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3 CIDADES
Minas Gerais
11 ENTREVISTA
Como ter plantas em casa?
Valesca também quer igualdade
Sugestões para quem quer cultivar flores, chás, temperos e ter mais qualidade na alimentação, assim como na vida
“Não se oprimir por nada, não abaixar a cabeça e pronto” é a sugestão da cantora para a conquista dos direitos feministas
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13 a 19 de março de 2015 • edição 78 • brasildefato.com.br/mg • distribuição gratuita
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6 MINAS População vai à rua na sexta-feira, 13 de março, defender direitos, a Reforma Política e a manutenção da Petrobras como empresa pública. Enquanto isso, grupos que chamam para o 15 de março pedem ruptura do sistema democrático do país.
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OPINIÃO
Belo Horizonte, 13 a 19 de março de 2015
editorial | Brasil
Os ricos que paguem a conta
ESPAÇO dos Leitores
Reflexão merecedora de ler - lê, criatura! Decanor Deca Comentando a entrevista “É preciso coragem para mudar a orientação econômica”
“ A discussão e aprovação do PL 21, favorecem também a necessária reforma do judiciário e estimulam o debate sobre como o financiamento privado de campanhas - que é feito principalmente através de empresas - influencia no resultado eleitoral e origina em vastíssima medida atos de desvio de dinheiro Luiz do Mosaico comentando o editorial “A PEC da Corrupção”
Atitudes que incentivam a violência de gênero não podem ser toleradas. Vejam a que ponto chegou a medicina da USP Almir Pepato comentando a matéria “Alunas denunciam machismo na universidade”
Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br
“Um grupo de milionários ale- nas para praticar o que o editorial mães se dirigiu ao governo de Ân- vaticina. Desde 2006, há um progela Merkel com uma proposta: cesso na Receita Federal que respagar mais impostos. Eles acha- ponsabiliza penalmente os filhos vam que estavam pagando menos de Roberto Marinho pela sonedo que deveriam e poderiam”, no- gação de mais de R$ 615 milhões, ticiou o Diário do Centro do Mun- em valores daquele ano. O prodo. Em 2012, o bilionário esta- cesso chegou a ser roubado (mais dunidense Warren Buffet pediu um crime!) do prédio da Receita a Obama que aumentasse os im- Federal. Até hoje não foi identifipostos sobre as grandes fortunas, cado quem estava por trás da lacomo uma das medidas necessá- dra presa pelo roubo. rias para superar a crise. A Polícia Federal abriu e feCorre-se o risco de flertar com chou o inquérito, sem fornecer o ridículo pensar que na burgue- informações à sociedade. Nove sia brasileira poderia haver um anos depois, a Rede Globo contiexemplo similar. Basta lembrar nua impune, recebendo vultosas como as entidades patronais, ten- quantias de recursos públicos e do a Fiesp à frente, intoxicam a posando, diariamente, de paladiopinião pública contra a cobran- na da moralidade. ça de impostos. O economista Amir Khair estiMas vem da fama que a taxação mília mais rica do O imposto sobre as grandes sobre as grandes Brasil, a Marinho, fortunas poderá dona da Rede Glo- fortunas poderia render R$ render R$ 100 bibo, o mais fiel relhões por ano, se 100 bilhões por ano trato da mentaliaplicada sobre vadade da burguelores superiores sia que aqui enriquece. Os três fi- a R$ 1 milhão. O governo arrecalhos herdeiros de Roberto Mari- daria uma quantia superior à do nho acumulam, juntos, a fortuna ajuste fiscal que penaliza a classe de 24,3 bilhões de dólares. trabalhadora. Em janeiro, o jornal O Globo, O imposto sobre as grandes forem um dos seus editoriais, escan- tunas atingiria apenas entre 2% e carou a aversão dos ricaços con- 5% da população, com uma alítra as iniciativas de regulamentar quota no nível de 1%, no máximo. o imposto sobre as grandes for- O restante, 95%, estaria isento do tunas. É o único dos sete tributos imposto. previstos na Constituição Federal No entanto, essa pequena mique ainda não foi regulamentado. noria abastada tem poder, midiáO editorial trata como ilusória tico e político, suficiente para imessa taxação, típica de “governan- pedir a regulamentação constitute em busca de dinheiro aparen- cional desse imposto. Convencetemente fácil.” Pode ser fácil taxar rão os 95% da população de que os ricos nos países desenvolvidos, o imposto é prejudicial ao país, mas não no Brasil, com a burgue- como fizeram para acabar com a sia aprisionada a uma mentalida- CPMF (Contribuição Provisória de escravocrata, incapaz de pen- sobre Movimentação Financeira), sar um projeto de nação. prejudicando a saúde pública. Escreveram o editorial antes Farão ecoar gritos de que a cardo escândalo envolvendo o ban- ga tributária brasileira é uma das co HSBC, na Suíça, que envolvia mais altas do mundo. Uma mencontas mantidas, possivelmente, tira repetida cotidianamente. A por sonegadores, com movimen- carga tributária na Finlândia é de tação superior a 100 bilhões de cerca de 50% do PIB. A do México dólares. Destes, 7 bilhões são de é 20%. E, no Brasil, é 35%. Qual o brasileiros. país que nos serve de referência? A Rede Globo não esperou a reÉ hora de fazer com que os ricos gulamentação das grandes fortu- paguem a conta.
O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora também com edições regionais, em SP, no Rio e em MG. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.
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CIDADES
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Plantas para ter em casa
Dicas para as plantas de casa BEM ESTAR Hortas e vasos caseiros são boas pedidas para melhorar o ambiente a ajudar na alimentação Rafaella Dotta A qualidade dos alimentos vendidos nos supermercados tem impressionado cada vez mais negativamente. Como alternativa, a agricultura urbana começa a chamar atenção. De acordo com pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO), das dez cidades latino-americanas com mais presença do cultivo nas cidades, apenas uma é brasileira: Belo Horizonte. Atualmente, na capital mineira há 185 hortas de verduras e 48 hortas de frutas. Para as pessoas que não possuem um quintal, a dica é ter pequenas plantas dentro de casa. Elas podem ser temperos, flores ou verdu-
ras de baixo porte. Veja dicas para cuidar bem desses seres vivos que podem melhorar nossa saúde e nosso astral.
pontos da casa, com iluminação e arejamento mais ou menos intenso. UMIDADE: Mantenha ao redor Lugares secos são mais difíceis para a maioria das plantas. Pense em formas de aumentar a umidade ao redor delas. Uma boa dica é colocar água em uma bacia de cascalhos, logo embaixo do vaso. Aos poucos, a água evapora e cria um bom clima.
VASO: Escolha adequada O tamanho dos vasos precisa variar de acordo com cada planta. Por isso, depois de um tempo, verifique se as raízes estão visíveis ou se ocupam todo o interior do vaso. Se sim, é hora de replantar. Escolha um pote maior, com furos na parte inferior, e transplante!
ÁGUA: Precisa viajar? Faça uma “babá” Ao deixar sua planta por dois ou três dias sozinha, você poderá fazer um sistema de irrigação automático. Pegue uma garrafa de vinho, encha de água e faça um buraco na rolha. Em seguida,
LUZ E TEMPERATURA: Faça testes Pode ser que, de primeira, sua planta não fique muito contente com o cantinho dela. Para ajudá -la, você pode testar outros
Carro danificado por ter adesivo de Dilma
coloque a garrafa de cabeça para baixo no solo da planta. Isso garante água por duas semanas.
Por que fazer uma horta urbana Ajuda a melhorar o meio ambiente, incrementando os espaços verdes em nossas casas e comunidades, e ajuda a diminuir a temperatura em tempos de calor. Pode complementar a alimentação familiar. Fornece verduras, legumes e frutas com mais vitaminas e minerais.
Babosa: necessita de muito sol e pouca irrigação. Boa para cabelos, pele, inflamações, imunidade... enfim, tem “mil e uma utilidades”. Hortelã: prefere a “semi-sombra” e necessita de solo úmido o tempo todo. Ótimo para chás e tempero. Sálvia: gosta de muito sol e muita água. Serve como digestivo, calmante e tempero. Camomila: precisa de luz em abundância e água todos os dias. É calmante e auxilia problemas cardíacos. Salsa: cinco horas de sol por dia e solo úmido. O chá combate as pedras nos rins. Espada de São Jorge: gosta de meia sombra e pode ser regada a cada 15 dias. Funciona bem como ornamentação.
GENTE É PRA BRILHAR ! Rafaella Dotta
INTOLERÂNCIA Fato aconteceu em bairro de classe alta, no mesmo dia de “panelaços” Arquivo Pessoal
Da redação No último domingo (8), quando a presidenta fez um pronunciamento oficial na TV devido ao Dia Internacional das Mulheres, um carro estacionado na rua de um bairro de classe média alta de Belo Horizonte foi atacado por vândalos por ter um adesivo de Dilma. À noite, o carro foi manchado com tinta branca e arranhado com dizeres ‘terrorismo não é valentia, fora Dilma”. O dono do carro conta que episódios semelhantes já aconteceram durante a eleição. “Domingo aqui foi uma loucura. Alarmes de carro. De prédios. Foguetes. Panelas. E muito xingamento ofensivo. Ficamos assustados”, lembra o psicanalista.
Você já viu Roberto Reis e Cascavel por aí? Campanha para Constituinte da Reforma Política recolheu 8 milhões de votos em 2014 Escreveram no carro: “Terrorismo não é valentia, fora Dilma”
Em seu perfil no facebook, ele escreveu: “Estar nas ruas é que me faz ver os outros de perto, de frente, às vezes olho no olho. Jamais dente por dente.
Amanhã vai ser outro dia, meu coração é valente e tenho fé nas cidades”. Ele já fez boletim de ocorrência, mas a polícia ainda não encontrou os culpados.
A dupla de viola sertaneja se apresenta de segunda a sexta em várias partes de Belo Horizonte, principalmente na Praça Sete. O público diz que “toda moda que você pede, eles tocam!” Além de animar o dia de quem passa, Roberto Reis (à esquerda) e Cascavel (à direita) já lançaram seis CDs e têm, aproximadamente, 160 músicas próprias. Eles já tocam há mais de 30 anos, mas estão juntos há apenas um ano e meio. “Gostamos de tocar aqui na Praça, pra divulgar o nosso trabalho e ganhar o nosso pão de cada dia, não é? E sempre aparece muita coisa boa pra gente. Televisão, jornais pra divulgar a dupla, e o público, que é muito interessado”, diz Roberto Reis.
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MINAS
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Cemig retira os portões “antiprotesto” DEMOCRACIA Organizações comemoram a reabertura da empresa à população e trabalhadores Rafaella Dotta
Rafaella Dotta A partir da segunda-feira (9), a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) está oficialmente aberta à população. A presidência da empresa, atendendo a reivindicações do sindicato dos eletricitários e de outas organizações sociais, declarou a retirada das grades que ficavam no seu entorno. A medida foi confirmada durante um evento em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. “Aqui se inicia um novo período para a Cemig”, disse Mauro Borges, que assumiu a presidência da empresa em janeiro. Ele afirmou o compromisso de criar um conselho feminino da empresa, rever a terceirização dentro da empresa e continuar o diálogo com os setores sociais. “O fato mais importante é a devolução da empresa para a sociedade. E é necessário que isso se tra-
duza em práticas”, afirmou Beatriz Cerqueira, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT). “A retirada dos portões significa que as demandas sociais não serão mais criminalizadas”, acredita. Já o coordenador nacional do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Joceli Andreoli cobrou uma posição mais sólida. “Os atingidos por barragens nem citados foram e a gente espera que a empresa assuma as dívidas que nos criou com a construção das hidrelétri-
cas em Minas Gerais”, afirmou. Ele denuncia dívidas da Cemig com famílias prejudicadas por obras de barragens. Grades para conter a sociedade As grades da empresa foram colocadas em 2006, depois do primeiro encontro de movimentos sociais do estado. Os manifestantes saíram da Assembleia Legislativa e seguiam em protesto, até que algumas pessoas decidiram ocupar o prédio da empresa. A repressão policial foi grande
e o saldo foi de cinco presos, dez pessoas seriamente feridas e dezenas machucadas. Desde então, a antiga diretoria começou a colocar grades no entorno da Cemig, colocando os últimos portões em 2013, logo depois de uma manifestação realizada pelos funcionários da Cemig Serviços. A empresa passou pelo menos dois anos com suas portarias fechadas, situação “estranha para um prédio público”, segundo Jair Gomes, diretor do Sindicato dos Eletricitários (Sindieletro-MG). “Essa era uma reivindicação há muito tempo. A população tem acesso a todo prédio público, garantido por lei, e por que com a Cemig seria diferente?”, questiona Jair. Ele declara que tem grandes expectativas com a nova administração, de que “os trabalhadores sejam valorizados e estejam felizes em construir essa empresa”.
Nomeações na educação descumprem acordo entre categoria e governo ACORDOS Superintendentes são indicados por poderosos locais Maíra Gomes Na última semana, o governo iniciou as nomeações para as Superintendências Regionais de Educação em todo o estado. Os nomes apresentados para a maioria das regionais não têm agradado a categoria de trabalhadores em educação, que entendem que uma promessa foi descumprida. Durante a campanha eleitoral, o então candidato Fernando Pimentel se comprometeu a realizar um processo de escolha democrática dos superintendentes e que acataria as indicações da categoria. Entre dezembro e janeiro o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (SindUTE MG) realizou plená-
rias em diversas regiões para a escolha de nomes. O professor da rede estadual e militante do movimento Levante Popular da Juventude Renan Santos explica que todo cargo de confiança, como o caso dos superintendentes, é indicação do governo. As indicações são feitas em acordos entre partidos que elegeram o governo. “Tem uma reunião em que determinado deputado, que é o cacique de uma região, acha que tem que indicar cargos para educação, saúde e outros. Foi assim que aconteceu, é tudo jogo de interesse”, denuncia. Renan defende que o sindicato cumpriu com uma função essencial, de fazer o embate a esse jogo. “O SindUTE propôs uma quebra na
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FATOS EM FOCO Rumos da ampliação do metrô A ampliação do metrô de Belo Horizonte e região pode ter novos rumos. Os projetos, obra e gestão, entregues a uma Parceria Público-Privada nas mãos da empresa mista Metrominas, pode ficar sob a responsabilidade da CBTU, empresa estatal que já cuida do sistema de metrô de BH. O governador Pimentel teria dito em visita à empresa que o “projeto de modernização e ampliação não será da Metrominas nem terceirizado, passará pela CBTU”. Segundo informações obtidas pelo Brasil de Fato, ele se comprometeu a entregar um projeto nas mãos da estatal e deve desativar a Metrominas, criada somente para assumir a ampliação. Desde o início das discussões sobre a ampliação, Sindicato dos Trabalhadores Metroviários (Sindimetro-MG) defende que responsabilidade do metrô deve ficar com CBTU. “Somos contra qualquer tipo de privatização. O transporte deve ser público e estatal e entendemos que a CBTU tem capacidade de apresentar e tocar projetos de acordo com as prioridades da população”, declara a presidenta do sindicato, Alda Lúcia Fernandes Santos. Reprodução
Fernando Pimentel havia prometido adotar novos critérios para escolha de diretores regionais
forma como o sistema sempre funcionou, foi uma novidade. Nunca um sindicato indicou cargo de governo antes”, afirma. No entanto, ele defende que uma reforma política deve ser intensamente debatida pela
sociedade e somente com uma Constituinte exclusiva será possível melhorar a educação e a questão social no país. “Não basta ter boas intenções, o sistema político funciona desse jeito. É preciso mudá-lo”, reforça.
Belo Horizonte, 13 a 19 de março de 2015
Parlamentares pressionam por desarquivamento de inquérito contra Aécio Neves LISTA DE FURNAS Denúncia do MPF comprova que foram desviados R$ 39,9 milhões na campanha de 2002 Valter Campanato / Agência Brasil
Raul Gondim Após a divulgação, no dia 6, da lista dos políticos denunciados pela Operação Lava Jato e a confirmação do arquivamento do inquérito contra Aécio Neves (PSDB), parlamentares mineiros iniciaram um movimento de pressão pela abertura das investigações do caso Lista de Furnas. O esquema de desvio de recursos da estatal mineira aparece em um dos depoimentos do doleiro Yousseff, que afirmou ter conhecimento do recebimento de propina de Furnas por Aécio. O deputado estadual Rogério Correia e o deputado federal Padre João, ambos do PT, questionam a decisão do ministro Teori Zavascki, que arquivou a denúncia contra o senador mineiro por “falta de consistência”. “Em fevereiro de 2014, fizemos uma visita ao gabinete do Procurador-Geral Rodrigo Janot e entregamos a ele provas suficientes para a abertura do inquérito”, afirma Rogério.
Minsitro Teori Zavascki arquivou denúncia contra senador mineiro por “falta de consistência”
As provas às quais se refere o deputado estão contidas em uma denúncia feita pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro e assinada pela procuradora Andrea Bayão em 2012. Segundo o parlamentar, o documento, além de um laudo pericial da Polícia Federal comprovando a autenticidade da Lista de Furnas, já estariam sob posse de Rodrigo Janot desde o ano passado. “Não dá para considerar citações feitas pela mesma
pessoa (Yousseff ) para um caso e para outros, não”, argumenta o deputado federal Padre João. Em Brasília, o deputado pretende agendar um novo encontro com Janot para solicitar a inclusão de Aécio na lista que será encaminhada ao Superior Tribunal Federal com o nome dos políticos denunciados pela Lava Jato. Segundo a denúncia do MPF, o esquema da Lista de Furnas teria sido responsável pelo desvio de R$ 39,9 milhões durante a campanha eleitoral de 2002.
Envolvimento de Anastasia será investigado Moreira Mariz / Agência Senado
O senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), único tucano a ter o pedido de inquérito aberto pela Procuradoria Geral da República junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), usou a tribuna do Senado para negar estar envolvido no esquema de corrupção da Petrobras. Anastasia qualificou as acusações de que teria recebido R$ 1 milhão a mando do doleiro Alberto Youssef como sendo uma “infâmia” e uma “sórdida mentira”. O policial Jayme Alves de Oliveira Filho – responsável pela acusação e por fazer os repasses ordenados
pelo doleiro – disse, em seu depoimento à Justiça, que havia entregue R$ 1 milhão para um político em Belo Horizonte. Ao ser colocado diante de uma foto do senador, ele teria dito que a imagem era “muito parecida” com a do homem que teria recebido a propina. Um dos tucanos a defender o correligionário foi o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, padrinho político de Anastasia. Segundo Aécio, o “ataque” contra Anastasia atinge a todo o PSDB e que, juntos, irão provar a inocência do correligionário.
Anastasia foi citado na lista
MINAS
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Artigo Sem medo das palavras João Paulo Há a história dos vencedores e a dos vencidos. Entre as duas, infelizmente, parece dominar no Brasil uma tendência à conciliação. Mas na vida, como na política, as coisas são o que são, não o que dizem delas. O momento, entre outras ações inadiáveis, está convocando todos a tomar a palavra em sua expressão mais explícita e verdadeira. Como o personagem de García Márquez em “Cem anos de solidão”, talvez tenha chegado a hora de escrever o nome das coisas para que possamos reconhecê-las. No Brasil, há uma direita perigosa, golpista, reacionária e que detesta não apenas a incipiente ascensão social, mas os pobres. É uma aversão essencial, um ódio que se mostra pela vontade de exterminá-los, se não do mundo, pelo menos de seu raio existencial de ação. E pobres, mesmo com a suavidade da expressão “nova classe média”, continuam existindo, não por determinação dos deuses, mas pela mão dos homens que os exploram para ser cada vez mais ricos. No país também existe preconceito racial, violência contra as mulheres, desprezo pelas minorias. Somos uma sociedade que exclui, maltrata e criminaliza a miséria. Que mata jovens pretos e pobres – e acha que é normal –, que defende o mérito para depois lançar mão dos privilégios, que detesta gente. A recente exacerbação da onda de raiva “A onda de raiva tem social tem origem em tonome: barbárie!” dos esses comportamentos que, antes relativamente constrangidos, agora se assumem de forma orgulhosa na boca da elite branca. O nome disso é barbárie. A defesa da desmontagem do Estado social e da distribuição de renda que vem se articulando nos últimos 12 anos é mais que uma oposição de projetos, é um esforço reativo para anular conquistas em nome de valores que definem a primazia do mercado. O que está por trás é um ataque ao emprego, ao salário mínimo e às garantias trabalhistas. A palavra para isso é exploração. A imprensa hegemônica brasileira é mentirosa, monopolista, induz a falsas conclusões, dramatiza e estimula ações antidemocráticas. As palavras certas para isso são manipulação e mentira. É preciso deixar a tendência à conciliação de lado e se esforçar para definir bem os lados. É dessa clareza de posições que será possível, nas instâncias adequadas – a rua, o parlamento e até mesmo a Justiça – a emergência da política com seu conflituoso raio ordenador. É bom deixar límpido: vivemos a luta de classes, temos esquerda e direita, pobres e ricos, verdade e mentira. E serão as palavras, tanto quando as ações, que definirão as manifestações que tomam conta do Brasil a partir de hoje. De um lado os ricos, direitistas, golpistas, preconceituosos e antidemocratas vão gritar coisas tipo “vaca”. É o padrão de sua educação política e moral. De outro, os pobres, os de esquerda, defensores da dignidade e da democracia vão levar palavras em defesa do país, de suas instituições e do poder que emana do povo. A hora, sem medo da verdade, é de defender o mandato de Dilma Rousseff, mesmo com as contradições de seu governo. E seguir pressionando para que ele avance nas mudanças urgentes - taxação das grandes fortunas, reforma agrária, cerco ao rentismo, democratização dos meios de comunicação - e para que seja feita uma profunda reforma política no país.
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O que está em jogo no Brasil POLÍTICA Atos no fim de semana escancaram polarização da sociedade; especialista afirma que não se trata de Dilma e sim de direitos Reprodução
Maíra Gomes São dois diferentes atos marcados para este final de semana. Um para o dia 13, sexta-feira, e outro para o dia 15, domingo. Em meio a uma disputa política que vem se estendendo desde o fim das eleições presidenciais, visibilizada agora nos atos, está cada vez mais difícil para a população entender o que se passa no país e qual é o embate real colocado. O cientista político e mestrando em sociologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas) Frederico Santana Rick afirma que a polarização faz parte da sociedade e o Brasil sempre conviveu com ela. No entanto, ele explica que em alguns momentos da história essa polarização se expressa em conflitos mais abertos, como o atual momento do país. Com a aplicação de polí-
mo que escondidas, mas há momentos em que elas acabam aparecendo de forma mais clara. Neste momento pode então se iniciar a disputa aberta”, diz.
Em 2014, 8 milhões de pessoas votaram em plebiscito popular por Constituinte
ticas de distribuição de renda e melhoria da qualidade de vida dos mais pobres, os 12 anos de governo PT provocaram uma ascensão de classes baixas, colocando em risco a estabilidade dos mais ricos. “Os ricos perderam vagas na universidade para pobres e negros, que aumentaram em 230% sua
presença. Esse é um exemplo de como essa ascensão passou a ameaçar a elite, dominante por séculos”, destaca Frederico. Em resposta, pautas conservadoras passaram a disputar espaço no cenário institucional. “A desigualdade e injustiça muitas vezes ficam camufladas, co-
Insatisfação O cientista social explica que fatores geradores dessa sensação de insatisfação estão em camadas variadas da sociedade. Uma delas é o descontentamento de eleitores do candidato derrotado Aécio Neves (PSDB). Há ainda os setores que ajudaram a levar a petista Dilma Rousseff à presidência sob a promessa de uma política social que continuasse as melhorias para a população de baixa renda, que não estão satisfeitos com as escolhas conservadoras de políticas do governo. No entanto, Frederico observa que o atual sistema político é outra fonte dessa insatisfação da população. Em outubro do ano passa-
do, um Plebiscito Popular foi realizado em todo o país e reuniu mais de 8 milhões de votos que exigem a convocação de uma Constituinte exclusiva para a realização da reforma política. Mais de 100 entidades organizadas da sociedade civil,
Organizações pedem a convocação de um plebiscito oficial para a Reforma Política envolvidas no projeto, querem agora que o governo realize um plebiscito oficial. “A convocação de um plebiscito oficial vai nos permitir debater realmente os temas que comprometem as mudanças estruturais do país, como o financiamento privado de campanha, o encastelamento do Poder Judiciário e o poder da mídia privada”, destaca o cientista político.
“Crise é forjada pela mídia” MANIPULAÇÃO Teólogo Leonardo Boff aponta que cobertura da mídia é tendenciosa Não dá para negar que a cobertura da mídia sobre a Operação Lava Jato, que investiga casos de corrupção na estatal Petrobras, tem engrossado o caldo da insatisfação. Aliada à ampla divulgação dada para o ‘panelaço’, realizado em poucas regiões ricas das grandes cidades brasileiras no último domingo (8), os grandes meios de comunicação apontam um sentimento generalizado que pode não ser tão real co-
mo parece. É o que explica o teólogo Leonardo Boff. Boff declara, em entrevista à Rede Brasil Atual, que a crise está sendo amplificada pela mídia comercial. “Essa dramatização é feita pela mídia conservadora, golpista, que nunca respeitou um governo popular”, diz. O teólogo cita o episódio em que a revista Veja deu uma capa mentirosa durante os últimos dias das eleições presi-
denciais em 2014. Sobre a possibilidade de um golpe, encoberto pelo nome de impeachment, o teólogo não tem preocupação. “O golpe é virtual, que eles fazem pelas redes sociais e pela mídia, inventando e fantasiando, projetando cenários dramáticos, que são projeções daqueles que estão frustrados e não aceitam a derrota do projeto que era antipovo”, reforça.
O que leva ao impeachment? Para que o pedido de abertura de impeachment tenha consistência, devem existir provas de que o mandatário cometeu algum crime comum (como homicídio ou roubo) ou crime de responsabilidade, que envolve desde improbidade administrativa até atos que coloquem em risco a segurança do país, explicitados na lei 1.079.
Reforma Política e defesa da Petrobras no dia 13 UNIDADE Construído por mais de 50 organizações, ato unifica luta também por direitos Há mais de um mês foi convocado o ato do dia 15, contra a presidenta Dilma. Alguns grupos que convocam o evento pedem o impeachment, outros a renúncia, alguns se colocam apenas contrários ao governo, sem apresentar alternativas. Assim, a convocação da
manifestação do dia 13 acabou gerando uma confusão em torno da pauta, já que muitos pensam se tratar da defesa da presidenta. “Não é questão de defender o governo. Nós vamos defender a democracia. Houve uma eleição legítima, e essa institucionalidade de-
ve ser defendida”, responde o líder do Movimento dos Sem Terra (MST), João Pedro Stédile. Ele faz críticas ao governo, que “não anuncia nenhuma medida concreta que beneficie o povo” desde a posse. Stédile explica que o MST e mais de 50
organizações se unem para o ato do dia 13 em torno de três bandeiras unitárias: em defesa da Petrobras, contra a corrupção e contra a privatização; defesa da Reforma Política via Constituinte exclusiva e contra a retirada de direitos. O objetivo é defender o projeto de desen-
volvimento econômico com distribuição de renda, justiça e inclusão social. “Mas fique atento, porque a burguesia vai tentar nos dar o troco dia 15 e vamos ter que voltar outras vezes, para seguir essa luta e essa disputa de projeto de sociedade”, defende.
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Reprodução / MAB
Na edição74... Juízes mineiros seguem acumulando benefícios em 2015 ...E agora Movimentos sociais, estudantes e sindicatos realizaram na quinta-feira (12) manifestação em frente ao Palácio da Justiça, na Avenida Afonso Pena, contra as regalias concedidas aos juízes brasileiros. O protesto foi realizado às 15h e criticou especialmente o auxílio moradia, recentemente estendido a deputados federais e estaduais. Os manifestantes reivindicam a democratização do Poder Judiciário e condenam a falta de transparência e precariedade do sistema de Justiça no país.
Na edição 55... O que será dos 80 mil professores da Lei 100? ...E agora Servidores da Lei 100 continuam nos cargos até final de 2015 Foi aprovado nessa terça-feira (10), o projeto de reforma administrativa proposto pelo governador Fernando Pimentel (PT). No texto, está incluso artigo que assegura a permanência dos servidores da Secretaria de Estado da Educação atingidos pela Lei 100 até pelo menos o fim deste ano, a partir do regime do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Os deputados da oposição se posicionaram contra a ação, alegando que a medida possui caráter apenas paliativo.
Mais de 400 atingidos por barragens, indígenas, agricultores familiares, atingidos e ameaçados pela mineração acampam deste a terça (10), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O acampamento faz parte da Jornada Nacional de Luta do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que mobiliza 20 cidades em todo o país. Na quarta (11), os manifestantes ocuparam a sede da Cemig, e foram recebidos pelo presidente da empresa Mauro Borges. Em marcha, seguiram para a Cidade Administrativa na quinta (12), para reunião entre comissão e secretários de governo.
Frederico Santana Rick
Juca Kfouri
13 ou 15?
O panelaço da barriga cheia
Ocorrerão atos em várias partes do país, no dia 13 e no dia 15 de março. Esses dois atos têm significado histórico similar às manifestações de junho de 2013, porque são marcos de um novo momento do Brasil. Os que se identificam com o povo brasileiro, com os trabalhadores, e portanto querem mais democracia, vão participar ou apoiar as manifestações do dia 13. Já os conservadores, que se identificam com os ricos e com os meios de comunicação que esses controlam, apoiam ou vão no dia 15. Definitivamente o ato do dia 13 não é um ato governista. Aliás, o governo tem tentado desestimular que ocorra. Pequenas conquistas realizadas ao longo dos governos do PT provocaram grandes mudanças culturais e políticas na sociedade brasileira. O PT não desejou a polarização. Ao contrário. Ele até agora tentou conciliar o processo de pequena distribuição O ato do dia 13 não é de renda. Ricos e pobres gagovernista nharam. É certo que os ricos muito mais. Mas os pobres, ao se moverem para cima, exigem mais. Romperam a lei da inércia. Por outro lado, ricos se viram ameaçados. Perderam vagas na universidade para pobres e negros, que aumentaram em 230% sua presença na universidade, só para dar um exemplo. Reacionários saem do armário. Pautas conservadoras ganham espaço. Na rua, dia 15, estará quem defende a volta da ditadura, por exemplo. Mesmo que você não esteja lá apoiando isso, fortalecerá quem lá está com esse fim. É preciso fazer a batalha das ideias. Prepararmos para o bom combate. A presidenta e o partido dela deveriam conduzir a organização dessa disputa. Não demonstram que o farão. Saibamos nos preparar para essa verdadeira luta social. A ampla maioria do povo brasileiro só tem a ganhar com um projeto popular. Não dá pra ver para crer. Não dá para ficar de fora. Por um Brasil melhor, nos encontramos dia 13 nas ruas. Frederico Santana Rick é sociólogo.
Nós, brasileiros, somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de Imposto de Renda só no ano passado. Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci. O panelaço nas varandas gourmet não foi contra a corrupção. Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade. Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca. Como eu sou. Como Luís Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse: “Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres”. Não é preocupação O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoro- ou medo. É ódio. nou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar. Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente. Não é preocupação ou medo. É ódio. Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. Continuou defendendo os pobres contra os ricos. Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto. Ou a falta de educação, ao chamar uma mulher de “vaca” em quaisquer dias do ano ou no Dia Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa do Mundo. Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado. Leia a íntegra em: blogdojuca.uol.com.br Juca Kfouri é jornalista esportivo
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BRASIL
Belo Horizonte, 13 a 19 de março de 2015 Agência Petrobras
Males causados por barragem podem ser reparados por governo
ATINGIDOS Em ação inédita, Barragem de Sobradinho terá passivo social quantificado e resultado pode gerar política pública para região Reprodução / Blog do Gutemberg
Maíra Gomes “Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé / Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir / Debaixo d’água lá se vai a vida inteira (...) / O sertão vai virar mar, dá no coração / O medo que algum dia o mar também vire sertão” Uma das maiores transposições de cidades e famílias da história do Brasil foi retratada na música “Sobradinho”, de Sá e Guarabyra: a construção da barragem da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, no oeste da Bahia. Foram seis anos de obras e, em sua inauguração em 1979, sete municípios haviam si-
do inundados e mais de 70 mil pessoas foram afetadas. A barragem criou o terceiro maior lago artificial do mundo, com uma superfície de 4.214 km².
12 mil famílias tiveram que sair de suas casas “Era tempo de ditadura militar e não era fácil lidar com a empresa [Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), empresa pública federal responsável pela usina]. A truculência era muito grande”, relata Moisés Borges, da coordenação nacional do Movimento dos
Atingidos por Barragens (MAB), que faz um trabalho com as comunidades atingidas há mais de dez anos. Além da violência, Moisés explica que em processos de retirada de famílias para construção de barragens há, historicamente, uma série de violações de direitos. O resultado deixado por esse processo desigual é chamado de passivo social. E após mais de 30 anos de lutas, o passivo deixado pela barragem de Sobradinho será medido e quantificado. Está sendo implantado na região o Diagnóstico Social, Econômico e Cultural dos Atingidos pe-
Engenheiro da Petrobras, Victor Marchesini afirma que deve haver rigor de apuração, sem promover a destruição da Petrobras Hidrelérica, construída em 1979, alagou 7 cidades e causou prejuízos a 70 mil pessoas
la Usina, que apresentará as demandas e necessidades sociais e de desenvolvimento da região. “Uma das principais argumentações para a implantação de uma barragem é a geração de desenvolvimento no local. E a área atingida está pior que a macrorregião à que pertence”, denuncia Eduardo Luiz Zen, coordenador do diagnóstico pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). A entidade é responsável pelo diagnóstico, em parceria com o MAB, além de governos municipal, estadual e a CHESF.
Moradores afetados até hoje estão sem energia elétrica Atingidos sem direitos No período da construção, as sedes dos municípios de Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado e Remanso ficaram embaixo d’água e outros três municípios - Juazeiro, Xique-Xique e Barra - tiveram parte do território inundado. A cidade de Sobradinho surgiu com a obra.
As mais de 12 mil famílias que tiveram que sair de suas casas foram mandadas para os mais variados lugares, muitas vezes com uso de violência e sem garantias mínimas de estrutura. Até hoje, grande parte das cidades não oferecem saneamento básico ou estrutura suficiente para acesso à educação e saúde. A Usina é responsável por 15% da energia que abastece os estados do Nordeste, mas quem mora ao lado da barragem até hoje está sem energia elétrica. Diagnóstico social é inédito A metodologia para realizar o diagnóstico é uma iniciativa inédita no país e no mundo. “O inédito não é a metodologia em si, mas o esforço do governo em recuperar essa dívida com a população atingida”, explica Eduardo Zen. A expectativa do MAB é solucionar os problemas urgentes e de longo prazo. “Pode estar previsto, por exemplo, a criação de cooperativas, um projeto de organização e fortalecimento dos atingidos”, anima-se Moisés.
BRASIL
Belo Horizonte, 13 a 19 de março de 2015
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Sem-terra realizam manifestações em 22 estados LUTA Camponeses denunciam lentidão na reforma agrária e propõem novo modelo de agricultura para o país Reprodução / MST
Em Minas Gerais, movimento fechou oito rodovias, entre elas a BR 120 (foto) próximo a Goianá
Pedro Rafael Vilela, de Brasília (DF)* A jornada de luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que começou há uma semana, já se estendeu por todo o país. São mobilizações em 22 estados envolvendo mais de 30 mil pessoas. Em Minas Gerais, foram trancadas oito rodovias, no Triângulo Mineiro, no Norte, Vale do Rio Doce, Zona da Mata
e Sul de Minas. A BR 120, por exemplo, foi trancada para exigir a sinalização e implantação de redutores de velocidade em Visconde do Rio Branco, na MG 353, e em Goianá, onde se encontram os assentamentos da região. Os trabalhadores rurais também denunciam más condições nos assentamentos, há quase seis anos sem assistência técnica. 87% das áreas ainda não possui água potável, e 70%
não têm habitações financiadas pelo governo, assim como os créditos para produção de alimentos estão parados. Segundo Sílvio Netto, da direção estadual do MST, o diálogo com o governo petista de Fernando Pimentel está estabelecido,“mas os camponeses mineiros precisam de políticas concretas, não de mais promessas”, afirma. Alternativa para produção de alimentos
“Os movimentos sociais do campo e da cidade estão em luta para exigir a reforma agrária. A agricultura camponesa é que garante 70% da produção de alimentos que está na mesa dos brasileiros”, desabafou Elisângela Carvalho, dirigente do MST. No Brasil inteiro, o número de famílias acampadas beira 150 mil. Do lado do governo, a lentidão em garantir novas terras se traduz em números. Nos últimos dois anos, foram assentadas apenas 17 mil famílias. “Estamos sentindo na pele os efeitos da crise econômica e o que tem ocorrido em relação aos cortes do governo, como na infraestrutura de assentamentos, o programa de habitação e, principalmente, a questão das famílias acampadas”, aponta Kelli Mafort, da direção nacional do MST. Marchas, ocupações de terra e prédios públicos e trancamento de rodovias foram algumas das ações utilizadas pelos trabalha-
dores rurais para denunciar o modelo do agronegócio no campo. Eles propõem a agroecologia como alternativa ao capital estrangeiro na agricultura. “De fato, se a sociedade brasileira souber o que representa esse modelo do agronegócio, com certeza se colocaria contrária”, acrescenta Kelli. O Brasil é, desde 2008, o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Já são mais de um bilhão de toneladas desses produtos anualmente despejados sobre as lavouras do país, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Significa que, em média, o brasileiro consome 5,2 litros de veneno por ano. Os danos crônicos à saúde são graves. Diversos estudos científicos apontam a correlação entre agrotóxicos e câncer, abortos, más-formações congênitas, alterações neurológicas e surgimento de doenças como o Alzheimer, por exemplo.
Mulheres do campo lideram ações O calendário de manifestações do MST começou com a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Camponesas, na semana passada. Uma das ações mais importantes ocorreu no dia 5, quando mais de mil trabalhadoras ocuparam a sede da empresa Suzano Papel e Celulose, em Itapetininga (SP), e destruíram mudas de eucalipto transgênico. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovaria, no mesmo dia, a liberação de plantio comercial de eucalipto geneticamente modificado, conhecido como H421. Devido ao ato, a votação, em Brasília, foi cancelada. O professor Paulo Kageyama, integrante da CTNBio e professor da Uni-
versidade de São Paulo (USP) é um dos principais críticos a esse novo eucalipto. Por ser transgênico, o crescimento da planta será reduzido de 7 para 4 anos. E os quatro primeiros anos é justamente o período em que a árvore mais consome água, cerca de 30 litros por dia. “Com a crise hídrica que enfrentamos não só no Brasil, mas no mundo, é um erro, um contrassenso a liberação da comercialização do eucalipto transgênico”, aponta Kageyama. O eucalipto transgênico ameaça também a produção de mel orgânico. A nova espécie requer utilização em larga escala de agrotóxicos no plantio, responsáveis pela extinção de insetos e animais benéficos como borboletas, be-
souros, joaninhas, abelhas, anfíbios, tatus, etc. “O eucalipto transgênico tem várias falhas, mas a principal delas é a contaminação do mel. O Brasil é um grande produtor de mel de euca-
lipto. Alguns setores tentam minimizar essa contaminação, mas não sabemos qual o real impacto disso. Sem falar na destruição do solo, do bioma nativo, desvio de nascentes”,
complementa o professor da USP. *Com informações da Página do MST, Vanessa Ramos e Maura Silva
No mês da mulher, o Sind-Saúde/MG homangeia a todas as mineiras guerreiras que fazem de seu dia-a-dia a luta de uma sociedade mais igualitária. “Ser livre, livre, absolutamente livre, na consciência, no pensamento, no sentimento. Para ser livre assim é indispensável que a mulher se emancipe pelo coração e pela razão.” Maria Lacerda de Moura (1887 - 1945)
ACESSE: WWW.SINDSAUDEMG.ORG.BR
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MUNDO
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Assembleia Nacional autoriza Maduro a governar por decreto na Venezuela ANTI-IMPERALISMO Medida é resposta à decisão dos EUA de aumentar sanções ao país Opera Mundi Um dia após o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, pedir permissão ao Congresso para governar por decreto, a Assembleia Nacional do país aprovou na madrugada de quartafeira (11), em primeiro turno, a solicitação. Segundo o mandatário, a chamada Lei Habitante permite que o governo tome ações “anti-imperialistas” para “defender a integridade, a paz, a soberania e a tranquilidade” do território. A votação em segundo turno texto acontecerá no próximo domingo (15). Caso tenha respaldo com a nova medida, Maduro estará autorizado a fazer decretos nos próximos seis meses, sem precisar da autori-
zação do Legislativo. Trata-se de uma resposta do governo da Venezuela à decisão anunciada na terça (10) pelo presidente norte-americano, Barack Obama, que anunciou aumentar sanções e classificou o
país como uma “ameaça à segurança nacional”. “Obama decidiu cumprir pessoalmente a tarefa de derrubar meu governo e intervir na Venezuela”, criticou Maduro. Reprodução
“Defender a integridade, a paz, a soberania e a tranquilidade” é o objetivo da nova medida, afirmou o presidente
Mais um jovem negro assassinado nos EUA VIOLÊNCIA Fato gerou uma série de protestos em Madison Um jovem negro, desarmado, que segundo jornais locais, estava dentro de sua própria casa, foi assassinado por um policial branco nos Estados Unidos. A exemplo de outros casos ocorridos nos últimos meses, o fato gerou uma série de protestos em Madison, no estado de Wisconsin, no norte dos Estados Unidos. As mobilizações contra o caráter racial das abordagens policiais se estendem pelo quarto dia seguido após a morte de Tony Robinson, de 19 anos. O policial supostamente responsável pelo assassinato foi identificado como Matthew Kenny. Centenas de estudantes universitários e do ensino
médio se manifestaram pela perda de Robinson. Eles deixaram as salas de aula e bloquearam o boulevard Martin Luther King Jr. O chefe de polícia, Mike Koval, com um megafone, fez um pedido de desculpas não formal pela morte do jovem e ressaltou que há uma investigação em curso, mas que os manifestantes precisam “ter paciência”. O departamento de polícia disse que irá “investigar” o tiroteio. Para a família, esse tipo de declaração serve apenas como resposta para a imprensa alternativa e social. Eles também criticaram o fato de que grandes empresas de comunicação não estão dando atenção ao caso. (Opera Mundi)
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ENTREVISTA 11
Valesca Popozuda: “Chega de machismo” CANTORA manda recado na semana do Dia Internacional da Mulher Fania Rodrigues do Rio de Janeiro (RJ) Mulher, guerreira, que não obedece a padrões de comportamento e fala o que pensa. A descrição é da carioca Valesca Popozuda, mas poderia perfeitamente ser uma referência a outras mulheres que marcaram época, como, Madame Bovary, personagem da literatura francesa, do autor Gustave Flaubert, de quem Valesca
“Ganhamos menos, às vezes trabalhamos mais e temos a mesma ou mais capacidade” é fã e leitora apaixonada. Inclusive, no ano passado Valesca foi vítima de machismo, depois que postou uma foto nas redes sociais lendo esse clássico de Flaubert. A editora carioca Apoio e Produção Editora publicou em sua página: “abra livros, não as pernas”. Dias antes, a mesma editora já havia sido criticada por ironizar a cantora. Valesca não se calou. Veio a público e passou seu recado. “Sou feminista sim, grito com muito o r-
gulho. Luto pela mulher de todas as formas, porque afinal eu sou mulher, tenho uma mãe e sei o quanto ela sofreu, o quanto ela foi guerreira para me criar. Porém, mais que mulher, mais que mãe, mais que filha, eu luto pela libertação e igualdade das mulheres”. Mas não foi o bastante. A cantora decidiu, en-
tão, declarar guerra ao machismo e no final do
“Se o homem pode falar, nós também podemos falar” ano passado lançou a canção “Tá pra nascer homem que vai mandar em mim”. A música, segundo a cantora, é uma homenagem às mulheres. “Sonho com o dia que vão parar de rotular as mulheres de puta ou piranha por causa de sua postura de vida, por causa de um determinado trabalho, como é o meu caso”, declarou à imprensa. Na semana em que
servador, da mulher recatada, que não fala de sexo, de seus desejos. Como você vê a condição da mulher brasileira e todos esses prejuízos sociais que sofremos? Valesca Popozuda - A sociedade, na verdade, julga a mulher que tem sua liberdade exposta, aque-
la mulher que fala mesmo sobre sexo, homem. Ela é rotulada e, infelizmente, as pessoas preferem se adequar a isso do que lutar propriamente pelos di-
Divulgação
sentido, qual é a mensagem de liberdade que suas músicas passam? Qual o recado às mulheres? O recado mais claro que deixo transparecer é o do chega de machismo. Se o homem pode falar, nós também podemos falar. Brasil de Fato - As mulheres ganham menos que os homens, mesmo desempenhando as mesmas funções. Qual é sua opinião sobre o tema? O que você acha que tem que ser feito para reverter essa situação? Ganhamos menos, às vezes trabalhamos mais e temos a mesma ou mais capacidade. Concorda? Infelizmente, precisamos continuar lu-
“Não se oprimir por nada, não abaixar a cabeça e pronto” tando contra isso. Até acredito que diminuiu, mas não o suficiente para dizer “conquistamos isso”. A igualdade salarial passa longe.
se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Brasil de Fato publica uma entrevista exclusiva com a funkeira, e mais uma vez Valesca Popozuda manda sua mensagem às mulheres. Brasil de Fato - A sociedade muitas vezes espera que a mulher desempenhe um papel muito con-
reitos da liberdade sexual.
“As pessoas preferem se adequar do que lutar propriamente pelos direitos da liberdade sexual”
Brasil de Fato - Em sua opinião, como nós mulheres, que carregamos preconceitos históricos, podemos superar e deixar repetir esse modelo de opressão? Não se oprimir por nada, não abaixar a cabeça e pronto. Brasil de Fato - Nesse
Brasil de Fato - Você é uma mulher guerreira e vencedora. Gostaria que passasse uma mensagem para todas as trabalhadoras nesta semana da mulher. Levantem todos os dias da cama com um único objetivo em mente: não desistir jamais, lute e busque os seus sonhos. Se falhar, não desanime, tente de novo, e de novo, e de novo até alcançar o que almeja!
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CULTURA
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AGENDA DO FIM DE SEMANA RITMO E POESIA
REGGAE
Parte do projeto “Arte no Centro”, realizado pelo grupo de Teatro Espanca!, acontece no sábado (14) o evento “Café, Ritmo e Poesia”, com participação do Família de Rua. Rua Aarão Reis, 542, Centro. Às 17h.
BRINCADEIRAS
FOTOGRAFIA
O Festival de Reggae de BH acontece no sábado (14), no Viaduto Santa Tereza. O evento terá a presença de Celso Moretti autografando seus discos. Vai ter venda de CDs, camisetas e adesivos para custear a estrutura. O som rola a partir das 14h.
Acontece a Oficina de Pinhole, que ensina princípios básicos da fotografia e como criar sua própria câmera a partir de caixas ou latas. Será no sábado (14), das 8h às 18h, e domingo (15), das 8h às 12h, no Centro Cultural Lindéia Regina.
A Praça Tião dos Santos recebe, durante todo o sábado (14), o programa Brincando na Vila. São oferecidas diversas atividades às crianças, como pula-pula, cama elástica, pintura no rosto, oficinas lúdicas e jogos teatrais.
Segunda a quinta-feira BATERIA
CINEMA JAPONÊS
O Percussão Brasil apresenta, a partir de quarta-feira (18), oficinas sobre bateria e ritmo carnavalesco com o músico Rafael Leite. Os encontros vão acontecer todas as quartas, às 20h, e não precisa de inscrição prévia. No NECUP, Avenida Nossa Senhora de Fátima, 3312, Prado.
BOA DA SEMANA
Até 26 de março, a Mostra Cinema Japonês apresenta 63 filmes, dentre eles: “Era uma vez em Tóquio”, “Contos da Lua Vaga” e “Desejo Profano”. As exibições acontecem todos os dias, em três horário diferentes. Cine Humberto Mauro, Avenida Afonso Pena, 1537, Centro.
CINEMA MINEIRO
Na terça (17), às 19h, a diretora e roteirista Ana Moravi estará presente na exibição do seu filme “A Mulher que Amou o Vento”, no Cineclube Joaquim Pedro de Andrade, Rua Tupinambás, 179, 14º andar. O filme conta a história de Flora, que vive sozinha em uma casa nas montanhas.
ÁGUA SÓLIDA
A exposição “Memória Líquida” fica aberta até 5 de abril na Galeria de Arte Copasa, Rua Mar de Espanha, 525. O artista, Carlos Calsavara, construiu obras que mostram a água líquida em esculturas, fazendo alusão à fluidez da memória contemporânea. Todos os dias, das 8h às 19h.
Perto do fim do mundo Em um fim de tarde de domingo, cinco colegas se encontram para um churrasco à beira de uma piscina. Tudo seria comum, se não fosse um grande problema: o mundo está para acabar. A peça estreou em janeiro, no Verão de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, e continua em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil. A peça “Noturno”, do gru-
po Teatro Invertido convida o espectador a pensar sobre o que faria em seu último dia na Terra. “Indiscutivelmente, os aspectos visuais da encenação saltam aos olhos e seduzem o espectador nos primeiros minutos” escreveu o blog Teatro Jornal sobre a peça. Os atores trazem diversas questões ao palco, como a escassez da água, a violência, a crise financeira, em
que os personagens propõem soluções inusitadas. O texto é de Sara Pinheiro e a direção é de Mônica Ribeiro e Yara de Novaes.
Serviço Quando: até 29 de março, de quinta a sábado, às 20h, e domingo às 19h Onde: Centro Cultural Banco do Brasil. Praça da Liberdade, 450 Quanto: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
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CULTURA
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Bailarinos lutam por permanência de Ballet Jovem do Palácio das Artes CORTE Encerramento de projeto interrompe carreira de jovens dançarinos
#ficaadica
CD “1/4 de Ideias”, Vinicin MC
Reprodução
Raíssa Lopes Foi na quarta-feira passada (4) que bailarinos e classe artística do Ballet Jovem do Palácio das Artes receberam a notícia de que o projeto seria cancelado, após oito anos de funcionamento. A Fundação Clovis Salgado (FCS), entidade gestora do programa, justificou que o motivo para o cancelamento é a falta de verba. Desde então, os dançarinos batalham para não deixarem o Palácio das Artes.
“Fui chamada para uma conversa com o presidente da Fundação [Augusto Nunes-Filho] e ele disse ‘corte’. Sem aviso prévio. No dia seguinte tive que mandar todos os alunos para casa, e minha participação ficou acordada somente até o fim de março”, afirma a diretora artística do Ballet Jovem, Andrea Maia. Ela conta que tentou argumentar e propor redução de orçamento, mas obteve a mesma resposta. Ao todo, 14 bolsistas e 16 trainees compunham a equipe. Eles faziam aula de segunda a sábado, de 9h às 13h. “Era um grupo consolidado, de formação. Como, de uma hora pra outra, esses jovens chegam em casa e falam ‘mãe, a escola acabou’?”, questiona Andrea.
O bailarino Gustavo Li, há um ano no projeto, declara que agora o movimento é de luta. “No início, ficamos muito tristes, confusos. Continuamos nossas aulas e agora estamos nos fortificando para articular nossas mobilizações”, diz o jovem. Na tarde de sexta (6), os estudantes realizaram protesto em frente ao Palácio das Artes e também se reuniram com o presidente da FCS que, mais uma vez, anunciou que o orçamento era insuficiente para dar continuidade às atividades. Bailarinos realizam encontro com sindicato Na manhã da quarta-feira (11), os estudantes participaram de conversa com a presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de Minas Gerais (SATED), Magdalena Rodri-
Histórico – Conheça o Ballet Jovem O Ballet Jovem do Palácio das Artes foi fundado em 2007 pela Fundação Clovis Salgado. O programa tinha o objetivo de promover novos talentos da dança e investir na profissionalização de bailarinos com idade a partir de 15 anos. Cerca de 120 dançarinos já fizeram parte do projeto. Hoje, muitos deles atuam em renomadas Companhias de Dança por todo o mundo, como Grupo Corpo, Ballet Black (Londres), entre outras.
gues, sem grandes novidades. Uma intervenção artística também está sendo desenvolvida pelos alunos. A ideia é montar um circuito de apresentações, da Praça Sete até a Praça da Liberdade, com a participação da Big Band do Palácio das Artes e Grupo de Choro – projetos também encerrados – para reivindicar a volta do Ballet Jovem. “Não podemos perder um trabalho desenvolvido há tantos anos, que tem comprovação de resultados e exporta bailarinos. É um programa de importância não só dentro da FCS, mas para o cenário artístico brasileiro. Isso que temos aqui não existe em mais nenhum estado do Brasil”, reforça Gustavo. Os dançarinos irão se reunir com o secretário de estado da Cultura, Ângelo Oswaldo, que já prometeu aprimorar a escuta às críticas e propostas dos artistas e população mineira em relação ao setor em Minas Gerais. Para saber mais sobre o encontro, acompanhe nossa página: facebook.com/ brasildefatomg. A reportagem do Brasil de Fato MG entrou em contato com a assessoria da Fundação Clovis Salgado e Secretaria de Estado de Cultura, mas até o fechamento dessa edição não houve retorno.
“Um quarto, muitas ideias, algumas batidas, um microfone e uma câmera ligados” é a descrição do primeiro CD do rapper Vinícius Andrade de Lima, o Vinicin. O projeto “1/4 de ideias”, lançado em janeiro, é composto por cinco músicas e foi feito em parceria com o DJ Spider Pro Beats. “Rimar é muito mais do que conquistar espaço, eleva o espírito e ainda traz a paz”, diz a letra da música Bom Senso. Em sua página no Facebook, Vinicin fala que, além da rua, o CD tem influências de: Cesaria Évora, Cesar Comanche, Mr. JMedeiros, George Orwell e Mário Quintana. Ele é integrante do Família de Rua e considera o Duelo de MCs o seu berço. Vinicin está na cena hip hop há quatro anos e já representou BH em diversas cidades, como Juiz de Fora, Sete Lagoas e Rio de Janeiro. Divulgação
SERVIÇO Onde escutar:
soundcloud.com/VinicinOficial
Onde assistir:
youtube.com/VinicinOficial
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Belo Horizonte, 13 a 19 de março de 2015
EI, ATENÇÃO!
O que vou lhe falar agora, com certeza você aprendeu na escola: O valor do educador e da educadora na sua vida. Afinal, eles dedicam a própria vida a ensinar, a compartilhar o conhecimento. Por isso, está na hora do governo pagar a dívida que tem com os trabalhadores e as trabalhadoras em educação de Minas Gerais.
Pagar o Piso Salarial Nacional e reconstruir a carreira da educação é o mínimo que este governo precisa fazer para mostrar que, além de você, ele também reconhece, o valor da educação.
EDUCADOR E EDUCADORA:
Março/2015
Carlos Nunes / Ator Comediante
Minas precisa reconhecer o valor de vocês!
www.sindutemg.org.br *A página Variedades volta na próxima edição
Belo Horizonte, 13 a 19 de março de 2015
na geral
LRFE foi adiada mais uma vez MAIS DO MESMO Para Bom Senso, Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte não pune os cartolas
Multa por atraso salarial Reprodução / CBF
Os clubes que não pagarem em dia o salário dos atletas perderão três pontos por partida, segundo regra da Confederação Brasileira de Futebol. Os atletas poderão denunciar os clubes ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva, se comprovarem o atraso de 30 ou mais dias no pagamento. A medida vale apenas para o Campeonato Brasileiro das séries A, B e C. Procedimento semelhante já é adotado pela Federação Paulista de Futebol desde 2012.
Ouro no basquete Reprodução / CBBC
Gustavo Lima / Câmara dos Deputados
Wallace Oliveira Os deputados da bancada da bola pretendiam votar a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (LRFE) na última quarta-feira (11), mas, após uma conversa com representantes do Governo, a votação foi novamente adiada. O projeto prevê a repactuação das dívidas tributárias e trabalhistas dos clubes de futebol. O movimento Bom Senso FC é contra a aprovação do projeto, por considerar que ele é vago e permissivo na definição de regras e punições para os cartolas que não administram as contas dos clubes de maneira transparente e democrática. Para enfrentar a banca-
ESPORTE
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na geral Copa Brasil de Paracanoagem Comitê Paralímpico Brasileiro
da da bola, os jogadores do Bom Senso se articularam com o Governo Federal, que montou uma comissão interministerial, encarregada de elaborar uma Medida Provisória sobre o assunto. Com o recuo da votação
da LRFE, os parlamentares aguardam a MP do Governo até a próxima terça-feira (17). Caso a Medida Provisória não seja encaminhada, eles votarão o projeto de lei sem apreciação do outro texto.
Você Sabia? A bancada da bola é o grupo de parlamentares que tem uma atuação voltada para os assuntos do futebol. Muitos desses parlamentares estão organicamente vinculados aos clubes ou à CBF. Alguns exemplos: o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) é conselheiro do Atlético Goianiense e o deputado Valdivino Oliveira (PSDB-GO) já foi presidente do clube; o deputado Vicente Cândido (PT-SP) ocupou a vice-presidência da Federação Paulista de Futebol e é sócio de Marco Polo Del Nero, presidente da CBF; o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), em seu site, se autodeclara “O Flamengo no Congresso”.
No final da semana passada, ocorreu a 1ª etapa da Copa Brasil de Paracanoagem, no Centro de Práticas Esportivas da USP. O tetracampeão mundial Fernando Fernandes subiu ao ponto mais alto do pódio duas vezes. Já Luis Carlos Cardoso ganhou duas medalhas de ouro e uma de prata. Agora, eles passam a pensar no Campeonato Sul-Americano e no Pan-Americano, a serem disputados em São Paulo, entre os dias 30 de abril e 3 de maio.
Parapan em Sampa Marcelo Casal Jr / Agência Brasil
Pratique esportes
Lian Gong A Seleção Brasileira feminina de basquete em cadeira de rodas conquistou, na última sexta-feira (6), o título sul -americano da modalidade, ao vencer a Argentina, por 52 a 33, em Cáli (Colômbia). Primeira colocada no ranking da América do Sul, a equipe brasileira terminou a competição invicta. O título também assegurou a vaga nos Jogos Parapan -Americanos de Toronto (Canadá), em agosto deste ano.
Onde: pista de patinação do Parque Municipal, BH Quando: sábados, das 9h às 10h, e quartas-feiras, das 8h às 9h. Informações: (31) 3277-5225O
Ciclismo
Onde: Praça do Ciclista, esquina das avenidas Carandaí e Brasil, BH Quando: 15 de março, das 9h às 11h30. Informações: bikeanjobh@gmail.com
Lian Gong é uma prática corporal criada pelo ortopedista Zhuang Yuan Ming, voltada para trabalhadores incorporados à indústria chinesa nos anos 70, visando a prevenir e tratar dores no corpo. O Pedal do Chaves tem como foco levar crianças a um passeio de bike por BH, com segurança. O projeto também conta com bate-papos, atividades lúdicas e palestras de educação para a mobilidade urbana.
O jornal Brasil de Fato não se responsabiliza por eventuais mudanças na programação. Recomendamos aos interessados que entrem em contato com os organizadores das atividades para confirmar data, horário e local.
A cidade de São Paulo foi escolhida como sede dos Jogos Parapan -Americanos de 2017. O evento reunirá mais de mil atletas, entre 13 e 21 anos, de 20 países, em 12 modalidades paralímpicas. A competição será organizada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). A última edição do Parapan foi realizada em 2013, em Buenos Aires, Argentina. Na ocasião, o Brasil liderou o quadro de medalhas, com 209 pódios e 102 medalhas de ouro.
16 ESPORTES
Belo Horizonte, 13 a 19 de março de 2015
Sábado tem Coelho e Coruja CAMPEONATO MINEIRO América na cola de Galo e Cruzeiro; Boa Esporte fugindo do rebaixamento Reprodução / AFC
Da redação Com a vitória acachapante sobre o vice-lanterna Mamoré, na última quarta-feira (11), o Coelho mais uma vez mostrou que veio para disputar o título estadual. Os garotos da base americana empolgaram e agora vão com tudo. O time do técnico Givanildo, aos poucos ganha forma e já pensa no próximo adversário. Sábado, o América visita o Boa Esporte, às 18h30, no estádio Melão, em Varginha. O Boa vem de uma partida fraca contra o Tupi, em Juiz de Fora, na última quarta-feira. O jogo terminou em 0 a 0, o que manteve a Coruja do sul de Minas na 9ª colocação, com cinco pontos, apenas um à frente da zona de rebaixamento.
FRASE DA SEMANA Facebook / Souleymane Sylla
“
Eu não vou, eles não podem me comprar com um pequeno pedaço de papel (...) eu quero que essas pessoas sejam processadas e que seja feita justiça.
”
O francês Souleymane Sylla, vítima de agressões racistas de torcedores do Chelsea, após o jogo de ida Champions League, contra o PSG, em Paris. Souleymane foi convidado pelo clube inglês a assistir o jogo de volta no camarote, mas recusou o convite.
Por isso mesmo, o Boa precisa vencer o Coelho para respirar tranquilo no campeonato. Uma pequena polêmica vai esquentar a rivalidade. No ano passado, o América protocolou no STJD uma denúncia contra o Boa Esporte, então quarto coloca-
do na Série B do Brasileirão. De acordo com o Coelho, o time de Varginha teria desrespeitado o Regulamento Específico da Série B, que permitia que cada clube recebesse, no máximo, cinco atletas transferidos de clubes que disputavam a segunda divisão.
Gol de placa Fofão, jogadora de vôlei, completou 45 anos na última terça-feira (10). Ainda na ativa, ela é uma das atletas mais vitoriosas do Brasil. Pela Seleção, já conquistou o ouro nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, e o bronze em Atlanta (1996) e Sydney (2000), além do hexacampeonato do Grand Prix.
Gol contra No clássico do dia 8 de março, várias torcedoras receberam rosas na entrada do Mineirão, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Dentro do estádio, entretanto, cruzeirenses e atleticanos novamente usaram nomes femininos, como Lurdinha e Maria, como xingamentos machistas a seus adversários.
OPINIÃO América Bráulio Siffert Apesar de estar alcançado resultados relativamente aceitáveis, o América ainda não tem demonstrado criatividade, qualidade, entrosamento e poder ofensivo para chegar à final do Mineiro e, principalmente, entrar na Série B como candidato ao acesso. O centroavante titular do time, Rodrigo Silva, não tem representado qualquer ameaça aos goleiros adversários. Já
OPINIÃO Atlético Rogério Hilário
é hora de colocar o Rubens como titular. No meio campo, os volantes não têm boa saída de bola; e o armador, isolado, não têm conseguido organizar as jogadas. Restam chutões para frente e aposta no acaso e nos lampejos de individualidades. É preciso que o técnico teste novas peças, formações e jogadas e organize melhor o time, sobretudo do meio para frente.
Levir Culpi se envolveu em um dilema, há algum tempo constatado por esta coluna: quem vai armar as jogadas do Atlético? Apostei, inicialmente, no argentino Dátolo. Ele demonstrou polivalência, porém, faltam as virtudes de um especialista. Cárdenas seria uma opção, embora atue mais como meia-atacante pelo lado esquerdo. Luan faz o possível. Quanto a Dodô, a inexpe-
OPINIÃO Cruzeiro Léo Calixto
riência fala mais alto. Com as ausências de tantos titulares, o treinador se vê numa sinuca de bico. A questão se torna mais desconcertante quando lembramos: o próprio técnico defendeu parcimônia nos gastos com contratações. E enfatizou a qualidade do elenco, capaz, segundo ele, de manter o nível de 2013 e 2014. Agora, deve estar arrependido de suas próprias declarações.
Após uma fraca atuação do setor ofensivo contra o Atlético/MG, no clássico do último domingo, Marcelo Oliveira lançou na equipe titular, no jogo contra o Villa Nova, um jogador que há muito caiu nas graças da torcida: o meia Alisson. Ele é a grande aposta do treinador para conseguir impulsionar o futebol de outra promessa, o uruguaio De Arrascaeta. O efeito da
mudança foi imediato e, na data em que o técnico Marcelo Oliveira completou 150 jogos no comando do Cruzeiro, o clube superou a marca expressiva de 300 gols marcados sob seu comando, com uma atuação destacada dos dois jovens. Aos poucos, o time celeste vai se acertando. Resta saber se será a tempo de se classificar para o mata-mata da Copa Libertadores.