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LONDON EDITION JUNE 5 – 18
ISSN 2055-4826
ATMOSFERA BRASILEIRA EM LONDRES
Descubra onde curtir o Mundial na capital britânica >> Página 15
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www.brasilobserver.co.uk
EDIÇÃO ESPECIAL REPORTA O MOMENTO HISTÓRICO DO PAÍS
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E D I T O R I A L
A COPA QUE VAI TER Por Ana Toledo e Guilherme Reis
LONDON EDITION Há sete anos, quando anunciaram que o Brasil sediaria a Copa do Mundo de 2014, muitos sentimentos vieram à tona e, com certeza, muitas opiniões foram formadas no decorrer de todo o processo até aqui, para que chegássemos ao momento crucial: sim, vai ter Copa. Nesse caminhar, o bordão “imagina na Copa” se tornou frase clichê. Você acha que o Brasil vai mal? Imagina na Copa. Você acha que os turistas estrangeiros passam dificuldade quando vão ao país? Imagina na Copa. Você acha que o Brasil faz papelão na cena internacional? Imagina na Copa. Imagina na Copa o que dirão de nós! Pois, se faltava alguma coisa para o brasileiro assumir de vez seu complexo de vira-lata – para citar o já conhecido jargão de Nelson Rodrigues que exemplifica tão bem nossa mania de achar que tudo que fazemos é ruim ou inferior ao que é feito no primeiro mundo –, o Mundial da FIFA veio preencher essa lacuna. O brasileiro sofre de síndrome terceiro-mundista? Imagina então na Copa do Mundo! Pipocam nas redes sociais e nas discussões de bar pelo Brasil declarações subalternas autoexplicativas de que passaremos vergonha no Mundial. Ao que parece, estamos fadados ao fracasso, segundo tais depoimentos reveladores de não muita autoestima senão medo, talvez, de subir ao patamar de país do presente, pois do futuro já somos há bastante tempo para seguir iludidos. Onde foi parar, então, aquele país que tinha se tornado o queridinho dos estrangeiros? Continua lá, debaixo da linha Equador, mas agora parece menos confiante do que anos atrás. Superamos a crise, mas não nossos traumas históricos. Construímos estádios monumentais, mas não limpamos o esgoto que corre nos becos das favelas. Compramos caças ultrapotentes, mas não resolvemos a situação degradante de nossas cadeias, tampouco a violência policial que a população pobre e periférica é vítima frequente. E por aí segue extensa lista, passando por mobilidade urbana, educação, saúde etc. Neste emaranhado de justas reivindicações, fomos às ruas como nunca desde o início da década de 1990. E o sentimento futebolístico, tão forte nos brasileiros, perdeu significado no meio dos bilhões de reais gastos para realizar a Copa “padrão FIFA”. E o evento que foi chamado de a “Copa das Copas” tomou um banho de água fria. Independentemente disso, o Mundial, desta vez, é no quintal de casa, logo ali. Gostando ou não de futebol, vamos receber o mundo para uma festa internacional. A quem interessa parar o país
agora? Logo agora, que vamos receber 600 mil turistas estrangeiros que contribuirão para a movimentação de R$ 25 bilhões na economia? O Brasil Observer acredita que o país caminha na direção de uma democracia social. Não somos ingênuos a ponto de pensar que não há sérios problemas a serem enfrentados, tampouco que isso ocorrerá da noite para o dia. Desde a primeira edição, pautamos corajosos e fiéis à verdade factual temas como financiamento de campanha, corrupção, controle social dos meios de comunicação, marco civil da internet, agricultura familiar, ditadura militar, entre outros temas que julgamos pertinentes ao amadurecimento de qualquer nação que se pretende mais justa e democrática. Damos também atenção especial aos caminhos que o país tem trilhado rumo à internacionalização de seus interesses, sejam eles financeiros ou culturais, para que se torne um player internacional relevante. Por isso, mesmo nos mantendo críticos, afirmamos seguros que sim, vai ter Copa. E por que não haveria? Deixamos alguma vez de celebrar o Carnaval por conta de nossos problemas? Sem a Copa, por acaso, o país estaria melhor? Acreditamos que não. Nas próximas páginas, você vai encontrar conteúdos especialmente pautados para esse momento histórico do Brasil. Como anunciado na capa, é a nossa visão do país da Copa – desde uma perspectiva global, como a do diretor do King’s College, Anthony Pereira, que nos concedeu entrevista exclusiva, até um olhar nacional, exposto nesta edição pelo colunista Wagner de Alcântara Aragão, além do Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que também nos falou com exclusividade. Ainda na linha política, confira entrevista com o inimigo número 1 da FIFA, o jornalista britânico Andrew Jennings, que conversou com a repórter Giulia Afiune, da Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo, parceira do Brasil Observer. E, encerrando a série de reportagens sobre as 12 cidades-sede do Mundial, Nathália Braga mira o palco da abertura, a cidade de São Paulo. Há também análises sobre as seleções de Brasil e Inglaterra, além de uma entrevista do técnico Felipão à FIFA. Você ainda pode conferir a surpresa do projeto CONECTANDO, que embarca em sua primeira aventura cinematográfica. E dicas de onde curtir a Copa do Mundo em Londres, mais os textos diferenciados do Brasil Observer Guide. Seja você um apaixonado por futebol ou um torcedor esporádico, esta edição foi feita para você que pensa globalmente; para você que ama o Brasil. Aproveite a leitura e nos vemos em breve!
EDITORA - CHEFE Ana Toledo ana@brasilobserver.co.uk
EDITORES Guilherme Reis guilherme@brasilobserver.co.uk kate Rintoul kate@brasilobserver.co.uk
RELAÇÕES PÚBLICAS Roberta Schwambach roberta@brasilobserver.co.uk
COLABORADORES Antonio Veiga, Bianca Brunow Dalla, Gabriela Lobianco, Luciane Sorrino, Marielle Machado, Michael Landon, Nathália Braga, Ricardo Somera, Rômulo Seitenfus, Rosa Bittencourt, Shaun Cumming, Wagner de Alcântara Aragão
PROJETO GRÁFICO wake up colab digala@wakeupcolab.com.br
DIAGRAMAÇÃO Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com
DISTRIBUIÇÃO BR Jet brjetlondon@yahoo.com Emblem Group LTD mpbb@btinternet.com
IMPRESSÃO Iliffe Print Cambridge iliffeprint.co.uk
ASSESSORIA CONTÁBIL Atex Business Solutions info@atexbusiness.com BRASIL OBSERVER é uma publicação quinzenal da ANAGU UK MARKETING E JORNAIS UN LIMITED (Company number: 08621487) e não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constarem do expediente não tem autorização para falar em nome do Brasil Observer. Os conteúdos publicados neste jornal podem ser reproduzidos desde que devidamente creditados ao autor e ao Brasil Observer.
CONTATO contato@brasilobserver.co.uk comercial@brasilobserver.co.uk 020 3015 5043
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CAPA FOTO: ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE Sテグ PAULO
ESTAMOS PRESTES A VER UM QUADRO BEM DIVERSO
Anthony Pereira durante palestra em Sテ」o Paulo
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Diretor do Brazil Institute da universidade King’s College, Anthony Pereira conta ao Brasil Observer suas percepções sobre o país da Copa, desde o interesse internacional até as demandas das manifestações que tomam as ruas das grandes cidades, passando pela expectativa em relação ao Mundial Por Guilherme Reis Ao ser escolhido como sede da Copa do Mundo, o Brasil assumiu um importante compromisso com a comunidade internacional: era chegada a hora de mostrar que o país tinha amadurecido e estava pronto para grandes responsabilidades. O teste de fogo veio dois anos depois, em 2009, quando o mundo se viu diante de uma das mais fortes crises financeiras desde 1929. A economia brasileira respondeu bem, superando as expectativas e crescendo mesmo em um cenário de recessão nos Estados Unidos e Europa, distribuindo renda e permitindo larga ascensão à classe média. Foi o suficiente para o país alcançar patamares inéditos na conjuntura global. Cinco anos depois, porém, a realidade é outra. Às vésperas da tão esperada Copa do Mundo no Brasil, o país já não é mais o “queridinho” dos analistas internacionais. A população dá mostras crescentes de insatisfação e o que antes era para ser uma festa, às vezes parece ter se transformado em um pesado fardo. Para entender melhor como o Brasil se encaixa na percepção estrangeira dentro do contexto do Mundial de futebol, o Brasil Observer conversou com o diretor do King’s Brazil Institute, Anthony Pereira. Confira a seguir a entrevista completa: O Brasil parece ter entrado definitivamente no mapa dos interesses internacionais na segunda metade da década passada. Quando isso ocorreu? A Copa do Mundo ajudou? O grande momento do Brasil aconteceu em 2009, no começo da recessão global causada pela crise financeira. Enquanto o Reino Unido, os Estados Unidos e outras economias desenvolvidas entraram em grande desaceleração, a economia brasileira se recuperou muito rapidamente e até cresceu naquele ano. Aquela foi uma situação de completa quebra do paradigma, prevalecente até então, que dizia que o Brasil ficava gripado quando o mundo pegava resfriado – em outras palavras, que as desacelerações brasileiras eram muito mais severas do que as de Europa e Estados Unidos nas décadas de 1980 e 1990. A capacidade de recuperação que o Brasil mostrou em 2009 provou para todos que a situação política e econômica do país tinha amadurecido e se estabilizado, o que gerou grande interesse dos investidores. E, apesar do crescimento da economia brasileira nos últimos três anos ter sido abaixo do esperado, o interesse dos investidores não desapareceu. O Brasil continua sendo um dos cinco principais destinos de inves-
timento estrangeiro direto no mundo. O Mundial de futebol certamente aumentou o interesse pelo país, em parte por causa da conexão única que o Brasil tem com as Copas: é o único a ter participado de todas elas e a ter ganhado cinco vezes. O interesse, porém, também é econômico. Os investidores estão cientes de que o Brasil tem grandes planos de investimento em infraestrutura e a Copa do Mundo vai chamar atenção para as deficiências estruturais do país, que geram novas oportunidades de negócios. O interesse também é político, pois os protestos do ano passado mostraram que de várias maneiras os cidadãos brasileiros estão insatisfeitos com o governo e os serviços públicos prestados. No começo, havia certa euforia em relação ao Brasil, que agora é visto com mais ceticismo. Por que isso aconteceu? A percepção do Brasil no exterior sempre foi superficial. O “surgimento” do Brasil em 2009 foi enaltecido de maneira exagerada, assim como a “queda” está sendo lida de maneira extrapolada agora. No Reino Unido, pelo menos, não há tanta conexão dos cidadãos britânicos com o Brasil como há com as ex-colônias, como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Índia. O ponto é que, mesmo com o crescimento baixo e as tensões políticas, o Brasil tem muitas vantagens econômicas, sociais e políticas em termos relativos. Falando sobre a Copa do Mundo, o governo brasileiro está bastante incomodado com a cobertura da mídia internacional, que supostamente trata o país de forma negativa. Como você avalia a cobertura do Mundial do Brasil aqui na Inglaterra? A mídia no Reino Unido (e em qualquer lugar) gosta de ser negativa com mega eventos esportivos porque isso vende mais jornais e atrai mais ouvintes ou telespectadores que ficam alarmados com os problemas que podem acontecer. Se as previsões catastróficas não se consumarem, ninguém vai lembrar mais tarde, e no meio disso eles constroem uma estória interessante. Nós vimos a mesma coisa acontecer antes da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul e até mesmo dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Acho que o governo brasileiro está sendo um pouco alarmista quando algum de seus porta-vozes sugere que está havendo algum tipo de conspiração internacional contra o Brasil. Não acho que exista tal conspiração. O que de fato acontece é que alguns canais de mídia que exercem grande influência nos formadores de opi-
nião do Brasil – como Financial Times e The Economist no Reino Unido – tendem a se posicionar contra o governo do PT. Em 2010, as duas publicações apoiaram o candidato José Serra na eleição presidencial vencida por Dilma Rousseff. Então quando o governo reclama da tendência anti-PT da mídia brasileira e internacional, é compreensível. A melhor resposta, porém, é tentar oferecer informações de qualidade e esperar por reportagens mais bem balanceadas. Você esteve no Brasil durante os protestos do ano passado. Como você avalia essa efervescência social que o país vive hoje e as demandas que nasceram nas ruas? Você acha que os protestos contra a realização da Copa do Mundo são justos? Não vejo os protestos do ano passado como contrários a Copa do Mundo. Penso que os manifestantes estavam e ainda estão demonstrando sua raiva contra um sistema no qual os gastos excessivos com o Mundial são apenas um entre muitos sintomas. Uma pesquisa feita com milhares de manifestantes em junho do ano passado em oito cidades mostrou que apenas 5% deles eram contra a realização da Copa. O que muitos estão dizendo é que se os estádios tem que ser “padrão FIFA”, por que os hospitais e escolas públicas não podem ser também? Isso é muito diferente do que ser contra a Copa. O governo tem que fazer um trabalho melhor quando se trata dos serviços públicos – a taxa de impostos é alta, mas muito dinheiro é gasto em projetos mal executados e em corrupção. Acredito que o Brasil está passando por uma experiência muito válida de crescimento da expectativa das novas gerações que não têm medo de protestar. Essa geração é adepta das redes sociais, que reduzem muito os entraves na organização dos protestos. À parte a minoria violenta, a maioria dos manifestantes parece buscar por melhores serviços públicos e respeito aos direitos civis, o que para o governo é mais difícil de oferecer do que bens privados financiados pela expansão do crédito, programas sociais e crescimento do salário mínimo. Em longo prazo, os protestos podem ter um impacto positivo na democracia brasileira, mas as demandas que vemos hoje nas ruas são muito difusas e falta uma liderança clara, então é improvável que haja um impacto imediato no sistema representativo atual. Tem outro aspecto interessante em relação aos protestos. Algumas pessoas acreditam que o Brasil ganhou cinco Copas do Mundo porque os brasileiros tem um talen-
to natural para o futebol: o sucesso brasileiro na dança e nos movimentos com o corpo se transformaram naturalmente em talento dentro de campo. Acho que devemos ser céticos quanto a esse tipo de explicação. Se analisarmos por outra perspectiva, veremos que o Estado brasileiro investiu pesado no futebol, começando em 1930, porque os políticos do país viram no esporte uma fonte muito útil de expressão da identidade nacional. Essa é a posição do historiador Paulo Fontes, que acaba de editar um novo livro chamado The Country of Football. Visto dessa maneira, o futebol é parte de uma longa tradição estadista na vida social brasileira. Um bom exemplo disso foi a forma como o regime militar explorou a Copa do Mundo de 1970 , numa tentativa de associar a vitória da Seleção no México com o projeto autoritário da ditadura. Nesse caso, alguns manifestantes (a minoria eu acredito) podem se posicionar contra o Mundial porque rejeitam o uso político do futebol. Os brasileiros parecem bastante preocupados com a imagem que o país vai passar para o mundo. Muitos, aliás, torcem para que o Brasil passe vexame na Copa, motivados por preferência políticas que não o PT para as eleições de outubro. Em uma perspectiva global, qual é a imagem do Brasil hoje? A imagem do Brasil está claramente mudando. Fui além dos estereótipos da dança, do futebol e da praia para ver as demonstrações que aconteceram no passado durante a Copa das Confederações. Se houver manifestação na Copa do Mundo, os estereótipos vão cair novamente. Mas eu acredito que aqueles que se opõem ao governo Dilma Rousseff sabem que precisam ser cautelosos. Quem deseja uma Copa do Mundo catastrófica pode ser visto como desleal e até mesmo antipatriótico. Não acho que as eleições de outubro serão afetadas pelo resultado da Seleção dentro de campo. Fernando Henrique Cardoso falhou em eleger seu sucessor José Serra depois da vitória do Brasil em 2002, enquanto Lula se reelegeu em 2006 após a derrota brasileira na Alemanha. No entanto, se alguma coisa de errado acontecer na organização da Copa, Dilma pode sofrer consequências nas urnas. De qualquer maneira, se o Brasil jogar bem na abertura, muitas pessoas vão entrar no clima e na emoção do evento. Os brasileiros costumam ser bastante críticos quanto a situação social e política do país, mais ainda são apaixonados por futebol. Estamos prestes a ver um quadro bem interessante e diverso na Copa do Mundo.
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UMA COPA COM
A CARA DO BRASIL
O país do futebol dá seu jeito para ter tudo pronto antes de a bola rolar e, para o bem e para o mal, expõe suas características históricas e tensões sociais Por Wagner de Alcântara Aragão
Às vésperas do tão esperado mundial de seleções, o Brasil está pronto para realizar uma Copa do Mundo com a cara do país. E isso em todos os aspectos: desde aqueles que são motivo de orgulho até aos que não geram tanta satisfação assim. Vejamos. Os estádios, a infraestrutura e a logística necessária para que as 32 delegações desembarquem em solo brasileiro, preparem-se para o torneio e entrem em campo devem estar suficientemente prontos até o dia 12 de junho, quando Brasil e Croácia abrem, em São Paulo, o Mundial. Eventuais problemas estão sujeitos a ocorrer, mas fazem parte da cota de risco de qualquer mega evento como esse. Em 2007, quando a FIFA oficializou o Brasil como o país sede da Copa do Mundo de 2014, muitos duvidavam da capacidade de o país se adequar ao chamado “padrão FIFA”. Arenas luxuosas, rede hoteleira digna de acolher os mais exigentes hóspedes e aeroportos modernos e ágeis, para os mais céticos, eram impossíveis de existir no Brasil. O torcedor brasileiro, por sua vez, supostamente não seria civilizado a ponto de se comportar exemplarmente em um estádio de Copa. As 12 cidades-sede, porém, exibem estádios novos que são verdadeiros monumentos: obras de arte do lado de fora, requintados shoppings centers do lado de dentro. O setor hoteleiro tampouco deixou a desejar. Bandeiras internacionais ampliaram sua presença, enquanto redes locais tradicionais não ficam devendo em relação às concorrentes estrangeiras. Já o torcedor passou no grande teste que foi a Copa das Confederações, realizada em 2013. Os estádios lotaram, não houve invasões de campo, nem rixas entre adversários. Ao menos, nada que tenha ocasionado maiores danos.
PREPARAÇÃO Só quem viveu no Brasil nestes últimos sete anos, porém, para reconhecer que a organização se deu meio que aos trancos e barrancos, com improvisações, postergações de prazo e alterações de última hora para que os projetos fossem viabilizados. Histórica e culturalmente, é o jeito brasileiro de se organizar – e, neste aspecto, perdeu-se uma grande oportunidade de mostrar para o mundo e, principalmente, para nós mesmos que
FOTO: AGÊNCIA BRASIL
Brasileiros foram da euforia da escolha como país sede da Copa à aversão com os gastos do Mundial “padrão FIFA”, mas aos poucos voltam a se entusiasmar com o evento
o contrário é possível, bastava entregar tudo nos prazos pré-estabelecido pelos organizadores. O estádio que vai ser o palco da abertura da Copa (Arena Corinthians – leia mais nas páginas 12 e 13), por exemplo, sofreu com atrasos nas obras e, mesmo neste momento em que o texto é escrito, ainda restam acabamentos e detalhes a serem finalizados. No mesmo estágio se encontram as intervenções viárias, que vão garantir o acesso a quem for de carro ou de transporte público ao local. Curitiba, que no Brasil e fora do país conquistou fama de exemplar em planejamento e organização, para esta Copa do Mundo não conseguiu fazer jus a seu status. A Arena da Baixada, que vai receber quatro partidas, ainda carecia de ser finalizada externamente a 15 dias do
início do evento. Devido aos atrasos, no começo do ano chegou a ter sua exclusão do torneio cogitada. Intervenções no entorno do estádio também seguem em execução ainda. O pedido da FIFA era para que todos os campos estivessem prontos seis meses antes do início da competição. Além da Arena Corinthians e da Arena da Baixada, a Arena Pantanal e a Arena das Dunas ainda passam por ajustes. Outros, como Mané Garrincha e Beira-Rio, estão prontos por dentro, mas passam por intervenções no entorno. Nada que, a esta altura, comprometa a realização do evento. Improvisos à parte, no fim tudo dá certo. Tais atrasos, porém, são o principal motivo para o aumento dos custos das arenas. Em 2010, quando foi assinada a Matriz de
Responsabilidades da Copa - documento que lista os investimentos prioritários para o Mundial -, a previsão era de que fossem gastos R$ 5,38 bilhões com estádios. Quatro anos depois, a conta, que ainda não está totalmente fechada, está em pouco mais de R$ 8 bilhões - aumento de 48%. O Ministério do Esporte argumenta que a conta é equivocada, porque os valores iniciais da Matriz de Responsabilidades eram somente uma estimativa sem o devido fundamento, não um orçamento. Algo mais grave que os atrasos foram as mortes diretamente ligadas a acidentes de trabalho nos canteiros de obras. Ao todo, oito operários perderam a vida: três na Arena Corinthians, três na Arena da Amazônia, um no Mané Garrincha e um na Arena Pantanal.
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MUDANÇA DE HUMOR Tais atrasos e revisões de orçamento, seguramente, contribuíram para a total mudança de humor em relação à Copa do Mundo no Brasil. Se antes, em 2007, a escolha do país como sede foi motivo de festa, no ano passado a maré virou com os protestos de junho, evidenciando outra cara do Brasil, neste caso da elite econômica, sempre disposta a minar qualquer possibilidade de alternativa que signifique perda de seus privilégios, nem que seja para o benefício da maioria secularmente marginalizada. Grande parte da população economicamente mais abastada está utilizando o Mundial para atacar o governo PT – do qual sempre se opôs por motivos diversos. Expliquemos: desde o ano passado, os gastos do país para organizar o evento foram transformados – principalmente pelo oligopólio dos veículos de comunicação – nos grandes responsáveis pelas mazelas históricas da sociedade brasileira. Os grupos político-econômicos de oposição ao governo conseguiram imbuir na opinião pública uma sensação de que a vinda da Copa do Mundo foi um mal para o Brasil; de que todos os recursos da Copa seriam tirados da saúde, educação, segurança pública etc. – como se a equação fosse simples assim. Com a opinião pública “envenenada”, a Copa do Mundo está prestes a começar com os brasileiros menos empolgados com o evento do que sete anos atrás, quando conquistou o direito de ser a sede. À medida que a data do jogo de abertura vai se aproximando, o verde-amarelo aos poucos vai tomando conta das ruas. Mas, diante do acontecimento ímpar, esperava-se uma euforia incomparável.
BRASIL VIRTUAL X REAL De fato, o desgaste da imagem da Copa no Brasil parece ser maior no mundo virtual dos meios de comunicação e redes sociais do que no mundo real das ruas. Recentes manifestações sob a bandeira do “Não Vai ter Copa” têm conquistado adeptos aquém do propagado. É inegável que nas últimas semanas uma série de greves (principalmente nos transportes) e mobilizações sociais (sobretudo de sem-teto) tem acontecido em todo o país. Esses movimentos se aproveitam da visibilidade gerada pela Copa do Mundo, mas estão mais preocupados em expor suas bandeiras de luta antigas e justas do que entoar o pouco consistente coro do “Não vai ter Copa”. Manifestações que venham a ocorrer não devem desfigurar outra característica brasileira: a cordialidade. Não só pela capacidade de organização e de preparação de grandes eventos, como também pela hospitalidade, o governo brasileiro classifica o Mundial da FIFA no Brasil como a “Copa das Copas”. A ver se a maré vira de novo.
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O CUSTO DA COPA De acordo com o governo federal, entre financiamento para a construção de estádios e investimentos em transporte, serão gastos cerca de R$ 25 bilhões. Desse total, R$ 8 bilhões são de financiamento federal (por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) para a reforma, ampliação ou construção das 12 arenas em cada uma das cidades-sede; os outros R$ 17 bilhões serão gastos em estações de metrô, terminais de integração de passageiros, 13 corredores BRTs (Bus Rapid Transit), dois VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos) e vias de mobilidade urbana. FOTO: AGÊNCIA BRASIL
Aldo Rebelo: No geral, tudo ficou muito bom Não há mau humor contra a Copa, o resultado perfeito não existe e, apesar dos problemas, tudo ficou muito bom. Essa é a opinião do Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, sobre o Mundial no Brasil. Ele respondeu três perguntas feitas pelo Brasil Observer por e-mail:
melhorias nos serviços públicos e a visibilidade que ganha qualquer referência à Copa para manifestar também suas opiniões, infelizmente, algumas vezes de forma violenta e ilegal. Quando a bola rolar, vamos viver o clima de festa que o futebol promove no Brasil todas as semanas.
A organização da Copa no Brasil poderia ter sido melhor?
Além dos estádios, qual será o legado esportivo da Copa?
Em qualquer atividade, o resultado perfeito não existe. Num evento do tamanho e da importância de uma Copa do Mundo, os problemas enfrentados são inúmeros. Mas os envolvidos nas obras e no trabalho de organização superaram os obstáculos e vamos fazer a Copa das Copas. O prazo de conclusão de algumas obras poderia ter sido mais bem aproveitado. Mas, no geral, tudo ficou muito bom.
Os grandes eventos esportivos funcionam como motivadores da participação de jovens que sonham virar atletas. No Brasil isso é muito forte com o futebol. Esse esporte ficará ainda mais fortalecido depois da Copa, nossos estádios terão mais condições de receber competições internacionais. O público nos jogos vai aumentar. O governo também aproveita a realização da Copa e das Olimpíadas para melhorar nossa infraestrutura esportiva. Estamos construindo cinco mil quadras esportivas e reformando outras cinco mil em escolas públicas de todo o país. Em parceria com prefeituras, vamos construir 285 centros de iniciação ao esporte em áreas carentes de inúmeras cidades. E estamos melhorando os centros esportivos das universidades com novas pistas de atletismo e piscinas olímpicas.
O mau humor em relação ao evento está muito grande. Você acha que haverá protestos durante a Copa? Não há mau humor contra a Copa. O que acontece é que alguns inconformados com a realização do torneio aqui aproveitam manifestações que reivindicam
OS EFEITOS DA COPA Pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) feita a pedido do Ministério do Turismo levantou os impactos do evento na economia brasileira: R$ 30 bilhões deverão ser acrescidos ao Produto Interno Bruto (PIB) com o gasto dos turistas, do Comitê Organizador da Copa e como reflexo dos investimentos feitos na preparação.
O LEGADO DA COPA O governo brasileiro argumenta que as arenas, mais do que estádios de futebol, serão espaços a serem utilizados para diversos outros eventos. Além disso, as obras de infraestrutura em transporte e mobilidade urbana também se tornam legado permanente.
COPA x SOCIAL Em meio a questionamentos quanto as prioridades de investimento público, o governo brasileiro recentemente fez o seguinte comparativo: desde 2010, quando começaram as obras para a Copa, o governo federal aplicou R$ 825 bilhões em educação e saúde. O montante representa, portanto, 100 vezes mais que o dinheiro destinado a financiar a construção das arenas (R$ 8 bilhões). O governo pondera ainda que esses R$ 8 bilhões se referem a empréstimos do BNDES, ou seja, terão de ser pagos pelas empresas/consórcios que construíram as arenas.
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Em livro recémlançado no Brasil, o jornalista britânico Andrew Jennings desnuda farsa de ingressos da Copa do Mundo e avisa: os brasileiros estão pagando por um Mundial que só trará lucro para FIFA e seus patrocinadores Por Giulia Afiune*
“Conseguir um ingresso para a Copa do Mundo é ganhar na loteria”, resume o jornalista britânico Andrew Jennings ao falar de seu novo livro, “Um jogo cada vez mais sujo”, lançado no Brasil em maio pela Panda Books. A FIFA novamente é o alvo das investigações de Jennings, que agora foca suas atenções na distribuição de ingressos por sorteio para os torcedores. Esquema que, segundo ele, esconde um mundo de negócios sujos, mercado negro e troca de favores. O repórter também revela outros negócios ilegais que enriqueceram dirigentes da entidade máxima do futebol, incluindo os brasileiros Ricardo Teixeira (ex-presidente da CBF e do Comitê Organizador Local) e João Havelange (ex-presidente da CBF e da FIFA). Jennings conta quem são os irmãos mexicanos Jaime e Enrique Byrom, donos do grupo Byrom PLC, acionista majoritário da Match Services e da Match Hospitality, prestadoras de serviço para FIFA. São eles que controlam todos os negócios relacionados
a ingressos, acomodações e hospitalidade nos Mundiais da FIFA. E fazem mais: no livro, o jornalista prova que nos mundiais da Alemanha, em 2006, e da África do Sul, em 2010, os Byrom forneceram ingressos para o vice-presidente da FIFA Jack Warner vender no mercado negro em troca de votos que os favoreciam no Comitê Executivo da FIFA. No livro você mostra os negócios entre os irmãos Byrom e o vice-presidente da FIFA Jack Warner nas Copas de 2006 e 2010. Como esses negócios funcionam? Existe um mundo negro que os fãs do futebol não conhecem: o mundo dos negócios de ingressos. Há 209 associações nacionais de futebol na FIFA, como a CBF, no Brasil. Algumas são bem honestas, mas a maioria não é. As associações nacionais pedem ingressos aos Byrom, que os fornecem em nome do Blatter [presidente da FIFA] e da FIFA. Os negociadores de ingressos do mercado negro vão até essas pessoas em diferentes países da África, da Ásia, alguns da Europa e conseguem os ingressos com eles.
Em 2006, na Alemanha, eu revelei que eles estavam vendendo milhares e milhares de ingressos para Jack Warner, que agora está sendo forçado a sair da FIFA. Foi uma grande história, uma grande confusão e eles fizeram isso de novo em 2010! O Warner, [presidente] da União Caribenha de Futebol, solicitou ingressos [por e-mail], mas copiou um negociante na Noruega! Então os Byrom sabiam que Jack estava comprando deles em nome do cara na Noruega. E eles copiam a correspondência para a FIFA e para a Infront, empresa do Philippe Blatter [sobrinho do presidente da entidade]. Então todos eles sabem o que está acontecendo. Na Alemanha eles tiveram muito lucro, mas na África do Sul esse mercado entrou em colapso porque ninguém queria ir para lá. É por isso que o escritório de ingressos dos Byrom estava entrando em contato com o Jack e com a Noruega, dizendo: “se vocês não mandarem o dinheiro logo, nós cancelamos seus ingressos”. O Jack Warner estava comprando os ingressos em nome do cara do mercado negro na Noruega e os Byrom
precisavam dar ingressos para ele porque ele controla pelo menos três votos no Comitê Executivo da FIFA. E o que ele dá em troca é que ele e os amigos votam em você para que você consiga todos os contratos dos ingressos. O que nós não sabemos é: que outros membros do Comitê Executivo ganham ingressos nessa escala? A FIFA argumenta que a Match tem o controle exclusivo das vendas de ingressos. Isso é verdade? Isso é uma besteira. Os Byrom controlam todos os ingressos. Você acessa o site da FIFA e encontra todo tipo de lixo sobre impedir as vendas não autorizadas, o que é ridículo, porque todo ingresso vem da porta do fundo dos Byrom. Eu não consigo imprimi-los, você também não. Muitos ingressos são impressos na última hora, porque agora nós não sabemos que time vai jogar na segunda fase. A FIFA diz que está policiando esse mercado paralelo de ingressos, mas não está. É como um padre que olha para o outro lado!
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Novo livro do jornalista Andrew Jennings que investiga negócios obscuros da FIFA foi lançado no Brasil em maio
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Os líderes da FIFA também lucram com esse esquema? Nós não podemos provar. Eu valorizo muito os documentos. Eu ouço histórias, vejo como Jack Warner se safou com milhares e milhares de ingressos. Será que outros líderes da FIFA fazem negócios semelhantes? É legítimo fazer essa pergunta, mas não temos prova. Qual é a chance de um brasileiro assistir ao Brasil jogar? Gaste o seu dinheiro em uma televisão. Eles não colocam todos os ingressos na loteria! Você não pode acreditar nos gráficos, porque não há como checá-los! Os Byrom têm as estatísticas. Você pode checar o que o governo está fazendo, mas os Byrom não precisam publicá-los. Se eles dizem que 100% dos ingressos estão na loteria, você nunca vai provar que isso não é verdade. Qual é a relação de Teixeira e Havelange com esse esquema?
O que sabemos é que antes de forçarmos o Teixeira a sair, ele estava no Comitê Organizador Local, que fazia de tudo: ingressos, estádios… Eu não sei qual fatia o Havelange ainda consegue. Ele tem 96 anos. Mas Ricardo estava lá desde o começo. Ele preparou tudo, os negócios, tudo que tinha a ver com a Copa. Nós o forçamos a sair apenas por escândalos externos, ele não esperava por isso. Então você pode atribuir a ele tudo que está errado com a Copa, porque antes dele sair, todos esses contratos já estavam sendo arranjados, não são contratos novos. Ele diz que não tinha controle sobre o que estava acontecendo. Ah, por favor… O que você descobriu sobre o Ricardo Teixeira? Eu investiguei as propinas dele na Suíça e os relatórios do Álvaro Dias [da CPI da CBF]. As investigações nos relatórios provam que Teixeira é um grande ladrão. Eu li todas as 500 mil palavras. Você tem que fazer um ato muito criminoso antes de entrar em uma máfia. Eu estaria errado se
dissesse que a FIFA deu a Copa do Mundo para o Brasil. Isso é besteira. Blatter deu a Copa do Mundo para o Teixeira. Não a FIFA, o Blatter. São coisas diferentes. A FIFA é uma máfia, uma família de crime organizado. No livro, eu mostro que ela não é uma organização legítima. Os líderes são ladrões, eles dividem tudo entre eles e estava na hora de dar ao Ricardo a sua Copa do Mundo. A CBF estava falida e isso provou ao Blatter que Teixeira era justamente o tipo que ele queria. Que pessoas e organizações lucram com a Copa do Mundo? Vocês contribuintes pagam por ela. A FIFA consegue lucrar com a bilheteria. Todo o dinheiro da FIFA vem da Copa do Mundo, é sua grande fonte de renda. Nos outros torneios: futebol feminino, sub-17, sub-21, eles perdem dinheiro. Mas eles precisam fazê-los para mostrar que são inclusivos. O Valcke prevê que a FIFA vai ganhar US$ 2,7 bilhões com a Copa, os brasileiros ficam bravos e ele responde: “Mas nós estamos colocando tanto dinheiro de volta”. Isso não
é verdade. Quando um quarto de hotel é alugado, isso não é colocar dinheiro, é alugar um quarto de hotel! Os patrocinadores, como McDonald’s, Visa, Samsung e outros conseguem uma maravilhosa isenção fiscal de 12 meses pela “lei da FIFA”. A isenção fiscal para eles é um fardo para vocês. Se eles não pagam os impostos, vocês pagam. Eles estão roubando vocês! Poderíamos ter um campeonato mundial de futebol sem eles. Nós não precisamos desse nível de pessoas não transparentes só se preocupando com eles e seus associados comerciais. Só o dinheiro da venda dos direitos televisivos, que você conseguiria legitimamente, é suficiente para pagar pela Copa. Você não precisa de negócios por baixo dos panos com patrocinadores ou isenções fiscais especiais.
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Este artigo foi originalmente publicado pela Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo: www.apublica.org
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Campeão do mundo em 2002, o técnico Luiz Felipe Scolari é a grande esperança do Brasil na Copa de 2014 e garante que a Seleção está pronta para levantar o hexacampeonato Por Bruno Sassi e Jonas Oliveira*
O Brasil está pronto para conquistar o título? Desde que nosso planejamento para a Copa do Mundo seja seguido, o Brasil está pronto. Tudo está organizado, definido e no caminho certo. Se seguirmos o cronograma, tudo vai dar certo. A torcida brasileira vai considerar qualquer resultado que não seja o título como uma derrota. Você concorda com isso? Tenho uma perspectiva diferente. Já tive muitas experiências, e passei por situações em que times foram aplaudidos por seus fãs mesmo sem terem sido campeões. É muito mais uma questão de como o time se comporta. Se você faz parte de um time como o Brasil e entra numa Copa do Mundo, todos esperam de você o título. Estamos certamente em busca desse objetivo, mas com um profundo respeito pelas outras equipes que entram na competição com a mesma meta. Jogando em casa, vamos usar nossa qualidade para alcançar o que desejamos, mas se não conseguirmos será simplesmente porque outra equipe foi melhor do que nós. Você já teve a oportunidade de liderar uma equipe que jogava em casa, no caso a seleção de Portugal na Eurocopa de 2004. Naquele ano você foi derrotado pela Grécia na final. Qual lição você aprendeu naquela ocasião? Foi uma experiência muito válida; hoje tenho uma ideia melhor de como devemos nos comportar numa final, e como um time que joga a final em casa deve se postar dentro de campo para conseguir o troféu. Sei que podemos desfrutar a experiência de jogar a Copa em casa diante de nossa torcida, mas ao mesmo tempo temos que estar conscientes de que a derrota nesses casos dói mais. Poderei usar essa experiência com nossos jogadores. Qual sua avaliação das seleções de México, Camarões e Croácia, adversários do Brasil na primeira fase da Copa?
A Croácia joga um futebol tecnicamente sofisticado. Os croatas têm um estilo de jogo muito parecido com o que se vê na América do Sul, não jogam mais no estilo inglês de antes. O time de Camarões é um dos mais técnicos da África. Sempre que esperamos algo deles, tudo acontece diferente; quando não esperamos nada, somos surpreendidos. Já o México é um dos nossos rivais tradicionais, jogam um futebol de alto nível. Há um longo histórico entre Brasil e México. São sempre encontros difíceis. O sucesso da Espanha e do Barcelona fez com que as demais equipes tivessem que se adaptar ao estilo de jogo com passes curtos? As características e habilidades dos jogadores do Barcelona se completam. Naturalmente, todos estão analisando como isso se desenvolve, mas esse tipo de jogo só pode ter sucesso por um período limitado. Nas últimas décadas, houve momentos em que todos tinham que analisar a Itália, ou a Alemanha. Sempre existem características diferentes para cada treinador observar e aprender. Você comanda um dos times “tradicionais” do futebol mundial. Como você aproveita essa história para motivar seus jogadores? Mostramos para os jogadores o que já foi conquistado e o que eles podem escrever com suas carreiras pela Seleção Brasileira. Deixamos claro que os times do Brasil que tiveram grandes conquistas conseguiram através do comprometimento, espírito de equipe e classe. E damos a eles a confiança necessária para que possam desenvolver suas qualidades excepcionais dentro de campo. No título de 2002, você tinha jogadores como Cafu, Roberto Carlos, Rivaldo, Ronaldinho e Ronaldo. A geração atual é tão forte quando aquela? Não é apenas o talento que você deve comparar; o time de 2002 tinha mais experiência. Por outro lado, o time atual tem
muito entusiasmo. Naquela ocasião, a experiência foi provavelmente o fator determinante para a conquista, mas quem sabe se agora o entusiasmo será ou não um fator mais importante? A organização da Copa tem sido muito criticada. Isso afeta seu trabalho? Não. Tenho trabalhado para que nada disso nos afete ou influencie. Somos afetados enquanto cidadãos brasileiros, mas temos que separar as coisas e passar o mesmo aos jogadores, assim eles podem focar totalmente no trabalho dentro de campo. Todos têm opinião, mas agora os jogadores devem focar na função para a qual foram convocados. Os jogadores algumas vezes reagem. Falamos abertamente com eles sobre isso e eles podem dizer suas opiniões pelas redes sociais, mas temos regras dentro do grupo e vamos segui-las. Você tinha apenas dois anos quando o Brasil recebeu a primeira Copa do Mundo... Não consigo me lembrar daquela Copa do Mundo, obviamente, mas muitas pessoas têm memórias desagradáveis daquela derrota para o Uruguai. Eu discordo disso; aqueles jogadores abriram a porta para que nós pudéssemos conquistar cinco mundiais. Essa é a perspectiva que eu passo para nossos jogadores sobre a Copa de 1950. O que você estará fazendo às 16h do dia 13 de julho? Bom, eu sei que a final está marcada para o dia 13. Estarei à beira do gramado me preparando para a partida. Terei cantado o hino nacional com muita emoção e espero que o mesmo aconteça com meus jogadores.
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Este artigo foi originalmente publicado originalmente pela The FIFA Weekly
FOTO: RAFAEL RIBEIRO / CBF
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Brasil joga para reescrever a história Por Antonio Veiga
“O placar marcava a vitória brasileira por 1 a 0. Senhor do jogo, o time seguia o roteiro tão sonhado pelo torcedor e caminhava firmemente rumo à conquista. No entanto, não mais que de repente, o futebol resolve apresentar uma de suas mais cruéis facetas: a reviravolta. A ducha de água de fria. Uma derrota tão surpreendente quanto o seu vilão, o goleiro brasileiro, obrigado a carregar nas costas o peso da decepção e da amargura do torcedor desiludido”. O personagem acima é um tanto óbvio para qualquer brasileiro mais vivido e ligado em futebol. Mas, para um garoto que sequer recorda o pentacampeonato de 2002 e que aguarda para comemorar sua primeira Copa, a história claramente diz respeito a outro arqueiro. E será justamente para dar novo final a dois capítulos amargos de nossa Seleção que Júlio César, o mais velho dos convocados de Felipão, entrará em campo. Pela sua redenção e pela de Barbosa – os dois goleiros responsabilizados pela eliminação na Copa da África, em 2010, e pelo vice-campeonato em 1950, respectivamente. O Brasil que volta a receber uma Copa é totalmente diferente daquele de 64 anos atrás. Falando apenas do que rola dentro das quatro linhas, a Seleção vai a campo, desta vez, com cinco títulos na bagagem. Hoje canarinho, o time do
Espere mais do mesmo para a Inglaterra
Brasil tem a mesma responsabilidade de ser campeão, mas carrega ansiedades distintas das de 1950. A menina dos olhos não é a primeira taça, tampouco o desejo é de se afirmar como potência. Mas a necessidade de dar uma resposta ao esforço de sediar o Mundial continua a mesma. E, para isso, os comandados de Felipão terão que exorcizar vários demônios. “É a oportunidade de um resgate que está entalado na garganta há 64 anos. Das grandes seleções somos a única que ainda não ganhou em casa. A gente espera vencer e mudar essa história. Acabar com esse papo de ‘Maracanazzo’. Queremos reescrever essa história futebolística”, afirmou o técnico do tetra Carlos Alberto Parreira, que hoje integra a comissão de Luiz Felipe Scolari. O cenário nesta edição não será muito diferente. Os adversários, inclusive, muito se assemelham. Os mexicanos, goleados por 4 a 0 em 1950, estão novamente no caminho. Voltam como asa negra brasileira, após diversas vitórias em partidas decisivas – a mais marcante delas nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Se no século passado os iugoslavos foram adversários, desta vez serão os croatas, considerados os rivais mais fortes na primeira fase, principalmente por enfrentar o Brasil na estreia da Copa, dia 12 de junho, na Arena Corinthians, em São Paulo.
Jogar na maior cidade do país também traz à memória a primeira vez que o Brasil foi anfitrião, afinal, atuando no Pacaembu, a equipe nacional teve seu único revés na fase inicial, empatando por 2 a 2 com a Suíça e saindo de campo com vaias. Seria a única partida da Seleção na cidade naquela Copa. Todavia, nos 64 anos que separam as duas disputas, não faltaram capítulos de amor e ódio entre a torcida paulista e o time canarinho, o que costuma deixar os jogos em São Paulo complicados. O Maracanã, palco de cinco das seis partidas brasileiras naquela edição, desta vez só receberá os donos da casa se eles chegarem à tão sonhada final, dia 13 de julho.
Eliminada pela Holanda de virada no Mundial de 2010, a Seleção passou por um processo de reformulação. Dunga deu lugar a Mano Menezes, responsável por desenvolver a espinha dorsal do time, montando a zaga de hoje e lançando nomes como Oscar, Hulk, David Luiz, Luiz Gustavo e Fernandinho. Questionado após voltar de Londres com a medalha de prata, Mano deu lugar
ao comandante do último título mundial, Luiz Felipe Scolari, o Felipão, o homem em que os brasileiros depositam toda a sua confiança e respeito. O estilo paizão do treinador encaixou perfeitamente com um grupo de jovens talentosos de rodagem internacional, mas repleto de estreantes em Copa do Mundo. Garotos em 2002, os jogadores acreditaram no discurso de Felipão e se fortaleceram com o êxito na Copa das Confederações. Venceram, convenceram e recuperaram o respeito dos adversários. Daniel Alves, David Luiz, Thiago Silva e Marcelo talvez formem a melhor linha defensiva do mundo. Volantes de qualidade não faltam: Luiz Gustavo, Paulinho, Ramires, Fernandinho e Hernanes. A armação está nos ombros de Oscar e a temporada de William no Chelsea foi empolgante. Hulk une força e obediência tática. Fred é o homem gol. Bernard é o talismã. Faltou alguém? Ah, claro, a estrela da companhia, um garoto que nasceu com a missão de ser Romário, ser Ronaldo, ser Pelé. Neymar assumiu a camisa dez do rei para mostrar que o fardo que carrega desde a infância lhe veste muito bem. No caminho, possíveis cruzamentos com Holanda e Espanha nas oitavas, Uruguai e Itália nas quartas e Alemanha na semi. E, provavelmente só na final, a sempre imaginada e pouco desejada rival Argentina. Maracanã, 13 de julho, para reescrever a história.
Por Michael Landon
voltou a jogar bem e a marcar gols. Lampard readquiriu regularidade em suas atuações. E Gerrard, com o suporte dos jovens Raheem Sterling e Daniel Sturridge, terminou a temporada com o Liverpool perdendo o título inglês nas últimas rodadas. E é exatamente com essa mistura de experiência e juventude que Hodgson espera chegar ao Brasil. Ao lado de Sterling e Sturridge, Ross Barkley e Luke Shaw também carregam a responsabilidade de mostrar um bom serviço na Copa depois de uma excelente temporada. Esses jogadores podem injetar ousadia para a Inglaterra. A linha defensiva, porém, é a maior preocupação do técnico inglês. Apenas Gary Cahill parece ser uma opção realmente boa, com seus companheiros de clube John Terry e Ashley Cole de fora da seleção. Será interessante ver como esse equilíbrio do elenco vai afetar a campanha que Hodgson deseja para a equipe no Mundial. Dois anos atrás, a Inglaterra jogou a Eurocopa com uma postura mais defensiva. Na ocasião, com diversos jo-
gadores experientes na defesa, tal postura fez sentido. Agora, no entanto, os ingleses estão mais bem servidos no ataque do que na parte de trás, mais vulnerável. Seja qual for a estratégia usada por Hodgson, o próprio está mais otimista do que parecia seis meses atrás. “Sim, eu acredito que podemos ganhar a Copa do Mundo, se não acreditasse qual seria o motivo de disputa-la?”, disse o treinador de 66 anos a jornalistas. “Estamos corretos em ter algum grau de otimismo e trabalhar com base na ideia de que o país também esteja otimista”. Mas, afinal: entre o otimismo e o pessimismo, quais são as reais chances da Inglaterra na Copa do Mundo? Uma resposta bem clichê diria em algum lugar no meio do caminho. Mas não seria verdadeira nesse caso. A história nos dá uma expectativa mais apurada. E nos lembra de que a equipe inglesa sucumbe em condições úmidas; que os ingleses vêm de cinco mundiais miseráveis; e que Rooney nunca se sai muito bem em competições desse nível. Espere a eliminação da Inglaterra na primeira fase.
Quando o sorteio da Copa colocou a Inglaterra no mesmo grupo que Itália, Uruguai e Costa Rica, a reação coletiva da nação foi perfeitamente ilustrada pelo presidente da Federação Inglesa, Greg Dyke, flagrado pelas câmeras fazendo um gesto de garganta cortada. Dyke se desculparia mais tarde pela controvérsia que gerou, mas certamente nem ele, muito menos o técnico da seleção inglesa, Roy Hodgson, nutriam ilusões diante da difícil tarefa que a equipe terá na primeira fase do Mundial a ser disputado no Brasil. Após o sorteio, formou-se na mídia uma narrativa de que, pelo menos, a Inglaterra chegaria ao torneio com um grande senso de realismo. Afinal, o time era velho e dependeria dos mesmos jogadores de sempre. E pior, naquela altura, Steven Gerrard estava contundido; Wayne Rooney atolado na péssima campanha do Manchester United; e Frank Lampard mal jogava pelo Chelsea. Mas isso foi há seis meses. A situação agora não é tão desastrosa. Rooney
FAMÍLIA SCOLARI VERSÃO 2014
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Maior cidade do país reflete perfeitamente a ambiguidade do Brasil avançado e do Brasil emergente, mas certamente dará ao turista a sensação cosmopolita, multicultural e diversa que caracteriza a Sampa de amor e ódio
SÃO PAULO: O PALCO DA ABERTURA Por Nathália Braga
A maior festa do Brasil começa na maior cidade do país. Gigante em número, tráfego e amor (ou ódio) pela cidade, São Paulo receberá o primeiro jogo da Copa do Mundo 2014 e a cerimônia oficial de abertura. No dia 12 de junho, às 17h no Brasil, 21h no Reino Unido, o mundo vai parar para acompanhar a estreia do Brasil na Copa. São Paulo, ou simplesmente Sampa, estará no centro das atenções. Preparar-se para o grande dia não tem sido fácil: atrasos, acidentes com morte de operários, processos burocráticos intermináveis e ainda muitos protestos por parte da população que é contra a realização da Copa do Mundo transformaram o palco da abertura em um turbilhão. Nesta reta final, porém, o que os turistas podem esperar é uma cidade receptiva, cosmopolita e que funciona 24h por dia. Também vão ter a oportunidade de conhecer uma área fora da região turística, já que a Arena Corinthians, palco dos jogos, fica na zona leste da capital, no bairro de Itaquera, tradicionalmente esquecido pelo poder público, mas que agora entra no mapa (leia mais ao lado sobre os pontos positivos e negativos da realização da Copa em São Paulo). A CIDADE Com aproximadamente 11 milhões de habitantes, a cidade de São Paulo ocupa uma área de pouco mais de 1,5 mil quilômetros quadrados (praticamente o mesmo tamanho de Londres). Se for considerada a região metropolitana, ou seja, os 38 municípios que circundam a capital do Estado de São Paulo, a população chega a aproximadamente 19 milhões de habitantes, segundo o IBGE. A metrópole é conhecida pela sua miscigenação de povos, já que recebeu imigrantes italianos, japoneses, portugueses e de várias outras nacionalidades que hoje formam a cidade brasileira com maior diversidade de etnias. É também, um mosaico do Brasil, já que é destino de populações de todos os cantos do país que buscam na capital paulista melhores oportunidades de emprego e estudo. São Paulo é o grande centro econômico do Brasil, mas não são apenas os negócios que atraem os turistas. Há também parques, como o Ibirapuera e o Villa-Lobos, shopping centers, museus e uma infinidade de restaurantes e casas noturnas – todo dia, a qualquer hora, tem algo acontecendo! O centro histórico da cidade
é uma atração à parte. Uma visita ao prédio do Banespa, como é conhecido, possibilitará aos turistas uma visão 360° da imensidão da capital paulista. Bem perto dali fica a Catedral da Sé, o Mercado Municipal e o Vale do Anhangabaú, que receberá o FIFA Fun Fest. A ARENA CORINTHIANS O mais marcante sobre a organização da Copa em São Paulo talvez tenha sido as controvérsias e os atrasos na obra da Arena Corinthians, que recebeu sua primeira partida no início de maio como teste parcial, pois parte da arquibancada, por exemplo, ainda não estava pronta. Outro teste foi realizado no domingo 1º de junho. Desde que a cidade de São Paulo foi escolhida para receber jogos do Mundial da FIFA, imaginava-se que as partidas ocorreriam no estádio do Morumbi, que pertence ao São Paulo Futebol Clube. A Arena Corinthians, porém, surgiu como opção após a reforma necessária para atender aos padrões da FIFA no Morumbi ser descartada. Com o início das obras em maio de
2011, a previsão de conclusão era dezembro de 2013. No entanto, além da burocracia, graves acidentes envolvendo mortes geraram atrasos. Ao todo, três operários morreram durante as obras. Um deles caiu enquanto trabalhava nas arquibancadas do estádio. Em outro acidente, dois morreram quando foram atingidos por parte de uma estrutura metálica que desabou. O investimento inicial também foi alterado, como quase em todos os estádios da Copa. Se no projeto original os gastos previstos eram de R$ 850 milhões, o custo total final deve ultrapassar R$ 950 milhões. Os custos são bancados pela iniciativa privada e pelo governo, já que o Corinthians teve isenção de impostos em torno de R$ 400 milhões. Outros R$ 400 milhões foram financiados pelo BNDES. A Arena tem capacidade para pouco mais de 65 mil torcedores; seis jogos serão disputados na cidade. No dia 12 de junho, Brasil e Croácia dão o pontapé inicial na competição. Ainda no mesmo mês, no dia 19, será a vez da Inglaterra enfrentar o Uruguai. No dia 23, a Holanda joga contra o Chile e, no dia 26, a partida é entre Coreia do Sul e Bélgi-
ca. No dia 1º de julho, a cidade recebe ainda mais um jogo antes de uma das semifinais, que acontece no dia 9. A PAIXÃO PELO FUTEBOL Dia de jogo é levado a sério pelos paulistanos. São três times principais: São Paulo, Palmeiras e Corinthians – este último com a maior torcida e, agora, com estádio próprio. Juntas, as equipes têm 15 títulos do Campeonato Brasileiro. São Paulo e Corinthians são ainda campeões do Mundial de Clubes da FIFA, três e duas vezes, respectivamente. Portuguesa e Juventus são outros dois times que fazem parte do cenário futebolístico da cidade. Considerando todo o Estado, o Santos, que trouxe Neymar para os gramados, também é outro grande clube – também campeão mundial de clubes. O estádio do Pacaembu, que recebeu seis partidas da Copa do Mundo em 1950, abriga o Museu do Futebol – uma atração imperdível para quem ama o esporte. Com tanta torcida e opções de lazer e entretenimento, a festa em São Paulo promete ser grande!
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POSITIVO: DESENVOLVIMENTO DE ITAQUERA
Arena Corinthians (1); Parque do Ibirapuera (2); Avenida Paulista (3); Praça da Sé (4)
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Região periférica da cidade que sempre careceu de muitas melhorias em termos de mobilidade urbana, Itaquera fica a aproximadamente 40 minutos da região central, no extremo leste da capital paulista. Apesar de afastada do centro, cerca de quatro milhões de pessoas moram na região e enfrentam, todos os dias, uma verdadeira maratona para chegarem ao trabalho. Com a Copa do Mundo e com a construção da Arena Corinthians, também conhecida como Itaquerão, moradores do bairro podem ter esperança de melhorias em infraestrutura e no número de empresas instaladas na área. De acordo com o poder público municipal, a realização do evento na Arena vai gerar cerca de R$ 30 bilhões para o PIB da cidade em dez anos. Assim, a zona leste deve crescer em termos de oferta de empregos locais e também em termos de mobilidade – com a chegada de novos comércios e empresas. Ao redor da Arena, cinco obras viárias estão sendo realizadas para facilitar a locomoção. Depois da Copa, estas obras ficarão de legado para a região. Um dos exemplos é uma passagem inferior na Radial Leste, principal via de acesso ao bairro. As obras de infraestrutura receberam em torno de R$ 550 milhões de investimento municipal e estadual.
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NEGATIVO: ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA
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TOCANTINS MATO GROSSO
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ESPÍRITO SANTO SÃO PAULO RIO DE JANEIRO
PARANÁ
Se, por um lado, o a valorização imobiliária de Itaquera pode contribuir para o desenvolvimento da região, por outro, os movimentos sociais protestam contra a falta de moradia popular. Durante a fase de construção das obras, manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) ocuparam um terreno próximo a Arena Corinthians. A principal reivindicação é sobre os bilhões gastos para realizar a Copa enquanto há tantos problemas de desigualdade social, como a falta de moradia, principal causa do movimento. O acampamento foi montado no início de maio em um terreno particular desocupado há quase 30 anos. O local fica a cerca de 4 km do estádio. A operação foi batizada de Copa do Povo e também incluiu protestos bloqueando algumas avenidas da cidade e pichação de escritórios de construtoras ligadas à Copa. O MTST quer a construção de casas para famílias de baixa renda no terreno. Segundo o MTST, muitas famílias presentes na ocupação moravam em Itaquera pagando aluguel e tiveram de sair de suas casas devido ao aumento dos preços. Para eles, a construção do estádio trouxe uma valorização imobiliária maior do que o orçamento do mês. Dias depois do inicio da ocupação, a presidente Dilma Rousseff foi até o local e conversou com as lideranças do MTST que alegaram terem firmado um acordo de desapropriação do terreno, fato que foi negado pelo prefeito da cidade Fernando Haddad. SANTA CATARINA
SC
RIO GRANDE DO SUL
RS
SÃO PAULO - SP Altitude: 792 metros Área: 1.522,986 km2 População: 11.244.369
ARENA CORINTHIANS Capacidade: 68 mil torcedores Investimento: R$ 950 milhões Dimensões do campo: 105 X 68 metros
INFO
www.cidadedesaopaulo.com
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CONECTANDO
HOLA! HELLO! OLÁ! O projeto CONECTANDO embarca em sua primeira aventura cinematográfica: como será a experiência de um mexicano que está no Brasil para acompanhar a Copa do Mundo? Por Miguel Martínez Nava
Em qualquer um desses idiomas me sinto confiante de escrever e contar a vocês. Mas o que vou contar? Um pouco da minha história com o Brasil; uma relação que começou há oito anos e que agora chega ao ápice: estou em terras brasileiras para me aventurar durante esse momento histórico de realização da Copa do Mundo. Para começar me chamo Miguel Martínez Nava, ou simplesmente Miguelito, e sou um mexicano com dotes de aventureiro, com coração meio brasileiro e uma cabeça meio canadense. Há oito anos me aventurei a estudar animação 3D em Vancouver, Canadá. Sendo amante de cinema, mas meio radical e insensato, decidi buscar algo que queria muito dentro de mim, algo diferente e fora do meu país onde eu havia vivido feliz os últimos 22 anos de vida. Encontrei uma boa escola e criei a melhor oportunidade para embarcar para o país do norte, a princípio, com dois amigos mexicanos. Com o passar do tempo fui tendo contato com novas culturas, pessoas e amizades. No Canadá, tive amigos marroquinos, franceses, canadenses e, de repente, conheci os brasileiros. Esses amigos, que fazem parte de minha família “Brasilcanadense”, me conquistaram pouco
a pouco, do mesmo jeito que a grande cultura e alegria desse povo. Por isso, comecei a fazer minhas viagens por terras brasileiras. Passei a me envolver, assim, em uma relação sentimental com o Brasil, país que visitaria mais cinco vezes nos próximos sete anos depois daquela primeira vez. Essa relação, com o tempo, ganhou um significado além do sentimental e se tornou em um grande projeto: vir ao Mundial de 2014 no Brasil. Então estar no país e trabalhar como freelancer daqui para o México se transformou em rotina por três anos. A cada nova vinda tentava viajar e conhecer o máximo que podia, fazendo muitas novas amizades. A cada nova aventura, novas experiências. Tive a oportunidade de ganhar um concurso na Alemanha para gravar um curta-metragem com câmeras GOPRO (que havia ganhando no Brasil em outro concurso) e fazê-lo todo em uma semana. Então comecei a escrever, escolher músicas e a fazer toda a parte técnica que envolve o processo de pré-produção de qualquer filme. Falei sobre a ideia com meus amigos cariocas que já haviam trabalhado na área de produção cinematográfica e embarquei para o Rio de Janeiro. No Rio, me reuni com minha amiga e produtora Thuany, que
me indicou o grupo de atores Nós do Morro, da favela do Vidigal. Fizemos uma seleção com eles, conseguimos uma mercearia para gravar as cenas e em dois dias, com um total de oito horas de trabalho, conseguimos finalizar as filmagens. Para ver o resultado, convido vocês a assistir ao curta-metragem no link: http://goo.gl/QjVXVN. A realização desse projeto significou muito para mim, ainda mais por fazê-lo em um país que não era o meu, com tanta dedicação e esforço que o resultado foi divulgado no vídeo completo sobre o projeto, que compartilho com vocês aqui: http://goo.gl/qo67jb. Este ano minha aventura no Brasil será outra, a começar por este texto e depois alguns vídeos que me foram propostos pelo amigo e editor do Brasil Observer. A proposta veio no mês passado enquanto tomávamos algumas cervejas e comíamos espetinhos de queijo coalho e costelinha: filmar a experiência de um estrangeiro na Copa do Mundo do Brasil, mostrar a perspectiva de um latino sobre o que acontece no país da Copa fora dos canais comerciais. Eu, Miguelito, vou compartilhar essa aventura com vocês através das páginas do Brasil Observer na internet. Um prazer!
COMO PARTICIPAR? Conectando é um projeto desenvolvido pelo Brasil Observer que visa colocar em prática o conceito de comunicação ‘glocal’, ou seja, uma história local pode se tornar global, ser ouvida e lida em diferentes partes do mundo. Mande sua história para nós! Saiba como participar entrando em contato pelo conectando@brasilobserver.co.uk
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Miguelito está pronto para a Copa
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Brasil Observer
GUIDE
Kick Off!
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Are you wondering how you’re going to be part of the Brazilian vibe in London during the World Cup? Brasil Observer has some tips on the best places to watch the games and where to enjoy the green and yellow atmosphere >> Read on pages 16 and 17
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Como curtir o clima brasileiro em Londres durante a Copa do Mundo? O Brasil Observer dá as melhores dicas de lugares para se divertir torcendo e assistindo aos jogos do Mundial na capital inglesa >> Leia nas páginas 16 e 17
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BRAZILIAN ATMOSPHERE SWEEPS ACROSS LONDON The countdown to kick off has entered its final stages for the World Cup 2014. In London, the flags of all countries playing in Brazil have already made the pubs more colourful. It’s hard not to get involved with international football, it’s not just for only the sport fanatics, but also those occasional fans and a moment when everyone comes together to celebrate football. To help you plan your own footballing party, Brasil Observer have found the best tips and places where you can immerse yourselves in Brazilian culture.
FLORIPA Located in the heart of East London, Floripa are bringing a carnival vibe to the city for the World Cup, with samba school dancers,
resident DJs, live music, food and Brazilian drinks. All of Brazil and England’s matches will be screened. http://goo.gl/HS3CMO.
RICH MIX With it’s special festival - Joga Bola! head to Rich Mix to see internationally renowned Brazilian label Mais Um Discos and London’s premier Latin music promoters Movimientos teaming up to present an eclectic line up of contemporary music.
There will also be a specially commissioned Brazilian street-art installation, independent film screenings, theatre and of course screenings of the games throughout this free summer festival during the World Cup from 12 June to 13 July. http://goo.gl/odmkG3.
THE CORONET Located in Elephant & Castle, the heart of London’s Latino community and with capacity for an audience of 1,500 people, The Coronet will open its doors two hours before the first match starts on on 12 June for audiences to watch capoeira
and samba while DJ’s play Brazilian music. All this and caipirinhas for £ 3.50, promise to make it a great party. Entry costs just £ 5 plus the voucher on page 22 of this edition gives you 50% off! http://goo.gl/Pfq3EN.
BRAZIL DAY When the World Cup kicks off in São Paulo on 12 June in São Paulo a special event is taking place in Trafalgar Square. BRAZIL DAY is a free festival celebrating Brazil’s culture and passion for football. The event will include live music, DJs, dance lessons, capoeira and much more. It will climax with the powerful samba drums synonymous with Rio’s carnival that will even have Admiral Nelson tapping his feet! The
celebration will not include a screening of the opening match between Brazil and Croatia, but a football zone will offer games and activities for all ages, including an inflatable football pitch and a photo booth with a life-size picture of the Brazilian national team. There’ll also be stalls selling typical Brazilian street-food and snacks, along with smoothies and soft drinks made from exotic Amazonian fruits. http://goo.gl/GKlLLE.
GUANABARA Guanabara promises to bring the atmosphere of Copacabana beach to Covent Garden during the World Cup. The club will be screening every World Cup games and on match days for Brazil and England they’ll be creating the carnival spirit with live
Samba bands, capoeira performances and free style footballers. For the other matches they will be hosting London’s first ‘Silent’ World Cup - think Silent Disco but with Football. Tickets cost £5 - £10 and £17.50 for the final. http://goo.gl/bKpvDS.
MADE IN BRASIL In the centre of Camden, Made in Brazil are also getting into the spirit of the World Cup to bring a bit of Brazil to London. A diverse program of events
including School of Samba, capoeira and resident DJ’s will providing added entertainment on match days. Entry £5. http:// goo.gl/rbiejB.
GRACE BAR Watch all games on big screens in this 1000-capacity venue located one minute away from Piccadilly Circus. Open 7 days with football free-zones for those willing to have lunch or dinner in the Terrace Restaurant, let the hair down in Cocoa
Club with DJs, live entertainment, themed nights or follow the football action in Grace Bar with a very generous happy hour 4pm-8pm with up to 50% off drinks and drinks specials during Brazil matches. http://goo.gl/hTC7Bw.
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ATMOSFERA BRASILEIRA SE ESPALHA POR LONDRES FLORIPA No lado leste de Londres, o Floripa promete celebrar a Copa com as vibrações do carnaval, com passistas de escola de samba, DJs, mú-
sica ao vivo e comidas e bebidas brasileiras. Todos os jogos do Brasil e da Inglaterra serão exibidos. Info: http://goo.gl/HS3CMO.
RICH MIX Joga Bola! - Festival da Cultura brasileira promovido pela Mais um Discos, Movimientos e Rich Mix apresenta uma line-up eclética de música brasileira contemporânea como Gilles Peterson, Tulipa Ruiz, Graveola e Maga B. Além disso, haverá instalações de Street
Art, exibição de filmes independentes, teatro e telões transmitindo os jogos da Copa do Mundo. O evento é gratuito com programação durante todo o período do Mundial, entre os dias 12 de junho a 13 de julho. Para mais informações acesse http://goo.gl/odmkG3.
THE CORONET A casa em Elephant & Castle, um dos principais centros da comunidade latina em Londres, tem capacidade para um público de 1500 pessoas. No dia 12 de junho, vai abrir as portas duas horas antes do jogo entre Brasil e Croácia come-
çar. Com capoeira, passistas de escola de samba, DJs e caipirinha a £ 3,50, a festa promete! A entrada custa £ 5 e, com o voucher da pagina 22, você tem 50% de desconto! Mais informações: http://goo. gl/Pfq3EN.
BRAZIL DAY Como você já sabe, a Copa do Mundo inicia dia 12 de junho. Para marcar essa festa, a Tafalgar Square vai sediar o Brazil Day, festival gratuito para celebrar a cultura brasileira. A programação inclui música ao vivo, DJs, aula de dança,
capoeira e muito mais. Também haverá barracas com comidas típicas brasileiras. O evento não vai transmitir o jogo de abertura entre Brasil e Croácia e acontece de 12pm a 7pm. Mais informações acesse: http://goo.gl/GKlLLE.
GUANABARA O Guanabara promete trazer o clima da praia de Copacabana para Covent Garden durante a Copa do Mundo. A casa vai exibir todos os jogos do Brasil e da Inglaterra.
Tudo acompanhado de DJs, bandas e escolas de samba que vão aquecer o clima da festa. Os tickets custam £5 e £10, e £17.50 para a final. Info: http://goo.gl/bKpvDS.
MADE IN BRASIL No coração de Camden Town, o Made in Brasil também entrou no clima da Copa do Mundo para oferecer um pouco do Brasil aqui em Londres. Com pro-
gramação diversificada, escola de samba, capoeira e DJs, não vão faltar atrações para animar as partidas. Entrada £5. Mais informações: http://goo.gl/rbiejB.
GRACE BAR O Grace Bar, localizado a poucos minutos de Piccadilly Circus, com capacidade para 1000 pessoas, vai transmitir todos os jogos em telões. O local abre todos os dias, com locais para assistir aos jogos e, para quem quiser almoçar ou jantar,
o local conta com o Terrace Restaurant, com DJ’s, musica ao vivo e happy hour (4pm-8pm). Desconto especial durante as transmissões dos jogos do Brasil, com até 50% de desconto. Mais informações: http://goo.gl/hTC7Bw.
A contagem regressiva para a bola rolar nos estádios da Copa do Mundo de 2014 finalmente chega ao fim. E as bandeiras de todos os países que participam do Mundial no Brasil já deixam os pubs de Londres mais coloridos. O clima envolve não apenas os fanáticos pelo esporte, mas também aqueles torcedores esporádicos. O momento é de celebração do futebol. Para você entrar no clima e sentir-se parte dessa festa, o Brasil Observer preparou algumas dicas de locais que prometem trazer um pouco da atmosfera brasileira com programação diversificada para você torcer e celebrar a cultura brasileira.
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GRINGO’S VIEW
THE HILL CAME DOWN By Shaun Cumming
I was walking through the streets of Rio de Janeiro. On the other side of the road, a favela climbed up the side of a very steep mountain. I decided to walk towards it. I was curious to pass right in front of the favela’s entrance. I’d never seen one before. It was like looking into another civilisation. While shocked at the poverty many live in, the buildings were also thoroughly impressive and beautiful. I was daydreaming when a football bounced on the pavement in front of me. Towards the favela, there was a flat, football pitch sized clearing. Half-a-dozen kids were playing and it was their ball. The tallest of the boys ran towards me. “Amigo”, he said, pointing at the ball. I picked it up and jumped over the two-foot wall that bordered their pitch. My heart raced. The tall boy ran back to the goalposts. He and the other kids were all shuffling and pushing for position, clearly wanting me to kick the ball. I did. I stood frozen, surveying the scene. The tallest kid jogged back towards me, smiling. “Obrigado amigo,” he said. He had a good head of bushy, afro hair, pinned back by a bandana. He looked around 15 or 16 years old. The rest looked around the same age. He looked at me with enquiring eyes. “You are gringo?” he asked in English. He probably worked that out from my red skin, and ignorance to have approached their football pitch. “Yes,” I replied, by now sweating more than usual, even considering the blistering sunshine. “I am from England,” I said. They looked confused. “We play football here. You like to play too?” he said. I was completely shocked, but agreed to play. My other Brazilian friends would certainly disapprove of this, I thought. The tall kid began to take
care of some administrating. He put his hand on his chest. “I am Jorginho. It is my name,” he said. I told him my name. As much as he tried two or three times, he was unable to even come close to pronouncing it. “Ok, amigo, we call you gringo”. We spent 10 minutes passing the ball around on the surface of their pitch, which was dry, hard red dust, and littered with potholes. I was well outclassed by their skills. I’d played football since I was young, but these teenagers had a natural talent for tricks with a football. The game was played at lightning pace. On the attack, I simply couldn’t keep up with Jorginho and the others, but they seemed happy with my passing skills. Jorginho was a particularly sensational football player, scoring four stunning goals in the process. The heat was debilitating, even to these kids who should have been used to it. After 40 minutes, and even though the pitch was in shade, we collapsed in a ball of sweat at a score of five goals each side. Jorginho tapped my arm. I was slightly worried about what might happen next. “Gringo. Great game. I need to ask something. I need to learn English to work in this city. I want work in a hotel here in Rio de Janeiro – they have a lot of gringos. Can you teach me?” This sounded like a fascinating opportunity. Again, I could see my other Brazilian friends disapproving. I agreed. We shook hands. The boys disappeared off the pitch. I walked back home, exhausted. When at home, I went to bed for an afternoon nap, thinking about the bizarre football experience with Jorginho and his friends. What was dangerous about these kids? Absolutely nothing. The only thing is they are poorer than I. Other than that, we are equals. If anything, they were superior to me in many ways. They are Brazilian
O MORRO DESCEU Por Shaun Cumming
PHOTO: REPRODUCTION
This is an extract from my book, The Hill Came Down, in which Jorginho is the main character. To find out more about the book, visit my www. thebrazilblog.com or chat to me on twitter: @shaunalexc Este é um trecho do meu livro, The Hill Came Down, no qual Jorginho é o personagem principal. Para saber mais, visite www. thebrazilblog.com ou fale comigo pelo twitter: @shaunalexc
Estava andando pelas ruas do Rio de Janeiro. Do outro lado da avenida, a favela subia a encosta de uma montanha muito íngreme. Decidi andar naquela direção. Nunca tinha visto uma favela antes. Era como olhar para outra civilização. Embora chocado com a pobreza, as construções eram impressionantes e bonitas. Sonhava acordado quando uma bola de futebol quicou em minha frente. Rumo à favela havia um campo com traves de madeira. Meia-dúzia de crianças estavam jogando era delas aquela bola. O maior dos garotos correu na minha direção. “Amigo”, ele disse, apontando para a bola. Peguei a bola e pulei o muro de dois metros que cercava o campo. Meu coração acelerou. O garoto mais alto voltou para a trave. Ele e as outras crianças buscavam as posições, claramente querendo que eu chutasse a bola. E foi o que eu fiz. Fiquei congelado observando a cena. O garoto mais alto correu de volta para mim, sorrindo. “Obrigado amigo”, disse ele. Ele tinha um cabelo afro preso para trás por uma bandana. Parecia ter 15 ou 16 anos. O resto parecia da mesma idade, mas eram de estatura menor. Ele olhou para mim com um olhar curioso. “Você é gringo?”, ele perguntou em inglês. Ele provavelmente percebeu a minha pele vermelha e a ignorância de como me aproximei do seu campo de futebol. “Sim”, eu respondi, agora suando mais do que o habitual. “Eu sou da Inglaterra”, falei. Eles pareciam confusos. “Nós jogamos futebol aqui. Quer jogar também?”. Eu estava completamente chocado, mas aceitei jogar. Meus outros amigos brasileiros com certeza não aprovariam isso, eu pensei. Mas, com certeza, isso seria tranquilo - se quisessem me roubar, já teriam feito no momento em que toquei na bola a primeira vez. O garoto alto começou a administrar a situação. Ele colo-
cou a mão no peito e disse: “Sou o Jorginho”. Eu disse o meu nome, mas, por mais que ele tenha tentado, foi incapaz de sequer chegar perto de pronunciá-lo. “Ok, amigo, nós chamaremos você de gringo”. Passamos 10 minutos tocando a bola ao redor do campo, que era seco, com poeira vermelha, duro e cheio de buracos. Eu fui superado pelas habilidades dos meninos. Eu jogava futebol desde muito novo, mas esses adolescentes tinham um talento natural para o futebol. O jogo foi disputado em ritmo relâmpago. No ataque, eu simplesmente não podia acompanhar Jorginho e os outros, mas eles pareciam felizes com as minhas habilidades de passar a bola. Jorginho era particularmente um excepcional jogador de futebol, marcando quatro gols impressionantes no processo. O calor era intenso, até mesmo para as crianças que deveriam estar acostumada com isso. Após 40 minutos, mesmo com o campo na sombra, nós já estávamos encharcado de suor e com o placar com cinco gols para cada lado. Jorginho bateu no meu braço. Eu estava um pouco preocupado com o que pode acontecer a seguir. “Gringo, ótimo jogo. Eu preciso perguntar uma coisa. Preciso aprender inglês para trabalhar na cidade. Eu quero trabalhar num hotel aqui no Rio de Janeiro – eles têm muitos gringos lá. Você pode me ensinar?” Isso soou uma fascinante oportunidade. Aceitei. Demos um aperto de mãos. Os garotos desapareceram do campo através de uma fileira de arbustos que levava até os prédios da favela. Voltei para casa. Em casa, fui para a cama para uma soneca da tarde, pensando sobre a bizarra experiência de futebol com Jorginho e seus amigos da favela. O que era perigoso nestas crianças? Nada. A única coisa é que eles são mais pobres do que eu. Fora isso, nós somos iguais. Na verdade, são superiores a mim em vários aspectos. São brasileiros.
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B R A Z I L I A N
G O V E R N M E N T
Itaipu. One of Brazil’s premier tourist attractions.
More than millions of kilowatts of power every year, Itaipu brings forth incredible emotions in thousands of tourists who come visit the largest generator of clean renewable energy on the planet. Itaipu’s attractions were the first in Brazil to get the ISO 9001 quality seal. Besides, the Special Tour, a trip through the core of the power plant, has been chosen by the Ministry of Tourism and Fundação Getulio Vargas one of the best tours in the country. Make sure you come see us. The Itaipu power awaits you.
Information and reservations:
+55 45 3529-2892 reservas@turismoitaipu.com.br www.turismoitaipu.com.br The spillway may be closed due to technical or weather conditions.
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NINETEEN EIGHT-FOUR
A DIFFERENT WAY OF SEEING BRAZIL By Ricardo Somera
The World Cup is coming (how many times do we have to write tFor years the world has been curious about Brazil. But many things unique to the country remain unexplored by the mainstream media. Taking this as a starting point, I am going to look at three host cities where the England team are playing and tell you some things you might not know but which are important delineators of our culture. If you want to discuss these more or even share experiences of your travels during the World Cup, let’s chat on Twitter @souricardo. AYAHUASCA IN MANAUS Manaus, capital of Amazonas state, will host England’s debut match against Italy on 14 June. This region is known for its natural and cultural diversity, and one of the leading exponents of this culture is the ‘Santo Daime’ religious ritual that is based on ayahuasca - the sacramental use a drink with psychedelic characteristics. The ritual officially appeared in the state of Acre in the early twentieth century. Ayahuasca is traditionally used in Peru, Ecuador, Colombia, Bolivia and Brazil by at least 72 different indigenous tribes. Those who drink it say the experience takes you on a trip in the most intimate ways to reveal yourself. It is said to bring on visions, but it can also cause vomiting, diarrhoea and psychological distress and is recommended to be taken only in the presence of a respected shaman. www.visitamazonas. am.gov.br/site.
PARA INGLÊS VER E ENTENDER
SAO PAULO RAILWAY On 19 June the England team will face Uruguay in São Paulo. Little is said about it, but the largest city in Brazil was strongly influenced by the English, mainly through the São Paulo Railway Company, a private British company who owned the first railway in the state, linking São Paulo and Jundiaí to the port of Santos. The company was nationalised in 1946, but left one of the most beautiful buildings in São Paulo, Luz Station, was designed by the English architect Charles Henry Driver in the neoclassical style and inaugurated in 1901. Now a museum of the Portuguese language this should be on the itinerary for any Brits headed to the city. www. museudalinguaportuguesa.org.br.
By Ricardo Somera
PHOTO: DIVULGATION
AYAHUASCA EM MANAUS
GOLD FROM MINAS Belo Horizonte will host the match between England and Costa Rica on June 24. Rich in natural resources, the state of Minas Gerais was important in Brazil’s history, but you night not know that it also played a part in Britain’s industrial development. As trade relations developed and the Portuguese grew a fondness for fabrics weaved in Yorkshire, they didn’t pay for it with wine, but with gold from Brazil. This was reported by Eduardo Galeano in his seminal work The Open Veins of Latin America. Our colonisers took over 500 tons of gold from Minas and a good portion of that amount helped fund the industrial revolution in the UK. Nowadays the gold nuggets that the tourists will be able to get their hands on is Pão de Queijo - delicious cheese breads typical of this region. www. minasgerais.com.br/visite-minas.
Há anos o mundo está curioso sobre o Brasil. Certos temas, porém, são pouco explorados pela grande mídia. Por isso, tendo como ponto de partida as cidades que receberão os ingleses na primeira fase da Copa do Mundo, escrevo um pouco sobre três desses tópicos que são importantes delineadores de nossa cultura, dentro e fora do Brasil. Se você quiser debater mais, vamos pelo Twitter: @souricardo.
The impressive Luz Station in São Paulo
A cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, vai receber a estreia da Inglaterra no dia 14 de junho, contra a Itália. A região Amazônica é conhecida mundialmente pela sua diversidade natural e cultural, e uma dos principais expoentes dessa cultura é o Santo Daime, ritual religioso que tem como base o uso sacramental de uma bebida com características psicodélicas, a ayahuasca. O ritual surgiu oficialmente no Estado do Acre no início do século XX, mas há outras vertentes. A ayahuasca é utilizada tradicionalmente em países como Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil por pelo menos 72 diferentes tribos indígenas. Quem prova diz fazer uma viagem para os caminhos mais íntimos e reveladores de si. A planta é regulamentada para rituais religiosos sem fins lucrativos, então não há motivos para visitar a Amazônia sem fazer essa descoberta. Descubra-se na floresta www.visitamazonas.am.gov.br/site.
SÃO PAULO RAILWAY Dia 19 de junho os ingleses vão enfrentar o Uruguai na Arena Co-
rinthians, em São Paulo. Pouco se fala a respeito, mas a maior cidade do país recebeu forte influência inglesa, principalmente através da São Paulo Railway Company, empresa privada britânica dona da primeira estrada de ferro do Estado, que ligava as cidades de Jundiaí e São Paulo ao porto de Santos, no litoral paulista. A empresa foi nacionalizada em 1946, mas deixou um dos mais bonitos cartões postais de São Paulo, a Estação da Luz, que foi projetada pelo arquiteto inglês Charles Henry Driver em estilo neoclássico e inaugurada em 1901. O local é indispensável no roteiro turístico pela capital paulista, ainda mais por ter em seu prédio o Museu da Língua Portuguesa: www.museudalinguaportuguesa.org.br.
OURO DE MINAS Belo Horizonte receberá no dia 24 de junho o jogo entre Inglaterra e Costa Rica. Além do rico futebol jogado por lá – basicamente por Cruzeiro e Atlético-MG –, outras riquezas daquela região do país foram corresponsáveis pelo desenvolvimento industrial da Inglaterra. Não era com vinho que Portugal pagava pelos tecidos ingleses, mas com ouro, com o ouro do Brasil, relatou Eduardo Galeano no clássico “As Veias Abertas da América Latina”. De Minas Gerais nossos colonizadores tiraram mais de 500 toneladas de ouro e boa parte desse montante ajudou a financiar o desenvolvimento da era industrial no Reino Unido. Hoje em dia o “ouro” que os gringos vão poder ver e provar na cidade é o pão de queijo, não tão valorizado como o metal, mas de valor inestimável para todo o brasileiro. Para conhecer mais Minas Gerais: www. minasgerais.com.br/visite-minas.
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NEW CANVAS OVER OLD
MATCHING FOOD WITH FOOTBALL By Kate Rintoul
In the three years I have been with my boyfriend I have probably watched more football than some people see in a lifetime. Our weekends in London were always bookended with Football Focus and Match of the Day on TV. Luckily for us, I like football. That being said I do have my limits, especially when we sometimes have to plan our social lives around big games. But rather than begrudging the occasional football focussed Saturday, I decided to embrace them. As well as researching the best places in London to watch football, I also found ways of making nights in front of the box more interesting - with food and drink themed to the game. My first dabble in the art of matching food with football was for the Champions League final between Chelsea and Bayern Munich in 2012. Although I was rooting for Chelsea, to try something new (and because my budget wasn’t up to caviar or whatever they eat in Chelsea) I cooked up a Bavarian feast. Not only was it fun sourcing the different ingredients - it opened up new prospects: I discovered a great German food stall (in Bromley of all places) and the joys of creamy, floral wheat beers, which have become a firm football favourite in our house. Feeling inspired, when the Euros rolled around a few weeks later, I quickly set about choosing a ‘country to cook’. I tried to pick ones that weren’t too familiar to keep trying new dishes and techniques and it really did bring an added element of fun to the tournament. So with the biggest World Cup
in years just weeks away, I have upped my game and I am challenging myself to cook different national cuisines for every day of the competition and raise some money for a good cause along the way. So what was once a novel way of trying new recipes and making football more interesting has now become a full-on challenge as I will be raising money for the Action for Brazil’s Children Trust who support grassroots community projects. Here are the rules of Coma na Copa: 1) For every day there are matches I will choose one or two countries and prepare food and drink that’s reflective of their culture. 2) I will source recipes from independent blogs to support other writers and gain a more insightful perspective from native cooks. 3) The food will be reflective of local home cooking. I am not going to set ridiculous tasks like the Courtesan au Chocolat when France play. 4) I will document the process, including the reactions of friends and family who try the food. Football and good food are a pretty good match, both take a little bit of dedication but when things go well can deliver satisfying results so I’m going to make like Gordan Ramsay and start cooking my way through the cup! I will be asking for people to sponsor me through Givey, visit https://www.givey.com/katerintoul to see how I’m doing and to donate - you never know there might be a dinner in it for you!
THE RECIPE IDEAS Here’s some of the recipe ideas I’ve had for the opening games, tweet me to tell me which one you think I should do @katerintoul #comedocopa
12 June: Brazil Vs Croatia
(Classic Caiprinhas or stuffed Courgette in tomato sauce)
13 June: Spain Vs The Netherlands
(Hake with Galician Ajada Sauce or Dutch Meatballs in Gravy)
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COMBINANDO COMIDA COM FUTEBOL Por Kate Rintoul
Nesses três anos estou com meu namorado, provavelmente assisti a mais jogos de futebol do que algumas pessoas assistiram na vida toda. Nossos finais de semana em Londres eram sempre acompanhados de partidas na TV. Para nossa sorte, gosto de futebol. No começo tinha minhas dificuldades, especialmente quando precisávamos planejar nossa vida social em torno dos grandes jogos. Mas, em vez de odiar o futebol de sábado, eu decidi abraçá-lo. Além de pesquisar os melhores lugares em Londres para assistir ao futebol, também encontrei maneiras de fazer as noites em frente à televisão mais interessantes - com comidas e bebidas temáticas para os jogos. Minha primeira experiência na arte de combinar comida com o futebol foi no final da Champions League entre Chelsea e Bayern Munich, em 2012. Embora eu estivesse torcendo para o Chelsea, para tentar algo novo (e porque meu orçamento não dava para caviar ou o que comem em Chelsea) eu cozinhei um banquete da Baviera. Não apenas porque foi divertido procurar os diferentes ingredientes – isso abriu novas perspectivas: descobri uma excelente loja de culinária alemã e o me diverti com as cremosas cervejas de trigo florais. Sentindo-me inspirada, quando a Eurocopa chegou algumas semanas mais tarde eu rapidamente defini a modalidade “um país para cozinhar”. Tentei pegar aqueles com os quais não tinha muita familiaridade para tentar novos pratos e técnicas que realmente trouxessem um elemento adicional de diversão para o torneio.
14 June: England Vs Italy
(Mini battered fish and chips or Courgette and spinach cake)
15 June: France Vs Honduras
(Crispy cod with braised peas or Tapado Pescado)
16 June: Germany Vs Portugal
(Düsseldorfer pork chops or chicken baked in wine and tomato)a
Então, com a maior das Copas do Mundo chegando, me desafiei a experimentar a culinária de diferentes nacionalidades durante todos os dias de competição e arrecadar fundos para uma boa causa. Assim, o que antes era uma divertida maneira de experimentar novas receitas e tornar o futebol mais interessante se tornou em um desafio: agora eu estou arrecadando dinheiro para a ONG Action for Brazil’s Children Trust, que apoia projetos comunitários. Aqui vão as regras do Come na Copa: 1) Para todos os dias que tiver jogos, vou escolher um ou dois países e preparar um prato e bebida que reflitam a cultura deles. 2) Vou buscar diferentes receitas de blogs independentes para apoiar os blogueiros e ter uma perspectiva fiel dos cozinheiros nativos. 3) A comida vai refletir a culinária do cotidiano das casas. Eu não vou escolher Courtesan au Chocolat quando a França jogar. 4) Vou documentar o processo, incluindo a reação dos amigos e familiares que provarem a comida. Futebol e boa comida fazem um jogo muito bom. Ambos exigem um pouco de dedicação, mas quando as coisas vão bem podem produzir resultados satisfatórios, então eu vou fazer como Gordan Ramsay e começar a cozinhar do meu jeito nesta Copa! Pedirei para as pessoas patrocinarem a ideia através do site Givey; visite www.givey.com/katerintoul para saber como estou fazendo e também como doar – você nunca sabe ganhar de jantar!
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