BdF PE - Ed. 124

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ENTREVISTA |06

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SÉRGIO FERRAZ

Eleitores que não atualizaram cadastro biométrico podem votar na eleição deste ano

Reprodução/TVU Recife

BIOMETRIA

Cientista político projeta cenário eleitoral e analisa impacto da pandemia na disputa

PE UMA VISÂO POPULAR DO BRASIL E DO MUNDO Pernambuco

Recife, 06 a 13 de novembro de 2020

ano 4

edição 124

distribuição gratuita

PERNAMBUCO |05 ELEIÇÕES

Confira as principais propostas dos candidatos à prefeitura do Recife

CIDADES |07 FRUTICULTURA

No Sertão, trabalhadores da fruticultura enfrentam instabilidade financeira

ESPORTES | 8 FUTEBOL

Paulo Lopes/Prefeitura do Recife

Recife se prepara para escolher novos representantes

Inicia neste fim de semana a semifinal do Brasileirão Feminino


2 | OPINIÃO

Recife, 06 a 13 de novembro de 2020

Brasil de Fato PE

EDITORIAL

Na batalha das ideias nas ruas e nas redes Rani de Mendonça

RETOMADA. O Brasil de Fato Pernambuco volta com sua edição semanal impressa epois de quase oito D meses, o Brasil de Fato Pernambuco volta

com sua edição semanal impressa. O motivo da suspensão do nosso jornal todos sabem: a pandemia de covid-19, que já causou mais de 160 mil mortes no Brasil. Nem vidas, nem a economia foram poupadas. Agora, o Brasil segue com um presidente que não tem vontade política para combater a pandemia e que está aprovando leis e decretos que pioram a situação econômica do país. Em outubro, o desemprego bateu recorde no Brasil, com 14 milhões de pessoas desempregadas, de acordo com a Pnad Covid19, versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Esse contingente de desempregados agora depende de políticas como o Auxílio Emergencial, que foi aprovada pela oposição do governo na Câmara de Deputados como uma vitória para que a população mais pobre atravessasse esse momento com condições mínimas para viver, mas que já teve seu valor reduzido pela metade pelo Go-

Retornamos com a missão de fazer circular mais um instrumento de comunicação popular verno Federal, que também anunciou que o programa tem data para acabar. Agora, sem os empregos prometidos pela reforma trabalhista e sem renda, a população volta a enfrentar um fantasma antigo: a fome, fruto do crescimento da desigualdade social e do aumento do preço dos alimentos. Nem o meio ambiente escapou do cenário de destruição. A Amazônia, o Pantanal e o Cerrado vem sendo cons-

tantemente atacados com incêndios criminosos para aumentar a área de pasto para gado e o plantio de commodities pelo agronegócio. Se essa parece uma realidade distante, aqui, em Pernambuco, a nossa Caatinga também vem sendo destruída, tendo sido registradas mais de 250 ocorrências de incêndio em vegetação nativa só no sertão

do Pajeú, de acordo com o Corpo de Bombeiros. Também vivemos uma onda conservadora, com direito á manifestação no Recife contra o aborto legal em uma criança vítima de estupro, com decretos que querem tornar difícil a interrupção da gravidez nesse e em outros casos já amparados legalmente; a negação da ciência, com uso indiscriminado de remédios que comprovadamente não curam a covid-19 e a contracampanha em torno de uma possível vacina contra o coronavírus, que ainda não foi aprovada mas já está sendo atacada pelo presidente. Voltamos às ruas nesse momento tão delicado e neste cenário, retornamos com a missão de fazer circular mais um instrumento de comunicação popular, construído coletivamente e que se pauta pelas necessidades do povo pernambucano. Durante todo esse período, continuamos a nosso traba-

Nem vidas, nem a economia foram poupadas lho através do nosso site, o www.brasildefatope. com.br e também pelas redes sociais, mas o retorno às ruas urge com a necessidade de manter a população do estado com acesso direto à uma visão popular de Pernambuco, do Brasil e do mundo. Por ora, o nosso plano de retomada gradual levará em consideração todas as medidas sanitárias recomendadas, para que cada exemplar chegue de forma segura aos nossos leitores e leitoras. É o Brasil de Fato Pernambuco mais uma vez nas ruas e nas redes!

Expediente: PERNAMBUCO

O Brasil de Fato circula nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Paraíba e Bahia com edições regulares. Em Pernambuco está nas ruas todas às sextas-feiras com uma visão popular de Pernambuco, do Brasil e do Mundo.

Página: brasildefatope.com.br | Email: pautape@brasildefato.com.br | Para anunciar: brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br | Telefone: 81. 96060173

Edição: Monyse Ravena e Vanessa Gonzaga | Redação: Vinícius Sobreira, Rani de Mendonça e Fátima Pereira,Júlia Vasconcelos . Articulista: Aristóteles Cardona | Colaboração: André Barreto, Bianca Almeida, PH Reinaux, Catarina de Angola | Administração: Iyalê Tahyrine Diagramação: Diva Braga | Revisão: Júlia Garcia | Tiragem: 20 mil exemplares Conselho Editorial: Alexandre Henrique Pires, Bruno Ribeiro, Carlos Veras, Doriel Barros, Eduardo Mara, Geraldo Soares, Henrique Gomes, Itamar Lages, Jaime Amorim, José Carlos de Oliveira, Fernando Melo, Fernando Lima, Laila Costa, Luiz Filho, Luiz Lourenzon, Marcelo Barros, Margareth Albuquerque (in memorian), Marluce Melo, Paulette Cavalcanti, Paulo de Souza Bezerra, Paulo Mansan, Pedro Lapa, Roberto Efrem Filho, Rogério Almeida, Rosa Sampaio, Sérgio Goaiana, Suzineide Rodrigues, Valmir Assis.


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Recife, 06 a 13 de novembro de 2020

É cedo para falar em uma segunda onda? Aristóteles Cardona Júnior*

stamos distantes E ainda de poder falar em fim da pande-

mia de Covid-19 no Brasil e no mundo. Infelizmente não era disso que queria tratar neste momento de retomada da publicação semanal do nosso jornal Brasil de Fato, mas é preciso lidar com a realidade dos fatos. E estes, os fatos, nos reforçam o que afirmei no início: estamos longe ainda de falar da pandemia como algo que ficou para trás. A Covid-19 é uma doença sobre a qual seguimos tentando conhecer melhor. Há muito do seus mecanismos de ação, nos indivíduação

Divulg

os e nas populações, que precisa ser melhor esclarecido. Entretanto, diferente do início do ano, já acumulamos certos conhecimentos que devem nos permitir agir de forma antecipada no intuito de evitar mortes e sofrimento desnecessários. Antes de chegar ao Brasil, acompanhamos todo o rebuliço que o novo Coronavírus provocou na Europa. Apesar do negacionismo de Bolsonaro e de boa parte de seu governo, este conhecimento sobre os estragos provocados pela doença nas bandas do velho mundo permitiu que os estados e municípios pudessem de alguma forma se preparar para o que vinha. E é

Sequer saímos da primeira onda exatamente nesta situação que nos encontramos agora novamente. Temos acompanhado nas últimas semanas não somente um aumento no número de casos, como também de internamentos e mortes em boa parte da Europa. Neste momento, já são vários os países que anunciam medidas mais duras de isola-

mento e distanciamento social para conter a chamada segunda onda da pandemia por lá. Já são 14 países, até agora, que anunciaram tais ações. Por lá, a situação é encarada com a seriedade que a vida das pessoas merecem. No que nos cabe, aqui no país, ainda é cedo para falar em uma segunda onda. Em primeiro lugar, por uma questão um tanto óbvia: sequer saímos da primeira onda. E isso, de fato, torna a nossa situação bem peculiar para conseguir cravar qualquer que seja o cenário das próximas semanas. Porém, numa tentativa de apontar possíveis quadros, diria hoje que voltaremos a sofrer, enquanto país, ainda mais por conta da

Covid-19. É evidente que não se trata de uma mera previsão e devemos seguir acompanhando e analisando os cenários para melhor entender o que vem pela frente. Porém precisamos nos preparar. Não dá para normalizar sequer o patamar das centenas de mortes diárias que ainda enfrentamos. A pandemia ainda não acabou e, provavelmente, ainda teremos que lidar com os seus impactos por um bom tempo. Pela vida dos brasileiros e das brasileiras. *Aristóteles Cardona Júnior é Médico de Família no Sertão pernambucano, Professor da Univasf e militante da Frente Brasil Popular de Pernambuco.

Eleitores que não atualizaram cadastro biométrico podem votar na eleição deste ano

Da Redação, SP

Eleitores terão de regularizar sua leitores que não situação depois das atualizaram cadastro biométrico podem Eleições Municipais

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votar na eleição deste ano. Devido a pandemia, Tribunal Superior Eleitoral suspendeu cancelamentos de títulos para quem não fez revisão do documento. O prazo para tirar o título de eleitor ou regularizar o documento se encerrou no mês de maio. Agora não há mais jeito para participar das

eleições de 2020 quem não está devidamente formalizado nos registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No entanto, há um grupo de eleitores que pode imaginar que estão irregulares mas na verdade não estão. Devido à pandemia do coronavírus, o TSE determinou que não estão cancelados os

títulos de quem não fez o recadastramento biométrico. Foi realizada uma atualização da biometria dos eleitores desde o ano passado. Segundo o TSE, 17 estados (AC, AM, BA, CE, ES, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RS, SC, SP e RO) estavam envolvidos nesse processo. O levantamento realizado pelo Tribunal, aponta que mais de 2,5 milhões de brasileiros deixarão de ter os títulos cancelados com essa medida. O TSE adverte que as inscrições que foram reabilitadas para votação

deste ano voltarão a ser canceladas no cadastro eleitoral após a realização do pleito. Isso significa que os eleitores terão de regularizar sua situação depois das Divulgação

Eleições Municipais de 2020. Você pode conferir como está sua situação eleitoral no www.justicaeleitoral.jus.br/eleicoes, site que foi disponibilizado pelo TSE.

Título Digital

e-Título, aplicativo desenvolvido pelo TribuO nal Superior Eleitoral (TSE) que consiste na via digital do título eleitoral pode facilitar ainda mais a vida do eleitor no dia da votação. Com ele, é possível justificar a ausência no dia das eleições e também emitir as certidões de quitação e de crimes eleitorais. O aplicativo está disponível nas lojas de aplicativo somente para quem realizou o cadastramento biométrico.


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Confira as principais propostas dos candidatos à prefeitura do Recife SÉRIE ELEIÇÕES 2020.

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Alberto Feitosa Vouchers para 01 (PSC) educação, Feitosa é coronel da Poisenção lícia Militar, tem 57 anos e está em seu 4º mandato de IPTU, como deputado estadu05 04 al. Entre suas principais armamento Candidatos propostas estão a milida educação para Guarda tarização pública, especialmen- à prefeitura Civil e isenção te nas “comunidades com histórico de conflide IPTU tos”, como afirmou; codo Recife locar instituições religiofiguram nos sas para gerir as políticas públicas de assistência planos de social na cidade; investir em tecnologia nos serlas públicas e extinguir violências sexuais congoverno viços de saúde; reivindi- vil e instalação de câme- autarquias como CTTU, tra crianças e adolesras e drones com reco-

car responsabilidade das obras de navegabilidade Vinícius Sobreira, – hoje sob gestão do Gode Recife (PE) verno do Estado – e que Brasil de Fato Per- estão paradas. nambuco publicará nesta e na próxima edição uma série com sínteCarlos Andrade ses das entrevistas feitas com os candidatos à Pre(PSL) feitura do Recife no programa Opinião Pernambuco, da TV Universitária O advogado Carlos AnRecife (canal 11). A saba- drade Lima se apresentina é realizada por Valdir ta como liberal e admiOliveira, exibida na TVU rador do atual governo às 19h30 e no dia seguin- “Votei e sou apoiador do te na Rádio Universitária presidente Bolsonaro”, 99,9 FM, às 17h. O pro- afirma. As propostas do grama também fica dis- candidato são dar vouponível no Youtube. Dos chers para crianças estu11 prefeituráveis, publi- darem temporariamencamos aqui as declara- te em instituições privações feitas por Thiago das; investir em esportes Santos (UP), Carlos An- náuticos e restaurantes drade (PSL), Charbel Ma- nas margens do Capibaroun (Novo), Cláudia Ri- ribe; permitir o porte de beiro (PSTU) e Alberto armas para a Guarda CiFeitosa (PSC). Confira:

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nhecimento facial e par- Emlurb e Urb, transfor- centes. cerias com o setor priva- mando-as em Parceria do para revitalizar e ilu- Público Privado (PPP) Cláudia Ribeiro minar áreas abandona(PSTU) das. Educadora de rede púThiago Santos blica Municipal, CláuCharbel Maroun (UP) dia Ribeiro pretende au(Novo) mentar os impostos soThiago Santos, do Uni- bre os mais ricos para Charbel é nascido em dade Popular (UP), tem garantir água, luz, IPTU Belo Horizonte e mu- 35 anos, é advogado e e transporte gratuito dou-se para o Recife após pós-graduado em direi- para os mais pobres; reser aprovado no concur- to do trabalho. Durante duzir salários de prefeito so de procurador muni- sabatina o candidato cri- e vice, além dos salários cipal do Recife. O can- ticou a gestão do PSB na dos vereadores; criar a didato deixou claro que relação com servidores “Lei de Responsabilidapretende envolver a ini- como na forma de gerir de Social” para desticiativa privada nos ser- serviços públicos, pro- nar recursos para polítiviços prestados pela pre- pôs uma auditoria da dí- cas de moradia, alimenfeitura, reduzindo o nú- vida pública do Recife e tação, saúde, educação mero de servidores pú- o fim de contratos de ter- e saneamento de qualiblicos, pagando os ser- ceirização e mais con- dade. Uma das suas proviços a serem utilizados cursos públicos. Ele des- postas também é isenpela população na rede tacou a necessidade de tar os desempregados privada de saúde, con- zerar a fila de creches e de pagar energia, água, tratar instituições priva- de ter educação sexu- IPTU e transporte. das para gerir as esco- al nas escolas para evitar

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Por mais representatividade, mulheres negras constroem estratégias para eleições ELEIÇÕES 2020. Campanhas de incentivo às candidaturas e disputa pelo fundo eleitoral pode garantir mais mulheres negras nos cargos Vinícius Sobreira,

Marcello Casal Jr-Agência Brasil

Na Câmara Federal, apenas 15% das cadeiras são ocupadas por mulheres e 24,3% são ocupadas por negros

os últimos anos têm N crescido a mobilização e as campanhas para

que o eleitorado vote em candidaturas que representem populações historicamente excluídas do poder institucional no país. As mulheres e a população negra são exemplos de grupos populacionais majoritários, mas que têm baixa representação na política institucional. De acordo com o IBGE, 55% dos brasileiros se declaravam negros (pretos e pardos), mesma proporção de mulheres (51,5%). Mas na Câmara Federal, apenas 15% das cadeiras são ocupadas por mulheres e 24,3% são ocupadas por negros. O Brasil tem mais de 50 milhões de mulheres negras. Apesar de serem mais de 25% da população, elas ocupam apenas 13 (ou 2,5%) das 513 cadeiras na Câmara Federal. Entre os 25 deputados federais pernambucanos, apenas uma é mulher, Marília Arraes (PT), que é

Apesar de serem mais de 25% da população, elas ocupam apenas 2,5% da Câmara Federal branca. Entre os 49 deputados estaduais, apenas 10 (ou 20,4%) são mulheres. Destas, apenas uma (ou 2% do total) se autodeclara negra: o mandato coletivo Juntas (PSOL). Na Câmara do Recife, entre os 39 vereadores, apenas 6 são mulheres (15,4%) e, entre estas, só uma se autodeclara negra (2,6% do total de vereadores). Os números apontam a enorme desigualdade entre o quantitativo de negras na sociedade e sua representação nos espaços de tomada de decisão e por isso. iniciativas dentro dos partidos, movimentos populares e ONG’s tem crescido. Este é o principal motivo da campanha

#EuVotoEmNegra, que é uma iniciativa do Projeto Mulheres Negras e Democracia e uma realização da Casa da Mulher do Nordeste (CMN), Centro das Mulheres do Cabo (CMC) e Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR-NE) e tem o apoio do Fundo de Mujeres Del Sur, uma fundação que promove os direitos das Mulheres e pessoas LGBTQI+ na Argentina, Uruguai e Paraguai. “A campanha vem para estimular a sociedade a refletir sobre a necessidade de uma maior representatividade nos espaços de decisão de nosso país”, disse Piedade Marques, da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco. A Campanha incentiva o voto em mulheres negras através das redes sociais e trabalha também fazendo conscientização em torno dos temas da eleições, explicando a função dos cargos de prefeitas e vereadoras, o uso do fundo partidário e do financiamento coletivos e explicando mitos e verdades sobre a disputa eleitoral.

A Campanha incentiva o voto em mulheres negras através das redes sociais Reprodução

de Recife (PE)

Manu Castro/Casa da Mulher do Nordeste

A primeira mulher negra eleita no Brasil oi em 1932 que as mulheres brasileiras conquisF taram o direito ao voto depois muita luta. Dois anos depois, em 1934, a catarinense Antonieta de Bar-

ros consegue um feito inédito e é a primeira mulher negra eleita no Brasil, elegendo-se para o cargo de deputada estadual. Antonieta trabalhou na alfabetização de crianças e tinha crônicas publicadas semanalmente em um jornal, onde falava de temas sociais como o racismo, a luta das mulheres, política e educação. Sua pauta principal durante os seus mandatos foi o acesso e a qualidade da educação, fortalecendo propostas como os magistérios.


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Reprodução/TVU Recife

“A sociedade não quer uma cidade com um gestor de direita” POLÍTICA. Cientista político faz análise das eleições no Recife e aponta impactos da pandemia nas campanhas

Sérgio Ferraz:

Cientista político e professor

da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)

Vinícius Sobreira, de Recife (PE)

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m entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco sobre as eleições municipais deste ano, o cientista político e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Sérgio Ferraz, avaliou que o fato de o pleito neste ano acontecer em meio a uma pandemia mudou o perfil das campanhas e acredita que as forças de direita têm grande chance de avançar com candidatos do “centrão”. Confira a entrevista completa: Brasil de Fato PE: Você avalia que o debate da eleição municipal deste ano tende a ser muito afetado pelo cenário nacional de crise econômica, sanitária e pelo momento político que o país atravessa? Que pautas você considera que tendem a ganhar mais relevância? Sérgio

Ferraz: Pri-

A pandemia e o problema econômico ganhem um grande destaque nesta campanha meiro considero que como teremos uma eleição mais curta, isso é uma vantagem para quem já têm mandato. E também tem a questão do “orçamento de emergência”, que tem permitido aos governos estaduais e municipais atuarem com muita força na assistência social. Muita coisa que teria sido como ilegalidade noutras campanhas, este ano tende a ser tolerada devido à emergência da covid-19.Sobre os te-

mas, é inevitável que a pandemia e o problema econômico ganhem um grande destaque nesta campanha. O gestor que fez um bom trabalho na pandemia tem grande chance de capitalizar isso, assim como os que não fizeram correm o risco de serem punidos. BdF PE: Em 2018, a região Nordeste formou um “bloco” em que o hoje presidente não conseguiu avançar como gostaria. Mas com o recente crescimento de popularidade dele na região, você acredita num avanço do bolsonarismo no Nordeste? SF: É a grande pergunta que todos estão se fazendo. Por um lado há uma dificuldade para Bolsonaro que é a ausência de um partido associado diretamente ao presidente. Então olhando para o Nordeste eu acho mais provável que políticos do “Centrão”, que em Brasília dão sustentação ao governo, devem tirar mais vantagem. Não tanto por se associarem ao nome de Bolsonaro, mas pelo acesso a muitos recursos para turbinarem suas campanhas. Por essa via podemos ver o avanço de partidos que atualmente estão associados a Bolsonaro, mas

Provavelmente teremos uma coalizão à direita não necessariamente são bolsonaristas. O site Poder 360 divulgou uma pesquisa em setembro apontando uma queda de 8 pontos percentuais na aprovação do presidente no Nordeste. O auxílio emergencial foi cortado pela metade, não sabemos se vai existir o tal “Renda Brasil”, ano que vem não haverá orçamento de emergência, com isso o governo não está encontrando de onde tirar esse dinheiro. Então sobre este tema eu sou bem cauteloso sobre o avanço do bolsonarismo na região.

nomes deste tipo em estados em que eles ainda não conseguiram entrar, como Pernambuco. Um nome que apareça como de fora da política, nessa linha da antipolítica. Por outro lado você tem dois candidatos, João Campos (PSB), Marília Arraes (PT), no campo mais progressista e o lado da direita tem ainda Mendonça Filho (DEM). Enquanto temos dois candidatos bem firmados no campo progressista, provavelmente teremos uma coalizão à direita que não podemos desprezar o potencial.

Algo que eu preciso destacar em relação ao Recife é que esses dois candidatos [João Campos e Marília Arraes] lembrem que um vai precisar apoiar o outro no 2º turno. Quem não passar deverá apoiar aquele que passar.Já que os dois partidos decidiram lançar candidatos, é preciso que as campanhas tenham visão estratégica para além do BdF PE: E em relação rótulo partidário. ao cenário do Recife, Mais importante que o que você tem observado e o que destaca? o partido A ou B, é você garantir que a Prefeitura do Recife não seja ocuSF: Tem me surpre- pada pela extrema direiendido a pontuação ta, pelo fascismo, pelo que a Delegada Patrícia bolsonarismo. Isso é o Domingos (PODE) tem mais importante para a obtido em algumas pes- sociedade, que não quer quisas, já que o nome uma cidade com um dela é absolutamente gestor de direita e sem desconhecido. Há o so- compromisso com a cinho de uma certa direita ência e nem com a saúmais radical de produzir de das pessoas.


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Trabalhadores da fruticultura no sertão Pernambucano ainda enfrentam instabilidade financeira Jonas Santos/Divulgação

PRECARIZAÇÃO Segundo pesquisa do Oxfam, a categoria está entre os 20% mais pobres da população brasileira e não tem direitos básicos Júlia Vasconcelos , de Pedtolina (PE)

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cadeia produtiva que faz uma manga chegar a um supermercado no Brasil e no exterior gera quase R$ 40 bilhões por ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Só os estados de Pernambuco e Bahia são responsáveis por 62% das mangas produzidas em todo o país e por 35% das uvas. Nessa cadeia, porém, os trabalhadores rurais ficam com a menor fatia de todo o lucro e ainda não têm todos os direitos básicos assegurados. É o que aponta

Poucas empresas têm aquele cuidado de cumprir a lei

“Eles não gostam nem de falar ‘veneno’, eles dizem que essa palavra não pode ser dita, é ‘aditivo orgânico’”

o relatório “Frutas Doces, Vidas Amargas”, feito pela Oxfam Brasil em 2019. Um dos principais problemas apontados pelo relatório são os curtos períodos em que os trabalhadores rurais são contratados, o que gera incerteza sobre o futuro e instabilidade financeira. Cerca de 50% dos trabalhadores da manga, da uva e do melão são contratados e demitidos no mesmo ano. Junto a isso, estão os baixos salários, a falta de outras oportunidades nas regiões dominadas pela fruticultura e a exposição a agrotóxicos. Márcia Souza*, de 32 anos, trabalha com a manga e a uva em Petrolina há quatro anos. Na última empresa em que esteve com carteira assinada ela ficou por dois anos. Quando ela pediu

cuidado de cumprir a lei, de colocar o funcionário pra fora. A maioria, a gente tem que fazer acordo e pagar”, completa. Hoje, ela trabalha informalmente no ramo e sustenta sozinha os filhos e arca com todos os custos da família. Já a agricultora assalariada Cléa Santos*, também de Petrolina, mãe de dois filhos, conta com a presença do marido, que também trabalha. “O salário não dá pra ter estabilidade, mas ajuda muito”, explica.

50% dos trabalhadores são contratados e demitidos no mesmo ano para sair da área em que trabalha por problemas de saúde mental, não recebeu o suporte esperado, e precisou abrir mão dos seus direitos. “Eles estavam me colocando em uma função que eu não me dava bem; pedi pra trocar, e eles não queriam. Numa crise muito forte eu disse: já que vocês não querem me ajudar, vou sair”, conta Márcia.

Quando se fala sobre exposição aos venenos, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, segundo dados da Agência Pública. E quase metade das substâncias liberadas no país “A verdade é essa: pou- são proibidas na Europa. cas empresas têm aquele Mesmo assim, trabalha-

dores rurais convivem diariamente com a aplicação de substâncias que, diversas vezes, causam feridas no corpo, irritação nos olhos e outros problemas de saúde. “Nessa época, quando a chuva tá grossa, a gente não trabalha. Mas quando tá fininha, eles querem que a gente vá para o meio do parreiral, mas não tá seco, então escorre água pelos braços. E isso dá muitas lesões na pele, coceira, algumas pessoas pegam fungos, outras chegam a ter outras complicações mais sérias”, explica Márcia, que afirma que os prazos nem sempre são respeitados. “Eles não gostam nem de falar ‘veneno’, eles dizem que essa palavra não pode ser dita, é ‘aditivo orgânico’. Mas é veneno”, completa. Para tentar evitar essas e outras situações, a mobilização de sindicatos e federações garantiu uma Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) para garantir os direitos dos trabalhadores assalariados da agricultura. A longo prazo, o objetivo é ampliar as ações, que exigem esforços conjuntos de todos os envolvidos na cadeia produtiva, desde as empresas produtoras aos supermercados, para garantir uma vida digna, com salários justos, livres de contaminação e com boas condições de trabalho aos agricultores. *A pedidos das fontes, seus nomes foram trocados para preservar suas identidades.


Brasil de Fato PE

NA GERAL Gaspar Nóbrega /CBV

Volta às quadras Superliga Feminina teve seu lançamento no dia A três de nvembro com uma live no canal da Confederação Brasileira de Vôlei. Como os demais cam-

peonatos, a Superliga não terá público nos ginásios. A medida permanecerá pelo menos até o fim deste ano. Além disso, as equipes realizarão testes quinzenalmente. O time que apresentar quatro ou mais atletas com resultados positivos poderão pedir o adiamento da partida. A rodada de abertura das mulheres será dia nove de novembro. Rafael Ribeiro/CBF

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Nordestão 2021

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DE PLACA Arquivo pessoal

o último Domingo (1º) N Isabelly Morais fez sua primeira narração dos jogos

de futebol feminino em TV aberta, que comandará a partir de agora. Em 2018, ela foi a primeira mulher a abrir uma transmissão de Copa do Mundo comandando os microfones. A oportunidade abriu portas e agora, Isabelly, junto com Milene Domingues e Aline Callandrini formam o trio fixo de narradoras do Brasileirão Feminino na TV Bandeirantes.

essa semana também foram sorteados os times G L N que estrearão os primeiros jogos da Copa do Nordeste 2021. O sorteio dos jogos da fase preliminar ficaram CONTRA assim: Santa Cruz x Itabaiana; CSA x Moto Club; Botafo-

go-PB x Atlético de Alagoinhas; Globo-RN x Representante do Piauí, que será definido em dezembro com a final do piauiense, mas até o momento quem lidera a disputa é o Altos. Os vencedores avançam à chave de grupos do torneio regional. Rodrigo Coca/Corinthians

Brasileirão Feminino s semifinais do Brasileiro Feminino começam doA mingo (8), com Palmeiras x Corinthians e São Paulo x Avaí/Kindermann, que abrem a disputa pelas duas va-

gas na final. A rodada de volta acontece no fim de semana seguinte. O primeiro finalista sairá no dia 14 de novembro, em Florianópolis e a decisão do outro finalista acontecerá na segunda (16) com o clássico entre Corinthians e Palmeiras, na Neo Química Arena.

DEFESA PERDIDA E PASSIVIDADE TÉCNICA Luciano Andrade brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br

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rimeiramente destaco que ESTUPRO CULPOSO NÃO EXISTE. Sempre acredito no Clube Náutico, logo, sim, ainda acredito que o time irá subir para Série A. Enquanto houver chance, sigo firme e forte acreditando. A visão passiva de Kleina é um problema, caso haja mais uma derrota nesta sexta (06), nos Aflitos, o técnico deveria deixar o clube, pois fica claro que não tem organização na defesa. A defesa está perdida, sempre que o time adversário ataca, parece que o Timba está com um jogador a menos. Kleina precisar cobrar com mais firmeza esta defesa perdida.

Mais vozes

AFP

Desrespeito time italiano Lazio está O sendo investigado pela Federação Italiana de Futebol

e pode ser punida até com a expulsão do Campeonato Italiano. O Ministério Público do país está apurando se o time violou protocolos de saúde de combate ao coronavírus. A acusação é de que atletas infectados teriam treinado com a equipe após o conhecimento diagnóstico positivo. Em nota, o clube afirmou que os jogadores que já estão isolados.

MANTER O EMBALO César Henrique brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br

primeira metade do Brasileirão 2020 A foi surpreendente para o Sport. Ocupar o meio da tabela da Série A depois de

encarar um quadrangular do rebaixamento no Pernambucano é uma disparidade tremenda. O momento é de fazer uma reserva de pontos na distância dos quatro últimos, até porque a quantidade de jogos da Copa do Brasil e da Libertadores vai diminuir. Ao mesmo tempo, o Leão da Ilha precisa de atenção com quem está mais abaixo. A matemática pode ser perversa nesse caso. Dos cinco últimos colocados de hoje, o Sport perdeu para três.

GERALZINHA DO 1º TURNO Daniel Lamir daniel.lamir@brasildefato.com.br

pós três anos de aperreio, finalmente A o Tricolor está fazendo uma campanha digna da nossa camisa. Ainda falta qua-

se 30% do campeonato, mas já estamos praticamente classificados. Em breve podemos garantir a liderança do grupo. Mas isso não garante vaga na Série B. Por isso é fundamental que o elenco mantenha o foco mesmo com a classificação garantida. Relaxar nessa reta final pode nos deixar num nível abaixo na fase seguinte. Os jogos contra Vila Nova, Remo e Manaus são testes importantes para cobrarmos o mesmo desempenho que tivemos até agora.


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