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Escolas do Estado só permitem que alunos usem uniformes de empresa investigada

Escolas cívico-militares recomendam que roupas não sejam lavadas na semana por serem peças únicas

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Ana Carolina Caldas

“Evitem lavar a calça e a blusa durante a semana; somente a camiseta, que foram doadas duas por aluno.” Este é um dos itens de circular envida aos pais pela direção do Colégio Estadual Yvone Pimentel, umas das instituições de ensino que migraram para o modelo cívico militar no Paraná. Entre as mudanças, além de uma gestão compartilhada entre direção pedagógica e militar, os alunos, agora, só podem entrar com o novo uniforme chamado de “farda” doado, neste ano, pelo governo do Estado.

As famílias não podem fazer roupas extras, pois a Secretaria Estadual de Educação, Seed, só permite o uso peças confeccionadas pela empresa Triunfo, contratada pelo governo Ratinho Jr e que está sendo investigada pelo Ministério Público, suspeita de ser empresa de fachada, entre ou-

Reprodução

tras denúncias.

O Brasil de Fato Paraná ouviu de famílias com filhos nesses colégios sobre as dificuldades que estão enfrentando. “Antes fazíamos mais peças nas confecções do bairro, as costureiras, com isso, também perderam trabalho. Agora, as crianças só podem entrar com o uniforme com a etiqueta da Triunfo”, comenta Juliana dos Santos, mãe de uma menina que cursa o sétimo ano do Colégio Estadual Yvone Pimentel.

Juliana relata que a filha tem dificuldades para comparecer à escola com o novo uniforme. “As camisetas são totalmente transparentes, as meninas precisam usar duas camisetas uma em cima da outra. Além disso, a escola acabou por recomendar que não se lave a blusa e a calça porque só receberam uma peça de cada e não pode ir para o colégio sem esse uniforme. Minha filha, por exemplo, tem o fluxo menstrual forte e para garantir o mínimo de higiene precisa trocar de calça durante a semana. Mas, e agora, como faz? Vai acabar faltando na aula”, diz.

Outra insatisfeita é Marilene da Costa Oliveira, mãe de um adolescente que também está em um dos colégios estaduais cívico-militares. “Eu votei contra mudar para o cívico militar. Foi tudo imposto como é também a questão do uniforme. Não colocaram os pais em uma sala para debater isso. Além dos problemas de não podermos ter mais peças, quero saber quanto o governo gastou com isso e quanto vai ficar pra gente depois, pois já avisaram que o uniforme doado é para usar por dois anos, mesmo que fique pequeno, questiona. “A coisa mais triste que a gente pode estar vendo como pais é a má gestão do dinheiro público. Muitos desses uniformes eram feitos por costureiras da economia solidária. E, agora, quero saber por que essa empresa? O dinheiro público sendo dado para essas empresas”, comenta Marilene.

Empresa investigada

O deputado estadual Tadeu Veneri (PT) apresentou denúncia ao Ministério Público sobre as irregularidades na aquisição de uniformes para escolas cívico-militares no Paraná. Ele questiona o edital ganho pela Triunfo e aponta que ela é usada como empresa de fachada.

Segundo a denúncia, a Secretaria Estadual de Educação, ao escolher as especificações dos uniformes a serem adquiridos, não se baseou em nenhum modelo conhecido, “mas estranhamente procurou a empresa Nilcatex, que tem os mesmos sócios da Triunfo S.A (que venceu todos os lotes da licitação), para fazer a cotação dos uniformes.”

Além disso, há denúncias de que a empresa tenha sido beneficiada na licitação. “Os sócios da empresa Triunfo são os mesmos da empresa Nilcatex, que está envolvida em vários escândalos de corrupção. Cabendo ressaltar que no endereço da filial da Triunfo S/A, em Fazenda Rio Grande, estranhamente, não tem atividade por semanas a fio e dentro do barracão não há nada”, aponta o deputado. O local deveria fabricar 129 mil kits para escolas militarizadas.

A reportagem do Brasil de Fato Paraná encaminhou as denúncias para que a Secretaria de Educação se posicionasse. Até o fechamento desta edição, não houve resposta.

Ana Carolina Caldas

Jornalista recebe ameaças de morte após reportagem sobre operação policial em MG

Ataques ganharam força depois que Eduardo Bolsonaro comentou nas redes sociais

Redação, São Paulo o porquê teria que ter algum policial morto”, diz um dos textos, que é respondido por outro usuá-

Ojornalista Marcelo Hailer, que publicou a rio: “Pode ter certeza que faremos ele explicar reportagem Massacre: Operação policial em direitinho. E depois postaremos o vídeo. Força e Minas deixa 25 mortos e nenhum deles policial, honra”. na Revista Fórum, no último domingo (31), pas- Em outra ameaça, uma usuária diz que tiros sou a receber ameaças de morte e insultos LGBT- de fuzil serão dados “em sua cara” e na “sua fafóbicos em suas redes sociais. mília”. “Vagabundo, amante de bandido filho da

Em uma das ameaças, o internauta afirma puta, homossexual nojento, aidético. Pena que que irá rastrear o endereço do jornalista, executá não sobrou tiro de fuzil na cara da sua família, -lo e depois divulgar o vídeo nas redes. “Só espe- viado maldito de merda”, diz o texto. ro que algum policial te ache e faça você explicar Outro usuário diz que gostaria de dar “oito tiros na cara” do jornalista. “Lixo! Você é um desReprodução Twitter serviço como ser humano. Pena que moro em outra cidade, queria muito dar uns 8 tiros na sua cara. Viado nojento. Tua hora vai chegar.” Até o momento, já foram mais de 100 ameaças nos perfis das redes sociais do jornalista, que ganharam força depois que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, comentou a reportagem no Twitter. (Veja imagem ao lado) “Para ser uma operação bem sucedida alguns acham que tem que morrer policial. Se vivessem no mundo real perceberiam que o povo aplaude este tipo de operação”, afirmou o parlamentar. A postagem veio acompanhada de páginas e perfis bolsonaristas que estão comentando o assunto e marcando o perfil do jornalista. A Revista Fórum informou que irá tomar todas as medidas legais contra os responsáveis pelas ameaças e que “repudia ataques ao exercício do jornalismo e à liberdade de imprensa”. Também afirmou que “hoje, infelizmente, a violência contra jornalistas parte do presidente que ocupa o Planalto e seus filhos, que alimentam uma rede de ódio”.

Violência contra jornalistas

O monitoramento de violações à liberdade de imprensa, realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), registrou aumento de alertas no primeiro trimestre de 2021, em comparação com o mesmo período de 2020. De janeiro a março deste ano foram identificados 73 ataques a meios de comunicação, jornalistas, comunicadores e imprensa de modo geral contra 53 no primeiro trimestre do ano passado.

“O crescimento de 38% reforça a escalada da violência contra comunicadores no país, fato já apontado em outros monitoramentos de organizações da sociedade civil. A previsão é de que esses números sejam superados mais uma vez em 2021”, diz nota divulgada pela entidade em abril deste ano.

Segundo o “Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil 2020”, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o segundo ano do governo Bolsonaro foi o mais violento para os profissionais da imprensa desde o começo da década de 1990, quando a entidade iniciou a série histórica. No total, foram 428 casos de ataques, incluindo dois assassinatos, o que significa um aumento de 105,77% em relação a 2019.

“Na avaliação da Federação Nacional dos Jornalistas esse crescimento está diretamente ligado ao bolsonarismo, movimento político de extrema-direita, capitaneado pelo presidente Jair Bolsonaro, que repercute na sociedade por meio dos seus seguidores. Houve acréscimo não só de ataques gerais, mas de ataques por parte desse grupo que, naturalmente, agride como forma de controle da informação. Eles ocorrem para descredibilizar a imprensa para que parte da população continue se informando nas bolhas bolsonaristas, lugares de propagação de informações falsas e ou fraudulentas”, afirma Maria José Braga, presidenta da Fenaj, em nota.

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