ENTREVISTA | 11
PERNAMBUCO | 08 E 09
Nataly Queiroz
Defesa da água
Doutora em comunicação analisa cobertura da mídia sobre caso Marielle Franco
Mulheres ocupam a Chesf contra a privatização da energia e das Águas Recife, 23 a 29 de março de 2018 a n o 2
e d i ç ã o 5 4 distribuição gratuita
Marianne Dafne/Aeso
Pernambuco
Vinícius sobreira
Março de Luta pelas Águas
OPINIÃO | 05 Congresso do Povo Transformar a defesa de Lula na marcha de milhões
CIDADES | 10 Direito à Moradia
Movimento Sem-Teto ocupa prédio no Centro do Recife
ESPORTES| 15 Futebol
Conheça Lev Yashin, goleiro símbolo da Copa do Mundo 2018
Brasil de Fato PE
Recife, 23 a 29 de março de 2018
2 | OPINIÃO
EDITORIAL
Vender a Chesf é privatizar a água e a vida
LUTA. Março, mês das Mulheres e das Águas, converteu-se num grande espaços de debate, luta e resistência contra privatizações
O
controle da Água é estratégico e está no centro de uma grande disputa mundial, com o objetivo de privatizar e converter a água em um grande mercado mundial. Isso é parte do reestabelecimento da agenda Neoliberal de privatizações e submissão do Brasil aos interesses do capital internacional. De um lado, forças internas e externas do capital (empresas transnacionais, fundos de investimentos, paraísos fiscais e bancos) agem de forma articulada para privatizar um bem público, ameaçando a independência e a soberania do País, estabelecendo a propriedade privada da água, do saneamento, dos aquíferos, dos rios, das nascentes. Estes realizaram o 8º Fórum Mundial da Água, entre ao dias 18 e 23 deste mês, em Brasília (DF). De outro lado, os trabalhadores e trabalhadoras, que realizaram paralelamente também em Brasília (DF) o Fórum Alternativo Mundial da Água
(FAMA), contrapõem a lógica da água como mercadoria e convocam a sociedade a lutar pela água como um direito essencial e têm empreendido importantes batalhas. A última foi como a Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terras, realizada no último dia 20 em todo o Brasil. A jornada
deste. Duas mil mulheres ocuparam a sede da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), em Paulo Afonso (BA) e Usina de Xingó (SE). Denunciam que o governo Temer quer entregar o sistema Eletrobrás todo por R$ 20 bilhões. Somente uma Usina da Chesf, a Hidrelétrica de Xingó (2.139 MW médios) custam este valor. Sua capacidade de produção é semelhante a de Jirau (2.184 MW A defesa da usina médios) que custou R$ 19 Chesf é a defesa bilhões de investimento. A Chesf apresentou um do Rio São de 3,9 bilhões de Francisco e da lucro reais em 2016. E de janeivida que gira no ro a junho do ano de 2017 um lucro de seu entorno apresentou R$ 370 milhões. A ameaça ousou confrontar um dos de privatização da Chesf grandes desafios na luta é portanto uma ameaça a contra o golpe: denunciar vida do povo em especial e impedir a venda das das Mulheres e dos nornossas Águas, das empre- destinos. sas públicas e das riquezas A defesa da Chesf é a denacionais. fesa do Rio São Francisco Em Pernambuco, as e da vida que gira no seu Mulheres Sem Terras em entorno. É defender os inunidade com as Mulhe- vestimentos de quase toda res da Frente Brasil Popu- a produção de alimentos lar protagonizaram uma por meio da irrigação em ação regional no Nor- Petrolina e Juazeiro da
Expediente Brasil de Fato PE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país, com edições regionais em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Pernambuco. O Brasil de Fato PE circula quinzenalmente às sextas feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
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Edição: Monyse Ravenna (DRT/CE 1032) e Cataria de Angola DRT/PE 4477 | Redação: Catarina de Angola, Daniel Lamir, Rani de Mendonça, Vanessa Gonzaga Vinícius Sobreira. Colaboração: André Barreto, Daniel Lamir, Filipe Spencer, Francisco Marcelo, Halina Cavalcanti, Stella Nascimento, Roberto Efrem Filho, Bianca Almeida Distribuição e Administração:Iyalê Tahyrine| Diagramação: Diva Braga Conselho editorial: Alexandre Henrique Bezerra Pires, Ana Gusmão, André Barreto, Aristóteles Cardona Jr., Bruna Leite, Bruno Ribeiro, Camila Castro, Carlos Veras, Catarina de Angola, Doriel Saturnino de Barros, Eduardo Mara, Elisa Maria Lucena, Geraldo Soares, Glaucus José Bastos Lima, Henrique Gomes, Itamar Lages, Jaime Amorim, José Fernando de Melo, Laila Costa, Lívia Milena, Luiz Antonio da Silva Filho,Luiz Antonio Lourenzon, Marcela Vieira Freire, Marcelo Barros, Marcos Aurélio Monteiro, Margareth Albuquerque, Maria das Graças de Oliveira, Marluce Melo, Moisés Borges, Patrícia Horta Alves, Paulette Cavalcante, Paulo de Souza Bezerra, Paulo Mansan, Pedro Rafael Lapa, Roberto Efrem Filho, Rosa Sampaio, Sérgio Goiana, Suzineide Rodrigues, Valmir Assis| Tiragem: 20 mil Exemplares
Bahia com a construção e operação do reservatório de Sobradinho, o monitoramento da qualidade da água para o consumo humano, animal e produção de alimentos saudáveis. É defender a Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) que hoje funciona em Paulo Afonso (BA) em prédios cedidos pela Chesf. É defender o Hospital da Chesf, em Paulo Afonso, mantido pela companhia que atende a população de mais de22 municípios, num total de 700.000 habitantes. A ação articula a defesa dos interesses de todo o povo, com o protagonismo de sua própria luta enquanto Mulheres. Segundo a UNICEF, mulheres e meninas gastam 200 milhões de horas diárias coletando água todos os dias e 70% das pessoas que vivem em situação de pobreza no mundo são mulheres, atingindo em especial as negras, latinas, indígenas e imigrantes. No Brasil essas Mulheres se concentram no Nordeste. Com a privatização e sem acesso livre à água, elas, que são responsabi-
A água não tem dono. É um bem público, do povo e pelo povo deve ser exercido o controle de seus recursos lizadas historicamente pelos cuidados familiares e da casa, são primeiras a sofrerem os trágicos efeitos da privatização. Sobre elas recai a sobrecarga do trabalho doméstico, as longas caminhadas em busca de água, aumento insegurança alimentar, aumento das taxas de energia e da água, a escassez de políticas públicas de educação e saúde, aumento da violência nos territórios e nos seus próprios corpos. Um povo que luta não pode abrir mão de sua soberania. A água não tem dono. É um bem público, do povo e pelo povo deve ser exercido o controle de seus recursos.
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Recife, 23 a 29 de março de 2018
mandou
Frase da Semana
BEM Divulgação
Não conseguem nos derrotar nas urnas e, com a ajuda de uma imprensa corrupta, nos condenam sem nenhuma prova.
Internet Gratuita
O
Rafael Correa, ex-presidente do Equador, na Caravana Lula pelo Sul do Brasil.
Qual a mior dificuldade quando falta água em casa?
Programa Cidadão Conectado disponibilizará internet de segunda à sexta-feira, das 18h às 6h, e aos finais de semana, feriados e pontos facultativos durante todo o dia em pontos das cidades de Petrolina, Caruaru e Jaboatão dos Guararapes, em PE. Para ter acesso wi-fi, os moradores devem realizar um cadastro no site do Cidadão Conectado. Após a primeira etapa de implantação, o programa segue para o Cabo de Santo Agostinho e Paulista, na Região Metropolitana do Recife. Endereço na internet: www.cidadaoconectado.pe.gov.br
mandou
A minha maior dificuldade com a falta de água é com os afazeres domésticos. O acúmulo de roupas, pratos... Mesmo com reservas, não deixa de ser um transtorno, porque estamos tão habituadas tendo água, que a partir do momento que passa cinco dias sem, como passamos aqui no bairro, vira um transtorno”.
MAL
Elizângela Costa, 38 anos, moradora do bairro Porto da Madeira, Recife (PE).
Ensino Médio à Distância
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reforma do ensino médio, A aprovada em 2017, permite que as aulas presenciais sejam
substituídas por aulas pela internet, que podem chegar a até 40% da carga horária de aula. Assim, os estudantes teriam aulas na escola apenas duas ou três vezes na semana. A medida tem sido criticada pelos altos índices de desistência que já existem nas aulas comuns, onde das 6,9 milhões de matrículas, ofertadas para alunos do ensino médio, cerca de 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos desistem dos estudos.
4 ||Mundo GERAL
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Recife, 23 a 29 de março de 2018
Ato Inter-Religioso por Marielle Franco
CRB Vale do São Francisco
ompletados sete dias após a execução que ma- E C tou a vereadora do PSOL, Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes no Rio de Janeiro, a co-
moção social tem tomado o país. No Recife (PE), aconteceu, no último dia 20, o ato Inter-Religioso por Marielle Franco para denunciar nas ruas a insatisfação pela forma como a vereadora foi morta. O ato político foi convocado pela Frente Povo sem Medo de Pernambuco. Os militantes se concentraram na da Praça do Diário, centro do Recife, em memória às lutas travadas pela vereadora. Marielle foi a 5ª vereadora mais votada do Rio de Janeiro, mulher negra, periférica e lésbica, que denunciava constantemente os abusos da polícia contra moradores de comunidades cariocas.
ESPAÇO SINDICAL Campanha Salarial 2018 do SINDSEP-PE SINDSEP-PE
Sindicato dos SerO vidores Públicos Federais no Estado de
Pernambuco (SINDSEP-PE) convida toda a categoria para comparecer às assembleias que serão realizadas na sede da FUNAI e na SUDENE, no Recife (PE), para discutirem a Campanha Salarial de 2018. Onde também serão apresentados os repasses das negociações com o governo sobre os planos de saúde de auto-gestão. A assembleia na FUNAI será realizada no dia 27 de março, às 10h, e a realizada na Sudene será dia 28 de março, às 10h30.
Assembleia geral do SINTEPE a última quinta-feira (22), foi realizada a assembleia N geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (SINTEPE). A categoria, que está em es-
tado de greve desde o dia 12 de março, luta pela negociação do aumento salarial e melhorias das condições trabalhistas dos profissionais em educação. Foi discutida na ocasião a pauta de reinvindicações com 30 pontos a serem negociados, dentre eles o principal pedido foi o de reajuste de 6,81% no salário da categoria. O sindicato está pressionando a conclusão das negociações até o próximo dia 06 de abril, prazo no qual não poderá mais haver reajustes devido a lei eleitoral.
m Petrolina (PE), acontece neste fim de semana (24 a 25) a terceira etapa do Curso Realidade Brasileira. Desde setembro do ano passado, os movimentos populares da região que fazem parte da Frente Brasil Popular tem se encontrado para fazer formação política e refletir como atuar nessa conjuntura. Esta terceira etapa terá como tema a questão agrária, ministrada por Paulo Mansan, do MST Pernambuco. Além da formação no fim de semana, a abertura da etapa conta na sexta-feira (23) à noite com uma análise de conjuntura aberta com o tema “O golpe e a realidade brasileira: desafios históricos para o povo”. As inscrições para o curso ainda estão abertas e podem ser feitas através do (87) 999661316.
Direitos de Fato Estabilidade no emprego de dirigentes sindicais m tempos de retrocesso de direitos sociais no mundo do trabaE lho, quando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi praticamente rasgada (mas com certeza completamente desfigurada)
com a Reforma Trabalhista, a luta coletiva dos trabalhadores junto às suas entidades representativas, os sindicatos, será fundamental. Isso para conseguir na organização de greves e nas negociações coletivas a garantia dos empregos sem redução de salários, o avanço na realização de condições dignas de trabalho, etc. Para isso, faz parte da liberdade sindical, prevista na Constituição Federal (art. 8º, VIII) e em Convenções (n. 87 e 98) da Organização Internacional do Trabalho (OIT) a estabilidade no emprego para dirigentes sindicais. De modo que essas lideranças possam não serem perseguidas ou sofrerem represálias pelo seu empregador, na medida em que estão engajados e de frente na luta de sua categoria profissional. Assim, na CLT em seu art. 543, é direito dos dirigentes de entidades sindicais a estabilidade no emprego, desde o registro de sua candidatura até um ano após o final do seu mandato. Por isso, ele não poderá ser demitido (a não ser por alguma conduta que configure justa causa), sob o risco de caracterizar tal demissão como conduta discriminatória e antissindical da empresa. *André Barreto é advogado no Recife (PE) e membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).
Para entrar em contato e tirar dúvidas mande um email para contato.pe@brasildefato.com.br ou um whattsapp para 8199060173
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Recife, 23 a 29 de março de 2018
Artigo O que há de comum entre o assassinato de Marielle e o futebol? Aristóteles Cardona*
E
screvo esta coluna pouco mais de uma semana depois do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e
Faremos jus a Marielle. Se seu assassinato foi um grande recado, que passemos o nosso: o povo quer participar da política de verdade do seu motorista, Anderson Gomes. E, em meio a pensamentos soltos, o aperto no peito e o nó na garganta parecem não passar. Ainda mais ao ter clareza de que foi uma execução no contexto de um país golpeado. Golpeado em sua democracia e em suas liberdades. Um país onde tentam, goela abaixo, implementar o medo e a desesperança. Dentro deste cenário, estava me propondo a não escrever sobre este brutal assassinato. Queria escrever sobre coisas boas. Quem sabe até sobre futebol, esporte que gosto bastante. E então, decidi que era sobre isso que iria escrever. Mas, não deu. Não consigo tirar o assassinato da minha cabeça. No entanto, lembrei de uma notícia que a torcida do Cruzeiro, time de Belo Horizonte, teve
OPINIÃO I 5
Artigo Congresso do Povo: transformar a defesa de Lula na marcha de milhões Sidney Mamede* Eduardo Mara*
uma faixa em homenagem à vereadora retirada pela polícia no estádio do Mineirão. E a justificativa seria de que estariam “politizando” o assunto. E isso me deixou bem intrigado. Não há absolutamente nada nessa história que não seja política. Lembrei então de um outro fato: um apresentador da TV Globo que falou, há poucas semanas, que futebol e política não poderiam se misturar. Como assim, pergunto novamente? A história do futebol está permeada pelas relações políticas. E se negar a enxergar isso atende apenas aos interesses de quem se utiliza do esporte para se beneficiar. A FIFA proíbe e até pune jogadores que manifestam posições políticas. Geralmente, posições ditas de esquerda. Assim como não dá para retirar o componente político do futebol, é preciso que não paremos de questionar: quem mandou matar Marielle? A quem interessava esta execução? A política está presente no nosso cotidiano e ignorar isso não resolve os nosso problemas. O episódio de censura a uma faixa no Mineirão parece um detalhe, fala muitos sobre nosso dias. A elite quer o povo distante da política. Quer apenas a participação com votos a cada dois anos. Precisamos lutar contra isso e por mais participação política. Desta maneira faremos jus a Marielle. Se seu assassinato foi um grande recado, que passemos o nosso: o povo quer participar da política de verdade. Elegendo seus representantes, mas lutando e se manifestando cotidianamente. Inclusive no futebol. Eles seguem tentando, mas a verdade é que não nos calarão. * é Médico de Família no Sertão pernambucano, professor da Univasf e militante da Frente Brasil Popular de Pernambuco.
xistem momentos decisiE vos na luta de classes onde a disputa pela memória do pas-
sado e pela definição do futuro se cruzam nos desafios do presente. Em tempos assim, os resultados de cada batalha tendem a redefinir completamente o curso de toda a luta. Essa é a época que vivemos em nosso país. O enfrentamento ao golpe chegou a um ponto decisivo: de um lado, as forças do capital internacional e do imperialismo seguem com seu projeto de desmonte de direitos e do Estado, mas são incapazes de oferecer à grande maioria de nosso povo qualquer contrapartida que conquiste apoio e legitimidade ao estado de exceção, daí a dificuldade de emplacarem uma candidatura viável às eleições de 2018. De outro, a persistência da esquerda brasileira na unidade, particularmente em torno da Frente Brasil Popular, somada às caravanas de Lula pelo país, ampliam o apoio à sua candidatura (imbatível em todas as pesquisas) e consolidam a rejeição ao governo golpista. A tarefa das forças democráticas é identificar os elos que nos permitam disputar o passado, nosso acúmulo histórico do último ciclo de lutas da esquerda brasileira, alterar a correlação de forças no presente e colocar em marcha um projeto popular de nação. O primeiro elo decisivo dessa marcha é, sem dúvida, a defesa de Lula e de sua candidatura. Lula é a principal liderança capaz de promover a
ligação entre as massas populares e a esquerda organizada. No entanto, a batalha por democracia para todos e para Lula não será vencida nas próximas semanas (ainda que obtenhamos vitórias parciais pela via jurídica). Ela exige transformar a identidade e solidariedade com sua liderança em força social de um projeto diferente de país, exige povo organizado
Converter a insatisfação popular em projeto de nação, eis a ousadia proposta pela Frente Brasil Popular em realizar o Congresso do Povo Brasileiro com consciência de seus objetivos históricos. Converter a insatisfação popular em projeto de nação, eis a ousadia proposta pela Frente Brasil Popular em realizar o Congresso do Povo Brasileiro. O congresso está previsto para fins de julho na cidade do Rio de Janeiro, mas sua tarefa mais importante é partir das periferias, locais de trabalho, escolas, universidades e quaisquer lugares em que pudermos reunir gente para organizar a defesa de Lula, debater que país queremos e planejar as lutas por direitos e democracia. *Eduardo Mara é cientista social, doutor em serviço social pela UFPE e integrante da Direção Nacional da Consulta Popular.
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“Governo não faz manutenção preventiva na energia”, afirma Ildo Sauer Reprodução
APAGÃO.
Queda de energia atingiu estados do Nordeste e parte do Norte na última quartafeira Júlia Dolce, Brasil de Fato | São Paulo (SP)
Nesta quarta-feira (21), um apagão na rede básica interrompeu o fornecimento de energia para todos os municípios dos estados do Maranhão e de Tocantins, além de partes do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia e Piauí. A Companhia Energética do Maranhão (Cemar) Usina de Tucuruí, no Pará
Há toda uma série de questões que não vêm sendo cumpridas e o Governo só está interessado em cuidar do negócio
do com a assessoria de imprensa da Cemar, há informações preliminares que sinalizam também problemas na Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), entidade responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN), informou, em nota, que houve uma perturbação no sistema, causando apontou uma falta no su- o desligamento de cerca primento de responsabi- de 18.000MW, corresponlidade da Eletrobrás Ele- dendo a 22,5% da carga tronorte como causa da total do SIN naquele mofalta de energia. De acor- mento.
O ONS aponta ainda que as causas do apagão ainda estão sendo investigadas. Para Ildo Luís Sauer, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) e ex-diretor-executivo da Petrobras, o sistema energético no Brasil se encontra, atualmente, “estressado”.”O fato é que o sistema está estressado no Brasil, porque não temos feito a manutenção preventiva, centrada na confiabilidade. Há toda uma série de questões que não vêm sendo cumpridas e o Governo só está interessado em cuidar do negócio”, afirmou. Para Sauer, o Projeto de Lei (PL) 9.463/2018, que tem como objetivo privatizar a Eletrobras, atualmente em trâmite no Congresso Nacional, é um exemplo dos interesses financeiros do governo.”Há, agora, um Projeto de Lei na Câmara dos De-
putados que pode piorar muito o sistema elétrico, criando mercados com-
bby dos interesses financeiros. Já a manutenção, centrada em confiabilidade tanto das centrais de geração quanto da transmissão e distribuição, não está no patamar adequado. Acidentes podem acontecer, mas você tem que ter reserva disponível para atender a carga”, afirmou.
O fato é que o sistema está estressado O Ministro Ferno Brasil, nando Coelho Fiporque não lho se filiou ao pardo presidentemos feito a tido te Michel Temer, o Demomanutenção Movimento crático Brasileiro nesta quarpreventiva (MDB), ta (21). Ele pretenpetitivos que vão continuar aumentando a tarifa sem melhorar a qualidade. O Ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, tem uma equipe voltada para atender o lo-
de deixar o comando do Ministério até o dia 7 de abril, prazo limite para que políticos que pretendam disputar cargos nas eleições de outubro deixem cargo públicos.
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Cerca de 30% da população mundial não têm água potável
ÁGUA. Força dos grandes grupos econômicos é o maior entrave para a democratização do acesso ao recurso
Marcelo Camargo Agência Brasil
Segundo dados da ONU 4,5 bilhões não têm saneamento básico seguro
Cristiane Sampaio, Brasil de Fato | Brasília (DF)
rês em cada dez ciT dadãos no mundo não têm acesso à água
potável em casa. Esse é o cenário alarmante denunciado pela Organização das Nações Uni-
No Brasil, por exemplo, o número de conflitos ocasionados pela disputa por água cresceu 150% das (ONU). São mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo. Além disso, outros 4 bilhões e meio de pessoas, não têm saneamento básico considerado seguro.
O acesso à água ainda é privilégio de algumas parcelas da população. A agricultora Antonia Souza de Jesus, que vive no município de Queimadas, interior da Bahia, conhece bem o problema. Com 64 anos de idade, ela nunca contou com água encanada nem coleta de esgoto na casa onde vive com oito familiares, entre filhos e netos. Há dois anos, a comunidade ganhou uma cisterna, construída por meio de um projeto social, mas, quando não chove, os moradores não têm de onde captar água e dependem de um carro-pipa que só vai ao local uma vez por mês. Ela conta que a falta d´água compromete a higiene das pessoas, os serviços domésticos e a plantação. “Quando a água falta, a gente fica muito preocupado. É difícil”, lamenta. O problema se estende a outras regiões do país. No município de Barca-
rena, no Pará, mais de 80 famílias que dependem das águas da Bacia do Marajó lidam diariamente com uma grande contradição: apesar de viverem nas proximidades de rios, elas não têm água potável nem esgotamento sanitário. O agricultor Leonardo Furtado, morador do município há mais de 40 anos, critica a ausência de políticas públicas para resolver o problema. A situação se agravou com a chegada de grandes empresas no local. A região é a mesma onde ocorreu o desastre ambiental provocado pela mineradora Hydro Alunorte, no mês passado, após jogar água não tratada no Rio Pará. “É meio constrangedor até falar porque a gente se sente preocupado, acima de tudo a questão da saúde da gente”, ressalta. Denise Motta Dau, secretária da organização chamada Internacional Serviços Públi-
cos no Brasil, destaca que a força dos grandes grupos econômicos têm sido o maior entrave para a democratização do acesso à água no mundo. A entidade acompanha a realidade em mais de 150 países. No Brasil, por exemplo, o número de conflitos ocasionados pela disputa por água cresceu 150% entre 2011 e 2016. O dado é da Comissão Pastoral da Terra (CPT). “Se é uma comunidade que vive de agricultura, de pesca ou outras atividades que necessitam de água, a empresa vai comprando fazendas e dentro delas tem rios, e aí ela vai se apropriando dessas águas, daí os vários conflitos”, revela. No Brasil, 70% da água é consumida pelas empresas do agronegócio, 20% é usada na indústria e apenas 10% da água é utilizada no consumo doméstico da população. Em geral, as mulhe-
res são as mais afetadas pelo problema. Denise Motta Dau ressalta que, na zona rural, elas são as principais responsáveis pela agricultura familiar e pelos serviços domésticos, tendo que buscar água para
Em geral, as mulheres são as mais afetadas pelo problema as famílias. “Isso é desgaste, é tempo e prejuízo pra vida das meninas, que precisavam estar na escola, e não andando quilômetros com suas mães, suas ou avós em busca de água”, diz. Segundo a ONU, as mulheres compõem 70% das pessoas que vivem em situação de miséria no mundo.
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Brasil de Fat
Recife, 23 a 29 de março de 2018
Mulheres ocupam Ch contra a privatiza
DENÚNCIA. A ocupação faz parte da Jornada de Lutas das Mulheres Sem Te multinacionais Vanessa Gonzaga,
de Petrolina (PE)
a última terça (20), N a cidade de Paulo Afonso, no norte da
Bahia, amanheceu com luta. Três mil mulheres de movimentos da Frente Brasil Popular e da Via Campesina de Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Paraíba e Ceará ocuparam a sede da Companhia Hidrelétri-
A ocupação da Chesf faz parte de um calendário de lutas que iniciou no dia 5 de março ca do Vale do São Francisco (Chesf ). A ocupação faz parte da Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra, que este ano tem como tema a defesa do Rio São Francisco e da Chesf. As mulheres chegaram por volta das 5h da manhã no prédio. Pouco tempo depois a Po-
lícia Militar tentou dispersar as mulheres, mas elas resistiram, como afirma Tita Carneiro, da Marcha Mundial das Mulheres. “Eles jogaram bombas de gás lacrimogêneo. Tinham muitas senhoras idosas, mulheres grávidas e crianças. Algumas mulheres se machucaram na correria”, explica Tita. Ainda assim, as mulheres permaneceram na Companhia até por volta do meio dia, quando foram em caminhada até o centro da cidade para dialogar com a população sobre a ameaça da privatização. A Companhia do Hidrelétrica do Vale do São Francisco faz parte do Grupo Eletrobrás. Desde setembro de 2017, quando a tentativa de privatização através do PL 9463/18 foi anunciada pelo governo Temer, movimentos populares tem se manifestado contra a privatização. Uma pesquisa feita pelo Sinergia BA afirma que desde que foi inaugurada, em 1953, a Eletrobrás recebeu cerca de 400 bilhões de reais em investimentos. Hoje, a proposta dada por Michel Temer com apoio do ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, coloca a Eletrobrás à venda por apenas R$ 20 bilhões. Com a privatização, as contas de energia ficarão até 16% mais caras,
Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra denuncia a entrega das reservas de água para multinacionais
a finalização da transposição ficaria em risco, os apagões como o da última quarta-feira (21) seriam constantes, o abastecimento das cidades de pequeno porte seria comprometido e a preservação do Rio São Francisco não seria mais dever do Estado, mas uma responsabilidade das empresas, que dificultariam o acesso à água do rio com a justificativa de priorizar a geração de energia. A privatização não afeta apenas o setor econômico, mas tem impactos diretos na vida das
mulheres, como os movimentos apontam. Por isso, em março, no mês em que celebra o Dia Internacional de Luta das Mulheres e o mês da água, as mulheres têm protagonizado lutas em todo o país defendendo o direito à água e à soberania nacional. “Nós sabemos que a água é um recurso estratégico e que não é possível construir uma nação soberana, com um povo emancipado, se nós não tivermos o controle dos bens estratégicos do nosso País. Nós, mulheres temos
muita convicção da importância de ter o controle da água, não somente por questões domésticas, mas sobretudo porque nós pensamos a longo prazo. Nós pensamos principalmente nas gerações que virão”, afirma Lucinéia Durães, do Movimentos das Trabalhadoras Rurais Sem Terra. Além do impacto da privatização na vida das mulheres, a população do Semiárido seria diretamente afetada, já que o fornecimento de energia em grande parte das cidades de pequeno porte e nas comunidades ru-
ra co do so be lh re 12 A fa dá ci co re pa ca lo cu ci la ca
to PE
PERNAMBUCO l 9
Recife, 23 a 29 de março de 2018
hesf em Paulo Afonso ação da Eletrobrás
erra, que denuncia no mês de março a entrega das reservas de água para PB Reinaux
ais é fruto de políticas omo o “Luz para Toos” e do compromiso social da estatal, que eneficiaram 3,2 mihões de famílias com a ede de eletricidade em 2 anos de programa. A ocupação da Chesf az parte de um calenário de lutas que iniiou no dia 5 de março, om mais de mil mulhees Sem Terras que ocuaram a frente da fábria Suzano papel e celuose, localizada em Muuri, na Bahia, denuniando os problemas reacionados a crise hídria no município, causa-
MST SE
Privatização não afeta apenas o setor econômico, tem impactos direto na vida das mulheres
dos pela produção em grande escala de eucalipto. No dia 20, junto com a ocupação na Chesf em Paulo Afonso, 300 mulheres ocuparam a Usina de Xingó, em Canindé do São Francisco, em Sergipe, também contra a privatização da companhia e pela solução dos conflitos no perímetro irrigado do Projeto Jacaré Curituba. No mesmo dia, 600 mulheres do MST ocuparam a unidade da Nestlé Waters em São Lourenço, Minas Gerais. A multinacional secou duas fontes de água no município e junto com
Com a privatização, as contas de energia ficarão até 16% mais caras outras empresas tem sido apoiadoras da venda do aquífero guarani, o maior reservatório de água doce do mundo. Nesta quinta-feira (22), 350 militantes de diversos movimentos populares ocuparam o parque industrial da Coca-Cola,
nos arredores de Brasília. A ocupação acontece dentro da programação do Fórum Alternativo Mundial das Águas (FAMA), evento que, de acordo com os movimentos, é uma forma de repúdio ao 8º Fórum Mundial da Água, orga-
nizado pelo governo de Michel Temer e multinacionais como um balcão de privatizações dos recurso hídricos. Lucinéia afirma que até o final do mês mais atividades estão previstas como formas de combate à privatização do sistema Eletrobrás. Já O relator do Projeto de Lei da privatização da Eletrobrás na Câmara dos Deputados, José Carlos Aleluia (DEM-BA), diz pretende apresentar seu relatório em 17 de abril e que “não terá dificuldade nenhuma” em submeter a matéria à aprovação ao plenário ainda durante o próximo mês.
CIDADES I 10
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Recife, 23 a 29 de março de 2018
Ocupação pelo direito à moradia no centro do Recife MORADIA. Organizada por mulheres, a ocupação foi nomeada de Marielle Franco, em homenagem a vereadora executada no RJ Rani de Mendonça
Rani de Mendonça
Rani de Mendonça
Jo Cavalcanti, coordenadora estadual do MTST diz que esta é uma pauta urbana Sandra Pereira mora há mais de um ano na ocupação Carolina de Jesus
de preservação. Segundo a coordenadora estadual do MTST, Jô Cavalcanti, esta é a primeira ocupação vertical do movimento, em Recife, e que existe a necessidade de trazer para o centro da cidade o debate em torno da moradia. “Sempre nos colocam para fora da cidade. O centro é local onde se trabalha e onde se resolvem as coisas, porque também não é nosso espaço para morar? O poder público deixa esses prédios abandonados e devendo aos cofres públicos e um monte de família sem ter onde morar. Temos notícias de uns 25, só aqui no Recife”, ressalta. O foco é direito à moradia, mas a luta também é por políticas públicas eficazes para as mulheres Organizada pelas muRani de Mendonça lheres, a ocupação é parte da agenda ulheres do Movinacional de Marmento dos Traço do MTST, que balhadores Sem Teto tem como foco a (MTST) ocuparam o anEsta é a primeira reivindicação por tigo edifício SulAmérie tamocupação vertical moradia ca, localizado na Praça bém por políticas da Independência, área do MTST em Recifepúblicas eficazes central do Recife. São para as mulheres, quase 200 famílias que débitos de Imposto Precomo a ampliação estão ocupadas em bus- dial e Territorial Urba- dos números de casas ca da efetivação do seu no (IPTU) que somam de acolhimentos, credireito à moradia. O mo- R$1,6 milhão. O Edifí- ches e outros serviços. vimento reivindica para cio está enquadrado na A ocupação foi nomeaque seja efetiva a fun- Lei n° 16.284/1997, que da de Marielle Franco, ção social da proprieda- define os imóveis es- em homenagem à vede e pede pela desapro- peciais de preservação readora do PSOL que foi priação do imóvel, sem (IEP), situados no mu- executada no Rio de Jauso há mais de 20 anos, nicípio do Recife, esta- neiro. “É uma pauta ure com dívida ativa de belecendo as condições bana e todo mundo da
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sociedade tem que ficar sabendo disso. Estamos aqui denunciando essa questão, porque é um prédio abandonado que deve aos cofres públicos acima do que esse prédio custa. E que, com esse dinheiro, podíamos ter mais investi-
Reivindicação é por moradia e por políticas públicas para as mulheres mentos nos serviços públicos”, conta Jô. Para Carla Bianca de Barros, 20 anos, que está ocupada junto com sua filha de três anos, a ocupação significa a esperança de ter uma casa para morar. “Eu cheguei até aqui porque minha mãe me levou para a comemoração de 20 anos do MTST e ouvi um depoimento da vida de uma companheira que conseguiu uma casa. Vim porque também estou precisando da minha para morar com minha filha”, diz. A militante Sandra Pereira mora há mais de um ano na ocupação Carolina de Jesus, que fica no Barro, zona Su-
doeste do Recife e agora está como apoio às mulheres ocupadas na Marielle Franco. “Estamos aqui para dar um reforço às companheiras, porque a gente sabe a dificuldade que é não ter casa. Meu sonho é ter a minha também e poder morar com meu filho e meus netos”, conta. As ocupantes não foram procuradas por nenhum representante do estado, nem dos proprietários do imóvel. “Até aqui só chegaram alguns policiais para saber se a gente vai fazer algum ato até o Palácio das Princesas. Respondemos que não, que vamos continuar ocupadas e tentando pressionar o poder público para receber a comissão das mulheres para negociação”, conta a coordenadora Jô Cavalcanti. Os primeiros passos da ocupação já foram dados, estão com uma campanha para arrecadação de alimentos, roupas, fraldas para as crianças e colchões. “A campanha é um processo para pedir apoio à sociedade para ajudar na manutenção das famílias que estão aqui. A luta desse momento é desapropriar esse prédio para virar moradia para o povo”, diz Jo.
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Recife, 23 a 29 de março de 2018
ENTREVISTA l 11 ENTREVISTA l 11
“Casos como o de Marielle tem que ser acompanhados com olhos muito críticos” MÍDIA. Nataly Queiroz, doutora em comunicação, faz uma análise geral da imprensa no país após execução de Marielle Franco Marianne Dafne/Aeso
Daniel Lamir
Para sabermos mais sobre a cobertura dos meios de comunicação diante da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes, no Rio de Janeiro, entrevistamos a professora e pesquisadora Nataly Queiroz, doutora em comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco. A conversa aconteceu na quinta-feira (15), um dia após os dois assassinatos. Brasil de Fato: Como avaliar a cobertura feita pelos meios de comunicação no país? Nataly Queiroz: A morte de Marielle Franco pegou todo mundo de surpresa. É muito interessante perceber como os próprios veículos de comunicação, neste primeiro momento, privilegiaram uma cobertura de cunho mais factual, do que efetivamente nas discussões acerca do contexto em que envolveu a morte de Marielle. Um contexto de intervenção militar federal, um contexto de militarização da segurança e um contexto de muita crítica e muita insatisfação das pessoas das comunidades periféricas do Rio de Janeiro, em relação as medidas de segurança que têm sido adotadas pelo estado e também pelo Governo Federal. Há um processo de secundarização nessa mídia comercial hegemônica das vozes das comunidades, das vo-
No Brasil, a comunicação massiva comercial é gerida por empresários e políticos zes do grupos que eram efetivamente representados pela Marielle. Assim, há uma priorização de uma cobertura de cunho policial. BdF - Há uma diferenciação dos meios de comunicação de acordo com as classes sociais? O que dá para analisar da mídia hegemônica? Nataly Queiroz: É muito interessante também notar como os veículos comerciais asso-
ciados a públicos das classes A, B e C têm tentado trabalhar com expressões e com verbos, como por exemplo: assassinar. Eu cheguei a ver um dos jornais com a seguinte frase: “Marielle é mais uma vítima da violência”, como se a gente estivesse falado de uma violência comum. Efetivamente, o caso de Marielle não é um caso de uma violência comum, corriqueira. É também interessante notar como, em geral, essa mídia comercial mais popular tem trabalhado com uma expressão que os veículos comerciais associados às classes A, B e C usam pouco, que é a expressão “execução”. Essas diversas abordagens mostram bem o quanto há de tensões em relação à mídia, aos interesses da midiáticos, que envolvem obviamente os grupos e corporações empresariais e políticas.
país está atravessando quando pensamos na BdF: Juntando o maioria da população? tema dos direitos humanos e os debates na Nataly Queiroz: Boa internet, qual sua aná- parte daquilo que a genlise? te sabe sobre o mundo nos é contado por meio Nataly Queiroz: Vale dos veículos de comuressaltar também, uma nicação. A Abordagem vez que a gente está na desse veículo, se vai dar era das redes, o posi- uma conotação positiva cionamento das pes- ou negativa, vai influensoas acerca do envolvi- ciar na forma como as mento da Marielle com pessoas observam aqueos direitos humanos. Há le fato. Por isso que camuitas críticas à prote- sos como o de Marielção aos direitos das pes- le tem que ser acompasoas humanas. Essa crí- nhados e tem que ser tica que é feita pelos in- vistos com olhos muito ternautas não é uma crí- críticos, porque em um tica isolada do contexto país que a gente tem a dos mídias. Há, histori- maior parte dos veícucamente, uma crimina- los nas mãos de emprelização dos movimen- sários e de políticos, obtos sociais e das pautas viamente que este conque envolvem os direi- teúdo pode vir permeatos humanos. Essas pes- do de conotações que soas que estão lendo as dizem respeito aos intematérias e que estão re- resses desses políticos e produzindo discursos desses empresários. Asde ódios em relação aos sim, cabe ao jornalismo direitos humanos foram cumprir com a sua funmidiaticamente forma- ção social de promodas por discursos pro- ver uma cobertura ética, feridos, historicamen- responsável, comprote, pelas empresas de metida com a emancicomunicação no Brasil. pação dos direitos e das Eu acho que esse é um pessoas e compromemomento para que to- tida também com a dedos nós estejamos mui- mocracia. A mídia é um to atentos aos discursos termômetro da demoque estão sendo veicu- cracia e de como deterlados, porque eles são minado país reage e ver muito sintomáticos de esses assuntos que dium período em que há zem respeito ao univerum grande ódio à de- so. Aqui no Brasil, pomocracia, que há um demos citar, os assungrande ódio à participa- tos que dizem respeição democrática, com to às mulheres, comunigrande ódio aos direitos dade LGBT, negros, potambém. bres, trabalhadores, etc. É muito importante que Brasil de Fato: A a gente, como leitores e abordagem feita pelos leitoras, espectadores e meios de comunicação espectadoras, possamos é responsável pelo ce- cobrar uma cobertura nário turbulento que o qualificada.
O lugar sem limites José Donoso
“Fausto: Primeiro irei interrogá-lo sobre o inferno. Diga-me, onde é o lugar que os homens chamam de inferno? Mefistófeles: Debaixo do firmamento. Fausto: Está bem, mas onde? Mefistófeles: Nas entranhas desses elementos, onde somos torturados e ficamos para sempre: o inferno não tem limites, não se localiza num só lugar; porque o inferno é onde estamos, e onde for o inferno, lá estaremos para sempre...” Johann Wolfgang von Goethe
m 1966, contexto de E boom da literatura latino-americana, surge o li-
coronelismo e o latifúndio vivem cotidianamente com os habitantes do vilarejo de El Olivo, inferno que Manuela intrinsecamente fez morada por saber que todo lugar seria inferno. A tristeza travestida de condição, o medo que goteja a cada rodopio e rodada que a musa, rainha, bicha louca, velha, pai, mãe, o ser que todos amam e odeiam por ser quem é, dá. Manuela. Esse disco do Século XX soa arranhado, o Brasil matou ao menos 868 travestis e transexuais nos últimos oito anos, 268 mortos foram contabilizados no México. A morte dos LGBTs na América Latina balança conforme a melodia do patriarcado. No Brasil, menos de 1% dos proprietários agrícolas possui 45% da área rural. José Donoso faz denúncia, a agulha dessa vitrola precisa ser trocada.
vro “O lugar sem limites de José Donoso”. Pode se dizer que Donoso estava à frente do seu tempo, - sem ignorar o movimento LGBT e feminista, que já estava na segunda onda - a narrativa se constrói através da história de Manuela, mulher trans que administra um prostíbulo com sua filha Japonesita que a chama *Louise Xavier é militante do de “pai”. Levante Popular da JuventuPatriarcado, LGBTfobia, dede
AGENDA CULTURAL
Música
Dança Cultural LGBT da UFPE
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urante o mês de março, a Universidade Federal de Pernambuco sediu uma série de debates relacionados a pauta LGBT, promovida por estudantes da instituição. Para encerrar o ciclo de debates, acontece nessa sexta a Cultural LGBT da UFPE, com performances dos artistas Mosir Barbosa, Xis Brilhantina e outros. O som fica por conta de Jardel Araújo, Felipe Souza, Safira Blue e outros. O evento tem entrada gratuita e acontecerá no Centro de Educação da UFPE.
LUTADOR
do Povo
Louise Xavier*
Louise Xavier
O que tu indica
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CULTURA | 12
Tem coco na Ilha
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sexta edição do evento “Tem coco na Ilha” acontece no próximo domingo (25), na Colônia dos Pescadores de Itamaracá. Nessa edição, além do encontro das Mestras coquistas Dona Anjinha do Coco e Mestra Totinha e a apresentação do grupo Coco Pisado, de Igarassu, o Grupo Maria Quitéria, de Abreu e Lima, estreia no evento tocando carimbó. A Colônia fica na Praia do Pilar, na Ilha de Itamaracá (PE), e o evento acontece entre 14h e 18h.Entrada é gratuita.
Cine Cinema da Fundação
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partir da próxima segunda-feira (26), o Cinema da Fundação do Derby, no Recife, reabre as portas após dois anos em reforma. Além da restauração do projeto arquitetônico original, o cinema conta agora com assentos para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida. Na primeira semana de exibição as sessões serão gratuitas. Serão exibidos os longas “Vidas Secas”, “Rio Zona Norte”, “Os Herdeiros”, “Joana, a Francesa” e “Chuvas de Verão”. Endereço: Rua Henrique Dias, 609, Derby.
Karl Marx arl Marx nasceu na Prússia, em 5 K de maio de 1818. Vindo de uma família de classe média, Marx escreveu
por alguns anos no jornal Rheinische Zeitung e estudou nas universidades de Bonn e Berlim, na Alemanha, onde começou a se interessar pela economia política. Ele se mudou para Paris em 1843, onde começou a escrever para outros jornais radicais e conheceu Friedrich Engels, com quem escreveu o Manifesto do Partido Comunista e para quem deixou após a sua morte todos os seus escritos. Em 1849, Marx foi exilado e se mudou para Londres junto com sua esposa e filhos, onde continuou a escrever e formular suas teorias sobre a atividade econômica e social, ficando próximo da Associação Internacional dos Trabalhadores. Suas ideias sobre o funcionamento do capitalismo ficariam conhecidas no mundo todo, principalmente a partir de sua obra mais conhecida, O Capital, lançado em 1867, onde não fala apenas de economia, mas também sobre a sociedade, cultura, política e filosofia. As ideias de Marx tiveram um profundo impacto na política mundial e pensamento intelectual, onde revolucionários como Vladirmir Lenin, Fidel Castro, Mao Tse Tung e outros reivindicaram o marxismo, a partir da necessidade da transformação radical da sociedade. Marx morreu em 14 de março de 1883, em Londres, diagnosticado com bronquite e pleurisia.
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Variedades l 13 CULTURA | 13
Pantera Negra: “Eu sou herói, eu sou rei” CINEMA. Filme evidencia aspectos do povo negro que geralmente não estão na mídia Raíssa Lopes, Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG)
á pouco tempo, um H apresentador de uma grande rede de tele-
visão, branco, falou sobre o valor da representatividade durante uma passagem ao vivo. “Isso não importa”, disse. No entanto, um dos mais recentes sucessos do universo cinematográfico da Marvel Comics, o filme “Pantera Negra”, veio para dar um recado seco, direto: representatividade importa sim. Feito por uma equipe quase toda negra – diretor, elenco, produtores –, o longa retrata a história de um rei. Um rei de pele preta que contraria o olhar branco no mundo do cinema: não é marginalizado, não vem de um continente pobre, de um povo sofrido que espera seu salvador. “Ver esse filme faz a gente sentir que está valendo a pena, sabe?” define Elissandra Flávia dos Santos, locu-
Divulgação
mostrando que assim como a branquitude, a negritude tem o direito de ser complexa. “Tem uma história na África que diz que quando você nasce, é feita uma canção para você. E ela é sempre lembrada em todos os momentos da sua vida. Quando você erra, você é levado para o centro de uma roda e as pessoas cantam essa canção para fazer você se lembrar de quem é e Longa mostra que assim como a branquitude, a negritude tem o direito de ser complexa de onde veio. Esse filme tora, editora da revista coisas que mais chamou me fez sentir assim”, diz. Canjerê e uma das orga- a sua atenção foi unir a E ele recorda um pensanizadoras de uma ses- exaltação da ancestrali- mento que vira e mexe são especial do longa dade, um dos pilares da volta à cabeça desde que, destinada apenas cultura africana, com o que saiu do cinema: “eu ao público negro, fez novo e a juventude. “Re- sou herói, eu sou rei”. trata uma África tecnolóuma sala inteira lotar. Soberania gica, um continente fuAcordar turo, com um trono de Na opinião do rapper metal, mas tem o chão “Parece clichê, mas é de barro batido. O poder mineiro Roger Deff, oupor conta da represen- vem das plantas, do co- tro ponto positivo é o tatividade que eu des- nhecimento tradicional modo de falar do conpertei para questões ra- – coisas que muita gente tinente africano como ciais”, declara a jornalis- vê como arcaicas, burras, autossuficiente com ta. E para além do des- subdesenvolvidas –, mas toda a sua riqueza napertar coletivo, como sem deixar de lado toda tural. E apesar da ficção, ela relata, a sessão tinha essa potência da ino- ele acredita que o país como objetivo acender vação que é nossa tam- imaginário que é cenáa felicidade e o orgulho, bém. É um tapa na cara rio para o filme, Wakantão presentes no povo de quem ainda é racista. da, é uma metáfora para negro, mas tão pouco É dizer ‘não é a partir do questionar o que a Áfriestimulados. seu olhar que eu sobrevi- ca poderia ter sido sem O ator e educador po- vo’”, ressalta. a colonização. “Vários pular Evandro Nunes Para Evandro, o filme países do mundo não estava presente e fez da- acerta ao retratar perso- seriam assim tão poquela a quarta vez que nagens profundos, que bres, tão dependentes viu o filme. Uma das não são só bons ou ruins, da tecnologia estrangei-
ra se não fosse a história de exploração. É uma produção divertida, que é comercial e tem alcance, mas que tem muito conteúdo, gera identificação. Não me recordo de outros filmes que tenham nos tratado fora do contexto de sofrimento. O Pantera Negra fala da dor, mas como um efeito colateral de uma bagagem histórica”, reflete o músico.
Curiosidades: O filme bateu recordes de bilheterias por todo o mundo. O público negro lotou sessões nos mais diversos lugares, reagindo com gritos e aplausos. Por Roger Deff: quando criança, o rei de Wakanda tinha no quarto um pôster do grupo Public Enemy, um dos principais do rap mundial. A trilha sonora foi produzida pelo rapper americano Kendrick Lamar, que é famoso pela musicalidade e por não fugir de temas espinhosos em suas letras. O rapper brasileiro Emicida também foi convidado para escrever uma letra para o filme, que se chama “Pantera Negra”.
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Recife, 23 a 29 de março de 2018
TV
BA FÁ FÁ
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Reprodução/TV Globo
De olho no jornalismo da TV Globo Frederico Santana, Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) ue Brasil você quer para o futuro?”. Essa é a pergunta feita pela campa“Q nha da TV Globo que exibe vídeos em todos os telejornais da emissora, desde o início de 2018 com as respostas dos telespectadores sobre o que que-
rem para o país. Especulações não faltam sobre quais são as intenções da Globo com tal campanha. Há tempos, a emissora vem percebendo a queda na audiência dos seus telejornais e mais do que isso, a identificação pelo público da parcialidade - para dizer o mínimo – da sua cobertura jornalística. A imagem do jornalismo da TV Globo não está nada boa. E claro, motivos não faltam para isso! É possível que tal campanha busque melhorar a imagem da emissora, resgatar uma tal credibilidade que já tivera um dia… os anunciantes também estão de olho nisso! E seria coincidência, essa proposta surgir meses antes da campanha eleitoral? Seria uma tentativa da Globo de pautar as eleições de 2018? Chamou bastante atenção o destaque dado à morte da vereadora Marielle Franco pelo jornalístico Fantástico. Nas redes sociais surgiram comentários sobre a forma como a morte da vereadora foi mostrada. Em entrevistas com a companheira de Marielle, Mônica Benício, sua mãe e irmã e com a esposa do motorista Anderson, também morto, não faltaram apelos às emoções. Nada mais justo, para o momento. No entanto, a forma radical como Marielle vivia sua vida de ativista e suas pautas foram escondidas sob o termo “defensora dos direitos humanos”. Importante notar que, após 45 minutos dedicados à Marielle, o Fantástico noticiou a morte horrível de um bebê numa favela carioca seguido de reportagem que informava que o presidente se reuniu com ministros em busca de mais recursos para a intervenção militar para conter a violência no Rio. No mesmo instante, o PSOL, partido da vereadora, colocou no Twitter um recadinho para o programa: “Alô, @showdavida! Marielle era CONTRA a intervenção no RJ”. - O povo não é bobo... e percebe as coisas, dona Rede Globo! - Um Brasil com uma imprensa mais democrática e que respeite o seu povo, é o que quero para o nosso futuro!
Um abraço!
Brasil de Fato PE
VARIEDADES l15 15
Recife, 23 a 29 de março de 2018
Nossa cozinha Biscoito Frito Querida Amiga da Saúde, Usar unhas de gel pode fazer algum mal pra saúde?
Ingredientes: 3 copos de goma (polvilho azedo ou doce) 02 ovos Sal (a gosto). Não exagere! 1 copo de água 1/2 litro de óleo
Valesca da Silva, 22 anos, estudante
ara Valesca, é crescente o número de mulheres que, a cada dia, C aderem à moda das unhas de gel. Entretanto, poucas sabem que isso pode, sim, representar um risco para a saúde. Os proble-
Modo de Preparo: Ferva um copo de água; Misture num recipiente a goma e o sal; Despeje a água fervida aos poucos sobre a goma deixando-a úmida, mas sem deixar encharcar; Por último, com a goma úmida, adicione os ovos (Quebre antes numa outra vasilha para conferir se estão bons); Agora amasse tudo junto até formar uma massa homogênea e enrole os biscoitos na mão no formato que desejar; Frite os biscoitos no óleo fervido numa panela funda em temperatura máxima; Após fritar, abaixe o fogo e deixe os biscoitos dourarem antes de tirar e servir; É bem simples, rápido e serve entre 10 a 15 pessoas com fartura e deve ser comido na hora, quentinho acompanhado de um cafezinho ou um chá!
mas mais comuns são as micoses. O processo de fixação do molde de gel é agressivo para as unhas, o que as deixa mais susceptíveis a infecções. Além disso, podem ocorrer infiltrações, facilitando o aparecimento dos fungos que causam as micoses. Irritação e alergia também podem aparecer, principalmente se os produtos contiverem uma substância chamada metil metacrilato, sabidamente agressiva para a pele. O contato prolongado com acetona para remoção dos moldes é outro causador de irritação na pele. A aplicação e retirada dos moldes de gel podem ainda conter riscos de transmissão de doenças como, por exemplo, a hepatite, caso o instrumental não seja esterilizado. Diante de tantos riscos, todo cuidado é pouco. Para as gestantes a recomendação é não usar as unhas de gel, uma vê que há uma tendência a maior sensibilidade da pele, potencializando os riscos já citados. Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Sofia Barboa | Aqui você podeperguntar o que quiser para nossa Amiga da Saúde Coren MG 159621-ENF
ESPORTES | 15
Conheça Lev Yashin, o goleiro símbolo da Copa do Mundo 2018
FUTEBOL. Pegador de pênaltis, o comunista filiado ao partido revolucionou a posição de goleiro
Vinícius Sobreira
Copa do Mundo A FIFA 2018, a ser realizada na Rússia entre
junho e julho deste ano, traz em seu pôster uma figura lendária do futebol mundial, mas pouco conhecido do mundo ocidental, especialmente pelas gerações mais jovens. A arte traz a imagem de Lev Ivanovi-
Yashin4 ch Yashin, considerado o maior goleiro do século 20 e maior futebolista russo de todos os tempos. Nascido em Moscou em 1923, na recente União Soviética, trabalhou na adolescência numa fábrica de ferramentas. Ele era goleiro de hóquei no gelo do time da fábrica, mas aos 14 anos migrou para os campos de futebol. Mas o início da carreira, no Dínamo de Moscou, não foi fácil. Após algumas falhas, chegou a voltar ao hóquei, mas não tardou para retornar aos gramados, onde se torna-
ria uma lenda. Yashin revolucionou a posição de goleiro, porque era um dos raros de sua posição que não se contentava em ficar na pequena área. Ele saía para interceptar cruzamentos, fechava os ângulos dos atacantes, se lançava na bola antes que os adversários chutassem. Quem o viu jogar o compara com Neuer, atual goleiro da seleção alemã. Dos seus pouco mais de 800 jogos na carreira, o soviético conseguiu ficar sem tomar gol em 270 partidas. Durante a carreira ele pegou 150 pênaltis. Lev jogou toda a carreira no Dínamo de Moscou e defendeu a seleção de seu país em 78 jogos,
conquistando os títulos da Eurocopa de 1960 e das Olimpíadas de 1956, além de atuar nas copas do mundo de 1958, 1962, 1966 e, já como reserva, 1970. Yashin foi eleito o melhor jogador da Europa em 1963 e melhor do mundo em 1971, sendo o único goleiro até hoje a conquistar a Bola de Ouro. Ele nunca foi eleito melhor goleiro de uma Copa, mas o prêmio de Melhor Goleiro da Copa passou a levar seu nome entre as Copas do Mundo de 1994 e 2006. Em eleição realizada pela FIFA em 1998, Yashin foi eleito o melhor goleiro do século 20. Em 2004 foi eleito o maior futebolista russo da história. Após se aposentar, aos 42
anos, em 1971, passou a trabalhar como professor de Educação Física e, no Dínamo, como treinador de categorias de base e integrou a comissão técnica da seleção. Faleceu em 1990, um ano antes da desintegração do país que defendeu por toda a vida. Sempre simpático, Yashin era tido como um exemplo de carisma a ser seguido pelos líderes do Partido Comunista, ao qual ele era filiado. No auge de sua carreira, em 1967, o goleiro foi agraciado com a Ordem de Lênin, maior condecoração concedida pela União Soviética, dada a personalidades como o cosmonauta russo Yuri Gagarin.
16 | ESPORTES
Brasil de Fato PE
Recife, 16 a 22 de março de 2018
NA GERAL AscomNautico.
Vinícius Sobreira
FernandaCoimbraCBF
GOL DE PLACA Patativa estreia em finais a véspera de seu centenário, o Central Sport N Club conseguiu se classificar para a 1ª final de sua história no Pernambucano. Após enfrentar de
Náutico enfrenta Inter na 2ª
Uninassau tenta reabilitação
Copa América feminina
Internacional-RS pela 1ª fase do mata-mata que define as equipes da Série A2 do Brasileirão. A disputa se dá em jogo único: venceu, avança; empate leva aos pênaltis. O jogo acontece na Arena de Pernambuco, a partir das 15h. No ano passado, as Alvirrubras ficaram apenas em 15º lugar na competição. Pela Série A1 de 2017, Sport e Vitória das Tabocas ficaram em 5º e 14º respectivamente, permanecendo na primeira divisão para a competição deste ano. Esta seráa segunda edição do Brasileirão Feminino.
dra tentando melhorar na tabela da LBF Caixa. Com 5 vitórias e 4 derrotas até agora, a equipe pernambucana faz campanha irregular e ocupa apenas a 4ª posição (entre 9 equipes). Na noite desta sexta, às 19h, a Uninassau recebe o Presidente Venceslau (7º colocado). Já na manhã do domingo enfrentam o Catanduva (9º). As pernambucanas, vice-campeãs da LBF 2017, são favoritas nos dois jogos. Os duelos acontecem no ginásio do Sesc Santo Amaro, região central do Recife (PE). Os ingressos custam R$10 e R$5
início a Copa América de futebol feminino, no Chile. Maior campeão do torneio, o Brasil está no Grupo B. Na primeira fase enfrenta Argentina (no dia 5), Equador (dia 7), Venezuela (11) e Bolívia (13). As 10 equipes do continente estão divididas em dois grupos e avançam as duas melhores de cada grupo. As classificadas se enfrentam num quadrangular de onde sai a vencedora. Apesar dos danos causados pela demissão da técnica Emily Lima, a equipe tenta criar nova identidade com a volta do velho Vadão.
esta sexta-feira (23) esta segunda-feira o próximo dia 5 de N (26), o time femini- Ne no domingo (25), a Nabril, após o feriano do Náutico enfrenta o Uninassau entra em qua- do da Semana Santa, tem
PRIORIDADES Filipe Spenser
filipespenser@gmail.com
igual para igual os três grandes times da capital – dois empates em 1x1 e uma goleada de 3x0 sobre o Náutico –, o Alvinegro de Caruaru encerrou a 1ª fase do Pernambucano em 2º lugar, empatado com o líder. No mata-mata despachou o também tradicional América e, nesta quarta, a vítima foi o Sport. A Patativa segurou o Leão e, num vacilo da defesa rubro-negra, definiu o jogo. De quebra garantiu a participação na Copa do Brasil 2019. O adversário da final do estadual vem do confronto entre Náutico x Salgueiro. Ainda este ano o Central disputa a Série D do Brasileirão.
GOL
CONTRA
Ronaldinho Gaúcho no PRB R10
craque Ronaldinho GaúO cho não tem marcado golaços fora de campo. Pelo me-
nos não no campo da política. No fim do ano passado ele posou com um cartaz do candidato a presidente Jair Bolsonaro e ao lado do presidente do partido PEN, apoiador do político ultraconservador. Esta semana Ronaldinho e seu irmão se filiaram ao PRB, sigla comandada pela Igreja Universal e sustentadora do governo Temer. A tendência é que ele seja candidato ao Senado pelo Distrito Federal.
DE OLHO NA PRÓXIMA FASE Stella Nascimento ssnascimento_24@hotmail.com
DORMINDO DE TOGA Daniel Lamir
daniel.lamir@brasildefato.com.br
Santa Cruz foi eliminado do Pernamelizmente o Náutico, hoje, disputa três ais de 20 dias sem jogos. O vácuo entre F competições distintas: Pernambucano, Obucano pelo Sport, que uma semana Mpartidas oficiais deve ser o combustíNordestão e Copa do Brasil. Com as restri- depois foi eliminado pelo Central. Mas, di- vel para movimentações pesadas nos comções orçamentárias existentes, é natural que o clube acabe por ter que escolher priorizar alguma competição. Afinal, o elenco não é homogêneo e o clube não pode se dar ao luxo de perder jogadores de destaque para os jogos decisivos. Como não bastasse, a derrota do Sport para o Central, abre a possibilidade de o Náutico disputar uma final do Pernambucano contra um time de patamar financeiro mais próximo ao seu – caso, claro, vença o Salgueiro neste domingo, em jogo que tende a ser bem difícil. Nesse contexto, diante das chances remotas na Copa do Nordeste, a escalação de um time alternativo contra o Botafogo-PB deve ser encarada com naturalidade. É hora de ser campeão..
ferente dos nossos co-irmãos, temos tabela importante para cumprir até o início da Série C. Seguimos líder do nosso grupo na Copa do Nordeste, precisando de apenas 2 pontos para seguir para a próxima fase da competição. Já começamos a fazer perguntas sobre a próxima fase, que está bem encaminhada. Qual time vamos enfrentar nas quartas de final? Atualmente temos CRB, ABC, Bahia e Sampaio Correia como opções. Mas na última partida pode mudar. Espero que Júnior Rocha tenha utilizado esse tempo para preparar melhor sua equipe, que não vem jogando nada bem desde o início da temporada. A chance é essa de tentar fazer valer algo do nosso primeiro semestre.
plexos bastidores da Ilha. Solução? Preocupação. A sensação é que quanto mais a gestão atual se mexe, mais desastres acontecem (ou ficam mais nítidos). Mal gerenciamento financeiro é um tema esparramado na Praça da Bandeira. Antes de cobrar um equilíbrio dos comandados de Nelsinho, é preciso cobrar dos comandantes dele. Apagão na Ilha é apelido. O momento está tão sombrio que ameaçaram até um remake da “novela Rithely”. Por falar em artes cênicas, o único título ratificado neste ano acabou vindo do Supremo Tribunal Federal, sobre 1987. É irônico demais, mas podemos dizer que apenas a turma da toga não aprontou com o Leão na temporada.