BdF PE - Ed. 121

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PE UMA VISÂO POPULAR DO BRASIL E DO MUNDO Pernambuco

Recife, 05 a 12 de março de 2020

ano 3

e d iç ão 121

distribuição gratuita

Laura Pannack/Oxfam/Creative Commons

Elas trabalham mais e ganham menos


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2 | OPINIÃO

EDITORIAL

A violência é a mais dura expressão da desigualdade entre homens e mulheres Sandro Barros / PMO

8M. As mulheres vivem a violência no cotidiano dos espaços públicos e também no âmbito privado violência contra a A mulher aparece comumente associada aos

atos de violência física cometidos na esfera privada, contudo tal conceito é bem mais amplo do que isso. Os diversos atos de violência mostram-se a mais dura expressão da desigualdade entre homens e mulheres. O conjunto dos atos de violência que as mulheres sofrem, tendo como justificativa sua condição feminina ou a imposição da vontade baseada na desigualdade entre os sexos, são entendidos como violência sexista. Uma demonstração de poder e superioridade por parte dos homens, que se justifica por argumentos atrasados e morais, e pelo sentimento de propriedade exercido sobre as mu-

Basta de Violência Contra a Mulher A ação saindo do Mercado da Ribeira até a Prefeitura de Olinda.

A cada cinco mulheres no mundo, três já declararam ter sido vítimas de violência lheres. As mulheres vivem a violência no cotidiano dos espaços públicos e também no âmbito privado, em sua residência,

onde a maioria das ocorrência são praticadas por familiares, dentre eles, o próprio cônjuge. De acordo com o Mapa da Violência de 2015, em 79,1% dos atendimentos a mulheres em situação de violência, a agressão ocorre na residência da vítima, e 42,5% dos agressores são parceiros ou antigos parceiros da mulher Para além da brutalidade da violência física, a violência sexista expressa-se também como violência doméstica, psicológica, moral, patrimonial, sexual, pelo tráfico de mulheres, pelo assédio sexual. Segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)/ONU, a cada cinco mulheres no mun-

do três já declararam ter sido vítimas de violência. Atos de violência contra a mulher remontam a uma história antiga. As guerras entre povos e nações são caracterizadas por tais atos, como o estupro em série, a arma de povos conquistadores para menosprezar o inimigo, a violação ao corpo da mulher figurando como território a ser invadido. História recorrente mesmo em tempos de paz: em 2017, Pernambuco registrou 2.178 estupros em 2018 – 2.756 estupros e em 2019 – 2466 . Em nossa sociedade, a combinação entre machismo e racismo resulta em maior violência contra as mulheres negras, mas é importante lembrar que a violência contra a mulher negra e a população negra em geral tem origem no passado escravista do Brasil, onde a violência contra essa população era naturalizada e uma forma de controle sobre a vida e o trabalho. As mulheres negras, também por serem mais pobres, têm seus direitos básicos afetados, como o direito à moradia, saúde, educação, trabalho e renda, entre outros. Outro fator agravan-

Atos de violência contra a mulher remontam a uma história antiga te é a falta de acesso das mulheres negras à justiça e a lentidão no atendimento, que, para elas, se torna mais difícil. Denunciar implica muitas vezes dispor de um dia todo para ir a uma delegacia ou voltar várias vezes para dar seguimento à denúncia, buscar advogada na defensoria, ir ao Centro de Referência da Mulher. Além de ter de faltar ao trabalho, isso implica também ter recurso para pagar o transporte várias vezes nesse vai e vem. O racismo institucional, que se expressa na forma omissa como as mulheres negras são atendidas nos serviços públicos, é outro aspecto dessa violência.

Expediente Brasil de Fato PE O Brasil de Fato circula nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Paraíba e Bahia com edições regulares. Em Pernambuco está nas ruas todas às sextas-feiras com uma visão popular de Pernambuco, do Brasil e do Mundo. Página: brasildefatope.com.br | Email: pautape@brasildefato.com.br | Para anunciar: brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br | Telefone: 81. 96060173

Edição: Monyse Ravena | Redação: Vinícius Sobreira, Marcos Barbosa, Vanessa Gonzaga, Rani de Mendonça e Fátima Pereira. Articulista: Aristóteles Cardona | Colaboração: André Barreto, Bianca Almeida, PH Reinaux, Catarina de Angola | Administração: Iyalê Tahyrine Diagramação: Diva Braga | Revisão: Júlia Garcia | Tiragem: 20 mil exemplares Conselho Editorial: Alexandre Henrique Pires, Bruno Ribeiro, Carlos Veras, Doriel Barros, Eduardo Mara, Geraldo Soares, Henrique Gomes, Itamar Lages, Jaime Amorim, José Carlos de Oliveira, Fernando Melo, Fernando Lima, Laila Costa, Luiz Filho, Luiz Lourenzon, Marcelo Barros, Margareth Albuquerque (in memorian), Marluce Melo, Paulette Cavalcanti, Paulo de Souza Bezerra, Paulo Mansan, Pedro Lapa, Roberto Efrem Filho, Rogério Almeida, Rosa Sampaio, Sérgio Goaiana, Suzineide Rodrigues, Valmir Assis.


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Recife, 05 a 12 de março de 2020

Artigo

Tabagismo: caminhamos em direção ao passado Aristóteles Cardona Júnior*

ão é só na polítiN ca que o Brasil parece caminhar para trás,

retrocedendo em conquistas alcançadas durante décadas. Este parece ser um fenômeno observável em outros aspectos do nosso cotidiano. Por exemplo, estamos hoje, enquanto país, retrocedendo muitos anos em todos os avanços relacionados à queda do tabagismo dentro da nossa população. Podemos dizer que nas duas últimas décadas conseguimos diminuir consideravelmente o número de fumantes. Para isso, foram necessárias políticas pú-

blicas que deram conta de, por um lado, limitar a propaganda da indústria do tabaco e, por outro, alcançar as pessoas no sistema de saúde com o oferecimento de tratamentos, com ou sem medicamentos, para quem desejasse parar de fumar. Entretanto, dados mais recentes apontam para um cenário alarmante: o tabagismo volta a crescer, especialmente entre os mais jovens. Pesquisas mais recentes mostram que este aumento é maior na faixa etária entre 18 e 24 anos. Chamam a atenção também dados que apontam considerável crescimento em outras formas de tabagismo,

como os famosos narguilés e cigarros eletrônicos. Muitas vezes vendidos como menos prejudicais à saúde, estes dispositivos são agressivos à saúde sim e as propagandas que negam isto estão enganando a nossa população. Isso é facilmente perceptível ao constatarmos que uma sessão de narguilé pode representar uma exposição à componentes tóxicos equivalentes a cerca de 100 a 200 cigarros! Enquanto isso, o Governo Federal parece não ter a mínima preocupação com esta realidade. O ministro da Justiça Sergio Moro chegou a anunciar, no ano passado, que iria diminuir o imposto sobre os cigarros como forma de combate ao

Pesquisas recentes mostram aumento maior na faixa etária entre 18 e 24 anos” contrabando. Isso é absurdo e vai contra todas as evidências científicas que comprovam que esta política incentivaria ainda mais o hábito de fumar. É preciso aprofundar a análise do que pode estar ocorrendo. Sei que não há explicação fácil e

vários são os fatores que potencialmente interferem nesta situação. Mas sei também, e falo isso com propriedade, que não se trata de um discurso moralista. Os impactos negativos individuais e coletivos são enormes e as novas gerações precisam ter isso sempre evidente para que não tenhamos mais prejuízos na saúde, na economia e na consciência de nossa sociedade. E sem investimento público, ficamos à mercê das grandes indústrias que lucram com a nossa doença. *Aristóteles Cardona Júnior é Médico de Família no Sertão pernambucano, Professor da Univasf e militante da Frente Brasil Popular de Pernambuco.

ESPAÇo SINDICAL

Negociação FUP

M

esmo com o retorno às atividades, os petroleiros e petroleiras de todo o país seguem mobilizados e buscam um acordo no Tribunal Superior do Trabalho. A greve, que durou 20 dias, foi suspensa no dia 21 de fevereiro como condição para negociação com o ministro Ives Gandra. Lá, algumas conquistas como a readmissão dos trabalhadores da FAFEN, no Paraná, e a proibição de demissões em massa até o dia 06 de março foram acordadas. Agora, estão na pauta a revisão das multas, consideradas exorbitantes pelos sindicatos ligados à Federação Única dos Petroleiros (FUP), a transferência dos trabalhadores da FAFEN e o cumprimento de outras cláusulas do Acordo Coletivo.

Lutas de Março CUT

entrais sindicais, movimenC tos populares, partidos políticos e diversas entidades em

todo o país vem se preparando para um calendário de lutas no mês de março. A primeira data, o Dia Internacional de Luta das Mulheres (8), contará com atos públicos contra Bolsonaro, pela democracia e por mais direitos, organizados pelo movimento feminista em todo o Brasil. No dia 14, se completam dois anos do assassinato da vereadora Marielle Franco, data que será lembrada com atos pedindo por justiça. Já no dia 18, o tema é a Educação, defesa das estatais e do serviço público. A ação é uma resposta á mudanças nas Propostas de Emendas Constitucionais 186, 187 e 188, que podem radicalizar os cortes no funcionalismo público.


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4 | CULTURA

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Às vésperas do Dia Internacional de Luta das Mulheres, relembramos o protagonismo e a ousadia das heroínas de Tejucupapo Divulgação/Herança

MEMÓRIA. Em Pernambuco, historicamente, luta é palavra feminina Vanessa Gonzaga

d e Pernambuco, É o primeiro registro da participação de mu-

lheres num conflito armado. A data não se sabe ao certo, mas foi por volta do dia 23 de abril de 1646 que cerca de 600 holandeses, com baixas após outras batalhas no Recife, com fome e sem muitas perspectivas de voltar ao país natal saíram pelo Forte Orange, na Ilha de Itamaracá, com destino à comunidade de Tejucupapo, hoje localizada no município de Goiana, na tentativa de roubar alimentos e outros mantimentos. Os holandeses acreditavam que o domingo seria o melhor dia para a investida, já que era dia de feira no Recife, local onde os homens da

comunidade vendiam parte da produção e da pesca. Não demorou muito para que a comunidade ficasse sabendo do ataque. A reação foi organizada pelas mulheres, sendo as principais lideranças Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina. Enquanto os pouco homens que ficaram na comunidade se preparavam para o combate a tiros, as mulheres ferveram água com pimenta nos seus tachos e panelas de barro e esperaram os holandeses nas trincheiras que haviam construído. A inteligência e a combatividade das mulheres foram o elemento surpresa na batalha, já que os holandeses não esperavam resistência no ataque. Ao fim do dia, depois de horas e litros de água fervente, os estrangeiros foram derrotados com uma baixa de quase metade da quantidade que chegou até a batalha. Assim, as heroínas

mas o que movimentava mesmo a comunidade era o teatro” explica. A peça a qual Helena se refere é organizada e encenada na própria comunidade, na suposta data do ocorrido de 1646, mas o espetáculo foi descontinuado em 2014 por falta de incentivo dos órgãos públicos. A persistência na manutenção da história é uma resposta ao apagamento sistemático feito pelos europeus, já que há poucos registros oficiais da época e também uma forma de fortalecer a or-

ganização das mulheres, seja na luta pela sobrevivência, como foi em Tejucupapo; seja na atual luta contra os retrocessos e por mais direitos; ou seja pelo direito de escrever sua própria história, como relaciona Helena “é uma questão do lugar da mulher na história, na luta por liberdade, e pela revolução, no sentido de transformar a sociedade. Eu ligo isso [as heroínas] muito a luta feminista nesse sentido de ter um lugar de onde contar a história”, conclui. Gegê Lima

A memória está muito viva para as pessoas de Tejucupapo pernambucanas marcaram a história da resistência contra a invasão holandesa no estado. Longe da história “oficial”, dos livros e grandes comemorações, o episódio é constantemente revivido através da cultura popular. A batalha motivou filmes, documentários, música e foi também estudado na Universidade. A jornalista Helena Dias estudou a comunidade e lá, percebeu um esforço coletivo do povo para manter a história viva “A memória está muito viva para as pessoas de Tejucupapo. Elas conhecem a história, até mesmo os mais jovens,

HERANÇA

ruto de um Trabalho de Conclusão de CurF so do curso de jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco em 2016, o proje-

to experimental de Helena Dias e Kamyla Gomes, Herança, reúne perspectivas sobre o passado e o presente das mulheres de Tejucupapo, retomando histórias relacionadas à batalha e traçando um paralelo com as mulheres da comunidade, dando destaque para as histórias de Selma da Silva, Severina Brito de Oliveira, Eliane Santana de Albuquerque e Maria da Glória Rabelo, as mulheres da comunidade que interpretavam, respectivamente, Maria Camarão, Joaquina, Maria Quitéria e Maria Clara na peça teatral da comunidade. Além de documentar parte da história das mulheres, o projeto é uma forma de dar visibilidade e valorizar a história e o esforço da comunidade em manter sua história viva. Quem se interessou pode conferir o projeto no http://www.unicap.br/webjornalismo/ heranca/site/


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PERNAMBUCO l 5

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No Brasil, mulheres têm maiores dificuldades de inserção no mercado de trabalho, maiores taxas de desemprego e menor salário, afirma Dieese Dieese

DESIGUAL. Ainda segundo o DIEESE, o mercado de trabalho é estruturalmente desigual. Os números e a realidade se apresentam de formas diferentes para os homens e para as mulheres Rani de Mendonça

erça-feira, 5h30 da T manhã Rosália acorda. Às 6h já está terminan-

do de tomar o café da manhã que preparou para ela, a filha, a neta e o esposo. Antes de sair para o ponto de ônibus, a diarista ajusta alguma outra coisa que tenha ficado de pendência do dia anterior, algumas vezes que lava alguns pratos e outras vezes estende ou lava roupas e segue para a missão do dia. 1h20 depois que acordou, Rosália consegue sair do bairro de Peixinhos, em Olinda e se acomodar em um ônibus que vai deixa-la no bairro do Espinheiro, local em que vai trabalhar especificamente neste dia. Rosália começa a trabalhar na limpeza do local geralmente às 7h30, sem hora para acabar. Na terça-feira é assim, mas o local de trabalho de Rosália muda todos os dias. Ela faz faxina em várias casas do Recife, todo dia uma diferente. “Eu saio quan-

do termino de fazer toda a limpeza, então depende muito. Tem dia que consigo voltar para casa 17h, 18h. Mas, teve vezes de sair da faxina às 21h”, conta. Em uma outra parte do Recife, Sheyla Santos, técnica em edificações recém demitida de uma construtora, acorda sob a angústia de como fará para voltar a algum posto de trabalho. Sheyla trabalhava até setembro do ano passado como coordenadora de produção e foi desligada sob o argumento de crise econômica no setor da construção civil. De lá para cá, ela tem convivido com dificuldades práticas para voltar ao mercado de trabalho. “É muito desesperador ser uma mulher negra, mãe de três filhas, que vive de aluguel, sem perspectiva de emprego. Além de conviver com a escassez das vagas, convivemos com os rótulos de gênero, porque as pessoas julgam pelo gênero e não pela capacidade. Recentemente fui a uma entrevista e eles quando disse que tinha três filhos, me perguntaram

“com quem você vai deixar suas filhas?”. Essas coisas são perguntadas aos homens?”, questiona. Rosália de Oliveira, 50, e Sheyla traduzem a realidade bastante comum entre as mulheres no Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do segundo trimestre de 2019, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação é de 11,8%, o que representa quase 12,5 milhões de pessoas. Outro dado relevante é que 93,8

milhões de pessoas estão dentro do que é classificada como população ocupada, segmento que cresceu 0,5% em relação ao trimestre anterior. Jackeline Natal, supervisora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), atribui este fenômeno a uma série de fatores que têm acontecido no país. “Depois de dois anos de recessão e três anos de baixo crescimento econômico, somado a um governo de cunho liberal, que

está reduzindo o tamanho das políticas sociais e da distribuição de renda, que está rompendo com o pacto do salário mínimo e que advoga um discurso de que é melhor ter trabalho do que direitos, que também é reafirmado pelo conjunto dos empresários, temos uma alteração no patamar do desemprego, embora entre 2018 e 2019 tenha reduzido 0,6%, segundo o IBGE, o que aumenta o é nível de ocupação por conta própria.”, reitera. Ainda segundo as análises do DIEESE, o mercado de trabalho é estruturalmente desigual. Os números e a realidade se apresentam de formas diferentes para os homens e para as mulheres. “Mesmo nos momentos de crescimento econômico, quando se tem o aumento da renda de trabalho, da formalização, o que chamamos de momento de estruturação, o mercado mantém sua estrutura de desigualdade. Sistematicamente as mulheres têm maiores dificuldades de inserção, maiores taxas de desemprego e menor rendimento.”, reflete Jackeline. Anúncio


6 | ENTREVISTA

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Brasil de Fato PE

“Tem mulher sim no Comando Nacional da Greve dos petroleiros” GREVE. O Brasil de Fato conversou com Cibele Vieira, petroleira, que passou 23 dias ocupando Edifício sede da Petrobras

FUP

Vanessa Gonzaga

m todo o país, as muE lheres petroleiras representam 16% da cate-

goria. Enfrentando o machismo no trabalho, no mundo sindical e membro do Comando Nacional da Greve dos petroleiros, Cibele Vieira conversou com o Brasil de Fato, fazendo um balanço da greve histórica da categoria e elencando desafios.

Infelizmente as mulheres ainda crescem aprendendo que o espaço de tomada de decisão não é delas

Brasil de Fato - Cibele, como você avalia a greve, tendo em vista o papel da ocupação no Edise e também seu lugar como mulher petroleira nas mesas de é da gente representando os trabalhadores numa negociação? mesa de reunião, aguarCibele Vieira - A greve dando para ter a negociafoi altamente vitoriosa no ção. Tem nisso um ganho sentido de que nós saímos grande de respeitar as orde um descumprimento ganizações coletivas dos Infelizcompleto do Acordo Co- trabalhadores. mente as mulheres ainda letivo, com o pessoal da crescem aprendendo que Fafen sabendo da venda o espaço de tomada de da unidade pela televisão. decisão não é delas. AinA gente está denunciando o esvaziamento de qual- da estamos numa cultuquer espaço negocial co- ra bem machista, só que letivo, porque isso já tem felizmente isso tem sido ocorrido desde o ano pas- cada vez mais questionasado, e aí por isso fizemos do. Eu acho que a minha a ocupação no Edise, que participação no movia simbologia ali colocada mento sindical está dentro desse contexto. É uma

BdF- Qual o desafio no combate ao machismo no local de trabalho e também no sindicalismo? Cibele - O desafio de lutar contra o machismo no meio sindical, primeiro de tudo, é mostrar que não é mimimi e que é sim uma questão e que há uma diferença de tratamento. Quando uma mulher vai falar na reunião, a galera presta menos atenção. A mulher chega no sindicato e qualquer coisa que ela fala é “tá vendo, mais uma mulher falando bescategoria cuja a maioria teira”. Enquanto tem são homens, são 16% de muitos homens que tammulheres na base da ca- bém chegam desprepategoria petroleira. A gen- rados e precisam se forte vem de um processo de mar no movimento, mas conseguir que fossem co- com a mulher a cobrança locadas cotas na direção é outra, né. Tem mulher da FUP. sim no Comando Nacional de Greve dos petroBdF- Como você che- leiros. Foi muito positivo gou até a Petrobrás? e muitas mulheres olhanao mundo sindical? do e falando “nossa, tem uma mulher lá no CoCibele - Eu desde a ado- mando Nacional de Grelescência militava com ve dos petroleiros, então, ações voluntárias em se ela consegue estar lá, ONG, sempre tinha essa eu posso sim ser sindicaquestão da preocupação lista, ser operária, ser pedo outro, e aí eu optei em troleira, eu posso sim esfazer faculdade de ciên- tar na luta”. cias sociais. Eu entrei na Petrobras em novembro BdF - A greve foi hisde 2002 e em 2003 eu co- tórica tanto no senmecei a faculdade, então tido da mobilização, eu como estudante de so- quanto no avanço das ciais já tinha uma inclina- pautas. Mas, pra você, ção pro movimento sindi- qual foi o maior gancal, só que eu terminei a ho? faculdade e estava na expectativa de mestrado, Cibele - Em relação às mas aí o pessoal do sin- demissões da Fafen, fodicato já vinha tentando ram feitas 144 demissões me aproximar e eu optei que foram revertidas e as por desistir do mestrado demissões foram suspenporque queria uma coisa sas até o dia 06 de março. mais prática, mais direta O principal é que mostra e mais efetiva e entrei de a eles que não se pode favez na direção do sindica- zer as coisas de qualquer to. Tinha uma predispo- jeito. Eles tem que respeisição que foi sendo cons- tar os espaços coletivos. truída ao longo do tempo. A gente enfrentou uma

ofensiva muito forte da gestão da empresa, ameaçadora; a gente enfrentou o Judiciário que no primeiro momento veio com tudo pra cima da greve, mesmo assim, os trabalhadores e trabalhadoras continuaram seguindo a orientação do sindicato. Foi uma adesão muito grande nas unidades em greve, foi um movimento muito bonito. Na luta da pequenas conquistas, você vai conseguindo grandes vitórias, porque você vai se somando, vai se fortalecendo, vai acreditando que é capaz. Você sai de uma reação de medo para uma posição de enfrentamento. BdF - Algumas conquistas importantes foram alcançadas, mas ainda existem outros desafios. Quais os próximos passos da categoria? Cibele - Em alguns pontos, a negociação continua por mais 30 dias. Tá aí também uma das conquistas dessa greve no Congresso. Agora vai ter um projeto de lei que fala que as estatais não podem vender ativos sem passar pelo Congresso. Foi um projeto de lei em relação a isso e foi uma conquista também. Agora a gente tem que conseguir criar um ambiente favorável para votação desse projeto e que a gente consiga avançar nesse sentido. Paralelo a isso, vão continuar 30 dias de negociação de outros pontos corporativos e a gente vai continuar tendo mobilizações na base. Não vamos retomar a greve neste momento, até porque a gente está num processo negocial, mas a categoria segue mobilizada.


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ESPORTES | 7

Recife, 05 a 12 de março de 2020

NA GERAL

DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES NO RECIFE

NA GERAL Toshifumi Kitamura/AFP

Preocupação em Tóquio esde o surgimento do CoroD navírus, o Comitê Organizador das Olimpíadas de Tóquio des-

cartava a possibilidade de adiar os jogos. Tudo indica que o posicionamento vem mudando, após seis mortes causadas pelo vírus no Japão. Seiko Hashimoto, ex-atleta e ministra dos Jogos Olímpicos no Japão, declarou nesta terça (03) que o Comitê vem estudando a possibilidade de adiamento em alguns meses, mas garantindo que a competição aconteça neste ano.

FEMINISTAS CONTRA A VIOLÊNCIA DO ESTADO RACISTA, PATRIARCAL E CAPITALISTA

Falta algo a tentativa de garantir a reaN lização da Copa do Mundo de Futebol Feminino no Brasil em

Douglas Shineidr/AFP

vice-presidências da CBF.

2023, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) enviou uma delegação à União das Associações Europeias de Futebol (Uefa) para fazer uma apresentação do que o país tem a oferecer para a realização do mundial, mas faltou algo: a delegação não tinha nenhuma mulher, reflexo da ausência delas nos 12 cargos de diretoria e oito

Classificado Caio Falcão/CNC

o Náutico segue o campeonato na quarta posição.

vitória do Santa Cruz A sobre o Náutico nesse domingo (01) foi essen-

cial para manter o tricolor em alto nível da disputa. Os dois gols no clássico garantiram uma vaga direta nas semifinais do Pernambucano. Agora, o time só pode ser alcançado pelo Salgueiro, que está no segundo lugar na tabela, mas ainda assim, sendo líder o vice, não precisará disputar as quartas. Já

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Mulheres contra o Fascismo


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