CULTURA | 13
Luisa Medeiros
Feiras da Reforma Agrária no NE:
João Roberto Ripper: O fotojornalista abordou seu recente trabalho no semiárido pernambucano que está em exposição no Recife
Circuitos valorizam cultura popular camponesa e nordestina Recife, 22 a 28 de setembro de 2017
ano 2
edição 37
distribuição gratuita
Julia
Pernambuco
ENTREVISTA | 11
PH Reinaux
Brasil vive semana de ataques a Direitos Humanos
CIDADES| 10 122 anos de Petrolina: Os desafios e oportunidades da capital do São Francisco
Variedades | 14 Novelas e Televisão Confira nessa semana o bafafá de Bibi Perigosa.
Brasil de Fato
ESPORTES | 15 Crossfit: grande intensidade exige cuidado ainda maior
Brasil de Fato PE
Recife, 22 a 28 de setembro de 2017
2 | OPINIÃO
EDITORIAL
Lutar é questão de sobrevivência GOLPE. Governo quer que mais pobres fiquem sem casa e sem terra
uanto mais o tempo Q passa no governo golpista, mais assistimos à re-
tirada de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. O governo que se instalou em Brasília parece não cansar de retirar as poucas políticas que atendem as demandas sociais e geram empregos, ao mesmo tempo em que reforça ações para favorecer o lucro do grande ca-
ta de orçamento enviada ao Congresso para 2018, o governo propõe reduzir de R$ 909 milhões (que já é extremamente pouco para a demanda) para R$ 181,8 milhões o recurso destinado à assistência técnica, educação e assentamento de novas famílias. Essa redução praticamente impossibilita o acesso à terra e até mes-
O orçamento do Minha Casa Minha Vida faixa 1, destinado às famílias mais pobres, aquelas que têm renda de até R$ 1800, foi ZERADO pital. Nos últimos dias, mais dois presentes de grego foram entregues por Michel Temer ao povo brasileiro. O primeiro golpe foi realizado contra a Agricultura Familiar, responsável pela produção de mais de 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas. Na propos-
mo a possibilidade de produção de milhares de famílias de agricultores. Ou seja, além da redução de empregos, as políticas desse governo negam o direito à terra, educação e assistência técnica a milhares de famílias. Mas não é só isso. O orçamento do Minha Casa Minha Vida faixa 1, destina-
do às famílias mais pobres, aquelas que têm renda de até R$ 1800, foi ZERADO. Ou seja, caros leitores, o governo sem vergonha quer que os mais pobres fiquem sem educação, sem terra, sem casa e sem o alimento produzido pela Agricultura Familiar.
leira e quem lucra com ele. O povo não pode pagar a conta. A cada dia que passa, a necessidade de derrubar esse governo e de avançar
Além de minguar as políticas Privatizações sociais, faz parte do projeto do governo golpista entregar Além de minguar as poo patrimônio público para as líticas sociais, faz parte do projeto do governo golpista empresas privadas entregar o patrimônio público para as empresas privadas. Setor elétrico, petróleo, Correios, bancos públicos, universidades, saúde e até a educação básica estão na mira. A viseira é tão curta que pretendem vender o que de melhor temos no país, a preço baixo. O quadro que se desenha para o futuro é terrível: mais pessoas estarão desempregadas. Menos terão acesso a políticas sociais. Muitos se tornarão terceirizados. Raríssimos conseguirão se aposentar. Ou seja, a renda familiar dos trabalhadores vai cair, e muito. Ao mesmo tempo, a conta de luz vai fi-
Expediente Brasil de Fato PE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país, com edições regionais em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Pernambuco. O Brasil de Fato PE circula quinzenalmente às sextas feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
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Edição: Monyse Ravenna (DRT/CE 1032) | Redação: Catarina de Angola, Daniel Lamir, Marcos Barbosa e Vinícius Sobreira Colaboração: André Barreto, Daniel Lamir, Filipe Spencer, Francisco Marcelo, Halina Cavalcanti, Stella Nascimento, Roberto Efrem Filho Revisão: Mariana Reis|Distribuição e Administração:Iyalê Tahyrine| Diagramação: Diva Braga Conselho editorial: Alexandre Henrique Bezerra Pires, Ana Gusmão, André Barreto, Aristóteles Cardona Jr., Bruna Leite, Bruno Ribeiro, Camila Castro, Carlos Veras, Catarina de Angola, Doriel Saturnino de Barros, Eduardo Mara, Elisa Maria Lucena, Geraldo Soares, Glaucus José Bastos Lima, Henrique Gomes, Itamar Lages, Jaime Amorim, José Fernando de Melo, Laila Costa, Lívia Milena, Luiz Antonio da Silva Filho,Luiz Antonio Lourenzon, Marcela Vieira Freire, Marcelo Barros, Marcos Aurélio Monteiro, Margareth Albuquerque, Maria das Graças de Oliveira, Marluce Melo, Moisés Borges, Patrícia Horta Alves, Paulette Cavalcante, Paulo de Souza Bezerra, Paulo Mansan, Pedro Rafael Lapa, Roberto Efrem Filho, Rosa Sampaio, Sérgio Goiana, Suzineide Rodrigues, Valmir Assis| Tiragem: 20 mil Exemplares
car mais cara. Talvez não seja mais possível estudar em universidades públicas. O SUS pode não ser mais 100% gratuito. A gasolina
vai aumentar. Muito provavelmente, as tarifas bancárias e de serviços – transporte, água, gás – também. Vai ficando bem claro o que estava por trás do golpe contra a democracia brasi-
nas lutas por direitos se torna uma questão de sobrevivência do povo brasileiro. A unidade entre as forças populares é a saída que se abre para a construção de uma outra ideia de país.
Charge
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GERAL l 3
mandou
Frase da Seman a
BEM
É a mãe de todas as lutas, a luta pela mãe terra. O mundo inteiro precisa vir para a linha de frente. Vamos pressionar. Demarcação já”
Divulgação
Campanha para proteger dados
ntidades da sociedade civil, E organizações de defesa do consumidor e pesquisadores,
Sônia Guajajara, no show de Alicia Keys, no Rock in Rio
O que você acha das privatizações propostas pelo governo Temer?
reunidos na Coalizão Direitos na Rede lançaram no último dia 19 a campanha “Seus Dados São Você” pretende sensibilizar a população e o Parlamento sobre a urgência da aprovação de uma Lei de Proteção de Dados Pessoais no Brasil, tendo em vista os atuais modelos de negócio e a atuação dos poderes públicos baseados na coleta massiva de dados.
mandou “As privatizações propostas por este governo, e vale lembrar que é um governo golpista, são sem dúvida a forma mais rápida que o governo encontrou para retirar direitos, retirar possibilidades do povo brasileiro viver bem e ter algumas necessidades providas a partir do próprio Estado, em que as pessoas pagam seus impostos e tributos para ter esses serviços de volta. A gente sabe que as primeiras pessoas a serem atingidas com isso são as da classe trabalhadora e as privatizações atingem a todas as pessoas que moram no Brasil”.
MAL
Beto Barata/PR
Kátia Rejane, educadora, Ouricuri
Trump faz ameaças na ONU
m seu primeiro discurso na E Assembleia Geral da ONU, o presidente dos EUA, Donald
Trump, defendeu a sua ideia de “América em primeiro lugar”, classificou o governo da Coreia do Norte como “depravado” e afirmou que, se for ameaçado poderá “destruir completamente a Coreia do Norte”. O presidente norte-americano defendeu que os paísesmembros da ONU enfrentem juntos os países “hostis”. Parece que Trump não está disposto a paz.
4 | GERAL Mundo
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Encontro de Pescadores do Recife CUT
A
Ato contra o conservadorismo
conteceu entre os dias 18 e 19 de setembro, o Encontro de Pescadores e Pescadoras do Recife. O evento foi uma iniciativa do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), da Ação Comunitária Caranguejo Uçá, da Fundação Joaquim Nabuco e dos pescadores e pescadoras da região, em parceria com a Poupança Comunitária e apoio da CESE, FASE, SOS Corpo, Departamento de Sociologia (UFPE) e TV Universitária de Pernambuco. O encontro foi resultado de reuniões realizadas nas comunidades tradicionais pesqueiras: Ilha do Maruim, Coque, Santo Amaro (Ponte do Limoeiro e Espaço Ciência), Coelhos, Bode, Brasília Teimosa, Vila da Imbiribeira, Vila São Miguel, Caranguejo Tabaiares e Vila Tamandaré no mês de agosto desse ano.
ESPAÇO SINDICAL
Servidores públicos federais do Hospital das Clínicas entrarão de greve Divulgação
N
a última terça (19.09) em assembleia do Sindisep-PE no Hospital das Clínicas da UFPE, os empregados da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) discutiram sobre os processos de negociação salarial com o governo. Desde o ano passado eles estão parados e com perspectiva de zero reajuste salarial. Os trabalhadores então reunidos decidiram pela greve que será deflagrada no dia 25 de setembro, próxima segunda. A greve da Ebserh está sendo deflagrada nacionalmente. A greve possui caráter legal e se manterá até que haja novas negociações com ganhos pertinentes para a categoria.
Bancários em defesa dos bancos públicos Sindicato dos Bancários PE
O
sindicato dos bancários de Pernambuco, em campanha contra o desmonte dos bancos públicos, realizou nesta última quarta (20.09) atividade de distribuição de panfletos e conversas sobre o desmonte e privatização dos bancos públicos nacionais realizados pelo governo de Michel Temer. A campanha, que já passou por 20 agências públicas nesse mês de setembro, conta como objetivo também de formar uma frente parlamentar em defesa dos bancos públicos no Senado, para impedir que medidas de privatização sejam tomadas.
P
oucos dias após a Parada da Diversidade do Recife, pernambucanos voltam à ruas nesta sexta-feira para defender os direitos da população LGBT em ato contra a aprovação da “cura gay”, com concentração às 16h, na Praça do Derby. A mobilização “Não somos doentes”, como está sendo chamada, acontece em resposta à decisão do juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal, que concedeu, nesta semana, liminar que infere sobre o Conselho Federal de Psicologia ao classificar a homossexualidade como uma doença e tornar, na prática, legalmente possível que psicólogos ofereçam pseudoterapias de reversão sexual. O protesto conta com a organização de grupos e movimentos que atuam no combate à LGBTfobia, como o bloco Tire Seu Bairro Do Armário e o Fórum LGBT de Pernambuco.
Direitos de Fato Não há cura para o que não é doença Justiça Federal do Distrito Federal concedeu liminar permitindo A que os psicólogos tratem a homossexualidade como doença e, com isso, liberando a terapia de reversão sexual. A decisão proíbe que o Con-
selho Federal de Psicologia (CFP) atue para impedir a realização de tratamentos de “reorientação sexual”. No Brasil a realização desse tipo de tratamento é proibida aos psicólogos, tudo com base em decisões da Organização Mundial de Saúde e do Conselho Federal de Medicina, as quais deixaram de patologizar relações homoeróticas. O entendimento do CFP – afastado pela decisão de um único juiz sem formação na área de saúde mental – também é chancelado na Constituição Federal de 1988, ainda em vigor no Brasil, e que constitui como objetivo da República Federativa a promoção de uma sociedade sem qualquer forma de discriminação. A retrógrada decisão, além de colaborar para que o País retorne aos tempos de ditadura militar, implica em sério desserviço ao debate da despatologização da transexualidade que atualmente ganha força no âmbito internacional. No país que mais mata transexuais no mundo, uma justiça homofóbica e transfóbica em vez de vendas, tem os seus olhos abertos e, no lugar de uma balança em suas mãos, sangue. *Clarissa Nunes é advogada em Recife
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Recife, 22 a 28 de setembro de 2017
Artigo
Artigo
Liquidação geral no governo de Michel Temer Aristóteles Cardona Júnior*
lgumas semanas atrás escreA vi aqui nesta coluna do Brasil de Fato sobre o que chamei de doença da privatização. Uma doen-
Os defensores das privatizações sempre nos vêm com discursos e justificativas que parecem atraentes ça terrível que acaba com as forças e a riqueza de um país entregando setores estratégicos para empresas nacionais e estrangeiras que terão como interesse principal o lucro. E, antes que alguém se pergunte, é preciso sempre reafirmar que ter o lucro como principal interesse é, sim, um grave problema. Principalmente quando estamos falando de setores que são essenciais para o progresso de um povo e de um país, como saúde, educação, comunicação, energia elétrica, assim como vários outros. Naquele texto, citei que esta doença, que esteve praticamente erradicada em nosso país, estava ressurgindo com o ilegítimo governo de Michel Temer. A proposta do momento foi o anúncio do interesse em privatizar a Eletrobrás. E para o nosso desgosto, exposta pelo ministro de Minas e Energia, o pernambucano Fernando Bezerra Coelho Filho, cria do senador Fernando Bezerra Coelho. Os defensores das privatizações sempre nos vêm com discursos e justificativas
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que parecem atraentes. Dizem que o serviço vai melhorar e até que vai ficar mais barato. Mas a verdade é que tudo isso não passa de enganação. E, para chegar a esta afirmação, nem precisamos ir muito longe: basta olhar para a situação das telecomunicações, privatizadas ainda no Governo de FHC. Possuímos uma das mais caras tarifas de telefonia do mundo. E, o que chega a ser pior ainda, tendo um péssimo serviço. É ou não é? Ou alguém está muito satisfeito com serviços oferecidos pela sua operadora? Em consulta a qualquer ranking de reclamações, as empresas de telefonia estão sempre entre as primeiras que mais trazem problemas aos seus usuários. A Eletrobrás representa um grande patrimônio do povo brasileiro. Ela é gigante, respondendo por mais de 30% da energia gerada em nosso país e por quase 50% das linhas de transmissão. Hoje já é uma empresa que possui ações negociadas em bolsas de valores, mas o controle é do governo. Com a proposta, a empresa deixa de ser patrimônio do povo e poderá ser comandada por qualquer um. Como se não bastasse abrir mão de controlar algo tão importante para o desenvolvimento de um país, o governo pretende entregar quase de graça a Eletrobrás. Anunciaram um preço de venda por volta de R$ 20 bilhões quando alguns especialistas avaliam em mais de R$ 350 bilhões todo o seu parque gerador. Por tantas questões é que este anúncio de privatização da Eletrobrás não interessa à população brasileira. E se não interessa ao nosso povo, a quem interessa? Quem vai se beneficiar de fato com esta perda de patrimônio público? Michel Temer e Fernando Bezerra Coelho Filho têm a obrigação de responder esta pergunta a todo o país. * é Médico de Família no Sertão pernambucano, professor da Univasf e militante da Frente Brasil Popular de Pernambuco.
Pelas mulheres para toda a sociedade Sidney Janaina Mamede* Henrique e Ingrid Farias*
tilhamento do trabalho doméstico. Isso garante uma realidade vida justa para todas as mulheres. Enquanto ferramenta metodológica, a campanha é divulgada de forma descentralizada, com peças de divulgação que fortalecem a identidade e comunicação feminista. Desde março de 2017, ocorreram mais de dez lançamentos da campanha, nos estados de RN; PB; ireitos são para Mulheres PE; CE; PI, BA e MA, com realizae Homens - Responsabili- ção de seminários, oficinas, condades Também!” Esta certeza ins- gressos, feiras entre outras, promopirou mulheres agricultoras, as- vidos pelas organizações integransessoras técnicas e acadêmicas do tes da Rede em parceria com moviNordeste a construírem a Campa- mento de mulheres, universidades, nha Pela Juse organização da ta Divisão sociedade civil, do Trabalho como a ArticuDoméstico, Os afazeres de casa lação do Semiáe consolidar rido (ASA), que uma potente e o cuidado com as fará divulgação organização pessoas, devem ser no semiárido dessas mubrasileiro. Noslheres atra- de responsabilidade so desafio é fazer vés da Rede de todos na casa dessa campanha Feminismo e um instrumento Agroecologia de alteração de do NE. realidades, é urgente debater as deO projeto reuniu mulheres, a fim sigualdades contra as mulheres no de fortalecer as experiências de As- âmbito rural e urbano. Para contasistência Técnica e Extensão Rural to, acesse a página. (ATER), e a campanha surge a partir de questionamentos sobre as dificuldades das mulheres em aces- https://www.facebook.com/peladivisaosar as políticas públicas e desenvol- justadotrabalhodomestico/ faça a adesão ver habilidades diante das opres- e seja #PelaDivisãoJustadoTrabalhoDosões sofridas no meio rural, apon- méstico! tando que as mulheres estão sobrecarregadas. Os afazeres de casa *Janaina Henrique é cientista social, ine o cuidado com as pessoas, devem tegrante da comissão da campanha e ser de responsabilidade de todos assessora técnica da AACC/RN. na casa. É necessária uma mudança de atitude, a luta por justiça co- *Ingrid Farias, Integrante da Equipe de meça dentro de casa, no compar- Direito das Mulheres da Actionaid.
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6 | BRASIL
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Cala a boca não morreu Setores do Legislativo e do Judiciário patrocinam iniciativas graves contra a liberdade de expressão e país volta a flertar com os tempos mais sombrios de sua história Divulgação
Obra censurada da exposição Queermuseu – cartografias da diferença na arte da brasileira” Pedro Rafael Vilela, de Brasília (DF)*
ma sucessão de U medidas e decisões judiciais tem chamado a
atenção de organizações da sociedade civil que atuam na defesa da liberdade de expressão e do direito à comunicação no país. A preocupação é justamente com o crescimento dos casos de violação à livre manifestação do pensamento, seja por meio da arte ou da atuação política. O caso mais emblemático das últimas semanas foi o rumoroso encerramento antecipado da exposição de arte “Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira”, pelo Santanter Cultural, em Porto Alegre (RS). A mostra, que ficaria aberta até 8 de outubro, foi interrompida pelo próprio banco após protestos e pressão de segmentos conservado-
res e de extrema-direita liderados pelo Movimento Brasil Livre (MBL), uma das organizações que ajudaram a organizar protestos pelo impeachment da ex-presiden-
heterossexualidade ou gênero definido, os chamado Queer, no termo em inglês. O caso ganhou repercussão mundial como um grave precedente contra a liberda-
Em tempos de avanço do conservadorismo e de ruptura democrática em nosso país, a liberdade de expressão acaba se tornando um dos primeiros alvos de ataque ta Dilma Rousseff. A exposição exibia pinturas, gravuras, fotografias, desenhos, esculturas, colagens, cerâmica e serigrafia que retratavam o universo das pessoas que não seguem o padrão de
de de expressão no país. A obra “Pedofilia”, da artista mineira Alessandra Cunha, a Ropre, denuncia, literalmente, o crime que a intitula. Para alguns deputados estaduais de Mato Grosso do
Sul, porém, a pintura faz apologia ao crime. Por causa disso, o quadro chegou a ser apreendido pela Polícia Civil do estado após ser publicamente detratado pelo deputado Lídio Lopes (PEN), que a considerou “promoção de pedofilia”, durante sessão na Assembleia Legislativa do estado, há duas semanas. O parlamentar foi acompanhado por dois colegas e as manifestações resultaram numa ação da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca). “A minha pintura é um protesto para alertar o que acontece. Eles aproveitam para fazer a politicagem”, declarou à artista em entrevista ao Campo Grande News, na semana passada. Em outro caso, decisão liminar do juiz da 1ª Vara Cível de Jundiaí (SP), Luiz Antonio de Campos Junior, proibiu a exibição da peça teatral “O Evangelho segundo Jesus, rainha do céu”, no último dia 15 de setembro. A peça, de autoria da dramaturga inglesa Jo Clifford, propõe uma reflexão sobre a opressão e intolerância sofridas por pessoas transgêneros e outras minorias e reitera valores cristãos como amor, perdão e aceitação. A proibição judicial lembra alguns dos períodos mais sombrios da história do país, como os tempos da ditadura militar (1964-1985), quando obras de arte eram simplesmente censuradas e proibidas de circular no país.
Calar Jamais
P
ara denunciar essa escalada de
violações, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), em parceria com diversas organizações da sociedade civil, lançou em outubro do ano passado a campanha “Calar Jamais!”. Por meio de uma plataforma online, a campanha passou a receber denúncias de diversos casos de violações à liberdade de expressão em curso no país, como censura a obras de arte, repressão de protestos, cerceamento de opinião na internet e contra comunicadores e veículos de mídia, entre outros. “Em tempos de avanço do conservadorismo e de ruptura democrática em nosso país, a liberdade de expressão acaba se tornando um dos primeiros alvos de ataque. O objetivo dessa campanha, para além de denunciar os casos, é alertar a sociedade brasileira sobre a gravidade do momento em que vivemos”, afirma Renata Mielli, coordenadora-geral do FNDC. As denúncias encaminhadas serão reunidas e enviadas para organizações nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos, como o Ministério Público Federal e as Relatorias da Liberdade de Expressão da OEA (Organização dos Estados Americanos) e da ONU (Organização das Nações Unidas). *Com informações da Assessoria de Comunicação do Ministério Público Federal (MPF).
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Retirada de direitos tenta prejudicar mobilização popular, avalia presidente do CNDH
DIREITOS HUMANOS. Darci Frigo falou sobre processo de violência e criminalização contra os movimentos sociais, na abertura da 16ª Jornada Leandro Taques
Darci Frigo avalia que violência contra militantes se agrava a partir do golpe Franciele Petry Schramm, do Brasil de Fato PR
residente do ConP selho Nacional de Direitos Huma-
nos (CNDH), Darci Frigo alerta para o aumento de casos de violência e criminalização contra os movimentos sociais. Apenas em 2017, 65 pessoas que defendem direitos humanos foram assassinadas. Os dados foram trazidos para 500 pessoas durante a Conferência de Abertura da 16ª Jornada de Agroecologia, na quarta-feira (20.09). A atividade realizada na cidade de Lapa (PR), a 70 km de Curitiba, segue até sábado. Frigo lembra que a violência contra militantes e ativistas não é recente - há anos os movimentos sociais têm lutado contra isso -, mas que o cenário se agravou a partir do golpe político que derrubou a presidenta Dilma Rousseff.
Segundo ele, a retirada da presidenta do poder foi uma das formas de garantir a aprovação de pautas pouco populares, porque ferem os direitos da população. “A gente consegue ver o desmonte de várias políticas. O estado social está ameaçado de morte com a reforma trabalhista, a terceirização e o congelamento dos gastos públicos”, lamenta. Atingir os direitos sociais seria, na avaliação de Frigo, uma das formas de enfraquecer a mobilização popular. “Esses cortes orçamentários têm viés político e ideológico, para acabar com qualquer possibilidade de alternativa proposta pelos movimentos sociais”. Ameaça econômica e social Uma das grandes ameaças aos direitos sociais, segundo o presidente do CNDH, é a Emenda Constitucional 55, que congela os gas-
tos públicos por 20 anos. Ele indica que grandes
foram previstos R$ 318 milhões para o PAA, apenas R$ 750 mil devem ser disponibilizados para o programa em 2018. O problema, alerta Frigo, é que o orçamento do próximo ano servirá de base para os próximos 20 anos. Situação semelhante atinge a política de reforma agrária. O valor destinado à aquisição de terras para a criação de assentamentos através do Incra passará de R$ 257 milhões para R$ 34 milhões, em 2018. “Essas reformas atacam o núcleo da Constituição Federal de 1988”, alerta o presidente do CNDH.
O estado social está ameaçado de morte com a reforma trabalhista, a terceirização e o congelamento dos gastos públicos cortes vão ocorrer em programas de distribuição de renda e de incentivo à produção agroecológica. O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que incentiva a agricultura familiar por meio da compra da parte da produção dos agricultores, pode sofrer duros cortes. Se em 2017
Estado fraco Frigo destaca que, ao mesmo tempo em que direitos sociais retrocedem, a repressão à manifestação popular aumenta. Exemplo disso
foi o ataque sofrido por manifestantes em Brasília, no dia 24 de maio. Cerca de 200 mil pessoas protestavam contra o governo de Michel Temer quando foram atacados pela Polícia Militar. “Estado fraco para salário mínimo e para reforma agrária, mas estado forte na repressão aos pobres”, indigna-se. A repressão à organização popular tem se fortalecido por meio da criminalização dos movimentos sociais. Um caso emblemático dessa situação foi registrada no Paraná, em novembro de 2016. Ação da Polícia Civil, a Operação Castra prendeu sete integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, acusados de crime de organização criminosa. Frigo alerta para a possibilidade de legitimação da repressão à luta popular: um projeto de lei que enquadrará manifestações organizadas pelos movimentos sociais na Lei Antiterrorismo pode ser apresentado ao Congresso Nacional. “Temos que estar preparado para enfrentar esse patamar mais elevado da criminalização dos movimentos sociais”, afirma. E destaca que é preciso enfrentar a criminalização e negação da própria política - algo que tem sido acentuado pela associação com a corrupção. “Não existe nenhuma possibilidade de a gente construir algo que seja diferente na sociedade, que não seja através de um processo político - mesmo que não seja necessariamente partidário”. E completa: “Agroecologia não se faz sem luta. Se faz com política”.
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“Mudou muito. Antes era lama e casa flutuante”, conta moradora de Brasília Teimosa TRANSFORMAÇÃO. Mulheres do bairro contam sua história à reportagem do Brasil de Fato Julia Dolce
“Nossa esperança é Dilma e Lula, se eles voltarem, nossa vida melhora” Julia Dolce e Monyse Ravena
O
bairro de Brasília Teimosa fica localizado na zona sul do Recife. Nos últimos 15 anos o bairro passou por muitas transformações. Simone Virgínia é peixeira e mora em Brasília Teimosa há 30 anos. Seus olhos testemunharam todas as transformações pelas quais o bairro passou. Simone é casada e tem dois filhos, a sua família toda tira o sustento do mar: o marido e os dois filhos são pescadores. Ela é a responsável por vender o que eles pescam: “Tem peixe, camarão e ara-
tu, pego tudo e vendo de porta em porta, nos restaurantes e na praia mesmo para os turistas”. Ela vende o pescado in natura, mas também cozinha pratos com peixe e camarão que vende na praia, principalmente aos domingos. Simone diz que não conheceu outra vida, mas que o aperto no peito continua quando o marido e os filhos ganham o mar: “Eles sabem se vão, mas não sabem se voltam”. Ela conta que o filho estudou, fez cursos e já trabalhou em outros lugares, mas, recentemente, ficou desempregado e a pesca foi o destino. “Muita coisa melhorou aqui no bairro, mas há uns
Tem peixe, camarão e aratu pego tudo e vendo de porta em porta, nos restaurantes e na praia mesmo para os turistas dois anos vemos que isso parou: o atendimento médico piorou e a violência cresceu, nossa esperança é Dilma e Lula, se eles voltarem, nossa vida melhora”, conclui.
A lavadeira aposentada Alzira de Souza também teve sua vida transformada pela reestruturação da comunidade que traz no próprio nome - “Teimosa” - a alusão à perseverança dos mo-
radores que ocuparam a região na década de 1950 e resistiram às múltiplas demolições. Com 66 anos de idade, Alzira foi uma das primeiras moradoras da comunidade. “Aqui mudou muito. Tudo era terra, lama, casa flutuante, bicho de pé. Depois que Lula entrou foi uma bênção, agora tá muito bom de morar. Todo mundo aqui na Brasília se sentiu mal quando ele saiu. Mas ele vai voltar, em nome de Jesus, porque aqui a gente ama ele”, contou. Através de diversos trabalhos informais, Alzira criou seus oito filhos quando ainda vivia em uma das palafitas que marcavam a paisagem da região. “Meu marido é pescador. Tinha dia que ia para a maré e não ganhava nada, ou trazia um trocadinho que nem pagava o aluguel. Eu trabalhava em casa de família, lavando roupa de ganha, e ia para a maré catar sururu para criar meus filhos. Vivia catando lixo, latinha, garrafa. Já catei até comida para comer, não tenho vergonha de dizer. Mas hoje minha vida é muito tranquila”. Hoje Alzira já tem 15 netos e uma bisneta e se mudou para uma casa em uma das ruas do bairro. Virgínia e Alzira viram o bairro e a própria vida mudar, as duas estavam na recepção ao ex-presidente Lula que voltou ao bairro para ver as mudanças 14 anos depois. As mulheres de Brasília Teimosa contam sua história e têm os olhos e a esperança voltados para o futuro.
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Recife, 22 a 28 de setembro de 2017
Educadores da reforma agrária debatem legado de Paulo Freire
CARUARU. Encontro buscou reavivar memória, teoria e prática da pedagogia dos oprimidos Arquivo MST
O encontro aconteceu no mês de aniversário de Paulo Freire Jade Percassi, do MST
eve início na última T segunda-feira (18.09) e se estende até esta sexta
(22.09) o seminário “O legado de Paulo Freire”, organizado nacionalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O encontro aconteceu no Centro de Formação Paulo Freire, em Caruaru, região Agreste de Pernambuco. Por ocasião dos 20 anos da morte de Paulo Freire, cerca de 400 pessoas, entre militantes, educadores e educadoras da Reforma Agrária de todo o Brasil, reuniram-se com o ob-
jetivo de reavivar a memó- cacional brasileiro e os deria deste grande pedagogo safios da luta por uma eduwww.sindsep-pe.com
O encontro reafirma o compromisso do movimento em contribuir para a reinvenção de práticas pedagógicas na luta pela emancipação humana brasileiro e suas convicções teóricas e práticas, de uma pedagogia crítica de libertação dos oprimidos; além de analisar o contexto edu-
INDS EP PE
Filiado à CUT e à CONDSEF
cação pública e popular. A atividade contou também com a participação de professores e professoras de universidades de diferentes
regiões, além de militantes históricos da educação no movimento, que vêm contribuindo com a reflexão sobre a atualidade do legado de Paulo Freire. O estudo é necessário para o enfrentamento aos desafios impostos pelo desmonte dos investimentos públicos na educação, além das medidas do governo golpista que afetam a vida de milhares de famílias de trabalhadores, incluindo as famílias rurais assentadas e acampadas. Na programação do seminário, a contribuição de Paulo Freire é estudada em suas diferentes dimensões, enfatizando a necessidade de seguir na atuação pedagógica comprometida com a conscientização de trabalhadores e trabalhadoras para que se organizem para construir uma transformação social. Para Rubneuza Leandro, do Setor de Educação do MST, “os momentos de socializar as práticas de formação política e educação popular que o MST tem implementado nos estados são a maior prova de que os ensinamentos his-
Documento que pede anulação da reforma trabalhista pode ser assinado na sede do Sindsep
O SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS Federais no Estado de Pernambuco (Sindsep-PE) soma-se aos demais sindicatos e movimentos sociais, no sen do de derrubar a reforma trabalhista (Lei 13.467 e Lei 13.429), aprovada em junho úl mo e que pode entrar em vigor em novembro próximo. A en dade é um dos pontos de coletas de assinaturas da campanha nacional Anula Reforma, que pretende reunir no mínimo 1,3 milhão de assinaturas em todo país e dá inicia à criação de um projeto de lei de inicia va popular Rua João Fernandes Vieira, 67 - Boa Vista - Recife-PE para a revogação da reforma trabalhista. Para par cipar da campanha, as pessoas podem se dirigir diretamente à sede Fone: 3131.6350 | Fax: 3423.7839 do Sindsep - rua Fernandes Vieira, 67, Boa Vista, Recife – ou pela internet através do site anulareforma.org.br. RECIFE, SETEMBRO DE 2017
tóricos de Paulo Freire permanecem vivos e em movimento, sendo reinventados a cada dia no enfrentamento da realidade”, avalia. Entre as experiências apresentadas, figuraram as campanhas de alfabetização, a educação de jovens e adultos, a formulação de currículos integrados à agroecologia, a participação democrática na gestão das escolas do campo, as lutas por escolas nos acampamentos e assentamentos, entre outras práticas. Além dos espaços formativos e de debate, o seminário é também regado por mística e cultura popular. Na noite da terça-feira (19.09), por exemplo, foi realizada a jornada Paulo Freire Vive, em homenagem aos 96 anos de nascimento do educador, com apresentações artísticas contextualizando os diferentes períodos de sua vida e obra. O encontro reafirma o compromisso do movimento em contribuir para a reinvenção de práticas pedagógicas na luta pela emancipação humana.
A campanha de arrecadação de assinaturas vai até o dia 11 de novembro, data em que a nefasta Lei começa a vigorar. Os interessados em contribuir com a divulgação do Anula Reforma podem acessar o endereço eletrônico anulareforma.cut.org.br, baixar os arquivos referentes ao material gráfico e formulário e iniciar a coleta de assinaturas. A reforma trabalhista proposta pelo governo ilegí mo de Michel Temer foi aprovada às pressas no Senado por 50 votos favoráveis, 26 contrários e uma abstenção. As mudanças não foram deba das junto ao conjunto da sociedade. Isso porque a grande maioria da população brasileira foi contrária a esse desmonte da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
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CIDADES I 10
Recife, 22 a 28 de setembro de 2017
Brasil de Fato PE
Com 122 anos, Petrolina tem desafios para se desenvolver ANIVERSÁRIO. A cidade ainda precisa conciliar crescimento econômico com qualidade de vida e acesso da população a seus direitos básicos Prefeitura de Petrolina
undada em 1870, PeF trolina é hoje o segundo maior município
do interior de Pernambuco. Completando 122 anos de emancipação na última quinta, 20 de setembro, a cidade é um polo de oportunidades na região do Vale do São Francisco. Às margens do Velho Chico e irmã da cidade baia-
na, a antiga “Passagem do Juazeiro”, ponto obrigatório de passagem de boiadeiros e negociantes do Ceará e Piauí já foi território indígena e fazenda de criação de gado. Conhecida também como a Califórnia Sertaneja, o município é um dos principais exportadores de frutas do país. Contudo, é também o modelo de produção agrícola voltado ao agronegócio e ao uso am-
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS METALÚRGICOS
BRASIL
Vanessa Gonzaga, de Petrolina
bientalmente irresponsável do Rio São Francisco que agrava a concentração de terras e reestrutura um novo modelo de coronelismo na cidade, que impacta diretamente nas decisões políticas não só em Petrolina, mas em todo o estado. Nos últimos anos, não foi apenas o modelo agrícola que projeta a cidade nacionalmente. A expansão universitária foi ocasionada principalmente pela fundação da Universidade Federal do Vale do Vale do São Francisco (Univasf), parte do projeto de Reestruturação Universitária (Reuni), durante o governo Lula. A Universidade, sediada em Petrolina, mas presente também em Juazeiro, Senhor do Bonfim, Paulo Afonso e São Raimundo Nonato abrange também os estados da
Bahia e Piauí. Cerca de 14 mil estudantes universitários estão matriculados em
A Universidade, sediada em Petrolina, mas presente também em Juazeiro, Senhor do Bonfim, Paulo Afonso e São Raimundo Nonato abrange também os estados da Bahia e Piauí universidades públicas e privadas na cidade. Outra atração conhecida na cidade são as Ilhas do Rio São Francisco. As quatro maiores, Ilha do Fogo,
Ilha do Rodeadouro, Ilha do Massangano e Ilha da Amélia, além de balneários, contam com variedade gastronômica e a prática de esportes como o rapel e o caiaque. A Ilha do Fogo, que fica entre as cidades de Petrolina e Juazeiro tem acesso a pé pela Ponte Presidente Dutra e conta com um cruzeiro com uma vista panorâmica das cidades. Mesmo com os desafios de conciliar o crescimento econômico com a qualidade de vida e com o acesso da população a seus direitos básicos, Petrolina comemora mais que um ano a mais de existência. Neste aniversário, a comemoração é a resistência de um povo que luta, sonha e acredita com um futuro melhor para a terra onde muitos nasceram e outros escolheram viver.
Recife, 22 a 28 de setembro de 2017
ENTREVISTA l 11 ENTREVISTA l 11
“Precisamos de pessoas que tenham um doce olhar sobre o povo”, diz Ripper
FOTOGRAFIA. As belezas da vida no semiárido pernambucano estão expostas no Murillo La Greca, no Recife PH Reinaux cado da comunicação e difundem apenas as histórias únicas, retiram a beleza de populações e ignoram tudo de bom que se faz nas comunidades.
Vinícius Sobreira
O
Brasil de Fato Pernambuco entrevistou João Roberto Ripper, 64 anos, fotojornalista autodidata cujo trabalho tem sido dedicado a questões sociais, especialmente do campo brasileiro. Ripper é um dos fundadores, nos anos 1990, da agência Imagens da Terra, cobrindo durante 10 anos temáticas sociais Brasil afora. Em 2004 fundou, junto ao Observatório das Favelas, o programa Imagens do Povo, agência-escola que funciona dentro do complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. Durante 12 anos o Imagens do Povo capacitou moradores de favelas para o trabalho com fotografia aliado à percepção crítica e aos Direitos Humanos. Seu recente trabalho no semiárido pernambucano, realizado em parceria com o Centro Agroecológico Sabiá, foi transformado na exposição “Uma deliciosa teimosia em ser feliz”, que segue até o próximo dia 15 de outubro no museu Murillo La Greca, bairro do Parnamirim, zona norte do Recife. As fotografias já passaram pelo Museu da Abolição e seguem, a partir do dia 19 de outubro, para o Sesc Triunfo, no Sertão do estado. Brasil de Fato – Com frequência você critica o que chama de “história única”. O que exatamente é a história única? João Ripper – História única é quando criam um estereótipo de determinadas populações, geralmente associadas à violência. Os alvos dessas “histórias
únicas” são principalmente as populações menos favorecidas, incluindo aí os moradores de favelas, as populações tradicionais, os ín-
a beleza dos fazeres dessas comunidades. Isso fere a dignidade das pessoas dessa comunidade. E faz com que as outras
Um documentarista não pode perder a capacidade de se maravilhar com a beleza da resistência e da vida das populações que temos aqui dios, quilombolas, agricultores sem-terra. Essas populações sempre aparecem como se fossem responsáveis pela violência, mas na grande maioria das vezes elas são vítimas da violência. E quando se passa muito tempo veiculando apenas informações de violência relacionadas a essas comunidades, todos os moradores acabam atingidos pelo estigma. A comunicação é utilizada para só informar a violência, ignorando as belezas estéticas e
pessoas que recebem a informação acabem se distanciando dessa comunidade. Aquele grupo passa a não ser aceito pela sociedade, não consegue apoio e isso dificulta ainda mais o processo de luta por melhorias na condição de vida. Portanto, a criação das histórias únicas e dos estereótipos está ligada aos poderes, sejam governamentais, políticos ou econômicos. Esses poderes têm essa visão sobre as comunidades. Eles dominam o mer-
BdF – No atual cenário brasileiro, com o crescimento da violência contra essas comunidades, como a fotografia pode ajudar a romper as histórias únicas? Ripper – O papel da fotografia é se empenhar cada vez mais em mostrar as belezas que são ocultadas e denunciar tudo o que prejudica esses trabalhadores e as populações menos favorecidas, que são massacradas com ações do Estado brasileiro. Através de seu braço, o Estado tem promovido uma matança nas favelas, comunidades indígenas e quilombos, além de despejos de trabalhadores rurais. Não é só quem está no governo, mas quem detém o poder de modo geral, tem implementado o ódio contra essas populações. E o nosso trabalho é ver com bons olhos as pessoas que fotografamos, levar essa boa imagem à sociedade. Temos que mostrar para a sociedade como aquelas pessoas são boas, mas que infelizmente estão sendo massacradas, tendo seus direitos usurpados. Precisamos dar uma resposta de resistência, mas também mostrar como são belas essas populações que são estereotipadas como violentas. Um documentarista não pode nunca perder a capacidade de se indignar com as injustiças, mas também não pode perder a capacidade de se maravilhar com a beleza da resistência e da vida das po-
pulações que temos aqui. BdF – O que as pessoas encontram na exposição “Uma deliciosa teimosia em ser feliz”? Ripper – A exposição mostra a resistência de uma forma linda, dedicada à vida dos trabalhadores da região do semiárido, da caatinga brasileira, em especial do Sertão de Pernambuco. São trabalhadores que mostram que é possível conviver com o semiárido. Que em vez de discutirem o “fim da seca”, que é um fenômeno natural, querem mesmo é se preparar para quando a chuva vier, para poderem encher seus reservatórios. São pessoas que têm essa deliciosa teimosia de ser feliz. BdF – O que você diria ao leitor que reside em subúrbio ou comunidade rural e que sonha tornar-se fotógrafo? Ripper – Que tenha muita vontade. Vá atrás de seus sonhos. Busque se formar com as experiências que já estão acontecendo, para que aprenda mais de fotografia. Sobre o equipamento: se juntando a outros, dá para pensar em adquirir câmeras – que não precisam ser fantásticas. O importante é ter conhecimento, muita vontade e um olhar de bem para essas populações esquecidas e criminalizadas. A gente precisa de pessoas que tenham um doce olhar sobre o nosso povo. Se você tem esse olhar, mergulha no teu sonho, se junta a quem já está fazendo e você verá que pode fotografar bem, com máquinas simples ou celulares.
CULTURA | 12
Recife, 22 a 28 de setembro de 2017
O que tu indica?
“Viva”
Cássio Uchoa*
iva é um filme realizado V a partir de uma coprodução entre Cuba e Irlanda e narra a trajetória do jovem cabeleireiro Jesús (Hector Medina) na afirmação de sua identidade como drag queen e a superação de uma traumática relação com seu pai, o ex-pugilista Ángel (Jorge Perugor-
ria), que reaparece em sua vida depois de 15 anos de prisão. O diretor irlandês Paddy Breathnach consegue abordar de forma muito delicada o despertar de Jesús para o universo drag queen, num belíssimo trabalho de interpretação e sobretudo de corpo do jovem ator cubano que defende este personagem. O diretor coloca este universo em contraponto com os estereótipos cristalizados de masculinidade de uma sociedade machista, retratado a partir do universo do boxe, representado pelo pai. Breathnach também consegue se afastar do retrato caricatural do universo das drag queens, bem como de olhares simplórios sobre a latinidade e retrata uma Ha-
vana tanto visceral quanto universal. Parte da beleza do filme está na escolha dos realizadores de não abordar essa relação de pai e filho de forma melodramática. Não existe bem ou mal. São dois homens com sonhos e expectativas que criaram para si e para o outro. O conflito que começa violento vai se encaminhando para uma recostura de laços entre os dois, que pode ser vista como metáfora de uma sociedade que precisa se livrar do machismo que oprime e violenta as pessoas. Bons personagens secundários também se somam à jornada de Jesús, destaque para a atuação de Luis Alberto Garcia como Mama, mentora drag que auxilia o jovem no seu surgimento como Viva, num grito intenso e amplificado em nome da liberdade de ser, tão dura de se alcançar nos nossos dias. *Cássio Uchoa, radialista da Rádio Universitária FM.
AGENDA CULTURAL Música Especial Mestre Nequinho
Música Blus e Jazz no Recife
Exposição XII Kipupa Malunguinho
a 1ª Edição do Projeto “O Parque Santana, em este domingo (24.09) será N Território Periférico”, serão O Casa Forte, terá um Nrealizado o encontro nahomenageadas a voz e as narsábado (23.09) de muito cional dos juremeiros no Coco rativas do Mestre Nequinho e sua Comunidade. O evento acontece hoje (22.09) e amanhã (23.09), no loteamento Eugênio Bandeira, em Nazaré da Mata. A programação é diversa e estão previstas atividades durante todos os turnos, contando com roda de diálogo, oficinas, mostra de artesanato e apresentações musicais.
blues e jazz, além de piquenique, malabares, oficinas artísticas para crianças, entre outras atrações, com o 3º Festival BB Seguridade. A entrada é franca e conta com programação a partir das 14h30. O evento se encerra com show do cantor Zeca Baleiro.
na Mata do Catucá. O evento acontece das 9h às 18h, em Pitanga II (Abreu e Lima-PE) e conta com uma programação rica e diversa de religiosidade de matriz indígena e africana, além de marcar os 182 anos de resistência do Malunguinho e ser um grito de luta contra o racismo e a intolerância religiosa. Entrada gratuita.
Brasil de Fato PE
Lutador do Povo
Amilcar Cabral mílcar Cabral nasceu em Bafatá, A Guiné-Bissau, em 12 de Setembro de 1924. Filho de Juvenal Cabral e Iva Pi-
nhel Évora, Cabral foi poeta e agrônomo. Em 1945, Cabral é um dos primeiros jovens das colônias portuguesas a ser contemplado com uma bolsa para frequentar os estabelecimentos de ensino superior em Portugal e matricula-se no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa. A vida de estudante constituiu uma oportunidade para aprofundar o seu sentimento progressista anticolonial, participando ativamente nas atividades estudantis clandestinas, foi aí que veio a conhecer Marcelino dos Santos, Vasco Cabral, Agostinho Neto, Eduardo Mondlane e outros estudantes que viriam a ser futuros líderes dos movimentos de libertação. Em 1956, foi um dos fundadores do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sete anos mais tarde, iniciou a luta armada contra Portugal na Guiné Portuguesa. Amílcar foi assassinado a 24 de janeiro de 1973 na presença da sua mulher Ana Maria em Conacry. Ele é considerado o teórico marxista mais destacado da revolução da África negra e dedicou todos os seus esforços em prol da independência dos povos da Guiné e de Cabo Verde.
Brasil de Fato PE
Variedades CULTURA l| 13 13
Recife, 22 a 28 de setembro de 2017
MST realiza circuitos culturais e feiras da Reforma Agrária em estados do Nordeste FEIRA. Em Pernambuco, atividades de lazer e cultura aconteceram entre os dias 13 e 16 de setembro, na cidade de Caruaru Luisa Medeiros
18ª Feira da Reforma Agrária em Alagoas ntre os dias 06 e 09 de setembro, o MST ocupou E a capital Maceió com cerca de 200 camponeses e camponesas de todo o estado, trazendo elementos da
cultura Sem Terra num diálogo entre campo e cidade. Com um público estimado de mais de 50 mil visitantes, foram comercializados mais de 458 toneladas de alimentos saudáveis vindas de assentamentos e acampamentos das diversas regiões. A população também pôde participar dos festejos gratuitos, que trouxeram atrações como Geraldo Cardoso, Anderson Fidelis, Caçuá e o músico Siba.
Festividades dos 30 anos do MST na Bahia
m comemoração às três décadas de luta e resistênE cia do movimento no território baiano, o MST realizou, durante quatro dias de festas, atividades envolvenOs circuitos são marcados por valorizar a cultura popular camponesa e nordestina.
do pelas famílias de agri- nambuco, as feiras da Recultores em seus assen- forma Agrária são imporm celebração à resis- tamentos e acampamen- tantes por permitirem que tência Sem Terra, expressando a arte e a cultura nordestinas, em defesa da agricultura camponesa A direita brasileira cria uma e em prol da unidade campo e cidade, durante o mês visão de assentamentos vazios, de setembro, o Movimen- sem produção. Mas, na medida to dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) reali- em que o MST organiza as feiras, zou em cidades de vários estados do Nordeste circuitos divulga a própria realidade dos culturais e feiras de alimen- assentamentos e da produção tos da Reforma Agrária. Em alguns locais, como Bahia e de alimentos Rio Grande do Norte, as comemorações também fa- tos. Além da comercializa- o MST estabeleça o diálozem alusão às datas de ani- ção em si de produtos e ali- go com a sociedade sobre versário da luta do Movi- mentos saudáveis, a pro- a construção da reforma mento nesses estados. gramação contou com ati- agrária popular, além de ser Em Pernambuco, a Fei- vidades variadas, como es- uma maneira de divulgar a ra da Colheita da Reforma paços de lazer, noites cul- produção de alimentos nos Agrária aconteceu entre os turais, torneios esportivos, assentamentos da reforma dias 13 e 16 de setembro no além de momentos de de- agrária e enaltecer a cultura Centro de Formação Pau- bates e estudo teórico so- nordestina. “A direita brasilo Freire, no Assentamen- bre os desafios da reforma leira cria uma visão de asto Normandia, em Carua- agrária popular e seu pa- sentamentos vazios, sem ru. O evento recebeu cen- pel na saúde, na educação, produção. Mas, na medida tenas de visitantes, que pas- para a juventude e para as em que o MST organiza as saram pelo assentamen- mulheres. feiras, divulga a própria reato ao longo dos quatro dias De acordo com Cristiane lidade dos assentamentos e para conferir de perto o re- Albuquerque, da direção da produção de alimentos”, sultado do trabalho realiza- estadual do MST em Per- explica. Marcos Barbosa
E
do atrações culturais, mesas de debate e produtos da Reforma Agrária. A festa teve início no dia 07 de setembro e reconstruiu os passos dados pelo MST desde a primeira ocupação, na madrugada de 07 de setembro de 1987 na fazenda 40 45, em Alcobaça. Diversos artistas ligados à cultura popular marcaram presença no evento, que reuniu mais de 1,2 mil trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra de dez regiões da Bahia.
I Feira de Produtos da Reforma Agrária no RN
E
m homenagem aos 27 anos do MST em solo potiguar, o Movimento realizou circuito cultural e sua primeira feira da Reforma Agrária no Rio Grande do Norte. As celebrações aconteceram entre os dias 13 e 17 de setembro, no Centro Estadual de Formação Patativa do Assaré, em Ceará Mirim. A programação contou com debates envolvendo temas como o feminismo popular e a participação da mulher na produção agroecológica, os desafios da conjuntura política atual, a cultura popular e a resistência Sem Terra, entre outros. Durante todas as noites, apresentações culturais e a expressão da arte potiguar subiram ao palco e deram o tom de festividade ao aniversário de 27 anos da luta Sem Terra no estado.
V Feira Estadual da Reforma Agrária em Sergipe
s atividades do MST em Aracaju estão agendadas A para acontecer no próximo mês, na Praça Fausto Cardoso, no centro da capital sergipana. Durante os dias 24, 25 e 26 de outubro, será realizada a mostra de arte e cultura e produção da agricultura camponesa, com alimentos vindos dos assentamentos e acampamentos de todo o território sergipano.
14 | VARIEDADES
Apresentacao
Recife, 22 a 28 de setembro de 2017
Brasil de Fato PE
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
© Revistas COQUETEL
Patrícia (?), apresentadora do "É de Casa" Acompanhar visualmente
Grupos "rivais" De 2015 a 2017, um grupo de mulheres agricultoras do Polo da nas cavalhadas de Pirenópolis (GO) Borborema participou do Projeto de Melhoramento das Cozinhas para o Sem companhia beneficiamento de produtos da Agricultura Familiar. Mídia lançada por um cantor para mostrar um pouco de seu novo trabalho Erro na frase "subir para cima"
Violação de direito autoral (jur.)
Bafafá: Bibi, a perigosa! Divulgação
InstruDurante esses anos, foram realizados diagnósticos, encontros municipais mento da música e territoriais, onde as mulheres puderam resgatar receitas que foram caipira aprendidas com suas mães tiveram a oportunidade Inquieto; Tipo de ou avós. CadaAs joga-mulheres Valentino turbulento bombom Rossi, da, em deQuelembrar o sabor da infância, resgatando com de piloto deele os momentos em uma partidura a chocolate MotoGP (fut.) vida toda que as histórias de dafamília e como aprenderam aquela "(?)saboreavam a emenda receita. que o soneto" (dito)
Casas de
repouso Bolo de macaxeira, pé-de-moleque assado na palha de bananeira, para idosos colorau, beiju assado debaixo Expressão da farinha, farofa d’água e bolo de "(?) Masque designa AbreviatuAmelia ter", filme são sóraalgumas jerimum dasummuitas receitas apresentadas, que carregam do Livro golpe Earhart, perfeito, aviadora de Eduardo de Isaías lembranças e um grande conhecimento associado no judô (Bíblia) dos EUAaos seus processos de Coutinho Maio (?): produção. promove a consciência no trânsito
Esta cartilha pretende socializar os momentos de troca e de aprendizagem entre as mulheres. Afrouxar (o cinto) "Mundial", em OMC
Habitat do ácaro Círculo luminoso que envolve a cabeça de imagens santas
Estudiosos como Auguste Comte
Condição do peixe servido no sashimi
Substâncias que Município agem como mineiro antideEnxofre limítrofe de Araxá pressivos (símbolo)
Colunista do Brasil de Fato comenta sobre uma das personagens mais polêmicas do horário nobre Felipe Marcelino, do Brasil de Fato MG
Equipe que leva o 2º lugar, em competição Lágrimas de (?): choro hipócrita
Bebida feita da casca do abacaxi
Arte, em inglês 1.500, em romanos
ma das personagens mais polêmicas da novela “A Força U do Querer” é, com certeza, a Bibi, interpretada pela atriz Juliana Paes. No início da trama, ela foi apresentada como uma
Peças que unem as aduelas no barril
3/art. 4/aros. 5/imaos — ippon. 8/travesso. 9/pleonasmo. 10/humanistas. 15/mouros e cristãos.
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Solução
H E D P T
P
O
P P L E O A V E G T I T A O R U I F I S A P
L A N C E
N A S S S I S T I R
S M O V C I I LO A O T A M A R E L O
M O U R O S E C R I S T Ã O S
facebook.com/brasildefatopernambuco
V
M A N I S T U M A R C E C A M P R O C O D I R S U LA A
VISITE NOSSA PÁGINA
P R E V I A D E M U S I C A
BANCO
Celia Cruz, cantora cubana
boa moça, apaixonada e dedicada ao marido Rubinho (Emílio Dantas). Como ele estava desempregado, o casal estava sempre passando por duras dificuldades econômicas, com um filho ainda criança e a constante reclamação da mãe de Bibi que não se dava bem com o genro. Mas nada disso abalava o amor entre os dois (o dela, principalmente). No entanto, capítulo após capítulo, a vida de Bibi se transformou totalmente. Rubinho começa a se envolver com o tráfico de drogas, chegando a se tornar um chefe do crime. A abnegada esposa se enfia em diversas encrencas para salvar a pele do marido, envolvendo-se intensamente com seus “negócios”. De boa moça, ela se torna a “Bibi Perigosa”, deslumbrada pela ostentação do poder paralelo. Para quem não sabe, a inspiração da autora Glória Perez para essa personagem veio da história real de Fabiana Escobar, a Bibi Perigosa, que foi casada por 14 anos (até 2010), com o traficante Saulo de Sá Silva, mais conhecido como Barão do Pó, da favela da Rocinha, no Rio. Com o marido preso, ela mesma comandou os negócios ilícitos, sem nunca ter sido pega. Essa história foi publicada no blog pessoal de Fabiana e no livro “Perigosa”, lançado em 2013. Umas das polêmicas que surge em torno desse relato é a seguinte: é ou não apologia ao crime retratá-la como está sendo feito? Difícil uma resposta! No entanto, merece uma reflexão a glamorização e a romantização dessa nada fácil história. E você, o que acha disso? Aguardemos os próximos capítulos para vermos qual será o futuro de Bibi, a perigosa! *Felipe Marcelino é coordenador da distribuição do Brasil de Fato MG.
Brasil de Fato PE
VARIEDADES l15 15
Recife, 22 a 28 de setembro de 2017
Cocorote
Ingredientes 1 2 1 3 3 2
Quilo de farinha de trigo Cocos Ovo de capoeira Colheres de sopa de manteiga Xícaras de chá de açúcar Colheres de sopa de maisena
Na educação dos filhos, usar palmadinhas e castigo parece inevitável. Isso pode causar algum mal para a criança? Luiza Vitória, 33 anos, nutricionista.
ara Luiza, nós vivemos numa sociedade que se acostumou a baC ter nos filhos como forma de educação, naturalizando a agressão. A violência física e também a psicológica (gritos, ameaças, casti-
MODO DE PREPARO: Misture todos os ingredientes.
go) estão presentes no dia a dia da maioria das famílias. Não é mera coincidência que crianças violentadas se tornem adultos violentos ou adultos que aceitem um lar violento mais tarde. É um grande desafio aprendermos a disciplina positiva, educar sem violentar, respeitar a criança acima de tudo. Para isso, é preciso entender as fases do desenvolvimento da criança e os motivos que a levam a fazer birras, testar seus limites, desobedecer. Acima de tudo, é necessário que os pais e cuidadores tenham paciência para compreender que educar é acima de tudo orientar com amor e persistência.
Unte uma forma com manteiga e farinha. Modele os bolinhos com auxílio de duas colheres. Assar em forno médio até dourar.
Receita de:� Arlinda Freitas Silva Lagoa Seca
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Cartilha cartilha editada pela AS-PTA - Receitas da Vovó, do grupo de mulheres agricultoras do Polo da Borborema
Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Sofia Barboa | Aqui você podeperguntar o que quiser para nossa Amiga da Saúde Coren MG 159621-ENF
ESPORTES | 15
Crossfit: grande intensidade exige cuidado ainda maior
EXERCÍCIO. Sem cuidados devidos, modalidade pode colocar em risco os joelhos, ombros e coração Crossfit/Dvulgação
realizado em equipe, criando um “time” onde as pessoas sofrem juntas, se ajudam e celebram juntas as conquistas. Uma praticante que aprova o formato é a fisioterapeuta Iviana Marinho, de 26 anos. “Faze-
o crossfit propõe exercícios funcionais em alta intensidade
Vinícius Sobreira
uando pensamos Q em perder a barriguinha ou ganhar mús-
culos, ou ainda em buscar um exercício por questões de saúde, dificilmente nos imaginamos escalando, pendurados em cordas ou levantando um pneu de trator – e ainda com pessoas “na torcida”, tentando
nos motivar. Pois esse tipo de treino tem ganhado milhares de adeptos mundo afora. Inclusive aqui em Pernambuco. Diferente do que costumamos ver na musculação, o crossfit propõe exercícios funcionais em alta intensidade e com grande variação, focados no desenvolvimento do condicionamento físico do praticante. E o treino é
Quem não está preparado e faz uma aula intensa corre risco cardiovascular mais alto mos muitos exercícios em grupo, trio ou dupla. Isso dá um dinamismo grande. Você ajuda no que você é
bom e aprende com o outro para corrigir suas falhas”, elogia. Iviana avalia que conseguiu melhorar sua forma física, a mobilidade, flexibilidade, a disposição e o desempenho durante o dia. Seus treinos são divididos em ginástica, exercícios de levantamento de peso e aeróbicos. Para ela, o sucesso da modalidade tem relação com o estímulo à superação individual. Ela pratica crossfit uma hora por dia, cinco dias na semana. Mas a modalidade também cobra uma atenção especial com a saúde do praticante. É o que alerta a cardiologista Tereza Lins. “Pela alta intensidade, o praticante precisa estar muito preparado. Quem não está preparado e faz uma aula in-
tensa corre risco cardiovascular mais alto”, informa. A médica afirma que o primeiro passo antes de aderir ao crossfit é realizar uma avaliação médica para conhecer a saúde de seu coração. Em seguida, o aluno deve fazer o teste ergométrico para saber que nível de exercícios ele pode atingir. O alerta é reforçado pelo profissional de educação física André Souza, assessor técnico de fiscalização do Conselho Regional de Educação Física em Pernambuco. “Antes de iniciar a prática, o aluno precisa passar por avaliação física e realização de uma anamnese, um histórico clínico do praticante. São etapas fundamentais para avaliar se há alguma predisposição a lesões”, diz Souza.
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Brasil de Fato PE
Recife, 15 a 21 de setembro de 2017
NA GERAL Bárbara Oliveira
ANS_RegiGalvão
GOL
DE PLACA
A Geral resiste
Mariners_DoulosMidia
FedPernambucanaBasketball
Mata-mata na Copa Pernambuco de Basquete
Futebol americano em Olinda
este sábado (23.09) têm N N início os play-offs da Copa Pernambuco de Basquete. Os jogos acontecem no Colégio Salesiano, no bairro da Boa Vista, Recife. Às 8h30 o time Diário (1º lugar na fase liga) enfrenta os ex-alunos do Colégio Mazzarello (6º). Às 10h15 haverá Santa Emília (2º) x Aurora (5º), composto pelos amigos que jogam na quadra da Rua da Aurora. E às 12h tem Fitcamp (3º) x BFA (4º). As equipes se enfrentam três vezes, sendo os próximos confrontos nos dias 7 e 14 de outubro. A entrada é gratuita e os jogos são transmitidos pelo Facebook da Federação Pernambucana de Basketball.
este sábado (23.09), pela Liga Nacional (o equivalente à 2ª divisão do esporte no Brasil), o Olinda Sharks tem jogo duro contra o Natal Scorpions, atual líder invicto no Grupo 2 do Nordeste. Os Sharks estão em 3º lugar, com uma vitória e uma derrota, e têm mais dois jogos para ficar pelo menos em 2º e passar à fase mata-mata do torneio. O jogo entre Sharks e Scorpions tem início às 14h, no estádio municipal Grito da República, no bairro de Rio Doce. Os ingressos antecipados podem ser comprados com jogadores do Sharks por R$ 10. Na bilheteria, na hora do jogo, custa R$ 15.
RELACIONAMENTO DESGASTADO Filipe Spenser
filipespenser@gmail.com
Surf profissional em Maracaípe
C
omeça nesta sextafeira (22.09) e segue até o domingo (24.09) o Marands Surf Festival, na praia de Maracaípe, no Ipojuca, litoral sul do estado. A competição deste fim de semana é a ANS Pro Tour, voltada para surfistas profissionais, mas com competições em categorias amadoras. O torneio é organizado pela Associação Nordestina de Surfe (ANS), valendo 500 pontos no ranking da ANS, além de 350 pontos no ranking do Circuito Brasileiro da Associação Brasileira de Surfistas Profissionais (Abrasp). As premiações deste fim de semana somam R$ 5 mil
presidente do Inter O -RS anunciou que em 2018 a Arena Beira
-Rio, que sediou jogos da Copa do Mundo, vai arrancar 7 mil cadeiras de parte do estádio, voltando às arquibancadas de cimento. A medida atende a pedidos de parte da torcida colorada, que quer voltar a assistir aos jogos em pé, pulando e cantando. Entre as arenas brasileiras, apenas a do Grêmio preservou a “geral”. Mas na Europa, alguns clubes contrariam o “padrão FIFA” e proporcionam belos espetáculos, como a torcida do Borussia Dortmund (foto). Valorizar a nossa cultura de torcer é uma boa resposta aos que tentam nos impor o futebol “padrão FIFA”, com estádios gourmet, ingressos caros e torcidas monótonas.
GOL
contra
STF derruba o Profut
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) AlexanO dre de Moraes, indicado por Temer, derrubou exigências do Profut (Lei de 2015 que ajuda clubes de fute-
bol a parcelarem e pagarem os R$ 5 bilhões que devem aos cofres públicos). Pela lei, os clubes que aderirem ao Profut e não pagarem as dívidas fiscais e trabalhistas serão rebaixados. Mas agora esse risco não existe mais. A decisão do STF agrada clubes irresponsáveis e federações, enquanto pune os cofres públicos e os trabalhadores dos clubes – jogadores ou funcionários. A ação contra o Profut foi movida pelo PHS e liderada por Rogério Caboclo, nº 2 da CBF e candidato a presidente da instituição.
SAINDO DA UTI NA SÉRIE B Stella Nascimento ssnascimento_24@hotmail.com
AINDA ESTRANHO Daniel Lamir
daniel.lamir@brasildefato.com.br
alar mal da Arena Pernambuco – sobretuepois da vitória importante diante o Goiás, sensação é de que o Sport solicitou, pediu, F do, da mobilidade – é chover no molhado. Dpor 3x0, o nosso Santinha conseguiu dar Aordenou, implorou... mas não foi atendido. Não só todo torcedor do Náutico, como qual- uma respirada na tabela, mas precisa continuar A Ponte deixou o Sport avançar na Sul-ameriquer cidadão tem a plena consciência do desastre que foi a construção do estádio. Nesse contexto, as dificuldades do Náutico e da Arena acabam se potencializando e um prejudica o outro: de um lado, a Arena afasta a torcida e prejudica o clube; de outro, o fraco desempenho em campo não proporciona grandes públicos nos jogos. Resultado do desgaste foi a postura inflexível da Arena quanto aos jogos de outubro e a postura do Náutico de antecipar a ida para Caruaru já para o jogo contra o Internacional. Birra. Tal qual as relações amorosas, talvez esse tempo seja decisivo: irá antecipar ou adiar um término já anunciado, pois o lugar de alvirrubro é nos Aflitos. Voltaremos!
se recuperando. Acesso é uma utopia, todos sabemos. Matematicamente é quase impossível. Mas também não precisamos nos aventurar beirando o precipício do Z4 e da Série C, não é? O confronto agora é contra o Londrina, adversário difícil do meio da tabela. Com agora 34 jogadores inscritos, Marcelo Martelotte ganhou, no apagar das luzes, reforços já conhecidos do torcedor. O volante Bileu e o meia Natan (aquele mesmo, o menino de vidro) já estão à disposição do treinador coral. Sobre Natan: ótima peça quando não está machucado. Vamos esperar que agora, mais maduro e com mais massa muscular do que na sua última passagem, ele passe mais tempo em campo do que no DM.
cana. O sufoco desnecessário para conquistar a vaga nas quartas-de-final prova que o time permanece bagunçado e confuso. Não chegou a ser apático, mas ainda exala um pouco de “inhaca”. O Leão patinou demais em Campinas. Mais uma vez se classificou deixando uma conta bem pesada para Magrão, que pagou tudo com seus milagres. O sobrenatural também está assombrando a esperança de G6 no Brasileirão. É estranha essa variação de humor e apetite. O jejum na Série A só aumenta. Poucas rodadas atrás, o time fungava no cangote do G4. Agora, sente o fungado do Z4. Ainda há tempo para reação e redução de danos. A questão é: será que o sobrenatural topa virar a casaca?