Divulgação
Minas Gerais
Reprodução
13 CULTURA
15 ESPORTE
Sebastião Salgado na tela
Esporte contra a ditadura
Filme traz trajetória do fotógrafo na construção de “Gênesis”, projeto que junta imagens de diversas regiões do planeta
Tostão foi um dos atletas que se posicionou contra o governo antidemocrático instalado pelo golpe militar
02 a 09 de abril de 2015 • edição 81 • brasildefato.com.br/mg • distribuição gratuita
Pressão para avançar Reprodução / CUTMG
6 MINAS
Furnas vai para Lava Jato Mais uma vez foi solicitada a investigação de repasse a políticos, a maioria do PSDB, via esquema conhecido como “Lista de Furnas”
9 BRASIL
Quem é Rogério Chequer? Apontado pela mídia como líder do “Vem pra rua”, o empresário fez fortuna nos EUA e está envolvido com paraísos fiscais e com a CIA
5 MINAS
Conservadorismo na Câmara 4 e 8 MINAS
Profissionais da educação não aceitam proposta de receber o piso salarial apenas em 2018 e tiram indicativo de greve. Servidores da saúde também cobram compromissos firmados e podem paralisar atividades. “É importante todo mundo ir pra rua, porque é um direito legítimo pressionar o governo para que ele atenda às nossas pautas”, afirma Beatriz Cerqueira, em entrevista.
Suspeito de corrupção, deputado Eduardo Cunha defende redução de direitos e aposta em bandeiras reacionárias
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OPINIÃO
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
editorial | Brasil
Por que Eduardo Cunha tem medo do povo?
ESPAÇO dos Leitores
Recebi pela primeira vez o Brasil de Fato. Fiquei feliz: a inteligência crítica não morreu. Espero e peço a Deus que o Brasil de Fato a ressuscite nos “cristãos e católicos” (!) do dia 15. E não a deixe morrer nos pobres da periferia do dia 13 Padre Getúlio Mota Grossi
Esse congresso não me representa Que absurdo, um atraso de séculos Respectivamente Inês Oliveira e Rafael Carrieri comentando a matéria Redução da Maioridade Penal é aprovada, no Facebook
Qualidade de projeção excelente, assisti ‘Branco Sai, Preto Fica’ Fabian Melo Franco, comentando a matéria “104 reinaugura Cine com novos projetos”
Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br
O presidente da Câmara de De- minou com o Garotinho dizendo putados, Eduardo Cunha (PMDB que uma certa emenda parlamen-RJ), proibiu a participação da so- tar de Eduardo Cunha tinha inteciedade em audiências que a casa resses escusos e cheirava mal. legislativa vem realizando nos esMuda para o PMDB e reelegetados. Em São Paulo, mandou re- se para deputado federal em 2006. tirar representantes da socieda- Desde então, faz oposição a Dilde que pretendiam participar do ma. A desavença começa, já que evento. No Rio Grande do Sul, a a presidenta não nomeou um inaudiência que aconteceria no úl- dicado seu para Furnas. Vale lemtimo dia 30 teve brar que a nomede ser cancelada, ação não ocorreu depois de já ini- Eduardo Cunha é cria de em função de deciada. O que teme núncias que enPC Farias, do Collor Eduardo Cunha? volviam a estatal Os que pretene um grupo ligadiam se manifestar nas audiên- do a Cunha. cias buscavam denunciar a conAgora, como líder do PMDB e tra reforma política que o presi- presidente da Câmara, o deputadente da Câmara quer implemen- do foi parar na lista da Produratar. Queriam também defender a doria-Geral da República, no capunição ao crime de homofobia, so Lava Jato. Mas sua ficha corrio que Eduardo Cunha não aceita. da é longa. As críticas não têm vindo só das Em 2010, foi denunciado à Jusruas. Na última semana, o depu- tiça pelo Ministério Público Fetado foi acusado pelo então mi- deral, por usar documentos falnistro da Educação, Cid Gomes, sos, atestados pelo Instituto de que o chamou de Criminalística CarCunha quer legalizar los Éboli, em 2008. achacador. Para os desaviPor ser deputado, financiamento sados, achacador é seu processo foi empresarial de aquele que “achaenviado ao Supreca alguém, extormo Tribunal Fedecampanha quindo-lhe dinheiral (STF), mas, em ro. Ladrão vigarista. Autoridade agosto de 2014, arquivado. Suposque recebe dinheiro de gatunos.” tamente, não havia prova. Será? O ministro caiu, mas disse verdaEstá sendo bajulado pela imdes. prensa nacional porque encarna Foi Janio de Freitas, importan- o enfrentamento ao governo fete jornalista político, quem ad- deral, a oposição a Dilma e a provertiu: “Eduardo Cunha é cria de posta de um projeto político conPaulo César Farias, que o pinçou servador. do vácuo para a presidência da Cunha encarna o retrato da faentão Telerj, telefônica do Rio”. lência do nosso sistema político. Para quem não lembra, PC Farias Junto com seu partido, o PMDB, esteve envolvido nas maracutaias busca tornar legal o financiamende Fernando Collor de Mello. to empresarial de campanha, que, Eduardo Cunha foi, duran- todos sabem, é a principal fonte te quase toda a sua vida públi- de corrupção. ca, filiado ao PP, de Paulo MaCom um presidente da Câmaluf, conhecido corrupto brasilei- ra dos Deputados como este, fica ro. Cunha foi deputado estadual claro que não podemos esperar no RJ, eleito com ajuda de igrejas uma reforma política democrátievangélicas, e chegou a deputado ca deste Congresso. A saída virá federal em 2000. Sempre articu- pela mobilização popular. É isso lado com a direita, participou do que Eduardo Cunha teme. governo Garotinho, entre 1999 e 2002. A relação entre ois dois ter-
O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora também com edições regionais, em SP, no Rio e em MG. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.
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conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos , Adriano Ventura, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Carlos Dayrel, Cida Falabella, Cristina Bezerra, Deliane Lemos de Oliveira, Durval Ângelo Andrade, Eliane Novato, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Frei Gilvander, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho , Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Laísa Silva , Luís Carlos da Silva, Marcelo Oliveira Almeida, Michelly Montero, Milton Bicalho, Neemias Souza Rodrigues, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rilke Novato Públio, Rogério Correia, Samuel da Silva, Sérgio Miranda (in memoriam), Temístocles Marcelos, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Repórteres: Maíra Gomes, Pedro Rafael Vilela, Rafaella Dotta e Wallace Oliveira. Colaboradores: Acsa Brena, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira , João Paulo, Léo Calixto, Marcos Assis, Rogério Hilário, Sofia Barbosa. Fotografia: Larissa Costa Estagiária: Raíssa Lopes. Administração: Vinicius Moreno. Diagramação: Bruno Dayrell. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Tiragem: 40 mil exemplares.
CIDADES
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
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Pedala BH é debatido na Câmara DEMOCRACIA Ciclistas exigem mais participação em projeto do setor Breno Pataro / PBH
Da redação* Grupos organizados de ciclistas e representantes da BHTrans discutiram as diretrizes e perspectivas do Programa Pedala BH, na segunda (30), em reunião da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário. Localização das ciclovias, trajetos, sinalização adequada e a priorização de pedestres e bicicletas em algumas regiões da cidade foram temas de debate. O vereador Adriano Ventura (PT), que solicitou a reunião, explicou que o objetivo da audiência foi conhecer mais detalhadamente a etapa em que se encontra o programa “Pedala BH”, que integra o Plano de Mobilidade Urbana
Problemas no Projeto Bike BH, de uso compartilhado de bicicletas, foi um dos pontos de reclamação dos ciclistas
do município, analisando as rotas atualmente existentes, infraestrutura disponível, demandas ainda não atendidas e andamento de campanhas de incentivo ao uso da bicicleta na cidade. Na audiência, usuários e
membros da Associação de de Ciclistas de Belo Horizonte (BH em Ciclo) e Mountain Bike Barreiro defenderam a priorização e o estímulo ao uso da bicicleta, não apenas como prática esportiva, mas também para o deslocamento diário,
Servidores municipais entregam pauta geral à PBH DIREITOS Trabalhadores participam de assembleia geral da campanha salarial unificada de 2015 Reprodução / CUTMG
Rogério Hilário Trabalhadores do serviço público de Belo Horizonte aprovaram a pauta geral de reivindicações da Campanha Salarial unificada de 2015, em assembleia com paralisação realizada na manhã de terça (31), na Praça da Estação. O grupo saiu em passeata até a prefeitura, onde representantes dos sindicatos protocolaram a pauta. Os principais itens exigidos pela categoria são o reajuste de 25% para todos os servidores da ativa e aposentados, retroativo a 1° de janeiro; reajuste do vale-alimentação para R$ 30 e extensão para todos os servidores, independentemente da carga horária; reajuste do vale-lanche; e pagamento no quinto dia útil. As categorias aguardam uma
reduzindo a poluição sonora e atmosférica e promovendo mais saúde e integração do morador com a cidade. Eles apontaram os principais problemas observados e vivenciados nas ciclovias da cidade, como inadequação e desarticulação entre trechos, deficiências na sinalização, desrespeito de motoristas e motociclistas para com as bicicletas, pondo em risco a integridade e a vida dos condutores. Integração com transporte coletivo Os representantes da BHTrans confirmaram o recebimento de R$ 22 milhões do governo federal, incluídos no PAC Mobilidade, destinados à implantação de 150 km de ciclovias alimentadoras da
rede de transporte público, que deverão integrar o sistema cicloviário aos grandes corredores e às estações de ônibus e metrô. Bicicletas compartilhadas Outro tema em pauta foram as bicicletas compartilhadas do Projeto Bike BH, realizado em parceria com o Banco Itaú e a empresa Serttel. Para debater as reclamações sobre o sistema, como o número reduzido de veículos e a falta de manutenção adequada, as entidades de ciclistas informaram a realização de uma reunião para o próximo dia 8, às 18h30, no Hub BH, localizado à Rua Aimorés, 487, bairro Funcionários. (*Com informações da CMBH)
PERGUNTA DA SEMANA O domingo da Páscoa é ensinado, segundo o Cristianismo, como o dia em que Jesus Cristo ressuscitou, depois de ter passado 40 dias de penitência. Depois de milhares de anos e muitos ovos de Páscoa, inúmeras pessoas dão novos sentidos ao dia.
O que a Páscoa significa pra você?
“Se o prefeito não apresentar uma contraproposta, vamos deflagrar greve”
resposta do prefeito Marcio Lacerda (PSB) até o dia 28 de abril e farão nova assembleia geral no dia 6 de maio. “Nossas reivindicações são justas e plausíveis. Além disso, ainda temos itens pendentes da pauta do ano passado e das negociações dos agentes comunitários de saúde (ACS) e dos agentes de combate a endemias
(ACE), que entraram em greve em janeiro. Se o prefeito não apresentar uma contraproposta ou não der uma resposta satisfatória, vamos nos mobilizar e deflagrar a maior greve da história”, afirmou Israel Arimar, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel).
É uma data cristã e, apesar de não ser católico, eu tenho muito respeito. Hoje, o mercado confundiu as coisas, pra achar que a Páscoa são ovos de chocolate, mas não. São expressões da cultura do povo. Aruanã Silva, Designer gráfico
É lembrar da ressurreição de Cristo, ir à igreja. Mas estar com a família é o que mais importa. O pessoal está muito ligado nesse “zapzap”, na tecnologia. Os dias pra ficar junto com a família têm que ser valorizados. Elísia Patrocínio, Auxiliar de serviços gerais
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MINAS
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
Educadores em alerta PISO SALARIAL Proposta do governo não atende categoria, que aprova indicativo de greve Reprodução / CUTMG
Da redação
““A educação não aguenta mais esperar para ser priorizada.”
Educadores de todas as regiões do estado de Minas Gerais se reuniram na terça (31), em Assembleia do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (SindUTE/MG), em Belo Horizonte, para discutir as propostas apresentadas pelo governo em relação ao piso salarial e carreira. Em reunião com a categoria, na segunda (30), o governou sugeriu a criação do Adicional de Valorização da Educação Básica, que consiste em um aumento de 5% a cada cinco anos de exercício, contados a partir de janeiro de 2012.
Em relação ao piso, demanda antiga da categoria e promessa de campanha, propôs o aumento gradativo anual do salário, atingindo o piso nacional vigente em 2018. Os trabalhadores em educação avaliaram que a proposta não os atende porque não alcança o Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN), conforme determina a lei federal 11.738, e não corrige os problemas que a categoria enfrenta na atual carreira. Criticam, ainda, a não incorporação dos aposentados na proposta e o congelamento do plano de carreira. Essa posição será apresentada ao
governo na próxima reunião, no dia 9 de abril. A categoria também aprovou indicativo de greve. Da ALMG, onde foi realizada a Assembleia, os educadores saíram em passeata pelo centro da capital. A coordenadora-geral do Sind-UTE/MG, professora Beatriz Cerqueira, falou da insatisfação da categoria e afirmou que o resultado da assembleia reflete o sentimento dos trabalhadores. “A educação não aguenta mais esperar para ser priorizada. A proposta do governo, de abono, é insuficiente e os trabalhadores não estão dispostos a pagar de novo esta conta”, afirma.
Servidores da saúde podem “A universidade não é uma bolha” parar, caso governo não apresente propostas Larissa Costa
COMPROMISSOS Trabalhadores cobram reajuste salarial e redução da jornada Reprodução / Sind-Saúde
Em assembleia dos trabalhadores da saúde, realizada na terça (31), em Belo Horizonte, a categoria deliberou greve por tempo indeterminado, caso o governo não apresente propostas concretas. Os trabalhadores reafirmaram a prioridade da redução da jornada de trabalho, sem redução dos salários, o reajuste salarial referente à data-base de 2014, a revisão do plano de carreiras e o pagamento do prêmio de produtividade. O Sind-Saúde exige aumento de 6,59%, que repõe ao menos a inflação do período, para a data-base de outubro de 2014, e cobra um prazo para o pagamento do prêmio de produtividade referente a 2013. Cobra também a mudança dos gestores locais, já que muitos cargos de direção nas unidades continuam nas mãos de quem conduzia as políticas na ges-
tão anterior. Para os trabalhadores, esse é um sinal do continuísmo, e não da mudança anunciada pelo governo atual. A assembleia ocorreu um dia após reunião da direção do sindicato com o governo. A próxima reunião será no dia 24, na Cidade Admi-
nistrativa. Com base nos resultados dessa primeira rodada de negociações, a categoria avaliará o início do movimento grevista. A nova assembleia será no dia 28 de abril, às 10 horas. Para o dia 12 de maio, está prevista uma marcha cobrando as 30 horas.
O estudante de Ciências Sociais e integrante do Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG, Marco Gatti, comenta as recentes polêmicas envolvendo a venda e o consumo de drogas na faculdade. Depois de uma série de matérias do jornal Estado de Minas, a diretoria da Fafich resolveu fechar a sede do diretório por pelo menos seis meses, como medida para garantir a segurança, decisão criticada pelos alunos. Brasil de Fato MG: A venda e o consumo de drogas acontecem na faculdade? Marco Gatti - A venda e o consumo de drogas são uma questão da sociedade e devemos pensar quem é criminalizado e marginalizado por essa condição. A universidade não é uma bolha. Como é a participação de pessoas que não são universitárias na UFMG? Ainda temos um bloqueio físico e simbólico às pessoas externas à UFMG. É preciso pensar quem está nesse es-
paço e a quem uma universidade deve servir. Diante das medidas tomadas pela Diretoria da Fafich, quais são as próximas ações dos estudantes? Somos contra o fechamento do Diretório Acadêmico Idalísio Soares Aranha Filho, porque não é a solução para o problema. Assim como não é simplesmente aumentar o efetivo de segurança, sem que haja um treinamento e formação para esses profissionais. Proibir festas e eventos também não adianta, porque elas vão acontecer de qualquer jeito. Sempre cobramos investimento em iluminação do campus, por exemplo, além de aumentar o investimento nas condições de salas de aula e estudo e melhorar a qualidade e extensão do tempo de oferta de serviços básicos, como cantina e xerox. Estamos propondo abrir o diálogo, envolver os núcleos de extensão, professores, funcionários, estudantes, todos os envolvidos no cotidiano da universidade, para construir propostas efetivas de inclusão e enfretamento aos problemas.
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
Agricultura familiar tem secretaria própria no estado Reprodução / MST
Maíra Gomes
Os movimentos reivindicam a criação de uma política de produção, distribuição e comercialização de alimentos sadios nas. O novo governo começou os diálogos e criou a secretaria, o que é um ganho”, aponta Samuel da Silva, assessor técnico da Cáritas Minas Gerais, entidade que atua na zona rural junto a agricultores e comunidades tradicionais.
Samuel frisa que a criação é apenas um passo. “Falta acesso a créditos e assistência adequada, além da falta de acesso à terra. É preciso garantir que as políticas necessárias para o campo sejam de fato desenvolvidas”, destaca. Os movimentos reivindicam a criação de uma política de produção, distribuição e comercialização de alimentos sadios. “Precisamos de assistência técnica de qualidade, política de agroindústria, mas o ponto central é o acesso à terra. é preciso cuidar da regularização fundiária de Minas, que é um caos”, sublinha Joceli Andreoli, da Via Campesina, uma articulação de movimentos camponeses. Plano Técnico em agropecuária, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governa-
mental e antigo superintende regional do Incra, Glênio Mariano é o novo secretário. Ele conta que o orçamento para a regularização fundiária da gestão tucana era pífio, de apenas R$ 20 mil em 2014. “Estamos construindo um plano estadual de regu-
“Uma das principais expectativas é retomar o processo de regularização fundiária rural”, diz novo secretário larização fundiária. Colhemos as sugestões dos movimentos do campo, e o plano será apresentado em breve”, afirma o secretário. Ele promete potencializar o programa de crédito fundiário rural, outra forma de acesso à terra.
Políticas para agroecologia Os movimentos do campo exigiam que a Empresa de Assistência Técnica (Emater) e a Fundação Rural Minas fossem assumidas pela nova secretaria, para que estivessem a serviço da agricultura familiar. No entanto, apenas a última será retirada da SEAPA. “Os movimentos têm que manter a pressão sobre o governo, para garantir que a Emater tenha ca-
da vez mais recursos técnicos votados para atender a agricultura familiar, em um modelo agroecológico. Isso vai ser uma luta permanente, os interesses contrários estão lá dentro também”, reforça Beatriz Carvalho, presidente do Conselho Regional de Nutricionistas de Minas Gerais. O novo secretário, Glênio Mariano, afirma que, mesmo que siga sob o contro-
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Artigo
CAMPO Acesso à terra e políticas de incentivo à produção são gargalos
Está aprovada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais a Reforma Administrativa, que apresenta uma série de mudanças na estrutura do governo. Entre elas, a criação da Secretaria de Desenvolvimento Agrário. A secretaria é fruto da reivindicação de movimentos do campo, que se reuniram em torno de uma plataforma comum, apresentada ao novo governo. Até então, o debate da agricultura familiar se dava dentro de uma subsecretaria, de mesmo nome, vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SEAPA). “Os últimos 12 anos foram de total falência em relação à agricultura familiar e reforma agrária em Mi-
MINAS
le da SEAPA, a Emater terá um acompanhamento direto e parceria constante com a Secretaria de Desenvolvimento Agrário. “A empresa faz um trabalho de grande relevância para o estado e, agora, com o novo governo, que vai dar atenção especial à agricultura familiar, a Emater passa a ter um papel muito mais estratégico dentro do governo”, afirma.
Na contramão da história O deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), presidente da Câmara dos Deputados, tem a habilidade de estar sempre no lado errado. Conservador, defensor de bandeiras reacionárias, homofóbico, é capaz de proferir absurdos que afrontam a inteligência e a honra. O que alguns teóricos chamam de democracia de coalização, com Eduardo Cunha ganha melhor descrição como pura e simples operação de achaque. Não se trata de uma negociação de apoio em troca de responsabilidades na gestão ou na condução de um projeto, mas de um jogo explícito de “toma lá, dá cá”. Assim, a afirmação de Cunha de que “finge que é governo” talvez seja o mais honesto de seus atos recentes. A bordo de um parlamentarismo com muitos tons de cinza, ele tem se esmerado em dificultar a governabilidade, atento sempre ao limite de seu partido em operar com desenvoltura nos bastidores. Sem quadros competentes ou ideologia clara, o PMDB se especializou em atuar atrás da porta. É só por isso que Cunha e Renan não defendem o impedimento da presidenta: seria um ato de suicídio, como o parasita que destrói o hospedeiro num momento de descuido. Evangélico, o deputado se mostra bastante seguro dos valores retrógrados de sua base para falar em “Dia do Orgulho Hétero”. Ou vociferar contra o projeto de lei de Jean Wyllys (PSOL/RJ), que auto- Sem ideologia clara, o riza o aborto em até PMDB se especializou 12 semanas no SUS e na rede privada. O em atuar atrás da porta presidente, extrapolando sua função de viabilizar o debate parlamentar, afirmou que a matéria só seria aprovada “por cima de seu cadáver”. No entanto, na votação pela admissibilidade da redução da maioridade penal, aprovada na CCJ, garantiu empenho na condução do processo. Há algo que unifica os dois casos: a ameaça de morte da população mais pobre. No caso do aborto, pela clandestinidade dos procedimentos; no que diz respeito à antecipação da maioridade penal, pelo foco na população de maior risco de violência. Nas duas situações, morrem jovens, pobres e negros. Nos dois momentos, a visão conservadora (em termos morais, no aborto, e sociais na segurança) se transforma numa operação fascista. Fazer um projeto andar para atender a clamores do ódio e impedir que o outro siga seu fluxo por questões religiosas que afrontam a laicidade do Estado mostra bem o espectro de atuação do deputado carioca. Eduardo Cunha não é apenas um parlamentar de direita, conservador e afeito ao jogo do poder. Trata-se de um homem habilidoso, que domina a dinâmica do Congresso e que, mesmo sob investigação por suspeita de corrupção, navega com soltura em todos os ambientes. Sua afronta ao Ministério Público, escudada pela aprovação corporativa de seus colegas, foi um dos mais tristes espetáculos da vida republicana recente. O deputado parece disposto a se lançar a novos desafios. Paparicado pelos pares, achou que poderia receber a mesma recepção dos cidadãos brasileiros e se dispôs ao trabalho itinerante. Tem sido recebido de forma irada por onde quer que passe. Somos capazes de eleger péssimos deputados, mas sempre é hora de corrigir a rota. Poderoso, articulado e tinhoso, não se deve subestimar Eduardo Cunha. Mas não há razão para temê-lo.
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MINAS
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
Lava Jato levanta denúncias contra Aécio Neves
CORRUPÇÃO Documentos apontam que senador foi um dos principais beneficiados no esquema da “Lista de Furnas” Rafaella Dotta do estadual Rogério Correia (PT-MG), presente na visiUm novo pedido de inves- ta, o procurador atendeu ao tigação a Aécio Neves, sena- pedido dos parlamentares e dor pelo PSDB de Minas e promete estudar as provas presidente da sigla, foi en- apresentadas. “É impressiotregue à Procuradoria-Ge- nante que somente agora a ral da República, com docu- Procuradoria-Geral da Prementos que comprovariam sidência tenha se debruçasua participação em esque- do sobre este tema, que já ma de R$ 40 milhões. Esse possui denúncia do Minisnão é o único pedido na Jus- tério Público Federal desde tiça que envolve o candidato 2012”, diz. derrotado à Presidência. Há O Sindicato dos Advotrês anos, promotorias do gados de São Paulo (SASP) Ministério Público, parlamentares e organizações so“Tem crime, ciais solicitam que a “Lista corrupção, envolve de Furnas” seja investigada. Cinco deputados visita- um senador, é dever ram o Procurador-Geral da República Rodrigo Janot, na da Procuradoria abrir quarta-feira (31), para reuma investigação” querer a abertura de uma investigação sobre denúncias também requereu investide que Aécio Neves recebeu gação, enviada a Janot em propina da empresa Furnas 26 de março. “Tem crime, Centrais Elétricas, quando corrupção, envolve um seera candidato a governador, nador, é dever da Procuraem 2002. A acusação foi fei- doria abrir uma investigata pelo doleiro Alberto Yous- ção”, afirmou Aldimar de Assef, durante apuração da La- sis, presidente do SASP. Ele va Jato, mas foi arquivada explica que, por se tratar de em 3 de março por Janot. um senador, apenas o SuDe acordo com o deputa- premo Tribunal Federal po-
de dar início e julgar o processo. “A intervenção do Dr. Janot é a nossa grande esperança para que, finalmente, sejam abertas as investigações contra Aécio Neves”, reforça Rogério Correia. Provas do caso Os parlamentares afirmam que são duas as provas principais: a declaração do doleiro Youssef, trazida à tona pela Lava Jato, e uma lista que prova o repasse de dinheiro a políticos, com nome, partido e valor endereçado a cada um. Esta lista foi questionada na Justiça pelo PSDB, mas foi considerada autêntica pela Polícia Federal em 2006. “Além disso, existem depoimentos de políticos que confirmam terem recebido os recursos”, complementa o deputado federal Padre João (PT-MG). De acordo com ele, há indícios de que a distribuição do dinheiro teria sido organizada pelo então presidente de Furnas, Dimas Toledo, que visava a se manter no cargo.
Documento, que possui cinco páginas, mostra políticos beneficiados no esquema
PSDB teria sido maior beneficiado Dentre os 156 políticos, os mais beneficiados com o esquema foram: José Serra (PSDB), que era candidato à presidência da república; Aécio Neves (PSDB), candidato a governador de Minas Gerais; e Geraldo Alckmin (PSDB), candidato a governador de São Paulo. Juntos, eles teriam recebido R$ 21 milhões. Aécio aparece como beneficiário de R$ 5,5 milhões, quantia repassada em uma única parcela.
DIVISÃO Partido ficou com 68% dos R$ 39,9 milhões envolvidos no caso De acordo com “Lista de Furnas”, Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin receberam mais de 50% das propinas Denúncias e documentos apontam que 156 políticos receberam doações da empresa Furnas Centrais Elétricas, totalizando R$ 39,9 milhões, entre 1994 e 2002. O esquema previa o repasse de dinheiro para campanha, por meio de licitações superfaturadas da empresa Furnas Centrais Elétricas S.A. Dos políticos que constam na “Lista de Furnas”,
47 são do PSDB. Além de ter mais nomes envolvidos, o PSDB figura também como o partido mais beneficiado, tendo recebido 68,3% do total. O advogado Aldimar de Assis explica que, se for confirmado o repasse ilegal aos políticos, eles podem ser acusados por corrupção ativa, corrupção passiva e formação de quadrilha. As penas para esses crimes podem ser a perda de direitos políticos, pagamento de multa e devolução de verba à estatal Furnas.
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PSDB
PFL
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15
11
13
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PL
PTB
OUTROS
50 40 30 20 10 0 PP
PMDB
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
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OPINIÃO
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Na edição 80... Especialistas criticam proposta de redução da maioridade penal ...E agora A Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara aprovou, na terça (31), a proposta de emenda à Constituição que reduz a maioridade penal no Brasil, de 18 para 16 anos. Mesmo sob protestos de manifestantes, foram contabilizados 42 votos a favor e 17 contra. Para avançar, a proposta necessita passar por análise de comissão especial de deputados que analisam o conteúdo da PEC - o que deverá durar cerca de dois meses. Se aprovado, o texto segue para o plenário, onde deverá ser votado pelo mínimo de 308 deputados (de um total de 513). Na edição 74... Menos oportunidade de ingressar no ensino superior ...E agora As novas regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) entram em vigor nesta segunda-feira (30) para novos contratos. Agora, para fazer a inscrição, o estudante deverá ter nota mínima de 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio e não ter tirado nota zero na redação. O prazo de inscrição e para o pedido de aditamento de contrato de quem já tem o Fies termina no dia 30 de abril. As inscrições devem ser feitas no site do Fies. Cerca de 200 mil estudantes conseguiram se inscrever no programa antes de a nova regra entrar em vigor.
Violência e cerceamento da liberdade de expressão marcaram a passagem de Eduardo Cunha (PMDB) por São Paulo, na sexta (27). Na foto, integrante da campanha pela “Constituinte do Sistema Político” é retirado de audiência pública que discutiria a Reforma Política. A retirada de manifestantes tem sido utilizada em diversos debates promovidos pelo projeto “Câmara Itinerante”.
Juiza Kenarik Boujikian
Dom Demétrio Valentini
Devolve, Gilmar!
O Papa e a Páscoa
O Brasil necessita de uma real reforma política, a ser feita por eleitos para este fim específico e sem que o sejam às custas de empresas. Este desafio não pode ser exercido por este Congresso. Um dos meios de exercício do poder se dá através dos representantes eleitos para o Legislativo e Executivo. Mas quem, de fato, está exercendo este poder? O povo brasileiro ou as empresas? A resposta está dada: nas eleições presidenciais de 2010, 61% das doações da campanha eleitoral tiveram origem em 0,5% das empresas brasileiras. Só uma construtora doou, para diversos candidatos, o montante de R$ 50 milhões. Forçoso concluir que o sistema eleitoral está alicerçado no poder econômico, o que não pode persistir. Para que se tenha uma eleição justa e democrática, é necessário respeitar a máxima “uma pessoa, um voto” e acabar de uma vez por todas com o “mais ciPrecisa acabar o frões, mais votos”. “mais cifrões, mais Não por outro motivo, o votos” Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil ajuizou ação direta de inconstitucionalidade (ADI 4650), em setembro de 2011, e requereu a limitação das doações de pessoas físicas (muitas vezes, do próprio candidato) e a proibição das pessoas jurídicas (empresas) de participarem do sistema eleitoral. Em dezembro de 2013, o processo entrou em julgamento. Seis ministros (portanto, já configurando a maioria) votaram contra o financiamento por empresas. Na sequência, em abril de 2014, o ministro Gilmar Mendes exerceu o direito de vista, mas, desde então, o processo está paralisado. Durante a votação, ministros apresentaram os fatos: não se pode acreditar no patrocínio desinteressado das pessoas jurídicas. As doações empresariais já impactaram as últimas eleições. Espera-se que não interfiram nas seguintes. Kenarik Boujikian é magistrada no Tribunal de Justiça de São Paulo e cofundadora da Associação Juízes para a Democracia.
O início do pontificado do Papa Francisco teve a feliz coincidência de acontecer na reta final da quaresma, quando as celebrações litúrgicas propiciam um simbolismo fecundo, apontando valores muito importantes, que servem de referência para todo um programa de governo eclesial. De certa maneira, dá para dizer que o Papa Francisco, nesses seus primeiros dias de Bispo de Roma, escolheu as referências que traçam a linha do seu pontificado. Usou gestos e palavras, que servem de parâmetro, para “formatar” esta linha. Foi estratégica a escolha do seu nome. Foi sua primeira decisão, depois de ter aceito sua eleição. Tendo São Francisco como referência, foi colecionando gestos e palavras que foram cimentando as primeiras impressões positivas. Para sinalizar sua vontade de encontrar granPáscoa são gestos de des consensos com a humanidade de hoje, ele- simplicidade e bondade geu a ecologia, terreno em que coincidem as causas da Igreja e da sociedade. Reaproximando a Igreja das grandes questões que afligem a humanidade, mergulhada em crise profunda. Nesta perspectiva, tomam sentido os gestos de simplicidade, de despojamentos e de bondade que o Papa Francisco veio fazendo nestes dias, numa evidente intenção de seguir o roteiro vivido pelo Papa João XXIII. Nesta semelhança com o “papa da bondade”, se entende, por exemplo, sua decisão de celebrar a missa do “lava-pés”, no Instituto Penal para menores Casal Del Marmo. Atitude que popularizou João XXIII, através da sua visita aos detentos, no presídio de Roma. Depois da Páscoa, a Igreja leva sua fé para o cotidiano da vida. Depois dos gestos e das palavras animadoras, o Papa Francisco precisa tomar suas primeiras iniciativas práticas. Como pediu nossas orações, não lhe faltará nosso apoio para implementar suas decisões. Dom Demétrio Valentini é bispo de Jales (SP).
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BRASIL
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
Líder do “Vem pra Rua” tem ligações com a CIA
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Bombou na Rede
PERSONALIDADE Rogério Chequer chegou ao Brasil há poucos anos e já é tido como “porta voz das ruas” Reprodução
Maíra Gomes Os movimentos que vão para as ruas em manifestações no Brasil têm intenções. No dia 13 de março, foram os movimentos sociais, que lutam por direitos sociais. Desde a convocação, assumiram os atos desse dia uma série de organizações, como o MST, e centrais sindicais, como a CUT. Já os atos do dia 15 de março - com nova data marcada, 12 de abril -, demoraram a ter alguém que admitisse sua convocação. Mas, na semana seguinte, pipocavam grupos que diziam organizar as pessoas e elencar os principais pontos de reivindicação, como a intervenção militar e o impeachment da presidenta Dilma.
Rogério aparece em lista da empresa de inteligência ligada à CIA, divulgada pelo Wikilieaks Um destes movimentos, citado pela mídia como o mais moderado, o “Vem Pra Rua” teve seu líder, o empresário Rogerio Chequer, de 46 anos, presente em diversos veículos de comunicação nas últimas semanas. Em entrevista para as páginas amarelas da revista Veja, afirma que “o movimento é suprapartidário” e que “a partir do momento em que nos aliarmos a algum nome ou sigla, criaremos conflitos de interesse”. No entanto, Chequer aparece num vídeo recente ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pedindo votos ao então candidato Aécio Neves. Em uma das imagens de seu Facebook, uma que se destaca é da campanha de 2014, ao lado do senador José Serra.
Apesar de afirmar que movimento é “suprapartidário”, Rogério Chequer fez campanha para Aécio Neves e José Serra
Essas e outras incoerências do empresário têm movimentado os noticiários e as redes sociais. Em matéria publicada na página Tijolaço, o jornalista Fernando Brito apresentou uma investigação que fez sobre Rogério Chequer. Ele apura que, até poucos anos atrás, o empresário vivia nos Estados Unidos. Lá, Rogério era sócio de uma empresa chamada “Atlas Capital Manegement”, que geria fundos de investimento. Um deles, o Discover Atlas Fund, possui US$ 115 milhões em ativos, segundo o site Institutional Investitor. Ou seja, ele era operador de mercado financeiro nos EUA. Com todo esse patrimônio no exterior, ainda assim Chequer resolve vir para o Brasil, em 2012, para se associar à pequena agência de publicidade de um primo, onde trabalha ensinando outros executivos a fazer simples apresentações em Power Point. Chequer e a CIA Em fevereiro de 2012, muito antes que nascesse o “Vem pra Rua”, o nome de Rogério Chequer apareceu na lista de e-mails da em-
presa de privada de inteligência global Statfor, que repassa informações políticas a empresas e agências governamentais americanas e é associada diretamente com a Agência Central de Inteligência dos EUA, a CIA. A lista foi divulgada pela página Wikileaks. Chequer, que até então não teria nenhuma razão para ser envolvido em assuntos políticos, está na 13ª linha do arquivo e aparece identificado com a companhia “cyranony”. A Cyrano NY, registrada como “companhia estrangeira” no Es-
tado de Delaware, é um paraíso fiscal dentro do território americano, e é assim reconhecida até pela Receita Federal brasileira. Como seu registro é de “empresa estrangeira”, não há nomes citados. Portanto, não é possível saber se a empresa tem a algo a ver com Chequer para ser assim mencionada nos arquivos da Stratfor. Ainda assim, o empresário não explica essas ligações e tampouco informa com clareza de onde vêm os recursos financeiros do “Vem Pra Rua”.
Ligações inexplicadas Entre os integrantes da empresa da qual Chequer era sócio, a “Atlas Capital Manegement”, está um ex-diretor do Banco Central, Luiz Augusto de Oliveira Candiota, que se demitiu do cargo rebatendo denúncias, feitas pela revista Isto É, de ter uma conta não declarada no exterior. Desde 2012, há um processo aberto contra ele e os sócios pelo fundo “Discovery Capital Management” e seu dirigente Robert Citrone. Segundo investigações de Fernando Brito, Chequer era sócio de Citrone, um dos bilionários da lista da @1 bilhão. Forbes, com riqueza superior a US$
Repórter dá “puxão de orelha” em torcedor Gabriela Moreira, jornalista do canal ESPN, deu uma bronca ao vivo em um torcedor do Palmeiras, quando perguntava sobre o jogo do dia 25 de março. O torcedor havia respondido que “a expectativa é ganhar dos bichas hoje”, se referindo aos torcedores do São Paulo. A jornalista logo emendou: “Rapaz, vou te falar uma coisa, não sei se vai ganhar. Mas com esse bicha? Não à homofobia, né? Você tem quantos anos? Por favor, vamos tentar modernizar este pensamento”.
Novo ministro comemora sua indicação O novo ministro da educação, Renato Janine Ribeiro, usou seu perfil no Facebook para comentar a indicação feita pela presidenta Dilma Rousseff na sexta-feira (27). A postagem fez sucesso e chegou a 30 mil curtidas. O ministro escreveu sobre a importância da educação para o Brasil e se comprometeu com dedicar à análise dos documentos governamentais. “Afinal, como pode alguém ir para a Educação se não começar estudando?”, diz.
BRASIL
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
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Projeto de Lei pode liberar terceirização CONFLITO No dia 7, Câmara vota PL 4330, que tem aprovação de empresários e resistência de trabalhadores Reprodução / Anamatra
Hylda Cavalcanti Rede Brasil Atual - RBA O primeiro embate concreto, no Congresso Nacional, entre os representantes dos trabalhadores e o empresariado está programado para acontecer em abril – no próximo dia 7, caso não seja acertado um adiamento da data – e consistirá num jogo de forças apertadíssimo para as centrais, a base aliada do governo e os trabalhadores. Trata-se da votação do Projeto de Lei 4.330, de 2004, que regulamenta a atividade de terceirização no país. A tramitação do PL do ex-deputado e empresário Sandro Mabel (PMDB-GO) foi interrompida várias vezes, mas, agora, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB -RJ), garante que o texto será votado. De um lado, está a chamada bancada dos traba-
te da empresa contratante. O temor dos especialistas em trabalho e emprego é de que isso leve à pulverização das organizações e representações dos trabalhadores – acarretando em rebaixamento das condições de
O Humanos Diretitos (MHuD) produziu vídeo com diversos atores alertando para riscos da PL 4330
lhadores, formada por 51 deputados, bem menor que a da legislatura anterior. Do outro, 220 deputados que integram a bancada empresarial. Precarização A terceirização na atividade-fim é considerada o principal item de debate so-
Atos em todo o país pedem que Gilmar Mendes desengavete ação
bre o PL 4.330. Não é só isso, porém, que assusta a bancada dos trabalhadores, mas os seus reflexos. Ao liberar a terceirização completa nas empresas, o projeto permitirá a substituição dos atuais 45 milhões de trabalhadores contratados diretamente por prestadores de serviços, aumen-
tando a rotatividade e o trabalho eventual e precário. Outro item do PL estabelece que os salários, benefícios e demais direitos devem ser diferenciados, de acordo com a natureza da atividade desempenhada, mesmo que o trabalho seja prestado de maneira idêntica e no mesmo ambien-
De um lado, está a bancada dos trabalhadores, com 51 deputados. Do outro, 220 na bancada empresarial vida da classe trabalhadora. O texto autoriza subcontratações de empresas e traz de volta a questão da chamada “PJotização” do mercado de trabalho brasileiro, mediante a remuneração por meio da apresentação de notas fiscais. Também legaliza os atuais correspondentes bancários.
Confira o especial do Brasil de Fato sobre os 51 anos do Golpe Militar Veja cobertura em textos, fotos e vídeos em www.brasildefato.com.br e curta em #especialbrasildefato
REFORMA POLÍTICA Ministro impede votação de ADI que prevê fim do financiamento empresarial de campanha Da redação* No dia 2 de abril, completa um ano que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes engavetou a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4650, que prevê o fim do financiamento empresarial de campanha. O julgamento contabilizava seis votos a um pelo fim de doações de empresas a candidatos e partidos políticos,
quando o ministro pediu vista do processo que, até hoje, ele não devolveu.
“Financiamento privado é o cerne da corrupção” A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pressionam para que o entrave seja resolvido o mais rápido
possível. Além disso, movimentos sociais e centrais sindicais de todo o país realizam protestos pedindo a votação do caso. Na quarta-feira (1), acontece em Brasília (DF), na Praça dos Três Poderes, ato que faz parte da campanha nacional “Devolve Gilmar”
e a favor da reforma política. É o que explica Ismaél Cesar, dirigente da CUT da região: “o objetivo é solicitar que o ministro devolva esse processo imediatamente, para que seja completada a votação. O centro da reforma, para nós, é o fim do financiamento pri-
vado das campanhas, porque é o cerne do processo de corrupção”. No Facebook, um evento que organiza uma festa falsa de aniversário para “um ano do ‘perdido’ de vista” conta com mais de 10 mil pessoas confirmadas. (* com informações da CUT).
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MUNDO
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
2014 foi o ano que Israel mais matou palestinos desde 1967
Imagem da Guerra Civil Síria
PALESTINA Dados da ONU mostram que violência subiu de forma geral Reprodução
Opera Mundi Israel matou mais civis palestinos em 2014 do que em qualquer outro ano, desde que a ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza começou, em 1967. Foi o que revelou um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas). Intitulado “Vidas Fragmentadas”, o documento atesta que a atuação israelense na Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental resultou na morte de 2.314 palestinos e 17.125 feridos no ano passado, aponta o Ocha (Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários). Para as Nações Unidas, a operação “Margem Protetora” - que aconteceu entre
julho e agosto passado, em Gaza - foi a grande responsável pelo aumento dramático de fatalidades. Durante 50 dias, a ofensiva tirou a vida de 2.220 palestinos, dos quais 1.492 eram civis, 605 eram militantes do grupo islamita Hamas e outros 123 não foram identificados. Do lado israelense, morreram 71 pessoas - militares, em sua maioria. No auge do conflito, mais de 11 mil pessoas ficaram feridas e cerca de 500 mil foram deslocadas internamente. O relatório ainda nota um aumento considerável no uso das forças armadas israelenses de munição letal, que respondeu por quase todas as mortes e 18% das lesões. A respeito de prisões, o número de
palestinos mantidos em detenções administrativas israelenses subiu 24% em 2014, mas diminuiu, em se tratando de crianças. Incidentes de violência de colonos contra palestinos aumentaram. Por outro lado, ataques palestinos contra civis e forças de segurança israelenses também se elevaram em 2014, resultando na morte de 12 pessoas.
Na Síria, uma menina confundiu a máquina fotográfica de um jornalista com uma arma. Num gesto instintivo, levantou os braços em jeito de rendição e tornou-se imagem de um conflito que se arrasta. O Campo da Oliveira é um acampamento no norte da Síria, onde a guerra civil já matou mais de 200 mil pessoas desde 2011, incluindo o pai da menina.
ENTREVISTA 11
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
“Pressionar é tentar trazer o governo para a esquerda” POLÍTICA Presidenta da CUT MG critica lentidão do governo estadual e medidas do governo federal que retiram direitos Rogério Hilário
Joana Tavares Coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação, o Sind-UTE/ MG, e presidenta da Central Única dos Trabalhadores no estado, Beatriz Cerqueira não hesita em dizer: a saída é pressionar. Tanto em relação ao governo estadual como o federal, a dirigente sindical defende que é necessária uma agenda de mobilizações dos movimentos sociais para cobrar e defender um projeto que efetivamente seja voltado para as trabalhadoras e trabalhadores. “É importante todo mundo ir pra rua, porque o que está acontecendo no país afeta todo mundo e é um direito legítimo pressionar o governo para que ele atenda nossas pautas”, diz, chamando para mobilização no dia 7 de abril.
“Se não se alterar essa relação de salário e carreira, vamos continuar fadados ao caos na educação pública” Brasil de Fato – Os professores foram uma categoria fundamental na eleição do ano passado, denunciando a política do PSDB em relação à educação. Pimentel se comprometeu com diversas pautas, mas parece que ainda não foram cumpridas. Como você tem avaliado isso? Beatriz Cerqueira – O governo errou muito nesse primeiro trimestre no processo de negociação. É preciso reconhecer que há negociação, mas a categoria tinha uma expectativa de uma ruptura maior com as práticas do governo anterior e isso não está acontecendo com a velocidade es-
mo, hipocrisia a direita fazer uma defesa daquilo que não pratica. É fundamental que tenhamos uma agenda de mobilização. Acho que parte do movimento sindical se acomodou nas estruturas ao longo de uma década. Nós nos tornamos mais corporativos, temos dificuldade de agregar pautas mais gerais. Esse compromisso de origem dos nossos sindicatos, que surgiram contra o peleguismo, é fundamental para o movimento sindical na conjuntura de 2015. Beatriz Cerqueira: “É fundamental que a luta contra o Projeto de Lei 4330, que é o da terceirização sem limites, seja uma agenda de toda a sociedade”
perada. Existe um sinal de alerta ligado que eu, sinceramente, espero que tanto o governo quanto o diretório estadual do PT saibam enxergar. Estamos negociando conceito de piso com o governo de estado e isso é impensável. O governo quer reconhecer piso apenas para o ensino superior e a lei é clara que é também para nível médio. O governo não consegue ter a percepção de que precisa dar respostas mais rápidas para os problemas de carreira. Se não se alterar essa relação de salário e políticas de carreira, vamos continuar fadados ao caos na educação básica pública. Para além da educação, qual sua avaliação do novo governo? Ele assumiu compromissos com o conjunto da classe trabalhadora: a discussão do desenvolvimento econômico regional, a pauta do piso salarial do salário mínimo regional, pautas relacionadas à saúde, de investimentos públicos, de não terceirização... Até agora, o governo não conversou conosco enquanto Central Única dos Tra-
balhadores no sentido de ter uma agenda propositiva. O que avançou no caso da CUT é agenda com a Secretaria de Desenvolvimento Social. É muito lento esse processo de diálogo e proposições.
“Todas as vezes em que houve a decisão de não pressionar, nós perdemos” Em relação ao cenário nacional, como você vê o papel das centrais sindicais, nesse momento complicado, em que o governo federal é pressionado pela direita e, por outro lado, coloca medidas de retirada de direitos dos trabalhadores? Eu acho que todas as vezes em que, enquanto sindicatos, enquanto centrais, houve a decisão de não pressionar, nós perdemos. Pautas importantes ficaram adormecidas nas gavetas do governo federal na última década. E pressionar, na minha opinião, não é alimentar pautas da direita. Pressionar é tentar trazer
o governo para a esquerda. Porque até agora só os trabalhadores estão pagando a conta do ajuste fiscal. E o governo paga por não ter realizado reformas estruturais importantes, como a dos meios de comunicação, da reforma tributária, a taxação das grandes fortunas, das heranças. Então, para fazer qualquer ajuste, tinha que ter começado por quem tem mais e não de quem tem menos.
“É importante lembrar que a direita nunca defendeu ética na política, nunca defendeu honestidade nos gastos públicos”
É nessa linha que está sendo construído o ato do dia 7? Qual o objetivo dessa ação? Acho que foi acertada a mobilização do dia 13 de março e também muito acertada a convocação do Você avalia que há um dia 7 de abril. É fundamenrisco real de as forças con- tal que a luta contra o Proservadoras darem um gol- jeto de Lei 4330, da terceiripe ou conseguirem uma zação sem limites, seja uma renúncia? agenda de todo o movimento social, sindical e juventuEu acho que, nessa con- de. Porque esse projeto não juntura, tudo é possível. Por é um problema só do moviisso, é cada vez mais neces- mento sindical, é um prosário que os movimentos blema da sociedade. É um se articulem. Que pressio- projeto que vai aumentar as nemos para que o gover- mortes por acidentes de trano tenha posturas mais à balho, vai jogar a juventude esquerda, mais coerentes em condições piores de tracom quem o elegeu. É im- balho, vai jogar uma masportante lembrar que a di- sa de trabalhadores numa reita nunca defendeu éti- condição pior. É importante ca na política, nunca defen- todo mundo ir pra rua, pordeu honestidade nos gas- que o que está acontecendo tos públicos. Os esquemas no país afeta todo mundo e de corrupção são antigos e é um direito legítimo presfazem parte da estrutura do sionar o governo para que Estado. Então, é, no míni- ele atenda às nossas pautas.
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CULTURA
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
AGENDA DO FIM DE SEMANA POESIA
Visita Teatralizada
Cinema e Rock
Fotografia
Uma homenagem à poesia africana de língua portuguesa em “Portuguesia Guiné-Bissau”, no Café com Poesia. Às 19h30, na quintafeira (2), no Museu das Minas e do Metal, Praça da Liberdade.
A história do prédio do Centro Cultural Banco do Brasil e seus detalhes arquitetônicos são apresentados ao público por personagens de época. No sábado (4), às 18h, na Praça da Liberdade.
Filmes com aspectos de diferentes gerações do rock na mostra ‘Cinema e Rock’n Roll – III’. No domingo (5), o filme-musical “Hair”, de 1979, às 20h15. No Cine Humberto Mauro, av. Afonso Pena, 1537.
A rodovia BR-381, em imagens que abordam a relação do ser com a paisagem. ‘Paisagem Ambulante 381’, no Centro de Arte e Fotografia, av. Afonso Pena, 737. De segunda a sábado, até as 21h. Domingo, a partir das 16h.
Segunda a quinta-feira PARTO NORMAL
CINEMA ENGAJADO
A exposição ‘Sentidos do Nascer’ apresenta de forma divertida e interativa os benefícios do parto normal e denuncia o aumento da cesárea no Brasil. No Parque Municipal, av. Afonso Pena, das 9h às 17h.
BOA DA SEMANA
A 3ª Mostra “Ditadura na Tela“ traz, na terça (7), às 19h, o documentário que mostra a greve realizada pelos metalúrgicos do ABC paulista em março de 1979. No Centro de Referência da Moda, Rua Bahia, 1149.
CORAL
Para valorizar o canto coral, mais de 250 coros de diversos municípios mineiros se encontram no ‘Coral Quatro Cantos’, na quarta (8), às 19h30. Na Basílica Nossa Senhora de Lourdes, Rua da Bahia, 1596.
FOTOGRAFIA
Celebrações da Semana Santa no Barreiro, marcada por belas encenações que comoviam os fiéis nas décadas de 1950 e 1960. “Santuário São Paulo da Cruz” está no Via Shopping Barreiro, av. Afonso Vaz de Melo, 640.
Com a boca, pintura de esperança Sérgio da Silva nasceu na periferia de Belo Horizonte e ficou tetraplégico no ano de 1997. Em 2010, ele descobriu a Associação dos Pintores com a Boca e os Pés (APBP) e mudou todos os propósitos e perspectivas de sua vida. Naquele mesmo ano, iniciou aulas particulares de pintura com a especialista em história da arte Marina de Melo Franco
e descobriu que levava jeito. Passou a “pintar de coloridos aquilo que na vida talvez morresse em esboço e tons de cinza”, em suas palavras. Ainda no início de 2012, finalmente tornou-se artista bolsista da APBP. Associação que não se considera “asistencialista”, ao contrário, reúne diversos artistas que querem sobreviver de sua pintura. O trabalho de Sérgio da
Silva pode ser visto no Centro Cultural Vila Fátima, rua São Miguel, 215, bairro Baleia. A exposição “Pinturas com a boca: Sérgio da Silva” começa na quinta (9), com duração de um mês.
Serviço O Centro Cultural fica aberto de 3ª a 6ª, das 9h às 19h, e aos sábados, das 9h às 17h.
CULTURA
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
Sistema de Cultura é aprovado em Poços de Caldas
#ficaadica
SUL DE MINAS Setor deve ter mais autonomia com aprovação de secretaria Sandra Ribeiro
Renan Moreira De Poços de Caldas No último dia 24, Poços de Caldas aprovou o Sistema Municipal de Cultura (SMC) e a Secretaria Municipal de Cultura (Secult) por unanimidade, durante a Sessão Ordinária da Câmara de Vereadores. A aprovação é um dos passos finais para a implementação do SMC que requer, entre outras coisas, a criação de um órgão gestor autônomo para a cultura, algo até então inédito no município. A gestão hoje é realizada pelo departamento de cultura, uma divisão da Secretaria Municipal de Turismo e Cultura, como acontece na maioria dos municípios do interior do estado. Para seu diretor, João Alexandre Moura, o maior ganho está na questão da autonomia. “A Secult terá maior autonomia institucional e financeira para execução de políticas públicas. Ela vai fazer parte do Sistema Municipal de Cultura, que é atrelado aos Sistemas Estadual e Nacional de Cultura, possibilitando o recebimento de recursos federais”, explica. João Alexandre destaca, ainda, que a criação do sistema pode possibilitar a
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ampliação da participação popular no setor. “Poderemos ter um fundo para receber recursos federais, o que dá amplitude para a execução de políticas públicas no município”, ressalta. Reivindicação de mais de 20 anos A classe artística também comemorou a aprovação dos projetos. Thiago Boletta, ator há nove anos, participou da sessão e con-
sidera a votação “um momento de vitória”. “A Secult é uma luta de mais de 20 anos e sua criação leva a um reconhecimento muito maior, por parte do poder público, da importância e do valor da cultura”, enfatiza. Boletta, que compôs a Comissão Municipal de Incentivo à Cultura em 2009, lembra que o cenário era mais difícil há alguns anos. “Era bem diferente, não existiam coleti-
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vos, a classe era bem mais desunida. O Conselho estava parado e quase toda produção cultural dependia exclusivamente da Lei de Incentivo”, descreve o ator. Ele crê que a implementação do SMC trará maior participação popular nas políticas. “Principalmente na gestão descentralizada da cultura, o SMC representa a certeza de que todos os agentes culturais poderão ser ouvidos e terão participação direta nas decisões das políticas públicas”, completa. Pedro Cezar Carvalho, atual presidente do Conselho Municipal de Cultura, vê como essencial a participação popular neste processo. “Graças à mobilização dos agentes culturais e artistas da cidade, o Conselho de Cultura foi retomado em 2011. Essa mudança no cenário é fruto do diálogo entre a classe artística e gestores culturais”, garante. As novidades da implementação do SMC podem ser acompanhadas pela página “Participa Cultura Poços de Caldas”, no Facebook.
Filme “O Sal da Terra” revela trajetória de Sebastião Salgado Sebastião Salgado é um dos mais premiados e conhecidos fotógrafos do mundo. Mineiro de Aimorés e economista de formação, desde 1973 trabalha com fotografia, utilizando as câmeras para escrever e reescrever o mundo. Suas séries fotográficas registram anos de processos sociais, manifestações, migrações, êxodos humanos, secas, genocídios e mazelas causadas pela fome e pelas guerras. No entanto, seu olhar capta, de forma genial, a força e resistência dos diversos povos do mundo. Parte da sua trajetória é documentada em “O Sal da Terra”, filme dirigido por seu filho e cineasta, Juliano Ribeiro Salgado, e pelo renomado diretor alemão Wim Wenders. Os 100 minutos de filme abordam a construção do seu projeto “Gênesis”, expedição que registrou fotografias de civilizações e regiões exóticas, e até inóspitas, de várias partes do planeta. O filme apresenta relatos do próprio artista e os bastidores da realização das fotos, revelando um incrível e apaixonado método de trabalho, desenvolvido em mais de 40 anos de história. Indicado ao Oscar de documentário, o filme foi premiado no Festival de Cannes 2014 e está em cartaz no Cinemark do BH Shopping, no Ponteio e no Cine Belas Artes.
14 VARIEDADES
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
Novela
Favorito é você, leitor!
Outro dia, propus um desafio para o leitor do Brasil de Fato MG que acompanha a coluna: lembrar de novelas com gostinho de quero mais. E não é que o Denílson Gonçal-
ves me escreveu? Ele quer relembrar “A Favorita”, um grande sucesso exibido em 2008. Escrita por João Emmanuel Carneiro (o mesmo de “Avenida Brasil”), a novela brincou com um sábio pensamento de domínio público: as aparências enganam. Os primeiros meses da história passaram como se a grande vilã fosse Donatela (Cláudia Raia): ela teria assassinado, por interesse, o marido Marcelo (Flavio Tolezani) e, então, incriminado Flora (Patrícia Pilar), que passaria 18 anos na prisão pagando pe-
lo crime. As duas, amigas de infância e componentes da dupla sertaneja Faísca e Espoleta na juventude, tornam-se rivais quando Flora engravida de Marcelo, que era seu amante. Presa, Flora não pôde acompanhar o crescimento da filha Lara (Mariana Ximenes), criada, então, por Donatela. Fazendose de mocinha, ao sair da cadeia, Flora decide vingar-se da inimiga e faz todo mundo acreditar em sua inocência, inclusive a filha. Qual das duas seria a favorita da menina? Numa cena memorável, Flo-
la família. Na época, a história de Catarina ganhou repercussão e levou o tema da violência contra a mulher para a boca do povo. Lastimável que, sete anos depois, casos como os dela ainda sejam realidade. Essa luta não pode enfraquecer!
ra revela sua vilania. Donatela passa a viver uma saga para revelar a verdade a sua família. No final, Flora acaba presa novamente, pagando pelos diversos crimes que cometeu. Como não recordar, também, a personagem Catarina (Lília Cabral)? Ela era agredida pelo marido Leonardo (Jackson Antunes) e, depois de sofrer ameaças e passar medo, abandona o agressor, reconstruindo sua vida ao lado de Stela (Paula Burlamaqui). Tapa na cara do marido violento, que acaba abandonado pe-
Obrigado, Denilson! E você, converse comigo em quimvela@brasildefato. com.br. Quero te agradecer também! Joaquim Vela
Amiga da Saúde Amiga da Saúde, ouvi dizer que os materiais que as manicures utilizam podem transmitir muitas doenças. Estou preocupada, pois frequento periodicamente a manicure. O que faço?
Preencha os espaços vazios com algarismos de 1 a 9. Os algarismos não podem se repetir nas linhas verticais e horizontais, nem nos quadrados menores (3x3). www.coquetel.com.br
© Revistas COQUETEL
Alexandra, 36 anos, garçonete Reprodução
Cara Alexandra, os materiais utilizados pelas manicures podem mesmo transmitir doenças. As de mais fácil transmissão são as micoses, que espalham-se pelo uso comum de alicates, lixas, toalhas, espátulas, bacias, etc. Pelo risco de exposição sanguínea, pode-se contrair outras, principalmente hepatite e HIV. Para prevenir esses riscos, as manicures devem lavar os instrumentos com água e sabão, com o auxílio de uma escova, secar e esterilizar em estufa, à temperatura de 170°C. Os objetos devem permanecer por uma hora sem abertura da estufa. Vale a pena ter seu material de uso individual, para evitar tais doenças. Fique atenta e previna-se.
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Li que o Ministério da Saúde está pressionando os hospitais particulares e públicos para reduzirem o número de cesáreas. Será que isso é seguro?
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Reprodução
A medicina, historicamente, criou uma cultura de muita intervenção nas gestações e partos. Com isso, as mulheres perderam autonomia sobre seu corpo e houve um grande crescimento de cesáreas desnecessárias, por ser mais rápido, e render mais para os médicos. Porém, a gestação e o parto são naturais e, na maioria das vezes, não necessitam de tanta intervenção. Além do mais, muitas práticas empregadas pelos obstetras são consideradas como violência no parto. Afora o risco por que passam as mulheres submetidas a cesáreas desnecessárias. O Hospital Sofia Feldmam, em BH, é uma referência nacional nessa política de humanização do parto. Vale a pena conhecer.
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Lorraine Cristina, 25 anos, estudante universitária
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ESPORTE
Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
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O esporte brasileiro em tempos sombrios HISTÓRIA Conheça personagens e episódios que marcaram a relação entre esporte e ditadura no Brasil
No dia 1º de abril, o golpe civil-militar de 1964 fez aniversário. Com a instauração desse regime, o país passou a ser conduzido por ditadores, que contavam com o apoio de empresários, setores da alta classe média e das igrejas para promover e esconder perseguições e torturas. O meio esportivo não foi poupado das atrocidades dessa gente.
O martírio de Stuart Angel
O baiano Stuart Edgard compôs a equipe de remo do Flamengo, bicampeã carioca em 1964 e 1965. Ele
também era militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Em 1971, agentes do Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica o prenderam, torturaram e espancaram; amarram-no a um carro e o arrastaram pelo pátio da base. Puseram sua boca no escapamento do veículo, para que aspirasse gases tóxicos. Seu corpo foi ocultado sob uma base aérea no Rio de Janeiro. Cinco anos depois, a mãe de Stuart, Zuzu Angel, foi assassinada. Morreu sem saber o paradeiro do filho.
A resistência nos estádios Em 1979, num jogo entre Santos e Corinthians, mais de 100 mil pessoas viram brotar, no meio da torcida Gaviões da Fiel, uma faixa com os dizeres: “Anistia ampla, geral e irrestrita”. Na final do Campeonato Brasileiro de 1984, mais de 128 mil torcedores lotaram as arquibancadas do
Maracanã para a partida entre Fluminense e Vasco. E o hino nacional não pôde ser ouvido, perante o coro das duas torcidas: “um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos eleger o presidente do Brasil”. Era a campanha das Diretas Já que tomava conta do país.
Osvaldão, lutador do povo O mineiro Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão) foi lutador de boxe e campeão pelo Vasco. Depois, tornou-se comandante da Guerrilha do Araguaia, movimento de resistência armada à ditadura.
Em 1974, Osvaldão foi assassinado por um pistoleiro, aos 35 anos. Após pendurar seu corpo a um helicóptero para servir de exemplo, o Exército deu nele um sumiço. Sua história é contada no filme “Onde está Osvaldão?”.
O técnico que os militares temiam Três meses antes da Copa de 70, João Saldanha, treinador da Seleção, foi demitido e substituído por Zagallo, apesar do retrospecto vitorioso e da grande popularidade. À época, surgiram boatos de que o General Médici queria a escalação de Dadá Maravilha, ao que Saldanha teria
respondido: “O presidente escala o ministério dele que eu escalo meu time”. O motivo da demissão, contudo, era outro: Saldanha militava no Partido Comunista Brasileiro e o governo temia que, em entrevistas coletivas, ele denunciasse as prisões políticas e as torturas praticadas no país.
Um estádio que virou campo de concentração O estádio Caio Martins, em Niterói (RJ), não foi apenas um espaço dedicado à prática esportiva. Entre 1964 e 1965, o local, que pertencia ao governo do estado, funcionou como campo de concentração. Nele, aproximadamente
1,2 mil pessoas foram detidas clandestinamente para serem encaminhadas a outros espaços, interrogadas e torturadas. Em 1988, o Caio Martins foi adquirido pelo Botafogo, recebendo partidas oficiais de futebol até 2004.
O Rei de punho erguido A ameaçadora crítica de Tostão Em 1970, Tostão, o maior jogador da história do Cruzeiro, deu uma entrevista ao jornal de esquerda O Pasquim, criticando a falta de liberdade no país e elogiando o bispo Dom Hélder Câmara, inimigo da ditadura. Dias depois, recebeu a ligação de um desconhecido, dizendo para ele “tomar cuidado com o que falava”.
Ídolo atleticano, craque do Brasileirão de 1977, Reinaldo foi um dos jogadores de futebol que mais deu demonstrações públicas contra a ditadura. Comemorava seus gols com o punho cerrado e erguido, gesto criado e eternizado pelo movimento Panteras Negras. Defensor das eleições diretas, da anistia e do fim do regime civil-militar, foi advertido pelo ditador Ernesto Geisel com a frase: “Vai jogar bola, deixa que a política a gente faz”.
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Belo Horizonte, 02 a 09 de abril de 2015
Crônica da Semana
DECLARAÇÃO DA SEMANA
Todo mundo fala mal, mas ninguém quer perder CAMPEONATO MINEIRO Rivalidade é motivo maior para Galo e Cruzeiro Bruno Cantini
Wallace Oliveira Cruzeirenses e atleticanos adoram dizer que o estadual é um torneio fraco. Não que isso seja mentira, mas é certo que ninguém quer ver o rival levantar a taça, ainda mais se o título for decidido num clássico. Por isso mesmo, a rodada do domingo (5) será encarada como primeiro jogo da decisão. O Cruzeiro tem 24 pontos e recebe a Tombense. O Atlético tem 22 e visita o Boa Esporte. Quem terminar a fase de grupos em primeiro precisará de apenas dois resultados iguais na semifinal e na
final, além de decidir dentro de casa. Não é escusado lembrar o que ocorreu com o Cruzeiro em 2014: com o regulamento debaixo do braço, foi campeão com dois empates contra o arquirrival. Bem ao estilo “come quieto”, a Caldense torce pelo tropeço dos grandes da capital. Empatado com o Atlético, com 22 pontos, o Periquito de Poços de Caldas ainda tem chances de faturar a liderança ou a segunda colocação, caso Cruzeiro ou Atlético não vençam no domingo.
Fotos Públicas
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[O pisão] Não é lance de jogo. Se aquilo fosse lance de jogo, o nome estaria errado: não seria futebol e sim UFC. O juiz está ali para ver e não vê. Há quatro árbitros e ninguém vê nada.
”
Neymar, jogador da seleção brasileira, na vitória sobre o Chile, domingo (29). Ele criticou a conivência do árbitro com um pisão dado pelo zagueiro chileno Gary Medel.
Gol de placa O argentino Marcelo Mendez chegou à equipe de vôlei do Cruzeiro em 2009. Desde então, já foi a quase todas as finais das competições que disputou. Bicampeão da Superliga masculina, garantiu a vaga para mais uma decisão na segunda-feira (30), ao derrotar o Minas Tênis Clube. O Cruzeiro decidirá o título contra o Sesi-SP.
Gol contra Cinco empresários do futebol brasileiro estão na lista do esquema de sonegação e lavagem de dinheiro em contas do banco HSBC na Suíça. São eles: Reinaldo Pitta, Eduardo Uram (investidor da Tombense), Richard Alda, Renato Tiraboschi e Octavio Koeler. Quem revelou foi o jornalista Fernando Rodrigues, em seu blog.
OPINIÃO América Bráulio Siffert Além de ser uma obrigação para o América, ir às semifinais do Mineiro garante no mínimo mais duas ótimas oportunidades de enfrentar Cruzeiro e/ou Atlético, o que faz o time arrecadar com bilheteria, dar experiência aos garotos e ter chance de fazer história. Apesar de estar pecando nos passes finais e nas finalizações, garantindo apenas
uma vitória nos últimos seis jogos, o jovem e remodelado time do América tem demonstrado um futebol relativamente seguro, criativo e rápido. No último jogo da primeira fase, o Coelho tem o dever de se impor contra o Democrata e garantir a classificação, para, então, se preparar para colher os frutos de uma importante semifinal e quiçá eliminar um dos grandes da capital.
OPINIÃO Atlético Rogério Hilário Mesmo sem contar com Dátolo, o Atlético pode, contra o Boa, ampliar para cinco o número de vitórias seguidas. A liderança, contudo, é pouco provável, pois depende de um tropeço do arquirrival. O mais importante já se alcançou: a classificação à seminal do estadual. E, cabe lembrar, é imperativa a preocupação com a campanha na Copa Li-
bertadores, na qual depende de triunfos em série para passar à próxima etapa. Sabedora das deficiências do elenco, a diretoria busca outro reforço: o atacante Thiago Ribeiro. Discordo de quem considera o atleta capaz de substituir Diego Tardelli. Ele atua pelos lados do campo. Nem ao menos se assemelha a Luan. Mas vai somar, haja visto as dificuldades impostas pelas competições.
OPINIÃO Cruzeiro Léo Calixto O dia 30 de Julho de 1976, data do primeiro título da Libertadores do Cruzeiro, está marcado na vida dos milhões de torcedores e torcedoras que compõem a China Azul. O 1º de Abril de 1964, data do golpe militar que completou 51 anos na última quarta, está marcado na história de todos os brasileiros e brasileiras. O futebol não é algo
à parte da sociedade e, na ditadura, jogadores, técnicos e alguns dirigentes também foram perseguidos por usarem sua posição social para expor suas opiniões políticas contrárias ao regime. Na próxima semana, as duas datas se aproximam novamente. No dia 8, o Cruzeiro enfrenta o Mineros (VEN) e, para o dia 12, foram convocadas novas manifestações contra a democracia.