CULTURA| Pág.13
As comemorações do bicentenário da Revolução Pernambucana começaram Pernambuco
Recife,
10 a 23 de março de 2017
ano 2
ESPECIAL | Pág.07
Edição especial
edição 22
distribuição gratuita
Mulheres
por Nenhum Direito a Menos OPINIÃO | pág.05 Artigo: A Literatura como Tambor das Vozes Subalternizadas
CIDADES | pág.6 Acampamento de Jovens movimenta Pajeú
ESPORTE | pág.16 Elas jogam ou ninguém joga
2 | OPINIÃO
Brasil de Fato PE
Recife, 10 a 23 de março de 2017
EDITORIAL
08 de Março é dia de Luta
JORNADA. Desde 1917 a data marca a luta das mulheres no mundo inteiro
H
á mais de 100 anos, na Segunda Conferência Internacional de Mulheres Socialistas em 1910, foi decidido organizar o dia internacional pela libertação das mulheres. No 08 de março de 1917, as mulheres russas saíram às ruas pedindo pão, paz e terra. Elas foram responsáveis pelo início de um processo de transformação no país e no mundo todo. Desde então, o 08 de março se tornou o dia Internacional de Luta das Mulheres. Há muitos anos tentam apagar a história de luta do 08 de março. Entregando flores, chocolates, presentes. As mulheres não querem presentes. Querem igualdade! Igualdade de salários, as mesmas oportunidades na política, que os maridos, filhos e companheiros dividam o peso do trabalho doméstico e do cuidado com os filhos. Esse 08 de março foi
marcado por lutas, manifestações, ocupações e resistência em todo o mundo. Movimentos feministas internacionais organizaram campanhas e mobilizações nas redes sociais,
Há muitos anos tentam apagar a historia de luta do oito de março
do movimento feminista. A luta pelo fim da violência, contra o racismo, machismo e homofobia, pela descriminalização do aborto, pelo direito à vida e liberdade de todas as mulheres, além da visibilidade das especificidades da situação das mulheres encarceradas. Neste ano a luta contra a Reforma da Previdência, chamada também de Reforma da Morte, ganhou destaque em todos os atos, de norte a sul do País.
A Reforma da Previdência vai aumentar o tempo de contribuição e a idade das mulheres se aposentarem, desprezando as difeconvocando as mulheres renças de gênero, de raça e para irem às ruas lutar por da desigualdade regional. seus direitos, com a hashtag #EuParo. Em Pernambuco, foram mais de 15 cidades mobiNo Brasil, as lutas, mobi- lizadas com ocupações na lizações e ocupações acon- sede da Previdência Social teceram em 22 estados e no e no INSS, protagonizadas Distrito Federal. No cam- pelas mulheres campopo e na cidade as mulheres nesas, as quais serão mais se unificaram em torno de atingidas caso a Reforma pautas políticas e históricas da Morte seja aprovada
pelo Congresso Nacional. Foram mais de 10 mil camponesas pernambucanas mobilizadas para barrar essa reforma. Essa luta faz parte da Jornada Nacional de luta das Mulheres do MST que tem como tema “Estamos todas Despertas! Contra o Capital e o Agronegócio! Nenhum Direito a Menos!” No Recife, com gritos de ordem “A previdência é Nossa, Ninguém tira ela da Roça”, “Aposentadoria fica, Temer sai” 700 mulheres ocuparam a sede da previdência Social. A intervenção fez ecoar nas ruas a indignação e denunciou o que significa reformar a previdência. “Sabe o que isso significa? Morrer de trabalhar. Sabe o que isso significa? 49 anos sem parar. Sabe o que isso significa? A jornada de trabalho aumentar. Sabe o que isso significa? Não se aposentar”.
de 15 mil mulheres tomaram as ruas com o tema “As mulheres vão parar: Contra a Reforma da Previdência; Pelo Fim do Racismo,
No Brasil, as lutas, mobilizações e ocupações aconteceram em 22 estados e no Distrito Federal Pelo fim da violência contra as mulheres; Pela legalização do aborto; Por uma nova política de drogas.” Eram mais de 15 mil vozes gritando, Fora Temer! Reafirmamos que 08 de março é dia de luta! Estamos na rua pra lutar, por um projeto feminista e popular!
Na parte da tarde mais
Expediente
Brasil de Fato PE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país, com edições regionais em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Pernambuco. O Brasil de Fato PE circula quinzenalmente às sextas feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças
REDE SOCIAL: facebook.com/brasildefatopernambuco Correio: brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br Edição: Monyse Ravenna (DRT/CE 1032) | Redação: Catarina de Angola, Daniel Lamir, Elen Carvalho e Vinícius Sobreira Colaboração: André Barreto, Daniel Lamir, Filipe Spencer, Francisco Marcelo, Halina Cavalcanti, Stella Nascimento, Roberto Efrem Filho, Alan Tygel Revisão: Mariana Reis|Distribuição e Administração:Iyalê Tahyrine|Diagramação: Diva Braga Conselho editorial: Alexandre Henrique Bezerra Pires, Ana Gusmão, André Barreto, Aristóteles Cardona Jr., Bruna Leite, Bruno Ribeiro, Camila Castro, Carlos Veras, Catarina de Angola, Doriel Saturnino de Barros, Eduardo Mara, Elisa Maria Lucena, Geraldo Soares, Glaucus José Bastos Lima, Henrique Gomes, Itamar Lages, Jaime Amorim, José Fernando de Melo, Laila Costa, Lívia Milena, Luiz Antonio da Silva Filho,Luiz Antonio Lourenzon, Marcela Vieira Freire, Marcelo Barros, Marcos Aurélio Monteiro, Margareth Albuquerque, Maria das Graças de Oliveira, Marluce Melo, Moisés Borges, Patrícia Horta Alves, Paulette Cavalcante, Paulo de Souza Bezerra, Paulo Mansan, Pedro Rafael Lapa, Roberto Efrem Filho, Rosa Sampaio, Sérgio Goiana, Suzineide Rodrigues, Valmir Assis| Tiragem: 40 mil Exemplares
Charge
Brasil de Fato PE
mandou
BEM
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GERAL l 3
Frase da Seman a
Divulgação
m jogo contra Murici-AL, no 8 de Março, o time do Cruzeiro vestiu uniforme especial com denúncias das desigualdades e da violência sofrida pelas mulheres no Brasil. Os números dos jogadores foram relacionados às denúncias como “a cada 2´ uma mulher é morta” ou “5’ país em taxa de feminicídio”. O uniforme faz parte de uma campanha organizada pelo time junto à ONG “AzMina” em referência ao Dia Internacional de Luta das Mulheres.
mandou
Mal
Divulgação
E
m discurso nesse último 8 de Março, Michel Temer afirmou que as mulheres teriam “grande participação” na economia por serem as melhores indicadas para “indicar os desajustes de preços nos supermercados” e ainda que tem “convicção do que a mulher faz pela casa”. Se a intenção do discurso era ressaltar a contribuição das mulheres, o que fez foi o exato oposto disso.
Divulgação
E
As novas divulgações são excepcionais do ponto de vista político, legal e forense e circularam sem autorização entre exagentes da Inteligência americana e empresas ligadas ao governo, antes de chegarem ao WikiLeaks Julian Assange, editor-chefe do WikiLeaks, , atualmente asilado na embaixada equatoriana em Londres sobre o vazamento descrito como o maior da história da CIA. O site WikiLeaks divulgou 8.761 documentos que apontam o uso de softwares elaborados para invadir smartphones, computadores e até mesmo TVs conectadas à internet.
Como você sente o machismo no seu dia a dia?
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Eu sinto o machismo no cotidiano quando escuto que “mulher tem que se dar o respeito”. Ou, quando, no meio acadêmico, as pessoas riem de mim quando questiono por que lemos majoritariamente homens quando poderíamos escolher textos escritos por mulheres. Não posso silenciar! É por nós, pelas outras e por mim!”
Eu sinto atitudes machistas vindo de todas as partes. De casa quando tentam me direcionar os afazeres domésticos quando meus irmãos ou noivo sequer são cogitados para tais tarefas como se eles não tivessem a “obrigação” de realizá-las e, muitas vezes, até defendidos é justificado por personagens femininas. No trabalho, quando tentam me tolher de algumas atividades usando como argumento o fato de eu ser mulher.
Gabriela Falcão, jornalista e cientista social
Maria Clara Seabra, arquiteta
4 | GERAL Mundo
Mulheres protestam em Petrolina
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s mulheres foram às ruas na região do Vale do São Francisco. Organizada pela Frente Brasil Popular, a agenda de lutas contou com uma intervenção na Câmara dos Vereadores, onde as lutadoras conquistaram a assinatura da maioria dos representantes municipais contra a Reforma da Previdência. No dia 8 de março, uma marcha que se concentrou na Praça do Bambuzinho, às 8h da manhã e seguiu em direção à sede do INSS para denunciar o desmonte da previdência social e seu impacto na vida das mulheres.
Debate sobre direito à comunicação em Recife
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CUT-PE, junto aos sindicatos dos bancários, legislativo e previdenciários, realizam nesta sexta, 10 de março, importante debate sobre o direito à comunicação. Com o tema “O Papel da Mídia no ataque aos direitos da classe trabalhadora”, o evento contará com a presença dos jornalistas Mino Carta, diretor da Revista Carta Capital e de Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada. O debate acontecerá no auditório do Sindsprev, localizado na Ilha do Leite no Recife, a partir das 19h.
ESPAÇO SINDICAL Eleição na ATP
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Mulheres de Goiana Ocupam sede do INSS
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ais de 400 mulheres camponesas ocuparam, na última terça, 07 de março, a sede do INSS no município de Goiana. Promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o ato visa denunciar os impactos da reforma da previdência sobre as trabalhadoras rurais e integra-se ao calendário de lutas e mobilizações em torno do Dia Internacional de Luta das Mulheres no 8 de março.
Professoras realizam formação sobre Previdência
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Sintepe realizou na última quarta, 08 de março, formação com a categoria acerca dos impactos da reforma da previdência na vida das mulheres. O evento fez parte da agenda de lutas do 8 de março, visando preparar a categoria para os enfrentamentos necessários à garantia do direito à aposentadoria. A formação aconteceu às 9h no Teatro Boa Vista, no Recife.
Direitos de Fato
Todos e todas contra a Reforma da Previdência
Valor da Aposentadoria: assalto ao bolso do trabalhador
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o próximo dia 16 de março, acontecerá a eleição para a nova diretoria da Associação de Advogados/as de Pernambuco – AATP. Dentre as duas chapas inscritas, destaca-se a Chapa 2 – Ampliar Conquistas, cujo candidato a presidente é o advogado Sandro Valongueiro, há mais de vinte anos assessor jurídico de diversos sindicatos no estado. Composto por um coletivo de advogados combativos, o grupo tem por plataforma central a luta em defesa dos direitos sociais, da Justiça do Trabalho e da advocacia trabalhista.
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arço será marcado por uma longa jornada de lutas contra a Reforma da Previdência. A primeira mobilização foi no 8 de março, contando com o apoio e mobilização de várias mulheres lideranças sindicais. Tal unidade aqui no estado foi firmada na reunião pública realizada na manhã do dia 6 de março no Plenarinho da Câmara de Vereadores do Recife. Ao longo do mês será promovido também pelo Sindsprev -PE uma série de seminários itinerantes abordando o tema. Por fim, o dia 15 de março será marcado pelo Dia Nacional de Lutas e Paralisação contra a Reforma da Previdência, tendo vários sindicatos já decretado greve neste dia.
a coluna desta semana, abordamos o último tema relativo às mudanças na aposentadoria com a Reforma da Previdência (PEC 287/16): a forma de cálculo do valor da aposentadoria. Em resumo, o valor do benefício de aposentadoria será equivalente a 51% do salário de benefício (antes era 70%) – calculado pela média de todos os salários de contribuição dos 25 anos (antes era sobre a média dos 80% maiores salários de contribuição) –, mais 1% por ano de contribuição. Portanto, ao se aposentar o valor que o trabalhador receberá de aposentadoria todo mês será de 76% das médias de contribuições (51% mais 25% referente aos 25 anos de contribuição). Assim, será necessário, ao longo de toda a vida, trabalhar por 49 anos para se ter a aposentadoria integral: ou seja, para alcançar a aposentadoria integral, 100% da média (51% mais 49%), terão que trabalhar mais 24 anos (1 ponto percentual por ano), em relação ao mínimo exigido. Na prática, consideram que a pessoa vai trabalhar dos 16 aos 65 anos ininterruptamente, sem nunca ter ficado desempregado, na informalidade ou contratado sem carteira. Com essa proposta de mudança fica clara a intenção do governo golpista de diminuir os valores das aposentadorias e, dessa forma, fazer o povo trabalhar mais e ganhar menos. *André Barreto é advogado trabalhista em Recife
Mande suas dúvidas para: brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br
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Artigo
Artigo O Desmonte da Previdência e as consequências para o campesinato brasileiro
previdência social é uma das maiores conquistas da classe trabalhadora, que por meio da organização dos movimentos sociais conquistou a instituição do Programa de Assistência ao Trabalhador Rural. Os processos de lutas desencadeados durante a década de 1980 foram fundamentais para a consolidação de direitos na Constituição Federal de 1988, provocando mudanças signifi-
A diferenciação existente na lei atual justifica-se pelo ingresso precoce no trabalho do campo cativas na vida dos trabalhadores rurais, incluindo-nos no regime geral de previdência. A conquista da previdência rural para o campesinato faz parte do reconhecimento da realidade socioeconômica que vive a mulher e o homem do campo, a sua própria formação histórica – principalmente em relação à terra, largamente concentrada nas mãos dos latifundiários. Adiciona-se a ausência do Estado na implementação de políticas para as populações camponesas. Nesse contexto a Seguridade So-
A Literatura como Tambor das Vozes Subalternizadas Lepê Correia*
Cladeilton Luiz*
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OPINIÃO I 5
cial cumpre um papel fundamental na materialidade de direitos fundamentais adquiridos pela classe trabalhadora. A previdência social tornou-se responsável pela maior política de distribuição de renda do País, além de ser o principal fator de dinamização da economia de centenas de municípios do interior, sendo fator de diminuição da pobreza. Mas o desmonte dos direitos conquistados pelos trabalhadores tem se apresentando como uma das principais bandeiras da burguesia neoliberal. A proposta do governo temerário é uma violência ao exigir que todos os trabalhadores rurais sejam obrigados a “contribuir mensalmente em dinheiro para o INSS, durante o período de 25 anos”. A proposta dificultará que o camponês e a camponesa tenham acesso aos auxílios doença, maternidade e à aposentadoria por invalidez. Na sequência há o “aumento da idade para aposentadoria”, com mulheres e homens passando a se aposentar com a idade mínima de 65 anos. Pelas regras atuais se aposentam aos 60 anos (homens) e 55 (mulheres). Ao igualar a idade de aposentadoria eliminam-se as diferenças entre homens e mulheres e entre trabalhadores rurais e urbanos. A diferenciação existente na lei atual justifica-se pelo ingresso precoce no trabalho do campo, a dureza da jornada e a menor expectativa de vida dos camponeses. O princípio da equidade pressupõe tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades, na tentativa de chegar a uma medida mais justa e que contemple a diversidade das realidades.
*Cladeilton Luiz é militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e bacharelando em Direito pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).
A presença do negro na literatura afrobrasileira vem dos primeiros séculos da colonização, quando o Brasil ainda era uma terra sem identidade definida. O escritor Oswaldo de Camargo, em O Negro Escrito, diz que, talvez, o soldado real “Henrique Dias tenha sido o primeiro negro a escrever um texto no Brasil, o primeiro negro letrado.” (CAMARGO, 1987, p. 25). Aquele que dirigiu a El Rey de Portugal, em 1650, uma carta reclamando a falta de respeito e ofensas dirigidas à sua pessoa, pelo Mestre de Campo, General Francisco Barreto, e pede providências em relação ao fato. Na obra citada encontra-se ainda o maior poeta negro do século XVIII: Domingos Caldas Barbosa, criador da Nova Arcádia, que introduziu em Lisboa as cantigas brasileiras. A presença do “negro inteiro na literatura brasileira começa a partir de 1830. O mulato Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa escreveu O Filho do Pescador, narrativa ficcional publicada em 1843, e primeiro romance brasileiro, dando o pontapé inicial na história do romance “situado no Brasil, feito por filho do país, de espírito formado na terra e a ela radicalmente ligado” (CAMARGO, 1987, p. 36). Foi por demais significativo, para abrir caminho a uma série de outros autores alternando posições. Tal proeza foi um ato de rebeldia, demonstrando uma das lições da prática negro-ancestral: a solida-
riedade. Para tanto, recebeu a contribuição do negro Francisco de Paulo Brito, iniciador do movimento editorial no Brasil através de seu estabelecimento:“Tipografia Fluminense de Brito & Cia”, ponto de reunião de intelectuais e oficina de aprendizes, sendo o mais ilustre, Machado de Assis; e de onde foi publicado “o primeiro jornal brasileiro dedicado à luta contra os preconceitos de raça: “O Homem de Cor”, que circulou no Rio de Janeiro, de setembro a novembro de 1833.” (CAMARGO, 1987, p. 41). Paula Brito também foi o cabeça de uma espécie de sociedade informal, a “Petalógica”. Não sabemos se estrategicamente ou não, mas Brito fundou a tal sociedade
A presença do negro inteiro na literatura Brasileira começa a partir de 1830 que, embora não tivesse sócios nem estatutos, era reduto principalmente dos negros. Este fato dá-nos a impressão de que Paula Brito, desde a época, (1833) estivera ensaiando os primeiros “toques de reunir”, executados pelo grande, porém, ainda acanhado “tambor literário”. Assim, atraía seus iguais, fazendo valer a solidariedade étnica.
Lepê Correira é escritor, poeta e Mestre em Literatura africana
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6 | CIDADES
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Acampamento de Jovens movimenta Pajeú
SERTÃO. Levante Popular da Juventude realiza seu 1º acampamento na região, com muita cultura e política. arquivo LPJ
Vinícius Sobreira
Marcha do Acampamento em Minas Gerais
dir os retrocessos colocados pela agenda política. “Queremos massificar o número de jovens que ousam lutar nas escolas, universidades, nos bairros e no campo”, diz o estudante. Segundo Mário, a juventude da classe trabalhadora precisa estar organizada e em constante diálogo com toda a classe, contribuindo para a organização e unidade da mesma, visando a construção do que ele chama de “Proje-
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mo e com a temática LGBT, seguido por espaços para debater o movimento estudantil, tanto universitário quanto secundarista. A programação prevê ainda muita troca cultural. A estudante secundarista Bruna Vasconcelos se diz empolgada para participar do 1º Acampamento Regional do Levante. “Teremos jovens de várias cidades, idades e estilos, trazendo seus elementos culturais, artísticos e históricos para o Acampamento. Acho que vai ser um espaço muito rico”, avalia. Os jovens ficarão “acampados” nas salas de aula do Colégio Municipal Cônego Torres, na avenida Afonso Magalhães, centro de Serra Talhada. Os jovens devem levar o chamado “kit militante”, que inclui colchão, lençol, prato,
talheres, toalha e material de higiene pessoal. A programação tem início na manhã do sábado, mas expectativa é que todos os participantes oriundos de outras cidades cheguem até as 17h da sexta-feira (17), quando haverá um ato contra a reforma da previdência proposta pelo presidente não -eleito Michel Temer. Além dos jovens de Serra Talhada, o Acampamento do Levante espera participantes dos municípios de Afogados da Ingazeira, Flores, Tabira, Carnaíba, Triunfo, Santa Cruz da Baixa Verde, Ouricuri, Salgueiro, Petrolândia, Tupanatinga, Arcoverde, Petrolina, Caruaru e Recife.
março
Nos próximos dias 18 e 19 de março a cidade de Serra Talhada, no Sertão pernambucano, vai sediar o 1º Acampamento Regional do Levante Popular da Juventude no Pajeú. Mais de 200 jovens da região estarão juntos para discutirem o cenário político nacional, a importância da organização da juventude para impedir os retrocessos em curso e o uso da cultural popular como ferramenta de luta. O militante do Levante Popular da Juventude e estudante de fisioterapia José Mário Guerra é um dos que está a frente da organização do Acampamento e afirma que o grande objetivo é mobilizar e organizar a juventude da região para impe-
to Popular para o Brasil”. Segundo Mário Guerra, o “Projeto Popular” de Nação prevê mais direitos para o povo trabalhador, a mídia democratizada e comprometida com as causas populares, mais acesso à cultura, educação e transporte de qualidade, além do fim do machismo, do racismo e da LGBTfobia. O evento terá um espaço de análise do cenário político nacional facilitada por Felipo Bona, militante da Consulta Popular e professor do curso de Direito da Faculdade de Integração do Sertão (FIS Serra Talhada). A programação prevê ainda rodas de conversa sobre negritude, feminis-
9h
PRAÇA OSWALDO CRUZ RECIFE - PE
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Pernambuco
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distribuição gratuita
Edição Especial Mulheres: Vozes encarceradas
Edição Especial
Mulheres:
Vozes O
encarceradas
ito de março é o Dia Internacional de Luta das Mulheres, esta data traz consigo a história de resistência de milhares de mulheres trabalhadoras que ousaram não ficar caladas diante das injustiças. Março, portanto, é um mês perpassado por diversas lutas protagonizadas pelas mulheres do campo e da cidade, por isso, não foi à toa que o Brasil de Fato Pernambuco escolheu este mês para lançar o Especial Mulheres: Vozes Encarceradas. A origem do 8 de março ainda é tema de diversas pesquisas. Sabe-se ,no entanto, que está ligada à luta das mulheres trabalhadoras socialistas que em diferentes países por volta do início do século XX estavam lutando pelo direito à greve, ao voto, contra a guerra e contra a fome. Vê-se dessa maneira que há muito tempo as mulheres estão em luta pelos seus direitos, porém, desde essa época suas vozes foram muitas vezes caladas dessa história pouco ou quase nada nos foi contado. Sabemos que essa não foi a primeira e nem será a última história esquecida por aqueles que contam as histórias, por isso, se faz necessário trazer à superfície os rostos e nomes de tantas mulheres que tiveram suas vozes silenciadas e encarceradas pelas grades, paredes e mãos. Neste Especial, compreendemos o cárcere não apenas como as grades das cadeias que prendem nossas jovens mulheres (em sua maioria) negras, compreendemos o cárcere como todas as estruturas institucionais que legitimam o cerceamento da liberdade dessas mulheres: presídios, centros de ressocialização e hospitais psiquiátricos. Compreendemos sobretudo, que elas são mais do que números em estatísticas ou rótulos pejorativos, são mães, filhas e mulheres repletas de desejos, sonhos e coragem. Frente ao golpe que se instaurou no País com o governo do ilegítimo presidente Michel Temer, é preciso se posicionar de maneira ainda mais firme diante dos mandos e desmandos parlamentares e reformas aprovadas goelas abaixo. Portanto, em meio ao golpe, retrocessos e aumento do conservadorismo, é preciso permanecer nas ruas resistindo como fizeram aquelas trabalhadoras socialistas e muitas outras antes de nós. Juntemos aonde formos todas as nossas vozes para fazermos , como já disse a poetisa Conceição Evaristo, ouvir a ressonância do eco da vida-liberdade. Sigamos todas despertas!
Pernambuco
Recife,
Mulheres: Vozes e n c a r c e r a d a s
08 de março
Em Pernambuco, 81% das mulheres encarceradas são negras SISTEMA PRISIONAL. 20% de mulheres em regime de cárcere são analfabetas Agênica Brasil
Elen Carvallho
E
la lembra que era perto do Natal quando foi levada junto com marido, filho e nora pelos policiais. Entraram arrobando a porta da pequena casa, localizada na periferia do Recife. Chegaram gritando pelo nome do marido e não quiseram ouvir argumentos de ninguém. A única liberada foi a nora, por não ser maior de idade. Joana começa a me contar sua história com gestos meio desconfiados, voz baixa – para vizinhos e família não ouvirem. O olhar triste durante toda a conversa, por vezes, foi substituído por sorrisos, ao lembrar das ajudas que recebeu no tempo em que passou encarcerada. Até então, ela trabalhava como babá durante o dia e o marido era vigilante no período da noite. “Meu filho já tinha sido preso três vezes e meu marido uma vez, por causa de drogas. Rastrearam o telefone do meu marido e, numa ligação, ele me pedia para dar R$ 5 para o menino comprar um cigarro de maconha. Eu pedi pra ele comprar pão, manteiga e queijo para o café da manhã”. Segundo Joana, foi esse o motivo de ter sido levada presa para a Colônia Penal Feminina do Recife, também conhecida como Bom Pastor, localizada no bairro do Engenho do Meio. O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – IFOPEN Mulheres, de junho de 2014, traz os dados da World Female Imprisonment List, produzido pelo Institute for Criminal Policy
Research da Birkbeck, da University of London, que aponta que existem 700 mil mulheres presas em todo o mundo. O Brasil está como o quinto país que mais encarcera mulheres: são 37.380, o que representa 6,4% da população carcerária. Destas, 11.269 estão presas sem condenação. Isso corresponde a 3 em cada 10 mulheres presas no Brasil em junho de 2014.
Meu filho já tinha sido preso três vezes e meu marido uma vez, por causa de drogas Joana é negra, mora em periferia, não é alfabetizada, passou quatro anos presa esperando o julgamento. Ela integra as estatísticas atuais do encarceramento feminino no Brasil. Está entre os 68% de mulheres encarceradas
que são negras. Se voltarmos o olhar para Pernambuco, esse número sobre para 81%. Também faz parte dos 20% de mulheres em regime de cárcere que são analfabetas. Mesmo Joana afirmando ter sido bem tratada dentro da prisão, o que contrasta com relatos de outras mulheres que vivem experiências semelhantes, não é possível esconder a dureza desse lugar. Aline Marques, advogada na área penal apenas para mulheres, criminóloga crítica e ex-agente penitenciária, ela conta que a experiência do trabalho dentro do presídio de Abreu e Lima foi chocante. “Nós temos uma noção abstrata da prisão. Foi muito chocante viver a realidade daquele lugar. E foi num presídio que é um dos melhores do Nordeste. Ouvi muitos relatos de violência, de conflitos entre presas e agentes, casos de exploração sexual, de tortura, como por exemplo arrancar as unhas”, lembra. Maria das Graças, psicóloga aposentada, trabalha há 10 anos na Pastoral Carcerária e visita o Bom Pastor toda segunda pela manhã. “As ce-
las são pequenas, escuras, sem ventilação. Tem mulher que dorme no chão. Quando chegam aqui choram, entram em desespero. Muitas ficam ansiosas porque as famílias não sabem onde elas estão. Então eu vou lá, olho nos olhos delas, mostro que elas têm valor”, relata a senhora. No Bom Pastor, Joana trabalhava na limpeza. Carregava lixo, varria o pátio, corredores, refeitório. Ganhava cerca de R$ 500, dos quais mandava R$ 300 para a irmã guardar e o restante comprava de lanche. A comida do refeitório, segundo ela, não era tão ruim. A cela era dividida com outras 14 mulheres, na qual dormia numa cama de solteiro dividida com outra mulher. Joana foi encarcerada pelo mesmo motivo que leva 68% das mulheres brasileiras para a prisão: drogas. Somase a esse dado o crescente aumento do encarceramento feminino de 2000 a 2014: cerca de 567%. Número muito superior ao de prisão de homens no mesmo período. Daianny de Paula Santos, enfermeira sanitarista, especialista em Saúde Coletiva, pesquisa cenários de violência envolvendo mulheres e uso abusivo de crack e reflete que esses dados são extremamente alarmantes. Ela afirma: “demonstra a gravidade e complexidade dessa questão, que envolve fatores relacionados às desigualdades sociais e de gênero que afeta a população feminina no Brasil. O proibicionismo exacerbado no contexto brasileiro reforça os discur-
sos repressivos da chamada “Guerra às drogas”. Antes, a criminalização de mulheres se configurava por atos relacionados às condições de gênero, como aborto, infanticídio e crimes passionais. Hoje, o encarceramento feminino é por tráfico de drogas, o que vem sendo observado desde os anos 1980, a partir do contexto neoliberal e do aprofundamento da feminização da pobreza”.
As celas são pequenas, escuras, sem ventilação Há pouco mais de um ano – ela lembra que foi perto do Carnaval –, Joana conseguiu sair do Bom Pastor. “Fizeram festa para me dar a notícia. A Pastoral Carcerária me trouxe na porta de casa, num carro preto de quatro portas. Chorei quando soube que estava livre. Minha pressão subiu na mesma hora. Lá dentro eu me sentia mal sem saber da minha família. Agora meu sofrimento é meu marido e meu filho”. São 6 ônibus para ir e voltar de cada visita. Ela reveza os finais de semana entre o filho e o marido. Um gasto grande, para uma mulher que não conseguiu arrumar emprego desde que saiu da prisão. No dia que conversamos, ela conta ter precisado pedir R$ 0,50 ao vizinho para poder comprar pão.
Pernambuco
Recife,
Mulheres: Vozes e n c a r c e r a d a s
08 de março
Meninas com sede de liberdade
DIREITOS. Adolescentes que cumprem medida socioeducativa de internação, muitas vezes têm liberdade cerceada antes de entrarem em unidade. CTB
Catarina de Angola
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emoramos a encontrar a casa que fica em uma rua não muito movimentada na Zona Oeste do Recife, Pernambuco. No entanto, quando avistamos o prédio tivemos a certeza ‘é aqui’. Não tinha como não acreditar que aquela casa de muro alto com arames e cerca elétrica não fosse o lugar que procurávamos. “A gente não costuma falar tecnicamente de pri-
são para adolescente, mas na prática não tem nenhuma diferença”, já havia me alertado a professora e pesquisadora Manuela Abath, integrante do Grupo Asa Branca de Criminologia. Chegávamos ao Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) Santa Luzia, que abriga adolescentes mulheres que cumprem medida socioeducativa de internação. A unidade abriga meninas de 12 a 21 anos. Este é o local em que as meninas recebem seus familiares nos dias de vi-
sita e que fazem atividades de lazer, também existe uma pequena quadra nesse espaço. O perfil das meninas segue a média nacional, pobres e negras. As meninas com quem conversamos nos relataram entre as maiores dificuldades da internação a ociosidade e a espera pelo tempo passar. “Queria ocupar meu tempo ao máximo aqui, pra passar rápido e quando olhar já estar em casa. Por mim eu fazia curso de manhã, estágio a tarde e estudava a noite”, disse Eduarda [nome fictício], 17 anos, na época da entrevista, há menos de um mês na unidade. Pernambuco conta com apenas uma unidade para receber meninas que estão cumprindo a medida de internação, que fica na capital, apesar de cerca de 40% das adolescentes serem do inte-
rior do estado. Eduarda é do interior do estado, distante mais de 200 km da unidade. Semanalmente sua mãe e mais algum parente viajam mais de 400 km para vistá-la. Como não tem dinheiro, aproveitam a vinda no carro da secretaria municipal de saúde do município em que vivem para chegarem. A rotina das meninas no Case Santa Luzia se divide entre estudos, cursos e oficinas. A unidade tem algumas meninas que são mães e elas vivem juntas com as outras, não existe um espaço específico para os bebês. Renata [nome fictício], 20 anos, é mãe de uma criança de quatro meses que vive com ela na unidade e divide quarto com mais seis adolescentes. Ela está na unidade há oito meses. Ela precisa levar a criança com ela para as au-
las todas as manhãs. Vai também fazer um curso de doces e salgados. As adolescentes que são mães recebem um acompanhamento de saúde não só para ela, mas também um acompanhamento dos bebês. Rafaela tem mais duas crianças, uma de quatro e uma de três anos, que vivem com a mãe dela. Cada semana uma das crianças também vai visitá-la. A gente não consegue cumprir cem por cento que está no Sinase [Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo] e no Estatuto da Criança e do Adolescente, mas existem várias questões, primeiro a gente preza também compreender a dinâmica das adolescentes. Mas tenta separar um quarto para as mães e as adolescentes gestantes”, explica Jailda, Castro, coordenadora técnica da unidade.
“A internação tem que ser a última das opções” ADOLESCENTES. Meninas são mais invisíveis no sistema socioeducativo e para entender mais sobre essa situação conversamos com a professora e pesquisadora Manuela Abath, que é pesquisadora do Grupo Asa Branca de Criminologia e professora das Universidades Católica de Pernambuco (Unicap) e Federal de Pernambuco (UFPE). Catarina de Angola Sistema socioeducativo
O
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê a internação como a última das medidas. Cons-
Acervo pessoal
não tem, um amparo de saúde, um aparo de saúde psíquica, um amparo de saúde mental, um amparo de assistência social de fato. Mito da impunidade de adolescentes
tranger uma pessoa dentro de um quarto provavelmente não vai ser a melhor medida pra levá-la a qualquer lugar que seja. Então, se tem que existir essa internação, ela tem que servir como um campo de acolhimento da adolescente e da família, porque é muito comum que se encontrem meninas com trajetória de violência sexual física. Normalmente já vem de uma família que precisa de um amparo social que
Existe uma profunda ignorância, uma ignorância fomentada, inclusive, pelos meios de circulação de mídia de massa, que escondem um debate. O ECA tem todo um sistema de responsabilização, com processo criminal, com ficar fichada, com ficar presa, com ficar presa antes da medida socioeducativa. Essa coisa de que a adolescente fica presa um mês e vai embora é uma grande mentira. No ECA a pessoa pode ficar internada por três anos e esse tempo pode ser ampliado na semiliberdade. Então
se está com 15 anos e pratica um ato infracional e for internada fica até os 18 anos, e depois pode ficar até 21 que é a idade máxima do ECA no sistema de semiliberdade, que é uma outra medida. Estado e garantia do ECA No campo das meninas são tão poucas que são totalmente esquecidas. E aí elas não são prioridade. O que são as unidades de internação? São unidades de contenção momentânea de sujeitos que consideramos perigosos e não bem quistos, digamos assim, indesejáveis. E a gente mantém ali pelo tempo que a gente pode. E aí vai pra rua, quando é daqui a pouco volta porque são muito mais visados pela polícia quando passaram pela unidade. E gerimos essas pessoas muito
mais em uma contenção gratuita do que na promoção de direitos. Perfil de adolescentes internadas São jovens negras de periferia basicamente. Em todos os lugares do Brasil. Não importa a representação de negros, pretos e pardos na população. O perfil, a cor das unidades socioeducativas é essa. São meninas negras de periferia, muitas vezes com o histórico de violência na sua vida pessoal de violência sexual ou física, muitas com problema com drogas. Muitas delas fazem uso de droga, de crack, inclusive. São presas várias vezes por tráfico, quando na verdade elas são usuárias que trocam, vendem, consomem.
Pernambuco
Recife,
Mulheres: Vozes e n c a r c e r a d a s
08 de março
As Regras de Bangkok - quais os impactos para as mulheres?
Acervo pessoal
Clarissa Nunes*
P
or conta das condições históricas mantidas pelo sistema de exploração e opressão contra as mulheres, as demandas daquelas que são encarceradas tornam-se bastante específicas. Reconhecendo tais especificida-
des foi elaborado o principal marco normativo internacional a abordar essa problemática, as chamadas Regras de Bangkok. O tratado visa regular o tratamento das presas e a aplicação de medidas não privativas de liberdade para as mulheres. O Brasil participou da elaboração do tratado e assumiu a responsabilidade internacional de aplica-lo. No tratado foi dado especial importância aos casos de mulheres mães e/ou grávidas infratoras. As regras indicam que, quando houver condenação, as penas não privativas de liberdade serão preferidas para as mulheres gestantes e mulheres com fi-
lhas/os dependentes, sendo a pena de prisão considerada apenas quando o crime
O tratado visa regular o tratamento das presas e a aplicação de medidas não privativas de liberdade para as mulheres for grave, violento ou a mulher representar ameaça contínua. Nos casos em que ainda não haja condenação, determina a suspensão por um período razoável da medida privativa de liberdade apli-
cada contra gestante ou mulher que seja mãe, levando em consideração o melhor interesse das crianças. Os nossos tribunais superiores já vêm aplicando essa regra. Agora em fevereiro, no Supremo Tribunal Federal, foi concedida a uma mulher gestante e mãe de dois filhos (um de 2 e outro de 14 anos) o direito de responder ao processo em liberdade. Em sua fundamentação, o Ministro Relator do habeas corpus destacou a necessidade do Brasil cumprir com o compromisso internacional firmado.
ro porque destaca a importância do debate de gênero dentro das instituições, principalmente por observar as diferenças históricas, sociais e econômicas entre homens e mulheres. Segundo porque sua aplicação parte do pressuposto de que a pena não deve ser usada como forma de punição e desumanização das infratoras através da perda da sua dignidade em cadeias superlotadas, principalmente quando sabemos que a maior parte trata-se de mulheres já desumanizadas ao longo das suas vidas e que precisam de ações afirmativas de um Estado que ofereça igualdade e oportunidades.
Embora o sistema carcerário brasileiro seja falido, a aplicação do tratado em decisões *É advogada e militante da Marcha judiciais é um avanço. Primei- Mundial das Mulheres
Hospitais psiquiátricos: uma história de encarceramento
SAÚDE MENTAL. O período da ditadura militar houve um grande crescimento no número de hospitais psiquiátricos no Brasil
sa por ninguém”, “cantava o dia todo”, “não obedecia ao patrão”, “reclama que trabalhava muito”, “ inclinações políticas subversivas”. Essas fraCenativa Estúdio ses eram repeIV Semana Antimanicomial “Vozes por Liberdade: tidas exaustivaA Democracia é Antimanicomial” mente nos prontuários médicos dos grandes manicômios Monyse Ravena brasileiros parecendo querer anicômios. O encarce- afirmar que esses comportaramento de mulheres mentos e atitudes eram indiatrás das grades reais e sub- viduais e não os reflexos de jetivas dos hospitais psiquiá- mudanças, sociais e polítitricos, foram, historicamen- cas típicas do início do século te “justificadas”, por atitudes XX, em um contexto em que o que as levavam a agir de en- movimento feminista dava os contro com o que os padrões primeiros passos e as mulhede cada época estabelecia res apenas começavam a enpara o que seria uma condu- trar em escolas, universidata apropriada para mulheres. des e atuar na política. Essas atitudes foram vistas como “Gênio forte”, “desobedien- ameaças a ordem social este”, “separou-se do marido”, tabelecida e houveram mui“escrevia poemas”, “trabalha- tas tentativas de repressão, va muito”, “tinha preguiça de entre elas o controle manicotrabalhar”, “se apaixonou por mial, com o encarceramento um rapaz”, “não se interes- de mulheres em hospitais ps-
M
quiátricos. “É bastante adoecedor ser mulher na nossa sociedade, o machismo mata, machuca e vem adoecendo as mulheres historicamente no Brasil. Apesar da escassez de estudos científicos que apontem exatamente as principais causas de internamento entre mulheres, sabemos que muitas adoeceram por viverem situações de violência doméstica ou por questões relacionadas à maternidade e à vida conjugal. “, afirma Catarina Albertim, integrante do Núcleo da Luta Antimanicomial Libertando Subjetividades, de Pernambuco. “No auge do período da ditadura militar, quando tivemos um crescimento vertiginoso no número de leitos psiquiátricos privados no país, muitas mulheres foram encarceradas por que lutaram contra o governo militar, muitas morreram nesses locais, por outro lado houveram muitas situações de maridos que internavam suas esposas para viverem com as amantes, pais que internavam suas filhas
por que estas perderam a virgindade antes do casamento, entre outras.”, completa Catarina. Manuela de Fátima, 30 anos, atendente de restaurante já foi internada duas vezes em um hospital psiquiátrico, “ eu me sentia muito mal lá, já chegava no hospital mal e as vezes sentia que eu saia de lá pior do que quando eu chegava. Havia uma presença muito grande de homens, os guardas e os enfermeiros na maioria das vezes eram homens e eu me sentia insegura e pouco a vontade
com eles.”, conta a usuária que hoje faz tratamento em um Centro de Assistência Psicossocial (Caps). Depressão, esquizofrenia, bipolaridade são alguns dos quadros clínicos mais encontrados atualmente. O hospital psiquiátrico foi o destino de muitas mulheres marcadas pelo machismo. Em Pernambuco muitas mulheres ainda sobrevivem em hospitais psiquiátricos públicos e privados, ainda são cerca de 700 leitos em todo o estado. Leitos que abrigam, mulheres e vozes encarceradas.
EXPEDIENTE Brasil de Fato PE Edição: Monyse Ravena Redação: Elen Carvalho, Catarina de Angola Colaboração: Iyalê Tahyrine, Clarissa Nunes Diagramação e Arte: Diva Braga Revisão: Mariana Reis
Apoio:
Brasil de Fato PE
ENTREVISTA l 11
Recife, 10 a 23 de março de 2017
“Combate à sonegação é suficiente para cobrir gastos com Previdência” EVASÃO. Empresas deixam de pagar cerca de R$ 500 bilhões ao Estado anualmente, mesmo valor gasto na Previdência Social Divulgação
Nadine Nascimento
A
evasão, somada à sonegação fiscal de empresas brasileiras, chega a 27% do total que o setor privado deveria pagar em impostos no Brasil, o equivalente a cerca de R$ 500 bilhões. O alerta faz parte do informe anual da Organização das Nações Unidas (ONU) que destaca que o fenômeno impede que governos financiem serviços públicos. Na avaliação da entidade, para que os ganhos sociais possam ocorrer até 2030, os governos latino-americanos terão de investir mais. E, para isso, terão de elevar sua capacidade de arrecadação. Em alguns países da região, porém, a receita com impostos ainda representa menos de 20% do PIB. Em entrevista ao Brasil de Fato, a especialista em orçamento público do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) Grazielle David aponta que os principais motivos para a sonegação fiscal no Brasil ser tão elevada está nas leis flexíveis e na ausência de investimentos no combate ao problema. Brasil de Fato: Quais as principais origens da sonegação fiscal no Brasil? Grazielle David: Existem alguns estudos nacionais e internacionais, além desse da ONU, que aprofundam um pouco essas questões da evasão e da sonegação fiscal. Um grande grupo que sempre pesquisa sonegação fiscal no Brasil é o Sinprofaz, o Sindicato dos Procuradores da Fazenda. Há uns 10 anos eles divulgam anualmente uma avaliação da sonegação no país. É interessante ver que esse número da ONU está bem próximo das análises que o Sinprofaz já fazia. O último estudo deles, em relação ao ano de 2016, diz que a
sonegação fiscal fica em torno de 25% a 28% da arrecadação, o que fica na mesma linha da ONU. Além disso, quando se pensa não por proporção da arrecadação, mas pela proporção do PIB, o estudo do Sinprofaz diz que a sonegação chega a 10% do PIB nacional. Nesse mesmo estudo foi identificado ainda que os tributos mais sonegados são
500 devedores da dívida com a União são grandes corporações o ICMS, o principal tributo estadual, o Imposto de Renda e as contribuições previdenciárias. Outro grupo, que é internacional, o TX Justice Network, uma rede de justiça tributária, utiliza dados do Banco Mundial e observou que o Brasil era vice-campeão mundial na sonegação de impostos, com algo em torno de 13% do PIB. Um valor bem considerável. Já o estudo do GFI, Global Financial Integrity, que trabalha com informações de fluxos financeiros, conseguiu captar quais os mecanismos utilizados para promover evasão fiscal. Eles observaram que grande proporção - cerca de 80% dos fluxos financeiros - desse dinheiro tem relação com o setor privado e que o principal mecanismo utilizado é o subfaturamen-
to. Isso significa que quando as empresas vão fazer as notas fiscais, ou seja, informar seu faturamento, elas informam com um valor inferior e, assim, conseguem pagar tributos menores, já que muitos deles são sobre o valor de faturamento. Um grande exemplo prático disso é a Vale, uma das grandes devedoras do país, inscrita na dívida ativa da União. O Inesc fez um estudo sobre a mineradora e observou que a empresa vendia o ferro, que é seu principal minério exportador, a um preço abaixo do mercado internacional. Depois exportava para ela mesma, normalmente para um paraíso fiscal, e, a partir dali, revendia. Ganhando, dessa forma, duas vezes: primeiro, porque deixou de pagar os tributos sobre o faturamento e, depois, porque revende com o valor de mercado lucrando muito. Como esse valor que não é arrecadado poderia contri-
buir para os investimentos públicos? Em 2015, por exemplo, a sonegação chegou a R$ 500 bilhões, o equivalente a cinco vezes o orçamento da Saúde ou todo o orçamento da Previdência Social. Em um momento que se fala que a Previdência precisa ser completamente reformada e os direitos negados, se todo o valor da sonegação fosse recupera-
Sonegação equivale a 13% do PIB brasileiro Petrobras era o centro de uma política industrial que envolvia a utilização de uma grande riqueza descoberta, que é o pré-sal brasileiro do, toda a Previdência poderia ser paga. Quais as principais medidas a serem tomadas para um combate efetivo da sonegação no Brasil? O primeiro passo é revogar todas as leis que extinguem a punição de quem comete crimes tributários caso o pagamento do tributo seja realizado. Assim como qualquer outro crime, a sonegação deve
Contribua com a construção de um mundo mais justo e saudável para pessoas do campo e da cidade doando para o Centro Sabiá!
ser punida adequadamente, ao ponto de que não seja benéfico cometê-la. A sonegação entra dentro do planejamento tributário das empresas, principalmente das grandes, que têm capacidade de pagar caro por advogados, economistas e contadores que conseguem, com um planejamento tributário mais agressivo, incluir a sonegação como uma estratégia. Porque se eles deixam de pagar os tributos ao longo do ano investem esse valor e rende muito. E após cinco anos, se a sonegação não for descoberta, prescreve. Também seria muito importante trabalhar a questão da fiscalização. Temos a Receita Federal e os fiscos estaduais, muitas vezes, com pouca estrutura. Na sua opinião, há uma má vontade política em aprimorar os mecanismos de combate à sonegação? Parece que sim. Sempre que a gente traz essa possibilidade, ela é encarada como impossível de ser realizada. Os crimes tributários, como a sonegação, deixaram de ser crime de fato porque perderam a punição a partir de 1996, um ano de grandes medidas de austeridade no país. Os 500 maiores devedores na dívida ativa da União são grandes corporações. O poder econômico está muito ligado com o poder político.
Caixa Econômica Federal Banco Número: 104 Agência: 0923 Operação: 013 Conta Poupança: 17341-0 CNPJ: 41.228.651/0001-10
CULTURA | 12
Crônica: O silêncio de Luiza em agosto mais se chove, como agora chove, e o Velho sente aquilo que Ele, que pouco conhece o Velho, imagina ser uma dor aguda, uma fisgada no lado direito de um corpo que a compensa do lado esquerdo e manca, acostumado e torto, diante do vazio. Desde que, após a separação, Ele se mudou para o apartamento que sua mãe lhe deixou, previne-se para as tardes de sábado. Corta as unhas, normalmente das mãos. Limpa as plantas, mesmo os cactos, como sua mãe fazia para, ele supunha, amenizar a espera. Passeia pelos livros de Luísa que, por desacordo ou vontade, entraram nas caixas dEle na madrugada em que ele as fechou. Arrepende-se de não ter trazido consigo o disco de Caetano que Ele deu a ela numa noite de junho, sem data especial, apenas porque Luísa gostava de bolero e Caetano havia, ainda que sob as reprovações e implicâncias dEle, gravado “La Barca”.
Àquele sábado, fazia um mês e cinco dias que não se viam ou falavam. Ontem, entretanto, um cigarro, uma dose, qualquer desculpa, Ele telefonou. Ligou às 11h24. Luísa não atendeu. Ligou às 15h35. Luísa não atendeu. Ligou às 22h12. Luísa não atendeu. “Porque yo seguiré siendo el cautivo de los caprichos de tu corazón”. Hoje, Ele precisou que um café o acompanhasse até o sofá. Que jeito? Agora, sentado, pernas dobradas uma sobre a outra, olhos baixos deitados e cegos sobre a capa do romance de Zambra que Luísa trouxe, para Ele, de uma ida avulsa à livraria na manhã em que Ela acordou e não havia bem o que dizer, Ele apenas espera o Velho terminar. A dor do Velho terminar. “Hasta que tú decidas regresar”.
Literatura
Música
Artes Plásticas
Sarau poético no Pasárgada
Encontro de Mestres de Maracatus
TEA inicia ciclo de formações de 2017
A partir do dia 10 de março, às 17h, toda segunda sexta-feira do mês, o Espaço Pasárgada, localizado na Rua da União, 263, Boa Vista, no Recife, recebe o projeto “Saraus em Pasárgada”. Nesta edição, haverá recital do livro “Carnaval” escrito por Manuel Bandeira em 1919. A entrada é gratuita e todo mundo pode recitar.
No dia 25 de março, acontece o 3° Encontro de Mestres de Maracatus da Zona da Mata Norte de Pernambuco, em Nazaré da Mata. O evento começa às 20h no Parque dos Lanceiros e tem a proposta de ouvir os mestres e festejar a cultura da região. Acontecerão rodas de diálogo e apresentações de dança.
O Teatro Experimental de Arte de Caruaru recebe até o dia 10 de março as inscrições das pessoas interessadas em participar do Curso de Iniciação Teatral. A inscrição pode ser feita pelo site:http://www.feteag.com.br/. A seleção acontece em duas etapas e as oficinas começam no dia 18 de março, na sede do teatro em Caruaru.
Por Roberto Efrem Filho* Ele cortou as unhas dos pés. Aguou a comigo-ninguém -pode, os cactos, as suculentas, a hortelã de folha grossa. Devolveu a poesia completa de Manuel Bandeira à estante. Passou o café no coador. Só então, como se enfim preparado, sentou-se no sofá da sala e, com a xícara de cerâmica às mãos, sentiu-se só. Dois andares acima, o Velho do Santana verde ouve “La Barca”. Uma vez após outra. E mais uma e incessantemente “En la primera noche que te amé”, à voz de Luis Miguel, sempre às tardes de sábado,
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Recife, 10 a 23 de março de 2017
* Roberto Efrem Filho – ou Beto, como gosta – é do Recife e, vez ou outra, desajeita-se na palavra.
AGENDA CULTURAL
Lutadora do Povo
Rosa Luxemburgo
N
ascida no dia 5 de março de 1871, Rosa Luxemburgo foi uma grande revolucionária e tem sido uma grande inspiração. Grande pensadora e intelectual rigorosa, nos legou importantes reflexões teóricas sem abrir mão da ação política. Polonesa de nascimento e internacionalista convicta, esteve ao lado da classe trabalhadora de todo o mundo. Por isso, condenou veementemente as guerras e seus apoiadores. Ela foi uma oradora fervorosa. Mulher apaixonada. Prisioneira graças a seu engajamento. Criou um jornal, A Bandeira Vermelha, para defender o comunismo e divulgar suas ideias de transformação. Teve coragem de romper com a sociodemocracia e fundar, com outros companheiros, a Liga Spartacus, embrião do Partido Comunista Alemão. Foi assassinada, em 1919, por suas convicções políticas. Sobrevive até hoje graças a seu exemplo de dedicação a um ideal. Rosa e suas companheiras de luta vivem em nós. Texto escrito e publicado pelo Núcleo Piratininga de Comunicação no seu livro-agenda de 2017 em homenagem às mulheres revolucionárias.
Brasil de Fato PE
Variedades CULTURA l| 13 13
Recife, 10 a 23 de março de 2017
Ecoando a Revolução...
1817.As comemorações do bicentenário da Revolução Pernambucana começaram no dia 06 de março e seguem durante o ano Divulgação
Elen Carvalho
U
m evento importante para Pernambuco e para o Brasil completa seu bicentenário neste mês de março: a Revolução Pernambucana. Por quase três meses, Pernambuco foi uma república independente. Era um período de insatisfações com a alta cobrança de impostos por parte da Coroa. Em 1810, já havia articulação dos pernambucanos para dominar os portugueses. O estopim foi o assassinato de um superior do reino pelo capitão José Barros de Lima, conhecido como Leão Coroado.
Foi na nossa terra onde primeiro aconteceram grandes Revoluções O quartel foi tomado e o então governador de Pernambuco, Caetano Montenegro expulso do estado, após se esconder no Forte do Brum. No dia 19 de maio, 8 mil homens cercaram o estado e executaram
O vitral fica no Palácio do Campo das Princesas
os revolucionários em praça pública. Os ecos de tal Revolução ressoam na nossa cultura até hoje. Lepê Correia, escritor e especialista em história de Pernambuco, observa que “1817, para a cultura pernambucana, é muito importante, pois o sentimento de bravura, de defesa e de pertencimento a terra foi algo que ficou muito palpável para os brasilei-
ros e, principalmente, para os pernambucanos. Foi na nossa terra onde primeiro aconteceram grandes Revoluções, onde primeiro se percebia o sentimento de pertencimento ao local e o entendimento de que era preciso modificar e se libertar do governo português”. Mariana Reis, jornalista e pesquisadora de comunicação e cultura, afirma que “a gente tem muito dessa he-
rança da revolução pernambucana, que influenciou, por exemplo, a própria bandeira do estado, nomes de ruas e avenidas, como a Av. Cruz Cabugá e a Gervásio Pires. No campo da cultura, e mais na última década, a Revolução virou romance histórico, com o livro A Noiva da Revolução, do jornalista Paulo Santos, e quadrinhos, na publicação A Morte e A Morte de Frei Caneca, da Editora Livrinho de Papel Finíssimo. Na música, o levante é lembrado, por exemplo, com as letras de Lenine, nas composições “Leão do Norte” e “Minha Cidade”, que exaltam o Pernambuco guerreiro e o papel de Frei Caneca”. Na Avenida Cruz Cabugá, fragmentos dessa história ainda podem ser apreciados pelas pessoas. Na esquina com a avenida Norte, está localizado o cemitério dos Ingleses, em terreno doado pelo governador da capitania, em 1814, a pedido do ingleses para o príncipe Dom João. Lá, provavelmente está sepultado Henry Koster, uma testemunha ocular de 1817. Justamente ao lado do cemitério, localiza-se um mural de azulejos de 45 metros dedicado à memória das Revoluções Pernambucanas. Atualmente,
Reforma da Previdência é uma violência contra as mulheres 8 de março Dia Internacional da Mulher
Na música, o levante é lembrado, por exemplo, com as letras de Lenine, nas composições “Leão do Norte” e “Minha Cidade contudo, o mural apresenta marcas de desgaste. Uma série de atividades estão programadas para acontecer durante o ano aqui em Pernambuco. No dia 12 deste mês, será aberta a exposição “1817 - Revolução Republicana” no Museu da Cidade do Recife Forte das Cinco Pontas, bairro de São José. Sem data definida ainda, placas de azulejo serão colocadas em locais de relevância para a Revolução, como o Forte do Brum e a Praça da República. Também será criado um roteiro educativo e turístico, com visitas guiadas, para visitar esses pontos.
/bancariospe
www.bancariospe.org.br
14 | VARIEDADES
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Recife, 10 a 23 de março de 2017
Horóscopo 10 a 23 de março
Alguma surpresa na sua vida está a caminho. Separe um tempo na sua rotina para cuidar mais da sua saúde e de sua espiritualidade pois será importante estar bem para começar novos projetos.
Áries :
Momento bom para se colocar no mundo, sair mais, falar mais do seu trabalho, estar com pessoas queridas e também se permitir novos grupos e experiências. Evite nesse período mudanças radicais, pense bem antes.
Touro:
Gêmeos:
Câncer:
Suas atividades profissionais terão mais importância nesse período, e além do reconhecimento, você buscará mudanças que lhe deixe mais motivado. Deve reavaliar o sentido de algumas relações próximas. Você tá querendo algo novo em sua vida, e pode ser um bom momento para começar a planejar uma mudança, um trabalho novo, uma viagem, um novo relacionamento? Para isso dar certo, conte com pessoas queridas. São tempos de cuidar mais de si, de se conhecer mais e de valorizar suas experiências pessoais, inclusive de novas descobertas no amor. E nesse meio, também vale começar a pensar em investir em novos estudos.
Leão:
Uma parceria nova deve surgir e pode ser para lhe ajudar na vida profissional mas também pode ser que alguém esteja batendo na portinha de seu coração. Tempo de permitir novas experiências. Cuidado com novos gastos! Virgem:
Libra:
É essencial que você se organize em cima de uma rotina para poder dar conta de tudo com menos angústia. Se precisa de um novo tratamento ou de cuidado espiritual, é esse o momento para priorizar isso.
Escorpião:
Esse é um ótimo momento para você investir em toda sua potencialidade, que se expressa em quem você é, no seu trabalho, e novos projetos que já vem lhe provocando. Invista nas suas paixões.
São dias que você se perceberá mais caseiro e curtindo isso, pois deve estar buscando fazer apenas o que lhe faz muito bem. Isso também vale para novos formatos para Sagitário: sua relação amorosa.
Capricórnio:
Você está procurando algo novo para sua vida e aproveite para se dedicar a essa procura pelo mundo, com viagens, cursos, trabalhos, amores. Questione algumas certezas e aproveite mais o que escuta.
Aquário:
Apesar da clareza dos seus projetos deve sentir mais fortemente os limites externos para dar andamento a uma parte deles. Cuidado que alguns desentendimentos com pessoas próximas podem acontecer.
Peixes:
Nesses últimos tempos você teve experiências muito intensas e agora deve estar com mais clareza do que está vivendo e o que deseja para projetar. Está mais sensível e criativo, mas não esqueça também de ser prático.
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VARIEDADES l15 15
Recife, 10 a 23 de março de 2017
Olá, amiga! Quando fico sem tomar café minha cabeça dói muito e sinto tontura. Posso estar viciado? Fabiano Henrique, 26 anos, publicitário. Caro Fabiano, o café é a bebida mais consumida no mundo depois da água. Muitos estudos mostram que ele faz bem para a saúde, melhora o humor, reduz a fadiga e a depressão, aumenta a concentração e a energia, reduz o risco de doenças cardiovasculares. Entretanto, como todo exagero, café em excesso também pode fazer mal. Se a pessoa consome mais de 4 xícaras ao dia, pode ter uma certa dependência. Nesses casos, quando ficam em abstinência podem ter efeitos como dor de cabeça, tonturas, tremores e ansiedade. Mas isso não é um vício como no caso das drogas. Uma redução gradual da ingestão de cafeína pode fazer com que os sintomas desapareçam, e aí o consumo diário em menor quantidade pode ser mantido sem problemas.
Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Sofia Barboa | Aqui você podeperguntar o que quiser para nossa Amiga da Saúde Coren MG 159621-ENF
ESPORTES
NA GERAL
Amanda Nunes leva “Oscar” do MMA
A
lutadora brasileira Amanda Nunes, atual detentora do cinturão do UFC na categoria peso-galo (até 61 kg) foi eleita a lutadora do ano pela World MMA Awards, premiação promovida pela revista Fighters Only. A baiana de 28 anos é dona de um cartel de 14 vitórias e 4 derrotas na franquia Ultimate Fighter Championship (UFC). Entre os homens, Conor McGregor levou a melhor entre as categorias premiadas.
Transexual brasileira é alvo de polêmica na Itália
A
brasileira Tifanny Abreu, jogadora do Golem Palmi, é a primeira transexual a atuar no vôlei italiano. No Brasil e na Europa jogou profissionalmente entre homens, durante a transição hormonal. Há um mês estreou entre mulheres. Dirigentes de outras equipes reclamam que Tifanny possui “vantagens físicas”. Ela rebate: “todos eles tentaram me contratar”. A federação afirma que a taxa de testosterona dela está abaixo da média das mulheres e que sua vantagem em quadra é por sua qualidade como jogadora.
Campeonato Pernambucano Feminino adiado
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or motivos não esclarecidos, o Campeonato Pernambucano feminino de futebol teve seu início adiado. Previsto para começar nos dias 7 e 8 de março, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, a abertura do torneio foi adiada para o dia 30 de abril. A Federação Pernambucana de Futebol (FPF) alega que a mudança tem por objetivo dar mais tempo para os clubes regularizarem as atletas. A mudança de data foi aprovada pelos oito clubes que disputarão o campeonato.
A
Flamengo de Arcoverde na Série D
cabou o Hexagonal da Permanência mais equilibrado dos últimos tempos. Após 10 rodadas a diferença entre o líder Flamengo de Arcoverde e o rebaixado Serra Talhada (5º) foi de apenas 1 ponto. Cinco das 6 equipes chegaram à última rodada sonhando com a Série D e correndo risco de rebaixamento. Pior para o Serra: derrotado pelo América (3º), foi rebaixado no saldo de gols. O Flamengo só precisou do 2x2 contra o Afogados (2º) e vai jogar seu primeiro campeonato nacional: a Série D, junto a Belo Jardim e Central.
16 | ESPORTES
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Recife, 10 a 23 de março de 2017
Elas jogam ou ninguém joga REGULAMENTO. Determinação obriga clubes brasileiros a terem equipe de futebol feminino, mas ainda há risco de terceirização Divulgação/Náutico)
Vinícius Sobreira Em fevereiro a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou o documento que, obedecendo determinação da FIFA, obriga os clubes brasileiros terem também equipes femininas de futebol. Pelas novas regras só participarão de competições nacionais e continentais masculinas os clubes que possuírem também equipes femininas. Diferentes prazos foram dados para clubes das séries A, B, C e D. Dentre os 20 clubes que disputam a principal divisão do futebol brasileiro, apenas 8 mantém equipe feminina. Pelo novo regulamento da CBF, os times femininos devem estar disputando competições oficiais das federações estaduais e/ou da CBF. As equipes femininas de base também devem estar em competições oficiais e os treinadores devem ter certificado da CBF.
Entre os pernambucanos, Náutico é o único clube que tem categoria de base feminina.
Além de profissionais qualificados para trabalhar com as jovens, os clubes devem garantir a formação escolar e dar suporte médico às jovens. O regulamento cobra que os clubes tenham no mínimo uma equipe de categoria de base feminina, regra mais frouxa que para a categoria masculina, onde o mínimo é de duas equipes da base.
Terceirização
A MP do Futebol, sancionada por Dilma Rousseff em 2015, cria o PROFUT, que facilita a negociação de dívidas
BOAS NOVAS
Filipe Spenser Se na coluna passada o cenário era desolador no Náutico, ao que parece as duas semanas que transcorreram fizeram muito ao clube de Rosa e Silva. De fato há muitas boas novas a serem comemoradas. Primeiramente a renovação do patrocínio da Caixa proporciona, por ora, uma tranquilidade financeira. Em campo, a aposta em Milton Cruz deve se mostrar acertada. Embora novo enquanto treinador, é um profissional experiente que teve a rara opor-
tunidade de trabalhar com excelentes técnicos – Muricy, Ozório e Autuori, para citar só alguns exemplos. Outra boa novidade são as mudanças promovidas no time. Do esquema da moda, 4-1-41, para um modelo de jogo, 4-4-2, de mais fácil compreensão pelos atletas. Por fim, a recuperação de atletas com potencial para serem titulares, Anselmo e Maylson, dão esperança para observarmos um crescimento técnico da equipe.
dos clubes com o Estado e, pedindo contrapartidas para os clubes que aderirem. Uma contrapartida é a obrigatoriedade de manter equipes femininas a partir de 2017. Alguns clubes que aderiram ao PROFUT, no entanto, “driblaram” as regras e mantiveram equipes de maneira “terceirizada”. Um mau exemplo foi o Santa Cruz. Dias após a divulgação do RLC veio à tona a situação crítica em que se encontrava o time feminino do Tricolor. Com salários de R$
Dentre os 20 clubes que disputam a principal divisão do futebol brasileiro, apenas 8 mantém equipe feminina 250 mensais e atrasados, as atletas eram alojadas em condições precárias e recebiam apenas duas refeições diárias. O clube divulgou nota afirmando desconhecer a situação, pois o time feminino era terceirizado. A nota diz que o clube Coral garantiu apenas “o cumprimento da burocracia estabelecida pela Federação Pernambucana e CBF”. O modelo infelizmente continua permitido pelo
VALE MAIS DO QUE SE IMAGINA
Stella Nascimento O Santa Cruz está che- mento dos testes. Espegando na reta final da ro que tenhamos literalfase de grupos do Nor- mente um Clássico das destão. Chegou a hora Emoções, já que o Náuda verdade para o gru- tico ainda tem chances po de Vinícius Eutró- de classificação, mesmo pio, que no momento li- que remotas. Caso vendera o Grupo A da com- ça, os tricolores anulam petição, com 10 pon- as chances alvirubros de tos. Como sabemos, to- classificação. Além disso dos os primeiros colo- o ataque Coral é o mecados e os três melhores lhor do Nordestão, com segundos colocados se Halef Pitbull na vice-arclassificam para a próxi- tilharia. A meta e obrigama fase. O Tricolor tem ção do time, como atual pela frente o Náutico, campeão, é a classificana Arena de Pernambu- ção como 1º colocado co, e o Campinense, no do grupo. Se vai aconteArruda. Já passou o mo- cer? Veremos.
novo regulamento da CBF. O RLC afirma textualmente (na página 22) que o clube não tem obrigatoriedade de montar uma equipe feminina, podendo “manter acordo de parceria ou associação com um clube que mantenha uma equipe feminina principal estruturada”. O gol está aberto para a terceirização, que pode manter o futebol feminino em condições bastante precárias. O Regulamento de Licença de Clubes passa a valer a partir de 2018 para clubes que disputam a Série A, a partir de 2019 para clubes da Série B, 2020 para a Série C e 2021 para a Série D. As agremiações que descumprirem total ou parcialmente os critérios ou prazos de licenciamento receberão, inicialmente, uma advertência; seguida de multa; retenção de cotas, premiações e crédito; até impedimento de contratar ou transferir atletas; e finalmente revogação da licença.
COFRES E SONHOS ABERTOS Daniel Lamir
A crise financeira parece não ter chegado na Ilha. É difícil fazer os cálculos e correções monetárias dos elencos leoninos nos últimos 111 anos. Mas a presença, no elenco atual, das duas contratações mais caras da história do clube é um termômetro significativo de que os cofres não estão trancados. Apesar do dinheiro “falar” muito alto nos bastidores do futebol, nas quatro linhas nem sempre há uma relação direta entre placar e salários.
Ou seja, mais um motivo para deixar o futebol ainda mais atraente. O problema em questão é que estamos perdidos num sentimento consumista que cobra que os milhões de reais sejam convertidos de maneira direta nas artilharias de André e Lenis. É óbvio, mas vale lembrar: os zeros à direita não elevam esses dois jogadores a uma categoria de superumana. Agora, desumana é desigualdade de salário de atletas no país.