Mídia Ninja
Ocupações terão 15 dias Despejo de ocupações urbanas foi suspenso após pressão. Foi aberta negociação em torno de mudanças em projeto para remanejar as 8 mil famílias que moram na região do Izidora
3 CIDADES Minas Gerais
Bruno Cantini
26 de junho a 2 de julho de 2015 • edição 92 • brasildefato.com.br • distribuição gratuita
Larissa Costa / BFMG
16 ESPORTES
Galo volta ao Gigante Partida contra Joinville será jogada no Mineirão, palco das maiores conquistas alvinegras. Ingressos em promoção Larissa Costa / BFMG
13 CULTURA
Viu poesia por aí? Escadas do metrô e rua da Bahia recebem poesia de Carlos Drummond,homenageado pelo Festival Internacional de Literatura. De 25 e 28 de junho, em BH
Fiat Betim paralisa produção Trabalhadores da empresa entram em férias coletivas por 10 dias e situação econômica traz outras propostas à tona, como a redução de salário. Especialistas mostram opiniões diferentes sobre aceitar ou não os acordos. Seria uma forma de salvar empregos ou mais uma esperteza dos patrões?
6 MINAS
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OPINIÃO
Belo Horizonte, 19 a 25 de junho de 2015
editorial | Brasil
Sonhar é parte da solução
ESPAÇO dos Leitores
Texto lindo! Com certeza, à altura da poética igualmente linda de Fernando Brant! Pablo Rios, comentando o artigo de João Paulo Cunha, “A palavra e a vida”, em homenagem a Fernando Brant
Os tucanos terceirizaram quase tudo em MG? Raimundo Medeiros, comentando a matéria “Trabalhadores denunciam descontrole das terceirizações na Imprensa Oficial de MG”
Aqui pertinho de casa - eu vi a área sendo mutilada... Marta Bouissou Michel, comentando a matéria “MP proíbe Prefeitura de BH de conceder licenças de construção em território quilombola”
Ai que bom!!!! Maria De Lurdes Prados comentando a matéria “Piso Nacional para educadores mineiros é aprovado na ALMG”
Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br
Ninguém anda muito satisfeito os mais pobres, retiraram direitos, com a vida, com a política e com a criminalizam os pobres e os moviprópria sociedade. Andamos insa- mentos populares. tisfeitos com a educação, a saúde, a É neste contexto que assistimos violência, e até com o pouco afeto tentativa do Congresso de reduzir nas relações cotidianas. à maioridade penal, o que permiO mal estar está difuso, mas sem tirá prender mais jovens pretos e sombra de dúvida ele é maior en- pobres. A medida vai excluir ainda tre os trabalhadores. Há uma clara mais quem até agora se viu abanpercepção de que a vida está mais donado pelas ações do Estado. dura, mais cara, O mesmo exmais inseguro o plica a contrarBrasil anseia mais justiça reforma polítiemprego. Pior. O poca em tramitavo brasileiro sação no Congresbe que, se ele vai mal, isso não va- so. Ela não nos engana. Não atende le para os mais ricos, que mesmo às reivindicações das ruas, e, pior, na crise, sempre ganham. Em 2014 regulamenta a corrupção ao legao país teve crescimento próximo a lizar o financiamento empresarial zero. O que significa que ficamos das campanhas eleitorais. mais pobres, pois o crescimento A busca por regulamentar a terda economia não acompanhou o ceirização, inclusive para atividacrescimento da população. Ou se- des fins, é mais uma pauta nefasja, a mesma riqueza terá que ser di- ta ao povo e que beneficia os mais vidida por mais gente. ricos. No entanto, os 5 maiores banSão medidas que retardam a recos que atuam no Brasil cresceram alização das reformas estruturais seus lucros em 2014 em mais de que podem dar o Brasil aos brasi18%, lucrando no total 60 bilhões leiros. Mas, na contramão dos temde reais. Só o Itaú lucrou 20 bi e o pos, e dos anseios por mais partiBradesco, 15,3 bilhões. cipação e cidadania, constroem as Na crise, quem sempre se bene- condições de uma revolta popular, ficiou aproveita para se beneficiar que cedo ou tarde virá. mais. É o que Os ganhos assistimos agoreais e simra. As medidas Bancos lucram mesmo na crise bólicos que a do ajuste fiscal parcela mais favorecem aos pobre do pomais ricos, que vivem do rentismo, vo brasileiro teve nos últimos anos de aplicações, de juros, como é o alimentaram sonhos. Quem mecaso de quem tem ações, dos ban- lhorou de vida descobriu que exiscos e banqueiros. te mais que apenas a pobreza e a Obviamente poderíamos ter ou- miséria, e deseja melhorar mais. tro ajuste, que, por exemplo, taxasMais que nunca sonhamos. E o se as grandes fortunas. A criação sonho é de um Brasil que se move desse imposto contribuiria com o por mais justiça e igualdade. Enorçamento do governo federal com quanto os trabalhadores sonharem igual montante do ajuste até agora juntos, por um projeto popular parealizado, entre tantas outras dis- ra o Brasil, seguirão sendo os únitorções da nossa tributação que cos capazes de transformar o país contribuem para manutenção da para melhor. nossa desigualdade social. O sentimento de indignação está Aproveitando da situação, o que no ar, e não tarda a colocar o trem a classe dominante faz é buscar no trilho e os sonhos no horizonte. aprovar medidas que penalizam
O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora também com edições regionais, em SP, no Rio e em MG. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.
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Belo Horizonte, 19 a 25 de junho de 2015
Despejo é suspenso por 15 dias e ocupações correm contra o tempo LUTA Moradores e especialistas preparam proposta para a realocação de 8 mil famílias Da Redação* Ocupações urbanas e governo estadual reuniram-se na terça-feira (23) para discutir novos termos para a desocupação da região de Izidora, em Belo Horizonte. As ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória conseguiram prazo para apresentar uma contraproposta, que poderá ser um misto de lotes térreos e apartamentos do programa Minha Casa Minha Vida. A realocação das oito mil famílias está sendo construída por representantes das ocupações, estudantes e professores da PUC Minas e por integrantes da organização Arquitetos Sem Fronteiras. O assessor da Comissão Pastoral da Terra e representante das ocupações, Frei Gilvander
Moreira, explica que o objetivo é construir uma contraproposta popular e plural. Ele afirma que as famílias se dispõem a pagar uma quantia mensal para o financiamento de apar-
Jornalista da ‘Veja’ é punida por plágio
tamentos do Minha Casa Minha Vida. “Mas para isso é preciso discutir quantos mil apartamentos e a qualidade deles”, lembra. *(com Portal Minas Livre)
TARIFA ZERO Sentença nega suspensão do serviço que atende à população de Maricá
Passe livre para todos Maricá foi o primeiro município brasileiro com mais de 100 mil habitantes a oferecer ônibus gra-
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reproducao/twitter
Decisão da Justiça em favor do transporte gratuito Na segunda (22), a Prefeitura de Maricá (RJ) e a Empresa Pública de Transporte (EPT) receberam da Justiça a terceira sentença favorável ao transporte gratuito que atende à população da cidade desde o fim do ano passado. O caso ainda será analisado no tribunal, mas a 1ª Vara Cível negou a suspensão do serviço prestado pela EPT e a apreensão de sua frota de 13 ônibus. A ação foi movida pelo Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (SETRERJ), representando as duas empresas que, há 40 anos, controlam o sistema de transporte maricaense.
CIDADES
tuito para a população. Em dezembro de 2014, a Prefeitura local fundou a EPT e inaugurou o passe livre com 10 ônibus distribuídos em quatro linhas
que atravessam a cidade. Em nota, a Prefeitura afirma que a medida tem o intuito de beneficiar a população mais carente que não vinha sendo atendida de forma satisfatória.
O Sindicato dos Jornalistas do Paraná (SindijorPR) decidiu impedir, definitivamente, o ingresso de Joice Hasselmann no quadro da entidade, após comprovação de plágio. O sindicato aceitou a decisão do Conselho de Ética do Paraná (CEP) e ela não poderá utilizar serviços e benefícios concedidos a outros profissionais da área. Ficou comprovado que a jornalista plagiou 65 reportagens, escritas por 42 pessoas diferentes, somente entre os dias 24 de junho e 17 de julho de 2014. A investigação vinha sendo feita pelo CEP depois que vários veículos solicitaram apuração sobre o caso. O processo contra ela tem, ao todo, mais de 100 páginas. A direção do SindjorPR rechaçou a atitude de Hasselmann, que teria se apropriado do trabalho intelectual de colegas de profissão, como se fosse a autora das reportagens, quando mantinha uma página na internet denominada ‘Blog da Joice’. Ela passou pela Rádio BandNews e TV Record, na capital paranaense, e hoje atua como apresentadora da Veja.com. As denúncias serão levadas também à Comissão Nacional de Ética da Federação dos Jornalistas, onde outras sanções estão previstas. Os jornalistas prejudicados ainda podem encaminhar processos civis, uma vez que Joice Hasselmann infringiu, além do Código de Ética, a legislação de direito autoral. (Revista Fórum)
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MINAS
Belo Horizonte, 26 de junho a 2 de julho de 2015
Ministério Público denuncia Magistrados pró trabalho escravo em Minas mineração responsáveis pela administração dos alojamentos e pela fiscalização, vigilância e transporte dos empregados. Um encarregado de mão de obra da empresa Alvorada do Bebedouro, José Realista da Silva, também foi denunciado, assim como Romildo Machado de Figueiredo. Os fiscais ainda autuaram as empresas por impor a alguns trabalhadores jornadas exaustivas, extrapolando o limite legal de duas horas extras por dia, com trabalhos inclusive aos domin-
Márcio Pimenta
gos. Os réus irão responder pelos crimes de trabalho escravo, frustração de direito assegurado por legislação trabalhista, aliciamento de trabalhadores de um local a outro do território nacional e formação de quadrilha, todos do Código Penal. As penas, somadas, variam de 5 a 16 anos de prisão. (Da redação)
Programa Programa Outras Outras Palavras Palavras OOPrograma Sindicato Programa Outras Outras Palavras, Palavras, uma uma produção produção do do Sindicato Único Gerais Único dos dos Trabalhadores Trabalhadores em em Educação Educação de de Minas Minas Gerais (Sind-UTE/MG), Minas, (Sind-UTE/MG),ééexibido exibido aos aos sábados sábados nas nas TVs TVs Band Band Minas, Band BandTriângulo TriânguloeeCandidés, Candidés, das das 10h 10h às às 10h30. 10h30. OOOutras objetivo OutrasPalavras Palavraséé um um Programa, Programa, que que tem tem como como objetivo promover pública promover uma uma ampla ampla discussão discussão sobre sobre aa educação educação pública mineira mineirana navisão visãodos doseducadores. educadores. Além Além do do Educação Educação em em Debate, Debate, oo Programa conta com os quadros: quadros: Profissão Profissão Educador, Educador, Tira-dúvidas, Tira-dúvidas, Choque de Realidade, Momento MomentoCNTE, CNTE,Agenda, Agenda, Momento Momento CUT Minas e o Humor na naEducação. Educação. Fique Fiqueligado ligadono noprograma programa Outras Palavras!
Como parte da comemoração de seus 60 anos, a Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis) realiza nesta semana o I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária. A entidade destaca que há “crescente demanda judicial envolvendo a questão”. Dos dias 24 a 26, oficinas e palestras tratarão do tema, em evento no Hotel Othon Palace. Cerca de 35 entidades e movimentos que atuam em defesa do meio ambiente e na defesa dos direitos humanos, como o Fórum Nacional da Sociedade Civil na Gestão de Bacias Hidrográficas e o Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da UFMG, lançaram nota criticando a postura dos magistrados de realizar um evento ouvindo apenas empresas e
políticos que se favorecem com a mineração. A nota critica ainda a posição parcial da associação, que não convidou para o evento organizações públicas e privadas que acompanham a atividade e reforça ainda que o Judiciário se soma assim no descaso frente à proteção do meio ambiente e dos atingidos. “Como poderão os magistrados, estudantes e advogados participantes do congresso [...] terem uma compreensão equilibrada de uma realidade narrada basicamente pelos consultores de empresas e sindicatos da mineração?”, questionam as entidades. Entre os palestrantes estão Leonardo Quintão, relator do marco regulatório da mineração e Octávio Bulcão Nascimento, Diretor Jurídico da Vale S.A. (Da redação)
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Junho/2015 Junho/2015
O Ministério Público Federal em Minas Gerais (MPF/MG) denunciou dez pessoas - entre elas, quatro empresários de um grupo econômico composto pelas empresas Alvorada do Bebedouro SA Açúcar e Álcool, Absolut Participações Ltda, Agrícola Monções Ltda e Asthúrias Agrícola Ltda – por redução de trabalhadores à condição análoga à de escravo e formação de quadrilha. Foram encontrados 1.572 trabalhadores submetidos ao trabalho análogo à escravidão em fazendas situadas nos municípios de Guaranésia, Arceburgo e Monte Belo, no sul de Minas Gerais. Além dos empresários, o MPF denunciou quatro aliciadores: Denilson Eliel Paterno Braga, Ricardo Moretti, João Custódio e Givanildo José da Silva. Eles eram
Belo Horizonte, 26 de junho a 2 de julho de 2015
Cidades trocam Copasa por empresas privadas SERVIÇO Privatização do setor é criticada por especialistas, que alertam para aumento no preço da água Reprodução/Copasa
Rafella Dotta Pará de Minas, Ubá e Montes Claros são algumas das cidades que estão trocando a empresa de abastecimento estatal por companhias privadas. Em Pará de Minas, na região metropolitana, o processo já foi feito e a cidade é atendida pela empresa Águas do Brasil, a mesma que quer se inserir nos outros dois municípios. “A Águas do Brasil faz parte de uma articulação nacional de empresas, a Trata Brasil, que está avançando para privatizar muitas cidades, inclusive em Minas”, alerta Wagner Xavier, diretor do Sindicato dos trabalhadores da distribuição de água e saneamento (Sindágua). Em Pará de Minas, estima-se que o faturamento será de R$ 1,7 bilhão, durante os 35 anos de contrato, ou R$ 48,5 milhões ao ano. Em Montes Claros, a receita atual é de 100 milhões ao ano, de acordo com a prefeitura. Já a Copasa de Ubá tem faturamento anual de 15 milhões. “Cerca de 68% da população paga tarifa social. É entendimento do povo que a outra empresa não vai ter essa facilidade, porque não trabalha com o social”, pontua Jorge Faustino, funcionário da Copasa em Ubá há 35 anos.
Privatização visa lucro “A iniciativa privada não está pra fazer graça pra ninguém”, lembra José Nelson, engenheiro civil e sanitário, e um dos autores da atual modernização do saneamento de Rondônia. “O primeiro objetivo de uma empresa privada é o lucro. Então a população teme que esse lucro vá resultar em tarifas mais elevadas”, alerta. Esta é a mesma preocupação de Wagner Xavier, que cita o exemplo de Paris, capital da França, que foi a primeira cidade a privatizar a água, em 1985. O sistema foi entregue às duas maiores multinacionais do setor e resultou em um aumento de 260% na conta de água.
Depois de 25 anos, o serviço foi retomado pela prefeitura em 2010, sob acusações de distribuir os lucros entre os acionistas das empresas, ao invés de investir em qualidade de saneamento e maior acesso à água para os cidadãos. Em Minas Gerais, a Copasa trabalha com a gestão coordenada de várias cidades, para que todas as residências paguem o mesmo preço pela água. Em um sistema de privatizações municipais, como ocorre na França, os preços variam e as cidades com maior dificuldade de água passam a pagar mais. Isso afetaria as cidades mineiras com menor poder econômico.
Como funcionam as concessões de água? Reprodução
Em Minas Gerais, as prefeituras podem escolher a forma de fazer a distribuição e tratamento da água. A prefeitura pode assumir o trabalho, contratar a Copasa ou contratar uma empresa privada. Para a terceirização, é preciso iniciar um processo licitatório. Neste momento, qualquer empresa pode concorrer, mostrando capacidade de serviço e preço baixo. O poder municipal decide quantos anos a vencedora prestará o serviço (geralmente são 35), assim como controla o preço a ser cobrado.
OPINIÃO
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Artigo
Procurar sua turma João Paulo Cunha Existem momentos que não deixam saída para a eventual emergência do acaso da razão. Há situações em que a necessidade de união anula divergências contingentes. Tem o momento da dança que prepara para a guerra e a inescapável convocação para a luta. A situação social e política brasileira carrega todas as dimensões da urgência. Não é possível esperar mais. Onde quer que pouse, o olhar encontra sinais de impasse e afronta à justiça social. No Congresso, a agenda conservadora deixou de ser conjunto de ideias inspiradoras para se traduzir num projeto articulado e cumprido pela sanha do achaque e do aparelhamento. Hábil jogador das regras da coalizão num governo que foi às cordas, o deputado Eduardo Cunha não indica com sua atuação o fortalecimento do Legislativo, mas a quebra do equilíbrio dos poderes. Sua ação é da ordem da chantagem e da defesa dos particularismos, portanto fora da dimensão republicana. O retrocesso legislativo, seguido quase com estupor e incompreensível lassidão, vai disA saída é uma só: tribuindo em camobilização madas o mais reacionário programa de afronta aos valores humanos, aos direitos socioambientais, ao emprego e ao funcionamento independente e democrático da estrutura política brasileira. No território em que deveria se viabilizar a construção da opinião pública, o que se percebe é a fraqueza em propor uma narrativa independente. As universidades e o segmento voltado para o pensamento e publicações mais consistentes deixaram aberto o flanco às especulações golpistas da mídia. O discurso vindo de atores colocados à margem não encontra guarida no mercado das ideias. A saída, que vem sendo defendida por todos os partidos, organizações, movimentos, homens e mulheres responsáveis é uma só: mobilização. Se a indicação é consensual, a forma de alcançá-la é atravessada por divisões que muitas vezes desaguam em impasses. Sem abrir mão do salutar dever de discordar e ganhar peso ético com o debate político, o que está posto hoje para a sociedade brasileira é sua inadiável necessidade de confrontar projetos e sair às ruas em sua defesa. No campo progressista, haverá o momento do consenso e a hora do dissenso. Uma dialética preciosa atravessa a atual quadra de crise das esquerdas no Brasil. De um lado a necessidade de não perder as conquistas traduzidas em ação de Estado nos últimos anos, o que significa defesa estratégica de algumas bandeiras e o enfrentamento destemido dos adversários de sempre. De outro, a coerência em apontar os limites expressos pela ação governamental, sobretudo no que ela vem significando em termos de afastamento do solo moral de sua sustentação histórica nos movimentos sociais e de alinhamento com interesses do capital especulativo. Articular esses dois momentos gêmeos na conjuntura do pensamento progressista vai exigir inteligência política. Até pouco tempo atrás, isso não era problema. O que mostra o que vamos perdendo com a inação. Há diferentes estratégias em jogo, mas talvez uma única saída eficaz: procurar sua turma. A esse chamamento histórico estão todos convocados. Não é hora da pintura ritual do rosto. Chegou o momento da luta pra valer.
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MINAS
Belo Horizonte, 26 de junho a 2 de julho de 2015
Fiat Betim paralisa produção por 10 dias
FATOS EM FOCO
ECONOMIA Medida atinge 73% dos trabalhadores da fábrica e pode indicar redução de direitos
Larissa Costa / BFMG
Rafaella Dotta Os trabalhadores da Fiat Betim parecem estar com medo. Procurados pela reportagem, negaram-se a falar sobre a situação da fábrica, explicando que podiam ser repreendidos. Medo de falar com jornalistas, medo de perderem direitos, medo de serem demitidos. A partir do dia 1º de julho, funcionários da fábrica Fiat em Betim entrarão em férias coletivas e não irão trabalhar por dez dias. A medida atin-
“A Fiat vem acumulando recordes de lucro. Com certeza não é preciso demitir ou diminuir salário” ge 12 mil trabalhadores diretos, ou seja, 73% dos funcionários, segundo a própria empresa.
Esta é a terceira parada da Fiat em Betim neste ano. As duas primeiras, em março e maio, atingiram 2 mil funcionários. A justificativa é a mesma nas três ocasiões: “ajustar a produção à demanda de mercado”. No entanto, a paralização da produção não será um “bônus” aos empregados. Os dias não trabalhados serão descontados das férias regulares ou serão pagos em dias de folga. Recordes de lucro Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e Região, é preciso ter cuidado, pois as empresas usam os momentos de “polêmica econômica” para negociar redução de salário e de direitos. “A Fiat vem acumulando recordes de lucro. Com certeza não é preciso demitir ou diminuir salário”, afirma João Alves de Almeida. A Fiat teve a segunda maior receita operacional
líquida de Minas Gerais em 2014, representando R$ 23 milhões. Ficou também na quarta posição na lista das empresas mineiras com maior índice de exportação, arrecadando R$ 855 milhões. As informações são do 4º boletim trimestral da Fundação João Pinheiro, de 2014. De acordo com João Alves, é preciso ter paciên-
cia, pois a empresa deve retomar seu crescimento em breve. “Tem um investimento grande da Fiat aqui em Betim, na área de pintura, que era um gargalo no passado. Há por parte deles uma perspectiva de retomada. Não sabemos se é no próximo semestre ou mais pra frente”, pondera.
Risco real de redução de salários ESTRANGULAMENTO Proposta não traria resultados positivos à economia, afirma central de trabalhadores Inúmeras empresas mineiras estão tentando medidas para ajuste na sua produção. É o caso da Usiminas (Ipatinga), da Vale (Brumadinho e Sarzedo), da Bozel (São João del-Rei), Fiat (Betim), Mercedes-Benz (Juiz de Fora), entre outras. As medidas mais usadas são as férias coletivas ou o chamado lay-off, que é a suspensão temporária do contrato de trabalho. “A situação econômica e das empresas não está boa, com uma expectativa negativa para os empregos e negócios em geral. Faz o futuro, que é sempre incerto, ficar ainda mais”, alerta Airton dos Santos, economista do Departamento Intersindical de Economia e Estatística (Dieese).
Ele explica que está sendo discutida, entre centrais sindicais e empresas, uma política nacional para proteção de empregos. “Estamos em uma situação emergencial e para o trabalhador seria mais interessante manter o posto, mesmo com a renda reduzida, do que perder o emprego”, acredita. Para a Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) a medida não é boa, ainda que seja para “salvar os dedos”. As principais propostas da CTB são a redução da jornada de trabalho sem diminuir o salário e a proibição da rotatividade nos empregos. Esta última funcionaria como “multa” a empresas que demitem funcionários que ga-
nham mais, para contratar funcionários novos, que recebem salários menores. “O Brasil já tem salários muito baixos, a grande maioria recebe menos de três salários mínimos. Toda medida de diminuição significa arrocho e precarização. O salário tem importância não só para o trabalhador, mas para o crescimento da economia interna”, defende Nivaldo Santa-
na, vice-presidente da CTB .Perspectivas Segundo o economista do Dieese, há projeções de que esta situação econômica dure até o final deste ano. “Só a partir de 2016 vamos ter uma ideia mais clara se os ajustes que o governo federal está fazendo vão ter resultados, melhorando as contas públicas e fazendo a economia reagir”. (RD)
Donos da Embraforte denunciados por roubo de R$ 22 milhões A Embraforte, empresa que transportava grandes quantidades de dinheiro e tinha sede em BH, está sendo indiciada pelo desvio de R$ 22,7 milhões do Banco do Brasil. Segundo investigação da Polícia Civil, os donos da empresa coagiam funcionários a fazerem vista grossa no momento do depósito em caixas eletrônicos. Parte do dinheiro era depositado e parte era colocado em sacos de lixo e mandado a outro lugar. O delegado da investigação pede a prisão preventiva de três sócios e um funcionário. completaram 70 anos e foram beneficiados com a prescrição.
Lei Anticorrupção poderá punir empresas O decreto 46.782, assinado na quarta-feira (24), define que as empresas e empresários que praticarem corrupção passam agora a responder pela atitude. A investigação será aberta pela Controladoria Geral do Estado, com a divulgação pública do CNPJ e nome da companhia. Se a corrupção for comprovada, a multa pode chegar a 20% do faturamento bruto da empresa, sendo maior o valor em casos que envolvam a área da saúde, educação, segurança e assistência social. O dinheiro será revertido a projetos de combate à corrupção.
Belo Horizonte, 26 de junho a 2 de julho de 2015
Acompanhando Na edição 72...
Foto da semana
OPINIÃO
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PARTICIPE Viu alguma coisa legal? Algum absurdo? Quer divulgar? Mande sua foto para redacaomg@brasildefato.com.br. Rosilene Miliotti
“Fraudes na Funed podem chegar a R$ 50 milhões” ...E agora O Diário Oficial do Estado do dia 20 de junho noticiou a demissão do ex-presidente da Funed Carlos Alberto Pereira Gomes, o ex-vice-presidente Silas Paulo Resende Gouveia e o ex-procurador-chefe Felipe Augusto Moreira Gonçalves. Foi comprovada a participação dos três em um esquema de fraude para beneficiar o laboratório Blanver. O laboratório foi contratado pela Funed para produção de medicamentos contra Aids, que seriam distribuídos através do SUS. No entanto, não houve licitação e os remédios foram comprados com sobrepreço. Segundo a Controladoria Geral do Estado, os medicamentos tinham o valor de R$ 26,83 o milheiro, mas o laboratório recebeu R$66 pelo serviço, um aumento de 250% do valor inicial. Na edição 91... “Salário de professores passa a respeitar Lei Nacional” ...E agora A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou em 2º turno a Proposta de Emenda à Constituição 35, que garante o pagamento de vantagens, adicionais e gratificações aos servidores da educação. A PEC prevê o pagamento do piso salarial nacional aos professores, retroativo a junho, e reajustes nos três próximos anos. Junto com a PEC havia uma emenda que foi rejeitada por 38 votos contrários e 24 favoráveis, que garantiria direito de aposentadoria aos servidores contratados pela extinta Lei 100. O texto ainda garante a nomeação de 60 mil servidores, já aprovados em concurso público, até 2018.
Festa de São João As chamadas “Festas Juninas” acontecem no Brasil no mês de junho, em comemoração a Santo Antônio, São Pedro e São João. A quadrilha caipira, uma das atrações mais esperadas, é uma dança originada na França, que se popularizou principalmente no meio rural e no Nordeste brasileiro.
Dom Sergio da Rocha
Altamiro Borges
Bispos são contra a redução Deus mercado ganhou da maioridade penal novamente Temos acompanhado, nos últimos dias, os intensos debates sobre a redução da maioridade penal, provocados pela votação desta matéria no Congresso Nacional. Trata-se de um tema de extrema importância porque diz respeito, de um lado, à segurança da população e, de outro, à promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente. É preciso, no entanto, desfazer alguns equívocos que têm embasado a argumentação dos que defendem a redução da maioridade penal, como a afirmação de que há impunidade quando o adolescente comete um delito e que, com a redução da idade penal, se diminuirá a violência. No Brasil, a responsabilização penal do adolescente começa aos 12 anos. Dados do Mapa da Violência de 2014 mostram que os adolescentes são mais vítimas que responsáveis pela violência que apavora a população. Se há impunidade, a culpa não é da lei, mas dos responsáveis por Todo adolescente sua aplicação. infrator é recuperável O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), saudado há 25 anos como uma das melhores leis do mundo em relação à criança e ao adolescente, é exigente com o adolescente em conflito com a lei e não compactua com a impunidade. As medidas socioeducativas nele previstas foram adotadas a partir do princípio de que todo adolescente infrator é recuperável, por mais grave que seja o delito que tenha cometido. Esse princípio está de pleno acordo com a fé cristã, que nos ensina a fazer a diferença entre o pecador e o pecado, amando o primeiro e condenando o segundo. Se aprovada a redução da maioridade penal, abrem-se as portas para o desrespeito a outros direitos da criança e do adolescente, colocando em xeque a Doutrina da Proteção Integral assegurada pelo ECA. Dom Sergio da Rocha é arcebispo de Brasília-DF e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Leia a íntegra da nota em www.cnbb.org.br
Apesar da pressão das centrais sindicais e das forças de esquerda, a presidenta Dilma Rousseff decidiu vetar a alternativa ao fator previdenciário aprovada pelo Congresso Nacional – a chamada fórmula 85/95. Ao mesmo tempo, o governo anunciou que editará uma medida provisória que “introduz a regra da progressividade, baseada na mudança de expectativa de vida”. Na prática, a presidenta cedeu novamente à pressão do “deus-mercado”, que prega maior austeridade nas contas públicas para garantir o famigerado superávit primário. Um dia antes, como expressão da brutal chantagem rentista, a Folha publicou editorial suplicando ao governo – que o jornal tanto ataca – que vetasse a nova regra aprovada no parlamento: “Espera-se que Dilma resista à pressão sindical e, em nome da saúde das contas públicas, refute a fórmula alternativa ao fator previdenciário”. Num discurso cínico, o diário da famiglia Frias – um dos Austeridade não traz principais incentivadores das crescimento marchas golpistas de março e abril – ainda abusou da inteligência dos seus pobres leitores. “A presidente Dilma Rousseff (PT) tem hoje uma excelente oportunidade para demonstrar à sociedade que tem firme compromisso com as futuras gerações”. Diante de tantos apelos do “deus-mercado” e da sua mídia rentista, a presidenta Dilma Rousseff cedeu novamente. Com certeza, ela não terá a gratidão destas víboras, que seguirão em campanha para “sangrar” o seu governo e, se possível, para derrubá-lo num golpe de tipo judicial. Já as centrais sindicais e as forças de esquerda, que foram decisivas para a sua reeleição no ano passado, seguirão na trincheira para evitar o golpismo da direita, mas não deverão abandonar a batalha por mudanças mais profundas no país. Altamiro Borges é jornalista e escreve no Blog do Miro.
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BRASIL
Belo Horizonte, 26 de junho a 2 de julho de 2015
PEC da Cultura avança na Câmara PISO Proposta aumenta investimento público na cultura, mas o mínimo só será atingido em quatro anos Wallace Oliveira Na terça-feira (23), a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 421/14. A PEC, de autoria da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que define o mínimo a ser investido anualmente na preservação e difusão da cultura: 2% dos recursos do orçamento federal, 1,5% dos orçamentos estaduais e 1% dos municipais. “Ao criar um piso, você estabelece um limite mínimo de gastos, o que é importante para as políticas públicas. Além disso, você amplia o poder de investimento do setor, visto que prefeituras e governos geralmente gastam pouco na cultura”, esclarece Jandira. Agora, a proposta volta ao Plenário da Câmara, onde precisa
ser aprovada em dois turnos. Depois, vai para o Senado. “Foi só um primeiro passo essa aprovação, mas já é um alento em tempos de grandes retrocessos no Congresso Nacional. Agora, os movimentos culturais devem se organizar para aumentar a pressão e garantir sua aprovação em plenário e estamos confiantes que isso vai acontecer ainda este ano”, argumenta Talles Lopes, do coletivo Fora do Eixo. Proposta anterior tramitava há 12 anos
A PEC 421/14 substitui outra Proposta de Emenda à Constituição, a PEC 150, que tramita na Câmara desde 2003. A substituição foi feita a partir de acordo orçamentário com o Governo Federal. A versão atual permite escalonar em quatro anos a vinculação dos recursos à cultura. Isso significa que o
mínimo a ser investido aumentará gradualmente durante os quatro primeiros exercícios financeiros após a promulgação da emenda constitucional. Para Wes Gomes, atriz e cientista social, o escalonamento permite aos cofres públicos se adaptarem à nova política: “Se a vinculação
Mais de 4 mil escolas do campo fecham suas portas Apenas em 2014, mais 4.084 escolas do campo fecharam suas portas. Se forem somados dados dos últimos 15 anos, essa quantidade salta para mais de 37 mil unidades educacionais a menos no meio rural. São oito escolas rurais fechadas por dia em todo país. Dentre as regiões mais afetadas, norte e nordeste lideram o ranking. Só em 2014 foram 872 escolas fechadas na Bahia. O Maranhão aparece no segundo lugar, com 407 fechadas, seguido pelo Piauí com 377. Há tempo que estes números preocupam entidades e movimentos sociais ligados ao campo e à educação, ainda mais pelo fato de os municípios mais pobres serem os mais afetados. Para Erivan Hilário,
Reprodução
do setor de educação do MST, o fechamento destas escolas representa um atentado à educação, um direito historicamente conquistado. “O fechamento das escolas no campo não po-
de ser entendido somente pelo viés da educação. O que está em jogo é a opção do governo por um modelo de desenvolvimento para o campo, que é o agronegócio”, aponta.
viesse de maneira brusca, poderia ter um impacto negativo nos orçamentos. Além disso, muitas prefeituras não têm órgãos capacitados para a gestão cultural. Esse tempo é benéfico para que haja uma política de capacitação e formação de gestores”, avalia.
Já Regina Moura, produtora do grupo de dança Primeiro Ato, critica a proposta de investimento gradual. “Como uma área que sempre teve pouco financiamento agora é condicionada por uma questão de escalonamento? Acredito que esse foi um ponto negati-
Missa critica conservadorismo Um folheto de missa trazendo apelos contrários à homofobia e solidários às pessoas LGBT’s que sofrem fisicamente e psicologicamente por conta da sua orientação sexual foi divulgado nas redes sociais nesta semana. O folheto circulou na missa da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, da região episcopal Itaquera-Guaianazes, no domingo (21). Seu texto apresentava argumentos progressistas, anti-homofóbicos e solicitava aos cristãos que desenvolvessem atitudes “samaritanas” junto às pessoas que sofrem insultos de agressores homofóbicos. O documento também pedia uma ruptura com a “demonização das relações afetivas” e o fim da criminalidade sexual, garantindo-se a toda e qualquer pessoa de decidir sua própria orientação sexual. “Para que a ofensiva homofóbica, fundamentalista e histérica presente no Congresso Nacional seja enfrentada com ousadia e serenidade; pelo ascenso das causas libertárias, suplicamos”, diz um trecho extraído da ‘Oração dos fiéis’.
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BRASIL
Reduzir a maioridade penal é medida ‘irracional’, avaliam especialistas SEGURANÇA Menos de 1% dos adolescentes são infratores e poucos deles cometeram crimes considerados graves Fora do Eixo Minas
De Pedro Rafael Vilela De Brasília (DF) A redução da maioridade penal de 18 para 16 anos é o principal tema da agenda política brasileira na atualidade. Poderá ser aprovada, em primeiro turno, no dia 30 de junho, pelo Congresso Nacional. É a data agendada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para que o plenário vote a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 171/93. O projeto estabelece a redução da maioridade penal para 16 anos apenas para os casos de crimes graves, como homicídio, latrocínio e estupro, por exemplo. Para entrar em vigor, no entanto, terá que ser aprovado duas vezes na Câmara e outras duas no Senado. A medida, apoiada por 87% da população brasileira, segundo pesquisa do Instituto Datafolha, é criticada por boa parte do mundo jurídico e de especialistas no tema. “Não há nenhuma relação de garantia entre a ampliação de pena para o adolescente, ou seu encarceramento no sistema prisional, com a modificação do perfil da violência social. Essa violência está muito mais ligada à ausência do Estado em evitar que o adolescente chegue nesse ponto”, afirma a juíza
Dora Martins, titular da Vara Central da Infância e Juventude, na cidade de São Paulo. A magistrada fala com conhecimento de cau-
Jovens que cumprem medidas socioeducativas correspondem a 0,5% da população sa. Ela atua no centro da maior cidade do país, com ênfase no atendimento de crianças abandonadas e jovens em situação de risco. Segundo ela, o déficit em creches na capital paulista é de 100 mil vagas. “Imagina quantas famílias enfrentam problemas graves por causa disso. Em três ou quatro anos, os adolescentes estarão na ruas cometendo crimes, reflexo desse tipo de problema”, pontua. “As pessoas acham que o adolescente infrator surge do nada. Não, é uma criança que não teve escola, creche, formação regular, aí esse jovem atinge um grau de periculosidade alto mais tarde”, exemplifica. Para Ivan de Carvalho Junqueira, especialista em direitos humanos e segurança pública e servidor da Fundação Casa/SP, o jovem infrator, em geral, carrega o peso da exclusão so-
cial. “Quando esse adolescente de 15 a 17 anos chega para ser internado na Fundação Casa, ele já acumula um prejuízo desde o nascimento”, explica. Embora as unidades de cumprimento de medida socioeducativa acolham jovens de diversas classes sociais, há um perfil majoritário. “Meninos que, embora sejam adolescentes, possuem, no máximo, a 5º série do ensino fundamental, pardos e negros, com histórico de evasão escolar, problemas familiares e envolvimento com tráfi-
co”, descreve. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os 30 mil jovens que cumprem medidas socioeducativas correspondem a 0,5% da população adolescente do país, estimada em 21 milhões de pessoas. Além disso, a maioria dos infratores cometeram os chamados “delitos de rua”, contra o patrimônio, como roubos, furtos e porte de armas. Na cidade de São Paulo, esse tipo de delito representou 58% dos casos. Os registros relacionados aos
Na contramão mundial INEFICIÊNCIA Países como o Japão reduziram a idade penal e voltaram atrás Reduzir a maioridade penal fere convenções internacionais assinadas pelo Brasil e destoa da política internacional voltada às crianças e adolescentes Se a redução da maioridade penal avançar no Brasil, o país caminhará na direção contrária da maioria das nações. Dados da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República informam que em 53 países de todos os continentes, a maiorida-
de penal é 18 anos em 49. A legislação desses países também estabelece a idade mínima em que crianças e adolescentes possam responder por atos infracionais está entre 13 e 14 anos. No Brasil, é ainda mais cedo, o ECA prevê medida socioeducativa já a partir dos 12 anos. “No Japão, por exemplo, já chegaram a reduzir a maioridade penal para 16 anos e voltaram ao patamar de 21 anos”, exemplifica a juí-
za Dora Martins, titular da Vara da Infância e Juventude da região central de São Paulo. Segundo Ariel de Castro, especialista em políticas de segurança pela PUC/SP e ex-conselheiro do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), a redução da idade penal também implica o descumprimento de uma série de convenções internacionais ratificadas pelo governo brasi-
leiro. “Essas convenções equivalem, inclusive, às disposições constitucionais”. Na comunidade internacional, explica Ariel, o tema da redução da maioridade já foi praticamente superado como política criminal.
homicídios foram apenas 1,4% dos casos. Vítimas da violência Crianças e adolescentes, especialmente das periferias, é que têm sido vítimas de crimes como homicídios. Entre 1980 e 2002, o percentual de jovens menores de idade mortos por assassinato aumentou 254%, segundo o Mapa da Violência da Unesco e o Núcleo de Estudos de Violência da USP, ambos divulgados em 2006.
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MUNDO
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Equador considera realizar consulta popular sobre lei que taxa heranças AMÉRICA LATINA Em resposta aos protestos, presidente garante que medida não afetará os mais pobres O presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou na última semana a criação de um espaço de diálogo nacional para debater as propostas enviadas por ele ao Legislativo, em caráter de urgência, com relação à taxação de heranças e mais-valia sobre terrenos. Em meio aos protestos massivos em todo o país, o mandatário afirmou, nesta quarta-feira (24/06), que está considerando a possibilidade de realizar uma consulta popular sobre os temas. “Tenho fé em que, uma vez que as pessoas conheçam o que é a estrutura de pagamento [dos impostos estabelecidos pela proposta de taxação de fortunas] e que os 98% [da população] nunca vão pagar sequer um
centavo pela lei de herança, o apoio popular será massivo”, afirmou Correa durante o programa de televisão chamado “Os Cidadãos Perguntam ao Presidente”. O mandatário ressaltou que apenas 0,1% da população, que representa as famílias mais abastadas do país, “pagará algo representativo”, caso a lei seja aprovada. Da mesma forma, afirmou que a lei da mais-valia de terras não afetará o povo, já que se dirige especialmente aos especuladores de terra. Ele também desafiou a oposição a demonstrar que as propostas afetam os pobres e a classe média. “Se provarem, retiro imediatamente as propostas”, garantiu.
Protestos Diversas manifestações foram realizadas em todo o país nas últimas semanas contra as propostas. A suspensão temporária dos projetos se deu diante da possibilidade de que os protestos desencadeassem alguma violência no país em um momento em que o Equador se prepara para a visita do papa Francisco, de 5 a 8 de julho. Opositores, grupos empresariais e alguns sindicatos afirmam que os projetos de lei criam novos impostos e terão um impacto negativo sobre o investimento, o comércio e, consequentemente, a criação de empregos. (Opera Mundi)
Juan Ceballos
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ENTREVISTA 11
“A grande imprensa se tornou uma trincheira de luta contra a Venezuela” AMÉRICA LATINA Escritor Fernando Morais analisa visita frustrada de senadores Claudia Jardim De Caracas A visita frustrada da comissão de senadores brasileiros que pretendiam visitar os políticos opositores que estão presos em Caracas, na Venezuela, foi marcada por polêmica e controvérsias. Na opinião do escritor Fernando Morais, os parlamentares opositores transferiram ao país vizinho a disputa política que travam no Brasil. “A missão do Aécio (Neves) não era visitar Leopoldo López, a missão era criar um incidente internacional”, afirma. Morais esteve em Caracas junto a uma delegação que incluía políticos de esquerda para fazer “ruído” à presença dos parlamentares opositores. “Vim aqui dizer aos venezuelanos que esse é um problema brasileiro”. Brasil de Fato - Os senadores argumentam que vieram à Venezuela defender eleições livres, advogar pela libertação do que eles consideram presos políticos e averiguar a situação dos direitos humanos no país. Fernando Morais Houve mais eleições na Venezuela desde que o Chávez ganhou em 1998 (18 pleitos nacionais e regionais) do que as eleições que o Aécio disputou na vida dele inteira. Chávez perdeu uma, o plebiscito (que promovia a reforma constitucional), e o governo aceitou a derrota. Dizer que não há democracia na Venezuela não é somente má fé, é desinformação. Não há liberdade de expressão? Primeiro que o Aécio não tem autoridade moral para falar de imprensa quando ele governou Minas Gerais durante oito anos, ou 12 se considerarmos o período
do Anastasia, controlando a imprensa com mão de ferro. Dinheiro na mão direita e chicote na mão esquerda. Não se falava
dos Panteras Negras, latinos, presos nos EUA. Ele não poria o pé no solo americano. A visita deles à Venezuela denuncia “Dizer que não um ranço sub-cohá democracia na lonial. A missão do Aécio não era Venezuela não é visitar Leopoldo López, a missão somente má fé, é era criar um incidesinformação” dente internacional. Se o Leopolnada na imprensa minei- do López depenra, com exceção de heroi- der da ajuda do cas exceções, não se fala- Aécio Neves ele va nada contra o Aécio. vai mofar na cadeia. O senhor afirma que a visita dos senadores de oposição à Venezuela foi Quem estauma provocação. A quem va no alvo dessa era dirigida essa provo- provocação? cação? É uma provocação de duplo alvo. Estou convencido de Eles vieram aqui que se levantarmos nos com o objetivo de anais do Congresso a his- criar um descontória de cada um deles, forto para o gonenhum jamais se pre- verno de Nicolás ocupou com a questão Maduro e ao mesde direitos humanos em mo tempo criar nenhum lugar do mun- um desconforto do. Não se trata somen- para a Dilma porte de uma questão ideo- que eles dizem lógica, há uma despreo- que vieram aqui cupação. Foco minha crí- fazer o que a Diltica no Aécio (Neves) por- ma não fez, que é que foi ele quem liderou condenar a Veneessa história. Imagina se o zuela e o bolivaAécio Neves fosse aos Es- rianismo. A contados Unidos, imagina se dução da polítiele estivesse indignado ca externa é uma com o tratamento que é obrigação do Exedado aos Panteras Negras cutivo, não do Senado. É que estão presos há meio importante entender que isso não é uma questão “A missão do Aécio venezuelana, é uma questão brasileira. O Aécio não era visitar perdeu protagonismo nos Leopoldo López, meios de comunicação do Brasil porque ele perdeu a missão era criar a eleição. Ele ficou nas um incidente manchetes durante algumas semanas dizendo século por militarem nu- que tinha que recontar os ma organização que não votos, algo muito pareciexiste mais há 40 anos. do ao que aconteceu aqui Imagine se Aécio descesse na Venezuela. Quando com o avião em Washing- ele percebeu que isso era ton e dissesse que foi ver uma coisa absolutamenas condições carcerárias te sem sentido, começou
a falar de impeachment e foi perdendo protagonismo mesmo na mídia brasileira que é conservadora e absolutamente favorá-
“Imagina se o Aécio Neves estivesse indignado com o tratamento que é dado aos Panteras Negras” vel a ele. Ele está sofrendo um processo de isolamento dentro do PSDB. O Fer-
nando Henrique não veio a Caracas nem com o Felipe González [na semana anterior à visita dos senadores] e não veio com Aécio, não apoiou essa aventura patética deles. Nesse momento de tentativa de asfixia do governo venezuelano, na lógica oportunista do Aécio, ele viu que aqui era a oportunidade. A grande imprensa se tornou uma trincheira de luta contra a Venezuela. Ele trouxe o pior da direita brasileira para vir a Caracas.
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CULTURA
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AGENDA DO FIM DE SEMANA Bike e Tricô
Arraiá
Espetáculo
No domingo (28) bicicleteiros e tricoteiros se encontram em um pic nic na Praça da Liberdade. Quem quiser aprender andar de bicicleta ou fazer tricô, pode aparecer. No final da atividade serão doados cobertores para os moradores de rua. A partir das 10h.
Forró e quadrilha vão animar o domingo (28). Comidas típicas das festas de São João serão oferecidas por food trucks e food bikes. Vai ter pescaria, jogo de argola e bola na lata. De 12h às 19h, nas ruas Antônio de Albuquerque e Levindo Lopes, na Savassi.
No fim de semana, a Praça da Liberdade recebe a 8ª edição do Festival Internacional Andando de Bem com a Vida. São mais de 600 atividades culturais que promovem a valorização da vida e o despertar da consciência. De 26 a 28 de junho, das 7h às 22h,
Segunda a quinta-feira Exposição
O Assombro do Conhecer provoca reflexões sobre memórias, percepções e produção de saberes compartilhados socialmente. No Espaço do Conhecimento da UFMG, na Praça da Liberdade. Até 19 de julho. Terça a domingo, 10h às 17h. Quinta, 10h às 21h.
fica a dica
Arte
A Galeria do Palácio das Artes e o Cine Humberto Mauro recebem, até 9 de agosto, a exposição itinerante com obras escolhidas da “31ª Bienal de São Paulo”. São aproximadamente 20 projetos de 16 artistas de diversos países. Avenida Afonso Pena, 1537, no Centro.
Feira de Vinhos
A sexta edição da Feira de Vinhos Super Nosso acontece, até o dia 1º de julho no Espaço Meet Porcão. São mais de 600 rótulos nacionais e internacionais e a programação conta com cursos, palestras e degustações comentadas. De segunda a sábado, das 16h às 23h, e domingo de 13h as 20h. Av. Raja Gabaglia, 2671, São Bento.
Procuram-se moradores com boas histórias Reprodução Projeto Moradores
“Tudo começa com uma tenda branca montada em praça pública, uma câmera apontada e um convite”. O projeto “Moradores – A Humanidade do Patrimônio Histórico” chega a Belo Horizonte para procurar, fotografar e filmar personalidades que fazem parte dos patrimônios históricos da cidade. O objetivo é a valorização das pessoas como parte da cultura local, e o seu autorreconhecimento como patrimônio imaterial. Para isso, levam os fotografados a se
perguntar: o que seria da cidade sem você? Sem as demais pessoas? Fotografias em BH Serão montadas três tendas nas praças Sete, Savassi e Liberdade, de 1 a 8 de julho. Em 21 de julho, a Praça da Liberdade receberá uma exposição que utiliza diversos tipos de mídia, desde grandes retratos até data-shows, em homenagem aos moradores de Belo Horizonte.
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Festival Internacional Literário homenageia Drummond
CULTURA
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BOA DA SEMANA
GRATUITO Até domingo, Parque Municipal e outros pontos de BH recebem diversas atrações Larissa Costa /BF MG
Falta Assinatura
Arraiá em apoio à Izidora
Vai do dia 25 até 28 deste mês o Festival Internacional Literário de Belo Horizonte (FLI), com extensa programação gratuita, entre palestras, exposições, espetáculos, saraus, lançamento de livro, oficinas literárias e sessões de cinema. O Parque Municipal e o Teatro Francisco Nunes foram escolhidos para serem o palco do festival, além de diversas intervenções pela cidade. O tema será “Imagina o Mundo, Imagina a Cidade” e o homenageado desta primeira edição é o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Escritores latinos serão o destaque do festival como Milton Hatoum- que fará a abertura-, Maria Esther Maciel, Eric Nepomuceno,
Pontos de coletas estarão espalhadas para doações de livros para bibliotecas Joca Reiners Terron e Luiz Ruffato. O mexicano Juan Pablo Villalobos e o colombiano Santiago Gam-
boa serão os destaques da nova geração da literatura latino-americana. Pela cidade, algumas intervenções estão sendo feitas, como a de Larissa Albertti, Rafael Sales e Luciana Campos. Com o nome “No meio do caminho tinha um poema. Ti-
nha um poema no meio do caminho”– os artistas espalharam, para a FLI -BH, diversos trechos de poemas de Drummond. A escada de acesso ao metrô na estação Central é um dos pontos que recebe a intervenção. Desde quinta-feira (25), a está-
tua de Drummond na rua da Bahia também conta com a intervenção poética. Durante todo o festival, diversos pontos de coletas estarão espalhados para doações de livros para as bibliotecas comunitárias da capital, além de pontos de ônibus da cidade. Além do parque municipal, que já recebe o evento, Centros Culturais e de Referência, bibliotecas, o Museu Histórico Abílio Barreto, e aa sede da Fundação Municipal de Cultura, na rua da Bahia, estarão abertas para recolher de livros. O encerramento do FLI-BH será com o show de José Miguel Wisnik e Ná Ozetti, no Teatro Francisco Nunes, às 20h no domingo (28). A curadoria do festival é de Leida Reis, Afonso Borges e a diretora Cultural do Instituto Cervantes, Beatriz Hernanz.
Neste sábado (27), acontece no Espaço Comum Luiz Estrela a Festa Junina Estrelar, em apoio às ocupações da região da Izidora. O evento, marcado para 14h, recebe apresentações musicais de Gustavito Amaral, Pisa na Fulô, Seu Vanderlei, Rafael Pimenta, Cris di Souza e DJ Nandão. O grupo teatral Cia Circunstância também estará presente, com performances e intervenções artísticas. Durante a festa, serão recolhidas doações de alimentos, água, cobertores e medicamentos para os moradores da Izidora. Parte do valor arrecadado também será destinado à ajuda das famílias. No mesmo dia, irá ocorrer a festa de aniversário de dois anos da Ocupação Esperança, e uma campanha de carona solidária está sendo desenvolvida para levar todos aqueles que desejam participar da comemoração e também ajudar a fortalecer a vigília dos moradores no local. SERVIÇO Onde: Espaço Comum Luiz Estrela (Rua Manaus, 348, Santa Efigênia) Quando: Sábado (27) Quanto: Entrada franca
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Novela
Paraisópolis além do romance
Na semana passada, o site do Brasil de Fato veiculou uma matéria sobre a segunda maior favela da cidade de São Paulo, Paraisópolis, que inspirou a novela “I Love Paraisópolis”, estreada no mês passado, na faixa das 19h da TV Globo. O jornalista José Coutinho Júnior trouxe depoimentos de vários moradores que, em sín-
tese, denunciam: a novela não reflete a realidade da região. Representações equivocadas sobre o perfil da população, as situações de violência e sobre as questões de moradia e urbanização são alguns dos exemplos da inverossimilhança do folhetim. “I Love Paraisópolis” é uma comédia romântica que gira em
torno do encontro e paixão de Mari (Bruna Marquezine) e Benjamim (Mauricio Destri) em prol de um projeto comum: a reurbanização de Paraisópolis. Eles encontram dificuldades em levar o projeto adiante com o bad boy Grego (Caio Castro), ex-namorado apaixonado de Mari e líder do comando da região. Além dele, a vontade do casal protagonista se chocará com os interesses de Soraya (Letícia Spiller), mãe de Benjamim, que é e dona de uma construtora, odeia a comunidade e deseja acabar com ela. A ideia de mostrar a luta pelos direitos à moradia e por con-
Amiga da Saúde
dições urbanas dignas é importante, sem dúvida. É uma pauta urgente na agenda de políticas públicas e dos movimentos sociais. Porém, a forma como a história vem sendo construída, além de não agradar aos moradores, romantiza a situação difícil em que eles vivem: são precárias as instalações de água e esgoto e também dos domicílios, são comuns alagamentos e os projetos de urbanização desconsideram as demandas da comunidade. Ao que parece, ao invés de dar voz à denúncia dos moradores, a novela trata a urbanização de Paraisópolis como um caso de amor.
Ora bolas, não é por aí, não é mesmo? Mas talvez o interesse da emissora seja vocalizar o contrário: a especulação imobiliária que circunda a região, localizada ao lado do rico e glamoroso bairro paulistano, o Morumbi. Vamos ficar de olho para conferir o rumo desta história. Você acompanha a novela? Leia a reportagem citada no site www.brasildefato.com.br e dê sua opinião para mim no email quimvela@brasildefato. com.br. Boa semana para você! Joaquim Vela
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br (?) pesada, sensação da pessoa culpada
Ouvi dizer que alimentos quentes em vasilhas de plástico fazem mal à saúde. É verdade? Noemi Lúcia, 37 anos, advogada.
© Revistas COQUETEL
Relativo à massa "Boa (?)/Good Luck", sucesso de Vanessa da Mata
Juntar (ingredientes) Via larga
De estatu- Torneio ra diminu- disputado ta (fem.) por Maya Gabeira Chifre
Falha Peça para escorar, na obra
Órgão estadual de estradas (sigla)
"Movimento", em PMDB
Cada loja da praça de alimentação
Estilo musical do cantor Criolo
(?)-leão, espécie de primata em extinção
Reprodução O frequentador da praia de nudismo Que faz travessuras (a criança)
Que tem lógica Grosseiro e vulgar
Coisa nenhuma Proibir, em inglês
Eliakim Diz-se do Araújo, músculo jornalista esticado brasileiro
Uma das categorias do Prêmio Nobel Organização para defender os interesses do continente americano (sigla)
Fator que diferencia Asno, em comidas francês caseiras Benjamin Netanyahu, político israelense
Sucesso gravado por Caetano Veloso
Bráulio Tavares, roteirista e escritor
Camada que destrói o esmalte dos dentes
Alimento do gado Cada folha de calendários de mesa
"O que (?) bom dura pouco" (dito)
Assunto polêmico Acusadas em juízo
(?) Johnson, ator de "Fina Estampa" A unidade do DVD, no computador
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Solução C C I A O M R A P N T E O O B N A U R A B T T AR O D A DE S A B U D O R R F D A E
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BANCO
A região brasileira das vinícolas (abrev.) Parte recheada em certas pizzas
T U R I S T A
Sofia Barbosa Coren MG 159621-Enf.
Qualidade de doadores de sangue
Fazer aderir
S
P O M C O N S C I E N O MI S S D E R T T R E S T A U R A R T E I R A A E A D L I T E R A O E A C N T A O B S C E N F E N O M E R U P E I N C I N E R T A I R E G E N E R O S
Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde
"Yes We (?)", bordão de Barack Obama
E
3/âne — ban — can — rap. 7/bárbara — tártaro. 8/ponderal.
É verdade sim, Noemi. A grande maioria dos plásticos que são usados em vasilhas, copos, garrafas, mamadeiras ou produtos descartáveis em geral possuem substâncias tóxicas que podem ser liberadas na comida. A principal delas é o Bisfenol A (BPA), que contamina os alimentos mesmo quando o plástico está frio. Porém, quando o recipiente é aquecido, a quantidade de BPA no alimento pode aumentar até 55 vezes. Essa substância interage com alguns hormônios do nosso corpo, podendo provocar disfunções em órgãos reprodutores, alterações estruturais no cérebro, hiperatividade, deficiência de aprendizagem, entre outros. Alguns tipos de plásticos são livres de BPA e isso costuma estar indicado na embalagem. Entretanto, para reduzir os riscos é importante nunca usar vasilhas plásticas no microondas e evitar guardar alimentos quentes em recipientes plásticos. O mais seguro é abrir mão da praticidade do plástico e usar sempre vasilhas de vidro.
Aparelho que reduz o lixo a cinzas
M
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na geral
Brasil é ouro na ginástica Reprodução/cbginástica
A equipe brasileira de ginástica fechou o Sul-Americano com rendimento invejável, subindo 13 vezes ao pódio e conquistando sete medalhas de ouro. Daniele Hypolito ficou com o ouro na trave e no salto, além da prata no solo. O ginasta Ângelo Assumpção, que recentemente foi alvo de racismo por colegas de equipe, conquistou ouro no solo e no salto. As pontuações individuais são valiosas para o país no Mundial Pré-Olímpico.
MP do Futebol avança Reprodução
Na quinta-feira (25), foi aprovado no Congresso um relatório sobre a Medida Provisória 671/2015, que permite renegociar as dívidas dos clubes de futebol, desde que eles sejam geridos de maneira transparente e democrática. A versão atual da MP mantém algumas reivindicações do movimento Bom Senso FC, como a limitação de mandatos na CBF e nas federações, o rebaixamento de clubes inadimplentes e a reorganização do calendário.
Três Toques
ESPORTE
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Brasileirão 2015 9º RODADA
Wallace Oliveira
O Talento Azul veste a camisa estrelada
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AVA
GRE
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Sábado (27), às 15h, o Cruzeiro homenageia Alex, último grande camisa 10 do futebol brasileiro. Em amistoso no Mineirão, está, de um lado, o time que venceu a Tríplice Coroa em 2003. Do outro, uma seleção de grandes ídolos, como Elivélton, Gottardo, Paulinho McLaren, Ricardinho e Sorín. Alex defendeu o time mineiro em 2001, 2003 e 2004. Pelo Cruzeiro, conquistou dois campeonatos estaduais, um Brasileirão e uma Copa do Brasil. Jogou 123 partidas, marcou 64 gols e deu 61 assistências. Suas jogadas figuram entre as mais belas da história do futebol.
CHA
COR
CAM
PAL
PON
Informações: (31) 3409-2326.
Dom.28/06 11h
JEC
Dom. 28/06 16h
SAO
Dom. 28/06 16h
CAP
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Pratique esportes
27 de junho, das 9 às 13h.
FIG
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Outro episódio que aparece nos diálogos dos dois dirigentes é o jogo de ida das semifinais da Libertadores 1964, entre o Santos de Pelé e o clube então dirigido por Grondona: o Independiente. Grondona afirmou que, em 64, “ganhou o árbitro, junto com os dois bandeiras”. O Independiente venceu a partida por 3 a 2, no Maracanã. Na volta, os argentinos bateram o Peixe por 2 a 1 e passaram às finais, levantando a taça naquele ano. A torcida santista reclamou muito de dois impedimentos mal assinalados. A divulgação dessas gravações levanta uma suspeita ainda pior: se houve manipulação desses resultados, isso também não terá ocorrido em outros jogos importantes?
Quando:
Sáb.27/06 21h
X
1964: Santos e Independiente
Centro de Treinamento Esportivo da Universidade Federal de Minas Gerais (CTE/UFMG). Av. Alfredo Camaratti, S/N, São Luiz, BH.
SPO
X
No domingo (21), o canal argentino TV América revelou gravações de conversas entre o ex-presidente da Asociación del Fútbol Argentino (AFA), Julio Grondona, e o diretor da Escola de Árbitros da AFA, Abel Gnecco. Uma dessas conversas trata da indicação do árbitro Carlos Amarilla para o confronto entre Corinthians e Boca Juniors, pelas oitavas de final da Copa Libertadores 2013. Nesse jogo, o Corinthians teve um gol mal anulado. Em outro diálogo, Grondona diz que Amarilla foi o reforço mais importante do Boca.
Onde:
Sáb.27/06 16h
X
Tem treta na Libertadores?
Atletismo
Sáb.27/06 16h
Jovens entre 12 e 16 anos serão selecionados para compor equipe de atletismo. Candidatos/as devem levar documento e roupa de ginástica, acompanhados/as por responsável. Jovens selecionados/as terão acompanhamento profissional gratuito.
O jornal Brasil de Fato não se responsabiliza por eventuais mudanças na programação. Recomendamos aos interessados que entrem em contato com os organizadores das atividades para confirmar data, horário e local.
CFC
Dom. 28/06 16h
CRU
X
GOI
Dom. 28/06 16h
FLU
X
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Dom. 28/06 18h30
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VocêSabia? No início de sua carreira, o multicampeão Usain Bolt recebeu convites para estudar, com bolsa, em universidades dos Estados Unidos. Ele recusou todos eles para treinar na Jamaica, seu país de origem. Em olimpíadas, Bolt conquistou seis medalhas de ouro. Em mundiais, ganhou oito ouros e duas pratas.
16 ESPORTES
Belo Horizonte, 26 de junho a 2 de julho de 2015
DECLARAÇÃO DA SEMANA
CURTO E GROSSO
Por que tem que ser mais caro? Reprodução Wikimedia
Wallace Oliveira Domingo (28), às 11h, o Galo recebe o Joinvile, pela nona rodada do Brasileirão. A novidade é o retorno alvinegro ao Mineirão, possibilitado por um acordo entre a diretoria do Atlético e a Minas Arena. A parceria permite que os ingressos da torcida atleticana sejam vendidos pelo preço único de R$ 50 em todos os setores, inclusive em áreas corporativas. Nestes mesmos lugares, a torcida do Cruzeiro tem pagado entre R$ 150 e R$ 170 pela entrada. Após as reformas do Independência, reinaugurado em 2012, e do Mineirão, reaberto em 2013, Cruzeiro e Atlético definiram es-
Reprodução / Wikimedia
“
Não estou acompanhando [a Copa América], não gosto de ver o futebol, gosto de jogar. Não gosto de acompanhar, não tenho paciência de ver 90 minutos. Gosto de ver os melhores momentos, as melhores jogadas.
”
ses estádios como seus territórios. O Galo fincou sua bandeira no Horto, o Cruzeiro ocupou o Gigante da Pampulha. Desde então, cada um em seu quadrado, ambos conquistaram títulos importantes. Agora, o Atlético volta ao campo onde venceu a Libertadores e a Copa do Brasil. O motivo central do retorno é a bilheteria: mes-
mo com preços “promocionais”, o clube pode arrecadar mais do que no Independência. Eis, então, a pergunta que não cala, válida para os torcedores dos dois clubes: se os ingressos mais baratos não impedem o lucro e ainda permitem jogar com casa cheia, por que não são cobrados preços acessíveis durante toda a temporada?
Ronaldinho Gaúcho, ex-jogador da Seleção e do Galo, em entrevista no museu Pelé, em Santos.
Gol de placa Os jogadores do Chile pediram à presidenta Bachelet a volta do bumbo às arquibancadas dos estádios chilenos. Incomodados com a apatia da torcida local, na primeira fase da Copa América disputada no país, ele entendem que o motivo é a proibição do instrumento típico dos torcedores andinos.
Gol contra O presidente do Catania e outras seis pessoas foram presas na Itália esta semana, acusados de manipulação de resultados para evitar o rebaixamento do clube à terceira divisão. Em maio, 50 pessoas foram detidas por manipularem resultados de jogos da terceira divisão e de ligas semi-profissionais do país.
OPINIÃO América Bráulio Siffert Aos trancos e barrancos, mesclando atuações ruins com outras um pouco melhores, mas sempre pontuando, o América segue entre os primeiros colocados, tornandose um sério candidato ao acesso. Se, por um lado, o time está deixando a desejar na técnica e na criação de jogadas, por outro, há muita vontade, força na defesa e um pouco
de sorte. O técnico Givanildo é teimoso, não modifica a forma de jogar e não dá muita chance aos garotos da base, mas, ao mesmo tempo, conhece como poucos o caminho para o acesso e tem grande identificação com o América. Somandose a isso a ótima estrutura do clube e a baixa qualidade dos adversários, temos elementos suficientes para nos mantermos entre os quatro primeiros.
OPINIÃO Atlético Rogério Hilário Contra Joinville e Coritiba, o Atlético tem a chance de se manter entre os quatros primeiros e até alcançar a liderança. Depois da vitória sobre o Flamengo, a equipe ganhou confiança, embora a atual conjuntura do futebol brasileiro desafie qualquer favoritismo ou otimismo. Além disso, o esquema de Levir Culpi, com apenas um volante, é
pouco convincente. Ainda mais quando faltam coadjuvantes como Luan, atacante eficiente e polivalente. Com ele, a marcação se equivale, enquanto o contra-ataque em velocidade sobressai. Contudo, o treinador precisa ser virar com os atletas disponíveis, pois é pouco provável a contratação de reforços. Pelos noticiários internacionais, está mais fácil perder talentos, como Lucas Pratto.
OPINIÃO Cruzeiro Léo Calixto Neste sábado (27), acontece no estádio Mineirão a despedida do eterno Talento Azul, Alex. O capitão da campanha da Tríplice Coroa retorna ao Mineirão utilizando novamente a camisa azul celeste. Desde o anúncio oficial do jogo de despedida, venho fazendo um esforço enorme para lembrar qual o último grande camisa 10 que o Cru-
zeiro teve após a vitoriosa passagem de Alex. Tirando Éverton Ribeiro, que não utilizava a camisa 10 e que, a meu ver, era menos organizador de jogo e menos brilhante que o talento azul, o último jogador com estas características que se destacou pelo Cruzeiro foi... o próprio Alex. A procura incansável dos times por um camisa 10 clássico mostra a carência de um futebol praticado outrora.