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Brasil de Fato PR - Edição 104

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Entrevista | p. 4 Cultura | p. 7

Com a História e a luta nas mãos

Professor aponta a necessidade de seguir valorizando a história de luta da população negra

Joka Madruga

Vestir é um ato político

Marca H-AL experimenta formas fora do mercado tradicional

Mariana Alves

PARANÁ

Ano 3 Edição 104 22 a 28 de novembro de 2018 distribuição gratuita www.brasildefato.com.br/parana

PARA RESGATAR A HISTÓRIA DO POVO NEGRO

Entre as atividades de comemoração do Dia da Consciência Negra, em Curitiba, teve lavação das escadarias da Igreja do Rosário Brasil | p. 5

Daniel Rebello

Sem cubanos, Paraná ficará sem médicos em dezenas de cidades

Profissionais eram os únicos médicos para atender a população nos pequenos municípios Brasil | p. 5

Karina Zambrana

Cidades | p. 6

Demarcação parada, violência solta

Sem direito à terra, indígenas de Guaíra são vítimas de violência

Brasil 2 | Opinião de Fato PR

Paraná, 22 a 28 de novembro de 2018

Brasil de Fato PR

EDITORIAL Trabalhadores são os que sofrem as consequências

Em pouco tempo, declarações e posturas de Bolsonaro e do grupo em torno dele mostram que trabalhadores, negros e negras, mulheres e o povo mais pobre não serão alvo de políticas sociais por parte de seu governo.

O recente cancelamento do Programa Mais Médicos por parte do governo cubano, diante das ameaças de Bolsonaro, deixou 30 milhões de brasileiros, em centenas de cidades, sem atendimento médico. Contando

SEMANA

Famílias produtoras do café Guaií resistem ao avanço do capital em Campo do Meio (MG)

com a capacidade técnica da medicina cubana, o programa foi responsável pela redução da mortalidade infantil e resolvia o problema da falta de atendimento médico em cidades mais pobres e afastadas.

O cinismo da mídia e do futuro governo é incrível. Criticando que parte do salário é destinada ao governo cubano, eles nunca se mostraram preocupados com as condições dos trabalhadores nos anos anteriores. Enfim, ser contra a estadia de médicos

cubanos no Brasil é algo ideológico, uma vez que o povo carece de um serviço que era muito bem executado. E o pagamento do programa financia ajuda gratuita em países da África. Além do que, a população cubana tem o investimento revertido em saúde e educação – responsáveis por 25% do orçamento cubano.

Tudo mostra que não será um governo estável no médio prazo. E cabe à população se organizar pela manutenção dos seus direitos.

EXPEDIENTE

Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 104 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm, Laís Melo e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Fernando Prioste, Luciano Egídio Palagano e Manoel Ramires ARTICULISTAS Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Joka Madruga DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113

OPINIÃO

A história por trás de Luiz Gama

Mouzar Benedito, escritor, geógrafo e contador de causos

Um dos grandes lutadores contra o escravismo no Brasil, a quem a história oficial não dá muita importância, é Luiz Gama. Ele nasceu em Salvador, em 1830, filho de uma negra livre, Luíza Mahin, e de um fidalgo de origem portuguesa.

Sua mãe participou de todas as revoltas negras de Salvador no início do século XIX. Em 1837, depois da tentativa de proclamar a “República Bahiense”, na Sabinada, ela teve que fugir para não ser presa e provavelmente morta. Deixou o filho com o

pai e foi para o Rio de Janeiro. E o pai se revelou um canalha: vendeu como escravo o filho quecompletara 10 anos de idade, para pagar dívidas de jogo.

Levado para São Paulo, ele não foi comprado por ninguém, pois quando sabiam que era baiano os senhores de escravos paulistas temiam que induzisse outros escravos a se rebelarem, porque na Bahia houve muitas revoltas contra a escravidão. Assim ficou sendo escra-

Luiz Gama foi poeta e jornalista. Conseguiu libertar mais de 500 pessoas escravizadas, mas morreu antes da Lei Áurea

vo do próprio traficante.

Luiz Gama aprendeu a ler e escrever com um estudanteque se hospedou na casa onde era um escravinho que fazia de tudo. Mais tarde, conseguiu provar na Justiça que era um homem livre, não podia ser escravizado.

Depois leu a biblioteca jurídica inteira deum desembargador com quem foi trabalhar, tornou-se um rábula, advogado não formado, que na época podia exercer a profissão,

dedicando-se a libertar escravos.

Foi também poeta e jornalista, sempre militando contra o escravismo. Conseguiu libertar mais de 500 escravos e, no fim da vida, estava se convencendo de que precisava usar outras formas de luta para combater o escravismo.

Morreu seis anos antes da Lei Áurea. Mas seu espírito combina mais com outra data: 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares. Durante o julgamento de um escravo que matou o senhor que o maltratava muito disse: “O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata, sempre, em legítima defesa”.

Brasil de Fato PR

Paraná, 22 a 28 de novembro de 2018

Brasil de Geral Fato | PR 5

Já já todo mundo esquece. Mas o DEM apoiou Geraldo Alckmin (PSDB) para presidente. Agora, está no colo de Jair Bolsonaro (PSL). É a velha política que segue firme no próximo governo. A

DEM tá com tudo

Olha a Arena de novo

Mantém esse daí

pulada de muro foi dada bem antes por Onyx Lorenzoni, que será ministro da Casa Civil, aquele que admitiu Caixa 2, pediu desculpas e o juiz/ministro Sérgio Moro o perdoou.

E o partido, que apoiou a virada de mesa de Michel Temer (MDB), não tinha tanto poder desde 2001, quando era governo com Fernando Henrique Cardoso. Os Democratas passaram a se chamar assim

após seu último nome cair em desgraça por causa de tantos casos de corrupção. É o velho novo. Assim o PFL virou DEM em 2007, tendo sido já PDS na redemocratização e Arena na Ditadura.

Na eleição, Ratinho Júnior disse que era oposição a Beto Richa, quando todos sabiam que era continuísmo. Mesmo assim, se elegeu no primeiro turno. E já que não é para ter mudanças, fica bem encaminhada

a recondução do tucano Ademar Traiano para conduzir a Assembleia Legislativa. Ele já recebeu a benção do novo governador. Será o terceiro mandato do novo Aníbal Khury do Paraná.

FRASE DA SEMANA

“A gente sabe a dor e a luta que a voz negra tem...”,

Disse Preta Gil para Jeniffer Nascimento, a campeã da segunda temporada do programa ‘PopStar’

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“Não sei mais o que fazer a não ser esperar por Deus”, diz Lula

Frédi Vasconcelos

Em depoimento à juíza Gabriela Hardt, sobre as reformas num sítio na cidade de Atibaia (SP) que teria sido paga por construtoras, o ex-presidente Lula voltou a reafirmar sua inocência e se disse ofendido. “Não sei mais o que fazer a não ser esperar por Deus ou esperar que um dia este país tenha justiça, porque eu sou vítima do maior processo de mentira que esse país já conheceu”.

Lula cumpre prisão em Curitiba há sete meses, após ser condenado pelo ex-juiz Sergio Moro no processo do apartamento do Guarujá. Alega que o apartamento nunca foi dele e que, no caso atual, também nunca teve a

propriedade do sítio reformado nem deu nenhuma vantagem a construtoras em contratos da Petrobras, denúncia em que se baseia o processo.

“Nem da Odebrecht nem do Vaticano. Porque o presidente da República não se mete nessas coisas da Petrobras, em qualquer contrato... Não é coisa de um presidente da República. É entre uma empresa estatal, pública, de economia mista, que tem ações na Bolsa de Nova York

(e as empresas).”

Ele também negou ter pedido que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari tratasse com empreiteiros sobre a reforma do sítio em que está sendo processado. “Essa é outra mentira que apareceu não sei de onde. Nunca pedi, até pelo respeito que tenho pela figura do Vaccari, jamais pediria para ele cuidar de qualquer assunto meu que pudesse indicar comprometimento com coisa ilícita”, concluiu.

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QUE DIREITO É ESSE?

Fernando Prioste*

Nossos direitos e o Mais Médicos

A Constituição Federal, no artigo 196, diz que a saúde é direito de todas as pessoas. O Estado deveria, sem cobrar, agir na prevenção e na recuperação de quem precisasse. Contudo, sabemos que no geral o serviço público não é bom, e quem tem dinheiro pode pagar atendimento particular com mais qualidade.

O programa Mais Médicos foi criado para tentar disponibilizar, principalmente nas periferias e nas cidades do interior, bons médicos. Mais de oito mil médicos/as cubanos vieram ao Brasil para suprir essa necessidade, pois médicos brasileiros se recusam a ir aos locais mais distantes dos grandes centros ou atendem mal à população carente.

Mas, por uma questão de preconceito, o presidente eleito Jair Bolsonaro inviabilizou o acordo com Cuba e fez com que os médicos tivessem que voltar a seu país. Com isso, quem sofre é a população que mais precisa do atendimento.

Cada um de nós pode exigir que o direito à saúde, previsto na Constituição, seja realizado. E sabemos que o direito só acontece quando o povo se organiza e luta. O que podemos fazer para garantir o direito à saúde no novo governo?

*Advogado popular na Terra de Direitos e da Renap

Brasil 4 | Entrevista de Fato PR

Paraná, 22 a 28 de novembro de 2018

Brasil de Fato PR

Pedro Carrano

Pela permanência e ampliação dos direitos conquistados

Professor aponta a necessidade de seguir valorizando a história de luta da população negra

Lia Bianchini e Pedro Carrano

No 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, Luiz Carlos dos Santos, dirigente da Sindicato do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), integrante da coordenação da Vigília Lula Livre e da Associação Conciência Negra de Maringá, reflete sobre os desafios do movimento negro no atual momento e frente a um governo de pautas e declarações antipopulares.

Brasil de Fato PR | Além de lutar pela data do dia da Consciência Negra, que capitais como Curitiba não reconhecem, quais são as pautas da população negra hoje? Luiz Carlos dos Santos | O movimento negro pautou e escolheu essa data por ser a morte do Zumbi dos Palmares, que representava a luta pela liberdade, representava resistência pela permanência do povo negro que estava aqui, e hoje não é diferente: é uma luta por resistência, para garantirmos a permanência dos direitos que conquistamos ao longo de anos e anos de história, e também para a gente pautar novas lutas e novas demandas.

Para a esquerda em geral, há o desafio de unidade. Como o movimento negro visualiza esse tema? Todo movimento social em geral precisa ter essa integração. Na verdade a luta do movimento negro, como a de qualquer outro movimento, não pode se dar de forma isolada e deve ser transversal, passando por vários debates.

O projeto da Escola sem Partido é uma ameaça a qualquer princípio de evolução que a gente tenha na escola, e lógico que é grande a ameaça à população negra

Hoje o negro está no mercado de trabalho, e o recorte que fazemos desse debate é que o negro vive nas condições mais precarizadas, com relação à garantia de direitos. Numa escala, hoje uma mulher negra é a menos considerada no mercado de trabalho, então o movimento negro não pode se abster desse debate, e não tem propriedade sozinho

para fazer isso se não estiver envolvido na luta do movimento sindical, que faz esse debate, por exemplo.

Há uma ideia de que o Brasil é um país feito sem revoltas populares, mas nosso passado tem várias com a população negra. Qual a importância desse resgate? Vivemos sob o mito da democracia racial, que permeou ideias e mentes, por conta de um racismo institucional. Então, o negro se sentia ali no seu lugar de onde a sociedade o colocou, dentro desse racismo institucional impregnado na sociedade, que nos colocava nas periferias, na criminalidade, nas favelas, sem acesso à educação, com acesso precarizado à saúde, então você tinha essa conformidade.

Então resgatar o momento em que negros tiveram suas lutas e revoluções, isso é importante para a gente novamente buscar o empoderamento do povo negro, resgatar essa força que a gente tem enquanto população, uma vez que somos a maioria da população do Brasil, 54% da população, e somos a segunda população negra em número de pessoas, atrás da Nigéria.

Qual papel a escola deve cumprir nessa conscienti-

zação e os riscos nesse momento de propostas como o Escola sem Partido? O projeto da Escola sem Partido é uma ameaça a qualquer princípio de evolução que a gente tenha na escola, e lógico que é grande a ameaça à população negra, ele pode vir de forma mais agressiva ou sutil, com o discurso de que não temos o racismo, que não precisamos fazer o debate, de que tudo está consolidado... É uma grande ameaça.

Como o movimento negro está se preparando para um governo Bolsonaro?

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Organizamos debate da garantia de direitos que já tivemos, nós temos representatividade pequena nos espaços de poder, mas temos que começar a pensar em organizar a resistência mesmo.

São jovens negros nas universidades que já pensam em movimentos para organizar a manutenção da políticas de cotas raciais, garantia de leis e políticas públicas, sabemos que vai ser um período difícil, mas vemos na população o empoderamento que nos vai dar força para fazer a resistência.

Brasil 5 | Especial de Fato PR

Paraná, 22 a 28 de novembro de 2018

Brasil de Fato PR

Giorgia Prates

Lavação de escadarias da igreja do Rosário resgata história dos negros

Frédi Vasconcelos

Entre as atividades da Consciência Negra, comemorada no dia 20 de novembro, Curitiba teve a lavação das escadarias da igreja do Rosário, “um apelo pelo respeito à diversidade religiosa, além de uma luta para restaurar a memória, a valorização e o pertencimento do povo negro e das religiosidades de matrizes africanas”, diz Melissa da Silva, do Centro Cultural Humaitá, uma das entidades organizadoras.

Parte dessa história, como lembra, é apagada cotidianamente, o que pode ser comprovado no próprio nome da igreja. Antes, Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito, teve seu nome alterado para Santuário das Almas. O que ajuda a esconder a participação dos pretos na construção da segunda igreja mais antiga de Curitiba.

E também ocorre na própria participação dos negros na história da fundação da cidade. Eles

foram trazidos desde o início para trabalhar como faiscadores, nome que se dava aos garimpeiros, por conta da experiência que tinham em seus países de origem.

“Era uma mão de obra especializada, no ciclo do ouro, porque na África a extração e fundição de ouro era desenvolvida há séculos”, relata Melissa. Ela diz que uma das formas de a história oficial desvalorizar a participação dos negros é tratar todos apenas como “escravos”. “Assim se recusa sua huma-

nidade, ao não dar seu nome, sua procedência, sua identidade.”

Nossa Senhora do Rosário As celebrações também foram em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, protetora dos dançarinos, artistas e preservadores da cultura popular.

No sincretismo com as religiões de matriz africana como o Candomblé e a Umbanda, a santa representa Oxum, orixá da fertilidade e da riqueza.

Dezenas de cidades no Paraná ficarão sem médicos

Atendimento era exclusivo de cubanos, que sairão por desentendimento com Bolsonaro

Ana Carolina Caldas

Com o rompimento do acordo com Cuba, por desentendimentos com o presidente eleito, Jair Bolsonaro, pelo menos 42 municípios no Paraná ficarão sem nenhum médico, já que só havia profissionais cubanos nessas cidades. Francisco Mouzinho, professor da Universidade Federal do Paraná e tutor do Programa Mais Médicos no estado, diz que “muitos desses profissionais chegaram a criar o

sistema de saúde nessas cidades, que era inexistente.”

Com o cancelamento do convênio, o Brasil aumenta o déficit de profissionais. Em cidades como Atalaia, Itaperuçu, Mariópolis, Piên, Rio Bonito do Iguaçu, São Pedro do Paraná, Tunas eram dois médicos cubanos. Em outras 33, apenas um profissional. De acordo com o Ministério da Saúde, há 18.240 vagas em 4.058 municípios no Mais Médicos, dessas, 8.400 foram ocupadas por cubanos.

Problema das prefeituras Para a Secretaria Estadual da Saúde do Paraná, caberá a cada município resolver o que fazer. Em Ponta Grossa, por exemplo, desde que o programa iniciou em 2014, dos 80 médicos do Sistema Único de Saúde, 60 são cubanos. O prefeito Marcelo Rangel (PSDB), apoiador de Bolsonaro, chegou a publicar em redes sociais que: “O fim do Mais Médicos irá acarretar problemas graves de atendimento.”

ATENDIMENTO

Segundo Francisco Mouzinho, “muitos médicos cubanos viraram celebridades nas cidades. Chegaram a receber homenagens nas câmaras municipais. A arte-educadora Susi Montserrat conta que foi atendida pela médica cubana Magdalenis, no bairro Umbará, em Curitiba. “Eu estava com descompensação de diabetes e ela fez um exame clinico primoroso,

me deixando muito segura. “É muito triste saber que eles irão embora”, diz.

Em Laranjeiras do Sul, Yone Rasel realizou tratamento para os rins também com uma médica cubana e conta que o que mais lhe chamou atenção foi a paciência. “Ela pergunta várias coisas e o tratamento foi um sucesso. Não deviam mexer no que está dando certo.”

Brasil 6 | Cidades de Fato PR

Paraná, 22 a 28 de novembro de 2018

Brasil de Fato PR

Violência contra indígenas aumenta no Oeste do Paraná

Pressão, ameaças e um caso recente de suicídio mostram urgência de demarcação das terras indígenas

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Luciano Egídio Palagano, Marechal Cândido Rondon (PR)

Desde o começo de 2018, dois sentimentos crescem nas relações entre indígenas e proprietários de terra na região Oeste do Paraná: a tensão e o medo estão presentes no processo de demarcação da Terra Indígena “Tekoha Guassú Guavirá”, que abrange território entre as cidades de Guaíra, Terra Roxa e Altônia.

De 2013 para cá ocorreram, pelo menos, 10 casos de suicídio de adolescentes e jovens guarani em Guaíra e Terra Roxa. No dia 17 de setembro, o jovem Crescêncio Duarte Martins, residente na aldeia Tekoha Taturi, em Guaíra, de apenas 14 anos, retirou a própria vida.

de Guaíra, que preferiu não se identificar: “Nas ruas tentam nos atropelar quando percebem que somos indígenas”, afirma.

O relato menciona que houve dois casos de sequestro- -relâmpago de dois guaranis. Foram levados até o Paraguai e largados no país vizinho. O fato foi encarado pelas lideranças como um “aviso” aos indígenas. Questionada sobre a denúncia dessas situações, a liderança afirma: “A gente não pode denunciar. As vítimas têm medo e

Paulo Porto

a polícia não liga, eles se negam a fazer o boletim de ocorrência.”

Outro caso de tentativa de homicídio aconteceu no dia 6 de novembro, numa reunião de lideranças no escritório local da Funai. O jovem Donecildo Agueiro usava um cocar que o identificava como guarani. Ao término do encontro, enquanto voltava para casa, sofreu atentado a tiros. Um dos projéteis permanece alojado em sua coluna. Agueiro perdeu o movimento das pernas.

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Atentados e sequestros Relatos de lideranças indígenas mencionam atentados, sequestros-relâmpago, tentativas de atropelamento e agressões físicas. Segundo liderança da comunidade Tekoha Y’hovi,

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POSIÇÃO DA FUNAI

Questionada sobre a situação na região de Guaíra e Terra Roxa a Funai, por meio de sua Secretaria de Comunicação, afirmou: “A informação é a base do respeito. Assim, há que se superar o desafio de divulgar tanto a cultura guarani quanto as garantias de direitos dos povos indígenas firmadas por bases legais e tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, como os artigos nº 231 e 232 da Constituição Federal de 1988, além da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)”.

Delimitação de áreas

No dia 15 de outubro de 2018, a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai) publicou, no Diário Oficial da União, o Despacho nº 02, assinado em setembro, que trazia um resumo do laudo técnico de delimitação das áreas a serem alcançadas pelo processo de demarcação da Terra Indígena “Tekoha Guassú Guavirá”.

O processo de demarcação compreende sete fases: estudos de identificação; aprovação do relatório do estudo pela Funai; contraditório; encaminhamento do processo ao Ministério da Justiça; decisão do Ministério

da Justiça; homologação mediante Decreto da Presidência da República e registro da área demarcada.

A publicação do relatório marcava a segunda fase, abrindo o prazo de 90 dias para que os proprietários das terras apresentassem seus argumentos. Porém, no dia 7 de novembro, o desembargador Cândido Alfredo Leal Jr., do Tribunal Regional Federal da 4ªRegião (TRF-4), suspendeu os procedimentos de demarcação numa ação apresentada pela Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep/PR).

Brasil 7 | Opinião de Fato PR

Paraná, 22 a 28 de novembro de 2018

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Vestir é também um ato político

Estilistas curitibanos utilizam técnicas artesanais, pintura e aproveitamento de resíduos

Ana Carolina Caldas

Responsável por figurinos de artistas como Letícia Sabatella e da cantora Elza Soares, a marca curitibana H-AL traz o conceito de “arte vestível”, com um trabalho de compor roupas baseado em eco design e na possibilidade de transmitir conteúdos através do corpo de quem veste.

Os artistas curitibanos

Alexandre Linhares e Tifany F são os idealizadores da marca desde 2007, após um percurso pelo mercado da moda e design. Alexandre é formado em design de produto pela Universidade Federal do Paraná e começou a carreira pintando camisetas e vendendo aos amigos. Já Tifany, desde muito nova, trabalhou no comércio.

Para eles, uma roupa pode ser um ato político ao transmitir

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mensagens. “Fazemos no tecido o mesmo que é feito em uma tela de pintura, numa performance ou numa peça de teatro. É um objeto de arte que pode ser vestido,” explica Alexandre, que diz ser a pintura algo que remete à sua infância. Para Tifany, “as roupas que fazemos são peças que abrem diálogos e questionam. Nossas coleções já trouxeram questionamentos sobre alimentos transgênicos, por exemplo.

As coleções da marca trazem sempre temas instigantes e geralmente apresentadas de diferentes formas. “Estamos há 11 anos sem nos rendermos a imposições do mercado. Já levamos desfiles para calçadas do centro da cidade para falar do fechamento de cinemas de rua, para dentro de teatro e agora da 25ª edição da Bienal de Curitiba, no MON,” diz Linhares.

A abertura na Bienal foi uma performance com a Curitiba Cia. de Dança. A apresentação foi feita com um outdoor têxtil, na qual fatias de bordados estabelecem diálogos de uma mesma paisagem, totalizando oito diferentes visões de mundo.

DICAS MASTIGADASPãozinho de tapioca sem glúten

Ingredientes 2 xícaras (chá) de leite, 4 colheres (sopa) de óleo, Sal, 1 xícara (chá) de tapioca granulada, 1 ovo, 150 g de queijo ralado, 2 colheres (sopa) cheias de polvilho doce, manteiga para untar

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Modo de Preparo Leve o leite com o óleo e sal a gosto ao fogo médio e mexa até ferver. Despeje sobre a tapioca granulada e deixe esfriar. Acrescente o ovo, 4 colheres (sopa) do parmesão e o polvilho e misture bem. Modele bolinhas com pequenas porções da massa, envolva no restante do parmesão e disponha em assadeira untada com manteiga. Asse em forno médio preaquecido (180ºC) por cerca de 30 minutos ou até dourarem. Sirva em seguida.

AGENDA CULTURAL

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Volta do Bondinho da XV

O quê: O tradicional Bondinho da Rua XV foi reaberto após passar por obras de restauro e melhorias. Conhecido cartão postal da cidade, o espaço retoma as atividades como Bondinho da Leitura, posto de atendimento para o empréstimo gratuito de livros e atividades de incentivo à leitura Onde: XV de Novembro, esquina com Rua Ébano Pereira) Segunda a sexta, das 9h às 18h e sábado das 10h às 14h. Quanto: Gratuito

Viola Quebrada

O quê: O projeto “Viola Quebrada - 20 anos de estrada” comemora os 20 anos de carreira do grupo. O primeiro show foi em 1998, no programa Viola Minha Viola apresentado por Inezita Barroso. O nome do grupo vem de uma canção de Mário de Andrade, fundador do modernismo brasileiro e pesquisador musical Quando: 23/11 e 24/11, 20h Onde: Teatro Paiol Quanto: R$ 10 e R$ 5

Brasil 8 | Esportes de Fato PR

Paraná, 22 a 28 de novembro de 2018

Brasil de Fato PR

Foot Ball Club

Por Cesar Caldas

Situação e parte da oposição parecem esquecer que o planejamento do futebol do Coritiba está atrasado e há urgência de um reforço de caixa junto ao mercado (televisivo, empresarial ou financeiro, a juro baixo) de ao menos R$ 40 milhões para 2019. Com orçamento reduzido à metade e muito comprometido com despesas obrigatórias (Profut, acordos judiciais e extrajudiciais), a instabilidade política não pode se prolongar, sob pena de repetição, em campo, do fracasso deste ano. Isso determinaria a insolvência do clube mais tradicional do Estado. As partes se acusam mutuamente da intransigência do outro lado, mas não demonstram, na prática, disposição em ceder mais que meio metro. O conselheiro que se ausentar da reunião do próximo 26/11, ou não estiver despido do espírito de beligerância, será responsabilizado pela história do esporte paranaense.

Guerreiros gritam olé!

Por Marcio Mittelbach

As últimas três partidas do Paraná Clube – América, Atlético-MG e Palmeiras - deram um alento ao torcedor. Não só pelos quatro pontos conquistados. Com o tempero especial da participação dos garotos da base, o tricolor demonstrou outra postura em campo.

Mas a partida que queremos destacar aqui é justamente a derrota diante do Galo mineiro. Com o tricolor perdendo por um a zero e com dois homens a menos, resultado de duas expulsões contestáveis, a torcida paranista explicitou que basta o time demonstrar o mínimo de vontade que ela entra em campo e joga junto.

A ponto dos pouco mais de mil guerreiras e guerreiros gritarem o famoso “olé” quando o time tocava a bola. Se aquela foi a última partida na Vila Capanema, é com esse espírito que devemos seguir com a luta em 2019.

Bom senso dos fanáticos

Por Roger Pereira

A direção do Atlético insiste em não separar espaço e não vender ingressos diferenciados para torcidas visitantes na Arena. Sob o utópico argumento de querer acabar com a separação de torcidas, permitindo que admiradores de clubes adversários “possam desfrutar do espetáculo lado a lado, em harmonia”, o clube acaba privando torcedores de times de fora que moram na cidade verem suas equipes. Por questão de segurança e pelo histórico de confusões, torcedores de Corinthians, Internacional, Palmeiras, São Paulo e tantos outros acabaram deixando de ir à Arena, prejudicando o espetáculo e proporcionando arrecadação menor ao clube. Pois na última quarta-feira, no jogo contra o Corinthians, a Torcida Organizada Os Fanáticos cedeu o local a ela reservado no estádio para que os corintianos pudessem torcer em segurança. Gol dos Fanáticos na disputa com a diretoria intransigente.

Relembre dez atletas negros brasileiros que quebraram barreiras

PELÉ É o maior jogador de futebol de todos os tempos. Descoberto por Waldemar de Brito, Pelé começou sua carreira no Santos e entrou na Seleção Brasileira aos 16. Venceu sua primeira Copa do Mundo aos 17 anos.

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DAIANE DOS SANTOS

MAGUILA Ex-pugilista, Maguila tornou-se o primeiro brasileiro “campeão mundial” dos pesos-pesados no dia 22 de agosto de 1995, aos 37 anos. Derrotou por pontos o inglês Johnny Nelson.

Foi a primeira ginasta brasileira a conquistar uma medalha de ouro em Campeonato Mundial. Possui dois movimentos nomeados após ser a primeira ginasta no mundo a realizá-los: o duplo twist carpado, ou Dos Santos I, e o duplo twist esticado, ou Dos Santos II.

Agência Brasil

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RAFAELA SILVA Tornou-se, em 2013, a primeira brasileira a se sagrar campeã mundial de Judô. Nos Jogos Olímpicos de 2016, conquistou a medalha de ouro. Primeira atleta da história do judô brasileiro, entre homens e mulheres, a ser campeã olímpica e mundial.

ROBSON CAETANO Atleta de corridas em curta distância, participou de quatro Jogos Olímpicos, ganhando um bronze nos 200 metros rasos em Seul 1988 e outro bronze no revezamento 4×100 m, em Atlanta 1996.

JOÃO DO PULO Atleta especializado em saltos, sendo recordista mundial do salto triplo, medalhista olímpico e tetra-campeão panamericano no triplo e no salto em distância.

JÔ Jogador de futebol, foi revelado pelo Corinthians e aos 16 anos de idade conseguiu o feito de se tornar o jogador mais novo a vestir a camisa do clube como profissional.

ADHEMAR FERREIRA DA

SILVA Primeiro atleta brasileiro a se tornar bicampeão olímpico no salto triplo, foi pentacampeão sul-americano e tricampeão pan-americano (1951, 1955 e 1959). Foi dez vezes campeão brasileiro, tendo mais de quarenta títulos e troféus internacionais e nacionais.

KETLEYN QUADROS Judoca, foi a primeira mulher a ganhar uma medalha em esportes individuais para o país na história das Olimpíadas. O feito ocorreu nos jogos olímpicos de Pequim (2008), conquistando a medalha de bronze na categoria leve (até 57 kg).

ANDERSON SILVA Lutador e ex-campeão de MMA (Artes Marciais Mistas), tem 17 vitórias seguidas e 10 defesas de título consecutivas. “Spider” é considerado o melhor lutador da história pelo presidente do UFC, Dana White, e já venceu grandes nomes do MMA como Vítor Belfort, Dan Henderson e Rich Franklin.

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