BdF 108

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CULTURA | 13

ENTREVISTA| 11

Aguerézinho

Manuel Loff Pesquisador aponta porque governo Bolsonaro pode ser considerado neofascista

Divulgação

Thamyres Oliveira

No Dia das Crianças, programação sugere experiências ao invés de presentes

PE UMA VISÂO POPULAR DO BRASIL E DO MUNDO

Agencia Brasil

Pernambuco

Recife, 11 a 17 de outubro de 2019

ano 3

e d i ç ã o 10 8

distribuição gratuita

No Brasil, 5 milhões de pessoas passam fome OPINIÃO | 05 Artigo

O Centro Paulo Freire e uma ameaça de despejo recheada de absurdos

CIDADES | 10 Comunicação

O jornal “A Voz da Favela” chega ao Recife

VARIEDADES | 14 Saúde

O que comer para aumentar a imunidade?


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2 | OPINIÃO

EDITORIAL

A Fome está crescendo junto com a pobreza e a miséria MPA Brasil

DESCASO. Estima-se que hoje temos 820 milhões de pessoas passando fome no mundo o pronunciarmos a A palavra alimentação, somos levados, quase

que automaticamente, a pensar no próprio ato de comer, até porque no fim das contas é disso que se trata. Porém aqui vamos abrir esta nossa edição pensando em duas questões fundamentalmente importantes: no ciclo de produção e na sua ausência, ou tristemente, seu mais adequado termo: a fome. Segundo Bolsonaro, no nosso país “Passa-se mal, não se come bem, (...). Agora passar fome, não”. Sabemos que se trata de mais uma afirmação leviana. E mais ainda, temos sentido no nosso cotidiano que a fome – questão nunca resolvida – está novamente crescendo junto com a po-

Aliança das elites e donos do poder é o que caracteriza o que denominamos de agronegócio breza e a miséria. Numa pesquisa do IBGE específica sobre o tema, realizada em 2013, constava-se que 3,6% dos brasileiros tinham insegurança alimentar grave, o que correspondia a 7,2 milhões de pessoas no ano da pesquisa. Estima-

-se que hoje temos 820 milhões de pessoas passando fome no mundo, e que no mínimo, estes invisíveis totalizam 5 milhões de brasileiros. Acreditamos que a negação do problema pelo presidente seja apenas uma defesa de seu projeto de nação que não se preocu-

pa com a soberania e com sua completa inabilidade para a construção de saídas possíveis para garantias de direito. Sempre bom recordar que a alimentação foi oficialmente registrada como direito na nossa Constituição Federal de 1988, porém, mais recentemente, após Emenda Constitucional em 2010. Em abril, Tereza Cristina (DEM), atual Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento também nos chocou com sua afirmação: “nós não passamos muita fome porque temos manga nas nossas cidades, nós temos um clima tropical”. A manga que Tereza nos lembra, por sua vez, outros números sobre o que nosso país tem plantado e que também nos assustam. Analisando o total de agrotóxicos consumidos, o Brasil disputa as primeiras colocações. Em levantamento realizado pela FAO, nosso país consome uma média de US$ 10 bilhões em agrotóxicos. Esse ano já foram liberados 325 agrotóxicos. Para o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), além do crescente uso de agrotóxicos, esse projeto se materializa com a aliança do Estado brasileiro com latifundiários, corporações transnacio-

Nossa luta é contra fome nais, veículos de comunicação comercial e os bancos. Afirmam: “essa aliança das elites e donos do poder é o que caracteriza o que denominamos de agronegócio” e lançam este mês sua Jornada de luta por soberania popular e poder popular afirmando “nossa luta é contra fome”. “Ô Josué nunca vi tamanha desgraça!” diria Chico Science. Mas também resgatamos esse mesmo Josué que nos lembrou que não poderíamos partilhar um mundo onde uma parte não dorme com fome, e a outra parte não dorme com medo da que tem fome, para mostrar a força que o povo tem para resistir. Que a bandeira da soberania alimentar esteja sempre presente na nossa guerrilha diária, pois só nosso povo pode encontrar as próprias saídas de desenvolvimento e sustentação, de forma justa e solidária.

Expediente Brasil de Fato PE O Brasil de Fato circula nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Paraíba e Bahia com edições regulares. Em Pernambuco está nas ruas todas às sextas-feiras com uma visão popular de Pernambuco, do Brasil e do Mundo. Página: brasildefatope.com.br | Email: pautape@brasildefato.com.br | Para anunciar: brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br | Telefone: 81. 96060173

Edição: Monyse Ravena | Redação: Vinícius Sobreira, Marcos Barbosa, Vanessa Gonzaga, Rani de Mendonça e Fátima Pereira. Articulista: Aristóteles Cardona | Colaboração: André Barreto, Bianca Almeida, PH Reinaux, Catarina de Angola | Administração: Iyalê Tahyrine Diagramação: Diva Braga | Revisão: Júlia Garcia | Tiragem: 20 mil exemplares Conselho Editorial: Alexandre Henrique Pires, Bruno Ribeiro, Carlos Veras, Doriel Barros, Eduardo Mara, Geraldo Soares, Henrique Gomes, Itamar Lages, Jaime Amorim, José Carlos de Oliveira, Fernando Melo, Fernando Lima, Laila Costa, Luiz Filho, Luiz Lourenzon, Marcelo Barros, Margareth Albuquerque (in memorian), Marluce Melo, Paulette Cavalcanti, Paulo de Souza Bezerra, Paulo Mansan, Pedro Lapa, Roberto Efrem Filho, Rogério Almeida, Rosa Sampaio, Sérgio Goaiana, Suzineide Rodrigues, Valmir Assis.


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GERAL l 3

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FRASE da semana

Diivulgação

O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia não é do Evangelho Papa Francisco, na Abertura do Sínodo Especial da Amazônia, que acontece no Vaticano.

Para você, o que alimentos orgânicos têm a ver com alimentação saudável?

do! Antigamente as pessoas comiam T de tudo e não tinham problemas, mas hoje você evita muitos processos químicos u

Nota

SERVIÇ0S Vacinação contra o Sarampo Daniel Castellano/SMCS

gora, crianças entre seis meA ses e quatro anos são o alvo da Campanha Nacional de Vaci-

nação contra o Sarampo, que iniciou na segunda-feira (07). Na Região Metropolitana do Recife mais de 200 unidades estão disponíveis para vacinação. A lista de postos está na internet. A campanha segue até o dia 25, com Dia D no dia 19. A partir de novembro, o foco da campanha se torna os adultos jovens entre 20 e 29 anos e, posteriormente, pessoas entre 50 e 59 anos.

Curso de Mudanças Climáticas Maurício Valenzuela

com os alimentos orgânicos. Rosélia Ferreira, artesã.

O

Os orgânicos representam uma alimentação saudável, sem veneno, e são alimentos produzidos de forma responsável, tanto para nossa saúde como para o meio ambiente. Além disso ainda tem a valorização do trabalho da agricultura familiar, em especial às mulheres, melhorando a qualidade de vida do povo do campo.

Aldercilene Gomes, servidora pública.r.

stão abertas inscrições para E o curso “Mudança do Clima: perspectivas para cidades susten-

táveis”, oferecido na modalidade de Ensino a Distância (EAD) pela Prefeitura do Recife, Com 200 vagas, o curso gratuito tem quatro módulos e carga horária de 40 horas no ambiente virtual. A previsão é que comece no dia 25 de outubro de 2019. As inscrições podem ser feitas até o próximo dia 20, pela internet, na seção da Secretaria de Meio Ambiente de Sutentabilidade do site da Prefeitura do Recife.


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4 ||Mundo GERAL

NA

Direitos de Fato

LUTA

Democratizando a Mídia

D

e 18 a 20 de outubro acontece o 4º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (4ENDC) na cidade de São Luís (MA). O evento é organizado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), que reúne cerca de 500 entidades em 20 comitês estaduais para denunciar e combater violações ao direito da liberdade de expressão. O encontro reúne, militantes, pesquisadores e trabalhadores para debater a partir de painéis temáticos, mesas e conferências, temas relacionados a área da comunicação com enfoque na liberdade de expressão, defesa de uma internet livre e aberta e de um sistema de mídia plural e diverso. As inscrições são feitas pela internet, no www.doity.com.br/4endc

Luta Antimanicomial Reprodução

a última quinta-feira (10), o Núcleo N Estadual da Luta Antimanicomial - Libertando Subjetividades, articulado

com diversos parceiros, realizou no Armazém do Campo Recife a abertura da 3ª edição da Escola de Formação voltada para usuários e familiares da Rede de Atenção Psicossocial de Recife e Região Metropolitana. A formação tem o objetivo de impulsionar a articulação constante entre educação, saúde e política numa conjuntura de retrocessos que incidem diretamente na política de saúde mental, álcool e outras drogas. Essa edição será realizada em homenagem a psicóloga Edjane Sampaio. Usuários ou familiares que desejarem participar das próximas etapas devem entrar em contato pelo email libertandosubjetividades@gmail.com

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Reforma tributária: uma proposta que poderia reduzir a desigualdade social no Brasil artidos de oposição apresentaram, no dia 8 de outubro, a proposP ta de uma Reforma Tributária que propõe a cobrança de mais impostos das classes mais altas e menos das camadas populares. A me-

dida determina também a isenção fiscal para produtos de alimentos da cesta básica e medicamentos essenciais, além de serviços de transporte público urbano coletivo, saneamento básico e educação infantil, ensino fundamental, médio, superior e profissional. Além de marcar um avanço na agenda de resistência aos desmontes políticos dos direitos dos trabalhadores com uma proposição que, efetivamente, reduz a desigualdade social no Brasil, a proposta visa corrigir uma estranha tradição do país: a de permitir que os muito ricos não tenham as suas fortunas taxadas, enquanto os mais pobres e a classe média sustentam as contas públicas nas costas. É possível sair da crise econômica sem se renunciar ao direito das trabalhadoras e dos trabalhadores. Na realidade, só é possível voltar a crescer garantindo emprego, saúde e educação para todos. Não se trata apenas de simplificar a forma de tributar no Brasil, mas, principalmente, de promover um sistema tributário sustentável, justo e solidário. *Clarissa Nunes é advogada advogada criminalista e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD)

Para entrar em contato e tirar dúvidas mande um email para contato.pe@brasildefato.com.br ou um whattsapp para 8199060173

ESPAÇo SINDICAL

Acordo Prorrogado Sindsep-PE

O

s trabalhadores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tiveram o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2017/2019 prorrogado pela segunda vez. De acordo com o Sindicato dos Servidores Públicos Federais de Pernambuco, o que tem atrasado a negociação entre os representantes dos trabalhadores e a Conab é a insistência da empresa em não reconhecer a Federação Nacional dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Fenadsef) como representante legal dos empregados. Isso, mesmo depois de uma decisão judicial assegurando a entidade como legiítima. O termo de prorrogação será válido até o próximo dia 31 de outubro, o que garante o respeito às cláusulas vigentes no antigo ACT da categoria.

Dia das Crianças Hermes Costa Neto

Clube de Campo dos O Bancários vai receber, no próximo dia 13 de outubro, das

10h às 16h, a Festa das Crianças 2019. Crianças até 12 anos, identificadas por pulseiras entregues na entrada do evento, terão acesso livre a todas as atrações da festa, que acontece todos os anos num espaço que conta com parque aquático, bicas, campo de futebol e vôlei, chalés, bar, restaurante e parque infantil. Além de brinquedos e recreação, a festa terá contação de história com o espetáculo “Evaristo a Cutia”, do Cutia Coletivo, formado por Pochyua Andrade e Viviane Borchardt, trazendo através da música a conscientização sobre o meio ambiente. O Clube de Campo dos Bancários está localizado no km 14,5 de Aldeia, s/n.


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Artigo

OPINIÃO I 5

América Latina está no epicentro da luta popular contra o neoliberalismo Joaquín Piñero*

D

epois da celebrada e pomposa lua de mel do neoliberalismo com a burguesia local aliada do capital financeiro internacional aqui no continente americano, recentemente começamos a perceber sérios problemas para esse casamento se consolidar. As contradições inerentes ao sistema capitalista, sua crise sistêmica e a incapacidade desse modelo de resolver os problemas do povo são ingrediente que estão provocando uma onda de explosão social principalmente nos países da América Latina e Caribe. A chegada ao poder de

Artigo

Contradições do sistema capitalista estão provocando uma onda de explosão social governantes de direita e extrema direita, seja pela via do voto ou através de golpes de Estado ou parlamentares, que anunciaram aos quatro

ventos que a saída para resolver os graves problemas sociais que assolam os países da região era a aplicação de um conjuntos de medidas neoliberais, aliadas à uma aproximação estratégica quase carnal com os Estados Unidos (EUA), mais uma vez se mostrou ineficaz para aqueles que ainda acreditavam nesse conto. Com exceção de Cuba, Venezuela e Bolívia, que resistem bravamente aos ataques imperialistas orquestrados pelos EUA, e o México que depois de algum tempo, ressurge com políticas de cunho mais progres-

sista, os demais países desse continente veem a cada dia, aumentar as mobilizações populares nas ruas e seus governantes perdendo apoios importantes e muitos deles em vias de serem expurgados de seus cargos antes do tempo, como é o caso do presidente do Equador, Lenin Moreno. Assim como no final dos anos 90 e início dos anos 2000, a fome, a pobreza, o desemprego, as desigualdades sociais regadas a banhos de sangue da violência do Estado contra os povos e lideranças dos movimentos populares que

culminaram com a organização da resistência popular e a derrubada de governos, hoje a história parece se encaminhar para esse mesmo desfecho. O povo na rua, mobilizado e consciente de sua luta em defesa de seus direitos é a expressão mais contundente de que a luta de classes é a chama que não se apaga e se anuncia como um novo ciclo nesse continente rebelde. À luta! * Joaquín Piñero é militante do MST e da ALBA Movimientos

O Centro Paulo Freire e uma ameaça de despejo recheada de absurdos Aristóteles Cardona Júnior*

N

o momento em que escrevo esta coluna, dezenas de famílias de agricultores seguem apreensivas na cidade de Caruaru, em Pernambuco. Refiro-me às famílias que moram e trabalham no Assentamento Normandia, naquela cidade do agreste, e que veem o Centro de Formação Paulo Freire e suas Agroindústrias, sob ameaça de despejo por parte da Justiça Federal. Na realidade, a ameaça de despejo é um grande absurdo jurídico que não por acaso ganha corpo neste momento de nosso país em que a extrema-direita, representada pelo governo de Bolsonaro, segue na tentativa de destruir todo e qualquer avanço social

No fim das contas, a alegação do INCRA para a solicitação do despejo não faz mais nenhum sentido conquistado com muita luta em nosso país. Esta ameaça de despejo está recheada de absurdos. Um deles está relacionado ao trabalho destas famílias que pro-

duzem muitos produtos de qualidade, orgânicos, e que são comercializados em escolas de diversas cidades, por exemplo. O Centro Paulo Freire, mantido pelo MST, onde acontecem continuamente cursos de formação, como os voltados para a produção agrícola e o avanço da agroindústria do próprio assentamento. Não fica por aí. Até para formação em saúde, o Centro tem sido importante. Desde 2015, por exemplo, ele tem sido cenário de prática para profissionais de saúde que estão se especializando em saúde do campo em Residência da Universidade de Pernambuco. De lá para cá, já são deze-

nas de profissionais que se tornaram especialistas nesta população e hoje atuam em vários estados e localidades por todo o Brasil. Acontecem também atividades que compõe a formação de estudantes de graduação de cursos como o de medicina, com estágios e projetos de extensão, assim como oficinas e aulas sobre manuseio de fitoterápicos e de plantas e ervas medicinais. No fim das contas, a alegação do INCRA para a solicitação do despejo não faz mais nenhum sentido. Normandia hoje é um importante difusor de produtos, produzidos em suas três agroindústrias, e de conhecimento, através dos cursos e for-

mações que são realizados no Centro Paulo Freire. É por isso que é bonito de se ver tantas famílias resistindo ao despejo e lutando por suas conquistas. A resistência do Assentamento hoje representa a necessária resistência de nosso povo. Que Normandia siga produzindo e que o Centro Paulo Freire siga formando trabalhadores e trabalhadoras comprometidos com a realidade. *Aristóteles Cardona Júnior é Médico de Família no Sertão pernambucano, Professor da Univasf e militante da Frente Brasil Popular de Pernambuco.


6 | BRASIL

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A marcha da ousadia popular completa 20 anos Douglas Mansur

Projeto Popular. Em 1999, milhares de pessoas marcharam do Rio até Brasília para pensar um novo projeto de país Pedro Rafael Vilela, de Brasília

o dia 26 de julho de N 1999, cerca de 1.100 homens e mulheres saí-

ram em caminhada do Rio de Janeiro com destino a Brasília, no que foi chamada de Marcha Popular pelo Brasil. Eles percorreram mais de 1.600

quilômetros, cruzando os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás, até adentrarem na capital do país, exatos 72 dias depois da partida, no dia 7 de outubro. A marcha foi uma iniciativa articulada pela Consulta Popular (CP), que tinha apenas dois anos de existência, e contou com o envolvimento de militantes vinculados a diversas outras organizações populares, como movimento sindical e estudantil, além de trabalhadores rurais. “A ideia da Marcha era desencadear a importância das questão um projeto popular para o Brasil. Por isso que, simbolicamente, fez questão de sair da sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, e veja como isso é importante agora também, às vésperas da entrega do nosso pré-sal às multinacionais”, explica o advoga-

do Ricardo Gebrim, integrante da Consulta Popular que participou da construção da marcha. Ao chegarem em Brasília, milhares de outras pessoas se somaram à caravana. A Marcha Popular então deu lugar à Assembleia dos Lutadores e Lutadoras do Povo, que durou mais dois dias, terminando em 10 de outubro, com a participação de cinco mil pessoas. Foi na Assembleia que se aprovou a “Carta aos lutadores do povo”, dando ao projeto popular cinco eixos principais: soberania, solidariedade, desenvolvimento, sustentabilidade e democracia popular. Anos mais tarde, a Consulta Popular incluiria também a bandeira do feminismo entre os eixos principais do projeto popular. “Esses compromissos eram a base para a gente se relacionar com outros projetos, com outras forças populares”, aponta Diva Braga, da direção nacional da CP.

Atualidade O ano de 1999 guarda algumas semelhanças com o atual momento do país. “O momento que a gente vivia era de aprofundamento das políticas neoliberais e as consequências dessa política para a população eram muito sensíveis, desemprego e arrocho salarial eram tônicas constantes que a gente ouvia na cidade”, afirma Flávio José Vivia, militante da Via Campesina que atuou na coordenação de alimentação durante o percurso da marcha. Ricardo Gebrim traça um paralelo entre as conjunturas que separam esses 20 anos, ao reforçar

A Marcha funcionou para dar um sentido e articular um campo da esquerda

na década de 1990 tinha a sensação de que lutava contra a corrente, porque tinha essa ideologia de que a experiência do socialismo estava derrotada. Havia esse sentimento do esvaziamento do sentido de um projeto de esquerda, como acontece hoje. A Marcha funcionou para dar um sentido e articular um campo popular da esquerda”, analisa. O fato da marcha ter sido uma resposta diferente na Douglas Mansur

que a ofensiva neoliberal foi retomada. “. O governo FHC foi nossa primeira ofensiva neoliberal, porque agora estamos enfrentando uma segunda, que é muito mais profunda, e que tenta completar e esgotar o conjunto de privatizações e desmonte de direitos que aquela primeira ofensiva não conseguiu”.

Pedagogia do exemplo Para Diva Braga, naquela época também havia uma sensação de vazio na esquerda, por conta da derrota ideológica do socialismo. “Quem militava

luta contra a exploração também marcou o período. Diva Braga lembra que o comum era as organizações mobilizarem ônibus de diversos estados para irem a Brasília reivindicar alguma coisa. “A esquerda ousou fazer. Isso foi um ato de ousadia, e é preciso trazer à memória essa capacidade de reação, de fazer algo novo. Sair fazendo as mesmas escolhas não podem funcionar, não dá pra responder à uma situação nova fazendo a mesma coisa. A marcha pode ser esse exemplo, que é mais que um exemplo para o povo, mas um exemplo para as forças organizadas, que estejam juntas”, finaliza Diva.


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MUNDO | 7

Inspirado em Lula, favorito à presidência da Argentina lança programa contra a fome Juan Mabromata/AFP

POLÍTICA. Caso vença a disputa, Alberto Fernández promete projeto semelhante ao “Fome Zero” Emilly Dulce, de São Paulo

O

favorito na corrida presidencial argentina, Alberto Fernández, tem delineado suas prioridades de governo caso tome posse em 10 de dezembro. A principal delas é erradicar a fome, problema que acomete 35,4% da população do país – 7,7% estão em estado de indigência. Para isso, o candidato de linha peronista (Partido Justicialista - PJ) lançou o plano “Argentina Sem Fome”, inspirado no brasileiro “Fome Zero”, criado em 2003 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O lançamento do programa argentino ocorreu nesta segunda-feira (7) na sede da Faculdade de Agronomia e Veterinária da Universidade de Buenos Aires (UBA). “Nossa maior vergonha é a fome”, considerou Fernández em entrevista coletiva. Os últimos dados oficiais do Observatório de Dívida Social da Universidade Católica (UCA) da Argentina revelam que metade dos menores de 15 anos não conseguem se alimentar adequadamente. O objetivo do pro-

“Nossa maior vergonha é a fome”, afirmou Fernández em entrevista coletiva na Universidade de Buenos Aires (UBA)

Nossa maior vergonha é a fome grama, segundo Fernández, é “obter melhor alimentação e nutrição, diminuir o preço dos alimentos, gerar maior renda para as famílias e acabar com o círculo da fome, exclusão e pobreza”. O candidato peronista, que venceu as eleições primárias, tem como companheira de chapa a ex-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner. Ele foi chefe de gabinete de Néstor Kirchner e de Cristina entre 2003 e 2008, quando Lula era presidente do Brasil. Seu oponen-

te nas eleições de novembro é o atual chefe de governo Mauricio Macri (Proposta Republicana‎ - PRO). Entre as propostas do “Argentina Sem Fome” estão a redução do custo da cesta básica, a criação de um cartão para aquisição de comida e o fortalecimento de pequenas empresas e “centros de economia popular” voltados para a produção de alimentos. A título de exemplo, um litro de leite no país vizinho custa o mesmo que na Espanha, onde a renda per capita (por pessoa) é mais do que o dobro. Os pilares levantados pelo candidato kirchnerista também se espelham no “Fome Zero” de Lula, como o Cartão Alimentação e o Programa de Aquisição de Alimentos — traçado para compras públicas da produção familiar e camponesa. “Vivemos em um país que diz ter potencial para alimentar 400 milhões, mas que não consegue resolver a fome de

15 milhões de pessoas pobres”, criticou Fernández durante o lançamento do programa. No Brasil do início de 2003, 44 milhões de pessoas sobreviviam com menos de um dólar por dia, ou seja, em situação de insegurança alimentar. Um ano mais tarde, o programa já beneficiaria 11 milhões de pessoas em 2.369 municípios, especialmente do semiárido e das regiões mais pobres do Nordeste. Em menos de uma década, cerca de 15 milhões de brasileiros passaram a ter uma alimentação digna. O reconhecimento ao “Fome Zero” veio, inclusive, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) que, em 2014, tirou o Brasil do Mapa da Fome pela primeira vez. No entanto, dados recentes apontam para a retomada dos níveis de extrema pobreza no país. Conforme estudo divulgado pela FAO em 2018, a fome atinge pelo me-

nos 5,2 milhões de brasileiros, vítimas da insegurança alimentar e desnutrição. Grande admirador do ex-presidente, o candidato argentino é entusiasta do bordão “Lula livre” por entender que o petista é um preso político. Professor de Direito Penal na UBA há mais de 30 anos, Fernández visitou Lula na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR) em julho deste ano. As duas pesquisas mais recentes apontam que o candidato peronista pode ganhar a eleição já no primeiro turno. De acordo com as consultoras Opinaia e Federico González & Asociados, o cenário político para Fernández é de vitória de 48% contra 30% de Macri e de 50% contra 27,9%, respectivamente. Para se eleger em primeiro turno, o candidato precisa angariar 45% dos votos ou 40% e uma distância de 10 pontos percentuais do segundo colocado.


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8 | PERNAMBUCO

Centro Paulo Freire: Por decisão da Justiça, reintegração não pode ocorrer enquanto Incra não se manifestar sobre conciliação Matheus Alves

NORMANDIA. Despejo previsto para hoje (10) é suspenso e novo prazo é estabelecido Marcos Barbosa

a manhã desta N quinta-feira (10), o Juiz Titular da 24ª Vara Fe-

deral de Pernambuco Tiago Antunes de Aguiar decidiu que, dentro do prazo de 30 dias dado ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para se manifestar sobre a possibilidade de conciliação no processo que envolve o Centro de Formação Paulo Freire, não poderá ser cumprida nenhuma reintegração em curso. Diante dessa decisão, foi suspensa a determinação de que deveria ser desocupada, até a data de hoje, a área de 15 hectares em litígio no Assentamento Normandia, em Caruaru. Na última sexta-feira (04), foi concedido o prazo de até 30 dias para que o Incra se posicione quanto ao interesse em uma audiência de conciliação, que se encerra em quatro de novembro. De acordo com Paulo Mansan, integrante da Direção Estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Pernambuco, “a nova decisão da Justiça pode ser considerada

Acampamento em defesa do Centro Paulo Freire foi erguido em Normandia (Caruaru/PE)

A gestão do terreno é realizada pela associação comunitária do Centro de Capacitação Paulo Freire (ACCPF) mais uma vitória do movimento em defesa do Centro Paulo Freire, que seguirá resistindo com atividades em Normandia”.

Entenda o caso No último mês de setembro, o juiz Tiago Antunes de Aguiar determinou a reintegração de posse da área de 15 hectares, que

está há 20 anos sob gestão de associação de assentados de Normandia e sedia o Centro Paulo Freire, espaço de formação e capacitação de camponeses. A antiga Fazenda Normandia foi ocupada pelos trabalhadores rurais em 1º de maio de 1993. Após um longo período de resistência, houve, em 1998, desapropriação para fins de reforma agrária e indenização ao antigo proprietário, tornando Nor-

mandia assentamento. Na área, vivem 41 famílias, além do espaço cedido em benefício coletivo, onde foi feito o centro de capacitação, formação e estímulo à produção, que é alvo de reintegração de posse. O pedido foi uma solicitação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para resolver um antigo desacordo envolvendo quatro das 41 famílias assentadas que, no passado, divergiram quanto ao destino que deveria ser dado à área coletiva. Segundo o MST, hoje, a relação é diferente e as famílias assentadas convivem em harmonia com as demais. A gestão do terreno é realizada pela associação comunitária do Centro de Capacitação Paulo Freire (ACCPF), onde foram construídos, também, espaços desportivos, creche

pública e centro de beneficiamento de alimentos. Há, ainda, três agroindústrias pertencentes à cooperativa agropecuária de Normandia, nas quais dois mil camponeses processam seus alimentos sem agrotóxicos, que são fornecidos para cerca de 400 escolas públicas de 20 municípios, do agreste à região metropolitana de Pernambuco. O Assentamento Normandia produz até 100 toneladas de carnes, mais de 180 toneladas de pães e bolos e mais de 200 toneladas de raízes e tubérculos por ano. Se levada adiante, a desapropriação deve afetar a produção e beneficiamento de alimentos sem veneno em todo o estado, atingindo não só centenas de famílias produtoras, mas as merendas de escolas no agreste e região metropolitana do Recife. Também pode afetar atividades educativas desenvolvidas em parcerias com as universidades públicas de Pernambuco, Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), Faculdade Oswaldo Cruz (Fiocruz), entre outras instituições de ensino e pesquisa. A defesa do Centro Paulo Freire mobilizou amplos setores da sociedade. Parlamentares, artistas, educadores, comunicadores, ativistas e, até mesmo, o ex-presidente Lula da Silva já declararam solidariedade e somaram forças à resistência do movimento. Um acampamento permanente foi erguido em Normandia, onde são realizadas atividades culturais e educativas todos os dias. Uma petição online contra o despejo conta com mais de 6.270 assinaturas.


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PERNAMBUCO | 9

UFPE terá reitor eleito pela comunidade

UNIVERSIDADE. Estudantes, professores e técnicos elegeram Alfredo Gomes em junho, mas só agora foi nomeado Divulgação

Vinícius Sobreira

a manhã desta quinN ta-feira (10) foi publicada, no Diário Oficial

da União, a nomeação de Alfredo Gomes como reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para um mandato que tem início neste domingo (13) e se estende por 4 anos até outubro de 2023. A instituição aguardava a nomeação desde o mês de julho, quando enviou a lista tríplice para o Ministério da Educação (MEC). Alfredo foi eleito pela comunidade acadêmica em 2º turno, no fim de junho, com 7.949 votos (53,65%), sendo o mais votado em todas as categorias (estudantes, técnicos e docentes). O docente também encabeçou a lista enviada pelo Conselho Universitário para o Governo Federal, mas sua posse era incerta, já que metade das nomeações de reitores feitas pelo presidente Jair Bolsonaro não tem respeitado as escolhas da comunidade acadêmica. A lista tríplice enviada pelos conselhos universi-

Alfredo foi eleito pela comunidade acadêmica em 2º turno, no fim de junho tários não seguem necessariamente a ordem de votação da comunidade acadêmica. Na lista tríplice

enviada pela UFPE, por exemplo, apenas Alfredo Gomes concorrera no pleito. Em algumas listas enviadas ao MEC há nomes que receberam apenas um ou dois votos dentro do conselho universitário, mas nenhum da comunidade acadêmica. E muitas vezes esse nome foi o escolhido por Bolsonaro para assumir a reitoria, simplesmente por ser o mais próximo ideologicamente a ele. Bolsonaro já nomeou 12 reitores de instituições federais de ensino técnico ou superior. De acordo com levantamento realizado pelo The Inter-

cept, em seis vezes ele escolheu um candidato que figura em 2º ou 3º colocado na lista tríplice, casos das universidades federais do Ceará (UFC); Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em Minas Gerais; do Triângulo Mineiro (UFTM); e da Fronteira Sul (UFFS), no Paraná. Além desses, houve uma vez em que nomeou alguém que sequer estava na lista - o escolhido para reitor interino do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-RJ), no Rio de Janeiro, foi Maurício Aires Vieira, assessor do ministro Abraham Weintraub.

O reitor Alfredo Gomes tem 55 anos e é graduado em psicologia e mestre em sociologia (ambos pela UFPE), além de doutor em educação (PhD, pela Universidade de Bristol, no Reino Unido). Hoje ele é professor no Centro de Educação (CE) da UFPE. Ele foi eleito para diretor do

CE. O vice na sua chapa foi Moacyr Cunha, de 56 anos, graduado em engenharia civil (UFPE), mestre em hidráulica e saneamento (USP) e doutor em física e química ambientais (Instituto Politéquinico de Tolouse, na França). Ele é professor do Departamento de Oceanografia.

A UFPE A comunidade acadêmica da UFPE é composta por cerca de 50 mil pessoas, sendo 2.800 professores universitários, 58 educadores do Colégio de Aplicação (CAp), quatro mil servidores técnicos administrativos, além dos trabalhadores terceirizados. Entre os estudantes, são 430 adolescentes do CAp e mais de 30 mil estudantes de graduação ou pós-graduação. Além do campus Recife (Cidade Universitária), há também os campi de Vitória de Santo Antão (CAV) e de Caruaru (CAA). O tripé da universidade pública é ensino, pesquisa e extensão

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10 I CIDADES

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O jornal “A Voz da Favela” chega ao Recife COMUNICAÇÃO POPULAR. Jornal faz parte da Agência de Notícias da Favela e também tem edições na Bahia e Rio de Janeiro Laudenice Oliveira

Vanessa Gonzaga

um movimento “É inverso, ao invés do jornal ir para as co-

munidades, é ter uma produção feita por elas” é assim que Bruno Vieira, editor do impresso A Voz da Favela, define a missão do jornal, que passa a circular no Recife com 50 mil exemplares por mês, produzido com 25 pessoas de diversas periferias da cidade. O jornal é uma das iniciativas da Agência de Notícias das Favelas (ANF), que é maior impresso das favelas do país, com 100 mil exemplares circulando no estado do Rio de Janeiro e na cidade de Salvador (BA). O jornal é escrito por moradores das favelas de forma colaborativa, como vem acontecendo no Recife. No início do ano, um edital abriu vagas para o curso da Rede de Agentes Comunitários de Comunicação (RACC), que vem sendo realizado em parceria com o Grupo NeoEnergia e a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). A turma vai até dezembro, mas a intenção é abrir uma nova turma em 2020, para dar continuidade e ampliar o projeto. A turma tem aulas sobre técnicas e aspectos sociais relacionados à comunicação, como explica a jornalista e coordenadora pedagógica do projeto Laudenice Oliveira “Essa parte pedagógica ajuda a compor o repertório dos alunos

As aulas são semanais e trabalhamos com teoria e prática

para que eles possam fazer o jornal. O curso da RACC é a base orientadora para que eles sejam inseridos na produção de conteúdo para o jornal e o portal. As aulas são semanais e trabalhamos com teoria e prática’, explica. Os cursistas são responsáveis pelas quatro priLaudenice Oliveira

meiras edições do jornal, que são distribuídos em toda a cidade, e também pelas redes sociais e o site da Agência de Notícias da Favela, o www.anf.org.br É para construir outras narrativas sobre o que acontece nas periferias de todo o país que a iniciativa surge em 2001. Quase 20 anos depois, a experiência chega ao Recife com a missão de formar comunicadores populares na região metropolitana que possam falar das favelas com um olhar de dentro, abordando não apenas os temas comumente relacionados a esses lugares, como a violência, e o tráfico, mas como explica Laudenice “a ideia é formar esses comunicadores que vão dar vez e voz ao povo da favela, que não tem acesso

a esses meios de comunicação. É ali que está a massa trabalhadora do país. A Voz da Favela vai ser o espaço para falar da cultura, do esporte que rola ali na comunidade, das rádios que já têm ali, da música e também falar das violências que os atingem todos os dias”. Para Bruno, a iniciativa do jornal integra uma série de ações em torno da pauta da democratização da mídia e da comunicação comunitária não apenas num contexto local, mas mundial “Tendo em que vista que a gente tem uma mídia hegemônica que contribuiu para o cenário caótico político que nós estamos vivendo, é importantíssimo que a gente tenha estratégias para construir narrativas que se contraponham a esse discurso. “, conclui.


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ENTREVISTA l 11

“É ingenuidade julgar que o fascismo só aparece no século XXI se for parecido aos anos 1920”

AUTORITARISMO. Pesquisador aponta porque governo Bolsonaro pode ser considerado neofascista Divulgação

Monyse Ravena

anuel Loff é um hisM toriador português, professor da Universidade do Porto e investigador no Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Há mais de 20 anos, dedica-se a estudar as ditaduras da Era do Fascismo e os processos de construção social da memória da opressão ou das experiências da sua superação. BdF: Você tem caracterizado o governo Bolsonaro como neofascista. Quais as características de um governo com esse caráter? ML: O Governo Bolsonaro, no Brasil, assim como acontece em outros locais, caracteriza-se por ser resultado da degradação daquilo que chamamos de sistema liberal democrático. Eu diria que se caracteriza, em primeiro lugar, por uma perda da qualidade democrática, do funcionamento dos sistemas constitucionais, o que é muito visível no processo do Impeachment da presidenta Dilma e da forma como foi feita a gestão do presidente Temer, abrindo caminho à eleição de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que o principal candidato, o ex-presidente Lula, é preso e detido nas condições em que foi. Em segundo lugar, é caracterizado com Temer assumindo o poder, numa mobilização da força do Estado e das bases sociais de apoio ao bolsonarismo, contra os partidos da oposição e, sobretudo, contra os movimentos sociais e todos aqueles que possam or-

1930, que eu temo que seja o que estamos assistindo na atualidade, são transições autoritárias, passar daquilo que formalmente chamamos democracias para regimes ditatoriais. BdF: Na história dos regimes autoritários, também coexistem movimentos de resistência com características radicais, você observa isso acontecer hoje?

Setores do sistema político se deixaram contaminar pela própria lógica autoritária

sociais do Estado no sentido redistribuidor da riqueza. A degradação desse Estado social é paralela á degradação da qualidade democrática dos sistemas políticos. Setores do sistema político se deixaram contaminar pela própria lógica autoritária, reacionária e xenófoba que a extrema direita foi desenvolvendo. Isso é marcante no caso brasileiro, reforçada por uma nova lógica de regresso da religião, das igrejas neopetencostais e a sua intervenção política.

BdF: Qual seu percurso ganizar resistência contra intelectual para chegar essa nova solução política. aos estudos de regimes autoritários? BdF: Como você observa o crescimento da ex- ML: Eu comecei a estutrema direita de forma dar regimes autoritários da natureza fascista na global? Península Ibérica: o salaML: Eu apontaria 3 ou zarismo, em Portugal, e 4 grandes razões para o o Franquismo, na Espaavanço da direita neo- nha. A partir daí, procurei fascista à escala global. O comparar, com emergênmais clássico, que é a crise cias de outras ditaduras da financeira e econômica do mesma natureza na Eucapitalismo global, qua- ropa e nas Américas dos se deliberadamente pro- anos 1920, 30 e 40. Dessa vocada pelo sistema capi- forma, comecei a estudar talista de forma a deses- aquilo que tenho designatabilizar as forças sociais do como as transições aue acentuar a degradação toritárias. O que nós asdo conjunto de políticas sistimos nos anos 1920 e

ML: A resistência a esta deriva autoritária dos regimes de aparência liberal democrática em que vivemos, por comparação com outros períodos do passado, assume hoje uma forma menos orgânica. As esquerdas têm, hoje, uma feição muito diferente daquelas que tinham nos anos mais violentos do fascismo. O fato da luta armada ter praticamente desaparecido não significa que o Estado e a extrema direita tenham deixado de ser violentos. Mas, há uma menor disponibilidade social, política e ética, das classes populares para apoiar soluções dessa natureza, o que faz com que tenhamos que contar com movimentos sociais, que também têm perdido capacidade de mobilização. Eu acho que uma parte muito significativa da esquerda europeia e latino-americana ainda não assumiu claramente o surgimento de um novo fascismo, com uma nova roupagem. É ingenuidade julgar que o fascismo só aparece no século XXI se for parecido aos anos 1920.

Produtos de sociedades onde as ideologias da desigualdade ganharam força mos hoje nos regimes de extrema direita é a xenofobia. Como você observa isso?

ML: Eu creio que as formas de racismo, a fobia à chegada do outro e sua inserção na nossa sociedade, é produto de lógicas de organização da sociedade muito centradas na legitimação da desigualdade. No final do século XX, com as vitórias do neoliberalismo e do neoconservadorismo, voltaram a marcar a hegemonia das ideologias da desigualdade, a tese de que “o estado natural da sociedade humana é o da desigualdade”. Com a chegada de atores imigrantes, nós tendemos empurrá-los para a base da desigualdade. Quando falamos de migrações, não falamos apenas de estrangeiros que não falam nossa língua, falamos, também, de migrações internas, dentro dos mesmos países. A xenofobia, o receio e o ódio do outro são sempre produtos de sociedades onde as ideoloBdF: Uma das caracte- gias da desigualdade garísticas que percebe- nharam força.


12 |CULTURA

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Qual é o Bairro?

Foto legenda

Gianfrancesco Mello

Campina do Barreto Plenária no Centro de Formação Paulo Freire, no Assentamento Normandia, em Caruaru (PE). O Acampamento da Resistência, organizado para resistir à ordem de despejo contra o centro completa um mês na próxima segunda (14).

Foto: Matheus Alves

Agenda Cultural

Frank Pittoors Divulgação

C

Reprodução

Animage 2019

omeça nessa sexta (11) a 10ª edição do Festival Internacional de Animação de Pernambuco. O Animage atualiza o público com os melhores curtas e longas-metragens lançados no mundo a cada ano. A programação vai até o dia 20 é gratuita, exceto no Cinema São Luiz e Cinema da Fundaj, com preço único de R$ 5,00. A programação completa está no www.animagefestival.com/2019/

Panis et Forró

O

fim semana inicia no Armazém do Campo com o grupo Panis et Forró, que comemora o aniversário de um ano de forró setentista e baião vermelho com Ciço, Rafa, Lucas e Duardo. A programação é gratuita e inicia a partir das 19h no Armazém do Campo, que fica na Av. Martins de Barros, 387, Santo Antônio, Recife.

Cena CumpliCidades

C

om espetáculos até 23 de outubro, o Festival Cena CumpliCidades leva a dança contemporânea para os teatros de Recife e Olinda a preços populares. Com Retrópica (Mari Paula), Bolero (Maurício Flórez), Desvios (3 em Cena) e mais 17 apresentações nacionais e internacionais, os ingressos custam entre R$ 5,00 e R$10, 00. A programação completa está no Instagram, no @ ccumplicidades.

a zona norte de Recife, o rio BeN beribe é rodeado na margem esquerda, pelo bairro de Peixinhos, de

Olinda e na margem direita, pelo bairro de Campina do Barreto, o antigo Fundão de Dentro, do Recife na margem direita. O bairro antes de ser uma campina, era um sítio de coqueiros e mangueiras que passou a pertencer ao português conhecido como Seu Barreto, que era proprietário de toda área e seu entorno. Barreto vendia os frutos do seu sítio, porém, passou a dedicar-se a pecuária, desmatando a área para alimentar o gado com o capim que plantou, e assim, se deu o nome do bairro. O nome “Campina” vem do fato de terem existido na localidade várias campinas com bastante área verde para este fim. No início do século XX, a localidade foi povoada por palafitas, por pessoas em condição de pobreza em busca de moradia e dos benefícios que o rio proporcionaria para o trabalho e o transporte. O que posteriormente aconteceu com a inauguração do Matadouro Público de Peixinhos, em Olinda, no ano de 1919, que ficava do outro lado do rio. Já a partir da primeira metade da década de 1970 a ocupação já não se dá mais pela atração do rio, que nessa época já se encontrava bastante poluído e sim por outros setores da economia que criaram a relação periferia-centro e também por conta da luta pela construção de habitações populares que garantiram o direito à moradia das famílias. Hoje, o bairro abriga 9.484 habitantes, sendo 68,6% autodeclarados negros e com renda mensal média familiar de R$ 1.088,80.


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Variedades l 13

CULTURA | 13

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No Dia das Crianças, programação do Aguerézinho sugere experiências ao invés de presentes Thamyres Oliveira

INFÂNCIA. Programação contará com atividades gratuitas e acessíveis para pessoas com deficiência. Da Redação

este sábado (12), a N programação para o Dia das Crianças no Mu-

seu da Abolição vai festejar a infância, os mitos e convivências afro-brasileiras com uma tarde de atividades lúdicas. O evento Aguerézinho - O festejo dos contos, idealizado e realizado pela contadora de histórias e pedagoga Kemla Baptista, acontece a partir das 13h, no Museu da Abolição, bairro da Madalena, Zona Oeste do Recife. A primeira edição

Além da contação de histórias, evento terá oficinas de turbantes e abayomys.

do Aguerézinho aconteceu no Museu da Abolição, em outubro de 2018, para celebrar os 10 anos do Caçando Estórias, uma iniciativa de educação para a diversidade que convida as crianças

para desbravar o universo das tradições afro-brasileiras. A proposta vai de encontro a ideia comercial da data, invertendo a lógica consumista e a excessiva compra de brinquedos pelo compartilhamento de experiências, afetos e histórias. Nesta edição do evento, o Aguerézinho fará homenagens à ancestralidade feminina africana e à contri-

Evento é gratuito, tem classificação indicativa livre e contará com intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Foto: Thamyres Oliveira

buição das mulheres nas tradições orais afro-brasileiras e na literatura infantil com o livro “Omo Obá: Histórias de princesas”, escrito por Kiusam de Oliveira, que completa 10 anos de publicação da obra que recuperou os mitos de orixás femininos como princesas e os apresentou para as crianças. Kiusam dividirá o palco com Kemla para contar as histórias do livro. No Aguerézinho, além de ouvir histórias, as crianças fazem apresenta-

A proposta vai de encontro a ideia comercial da data, invertendo a lógica consumista

ções artísticas, conhecem brincadeiras tradicionais africanas e vivenciam diversas atividades lúdicas com a proposta de agregar e incluir, já que a programação será acessível à pessoa surda, pois contará com tradutores em Língua Brasileira de Sinais (Libras). “O projeto acredita no poder transformador da autoestima, no protagonismo infantil, respeito às diferenças, cooperação, afeto e confiança. E isto se expressa nas vivências criativas evento”, afirma Kemla Baptista. Outra atividade realizada será o “Pé de livros”. Sob a sombra dos baobás do jardim do Museu da Abolição, o público conhece obras que exaltam afro-brasilidades que, ao final do evento, são doadas ao acervo da Ludoteca do museu e à biblioteca do grupo Encantinho do Pina, que também é um dos convidados. Fundado em 2013 como baque mirim da Nação do Maracatu Encanto do Pina, o grupo oferece atividades educativas e artísticas no bairro da Zona Sul do Recife. Haverá também um circuito de vivências de Capoeira Angola, com a contramestra Gaby Conde; yoga, com Vida Rodrigues; turbantes e pintura corporal, com Luh Silva; tranças e penteados africanos com Lílian Mendonça; percussão corporal, com Fábio Curió; confecção de bonecas abayomy; pintura, desenho criativo e modelagem na argila. Para quem quiser saber detalhes e horários da atividade da programação, é só acompanhar a conta no Instagram do Caçando Estórias, o @cacandoestorias.


14 | VARIEDADES

ALIMENTO

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Amiga da Saúde

É SAÚDE

Relacionamento aberto pode dar certo? Hillary, 29 anos, enfermeira.

udo pode dar certo num relacionamento, desde que tenha T respeito entre as pessoas envolvidas e que as regras tenham sido previamente acordadas. Essas regras devem ser iguais para Divulgação

O que comer para aumentar a imunidade

Manter a imunidade equilibrada é mais fácil do que você imagina

ambos os(as) parceiros(as). É importante cuidar para que não se torne uma competição de quem tem mais encontros extraconjugais, o que traria sofrimento ao invés de prazer. Usar preservativo em todas as relações sexuais é um cuidado importante a ser tomado. Além disso, é necessário manter o diálogo vivo e ficar atento(a)s ao vínculo e à intimidade conjugal, se isso não está sendo abalado.

Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br

Gabriella Mesquita São Paulo (SP)

Você anda sentindo um cansaço excessivo, mais estresse que o normal, o cabelo está caindo ou as unhas estão fracas? Pode ser que sua imunidade esteja baixa e o seu corpo dizendo que é hora de mudar alguns hábitos na alimentação. Imunidade é o nome dado à capacidade do organismo de se defender de invasores, como vírus, bactérias ou fungos que possam causar doenças. Sabemos que a correria do dia a dia não é fácil e, para piorar, consumimos muitos alimentos ultraprocessados e industrializados que podem causar sérios problemas no organismo, inclusive no sistema imunológico. A boa notícia é que existem alguns alimentos poderosos que são capazes de ajudar a aumentar ou manter a imunidade equilibrada. “É importante incluir frutas cítricas como laranja, limão, acerola, abacaxi, por exemplo, que possuem um alto teor de vitamina C, que é um excelente antioxidante e benéfico para o sistema imunológico. Também, é importante incluir frutas vermelhas que promovem a saúde cardiovascular”, aponta a nutricionista Larissa Nunes. “Os probióticos também ajudam e são encontrados em iogurtes, kefir ou na kombucha. Além disso, vegetais verde-escuros como a couve, a chicória, o espinafre, o brócolis por exemplo, pois são ricos em diversos minerais e vitaminas importantes para a imunidade”, explica. A nutricionista ainda destaca a água como uma fonte poderosa no combate à baixa imunidade. Pequenas mudanças de hábitos e prestar mais atenção ao que comemos, é a receita para um organismo mais forte e capaz de se defender de possíveis invasores.

Nossa cozinha

Tomates recheados INGREDIENTES:

3 tomates grandes e maduros 3 dentes de alho grandes fatiados Queijo Azeite e sal a gosto Pimenta do reino 1 e 1/2 cebola pequena picada Coentro Manjericão Orégano

MODO DE PREPARO

Diva Baga

Pré-aqueça o forno a 200º celsios. Misture 1 colher e ½ de sopa de farinha de rosca, 1 colher de sopa de queijo ralado, manjericão e orégano e reserve. Retire a parte de cima do tomate com a faca entrando por dentro em formato de cone; Passe a faca devagar cortando a polpa sem retirar do tomate, coloque fatias de alho, queijo picado, coentro, pedacinhos de queijo, sal e pimenta. Em uma assadeira coloque os tomates um do lado do outro, regue com azeite e leve para o forno para assar durante 35 minutos. Quando os tomates estiverem assados, salpique a mistura de farinha, queijo e ervas e leve ao forno por 10 min, até que o queijo derreta. Pronto, uma delícia de entrada!


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Bruno, Richarlyson e os ídolos que escolhemos

Reprodução - Facebook - Poços de Caldas FC

PAPO ESPORTIVO. Ou melhor: o que queremos de alguém quando o escolhemos para ser ídolo do nosso time de futebol, vôlei ou qualquer outro esporte? Luiz Ferreira, do Rio de Janeiro

ondenado a 20 C anos e nove meses de prisão pelo assas-

sinato de Eliza Samudio, o goleiro Bruno fez a sua estreia com a camisa do Poços de Caldas FC neste final de semana, numa vitória por 2 a 0 sobre o Independente Juruaia, uma equipe amadora de Minas Gerais. A partida contou com a presença de pouco mais de 200 torcedores que não ligaram para as manifestações contrárias à sua contratação pelo Vulcão e tietaram bastante o goleiro. Durante a entrevista coletiva, Bruno se limitou a responder apenas perguntas sobre futebol e não falou sobre Eliza Samudio e sobre os crimes cometidos em 2010. Richarlyson tem 36 anos e foi campeão por

Vale lembrar que Richarlyson jamais se envolveu em grandes polêmicas, mas foi rejeitado por ser gay grandes clubes do futebol brasileiro ao longo de pouco mais de 15 anos de carreira. Atualmente sem clube, o ex-jogador de São Paulo, Atlético-MG, Guarani e Seleção Brasileira trabalha como auxiliar no time de vôlei feminino do SESI-Bauru a convite do técnico Anderson Rodrigues. Richarlyson sempre foi perseguido por ataques e piadas homofóficas sem nunca ter se assumido gay

publicamente. Em 2017, quando foi anunciado como reforço do Guarani para a disputa da Série B, a torcida do clube protestou com bombas e xingamentos nas redes sociais. Que ídolos estamos escolhendo? Ou melhor: o que queremos de al-

guém quando o escolhemos para ser ídolo do nosso time de futebol, vôlei ou qualquer outro esporte? E quando foi que passamos a achar “normal” alguém que foi condenado por homicídio triplamente qualificado ou por agressão doméstica e assédio se-

Reprodução - Facebook - Poços de Caldas FC

ESPORTES |15 xual voltar para os holofotes como se nada tivesse acontecido? Bruno tem sim direito a exercer sua profissão como qualquer outro cidadão brasileiro. A grande questão tratada aqui é que estamos falando de alguém que jamais demonstrou qualquer sinal de arrependimento dos crimes cometidos em 2010 e que sempre se colocou como “vítima”. Será que outros presos não poderiam ganhar uma oportunidade? Por que Bruno e não outros? E outras? No meio disso tudo, existe a falsa ilusão de “estar abrindo portas para um condenado pela justiça de se reerguer” ao mesmo tempo em que muitos outros seguem estigmatizados e esquecidos. Vale lembrar que Richarlyson jamais se envolveu em grandes polêmicas, mas foi rejeitado por ser gay sem nunca ter assumido publicamente. Lá nos Estados Unidos, Colin Kaepernick nunca mais conseguiu fazer parte de nenhum time da NFL depois de protestar contra a violência contra os negros durante o hino nacional. Ao mesmo tempo, jogadores com histórico comprovado de violência doméstica e assédio sexual continuam sendo contratados e tratados como grandes ídolos por torcedores e imprensa. A contratação do goleiro Bruno pelo Poços de Caldas FC e o esquecimento de outros nos dizem muito sobre a sociedade em que vivemos. É o retrato perfeito das aparências que gostamos de manter enquanto praticamos a nossa homofobia, o nosso machismo e o nosso preconceito sem sermos incomodados.


16 | ESPECIAL

NA GERAL CBSB

FernandoTorresCBF

Mulheres do Brasil nas areias

Seleção Olímpica em PE

Seleção sub-23 está A no Recife para dois N amistosos. Na quinta-feira enfrentou a Venezuela, nos Aflitos. E no domingo (13) encara o Japão, na Arena, às 16h. O principal destaque da equipe é o atacante Rodrygo (Real Madrid-ESP). Os ingressos variam de R$10 a R$50 e estão à venda no site da Futebol Card, no Náutico (Aflitos), na Carol Esportes (Areias), nos quiosques Arena Torcedor dos shoppings RioMar, Recife e Patteo, além da Lelle do shopping Camará. Ainda fora das Olimpíadas 2020, o Brasil se prepara de olho no pré-Olímpico de janeiro de 2020.

Filipe Spenser filipespenser@gmail.com

campeão! É campeão! É sempre bom lembrar. Após ganhar o campeonato pernambucano do ano passado, o Náutico conquista o título de campeão brasileiro da série C de 2019. Embora nunca devesse ter frequentado a Série C, é ótimo que quando o Náutico, por um acidente do percurso, a tenha disputado, saia dela com o título de campeão. Pessoalmente, acredito que o título da Série C não mereça uma estrela no escudo; o que é merecido, no entanto, é a festa que a torcida proporcionou na cidade. Aliás, chegou a hora da torcida se acostumar a comemorar títulos todos anos, como já ocorreu nos melhores anos do Timbu. Felizmente, o trabalho que vem sendo desenvolvido nos últimos dois anos dá boas esperanças: o caminho é de luz!

GOL DE PLACA Bom início de Pia

LucasFigueiredoCBF

Brasil x Nigéria

esta sexta-feira (11), pela primeira vez na história, uma equipe de mulheres atletas do futebol de areia vai representar o Brasil. A modalidade tem seleção masculina desde 1998, mas, só agora as mulheres tiveram o reconhecimento. A Seleção tem 10 convocadas, sendo apenas uma nordestina: Nayara, que joga pela União Desportiva Alagoana. O primeiro desafio delas é nos Jogos Mundiais de Praia, no Catar. O Brasil enfrenta Cabo Verde (às 12h desta sexta-feira), México (às 9h do domingo) e Espanha (às 12h da segunda-feira). Se for bem, faz semifinal e final nos dias 15 e 16.

É CAMPEÃO!

É

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Recife, 11 a 17 de outubro de 2019

este domingo (13) o N time principal da Seleção Brasileira entra em

campo contra a Nigéria, às 9h . Apesar de ser um amistoso, o time de Tite entra sob desconfiança da torcida. Nesta quinta-feira o Brasil jogou mal e ficou no 1x1 contra o Senegal, chegando à 3ª partida seguida sem vencer nos amistosos de setembro, empate com a Colômbia e derrota frente o Peru. O time é o mesmo que conquistou a Copa América em julho, tirando Everton “Cebolinha” e colocando Neymar no quarteto ofensivo ao lado de Philippe Coutinho, Roberto Firmino e Gabriel Jesus.

DanielaPorcelliCBF

sueca Pia SundhaA ge, que há dois meses comanda a Seleção

feminina de futebol, começou bem seu trabalho na Canarinha. Em quatro amistosos realizados, foram três vitórias e um empate. O principal resultado foi o 2x1 sobre a Inglaterra, equipe que em julho foi 4º lugar na Copa do Mundo e ocupa a mesma posição no Ranking FIFA, enquanto o Brasil é o 10º. Sundhage tem procurado “construir” um meio-campo, algo que não existia com o antigo treinador. A sueca também tem feito testes e variações táticas durante o jogo. O Brasil se prepara pensando nas Olimpíadas 2020.

GOL

CONTRA

Mais autoestima que futebol a última quarta-feira (9), véspera do jogo 100 de N Neymar com a camisa da Seleção Brasileira, o jogador brasileiro admitiu ter privilégios naquele am-

biente. Ele considera que “carrega nas costas” a Seleção e por isso tem direito a tratamento diferente. “Sempre fui um dos principais nomes e um dos que carregava tudo nas costas. Quando um atleta atinge um nível desse, é normal ter um tratamento diferente”, disse Neymar. No dia seguinte, vimos uma atuação apagada de Neymar, o empate em 1x1 contra o Senegal e a Seleção chega a mais um jogo sem vencer.

A HORA DO GARIMPO

AINDA FALTA

César Henrique brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br

Daniel Lamir daniel.lamir@brasildefato.com.br

em 2020 disputarão a Série C, 16 deles já sabem que estarão nela – só os futuros rebaixados da Série B ainda estão em 2019. O garimpo no mercado das séries C e D já começou. E temos a camisa mais atraente. Só que a direção decidiu que só vamos garimpar daqui a 20 dias. São dois erros: o 1º é achar que só pode contratar atleta com aval do treinador, ainda que o treinador seja demitido após 3 meses; e o 2º erro de Constantino é dar a si mesmo ao novo executivo de futebol, Nei Pandolfo, o prazo até o fim de outubro para anunciar treinador. Enquanto não garimpamos, resta torcer para surgir uma pedra preciosa no nosso quintal. Então, olhos atentos na Copa Pernambuco e no estadual sub-20.

Ou seja, é capaz, mas há uma “sujeirinha” que atrapalha a consistência. Mesmo no G4, o fato de não conseguir mais que duas vitórias consecutivas ao longo da Série B representa dois sinais de alerta. O primeiro é a dificuldade em “colar” no líder Bragantino. O segundo alerta é manter o 5º colocado à espreita. Chegou o momento do Sport disparar e se afastar ao máximo possível do insistente “blocão” dos sete times que estão quase empatados, entre o quinto e o décimo primeiro. Um mero empate na dimensão do “blocão” significa, necessariamente, algumas posições a menos na classificação. Engrenar é necessário.

ão dá para cometer o erro de 2018, quane fosse um motor, a campanha do Sport N do após a eliminação demoramos a iniS poderia ser considerada como potenciar a temporada seguinte. Dos 20 clubes que te, porém, com problemas no bico injetor.


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