Ediçao 007 do brasil de fato mg

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entrevista | pág. 09

minas | pág. 6

Ah, dona Maria! “Conta de luz pode Preconceito e machismo podem ser mais barata” ser reação invejosa à boa fase do Cruzeiro

Galo em transe Sem paranoia, mas com um pouco de fé

“Levantamentos demonstram que 68% da tarifa é de impostos”, explica Jairo Nogueira, coordenador geral do Sindieletro-MG. Em outubro, a população mineira poderá participar do Plebiscito Popular sobre energia, exigindo a redução da tarifa

Contra padrões Feministas protestam no Miss Brasil, no mesmo dia da luta por direito ao corpo. Miss Pantera e Parada gay pautam diversidade

Lívia Bacelete

Edição

esporte | pág. 16

Uma visão popular do Brasil e do mundo

Belo Horizonte, de 04 a 10 de outubro de 2013 | ano 1 | edição 7 | distribuição gratuita | www.brasildefato.com.br | facebook.com/brasildefato

cidades | pág. 4

BHMorar não soluciona falta de moradia Maíra Gomes

Com déficit de mais de 68 mil moradias, BH possui várias ocupações e quase 200 mil famílias inscritas no Minha Casa, Minha Vida. Em resposta à grave situ-

ação, a PBH lançou o BHMorar, dizendo que não vai tolerar novas ocupações. Especialistas e movimentos sociais questionam a forma e efetividade do programa

cidades | pág. 3

Lagoinha contra a Brasilinha

Élcio Paraíso/Bendita-Conteúdo & Imagem

Moradores questionam construção de centro administrativo da Prefeitura no bairro. Em marcha chamada de “Brasilinha do Lacerda, não!” saíram às ruas no último dia 29. Movimentos que lutam contra a obra vão entregar representação no Ministério Público

minas | pág. 7

cultura | pág. 14

Reajuste zero

Animação

Governo tenta enrolar servidores estaduais, que se preparam para novas mobilizações. Saúde se organiza para greve geral e professores mantêm acampamento por piso salarial

Até o final do mês a Mostra Udigrudi Mundial de Animação (MUMIA) apresenta 200 filmes independentes de 25 países, em 11 salas alternativas. A entrada é franca


02 | opinião

Belo Horizonte, de 04 a 10 de outubro de 2013

Falando Nilson

editorial | Minas Gerais

E o mensalão tucano? A compra de votos para reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998, enfim teve seu primeiro condenado. O exdiretor do Banco Rural Nélio Brant Magalhães recebeu pena de 9 anos e 9 meses de prisão por gestão fraudulenta e temerária da instituição financeira. Terá ainda que pagar multa de R$ 1 milhão. A Justiça Federal em Minas calcula o desvio R$ 3,5 milhões. Mais um episódio de corrupção claramente motivado em função do financiamento privado de campanhas. O caso envolve Marcos Valério e seus sócios, Walfrido dos Mares Guia, vice de Azeredo à época, e Clésio Andrade, atual senador, e ex vice-governador de Aécio Neves. Na época, três empresas públicas, a Copasa (saneamento) e a Comig (mineração) e o Bemge, repassaram mais de R$ 3 milhões para Marcos Valério,

por um evento esportivo. Os contratos serviram de garantia para que o Banco Rural emprestasse mais recursos. No final, os recursos serviam a campanha do PSDB.

Justiça Federal calcula o desvio em R$ 3,5 milhões para o financiamento de campanhas, como a reeleição de Eduardo Azeredo Comparemos o tratamento dispensado ao mensalão tucano e ao mensalão petista. O tucano é anterior, e só agora há um primeiro condenado. O mensalão do governo federal vem ocupando todos os jornais impressos e televisivos há anos.

Curiosamente, o ápice coincidiu com os meses que antecederam as eleições de 2012. Chegou a representar metade do tempo do Jornal Nacional, da Globo. O mensalão tucano, diferente do petista, foi desmembrado, cabendo ao STF julgar apenas o núcleo político do esquema. Como terá o privilégio – em comparação com o outro – de passar por muito mais instâncias, haverá muito mais possibilidades de recurso e de demora no processo. Maior a chance prescrição e absolvição. A mensagem que a Justiça e os meios de comunicação passam é: caixa dois só para os amigos, aos inimigos a lei. A sociedade não interessa dois pesos e duas medidas. Interessa menos ainda o conluio que tem garantido aos donos do poder impedir a justiça e a democratização do Brasil.

editorial | Brasil

Novos partidos políticos Há, hoje, 32 partidos políticos legalizados em nosso país. Mesmo com todas as fragilidades e deficiências da chamada democracia representativa, os partidos políticos são instrumentos importantes na definição de políticas e conquistas democráticas de um país. Há mais de duas décadas, os defensores das políticas neoliberais, tendo o monopólio das comunicações nas mãos, promovem a desmoralização da política. Enfraqueceram e desmoralizaram os espaços institucionais que possibilitam participação popular na política, nas esferas do Legislativo e Executivo. Fortaleceram a atuação dos órgãos institucionais do Estado burguês que veda a participação e influência popu-

lar, como o poder Judiciário, o aparato repressivo, os tribunais de contas e as agências reguladoras. Já os partidos políticos, governos e parlamentares, são execrados. Não prestam! A irracionalidade é tamanha que um partido político, o Partido Verde (PV) ocupou espaços nos meios de comunicação exibindo um cartaz que pedia o fim dos políticos e dos partidos. Se fosse atendido, o que iria colocar no lugar? Os generais da ditadura militar? Os filhos do Roberto Marinho, donos da Globo, acusada de sonegar dos cofres públicos mais de R$ 1 bilhão? A própria Marina Silva põe água no moinho da ignorância política, quando se diz contrária a partido e tenta criar a Rede Sustentabilidade.

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora também com edições regionais, em SP, no Rio e em MG. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

contato..................brasildefatomg@brasildefato.com.br para anunciar : publicidademg@brasildefato.com.br / (31) 3309 3314 - (11) 2131 0800

Há anos os grupos econômicos e latifundiários criam suas bancadas suprapartidárias, fazendo pouco caso das estruturas partidárias. Prática essa que está no cerne da corrupção de parlamentares. Na mídia, esse movimen-

Mesmo com as deficiências da democracia representativa, os partidos políticos são instrumentos importantes na definição de políticas e conquistas democráticas de um país

to de desmoralizar a participação na política é complementado com uma agressiva campanha para tornar-se porta-voz da opinião pública. Como se isso fosse possível diante do seu perfil antissocial. Defender e valorizar a atuação partidária, abrindo espaços para a participação do povo não apenas nos calendários eleitorais, não nos exime de fazer uma crítica e exigir profundas mudanças na legislação partidária do país. A fundação de novos partidos políticos surge desprovida de quaisquer projetos políticos para o país. Não são portadores de nenhuma mensagem política para sociedade. Os grupos econômicos e financeiros não estão alheios a essas motivações de criação e trocas de partidos políti-

cos. Às vezes, um telefonema de um empresário é suficiente para um parlamentar trocar suas convicções partidárias. Restará ao grupo Itaú — maior crítico da política econômica do atual governo e defensor do retorno da ciranda financeira dos juros altos — esclarecer à sociedade sobre todo seu empenho e interesses na fundação de um novo partido. Os que promoveram as privatizações e abarrotaram os cofres dos bancos, já não servem mais? Que seja bem-vinda uma Assembleia Nacional Constituinte Exclusiva, para prover uma profunda reforma política e tributária e promover uma nova lei de comunicação que assegure os interesses do povo brasileiro e da soberania nacional.

conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Carlos Dayrel, César Augusto Silva, Cida Falabella, Cristiano Carvalho, Cristina Bezerra, Daniel Moura, Dom Hugo, Durval Ângelo Andrade, Eliane Novato, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Frei Gilvander, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, José Reginaldo Inácio, Lindolfo Fernandes de Castro, Luís Carlos da Silva, Marcelo Oliveira Almeida, Maria Brigida Barbosa, Michelly Montero, Milton Bicalho, Neemias Souza Rodrigo, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rilke Novato Públio, Rogério Correia, Samuel da Silva, Sérgio Miranda (in memoriam), Temístocles Marcelos, Wagner Xavier. Administração: Valdinei Siqueira e Vinicius Moreno. Distribuição: Larissa Costa. Diagramação: Bernardo Vaz, Gabriela Viana, Luiz Lagares. Editor-chefe: Nilton Viana (Mtb 28.466). Editora regional: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Endereço: Rua da Bahia, 573 – sala 306 – Centro – Belo Horizonte – MG. Contato: redacaomg@brasildefato.com.br


Belo Horizonte, de 04 a 10 de outubro de 2013

De bicicleta pela rua

Pergunta da semana

TRANSPORTE Pedalantes demonstram em passeio que as duas rodas precisam ser vistas com respeito Gil Sotero De Belo Horizonte Ciclistas de Belo Horizonte realizaram passeio inspirado em Londres e passaram a mensagem: é possível pedalar na capital mineira com elegância, humor e estilo. Quem passou pela frente do Museu Mineiro, na Avenida João Pinheiro, bairro Funcionários, no ultimo dia 28, deve ter se surpreendido ao observar a quantidade de bicicletas e pessoas arrumadas como se fossem a uma festa. “Estão fazendo um filme?” perguntou um pedestre que transitava pelo local. Tratava-se da segunda edição do “Tweed Ride”, um evento inspirando na capital inglesa, onde os participantes pedalam com roupas de lã. A versão belo-horizontina ganhou as cores e a graça da primavera. Chapéus, saltos e bicicletas vintages provocaram sorriso e a curiosidade de quem testemunhou o passeio.

Amaralina Fernandes

Cerca de 30 pessoas se vestiram a caráter pelo simples prazer de pedalar pela região central. O passeio começou com um piquenique no gramado interno do Museu Mineiro, local já conhecido por acolher o movimento ciclístico na cidade. Em seguida os pedalantes seguiram por alguns trechos de ciclovias até a Savassi, onde realizaram duas paradas para se refrescar. O passeio terminou no bairro Santa Tereza. Meio de transporte Segundo uma das organizadoras, o Tweed é um evento para celebrar a bicicleta na cidade e alertar a pessoas para a cultura. “A ideia do evento é chamar a atenção da sociedade para a cultura da bicicleta dissociada do esporte. A bicicleta é um veículo para a maioria dos ciclistas, que não usam somente roupas esportivas. Queremos mostrar que é possível andar arrumados, elegantes e

É possível fazer da bicicleta um meio de locomoção, e não apenas como esporte

de bicicleta, mesmo em Belo Horizonte”, declarou a linguista Renata Aiala, uma das organizadoras do evento. Morros e ladeiras não assustam esses pedalantes. Muitos deles já utilizam a bicicleta como principal forma de deslocamento, como é o caso do artista plástico Sérgio Guerra. “Eu só me desloco em Belo Horizonte de bicicleta. A cidade tem morros, mas as bicicletas

têm marchas para isso”, declarou Guerra, que usa uma bicicleta dobrável. Magrela pelo mundo Inventada em 1971, pelo conde francês Mede de Sivrac, a bicicleta foi o primeiro veículo para transporte individual. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgados em 2011 apontaram que a bicicleta é o meio de transporte de

3,22% das pessoas que vivem nas capitais. No interior esse percentual chega a 8,45%. Na Europa, a bicicleta chega a ocupar 50% dos deslocamentos diários em cidades como Amsterdam, na Holanda e Copenhagen, na Dinamarca. Belo Horizonte planeja ter 380 km de ciclovias ou ciclofaixas, vias exclusivas para bicicletas, até 2020. Atualmente a cidade conta com menos de 60 km.

Moradores em protesto contra “Brasilinha do Lacerda” Thaíne Belissa do Portal Minas Livre Nem a chuva rala que caiu na tarde de domingo, dia 29, atrapalhou a manifestação dos moradores dos Bairros Lagoinha e Bonfim, que saíram às ruas para protestar contra a constru-

ção de um centro administrativo da prefeitura no local. Inspirados no carnaval de rua, eles fizeram concentração em frente ao conjunto IAPI e, em seguida, percorreram o bairro com os rostos pintados e com cartazes de protesto, cantando marchinhas que Liliane PelegriniBendita - Conteúdo & Imagem

Em forma de carnaval, moradores questionam obras na Lagoinha

diziam não à desapropriação e sim à revitalização do bairro. O movimento foi chamado de “Marcha Brasilinha do Lacerda, não!”. Desde que souberam das intenções do prefeito Marcio Lacerda de desapropriar pelo menos 20 terrenos e construir um prédio que concentrasse todas as secretarias do governo no coração da Lagoinha, os moradores têm se movimentado para impedir a obra. Os moradores criticam a falta de diálogo, uma vez que um decreto de desapropriação dos terrenos foi emitido, em junho deste ano, sem nenhuma consulta à população. Em nota, o governo municipal explicou que ainda não está cer-

ta qual área receberá a obra e que o decreto teve o objetivo de evitar especulação imobiliária no local. Mas, Teresa Vergueiro, da liderança do Movimento Lagoinha Viva, lembra que o bairro não tem condições de receber uma construção dessa grandeza. “É um bairro antigo, uma casca de ovo que não comporta uma construção deste tamanho. Além disso, é um bairro residencial, então esse projeto vai na contramão da cultura da comunidade”, afirma. Audiência pública Moradores da Lagoinha e do Bonfim encheram a Igreja Nossa Senhora da Conceição para a audiência pública promovida pela ALMG. O prefeito não compare-

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ceu, mas enviou em seu lugar Pier Giorgio Senesi Filho, secretário adjunto de Gestão Compartilhada. O representante não trouxe informações novas, nem esclareceu as principais dúvidas da população. Ele informou que a comunidade só será ouvida após a abertura de um processo de consulta de interesse da iniciativa privada na obra. Ao fim da audiência, ficou acordado a entrega de uma representação no Ministério Público, assinada pelos movimentos que lutam contra a construção. Outra audiência pública também já está agendada na Câmara dos Vereadores para o dia 4 de outubro, às 9h30. À noite será realizada outra reunião, no bairro.

Desde a segunda edição, o Brasil de Fato MG publica uma série de reportagens sobre as ocupações urbanas, mostrando grupos de pessoas que se unem para sair do aluguel ou até mesmo das ruas. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), publicado em abril, aponta que o déficit habitacional de Belo Horizonte é de 68.925 moradias, chegando a mais de 147 mil famílias sem casa na Região Metropolitana. Atualmente, BH tem sete principais ocupações, além de muitas outras que ainda não estão organizadas. O Brasil de Fato visitou a Rosa Leão, Eliana Silva, Dandara, Camilo Torres e Esperança.

O que você acha das ocupações em terrenos vazios para buscar local de moradia?

“Acho que é a melhor coisa que estão fazendo. Porque tem muita gente desabrigada, muita gente na rua. É muito ruim ficar no frio, no relento. Eu, se pudesse, comprava um lugar pra colocar todo mundo.” Sônia Regina Pantaleão, 47, serviços gerais.

“Por um lado eu acho certo. Por outro errado, por eles invadirem vários lotes, que não são deles. Mas acho bom lutarem pelo direito deles, acho justo”.

Camila Evelin Oliveira de Morais, 19, auxiliar de escritório.


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BHMorar não vai resolver problema da moradia em BH REFORMA URBANA Movimentos questionam política habitacional da Prefeitura e alertam que o décifit é maior Maíra Gomes

Maíra Gomes de Belo Horizonte Belo Horizonte tem, atualmente, sete ocupações urbanas ativas. São milhares de famílias organizadas em torno da luta pela moradia, e a cada dia chegam mais pessoas às ocupações e novas continuam surgindo. Segundo dados de maio deste ano, divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o déficit habitacional na capital é de 68.925 moradias. Nas cidades do entorno, o número chega a 78.545, totalizando mais de 147 mil famílias sem casa na Região Metropolitana. No último dia 24, o prefeito Marcio Lacerda lançou o programa BHMorar, que promete vencer o déficit habitacional da cidade a médio prazo. As contas da prefeitura chegam em um déficit de pouco mais de 62 mil casas. Para 2016, está prometida a entrega de 23 mil moradias, e o programa deve chegar à marca de 80 mil novas casas, com parceria com o programa federal Minha Casa, Minha Vida. No lançamento do programa, o prefeito disse que não irá “tolerar” novas “invasões”.

Será? Movimentos sociais e organizações de luta por moradia contestam a eficácia da nova política. Para o integrante da Comissão da Pastoral da Terra (CPT) Frei Gilvander Moreira o programa é muito tímido perto da real necessidade da população. Ele afirma que há quatro anos, em 2009, quase 199 mil famílias se inscreveram no programa Minha Casa, Minha Vida, portanto, o déficit seria muito maior que o apontado pela Prefeitura. “E está

Em 19 anos, a PBH construiu 16 mil moradias. Em três, promete fazer 23 mil crescendo diante da desapropriação de milhares de casas para as obras, como ampliação de avenidas e construção de viadutos”, aponta. Programas são insuficientes O militante do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) Wallace Oliveira explica que os programas não têm capacidade para atender a

Prefeitura estima em 62 mil o déficit de moradias na capital, e promete construir 23 mil casas. Movimentos contestam

demanda necessária. Segundo a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (URBEL), o potencial construtivo, ou seja, a capacidade máxima do programa Minha Casa, Minha Vida até o ano de 2016 em Belo Horizonte é de pouco menos de 23 mil casas. “Não tem capacidade para sanar o déficit, nem se acelerasse”, avalia Wallace. Ou seja, o

comprometimento da entrega de 23 mil moradias até 2016 pelo BHMorar é possível do ponto de vista estrutural, mas acaba com toda a capacidade do Minha Casa, Minha Vida, e ainda estará muito longe de acabar com a necessidade de novas moradias. Mesmo viável, os movimentos questionam a capacidade administrativa de construção destas casas. Ainda segun-

do a Urbel, desde 1994 até agosto deste ano foram construídas 16 mil moradias. Leonardo Péricles, coordenador nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), questiona a proposta do BH Morar. “Em 19 anos a prefeitura construiu 16 mil moradias. É muito estranho eles dizerem que em três anos vão fazer 23 mil. E até quando vão fazer as 80 mil?”, indaga.

Imóveis vazios e grilados poderiam suprir necessidade Fabiana Leite

Os movimentos de luta por moradia apontam que há diversas formas de resolver o problema habitacional de Belo Horizonte. “Se a prefeitura estivesse preocupada de fato com a questão da moradia, utilizaria de mecanismos dispostos no Estatuto da Cidade, que é uma lei muito boa”, aponta o militante do MTD Wallace. Ele conta que no Estatuto há uma regulamentação sobre o uso de imóveis, que devem cumprir uma função social, como proporcionar segurança, bem estar e equilíbrio com o meio ambiente, funções que podem ser definidas de acordo com características específicas do imóvel. Se não forem cumpridas as normas, o local po-

de ser desapropriado. O imóvel entra então em um sistema chamado IPTU Progressivo, que é o aumento anual do valor do imposto. Se após cinco anos o local ainda não estiver de acordo com as normas, é desapropriado em título de

dívida pública e pode ser repassado para a construção de moradia popular. Existem mais de 100 mil imóveis parados em BH, segundo o IBGE. “A maioria deles está servindo à especulação imobiliária, ruim para

quem vive de aluguel, e ainda aumenta o preço dos terrenos para a construção de moradias para o Minha Casa, Minha Vida, dificultando a implantação do programa”, declara o trabalhador. Frei Gilvander tem uma proposta para a PBH. “Resgatar os quase 1,5 milhões m² de terras griladas no Barreiro, que estão nas mãos de empresas, e onde ficam as ocupações Eliana Silva e Irmã Dorothy, e fazer um grande projeto habitacional popular no local. Ele acredita que o mesmo deve ser feito com o terreno conhecido como Granja dos Werneck. “Diante desse gravíssimo problema social em BH, que é o de moradia, o mais justo seria de-

dicar toda a região da Mata do Isidoro para um grande projeto habitacional popular, e não criar a décima regional, com 75 mil apartamentos de luxo. Uma baita contradição”, denuncia, a respeito do empreendimento a ser feito no local. Os movimentos criticam ainda a falta de diálogo com a sociedade. “Pra quem está sendo feito o BHMorar? É muito obscuro o projeto da prefeitura”, declara Leonardo Péricles. Frei Gilvander, que acompanha a luta por moradia há décadas, concorda: “o prefeito continua intransigente não ouvindo as reivindicações dos pobres, criminaliza as ocupações e os movimentos sociais”.


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Mudança no Sindipa encerra 30 anos de conciliação com o patrão PELEGUISMO Ação na Justiça da antiga chapa atrasou em meses a mudança no Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga Rogério Hilário de Belo Horizonte Eleita em janeiro, a nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga (Sindipa), presidida por Hélio Madaleno, tomou posse na última semana. O Sindipa foi criado em 1º de maio de 1965, sendo o maior sindicato da região e um dos maiores do estado. A entidade tem em sua base cerca de 9 mil trabalhadores na ativa e aposentados. A nova diretoria da entidade, formada por sindicalistas da CUT e da Intersindical, eleita em janeiro último, não pôde tomar posse no dia 11 de julho por força de uma liminar concedida pelo desembargador Fernando Antônio Viégas Peixoto, do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região em favor de associados que alegaram terem sido impedidos de votar, pois seus nomes não estavam na lista. Na última semana, em audiência, os desembargadores

decidiram, por unanimidade, pela extinção do processo e cassação da liminar que suspendeu a posse da diretoria, eleita pela chapa 2. A decisão determinou a suspensão dos efeitos da eleição sindical promovida pelo Sindipa

recidamente representados por quem tem compromisso com a classe trabalhadora e o rompimento de uma história de mais de 30 de anos de atrelamento com a direção da empresa e de contrariedade aos interesses dos trabalhadores”, afirmou. Reprodução

no mês de janeiro, com impedimento da posse de todos os eleitos até o julgamento final da ação. “Vimos que a justiça foi feita. Nós ganhamos legalmente. As pessoas que brigaram na Justiça sequer procuraram o sindicato. A Justiça está sendo coerente e estamos muito felizes com isso”, disse Hélio Madaleno. Se-

TRIBUTAÇÃO Apesar de ter apenas recomendado que a legislação fosse cumprida, promotor de Contagem não pode mais atuar O promotor do Ministério Público de Minas Gerais Fabrício José da Fonseca Pinto que apurava, na Superintendência Regional da Fazenda II/Contagem, possíveis irregularidades na concessão de Regimes Especiais de Tributação (RETs) – tipo de benefício fiscal – foi afastado repentinamente do caso, após expe-

Anos de peleguismo “A vitória da Chapa 2 e a sua posse no Sindipa representam o rompimento de muitos anos de peleguismo em Ipatinga, da falta de compromisso com os metalúrgicos. É a possibilidade de os trabalhadores serem me-

Houve resistência da antiga direção, que continuava no comando do sindicato

Promotor que investigava benefícios fiscais é afastado

Da Redação

gundo a presidente da CUT Regional Vale do Aço, Feliciana Saldanha, houve resistência da antiga direção, que continuava no comando do sindicato, mas, com a chegada da decisão da Justiça, os integrantes da Chapa 2 foram empossados.

dir duas recomendações para a Superintendência de Tributação (Sutri) da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais (SEF/MG). O promotor recomendou que fosse verificado o cumprimento das leis complementares federais que dispõem sobre a concessão de benefícios fiscais, e se as empresas que pedem esses regimes preenchem os requi-

Maior sindicato da região, possui mais de 9 mil trabalhadores, na ativa e apostentados, filiados

sitos previstos na Lei Estadual 6.763/75. “O promotor estava apenas recomendando que a Secretaria de Fazenda fizesse a concessão desses regimes conforme a legislação. Muitos dos benefícios concedidos pelo governo de Minas são ilegais, por não passarem pela aprovação do Conselho Nacional de Política Fazendária, e não trazem nenhum retorno social, o que representa um desperdício de dinheiro púbico. O Ministério Público Estadual tem que esclarecer o caso, já que são bilhões de reais desperdiçados”, diz o presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Estadual de Minas Gerais (Sindifisco-MG), Lindolfo Fernandes de Castro, entidade que vem acompanhando o caso. Após seu afastamento, o promotor ajuizou ação civil pública contra o secretário

-adjunto de Estado de Desenvolvimento Econômico, Antônio Eduardo Macedo Leite, que é ex-superintendente de Tributação da Secretaria de

Promotor denunciou ligações entre exsuperintendente da Fazenda e empresa beneficiada com renúncia fiscal, a Central Mineira Atacadista Ltda. Estado de Fazenda (SEF/MG), a empresa Cema Central Mineira Atacadista Ltda. Processa ainda seus dois sócios, além do advogado que representa a empresa. Na investigação efetuada pelo promotor antes de seu

afastamento, foram identificadas supostas irregularidades relacionadas à Cema. A empresa obteve a concessão de regime especial pela Secretaria de Fazenda em 2008, época em que Antônio Eduardo Macedo Leite chefiava a Superintendência de Tributação, sendo, portanto, responsável pela autorização. Apenas 45 dias depois, a concessão foi cassada. Em 2013, durante as investigações realizadas pelo promotor, verificou-se que a Certidão de Débito Tributário (CDT) da empresa estava positiva na época da concessão, o que já seria um impeditivo para a obtenção de regime especial. Na ação, o promotor reivindica a reparação do dano e o afastamento do cargo do secretário-adjunto Antônio Eduardo Macedo Leite, em caráter liminar, por improbidade administrativa.


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As feministas e o Miss Brasil 2013 PADRÃO Mulheres protestam contra modelo de concurso de beleza Lívia Bacelete De Belo Horizonte Perto do glamour da passarela do Miss Brasil 2013, mulheres organizadas bradavam suas palavras de ordem con-

tra os padrões de beleza e a mercantilização do corpo feminino. A ação direta, organizada pelas militantes da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e do Levante Popular Lívia Bacelete

da Juventude, chamou atenção do público que participou do maior concurso de beleza do Brasil, realizado no dia 28 de outubro, no Minascentro, em Belo Horizonte. Enquanto os convidados e a imprensa entravam para o concurso, cerca de 50 feministas manifestavam na porta do evento com batuques, performances e muitos gritos

Durante a ação, as feministas ressaltaram que estavam ali por todas as mulheres: por elas próprias, por aquelas que estavam na fila, na passarela e por todas as trabalhadoras do evento Cerca de 50 militantes da Marcha Mundial das Mulheres e do Levante Popular da Juventude organizaram ato em frente ao Minascentro

que questionavam os padrões difundidos pelo Miss Brasil. “Estamos aqui para fazer um

Direito ao corpo A manifestação também marcou o Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta pela Legalização do Aborto – 28 de outubro, reivindicando autonomia das mulheres para decidirem sobre seus corpos. No Brasil, o assunto tem gerado polêmica desde que o projeto de lei 478/2007, que propõe instituir o Estatuto do Nascituro, entrou em votação na Câmara dos Deputados. De autoria dos ex-deputados Luiz Bassuma (PV-BA) e Miguel Martini (PHS-MG), o PL foi aprovado na Comissão de Finanças e Tributação em julho desse ano, e aguarda aprovação na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania para ser analisado pelo Plenário. De acordo com o PL, nascituro é o ser humano concebido, mas ainda não nascido, que terá assegurado o direito à vida, à saúde e a políticas públicas que garantam o seu desenvolvimento. Garante ao nascituro concebido a partir de estupro direito à assistência

pré-natal e a ser encaminhado para adoção, caso a mãe assim deseje. Se a mãe vítima de estupro não tiver condições econômicas para cuidar da crian-

Uma em cada 7 mulheres entre 18 e 39 anos já realizou ao menos um aborto na vida ça, o Estado arcará com uma pensão até que o estuprador seja identificado e responsabilizado pelo pagamento ou a criança seja adotada, se for vontade da mãe. A proposta divide opiniões, acirrando a disputa política entre os fundamentalistas religiosos e os integrantes de movimentos pró-vida com os movimentos feministas e em defesa dos direitos humanos. Para além das questões ideológicas, o aborto tem se mostrado um problema de saúde pública no Brasil, já que 1 em cada 7 mulheres entre 18 e 39 anos já re-

contraponto, dizer que a mulher bonita é aquela que está na rua, que luta, que é trabalhadora. Não precisamos nos adequar a esse padrão de beleza para ser aceita socialmente”, explica a enfermeira Débora Antoniazi Del Guerra, integrante da MMM. De acordo com pesquisa divulgada pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS) em 2011, o Brasil é o segundo país no ranking mundial em cirurgias plásticas, perdendo apenas para os Estados Unidos. Entre os procedimentos cirúrgicos mais realizados no país estão a lipoaspiração e a cirurgia de aumento dos seios. A estudante e militante do Levante Popular da Juventude Natália Ferreira destaca que diversas mulheres se submetem a cirurgias plásticas devido ao padrão de beleza imposto pela sociedade, reforçado pela mídia e por eventos como o Miss Brasil. “Esse padrão de beleza mata muitas mulheres no país e faz com que muitas

fiquem doentes. A bulimia e a anorexia são consequências disso”, denuncia. Durante toda a ação, as feministas ressaltaram que estavam ali por todas as mulheres: por elas próprias, por aquelas que estavam na fila, na passarela e por todas as trabalhadoras do evento. Logo no início, a manifestação foi hostilizada por alguns participantes do concurso que aguardavam a entrada na fila, mas, logo depois, diversas mulheres apoiaram as manifestantes através de fotos, palavras e até mesmo acompanhando parte da manifestação. A miss Espírito Santo 2012, Fernanda Pereira, esteve presente para prestigiar o concurso e torcer para a candidata atual do seu estado. Fernanda diz não se posicionar nem contra, nem a favor da manifestação, pois faz parte do evento, mas defende o direito das feministas expressarem sua reivindicação. “Todo mundo tem o direito de manifestar o que pensa sobre beleza”, afirma.

Miss Pantera Transex 2013 Thais Correia/Mídia Ninja

alizou ao menos um aborto na vida, de acordo com a Pesquisa Nacional do Aborto realizada em 2010 pela Universidade de Brasília (UnB). A enfermeira e integrante da Marcha Mundial das Mulheres Débora Del Guerra explica que o aborto não é um método contraceptivo, mas defende o direito das mulheres de interromperem a gravidez caso queiram. “Sabemos que para uma parcela das mulheres esse é um direito garantido, porque elas pagam por esse procedimento numa clínica clandestina. Mas para a maioria das mulheres, as negras e pobres, esse direito não existe. Na verdade, elas praticam aborto e acabam morrendo”, afirma. Dados do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) mostram que o aborto clandestino no Brasil provoca 602 internações diárias por infecção, 25% dos casos de esterilidade e 9% dos óbitos maternos, sendo a 3ª maior causa de morte materna no país.

Belo Horizonte conheceu sua Miss Pantera Transsex 2013. A mineira Ashlee Kathleen, de 24 anos, foi eleita a transsexual mais bonita da cidade, levando a vantagem sobre outras oito concorrentes. A celebração ocorreu no Shop Uai e contou com júri formado por empresários de beleza, jornalistas, psicólogos e outros. Na programação, perfomances de drag queens e gogo boys. Além do título principal, havia outras duas categorias em disputada, a de Miss Simpatia e Miss Elegância. O concurso, realizado desde os anos 1980, até hoje tem funcionado como espaço para a visibiliza-

ção das reivindicações relacionadas ao gênero e orientação sexual. (Mídia Ninja)

15 mil na parada do Orgulho LGBT A chuva constante não desanimou a celebração pela diversidade sexual. No último dia 30, cerca de 15 mil foram às ruas na 16ª Parada do Orgulho LGBT - Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros. Com concentração na Praça da Estação, a parada saiu em caravana ao cair da noite para a Savassi, acompanhada por trios elétricos. Com o tema “Estado Laico - Sua religião não é nossa lei”, o evento fechou uma semana de progra-

mação contra o preconceito, que contou com palestras, encontros e outras atividades culturais. (Mídia Ninja)


Belo Horizonte, de 04 a 10 de outubro de 2013

Governo de Minas anuncia reajuste zero Bráulio Siffert

TRABALHO Categorias preparam greve para impedir perdas nos salários Bráulio Siffert De Belo Horizonte Não foi com muito espanto que os sindicalistas presentes na reunião do dia 26 de setembro do Comitê de Negociação Sindical (Cones) receberam do governo a notícia de que, pelo segundo ano consecutivo, não será dado nenhum reajuste para a grande parte dos servidores públicos do estado de Minas Gerais. Desde quando o governo impôs uma lei de “política remuneratória” com várias artimanhas con-

Ao não conceder nem a reposição da inflação, o governo faz com que os salários dos servidores percam o poder de compra tábeis, que condicionam o reajuste dos servidores a uma série de fatores, os sindicatos perceberam que qualquer reajuste só será conquistado com muita luta. Ao não conceder nem a reposição da inflação, o governo faz com que os salários dos servidores percam o poder de compra. Nos governos Aécio Neves e Anastasia, os servidores pú-

Sindicalistas receberam sem surpresa o anúncio de zero de reajuste para os servidores estaduais

blicos de carreira foram sendo deixados em segundo plano, e, no máximo, passou a se conceder gratificações e remunerações variáveis, que não abrangem todos os servidores e em sua maioria não continuam a ser pagas na aposentadoria. Enquanto isso, foi dado grande espaço para terceirização, benefícios fiscais para grandes empresas, vultosos empréstimos, excesso de cargos comissionados e obras mal planejadas. Manobra contábil Na lei da “política remuneratória” que o governo impôs no ano passado para, segundo a visão dos sindicatos, oficializar o congelamento dos salários, os

reajustes na data-base de 1º de outubro de cada ano são concedidos baseados em uma manobra contábil que só destina para aumento salarial 55% da variação das receitas. Nesse ano, o governo considerou que gratificações e aumentos referentes às negociações de 2012 já eram “reajustes” de 2013 e então não havia “sobrado” mais nada. Saúde prepara greve Diante do segundo ano sem reajuste, os sindicatos e servidores estaduais de várias categorias estão fazendo mobilizações e assembleias que podem dar início a várias greves em Minas. Os profissionais da saúde, por exemplo, decidiram no dia 26 que irão realizar assembleia geral

no dia 16 de outubro para definir os rumos da greve geral. Educação sem o piso Para os trabalhadores em educação, o governo ofereceu 5% de reajuste, que foi rejeitado em assembleia da categoria realizada no dia 26 de setembro. Os educadores exigem piso salarial como vencimento básico e proposta para o efetivo descongelamento da carreira. No dia 8 de outubro os educadores voltam a se reunir em assembleia estadual, com greve de 24 horas. Até lá, continua a manutenção do acampamento no Palácio dos Mangabeiras, que começou no dia 30 de agosto.

MOBILIZAÇÃO Categoria petroleira e movimentos sociais se unem contra o leilão do Campo de Libra, previsto para o dia 21

O Campo de Libra, uma das maiores descobertas da Petrobrás no pré-sal, está prestes a ser entregue às multinacionais. O leilão previsto para o dia 21 de outubro é uma ameaça para a soberania nacional, pois colocará em risco

12 bilhões de barris de petróleo, cuja receita estimada é de mais de um trilhão de reais. De acordo com o diretor do Sindipetro/MG José Maria da Silva o Brasil só tem a perder caso o leilão aconteça. “A Petrobrás deveria ser a única exploradora, já que investiu recursos para mapear essa área e verificar sua viabilidade exploratória. Assim, as empresas

nacionais faturariam com a aquisição de equipamentos, e, consequentemente, gerariam mais empregos. Além disso, teríamos mais investimentos na saúde e educação”. Ele ainda destaca que Libra possui risco de exploração nulo. Portanto, não faz sentido passá-lo a outras empresas. Para impedir o leilão, os petroleiros, juntamente com

fatos em foco Condenado pelo mensalão tucano O ex-diretor do Banco Rural Nélio Brant Magalhães foi sentenciado pela Justiça Federal em Minas a nove anos e nove meses de prisão por participação no chamado mensalão mineiro. Tratase da primeira condenação relativa ao esquema de desvio de recursos públicos para a campanha à reeleição do ex-governador e atual deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998, conforme denúncia da Procuradoria-Geral da República. Esse é um dos muitos processos desmembrados do caso. Os outros quatro réus, ligados ao Banco Rural e denunciados no mesmo processo, foram absolvidos, mas o Ministério Público Federal recorreu.

Em defesa da Uemg Um ato na Assembleia Legislativa marcou o lançamento do Movimento Em Defesa da Uemg, que reuniu, na quarta-feira (2), professores e estudantes da Uemg e das fundações ligadas à Universidade. Conforme prevê o projeto de lei sancionado em julho, seis fundações de ensino serão extintas e seus cursos absorvidos pela Uemg. O movimento é a favor da estadualização das fundações, mas denuncia a falta de transparência no processo. No dia 24/10, o movimento vai realizar manifestações nos municípios onde estão localizadas as instituições de ensino superior ligadas à Uemg.

Vitórias para o Mais Médicos

Em defesa do pré-sal Luana Braga De Belo Horizonte

minas | 07

movimentos sociais e sindicais, promovem, em outubro, manifestações em todo país. Em Minas Gerais, os trabalhadores da Refinaria Gabriel Passos (Regap-Betim), Termelétrica Aureliano Chaves (Ibirité) e Usina de Biodiesel Darcy Ribeiro (Montes Claros) deflagraram greve de 24 horas na última quinta-feira (3).

O presidente do Conselho Regional de Medicina, João Batista Soares, renunciou ao cargo, um dia antes do fim do mandato, para não ser notificado da decisão que obriga a entidade a emitir os registros provisórios dos médicos estrangeiros que já haviam apresentado a documentação exigida pelo governo federal e que estivessem além do prazo de 15 dias de espera. Caso a medida seja descumprida, o conselho terá que pagar multa diária de R$ 10 mil.


08 | opinião

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Acompanhando

Foto da semana

Maíra Gomes

Na edição 6... Muita gente e clima de roça na ocupação Esperança e agora...

Os bancários, em greve há duas semanas por reajuste de 11,93%, ilustram portas de bancos da capital como ‘porta do inferno’, em alusão às más condições de trabalho nas agências.

Denuncie Viu alguma coisa legal? Algum absurdo? Quer divulgar? Mande sua foto para redacaomg@brasildefato.com.br. Lembre-se de mandar o endereço onde foi registrado o fato e seu contato

Eliane Novato

Durval Ângelo Andrade

Brasil: campeão no consumo de agrotóxicos

Impunidade se arrasta

A Campanha Nacional Contra os Agrotóxicos e Pela Vida é uma iniciativa de movimentos sociais, instituições acadêmicas e outras entidades visando mobilizar a sociedade na discussão do uso de agrotóxicos e suas consequências para a saúde e o meio ambiente. O Brasil ocupa o triste primeiro lugar no consumo de agrotóxicos, mercado que movimenta mais de US$ 7 bilhões ao ano, impulsionado pela política de incentivo ao agronegócio. São centenas de produtos em mais de 2000 marcas comerciais, usados de forma abusiva e indiscriminada, envenenando o solo e as águas, animais e plantas, causando intoxicações agudas e crônicas em trabalhadores rurais e na população em geral, pela contaminação dos alimentos. Com os transgênicos, se aumentou o uso. Estudos científicos comprovam os efeitos nocivos desses produtos sobre a saúde humana, principalmente sobre

os sistemas imunológico, nervoso e reprodutor. Assim, os cânceres, malformações congênitas e abortos, por exemplo, são muito mais frequentes em indivíduos expostos a contato intenso com agrotóxicos. Em contrapartida, a adoção de um modelo de produção mais sustentável enfrenta dificuldades, como a falta de investimentos no setor. É contra essa situação que cresce, a cada dia, a Campanha contra os agrotóxicos. Em Minas já são sete comitês em diferentes regiões do estado, ganhando adeptos em diferentes setores da sociedade. A participação de todos é bemvinda. Informações e material de divulgação podem ser encontrados no site da Campanha: http://www.contraosagrotoxicos.org. Eliane Novato é professora do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG e integra o comitê estadual da campanha

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de adiar, mais uma vez, o julgamento do fazendeiro Norberto Mânica, um dos maiores produtores de feijão do país e acusado de ser um dos mandantes do assassinato de quatro servidores do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), no caso que ficou conhecido como Chacina de Unaí, atinge diretamente a luta pela defesa dos direitos humanos em Minas Gerais. Erastótenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares, Nelson José da Silva e Ailton Pereira de Oliveira foram mortos em 28 de janeiro de 2004 quando fiscalizavam uma denúncia de trabalho escravo na fazenda dos Mânicas. O assassinato dos quatro servidores é um atentado à vida, mas também um atentado à defesa da sociedade e dos seus direitos fundamentais. Há um velho chavão que justiça tardia não é justiça, é injustiça. Com toda a certeza os desdobramentos e a impunidade do caso é um grande sinal que a justiça penal nesse

país só vale para os chamados três p’s: pobres, pretos e prostitutas. Hoje podemos incluir mais um p, de petista. O que aconteceu no julgamento da AP 470 mostra, de forma clara, que a justiça no Brasil é de classe, serve apenas aos poderosos e que não pacifica o sentimento da sociedade. No caso do julgamento de Unaí, a questão da política foi mais uma vez decisiva. Os dois irmãos acusados de serem os mandantes, Antério e Norberto Mânica, têm todo o respaldo da classe política. Um deles chegou a ser prefeito da cidade por oito anos e, mesmo sendo acusado, será candidato a deputado. É preciso a mobilização de toda a sociedade para que o júri ocorra em Belo Horizonte, só assim poderemos virar uma página de impunidade em Minas Gerais. Durval Ângelo Andrade é deputado estadual pelo PT/MG, presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALMG, teólogo e professor

Na madrugada de sexta para sábado (28 para 29), a Polícia Militar e o Gate entraram na ocupação Vitória, expulsaram famílias e queimaram barracas. Desde então, o Gate faz vigília 24 horas por dia no local. As ocupações Esperança e Rosa Leão, que estão também no terreno da Granja dos Werneck, foram ameaçadas. Todas as noites, helicópteros da PM sobrevoam o local. Frei Gilvander Moreira, da Pastoral da Terra, conta que não houve um pedido oficial de despejo das famílias, portanto, considera a ação ilegal e arbitrária.

Na edição 5... Privatização da água em Minas e agora...

No dia 2 de outubro, foi realizada a licitação da empresa que vai ser responsável pela ampliação do Sistema Rio Manso, através de uma Parceria Público-Privada (PPP). Quatro grupos apresentaram suas propostas, e quem levou foi a Odebrecht Ambiental, um braço da Odebrecht que atua no setor de saneamento. O desconto oferecido pelo grupo foi de 8,15%. As obras, estimadas em R$ 500 milhões, devem ser concluídas em dois anos. Os outros 13 anos do contrato são para a operação do sistema. O Sindágua MG entrou com uma ação civil pública questionando a necessidade e o valor da obra. A entidade sustenta que o valor pode ser cobrado dos consumidores.


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entrevista | 09

“A Cemig tem total condição de reduzir a tarifa” CONSULTA Jairo Nogueira Filho explica o plebiscito popular pela redução da conta de luz Joana Tavares de Belo Horizonte Em outubro, a população mineira vai ser consultada sobre o preço da energia. Denunciada por organizações sociais como uma das mais caras do país, a tarifa é tema de um plebiscito popular, que será realizado de 19 a 27, em todo o estado. “Levantamentos demonstram que 68% da tarifa é de impostos, e pelo menos 46% é de cobrança de ICMS, um imposto estadual, que pode ser diminuído”, explica Jairo Nogueira Filho, coordenador-geral do Sindicato dos Eletricitários, o Sindieletro-MG. Jairo, que também é se-

cretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), explica nesta entrevista o que é um plebiscito popular, como ele pode pressionar por mudanças e sustenta que a Cemig tem toda condição de arcar com essa re-

dução, já que os lucros da empresa são cada vez mais bilionários. Brasil de Fato - O que é um plebiscito popular? Jairo Nogueira Filho - É uma consulta à população sobre algum tema. É um instrumento que não tem efeito de lei, mas que serve para pressionar o governo por melhorias e também para organizar, conscientizar e politizar o povo. Por que pedir a redução da tarifa de energia em Minas? Já não existe uma política estadual de isenção do imposto para famílias pobres? Porque hoje a tarifa em Minas é uma das maiores do Brasil, penalizando a população, sendo que temos uma das energias mais baratas na sua produção e distribuição. Além disso, essas altas tarifas se revertem em lucros altíssimos, que são repassados para os acionistas. A isenção não é para os pobres. Na verdade, essa isenção se baseia no consumo, ou seja, só para quem consome até 90Kw/h. Independente se a pessoa mora em um apartamento de luxo na zona sul. Dificil-

mente uma família com 4 pessoas consome menos que isso. O consumo médio no estado é de 157Kw/h. A Cemig tem condições de arcar com essa redução de arrecadação? Quanto ela significaria? A Cemig tem total condição de arcar com isso. É uma empresa que teve um lucro de R$4,3 bilhões no último ano e repassou R$4,5 bilhões de dividendos aos acionistas, paga a título de PLR (Participação nos Lucros e Resultados) R$ 300 mil aos seus gerentes e superintendentes e cobra uma tarifa bem mais baixa das indústrias. Só das empresas ela deixa

de arrecadar mais de R$9 bilhões por ano... Não é essa redução que vai quebrar a Cemig. Qual a relação entre o governo do Estado e a Cemig? O governo do Estado é o sócio majoritário da empresa, teoricamente o dono. Toda a política da empresa esta de acordo com a política do Estado A Cemig investe fortemente em publicidade, e se apresenta como uma empresa séria, sólida e eficiente. Como é trabalhar na Cemig? Os serviços prestados são de qualidade? Hoje a Cemig tem um quadro reduzido de tra-

balhadores próprios e um número muito alto de terceirizados. Esses trabalhadores sofrem uma grande pressão pela política de gestão da empresa, que reflete em adoecimento e acidentes de trabalho. Mantemos a triste média, deste 1997, de uma morte a cada 45 dias. Com esse modelo de gestão que privilegia os acionistas a Cemig deixou de investir na qualidade dos serviços. A população tem sentido isso nos últimos anos. A publicidade é uma ferramenta utilizada tanto pela Cemig quanto pelo governo para mascarar a realidade e manter os meios de comunicação dependentes finan-

ceiramente de suas publicidades. Como o plebiscito está organizado em Minas Gerais? Quantos votos são esperados? Como essa votação pode pressionar pela redução da tarifa? O plebiscito está organizado em todas as regiões de MG pelos movimentos sociais, sindicais, estudantis, religiosos, políticos e da população em geral. Pela importância do tema para a sociedade, estamos esperando 2 milhões de votos. Essa votação vai forçar o governo do estado a rever sua postura em relação à cobrança das tarifas e do ICMS na conta de luz em MG.

Aconteceu essa semana na história

9 de outubro de 1967: Assassinato de Che Guevara Ernesto Che Guevara nasceu na Argentina em junho de 1928. Ainda estudante de medicina, viajou pelo interior do seu país, e América Latina. Torna-se médico em 1953. Em 1956 se soma aos cubanos que lutavam contra uma sanguinária ditadura em seu país. Converte-se em um tático e estrategista insuperável. Após 2 anos as tropas inimigas se rendem e a Revolução

triunfa em Cuba, em janeiro de 1959. Che assume múltiplas responsabilidades de Estado e de governo: chefe militar, presidente do Banco Nacional, Ministro de Indústrias, membro da Direção do Partido. Em 1965 vai para às selvas do Congo, contribuir para libertação desse país. Em 1966 parte para a Bolívia, onde trava numerosos combates durante 11 meses, contra um

exército treinado e armado por assessores estadunidenses. Em 8 de outubro de 1967, com feridas em uma perna, com o fuzil destruído e sem o carregador de sua pistola, é feito prisioneiro. É assassinado no dia seguinte, por ordens da CIA e do alto comando do Exército boliviano. Por seu exemplo continua sendo um estandarte de luta, como disse Fidel, “de Ernesto Guevara nunca se poderá falar no passado”.


10 | brasil

Belo Horizonte, de 04 a 10 de outubro de 2013

brasil | 09

Rio de Janeiro, de 3 a 9 de outubro de 2013

Só a Lei Maria da Penha não é suficiente Brasil de Fato

VIOLÊNCIA De acordo com o Ipea, a cada hora e meia, uma mulher morre vítima de conflito de gênero no Brasil

Simone Freire da Redação A violência contra a mulher no Brasil é um fenômeno complexo e multidimensional, que abarca consequências psíquicas, sociais e econômicas. Mesmo diante de tal complexidade, apenas nos últimos anos a problemática tem conseguido alcançar a luz do poder público. Um marco deste processo foi a criação da lei conhecida como Lei Maria da Penha, que prevê a criação de mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. De acordo com pesquisa, o Brasil é o

7ºpaís

do mundo em números de feminicídios – mortes de mulheres decorrentes de conflitos de gênero No entanto, dados recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que, no período de 2001 a 2011, ocorreram mais de 50 mil feminicídios (mortes de mulheres decorrentes de conflitos de gênero). Ou seja, ainda ocorrem cerca de 5 mil mortes de mulheres por ano, o mesmo que dizer que “a cada hora e meia uma mulher morre no país por causas violentas”.

Negras e pobres Segundo a mesma pesquisa, 61% dos óbitos femininos no país, nestes últimos dez anos, foram de mulheres negras e pobres, com baixa escolaridade - 48% delas com 15 ou mais anos de idade tinham até oito anos de estudo. Um outro estudo, o Mapa da Violência 2012, indica que, de 1980 a 2010, foram assassinadas no país, em média, 91 mil mulheres. Os dados colocam, inclusive, o Brasil em sétimo lugar no ranking dos países onde mais ocorrem feminicídios. O estudo do Ipea também comparou os dados da mortalidade feminina antes e depois da vigência da Lei Maria da Penha. Em sua conclusão, o instituto avalia que “não houve impacto, ou seja, não houve redução das taxas anuais de mortalidade”. Entre 2001 e 2006 (anteriores à lei), as taxas de mortalidade por 100 mil mulheres foram de 5,28. Já nos anos posteriores (2007 a 2011) as taxas foram de 5,22. Segundo Leila Posenato Garcia, técnica do Ipea, mesmo com esta

Desde a promulgação da Lei Maria da Penha, a quantidade de relatos de agressões contra as mulheres por meio do serviço “Ligue 180” cresceu

600%

constatação, não se pode desqualificar o avanço que a Lei Maria da Penha significa para o combate à violência contra a mulher no país. “Com a criação desta lei, muita coisa importante aconteceu: a criação das delegacias, um serviço de atendimento especial, as casas-abrigo. Muito se avançou nesta área. Só que a gente esperava que, com ela, tivéssemos impacto na redução das mortes também”, explica. Insuficiente Um dos principais méritos da Lei Maria da Penha foi quebrar com o ditado de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. Está é a avaliação da coordenadora da organização não-governamental Ca-

tólicas pelo Direito de Decidir, Rosângela Aparecida Talib. Não à toa, desde a promulgação da lei, a quantidade de relatos de agressões contra as mulheres por meio do serviço “Ligue 180” cresceu 600%. No ano passado, foram 88 mil relatos de agressão contra pouco menos de 13 mil, seis anos atrás. Mas, o atual aparato institucional e o aumento do número de denúncias têm se mostrado insuficientes para sanar esse problema tão com-

Entre 2001 e 2011,

61%

dos feminicídios foram contra mulheres negras e pobres plexo. Rosângela relembra que “mesmo com denúncia, a gente tem visto que quando a mulher vai à delegacia e faz a denúncia e consegue a medida protetora, ainda acaba sendo assassinada”.

“Há estudos internacionais que mostram que no momento em que a mulher recebe algum tipo de medida protetora, às vezes, o agressor revida mais agressivamente” A técnica do Ipea vê a questão sobre o mesmo prisma. “Há estudos internacionais que mostram que no momento em que a mulher recebe algum tipo de medida protetora, às vezes, o agressor revida mais agressivamente. O fato de a mulher registrar denúncia causa uma forma de agressão mais violenta”, explica. Para Leila, a lei não é suficiente e se mostra essencial que exista todo um arcabouço que dê sustentação a ela, principalmente em relação ao investimento, uma vez que não adianta ter “uma delegacia que não está equipada; ter um policial que está lá atendendo, mas não está treinado; ou ter um mecanismo legal, mas que não funciona da maneira adequada”.

CPMI DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER Com pouco mais de um ano de trabalho, a comissão formada por 11 senadores e 11 deputados propôs 13 projetos de lei para aumentar a efetividade da Lei Maria da Penha. Entre eles, • o que inclui a discriminação de gênero nas razões do crime de tortura; • o que prevê inserir acompanhamentos psicológicos e cirurgias plásticas reparadoras às vítimas nas diretrizes e princípios do SUS; • um outro que permite às mulheres vítimas de violência receber da Previdência uma ajuda temporária decorrente de risco social; • um que aumenta a exigência de rapidez na análise do pedido de prisão preventiva para os agressores; • e um que, no caso de óbito, prevê a inclusão da figura do “feminicídio” no Código Penal. (SF)


08 | cidades

Belo Horizonte, de 04 a 10 de outubro de 2013

brasil | 11

Maior reserva de petróleo do país em mãos estrangeiras Samuel Tosta

SOBERANIA Leilão de Libra está marcado para o dia 21 de outubro Pedro Rafael de Brasília (DF)

China National Corporation (CNC), Shell, Repsol e Ecopetrol. Outra novidade é O governo brasileiro está perto de repassar que será o primeiro leipara empresas estrangei- lão do petróleo sob a lei ras uma das mais impor- 12.351/2011, que criou tantes descobertas no se- o sistema de partilha de tor energético das últi- produção do petróleo, em que há maior controle e mas décadas. O campo de Libra, na arrecadação do Estado. Nesse modelo, a Pecamada pré-sal, bacia de Santos, é simplesmente a trobras entra com partimaior reserva de petróleo cipação obrigatória em pelo menos 30% da rermada no Brasil. Possui entre 8 e 12 bi- serva. Porém, movimenlhões de barris de óleo. Há tos sociais e organizações quem estipule um rendi- de trabalhadores de tomento de até 15 bilhões, do o país se movimentam o que superaria o volume contra o leilão de Libra, de reservas já provadas por considerarem área em toda a história do país. estratégica e de relevante Essa grandeza deverá interesse público. ser leiloada no dia 21. Localização Concorrem 11 petroleiras, O campo de Libra esinclusive a própria Petro- tá afastado a 138 km do bras e gigantes como a litoral brasileiro. É me-

Manifestantes acampam diante da sede da Petrobras no Rio de Janeiro

nos da metade da distância de Tupi, que tem entre 5 a 8 bilhões de ca a 300 km da costa. “Esse campo [Libra] tem petróleo da melhor qualidade, é quase um nado, e vamos colocar nas mãos das transnacionais?”, questiona Abílio Tozini, diretor da

Federação Única dos Petroleiros (FUP). Especialistas consideram que essa área tem as características para ser decretada como estratégica, em que a União é obrigada a contratar diretamente a Petrobras, sem leilão, para operação total da reserva. cativa está na

própria lei 12.351, em que área estratégica é descrita como “região de interesse para o desenvolvimento nacional [...], caracterizada pelo baixo risco exploratório e elevado potencial de produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarboneuidos”. Para o engenheiro Pau-

lo Metri, um dos maiores especialistas do país no tema, são requisitos mais do que evidentes. “Parece que quem redigiu a lei estava se referindo justamente ao campo de Libra”, aponta. Apesar disso, a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) vai levar adiante o leilão.


10 12 || mundo mundo

Rio Janeiro, de dedeoutubro de 2013 2013 Belode Horizonte, de304a a9 10 outubro de

EUA obrigam funcionários a ficar em casa sem receber Pete Souza/White House

ORÇAMENTO Com fechamento de governo, 800 mil funcionários públicos federais “não-essenciais”, forçosamente, foram postos em licença não-remunerada da Redação O governo dos EUA iniciou, na terça-feira (1º), uma paralisação parcial do setor público pela primeira vez em 17 anos, colocando cerca de 800 mil funcionários públicos em licença não-remunerada. Tudo porque o Congresso não conseguiu entrar em acordo para aprovar o orçamento do ano fiscal de 2014. Os Republicanos se posicionaram dizendo que só aceitaram o orçamento dos Democratas sob uma condição: uma moratória de

mem o pagamento depois que o governo reabrir.

um ano para o chamado Obamacare, a lei de reforma da saúde promulgada em 2010. Desde que o sistema moderno de orçamentos para o governo foi aprovado, em 1976, houve 17 fechamentos, com durações entre um e 21 dias. Paralisações ocorrem quando o Congresso não chega a um acordo sobre um projeto de financiamento da administração (que pode ser para o ano fiscal - de 1º de outubro a 30 de setembro ou para parte do ano) ou, como aconteceu quando Bill Clinton era presi-

Obama em reunião com sua equipe para discutir o fechamento do governo estadunidense

dente, o chefe de Estado o veta. Desse modo, a administração não tem autorização legal para gastar dinheiro. Assim, o governo é obrigado a parar de prover todos os serviços considerados “não-essen-

ciais”. Basicamente, a administração não tem autorização legal para pagar suas contas internas e, por isso, apenas atividades como as de policiais, bombeiros, médicos, correios, Forças Armadas, tráfego aéreo e sis-

tema penal continuam a ter fundos para funcionar. Os funcionários não podem se oferecer para trabalhar sem receber: uma lei federal do século 19 proíbe esse tipo de voluntariado para que os empregados não recla-

Teto da dívida A paralisação, entretanto, pode ser o prelúdio de situação muito mais grave esperada para o meio de outubro quanto ao teto da dívida estadunidense. Por volta do dia 17, o Tesouro dos EUA fica perto de não ter dinheiro para pagar as contas externas, a menos que o Congresso vote por permitir novos empréstimos. Os republicanos se recusam a elevar o teto da dívida pública, ou seja, a quantidade de dinheiro que o país pode pagar e pedir emprestado aos mercados financeiros, permitindo que o Tesouro contraia novos débitos. Isso pode causar, pela primeira vez, a inadimplência dos EUA. (com Opera Mundi)

Fim de apoioMASSACRE internacional a opositores DE IPATINGA é necessário para a paz, diz Assad Resgatar a memória é dar sentido à própria história. Programação do Cinquentenário

04/10, sexta-feira, 19h – Audiência Pública Caminhada da Paz, saindo do campo do SÍRIA Em entrevista ao canal TeleSUR, presidente da Síria voltou a negar que seu governo tenha usado armas químicas Itamarati (Bethânia), rumo à Comunidade Nossa e lançamento do selo dos Correios rememo-

da Redação Em entrevista ao canal TeleSUR, no último dia 25, o presidente da Síria, Bashar al Assad, disse que uma saída para a crise de seu país passa antes pelo fim do apoio aos grupos armados opositores por outros países. O chefe de Estado não descartou a hipótese de os Estados Unidos empreenderem uma ação militar contra seu país no futuro, mesmo que por outra razão que não seja uma represália pelo ataque de armas químicas ocorrido em agosto, nos arredores de Damasco, que supostamen-

rativo do Massacre, na Câmara Municipal de Ipatinga.

Senhora do Rosário.

Reprodução

segunda-feira, às 19h30 Segundo o presidente, ristas, 07/10, seja logístico ou A “história prova” Missa na e Comunidade 06/10, domingo, – Cultura a “história15h prova” que Hip os Hop com dinheiro armas”, Nossa Senhora do Rosário (Bethânia, Paróquia que os EUA EUA sempre “criarão um disse. “Não se chegará a Cristo Redentor). Parque Ipanema - participação do Grupo Culpretexto” para a guerra, um resultado prático se sempre “criarão tural Sintonia. Tema: “Massacre de Ipatinga”. 18/10, sexta-feira, às 10h – Caravana da se esta tiver como objeti- não forComissão interrompido o (Federal) e lançamento do de Anistia um pretexto” 07/10, segunda-feira vo atender aos– interesses terrorismo.” livro “Massacre de Ipatinga”, de Edvaldo Instalação doapoio artis- ao Fernandes voltou - auditório em Pedro de- Linhares O presidente a Padres do Trabalho, campara a guerra, ta seplásticoestadunidenses Amauri Krus, na Av. pus do Unileste de Coronel Fabriciano. (próximoterminada à Estação Ferroviária). região, citan- negar que seu governo esta tiver como do como exemplo a Amé- tenha usado armas quí07/10, segunda-feira, 9h – Audiência da rica Latina durante o pe- micas e18/10, acusousexta-feira, os rebel- às 14h15 – Intervenção objetivo atender Cultural com Maria Cloenes do Grupo de Dança Comissão Nac. da Verdade com as testemuríodo da Guerra Fria. des que querem derrubá Contemporânea Hibridus, na Praça da Bíblia, no e homenagem às famílias aos interesses nhas do Massacre Segundo Assad, pa-lo. “Todas as provas inCentro de Ipatinga. das vítimas. Plenário do Fórum da Comarca ra que a paz seja alcan- dicam que foram os terestadunidenses de Ipatinga. sexta-feira, çada, é “inevitável” um roristas18/10, que usaram as às 14h30 – Inauguração em determinada do Monumento do Massacre, na Praça da Bíblia, 07/10, segunda-feira, – Prévia diálogo entre 20h “todas as do armas químicas na periCentro de, Ipatinga. partes sírias” em confli- feria denoDamasco” disse, região 7 de outubro Moreira, seguida de uma bate papo, Estação to. “Para açãonapoapós afi18/10, rmar que “todos às 16h – Inauguração do sexta-feira, Memória. (1963 - 2013) lítica, é necessário pri- os indícios” mostram que Centro de Documentação (CEDOC).Rua Mariana, te matou cerca de 07/10, 1.400 segunda-feira, meiro o fim doàsterrorisseu governo “não as uti- de Ipatinga. 248, sl./301, Centro 18h30 pessoas – os EUA acu- mo e do fluxo de terro- lizou” e que aqueles que sam o governo sírio, que ristas dos países vizi- têm “interesse” em fazê nega a acusação e culpa nhos, assim como o fim -lo “são os terroristas”. www.cutmg.org.br Participe! a oposição. do apoio a esses terro(do Opera Mundi) O presidente da Síria, Bashar al Assad, concede entrevista à TeleSUR R


Belo Horizonte, de 04 a 10 de outubro de 2013

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

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© Revistas COQUETEL 2013

O gol, para o atacante (fut.) Ator brasileiro de "Ca(?) de reservista: Sem (?): randiru" atesta o cumprimento e "300" do serviço militar inédito

Relativos a dinheiro "(?) Brasil", programa

variedades | 13

A novela Como ela é

Ponto turístico carioca na Floresta da Tijuca, era o local de almoço campestre da Rio que banha o Cairo nobreza

Endereço da loja virtual (internet)

Pedido de revisão de decisão judicial

Gênero musical dos Racionais MCs

Cidade Cartão (?), PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS natal de Paulo

www.coquetel.com.br

O gol, para o atacante (fut.) (Bíblia) Ator brasileiro de "Ca(?) de reservista: Sem (?): randiru" atesta o cumprimento e "300" do serviço militar inédito

(?) Público: fiscaliza o cumprimento das leis

(?)-USP: primeira escola de Engenharia do Estado de São Paulo

Ritual de entrada na universidade São fonte de diversão em cassinos e podem envolver dados, roleta ou baralho

Estúpido (fig.)

Arma portátil em forma de tubo

Titânio (símbolo) Siga em frente

A região Lençóis Rio dos MaraElementodonhenses Grande natural a Sul que(sigla) o algo-

Ser, em inglês Anseio do ganancioso

dão-doce se asse-

Dentro melha de, em francês

A ave que participa de torneios de canto A primeira vogal Matéria de jornal

Arma portátil em forma de tubo

Capacitar Rio Grande do Sul (sigla) Dentro de, em francês

Emprego; aplicação Dígrafo de "osso"

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inglês A força Anseio do "mágica" ganancioso da benzedeira

(?) pois, expressão típica de Portugal

Capacitar

Emprego; aplicação Título Dígrafo britânico de "osso" Tecido Título de britânico casacos Tecido de casacos

São fonte de diversão em cassinos e podem envolver dados, roleta ou baralho

digital

(Bíblia)

A ave que participa de torneios de canto (?)-8, (?) Público: fiscaliza oA primei-grupo dos países cumprimento das leis ra vogal ricos Matéria de jornal

Ritual de entrada na universidade

Toda forma de amor

A força "mágica" da benzedeira (?) pois, expressão típica de Portugal

BANCO

2/be. 4/dans — poli. 7/recurso. 10/ministério —precedente. precedente. 2/be. 4/dans — poli. 7/recurso. 10/ministério — 15/mesa15/mesa do imperador.do imperador. 46

M E N T E R I O S L A O R S D E R I O C T I U V E M R A P S B E O T A R RE Z A O U D S T R I C O S D E A Z A R

Nas bancas e livrarias

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Nas bancas e livrarias

P R M O D OS R M I G P O S A S N T O R J O

para mudar de pensar sua maneira de pensar

46

Solução

P R E U V M O N R DA OS R A S M I N O GT P OR EL S OA S N IA R T R A O ZT R I J O GO

50 Desafios para mudar 50 Desafios sua maneira

Solução

GO

BANCO

musical dos Racionais MCs

(?)-USP: primeira escola de Engenharia do Estado de São Paulo

digital Ponto turístico carioca na Floresta da Tijuca, era o local de almoço campestre da Rio que banha o Cairo nobreza

Estúpido (fig.) Titânio (símbolo) A região dos Lençóis MaraSiga em Elemento nhenses frente Endereço Pedido de natural a da loja revisão de que o algovirtual decisão (internet) judicial dão-doce Cartão (?), seCidade asseitem da natal de melha câmera Paulo

(?)-8, grupo dos países Relativos ricos Gênero

a dinheiro "(?) Brasil", programa

item da

© Revistas COQUETEL câmera2013

Dois namoros se iniciaram em Amor à Vida, a novela das 21h. Namoros começam e terminam o tempo todo, as pessoas estão quase sempre em busca de parceiros, que chegam de repente ou como resultado de uma relação já existente entre dois (se bem que hoje há namoros de mais de dois!). Os novos casais de Amor à Vida esperavam o dia da revelação, mesmo em silêncio, porque eram amigos. Foram estreitando a intimidade, se sabiam companheiros. Mas nunca se namora só o namorado, vêm de bandeja os amigos, a família, o mundo da outra pessoa. Aí, começam as estranhezas.

Perséfone é uma enfermeira alegre, cheia de amor pra dar e, com Daniel, seu amigo e namorado conselheiro, já quer se casar. Talvez seja rápido para uma relação recente, mas a moça é virgem e até então só tinha se metido em “furada”. Daniel deve ter se assustado com a rapidez e havia sido repreendido pelos amigos machistas e preconceituosos por namorar “a gorda”. É estranho um casal gordo e magro? Negro e branco? Velho e novo? Homem e homem? Para muita gente ainda é. Outro namoro que provoca o senso comum é o de Bernarda e Lutero. A estranheza parece ser com o momento de se entregar. Os dois se deparam com a possibili-

Reprodução

dade de começar, num tempo em que as coisas tendem mais a findar. Sabidos das dores, delícias e perdas de uma relação, titubearam, fracos diante do frio na barriga e das pernas bambas e se propuseram a relembrar como é beijar. “Nossa, mas nessa idade beijar?”, ouvi de uma moça lá no trabalho. Pena que as estranhezas podem fazer alguém desistir de um namoro. Mas eu desejo que os novos pombinhos não se deixem estranhar e sigam aproveitando, porque namorar é bom demais! Bobo de quem se perde em preconceito e fica querendo botar receita no que não tem juízo, nem nunca terá. Boa semana! Por Joaquim Vela

Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br

AMIGA DA saúde www.coquetel.com.br Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde Querida amiga, estou na menopausa há cinco anos. Você acha que é preciso fazer reposição hormonal? Mariana Tavares, 55 anos, psicóloga Querida Mariana, esse período que envolve a menopausa é chamado de climatério. Nele pode haver ondas de calor seguidas de suor frio, ansiedade, nervosismo, depressão, ressecamento vaginal, insônia, entre outras sensações. A reposição hormonal é indicada somente para as mulheres que têm esses sintomas muito intensos, insuportáveis, interferindo em sua qualidade de vida. Mas ela é contraindicada para mulheres com hipertensão arterial, colesterol alto e outras doenças vasculares. O ideal é vo-

cê passar por uma avaliação de um/uma ginecologista que poderá avaliar o risco e o benefício dessa terapia. Ninguém deve fazer reposição hormonal apenas porque está no climatério. Essa é uma fase natural da vida de toda mulher e é possível passar por ela sem grandes problemas. Alimentação saudável e exercícios físicos podem ajudar. Cuidado com as propagandas de remédio. As indústrias farmacêuticas só querem lucrar utilizando nossos corpos e vidas!

Cara amiga, sempre que entro no ônibus vejo os jovens sentados, com fone no ouvido e celular na mão, enquanto os idosos ficam em pé. Como fazer para que os jovens respeitem os mais velhos? Maria Olivia Salgado, 82 anos, aposentada

Amiga, sempre ouvi dizer que homem só usa um lado do cérebro... Será que é por isso que as mulheres, além do próprio trabalho, têm que cuidar de todos os detalhes relacionados com a casa e com os filhos? Rosa Ferreira, 37 anos, contadora

Prezada Sra. Maria Olívia, hoje vivemos num mundo muito individualista, por isso as pessoas só pensam nelas mesmas. Além disso, a nossa sociedade coloca o dinheiro no centro de tudo e parece que acumular riqueza é o sonho de todo mundo. Com isso, todas as pessoas que estão fora do espaço produtivo, ou seja, fora do trabalho formal, são desvalorizadas. Mas precisamos mudar isso, pois todas as pessoas merecem respeito e contribuem com a socie-

Não, não é por isso Rosa! E sim porque vivemos em sociedade machista, na qual o trabalho doméstico (cuidar da casa, dos filhos, dos doentes, da comida, etc) não é considerado trabalho. Por isso escutamos tanto que mulheres não trabalham, quando na verdade cuidam de todos os serviços domésticos. O trabalho doméstico é considerado uma obrigação das mulheres e, para ficar mais leve, relacionam isso com o “amor” pela família. E isso não tem nada a ver com pensar com metade do cérebro e

dade. Algumas políticas públicas visam garantir o direito das idosas e dos idosos, como o Estatuto do Idoso, que prevê muitos direitos, inclusive o de andar sentado no ônibus. Reivindique seu direito ao cobrador ou diretamente a quem ocupa os lugares preferenciais no ônibus.

sim com o privilégio e com a opressão que os homens exercem sobre as mulheres. Muitas mulheres lutaram e lutam para que essa situação seja mudada, para que esse trabalho seja socializado com os homens e com o Estado. A luta por creches é uma dessas batalhas. Faça parte dessa luta também!


14 | cultura

Saúde Mental: marcos conceituais e campos de prática Livro do Fórum de Formação em Saúde Mental de Minas Gerais provoca a reflexão acerca da defesa dos direitos dos cidadãos em sofrimento mental Tulíola Lima e Anna Laura de Almeida* De Belo Horizonte Há alguns anos, tem-se constatado a necessidade de uma maior aproximação entre as formulações conceituais das instituições de formação⁄ensino e os campos de prática das redes de cuidado em Saúde Mental, em especial, os serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos, criados a partir da Reforma Psiquiátrica. Diante disso, trabalhadores e usuários da rede de Saúde Mental, junto a professores e estudantes, têm promovido espaços de reflexão, propondo avanços na formação nesse campo. Em Belo Horizonte, um grupo de professores e alunos se articulou para promover uma série de atividades em torno do tema da formação para a Saúde Mental. Em novembro de 2010, o grupo promoveu o Seminário “Saúde Mental: marcos conceituais e campos de prática”, dando origem ao Fórum de Formação em Saúde Mental de Minas Gerais, também conhecido como FOFO. Em agosto de 2013, com o apoio do Conselho Regional de Psicologia (CRP-MG), os trabalhos apresentados nesse seminário foram retomados e publicados no livro que leva o mesmo nome do evento. Organizado pela psiquiatra e doutora em filosofia, Ana Marta Lobosque, e pelo psicólogo e gerente do Centro de Referência em Saúde Mental (Cersam) Betim Central, Celso Renato Silva, o livro “Saúde Mental: marcos conceituais e campos de prática” reúne nomes reconhecidos na formação em Saúde Mental, entre eles, o psiquiatra Gregório Baremblitt e o psicanalista Célio Garcia. A publicação apresenta

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Belo Horizonte, de 04 a 10 de outubro de 2013

suas discussões em torno de três eixos: o vínculo e o cuidado; a clínica e o sujeito; as redes e a cidade. “Saúde Mental: marcos conceituais e campos de prática” provoca a reflexão acerca da defesa dos direitos dos cidadãos em sofrimento mental

ampliação da formação, aliando competências técnicas a análises sociais e políticas. Com o livro “Saúde Mental: marcos conceituais e campos de prática”, o Fórum de Formação em Saúde Mental convida o leitor a continu-

Mundo animado CINEMA Mostra Udigrudi traz filmes de vários países para Minas Rafaella Dotta De Belo Horizonte Começou, no dia 2 de outubro, a Mostra Udigrudi Mundial de Animação (MUMIA), que irá exibir curtas-metragens nas cidades de Belo Horizonte, Nova Lima e Teó-

di, que é o “abrasileiramento” do termo em inglês. Isso significa que a Mostra Udigrudi é organizada para receber filmes que tenham baixo financiamento e muita criatividade. Em Belo Horizonte, a alavanca para este setor

Armênia, Finlândia, Colômbia, Chile e Equador já exibiram animações brasileiras. E, em novembro deste ano, o MUMIA vai organizar uma mostra na cidade de Oslo, na Noruega. Sávio Leite, que é diretor de curtas-metragens e organizador da MUMIA, afirma que a exibição de filmes brasileiros em outros países ajuda a valorizar o nosso cinema. “Isso estimula os produtores. Eles ficam felizes de ver seus filmes serem assistidos fora do Brasil”, defende.

O que é cinema de “animação”? São filmes produzidos através de desenhos, massinhas ou arte digital e podem ser feitos manualmente ou em programas de computador. As cenas são montadas com fotografias e, com a compilação de 16 fotos por segundo, cria-se a ilusão do movimento da imagem.

nos diversos cenários sociais e permite abordar os modos de ensino, tais como têm sido feito, tradicionalmente, nas instituições de formação superior, escolas de pós-graduação e demais cursos. Um debate que pode ser ampliado para um contexto mais amplo de formação, incluindo as interfaces presentes nos serviços públicos brasileiros. O campo da Saúde Mental, longe de ser um dado natural, compõese historicamente a partir das determinações da cultura que o constitui. Nele, o social e o político não são apenas fatores que se agregam secundariamente à construção, e sim elementos fundamentais de seu corpo e de seus alicerces, o que implica em destacar a necessidade de uma

ar o caminho de redefinir fronteiras na Saúde Mental, abrindo espaços para a interlocução entre diferentes categorias profissionais e outros agentes sociais. Se você tem interesse em adquirir o livro e conhecer melhor o Fórum de Formação em Saúde Mental, entre em contato pelo email: forumformacaosaudemental@gmail. com. *Tulíola Lima é psicóloga, mestre em Psicologia, residente em Saúde Mental (Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais - Secretaria Municipal de Saúde de Betim) e militante do FOFO. Anna Laura de Almeida é terapeuta ocupacional, trabalhadora da rede de saúde mental de Belo Horizonte e militante do FOFO

MUMIA em BH filo Otoni. A mostra utilizará salas alternativas de exibição, como centros culturais e cines-clube, e apresenta seleção especial para crianças. A entrada é gratuita. Inspirados nos cineastas undergrounds das décadas de 60 e 70, os idealizadores do MUMIA criaram o termo udigru-

foi a criação do primeiro curso universitário de animação do Brasil, na Escola de Belas Artes da UFMG. Todo o cinema de animação mineiro foi estimulado e, com isso, foi criada a MUMIA, que tem conseguido levar filmes brasileiros também para o exterior. Países como Holanda,

Exibições no Cine Humberto Mauro, no SESC Paladium e em mais 11 salas alternativas, espalhadas pela cidade. A programação completa, com datas, locais e horários pode ser vista na página www.mostramumia. blogspot.com.br. A Mostra acontece até o dia 31 de outubro.


Belo Horizonte, de 04 a 10 de outubro de 2013

AGENDA DO FIM DE SEMANA INFANTIL

MÚSICA

Filme “Gnomos e Trolls, a câmara secreta”, de Robert Rhodin. Domingo, 16h. Local: Sesc Centro Cultural JK, Rua Caetés, 603, Centro.

”Vinil das 3”, projeto que reúne os amantes do vinil e os participantes podem levar seus discos. Sexta-feira, às 18h. Local: Praça Domingos Gatii, Barreiro de Baixo. “Armatrux, A banda”, uma banda composta por bonecos. Espetáculo com luzes, fumaça, efeitos e muita música. Domingo, às 16h. Local: SESC Centro Cultural Laces JK, Rua Caetés, 603, Centro.

Neste fim de semana, a Igrejinha da Pampulha promove o Circuito da Arte e da Fé, em homena-

II Feira de Troca e Doação de Brinquedos”, em que as crianças poderão trocar seus brinquedos por outros, sem pagar nada. Sábado, das 13h às 17h. Local: Parque Municipal das Mangabeiras, Av. José do Patrocínio Pontes, 580, Mangabeiras.

gem ao patrono São Francisco de Assis, com uma extensa programação festiva e religiosa. O evento se

é tudo de graça! TEATRO

“Tudo em ordem dentro do kaos”, A Flores de Jorge Cia. Cênica apresenta “Meus Sentimentos!”. Peça que retrata a história de mulheres que vivem à flor da pele. Sábado, às 20h. Local: Casa do Beco, Av. Artur Bernardes, 3876, Barragem Santa Lúcia.

POESIA “CenaMúsica”, apresentação de poesias misturadas à arte cênica. Sábado, às 10h30. Local: Praça da Abadia, Rua Mariano de Abreu, Esplanada. inicia na sexta (4), a partir das 14h, e vai até domingo, com celebrações, exposições, apresentações culturais e shows. Além disso, os participantes poderão levar seus animais de estimação para receber as bênçãos durante as festividades e também participar de uma feira de adoção. Na noite de sexta-fei-

cultura | 15

Segunda a quinta-feira EXPOSIÇÃO

FOTOGRAFIA

“A Magia de Escher”, do artista holandês Maurits Cornelis Escher, conhecido por criar efeitos de espelho em gravuras e desenhos. Até 17 de outubro, das 9h30 às 21h. Local: Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1537, Centro.

Exposição “O Muro”: fotografias feitas por crianças da favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, retratando o cotidiano da comunidade. Até 20 de outubro. Local: Praça da Liberdade, 317, Funcionários.

CINEMA

TEATRO

“Rocha que voa” (2002), documentário de Eryk Rocha sobre os movimentos cinematográficos da década de 1970. Terça-feira, às 20h. Local: SESC Palladium, Avenida Augusto de Lima, 420, Barro Preto.

A peça “O Caboclo Zé Vigia” retrata a disputa de caboclos do sertão pelo coração de uma mulher. Quinta-feira, às 19h. Local: Centro Cultural Vila Fátima, Rua São Miguel, 215, Baleia.

Festa para São Francisco ra, após a Benção de São Francisco às 20h, haverá queima de fogos em frente à igreja. De acordo com o padre Ademir Ragazzi, responsável pelas celebrações eucarísticas na Igrejinha, pretende-se com o evento “uma mudança do olhar, aliando o valor arquitetônico, cultural e turístico a

espiritualidade e a fé ali contida”. Ele explica que existe na Igrejinha, desde março de 2013, um calendário de celebrações que tem atraído fieis devotos de São Francisco de Assis, também admiradores do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, com uma nova perspectiva e visão

buscando o resgate da religiosidade ali expressada. “Observa-se a cada dia o aumento do público nas celebrações que são acolhidos com chá e café da manhã, apresentações teatrais e a cada 1º domingo do mês temos a benção especial aos animais”, conclui. (Maíra Gomes)

esporte |

na geral Jogadores do Vitória acusados de estupro Depois de fazer bonito dentro do campo, goleando o Coritiba em 5x3, no dia 29 de setembro, os jogadores do Vitória fizeram muito feio fora dele. Uma mulher denunciou à polícia que foi estuprada por 4 jogadores do elenco do Leão da Barra, no hotel Bourbon, em Curitiba, na noite do jogo. A vítima foi conduzida para exame de corpo de delito, mas nenhum jogador foi detido ou chamado a depor. Independente do resultado da in-

vestigação, fica mais uma evidência de que a concentração, prática arcaica do futebol brasileiro que infantiliza os atletas, cria as condições para esses tipos de “festinhas”, que estão longe de serem casos isolados. Se o machismo é são prática nas arquibancadas, por que imaginar que o mesmo não se dá nos gramados?

Lesão é a prova de calendário doente A grave lesão muscular sofrida pelo craque Ronaldinho Gaúcho em treinamento na semana passada é mais uma

evidência da insustentabilidade do calendário do futebol no Brasil. O limite físico dos atletas é testado cotidianamente, com dois jogos por semana durante meses. Se levarmos em consideração que as grandes estrelas do Campeonato Brasileiro são justamente os veteranos, acima de 30 anos, egressos do futebol europeu, fica ainda mais dramático o quadro. Além das frequentes contusões, o próprio nível técnico das partidas despenca. Além dos jogadores, torcedores e clubes saem perdendo: uns por terem de assistir par-

tidas de baixa qualidade, outros por pagarem altos salários por jogadores que não atuam por lesão. A única que parece sair ganhando é a Rede Globo, que tem sua grade de programação preenchida e sua cota de anunciantes garantida.

Futebol e política se misturam Com dificuldades em emplacar sua candidatura a presidente, Aécio Neves apelou para a paixão futebolística. Na onda das boas campanhas dos times mineiros este ano, Aécio está acertan-

do a filiação dos dois presidentes em partidos aliados. Alexandre Kalil, do Atlético, está muito próximo do PSB, partido do vice-presidente do clube e vereador Daniel Nepomuceno. As especulações dão conta de que Kalil será o candidato a senador ou até mesmo governador. Já Gilvan de Pinho Tavares, do Cruzeiro, já confirmou sua entrada no PV, embora não se saiba ainda para qual cargo concorrerá

América avança e Boa acomoda O América conseguiu

nesta terça (1) boa vitória contra o Paraná Clube por 1x0, pela Série B. Com o resultado, a equipe se recupera de mau resultado dentro de casa contra o Avaí na rodada anterior (um empate sem gols), e está agora a 4 pontos do G4. No sábado, vai a Bragança Paulista enfrentar o Bragantino às 21h,no Estádio Nabi Abi Chedid. O Boa Esporte Clube, por outro lado, parece estar bem acomodado no meio da tabela. Com a derrota para o Figueirense, por 1x0 em Varginha, perdeu uma posição e está agora em 12º lugar, com 35 pontos.


16 | esporte

Belo Horizonte, de 04 a 10 de outubro de 2013

Cruzeiro

Como reagem os recalcados? Washigton Alves

Atlético Será que o machismo por trás das ofensas ao Cruzeiro não é pura inveja?

Wallace Oliveira É preciso aprender a conviver com a derrota no futebol. Há tempos apelidaram os são-paulinos pejorativamente de “bambis”, mas foi entre 2005 e 2008, quando o São Paulo venceu a Libertadores, o Mundial e três Brasileiros, que seus antipatizantes mais repetiram o apelido. Já os corintianos, ao conquistarem quase tudo em 2011 e 2012, ouviram, como nunca, que eram todos “marginais”. Nas décadas de predomínio do Cruzeiro no estado, aqueles atleticanos que não gostam das mulheres transformaram em xingamento a palavra “Maria”,no-

me feminino mais popular do Brasil. Alguns cruzeirenses se comportaram de modo parecido na má fase dos dois últimos anos, sobretudo após o Atlético formar boa equipe. Insatisfeitos com o próprio time, eles fizeram da camisa rosa do rival e da presumida orientação sexual de Richarlyson grandes focos da ofensa. Por jogar o fino da bola na Inter de Milão, em 2010, o camaronês Eto’o foi chamado de “macaco” pela torcida do Cagliari. Ele respondeu com um golaço. Quando triunfou sobre o Krylya Sovetov, pelo campeonato russo de 2011, Roberto Carlos, do Anzhi, também sofreu afronta racista de um

torcedor adversário. Ele protestou abandonando o campo. Esses exemplos revelam o recalque dos que, por não entenderem o esporte e nem terem o que comemorar, se refugiaram no ódio e na ignorância. Seu preconceito é o consolo para a falta de títulos, a desculpa para o rebaixamento moral, a retranca de quem nada ganha nos estádios ou na vida. A rigor, todos nós somos, em alguma medida, preconceituosos. No futebol, entretanto, o preconceito se tornou a linguagem de quem apelou porque perdeu. Seus lugares comuns são o racismo, a homofobia, o machismo e a criminalização dos pobres.

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Choque de indigestão ou teoria da conspiração Bruno Cantini

Rogério Hilário Depois de alcançar o Nirvana, os atleticanos estão próximos de uma hecatombe. Não bastassem os arroubos políticos do presidente do clube, Alexandre Kalil, contaminado pela mosca azul (que blasfêmia) e filiado ao PSB, Ronaldinho Gaúcho, lesionado com gravidade, é dúvida para o tão sonhado Mundial Interclubes. E, para piorar, o presidente do Cruzeiro, Gilvan do Pinto Carvalho, também se embrenhou pela política, captado pelo PV. Pelo visto, Minas Gerais, para os torcedores do Galo e os malfadados eleitores, pode evoluir, numa expressão politicamente incorreta, do nefasto choque de gestão para o macabro choque de indigestão. Nem bem a tragicomédia tem um desfecho, sur-

Ameaças não param: além de contusões, atraso de pagamento

giu outra ameaça de catástrofe (esta coluna está bem derrotista, reconheço). Se já espalharam boatos de intriga entre R10 e Tardelli, atrasos de pagamento de salários e prêmios no Atlético, agora as vivandeiras apostam em contusões simuladas no elenco com o intuito de esconder litígios contratuais com atletas como os craques, Réver e Richarlyson, e outros

menos conceituados. Em passado recente, impostores alardeavam a perseguição implacável da arbitragem e as manobras de bastidores contra o Galo, e nem ao menos o título da Libertadores acabou com a paranoia alvinegra. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Mas, em terras mineiras, apesar de toda esperança e confiança. o sábio mesmo é: orai e vigiai.

Bom senso futebol clube Na segunda (30) houve reunião do “Bom Senso F. C.”, movimento que surgiu do manifesto de jogadores pela mudança no calendário do futebol brasileiro, noticiado nesta coluna na edição da semana passada. A reunião teve presença de atletas de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, além de participação por videoconferência de Rio de Janeiro e Minas Gerais. O manifesto já conta com 300 assinaturas de atletas das Séries A e B, e ainda ganhará novas adesões. Os cinco pontos do programa que saiu da reunião são 1) racionalizar o número de datas no calendário e limite de partidas por mês; 2) normalização das férias; 3) período mínimo de pré-temporada; 4) criar o “fair-play” financeiro; 5) participação nos conselhos das entidades dirigentes.


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