Edição 87 do Brasil de Fato MG

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Washington Alves / Site do Cruzeiro

Minas Gerais

4 CIDADES

Reprodução / Sindsaúde

Isis Medeiros / Levante Popular da Juventude

3 CIDADES

13 ESPORTES

Focos diferentes

Negras pedem igualdade

Cruzeiro na Libertadores, Galo no Brasileirão. Com os resultados da quarta-feira (13), mineiros redefinem sua estratégia para o primeiro semestre

Muito colorido e arte fizeram parte da Marcha das Mulheres Negras, no dia 13 de maio. Elas pedem políticas para a igualdade racial

15 a 21 de maio de 2015 • edição 87 • brasildefato.com.br/mg • distribuição gratuita

Casa sai, rodovia entra

13 CULTURA

Divulgação

Larissa Costa / BFMG

Saúde conquista 30 horas 8 BRASIL

Fotos de andarilhos da BR 9 BRASIL

Pedro França / Agência Senado

Reforma Política dos ricos “PEC da Corrupção”, que legaliza a doação empresarial, pode ser aprovada dia 26. Movimentos defendem outra reforma

Na rodovia 381, trecho entre BH e Caeté, 2 mil famílias sofrem com a possibilidade de perder suas casas. O desalojamento acontece devido ao projeto de duplicação da BR. Moradores reclamam de falta de informação e insegurança

4 CIDADES

Pablo Vergara

Violência cresce no Rio Um aumento de quase 60% nos assassinatos cometidos por policiais aterroriza moradores das favelas cariocas


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OPINIÃO

Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

editorial | Brasil

Após 127 anos da abolição, continuam traços da escravidão

ESPAÇO dos Leitores

Foi um golpe para a cultura de Minas... Lastimável! Wagner Paixão, comentando a matéria “Emissora de rádio mineira deixa de funcionar após 35 anos”

O jornal Brasil de Fato é um dos jornais que eu mais sinto confiança quanto à imparcialidade e seriedade, parabéns! Thaís Zimovski Oliveira, em resposta à postagem de agradecimento por 4 mil curtidas no Facebook

Marcio Lacerda declara que ‘acidentes como esse infelizmente acontecem’. Queremos justiça!!! Vamos ver até onde isso vai dar... Kenya Goulart, comentando a matéria “Polícia Civil indicia responsáveis pela queda do Viaduto Guararapes em BH”

E o cara ainda é da diretoria de ética Carlos Freitas, comentando a matéria “Deputado indicado à diretoria de ética da CBF vem de família envolvida em nepotismo”

Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br

Nesse 13 de maio de 2015 com- elites, que sempre detiveram o popletaram-se 127 anos da assinatu- der. Seja na imprensa, seja na políra da Lei Áurea. Essa Lei, ao me- cia, seja nas fábricas, seja nas uninos no papel, aboliu mais de 300 versidades, seja no campo, o negro anos de escravidão no Brasil e fin- e a negra ainda são considerados dou um modelo de produção base- cidadãos de segunda categoria. ado no trabalho escravo e no cultiProva disso está no relatório do vo de uma única lavoura para ex- Ministério do Trabalho: em 2014 portação. mais de 600 empresas foram flaÉ imporgradas pratiO Brasil foi o último a abolir tante lemcando trababrar, até colho escravo e a escravidão mo forma de a Câmara dos exigir reparações, que esses traba- Deputados quer aprovar uma lei lhadores eram transportados nos inocentando esses escravocratas. porões dos navios negreiros em Recentemente a ONU apontou que péssimas condições e muitos de- os jovens negros são as principais les morriam antes de aportarem vítimas da violência no Brasil. por aqui. E os que chegavam eram Enfim, muita coisa ainda precisa comprados por senhores de en- mudar para afirmarmos que vivegenho, que prosseguiam os trata- mos em uma sociedade democrámentos desumanos. tica, justa e que algum dia possaO Brasil foi o último país das mos comemorar o dia 13 de maio Américas a abolir a escravidão le- como uma data libertadora. galizada. E só o fez por conta das Comecemos pelo Congresso. Lá, várias revoltas dos negros que con- só 4% dos parlamentares se declafiguraram seus quilombos, da luta ram pardos ou negros, sendo que dos abolicionistas e da pressão ex- segundo o IBGE, 52% da poputerna. lação se declara parda ou negra. Após a abolição, o Estado brasi- Em mais da metade das 27 Assemleiro não ofereceu alternativas pa- bleias Legislativas dos estados brara os escravos libertos. A terra que sileiros, não há nenhum negro. antes era oferecida pela coroa paQuando se é negro e mulher, aí ra a exploração então é que passou a ser a coisa fica vendida em Câmara aprova contrarreforma mais difícil. 1850, imposAs mulhepolítica sibilitando o res ganham acesso do tra30% menos balhador recém-liberto. Também que homens que ocupam o mesnão se ofereceram condições para mo cargo. E as mulheres negras gaque eles fossem integrados ao mer- nham ainda menos que as mulhecado de trabalho. res brancas. As mulheres estão em Hoje é impossível não perceber extrema minoria em cargos de dia importância da etnia negra em reção, mulheres negras, então, são nossa sociedade. Ela está presente raridade. na economia, na música, na culiA essa enorme população de tranária, na arte, na literatura (Ma- balhadores é a quem mais intereschado de Assis, filho de escrava e sa uma verdadeira Constituinte exum dos nossos maiores escritores, clusiva para a reforma política. As foi o fundador da Academia Bra- regras que constam do relatório da sileira de Letras), no futebol e em Comissão Especial para a Reforma tantas outras contribuições em vá- Política da Câmara de Deputados rias áreas do conhecimento. apenas demonstram como seguem Mas o traço escravocrata ain- prevalecendo os interesses da casa da resiste. Principalmente entre as grande.

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora também com edições regionais, em SP, no Rio e em MG. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

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conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos , Adriano Ventura, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Carlos Dayrel, Cida Falabella, Cristina Bezerra, Deliane Lemos de Oliveira, Durval Ângelo Andrade, Eliane Novato, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Frei Gilvander, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho , Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Laísa Silva , Luís Carlos da Silva, Marcelo Oliveira Almeida, Michelly Montero, Milton Bicalho, Neemias Souza Rodrigues, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rilke Novato Públio, Rogério Correia, Samuel da Silva, Sérgio Miranda (in memoriam), Temístocles Marcelos, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Repórteres: Maíra Gomes, Pedro Rafael Vilela, Rafaella Dotta e Wallace Oliveira. Colaboradores: Acsa Brena, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira , João Paulo, Léo Calixto, Marcos Assis, Olivia Santos, Rogério Hilário, Sofia Barbosa. Fotografia: Larissa Costa . Revisão: Luciana Santos Gonçalves Estagiária: Raíssa Lopes. Administração: Vinicius Moreno. Diagramação: Bruno Dayrell. Tiragem: 40 mil exemplares.


CIDADES

Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

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Mulheres negras dão show na Praça Sete MOBILIZAÇÃO Em 13 de maio, elas manifestam contra desigualdade racial Larissa Costa / BFMG

Rafaella Dotta Reunidas na Praça Sete, cerca de 400 mulheres negras levantam ao alto o punho direito. A atitude lembra os Panteras Negras, que lutaram pela igualdade racial nos EUA na década de 1960, e se tornaram símbolos de resistência em todo o mundo. Neste 13 de maio, o objetivo era mostrar a mulher negra, seus problemas e suas diversas belezas. A Marcha das Mulheres Negras começou às 14h, na Praça Sete, e seguiu até a Praça da Estação. Mulheres de 65 cidades mineiras participaram, segundo Benilda Brito, coordenadora do grupo N’zinga e uma das organizadoras do evento.

Por que 13 de maio? “Esse é um dia histórico porque, além de ser o dia da abolição da escravatura, é também o dia nacional de denúncia do racismo”, lembra Benilda. “Embora a gente tenha uma

política que evoluiu nas questões sociais, quando fazemos um recorte racial, a melhoria na vida das mulheres negras é bem inferior”, explica. Durante toda a tarde, a organização colocou no

Obras no viaduto Santa Tereza continuam ATRASO Quase um ano depois da data prevista para inauguração, viaduto não está pronto Fora do Eixo

Maíra Gomes Prestes a completar um ano de atraso, a obra do Viaduto Santa Tereza segue a passos lentos. Prevista para ser entregue no segundo semestre de 2014, a recuperação estrutural e construção do Circuito de Esportes Radicais recebeu o investimento de mais de R$ 3 milhões, mas o projeto é alvo de várias críticas. Segundo a Prefeitura, já foram feitas as reformas dos sanitários, do piso, da quadra de basquete, drenagem, piso em concreto, obstáculos para pista de skate e arquibancada. “Não temos notícia de quando a obra vai acabar. Está acontecendo na mesma lentidão de sempre, o lado da rua da Bahia e os banheiros continuam fechados”, critica Pedro Valentim, conhecido como PDR, do coletivo Família de Rua. Com outros movimentos culturais e de juventude, o Família de Rua faz

parte da articulação Viaduto Ocupado, que nasceu da ocupação logo no início das obras. O grupo reivindicou a participação nas decisões e andamento do projeto, criando a Comissão de Acompanhamento, com participação da sociedade civil e da Prefeitura de BH. Questionando a funcionalidade e gestão do novo empreendimento, o grupo reclama que não tem tido participação efetiva. “Não tinha sentido a comissão, pois ali não se tomava decisão nenhuma. Por isso, decidimos acabar com ela no final do ano passado”, explica PDR. “Sempre que a gente tocava no assunto da gestão, o poder público esquivava. Não sabemos qual é a intenção, tudo nesse processo do viaduto é nebuloso”, denuncia. Então, viaduto ocupado! Sem solução, grupos culturais ocupam o espaço desde o final do ano, quan-

palco MCs, cantoras, percussionistas e dançarinas. Cristal Lopez, uma mulher trans negra, apresentou uma dança em homenagem às orixás. “Como é uma marcha das mulheres negras, eu acho que as mulheres trans precisam estar aqui. Então me senti na obrigação de vir representá-las”, declara. Vinda de longe, da comunidade quilombola Cachoeira dos Forros, do município de Passatempo, Darlene Aparecida trouxe também a família. “A gente quer passar para as crianças que a gente tem que assumir a nossa raça, ter orgulho de ser negro. Às vezes, na escola, o menino negro é chamado de feio, bicho, cabelo duro, mas ele é lindo”, diz.

O que elas pedem? “Nós exigimos do governo brasileiro, e aqui hoje, do governo de Minas, a elaboração de políticas que acabam com essa desigualdade”, afirma Benilda. Segundo ela, as mulheres negras continuam com os piores salários, o mais alto índice de analfabetismo, o mais alto índice de mortalidade materna, entre outros. Já Yone Gonzaga, do Grupo de União de Consciência Negra (Grucon) e membro do Programa Ações Afirmativas na UFMG, lembra da inclusão das mulheres negras na educação. “Apesar de termos cotas para estudantes negros, nós precisamos de assistência para permanecer com eles dentro das instituições”, afirma.

PERGUNTA DA SEMANA Na quarta, 13 de maio, se comemoram os 127 anos de abolição da escravatura no Brasil, o último da América a abolir essa forma de trabalho forçado. No entanto, a proibição de manter pessoas escravizadas não significou o fim do racismo e da discriminação no país. Mais de 100 anos depois, será que nosso país melhorou no tratamento aos negros que aqui moram?

O que mudou nesses 127 anos sem escravidão?

do decidiram abrir a parte baixa do viaduto para a realização do Duelo de MC´s Nacional, no dia 23 de novembro. Desde então, o duelo é realizado duas vezes por mês no local e um domingo por mês o Game Of Skate. “O que temos feito é ocupar o espaço, marcar presença no viaduto, levando vida pra lá da mesma maneira que a gente sempre fez”, defende Pedro.

Pra mim, os negros são discriminados do mesmo jeito. Tem serviço que é uma escravidão que só Deus. Por exemplo, você é contratada como balconista, mas tem que dar faxina sem ganhar nada a mais. Eles acham que é obrigação nossa, só porque a gente é preto. Luana Simões, balconista

Tem umas bondades, mas tem muita gente que abusa da cor da gente. Às vezes você caça um serviço, principalmente com rico, e eles dizem: “eu não gosto de preto” e você não pode nem processar, porque não dá nada. José Eduardo da Silva, armador, cozinheiro, padeiro


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MINAS

Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

Obras na BR-381 irão desalojar 6 mil famílias

Nilo Verçosa

MORADIA Projeto busca soluções, mas atingidos afirmam estar há três anos sem informações Larissa Costa / BFMG

Rafaella Dotta Cerca de 2 mil famílias estão ameaçadas de despejo na rodovia entre Caeté e Belo Horizonte. O motivo é a duplicação da BR 381, que irá desalojar ao menos 6 mil famílias.Luiz Francisco da Silva e Adalmárcia Pereira da Silva, pedreiro e empregada doméstica, estão há três anos esperando informações sobre o que vai acontecer com sua casa, no bairro Vista do Sol, na saída de Belo Horizonte para Santa Luzia. “Nunca mais deu resultado nenhum. Se vão arrancar a gente daqui ou se vai deixar a gente aqui mesmo”, fala Adalmárcia. “A gente parou as obras na casa por causa disso. Nosso telhado está quebrado, por causa de uma ventania, mas não compensa mexer antes de ter uma resposta certa”, reclama Luiz. Em 2011, um grupo de

funcionários visitou o bairro para mostrar o projeto de duplicação da BR aos moradores e, no mesmo momento, marcaram com tinta vermelha as casas que seriam removidas. Depois disso, afirmam Adalmárcia e Luiz, eles não tiveram mais informações. A casa que eles levaram 15 anos para construir está a 10 metros da rodovia, em uma área considerada “faixa não edificante”. Pela Constituição, terrenos localizados a 40 metros de cada lado de rodovias federais pertencem ao governo. Nesta área é proibida a construção de casas e a venda de terrenos. O casal, no entanto, lembra que teve gastos com o terreno, que foi comprado. “A minha casa deve valer uns R$ 200 mil. Como eu vou perder isso?”, questiona Adalmárcia.

Terceirizados em luta

Adalmárcia mostra muro de sua casa, que foi marcada para ser removida

alizada em 28 de abril na Assembleia Legislativa, Ricardo Meirelles, coordenador do Comitê Gestor da Obra da BR-381/MG – Norte, explicou que duplicação entre Belo Horizonte e Caeté ainModelos de negociação da não tem empresa contraEm audiência pública re- tada e por isso as negocia-

ções não teriam começado. Ele também apresentou as três modalidades de negociação usadas até o momento: avaliação técnica do imóvel, indenização com o valor máximo de R$ 40 mil ou inscrição no programa Minas Casa Minha Vida.

Cerca de 200 funcionários terceirizados dos restaurantes populares de BH protestam contra a falta de pagamento dos salários, na quarta (13). O almoço não foi servido nas cinco unidades, e o café da manhã, em duas delas.

Bernadete Monteiro

Remoção só com proteção do direito à moradia Para o defensor público federal Estevão Ferreira Couto, a remoção pode acontecer, desde que resguarde o direito à moradia dos atingidos. “A maioria das famílias não comprou a propriedade, e sim a posse. E isso não dá o direito ao terreno. No entanto, elas compraram o direito à moradia, e o governo não pode simplesmente despejar”, defen-

de. O projeto de remoção das famílias na 381 pode ser uma evolução importante, diz o defensor. “Durante muitos anos a Justiça tratava o caso de maneira patrimonialista, ou seja, como se as pessoas fossem objetos a ser removidos. Nesse projeto nós conseguimos conscientizar que as pessoas têm direitos a ser respeitados”,

afirma. A demora na remoção, segundo o defensor, é uma tentativa de garantir melhores opções de negociação para as famílias. Uma “vila de passagem” está sendo construída na região da Granja Werneck, para abrigar famílias em situação mais crítica. O valor máximo de indenização de R$ 40 mil, praticado nas negociações em Cae-

té, também seriam passíveis de renegociação. Para obter mais informações, doutor Estevão sugere que os moradores busquem a associação de bairro e os movimentos sociais que lidam com o tema. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), procurado pela reportagem, não respondeu às questões.

Obra termina em 2019 As obras para duplicação da BR 381, que engloba 303 quilômetros entre Belo Horizonte e Governador Valadares, começaram em março de 2014. A rodovia passa por 23 cidades e atinge outras sete.

Entre os objetivos, a duplicação poderá beneficiar o transporte de resíduos entre BH e Sabará, a indústria de mineração e de turismo. Além de ser integrante do “Corredor Mercosul”, para comércio de

produtos entre países da América do Sul. O responsável pela obra é o Ministério dos Transportes, tendo como executor o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), órgão

ligado ao governo federal. De acordo com declarações do Dnit à imprensa, em março, o custo total pode chegar a R$ 4,5 bilhões e ter atraso de dois anos na entrega da obra, terminando em 2019.

30 horas para saúde Em greve desde o dia 4, trabalhadores da Fhemig conquistaram a redução da jornada de trabalho para 30 horas, sem diminuição dos salários, que deve valer desde 2016. Acordo com o governo foi firmado na quarta (13).


Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

Sistema prisional em crise SEGURANÇA Falta de julgamento e prisões indiscriminadas são possíveis causas da superlotação

Wilson Dias / ABr

Maíra Gomes

A Secretaria de Defesa Social (Sedes) informou que prédios públicos desativados, como cadeias antigas e até escolas, podem servir provisoriamente para abrigar os novos presos. O governador Fernando Pimentel (PT) informou que deve iniciar as obras de reforma, com prazo de 120 dias para serem concluídas. A Sedes informou ainda que tem realizado ações, como remanejamentos entre unidades, no intuito de admi-

nistrar o problema. Uma das causas apontadas pela secretaria para o problema da superlotação é a detenção de um grande número de pessoas por crimes leves. “Não é razoável, como aconteceu nas últimas semanas, que um mendigo que furtou um ovo de páscoa e um jovem que surfava no teto de um ônibus tenham sido mandados para o sistema prisional”, declarou o secretário de Estado de Defesa Social, Bernardo Santana, em entrevista coletiva. Ele aponta que o sistema prisional não pode ser um lugar onde se amontoam pessoas indistintamente, de modo a impedir qualquer política séria de

ressocialização. Especialistas denunciam ainda a falta de julgamento, que atinge atualmente 27.246 presos de Minas Gerais, segundo a Suapi, o que representa 50% do total de pessoas detidas no estado. O advogado Adilson Geraldo Rocha, Conselheiro da Comissão de Assuntos Penitenciários da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), acredita que a maior deficiência está na lentidão do processo e na falta de acompanhamento jurídico. “A maioria dos presos não tem condições de ter um advogado e a Defensoria Pública tem número insuficiente para dar conta de atender”, diz.

Privatizar presídio não é a solução Até o fim de março esteve aberto o Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) para receber contribuições para a construção de seis novos presídios. O projeto é de responsabilidade das Secretarias de Defesa Social e de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais. As unidades seguiriam o modelo de Ribeirão das Neves, em que uma empresa administra a penitenciária, em uma Parceira Público Privada (PPP). A proposta prevê a construção de quatro presídios

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Artigo Precisamos falar sobre o rancor João Paulo Cunha

Minas Gerais vive um grave problema na segurança pública. Com capacidade para receber 32 mil presos, divididos em 144 unidades prisionais, o sistema prisional mantém 55 mil pessoas reclusas, segundo a Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi). No início do ano, o número de detentos em Minas era 55.267. No começo de maio, o número chegou a 58.603 internos.

O sistema prisional mantém 55 mil presos, mas só tem capacidade para 32 mil

MINAS

masculinos, um feminino e um centro de ressocialização de menores infratores. Três seriam construídos na Região Metropolitana de Belo Horizonte e os demais no Triângulo, Norte e Sul de Minas. Robson Sávio, coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (NESP) da PUC-Minas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que as penitenciárias sob regime de PPPs não contribuem em “absolutamente nada” para aumentar a segurança. Para o pesquisador, “as peniten-

ciárias existem para recuperar alguém que cometeu um crime, mas para a empresa significa lucro”. Em relatório lançado em 2014, a Pastoral Carcerária reuniu informações sobre presídios privados em todo o país. Em visita ao presídio de Neves, o primeiro 100% privatizado do Brasil, a Pastoral destacou problemas em relação ao trabalho, à higiene e à insatisfação dos presos. Consta também que, à época da visita, os presos que trabalhavam não sabiam quando e quanto iriam receber.

O ódio entrou em cena na política. Não que estivesse ausente, mas era tomado como um erro, um desvio num cenário de falsa pacificação social. O livro “Ódio à democracia”, do filósofo francês Jacques Rancière, mesmo escrito para a realidade de seu país, pode ser lido como um manual para entender o Brasil de hoje. A tese do autor é que há um discurso duplo sobre a democracia. De um lado, todos são a favor da eleição direta contra a sanha das ditaduras. Mas no momento em que o resultado da participação popular ameaça os históricos desníveis sociais, a palavra muda de sentido. Quando o voto chancela a desigualdade, é democracia; quando afronta privilégios, é demagogia. Desde que deixou para trás certo constrangimento, o desprazer das elites (ou que se consideram como tais) em conviver com o povo vem sendo traduzido em chave pretensamente política. O que era desconforto em testemunhar a melhoria geral das condições de vida foi transformado em atitude consciente de oposição ideológica. Com isso, a sociedade se dividiu não entre distintas visões de mundo, mas de Quando o voto chancela a postura frente às transformações. desigualdade, é democracia; Por um lado, a quando afronta privilégios, é inegável distribuidemagogia ção de renda melhorou a vida das pessoas. Por outro, o sentido dessa mudança na economia não se dá de forma única. Há os satisfeitos, os insatisfeitos, os revoltados, os que querem mais e até os que desejam voltar no tempo e recuperar a dinâmica da casa-grande e senzala. E há os rancorosos. Esses são, talvez, os piores. Eles não querem apenas recuperar o que acham que mereciam por um questionável direito de classe, mas impedir que os outros ganhem. Em sua doentia percepção da realidade, permitir a ascensão é vedar a continuidade do mundo como o concebem. A igualdade é para eles um defeito de civilização. Na vida privada, o rancoroso quer distância do pobre; no campo profissional, não aceita competir com ele; na arena pública desqualifica todos os instrumentos de ascensão social. O rancoroso não gosta de gente, não confia na sua competência e é antidemocrata. Existe uma distinção entre o rancor e o ódio. Se o ódio é destrutivo, quer a anulação do outro, o rancor é ainda mais complexo: aceita até mesmo se autodestruir, desde que seu inimigo vá junto para o inferno. O Brasil de hoje - e o Congresso, a classe média e a imprensa vêm dando prova disso - se tornou um país rancoroso. Homens públicos como Aécio Neves e FHC ameaçam a política com a oposição mecânica, mesmo que se contradigam de forma amnésica; grupos como o dos evangélicos conservadores reforçam a cisão social com a retomada do preconceito; a imprensa familiar faz uso da mentira como forma de alimentar a opinião pública e com isso arrasta sua credibilidade para o buraco. O rancor lança mão de uma estratégia suicida. Assim como o ódio à democracia deve ser combatido com a verdadeira democracia, o rancor também precisa ser enfrentado radicalmente. A boa política só tem chance num território habitado por boa gente. O que, é preciso reconhecer, não vai ser fácil.


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MINAS

Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

Por uma Sociedade Sem Manicômios

Governo se compromete com piso EDUCAÇÃO Os servidores aceitam proposta, mas exigem outros compromissos Os trabalhadores da educação de Minas Gerais decidiram pela aprovação da proposta do governo em relação ao salário e carreira, em assembleia realizada na tarde de quinta-feira (14). Uma comissão do sindicato vai levar ao governo quatro reivindicações para serem incorporadas ao acordo, como a correção das distorções de carreira e a retomada das vantagens perdidas com as políticas dos subsídios. O sindicato mantém a campanha salarial de 2015, com duas datas de mobilização e possibilidade de paralisação das escolas: 29 de maio e 16 de junho, quando será realizada no-

va assembleia estadual para prosseguimento das negociações com o governo. No sábado (9), o Governo do Estado apresentou a garantia dos reajustes anuais do Piso Salarial Profissional Nacional para todos os trabalhadores em educação. Ou seja, os servidores já aposentados terão direito a um reajuste igual aos trabalhadores ainda ativos. Greve em Betim Em Betim, os servidores da educação continuam sem proposta financeira e, na quarta-feira (13), votaram pela continuidade da greve por tempo indeterminado.

Professores em greve em Juiz de Fora A escola de samba Liberdade Ainda que Tam Tam se prepara para mais um desfile-manifestação no Dia Nacional da Luta Antimanicomial, no dia 18 de maio, com concentração às 14h, na Praça da Liberdade. Com o tema “Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça: por uma sociedade sem manicômios!”, o Dezoito de Maio deste ano homenageia o psiquiatra italiano Franco Basaglia, que ao visitar o Brasil, no final dos anos 70, inaugurou o diálogo que culminaria no processo da Reforma Psiquiátrica no país.

Em greve há dois meses, os professores da rede privada de Juiz de Fora pedem a revogação imediata do artigo 9º, a reestruturação do plano de carreia e a aplicação da Lei do Piso. O artigo 9º autoriza a concessão de reajustes diferenciados como forma de complementação salarial. O Sindicato dos Professo-

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais enviou solicitação ao Presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, Itagiba de Castro Filho, reivindicando a fiscalização urgente da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Benedito, no município de Santa Luzia. De acordo com o documento, o local estaria funcionando sem equipamentos próprios para os serviços de urgência e

emergência e promovendo internações por prazo indeterminado sem diagnóstico, o que estaria colocando em risco a saúde dos usuários. Ainda segundo a solicitação, a UPA não segue as recomendações da resolução CFM nº 2.079/2014, que garante, entre outras medidas, a implantação do acolhimento com classificação de risco, tempo máximo de permanência de 24h e transferência imediata ao hospital mais

próximo caso o paciente corra risco iminente de vida ou sofrimento intenso. A norma ainda veda a internação de pacientes nessas unidades, sendo estritamente obrigatória a transferência imediata ao serviço hospitalar. Cópia da notificação do Ministério Público solicitando investigação de irregularidades na saúde de Santa Luzia

Aposentadoria justa Um Projeto de Lei que tramita na Assembleia Legislativa prevê que os deputados mineiros terão que se submeter ao limite de aposentadoria dos demais servidores do estado, de R$ 4. 663, 75, o teto do INSS. Hoje, um deputado estadual pode se aposentar com até a totalidade do salário, de R$ 25.322,25. As aposentadorias e pensões são custeadas pelo Legislativo mediante a contribuição de 11% dos deputados e 22% da Assembleia. Se aprovada, a medida passará a valer apenas para os parlamentares que tomaram posse em 1º de fevereiro deste ano.

res de Juiz de Fora (Sinpro JF), denuncia que ao fim de um período de cinco anos acabará o escalonamento previsto no Estatuto dos Servidores do município, igualando e achatando os salários. Ou seja, o piso passará a ser teto salarial, independente dos anos de carreira e da formação dos profissionais da educação.

Ministério Público notifica Prefeitura de Santa Luzia SAÚDE Unidade de Pronto Atendimento estaria funcionando fora das regras e colocando pacientes em risco

FATOS EM FOCO

Ballet Jovem conquista recursos Na sexta (8), integrantes do Ballet Jovem do Palácio das Artes reuniram-se com representantes do governo estadual para uma conversa sobre o corte de verbas do grupo, feito há 65 dias. No encontro, o governo de Minas se comprometeu com o pagamento das bolsas e dos profissionais para a continuação do projeto.


Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

Acompanhando Na edição 51...

Foto da semana

OPINIÃO

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PARTICIPE Viu alguma coisa legal? Algum absurdo? Quer divulgar? Mande sua foto para redacaomg@brasildefato.com.br. Valéria Borges

“Não temos para onde ir”, afirmam moradores ameaçados de despejo ...E agora As famílias da Ocupação Vitória, na região do Isidoro, têm sofrido frequentes ações de pressão por parte do governo estadual. Desde a semana passada, agentes do governo escoltados pela Polícia Militar circulam em carros de som pela comunidade buscando convencer os moradores a aceitarem o acordo. Há cerca de dois meses, o governo se comprometeu a destinar 4.500 apartamentos, via programa Minha Casa, Minha Vida, para a ocupação. No entanto, mais de 10 mil famílias vivem hoje no local.

Na edição 86... Copasa vai cobrar sobretaxa na conta de água ...E agora A Copasa adiou até 12 de junho a implantação de uma sobretaxa de 15,04% . A empresa pediu adiamento para “aprofundamento dos estudos dos riscos inerentes à adoção de racionamento e das estratégias para contenção do consumo de água, visando minimizar disparidades, impactos e reflexos para a população”. A cobrança havia sido autorizada pela Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (ARSAE-MG). *Erramos: Na edição 86, o crédito da foto de Santa Luzia é Vanessa Pereira

Foi na Pedreira Prado Lopes que moraram grande parte dos trabalhadores que construíram a cidade de Belo Horizonte. Com uma vista do pôr do sol bela como essa, não é difícil entender a razão do nome da capital mineira.

Juliane Furno

Raquel Almeida

Empregadas domésticas não querem mais “servir”

13 de maio: a ressaca continua...

No último domingo, 10 de maio, me surpreendi mais uma vez com a matéria veiculada pela Folha de S. Paulo com o seguinte título “Empresas ‘importam’ babás e domésticas das Filipinas”. A infeliz reportagem trata com naturalidade a criação de “agências” de emprego que buscam trabalhadoras nas Filipinas e em Singapura. Dentre os motivos alegados pelos contratadores, destaco a seguinte opinião de uma empresária: “A língua é o de menos: passaram mais de dez babás por aqui e nenhuma dava certo, porque ficavam de má vontade. [...] A Liza (doméstica Filipina) está sempre bem humorada e eu preciso até pedir para ela parar de trabalhar; o povo filipino gosta de servir”. Mais à frente na matéria, Que abastados outra ridícula afirmação: “As babás filipinas são tipo métremam de medo dicos cubanos, mas sem pagar pedágio para o Fidel”. Pagar pedágio para uma empresa privada pode? A construção do mercado de trabalho brasileiro, característica de uma formação subdesenvolvida e dependente, tem como marca a informalidade, marginalidade, heterogeneidade estrutural e excedente de mão de obra. Dessa junção de fatores, o emprego doméstico emerge como uma das principais formas de inserção das mulheres na classe trabalhadora no mercado assalariado. Somado a isso, a herança de um passado escravista com a consolidação de gritantes desigualdades sociais possibilitou às classes médias e burguesas dispor de um enorme exército de serviçais, com ausência de direitos sociais e baixo custo da mão de obra. Estamos falando de um Brasil que assusta os setores abastados da sociedade, que tremem de medo ao ver a possibilidade do povo reivindicar seus direitos e não mais se sujeitar ao trabalho serviçal. Que tema ainda mais a tradicional classe média, porque o povo pede passagem! Juliane Furno é mestranda em Desenvolvimento Econômico na Unicamp e militante da Consulta Popular.

“Porque o levante é liberdade / Não é caneta de princesa, escreveu em poema Elis Regina Feitosa” 13 de Maio foi um estupro! Assim como tantos que sofremos desde antes do navio negreiro. O que mudou para nós? Todo nosso destino já estava traçado pela mão do escravocrata, que tinha reservado para nós a cachaça, as beiradas, os córregos, os barracos de madeirite, escolas sem condições básicas de oferecer educação de qualidade. Estavam reservadas as grades, cadeia pra menor, pra maior, homem e mulher, drogas a rodo vendidas legalmente nas farmácias. E para as mulheres negras? Longo e árduo caminho nesse pós-abolição. Somos frutos dos estupros nas senzalas, nas ruas do 14 de maio. Afinal, mulher na rua é pra ser abusada mesmo, essa é uma das heranças que vivemos nos dias atuais. Parimos filhos sem pai, sem Temos marcas identidade. E de lá pra cá nos da desigualdade perguntamos: quem e o que somos? Nós somos os frutos da estampada miscigenação brasileira vendida pra gringo ver; temos marcas da desigualdade estampada. E só nos damos conta de que fazemos parte de um povo historicamente massacrado quando entramos nas unidades da Fundação Casa, presídios, quando passamos pelas ruas e vemos que 99% dos que estão lá são nossos pares, os pardinhos, sem identidade cultural. No 14 de maio, o dia pós-abolição, acredito eu, o retrato nas ruas era igualzinha os que vejo todos os dias caminhando pela minha quebrada, um preto ou quase preto jogado bêbado numa calçada qualquer, a polícia enquadrando e dando voz de prisão e as mulheres pretas ou as quase pretas caminhando rumo a casa grande pra preparar o café, o almoço e o jantar desses que “canetam” os nossos destinos. Esse dia, pra mim, é para ser refletido, como o dia 20 de novembro. Nossa luta continua! Raquel Almeida é poeta, ativista cultural, integrante do Coletivo Literário Sarau Elo da Corrente e Coletivo Cultural Esperança Garcia.


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BRASIL

Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

Deputados querem manter doação empresarial em campanhas CONTRARREFORMA Relatório final da Câmara mantém esquema de financiamento eleitoral Mídia Ninja

Pedro Rafael Vilela de Brasília (DF) Uma comissão formada por deputados federais para analisar as diferentes propostas de reforma política apresentou um relatório final que aprofunda a influência do poder econômico nas eleições. Parecer do deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), divulgado na última terça-feira (12), permite que empresas continuem fazendo doações para campanhas políticas. Depois de votada pela comissão especial da Câmara, essa proposta irá para o plenário da casa, no dia 26. Movimentos sociais apelidaram o parecer “PEC da corrupção”, porque mantém as empresas no controle do sistema político. “A doação empresarial para campanhas é a principal fonte de desvios e da corrupção”, afirma Luciano Santos, advo-

Movimentos defendem convocação de Constituinte para reforma política

gado especialista em direito eleitoral e diretor do Movimento de Combate à Cor-

rupção Eleitoral (MCCE). “Distritão”

Sociedade tem outras propostas de reforma política A sociedade civil luta por outros modelos de reforma política. Organizações como OAB, CNBB, MCCE, UNE, entre outras estão articulados em torno da Coalizão por uma Reforma Política Democrática e Eleições Limpas. A principal iniciativa é um projeto de lei de iniciativa popular, que já recolheu 200 mil assinaturas em todo o país em tem a meta de chegar a 1,4 milhão. Além de pôr

fim ao financiamento empresarial, a proposta estabelece modelos eleitorais que garantem maior diversidade e pluralidade na representação política. O advogado Luciano Santos informa que uma caminhada até o Congresso Nacional, marcada para o dia 20, será mais um momento de pressão para barrar o que chama de “contrarreforma” política. No dia 26, outra ação pu-

xada pela campanha do Plebiscito Constituinte, que envolve MST, CUT, entre outras, também promete mobilização em Brasília para pressionar pela convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva para mudar o sistema político, por meio de um plebiscito. A avaliação é de que o atual Congresso não vai aprovar uma reforma política que contrarie seus próprios interesses eleitorais e políticos.

Fator previdenciário flexibilizado A Câmara dos Deputados aprovou na quarta (13) o texto base da Medida Provisória (MP) 664/14, que altera as regras para a concessão de pensão por morte, seguro-defeso e auxílio-doença. Antes sem exigência, a MP exige agora o tempo mínimo de dois anos de casamen-

to ou união estável e pelo menos 18 meses de contribuição para que o cônjuge ou companheiro tenha direito ao benefício. O plenário da Câmara aprovou ainda uma emenda que modifica o fator previdenciário. A emenda passa a integrar o texto da MP para permitir que o

trabalhador possa se aposentar sem a incidência do Fator Previdenciário após 30 anos de serviço, no caso de mulheres, e de 35 anos, no caso de homens, desde que a soma do tempo de serviço com a idade seja igual ou superior a 85, para mulheres, e 95, para homens.

Além de legalizar a doação empresarial, o relatório muda o sistema eleito-

ral para o chamado “distritão”, em que estados e municípios dividem regiões ou distritos onde serão eleitos os mais votados, tanto para vereadores, deputados estaduais e federais. Com essa fórmula, se um determinado estado tem dez vagas de deputado federal e, nas eleições, o partido A fica com 49% dos votos e o partido B fica com 51%, mesmo com uma diferença pequena, todas as vagas vão para o partido B, causando uma grave distorção na representação. “O voto distrital é excludente da representação de grande parte do eleitorado ao não assegurar a representação política da parcela minoritária da sociedade mesmo com uma votação próxima da metade do eleitorado. Promove a ditadura da maioria sobre a minoria”, analisa Luciano Santos, advogado especialista em direito eleitoral e diretor do MCCE.

STF pode vetar doação empresarial As eleições no Brasil estão então entre as mais caras do planeta. Somente em 2014, o custo total das candidaturas ficou em cerca de R$ 5 bilhões. Há quase um ano, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votou a favor de uma ação proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que considera inconstitucional a doação empresarial nas eleições. A validade da medida, no entanto, foi travada pelo ministro Gilmar Mendes, que pediu vistas do processo. Se a proposta dos deputados for aprovada, a Constituição será alterada para legalizar de vez as doações.

Luis Macedo / Câmara dos Deputados


BRASIL

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Violência cresce no Rio de Janeiro UPPs Modelo de pacificação é questionado por moradores de comunidades Pablo Vergara

2014 foi um dos anos mais violentos dos últimos sete anos no Rio de Janeiro. Isso é o que mostram os dados do Instituto de Segurança Pública, divulgados no começo deste mês. O número de assassinatos cometidos por policiais conhecidos tecnicamente como auto de resistência registrou um aumento de 59% no primeiro trimestre de 2014 em relação ao mesmo período de 2013. Os conflitos nas favelas cariocas continuam aterrorizando seus moradores. São eles que ficam no meio do fogo cruzado entre policiais, traficantes e grupos rivais que disputam pontos de venda de drogas. Quase sete anos depois da instalação da primeira Unidade

Moradores da Rocinha relatam que tiroteios continuam fazendo parte da rotina

de Polícia Pacificadora, esse modelo de segurança é questionado pela sociedade. “A promessa das UPPs era de trazer a paz, mas só trouxeram guerra”, afirma a pesquisadora do Programa de Pós-Graduação de Mídia e Cotidiano, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Tatiana Lima. Ela mora próximo ao Morro do Alemão, onde realiza seu estudo de campo. Tatiana ressalta o papel da grande mídia na legitimação do programa de pacificação. “O discurso predominante é que a ocupação das favelas veio para trazer a paz e liberdade aos moradores, mas no Alemão a gente houve tiroteio quase todos os dias. Esse modelo tem que ser repensado”, destaca.

Comunidades sob o fogo cruzado Uma cabeleireira, de 40 anos, que também não quis dar seu nome, diz que a violência piorou. “Agora tem assalto, roubo de casas e estupros na Rocinha. Coisa que não existia antes. Então cadê nossa segurança?”, questiona. Mas a situação dos jovens é a pior de todas, pois constantemente são discriminados e violentados pela polícia pacificadora. Na úl-

tima semana um estudante da Escola Estadual Airton Senna, de 16 anos, e alguns colegas estavam uniformizados, saindo para a aula, quando foram abordados por policiais da UPP. “Eles revistaram tudo, a gente, as mochilas. Foi a primeira vez que isso aconteceu comigo, mas vejo isso direto com amigos e colegas da escola. Quase todo dia”, relata o adolescente. (FR)

Sem solução à vista

Assim como no Alemão, os moradores da Rocinha relatam que os tiroteios continuam fazendo parte da rotina. “Existe uma falsa aparência de segurança, mas aqui as coisas só pio-

raram. Eu não tenho mais confiança de andar tranquilo à noite. Disseram que a polícia estava chegando para trazer a segurança, mas o que estão fazendo é criminalizar o morador. Só

porque mora em favela eles acham que é todo mundo vagabundo”, denuncia um motorista, de 28 anos, morador da Rocinha, que aceitou falar sem ser identificado.

Embora o modelo de segurança esteja desgastado, o governo do Rio de Janeiro não deu sinais de que o sistema será revisto. A receita contra a violência até o momento parece ser a mesma de sempre: mais violência. Isso fica evidenciado em recentes declarações do secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame. Ele disse que “para reduzir a violência, a medida adotada é aumentar o policiamento ostensivo”. O Brasil de Fato procurou a Secretaria de Segurança para saber se medidas seriam adotadas para melhorar ou mudar o atual modelo de pacificação, mas até o fechamento desta edição não foi recebida nenhuma resposta.


MUNDO

Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

Banco de preços da Unasul ampliará acesso a medicamentos As nações sul-americanas compartilharão um banco de dados com preços de medicamentos cobrados pelos fabricantes em cada país da região. De acordo com o diretor executivo do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (Isags), José Gomes Temporão, esse será o pri-

meiro passo de uma série de estratégias conjuntas entre os países da região para aumentar o acesso de cidadãos sul-americanos a qualquer tipo de medicamentos. O secretário-geral da União de Nações Sul-americanas (Unasul), Ernesto Samper, esclareceu que a

Cuba agradece ao Papa Reprodução

diferença de preço de um medicamento pode chegar a dez vezes entre um país e outro. Ele adiantou que, caso não funcione a pressão para que os preços sejam mais equitativos, os países da Unasul poderão optar pelo licenciamento compulsório de determinados produtos. (EBC)

Mortes durante imigração no Mar Mediterrâneo Os 15 países-membros do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) se reuniram na segunda (11) para discutir formas de cooperação para amenizar a situação da imigração no Mar Mediterrâneo. Nos primeiros 150 dias de 2015, mais de 1,8 mil pessoas morreram tentando atravessar para a Europa. Cerca de 51 mil chegaram em solo europeu pelo mar, fugindo da guerra e da miséria que assolam países do Oriente Médio, da África e Ásia.

Programa Outras Palavras O Programa Outras Palavras, uma produção do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), é exibido aos sábados nas TVs Band Minas, Band Triângulo e Candidés, das 10h às 10h30. O Outras Palavras é um Programa, que tem como objetivo promover uma ampla discussão sobre a educação pública mineira na visão dos educadores. Além do Educação em Debate, o Programa conta com os quadros: Profissão Educador, Tira-dúvidas, Choque de Realidade, Momento CNTE, Agenda, Momento CUT Minas e o Humor na Educação.

O presidente cubano Raúl Castro teve, no domingo (10), uma reunião com o Papa Francisco, na Cidade do Vaticano, e agradeceu sua intermediação à aproximação entre Cuba e os Estados Unidos. Em setembro, o Papa Francisco deve viajar até a ilha caribenha.

Outras Palavras Todos os sábados, nas TVs Band Minas, Band Triângulo e Candidés

10h às

10h30

Fique ligado no programa Outras Palavras!

www.sindutemg.org .br Filiado à

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Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

ENTREVISTA 11

“A mulher negra ainda é a base da pirâmide social” 13 DE MAIO Feminista explica o sentido da Marcha das Mulheres Negras Arquivo Pessoal

Rafaella Dotta No dia 13 de maio, Belo Horizonte e outras capitais receberam a Marcha das Mulheres Negras, uma manifestação político-cultural “contra o racismo, a violência e pelo bem viver”. Djamila Ribeiro, feminista negra e doutoranda da Universidade de São Paulo (USP), explica a importância de dar visibilidade a questões próprias de mulheres negras. Ela também traz o tema da “interseccionalidade de opressões”, campo em que uma pessoa deve ser considerada “diversa” e não universal. Em sua tese de doutorado, “Simone de Beauvoir e Judith Butler: aproximações e distanciamentos e os critérios de ação política”, ela estuda o papel das feministas para a construção da filosofia. Segundo Djamila, o início não foi fácil, pois mulheres dificilmente são valorizadas como pesquisadoras. “Mas agora já temos mais pessoas estudando filósofas dentro da própria USP. E é isso... nós vamos abrindo caminho”.

“A gente ainda carrega uma opressão de raça histórica, aliada a uma opressão do machismo, que coloca a mulher negra nos piores lugares sociais” Brasil de Fato - Quais são os principais problemas da mulher negra no Brasil? Djamila Ribeiro - A questão da invisibilidade dentro dos próprios movimentos sociais, os movimentos de esquerda, o movimento feminista. A gente ainda precisa lutar para ter as nossas pautas inseridas como

tra, você está dizendo que eu tenho que me apagar. E a gente não consegue nem pensar em maneiras de mudar essa estrutura, porque a gente acaba alimentando ela.

Djamila Ribeiro: “As opressões estão subordinadas à mesma estrutura, e não acabar com essas violências significa fortalecê-las”

principais. A mulher negra é tratada como um sujeito implícito e não protagonista. E a gente ainda carrega uma opressão de raça histórica, aliada a uma opressão do machismo, que coloca a mulher negra nos piores lugares sociais, tanto econômico, quanto na questão do respeito, de humanidade. A mulher negra ainda é a base da pirâmide social, a maioria de empregadas domésticas, por exemplo. É uma luta pra ter a nossa humanidade respeitada.

“Se eu sou mulher negra eu tenho que trabalhar nessas duas frentes, de raça e de gênero” Quais são as particularidades do feminismo negro? Tratar as nossas questões da forma como se deveria, não priorizar uma opressão em detrimento de outra. Se

eu sou mulher negra eu tenho que trabalhar nessas duas frentes, de raça e de gênero. Porque são essas duas frentes que me oprimem. No caso de uma mulher negra lésbica, a mesma coisa: é preciso trabalhar em três frentes. Quando a gente cria a primazia de uma opressão sobre ou-

É por isso que vocês resolveram fazer uma Marcha de Mulheres Negras, em 13 de maio? Sim, para colocar em pauta as nossas questões. Dentro do movimento negro se trata muito das questões dos homens, e dentro do movimento feminista foca-se nas questões das mulheres brancas. Então, é uma marcha de mulheres negras, pra gente dar visibilidade às nossas particularidades. E como se trabalha essa junção de opressões? Dizemos que isso é uma interseccionalidade. Este é um conceito criado por feministas negras com a intenção de trabalhar com as intersecções de opressão, porque ninguém é uma coisa só. Contra a tentação de alguns movimentos de universalizar as questões, esquecendo que nós somos diversas. Dentro desse “ser mulher” existem várias mu-

lheres. Dentro desse “ser negro” existem vários negros, várias formas de ser. É uma forma de mostrar que as opressões estão interligadas, que são subordinadas a uma mesma estrutura e não faz sentido trabalhar sem dar atenção a isso.

“Dentro desse ‘ser mulher’ existem várias mulheres” Você pode dar um exemplo? Se você é do movimento negro, mas você é machista, você não está percebendo que, oprimindo a mulher, você também está se oprimindo. Porque esse poder que ele está usando para me oprimir é o mesmo poder que a sociedade vai oprimi-lo na questão de raça. Ao fim, as opressões estão subordinadas à mesma estrutura, e não acabar com essas violências significa fortalecê-las. Eu sempre me pergunto: que sociedade que a gente quer? Uma em que eu não sofra mais, mas dane-se a opressão dos outros? Nessa a gente já vive. Ísis Medeiros / Levante Popular da Juventude


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CULTURA

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AGENDA DO FIM DE SEMANA POESIA

TEATRO

FEIRINHA

REIKI

Coletivo Slam Clube da Luta apresenta batalha de poesias, pelo projeto “Arte no Centro”. Sexta (15), às 20h, no Teatro Espanca! (Rua Aarão Reis, 542).

Adaptação de “Minha mãe é uma peça”. Adeilson Brito interpreta Dona Hermínia, personagem de Paulo Gustavo. Sexta (15), às 19h30, no Centro Cultural São Bernardo.

Mais uma edição da Feira da Gratidão, evento que incentiva a troca de objetos, sem utilização de dinheiro. Domingo (14), às 13h, na Praça da Liberdade.

Shows, rodas de Reiki, piquenique e sessões de musicoterapia tomam conta do 4º evento Reiki, Grama e Amor! . Domingo (17), de 10h às 18h, na Praça do Papa.

Segunda a quinta-feira SKATE

cinema

A exposição “Corpo S.K.T”, da artista Andrea Goulart, aborda o skate como representação da cultura urbana. O esporte é retratado em telas e desenhos. Até 30/05. De terça a sexta, das 8h às 17h, no Centro Cultural Padre Eustáquio (Rua Jacutinga, 821).

BOA DA SEMANA

O projeto Curta no Almoço, do CentoeQuatro, exibe o curta-metragem “Sem Coração”, de Nara Normande e Tião (PE). Terça (19), de 13h a 13h30, no Espaço CentoeQuatro (Praça Rui Barbosa, 104 - Centro).

FOTOGRAFIA

CINEMA E LITERATURA

Oficina de Pinhole, processo alternativo sem a necessidade do uso de equipamentos convencionais. Os participantes irão construir sua câmera e laboratório fotográficos. Segunda (18) e terça (19), às 14h30, no Centro Cultural Vila Marçola (Rua Mangabeira da Serra, 320 - Serra).

A mostra “Narrativas do Fantástico” exibe filmes inspirados em clássicos da literatura. Até 31/05. Terça às 18h, quarta a sábado às 19h30 e domingo às 17h, no Sesc Palladium (Avenida Augusto de Lima, 420 – Centro).

Cabelo natural também é legal No domingo, dia 17, BH recebe a 4ª edição do Encrespa Geral BH, que incentiva o cabelo natural, . “É muito bom dizer ‘eu amo meu cabelo, sou linda desse jeito’, e ver que isso é possível”, conta Dandara Elias, organizadora do evento. Ela explica que antes do movimento que ocorre em todo o país, as referências de cabelo crespo bonito eram de atores e atrizes.

“Quando alguém fica com o cabelo natural, se torna referência. Por isso o movimento cresce tanto e tão rápido”, explica. Com uma extensa programação, desde palestras e rodas de bate-papo até apresentações musicais de soul e samba, são esperadas cerca de 1.200 pessoas no evento. Parte da programação será a realização do “big chop” o corte de toda a parte com química

dos cabelos em transição, deixando apenas o natural. O movimento ocorre também em outras 18 cidades do Brasil e mais quatro países.

Serviço O quê: Encrespa Geral BH Local: UAI Shopping, Rua Saturnino de Brito, 17, Centro Data: 17 de maio Horário: Das 11h às 14h30


CULTURA

Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

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Exposição retrata pessoas e É pra dar pinta! paisagens da BR-381 LGBTT Gays convidam para encontro de afeminados, que pretende FOTOGRAFIA Mostra gratuita revela aspectos de rodovia que liga BH a Ipatinga Divulgação

Raíssa Lopes

novo. “Eu mesmo, quando ando na rua, não reparo nas pessoas que moram lá. Mas a partir das fotos eu já consigo os perceber, é diferente”, diz. Já a estudante do 7º ano Vitória de Oliveira participava da aula de história durante a exposição e, em atividade, escreveu o que achava mais importante nas imagens. “Eu escolhi a foto da Kombi. E achei bem interessante porque é algo que pode dar abrigo para uma pessoa que não tem moradia, como essas retratadas pelo fotógrafo. Hoje aprendemos muito fora da escola”, conta a adolescente.

Fabrício Assis

No Dia Internacional de Combate à Homofobia, 17 de maio, a Praça da Liberdade receberá o I Encontrão Afeminado, evento que pretende debater a heteronormatividade e questões que envolvem a sexualidade em todas as suas formas. Estão marcadas palestras e mesas de discussão, workshop para customização de camisas, espaço maquiagem e shows. Além disso, serão recolhidas doações de brinquedos, ração e jornais para serem entregues a ONGs que cuidam de animais carentes. O encontro é chamado pela página do Facebook Sou/Curto Afeminado, que possui atualmente 10 mil curtidas. “Talvez seja a hora de dar um novo passo, sair um pouco das redes sociais e ocupar os lugares por aí”, comen-

ta a organização na página do evento. Além de BH, o Encontrão acontece em outras 12 cidades brasileiras. Em Minas, Uberlândia também organiza uma edição

na sexta-feira (15). Serviço Quando: Domingo (17) Onde: Praça da Liberdade Quanto: Entrada Franca

O Brasil de Fato vai até você

O Brasil de Fato vai até você Agora, você pode receber o jornal Brasil de Fato Minas Gerais em sua casa, toda semana, pagando apenas o custo da distribuição. Não perca tempo. Assine já!

Agora, você pode receber o jornal Brasil de Fato Minas Gerais em sua casa, toda semana, pagando apenas o custo do envio. Não perca tempo.

Serviço Quando: até 7 de junho. De terça a sábado, das 9h30 às 21h, e domingo, das 16h às 21h Onde: Centro de Arte Contemporânea e Fotografia (Av. Afonso Pena, 737 - Centro) Quanto: Entrada gratuita

Assine já!

Início das entrega das assinaturas: maio/2015

Em meados de 2010, o fotógrafo belo-horizontino Daniel Moreira se casou com uma moradora de Ipatinga. Para ver a família, tinha que cruzar semanalmente a rodovia BR-381. O cenário lhe chamou a atenção e motivou o artista a registrar, com sua câmera, cenas e pessoas que encontrava pelo caminho. Os cliques das viagens se transformaram na exposição “Paisagem Ambulante 381”, que pode ser conferida até o dia 7 de junho, no Centro de Arte e Fotografia, na Praça Sete. A mostra reúne 38 imagens em preto e branco, que retratam o universo da estrada e de andarilhos e viajantes que fazem dela um meio de sobrevivência. O trabalho foi desenvolvido ao longo de cinco anos por Daniel, que também procurou evidenciar a melancolia dos 200 km que encarava sozinho para visitar a mulher e os filhos. Para conseguir uma unidade estética em toda a série, as fotos foram tiradas sempre entre os meses de novembro e maio. Para o jovem Alan Gomes, de 13 anos, que participava de uma visita à exposição realizada pela Escola Municipal Fernão Dias Costa, os registros de Moreira fazem a população notar um mundo

ocupar espaços públicos e discutir sexualidade

Divulgação

Entre em contato conosco: distribuicaomg@brasildefato.com.br 31 3568-0691


Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

Novela

E se você fizesse uma novela? que

Lanço o desafio! Qual seria a sua novela? Que personagens ela teria? Que dilemas e tramas se passariam? A dramaturgia e a literatura são formas de expressão que permitem ao autor “brincar de

Deus”, ser o todo poderoso que tudo vê, tudo sabe e tudo decide. Eu me encanto com isso! Fico imaginando como deve ser divertido e ao mesmo tempo sofrido resolver quem fica com quem, que loucuras o vilão vai fazer, que situações da vida o protagonista vai viver. Não parece bacana? Quando eu brincava de novela, costumava criar roteiros na cabeça. Para o meu personagem, claro, porque a onda era mais atuar do que pensar na história inteira. No entanto, depois de um pouco mais de

vida vivida, eu continuo brincando de novela e agora gosto de imaginar como seria minha história. Acho que ela falaria do sobre o amor, a paixão e o tesão. O eixo condutor seriam os encontros dos personagens com vários parceiros afetivos. O início e o fim dos casinhos, das ficadas, dos namoros, dos casórios seriam tratados numa espécie de consultório amoroso, no qual diálogos profundos, engraçados, chorosos e raivosos sobre a arte de se relacionar dariam sangue à trama. Os

Amiga da Saúde

Joaquim Vela

CAÇA-PALAVRAS

© Revistas COQUETEL

Procure e marque, no diagrama de letras, as palavras em destaque no texto.

Reprodução

R R F T E L U O S S A C G E T

S H A F A S E C L N A U A A E B D N L I A T T N S E Y H N P M O O A S S Ã S E S J T M A I O T I E T O A F S A L S L G L

O N T Y E D O F M R L L R I A

N A I A E A G M A T T A C M D

S R R N C A A I E R O P F E A

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R Y O C C A E C L E A F O T I

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A O R N C L A E O R M R D A R

S E L A R R D L A N F M A O A

U S R H E T F C S S E R V I R 19

Solução S A L A D A S

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R E PME T

C R O U T O N S

C I R EMA

O H L O M

ARTNE N N E I A L U J

A L I MEN T O A D A N I R AM

SO SECNARF U A B ANA N I T N AD E H P O M A S E S S T OT I LAP ODA D I Z O C S U E L A R

C A R S N E E R V I DOURA R

Sofia Barbosa Coren MG 159621-Enf.

Glossário gastronômico À AMERICANA – A comida é disposta na MESA para que as pessoas possam se SERVIR. Esse tipo de expediente é USADO quando a quantidade de convidados não cabe à mesa. À la JULIENNE – O ALIMENTO é cortado em formato de PALITO. ANTEPASTO – Mais conhecido como aperitivo ou ENTRADA. CASSOULET – Prato típico da culinária FRANCESA, é um COZIDO de carnes e FEIJÃO-branco. CROÛTONS – Muito usadas para acompanhar SALADAS, essas pequenas torradas são feitas de CUBINHOS de pão. MARINADA – Trata-se da mistura de TEMPEROS na qual se deixa a CARNE de MOLHO. SELAR – É o ato de DOURAR a carne numa frigideira ou em panela bastante aquecida para fechar a superfície do alimento, impedindo, assim, a perda de seus sucos naturais.

T E L U O S S A C

Cara Janaína, nosso intestino funciona bem com três ingredientes fundamentais: 1) Beber muita água, cerca de 2 litros por dia. Se você bebe pouca água, suas fezes ficam secas e têm dificuldade de se locomover no intestino. 2) Praticar exercícios regulares. Eles ajudam na movimentação do intestino e melhoram a circulação sanguínea. 3) Ingerir alimentos ricos em fibra e evitar massas. As fibras absorvem água e por isso deixam as fezes mais moles, facilitando o trânsito intestinal. São alimentos ricos em fibras: verduras, frutas, legumes, castanhas, sementes, etc. Tomar água ou alimentar-se assim que levanta da cama pela manhã ajuda a potencializar a movimentação intestinal e costuma ser um bom estímulo. Persista na mudança de hábitos que você terá bons resultados. Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde

outros pela bebida, pelo destempero ou pela incompatibilidade. Alguns permaneceriam amigos, outros nunca mais voltariam a se ver... Está lançado o desafio! Conta para mim como seria sua novela. Quem sabe a gente não torna a sua ideia pública aqui? E um dramaturgo não aceite roteirizá-la? Ou façamos um concurso das melhores sinopses? É só escrever para o quimvela@brasildefato.com.br. Espero você!

www.coquetel.com.br

Amiga, será que você poderia me ajudar? Tenho intestino preso e sofro muito com isso. O que eu faço? Janaína, 26 anos, atendente

casais, de variados tipos, héteros, gays, lésbicos, transexuais, militantes, artistas, de diferentes idades, humores, rotinas, ideologias, passariam por todo tipo de situações. A novela contaria, assim, que não existe receita para se relacionar, que cada parceiro é um, mas que às vezes repetimos o foco dos desejos. E que o tesão, ah o tesão, é a artéria aorta do coração de uma relacionamento. Poucos desses casais acabariam juntos, alguns formariam família, alguns seriam separados pela morte,

ilustração: machado

14 VARIEDADES


ESPORTE

Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

na geral Violência nos estádios Reprodução

Barcelona e Juventus decidem a UEFA Champions League FINAL INÉDITA Time de Messi é favorito, mas as surpresas acontecem no futebol

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na geral Rio 2016 Reprodução

Reprodução

Paulo Castilho, promotor do MP, propôs estruturar uma justiça especializada para combater a violência nos estádios e estabeleceu o prazo de seis meses para que o problema seja resolvido. A execução da proposta estará a cargo da Secretária Pública do Estado de São Paulo. A meta é considerada ousada, pelo curto prazo estabelecido.

Na Liga dos Campeões, quem desejava uma inédita final entre Real Madri e Barcelona vai ter que esperar até o ano que vem, pelo menos. A novidade é o confronto entre o time catalão, de Messi, Suárez e Neymar, e a Juventus, de Buffon, Tévez e Pogba. Na última vez em que La Vecchia Signora chegou à decisão, em 2003, caiu perante o Milan, seu conterrâneo. Nesse meio tempo, o clube de Turin comeu o pão que o diabo amassou. Em 2006, foi punido com o rebaixamento, por participar de um esquema de adulteração de resultados, num processo que aliviou para o Milan, a Lazio e a Fiorentina. Passou anos sem ganhar um grande título, até vencer

as últimas quatro edições do Campeonato Italiano. Por esse histórico de superação, a Juventus acumula simpatizantes no mundo inteiro. Decerto, ainda maior será sua torcida contra o todo poderoso Barcelona. Se os dois times se en-

frentassem 100 vezes, o Barça triunfaria quase sempre. Com um único jogo, todavia, tudo pode acontecer. No futebol, que não é o império da lógica, o imponderável adora dar as caras. Um lance pode decidir o título. Em Berlim, teremos um jogo emocionante.

A Secretaria de Estado de Esportes abriu inscrições para a edição 2015 dos Jogos de Minas Gerais. O evento busca fortalecer o esporte nos municípios do interior e formar atletas que possam representar o estado nas principais competições nacionais e internacionais. Mais informações em: jogosdeminas.esportes.mg.gov.br.


16 ESPORTES

Belo Horizonte, 15 a 21 de maio de 2015

DECLARAÇÃO DA SEMANA

CURTO E GROSSO

Cada um vai para um lado Vinnicius Silva e Washington Alves / Site do Cruzeiro

Wallace Oliveira A noite da última quartafeira (13) proporcionou grandes surpresas aos brasileiros na Libertadores. Atlético/ MG, Corinthians e São Paulo, apontados como favoritos a trazer a taça para o Brasil, dançaram na competição. Já Cruzeiro e Inter, que chegaram desacreditados, avançam às quartas de final. Com isso, os grandes de Minas passam a definir estratégias distintas para o restante do primeiro semestre. Eliminado do torneio continental, o Galo fica inteiro para o Brasileirão, competição que pretende voltar a vencer, passados 44 anos do último título. Domingo (17), deve ir

Não vejo como ingerência ter mais democracia em uma entidade como a CBF. A entidade levanta R$ 500 milhões em 2014 e os jogadores, que ajudam a arrecadar esse valor, não têm um voto dentro das federações e da própria CBF.

Reprodução Facebook / Alex de Souza

Alex, membro do Bom Senso FC, em audiência pública para discutir a MP do Futebol. O Bom Senso quer a democratização do esporte, mas a CBF vê nisso uma “ingerência do governo”.

com força total pra cima do Fluminense, no estádio Mané Garrincha, em Brasília. O Cruzeiro, por sua vez, renasce no torneio para o qual foi apontado como azarão. Desmanchou o elenco no começo do ano e teve que formar nova equipe enquanto

jogava a Libertadores. Agora, a heróica classificação sobre o São Paulo dá confiança ao grupo. A luta pelo quinto título do Brasileirão fica em segundo plano. Marcelo Oliveira deve poupar titulares contra o Santos, mirando o jogo contra os argentinos.

Gol de placa O Inter de Porto Alegre deu uma banana para o padrão FIFA. Na parte inferior do Beira Rio, atrás de um dos gols, foram retiradas 500 cadeiras. Sobrou espaço para a torcida se movimentar livremente e fazer a festa, como na boa e velha arquibancada, que as modernas arenas de futebol tentam suprimir.

Gol contra Projeto de Lei (PL) do vereador Daniel Nepomuceno (PSB-MG) propõe criar curso de capacitação para usuários de veículos de propulsão humana (bikes, skates e similares). O PL foi criticado por ciclistas, especialmente no artigo 4º, que prevê uma espécie de “carteira de habilitação”, sob responsabilidade e custo do usuário.

OPINIÃO América Bráulio Siffert Nos dois empates em 1 a 1, arrancados contra o Bahia, pela Série B, e contra o Ceará, pela Copa do Brasil, após longos 33 dias sem disputar jogos, o América deixou claro que precisa melhorar bastante, caso queira concorrer ao acesso à Série A e a avanços de fase na Copa do Brasil. Os pontos negativos, como desentrosamento, falta de ca-

pricho no passe final, desorganização em campo, muitos passes errados, volantes com péssima saída de bola e laterais errando muitos cruzamentos tiveram mais destaque do que os positivos, como o relativo bom posicionamento da zaga, velocidade pelas laterais, potencialidade do estreante Tony, certo controle da posse de bola e melhoria na transição entre a defesa e o ataque.

OPINIÃO Atlético Rogério Hilário Diante do ocorrido, pouco a acrescentar. Vimos o Atlético aguerrido, como sempre. Lutou até o último segundo, estratégia ou alternativa plausível diante das adversidades. Faltaram Marcos Rocha e Guilherme no momento decisivo. E, é certo, a eliminação veio no primeiro jogo. Em casa, a vitória era imprescindível, pois o avesso do avesso aconteceu

neste ano. As decisões, ao contrário de 2013 e 2014, foram em situação adversa. Como dizia o sábio Gonzaguinha, atualmente no Éter, a nos observar: “No campo do adversário, é bom jogar com muita calma, procurando pela brecha pra poder ganhar.” Calma, galera! Já conquistamos o 43° Estadual. Ainda lutamos pelo bi no Brasileiro e na Copa do Brasil. E com chances mais reais.

OPINIÃO Cruzeiro Léo Calixto Exuberante. A palavra utilizada por Marcelo Oliveira resumiu muito bem a classificação para as quartas de final da Copa Libertadores. Se alguém tinha dúvida do potencial que a recém formada equipe celeste tem, a vitória contra o São Paulo serviu para saná -la. Mas a bela atuação da última quarta não pode mascarar a atual realida-

de da equipe celeste. Afinal, os problemas com as finalizações e o último passe ainda persistem. Como ressaltaram alguns jogadores após o jogo, a postura do time tem de ser assim em toda a temporada, não somente em momentos cruciais, em que se joga pelo tudo ou nada. Os argentinos serão os próximos adversários e, por lá, os jornais já pregam o respeito que La Bestia Negra merece.


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