BdF - Edição 30

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ENTREVISTA | 11

PERNAMBUCO | 12

Frida Kahlo Na semana do aniversário

João Pedro Stédile Em entrevista para o Brasil de Fato

pintora e militante mexicana o BdF retrata sua vida na seção Lutadora do Povo

Pernambuco

Recife, Recife, 07 a 13 de julho de 2017

Pernambuco,o dirigente nacional do MST, falou sobre agroecologia, reforma agrária popular e o aumento da escalada da violência no campo.

ano 2

edição 30

distribuição gratuita

Com lucro de R$ 70 milhões, Copergás pode ser vendida pelo Governo

Sindpetro PE/PB

CIDADES| 06 MUNDO | 7 Papa Francisco elogia sindicatos e clama por novo pacto social

MUNDO | 8 Os impactos negativos da Lava-Jato na economia nacional

ESPORTES | 15 Coletivos e movimentos de torcedores do Santa Cruz pautam política e futebol no estádio.


2 | OPINIÃO

Brasil de Fato PE

Recife, 07 a 13 de julho de 2017

EDITORIAL

As consequências do desemprego e das reformas para a juventude

CRISE. Taxa de desemprego na juventude chega a 28,8% A té pouco tempo atrás, as políticas públicas de inserção social, ainda que bastante tímidas, animaram boa parte dos jovens do grande Recife e das cidades interioranas a sonharem mais alto. Sendo os primeiros da família a entrar na universidade ou acessando os programas de primeiro empre-

timos 16 anos para se inserirem no mercado de trabalho, com uma taxa de desemprego que chega a 28,8%, entre a faixa etária de 18 a 24 anos (IBGE, 2017), a juventude vêm sofrendo as consequências de uma série de projetos antipopulares. Entre eles, a diminuição dos recursos destinados à edu-

a juventude vem sofrendo as consequências de uma série de projetos antipopulares go, a busca dos jovens por oportunidades de melhoria estava deixando de ser um sonho inatingível. A diferença do momento atual é que em pouco mais de um ano após o golpe, já foram muitos os ataques e as derrotas aos direitos dessa população. Além de enfrentarem a maior dificuldade dos úl-

cação e as reformas em curso da previdência social e trabalhista, do atual governo Michel Temer, apoiado pela maioria do Congresso Nacional e por setores conservadores da sociedade civil, especialmente do empresariado. Os impactos dessas reformas poderão agravar ainda mais o cenário de in-

certezas e desigualdades enfrentadas pela juventude pernambucana no dia a dia, pois será afetada especialmente a parcela da população que está em busca do primeiro emprego ou que se inseriu recentemente no mundo do trabalho. A reforma trabalhista, ao flexibilizar os contratos, retira garantias e proteções fundamentais dos trabalhadores e trabalhadoras, quadro que se agrava ainda mais entre os jovens negros e as mulheres, historicamente discriminados nesse setor. Já a reforma da previdência irá pesar como mais uma ameaça aos direitos dessa geração, pois considerando que há uma maior rotatividade nos postos de trabalho ocupados pelos jovens, o tempo de permanência no mercado de trabalho formal para obter a aposentadoria integral se torna superior aos 49 anos. Em outras pala-

Expediente Brasil de Fato PE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país, com edições regionais em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Pernambuco. O Brasil de Fato PE circula quinzenalmente às sextas feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

REDE SOCIAL: facebook.com/brasildefatopernambuco Correio: brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br

Edição: Monyse Ravenna (DRT/CE 1032) | Redação: Catarina de Angola, Daniel Lamir, Elen Carvalho e Vinícius Sobreira Colaboração: André Barreto, Daniel Lamir, Filipe Spencer, Francisco Marcelo, Halina Cavalcanti, Stella Nascimento, Roberto Efrem Filho, Alan Tygel Revisão: Mariana Reis|Distribuição e Administração:Iyalê Tahyrine|Diagramação: Diva Braga Conselho editorial: Alexandre Henrique Bezerra Pires, Ana Gusmão, André Barreto, Aristóteles Cardona Jr., Bruna Leite, Bruno Ribeiro, Camila Castro, Carlos Veras, Catarina de Angola, Doriel Saturnino de Barros, Eduardo Mara, Elisa Maria Lucena, Geraldo Soares, Glaucus José Bastos Lima, Henrique Gomes, Itamar Lages, Jaime Amorim, José Fernando de Melo, Laila Costa, Lívia Milena, Luiz Antonio da Silva Filho,Luiz Antonio Lourenzon, Marcela Vieira Freire, Marcelo Barros, Marcos Aurélio Monteiro, Margareth Albuquerque, Maria das Graças de Oliveira, Marluce Melo, Moisés Borges, Patrícia Horta Alves, Paulette Cavalcante, Paulo de Souza Bezerra, Paulo Mansan, Pedro Rafael Lapa, Roberto Efrem Filho, Rosa Sampaio, Sérgio Goiana, Suzineide Rodrigues, Valmir Assis| Tiragem: 40 mil Exemplares

tos que colocam em risco a vida e os direitos da juventude toma corpo e formas diversas de resistências. Ao contrário do atual gover- Com a clareza de que no, que trabalha nos basti- só a mobilização popu-

vras, mesmo para quem começar a trabalhar aos 16 anos, a idade de aposentadoria será superior aos 65 anos.

Os impactos dessas reformas poderão agravar ainda mais o cenário de incertezas e desigualdades enfrentadas pela juventude dores do Congresso Nacional para aprovar essas reformas de forma aligeirada e sem discussão com outros atores sociais, para operar mudanças nesse cenário, eventos políticos e culturais nas periferias, escolas e universidades movimentam os jovens. Através de entidades, movimentos sociais e jovens artistas, cada vez mais, o enfrentamento popular contra os proje-

lar pode barrar as reformas do governo golpista, é fundamental continuar convocando os jovens, as

mulheres e homens trabalhadores, em cada bairro, local de trabalho, escolas, universidades e igrejas, dispostos a lutar pelo restabelecimento da democracia através das eleições diretas, e permitir que o povo tenha o direito de decidir os rumos do país!

Charge


Brasil de Fato PE

Recife, 07 a 13 de julho de 2017

GERAL l 3

Scotthuehnerkrisp/ Flickr Commons

Frase da Seman a Foi uma grande vitória esse título, nesse momento em que a Democracia está sendoconstantemente atacada e um dos ataques mais graves tem sido a criminalização dos movimentos sociais e da organização do povo brasileiro Marília Arraes, vereadora do Recife pelo PT na cerimônia de entrega do Título de Cidadão Recifense à Jaime Amorim, do MST

Qual a semelhança entre a luta pelas “Diretas Já” em 1984 e 2017?”

N

os anos 1980 a gente estava na luta, nas ruas, tentando a abertura do processo democrático. O que estamos assistindo na atual conjuntura é todo um desmonte de conquistas sociais e políticas que tivemos nos últimos anos. Se assemelha, portanto, à necessidade de o povo voltar às ruas na luta pelas diretas, porque estão sendo cerceados a cada dia os direitos de representação e de organização. Então, a luta pela democracia não mudou, porque ela não se concretizou nem se consolidou no país, e a gente precisa retomar isso como uma garantia, inclusive, para a sobrevivência dos próprios movimentos sociais organizados. Então, a luta se assemelha nisso, tudo desencadeia no direito à livre manifestação e luta pela democracia. Márcia Vieira, professora da rede pública de ensino.

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mandou

BEM Divulgação

LGBT Sem Terra

M

ilitantes de diversos estados brasileiros realizaram, entre os dias 29 de junho e 03 de julho, o I Curso de Formação de Militantes LGBT Sem Terra, em Pernambuco. Foram debatidas questões como sexualidade humana, patriarcado, história do movimento LGBT e os desafios na luta pela Reforma Agrária Popular

mandou

MAL

Divulgação

Impunidade sta semana completaram cinE co anos que o jornalista Valério Luiz de Oliveira foi assassina-

do na porta da então Rádio Jornal 820 AM, em Goiânia, onde trabalhava como comentarista de futebol. As investigações concluíram que o crime foi encomendado por Maurício Borges Sampaio, em razão das críticas feitas à diretoria do Atlético Clube Goianiense. Até hoje o acusado de ser o mandante do crime não foi a júri popular.


4 | GERAL Mundo

Recife, 07 a 13 de julho de 2017

Escola de Formação Feminista

Brasil de Fato PE

Seminário Nacional da Juventude Camponesa

Pastoral da Juventude Rural (PJR) está realiMarcha Mundial das Mulheres de A Pernambuco - Núcleo Soledad Barre- A zando, durante essa semana, o Seminário Natt, realiza sua II Escola de Formação Femi- cional da PJR, em João Pessoa. O encontro, que

nista. O curso será dividido em três etapas. A primeira acontece neste sábado, 08 de julho, das 8h às 18h, na sede da CUT/PE, Rua Dom Manoel Pereira, 183, Boa Vista (próximo à Unicap). As etapas seguintes estão previstas para os dias 29 de julho e 26 de agosto. Os principais conteúdos são o estudo sobre a formação da sociedade brasileira, a participação das mulheres em revoluções socialistas, a divisão sexual do trabalho e o projeto popular. Mais informações e inscrições (abertas até este sábado) através do e-mail mmmnucleosoledadbarrett@gmail.com.

ESPAÇO SINDICAL Golpe no Plano de Pensão dos trabalhadores

Conquista dos Rodoviários de Recife

rabalhadores da ARLANodo mundo ficou de T XEO (antiga COPERBO/PE- T olho na greve dos rodoTROFLEX) denunciam que es- viários que começou na últão mexendo em seu fundo de pensão. A empresa anunciou recentemente que o plano de pensão dos trabalhadores está sendo transferido da administração da PETROS/LANXESS para a MULTIPENSIONS BRADESCO. A manobra administrativa transfere 1,2 bilhões de reais de uma gestão sem fins lucrativos para a iniciativa privada, o que configura o desmonte da gestão pública e o enriquecimento das corporações bancárias apoiadoras do golpe no país. Procure seu sindicato, mobilize-se! Não permita que tomem seus direitos!

tima segunda-feira (03.07). A greve encerrou nessa quarta-feira (05.07) com o ganho da categoria de 6% de reajuste salarial e 8% de aumento no vale-refeição já aplicados neste mês de julho. A justiça ainda interveio sobre a tentativa de punição dos trabalhadores rodoviários que teriam seus salários descontados pelos dias de paralisação, determinando que não houve ilegalidade no processo de greve. Parabéns a categoria por essa vitória! Força na luta!

teve início no último dia 05 de julho, se encerra nesta sexta-feira, 07 de julho, e contou com a participação de cerca de 50 jovens. A programação contou com um primeiro momento de análise da atual conjuntura política e agrária brasileira, seguida de reflexões e estudos dos aspectos da Teologia da Libertação e do recente pronunciamento do Papa Francisco, que afirmou que não pode haver “nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos”.

Direitos de Fato Reforma trabalhista: o que está em jogo? partir da coluna desta semana iniciaremos uma série sobre a Reforma A Trabalhista, buscando debater os seus principais pontos de mudança na legislação trabalhista e impactos na relação capital-trabalho. Tal refor-

ma está atualmente em discussão e votação no Senado Federal, sob o número PLC 38/17, já tendo sido aprovada na Câmara de Deputados (PL 6787/16). Inicialmente enviada pelo governo Temer, no final do ano de 2016, para regulamentar a prevalência do negociado sobre o legislado, tal projeto de lei sofreu profunda modificação na Câmara, passando a modificar a CLT, principalmente nos seguintes pontos: criação do contrato de trabalho intermitente, dispensa coletiva sem participação de sindicato, demissão voluntária individual, contrato de jornada parcial, fim da contribuição sindical, etc. Vinda sob o argumento do empresariado de “modernizar” as relações capitaltrabalho, em verdade, a reforma trabalhista poderá ser um instrumento de retirada de direitos sociais da classe trabalhadora, presentes na Constituição e na CLT, principalmente relativos à jornada de trabalho e remuneração, direitos conquistados com muita luta ao longo das últimas décadas, além de enfraquecer o movimento sindical. *André Barreto é advogado trabalhista em Recife

Para entrar em contato e tirar dúvidas mande um email para contato.pe@brasildefato.com.br ou um whattsapp para 8199060173


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OPINIÃO I 5

Artigo Ainda sobre o fim das Farmácias Populares

Artigo Cinquenta anos da invasão de Israel à Palestina

Aristóteles Cardona Júnior*

Jéssica Barbosa*

no mês passado so“ciasEscrevi bre o fim das quase 500 farmáda rede própria do Programa

Farmácia Popular em todo o país. Apesar das semanas passadas, o incômodo permanece. Não consigo aceitar como natural que um governo retire direitos da população como tem feito o governo Temer em todas as áreas. Sobre o fim do Farmácia Popular, o governo não ficou na promessa. Anunciou e está cumprindo: no Diário Oficial da União do dia 3 de julho foi publicada a portaria nº 1630, que desabilita 236 Unidades da Farmácia Popular em todo o país. Em Pernambuco, as populações de Petrolina, Araripina, Gravatá, Caruaru, Goiana e Camaragibe já começam a sofrer o grande impacto deste fechamento. O Programa, criado no início do governo de Lula e fortalecido na gestão de Dilma, tem sido um dos programas mais bem avaliados nos últimos anos. E não é para menos. Foram milhões de brasileiros e brasileiras beneficiados. A rede própria do programa, exatamente a que está sendo fechada agora, realizou no último ano cerca de 150 mil atendimentos só no Estado de Pernambuco. Os números dimensionam o impacto deste fechamento. São 125 medicamentos disponíveis na rede própria da Farmácia Popular. Já na rede conveniada de Temer são apenas 42. Na rede própria há 3 vezes mais opções que agora deixam de ficar à dis-

posição da população. Alguns antibióticos importantes como Azitromicina e Amoxicilina estavam disponíveis na rede própria que está sendo fechada, mas não compõem o leque de opções na rede conveniada. Apesar de todas estas evidências, o governo de Temer segue mentindo e anunciando em sua propaganda oficial que não está acabando com nada. Segundo as estatísticas recentes da Pesquisa Nacional por

Desde que Temer assumiu, nosso SUS não tem tido um dia de descanso Amostra de Domicílios (Pnad), é a população de menor renda que faz mais uso das políticas de fornecimento público de medicamentos ou de subsídio à compra. Não é difícil perceber que é a população mais pobre que sofrerá com impacto do fechamento da rede própria da Farmácia Popular. Quem sempre teve a possibilidade de comprar medicamentos de forma tranquila não faz ideia do peso deste gasto no bolso da família brasileira. O que falta é empatia. Falta compromisso. Falta o sentimento de responsabilidade com o povo brasileiro. Mas como esperar empatia, compromisso e responsabilidade de um governo resultado de um golpe e que não recebeu um voto sequer? *Aristóteles Cardona Júnior é Médico de Família no Sertão pernambucano, professor da Univasf e militante da Frente Brasil Popular

de Pernambuco.

mês de junho tem signifiO cado importante para os palestinos. No dia 5 de junho

completaram-se 50 anos desde que Israel, após a Guerra dos Seis Dias, invadiu os territórios palestinos. Desde então há uma crescente militarização da vida nesses territórios, inclusive com aprisionamento de crianças a partir dos 12 anos. É impossível falar da vida nesse território sem falar das diversas privações que a situação causa às pessoas de nacionalidade palestina. A gritante diferença com que são tratados cidadãos e cidadãs israelenses e palestinos no território é hoje entendida como o Apartheid, dada tamanha semelhança com o sistema de segregação imposto na África do Sul, que diferenciava pessoas brancas e negras em seu direito a serviços públicos como moradia, transporte, saúde e, principalmente, acesso a bens comuns como água. Na Palestina, uma simples ida ao trabalho necessita diversas permissões de deslocamento e horas de espera em postos de revista (os check-points). Isso sem levar em consideração a forma violenta como essas pessoas são tratadas. A situação ainda é agravada desde 1948 com o tensionamento gerado a partir da expulsão de palestinos e palesti-

nas de suas casas por conta da violência. Hoje são mais de 5 milhões de pessoas refugiadas que são atendidas pela UNRWA, um organismo da ONU exclusivo para tratar da assistência a refugiados da Palestina. São vidas e famílias repartidas que aguardam definição sobre seus retornos para casa. Quando falamos do território da Faixa de Gaza, não pode-

Hoje são mais de 5 milhões de pessoas refugiadas mos deixar de mencionar que o lugar é considerado uma prisão ao ar livre. Com a atual política israelense de bloqueio da Faixa de Gaza, a taxa de pobreza aumentou para 65%. Hoje, 80% de sua população depende de ajuda humanitária internacional para necessidades básicas diárias. As crises elétricas são crônicas na região e, nos melhores dias, só se tem luz por 4 horas seguidas. Isso afeta a vida de 1,9 milhão de pessoas, pois não há eletricidade para o funcionamento de hospitais, escolas ou abastecimento de água. É preciso falar sobre essa ocupação. Neste mês de junho, diversas ações de solidariedade ao povo palestino foram realizadas nas redes sociais e nas ruas do mundo todo. É preciso devolver a dignidade a essa população e sua liberdade para decidir seus próprios rumos. * Feminista, Advogada, Assistente da Equipe de Direito das Mulheres da Actionaid Brasil


6 | BRASIL

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Dinheiro que a Lava Jato pretende recuperar não é nem metade do rombo que causou ECONOMIA. Primeira reportagem da série Lava Jato e desindustrialização narra histórias de operários demitidos após o desmonte da Petrobras

Daniel Giovanaz,

do Brasil de Fato PR

iviane Neves GoV mes, 42 anos, está à procura de emprego. En-

carregada de andaime nas obras do estaleiro Rio Grande, no litoral gaúcho, ela trabalhava desde 2012 para a empresa Engevix Construções Oceânicas (Ecovix). Há sete meses, os patrões convocaram uma assembleia e anunciaram a demissão de 3,2 mil operários. Na lista de rescisões, além de Viviane, estavam o marido dela, Jonas Gomes, e o filho, Lucas Neves. A Engevix é uma das empreiteiras investigadas pela operação Lava Jato por pagamento de propina em contratos com a Petrobras. Desde o ano passado, o único dono da empresa é o engenheiro paranaense José Antunes Sobrinho. Denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa, ele foi absolvido pelo juiz Sérgio Moro em maio de 2016 e está solto. “Não tem mais emprego na cidade. Com o fechamento do estaleiro, todos os setores foram afetados”, lamenta Viviane. “Tem 200 pessoas atuando no estaleiro no momento, para manutenção apenas. Na época mais forte, eram doze mil”. Com base nos números divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e pelo MPF, o presidente da Confederação

Nacional dos Metalúrgicos (CMC-CUT), Paulo Cayres, calcula que a cada prisão decretada pela Lava Jato, 22 mil vagas de emprego foram destruídas. “Quando a gente diz que a Lava Jato só prejudicou o trabalhador, as pessoas nos julgam. Mas os prejudicados, realmente, são da classe operária”, explica a operária gaúcha. “Os grandes empresários continuam mantendo o luxo das suas vidas como faziam antes”. O inferno do desemprego Karina Benites, 29 anos, enxergava a indústria naval como uma possibili-

Lava Jato retirou pelo menos R$ 90 bilhões da economia brasileira e deve recuperar, no máximo, R$ 38,1 bilhões dade de realizar sonhos. Para quem trabalhava no manuseio de pescados por menos de R$ 13,00 ao dia, ser contratada pela Ecovix com todos os benefícios da CLT era “bom demais para ser verdade”. Contratada há dois anos e oito meses para trabalhar no estaleiro Rio Grande como ajudante, Karina aprendeu a soldar e a lidar com maçari-

co. Subiu vários degraus na hierarquia da empresa antes de ser demitida, em outubro de 2016. Com ela, outros 400 trabalhadores tiveram o contrato rescindido no mesmo dia. “Eu sou o pai e a mãe, a chefe da casa”, conta. “Tenho um gurizinho de dois anos, e ele é totalmente dependente de mim. Tento de todas as formas entrar no mercado de trabalho, mas não consigo. Nós tivemos o paraíso e agora fomos para o inferno”. A demissão de Vivia-

ne, Lucas, Jonas, Karina e milhões de brasileiros é resultado da inconsequência dos procuradores da Lava Jato, segundo o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. “E o governo não faz nada para recuperar essas empresas e seu acervo tecnológico, de experiência”, critica. “A minha estimativa é que, direta ou indiretamente, as operações Lava Jato e a Carne Fraca são responsáveis por 5 a 6 milhões de desempregados [de um total de 14,2 milhões]”. A paralisação de obras

e o consequente desemprego retiraram R$ 90 bilhões da economia nacional, segundo pesquisa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic) – sem considerar o impacto incalculável da entrega do pré-sal e da destruição da imagem do país no exterior. O MPF afirma que o valor total do ressarcimento pedido pela Lava Jato, incluindo multas, é equivalente a R$ 38,1 bilhões, ou pouco mais de um terço do rombo que causou. Anúncio

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MUNDO | 7

Papa Francisco elogia sindicatos e clama por novo pacto social

VATICANO. Texto foi endereçado aos delegados da Confederação Italiana Sindical dos Trabalhadores (CISL) no último dia 28 Presidência da República Portuguesa

teresses da sociedade se de Roma, na Itália, para o coloquem à frente do inBrasil de Fato teresse do capital. O Papa voltou a surpreender e Papa Francisco elogiou a atuação das envoltou a criticar o tidades sindicais como modelo de capitalismo uma forma de construir o exploratório e especu- novo pacto social. lador em voga no munA mensagem de Frando todo. Para Sua Santi- cisco foi proferida um dade, é necessário esta- dia antes da “Missa de belecer uma nova ordem São Pedro e São Paulo”. O mundial em que os in- texto foi endereçado aos Manolo Ramires,

O

delegados da Confederação Italiana Sindical dos Trabalhadores (CISL) no último 28 de junho. Para o Papa Francisco, diante da crise do capitalismo, é essencial destacar o papel dos sindicatos. “Não há uma boa sociedade sem um bom sindicato e não há um sindicato bom que não esteja dentro das periferias com o objetivo de transformar o modelo econômico”, avaliou o santo padre. Embora o Papa tenha destacado a importância das entidades sindicais, Francisco também observou que muitas entidades perdem seu foco de atuação. “Em nossas sociedades capitalistas avançadas há entidades sindicais perdendo esta natureza profética e tornando-se

demasiado semelhantes às instituições e poderes

Não há uma boa sociedade sem um bom sindicato e não há um sindicato bom que não esteja dentro das periferias que deveriam criticar. A união com o tempo passou a se assemelhar a política demais, ou melhor, a partidos políticos, a sua língua, seu estilo. Mas, se você perder esta dimensão típica e diferente, também a ação em negócios perdeu o poder e a sua efi-

cácia”, alertou.

Novo pacto social Francisco voltou a falar de um novo pacto social. Seu discurso cai como uma luva para o momento em que passa o Brasil quando direitos dos trabalhadores são retirados por políticos por meio de reformas trabalhista e previdenciária. O Papa Francisco criticou a ganância dos empresários e do mercado. “É uma empresa insensata e míope que obriga o idoso a trabalhar muito tempo e requer toda uma geração de jovens a trabalhar quando deveriam fazê-lo para eles e para todos”, disse o Pontífice.

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Com lucro de R$ 70 milhões, Copergás pode ser vendida pelo Governo PRIVATIZAÇÃO. Apesar da crise, a empresa cresce em ritmo acelerado chamando atenção do setor privado. Divulgação Vinícius Sobreira Que o país está em crise econômica, todo mundo sabe. Desde 2013, quando o Produto Interno Bruto (PIB) teve crescimento de 3%, o país entrou em parafuso. Os anos de 2014 (crescimento de 0,5%), 2015 (queda 3,77%) e 2016 (queda de 3,6%) mostram isso. Em Pernambuco tendência recessiva se repetiu, com queda de 3,5% e 3,3% em 2015 e 2016, respectivamente. Mas apesar da crise, uma empresa pública do estado tem crescido em ritmo acelerado: a Copergás. A Companhia Pernambucana de Gás (Copergás) tem faturado em torno de R$ 1 bilhão nos últimos anos. O lucro da empresa cresceu 131,7% em dois anos. Em 2014 a Copergás lucrou R$ 30,6 milhões. Já em 2015 saltou para R$ 50,7 milhões (um crescimento de 65,7% em um ano) e, em seguida, lucrou R$ 70,9 milhões em 2016 (crescimento de 39,8% no ano). Em entrevistas recentes, representantes da Copergás afirmam ter expectativa de grande crescimento do lucro da empresa nos próximos 10 anos. Criada por lei em 1992, a Copergás entrou em operação dois anos depois, funcionando através da rede de gasodutos herdada da Petrobras - e posteriormente ampliada a partir de 1998, com a missão de distribuir gás natural com sustentabilidade em todo o estado de Pernambuco. É uma empresa de econo-

Fachada da empresa em Recife

mia mista, cujos sócios são o Governo do Estado de Pernambuco (detentor de 51%), a Petrobras Gás S.A.

o Governo de Pernambuco e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assinaram um acordo para planejar a futura privatização da Copergás. Objetivo seria vender os 51% da companhia que pertencem ao Governo de Pernambuco. Com as presenças do governador Paulo Câmara; do vice-governador e secretário de Desenvolvimento Econômico Raul Henry; e do presidente do Conselho de Administração da Copergás; além da então presidenta do BNDES; a reunião teria como finalidade traçar

A Companhia Pernambucana de Gás (Copergás) tem faturado em torno de R$ 1 bilhão nos últimos anos - Gaspetro (24,5%) e a multinacional japonesa Mitsui Gás e Energia (24,5%). Por ser majoritário, o governo tem maior controle sobre a companhia, que é vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco. Mas por algum motivo o governo Paulo Câmara (PSB) quer vender a Copergás. No último dia 9 de maio

o caminho para entregar a Copergás ao setor privado. No início do segundo semestre deste ano o BNDES deve apresentar estudo sugerindo a privatização ou uma Parceria Público-Privada (PPP). Hoje a companhia Odoriza, canaliza e distribui o gás natural no estado de Pernambuco, atendendo os mercados industrial, residencial, comercial, termoelétrico, de cogeração de energia e à Refinaria Abreu e Lima. A população consome esse gás nos automóveis (o GNV) e alguns bairros da Zona Sul do Recife já pode receber o gás de cozinha através de canos. Já as indústrias utilizam o gás natural como fonte de energia para as máquinas. Entre os combustíveis fósseis, o gás é o menos poluente. Então seu uso é estratégico na busca por uma matriz energética limpa. Hoje a empre-

sa produz um volume médio superior a 4,8 milhões de metros cúbicos por dia, sendo a 4ª maior empresa do mercado brasileiro de movimentação de gás natural. Em conversa com o Brasil de Fato, o economista Pedro Lapa destacou que colocar uma empresa tão lucrativa e com tanta importância estratégica nas mãos do setor privado não é uma boa escolha. “Nas mãos do Estado a Copergás pode oferecer a Pernambuco uma fonte de energia barata e sobre a qual o Estado brasileiro tem controle, já que dominamos a tecnologia e o país tem grandes reservas de gás natural. Nas mãos do Estado o gás é utilizado para o fortalecimento da atividade produtiva e de barateamento de gás para o consumo”, avalia. A possibilidade de privatização também tem per-


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Sindpetro PE/PB

Brasil de Fato PE

Mobilização do Sindipetro contra a possibilidade de privatização / Foto: Sindipetro

turbado o auxiliar administrativo Thiago Gomes, trabalhador concursado da Copergás e delegado de base do Sindicato dos Petroleiros de Pernambuco e Paraíba (Sindipetro PE/PB). “A gente gera lucro para o estado, gera riqueza para Pernambuco. E vai vender? Isso é contra o interesse público. É ruim para a população”, opina Gomes. “A Copergás é a menina dos olhos do estado de Pernambuco. Não pode ser transformada numa nova Celpe”, reclama. “O gás natural é uma fonte de energia barata e um insumo estruturante para a economia. Sem gás natural, as empresas não têm como se instalar”, alerta Gomes. Segundo ele, um dos motivos pelos quais as indústrias se concentram na Região Metropolitana do Recife é o gás natural. “Ele é tão necessário quanto água para a indústria”, diz Thiago. “Se ficar nas mãos de terceiros, o estado perde o po-

der de desenvolvimento”. Sobre as consequências de ter a Copergás nas mãos do setor privado, Pedro Lapa destaca que o papel da empresa no desenvolvimento de Pernambuco muda completamente. “O central numa empresa pública é que ela olha o conjunto da eco-

cano. Nas mãos do Estado a Copergás deu início, fim de 2016, à expansão de sua rede de distribuição residencial de gás natural canalizado para a zona norte do Recife, além de Derby, Prado e Afogados, na capital, e Casa Caiada e Bairro Novo, em Olin-

Por ser majoritário, o governo tem maior controle sobre a companhia, que é vinculada à Secretaria de esenvolvimento Econômico de Pernambuco nomia do Estado e busca favorecer o fortalecimento das estruturas produtivas desse Estado. Mas se for uma empresa privada, ela vai olhar quais são os grandes consumidores. E resume a prestação de serviço a fornecer gás às grandes empresas”, avalia o economista pernambu-

da. O investimento é de R$ 30,2 milhões entre 2017 e o início de 2018. A nova rede de distribuição tem 72 quilômetros, contemplando 179 ruas. Objetivo alcançar 9 mil novos clientes residenciais, ampliando em 35% no número residências atendidas hoje. A em-

presa prevê investimentos de R$ 300 milhões até 2020, tentando ampliar a rede de distribuição no interior do estado, tendo como prioridades o polo têxtil de Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste; e do município de Escada, na Zona da Mata Sul. A Copergás possui cerca de 700 km de gasodutos, fornecendo gás natural do Recife a Belo Jardim, no agreste. O auxliar administrativo ainda contesta a opção por vender a Copergás neste momento. “A empresa tem 20 anos. Por que eles estão querendo privatizar agora? Será que é para conseguirem dinheiro a eleição para governador do próximo ano?”, questiona. “São interesses particulares se sobrepondo aos interesses públicos”, queixa-se o sindicalista.

Impacto no consumidor

Ao falar sobre os possíveis impacto para o con-

sumidor, Lapa aponta que a privatização traz quatro tendências negativas. A primeira seria concentrar o atendimento nos grandes clientes. “Se apenas uma pequena parte do faturamento da Copergás vem do consumo residencial, penso que uma possível privatização pode até acabar o serviço de gás canalizado residencial. É um serviço que está muito no início, tem horizonte de crescimento grande, mas por enquanto não dá tanto lucro”, exemplifica. Uma segunda tendência da privatização seria a piora nas relações de trabalho dentro da empresa. “Sendo uma empresa pública ela é obrigada a obedecer algumas regras nas relações de trabalho. Não é ‘vale tudo’. Mas com essas PECs do governo Temer no Congresso, se a Copergás for vendida pode ficar apenas com uma coordenação, terceirizando os demais serviços”. E isso desemboca no consumidor. “Ao se valer de relações de trabalho terceirizadas e precarizadas, é natural que o cliente dela seja um cliente mal atendido”, diz. A terceira e quarta tendências apontadas pelo economista são o aumento no preço dos produtos e a queda na qualidade. “Uma empresa pública é obrigada a demonstrar o preço que ela pratica, já que ela não é uma instituição que vive para dar lucro. Ela só precisa pagar seus custos. Já uma empresa privada busca, além de cobrir seus custos, dar lucro. E ela quer dar lucro máximo. Então a tendência é oferecer um serviço de menor qualidade e mais caro”, argumenta.


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Recife, 07 a 13 de julho de 2017

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Trabalhadores trancam vias no Recife e interior em apoio à greve

GREVE GERAL. Da madrugada ao fim da manhã dezenas de bloqueios foram registrados Monyse Ravena

Vinícius Sobreira

A

sexta-feira, 30 de junho, dia de greve geral convocada pelas principais centrais sindicais do Brasil, começou bem cedo para centenas de trabalhadores que não foram aos seus postos de trabalho mas acordaram bem cedo – ou nem mesmo dormiram – para participar de trancamentos de vias e rodovias em Pernambuco. Os bloqueios em apoio à convocatória de greve tiveram por objetivo forçar os demais trabalhadores a permanecerem em casa e mandar um recado aos patrões que controlam a política. Em todo o estado foram dezenas de vias e rodovias trancadas. Além de sindicatos de trabalhadores rurais e urbanos, participaram dos trancamentos movimentos de trabalhadores sem teto, sem terra e outros movimentos populares que integram a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo. Há registros de bloqueios em Petrolina, Arcoverde, Sertânia, Ou-

No Recife, um dos pontos de paralisação foi na Avenida Cruz Cabugá

ricuri, São Caetano, Pesqueira, Goiana, Moreno, São Lourenço da Mata e Recife. No município de Ouricuri, no Sertão pernambucano, o Comitê da Democracia da região do Araripe organizou os bloqueios da BR-116 e da PE122, com forte presença de trabalhadores rurais e de jovens. Presente no bloqueio da rodovia estadual, a estudante Samara Santana, 15 anos, convocou a juventude a se somar nas mobilizações, avisando que “se não lutarmos agora, sofreremos

muito no futuro”. “A gente está lutando contra esse governo que quer tirar nossos direitos. Temos que defender a aposentadoria, ficar contra a reforma trabalhista e contra outras injustiças que querem fazer contra nossa nação”, informou Santana. No Recife, a autônoma Silvana Medeiros, militante do movimento feminista Marcha Mundial das Mulheres (MMM), participou do trancamento realizado na Avenida Cruz Cabugá, no centro da cidade. O blo-

queio da via, organizado por mulheres de movimentos que compõem as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, ocorreu nas primeiras horas da manhã, queimando pneus e portando bandeiras e faixas contra as reformas trabalhista e previdenciária, pedindo a saída do presidente golpista Michel Temer e reivindicando a realização imediata de eleições diretas. “Nós compreendemos que esse golpe é, além de tudo, patriarcal. E por isso nos juntamos às companheiras das

frentes nesse enfrentamento de hoje”, disse Medeiros. Na capital, apesar da decisão do Sindicato dos Rodoviários em não aderir à greve, muitos motoristas não se apresentaram aos seus postos de trabalho e as empresas de transporte funcionaram com número reduzido de ônibus. Há ainda registros de dezenas de ônibus bloqueando algumas das principais vias do centro da cidade. Bloqueios organizados por sindicatos na região central da cidade podem ter colaborado para a decisão dos rodoviários em cruzar os braços durante algumas horas na manhã da última sexta. Já os metroviários aderiram à convocação das centrais sindicais e cruzaram os braços, colocando o metrô em funcionamento apenas nos horários de pico. Já os trabalhadores e trabalhadoras da educação, os bancários e algumas categorias das indústrias aderiram à greve e paralisaram durante 24 horas.

Reforma Trabalhista: mais de

170 mudanças na CLT que atentam

contra

a classe trabalhadora

/bancariospe

www.bancariospe.org.br


Brasil de Fato PE

ENTREVISTA l 11

Recife, 07 a 13 de julho de 2017

“A luta pela terra é para você resolver o problema de alimentar todo o povo” AGROECOLOGIA. O dirigente nacional do MST explica porque a Reforma Agrária Popular é importante para toda a sociedade

Daniel Lamir

e Monyse Ravena m entrevista para o E Brasil de Fato Pernambuco, João Pedro Ste-

dile, dirigente nacional do MST, falou sobre agroecologia, reforma agrária popular e o aumento da escalada da violência no campo. Brasil de Fato: Na situação de crise pela qual passa o Brasil, há um grande aumento dos conflitos agrários. Qual a relação entre o momento de crise política que estamos vivendo com esse aumento da violência no campo? João Pedro Stédile: O aumento da violência no campo contra os trabalhadores rurais vem acontecendo sobretudo na fronteira agrícola, ou seja, naqueles estados onde o agro-

viver. Segundo porque com o golpe político que a direita deu e impôs o governo Temer, os deputados ruralistas acham que podem fazer o que querem com uma imensa maioria no Congresso. Há um sensação de imunidade entre os fazendeiros que apoiam a bancada ruralista, esticam a corda e acham que podem tudo, contratam pistoleiro, passam a fazer agressões e a prática da violência, para tentar resolver na bala aquelas questões que antes eles não podiam fazer sem contar com a lei.

Há um sensação de imunidade entre os fazendeiros que apoiam a bancada ruralista negócio tenta se expandir e a população que vive agora naquela região é uma população mais dispersa e fragilizada, em geral são posseiros pobres, populações indígenas ou áreas de quilombos e por que a violência aumenta contra eles? Primeiro porque o capital tem interesse em ampliar suas fazendas, então vai sobre essas populações que estão lá procurando sobre-

B d F : Como essa escalada da violência no campo influencia a sociedade em geral? Stédile: Acredito que a população que está desorganizada e que assiste muito a [TV] Globo sofre uma influência negativa no sentido de que aqui no Brasil todos os políticos são iguais, isso cria um ceticismo. Mas eu acho que a maioria da população que está numa fábrica, no comércio, nos

bancos, que participa da vida social de uma maneira mais ativa, ela já se deu conta que o governo golpista é corrupto, não a política. Essa população já se deu conta que o golpe foi contra a classe trabalhadora e não contra a Dilma e é por essa razão que de uma forma otimista nós estamos assistindo, nos últimos meses, um crescente das mobilizações. Começou já com manifestações de jovens no carnaval, depois o 8 de março com as mulheres, depois a mobilização do 15 de março, a Greve Geral do 28 de abril, as 200 mil pessoas que foram a Brasília e foram duramente reprimidas, os artistas convocando atos culturais aos domingos e a Greve Geral do último dia 30 [e junho]... então eu acho que há uma disposição de luta na população, eu não vejo desânimo na população e essa luta tende a se intensificar. BdF: Como a reforma agrária popular, defendida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), contribui para o desenvolvimento da agroecologia? Stedile: Durante muito tempo, talvez todo o século 20, da qual o MST, inclusi-

ve, foi influenciado, a visão que nós tínhamos de reforma agrária era uma visão idealista, que bastava repartir o latifúndio, repartir a terra, que os camponeses, então, resolveriam os seus problemas. Porém, o que nós aprendemos nos últimos anos e, sobretudo, na última década, que a missão agora dos camponeses não é apenas ter terra para trabalhar com a sua família. A missão que nós temos

como por outros movimentos, e pela sociedade em geral, que entendeu a mensagem, nós hoje temos no Brasil inteiro a multiplicação de feiras que os assentados têm feito nas cidades para oferecer os alimentos saudáveis e, ao mesmo tempo, dialogar com a sociedade. Eu acho que isso é a melhor maneira de nós fazermos propaganda da reforma agrária popular. E é por

A terra não é só para trabalhar, a terra é para produzir alimentos saudáveis para toda a população que ter é: conquistando a terra, que é fundamental e necessária, o que fazer com a terra. A terra não é só para trabalhar, a terra é para produzir alimentos saudáveis para toda a população. A forma de nós produzirmos alimentos saudáveis sem veneno é adotando as técnicas de agroecologia, que é um conhecimento científico, que procura orientar como você pode produzir alimentos sem usar veneno, em equilíbrio com a natureza. BdF: O MST tem expandido a cada ano a experiência de feiras agroecológicas em diversas cidades do país. Por que o movimento tem apostado nessa estratégia? Stedile: Felizmente, tanto estimulado pelo MST,

isso que a reforma agrária, então, adquiriu esse adjetivo de reforma agrária popular. Porque, agora, a luta pela terra não é só para resolver o problema dos camponeses. Agora, a luta pela terra é para você resolver o problema de alimentar todo o povo, então a reforma agrária deixou de ser camponesa, para ser uma reforma agrária popular. A população sabe que se ela depender só do supermercado e do agronegócio, ela vai ser envenenada. Então a população está descobrindo que a forma de ela ter um alimento mais saudável é ir nessas feiras da reforma agrária, nessas feiras de agroecologia, e poder comprar alimentos baratos e sem o uso de agrotóxicos.


CULTURA | 12

Crônica:

Por Roberto Efrem Filho* cidade consumiu a casa. A Não os anos, este passado empilhado e enfileira-

do nos corredores de minhas lembranças. A cidade consumiu a casa, a sombra gorda das duas mangueiras, a terra úmida do quintal, as manhãs em que Alice pulava o muro entre nossas casas e batia à janela do meu quarto para andarmos de bicicleta. Os enormes olhos de Alice amanhecendo domingo. Não fosse a inclinação do alpendre à porta de entrada; não fosse a desbotada imagem de Nossa Senhora de Fátima presa à fachada, agora incrustada numa reluzente parede revestida de porcelanato bege; não fosse, enfim, este meu conjunto de certezas inamovíveis, eu sequer reconheceria a casa em que me criei. Os edifícios espelhados de trinta andares, quatro deles destinados

Recife, 07 a 13 de julho de 2017

O choro de alice apenas para estacionamento, sugaram até o talo do jasmineiro. Os canos de escape, as buzinas e o medo cerraram de grades as passagens, o oxigênio e a oportunidade do silêncio. Hoje, eu não ouviria o choro de Alice. Daqui, olhando para o oitão que separava nossos quartos, que distancia aquela minha janela do letreiro iluminado da farmácia levantada sobre a garagem de Dona Marta, percebo que não conseguiria escutar o rasgo da batida do portão, às noites em que Seu Osvaldo chegava trôpego, urrava, urrava desde a acidez do estômago, e confundia suas mãos no rosto da esposa. “Osvaldo!”, eu ouvia a exclamação de Dona Marta, imediatamente anterior às marcas que, amanhã à calçada, provocariam um não haver palavra entre ela e minha mãe. Da cama, eu parecia sentir Alice acordando no susto, fechando-se no quarto, rodando a chave na maçaneta que Dona Marta pedira a meu pai, por favor, para instalar. “É só uma maçaneta, vida, não há nada demais em ajudar” – a voz de Mainha na cozinha, a meu pai, durante o café da manhã de uma terça-feira. [Sim, sei que era uma terça-feira por-

que faltei à prova de geometria. Com o choro de Alice, eu também não consegui dormir]. Meu pai consentiu com o pedido e, no tempo que se passou, ao rasgo do portão, ao “Osvaldo!” de Dona Marta e à confusão de corpos, seguia-se o som da chave na maçaneta precedendo ritualisticamente o choro de Alice. No tempo que se passou, uma infância, até a sexta-feira em que Seu Osvaldo resolveu confrontar a porta do quarto da filha. [É, sei que era uma sextafeira porque assistíamos ansiosos, na sala, ao último capítulo da novela das oito]. O homem esmurrava o compensado e, “abra a porta, Alice, abra a porra dessa porta”, conseguiu arrombar a fechadura. Alice, no entanto, não estava mais no quarto. De camisola amarelinha, posta contra o “FIM” estampado no nosso aparelho de televisão, ela e seus enormes olhos já não choravam. Brilhavam de temor e raiva mais do que o letreiro dessa farmácia, do que os faróis expandidos nos prédios que se refletem uns aos outros e tentam impedir que eu não a ouça. Roberto Efrem Filho – ou Beto, como gosta – é do Recife e, vez ou outra, desajeita-se na palavra.

AGENDA CULTURAL Cinema

música

Ates Plásticas

Samba às quintas no Cobogó

Cinema Clássico na Fundação

18ª edição da Fenearte

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o próximo dia 13, o Espaço Cobogó inaugura o “Sessão de Quinta”, com roda de Samba guiada pelo Samba do Carcará. A contribuição é de R$ 10 + item de higiene pessoal, a ser destinados ao Hospital da Tamarineira.

este mês de julho, o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco está com o projeto “Sempre aos Domingos”, que exibirá filmes clássicos em sessões às 10h30, ao preço de R$ 2. Esta domingo, será exibido “O estranho que nós amamos” (1971), drama que retrata a Guerra Civil americana.

18ª edição da Fenearte, maior feira de artesanato da América Latina, acontece de 06 a 16 de julho, no Centro de Convenções de Pernambuco. No evento, além de ter contato com criações artesanais do Brasil e do mundo, o público poderá conferir as oficinas, salões de arte popular, entre outras atrações.

Brasil de Fato PE

Lutadora do Povo

agdalena Carmen Frieda Kahlo M y Calderón, mais conhecida como Frida Kahlo, nasceu em 6 de ju-

lho de 1907, em Coyoacán (México), filha de Matilde e do fotógrafo alemão Guillermo Kahlo. Sua vida foi marcada por superações e sofrimentos que foram refletidos em sua obra. Sempre incluía elementos da cultura popular mexicana em seus trabalhos. Em 1913, com seis anos, contraiu poliomielite, a primeira de uma série de doenças que sofreu ao longo da vida. Aos 18 anos, sofreu um grave acidente, quando um bonde, no qual viajava, chocouse com um trem. Durante a recuperação, começou a pintar, usando um cavalete adaptado à cama. Em 1928, entrou no Partido Comunista Mexicano e conheceu o muralista Diego Rivera, com quem se casou no ano seguinte. Em 1942, é eleita membro do Seminário de Cultura do México, passa a dar aulas na escola de arte “La Esmeralda”, mas sua saúde a obrigou a dar aulas em casa. Em agosto de 1953, tem sua perna amputada na altura do joelho devido a uma gangrena. Mesmo de cadeira de rodas, participou de uma manifestação contra a intervenção norte-americana na Guatemala, em 1954. Faleceu em seu leito no dia 13 de julho de 1954.


Brasil de Fato PE

Variedades CULTURA l| 13 13

Recife, 07 a 13 de julho de 2017

“Pequenos Agricultores iniciam campanha para financiar formação política pelo país

MPA. Através do teatro e da música, jovens camponeses viajam o país divulgando temas como a redução do uso de agrotóxicos Divulgação/MPA

tação e propaganda a favor da nossa luta e da organização do povo”, pontuou a dirigente. Outro objetivo da caravana é a permanência dos jovens no campo. Assim que terminou

www.sindsep-pe.com Os jovens se encontram no Nordeste, primeira região a receber a caravana / Divulgação/MPA Rute Pina, de São Paulo

Movimento dos PeO quenos Agricultores (MPA) lançou uma

campanha de financiamento coletivo para custear as atividades da Caravana Nacional de Luta Camponesa Clodomir de Morais. O grupo é composto por dez jovens do movimento que, por meio do teatro e da música, fazem trabalho de formação política nos 17 estados em que o MPA atua. O objetivo da “vaquinha” é atingir R$ 15 mil

reais. A verba será utilizada para cobrir gastos com transporte, materiais pedagógicos e alimentação. A caravana inaugura a experiência dentro do movimento, que pretende manter a iniciativa nos próximos anos. O Nordeste foi a primeira região escolhida de atuação da caravana, que se encontra há três meses em Sergipe e, depois, segue para o estado da Paraíba. Objetivos

Rafaela Alves, da direção nacional do MPA, coordena o coletivo nacional de Juventude do movimento. Segundo ela, o movimento resgata uma estratégia de luta e da organização com a juventude ao trabalhar a divulgação de suas pautas por meio de uma perspectiva lúdica e criativa. “Ao longo da história, nós sabemos que as artes serviram também para a luta. Em todas as revoluções, foram usadas ferramentas de agi-

Ao longo da história, nós sabemos que as artes serviram também para a luta a graduação em jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, Mateus Quevedo, de 21 anos, se juntou ao coletivo. O jovem conta que ele e seus colegas tiveram uma etapa preparatória de estudos metodológicos de temas propostos pela caravana antes

de seguir com a caravana para o Nordeste. “A gente tem levado essa mensagem aos camponeses e temos levado muito o método do teatro do oprimido do [dramaturgo] Augusto Boal, principalmente o teatrofórum, em que o público tem que participar conosco e ter uma visão crítica e apontar caminhos para uma solução para esse problema que a gente enfrenta na conjuntura brasileira que não tem sido fácil”, refletiu Mateus. Os principais temas tratados pela iniciativa é a campanha por Nenhum Direito a Menos, principalmente sobre as reformas da Previdência e trabalhista; o tema da soberania alimentar e da alimentação saudável; e, por fim, a divulgação de métodos agroecológicos e do não uso dos agrotóxicos no plantio. “É muito importante levar essa mensagem porque o Brasil é o país que mais consome veneno no mundo na alimentação”, disse. Anúncio

INDS EP PE

Filiado à CUT e à CONDSEF

Palestra com Mino Carta, no Sindsep-PE

NA PRÓXIMA TERÇA-FEIRA, 11 de julho, às 19h, o Sindicato dos Servidores Federais no Estado de PerRECIFE, 7 DE JULHO DE 2017 nambuco (Sindsep-PE) estará promovendo uma palestra com o jornalista e diretor da Carta Capital, Mino Carta. O evento acontece no auditório do sindicato rua Fernandes Vieira, 67, na Boa Vista - e tem como tema Mídia, hegemonia e contra-hegemonia. A ideia é colocar em relevo a função da mídia enquanto formadora da opinião pública, até que ponto as empresas de comunicação interferem na construção social da Rua João Fernandes Vieira, 67 - Boa Vista - Recife-PE realidade e qual o papel ideológico desses veículos. São questões urgentes a serem deba das, no Fone: 3131.6350 | Fax: 3423.7839 momento em que o Brasil e o mundo assistem a transformações econômicas, polí cas, culturais e sociais de

grande magnitude e a mídia tem um papel central nesse processo. Sem falar pelas mutações pelas quais a própria co-municação vem passando, a par r das mídias sociais, do jornalismo digital e com o advento da chamada pós-verdade. A palestra de Mino Carta também tem a finalidade de lançar, em Pernambuco, a campanha Abrace a Carta Capital. Trata-se de uma campanha de assinatura da publicação, como forma de contribuir para que a Carta Capital con nue circulando na versão impressa. A revista lançou uma promoção para a assinatura de sindicatos, federações e confederações cus t a s . Pa ra a s s i n a r é s ó a c e s s a r o l i n k : h p://assinecarta.com.br/cut e preencher o cadastro.

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14 | VARIEDADES

www.coquetel.com.br

Recife, 09 a 15 de junho de 2017

PICOLÉ

Horóscopo Recife, 07 a 13 de julho de 2017

© Revistas COQUETEL

Escreva o nome de cada figura na direção indicada pela seta. Um nome já está escrito como exemplo.

Algumas coisas em casa podem não ser tão fáceis nesses dias, e problemas de pessoas próximas podem lhe afetar bastante. No amor, ultrapasse algumas tensões e procure investir mais na sua relação.

Áries :

Se é difícil dizer o que está no seu coração com as palavras, já pensou em investir em alguma qualidade artística? Ainda que não seja na arte, aprender algo pode ser interessante para você neste momento.

Touro:

Gêmeos:

É preciso um controle maior com seus recursos financeiros porque novos gastos vão surgir e você precisa saber pra onde seu dinheiro vai. Liberte todo o seu amor e aproveite celebrando suas relações.

Câncer:

Organize todos os seus desejos e projetos porque essa é uma boa fase para você colocar tudo em prática e ter energia de ir atrás das suas coisas! Algo novo no trabalho, e no amor, clima de paquera.

Leão:

Apesar de nada estar fácil, fique atento à oportunidades interessantes de você investir no seu potencial e ser reconhecido por isso e, quem sabe, ter novas oportunidades? Inspire-se, mas não esqueça seu amor.

Virgem:

Libra: 8

Solução

Brasil de Fato PE

Momento interessante na área de suas relações, então saia mais de casa, dê mais tempo para suas ações políticas, conhecer novas pessoas – e quem sabe nesse caminho você não encontra alguém (mais) especial? É tempo de amor pra você! Se estiver num relacionamento, ele vai mudar e aproveite com intensidade este novo momento. Se estiver só, a hora é essa de experimentar todas as possibilidades nos encontros.

É importante você definir para onde quer ir. Planeje, coloque no papel. Depois disso, corra atrás porque é um momento interessante para novos estudos, viagens, Escorpião: projeto novo. E isso vale também no amor. É hora também de parar um pouco para se aprofundar no conhecimento do outro com quem está se relacionando, mas para isso você precisa se enfrentar. Pode surgir um Sagitário: aperto na sua renda, então se prepare.

Capricórnio:

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Pode surgir conflito com alguém de perto, e é melhor que você possa lidar de uma maneira mais paciente, tentando mais trabalhar junto do que estimulando a competitividade dentro de si. Tempo de se apaixonar.

Aquário:

A correria do dia-a-dia deve aumentar e é preciso mais que nunca investir em hábitos de vida saudáveis para dar conta disso tudo. Dê mais atenção a seu lar. Aproveite também a energia para agilizar seus projetos.

Peixes:

Dias com mais paixão estão por vir, e além de aproveitar com mais prazer as suas relações, pode servir também como inspiração para criação de algo no mundo das artes ou algum novo projeto profissional.


Brasil de Fato PE

VARIEDADES l15 15

Recife, 07 a 13 de julho de 2017

Anúncio

Gostaria de saber se tem algo na ciência que explica: por que todos os homens são iguais? Jaqueline Bouzada, 23 anos, estudante universitária.

C

ara Jaqueline, na verdade, cada homem tem a sua singularidade, assim como as mulheres são diversas. Entretanto, as questões que fazem com que o comportamento dos homens seja parecido diz respeito aos fatores histórico-culturais. O patriarcado, sistema de dominação dos homens sobre as mulheres, embora pareça ser coisa do passado, está presente até hoje. Ele apenas se transformou para se adaptar às mudanças do mundo. Esse sistema beneficia os homens de diversas formas: coloca o peso das tarefas domésticas sobre as mulheres; responsabiliza mais as mulheres em relação aos cuidados com os filhos, idosos e doentes; beneficia economicamente os homens com melhores remunerações e postos de trabalho, naturaliza o comportamento infiel dos homens, etc. Nessas circunstâncias, mesmo aqueles que se dizem avançados e condenam o machismo, uma hora ou outra, acabam se deixando levar pelos benefícios que o patriarcado lhes confere. Por isso é muito importante que as mulheres se organizem para combater esse sistema de dominação cotidianamente, o que chamamos de feminismo. Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Sofia Barboa | Aqui você podeperguntar o que quiser para nossa Amiga da Saúde Coren MG 159621-ENF

ESPORTES | 15

Estádio é lugar de política

TORCIDAS. Coletivos e movimentos de torcedores do Santa Cruz pautam política e futebol no estádio Vinicius Sobreira

Vinícius Sobreira comum escutar É que religião, futebol e política não se dis-

cutem. Ou que o futebol aliena politicamente a população. Mas Brasil afora, milhares de torcedores discordam dessas afirmações e se desafiam a politizar o espaço do estádio de futebol. Nas arquibancadas, cresce o número de grupos, coletivos, torcidas e movimentos que pautam a inclusão social no futebol, a luta contra opressões e se organizam para confrontar as tentativas de elitização do esporte. Em Pernambuco, as arquibancadas do Arruda estão na vanguarda desse movimento. Em 2012,

surgiu o Movimento Popular Coral (MPC), unindo torcedores preocupados com a elitização do futebol e do próprio Santa Cruz. Membro do MPC, o advogado Rodrigo Fittipaldi afirma que a principal pauta do movimento é a inclusão do torcedor pobre na vida do clube. “O Santa Cruz é composto majoritariamente por torcedores humildes, como os que fundaram o clube.

Eles não podem ficar de fora da vida política”, afirma Fittipaldi. O estatuto do clube, diz ele, prevê que só parte dos sócios tem direito a voto. “O torcedor que só pode pagar a taxa mínima para se associar não tem direito a participar das decisões”, lamenta. “Queremos um plano de sócios inclusivo e participação política desse torcedor”, opina. Em 2016, nasce o Movimento Coralinas, reivindicando pautas relativas às torcedoras e ao futebol feminino, modalidade extinta no clube. “As camisas oficiais do Santa fo-

Queremos tornar o Arruda um ambiente menos tóxico para as torcedoras ram lançadas exclusivamente no modelo masculino. O modelo feminino só saiu meses depois, fruto de reivindicação nossa”, diz a jornalista Maiara Melo, membro das Coralinas. “Queremos tornar o Arruda um ambiente menos tóxico para as torcedoras e queremos levar a mulher para o estádio”, afirma. Uma das pautas delas é acabar com os cânticos de estádio que

ofendem a imagem das mulheres e da população LGBT. Já em 2017 surge o Coletivo Democracia Santacruzense, querendo modificações na democracia interna do clube, das federações, da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da FIFA. “O torcedor é parte fundamental, é a mola econômica de toda a estrutura do futebol, mas nunca é ouvido ou consultado sobre nada”, afirma Esequias Pierre, tricolor e professor de história. O Coletivo também contesta a atual distribuição desigual das cotas de TV pagas aos clubes e, para além do futebol, quer a democratização dos meios de comunicação.


16 | ESPORTES

Brasil de Fato PE

Recife, 07 a 13 de julho de 2017

NA GERAL

GOL

DE PLACA

Sindicatos e CBF firmam acordo Federação dos Atletas de Futebol e a CBF formaliA zaram acordo no Tribunal do Trabalho para regulamentar o intervalo de “descanso” entre jogos. A partir de

Amanda Nunes Começa Liga defende cinturão Nacional de Futebol Americano

Sport campeão Pernambucano no feminino

2018 um atleta só poderá jogar após 66 horas (2 dias e 18 horas) de encerrada a partida anterior em que atuou. O intervalo é pequeno se considerarmos as viagens e treinos, restando pouco tempo livre para o atleta. Mas a regulamentação é um avanço. Caso o intervalo não seja respeitado, o atleta será considerado irregular na partida e o clube pode ser punido com multa e perda de pontos.

a Liga Nacional, 2ª dieste sábado a brasipós golearem por 5x1 N visão do futebol ameri- Nleira Amanda Nunes, Asobre o Vitória de Sancano, cinco times do estado atual campeã do Peso-ga- to Antão no primeiro jogo estão entre os 10 que disputam a Conferência Nordeste. Em Olinda, no estádio Grito da República, em Rio Doce, o Olinda Sharks enfrenta o Gladiadores-CE às 14h do sábado, 08 de julho. No mesmo dia, em Arcoverde, o estádio Áureo Bradley recebe Arcoverde Templários x São Luís Sharks-MA às 16h. Em Caruaru, no domingo, 09 de julho, Caruaru Wolves e Recife Apaches fazem clássico no estádio Vera Cruz, às 15h. O Petrolina Carrancas estreia no dia 16 de julho, em Sergipe, contra os Redentores.

lo feminino, enfrenta Valentina Shevchenko, nº1 do ranking das desafiadoras da categoria. Natural do Quirguistão, a asiática foi derrotada pela “Leoa” em março de 2016. Após a vitória, Amanda conquistou o cinturão em julho e defendeu -o contra Ronda Rousey. No card principal lutam mais três brasileiros. Fabrício Werdum, desafiador nº1 dos Pesos-pesados, enfrenta o inglês Alistair Overeem, nº3. Thiago “Marreta” Santos e Douglas Silva enfrentam norte-americanos.

PASSO A PASSO Filipe Spenser

filipespenser@gmail.com

da final, as Leoas só precisaram de um empate em 1x1 na Ilha do Retiro para se sagrarem campeãs pernambucanas de futebol. O troféu do Sport acaba com uma sequência de sete títulos do Tricolor das Tabocas, que hegemonizou o estadual de 2010 a 2016. O 3º lugar ficou com o Náutico, que goleou o Porto por 6x1 na disputa do bronze. Juliana (Sport) e Paloma (Vitória) foram as artilheiras da competição, com 10 gols cada. Lorena (Sport) foi eleita melhor goleira.

GOL

contra

Alvirrubros contra a decoração

N

o dia 30 de junho o sindicato dos professores do Recife alugou o Náutico para realizar a festa de São João dos educadores. Na decoração houve bandeiras do arco-íris, em alusão à luta por uma educação sem preconceitos. Mas boa parte da torcida Timbu e alguns diretores se incomodaram com as cores do arco-íris na sede do clube e reclamaram muito. Já outra parte defende que o clube não deve repetir discriminações como fez no passado. Felizmente o único pronunciamento oficial de diretores do Náutico foi em defesa da festa e contra todo tipo de preconceito.

SERÁ QUE AGORA VAI?

SÓ NO SAPATINHO Daniel Lamir

Stella Nascimento ssnascimento_24@hotmail.com

daniel.lamir@brasildefato.com.br

tivo que a torcida tricolor se animou. Afinal, Givanildo e seu estilo peculiar – de meião até o joelho e bermuda quase na canela – é conhecido como Rei do Acesso. O treinador era uma das mudanças que o Santa Cruz precisava. A outra, não menos importante, é mudar de postura. É o que se espera ver neste jogo contra o Brasil de Pelotas. Depois de quatro jogos sem vencer, não podemos nos satisfazer com qualquer resultado que não seja a vitória. Se a seriedade que Givanildo tem cobrado nos treinos for posta em campo, me atrevo a dizer que o Santa Cruz começa a respirar melhores ares na tabela. Ah, vale lembrar à diretoria: Giva gosta de trabalhar com salários em dia!

do Z4 veio com placares magros, mas muito bem-vindos. Vale destacar ainda um discreto aumento na intensidade do time. Em campo, quase nada de novo em termos de estratégia. Nos bastidores… quem sabe? Aparentemente, as verdadeiras estratégias de Luxemburgo têm rendido até entrosamento no samba. Na teoria, o Sport tem um elenco “arrumado”. Na prática, foi desarrumado demais, como se – mais que peças – faltasse o correto encaixe amistoso. Depois de tanto “vai e não vai” no ano, vale a fé nos pequenos passos que estão sendo dados. Parece que até mesmo um velho inimigo resolveu fazer as pazes. A arbitragem. Que os homens de preto não sejam “amigos”; muito menos “inimigos”!

oram precisos 3 meses e 15 jogos para gora sim o Santa Cruz tem treinador de eão escaldado tem medo de água fria. InF que a torcida do Náutico voltasse a sentir Averdade. Givanildo Oliveira assumiu o Lconsistência é o apelido do Sport na temo gostinho da vitória. Que saudade! Será que comando do Mais Querido e não é sem mo- porada. A trégua (ainda insegura) do incômovai dar tempo? Será que o elenco tem condições de promover um feito histórico nunca antes ocorrido no Campeonato Brasileiro? Não sei, mas sei que o clube e a torcida precisam ter calma. Um jogo por vez. Não é tempo de cálculos, mas de fé. Se 2017, no futebol, tem tudo para ser um ano a ser esquecido, talvez ele seja lembrado pelo evento mais importante da história recente do Náutico: a união da torcida. Já era tempo de os vaidosos serem minoritários. Um futuro de alegrias para o Náutico exige, de imediato, a união das forças políticas e a volta para os Aflitos. São passos indispensáveis. Aparentemente, o primeiro passo foi dado e o segundo está em andamento.


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