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Recife, 24 de outubro a 01 de novembro de 2018
Em Pernambuco, evangélicos alertam:
“Bolsonaro vai contra ensinamentos de Cristo” Eleições. Campanha de mentiras, discurso violento é a inversão dos valores cristãos FEPED Nucleo PE
Vinícius Sobreira
D
esde a reta final do primeiro turno se intensificaram as campanhas de notícias falsas contra Fernando Haddad (PT), elevando a rejeição ao candidato e freando seu crescimento. Bancada ilegalmente por empresários aliados de Bolsonaro (PSL), a campanha de difamação por WhatsApp também fez crescer a adesão ao deputado Bolsonaro nas periferias. Muitas das notícias falsas acabaram confundindo as pessoas, que repassaram a informação nos celulares
e dentro das igrejas. Isso chamou a atenção e até assustou muitos fieis que já conheciam as posições políticas de Jair Bolsonaro, que descrevem como “contra os valores ensinados por Cristo”. Um desses fieis é Dyego Carlos, de 28 anos, estudante do doutorado em Ciência da Com-
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putação. “Cristo disse ‘bem aventurados são os pacificadores’, enquanto o candidato disse que nada se resolve no voto, que a melhor forma de resolver as coisas é fazendo uma guerra civil, matando 30 mil. Ele é uma pessoa que não acredita na democracia”, pontua Dyego, que frequenta a Igreja Batista no bairro de Coqueiral. O jovem, que votou em Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno, lembra ainda que Bolsonaro já disse que a ditadura errou em “só torturar e não matar”. “Ele já falou publicamente que é favorável à tortura. E Jesus Cristo foi um prisioneiro político, torturado e executado pelo Estado. Votar num presidente que é favorável à tortura? Isso é contra
o Evangelho”, alerta. Na opinião de Dyego, o candidato Bolsonaro “desperta a violência dentro das pessoas”. O pastor Wellington Cabral, de 67 anos, afirma que suas “ovelhas” estão liberadas para votar de acordo com suas consciências, mas alerta: “eu, como pastor, não aprovo em hipótese alguma as atitudes desse cidadão Bolsonaro. Ele é a antítese de cristo”. Ele lamenta que muitos pastores estejam apoiando um candidato que prega a violência como forma de solucionar os problemas. “Ele é um cara violento. Cristo não pregou a violência e a morte de ninguém. Não posso aprovar uma candidatura dessa, principalmente usando o nome de Deus”, reclama. Wellington avalia que o can-
didato pode até ser vitorioso na eleição, mas continua não sendo “uma pessoa digna de representar o País”. A assistente social Rayane Lins, de 24 anos, também pensa no mesmo sentido. “Bolsonaro tem discurso racista e violento e homofóbico, além de violento contra as mulheres. O vice dele considera que famílias sem homens, em que os filhos são criados pelas mães e avós, são famílias que fornecem jovens para o tráfico”, lamenta Rayane.
“O Diabo é o pai das mentiras” Rayane alerta ainda para a campanha ilegal de men-
tiras utilizada por Bolsonaro para atacar o adversário. “Vimos as notícias: financiamento ilegal, com suspeita de caixa 2, para empresários comprarem ‘pacotes’ de notícias falsas contra Fernando Haddad”, lembrou. “Isso não apenas é crime eleitoral, como para nós, cristãos, é pecado. A mentira destroi. E quem passa adiante a mentira está apoiando o que é ruim, está apoiando o mal”, disse a assistente social. Estudante da área de tecnologia, Dyego se mostrou preocupado com a influência dessas tecnologias nas eleições brasileiras deste ano, que foram usadas principalmente para o mal. “A candidatura de Bolsonaro foi baseada em mentiras. Por isso ele não quis ir aos
Rayane fez ainda críticas à principal proposta do candidato Jair Bolsonaro (PSL) para a área da Educação. “Ele tem propostas absurdas. Uma delas é retirar da escola as coisas que Paulo Freire ensinou. Paulo Freire é um dos pensadores mais estudados do mundo, justamente por pensar a educação como forma de libertação dos pobres”, reclamou. Ela também fala da proposta de implementação da educação à distância desde o ensino básico. “Educação é direito humano, é essencial para a vida. Devemos instruir as crianças para não se desviarem. Mas essa proposta dele é de distanciar a criança da comunidade. A educação não vem só da fala do professor ou só de um vídeo para a criança assistir, mas principalmente da vida na escola, da convivência”.
As armas e a Igreja que perdeu a fé O pastor da Assembleia também rejeita a proposta de Bolsonaro de facilitar o acesso da população a armas de fogo. “Isso é uma irresponsabilidade da par-
Cristo no presídio, mas aqui fora dizer que ‘bandido bom é bandido morto’?”, quesiona o pastor Wellington.
Bolsonaro, Temer e o Estado
Educação
Os evangélicos também estão fazendo campanha e tentando mostrar as diferenças entre o discurso de Bolsonaro e o Evangelho.
Votar num presidente que é favorável à tortura? Isso é contra o Evangelho
Ricardo Stuckert.
debates. É importante lembrar que o pai da mentira é o Diabo. E as pessoas estão seguindo a mentira cegamente, muitos por não terem tido formação política”, lamenta.
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Em várias cidades, grupos de cristãos tem organizado grupos em defesa da democracia e da candidatura de Haddad.
Bolsonaro tem discurso racista e violento e homofóbico te dele. Temos órgãos capacitados para enfrentar a violência. O que vai adiantar entregar armas para quem não tem experiência?”, questiona Wellington. “A violência está demais e precisa ser combatida, mas não dessa maneira. O Estado tem que agir com autoridade, mas através da polícia e dos órgãos responsáveis”, pondera. O religioso também alerta para os riscos que a ampliação do acesso a armas pode trazer. “Um jovem que so-
frer bullying na escola pode pegar a arma em casa e atirar nos colegas. E nesse clima de fanatismo que está, muitos desses seguidores violentos do candidato terão acesso a armas. Isso é muito arriscado”, alerta. Dyego também mostra preocupação com as revelações recentes de Bolsonaro. O candidato disse publicamente que ensinou seus filhos a atirarem a partir dos 5 anos de idade, usando arma de fogo, não de brinquedo, dizendo ainda que acha
correto fazer isso “para não termos outra geração de covardes”. Ao ser alertado que sua atitude viola o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o candidato disse que o ECA “deveria ser rasgado”. Dyego lamenta. “Há uma inversão dos valores cristãos. Jesus disse que das crianças é o Reino dos Céus, porque nelas há a pureza. A criança em si não tem maldade. Mas veja o que ele quer que as crianças aprendam desde novas”, alerta o estudante. Diante das propostas de Bolsonaro para a redução da violência, de que “violência se enfrenta com violência”, os cristãos lamentam. “Eu prego o amor como salvação daqueles que vivem na marginalidade. Como posso pregar a palavra de
Uma das queixas do pastor Wellington Cabral é de que Bolsonaro, como deputado, votou contra os direitos das empregadas domésticas e a favor da terceirização e da “Reforma Trabalhista”, que reduziu direitos dos trabalhadores. “Sou aposentado e não vou sofrer com isso. Mas tenho filhos e netos que chegarão ao mercado de trabalho”, diz. “Essas leis foram boas para o patrão, por isso empresários e políticos aprovam. Mas foram péssimas para o trabalhador”, completa. Dyego analisa que os princípios cristãos devem ser postos em prática pelo Estado através de políticas públicas. “Quando falamos de acesso a educação, saúde, moradia, alimentação, tudo isso comunga com os valores cristãos, que prezam pela dignidade humana”. Ele lembra ainda que nos quase três anos de governo Temer, suas políticas econômicas deixaram o Brasil muito próximo de voltar ao “Mapa da Fome”. “É uma forma de pensar economia sem respeitar os trabalhadores. E Bolsonaro já disse que não entende de economia vai manter a condução econômica do governo Temer”, lamenta Dyego.