PERNAMBUCO | Pág.08 e 09 Precisamos fala sobre Cultura do Estupro Em 2016 o Brasil registrou 3.526
Recife, 17 a 23 de novembro de 2017
Lirinha Cantor falou sobre sua aproximação com o MST e a importância da arte em tempos de golpe. Lirinha é natural de Arcoverde, no Sertão de Pernambuco
casos de estupros coletivos, o que significa 10 casos desse
Pernambuco
ENTREVISTA | 11
ano 2
edição 42
distribuição gratuita
Levante RN
Ambulantes alegam perseguição da Prefeitura OPINIÃO | 02 Um projeto popular para o Brasil O editorial aponta que trabalhar pela unidade é tarefa da esquerda
CULTURA | pág.13 Lutadora do Povo Conheça Zilda Xavier e sua luta contra a Ditadura Militar
PH Remoux
Variedades | 14 Escondidinho de Macaxeira com folhas Receita que aproveita integralmente os alimentos
2 | OPINIÃO
Brasil de Fato PE
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EDITORIAL
Um Projeto Popular para o Brasil
ORGANIZAÇÃO. Trabalhar pela unidade contra os inimigos do povo é a primeira tarefa fundamental
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osso país vive uma crise de destino que se estende desde o período da redemocratização. Trata-se do embate decisivo entre a nação e a não-nação, entre um país soberano que entrega seu destino nas mãos de seu povo e um país para um pequeno punhado de ricos asso-
nante que não se identifica com seu povo nem com sua nação. Povo, aliás, na linguagem dominada pela submissão, adquire ares pejorativos: “aquele povo”, o “povão”, etc. Isso diz muito do significado do povo brasileiro que se constrói pela identidade dos de baixo, da
Trata-se do embate decisivo entre a nação e a não-nação ciados ao estrangeiro. Eis a polarização decisiva dos dias atuais, um confronto entre dois países antagônicos que já não podem coexistir. O Brasil que aí está nasce da ganância acumulada pela classe dominante. Ela aprendeu desde cedo o quanto é vantajoso associar-se aos donos do dinheiro no mundo. Uma classe domi-
cultura feita pela resistência da classe trabalhadora desde as senzalas às favelas de hoje. Se trata de transformar a capacidade inventiva, o gingado, o punho levantado, a capacidade de nosso povo quebrar correntes, em projeto de poder. Para sobreviver à miséria gerada pelo capitalismo selvagem praticado no Brasil, nosso povo
têm de se reinventar todos os dias. A capacidade inventiva, a diversidade cultural e étnica, a resistência e a criatividade do povo brasileiro são a matéria mais perigosa de nossa rebeldia. Construir a entrada desse povo na história, a capacidade de quem vive e constrói esse país assumir o comando, segue sendo o principal desafio de quem quer mudar o Brasil. Para isso, a esquerda deve renovar pensamento e prática. Os últimos 13 anos que antecederam o golpe de Estado que levou Temer ao poder provam duas coisas: em primeiro lugar, que governos identificados com os mais pobres trazem possibilidades de sonhar futuros melhores. De outro lado, esses governos provaram também que, sem priorizar a organização popular como principal força de sustentação, não há como avançar nas mudanças. É necessário ter sempre no horizonte o objetivo central de colocar o conjunto do poder nas
Expediente Brasil de Fato PE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país, com edições regionais em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Pernambuco. O Brasil de Fato PE circula quinzenalmente às sextas feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
REDE SOCIAL: facebook.com/brasildefatopernambuco Correio: brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br
Edição: Monyse Ravenna (DRT/CE 1032) | Redação: Catarina de Angola, Daniel Lamir, Elen Carvalho e Vinícius Sobreira Colaboração: André Barreto, Daniel Lamir, Filipe Spencer, Francisco Marcelo, Halina Cavalcanti, Stella Nascimento, Roberto Efrem Filho, Alan Tygel Revisão: Mariana Reis|Distribuição e Administração:Iyalê Tahyrine|Diagramação: Diva Braga Conselho editorial: Alexandre Henrique Bezerra Pires, Ana Gusmão, André Barreto, Aristóteles Cardona Jr., Bruna Leite, Bruno Ribeiro, Camila Castro, Carlos Veras, Catarina de Angola, Doriel Saturnino de Barros, Eduardo Mara, Elisa Maria Lucena, Geraldo Soares, Glaucus José Bastos Lima, Henrique Gomes, Itamar Lages, Jaime Amorim, José Fernando de Melo, Laila Costa, Lívia Milena, Luiz Antonio da Silva Filho,Luiz Antonio Lourenzon, Marcela Vieira Freire, Marcelo Barros, Marcos Aurélio Monteiro, Margareth Albuquerque, Maria das Graças de Oliveira, Marluce Melo, Moisés Borges, Patrícia Horta Alves, Paulette Cavalcante, Paulo de Souza Bezerra, Paulo Mansan, Pedro Rafael Lapa, Roberto Efrem Filho, Rosa Sampaio, Sérgio Goiana, Suzineide Rodrigues, Valmir Assis| Tiragem: 20 mil Exemplares
mãos do povo brasileiro. Percebemos amargamente, com o golpe, que esse era o objetivo que nos faltou. Para os que empregam
do povo é a primeira tarefa fundamental. A partir disso, é preciso repisar o barro onde vivemos, saber ouvir e aprender com as trabalhadoras e traba-
A esquerda deve renovar pensamento e prática suas vidas para construir desde as precárias condições atuais a possibilidade futura da mudança, os tempos não serão fáceis. Superar o fosso criado entre a classe trabalhadora e as organizações populares e sindicais é a primeira e decisiva tarefa. Para isso é que é necessário revisar nossas práticas e concepções. Trabalhar pela unidade contra os inimigos
lhadores, com suas experiências, com sua memória, com sua resistência é um bom ponto de partida. Subordinar a disputa institucional ao crescimento da organização autônoma de nosso povo é outro ponto chave. Construir a força social organizada de nosso povo exige refundar a esquerda, e refundar a esquerda é passo necessário para refundar o Brasil.
Charge
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Arquivo Brasil de Fato
Frase da Seman a Nós temos a palavra e vamos usá-la em sua potência máxima para desconstruir mentiras construídas ao longo de séculos Paulina Chiziane, primeira mulher a publicar um romance em Moçambique no Festival Literário de Cachoeira (FLICA)
GERAL l 3
mandou
BEM
Fundaj/Divulgação
Pernambuco ganha Cinemateca ma parceria da TV Escola, U Fundação Joaquim Nabuco, Universidade Federal de Pernam-
Por que é importante celebrar o Dia da Consciência Negra?
buco e Ministério da Educação trarão para Pernambuco a primeira cinemateca pública do estado. O início do funcionamento, previsto para 2018, iniciará as atividades com coleta e catalogação de filmes em matriz digital
mandou
P
ara ressaltar toda a história do povo negro, da escravidão. Não deixar morrer, pois foi algo ruim, mas que não pode ser apagado e pouca gente se interessa em ir a fundo. É importante também para mostrar a força e a beleza, que somos mais do que estatísticas em presídios e favelas.
MAL
Divulgação
Anna França Martins, 20, estudante de jornalismo.
Gasolina mais cara de novo Petrobrás anunciou mais um A aumento no preço da gasolina, que ficou 2,10% mais cara
desde o início de novembro. A mudança na política de revisão de preços também mudou, o que pode acarretar em mudanças de preço diárias.
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Jornada de lutas contra a privatização da Chesf Severino Silva/CHESF
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governo ilegítimo de Temer já discuti a venda da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF). Hoje, a CHESF gera energia para 80% dos municípios de todo o nordeste, com exceção do Maranhão. Movimentos Populares como a Pastoral da Juventude Rural, Movimento dos Pequenos Agricultores e a Cáritas Brasileira vem se colocando contrários a venda da estatal. Na cidade de Petrolândia, Sertão de Pernambuco, as mobilizações acontecerão de 5 a 17 de dezembro. Segundo o Padre Luciano Tenório, da Arquidiocese de Floresta, a privatização não é apenas da empresa, mas das águas do Rio São Francisco. O Fórum em Defesa da Água e da Vida espera mobilizar cerca de 5 mil pessoas da região, mas também dos estados de Alagoas e Sergipe. A programação contará com a presença de João Pedro Stédile (MST) e do escritor Leonardo Boff.
ESPAÇO SINDICAL Você conhece o Sindicato dos Bancários de Pernambuco?
Brasil de Fato PE
FOPECOM denuncia violação de direitos o último dia 1º de setembro o jornal Aqui PE estampou N na capa uma foto de uma mulher no chão, sob a manchete “Flanelinha assassinada a pauladas no Recife Antigo”. A foto escolhida para a capa mostrava parte da genitália da vítima, identificada como Diana. A capa do jornal foi alvo de críticas e manifestações. Ainda no início de setembro as entidades da sociedade civil, reunidas no Fórum Pernambucano de Comunicação (Fopecom), entraram com denúncia junto ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que abriu investigação e realizou audiências para um acordo de reparação. As medidas cobradas pela sociedade civil estão sendo atendidas, uma delas foi a publicação, na capa, de uma retratação sobre sua edição do dia 1º de setembro. O “erramos” foi impresso no dia 28 de outubro.
Direitos de Fato Flexibilizando a jornada de trabalho: trabalhar mais, receber menos a coluna desta semana, falaremos sobre as novas regras criadas pela N Reforma Trabalhista, que já começaram a valer em 11 de novembro. Através delas será possível fazer o empregado trabalhar mais, prolongar
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Espaço Sindical do Brasil de Fato Pernambuco dessa semana começa uma série de apresentação dos Sindicatos do estado. Teremos uma semana com a apresentação de um Sindicato e na outra as já conhecidas Colunas Sindicais informando o que tem acontecido no mundo sindical pernambucano. Essa semana apresentamos o Sindicato dos Bancários de Pernambuco que surgiu em 1931, no Gabinete Português de Leitura, através de um pequeno grupo de amigos com o objetivo de veicular suas ideias nos principais jornais da época. Em pleno Estado Novo, o Sindicato teve participação ativa na luta pela regularização do salário mínimo e pela jornada de seis horas para os bancários. O Sindicato dos Bancários representa toda categoria de trabalhadores e aposentados de estabelecimentos de crédito tanto públicos, como privados. Possuindo uma presidência e 14 secretarias divididas de forma paritária o sindicato demonstra na sua essência o comprometimento com a luta das trabalhadoras, sendo hoje a presidenta da atual gestão a bancária Suzineide Rodrigues. Os bancários possuem sede em Recife na Av. Manoel Borba, número 564, Boa Vista, e seu telefone de contato é (81) 3316-4233.
a jornada de trabalho diária para além das 8 horas normais, porém sem pagar horas extras. Primeira mudança nesse sentido foi o fim das “horas in itinere”, o tempo de deslocamento casa - local de trabalho, em casos especiais na qual este era em local de difícil acesso – até então era contabilizada na jornada, como “tempo a disposição do empregador”. Segunda é sobre as regras do “banco de horas”: passa a ser possível a compensação em seis meses, se pactuado em acordo individual escrito, ou compensação em um mês, no caso de pactuação escrita ou tácita, antes, apenas era possível o banco de horas ser criado por meio de negociação coletiva com participação do sindicato, com duração de 1 ano. Terceira mudança é a criação da jornada de 12 horas de trabalho x 36 horas de descanso, podendo ser instituída por acordo individual empregado – empresa ou por negociação coletiva, não se exigindo mais a permissão prévia do Ministério do Trabalho no caso de trabalho em local insalubre. Outra alteração da CLT é quanto ao intervalo intrajornada de descanso e refeição: passa a ser possível a sua redução para 30 minutos. Clarissa Nunes é advogada em Recife
Para entrar em contato e tirar dúvidas mande um email para contato.pe@brasildefato.com.br ou um whattsapp para 8199060173
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Artigo
Artigo
O que você não sabe sobre o Novembro Azul Aristóteles Cardona Júnior*
á passamos da metade do J mês de novembro, mas desde o início dele, não é difícil encontrar na mídia propagandas sobre o chamado Novembro Azul. E a esta altura do campeonato,
Mas seria este esforço importante de verdade para a saúde do homem? você certamente já deve ter escutado sobre esta ação. Trata-se, enfim, de uma campanha que diz estimular a saúde do homem e tem como principal marca o incentivo à realização de exames da próstata, mesmo que o homem não tenha nenhum sintoma. Mas seria este esforço importante de verdade para a saúde do homem? A verdade é que, apesar do bombardeio de informações nos mandando realizar exames da próstata anualmente, não existe nenhuma recomendação de que isso nos faça bem. Mais do que isso, orientações baseadas em evidências científicas mais recentes já afirmam que não devemos realizar exames da próstata, de rotina e sem sintoma algum. A principal entidade norte-americana de pesquisa em prevenção de saúde já contraindica a realização deste
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exame para homens saudáveis e sem sintomas. Ressalto que estas recomendações acima estão relacionadas a homens sem sintomas, independentemente da idade. Na presença de sintomas, como a diminuição do jato urinário e o aumento da frequência urinária, deve ser buscada orientação profissional. Nestes casos, deverão ser considerados riscos e benefícios, para daí, então, discutir ou não a realização de exames. Isso tudo não significa uma despreocupação com a saúde dos homens. Muito pelo contrário! Precisamos, enquanto sociedade, buscar saúde para todas e todos nós e isso necessariamente significa que devemos quebrar tabus e barreiras que impedem os homens de buscarem cuidar de sua própria saúde. E para tal, um bom começo é lutar contra uma cultura machista que, por exemplo, não estimula o cuidado com os outros e nem a si mesmo. As principais causas de mortalidade do homem estão relacionadas às chamadas causas externas, como as provocadas por acidentes automobilísticos e homicídios, e às doenças cardiovasculares. Nesta linha, um cuidado fundamental é com doenças como a Hipertensão e Diabetes, que levam a complicações que matam dezenas de milhares de homens em nosso país todos os anos. O cuidado com a saúde do homem não deve se resumir a apenas determinado período do ano. Prevenir não é apenas criar hábito de realizar exames.. Prevenir de verdade é cuidar de si e estar atento aos seus próprios sintomas e buscar profissionais sempre que preciso. *Aristóteles Cardona Júnior é Médico de Família no Sertão pernambucano, professor da Univasf e militante da Frente Brasil Popular de Pernambuco.
O Escárnio dos golpistas
João Pedro Stédile* Sidney Mamede*
odos conhecemos a articulaT ção que se formou com forças do poder judiciário do Ministé-
rio Público do empresariado oportunista que queria apenas salvar suas empresas da crise econômica, que atinge a todos. A ampla maioria dos congressistas, que já haviam sido financiados regiamente pelos empresários ávidos por seguir se apropriando de recursos públicos e manutenção de mordomias escandalosas. Tudo isso, manipulado diuturnamente pela Rede Globo. Aquela mesma que havia recebido bilhões em publicidade dos governos Lula-Dilma! Deram um golpe ilegítimo. Destituíram a presidenta Dilma, sem nenhum crime cometido, ainda que tenham seguido um rito novelesco. Sabíamos que a burguesia subordinada aos interesses do capital estrangeiro e de empresas e interesses dos Estados Unidos, precisava ter o controle absoluto dos poderes no Brasil, para aumentarem a exploração da mão-de-obra, dos recursos naturais abundantes e assim saírem sozinhos da crise mais rápido e jogando todo peso sobre a classe trabalhadora. Na economia cumpre-se o verdadeiro objetivo do golpe: estão entregando o Pré-sal, a Petrobras, as terras, os minérios e os setores mais lucrativos do país. Querem ainda entregar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, os Correios, a Eletrobrás, instalar a previdência privada e privatizar serviços de educação e saúde.. Na agricultura, todo dia há notícias de desnacionalização, de concentração e controle absoluto do
capital estrangeiro sobre nossos bens e commodities. Cerca de 70% de toda renda agrícola já é controlada por empresas transnacionais que lucram com o fornecimento de todos insumos: sementes, fertilizantes, agrotóxicos, maquinas, drones, programas de informática e controlam o mercado mundial das commodities. A ignorância da burguesia agrária, oportunista e
Tudo isso, manipulado diuturnamente pela Rede Globo não vinculada à agricultura, os deixa cegos diante de tamanha exploração, aonde no fundo, eles também perdem. As massas desanimadas, assistem a tudo, quietas, porem indignadas. Quando se levantarão? ninguém sabe. Se vingarão apenas nas eleições de 2018, recolocando Lula no Planalto? também ninguém sabe. O certo é que algum dia o povo brasileiro terá que julgar toda essa corja de golpistas, presentes nos bancos, no empresariado, no STF, no Ministério Público e na imprensa burguesa brasileira. Espero, como diz o ditado, que a “A justiça (do povo) tarde, mas não falhe!” *Da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) *Artigo escrito para a última edição da Revista Caros Amigos em novembro de 2017, que deixará de circular, estrangulada pelo poder economico e pelos golpistas! Escrevia na revista mensalmente, desde 1997, de forma solidaria. Espero que possa ressurgir no futuro com mais força.
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MPF questiona constitucionalidade de foro especial para crime de militar contra civil
DIREITOS HUMANOS. Lei que transfere julgamentos para Justiça Militar foi sancionada pelo presidente golpista Michel Temer Agência Brasil
Parlamentar que propôs projeto é contrário a resultado final sancionado pela Presidência
Rafael Tatemoto,
de Brasília
Procuradoria FedeA ral dos Direitos do Cidadão (PFDC) questio-
nou a constitucionalidade da lei que modifica a competência para julgamentos de crimes dolosos cometidos por militares das Forças Armadas contra civis durante operações de apoio à segurança pública. O órgão, que é um instância interna do Ministério Público Federal (MPF), se manifestou por meio de um pedido de ação de in-
constitucionalidade enca- licial e Sistema Prisional do minhado à Procuradoria- Ministério Público.
Tem se buscado soluções que, na verdade, não são soluções Geral da República (PGR), instância máxima da instituição. Também assinam o documento, a Câmara Criminal e a Câmara de Controle Externo da Atividade Po-
A lei que modifica os julgamentos foi sancionada pelo presidente golpista Michel Temer (PMDB). Na prática, ela transfere os julgamentos do tribunal do júri para a Justiça Militar.
Originalmente, o projeto aprovado estabelecia mudança temporária de foro, somente para o período da realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas. A ressalva foi vetada pela Presidência. O pedido dos órgãos do Ministério Público aponta que a lei fere o princípio da isonomia, já que os militares federais serão julgados por seus pares, e não no tribunal do júri, como é o caso dos integrantes das forças policias estaduais. Além disso, a Procuradoria do Cidadão afirma que a alteração fere tratados internacionais assinados pelo país. O deputado federal Esperidião Amin (PP-SC) é autor do projeto de lei original. Em entrevista ao Brasil de Fato, por email, ele afirmou que “o ingresso com ação direta de inconstitucionalidade é o caminho correto”, já que a proposta “tinha como foco as Olimpíadas e as ParaOlimpíadas, com prazo até o fim de 2016”. Gabriel Santos Elias, assessor do Núcleo de Atuação Política do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) concorda que a alteração é inconstitucional. Para ele, o
próprio uso das Forças Armadas na segurança pública deve ser combatido. “A tendência é que isso enfraqueça o poder das Forças Armadas e aumente a sensação de insegurança, porque é uma atuação unicamente baseada na violência. Com a crise econômica, aumento do desemprego, diminuição de recursos em assistência social há sim um aumento da sensação de insegurança nas cidades. Tem se buscado soluções que, na verdade, não são soluções”, disse. Para Elias, há solução dos problemas de segurança pública, mas elas exigem a atuação em diversas frentes para além do policiamento em si. “A ideia que nós defendemos é o reforço das políticas de seguridade social e de direitos aos cidadãos de forma ampla e, além disso, uma força de policiamento que seja comunitária, que não seja baseada somente no combate violento às organizações criminosas, mas também na presença do Estado”, pontuou. A Procuradoria-Geral da República afirmou que ainda analisa a questão. A Presidência da República não retornou o contato da reportagem.
Se o BANCO DO NORDESTE for privatizado, o crédito para o pequeno e o médio empresários ficará mais caro
DIGA NÃO À PRIVATIZAÇÃO
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Para entender a China, o país que pretende ser a nova liderança global
ANÁLISES. Entre continuidade e ruptura, chineses falam de uma “nova era” no 19º Congresso do Partido Comunista Chinês WikimediaCommons
Xi Jiping, reeleito como presidente na condução da política chinesa Rafael Tatemoto, de Brasília evento que é visO to como central da vida política da China, o
Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, em sua 19º edição, foi realizado entre os dias 18 e 24 de outubro com mais de dois mil delegados. Tido como o maior partido do mundo, com 89 milhões de membros, as linhas definidas por esta organização despertam interesse e dúvidas em todo o mundo. No Ocidente, boa parte dos noticiários se focaram na informação de que um milhão de corruptos já foram punidos desde 2012, ano em que o presidente Xi Jinping – agora reeleito para um novo mandato de cinco anos – assumiu o cargo. Muito além desse fenômeno, agora o Partido Comunista Chinês fala em uma “nova era comunista”.
Para debater e entender o tema, o Brasil de Fato entrevistou especialistas sobre a história de formação deste partido e o impacto das resoluções de seu último congresso. Entre os caminhos para consolidação da economia chinesa, uma das novidades trazidas no atual congresso foi a chamada “Nova Rota da Seda”, que se apresenta como um ambicioso plano de construção de infraestrutura para ligar a China a mais de 60 países. No longo prazo, a China passou a se reconhecer como uma potência e uma liderança global, posição que tinha relutância em assumir, por meio da integração internacional financeira, econômica e de infraestrutura, sob os parâmetros de “paz e desenvolvimento”, “sem uso da força”. “É uma espécie de
tor do site Resistência. O especialista também lembra que as decisões políticas no país são de extrema relevância, dado o peso da China no cenário internacional. “O Congresso do Partido Comunista Chinês foi um grande acontecimento político, não só para a China e para os comunistas, mas também em escala mundial, pela projeção que hoje a China tem”, diz. Novidades O 19º Congresso ratificou Xi Jiping como condutor do socialismo chinês. Não só com sua reeleição, mas também no plano ideológico. Seu nome e sua visão
Eles dizem que vão promover um futuro de progresso compartilhado por toda a humanidade grande globalização sob liderança da China. Eles dizem que vão promover um futuro de progresso compartilhado por toda a humanidade. É uma explicitação mais concreta em uma etapa que finalmente passaram a admitir, da China que se prepara para ser líder. Até recentemente, eles diziam ‘não somos potência, somos um país em desenvolvimento’”, analisa José Reinaldo Carvalho, pós-graduado em Relações Internacionais, secretário da mesma área do PCdoB e edi-
política foram inscritos no Estatuto do Partido. Os pensamentos de seus antecessores também foram consagrados, apenas os nomes de Mao e Xiaoping também foram mencionados, no caso do último, após sua morte. “Desde Mao, é a primeira vez que incluem o autor e a teoria de uma pessoa em vida”, resume Ferreira, que afirma que, no plano simbólico, a medida consagra “o retorno ao alinhamento ideológico, que a longo prazo, é o que conse-
gue manter o partido no poder”. “Se comparar com o 18º Congresso, o 19º é uma continuidade. É uma ruptura com o descaminho gerado pelo processo de abertura econômica, que foi criando disparidades sociais. É uma correção a esse desvio, mas é uma continuidade do primeiro mandato”, complementa. “Isso é uma novidade, no simbolismo da China, quando uma teoria é elevada ao grau de pensamento guia, isso significa a consolidação dessa corrente política”, explica José Reinaldo Carvalho, que afirma que as resoluções do Congresso também surtiram grande impacto ao definirem de forma clara datas para duas metas comemorando os dois centenários, aponta o especialista. “O primeiro, o centenário do Partido, em 2021, daqui a quatro anos: a meta é acabar com a pobreza absoluta na China. Em uma população de 1,3 bilhão de habitantes, eles já reduziram a pobreza a 40 milhões na China. O que eles chamam de construir uma sociedade modestamente próspera”, indica. “Eles preveem que a etapa primária se encerrará no centenário da revolução, ou seja, em 2049, quando eles dizem que vão concretizar o sonho chinês de ter uma sociedade socialista próspera, culta, civilizada, desenvolvida e com Estado Democrático de Direito – eles reconhecem que ainda há problemas nesse terreno”, afirma José Reinaldo.
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Precisamos falar sobr VIOLÊNCIA. O Brasil registrou 3.526 Emanuela Castro/ Acervo da Casa da Mulher do Nordest
Por Bruna Suianne e Emanuela Castro, comunicadoras da Casa da Mulher do Nordeste
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úmeros divulgados em agosto deste ano pelo Ministério da Saúde apontaram dados chocantes sobre estupros coletivos no Brasil. Segundo pesquisas, no ano passado o país registrou 3.526 casos de estupros coletivos, o que em média significa dez casos desse tipo de abuso por dia. Esses números reacenderam a discussão sobre a temática da cultura do estupro, termo bastante debatido no país atualmente e que se refere aos valores e ideias produzidos e reproduzidos pela sociedade que banalizam ou naturalizam práticas de violação do corpo das mulheres. Segundo a socióloga francesa Colette Guillaumin, a coação se-
Encontrão do FMPE em Caruaru, em agosto de 2016
Precisamos construir redes de fortalecimento e de cuidado, como são os coletivos e movimentos de mulheres xual é uma prática utilizada para oprimir as mulheres, ameaçá-las, demonstrar sua subjugação nas relações privadas e também públicas. “No espaço privado, nos referimos à norma própria da cultura patriarcal, ainda muito sedimentada na sociedade brasileira, de obrigação do sexo no casamento, o que leva a que
n S
muitos casos de estupro ocorram no casamento. Entretanto, gostaria de ressaltar que o estupro não é uma questão apenas cultural, mas uma prática de opressão e dominação material sobre as mulheres; histórica, praticada pelos homens como forma de apropriação do corpo feminino”, explica Verônica Ferreira, pesquisadora e educadora
do SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia e militante feminista do Fórum de Mulheres de Pernambuco (FMPE). O Código Penal brasileiro tipifica o estupro no Art. 213 com o título dos crimes contra a dignidade sexual. A conduta prevista na referida lei estabelece que o estupro ocorre quando a pessoa é constrangida, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. Pelas características em que o crime é praticado, o Superior Tribunal de Justiça entende que esse tipo de crime é considerado hediondo, uma vez que é visto como um
dos crimes mais violentos e repugnantes à dignidade humana. Segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco, 21.256 estupros foram registrados no estado entre os anos de 2006 e 2016. Para a delegada Ana Elisa Sobreira, titular da Delegacia Especializada da Mulher do bairro de Santo Amaro, no Recife, o papel da delegacia da mulher nos casos de estupro é fundamental para ajudar na conscientização feminina sobre a necessidade de denunciar os crimes sexuais. “Temos a missão de dar total apoio as mulheres vítimas de violência sexual, bem como de orientá-las através dos meios de comunicações, cada vez
mais denunciar esses casos para que o poder público possa responsabilizar os agressores. Ao chegar à delegacia é registrado um Boletim de Ocorrência e a mulher vítima de violência sexual será encaminhada ao IML (Instituto Médico Legal) para fazer exame de corpo de delito, bem como a um hospital para realizar exames e receber medicamentos antirretrovirais para impedir a contaminação pelo vírus da AIDS, por exemplo, e a pílula do dia seguinte”, ressalta. Desde 2011, os dados sobre violências sexuais se tornaram de notificação obrigatória pelos serviços de saúde e são estruturados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Si-
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re a cultura do estupro casos de estupros coletivos em 2016
nan) do Ministério da Saúde. O machismo também aparece como um dos grandes causadores desse tipo de agressão, uma vez que a sociedade não educa homens e mulheres como iguais e toda essa desigualdade criada contribui para que a mulher seja vista numa posição de inferioridade. Essa cultura do machismo, semeada muitas vezes de forma velada, coloca a mulher como instrumento de desejo e de propriedade do homem, o que termina legitimando e alimentando diversos tipos de violência, entre os quais o estupro. A delegada também faz um alerta sobre as práticas que por vezes são vistas como inofensivas por muitos homens, como as cantadas, por exemplo, mas que podem legitimar outras violências, como
va conquistar a mulher, sendo que como muitos deles não foram educados para respeitar a figura feminina diante de uma resposta negativa, ele pode evoluir de uma simples cantada para uma violência propriamente dita, uma vez que, muitos veem a mulher como objeto e não como pessoa. O que revela um grande problema na construção social desse indivíduo” salienta. Para Cecília Nascimento, integrante do Coletivo da Marcha das Vadias Recife, há uma naturalização e respaldo social para que as mulheres sejam violentadas. “A partir da lógica da cultura do estupro, os homens são ensinados de que os corpos das mulheres lhes pertencem não é à toa o ditado que diz: ‘prenda suas cabritas que meu bode está solto’, ou seja, quem tem que se proteger são as mulheres, enquanto que os hoPara combater a mens não são ensinaprática de estupro, dos a respeiprecisamos tar. Não pode sair de casa transformar as com roupa relações sociais curta, não pode ficar de dominação e na rua até exploração dos tarde, tudo para que a homens gente evite sobre as mulheres ser violentada. Há uma série de violências que estupro e até mesmo a gente sofre em decoro feminicídio. “A prio- rência da cultura do esri, o homem busca de tupro, como o assédio e maneira menos invasi- outras violências coti-
Emanuela Castro/ Acervo da Casa da Mulher do Nordest
Encontrão do FMPE em Caruaru, em agosto de 2016
dianas”, justifica. Recife é conhecida pela forte presença de movimentos de mulheres, e novos coletivos surgem a cada ano no enfrentamento ao machismo e a desigualdade de gênero. Um desses grupos é a Marcha das Vadias, que surgiu em 2011, e desde então o combate a cultura do estupro e violência sexual é uma das bandeiras do coletivo. Cecília acredita que as mulheres precisam criar estratégias coletivas, encontrar saídas para enfrentar o medo. “A gente é ensinada a não confiar em outra mulher, por causa da cultura patriarcal, isso acaba gerando um isolamento. Precisamos construir redes de fortalecimento e de cuidado, como são os coletivos e movimentos de mulheres”, conta. A luta pelo fim desse tipo de violência exis-
te, mas é necessário que haja uma conscientização para o fato de que a sociedade ainda sexualiza a mulher através de diversos meios. “Uma sociedade em as mulheres são tratadas como objeto sexual, sobretudo as mulheres negras, nos meios de comunicação, nas músicas e até mesmo na literatura e na vida cotidiana, reforça e incentiva a prática do estupro contra as mulheres e a ideia de que o nosso corpo pode ser violado pelos homens”, pontua a pesquisadora e feminista, Verônica Ferreira. A educação de gênero é uma medida necessária para que a conscientização sobre a importância do respeito às mulheres seja propagada e disseminada pelas futuras gerações. O maior obstáculo para isso ainda é o crescimento do conservadorismo dentro da so-
ciedade que hoje avança no nosso país e, em particular, contra os setores fundamentalistas nos poderes legislativos que querem banir o debate sobre gênero dos currículos escolares. A educação é muito importante para enfrentar os valores patriarcais que são sedimentados desde muito cedo na sociedade dos meninos e meninas. Entretanto, não é condição suficiente. “Para combater a prática de estupro, precisamos transformar as relações sociais de dominação e exploração dos homens sobre as mulheres. Enquanto não a transformamos, é preciso uma série de ações no plano do Estado, da sociedade, dos movimentos sociais, para denunciar e enfrentar esta violência contra nós mulheres”, reforça Verônica.
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Recife, 17 a 23 de novembro de 2017
Trabalhadores informais do Marco Zero afirmam sofrer perseguição do poder público TRABALHO. Sindicalista e advogada popular veem processo de criminalização dos ambulantes por parte da Prefeitura do Recife PH Reinaux sentantes do poder público. “[Os ficais] tomaram as mercadorias da gente, disseram que não pode trabalhar aqui porque é um ponto turístico”, conta. Para recuperar seu carrinho e produtos, Edna conta que é preciso pagar R$280, quantia alta para seu padrão de vida: “Moro com meus filhos, pago aluguel, água, energia... tudo sozinha”, explica. Representantes dos Ambulantes O Marco Zero é ponto tradicional do comércio dos ambulantes
Marcos Barbosa ntre a entrega de E uma garrafa d’água e uma passagem de troco,
é preciso se manter alerta. Trabalhadores do comércio informal do Marco Zero do Recife relataram que sofrem constante perseguição por parte dos representantes da Prefeitura Municipal do Recife (PCR), que ameaçam os comerciantes e confiscam seus materiais de trabalho. No entanto, apesar dos riscos, a necessidade de conseguir fechar as contas no fim do mês, em meio à onda de
como é popularmente conhecido, o Marco Zero é um dos principais cartões -postais da cidade. Desde 2013, a gestão do prefeito Geraldo Júlio (PSB) tem realizado na região investimento tecnológico, como o Porto Digital, e turístico, a partir de projetos como o Recife Antigo de Coração. Em decorrência disso, foram desenvolvidas obras como os Armazéns do Porto, espécie de praça de alimentação voltada aos turistas, que conta com franquias de redes de fast food e restaurantes de luxo. Por outro lado, a Prefei-
Moro com meus filhos, pago aluguel, água, energia... tudo sozinha crise e desemprego, parece fazer com que os chamados “camelôs” ou “ambulantes” insistam nessa forma de trabalho. Localizado no bairro do Recife, ou “Recife Antigo”,
tura tem proibido o trabalho dos tradicionais ambulantes, que comercializam mercadorias muitas vezes idênticas às das lojas, mas a preços mais acessíveis para a população. De acor-
do com a ambulante Ana Lucia, os fiscais responsáveis pelo controle urbano costumam ser agressivos em suas abordagens dos comerciantes informais. Já na faixa dos 50 anos, Ana trabalha há cinco ven-
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Comercio Informal (Sintraci) Edvaldo Gomes, o poder público realiza um processo de criminalização do comércio informal e não se preocupa em organizar os
PH Reinaux
dendo água e refrigerante no Marco Zero. Mãe de família e moradora de um bairro de periferia da região noroeste da cidade, sai de casa pela manhã bem cedo carregando suas mercadorias no transporte público. Costuma ficar no Recife Antigo até o fim da tarde ou início da noite. Aos domingos, quando tem evento e turista circulando na cidade, fica até bem mais tarde, “dependendo do movimento”. Edna Maria, também comerciante no Marco Zero, já teve suas mercadorias confiscadas pelos repre-
acompanha alguns trabalhadores informais de determinados pontos do Recife, o Marco Zero tem se tornado um espaço elitizado, daí a tentativa de barrar as formas comércio informal, que não se enquadra nessa ideia de cidade com área turística e portuária que vem sendo produzida. A advogada reforçou, ainda, que existem casos de violência, ameaça e perseguição aos trabalhadores, além de se criar uma dificuldade para renovar licenças para que alguns ambulantes trabalhem. “A gente tem visto a prefeitura praticas uma ação higienista, de limpeza do espaço urbano, do trabalhador informal tão histórico na cidade do Recife. Principalmente nas áreas de grande circula-
PH Reinaux
trabalhadores, mesmo que já sejam mais de cinco mil pessoas nesse ramo só no centro do Recife. “São muitas as queixas [dos ambulantes], a maior delas relacionadas ao abuso de poder e repressão os trabalhadores”, fala. Além disso, Edvaldo falou que é comum o confisco de mercadorias, seguido da cobrança de valor abusivo ao trabalhador que deseja recuperá-la. De acordo com Luana Varejão, advogada do Centro Popular de Direitos Humanos, coletivo de assessoria jurídica popular que
ção, áreas turísticas onde se está fazendo grandes investimentos, como o Marco Zero. Não existe um esforço ou uma tentativa da prefeitura de reordenação do comércio informal”, afirma. O Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato por telefone e por e-mail com a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife. No entanto, até a publicação dessa matéria, não obtivemos resposta quanto aos questionamentos apresentados.
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ENTREVISTA l 11 ENTREVISTA l 11
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Lirinha: “A censura mostra sua força e o quanto está viva como ferramenta de dominação”
MÚSICA. Cantor falou sobre sua aproximação com o MST e a importância da arte em tempos de golpe Levante Popular da Juventude RN Marcos Barbosa
Brasil de Fato PerO nambuco entrevistou o artista pernambuca-
no José Paes de Lira Filho, o Lirinha, durante sua participação na I Feira de Produtos da Reforma Agrária do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Rio Grande do Norte, no mês de setembro. Lirinha é natural de Arcoverde, no Sertão de Pernambuco. Conhecido pela sua diversidade artística, é cantor, poeta, ator e compositor. Foi no grupo Cordel do Fogo Encantado que se tornou mais conhecido nacionalmente, mas desde criança expressa sua veia artística através da poesia. Em carreira solo desde 2010, o artista segue com sua arte, poesia e música aliada à militância política. Na conversa, ele falou sobre como se deu aproximação com o MST e seu encantamento ao conhecer as ações do movimento. Também sobre a importância da luta, principalmente nos dias atuais pós golpe. E da importância da arte para
O contato com a poesia dos violeiros e repentistas foi muito forte pra mim
gui mais ser algo sem esses elementos. Hoje me sinto mais. Adquiro uma consciência responsável de ser guardião de segredos surpreendentes. BdF - Quais os maiores desafios para os artistas nesse momento político que estamos vivendo?
o fortalecimento dessa luta, alertando para as censuras vividas nos últimos tempos contra artistas de diversas áreas. Brasil de Fato – Como se deu sua relação com o MST e como faz da música com militância? Lirinha - Quando conheci o MST foi na cidade que nasci, Arcoverde [PE]. Foi uma grande surpresa conhecer aquele espaço tão diferente das outras reuniões na minha cidade. O dia foi inesquecível! Fui levado por Lula Calixto, que dava aulas de samba de coco na escola do assentamento Pedra Vermelha, do MST, um assentamento muito antigo já fruto da histórica luta em Pernambuco pela reforma agrária. E ao chegar na sala de aula, todas as crianças estavam com mamulengo [bonecos] tendo aula de português. A
professora era incrível, ela que tinha convidado Lula Calixto para dar aula sobre samba de coco, sobre a história daquele lugar, porque as músicas do samba de coco de Arcoverde, o Raízes de Arcoverde, trazem esses elementos da formação daquela região. Me encantei, e por isso, nunca mais perdi o contato, a relação. Ela se intensificou de dois anos para cá, quando comecei a participar de encontros, de debates, palestras e feiras organizadas pelo MST. Me identifico, acredito que tudo que sonho de melhoras pro país que vivo passa pelas demandas e pelos sonhos do Movimento Sem Terra. BdF – De que forma sua relação com o cordel inspirou tua formação como artista? Lirinha - O contato com a poesia dos violeiros e repentistas foi muito forte pra mim. Foi determinante por-
que a minha família, meus avós, gostavam muito e rea-
Não devemos esquecer Gregório Bezerra ou de Graciliano Ramos lizavam encontros de cantoria. Então desde os nove anos já estava começando as primeiras apresentações. Não sei o que me levou a decorar as poesias, qual foi o incentivo exatamente, porque me diferenciei nesse momento dos meus amigos da mesma idade, mas isso aconteceu e eu não conse-
Lirinha - Um momento que exige conhecimento histórico nosso, e quando ele não está disponível precisamos descobrir e investigar, porque a censura ela não morre com o fim da ditadura militar. Ela se transforma, ganha outros elementos e agora ela mostra sua força e o quanto está viva como ferramenta de dominação. Não devemos esquecer Gregório Bezerra ou de Graciliano Ramos, por exemplo, que foi preso quase por dois anos sem ter sido apresentado prova alguma contra ele, fruto do conteúdo de formação artística. Então, somos descendentes dessas injustiças, estamos nos deparando com essas elas e acho que é se fortalecer para lutar. Saber que as coisas podem tomar rumos mais difíceis ainda, dessa censura ser mais estabelecida e até de uma forma aberta, por conta do apoio dos meios de comunicação a esse golpe que sofremos. Eu sinto que as grandes lideranças indígenas, as lideranças da luta pela reforma agrária nunca foram abandonadas pela censura. Talvez em nosso momento artístico é que temos pensado que ela não existisse, mas está aí. *Colaborou Catarina de Angola
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CULTURA | 12
AGENDA CULTURAL música
Sambada de Coco na Barreira
O
Coco Chinelo de Pau celebrará o Dia Nacional da Consciência negra no dia 18 de novembro com a Sambada Coco na Barreira. A programação contará com o Coco do Mestre Biu, Coco do Catucar, Afoxé Ogbom Oba e a Mestra Ana Lúcia. O evento é gratuito e acontecerá a partir das 18h no Centro Comunitário do Conjunto Residencial Passarinho Alto, na Rua Pica Pau, em Recife.
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Lutadora do Povo música
MIMO Festival
Exposição
Exposição no Ibura
linda recebe novamenExposição ‘Ibura no O te a etapa pernambucaA limiar dos tempos’ na do maior evento de múnarra a história de crescisica instrumental gratuito do Brasil, que também acontece em Portugal. O MIMO Festival acontece entre os dias 17 e 19 de novembro e contará com a apresentação do artista português Manel Cruz. O evento é gratuito e acontece nos principais pontos turísticos da cidade a partir das 15h. Programação completa no www.mimofestival.com
mento e evolução do bairro de Recife. Idealizada e construída pelos moradores, a exposição celebra os 50 anos da Vila da UR-2. A exposição gratuita está na Escola Estadual Padre Lebret, localizada no Ibura, e fica aberta ao público das 8h ás 12h até o dia 15 de Janeiro de 2018.
Zilda Xavier Z
ilda Paula Xavier Pereira nasceu no Recife em 22 de novembro de 1925. Aos 20 anos, muda-se para o Rio de Janeiro, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), e foi uma das principais dirigentes da Liga Feminina da Guanabara. Com o golpe de 1964, a Liga é considerada ilegal e Zilda rompe com o PCB em 1967. Zilda, seu ex-marido, João Batista, e os filhos Iuri, Alex e Iara construíram a Aliança Libertadora Nacional (ALN) desde o início. Na ALN o nome adotado por Zilda era Carmen. Além de planejar as ações de guerrilha, Zilda organizava toda a estrutura da ALN, como os aparelhos onde os militantes se escondiam, as finanças da organização. Foi uma das companheiras de Marighella e dois meses após a morte de Marighella, em novembro de 1969, Zilda é presa e torturada até a exaustão, mas não entrega nenhuma informação sobre a ALN ou Marighella, mesmo depois de morto. Zilda sentiu dores nos joelhos até o fim da vida, conseqüência da tortura no Pau de Arara. Ficou exilada fora do Brasil até 1969. Durante esse período, seus filhos Iuri e Alex foram mortos por agentes da ditadura. Zilda morreu em Brasília em 22 de novembro de 2015, no dia em que completou 90 anos.
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Variedades CULTURA l| 13 13
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Sementes que brotam Paixão
AGROECOLOGIA. Festa tradicional na Paraíba valoriza a preservação e multiplicação de sementes crioulas Eudes Costa
A festa das sementes acontece na Paraíba Daniel Lamir,
de Boqueirão (PB)
magine uma Festa com Iponesas. muitas histórias camDentre elas, res-
peito à natureza, solidariedade, autonomia das famílias agricultoras, adaptação aos períodos sem chuvas e produção de alimentos saudáveis. Tudo isso registrado através de sementes crioulas, que no Estado da Paraíba são chamadas como Sementes da Paixão. “As Sementes da Paixão, para mim, já está dizendo que é paixão, é amor, é uma coisa que a cada história, aquela semente vem trazendo. Então eu fui me apaixonando e entendendo porque se chama a Semente da Paixão. Quando eu cheguei na casa do meu sogro, a primeira coisa que eu vi era um silo grande, enorme. E a primeira coisa que eu disse: ‘o que é isso?’ Eu nunca tinha visto. E ele disse: ‘aí é onde guarda o nosso tesouro. ‘O que é que tem aí?’. Ai ele foi abrir e tirar que tinha feijão. Era feijão rabo
de peba. ‘Que feijão lindo’.” e continua “eu nunca tinha visto aquele feijão. Isso há dezesseis anos. Ele tem um jerimum de horta que faz mais de quarenta anos que ele cultiva. Então, cada semente tem uma
lias camponesas durante um Encontro Estadual para a Convivência com o Semiárido. E em outubro deste ano, o município de Boqueirão, no Cariri paraibano, junto muitas dessas histórias na sétima
gente vem realizando as Festas. E essa sétima edição acontece num momento ímpar da nossa história. Onde ocorre um desmonte das políticas públicas e um desmonte das políticas para a convivência com o Semiárido. Então as perdas que nós tivemos ultimamente também interferem na produção e conservação das sementes”, destaca Glória Araújo, coordenadora da ASA Paraíba. Um exemplo dessa perda ou enfraquecimento questionado pela ASA Paraíba é a situação do Programa Sementes do Semiárido, executado pela Articulação Semiárido Brasileiro, que cria estruturas e condições para a conservação
rias camponesas. “A importância das Sementes da Paixão para a agricultura é de suma importância. Porque a gente vê que essas sementes criadas em laboratório, geneticamente modificadas, é uma semente que é feita pra lá, aleatoriamente. E a Semente da Paixão é aquela semente que a gente guarda no coração, guarda dos nossos pais. Como eu que tenho umas sementes de fava e de milho que foi a semente que era meu pai que plantava, que meu plantava. E é aquela semente que a gente guarda, com a aquela segurança alimentar para a nossa família, para os nossos animais. É uma semente antiga, que a gente guarda sabendo o que gente está
Cada semente tem sua História história. Antes de chegar na sua mão, ela já passou pela mão de várias pessoas da sua família ou de alguém que já muito importante para você”, lembra a agricultora Sara Constâncio, do município de Cubati (PB). O batismo da “Paixão” foi feito em 1998, aconteceu quando o agricultor Cassimiro Caetano Soares, conhecido como Seu Dodô, falou sobre a importância das sementes crioulas na vida dele e das famí-
edição da Festa das Sementes da Paixão. Agricultoras e agricultoras de todas as regiões da paraíba trocaram sementes, compartilharam histórias e articularam suas vozes políticas para permanecer guardando e multiplicando suas espécies de sementes. A Festa é uma realização da Articulação Semiárido Paraibano (ASA Paraíba). “A sétima Festa Estadual das Sementes da Paixão já faz parte do calendário da ASA Paraíba. Então, desde 2003, a
A festa das sementes acontece na Paraíba
e multiplicação das sementes crioulas. Além disso, há uma preocupação constante também com possíveis contaminações genéticas. As sementes transgênicas, por exemplo, podem alterar os códigos das Sementes da Paixão, causando perdas irreparáveis. Ou seja, a ameça genética pode ameaçar também as boas histó-
plantando e comendo”, comenta Dona Lita, agricultora que participou da Festa. Vale destacar que as sementes manipuladas em laboratório não podem ser modificadas para se adaptar à biodiversidade e culturas locais, não germina novas sementes e podem causar dependência financeira ou de insumos químicos,
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Apresentacao
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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
© Revistas COQUETEL
Esporte Frei Galvão, Madre De 2015 a 2017, um grupo de mulheresolímpico agricultoras Paulina e José de do Polo da praticado com espada, Anchieta Borborema participou do Projeto de Melhoramento das (Catol.) Cozinhas para o florete ou sabre beneficiamento de produtos da Agricultura Familiar. Fruto São defide forma nidos no oval (Bot.) dicionário Autores (abrev.)
Interpretou a (?) das Artes, personagem Marina, município paulista na telenovela considerado estância "Sete Vidas" (2015) turística pelo estado Integram o Poder Legislativo municipal
Local onde Durante esses anos, foram realizados diagnósticos, encontros municipais é cumprida a prisão e territoriais, onde as mulheres puderam resgatar receitas que foram domiciliar Bill Nighy, Antiga (?) digital: aprendidas com suas mães ou avós. As mulheres ator Pedra, em guerrilhativeram a oportunidade popularifrancês zou-se nos basca Enguia, deanoslembrar o sabor da infância, resgatando (sigla) com ele os momentos em 90 em inglês que saboreavam as histórias de família e como aprenderam aquela receita. Prejudica a visibilidade para pilotos de avião Variedade grosseira de quartzo
Letra do cifrão (Fin.)
O vilão, pela índole Assento do vaqueiro
(?) Monte, cantora Proteção de garrafas
Pele do rosto Combate a tosse
Bolo de macaxeira, pé-de-moleque assado na palha de bananeira, Carneiro, colorau, beiju assado debaixo da farinha, farofa d’água e bolo de em inglês Movimento jerimum são só algumas das muitasdo pião receitas apresentadas, que carregam da Fluido de lembranças e umAtração grande conhecimento associado aos seus processos de balões Finlândia Prata Homem, produção. (símbolo) em inglês Gesto muito ensaiado pela miss
Esta cartilha pretende socializar os momentos de troca e de (?) natural, aprendizagem entre as Sistema, mulheres. combustíem inglês
vel do carro triflex
Mesclado (fig.) Ultrapassar Banco Central (sigla) (?) geológicas: Mesozoica e Cenozoica
A joia da formatura Carregar a (?): sofrer
Ópera de Verdi sobre uma escrava etíope "(?) Negro", filme com Natalie Portman
Atividade ministrada na aula de português
(?) Guedes, apresentador de TV
Ctrl+(?): atalho para Abrir, no Word
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Solução V C A N C E S S M A G S E T R B E L L R I
E R M E B U E E I L U M L A A N C R A E I D O A
S Y S T E M B E R I N J E L A
A D A R C O C X A G R I O R P O E C U R U A Z
R A I A D O V O C A B U L O S
R E S A S A G N E R TO T I S A M B A R A A G A S C I N E L S N E O IR E O N A S
BANCO
"(?) nada!", réplica a "Obrigado!"
3/eel — man — oír — roc. 4/aida — embu — lamb. 5/sílex. 6/system.
Nasce no Peru e deságua no Brasil
Ouvir, em espanhol
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VARIEDADES l15 15
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Escondidinho de macaxeira com folhas Alan Tygel*
Ingredientes Massa: 1 quilo de macaxeira ralada; 3 ovos; 100 g de queijo Recheio: Talos e folhas de brócolis, espinafre, beterraba, couve flor, nabo e couve; alho, cebola picadinha e sal a gosto. Modo de preparo: 1. Bater a macaxeira ralada, o ovo, o queijo e o sal no liquidificador; 2. Fazer um refogado com alho, cebola e talos; 3. Colocar em uma refratária metade do purê de macaxeira, depois o refogado de folhas e por último a outra metade do purê; 4. Polvilhar queijo ralado por cima e colocar no forno (180 º C) para gratinar por 30 minutos. Aproveitamento integral dos alimentos Diversos nutrientes estão presentes em partes que são descartadas dos alimentos, como sementes e cascas, entre cascas, folhas e talos. Causando acúmulo de lixo orgânico e desperdício de mantimentos que poderiam estar nos pratos de muitos brasileiros. O aproveitamento integral consiste em pequenas mudanças no cotidiano que fazem um grande bem para o meio ambiente e para a sociedade como um todo, através do consumo sustentável. Afinal, em uma boa cozinha nada é desperdiçado. Adaptado da ONG Banco de Alimentos. *Alan Tygel é da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos
Amiga da saúde, de um tempo pra cá tem aparecido um tanto de verruguinhas bem pequeninas no meu pescoço e axilas. O que causa isso e como fico livre delas? Lívia Braga, 42 anos, artesã.
ara Lívia, essas verruguinhas são conhecidas como acrocórdons ou C fibromas moles. São pequenos papilomas, geralmente localizados nas faces laterais do pescoço, axilas, colo e pálpebras. Mais comuns em
idosos, esses papilomas são lesões benignas de causa ainda desconhecida. Sabe-se que se relacionam com o avançar da idade, obesidade, gravidez, menopausa e alguns distúrbios endócrinos, mas não causam sintomas. São permanentes e tendem a crescer com o tempo. A melhor forma de se livrar delas é retirando-as num dermatologista. Várias técnicas podem ser usadas para a retirada e o resultado costuma ser ótimo.
Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Sofia Barboa | Aqui você podeperguntar o que quiser para nossa Amiga da Saúde Coren MG 159621-ENF
ESPORTES | 15
De volta à Série C
Vinícius Sobreira, jornalista do Brasil de Fato PE
bom se preparar: a É Série C vem aí. O rebaixamento do Náutico
é resultado de uma série de erros de condução do futebol e das finanças do clube, que atrasa salários sistematicamente pelo menos desde 2013. Do lado do Santa Cruz não é diferente: erros de gestão, salários atrasa-
dos e elencos aquém das competições que disputou. O Tricolor recentemente viveu a experiência da Série C. Em 2008, recém -rebaixado, o Santa caiu na segunda fase, quando a Série C ainda era a última divisão, com formato similar ao da atual Série D. De volta em 2012 após 3 anos na Série D, encontrou a Terceirona no atual formato: dois grupos de
10 clubes, com os 4 primeiros de cada grupo passando ao mata-mata que decide quem sobe. O Santa foi só o 6º do grupo. Mas em 2013 liderou o grupo, venceu todos os jogos do mata-mata e levou o título da Série C do Brasileirão. A história do Náutico não tem Série D, mas o final é menos feliz que a saga do rival. O Timbu passou pela Série C em 1999, vivendo jejum de 10 anos sem títulos. Liderou um grupo com times medianos do Nordeste, eliminou dois no mata-mata. Caiu no quadrangular final, em 4º, atrás de Fluminense-RJ, São Raimundo-AM e Serra-ES. Só dois subiriam. Mas um impasse jurídi-
co revirou o Brasileirão do ano seguinte: o Fluminense saltou da Série C para a Série A; e a Série B, com 22 clubes em 1999, teve 36 clubes em 2000 – puxando o Náutico. Se tudo seguir como está, Náutico, Santa Cruz e ABC-RN devem se somar ao Grupo A da Série C, com Atlético-AC, Botafogo-PB, ConfiançaSE, Globo-RN, Juazeirense-BA, Remo e Salgueiro. Nenhum monstro, mas muito jogo duro nas 18 rodadas da primeira fase. Os quatro melhores vão ao mata-mata contra clubes do Grupo B, decidir os 4 que sobem. Mas há propostas de mudança. Uma possibilidade é que, em vez de mata-mata, os líderes da primei-
ra fase passem a dois grupos quadrangulares, com o 1º e 2º lugares conquistando o acesso. O objetivo é tornar o torneio comercialmente atraente e melhorar as finanças dos clubes. Há um pleito dos clubes para a CBF repassar as cotas de transmissão de TV, pagas pela TV Brasil (aberta) e Esporte Interativo (TV a cabo). A CBF recebe, mas só paga hospedagem e parte dos voos dos times. Bilheteria e patrocínio são as principais fontes de renda desses clubes, que têm folhas salariais em torno de R$ 300 mil. Os atuais elencos de Náutico e Santa Cruz têm folhas de aproximadamente R$ 450 mil e R$ 650 mil respectivamente.
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Você Sabia
NA GERAL Leo Lemos
Josh Hedges
Templários
Dominando o meio-campo, João Cabral Reprodução Internet
Começa Nordestão sub-20
Peso-pesado brasileiro no UFC
Arcoverde sonha com divisão principal
em início nesta sextanoite deste sábado s sertanejos do ArcoT feira (17) a 3ª edição A(18) é de MMA brasi- Overde Templários são da Copa do Nordeste sub- leiro no octógono da UFC. a única equipe pernambu20. Os futuros profissionais de três clubes pernambucanos medirão forças no regional: o Náutico, vicecampeão de 2015; o Santa Cruz; e o Central de Caruaru. A competição toda será disputada em Sergipe. No Grupo A, que joga em Aracaju, o Central enfrenta o Uniclinic-CE (dia 17), CRB -AL (19) e Sergipe (21). No Grupo D, que joga em Itabaiana, o Náutico enfrenta o Bahia, Moto Club-MA e o Botafogo-PB. O Santa Cruz, no Grupo E, joga em Lagarto contra Fortaleza-CE, Juazeirense-BA e ABC-RN.
O evento na Austrália tem o gaúcho Fabrício Wedum (21 vitórias, 7 derrotas) na luta principal contra o polonês Marcin Tybura (16v, 2d) na categoria dos pesos -pesados (até 120kg). Werdum é o desafiante nº2 no ranking dos pesos-pesados, enquanto seu adversário deste sábado é o nº8. O brasileiro já teve o cinturão da categoria em 2015, ao vencer Cain Velásquez (atual nº3), mas o perdeu um ano depois, ao ser nocauteado por Stipe Miocic (que segue detentor do cinturão).
LIÇÕES
DETALHE NAS FICHAS
Stella Nascimento ssnascimento_24@hotmail.com
filipespenser@gmail.com
essa altura do ano, já é possível usar retrovisor e avaliar que aconteceu no ano de 2017. Que ano difícil, amigos. Repleto de erros, decisões precipitadas e eventos lamentáveis. Certamente só deve ser lembrado para que saibamos o que não se deve fazer nos anos seguintes. No entanto, talvez o fato mais preocupante, em meio a todo esse contexto, seja a divisão da torcida e, principalmente, a dificuldade em se acharem alvirrubros dispostos ao sacrifício e à honra que é servir ao Náutico. As sucessivas renúncias demonstram que o ambiente conturbado e conflituoso dificulta que os torcedores possam se envolver e se dedicar ao clube amado. Contudo, a situação difícil que se avizinha para o ano de 2018 exigirá uma mudança radical de postura. A união, mais do que nunca, é uma necessidade.
ocê sabia que o poeta recifense João Cabral de Melo Neto, um dos mais respeitados da história do Brasil, se arriscou nos campos de futebol antes de fazer história na poesia? A dona Carmem Carneiro-Leão Cabral de Melo, mãe de João Cabral, era torcedora do Santa Cruz e, observando o amor do garoto pelo futebol, colocou o filho nas categorias de base do Tricolor. Aos 15 anos o volante Cabral foi campeão pernambucano de categorias de base em 1935. Mas seu coração era bicolor, alviverde, assim como seu pai. Cabral era torcedor do América do Recife (para alguns, América de Casa Amarela), cinco vezes campeão pernambucano entre 1918 e 1927. O Periquito dividia a hegemonia com o Sport, mas naqueles anos 1930 começa a perder espaço com a profissionalização do esporte e evolução de Santa Cruz e Náutico, relegando a partir de 1950 o Mequinha a uma “vida Severina”, mas sem morte. Entre seus poemas sobre futebol, João Cabral escreveu sobre Ademir Menezes, o “Queixada”, atacante recifense da Seleção, artilheiro da Copa de 1950, nascido do mangue e do frevo, “ambidestro do seco e do úmido”. Já nos anos 1980 escreveu “O torcedor do América FC”, no qual afirma que “o desábito de vencer não cria o calo da vitória”, não dá dor de cabeça ao torcedor, mas quando a vitória vem, chega fresca, “ácida à língua qual cajá, salto do sol no Cais da Aurora”.
SÃO TEMPOS SOMBRIOS
Filipe Spenser
A
cana remanescente na Liga Nacional (2ª divisão do Futebol Americano no Brasil). Segundo lugar no Grupo 2 da Conferência Nordeste, os Templários passaram ao mata-mata e enfrentam, neste domingo (19), o Maceió Marechais-AL, que liderou o Grupo 1. A disputa é em jogo único, no Estádio Rei Pelé, em Alagoas. Quem ganhar vai à final da segundona do Nordeste contra o vencedor de Natal Scorpions x Sergipe Redentores. O título do Nordeste dá vaga na BFA, divisão principal do esporte.
O
V
Santa Cruz errou e muito, mas não de agora: desde 2016. Um alto investimento feito para a Série A, que resultou num rebaixamento por falta de planejamento, refletiu nesta temporada, onde não houve uma conquista sequer. Vinícius Eutrópio foi o primeiro a comandar, trouxe seus jogadores de confiança, mas as sucessivas derrotas o acabaram derrubando. Quem assumiu foi Adriano Teixeira, que não conseguiu melhorar a situação. Givanildo Oliveira tentou solucionar o caso, mas o ‘Rei do Acesso’ nada conseguia fazer com vários meses de salários atrasados para elenco e funcionários. Marcelo Martelotte foi a cartada final para dar um jeito. O que a diretoria coral esqueceu foi de fazer um planejamento que estabilizasse a situação do nosso clube. E parece que o fundo do poço volta a se aproximar.
Daniel Lamir
daniel.lamir@brasildefato.com.br
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iante dos cofres, o Leão não foi sovina em 2017. Apostou alto ao fechar contratações de jogadores e até de treinador. A renovação de Rithely, por exemplo, deve cobrir até as próximas gerações do camisa 21. Pensar “para frente” no tempo, com uma espinha dorsal do time, é estratégico e positivo. Porém, o lado negativo nunca deixou de ficar à espreita. Cotas de televisionamento antecipadas, multas rescisórias monstruosas e receita comprometida para a próxima temporada são alguns fantasmas. Pelo futebol do primeiro turno, o time teria a faca e o queijo na mão para brigar por vaga na Libertadores. Só que no segundo turno faltou apetite por pontos. O que explicaria uma “inhaca” tão pesada que deixou o time tanto tempo em marcha lentíssima? Futebol é detalhe, mas não apenas nas quatro linhas.