BdF PE - Ed. 119

Page 1

LEITURA

Daniel Lamir

ENTREVISTA| 11 ANDRÉ AMÍLCAR

Coordenador do Ciranda Biblioteca Popular articula sonhos e lutas em popular, cursinho pré-vestibular rede na comunidade do no Morro da Conceição que está com inscrições abertas Coque, em Recife

Arquivo pessoal

CIDADES | 10

PE UMA VISÂO POPULAR DO BRASIL E DO MUNDO Pernambuco

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020 a n o 3

e d iç ã o 119

distribuição gratuita

Em greve nacional, petroleiros paralisam unidades da Petrobras em Pernambuco

FUP


Brasil de Fato PE

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

2 | OPINIÃO

EDITORIAL

No Brasil, o transporte coletivo tem um pouco de navio negreiro Louise Xavier

TARIFAS. No Recife, quem ganha até um salário mínimo têm 14,2% do salário gasto com transporte público

Temos experiências prévias suficientes para não confiar nas elites

V

ocê já teve ter ouvido que “todo camburão tem um pouco de navio negreiro”. A ideia embutida nessa expressão é muito verdadeira. Principalmente quando sabemos, por exemplo, que quase 70% da população encarcerada no Brasil é negra (Infopen, 2016). Ou quando nos damos conta de quão desiguais são as abordagens policiais nos bairros onde vivem desempregados, subempregados e trabalhadores e naqueles das elites econômicas. Convivemos em nossas vidas, portanto, com agruras de nosso passado colonial, apenas superficialmente modificadas. Nossa República, oficializada em negociatas de uma elite carente de projeto nacional e representante servil dos interesses ca-

pitalistas estrangeiros, faz-se, até o presente, incapaz de superar as relações sociais desiguais, que, herdadas do escravagismo, transmutam-se hoje nas inúmeras formas de preconceito, exploração e exclusão infligidas seja pelo mercado seja pelo Estado à nossa classe trabalhadora. Como nos mostrou a recente experiência do impeachment da presi-

denta Dilma e o estabelecimento de um governo nacional de extrema-direita, nos poucos momentos em que ações governamentais ensaiaram um rumo capaz de ter essa superação no horizonte. Entender que seja essa a dinâmica de nossa história faz reconhecer que não há exagero em afirmar, parafraseando a ideia inicial, que “todo transporte cole-

tivo tem um pouco de navio negreiro”! Afinal, é somente no contexto dessa dinâmica que podemos entender a ausência de políticas públicas que, a exemplo de outros países, garantam serviços de transporte coletivo capazes de aliar baixas tarifas (ou, mesmo, nenhuma tarifa) à pontualidade, conforto e segurança, especialmente em linhas que servem aos bairros nos quais vive a classe trabalhadora. Como noticiamos anteriormente, a população da Grande Recife viu as tarifas de metrô e ônibus aumentarem, desde o ano passado, em mais de 100% e em cerca de 15%, respectivamente. Até junho, são esperados outros aumentos.

Nesse mesmo período, o reajuste do salário mínimo foi de apenas cerca de 4%. Nas atuais circunstâncias, quem ganha até um salário mínimo têm nada menos que 14,2% de sua renda mensal comprometida com o pagamento de sua locomoção, um dado que ganha ainda maior força quando sabemos que 60% dos trabalhadores brasileiros ganha, em verdade, menos que isso (Pnadc, 2019). Escandalosamente, tais aumentos nas tarifas no transporte coletivo, que em Pernambuco têm superado a inflação e o reajuste do salário mínimo nos últimos 10 anos, não têm se desdobrado na melhoria dos serviços. Essa é uma situação gerada e reproduzida pela histórica negação de plena cidadania aos brasileiros e brasileiras que, filhos e filhas das violências do escravismo colonialista, constituem hoje a classe trabalhadora do país. Temos experiências prévias suficientes para não confiar nas elites para a superação desta e de outras iniquidades a que somos diariamente submetidos. Somente nossa própria auto-organização política será capaz de desenvolver e realizar o Brasil radicalmente democrático que precisamos.

Expediente Brasil de Fato PE O Brasil de Fato circula nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Paraíba e Bahia com edições regulares. Em Pernambuco está nas ruas todas às sextas-feiras com uma visão popular de Pernambuco, do Brasil e do Mundo. Página: brasildefatope.com.br | Email: pautape@brasildefato.com.br | Para anunciar: brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br | Telefone: 81. 96060173

Edição: Monyse Ravena | Redação: Vinícius Sobreira, Marcos Barbosa, Vanessa Gonzaga, Rani de Mendonça e Fátima Pereira. Articulista: Aristóteles Cardona | Colaboração: André Barreto, Bianca Almeida, PH Reinaux, Catarina de Angola | Administração: Iyalê Tahyrine Diagramação: Diva Braga | Revisão: Júlia Garcia | Tiragem: 20 mil exemplares Conselho Editorial: Alexandre Henrique Pires, Bruno Ribeiro, Carlos Veras, Doriel Barros, Eduardo Mara, Geraldo Soares, Henrique Gomes, Itamar Lages, Jaime Amorim, José Carlos de Oliveira, Fernando Melo, Fernando Lima, Laila Costa, Luiz Filho, Luiz Lourenzon, Marcelo Barros, Margareth Albuquerque (in memorian), Marluce Melo, Paulette Cavalcanti, Paulo de Souza Bezerra, Paulo Mansan, Pedro Lapa, Roberto Efrem Filho, Rogério Almeida, Rosa Sampaio, Sérgio Goaiana, Suzineide Rodrigues, Valmir Assis.


Brasil de Fato PE

GERAL l 3

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

FRASE da semana Reprodução/Globo

Nota

A gente já caiu, levantou, e se mantém de pé. Numa edição com um monte de homens machistas, numa sociedade onde a luta das mulheres é exatamente essa, por respeito. Estamos sendo referência.

SERVIÇ0S IPTU de Petrolina Divulgação/PMP

m Petrolina, os carnês de E pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)

Rafaella Kalimann, no BBB20, após discussões sobre assédio e machismo no reality show.

Qual vai ser o hit do Carnaval?

estão sendo distribuídos nas residências. Quem está com o imposto em dias pode fazer a emissão pelo site e quitar o imposto desse ano em cota única com 15% de desconto até o dia 10 de março ou optar pelo parcelamento, que pode ser feito em até oito vezes, com o vencimento da primeira parcela em 15 de abril, que é também a data limite para quitação com desconto para os contribuintes que receberem os carnês em casa.

13º do Bolsa Família Agência Brasil

Osamba enredo da Mangueira Katia Araújo, professora

hit do Carnaval será... o Frevo! Sem desmeO recer as outras formas, mas a essência do Carnaval é o Frevo. Isso se afirma quando obser-

vamos a vitalidade dos blocos mais antigos, que vivem o carnaval durante o ano todo e carregam a história nos seus estandartes ao mesmo tempo que se renovam como o Cariri, o Elefante e a Pitombeira, por exemplo. Ao mesmo tempo também se afirma na ousadia dos mais novos, que seguem a tradição, mas com linguagem e temas contemporâneos como a Orquestra Malassombro.

Marcones Oliveira, geógrafo.

m Pernambuco, mais de um E milhão de famílias poderão ter acesso ao 13º salário do Bol-

sa Família. Com valor de R$ 150, o benefício é pago de acordo com o mês de nascimento do responsável pela família. Entre 12 e 14, 17 e 21 e 27 e 28 de fevereiro recebem os beneficiários nascidos entre janeiro e abril. Quem nasceu entre junho e agosto recebe o benefício em março e em abril recebem os nascidos entre setembro e dezembro.


Brasil de Fato PE

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

4 ||Mundo GERAL

NA

LUTA

Lançamento de chapa para o Conselho de Serviço Social

A

contece na próxima quinta-feira (13), o lançamento das chapas concorrentes ao Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e ao Conselho Regional de Serviço Social de Pernambuco (CRESS-PE). O evento será no Sindicato dos Bancários, na Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, a partir das 18h. Na ocasião, serão apresentadas as chapas com Priscilla Cordeiro representando à Chapa 1 para o Conselho Federal e André França representando a chapa 1 para o Conselho Regional. Ainda vai ter a participação da Professora Ana Elizabeth Mota, que irá palestrar sobre “Os impactos da atual conjuntura para o Serviço Social na realidade brasileira”. A entrada é gratuita. Arquivo pessoal

Posse Política e Festiva da CUT-PE CUT

diretoria da Central Única A dos Trabalhadores de Pernambuco (CUT-PE) terá uma pos-

se política e festiva na próxima sexta-feira (14), no Armazém do Campo, que fica localizado na rua Martins de Barros, 385. O evento será aberto ao público e começa a partir das 17h. A diretoria foi eleita no 15º Congresso Estadual da Central, que aconteceu em novembro do ano passado. A nova diretoria será presidida pelo professor Paulo Rocha e pela vice presidenta, a trabalhadora rural Uedislaine de Santana. A diretoria executiva foi eleita para o triênio 2019/2023.

Direitos de Fato

O Governo Federal ignora a necessidade de garantir a proteção aos sistemas socioculturais dos povos isolados a última quarta-feira o Ministério da Justiça nomeou o pasN tor Ricardo Lopes Dias, missionário evangélico, para o cargo de chefe da Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recen-

te Contato (CGIIRC) da FUNAI. A nomeação – apontada pelos povos indígenas como mais um ato genocida e etnocida do Governo Federal – ignora a necessidade de garantir a proteção das vidas e dos sistemas socioculturais dos povos isolados, que são considerados mais vulneráveis por não terem defesas imunológicas contra diversas doenças e por habitarem terras cobiçadas por garimpeiros e madeireiros. A decisão do Governo Bolsonaro mais uma vez desarticula e fragmenta uma importante ferramenta da luta indígena pela sobrevivência, no caso a criação da CGIIRC que é tida como uma referência contra políticas de contato as quais, historicamente, resultam em tragédias individuais e coletivas. Além disso, é uma séria violação à Constituição Federal que, em seu art. 231, garante aos indígenas o direito de manter sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições e também ao art. 6º da Convenção 169 da OIT, por não ter havido prévia consulta aos povos interessados através de suas instituições representativas. Clarissa Nunes, advogada criminalista e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) com a colaboração de Dinamam Tuxa, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

Para entrar em contato e tirar dúvidas mande um email para contato.pe@brasildefato.com.br ou um whattsapp para 8199060173

ESPAÇo SINDICAL

Petroleiros em greve nacional

D

esde o último sábado (1), os petroleiros estão em greve nacional contra a demissão de mais de mil trabalhadores com o fechamento da Fafen-PR, subsidiária da Petrobras, e o descumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT). No país inteiro, já passam de 20 mil grevistas em quase todos os estados, segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP). Em Pernambuco, os trabalhadores estão em acampamento em frente à Refinaria Abreu e Lima. De acordo com o Sindipetro PE/PB, a adesão à greve já passa dos 95% do total de funcionários da Refinaria. Sindicato dos Petroleiros

Bloco Mulheres CUTucando CUT

As mulheres cutistas A também estarão nas ruas no carnaval. O bloco

Mulheres CUTucando, organizado pela Secretaria da Mulher Trabalhadora da CUT PE, vai tomar as ruas do Recife Antigo no próximo dia 20 de fevereiro, às 18h, com concentração em frente ao restaurante O Poeta. O tema desde ano “Escravidão moderna, consequência do seu voto”, faz uma crítica aos retrocessos dos direitos trabalhistas no país. O bloco vai arrastar foliãs e foliões ao som de muito frevo da Dedé Orquestra e as camisas podem ser encomendadas antecipadamente na sede da CUT.


Brasil de Fato PE

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

OPINIÃO I 5

Artigo

Baronesas no Velho Chico: o que pode ser feito? Melissa Monteiro e Patrick Witte Dias*

ção, o poder público precisa investir periodicamente na remoção do material, Divulgação/PMP que após certo tempo multiplicaá em Petrolina um problema ambien- -se novamente voltando tal recorrente, que é a a tomar às margens do proliferação da planta Velho Chico. A baronesa é uma aquática conhecida popularmente como ba- planta originária da ronesa, de nome cien- América do Sul, com tífico Eichornia crassi- ampla distribuição nos pes. A planta pode tra- rios da bacia amazônizer ao rio e à popula- ca, é considerada como ção algumas consequ- uma das 100 plantas de ências, como a queda na maior potencial invasor qualidade do ambiente e se desenvolve em ame mau cheiro. Um outro bientes poluídos, poproblema é que quando dendo ser um indicador essas plantas morrem, do alto nível de poluição toda a poluição absor- das margens do Rio São vida por elas é devolvida Francisco. A Agência Municiao rio. Para que se faça o controle desta situa- pal de Meio Ambien-

H

Artigo

A baronesa desenvolve em ambientes poluídos, podendo ser um indicador do alto nível de poluição te (AMMA) é responsável pelo controle tanto da proliferação de baronesas quanto do lançamento de efluentes não tratados no leito do rio. A retirada é realizada através da remoção manual ou remoção física, o que não é eficiente, de-

vido ao fato das baronesas se reproduzirem por brotamento, retomando o crescimento caso seja retirada por eventos naturais ou artificiais. Desta forma, apenas a retirada manual das baronesas não tem um custo/benefício econômico e ambiental viável, pois não é uma estratégia sustentável em longo prazo. A respeito das plantas no rio, existem três tipos de controle: o químico, que não é recomendável; o físico, utilizado atualmente, mas não muito efetivo e o controle biológico, mais recomendado, mas que necessita de estudos a médio e longo prazo para uma solução concreta e

definitiva. O ideal é que os métodos para remoção sejam utilizados sozinhos ou combinados para um melhor resultado, e o mais importante, devem ser atrelados ao processo de revitalização do Rio São Francisco, cobrado pela sociedade desde a década de 1990, mas que não avançou, além do tratamento de esgoto, removendo o máximo de sujidades possível do esgoto da cidade a fim de devolver uma água mais limpa para o Rio São Francisco. *Melissa e Patrick são estudantes do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Vale do São Francisco

A abstinência sexual como política pública é irresponsabilidade com a vida e a saúde do povo Aristóteles Cardona Júnior*

Brasil possui um O alto índice de gravidez na adolescência.

Nossos números superam a média mundial, assim como também a da América Latina. Isto, por si só, é um problema que precisa ser encarado. Adianto, contudo, que não me refiro a ser um problema moral. Há toda uma gama de impactos econômicos e sociais que atingem principalmente as famílias mais pobres e com consequências, em geral, para o adoecimento e até mesmo mortes de mães e bebês. Apesar de não ser um problema recente, o assunto voltou à tona nas

últimas semanas por conta da proposta do Governo Federal de colocar a abstinência sexual no centro de uma política pública que visa controlar estes índices. Nada contra a escolha de quem opta pela abstinência sexual por qualquer que seja o motivo. Mas, ter esta defesa como centro de uma política pública, como falei, é absurdamente irresponsável com a vida e com a saúde do povo brasileiro. É irresponsável porque não há nada na literatura científica mundial que justifique esta medida. Longe disso, o que há nas evidências médicas aponta que o caminho passa por qualificar a educação, melhorar as condições so-

É irresponsável porque não há nada literatura científica mundial que justifique esta medida cioeconômicas e falar sobre o assunto. Não dá para ignorar que estamos lidando com um problema de saúde pública e que impor questões morais como política de governo não contribui em nada. A máquina de notí-

cias falsas ligada ao bolsonarismo logo trata de desqualificar os críticos deste tipo de política. Aposta no conflito e diz que o contrário é a promiscuidade. Aliás, o próprio Bolsonaro declarou nos últimos dias que o PT é o culpado pela “depravação total” no carnaval. Apesar de polêmico, este assunto precisa ser confrontado. Assim como outros tão ou mais polêmicos, como segurança pública. O campo democrático precisa também apontar soluções e perspectivas, não somente indicando soluções para um momento futuro ou distante. E não me venham com o papo de que estes assuntos são as tais “cortinas de fumaça”

do governo. Definitivamente não são. Estes assuntos estão no centro da sustentação ideológica do governo e a derrota dele também passa por este enfrentamento. Apontar isso não significa deixar de lado as pautas econômicas. Na realidade, são pontos que se encontram e explicam a ação e consequências do governo de Bolsonaro. Resta-nos ao campo progressista qualificar ainda mais a nossa atuação, de forma inteligente, paciente e segura, porém planejada e persistente. *Aristóteles Cardona Júnior é Médico de Família no Sertão pernambucano, Professor da Univasf e militante da Frente Brasil Popular de Pernambuco.


6 | BRASIL

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

Brasil de Fato PE

Em greve, petroleiros paralisam 50 unidades da Petrobras em 12 estados FUP

SOBERANIA. Liderança da Federação Única dos Petroleiros ressalta papel social da empresa: “Tem como atender o povo com preço justo” Lu Sudré, de SP

A

de Janeiro pedindo a desocupação do local. Os petroleiros endossam que só deixarão o local e sairão da greve quando a demissão em massa de mil trabalhadores da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Farfen-PR) for revista e o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) for respeitado. É o que explica a dirigente Cibele Vieira, que compõe a comissão de negociação que ocupa a sede da empresa. Segundo Vieira, foi fundamental a pressão dos movimentos sociais e parlamentares que formaram uma vigília do lado de fora do prédio. A sindicalista frisa que a negativa em estabelecer um

paralisação de milhares de trabalhadores da Petrobras cresce a cada dia, tanto nas áreas administrativas quanto operacionais. De acordo com balanço feito pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), 50 unidades do sistema da estatal estão em greve em 12 estados do país. Nesta quinta-feira (5), a comissão de dirigentes da FUP que ocupa há sete dias uma sala o prédio da estatal, no Rio de Janeiro (RJ), teve uma nova vitória. A desembargadora Maria Helena Motta, do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 1ª Região, negou mandado de segurança interposto pela empresa à 66ª Vara do Trabalho do Rio

canal de diálogo com os trabalhadores tem sido uma postura recorrente da estatal, o que se repete neste momento. “Negociação do mérito, em si, da demanda do movimento não está tendo. Um dos motivos que tivemos que fazer essas ações todas é porque a Petrobras não negocia mais com o movimento sindical”,relata Vieira. “A empresa faz reunião de informe e fala que está negociando com o movimento. Isso não é negociação.” Na opinião de Vieira, o crescimento da paralisação é uma resposta ao projeto de privatização, sucateamento e desmonte da empresa, processo que se aprofunda desde 2015. Trabalhadora da

O petroleiro e a petroleira sabe o que essa empresa significa para o Brasil. Não concordamos com esses preços abusivos para a população. Não estamos aqui pra gerar lucro pra acionista petrolífera desde novembro 2002, Vieira relata que “nunca viu um movimento desse” e que sua geração “talvez não tivesse ideia da força que tem”. “O petroleiro e a petroleira sabe o que essa empresa significa para o Brasil. Não concordamos com esses preços abusivos para a população, sabemos que tem como atender o povo com um preço mais justo. Consideramos

o papel social que a empresa tem. Não estamos aqui pra gerar lucro pra acionista. E é isso que estão querendo nos impor”, denuncia.

Próximos passos As demissões dos petroleiros e petroquímicos da Fafen, no Paraná, estão previstas para começar no próximo dia 14. Os trabalhadores estão acampados em frente à unidade há 17 dias, junto com suas famílias. A interlocução com parlamentares é outra estratégia adotada pelos grevistas para pressionar a Petrobras. Dirigentes da FUP e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) chegaram nesta quarta-feira (5) em Brasília para reunirem-se com deputados e senadores do PT, do PCdoB e de outros partidos do campo progressiva. O objetivo é que os parlamentares pressionem a direção da Petrobras para que abra diálogo com os trabalhadores. Do lado de fora do prédio da estatal, no Rio de Janeiro, a vigília segue com uma série de atividades. Diariamente, estão sendo realizadas aulas públicas e atividades culturais no local Anúncio

PRIVA TIZAÇ

PRIVATIZAÇÃO E REESTRUTURAÇÃO DOS BANCOS PÚBLICOS:

REES

ÃO

TRUTU

RAÇÃO

Prejuízo para bancários e toda sociedade #NaoAsPrivatizacoes #NaoAsReestruturacoes #NaoReducaoSalarial


Brasil de Fato PE

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

Governo Bolsonaro comemora 400 dias em meio à política permanente de retrocesso Evaristo Sá (AFP)

POLÍTICA. Cerimônia presidencial aconteceu no Palácio do Planalto e ministros fizeram balanço de suas áreas Da Redação

Evo Morales apresenta candidatura ao Senado na Bolívia

O primeiro mês do ano já foi marcado por declarações preconceituosas e inábeis de Bolsonaro

J

air Bolsonaro (sem partido) realizou uma “festa” no Palácio da Alvorada na tarde da quarta-feira (5), data que marca os 400 dias de seu governo. Com a presença dos ministros Sérgio Moro, Onyx Lorenzoni, Tarcísio Gomes de Freitas, Luiz Mandetta, entre outros, a cerimônia fez um balanço da atuação da gestão e apresentou perspectivas para 2020. Entre as políticas alardeadas nas últimas semanas pelo governo como ações de sucesso, está a Inauguração da Estação Antártica Comandante Ferraz e a aprovação do 13º do Bolsa Família, além da leitura que a economia do país voltou a crescer. O Bolsa Família foi enaltecido pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, já no discurso de abertura. Entretanto, os dados mostram uma realidade diferente da versão oficial. Apesar da liberação de um salário a mais para os beneficiários do Bolsa Família, no fim do ano passado, Bolsonaro sinalizou que a verba destinada ao programa em 2020 iria diminuir e que o governo mudaria o processo de triagem de quem recebe o benefício, o que aumentaria a exclusão das famílias do benefício. No primeiro ano de sua gestão, um milhão de usuários deixaram de ser atendidos pelo programa. A situa-

BRASIL/ MUNDO | 7

Os dados mostram uma realidade diferente da versão oficial ção se agrava ainda mais em um contexto de profunda vulnerabilidade socioeconômica. Já em relação à política externa, Jair Bolsonaro seguiu consolidando seu alinhamento político com os Estados Unidos e se vangloriou do encontro com o primeiro-ministro indiano de extrema direita, Narendra Modi, no país asiático, onde 15 acordos foram firmados. Assim como o presidente brasileiro, Modi aposta em slogans que evocam o patriotismo e a religiosidade. O partido dele representa o nacionalismo hindu e é acusado de promover perseguição a minorias religiosas na Índia.

Ano novo, mesmo retrocesso Em meio à grande oscilação de popularidade e aprovação, o primeiro mês do segundo governo Bolsonaro manteve as declarações po-

lêmicas de praxe. No dia 22 de janeiro, em vídeo publicado nas redes sociais, o presidente defendeu que comunidades indígenas se integrem ao restante da sociedade e afirmou que “cada vez mais o índio está evoluindo” e se tornando um “ser humano igual a nós”. O político também foi criticado por se negar, em um primeiro momento, a repatriar brasileiros que estão na China em meio ao surto do Coronavírus, que já vitimou centenas de pessoas. “Pelo que parece, tem uma família na região onde o vírus está atuando. Não seria oportuno retirar de lá, com todo respeito, pelo contrário.”, disse Bolsonaro. Mas, poucos dias depois, após a divulgação de um vídeo de brasileiros que vivem em Wuhan solicitando ao governo que pudessem voltar ao país de origem, a gestão anunciou estudar um plano para retirá-los do país asiático. Como previsto, a crise na área da Educação, com Abraham Weintraub como ministro, ganhou capítulos ainda mais graves. As notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que se tornou a porta de entrada de muitos jovens para o mundo universitário, foram divulgadas com erros, segundo Weintraub.

AMÉRICA LATINA. O MAS inscreveu as candidaturas de Luis Arce e David Choquehuanca para presidente e vice-presidente Da Redação O ex-presidente da Bolívia Evo Morales apresentou seu nome como candidato ao Senado pelo Movimento al Socialismo (MAS) para as eleições gerais que acontecem em maio no país. O MAS inscreveu as candidaturas de Luis Arce e David Choquehuanca, ambos ex-ministros de Morales, para a presidência e vice-presidência da Bolívia. Segundo o calendário eleitoral, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) tem até o dia 21 de fevereiro para publicar a lista de candidatos habilitados a concorrer no pleito. Morales afirma que o atual governo boliviano tentou inviabilizar sua inscrição com a prisão de sua representante legal Patricia Hermosa e a perseguição contra outro de seus advogados em La Paz, além da recusa de documentos. “Enviei toda a minha documentação em 1997, 2002, 2005, 2009, 2014 e 2019. Fui qualificado como candidato sem nenhum comentário. Eles sabem que eu cumpro todos os requisitos legais, é por isso que roubam meu livro do Serviço Militar. Eles querem me proibir para me silenciar. Vamos voltar e ganhar!”, postou Morales em sua conta no Twitter.


8 | PERNAMBUCO

Brasil de Fato PE

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

Em Pernambuco, serviços de saúde para a população trans sofrem grande demanda SUS. Centenas de pessoas trans sofrem com o medo de buscar atendimento médico e serem desrespeitadas Arquivo pessoal

Rani de Mendonça

A

transexualidade é condição da pessoa cuja identidade de gênero difere daquela designada no nascimento. Uma pessoa transexual pode procurar fazer a transição social para outro gênero, através da forma como se apresenta ou de intervenções no corpo podendo ser redesignação sexual ou apenas feminilização ou masculinização, dependendo do gênero a ser transicionado. Travestis e transexuais ainda são vistas pela medicina como seres portadores de patologia e de uma Classificação Internacional de Doenças (CID) que lhes identifica. Em 2018, a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a transexualidade da lista de transtornos mentais, porém, continua na Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID), mas em uma nova categoria, denominada “saúde sexual”. A feminilização e masculinização envolvem aspectos comportamentais, de vestuário e biológicos, sendo os primeiros ligados meramente às questões sociais e o outro à ideia de sexo feminino ou masculino, criado pela espécie humana. O caminho para o processo de ressignificação carrega diversos estereótipos, como também preconceitos. Centenas de pessoas trans sofrem, por exemplo, com o medo de buscar atendimento médico e serem desrespeitadas quanto ao nome social, fazendo que passem por constrangimentos e

Iniciei por mim mesma, aos 18 anos, com informações vindas das outras, porque tinha receio de ir à uma unidade de saúde

até questionamentos sobre a necessidade da transição. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem dado passos importantes para a readequação das necessidades das pessoas. No ano de 2009, através da Portaria nº 2.836/2009 do Ministério da Saúde, Instituiu-se a Política Nacional de Saúde Integral de LGBT no âmbito do SUS, com o objetivo geral de promover a saúde integral da população LGBT, eliminando a discriminação e o preconceito institucional e contri-

buindo para a redução das desigualdades. Considerando a necessidade de fortalecer a implementação da Política Nacional de Saúde Integral de LGBT em Pernambuco foi assinada a Portaria SES/PE Nº 445/12 que instituiu o Comitê Técnico Estadual de Saúde Integral de LGBT de Pernambuco que assegura ao usuário o acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde do SUS. O decreto ainda oficializou que o nome social deve estar

presente em todos os registros dos serviços da rede pública de saúde como fichas de cadastro, formulários e prontuários, e deverá ser colocado por escrito, antes do respectivo nome civil, que deverá estar entre parênteses em letras menores. Nos espaços físicos, a população trans em Pernambuco pode contar com quatro unidades que atendem prioritariamente este público. Mas, ainda assim, não tem sido o melhor cenário para quem preten-

de fazer o processo de transição. Segundo o articulador estadual da Rede Trans Brasil, Vinícius Rui, é o sistema estadual de saúde para a população trans ainda é ineficiente. “Por mais que a gente tenha muitos dispositivos voltados para a população LGBT aqui no estado, nós temos muitas filas de espera e também uma problemática ainda maior, porque elas são concentradas aqui na capital. Por exemplo, uma pessoa trans que é de Oricuri, vai ter que viajar 12 horas, passar o dia inteiro em Recife para conseguir ser atendida e depois mais 12 horas de volta.”, diz. Vinícius é homem trans e estudante de Educação física e sabe bem da dificuldade de acesso aos serviços de saúde no interior do estado. Ele é de Caruaru, agreste de Pernambuco e só na capital que conseguiu começar seu processo de transi-


Brasil de Fato PE

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

PERNAMBUCO | 9

Ambulatório LGBT Patrícia gomes

mes sociais, como os profissionais que deveriam estar preparados para recebê-los. Esse é um ponto que temos muito limite.”, relata.

Preconceito

Mesmo tendo ambulatórios que atendem especificamente a população LGBT, ainda estamos aquém do necessário ção. “Eu vim morar no Recife para estudar. Só em 2018, minha transição começou quase um ano depois em que eu já estava no movimento LGBT. Então, eu já fui direto no CISAM. Depois que fiz o acolhimento já sabia que não podia tomar hormônio por conta própria e que deveria aguardar o tempo certo, com prescrição do endocrinologista. Mas, não é assim que acontece com todo mundo”. Ainda segundo Rui, muitos meninos e meninas não conseguem esperar o tempo exato. “Mesmo estando cadastrados nos serviços, muitos e muitas não conseguem esperar, porque não conseguem lidar com a disforia e começam a usar os hormônios.”, conta.

Esta foi a realidade de Gigi Abagagerry, educadora social e mulher trans, que começou seu processo de transição sozinha, com orientações apenas de outras mulheres trans. “Iniciei por mim mesma, aos 18 anos, com informações vindas das outras, porque tinha receio de ir a uma unidade de saúde. Só mais ou menos há um ano que fui buscar cuidados no SUS e fui bem atendida, mas não me dei muito com o bloqueador que me passaram. Comigo deu certo, mas não é recomendado, é preciso mesmo ter um acompanhamento médico”, diz. Para o médico e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Aristóteles Cardona,

os serviços de atendimento sofrem com limites de coisas primárias. “Mesmo tendo ambulatórios que atendem especificamente à população LGBT, ainda estamos aquém do necessário. Eles precisam ainda de muito apoio dos setores da saúde, desde os cuidados com o respeito dos no-

Gigi também precisou de um outro tratamento de saúde porque passou mais de 10 anos fazendo uso abusivo de drogas ilícitas. E em dois serviços de tratamentos diferentes teve duas experiências completamente distintas. A primeira é que ela passou a ser acompanhada em uma casa terapêutica que pertencia a uma igreja evangélica. “Quando cheguei lá fui submetida a não ser eu, durante dois anos. Me obrigaram a fazer dentro dos exames que são requisitos para entrar, o teste de HIV/Aids, só eu que tive que fazer. Como deu reagente, eles chamaram todos os homens que estaArquivo pessoal

vam em tratamento e expuseram toda a minha história, como forma de querer bloquear que as pessoas se relacionassem comigo.”, conta a mulher que hoje trabalha com a conscientização de pessoas em situação de rua que fazem uso abusivo de drogas. Em sua segunda tentativa ela participou do programa Atitude, no Lessa de Andrade. “Depois de dois anos na Comunidade Terapêutica, onde não respeitaram quem eu sou, por isso, nada deu certo, eu voltei ao uso e às ruas. Mas, aí quis me tratar de novo e conheci o Programa Atitude. Lá fui muito bem recebida, mesmo ainda usando as vestimentas masculinas, eu já tinha muito volume no seio e eles me perguntaram logo em qual alojamento eu iria me sentir confortável.”, afirma. Quando questionado sobre o que falta para a eficácia de todo o sistema, Vinícius Rui não hesita “nós precisamos de profissionais cada vez mais sensíveis à causa LGBT, porque sem eles vamos continuar tendo várias denúncias de pessoas que eram indelicadas no trato, nas perguntas.”, diz. Aristóteles aponta que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem um papel fundamental para o avanço da saúde para as pessoas trans. “O SUS tem um papel fundamental sobre os cuidados e com a preocupação com o ser humano de uma maneira integral. E isso inclui o serviço estar apto e preparado para cuidar das pessoas trans, em todos os seus aspectos, inclusive na saúde básica. Temos que avançar nos serviços e ampliar o acesso. “, defende. A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Saúde de Pernambuco, mas não teve resposta até o fechamento desta edição.


10 I CIDADES

Brasil de Fato PE

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

Biblioteca Popular articula sonhos e lutas em rede na comunidade do Coque, em Recife Daniel Lamir

Daniel Lamir

LIVROS . A

rotina no local inclui oficinas, brincadeiras, contação de histórias e mediação de leituras

Daniel Lamir

É

possível encontrarmos registros “bem pernambucanos” sobre disputas de maior ou melhor espaço de fomento à leitura na Região Metropolitana do Recife (RMR). Partindo deste ponto de vista, a Biblioteca Popular do Coque ficaria bem abaixo na briga por metros quadrados ou mesmo arquitetura arrojada ao longo de décadas entre famosos empreendimentos da cidade. Ao mesmo tempo, a Biblioteca Popular do Coque é o maior e melhor espaço de leitura para a jovem Ana Beatriz Alves Dias, de 12 anos. Beatriz é uma das cerca de 40 pessoas que, semanalmente, buscam letras e afinidades entre as prateleiras da Biblioteca Popular do Coque. Além da idade em comum, a leitora define o espaço comunitário como “sua segunda casa”, por se sentir acolhida e motivada pela leitura. A rotina no local inclui ainda participação em oficinas, brincadeiras, contação de histórias e mediação de leituras. “Aqui na biblioteca eu posso sentar para ler e entrar no livro, na minha casa eu não faço

O Sussurro Poético é uma das atividades lúdicas isso, porque tem o barulho”, explica Beatriz. Por outro lado, a jovem reclama dos horários restritos da biblioteca da escola em que frequenta, chocando o funcionamento justamente com a carga horária em sala de aula. Por gostar muito de ler, Beatriz ainda confessa que consegue “escapulir” da aula de educação física para frequentar a biblioteca da escola, apesar de gostar mais do acervo da Biblioteca Popular do Coque. O gosto de Beatriz pelas bibliotecas reflete gerações, quando nos anos 1980 a bibliotecária Bethânia Nascimento sonhava com um espaço para leitura na comunidade em que vive. Na época, o sonho não vingou porque, na visão de Bethânia, disputas político-partidárias levaram por água abai-

xo o projeto que ela iniciava, relacionando a leitura e a alfabetização com os processos de lutas por direitos básicos no Coque. O tempo passou e Bethânia seguiu os estudos, casou e teve filhos. Em 2006, o sonho de abrir uma biblioteca foi novamente colocado em prática. Dessa vez, a “briga” para manter o espaço contou com mais articulações na comunidade, envolvendo igreja local, escolas e moradores. Hoje em dia se busca “política de Estado” e não “política de governo”, como ressalta Rafael Andrade, filho de Bethânia e um dos coordenadores da biblioteca. As articulações da Biblioteca Popular ultrapassaram os limites territoriais da comunidade, oficialmente registrada como Ilha de Joa-

As articulações da Biblioteca Popular ultrapassaram os limites territoriais da comunidade

O Bloco Urso Leitor envolve a Biblioteca Popular do Coque e as bibliotecas das escolas da comunidade Daniel Lamir

O acervo é organizado por cores

na Bezerra. A busca pelo próprio conceito de biblioteca comunitária contou com troca de conhecimentos entre experiências de outras localidades da RMR. Bethânia lembra que as dificuldades em organizar um acervo ou mediar uma leitura foram superadas através de intercâmbios entre a Biblioteca Multicultural do Nascedouro de Peixinhos, Centro Educacional Popular Mailde Araújo (Brasília Teimosa) e Biblioteca Comunitária de Caranguejo Tabaiares. A troca de conhecimentos fortaleceu também unidades políticas na luta pela democratização da leitura na RMR. É assim que a Rede Releituras completa uma década de existência, juntando nove bibliotecas comunitárias das cidades de Recife, Olinda e Jaboatão dos Guarara-

Daniel Lamir

Há uma gestão compartilhada no planejamento da biblioteca

Beatriz cita que na Biblioteca Popular consegue entrar nos livros

pes. A extensão viva entre bibliotecas comunitárias da RMR deu mais passos em 2015, quando a Rede Releituras integrou a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC). A Biblioteca Popular do Coque é uma das 110 entidades que formam a RNBC e buscam sobrevivência no contexto restrito de políticas públicas para o setor. Assim como Beatriz cita o desejo de ler cada vez mais, a gestão da Biblioteca ressalta os desafios financeiros e políticos para a iniciativa.


Brasil de Fato PE

ENTREVISTA l 11

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

Ciranda popular, cursinho pré-vestibular no Morro da Conceição está com inscrições abertas: conheça essa experiência UNIVERSIDADE. O Brasil de Fato entrevistou um dos coordenadores do cursinho

Levante PE

Aqui em Pernambuco surgiram duas turmas lhos dentro da universidade não são voltadas nosso povo, para a classe trabalhadora.

Fátima Pereira

ndré Amilcar é fisioA terapeuta, militante do Levante Popular da

Juventude e coordenador pedagógico do cursinho pré-vestibular Ciranda Popular, integrante rede de cursinhos Podemos Mais. As aulas do Ciranda popular acontecem no Morro da Conceição, em Recife e as inscrições estão abertas, mais informações pelo telefone (81) 99805 5320 e no perfil @cirandapopular no Instagram. Bdf: André, qual o principal objetivo do Podemos Mais? André Amílcar: A rede Podemos Mais é uma rede de cursinhos populares criada pelo Levante em 2017 baseada em experiências anteriores de cursinhos populares, por exemplo, em São Paulo no ano de 2008 foi o primeiro cursinho que surgiu, e baseado nessas experiências a rede surgiu para poder dar um suporte para esses cursos e projetar para âmbito nacional. Hoje temos em torno de 55 turmas espalhadas em 15 estados, 26 cidades, onde 1500 alunos estudantes têm aula nesses cursinhos com o apoio de 700 professores. BdF: Como surgiu a ideia de trazer a rede de cursinhos populares podemos mais pro Morro da Conceição? Existe alguma outra

iniciativa da podemos mais no estado? André: Aqui em Pernambuco surgiram duas turmas, uma no Morro da Conceição e a outra em Garanhuns. A escolha do Morro da Conceição é que nós queríamos iniciar esse primeiro curso num território na Zona Norte do Recife que tivesse o histórico de luta e onde Levante já tivesse uma organização, um fluidez no território e por isso escolhemos o Morro da Conceição. Em Garanhuns foi por conta da ajuda da Universidade Federal Rural de lá, onde um dos nossos organizadores faz parte da coordenação pedagógica, o Professor Caetano, conseguiu criar um projeto de extensão que dá todo esse suporte ao cursinho. BdF: Quais são os temas que vocês trabalham no cursinho? São somente sobre as matérias das provas para o Enem? André: Vai além. Tem todas as matérias que caem no Enem, as tradicionais e também abordamos diversos assuntos que sejam ligados ao lado social, ao lado humano como por exemplo nós temos aula

Temos em torno de 55 turmas espalhadas em 15 estados e 26 cidades de atualidades, onde abordamos racismo, LGBTfobia. Tivemos aulas também em que chamamos como convidado para ministrar uma aula o presidente do Sindicato dos Petroleiros, onde ele falou sobre a relação do petróleo e a soberania nacional. A gente lida muito com esses temas políticos também, porque o objetivo é a gente formar esses jovens com uma visão crítica para que eles possam entrar na universidade e possam mudar esse meio. A universidade historicamente é um ambiente feito para a elite brasileira onde a elite constrói e estuda lá e os objetivos da maior parte dos traba-

BdF: Como vocês conseguem fazer com que o cursinho Podemos Mais seja inteiramente gratuito para os alunos? André: Na solidariedade. Nós contamos com a solidariedade das pessoas, das nossas organizações, porque para poder rodar apostilas, os simulados, para realizar os aulões nos domingos… um mês antes do Enem a gente realizou esses aulões aos domingos para poderem revisar o conteúdo e chegarem prontos para a prova, para isso tem toda uma estrutura física de almoço, de lanche e que a gente através de doações e de parcerias conseguimos esse dinheiro. E também através de forma ativa, por exemplo na festa do Morro da Conceição nós vendemos botons e também vendemos água mineral, os alunos, professores e os coordenadores do curso se envolveram e conseguimos angariar dinheiro através da venda desses produtos para poder bancar o cursinho em 2020. BdF: Como foi a experiência de preparar os moradores do Morro da Conceição para o Enem de 2019? André: Foi muito gratificante e enriquecedor, e a gente percebeu isso na avaliação que fizemos no

final do curso, depois de realizadas as provas do Enem juntamos os alunos e professores no espaço com o propósito de fazer a avaliação geral do curso e lá percebemos o quanto foi importante para a autoestima desses alunos, o quanto foi importante para dar uma base para eles realizarem a prova e a gente se sentiu muito grato mesmo e vimos que essa experiência foi exitosa e a gente quer dar continuidade por anos e anos. Uma curiosidade é que o tema da redação do Enem que foi “democratização do acesso ao cinema” casou com as nossas experiências lá no curso, porque lá no Morro da Conceição o Levante junto com o Movimenta Cineclubes, realiza o cineclube lá no Morro da Conceição e umas aulas de atualidades do cursinho foi nesse Cine Clube, o tema da redação coincidiu com a vivência que eles tiveram dentro deste espaço, foi bem legal. BdF: Como as pessoas podem contribuir para o cursinho no Morro continuar acontecendo? André: Hoje o principal canal de comunicação que a gente tem é o Instagram, se vocês puderem seguir é o @CirandaPopular e é possível entrar em contato diretamente com a gente. Se puder colaborar de alguma forma fala com a gente que é muito bem-vindo.


12 |CULTURA

Brasil de Fato PE

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

Foto legenda

O que

tu indica

Monyse Ravena

Uma Casa no Fim do Mundo

Petroleiros de todo o Brasil estão em greve por tempo indeterminado desde o dia 01º de fevereiro Foto: FUP

e prepare para adentrar as vidas dos S quatro principais personagens do livro: Bobby, Jonathan, Claire e Alice, cada

Agenda Cultural

Arquivo pessoal

Wesley D’almeida/PCR

Trote do Elefante ábado, dia 08 de fevereiS ro acontece o tradicional Trote do Elefante, com a or-

questra do maestro Oséas e Afoxé Alafin Oyó. O evento é um esquenta do desfile do Clube Carnavalesco Elefante de Olinda, que também sai pelas ruas no Carnaval. A concentração terá início às 17 horas no Alto do Sé e a saída do bloco será às 19h. O evento é gratuito.

Bora Pernambucar

Divulgação

Batalha do SG

o domingo, dia 09 de o domingo, dia 09, no N fevereiro, em PetroliN vão livre do Cais do Sertão haverá o encerramen- na, a partir das 19h aconto do “Bora Pernambucar”. Das 15h às 18h haverá cortejos com Maracatu Nação Erê, Caiporas de Pesqueira, Caretas de Triunfo além de Encontro de Bonecos: O Homem da Meia Noite recebe Zé Pereira e Vitalina e mais. Às 20h orquestra Malassombro e às 21h o show fica por conta de Alceu Valença.A entrada gratuita.

tece a Batalha do São Gonçalo. O evento tem o intuito de entreter o público com poesias e rimas elaboradas na hora. A programação é gratuita e será realizada na praça do São Gonçalo, ao lado da tradicional feira de rua da cidade. Mais informações no evento “Batalha do SG”, no Facebook.

um conta, em primeira pessoa, essa história. O cenário é o intervalo entre os anos 1960 e o final dos anos 1980 nos Estados Unidos, entre as cidades de Cleveland, Nova York e o deserto do Arizona. É a história de uma família que se constitui de forma incomum. Alice é a mãe de Jonathan, que de algum jeito também se torna a mãe de Bobby. Claire, Bobby e Jonathan formam o que na linguagem contemporânea chamaríamos de “trisal”, moram e criam juntos a filha Rebecca numa casa próxima a Woodstock, cenário do famoso e psicodélico festival nos anos 1960. O romance, originalmente publicado em 1990, ganhou no final de 2019 uma nova edição brasileira editada pela Companhia das Letras, em parceira com o clube de leitura Tag. O autor é o norte-americano Michael Cunninghan, vencedor do prêmio Pulitzer, uma das mais importantes premiações de jornalismo. O livro também aborda de forma muito sensível pessoas que vivem com o HIV e morrem em decorrência da doença. Mas isso não é central, o chamado ao diálogo e as várias formas de viver em família com suas dores e delícias se esparramam pelas mais de 300 páginas. Monyse Ravena é editora do Brasil de Fato em Pernambuco


Brasil de Fato PE

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

Variedades l 13

CULTURA | 13

Com protagonista recifense, filme “Alice Júnior” será exibido em Berlim Divulgação

CINEMA. Filme retrata as mudanças na vida de uma adolescente transgênero Vanessa Gonzaga

e forma bem huD morada e leve, o diretor Gil Baroni leva ao

cinema mais uma vez a discussão sobre gênero e sexualidade, dessa vez com o longa metragem Alice Júnior. O filme, protagonizado por Anne Celestino Motta, mostra a avalanche de mudanças na vida de Alice, que muda do Recife para uma escola católica localizada numa pequena cidade do Paraná. Nesse meio, Alice passa por um dos marcos da adolescência: a busca pelo primeiro beijo. Transgênero e nordestina, o corpo, a voz e a visão de mundo de Alice contrastam com o ambiente pacato da cidade fictícia de Araucária do Sul. Para Anne, alguns pontos na

sua vida são comuns aos de Alice “Eu e Alice temos várias semelhanças e diferenças. A Alice é muito mais ‘blogueirinha’ que eu e muito mais empoderada do que eu, porque no filme ela é bem mais jovem. A Alice é bem acolhida pelos pais, tem toda uma história de proteção, amor e carinho, o que se parece muito comigo, especialmente em relação a minha mãe”. No longa, Alice faz parte de uma área em ascensão nos últimos anos, que é a produção de conteúdo para a internet, já que a personagem é Youtuber, o que casa com o projeto gráfico moderno do filme e uma linguagem cheia de elementos da vida online, como os memes. A proposta de

Com os prêmios o filme ganha visibilidade criar uma narrativa onde a personagem é acolhida pela família e leva uma vida confortável não esconde o contraste entre a vida da personagem e a realidade das pessoas trans fora das telas, mas, carrega um outro objetivo: o de utilizar o filme como uma ferramenta de debate, especialmente nas escolas, um ambiente historicamente hostil

para essa parcela da população “O filme deve ser passado em escolas também, porque é muito didático sem perder a leveza. É uma maneira muito bonita de ensinar. Com os prêmios o filme ganha visibilidade no sentido de ser uma atriz trans interpretando uma personagem trans, e dá também a oportunidade dele chegar e ser exibido em mais lugares”, projeta Anne. Estreando nas telas, a protagonista já tem tempo de atuação a partir das aulas no teatro, que faz desde a infância e que se estendem até hoje com a faculdade na mesma área. Por isso, talvez não seja tão surpreendente que o filme esteja carregando prêmios nos festivais por onde passa. Até agora foram: Melhor filme, pelo júri popular e Melhor longa brasileiro, no Prêmio Felix, no Festival do Rio; o filme também foi o segundo maior premiado no Festival de Brasília, com quatro Candangos, os de melhor atriz (Anne Celestino), atriz coadjuvante (Thais Schier), trilha sonora (Vinicius Nisi) e montagem (Pedro Gion-

go); Melhor longa metragem nacional; Melhor interpretação (Anne Celestino) e uma Menção Honrosa no Festival Mix Brasil, além de ser selecionado para quatro exibições dentro do Festival Internacional de Cinema de Berlim, que acontecem de 20 de fevereiro a 1º de março. Anne comemora a repercussão positiva “Por enquanto, com o filme rodando os festivais, nós estamos encontrando um público muito bom. Eu quero muito ver a resposta do filme quando ele chegar nas telas dos cinemas comerciais, para ver a aceitação do grande público. Por enquanto a energia é muito positiva e tem gerado muita visibilidade”. Até o momento o filme está sendo exibido apenas em festivais, mas chega às salas de cinema do Brasil em junho de 2020. “A gente já caiu, levantou, e se mantém de pé. Numa edição com um monte de homens machistas, numa sociedade onde a luta das mulheres é exatamente essa, por respeito. Estamos sendo referência.” Anúncio


14 | VARIEDADES

Brasil de Fato PE

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

HORÓSCOPO

Frase de confúcio para os signos Áries - 21/03 a 19/04 : “Não corrigir as próprias falhas é cometer a pior delas”. Há uma aura de inocência, mas tenha prudência – olha a rima – para não ser infantil. Touro - 20/04 a 20/05:

“A melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros”. Seu humor pode salvar em situações corriqueiras, mas tome cuidado nas relações mais duradouras.

Gêmeos - 21/05 a 21/06:

A relatividade ainda não foi superada e o sol continuará a nascer para fazer novas manhãs. Aquário em Mercúrio te ajuda a projetar os dias futuros.

Amiga da Saúde Amiga da saúde, tem alguma chance de o homem ficar impotente por causa da vasectomia? Valentina Santos, 29 anos, do lar.

ara Valentina, a vasectomia não oferece nenhum risco de C erro que possa provocar impotência sexual. Esse é um mito que não tem base científica porque os vasos e nervos en-

Câncer - 22/06 a 22/07:

volvidos na ereção não ficam perto do local a ser operado. A única possível interferência da vasectomia na ereção está relacionada ao medo do homem de brochar, o que poderia deixa-lo tenso, sem conseguir ficar excitado na primeira tentativa. A vasectomia é um procedimento simples e rápido e está disponível no SUS. Além disso, oferece muito menos risco que a laqueadura (outra opção para método definitivo, feito na mulher), por isso é tão importante vencer esses preconceitos.

Leão - 23/07 a 22/08:

Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br

“Saber o que é correto e não o fazer é falta de coragem”. Todos compreendem sua disposição ao ajudar, mas tenha um pouco de malícia, mas com responsabilidade. “Coloque a lealdade e a confiança acima de qualquer coisa; não te alies aos moralmente inferiores; não receies corrigir teus próprios erros”. Entendeu?

Virgem - 23/08 a 22/09: “A experiência é uma lanterna dependurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido”. Avalie as novidades e preserve-se.

Libra - 23/09 a 22/10:

“Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”. Mas cuidado com traumas passados, eles podem atrapalhar.

Escorpião - 23/10 a 21/11:

“O silêncio é um amigo que nunca trai”. Não force o mistério, mas também não se exponha muito, filtre as informações para que você não se enrole.

Sagitário - 22/11 a 21/12:

“Se você tem uma ideia e troca com outra pessoa que também tem uma ideia, cada um fica com duas”. Ou então quatro! Sua comunicação deve fluir.

Capricórnio - 22/12 a 19/01:

“Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha”. Dose a energia que você coloca nas coisas e não force muito a visão, escute mais.

Aquário - 20/01 a 18/02:

“Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo; quando vires um homem mau, examina-te a ti mesmo”. Para influenciar as pessoas tenha a verdade consigo.

Peixes - 19/02 a 20/03: “Aja antes de falar e, portanto, fale de acordo com os seus atos”. Ter paciência não significa ficar esperando.

Nossa cozinha Pão de polvilho com batata doce A receita não leva farinha de trigo, fermento ou ovo

Ingredientes 400g de polvilho 400g de batata doce 100ml de óleo ou azeite Condimentos do seu gosto: orégano, manjericão, gergelim, erva doce Uma colher de chá de sal Água quente

Diva Braga

Modo de preparo: 1- Cozinhe a batata doce com casca e retire a casca depois de cozida 2- Em uma tigela, amasse a batata com um gafo 3- Acrescente a farinha, os temperos e a água aos poucos e vá amassando com as mãos até dar o ponto (soltar o fundo) 4- Faça pequenas bolinhas e abra com um rolo com muito cuidado por que a massa é mais quebradiça 5- Com a massa aberta, enrole ou os pães e coloque numa forma untada. 6- Leve ao forno já quente em 200g e asse por 20 mim. Ou observe até dourar.


Brasil de Fato PE

ESPORTES |15

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

Abandonos marcam futebol feminino em Pernambuco gettyimages

DESCASO. Atual campeão estadual abriu mão de jogar o Brasileirão A2

A gente quer vê-las jogando de perto São notáveis o interesse e a vontade da população de acompanhar o futebol feminino Jordânia Souza, de MG

pós o sucesso da A Copa do Mundo de Futebol Feminino de

Daniel Lamir

futebol feminiO no pernambucano registra um time mon-

tado “de última hora” e outro desmontado “de última hora” às vésperas do Brasileirão. O intervalo entre uma desistência do Sport e outra do Vitória das Tabocas é de menos de um ano. A argumentação de falta de recursos financeiros foi utilizada tanto na Ilha do Retiro, em 2019, quanto no Carneirão neste ano. Em fevereiro de 2019 o Sport chegou a anunciar a desistência do futebol feminino para conter gastos com dívidas, acumuladas pelo futebol masculino. Porém, o abandono foi revisto porque o clube poderia sofrer sanções. A decisão foi montar uma equipe feminina poucos dias antes do início da competição nacional. A disparidade na priorização entre as modalidades refletiu caminhos inversos, com o acesso do masculino na primeira divisão e o rebaixamento do feminino para segunda. O outro representante pernambucano no Brasileirão Feminino A1 2019, Vitória das Tabo-

PAPO ESPORTIVO |

A pernambucana Bárbara cumprimenta a francesa Wendie Renard, vítima de racismo e misoginia na Copa do Mundo 2019.

A desculpa é sempre a falta de dinheiro e a falta de retorno financeiro cas, também foi rebaixado. A mudança de divisão seguiu também mudança na gestão do clube. A atual administração vitoriense está alegando que as dívidas do futebol feminino no passado inviabilizam participar da segundona nacional neste ano. “A desculpa é sempre a falta de dinheiro e a falta de retorno financeiro. Plausível e real, mas um time de futebol não é só um negócio. Tem responsabilidades com a sociedade, torcida e com o futebol enquanto fenômeno cultural”, destaca Soraya Barreto, professora e pesquisadora do De-

partamento de Comunicação da UFPE. O tom financeiro alegado pelo clube também é rebatido por Elias Coelho, diretor de Futebol Feminino da Federação Pernambucana de Futebol. Elias lembra que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) arca com estadias e passagens para 25 atletas por jogos fora de casa no campeonato nacional feminino, além de possíveis ajudas de custo. Ao tempo de rebaixamentos e desistências em Pernambuco, o blog Dibradoras revela que o Brasileirão A1 feminino deste ano está batendo o recorde de equipes pro-

fissionais. Dos 16 clubes na primeira divisão, dez contam com carteira assinada no ofício de jogadora de futebol. A segundona conta com 36 clubes, sendo maioria a presença de equipes amadoras, a exemplo de Sport e Náutico. Soraya ressalta que os dados apresentados pelo Dibradoras reforçam a concentração política do futebol nacional na região sudeste, assim como acontece com a modalidade masculina. Ao mesmo tempo, sugere estratégias eficazes de marketing para o futebol feminino, e entendimento de suas diferenciações diante do masculino. “O que precisa mudar é a compreensão do futebol como fenômeno cultural e, ainda, compreender o futebol feminino como um nicho de negócio que pode e vai ser rentável se houver investimento na infraestrutura e visibilidade”, avalia Soraya Barreto.

2019, realizada na França, ficou evidente que a competição tem tudo para crescer e se tornar uma das mais rentáveis e acompanhadas em todo o mundo. Para se ter uma ideia, mais de 1 milhão de ingressos foram vendidos nessa última edição e recordes de audiência foram alcançados em diversos países, incluindo o Brasil. Não é à toa que o próximo Mundial, que acontecerá em 2023, já tem quatro candidatos para sediarem o evento: Brasil, Colômbia, Japão e a candidatura conjunta de Austrália e Nova Zelândia. Um evento como esse pode abrir portas para que a mídia, as marcas e a sociedade como um todo vejam o futebol feminino como potência e invistam mais em nossas garotas. Certamente para as meninas que sonham ser jogadoras profissionais, o estímulo será ainda maior. E olha que salto: há 40 anos, o futebol feminino era proibido no país. Agora, temos a chance de receber aquele que será o maior evento da modalidade. Isso seria uma grande vitória e nossas mulheres merecem muito!


16 | ESPECIAL

Brasil de Fato PE

Recife, 7 a 13 de fevereiro de 2020

GOL DE PLACA

NA GERAL Lucas Figueiredo CBF

Canarinha Made in USA

Robson Silva_COB

TPMMaracaipe

Bolsonaro corta recursos para atletas olímpicos

Evento de surf para mulheres

convida atletas brasileiros de alto rendimento para se instalarem e treinarem nos equipamentos esportivos que existem nas estruturas da Marinha, Exército e Aeronáutica (afinal, tudo foi construído com recurso público). Por isso alguns atletas batem continência quando ganham medalhas. Mas em ano de Olimpíadas, Bolsonaro cortou 94% da verba para as Forças Armadas gerirem todos os seus equipamentos esportivos no país. Em 2019 o governo já havia cortado 96 atletas da lista de beneficiados pelo programa.

toral sul de Pernambuco – tem no próximo domingo (16) um evento para mulheres, com atividades de bem estar como yoga, pic-nic, roda de conversa e, claro, aulas teórica e prática de surf. As participantes ainda encerram o dia com o famoso pôr do sol do Pontal de Maracaípe. O evento é promovido pela Todas Para o Mar (TPM), projeto de surfe e para mulheres tocado por Nuala Costa, pernambucana pioneira no surf feminino do Brasil. As inscrições custam R$60. Mais informações pelo (81) 995486539.

Confederação BraA sileira de Futebol m 2008 foi criado, praia de Maracaípe (CBF) anunciou, mais E ainda no governo A – vizinha a Porto de uma vez, que vai reali- Lula, um programa que Galinhas, em Ipojuca, lizar jogos preparatórios para a Copa América 2020 em terras estadunidenses. A decisão foi tomada, de acordo com a CBF, por conta similaridade climática entre a região de Miami e a Colômbia na época da realização da competição. No ano passado, a Canarinha passou pelos Estados Unidos antes da Copa América e amargou estádios vazios e até mesmo resultados ruins. Porém, antes dos Estados Unidos, a seleção enfrenta a Bolívia na Arena Pernambuco, em jogo válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022.

DE OLHO NO DM Evandro Fagundes brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br

Campanha combinada Divulgação

o embalo do cumpriN mento das leis que preveem punições a manifestações

homofóbicas nos estádios, alguns jogadores estão aderindo a Campanha da Camisa 24. A iniciativa começou pelo Bahia, através da #PedeA24. O movimento ganhou o país e incentiva o uso do número que está associado a preconceitos no Brasil, e, ao mesmo tempo, era utilizada pelo jogador estadunidense de basquete Kobe Bryant, que morreu no mês passado em um acidente aéreo. Flávio (Bahia), Nenê (Fluminense), Gabigol (Flamengo) e Talison (Santos) são alguns dos atletas que aderiram à campanha.

GOL

CONTRA

Violência combinada reproducão

Gol Contra da semana é O em dose dupla. Primeiramente, para algumas, as pessoas

que promovem violência entre torcidas, a exemplo das pessoas inconsequentes com camisas do Sport causando tumulto na festa de aniversário do Santa Cruz, no Pátio Santa Cruz, no último 03 de fevereiro. Um dia depois, a segunda parte da violência. O presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Evandro Carvalho, fez uma fala pública cheia de apologia à morte. Cabe pensar um pouco. Cumprir as leis é mais eficiente que qualquer medida extrema. Seja para quem faz besteira correndo ou falando.

CLASSIFICAÇÃO AMARGA Julia Rodrigues brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br

DE OLHO NO TEMPO Daniel Lamir daniel.lamir@brasildefato.com.br

ano mal começou e uma realidade tenoda e qualquer pessoa que torce pelo m jogo apático, feio e sem grande esforço O ta assombrar as bandas dos Aflitos. O T Sport quer o time vencendo, seja uma E de ambos os lados, o Santa Cruz visitou o Champions Departamento Médico do clube precisou League ou até mesmo um raOperário Várzea-Grandense, na última quarta, acolher seis atletas com apenas três semanas de jogos. A temporada tende a ser “pesada”, principalmente quando lembramos as características de uma Série B. Ou ainda, quando temos em mente que avançar de fase na Copa do Brasil é essencial para o fôlego nas finanças. Não há como culpar ninguém, mas a realidade assombra. O atacante Álvaro, pode ficar de fora de todos os jogos de 2020. Os casos de Kieza e Jorge Henrique também acendem alertas sobre o cuidado que o Náutico deve fazer para manter qualidade técnica durante toda a temporada. Gilmar Dal Pozzo reclamou com razão. O momento de “rodar” elenco está sendo prejudicado. É preciso encontrar saídas para que os imprevistos não afetem os planos Timbu.

na Arena Pantanal, pela primeira fase da Copa do Brasil e saiu de lá com um amargo empate em 0x0. Mesmo assim, o Tricolor pernambucano conseguiu se classificar à segunda fase do certame e garantiu R$ 650 mil, montante que chega em hora boa para o seguimento do planejamento do clube nesta temporada. O avanço de fase coral, não fez passar batido, no entanto, a péssima atuação do time em campo. Sem conseguir criar jogadas ofensivas pelo meio, mais uma vez os comandados de Itamar Schulle optaram pelas jogadas de lado, também sem grande efeito. Agora o Santa passa a mirar mais um desafio, desta vez no sábado (08), pela 3° rodada da Copa do Nordeste, diante do Fortaleza, no Castelão.

chão. Mas nem toda e qualquer pessoa que torce pelo Sport exercita a paciência para projetar o melhor momento de estar vencendo. O incômodo de empatar com o Retrô na Ilha precisa ser ponderado. Olhando para frente e para trás no tempo, fica nítido que os protestos nas arquibancadas foram exagerados. A realidade financeira obriga um elenco que precisa ser bem observado em campo, dando condições de girar um elenco com jovens promessas. A realidade do ano também obriga uma arrumação em campo para buscar o melhor na Série A, não no Pernambucano. Ou seja, as cobranças são necessárias e importantes, mas no caso do Sport 2020 na hora certa.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.