINIÃO

Belo Horizonte, 19 de dezembro a 08 de janeiro de 2015

editorial | Brasil

Sistema político herdado da ditadura

ESPAÇO dos Leitores

Aqui só com auditoria. Stella Oliveira

Passou da hora de esmiuçar! Rosângela Cangussu

Comentando a matéria sobre a necessidade de investigar os 12 anos de gestão do PSDB.

Olha aí pessoal, uma leitura alternativa ao PIG.

Rilke Novato Públio

Não deixem de ler, o melhor da informação está aqui.

Renilde de Fátima Mendes Recomendando a leitura do Brasil de Fato MG no facebook.

Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br

Com a eleição de Lula em 2002, os governos petistas buscaram unir os setores da classe trabalhadora or­ ganizada que já representavam, com parcelas de uma burguesia interna, conformando, na prática, uma frente denominada de neodesenvolvimen­tista. Esta aliança, construída sem nenhuma formalidade, possibilitou os resultados econômicos positivos da última década. Embora a Presidência da Repúbli­ca e importantes ministérios estives­sem com o Partido dos Trabalhado­ res e outras agremiações de esquer­da, a direção política que determinou os grandes rumos da economia cou­be à grande burguesia interna e não à classe trabalhadora e seus aliados. É certo que estes anos de crescimen­to propiciaram melhores condições de luta que se expressam no contínuo aumento do número de greves desde 2004, além de impedir a continuida­ de do avanço neoliberal, como se ve­rifica ao compararmos nosso país com o México. Estamos assistindo ao gradual es­gotamento das condições que permi­ tiram a fórmula bem-sucedida dos governos neodesenvolvimentistas da última década. Tanto pela lenta alte­ração do cenário econômico interna­ cional, que aguça instabilidades cres­ centes, exacer-

É preciso ganhar as ruas, não para ficar numa postura defensiva ante os atos da direita, mas para pautar nossas bandeiras bando contradições in­ternas mesmo nos setores que vi­nham apoiando o governo, quan­to pela incapacidade de oferecer res­postas às exigências dos setores po­pulares que se ampliaram nos últi­mos anos. Este esgotamento se acentua

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora também com edições regionais, em SP, no Rio e em MG. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

com um sistema político que não perma­neceu inerte. Bancadas ligadas a grupos empresariais, grupos conservadores e parlamentares fisiológicos foram beneficiados por um sistema político, herdado da ditadura, no qual as re­presentações populares são comple­tamente alijadas. Os setores neoliberais, capitalizan­ do a insatisfação social e impulsiona­dos pela expressiva votação em que se fortaleceram no Congresso Nacio­nal, e que quase ganharam as elei­ções presidenciais, desencadeiam uma in-

Acabar com o superávit primário é um importante esforço para romper a blindagem neoliberal tensa ofensiva. A linha da oposição é apostar que “o circo pegue fogo”. E a recente votação das dire­trizes da Lei de Diretrizes Orçamen­tárias (LDO), um importante esforço para romper a blindagem neoliberal da armadilha do superávit primário, vendido à população como uma mera manobra para fugir das consequên­cias da Lei de Responsabilidade Fis­cal, é a demonstração do papel des­ta “nova fase da oposição”. Neste cenário, o papel das forças populares não é o de permanecer co­mo um mero sustentáculo a reboque das ações do governo. Precisamos construir a força própria da classe trabalhadora e seus aliados em tor­no do programa de mudanças estru­turais que possibilitem as verdadei­ras mudanças de interesse do povo. É preciso ganhar as ruas, não para ficar numa postura defensiva ante os atos da direita, mas para pautar nossas bandeiras, nosso programa e princi­palmente nossa resposta política da Constituinte do sistema político.

REDE SOCIAL: facebook.com/brasildefatomg correio: redacaomg@brasildefato.com.br para anunciar: publicidademg@brasildefato.com.br / TELEFONES: (31) 3309 3304 /3568 0691

conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Carlos Dayrel, Cida Falabella, Cristina Bezerra, Deliane Lemos de Oliveira, Durval Ângelo Andrade, Eliane Novato, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Frei Gilvander, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Laísa Silva, Luís Carlos da Silva, Marcelo Oliveira Almeida, Michelly Montero, Milton Bicalho, Neemias Souza Rodrigues, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rilke Novato Públio, Rogério Correia, Samuel da Silva, Sérgio Miranda (in memoriam), Temístocles Marcelos, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Repórteres: Maíra Gomes, Pedro Rafael Vilela, Rafaella Dotta e Wallace Oliveira. Fotografia: Agência Eficaz. Estagiária: Raíssa Lopes. Administração: Vinicius Moreno. Distribuição: Larissa Costa. Diagramação: Luiz Lagares. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Endereço: Rua da Bahia, 573 – sala 306 – Centro – Belo Horizonte – MG. CEP: 30160-010. Tiragem: 40 mil exemplares.


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CIDADES

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Salários dos professores não acompanham aumento das mensalidades MAIOR QUE A INFLAÇÃO Escolas particulares têm reajuste médio de 14% em 2015 Débora Junqueira Para 2015, as escolas particulares têm aplicado um aumento médio de 14% (com variação de 12% a 16%) nas mensalidades escolares, em um cenário de inflação que não chega a 7%. Os donos de escolas justificam que os aumentos são decorrentes dos reajustes salariais dos professores. No entanto, o presidente do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro Minas), Gilson Reis, rebate essa alegação. “Não podemos aceitar que se jogue nas costas dos professores a culpa pelo aumento das mensalidades escolares. Na verdade, não temos esse retorno que os

donos de escolas afirmam, ao justificar que os aumentos são por causa do reajuste salarial dos professores”, afirma Gilson Reis. Ele lembra que a Convenção Cole-

Nos últimos seis anos as mensalidades escolares subiram 81,86%, e os salários da dos professores, 47,7% tiva dos Professores é renovada somente entre fevereiro e abril, quando há acordo. O aumento das mensalidades é divulgado no final do ano, no momento em que ainda nem sequer ini-

ciaram as negociações sobre o reajuste salarial dos professores. “Outra questão é que os professores recebem o salário reajustado somente em maio, enquanto as escolas aumentam seus lucros aplicando os valores recebidos antecipadamente nas mensalidades. O ideal seria que os professores recebessem o reajuste salarial a partir de 1º de janeiro”, opina. A definição das mensalidades é de responsabilidade das escolas e, pela lei 9870/88, deve ser baseada em uma planilha de custos que pode ser requisitada pelos pais e alunos. “O que nos causa estranheza é que as escolas apresentam um indicativo de gastos futuros e

Incineração de lixo está proibida em Minas Gerais MEIO AMBIENTE Após 3 anos, movimentos obtêm vitória que beneficia toda a população A queima de lixo em grande escala acaba de ser proibida em Minas Gerais. A Lei 22.337 foi aprovada na segunda-feira (15), quando 57 deputados mineiros votaram pela derrubada do veto do governador Alberto Pinto Coelho. “Isso significa um enorme avanço pra Minas Gerais. Mantém o nosso ar e nossos aterros livres de substâncias altamente tóxicas”, afirma Jacqueline Rutkowski, doutora em Engenharia de Produção e pesquisadora dos temas de reciclagem e coleta seletiva no Brasil. A vitória veio depois de várias mobilizações, conta Gilberto Chagas, do Movimen-

to Nacional dos Catadores de Material Reciclável. “Só um veto tinha sido derrubado na história do estado”, diz. Para ele, a aprovação significa benefícios para catadores e para a população. O deputado André Quintão (PT), autor do Projeto de Lei de origem, acredita que agora é preciso aumentar a participação dos catadores no tratamento de lixo. “Os resíduos sólidos destinados à incineração são os mesmos utilizados pelos trabalhadores no processo de reciclagem. Precisamos garantir o acesso aos materiais para termos uma alternativa sustentável para essa destinação”, afirma. Reprodução

Feira de Economia Solidária cancelada No último sábado (13), durante a Conferência Nacional de Economia Solidária, em Brasília, foi anunciado o cancelamento da Feira de Minas Gerais. Mais de 800 empreendimentos solidários, que representam mais de 10 mil famílias, aguardavam o evento para comercializar todo um ano de produção. “A feira não aconteceu por falha de gestão do atual governo. O estado está quebrado”, afirma Arthur Lauriano, coordenador dos projetos de economia popular solidária do Instituto Pauline Reichstul. Ele explica que, por problemas financeiros no caixa geral do estado, o governo recolheu recursos que já tinham destinação e replanejou suas prioridades, para fechar as contas do ano. No caso da Feira de Economia Solidária, a verba não voltou e o evento foi cancelado.

SXC

buscam uma certa padronização das mensalidades, quando as planilhas deveriam ser individualizadas por escola”, afirma. Segundo o Sinpro Minas, nos últimos seis anos as mensalidades escolares subiram 81,86%, e os salários da categoria, 47,7%. Significa que, no período, o re-

ajuste das mensalidades foi 23,13% maior que o reajuste dos salários. Segundo o sindicato, para que houvesse equivalência entre aumento de mensalidades e salários dos professores, as escolas teriam que aplicar, em 2015, um reajuste de 40,37% sobre os salários.

PERGUNTA DA SEMANA Desde o início do ano, o comércio, a construção civil e até mesmo os governos já se ocupavam da Copa do Mundo, que teve o país como sede. Apenas um mês de evento, mas muita história pra contar. Depois, foi a vez das eleições presidenciais. A disputa se deu entre dois principais candidatos, que estenderam a campanha por mais um mês, em regime de segundo turno. Isso sem contar os muitos escândalos de corrupção que permearam todo o ano, como o caso da Petrobrás, do aeroporto de Cláudio e o Trensalão Tucano.

De tantos acontecimentos e agitação, que balanço você faz deste ano?

Foi um ano agitado, mas com conquistas. Se a Dilma conseguir que o Congresso esteja ao lado dela, vai ter uma grande conquista para o povo. Pra o ano que vem espero que o nosso prefeito construa mesmo o Hospital Regional do Barreiro, senão vai ser um grande deboche. Francisco Carlos Ferreira Natal, 52 anos

Esse foi um ano que não deu pra aproveitar muita coisa. A Copa parou as coisas por quase metade do ano. E na época da eleição era tanta coisa que eu não consegui pensar nada com nada. Tirou o foco de quem queria estudar. Espero que ano que vem os acontecimentos pelo menos sejam mais produtivos. Taís Flávia, 20 anos


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CIDADES

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Novelis fecha, mas não acerta contas OURO PRETO Fábrica anuncia data de fechamento, mas não anuncia data para pagamento de dívida Pablo Dias De Ouro Preto A Novelis anunciou, em abril, a venda de oito hidrelétricas que possui na região e, em outubro de 2014, anunciou o fechamento da fábrica de alumínio em Ouro Preto, que emprega cerca de 350 pessoas. A previsão de encerramento das atividades era dia 15 de dezembro. Os trabalhadores se mobilizam para impedir a demissão e também garantir direitos sociais não reconhecidos pela empresa, como a aposentadoria especial. “Os metalúrgicos são os únicos atingidos. A empresa trouxe uma série de problemas para a região. Para construir as barragens, desalojou centenas de famílias e nunca pagou nenhum tipo de indenização”, destaca Marta Caetano, da coordenação regional do Movimento dos Atin-

gidos por Barragens (MAB). Metalúrgicos e atingidos participaram de um ato no início do mês na Praça Tiradentes, em Ouro Preto. Foi destacado também o impacto ambiental que a empresa gerou na região, sem contrapartida. “Não é possível que a empresa vá embora deixando todo esse rastro de degradação social e ambiental. Além disso, o caso da Novelis servirá como bom ou mau exemplo para as demais empresas do setor que tenham a intenção de fechar as portas”, reforça Letícia Faria, da Frente de Defesa de Ouro Preto, que reúne diversas entidades. Foi marcada uma audiência para dia 18 de dezembro, na Vara do Trabalho de Ouro Preto, que vai discutir as questões previdenciárias, trabalhistas, ambientais e de saúde dos trabalhadores da Novelis.

Tino Ansaloni/ Jornal Voz Ativa

Ato contra fechamento da Novelis na Praça Tiradentes, em Ouro Preto

Uso da energia A companhia anunciou que vai concentrar sua operação no Brasil na produção de chapas, folhas e reciclagem de alumínio. O motivo para a nova estratégia seria o alto preço da energia. As fornecedoras de alumínio, como é o caso da Novelis, são grandes consumidoras de energia e por isso são

chamadas de eletrointensivas. A empresa alega em nota que “questões sistêmicas” têm impactado a indústria de alumínio do país, afetando a competitividade. A queda do preço do produto e o aumento do preço da energia seriam os motivos para o fechamento. “Isso mostra que o problema central é o modelo energético de nosso estado e pa-

ís. Essas fábricas estão parando os fornos para lucrar mais com a venda da energia no mercado. As indústrias de alumínio e de ferro são estratégicas, possibilitam o desenvolvimento de outras cadeias produtivas e devem ser valorizadas pelos governantes”, critica Marta Caetano. A Novelis do Brasil Ltda é uma empresa de capital indiano integrante do grupo Aditya Birla, com sede nos Estados Unidos. Possui uma fábrica de alumínio primário em Ouro Preto desde 2004 (a fábrica é de 1934), além de oito hidrelétricas na região. As hidrelétricas, também chamadas de barragens, geram energia para a produção de alumínio. Em sua construção, diversos direitos das famílias foram atingidos. Meeiros e diaristas sofrem até hoje com o alagamento da fazenda onde trabalhavam. Os agricultores, de forma geral, sofrem com o alagamento das terras mais férteis da região.

Vamos apoiar essa proposta Compartilhe, comunique, dissemine essa ideia: facebook.com/186PECdaEficiencia

Apoio: Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Estadual de Minas Gerais - SINDIFISCO-MG


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Prevenção à violência tem corte de funcionários FICA VIVO Programa, que baixou índices de violência pela metade, sofre corte de pessoal Fotos Clayton Tomaz Da Costa

Rafaella Dotta Um dos únicos programas estaduais que fazem prevenção à criminalidade, o Fica Vivo, acaba de fechar dois núcleos e demitir 100 estagiários. De acordo com Robson Sávio, cientista social e um dos idealizadores do programa, o Fica Vivo termina o ano com o fechamento de dois núcleos, dos 38 existentes. Frente à promessa de crescimento de 194% feita por Antônio Anastasia em 2010, o governador finaliza o mandato com aumento de apenas 6%. O Programa Fica Vivo está instalado em 11 cidades mineiras e atua em 26 Centros de Prevenção à Criminalidade, de acordo com informações do site da Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais. Através de oficinas de esporte, cultura

e lazer, o projeto foi criado para diminuir o número de homicídios nas áreas mais violentas do estado. O objetivo é criar mecanismos de prevenção ao crime, contrários à repressão e à pri-

são de jovens. As cidades de Uberaba e Sabará, assim como 100 funcionários, iniciam o mês de dezembro já desligados do Programa. Clayton Tomaz da Costa, que atuava

há seis anos no Fica Vivo em Uberaba, confirma o fechamento do núcleo. “A gente chegou a questionar. Uberaba merecia continuar na política por ter fronteira com São Paulo e estar na rota do tráfico”, disse. Segundo Clayton, o gerente justificou o encerramento por falta de verba. Professores e parlamentares que acompanham o programa não souberam explicar o motivo dos cortes. Para o deputado Paulo Lamac (PT), a situação é “estranha e lamentável”. “O Fica Vivo não é suficiente para os índices de violência no estado. Por outro lado, é um dos únicos programas que Minas tem”, afirma. A Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais, procurada pela reportagem, não respondeu até o fechamento desta edição.

Para especialistas, prevenção deve ser prioridade PIMENTEL Novo governo ainda não decidiu o futuro dos programas de segurança pública “Os três níveis de governo deveriam atuar na segurança pública, como acontece na saúde e educação. No entanto, pelo artigo 144 da Constituição, a responsabilidade pelos programas é do estado”, explica o cientista social e professor universitário Robson Sávio. Segundo ele, a possibilidade de descentralização é via convênios com municípios e governo federal. O professor questiona a pouca atenção dada à prevenção nos últimos anos, situação que pode ser vista no orçamento. Em 2014, a Secretaria de Defesa Social planejou gastar R$ 1,7 bilhões. Deste dinheiro, R$ 1,2 bilhões se destinavam ao sistema prisional, enquanto a prevenção receberia apenas R$ 39 milhões. Em termos de porcentagem, os programas de pre-

venção ficam com 2% do orçamento da segurança. “O melhor momento do programa [Fica Vivo] foi entre 2003 e 2005, quando houve um convênio com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, que transferia recursos. Depois que parou a transferência de dinheiro, o programa minguou”, analisa Robson, que é também um dos idealizadores do Fica Vivo. Para o professor de sociologia Eduardo Batitucci, integrante do Núcleo de Estudos em Segurança Pública da Fundação João Pinheiro, as políticas de prevenção conseguem reduzir o número de crimes com muito mais eficácia que a repressão. Isso está ligado à construção de pontes efetivas com as comunidades em situação de risco, o traba-

lho que a polícia não faz. “Mas para isso precisa-se de tempo, apoio, condições de trabalho e dinheiro”, diz. Batitucci afirma ainda que os programas de prevenção passaram por uma “ampla revisão técnica” e que, agora, falta “apoio institucional e político” à proposta. “Precisamos transformar as políticas de prevenção em uma prioridade de Estado, dando o devido apoio, fazendo concurso

público e transformando a Coordenação em Subsecretaria”, defende. Questionada sobre o projeto de segurança pública que Pimentel irá aplicar, a assessoria da equipe de transição do novo governo não deu muitas informações. “Estamos discutindo. Pode ser que os programas continuem, mas pode ser que não”, declarou o assessor. (RD)

MINAS

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FATOS EM FOCO Revoada de pombos e balões... Na última terça (16) o deputado Dinis Pinheiro (PSDB) foi homenageado em um grande evento na Assembleia Legislativa, com direito a orquestra, coral, show de fogos, revoada de pombos e balões, chuva de papel picado e apresentações musicais. Isso tudo porque ele está finalizando o mandato de presidente da ALMG, depois de 20 anos consecutivos de mandato parlamentar, e após a derrota nas urnas, como candidato a vice-governador de Pimenta da Veiga. Na ocasião, vários deputados mencionaram suas possibilidades futuras no cenário político. Em terras Gerais, perpetuar-se na política e usar o dinheiro público para homenagens parece até que é motivo para festa…

Trensalão Tucano desvia mais de R$ 50 mi A Polícia Federal (PF) concluiu as investigações sobre o esquema de corrupção no governo do PSDB, conhecido como trensalão tucano, denunciado pelas empresas suíças Siemens e Alstom. A PF indiciou 33 envolvidos em corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de cartel e crime licitatório. Entre os suspeitos estão ex-diretores de estatais paulistas, servidores públicos, doleiros, empresários e executivos de multinacionais. As investigações indicam que empresas que disputavam contratos de construção, manutenção e compra de equipamentos para o sistema de trens e metrô combinavam preços, formando cartel para, com a participação de servidores, aumentar os valores cobrados. A empresa suíça Siemens revelou pagamentos de propina a altos funcionários e autoridades públicas de São Paulo. Os pagamentos teriam começado em 1997, por um “propinoduto” relacionado às obras do metrô, que teria desviado US$ 50 milhões nos governos de Geraldo Alckmin (PSDB), mas também atravessaram os governos tucanos de Mário Covas e José Serra.


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Belo Horizonte, 19 de dezembro a 08 de janeiro de 2015

Receita especial para o Natal INVERSÃO Que tal desta vez os homens cozinharem a ceia?

Lombo Natalino com Farofa

Olá, cara leitora! Na última edição do jornal Brasil de Fato MG deste ano eu peço licença para falar sobre tradição. E, antes de qualquer coisa, esclareço aos leitores que todo o texto será escrito em feminino, porque falo diretamente às mulheres dessas Minas Gerais. Ahhh.. As tradições de Natal! A árvore com bolinhas e pisca-pisca. As crianças ansiosas, os presentes. A família reunida, o amigo-secreto. A ceia da véspera, com o lombo ou até peru. As mulheres juntas na cozinha a preparar os quitutes... Estes são costumes passados de geração a geração e vêm sendo seguidos há muitos anos. Há quem diga que tradição é importante e eu não discordo! Mas me coloco a pensar se toda e qualquer tradição deve ser seguida sem questionamentos. E acabei por concluir que questiono uma em especial, e proponho que vocês, leitoras do Brasil de Fato MG, me acompanhem. Enquanto nós, mulheres da família, passamos o dia todo na cozinha a picar, lavar, regar, rechear e assar o alimento de toda a família, os homens se revezam nos copos: cerveja, cachaça ou suco (pra quem não bebe). E o baralho nunca falta! Pois que quebremos essa tradição! A Ceia de Natal deste ano, nós não fazemos não! Dia 24, é o homem no fogão! Pois onde já se viu um feriado em que se passa o dia todo a trabalhar, e voltamos à labuta mais cansadas do que antes? Então, a receita especial para o Natal deste ano é a ceia preparada pelos homens. E uma coisa é certa, não devemos temer o homem na cozinha. Tenho certeza de que muitos de seus companheiros já têm feito boas refeições para a família. Em algumas casas, como na minha, são eles quem servem a mesa. Mas, para os marinheiros de primeira viagem, para que seja tranquila a experiência dos do preparo da ceia, aí vai uma receita simples e deliciosa, com a cara do Natal! Ah! E boa sorte, meninos! Sua amiga, Maíra.

Ontem mesmo meu irmão foi pro fogão fazer almoço. Se eles pegarem pra fazer dão conta, e com certeza sairão coisas deliciosas.

Conceição Nonata, 48.

Ingredientes - 01 peça de lombo suíno - 05 colheres de sopa de açúcar mascavo - 02 colheres de sopa de óleo de soja - 10 colheres de sopa de molho de soja shoyu - 01 tablete de caldo de carne - ½ xícara de vinho tinto

- 500g de farinha de rosca - Azeitonas picadas - Ameixas picadas - 300g de bacon picado - 06 colheres de sopa de manteiga

Modo de preparar o lombo Fure bem o lombo suíno com a ponta de uma faca. Coloque numa panela grande com tampa o açúcar mascavo, o molho shoyu, o vinho, o óleo e o caldo de carne. Refogue o lombo nesses ingredientes até que fique bem cozido. Transfira para uma assadeira e coloque no forno. Vá banhando com o molho que ficou na panela até que o lombo fique assado. Depois de pronto, fatie.

Preparo da farofa Derreta a manteiga e refogue as azeitonas, com as ameixas e o bacon. Deixe refogar muito bem. Depois acrescente a farinha de rosca e misture tudo. Espalhe a farofa numa bandeja e coloque sobre ela as fatias de lombo. Decore com frutas em compota e fios de ovos.

É raro e ter o homem na cozinha nesse dia vai ser muito interessante. É uma ocasião especial, vamos dar oportunidade pra eles mostrarem o que sabem fazer. Cássia Morais Silva, 35.

Para a Farofa

É uma ótima ideia. Sempre são as mulheres que estão na cozinha, não custa nada os homens fazerem comida uma vez no ano. Melhor ainda em uma data especial, né? Renato de Souza Junior, 24.


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MINAS

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Editor do jornal Estado de Minas é impedido de falar de política CENSURA João Paulo Cunha, que trabalhava no jornal há 18 anos, pediu demissão após aviso de que estava proibido de falar de política Reprodução

Rafaella Dotta Na terça-feira (16) João Paulo Cunha, um respeitado jornalista dos temas cultura e política, pediu demissão de um dos mais tradicionais meios de comunicação de Minas Gerais, o Estado de Minas. A notícia traz à tona a “onda de censura” implantada no jornalismo mineiro, fato comentado, documentado e denunciado por jornalistas mineiros há anos. A demissão de João Paulo aconteceu após uma conversa entre ele e a diretoria do jornal, em que a chefia deixou claro que ele não poderia mais escrever de política. Por considerar a atitude uma manifestação de censura sobre o seu trabalho, o jornalista não aceitou continuar no cargo e pediu demissão. “Acho inadmissível que um jornal censure seus profissionais. A luta histórica que tivemos no Brasil é para termos o jornalismo como instrumento de cidadania”, afirma o jornalista. O motivo da censura seria

a sua opinião política, diferente da linha adotada pelo jornal, que segundo ele é “francamente explícita a favor de Aécio Neves”. No artigo “Síndrome de Capitu”, publicado no suplemento semanal “Pensar” no dia 5, João Paulo criticou a recente movimentação para um golpe político, elaborado pela oposição à presidência, e defendeu a Reforma Política como “agenda prioritária para a sociedade”. “A coluna que ele escreveu deve ter desagradado interesses do jornal e de alguns políticos, que fizeram uma represália a ele”, acredita Kerison Lopes, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais. “Pensar continua sendo perigoso” No estado, episódios de censura não têm acontecido apenas nas redações de jornais. A professora Beatriz Cerqueira, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT MG), foi alvo de 17 processos contra uma campanha publicitária so-

Jornalistas do Estado de Minas foram trabalhar de calça jeans e blusa branca, que era a roupa usual de João Paulo

“Acho inadmissível que um jornal censure seus profissionais”, afirma João Paulo bre a educação mineira. Os processos foram movidos pela coligação do PSDB ao governo do estado. “Em Minas, pensar continua sendo um ato muito perigoso, quase um terrorismo con-

tra o Estado”, afirma Beatriz. “Infelizmente, o Estado de Minas perde qualidade e credibilidade com essa atitude”, afirmou o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Kerison Lopes. Ele conta que, na manhã de quarta-feira (17), dezenas de leitores e jornalistas procuraram o sindicato para dar depoimentos descontentes com a saída de João Paulo. “A gente espera que esse seja o último

caso de censura da era tucana em Minas, mas talvez seja o mais emblemático, pelo que João Paulo representa para o jornalismo mineiro”. Daniel Camargos, jornalista do caderno de política do Estado de Minas, diz que a despedida de João Paulo foi comovente. “Quando ele se despedia das pessoas formou uma imensa roda em torno dele. Todos querendo saber o que havia ocorrido. Ele explicou e a reação final de toda a redação foi levantar e bater palmas”, conta. “Hoje (17) muita gente, mas muita gente mesmo, veio de camisa branca de malha. Uma maneira de homenagear o João Paulo, que se vestia constantemente assim”. Juarez Guimarães, professor de Ciências Políticas da UFMG, acredita que este seja o caso de censura mais simbólico dos últimos tempos. “A falta de pluralismo dos donos da comunicação de Minas Gerais é uma afronta ao princípio de liberdade que funda a história dos mineiros”.

Entrevista com João Paulo Cunha Reprodução

Formado em filosofia, psicologia e jornalismo, João Paulo Cunha trabalha há 25 anos como jornalista, sendo 18 deles no jornal Estado de Minas. Atualmente, era editor chefe do caderno de Cultura, além do caderno TV, Divirta-se e do suplemento que circula aos sábados, o Pensar. Em 2011, João Paulo lançou o livro “Em busca do Presente”, com artigos publicados na sua coluna “Olhar”. Brasil de Fato - Na sua opinião, o que motivou a censura jornalística a você? João Paulo - O jornal, como todos, tem uma linha editorial própria, sobre a

realidade política, social e econômica. Isso é legítimo. Como eu tenho uma linha de pensamento diferente, que discordava do jornal, avisaram que eu estava a partir daquele momento proibido de escrever ideias sobre política. Pra você, é admissível que donos de um jornal ditem o que os jornalistas vão escrever? Não. Acho inadmissível que um jornal censure seus profissionais. A luta histórica que tivemos no Brasil é para termos o jornalismo como instrumento de cidadania. Ao censurar a imprensa ou o jornalista, você está tirando dele

o mais importante, que é a liberdade de expressão e a possibilidade de trazer várias visões de mundo. Sempre há denúncias de que há censura no Estado de Minas, inclusive durante as eleições. Isso realmente acontece? Na minha área de trabalho, que é a cultura, nunca tive nenhum tipo de cerceamento com relação aos conteúdos. Mas ficou nítida nessa última eleição uma linha explícita a favor de Aécio Neves, sempre positivando as ações dele, e críticas e negativas a Dilma Rousseff. Hoje há um nítido direcionamento, que favorece Aécio.

Por que isso prejudica o jornalismo? A base do nosso trabalho é ampliar a capacidade das pessoas de se relacionar com o mundo, para tomar suas decisões da melhor forma e viver em sociedade. Quanto mais informação ele divulga, maior o compromisso do jornal com a sociedade. Se você limita as ideias a apenas uma posição, você está impedindo que o jornalismo faça o que é sua função essencial: levar informação de qualidade, reflexão e visão de mundo plural pra todas as pessoas.


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OPINIÃO

Acompanhando

Na edição 38... Aumento da tarifa pode motivar CPI ...E agora Todo ano o reajuste da tarifa de ônibus é realizado no dia 29 de dezembro. Apesar de ainda não estar confirmado, a Prefeitura de BH já anunciou intenção de reajustar a tarifa para R$3. Movimentos denunciam irregularidades nos contratos entre a Prefeitura e as empresas de ônibus, e o prefeito Marcio Lacerda responde a um processo de improbidade administrativa. Movimentos que lutam pela melhoria e gratuidade do transporte público de Belo Horizonte convocaram um ato contra o aumento da passagem para a quinta (18), às 17h, na rua Carijós.

Belo Horizonte, 19 de dezembro a 08 de janeiro de 2015

Francisco de Assis Correia

Frederico Araújo Mesquita

O natal é o nascimento do Filho de Deus, Jesus Cristo, entre a humanidade

Falta d’água: de quem é a culpa?

A revelação de Deus foi, ao longo da história, uma evolução progressiva e constante através de séculos. Foi de uma imagem de Deus que se fez presente na criação, depois, de um Deus que habitava nos céus, a seguir que habitava no topo das montanhas para uma imagem de sua presença no templo de Jerusalém. Com a encarnação do Filho de Deus, dá-se a presença de Deus Pai no seu filho, Jesus Cristo, que faz habitação entre a humanidade. Então, o que celebramos no Natal é esta presença de Deus no meio da humanidade, tornando-nos filhos dele e irmãos uns dos outros. Por isso, não deveria haver entre nós nenhuma separação, nem discriminação, nenhuma injustiça e violência, uma vez que formamos uma só família. Celebrar o natal, consequentemente, implica constante trabalho em favor desta realidade. Alguns cardeais, bispos e padres conservadores têm ultimamente criticado o Papa Francisco, acusando-o de falar mais dos homens do que de Deus. Esquecem-se esses que a partir de Jesus Cristo importa levar a sério o ser humano em toda a sua totalidade ou como disse recentemente Juan Arias (ex-padre filósofo, teólogo e jornalista): “Francisco sabe muito bem que para a Igreja primitiva, nascida do judaísmo que desejava universalizar-se, o rosto de Deus era visível somente na dor dos homens e na sede de justiça proclamada pelos profetas. O Deus encarnado não é o que vive distraído e feliz sobre as nuvens, e sim muito preocupado, como se fosse uma mãe, com a vida real das pessoas. Francisco prefere ser, simplesmente, um cristão das origens. É pouco?”.

O caos metaforizado por José Saramago em sua obra “Ensaio sobre a cegueira” parece estar cada vez mais próximo. Na sociedade moderna, ficou fácil consumir, mas não há interesse em conhecer a origem do que é comprado, saber como é produzido e os danos socioambientais que isso acarreta. A falta d’água está estritamente ligada a tudo isso. A crise apareceu recentemente devido ao longo período de estiagem e o grande número de rios que vêm sumindo, mas só se agravou porque o assunto nunca foi tratado com seriedade: a começar pela ilusão de campanhas institucionais, jogando a responsabilidade da água para o cidadão comum, pedindo para desligar o chuveiro e a torneira na hora de escovar os dentes. Mas, será que a culpa maior é do cidadão comum, do pequeno agricultor, do microempreendedor? Ou será que as grandes mineradoras, os grandes proprietários de terra, os megaempresários teriam algo a dizer sobre a falta de água? Enfim, todos começam a se preocupar com este bem essencial à vida (humana, vegetal e animal). No entanto, é triste que só comecemos a nos preocupar quando começa a faltar, quando deveríamos sempre cuidar desta riqueza mineral, que faz parte de nós. A atual situação não permite “chorar o leite derramado”, ou melhor, a “água não derramada”. O caminho é um só: a criação de políticas públicas sérias, principalmente visando à revitalização de nascentes, matas ciliares e topos de morros e a preservação do que ainda resta de nossos biomas, com um olhar especial para o Cerrado, considerado o Pai das Águas do Brasil. A Lei Natural precisa ser compreendida e colocada em prática, senão, o caos realmente irá bater nas nossas portas.

Francisco de Assis Correia é padre e professor de filosofia e de teologia no CEARP.

Frederico Araújo Mesquita é jornalista e militante da causa ambiental.

Foto da semana

PARTICIPE Viu alguma coisa legal? Algum absurdo? Quer divulgar? Mande sua foto para redacaomg@brasildefato.com.br.

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Na edição 68... Policiais invadem estúdios da Rádio Itatiaia ...E agora Na terça (16), uma Audiência Pública debateu a prisão de Armando Pereira da Cruz enquanto dava uma entrevista ao vivo nos estúdios da Rádio Itatiaia. De um lado, representantes de sindicatos de profissionais da imprensa apontaram falta de bom senso e agressão à liberdade de expressão. Já os policiais alegam que um mandado de prisão tem que ser cumprido seja onde for, para a segurança da população. O subcorregedor da Polícia Civil, Antônio Gama Júnior, informou que no mesmo dia da prisão ele foi à rádio e entrevistou funcionários. O resultado da investigação será encaminhado para o Ministério Público.

Na semana em que a I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) completa cinco anos, milhares de ativistas realizaram atos pelo país para cobrar do governo a implementação das resoluções aprovadas em 2009. Nas fotos, da esquerda para direita Darci Frigo, coordenador executivo da Terra de Direitos e da Plataforma Dhesca de Direitos Humanos (Brasília). Fernanda A. dos Anjos, diretora do Ministério da Justiça. Rildo M. Oliveira, coordenador geral do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH). Ângela Cristina, integrante da FIAN Brasil, Rede de Informação e Ação pelo Direito a se Alimentar. Leonildo José, Movimento Nacional da População de Rua. Karina Quintanilha, advogada do Centro de Referência Legal da ARTIGO 19.


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ENTREVISTA

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“O evangelho é sempre subversivo” NATAL Teólogo e monge lembra que a data pode ajudar no diálogo e na construção de relações mais profundas Joana Tavares “Nós celebramos a memória do nascimento de Jesus para renascermos para uma vida nova. Aproveitem o Natal para dar um salto qualitativo na forma de ser e se tornem sempre mais amorosos/as e solidários. Aí vocês serão como presépios vivos nos quais o próprio Deus vem morar. Feliz Natal!” Essa é a mensagem que o monge beneditino e teólogo da libertação Marcelo Barros deixa para os leitores. Confira a entrevista. Brasil de Fato- A comemoração do Natal parece ter se afastado do sentido original da data. O que significa essa celebração do nascimento de Jesus Cristo? Marcelo Barros - De fato, o Natal começou como uma festa pagã, feita em honra ao deus sol, por ocasião do solstício do inverno no hemisfério norte. No século IV da nossa era, os cristãos tornaram essa festa a celebração pelo nascimento de Jesus. No mundo atual, ela voltou a ser pagã. Para muitos, o nascimento de Jesus ou não significa mais nada ou se coloca mais ou menos junto com a celebração do Papai Noel e do consumo capitalista. De todo modo, é bom que nessa festa haja reunião das famílias e confraternização dos amigos. Ninguém sabe o dia em que Jesus nasceu. Lembrar o nascimento de Jesus a cada ano é um modo de marcar que Deus se revela no que é humano e nós o encontramos quanto mais nos tornamos humanos. O Natal pode fazer sentido mesmo pra quem não é cristão? Uma sociedade individualista e consumista transforma qualquer festa em ocasião de vender e comprar mais. Pode ser dia das mães, dia dos pais ou Natal. Acho que o Natal tem sentido mesmo para quem não é cristão. Embora os documentos históricos sejam

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poucos, hoje, todo mundo reconhece que Jesus de Nazaré é um personagem histórico. E independentemente de religião, é referência de solidariedade humana e de construção de um mundo novo. Assim como devemos valorizar líde-

“Lembrar o nascimento de Jesus a cada ano é um modo de marcar que Deus se revela no que é humano e nós o encontramos quanto mais nos tornamos humanos” res religiosos como o profeta Muhamad (ou Maomé) dos muçulmanos e Sidartha Guatama, o Buda, toda pessoa humana ganha em lembrar de Jesus como modelo de humanidade. E o Natal serve para unir as pessoas e transmitir uma mensagem de paz e irmandade para todo mundo. Como a data pode ajudar a aprofundar as relações humanas, o cuidado com o próximo e não se centrar no atual apelo ao consumo? A primeira providência é sermos mais críticos em relação às propagandas do comércio e às seduções do consumismo. Se a sociedade não valoriza as pessoas como pessoas e cada um vive apenas para si mesmo e para o lucro, não vai ser o Natal que vai conseguir o milagre de mudar isso. Mas podemos organizar encontros de Natal que sejam ocasiões de diálogo e de relações humanas mais profundas. Há mil maneiras de se fazer diferente. É só querer. Como você vê a atuação do papa Francisco e seus sinais de querer aproximar a Igreja do povo e dos dilemas mais atuais? O papa Francisco inaugura uma nova forma de ser papa. Assume ser o bispo de Roma e valoriza as Igrejas locais do mundo inteiro. O

nialismo. Na América Latina, salvo algumas exceções, a maioria dos padres veio junto com os soldados dos impérios europeus para dominar e escravizar os índios, os negros, etc. Graças a Deus, nas últimas décadas, uma parte maior das

“O papa não é o chefe de uma multinacional da fé. É o irmão encarregado de unir os outros no serviço à humanidade”

Marcelo Barros: “Independente de religião, Jesus é referência de solidariedade”

papa não é o chefe de uma multinacional da fé. É o irmão encarregado de unir os outros no serviço à humanidade. O papa Francisco es-

“Se a sociedade não valoriza as pessoas como pessoas e cada um vive apenas para si mesmo e para o lucro, não vai ser o Natal que vai conseguir o milagre de mudar isso” tá ajudando a Igreja Católica a retomar o Evangelho e sua missão de diálogo com todas as pessoas humanas. Isso é muito bem recebido nos ambientes leigos do mundo. Na Igreja, há bispos e padres que não compreendem e não o seguem. Normalmente, não falam mal porque não ficaria bem, mas continuam um modelo de Igreja autoritária e dogmática. É importante que, em cada Igreja local, as pes-

soas de boa vontade e abertas à novidade perene do Evangelho possam apoiar o papa e pôr em prática sua proposta de uma Igreja que dialoga sempre como irmã e não como dona da verdade e uma Igreja que serve à justiça e à paz, aberta aos movimentos sociais e à transformação do mundo. Vivemos um tempo em que há avanços em algumas áreas e, por outro lado, parece se fortalecer um conservadorismo que beira a violência. Em muitos desses casos, usa-se a religião como escudo para a intolerância. Qual você acha que deve ser a relação entre religião e política? Sim, é triste ver deputados usarem o nome de cristãos e evangélicos para defenderem a violência contra os não cristãos, a discriminação da mulher, dos gays. É triste usar a religião para impor leis e costumes à sociedade. É verdade que, muitas vezes, na história, a religião se uniu ao colo-

Igrejas cristãs compreendeu que o Evangelho tem um conteúdo social e político. Jesus veio para trazer vida em abundância para todos, tanto no plano interior e psicológico como social e político. Recentemente, você publicou um livro que foi lançado em Roma, na embaixada do Vaticano e essa notícia saiu em vários jornais da Itália e entretanto não teve nenhuma cobertura no Brasil. De que se trata? Meu livro mais recente se chama “Evangelho e Instituição”. No Brasil, saiu pela Editora Paulus e, embora já esteja à venda, ainda não teve lançamento como teve na Itália na embaixada do Vaticano. É um livro de reflexão bíblica e pastoral sobre essa tensão permanente entre o Evangelho e as instituições eclesiásticas. O evangelho é sempre subversivo e nos chama a ir além da lei. É a profecia do amor incondicional e da liberdade espiritual. A instituição da Igreja é necessária até porque ninguém vive a fé cristã isolado. Mas não pode ser absolutizada. Nunca o cristão pode ser apenas um funcionário da religião. Tem de ser um irmão que vive na comunhão da mesma fé e do mesmo serviço, mas na liberdade da profecia. O livro tem sido usado na Itália como presente de Natal.


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BRASIL

Belo Horizonte, 19 de dezembro a 08 de janeiro de 2015

Prefeito tucano é cassado por corrupção OMISSÃO Imprensa é seletiva nas denúncias de corrupção Altamiro Borges No domingo passado (7), o empresário Omar Najar (PMDB) venceu as eleições para a prefeitura de Americana, município com 226 mil habitantes no interior de São Paulo. A mídia chapa-branca, servil ao governador Geraldo Alckmin, deu pouca atenção para o pleito fora de época. O motivo é simples: o prefeito Diego De Nadai, do PSDB, foi cassado por graves denúncias de corrupção. Durante várias semanas, a cidade de Americana ficou acéfala. Na ausência do prefeito, sacos de lixos se acumularam nas ruas, pronto-socorros ficaram fechados e a merenda não foi entregue nas escolas. A população sofreu e os protestos viraram rotina no município, a 127 quilômetros da capital paulista. Os jornalões e

as emissoras de rádio e televisão, porém, não deram maior atenção a este sofrimento. São inúmeros os casos de políticos tucanos cassados ou envolvidos em corrupção que não merecem as manchetes da mídia “imparcial”. Em abril passado, o governador Siqueira Campos, do Tocantins, renunciou ao cargo para escapar da cassação. Pesavam sobre o histórico chefão do PSDB várias denúncias de desvio de recursos do Estado. A renúncia foi uma manobra para garantir a candidatura de Eduardo Siqueira Campos, filho do tucano, ao governo estadual. A mídia nunca fez alarde com este caso bizarro! A seletividade é a regra. O deputado Carlos Alberto Lereia, do PSDB de Goiás, foi flagrado em negociações com o mafioso Carlinhos Cachoeira. A

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De Nadai (esq), prefeito tucano cassado por corrupção. Mais um escândalo do PSDB ignorado pela imprensa

Câmara Federal até cogitou sua cassação. Em abril passado, ele até foi suspenso e o caso sumiu do noticiário. Já o ex-governador e ex-senador Edu-

ardo Azeredo, que inaugurou o esquema do “mensalão” com o publicitário Marcos Valério, renunciou ao mandato de deputado federal para evitar seu jul-

gamento no STF. E tem gente que acredita que Globo, Folha, Estadão e Veja ainda farão uma investigação isenta sobre o “trensalão tucano” em São Paulo ou sobre o “aecioporto” em Minas Gerais. A mídia hegemônica nunca investigou a fundo as denúncias de corrupção no processo da privataria – até porque ela sempre defendeu a privatização das estatais. Ela também evitou dar continuidade às apurações sobre a compra de votos na reeleição de FHC – que sempre foi seu protegido. A escandalização da política, com suas manchetes garrafais e diárias, servem apenas para atacar os que não rezam da sua cartilha. Não há qualquer imparcialidade ou isenção no jornalismo. A mídia tem dono e defende sua classe!

IBGE: cai diferença de renda Cuba e Estados Unidos reveem entre homens e mulheres relações

DESIGUALDADE IBGE apurou uma redução expressiva no nível de desocupação entre população feminina – de 11,5% em 2004 para 8,3% em 2013 FIM DO EMBARGO Presidentes Raúl Castro e Obama se pronunciaram na quarta-feira (17) Rede Brasil Atual O mercado de trabalho continua sendo um campo de desigualdade entre homens e mulheres – apesar das melhorias apresentadas por esses indicadores na última década, segundo a Síntese dos Indicadores Sociais (SIS)2014, do IBGE. O estudo, divulgado na quarta-feira (17), apurou uma redução expressiva no nível de desocupação entre população feminina – de 11,5% em 2004 para 8,3% em 2013. Mas o índice entre as mulheres ainda é muito maior que entre os homens, que caiu de 6,6% para 4,6% no período. Na mé-

dia geral, o nível de desocupação estava em 6,4% em 2013, apresentando redução superior a dois pontos percentuais em nove anos. O rendimento médio dos homens em 2013 apresentou crescimento menor que o das mulheres em relação a 2004 (41,5% a 48,9%). Entretanto, os ganhos mensais apurados entre a população ocupada feminina ainda perdem feio para os da masculina: na média, R$ 1.605 a R$ 1.278, diferença de 43%. Outro aspecto da desigualdade de gênero que evoluiu, sem ainda eliminar a situação de contraste, está na conjugação en-

tre jornada de trabalho e afazeres domésticos. Entre as mulheres ocupadas de 16 anos ou mais,quase nove em cada dez (88%) realizavam afazeres domésticos, enquanto, entre os homens, esse percentual era inferior à metade (46%). As mulheres tinham uma jornada média em afazeres domésticos mais que o dobro da observada para os homens (20,6 horas semanais). Considerando a jornada no mercado de trabalho e aquela com a realização de afazeres domésticos, a jornada feminina semanal era de 56,4 horas, superior em quase cinco horas à masculina.

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Os presidentes dos EUA, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, anunciaram nesta quarta (17) as maiores mudanças nas relações entre os dois países desde a imposição do embargo norte-americano à ilha em 1961. A primeira medi-

da foi a troca de presos políticos. O norte-americano Alan Gross foi solto em troca de três cubanos presos nos Estados Unidos. As demais medidas são do campo da diplomacia, da economia e entrada de imigrantes.


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Belo Horizonte, 19 de dezembro a 08 de janeiro de 2014

MUNDO

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PARABÉNS BH! VOCÊ TEM O QUE COMEMORAR? INFORMATIVO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE BH

No dia 12 de dezembro de 2014, Belo Horizonte completa 117 anos. Será que temos motivos para comemorar? Nos últimos seis anos convivemos com a precariedade de atendimento na Saúde, falta de vagas nas escolas para as crianças, jovens e adultos, sucateamento dos serviços de limpeza urbana, ausência de uma política de segurança pública que priorize a vida e os direitos sociais, além do completo descaso com o dinheiro público. Em relação aos servidores públicos municipais que, além de cidadãos, trabalham pela cidade e lutam pela qualidade dos serviços públicos oferecidos à população, há o que comemorar? Qualquer belorizontino que utiliza os serviços públicos oferecidos pelo Município será capaz de responder esta pergunta. Estes trabalhadores convivem diariamente com a constante precarização de suas condições de trabalho e retirada arbitrária de direitos trabalhistas históricos conquistados pela categoria. Excesso de trabalho, falta de valorização e condições minimamente dignas para execução do serviço são, infelizmente, parte da rotina dos trabalhadores da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).

CONFIRA ALGUNS DOS “PRESENTES” DE LACERDA PARA OS SERVIDORES MUNICIPAIS: SAÚDE PRECARIZADA 1Nenhuma das unidades de Saúde prometidas pelo Prefeito Márcio Lacerda,

durante sua primeira campanha eleitoral, ainda em 2008, foi entregue à população. No Plano de Governo do então candidato à Prefeitura, Márcio Lacerda, constavam como “prioridades” a construção do Hospital Metropolitano do Barreiro, de oito Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e as 81 Unidades Básicas de Saúde. Estamos no final de 2014 e nenhuma destas obras foi entregue à população de Belo Horizonte.

2 NA EDUCAÇÃO, UM PREFEITO SEM PRESSA...

Lacerda foi o único prefeito dentre todas as capitais do país a alterar o calendário escolar por causa da Copa do Mundo e, ainda por cima, sem nenhuma consulta à população. Ao invés de negociar, foi aos jornais dizer: “Eu não tenho pressa em negociar” e “Não me preocupo com as manifestações. Nós temos férias escolares no período da Copa, portanto, a educação não é um problema”. Ou seja, a falta de vagas nas Unidades Municipais de Educação Infantil (UMEIs), o aumento significativo da violência nas Escolas, além de todos os problemas estruturais da Educação Pública no Município não são considerados problemas para o prefeito nem antes, nem durante e, muito menos, depois da Copa.

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ATRASO NO PAGAMENTO DOS SERVIDORES

Em setembro de 2014 a PBH divulgou um novo cronograma de pagamento para o funcionalismo municipal, como sempre apresentado de forma unilateral, sem nenhum diálogo com os trabalhdores. Após anos recebendo no 5º dia útil de cada mês, os servidores municipais foram obrigados a readaptar sua vida financeira recebendo seus salários, já defasados, com atrasos que chegam a quase duas semanas em alguns meses. Infelizmente, os empresários e especuladores financeiros que tomaram de assalto a Prefeitura da capital não precisam honrar seus compromissos financeiros ao final de cada mês e, por isso, são incapazes de entender as necessidades daqueles que trabalham de verdade para pagar suas contas.

4 AUMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA OS SERVIDORES

A violência contra os servidores municipais aumentou significativamente em 2014. Não existem registro oficiais, no entanto denúncias de agressão chegam aos Sindicatos constantemente e ganham destaque na imprensa. As condições precárias dos serviços públicos prestados à população favorecem a exposição do servidor à violencia que tem sido, infelizmente, parte da rotina dos trabalhadores.

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FALTA DE ESTRUTURA PARA ATENDER A POPULAÇÃO

O prefeito fez e refez obras na cidade e várias foram as denúncias de superfaturamento, mas os volumosos gastos não representam qualidade. Isso é facilmente perceptível nas condições precárias e falta de estrutura em equipamentos do município como Centros de Saúde e Escolas/UMEIs, dentre outros. Esta precariedade teve uma maior visibilidade após a queda de um dos novos viadutos do Complexo do BRT/MOVE que provocou a morte de duas pessoas.

Biblioteca da E. M. Itamar Franco que, junto do auditório, está interditada desde início de 2014

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Banheiro da UMEI Califórnia

Parte do teto da UMEI Califórnia desabou em outubro de 2014

ALTERAÇÕES NA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

Como se não bastassem as precárias condições de trabalho, a falta de respeito e valorização por parte da PBH tanto com a população, quanto com o funcionalismo municipal, a Prefeitura deseja agora retirar direitos trabalhistas históricos conquistados pela categoria, por meio de uma perversa proposta de alteração das regras de Avaliação de Desempenho dos servidores municpais. Entre as mudanças propostas, estão o término da Autoavaliação e Avaliação dos Pares (colegas de trabalho), restringindo todo o poder de avaliação dos trabalhadores apenas aos gerentes; aumento do índice mínimo de aprovação de 70% para 90% e o fim do atual processo de progressão por escolaridade mediante apresentação de títulos, criando uma nova progressão vertical e restritiva, na qual apenas um percentual de servidores, estabelecido pelo governo, poderá progredir verticalmente por meio de seleção interna. Na quarta-feira, 10/12, os trabalhadores da PBH ocuparam as galerias do Plenário Amynthas de Barros, na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), durante audiência pública que discutiu as mudanças na Avaliação de Desempenho propostas pela Prefeitura e deram seu recado:

www.redebh.com.br facebook.com/sind.rede


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CULTURA

Belo Horizonte, 19 de dezembro a 08 de janeiro de 2015 Guilherme Cunha

Exposição no metrô Na semana em que Belo Horizonte completa 117 anos, a população tem a oportunidade de conhecer a história de um lugar que faz parte das raízes da cidade. O trabalho ‘Memórias da vila – História dos primeiros moradores do Aglomerado da Serra’ é resultado de um projeto de resgate da memória oral e visual das seis vilas que integram o maior aglomerado de BH, desenvolvido desde 2010 pelo artista visual e fotógrafo Guilherme Cunha.

Luta por espaço de cultura no Jardim Felicidade A comunidade Jardim Felicidade, na região Norte de BH, está em luta por um espaço cultural e comunitário. Nos dias 19 e 20, a Rede de Desenvolvimento dos Moradores do Bairro Jardim Felicidade, composta por membros das mais variadas instituições locais e por moradores, re-

alizarão atividade culturais em defesa do espaço. No dia 19, será realizada uma sessão de cinema com o curta “5X Favela: Agora por nós mesmos”, seguido de debate. No sábado (20), um “Café Cultural” vai reunir moradores para conversar sobre o tema. Ao longo do dia, apresentações de

artistas locais e convidados animam o ato. A proposta da Rede é que a prefeitura ceda um barraco que está há muitos anos sem uso, no Campo Madaleno, para transformar em local para realização de projetos culturais, esportivos, educativos e de geração de renda.

São 30 imagens de moradores do Aglomerado da Serra, que ocupam desde quarta (10) as estações Central, Calafate e São Gabriel do metrô da capital, com as fotografias em grandes painéis, que estarão disponíveis até o fim de abril. Para tornar acessíveis a memória e as narrativas dos personagens das fotografias, o artista está produzindo um livro, que será lançado em 2015.

Parques municipais oferecem oficinas nas férias A partir de sábado (20), três parques de Belo Horizonte recebem atividades destinadas a crianças e adultos. As oficinas acontecem de 8h às 17h e são gratuitas. A primeira oficina, com o nome “Animais Silvestres”, convida as crianças a aprenderem sobre diferentes espécies e seus habitats, montando animais a partir de materiais recicláveis. A segunda coloca os participantes em contato com diferentes objetos, vivenciando experiências relacionadas aos seis sentidos. As duas últimas oficinas pretendem debater a participação humana no ciclo da água:

“Mandalas no Parque” e “Oficina das Águas”. Confira a programação: 20 e 21/12, das 8h às 17h: Parque do Bairro Jardim Leblon (Rua Salto da Divisa, 99, Jardim Leblon) 27 e 28/12, das 8h às 17h: Parque Ecológico e Cultural Professor Marcos Mazzoni (Rua Deputado Bernardino de Sena Figueiredo, 1022, Cidade Nova) 06 e 07/01, das 8h às 17h: Parque Municipal Mata das Borboletas (Rua Assunção, 650,– Sion) Mais informações: www.pbh.gov.br/parques

Carne Mamífera estreia em Uberlândia No alvoroço de acontecimentos de 2014, alguma coisa marcou época em Uberlândia. Foi no último dia 6 de dezembro. Com a genialidade de quem tem a indignação da existência entalada na garganta, “Carne Mamífera” estreiou no espaço Grupon-

tapé de Teatro a performance intitulada “Rainha Desordem e Epop(e)ia da Mentira”. A performance segue acontecendo mundo afora, nas mentes, corações e corpos de quem a presenciou. O grupo seguirá apresentando em 2015! Reprodução


Belo Horizonte, 19 de dezembro a 08 de janeiro de 2015

CULTURA

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A luta de classes versão Hollywood RESENHA Terceiro filme da série Jogos Vorazes mistura romance com disputa de poder Joana Tavares Faz parte de uma boa obra de fantasia a vontade de saber mais. Aquela pulga que fica atrás da orelha que faz a gente “ter” que ler o próximo capítulo, assistir ao próximo episódio de uma série ou novela. Mas essa mania de trilogia em que alguns escritores embarcaram e ficou ainda mais na moda em Hollywood faz a gente desconfiar. Será que nos estão contando uma boa história ou estão apenas nos enrolando para que compremos logo o próximo produto? No caso de “Jogos Vorazes”, cuja primeira parte do terceiro filme está em cartaz em quase todos os cinemas da capital, a trilogia do livro ainda se desdobrou em quatro filmes. Haja coração para aguentar a ansiedade de um desfecho que demora mais de três anos!

Mas agora vamos ao filme. Para quem não viu, vai um resumo breve, e sem estragar o final: há 75 anos houve uma tentativa de revolução, foi esmagada pela Capital, que governa de forma opressora os 13 Distritos de um mundo que se chama Panem. Desde então, todos os anos acontecem os “jogos vorazes”, em que cada distrito precisa “oferecer”, via sorteio, dois de seus jovens para participar do show. A ideia é que haja apenas um vencedor em cada torneio, os outros serão mortos, ou pelas adversidades do jogo ou pelos adversários. E tudo transmitido via televisão. É o espetáculo ao extremo: no reality, acompanhamos não só os dramas de cada um, mas sua própria morte. E, claro, tem a heroína. Katniss, uma jovem de 16 anos, se voluntariou para ir ao jogo no lugar da irmã. Re-

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Filme está em cartaz em 18 salas da capital, quatro semanas depois da estreia

belde e ousada, ela acabou virando um símbolo contra a opressão. E por isso foi chantageada pelo poderoso presidente. No filme em cartaz “A esperança – Parte 1”, há um ensaio de luta de classes. Os distritos estão sendo cada vez mais violentamente atacados, destruídos, enquanto a Capital abusa do glamour para sustentar os desejos

dos de cima. Mas os de baixo não parecem mais aceitar os desmandos. Chegou naquele ponto em que o poder está insustentável. Agora os revoltosos precisam mesmo de um herói, de alguém que os faça crer que é possível vencer. E assim acompanhamos as mudanças por que passa a adorável Katniss, que vira o Tordo. Em um ambiente sufo-

cante e cinza, os sobreviventes do Distrito 13 confabulam a revolução. Mas faltam elementos centrais: a consciência e formação política. Isso sem falar no principal: a organização do povo. Como as pessoas chegaram até ali? Tudo se dá de uma forma mecânica, sem questionamentos e a gente fica sem saber como se deu e se dá esse processo organizativo. E é aqui que Hollywood nos engana pela milésima vez: Katniss está mais preocupada em proteger os seres queridos do que com o destino de seu povo. Katniss ou Peeta (o mocinho, que está sob poder da Capital) sozinhos são só dois indivíduos. Transformar um drama coletivo em uma história de amor de dois jovens é esvaziar o sentido político de uma revolta que não faz sentido apenas no mundo de fantasia de Panem.


14 VARIEDADES

Belo Horizonte, 19 de dezembro a 08 de janeiro de 2015

Um viva à edição 69 e um viva ao amor!

Novela Divulgação

Oba! Chegamos à edição 69! O número é sugestivo porque o encontro do 6 com o 9 desenha uma bela forma de se fazer amor, que dá certo com qualquer tipo de casal. Decidi, então, relembrar alguns casais que soltavam faíscas de sedução e desejo nas novelas de nossa telinha. Veja só se você concorda que esses personagens calientes são inesquecíveis. Logo me veio o Raí e a Babalu, de “Quatro por Quatro”. No meio da década de 1990,

Letícia Spiller e Marcelo Novaes exibiam seus corpos sarados e bonitos em roupas curtas e apertadas a la moda da época em lindas cenas de amor e sensualidade. Os dois viveram muitos encontros e desencontros durante a história e o fogo todo rendeu, inclusive, o casamento dos atores na vida real. Raí era mulherengo, mas amava Babalu, moça autêntica e decidida a construir uma família. O final dos dois foi feliz, tiveram filhos e reafirmaram o seu amor briguento e verdadeiro.

Difícil esquecer também de Bebel e Olavo, em “Paraíso Tropical” (2007). Camila Pitanga e Wagner Moura (meu ator preferido) formaram uma dupla perfeita na composição de seus personagens. Ela, prostituta, e ele, um rico empresário, se apaixonaram depois de passarem uma noite juntos. Claro que a arrogância de Olavo impediu que ele assumisse seu desejo pela moça, que sofria nas mãos do cafetão que a agenciava. Quando percebeu que iria perder Bebel (que finge

ir embora com outro homem para o exterior), Olavo passa a mantê-la “fixa”, a tira do calçadão e a moça passa a ser uma mulher de “catigoria”. As cenas do amor bandido e avassalador dos dois eram de tirar o fôlego e dava muita vontade de fazer em casa. Além desses, me lembrei também de Hilda Furacão (Ana Paula Arósio), Frei Malthus (Rodrigo Santoro) e a relação ardente e proibida dos dois. Teve também Fernando (Dú Mos-

covis) e Milena (Carolina Ferraz) de “Por Amor” e mais recentemente Patrícia (Maria Casadevall) e Michel (Caio Castro) de “Amor à Vida” como casais que pareciam sentir tesão de verdade. Você lembra de mais algum? Que viva o amor, o sexo e a sedução! Viva a edição 69 e o ano de 2014 do Brasil de Fato MG! Boas festas para você! E até o ano que vem! Joaquim Vela


Belo Horizonte, 19 de dezembro a 08 de janeiro de 2015

na geral Futsal feminino é penta Divulgação

Na madrugada da terçafeira (16), a seleção brasileira feminina de futsal conquistou invicta o quinto título mundial. A emoção foi o grande ingrediente da partida: faltando 5 minutos para o fim do jogo, o Brasil perdia para Portugal por 3 a 1, mas as lusitanas não conseguiram segurar o time canarinho, que venceu de virada por 4 a 3. O mundial deste ano foi realizado na Costa Rica. Os quatro torneios anteriores também foram vencidos pelo Brasil.

Internacional, clube do povo Sport Club Internacional

Paratletas concorrem com nadadores convencionais

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na geral

Comitê Paralímpico Brasileiro

Da redação Entre os dias 17 e 19 de dezembro, três nadadores da seleção brasileira de paralímpicos disputam o Open da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), competição habitualmente destinada a atletas que não apresentam nenhum tipo de deficiência. Andre Brasil e Phelipe Rodrigues pertencem à categoria S13, para atletas com limitações na visão. Carlos Farrenberg pertence à S10, de atletas com afetação leve de uma ou duas extremidades ou comprometimento leve de uma ou diversas articulações. Não obstante, todos eles manti-

ESPORTE

VocêSabia ?

veram rendimentos similares aos dos nadadores convencionais. Os três paratletas disputam os 50 e os 100 metros livre. André Brasil também compete nos 100 metros borboleta.

Em 1984, a arqueira paralímpica Neroli Fairhall, da Nova Zelândia, disputou os Jogos Olímpicos de Verão com atletas sem deficiências. Já em 2007, o velocista sul-africano Oscar Pistorius, que teve uma das pernas amputadas e corria graças a duas lâminas de fibra de carbono, competiu em uma pista para atletas convencionais. Em 2008, por pouco Pistorius não atingiu o tempo necessário para disputar as Olimpíadas. Ele ficou 25 centésimos de segundo abaixo do índice.

Todas as semanas nas ruas de

BH

Auditoria detecta irregularidades na CBV Reprodução

Auditoria realizada pela Controladoria-Geral da União em contratos da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) apontou irregularidades que somaram R$ 30 milhões, dentre as quais a contratação de empresas ligadas a dirigentes da CBV e familiares. O assunto repercutiu na comunidade do vôlei e, diante das constatações, o Banco do Brasil suspendeu o contrato de patrocínio que durava 23 anos.

Atletas contra CBF

protestam Twitter / Murilo Endres

O Internacional de Porto Alegre mostra que o apelido de “clube do povo” não é em vão. Criado há pouco mais de dois anos, um movimento político contra a elitização e todas suas consequências no futebol chegou à presidência do Inter e elegeu 16 conselheiros, em eleição realizada no último sábado (13). A primeira ação pensada pela nova cúpula colorada é fazer um sócio-torcedor para pessoas de baixa renda.

A equipe do Brasil de Fato MG avisa a seus leitores que, a partir de 20 de dezembro, o jornal estará de recesso, renovando as energias. Voltamos às mãos do público em 8 de janeiro, quando lançamos a primeira edição de 2015. Até lá, desejamos boas festas a todos os nossos parceiros e leitores!

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3568 0691

publicidademg@brasildefato.com.br

Em protesto contra os escândalos envolvendo a CBV, vários atletas do vôlei entraram em quadra com narizes de palhaço. Foi o caso, por exemplo, dos jogadores do Canoas (RS) e do Taubaté, em partida do último sábado (13). Também no jogo entre Cruzeiro e Sesi-SP, o protesto aconteceu. No twitter, atletas brasileiros consagrados, como o jogador Murilo Endres, manifestaram seu descontentamento e pediram respeito ao voleibol brasileiro.


16 ESPORTES

Belo Horizonte, 19 de dezembro a 08 de janeiro de 2015

Retrospectiva do futebol 2014 RECORDAR É VIVER Fatos que marcaram a temporada no Brasil e no mundo Washington Alves

Rei dos pontos corridos Pela quarta vez, o melhor do Brasil. Pela terceira vez, campeão dos pontos corridos, com o melhor aproveitamento (70,2%) e recorde na liderança (108 rodadas). Pela segunda vez consecutiva, campeão nacional com folga. Melhor média de público do Brasileirão 2014, com 29.678 torcedores por

partida. Melhor ataque da série A, com 67 gols (141 na temporada). O jornalista José Trajano definiu a situação do Cruzeiro: “às vezes, eu tenho a sensação, quando o Cruzeiro está num momento melhor do jogo, de que nem é um time brasileiro, é um time que está disputando outro campeonato”.

O time da virada

Após o início turbulento com Paulo Autuori, o Galo trouxe Levir Culpi para pôr ordem na casa. Ele pegou um amontoado de jogadores e transformou numa equipe competitiva, que venceu a Recopa e lutou bravamente pelo título inédito da Copa do Brasil. Bateu quatro multicampeões,

Bruno Cantini

dois deles em viradas épicas, que serão lembradas por muitas décadas: sobre o Corinthians, vencedor da decisão do Brasileiro de 1999, e sobre o Flamengo, carrasco dos anos 80. Na final, duas vitórias incontestáveis sobre o Cruzeiro, completando sete clássicos sem perder para o arquirrival.

Sucesso alemão O que torna o futebol imprevisível e fascinante é o fato de que os melhores muitas vezes perdem. Na Copa das Copas, venceu quem mereceu. A Alemanha começou a ganhar o tetracampeonato há 14 anos, quando foi eliminada na primeira fase da Eurocopa. A partir de então, passou por uma longa e profunda reforma, que produziu: a implantação do Fair Play financeiro; os ingressos mais baratos da Europa; a divisão equânime dos recursos da TV entre clubes ricos e pobres; a formação de uma massa de jovens atletas de ponta, com uma rede de quase 400 centros de treinamento por todo o país; a democratização dos clubes, com um estatuto que reserva pelo menos 51%

dos votos aos sócios; o fortalecimento das competições nacionais, tornando a Bundesliga o melhor campeona-

Esmagou! Como se não tivesse ninguém pela frente, o rolo compressor alemão passou por cima dos amigos do Neymar. Sete tentos a um, registrou o placar do Mineirão perplexo. Só não foi pior

porque o visitante pôs o pé no freio. Mas nem esse estrondo abala a CBF, que dá de ombros para a longa crise do futebol nacional. Enquanto você lê este texto, mais um gol da Alemanha... Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Continente argentino A seleção alviceleste fez do Brasil sua própria casa e quase venceu a decisão do Mundial contra a Alemanha. E a “colonização argentina” deixou a melodia do “Decime qué se siente” na cabeça de cada torcedor brasileiro. E veio a final da Libertadores, que brindou o San Lorenzo com a taça mais cobiçada das Américas. E o River Plate ressurgido das cinzas não deu chances ao bom time do Atlético Nacional na Sul -Americana. E a comemoração do Campeonato Argentino pelo Racing deixa o Brasil com água na boca, pois lá o futebol ainda é uma festa popular dentro dos estádios.

J.P.Engelbrecht/ PCRJ

to nacional do mundo. Deu no que deu. Se o Brasil bobear, eles chegam ao hexa primeiro.

Copa das Copas Reuniu e elevou à máxima potência tudo o que de ruim e de bom pode ter um megaevento da FIFA. Copa das remoções forçadas, das grandes corporações e do oportunismo e hipocrisia da oposição, que pegou uma boquinha na euforia que a Copa gerou – quando o Brasil foi eleito paíssede – e depois bancou o vira lata, dizendo que os brasileiros não seriam capazes de fazer nada dar certo. Por outro lado, foi a copa da confraternização estrangeira nas ruas, do bom futebol e do sucesso na organização do evento, coisas que

Fernando Pereira/SECOM SP

seduziram até quem poucos dias antes do evento tratava os apreciadores do esporte bretão como “alienados”.


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