Brasil Observer #13 - Portuguese Version

Page 1

FREE

MARCELLO CASAL JR/ AGÊNCIA BRASIL

LONDON EDITION JUNE 19 – JULY 2

ISSN 2055-4826

FESTA DO FUTEBOL

Descubra o que está acontecendo na Copa >> Páginas 12 e 13

READ IN ENGLISH

www.brasilobserver.co.uk OLIVER KORNBLIHTT / MÍDIA NINJA

OCUPAÇÃO DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO EM ITAQUERA É A PONTA MAIS VISÍVEL DO PROBLEMA HABITACIONAL DO BRASIL: 5,8 MILHÕES DE FAMÍLIAS NÃO TÊM RESIDÊNCIA ADEQUADA NO PAÍS

INVISTA NO SEU FUTURO PROFISSIONAL! FAÇA A SUA GRADUAÇÃO E PÓS NO REINO UNIDO COM A AJUDA GRÁTIS E HONESTA DA UKstudy! CONTATE ana@ukstudy.com | www.ofertasukstudy.com.br | UKstudy.com University Partners

UKstudyBrazil

>> Páginas 10 e 11

# 0 0 1 3


03

EM FOCO Notícias que foram destaques na quinzena

04 05

BRASILIANCE E o futebol brasileiro, como fica?

LONDON EDITION 06

BRASIL NO UK Príncipe Harry está chegando ao Brasil

EDITORA - CHEFE

08 09

PERFIL

Ana Toledo ana@brasilobserver.co.uk

Gilles Peterson

EDITORES

10 11

REPORTAGEM DE CAPA Desafios habitacionais do Brasil

COPA 2014 Devaneios da Copa

CONECTANDO

RELAÇÕES PÚBLICAS

14

COLABORADORES

15 25

Cinema da Amazônia e muito mais...

kate Rintoul kate@brasilobserver.co.uk

12 13

Descobrindo mulheres moradoras de rua

BRASIL OBSERVER GUIDE

Guilherme Reis guilherme@brasilobserver.co.uk

Roberta Schwambach roberta@brasilobserver.co.uk

Bianca Brunow Dalla, Bruja Leal, Gabriela Lobianco, Luciane Sorrino, Marielle Machado, Michael Landon, Nathália Braga, Ricardo Somera, Rômulo Seitenfus, Rosa Bittencourt, Shaun Cumming, Wagner de Alcântara Aragão

PROJETO GRÁFICO

100 95 75

25 5 0

lh4u_ad_world_cup sexta-feira, 13 de junho de 2014 11:22:36

16 - 17

18

19

20 - 21

E D I T O R I A L

A COPA DAS COPAS?

23

24

25

16|17 CAPA DO GUIA 18 NINETEEN EIGHT-FOUR 19 GOING OUT 20|21 TRAVEL 23 WORLD CUP TABLE 24 MUSIC TO WEAR 25 NEW CANVAS OVER OLD

Por Ana Toledo – ana@brasilobserver.co.uk

A Copa do Mundo começou e o país se rendeu à festa. O ‘imagina na Copa’ deu lugar à quase unânime certeza de que, de fato, o Brasil faz a Copa das Copas. Convém, porém, manter o espírito crítico pois, como sabemos, a Copa tem um começo, meio e fim bem demarcados. E o Brasil tem o resto de 2014 ainda por vir. Sim, como já citamos diversas vezes, temos a eleição presidencial em 2014. Vamos decidir qual o caminho o Brasil vai tomar nos próximos quatro anos apenas três meses depois que a Copa das Copas chega ao fim. E muita pauta do debate das campanhas eleitorais já foram ‘testadas’ durante o evento. Como por exemplo, podemos citar o caso dos aeroportos das 12 cidades-sedes do Brasil. Aprovados por turistas e divulgado pela imprensa internacional, já podemos dizer que sim, o Brasil terá um legado e o caos aéreo anunciado pela grande impressa brasileira não chegou, surpreendendo os pessimistas de plantão. Já em outro aspecto, na área habitacional, pode-se dizer há tempos que o impacto da Copa tanto na especulação imo-

wake up colab digala@wakeupcolab.com.br

DIAGRAMAÇÃO Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com

DISTRIBUIÇÃO Emblem Group LTD mpbb@btinternet.com

IMPRESSÃO Iliffe Print Cambridge iliffeprint.co.uk

ASSESSORIA CONTÁBIL Atex Business Solutions info@atexbusiness.com

biliária, quanto nas desapropriações foi de direta influencia. No entanto, esta questão não é demarcada com inicio, meio e fim como o evento. E por isso, nesta edição, você poderá conferir e entender melhor o que permeia este grande problema no Brasil que é a habitação, através da reportagem de Guilherme Reis que esteve na ocupação “Copa do Povo”, ao lado do estádio Itaquerão, palco de abertura da Copa 2014 em São Paulo. Leia nas paginas 10 e 11. E para quem ficou em Londres e não esta imerso nas festividades verde-amarela do Brasil, sem problemas! Em Londres tem Brasil também! Não do jeito que a gente conhece, mas com certeza pode te dar um gostinho de parte desta festa. Confira no BO Guide uma entrevista com Vanessa Gabriel-Robinson, uma das responsáveis pelo Amazon Film Festival, que faz parte da programação do Joga Bola!, evento que acontece durante todo o período da Copa com atracões brasileiríssimas de primeira. Leia na pagina 15. Aproveite a edição e ate breve!

BRASIL OBSERVER é uma publicação quinzenal da ANAGU UK MARKETING E JORNAIS UN LIMITED (Company number: 08621487) e não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constarem do expediente não tem autorização para falar em nome do Brasil Observer. Os conteúdos publicados neste jornal podem ser reproduzidos desde que devidamente creditados ao autor e ao Brasil Observer.

CONTATO contato@brasilobserver.co.uk comercial@brasilobserver.co.uk 020 3015 5043

SITE www.brasilobserver.co.uk


brasilobserver.co.uk 3

EM FOCO Manifestantes em frente ao Congresso Nacional: a vontade de participação direta da população é evidente

AGÊNCIA BRASIL

QUEM TEM MEDO DA PARTICIPAÇÃO POPULAR?

AÉCIO: CANDIDATO DA OPOSIÇÃO

10% DO PIB PARA EDUCAÇÃO

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

Em convenção nacional, o PSDB oficializou a candidatura do senador e presidente do partido, Aécio Neves, à Presidência da República nas eleições de outubro. Em discurso de 20 minutos, Aécio disse que pretende promover o “reencontro do Brasil”, defendeu o controle da inflação, o combate à corrupção, fez críticas ao atual governo e elogiou a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “No lugar de um novo e prometido salto, perdemos o rumo. Inflação está de volta atrasando a agenda nacional. O Brasil não aceita mais o Estado cooptado e aparelhado. Quer o fim dos escândalos em série e corrupção endêmica. Por todo território nacional, vemos um enorme cemitério de obras inacabadas”, afirmou Aécio Neves. O ex-governador de São Paulo e ex-ministro da Saúde, José Serra, disse que a candidatura de Aécio representa as mudanças que o Brasil deseja. “Nós acreditamos em valores que constroem e precisamos saber conviver com as diferenças. O PSDB não nasceu para destruir e sim para servir ao país. Os brasileiros querem mais verdade, tolerância, competência e não mais frustrações”, disse Serra, candidato do PSDB nas eleições presidenciais de 2010. Nascido em 10 de março de 1960, em Belo Horizonte, Aécio Neves é economista pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais. É filho de Inês Maria e do ex-deputado federal Aécio Ferreira da Cunha e neto do ex-presidente da República Tancredo Neves e do deputado federal Tristão da Cunha. Foi eleito senador da República por Minas Gerais em 2010. Governou o estado por dois mandatos (2003 a 2010) e foi deputado federal por 16 anos, tendo presidido a Câmara dos Deputados. Aécio Neves preside o PSDB desde 2013.

A educação no Brasil tem 20 novas metas a serem alcançadas. O Plano Nacional de Educação foi aprovado pelo plenário da Câmara dos Deputados e, agora, segue para sanção da presidencial. Segundo o plano, o investimento em educação crescerá paulatinamente até 2024, atingindo o equivalente a 10% do PIB ao ano — quase o dobro do praticado atualmente (5,3%). Em 2019, no quinto ano de vigência do plano, o valor já deve estar em 7%. Pelo texto aprovado, os recursos previstos no PNE também poderão ser utilizados no Programa Universidade para Todos (ProUni), que dá isenção fiscal a escolas e faculdades privadas que concedem bolsas de estudo; bem como no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e no Ciência Sem Fronteiras. Tais pontos eram questionados. O líder do PDT, deputado Vieira da Cunha (RS), disse que a aprovação do texto, com os incentivos, distorce a meta de 10% do PIB para educação pública em 2024. A retirada foi endossada pelo presidente da Comissão de Educação da Câmara, deputado Glauber Braga (PSB-RJ). Ele argumentou que os programas “podem até ser ampliados, mas defendemos que os 10% sejam investidos em educação pública. Só desse jeito a gente vai garantir possibilidade concreta de uma ampliação de oferta e qualidade da educação”. Entre as diretrizes estão: a erradicação do analfabetismo; o aumento de vagas em creches, no ensino médio, no ensino profissionalizante e nas universidades públicas; a universalização do atendimento escolar para crianças de 4 a 5 anos; e a oferta de ensino em tempo integral para, pelo menos, 25% dos alunos da educação básica.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) espera dobrar o valor dos negócios fechados no ano passado, durante a Copa das Confederações. Agora, a projeção, calculada com base no número e no potencial dos empresários estrangeiros convidados para a Copa do Mundo, é que se eleve de US$ 3 bilhões para US$ 6 bilhões o volume de investimentos e exportações. “São estimativas que a gente faz. Consulta prévia à empresa sobre o quanto pretende gastar, e qual o potencial do negócio a ser gerado”, disse o presidente da Apex, Maurício Borges. Nos encontros promovidos com mil empresários na Copa das Confederações foram fechados US$ 1,8 bilhão em exportações e US$ 1,2 bilhão em investimentos. Para atingir a meta, o Projeto Copa do Mundo da Apex aumentou o número de empresários convidados de mil para 2,3 mil, e tem promovido encontros com empresas de todos os tamanhos. O representante da Apex destacou que, no momento em que o crescimento econômico se dá de forma mais lenta, o projeto pode ajudar na imagem do país. “Com certeza é o momento de mostrar um setor produtivo forte e criativo”, disse. Ele explicou que os empresários pensam em fechar negócios em longo prazo e não se atém a dados atuais da economia, mas ao potencial apresentado.

A presidente Dilma Rousseff assinou um decreto que institui a Política Nacional de Participação Social, cuja principal meta é acompanhar a formulação, a execução, o monitoramento e a avaliação de políticas públicas, assim como o aprimoramento da gestão pública. Com isso, o governo reforça institucionalmente uma política que vem desde 2003, quando o ex-presidente Lula assinou medida provisória que atribui à Secretaria Geral da Presidência o papel de articulação com as entidades da sociedade civil na criação de instrumentos de consulta e participação popular de interesse do Poder Executivo na elaboração da agenda futura do Presidente da República. Entre 2003 e 2012, mais de 7 milhões de cidadãos brasileiros participaram de 87 conferências nacionais, abrangendo 40 áreas setoriais. No âmbito do governo federal, existem mais de 120 conselhos, dos quais cerca de 40 têm na sua composição expressiva presença de representantes da sociedade civil, consolidando os espaços de diálogo e controle social. Além disso, estão ativas cerca de 270 ouvidorias públicas federais que auxiliam o cidadão em suas relações com o governo, de acordo com os dados oficiais. Com o decreto, Dilma se mostra mais aberta ao diálogo e às demandas de movimentos sociais e da sociedade civil. Uma das principais críticas a presidente, em meio aos protestos de junho do ano passado, era o fato de ela não dar ouvidos a esses setores. Como era de esperar, a grande mídia, porta voz da elite financeira conservadora do país, acusa o decreto de “bolivariano”, em referência ao ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Chegam ao absurdo de falar em “ditadura” e em “ameaça à democracia” quando o objetivo do decreto é justamente ampliar as formas de participação. Os representantes eleitos pela população de dois em dois anos continuarão tendo as mesmas atribuições de sempre, definidas pela Constituição; por isso, cabe a pergunta, que tem medo do povo? Os mesmos que travam qualquer debate sobre uma lei de mídia democrática, chamando de “censura” um projeto que, na verdade, pretende ampliar as vozes da sociedade, impedindo o monopólio e a concentração que se confere hoje no âmbito da mídia brasileira.


4

brasilobserver.co.uk

BRASILIANCE

REPRODUÇÃO

Mesmo com novas arenas, futebol brasileiro é só o 18º colocado em frequência de público, atrás de EUA e Austrália

NOVOS ESTÁDIOS, VELHOS VÍCIOS Copa do Mundo no Brasil melhora, em parte, a infraestrutura do futebol nacional, mas a elitização do esporte, a irresponsabilidade fiscal dos clubes e a subserviência aos interesses comerciais da televisão ainda são problemas a serem enfrentados Por Wagner de Alcântara Aragão

O futebol é mais do que uma modalidade esportiva no Brasil. É elemento da brasilidade. A seleção canarinho e os clubes são mais que times: são símbolos nacionais. O esporte bretão faz parte da cultura imaterial da nação. É motivo para se puxar conversa no ponto de ônibus, no elevador, na sala de espera do posto médico – muitas vezes, aliás, é o único tema a aproximar camadas sociais opostas. É razão de alegrias extremas, de decepções profundas. Às vezes, gera confusão, brigas, violência. Mas quase sempre resulta em festa.

Desde que o país foi confirmado como sede do Mundial da FIFA deste ano, muito se discutiu sobre o legado do evento. Por causa da competição, foram antecipadas, sobretudo, obras em aeroportos e de mobilidade urbana, como corredores de ônibus e estações de metrô. Mas e os impactos no futebol nacional propriamente dito? Seja qual for o resultado da Copa, o futebol brasileiro não será mais o mesmo. Se a taça ficar com o time de Neymar e companhia, a conquista representará, por

si só, um marco para o esporte nacional. Por outro lado, mais um insucesso em um Mundial disputado em casa e o Brasil terá, no mínimo, de refletir sobre essa incapacidade de conseguir ser superior dentro de seu próprio território. Mas as mudanças do futebol brasileiro tendem a depender menos do resultado final da Copa do Mundo no Brasil; deverão ser consequência do esgotamento de um modelo de gestão que tem levado a uma maior mobilização de jogadores e torcedores.


brasilobserver.co.uk 5

ELITIZAÇÃO

DÍVIDAS DOS CLUBES SÓ CRESCEM

Um dos pleitos do Bom Senso F.C. é a instituição de mecanismos de controle que ponham freios na irresponsabilidade fiscal dos clubes brasileiros de futebol. Nos últimos cinco anos, de acordo com dados divulgados pelo movimento, a dívida dos clubes aumentou praticamente 75%. “Somente para o governo”, diz material informativo do grupo, “os clubes devem cerca de R$ 2,5 bilhões. Isso é equivalente a 75 hospitais ou 178 salas de aula”. O Bom Senso F.C. alerta que o não pagamento de salário e do direito de imagem dos atletas “se tornou prática comum”. O movimento exige a adoção de um sistema de controle denominado “Fair Play Financeiro”, o qual obriga os clubes “a gastarem apenas o que arrecadam”. “O objetivo é simples e visa garantir a sustentabilidade da instituição esportiva e o desenvolvimento saudável do mercado”. EVOLUÇÃO DAS DÍVIDAS DOS CLUBES

Ano Bilhões (R$) 2008 2,73 2009 2,91 2010 3,43 2011 4,06 2012 4,75

Clube Milhões (R$) Flamengo 757 Botafogo 699 Vasco 518 Atlético-MG 438 Fluminense 422 Palmeiras 311 Santos 296 Grêmio 276 São Paulo 250 Internacional 229 Cruzeiro 199 Corinthians 193

Fonte: ESPN, a partir de balanços divulgados pelos clubes.

DÍVIDAS DOS MAIORES CLUBES EM 2013

A elitização da modalidade, em curso há alguns anos, deve se acentuar. Os 12 estádios construídos ou reformados para a Copa do Mundo são um luxo só. Propiciam aos atletas toda a estrutura necessária para o desempenho de suas funções. No entanto, não são nada acessíveis aos trabalhadores de baixa renda – justamente aqueles que tradicionalmente lotavam as arquibancadas Brasil afora. O Campeonato Brasileiro do ano passado já teve algumas partidas disputadas nas arenas da Copa – no Estádio Mané Garrincha, em Brasília; no Mineirão, em Belo Horizonte; na Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata (Grande Recife); na Fonte Nova, em Salvador; e no Maracanã, no Rio de Janeiro. Nesses locais, os ingressos mais baratos custaram, em média, R$ 150. O valor era equivalente a cerca de 20% do salário mínimo nacional vigente em 2013. O encarecimento dos ingressos, todavia, não é exclusividade dos novos estádios. De oito anos para cá, os principais clubes instituíram a figura do sócio-torcedor. O aficionado se associa ao clube a custos menores que os sócios tradicionais, e com menos direitos, mas com a vantagem de obter descontos consideráveis (quando não isenção) no valor dos ingressos nos campeonatos que o time disputa na temporada. Por outro lado, e até para estimular que os torcedores se associem, o preço do ingresso na bilheteria foi elevado. Em síntese: o torcedor deve ter renda suficiente para bancar uma mensalidade de associado, ou para gastar uma quantia considerável quando, esporadicamente, optar por ir ao estádio assistir a uma partida. Um exemplo: para o Campeonato Brasileiro deste ano, iniciado em abril e interrompido em maio por causa da Copa (o torneio volta a ser disputado já no dia 16 de julho), o ingresso para os jogos no estádio do Coritiba está custando no mínimo R$ 90 (ou 12% do salário mínimo nacional atual, que é de R$ 724). Há pouco mais de um ano, o ex-jogador Romário, deputado federal pelo Rio de Janeiro (PSB), em pronunciamento na Câmara contra a gestão do futebol nacional, alertou para a exclusão dos mais pobres dos estádios do Brasil. “Não se vê mais na arquibancada o torcedor de bermuda e chinelo de dedo. A ‘geral’ dos estádios [setor em que se assistia às partidas em pé, e por isso com ingresso mais barato] foi eliminada. Os preços dos ingressos são exorbitantes”, disse.

TELEVISÃO Outro fator de exclusão é o horário das partidas de futebol. E na origem desse problema está outra mazela do futebol brasileiro: a subserviência aos interesses econômicos da Rede Globo, que detém os direitos de transmissão

dos principais campeonatos. Para atender às necessidades da grade de programação do grupo de comunicação (que comanda canal aberto e canais esportivos por assinatura), os jogos durante a temporada são distribuídos em rodadas aos finais de semana (sábado e domingo) e às quartas e quintas-feiras. Ocorre que, nos dias de semana, por imposição da emissora, as partidas com transmissão ao vivo pelo canal aberto começam às 22h – depois da novela das 21h, carro-chefe do horário nobre da programação. Terminam, portanto, perto da meia-noite. Saindo do estádio nesse horário, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife e Fortaleza, dificilmente o torcedor chega a sua casa antes da 1h (isso se conseguir pegar os últimos horários das linhas de ônibus, trem ou metrô). Como a maioria dos trabalhadores precisa levantar às 5h ou 6h para ir trabalhar, torna-se impraticável ir ao estádio no meio da semana. Partidas tão tardes assim prejudicam também os atletas. Ano passado, em entrevista ao diário esportivo Lance!, o meio-campo Alex, ex-seleção brasileira e atualmente no Coritiba, criticou, com ironia, a ingerência excessiva da Globo sobre a gestão do futebol brasileiro. “A gente sabe que a Globo trabalha na dependência da novela. Eu, que vou jogar, vejo uma situação ruim: preciso ficar no hotel o dia inteiro esperando um jogo dez horas da noite. Mas estou dentro de um hotel, confortável, vou jogar 90 minutos, tomar banho e vou embora para casa. E o torcedor? O cara sai de casa ou do trabalho, precisa ir para o estádio dez horas da noite, assistir ao jogo, voltar para casa, e ainda precisa acordar sete horas da manhã no outro dia. Isso é desumano. Por isso que os estádios estão vazios”. Na Câmara dos Deputados, tramita há mais de dez anos um projeto de lei que autoriza emissoras educativas estatais a transmitirem, sem custos (isso é, sem pagamento de direitos de transmissão), eventos esportivos de interesse nacional. Outro projeto semelhante foi apresentado na Casa sete anos atrás. Na prática, os projetos acabam com a exclusividade que as emissoras comerciais adquirem ao comprarem os chamados direitos de transmissão. Isso democratiza o acesso a tais transmissões e reduz o poder dos canais privados em impor restrições que satisfaçam seus interesses particulares. Na justificativa do projeto de lei de 2003, o autor – deputado federal pela Bahia Edson Duarte (PV) – assinalou que a Constituição da República estabelece que os meios de comunicação social não podem ser objeto de monopólio, direta ou indiretamente. A aquisição de exclusividade de transmissão de eventos esportivos pelas emissoras privadas é considerada “inaceitável” pelo parlamentar. “A situação constitui flagrante abuso do poder econômico e discriminação da população de menor poder aquisitivo, que não tem condi-

ções financeiras de contar com o serviço de TV a cabo”, declarou. Em 26 de abril último, os projetos voltaram a ser debatido na Câmara dos Deputados. Na América Latina, em países como Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela e Equador, a transmissão de eventos como a Copa do Mundo não é monopólio de empresas privadas – canais públicos e estatais também têm direito de transmissão.

BOM SENSO F.C. A Copa do Mundo no Brasil pode ser uma virada de página na história do futebol do país, mas decisiva mesmo pode ser a mobilização dos jogadores que, no ano passado, fundaram o Bom Senso Futebol Clube. Trata-se de uma organização constituída para defender os interesses dos atletas, sobretudo, e também dos torcedores. O Bom Senso pleiteia uma reformulação do calendário e um sistema de controle financeiro dos clubes; e está coletando, pelo seu site (www.bomsensofc.org.br), sugestões diretamente dos torcedores. No dia 26 de maio último, líderes do Bom Senso foram recebidos no pela presidenta Dilma Rousseff e conquistaram a adesão da mandatária na luta pelas reivindicações dos atletas. Na reunião, os jogadores discutiram a necessidade de uma Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (em tramitação no Congresso), a regulamentação da participação de atletas nas assembleias das entidades e a criação de um Plano Nacional de Desenvolvimento do Futebol. Novamente foi Alex quem se pronunciou publicamente. “Foi uma reunião proveitosa. Não é todo presidente que tem condição de disponibilizar tempo para receber atletas e ouvir histórias que foram relatadas, desde a elite do futebol às classes mais baixas. Saímos com três pontos bem definidos. A presidenta e o governo se comprometeram para que os pontos sejam abertos num futuro próximo. Cada um volta para casa de maneira bem satisfeita”. De acordo com levantamento do Bom Senso F.C., dos 684 clubes profissionais de futebol no Brasil, 583 não têm um calendário anual de competições. Oitenta e cinco por cento dos clubes ficam inativos por mais de seis meses. Dos cerca de 20 mil atletas profissionais, 16 mil recebem menos de dois salários mínimos e, pior ainda, ficam desempregados durante pelo menos metade do ano. Ou seja, a elitização não atinge apenas os torcedores: os profissionais da modalidade cada vez mais são excluídos também. Ainda segundo o movimento, embora seja o “país do futebol”, o Brasil é só o 18º colocado em frequência de público nos estádios: média de 12.971 pessoas por jogo. Está atrás, por exemplo, da Austrália (17º, com 12.990) e dos Estados Unidos (8º, com 18.845), sabidamente países sem tradição alguma no planeta do futebol.


6

brasilobserver.co.uk

BRASIL & UK

Príncipe Harry visita o Brasil

DIVULGAÇÃO/UK IN BRAZIL

Membro da família real inglesa chega ao país dia 23 de junho e assistirá a um dos jogos da Seleção Brasileira na Copa Da Embaixada Britânica em Brasília O Príncipe Harry visitará o Brasil em junho de 2014. Sua Alteza Real chegará ao país em 23 de junho, antes de viajar ao Chile em 26 de junho. A visita corrobora o interesse do Reino Unido na região e reflete a forte relação que esses dois países têm com o Reino Unido. A visita também permitirá que o Príncipe Harry dê continuidade com os vínculos que ele começou a desenvolver na América do Sul durante sua visita oficial ao Brasil em março de 2012. O Príncipe terá compromissos em nome do Governo de Sua Majestade e também relacionados aos seus principais interesses de caridade, incluindo jovens desprivile-

giados, sustentabilidade e promoção do trabalho das Forças Armadas. Ele também assistirá a duas partidas da Copa do Mundo durante sua visita ao Brasil. No Brasil, o Príncipe Harry visitará Brasília (23 de junho): um hospital especializado em reabilitação, ortopedia e neuropsicologia; também assistirá à partida Camarões x Brasil pela Copa do Mundo. Belo Horizonte (24 de junho): a base de treinamento das Equipes Olímpicas e Paralímpicas do Reino Unido durante as Olimpíadas do Rio em 2016; também assistirá à partida Costa Rica x Inglaterra. São Paulo (25 – 26 de junho): um projeto ambiental que ajuda a proteger a Mata Atlântica; um programa comunitário que ajuda crianças desfavorecidas; a Festa de

Harry visitou o complexo do Alemão no ano passado

Aniversário da Rainha promovida anualmente pelo Embaixador Britânico Alex Ellis no Brasil; e um projeto social para ajudar a reduzir crime e uso de drogas. O Príncipe Harry visitou o Brasil anteriormente em março de 2012. Na oportunidade, Sua Alteza Real visitou o Rio de Janeiro, onde participou de um evento da campanha GREAT no Pão de Açúcar, além de eventos esportivos para demonstrar os vínculos entre London 2012 e Rio 2016 e da visita a uma g

favela na cidade. Nos últimos anos, o Príncipe Harry tem apoiado uma série de trabalhos de caridade voltados para ajudar jovens desprivilegiados a desenvolver suas habilidades e aspirações, apoiar comunidades a preservar seus recursos naturais e promover o trabalho de militares homens e mulheres. Essas questões também representam áreas essenciais do trabalho da Fundação Real do Duque e Duquesa de Cambridge e Príncipe Harry.

Para mais informações sobre a GREAT Britain House acesse: www.greatbritainhouse.ukti.gov.uk.

Câmara Brasileira de Comércio realiza evento anual de verão

DIVULGAÇÃO

Para comemorar mais um verão na capital britânica, a Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha convida seus membros e amigos para mais um edição do churrasco anual de confraternização. Neste ano, o evento acontece no dia 3 de julho, a partir das 18h, na Dartmouth House, em Mayfer, região central de Londres. Será mais uma oportunidade oferecida pela instituição para fazer contatos e, Churrasco acontece no dia 3 de julho

g

neste caso, desfrutar de um autêntico churrasco brasileiro, com direito a caipirinhas e o já bem conhecido som do Clube do Choro UK, que será responsável por animar o ambiente. A entrada do evento custa 40 libras para membros da Câmara Brasileira de Comércio; não membros pagam 65 libras. A organização informa que no dia não haverá jogo da Copa do Mundo.

Para mais informações acesse www.brazilianchamber.org.uk.


brasilobserver.co.uk 7

Brasil

1 9 p /min

p /min

Fixos

Celulares

Para receber essas fantásticas tarifas, envie ACT SAVE para 2525 gratuitamente do seu Lycamobile.

Pela primeira vez… CHAMADAS GRATUITAS ILIMITADAS Para todos os números Lycamobile na

Europa, Estados Unidos e Austrália com qualquer recarga

Peça o seu cartão SIM em

Alemanha

Áustria

Austrália

Bélgica

Dinamarca

Irlanda

Itália

Espanha

www.lycamobile.co.uk Estados Unidos

França

Holanda

Para mais informações www.lycamobile.co.uk Disponível em:

Os clientes podem não disponibilizar do Top-Up eletrônico em todos os locais onde o logotipo de Top-Up aparece.

LM_UK_Brazil_268x345mm.indd 1

Noruega

Polônia

Portugal

Suécia

Suíça

Reino Unido

0207 132 0322

The special rates are applicable for customers who joined on or after 08.02.2014. Existing customers should opt-in by texting ACT SAVE to 2525.If you are a National plan ( UK PLAN 10,12,20,30 & 40) customer, you will eligible for the special discounted international rates. Existing customers who joined before 08/02/2014 who do not opt-in will be charged at the standard rate. Promotion valid until 30/04/2014. Lycamobile is now offering FREE CALLS to other Lycamobile in Austria, Australia, Belgium, Norway, Germany , Ireland, Italy, France, Nederland’s, Sweden, Poland, Spain, Denmark, Switzerland, Portugal, UK & USA. The promotion is applicable for both existing Lycamobile customers and new customers. New and existing Customers must top-up to qualify for the promotion and will receive free Lycamobile to Lycamobile calls to any Lycamobile for 30 days from date of top-up. Customers must maintain a minimum balance of one penny. Offer is valid for personal use only. After the 30 days free calls the customer must top-up again to continue the free calls otherwise the customer will be charged at the standard tariff. International calls are billed per minute. This promotion is only available to Lycamobile UK customers and is not applicable to roaming calls. Promotion is valid from 10/03/2014 to 31/05/2014.

10/04/2014 11:20


8

brasilobserver.co.uk

PAIXÃO BRASILEIRA DE

PERFIL

GILLES PETERSON Você já deve ter se perguntado: o que os ingleses conhecem da música brasileira? A resposta pode variar bastante. Certo é que, se o gringo for um bom conhecedor da nossa música, não se surpreenda se ele citar este homem: Gilles Peterson. Nascido na França e criado na Inglaterra, o DJ, produtor e radialista não tem um programa semanal na BBC chamado Worldwide (ou Mundial) por acaso. Em ação desde a década de 1980, Gilles vive à procura daquilo que ele chama de a “batida perfeita”. Nessa busca, já embarcou em aventuras para Tóquio, Cabo Verde e Havana. E, em seu roteiro, o Brasil sempre teve lugar de destaque. O Rio de Janeiro foi sua última aventura no início deste ano, quando ele esteve na Cidade Maravilhosa para produzir seu novo álbum Brasil Bam Bam Bam, lançando material criado pelo coletivo artístico Sonzeira. Trata-se de um produto que é resultado de uma relação de 25 anos com a música brasileira: “A cultura musical do Brasil é massiva. Tem o norte e sua pegada Afro-brasileira. Tem a batuca, o samba pesado”, diz Peterson. “Então vem a Bossa Nova, Tom Jobim e toda a história. Tem o baile funk. Tem a Tropicália a cena soul, funk de grupos como Banda Black Rio, Trio Mocotó e ícones como Gilberto Gil. Eu queria cobrir tudo isso, juntar todas essas influências”. Antes de se apresentar em um set na Trafalgar Square no dia 12 de junho, no dia do Brazil Day em comemoração ao início da Copa do Mundo (vejas as fotos tiradas por Rômulo Seitenfus), Gilles Peterson conversou com o Brasil Observer sobre sua história com a cultura brasileira e também sobre seu novo álbum. Confira: DJ, produtor, radialista, colecionador de discos raros. Como você prefere ser chamado? Para todos os efeitos eu sou DJ. É como comecei e por onde tenho seguido todos esses anos. Você lembra a primeira vez que escutou uma música brasileira? Acho que foi uma batucada de Ney de Castro que eu encontrei em


brasilobserver.co.uk 9

Um dos DJs mais influentes do Reino Unido conversa com o Brasil Observer sobre seu novo álbum Sonzeira: Brasil Bam Bam Bam e relembra a primeira vez que ouviu uma música brasileira: ‘Não parei de dançar desde então’ Texto e Foto: Rômulo Seitenfus uma loja de discos perto da casa da minha avó na França. Eu tinha 12 anos... Não parei de dançar desde então. Quando você passou de fato a entender sobre música brasileira e a trazê-la para o Reino Unido? O álbum Brazilian Love Affair, de George Duke, foi bastante significante para mim, pois foi a partir daí que conheci Milton Nascimento. Então, consequentemente, descobri Lô Borges e pessoas como José Mauro e Sérgio Ricardo. Eu amo esse tipo de canção. Eu já organizava eventos em Londres na metade dos anos 1980 – fui eu quem trouxe a Joyce e sempre assistia ao Airto Moreira e a Flora Purim quando eles vinham para a cidade. O primeiro concerto que eu vi foi de Tania Maria em 1982 – aquilo mudou minha vida e foi provavelmente a grande razão de eu ter me aprofundado nos conhecimentos sobre a música brasileira. Qual comparação você faz música brasileira dos anos 1980 e a de agora? Hoje em dia a música parece renovada de novo, especialmente os sons independentes que estão surgindo em São Paulo. Eu adoro a maneira como tantos grupos estão unindo a música eletrônica com as tradições da música brasileira. Ouço muito Graveola e Metá Metá. Também gosto do sambass que vem da cena dub, assim como o som de Karol Conka que vem da cena funk. Seu novo álbum mistura diferentes gerações. O que isso traz para quem ouve o disco? Espero introduzir para as pessoas um lado mais profundo da música brasileira, incorporando sons mais tradicionais como Arlindo Cruz, Chico Chagas e Nana Vasconcelos. Trabalhar com compositores como Gabriel Moura e com a geração mais jovem de Emanuele Araujo e Kassin é importante para haver um balanço com lendas como Marcos Valle e Elza Soares. Qual é a parte mais brasileira da sua personalidade? Paixão!


10 brasilobserver.co.uk

CAPA

QUEM TEM COPA QUER TER CASA Ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto em Itaquera é a ponta mais visível do problema habitacional do Brasil: 5,8 milhões de famílias não têm residência adequada no país; desafio do governo é não ficar refém da especulação imobiliária que cresce nas grandes cidades Por Guilherme Reis Onze de junho de 2014, São Paulo. O dia amanhece frio e chuvoso na maior cidade do Brasil. Na zona leste da capital paulista, em terreno ocupado por cinco mil famílias nos arredores da Arena Corinthians – onde dali a pouco mais de 24 horas a Seleção Brasileira estrearia na Copa do Mundo –, Cléber toma seu café quente em um pequeno copo de plástico embaçado pelo fumaça. “Cheguei aqui faz mais de um mês. Tenho 28 anos, mas moro em São Paulo desde os 17. Minha mãe está morando aqui também. Mas quero trazer minhas duas filhas que estão na Bahia”, diz ele entre um gole e outro, enquanto se aquece e se prepara para mais um dia na comunidade erguida com barracos de lona sustentados por varas de madeira. A ocupação, mais uma entre tantas outras que existem nas metrópoles brasileiras açoitadas pela especulação imobiliária, chama-se Copa do Povo e fica nos arredores do Parque do Carmo, no topo de um morro de onde se vê, ao longe, uma obra padrão FIFA. As famílias, organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), começaram a chegar ao local na noite do dia 2 de maio e são, em sua maioria, de bairros próximos ao de Itaquera. É o caso de Luciano, que aparenta ter pouco mais de 40 anos de idade. Com as mãos no bolso da jaqueta e os olhos vermelhos de quem teve uma noite não tão bem dormida, observa os colegas abrirem um saco de roupas doadas. Um deles experimenta uma meia calça por baixo de uma saia estilo secretária e sai rebolando, fazendo graça aos demais, que caem na gargalhada. Luciano dá só um sorriso discreto, pois está saindo para o trabalho. Ele é motorista de ônibus e tem esposa e duas filhas para sustentar; chegou à ocupação no primeiro dia, pois não conseguia mais pagar o aluguel onde morava. Dificuldade, aliás, que é compartilhada com a maioria das famílias que ocupam as vielas estreitas e improvisadas da Copa do Povo. Segundo o índice Fipe-Zap, o valor do metro quadrado em Itaquera aumentou 165% nos últimos 6 anos. Quem ganha pouco mais de um salário mínimo – hoje fixado em R$ 724 – dificilmente consegue arcar com um aluguel médio de R$ 600 por mês na região. Cléber termina seu café e começa seus

afazeres. Está desempregado, então dedica seu tempo à comunidade. De noite, faz o que chamam de “trilha”. Enquanto as pessoas dormem, percorre o terreno de um lado para o outro conferindo se não há velas acesas nos barracos, para que não haja incêndio. Como ainda está claro, faz o que é mais urgente: arrumar o pátio de entrada para que no dia seguinte, data da abertura do Mundial da FIFA, os moradores disputem um torneio de futebol. “Com licença”, se despede educadamente. A reportagem do Brasil Observer é recebida, então, por Antonio Sergio Lima, de 40 anos, um dos líderes da ocupação. Logo de cara, conversamos sobre a mais recente vitória do MTST – dois dias antes, na segunda-feira 9 de junho, o Governo Federal anunciara que, em conjunto com a prefeitura e o governo de São Paulo, o terreno da Copa do Povo seria destinado para a construção de moradias populares. “É uma libertação. A zona leste precisava de uma nova forma de luta”, comemora Serginho, como é conhecido, sem antes lembrar que tal decisão precisa ser aprovada na Câmara Municipal. Com a companhia de outro jornalista, Serginho conduz a reportagem em direção ao miolo da ocupação, de onde surgem histórias de resistência e comprometimento coletivo; tragédias pessoais e sociais que expõem à carne viva uma sociedade em movimento. O déficit habitacional, porém, não é um problema localizado, ainda que mais agudo em São Paulo do que em qualquer outra região do país.

QUADRO GERAL Estudo inédito da Fundação João Pinheiro, conveniada ao Ministério das Cidades, revela que o déficit habitacional cresceu 10% de 2011 para 2012 nas nove metrópoles monitoradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ver quadro). Nessas regiões, há hoje um total de 1,8 milhão de famílias sem residência adequada. No restante do país, os números são mais esperançosos: o déficit habitacional recuou 1,6% na contagem nacional no mesmo período. Ainda há, porém, 5,8 milhões de famílias brasileiras em moradia inadequada. A análise é feita com base na Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). Para calcular a carência habitacional do país, são consideradas quatro categorias: 1) habitação precária, como domicílios improvisados ou rústicos sem saneamento básico ou que apresentam riscos; 2) coabitação familiar, quando mais de uma família divide a mesma residência; 3) ônus excessivo com aluguel, o que ocorre quando famílias com rendimento de até três salários mínimos têm gasto superior a 30% da renda familiar com o aluguel; 4) adensamento excessivo de moradores em imóveis alugados, quando há mais de três moradores por dormitório. A composição do déficit habitacional em 2012 mostra que o componente com maior peso é o ônus excessivo com aluguel. Ele responde por 2 milhões e 660 mil unidades ou 45,9% do déficit, seguido pela coabitação, com 1 milhão e 865 mil domicílios ou 32,2%, pela habitação precária (883 mil ou 15,3%) e pelo adensamento excessivo em domicílios alugados (382 mil ou 6,6%). O número de famílias pobres que usavam mais de 30% da sua renda para pagar aluguel em 2012 era 11% maior ante 2011 e 35% ante 2007. Isso porque o valor médio do aluguel em São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, subiu 97% e 144%, respectivamente, de janeiro de 2008 e abril de 2014, de acordo com o índice Fipe-Zap. Para a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Paula Santoro, “a subida dos preços tem relação com o aumento do poder de compra de imóveis permitido pelas mudanças no financiamento imobiliário, como, por exemplo, a ampliação do tempo de pagamento para 30 anos, que permite que o valor total pago pela moradia possa ser maior”. “O aluguel sofre influência dos preços de compra e venda dos imóveis, que por estarem altos têm feito com que as famílias comprometam grande parte de sua renda familiar no seu pagamento”, explicou Paula Santoro ao Brasil Observer. Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST, acredita que a Copa do Mundo agravou o problema. “Os investimentos associados ao Mundial potencializaram a valorização imobiliária. Onde há megaevento, há especulação imobiliária pesada. O maior legado da Copa foi transferência de recursos para as grandes empreiteiras e especulação imobiliária urbana”, afirmou à revista Carta Capital.


brasilobserver.co.uk 11

QUANTIDADE DE FAMÍLIAS SEM MORADIA ADEQUADA

(1) Copa do Povo: ocupação reúne 5 mil famílias (2) Protesto do MTST em frente à Arena Corinthians

Metrópoles Belo Horizonte Curitiba São Paulo Fortaleza Rio de Janeiro Recife Porto Alegre Belém Salvador Total Metrópoles Total Brasil

2011 115.045 68.835 592.405 108.959 299.659 111.555 95.504 73.655 135.430 1.601.37 5.889.357

OLIVER KORNBLIHTT / MÍDIA NINJA

MINHA CASA MINHA VIDA

DIVULGAÇÃO / MTST

A principal política habitacional desenvolvida pelo governo federal se dá através do Programa Minha Casa Minha Vida. De acordo com o Ministério das Cidades, desde que começou, em 2009, o programa entregou 1,68 milhão de unidades habitacionais, beneficiando mais de 6 milhões de pessoas. A meta é entregar 2 milhões de unidades até o fim de 2014, alcançando um investimento de R$ 234 bilhões. Os financiamentos são voltados para famílias de três faixas de renda – até R$ 1,6 mil (Faixa 1), entre R$ 1,6 mil e R$ 3,1 mil (Faixa 2) e de R$ 3,1 mil a R$ 5 mil mensais (Faixa 3). No caso da Faixa 1, a prestação da casa não deve ultrapassar 5% da renda do beneficiário, com valor mínimo de R$ 25, pelo período de 10 anos. Mas, na opinião de Paula Santoro, “nem todas as construções que estão sendo feitas têm sido adquiridas por aqueles que precisam de moradia e, num efeito contrário, inflam os preços da terra e terminam dificultando o acesso”. Isso se agrava ainda mais nas regiões metropolitanas, fazendo com que as construtoras que participam do programa destinem apenas áreas muito afastadas para habitações voltadas para o público de menor renda. Mudar esta situação, diz Santoro, significa “incorporar políticas que, mais do que produzir novas moradias, estejam articuladas a outras formas de propriedade, como banco de imóveis públicos, associado à política de locação social”. Neste caso, a prefeitura de uma cidade compraria imóveis para alugar a famílias de baixa renda com preços subsidiados, o que acontece em alguns países da Europa. A reportagem do Brasil Observer entrou em contato com a Secretaria Nacional de Habitação, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. O governo, porém, prometeu ampliar o Minha Casa Minha Vida Entidades, outra reivindicação do MTST. Nessa modalidade, em vez de ir do governo à empreiteira, o dinheiro é destinado ao movimento social ou outra

2012 Variação 148.163 +28,8% 86.820 +26,1% 700.259 +18,2% 124.701 +14,4% 331.260 +10,5% 108.835 -2,4% 86.263 -9,7% 65.712 -10,8% 112.952 -16,6% 1.764.965 +10,2% 5.792.508 -1,6%

entidade, que fica responsável por decidir como será a construção e estabelecer quem ganhará a moradia dentro das normas do programa. O limite atual deve subir de mil para quatro mil unidades feitas por cada entidade. Em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, o MTST mantém um empreendimento do programa – ao menos 380 famílias receberão as chaves de casa até o fim do ano. Na região, estão sendo construídos apartamentos com mais de 60 metros quadrados, acima dos 39,6 metros quadrados do padrão mínimo do programa federal. O movimento alega que esse modelo gera eficiência maior, pois permite a construção de moradias maiores e melhores.

‘LEGADO É A LUTA’ Na Copa do Povo, a hora do almoço se aproxima. Os moradores do G2 improvisam uma praça de alimentação em frente à cozinha comunitária, onde o prato do dia tem arroz, feijão, frango, macarrão e salada de chuchu. Serginho explica que a ocupação é dividida em “Gs” para facilitar a organização. Ao todo são oito; cada um com cerca de 600 famílias. “Não adianta ocupação sem andamento”, fala com certo orgulho de ver que o movimento está organizado, tanto dentro quanto fora da ocupação, onde tem conseguido conquistas importantes para aqueles que estão em busca de moradia. Em todo caso, não deixa de reconhecer que ainda há um longo caminho a percorrer. “O que a gente faz com essas crianças que ficam aqui e não podem ir para a escola?”, questiona Serginho. O acesso à saúde nas periferias também é outra pauta recorrente, assim como a violência policial: “tem carros da polícia em todo o entorno, mas até agora não entraram”, diz com certo alívio. “O maior legado disso aqui”, conclui Serginho, “é a própria luta”. “Sentamos à mesa com o governo pela força popular. Os lutadores que estão aqui são reflexos das manifestações de junho. Perdeu-se o medo de se manifestar. E agora é impossível sair da rua”.


12 brasilobserver.co.uk

C O PA 2 0 1 4

COPA 2014

GIL LEONARDI/IMPRENSA MG

DEVANEIOS DE COPA Por Guilherme Reis

O pênalti cobrado por cima do gol pelo italiano Roberto Baggio em 1994. Esta é minha primeira lembrança de uma Copa do Mundo. Em verdade, minto. Lembrar mesmo, lembro do meu pai eufórico, perambulando pela sala de casa repleta de pessoas pelo chão em frente a TV, dizendo “come que dá sorte, come que dá sorte!”. Ele tinha uma bacia de pipoca nas mãos e a Seleção Brasileira estava prestes a decidir o Mundial nas penalidades. Não lembro sequer das cobranças, apenas do esforço para pronunciar corretamente a comemoração “é tetra, é tetra!”. Eu tinha então quatro anos. Vinte anos depois, eis que acordo em minha casa em São Paulo aos sons das buzinas. Olho pela janela e vejo as bandeiras do Brasil nas varandas dos prédios. É dia de jogo. É dia de Copa. É dia de Seleção na Copa. É dia de Seleção na Copa no Brasil! A sensação de estar na cidade para onde o mundo olha é sinceramente única. Tudo ganha ritmo diferente. Quem trabalha, sai mais cedo. Quem não trabalha, passa o dia organizando a farra. Quem não folga, arruma um jeito: improvisa uma TV no trabalho e vai vestido com as cores verde e amarela. Quem foi à Arena Corinthians pode contar melhor. Me limito às ruas da Vila Madalena, onde assisti ao jogo. A partida, mais precisamente, vi na casa de um amigo, com outros tantos amigos, ao sabor de churrasco, cerveja e música brasileira - mesmo durante o rolar da bola, pois ouvir o Galvão Bueno narrar é “teste para cardíaco!”. Ainda bem que não escutei aos lamentáveis xingamentos dirigidos para a

presidente Dilma... Que papelão de uma elite cuja integridade moral há tempos foi para o espaço! Mas o foco era o jogo de bola. Croatas na frente, que susto. Ainda bem que temos Neymar, duas vezes, e Oscar, que golaço! É festa! As ruas da Vila estão lotadas e a comemoração vai longe. E a Copa, quem diria, está com tudo. Já tem gringo pedindo que a Copa seja sempre aqui. E como tem gringo! E brasileiro adora gringo... Quer falar com os gringos, interagir. Quer falar gringo até com quem não é gringo, senão perde a graça. E como gringo gosta do Brasil! Em menos de uma semana, já se fala de boca cheia que temos a Copa das Copas, sem o constrangimento de antes. Tudo pega fogo, até os protestos. Pois sim, eles também acontecem e estão aqui e ali para quem quiser ver também. A polícia reprime com força e prende, os ativistas denunciam e seguem firmes sem sucumbir à “pátria de chuteiras”. Quem disse que na Copa as pessoas esquecem dos problemas? Não esquecemos não! Quem quer protestar, protesta. Quem quer curtir a Copa, aproveita. E quem quer os dois se equilibra numa linha tênue, porém não menos interessante. Copa das Copas porque, em menos de uma semana, a Holanda meteu 5 na Espanha e a Alemanha 4 em Portugal. Inglaterra e Itália fizeram um jogaço em Manaus e o Messi balançou a rede, assim como Neymar. E porque os sul-americanos, como os brasileiros, cantam o hino à capela quando o som do estádio para. Que fique claro: estou falando do esporte mais popular do mundo. A política está na página de trás.

AQUI E AGORA Escrevo essas linhas enquanto viajo de São Paulo a Belo Horizonte, onde vou acompanhar Bélgica e Argélia no Mineirão. “Poxa, podia ter pegado um jogo melhor hein...”. Mas e você que está em Londres? As ruas aqui estão em festa, belga com argelino e argelina com belga, e logo mais tem jogo do Brasil! Como será que torcem os mineiros? Nossa, que estádio lindo! As cores se misturam, pois aqui cada jogo tem três torcidas: do mandante, do visitante e do Brasil. Aqui no Mineirão estamos em vermelho, verde, branco, amarelo e azul. Argélia sai na frente, mas a Bélgica vira e vence por 2 a 1. Tem de tudo. Quantos argentinos e colombianos! E olha os chilenos ali: viva Allende! Para recarregar, tradição mineira: feijão tropeiro na porta do estádio. Tem europeu comendo com a mão, mas quem se importa? O juiz apita de novo e, mais uma vez, a bola rola. Agora é o Brasil contra o México. Bom... Acho que não preciso me estender. Que jogo ruim! O barbante não balançou. O grito de gol não saiu. Os belgas que ainda estão nas ruas de Belo Horizonte, mesmo após três horas do fim do jogo deles, olham desconfiados para nossa Seleção. Assim como nós brasileiros. Ai ai ai. Não será nada fácil terminar o dia 13 de julho campeões do mundo pela sexta vez. Do ônibus rumo ao aeroporto, com pouco mais de uma hora de voo pela frente de volta a São Paulo, me despeço desses devaneios. Pelo menos por enquanto. Que Copa!

ALEXANDRE MACIEIRA/RIOTUR 31

RÔMULO SEITENFUS


C O PA 2 0 1 4

brasilobserver.co.uk 13 CÉSAR OGATA/SECOM PMSP

MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL

Londres verde e amarela 12 de junho, abertura da Copa do Mundo no Brasil e festa verdeamarela no coração de Londres

Com a temperatura em Londres marcando quase como a do Rio, a febre do futebol veio para o centro de Londres no dia da abertura da Copa do Mundo 2014. Aproximadamente 25.000 pessoas se juntaram à festa e deixaram a Trafalgar Square com as cores, sons, sabores e alegria do Brasil. Um dia inteiro com atrações que incluíram um DJ set por Gilles Peterson – apresentador da BBC Radio 6, DJ D. Vyzor, London School of Capoeira Herança, Maracatudo Mafua, Clube do Choro Reino Unido, Monica Vasconcelos, Paraíso School of Samba, Forró, um campo de futebol inflável e culinária brasileira. “Este mês é um momento emocionante para nós e algo que temos preparado desde que o Brasil foi anunciado como o país anfitrião da Copa 2014. Hoje queríamos trazer um pouco do Brasil para o Reino Unido, e mostrar a nossa paixão pelo futebol e cultura brasileira para os fãs que não puderam estar estar no Brasil para o torneio”, disse o embaixador do Brasil no Reino Unido, Roberto Jaguaribe. Além da programação cultural e de celebração da Copa no Brasil, o Brazil Day contou com vídeos promocionais de turismo no Brasil e promoveu ação de Relações Públicas com jornalistas para cobertura do evento, que foi uma realização do Ministério do Esporte, Ministério da Cultura e da Embaixada do Brasil em Londres, com apoio prefeitura de Londres e da Embratur.


14 brasilobserver.co.uk

CONECTANDO

MULHERES INVISÍVEIS Ao projeto CONECTANTO, estudantes de Enfermagem da Universidade Sant’Anna relatam primeiro contato com mulheres moradoras de rua na cidade de São Paulo Por Ana Nascimento, Deize Almeida, Flavia Cruz, Monique Burgo, Sandra Almeida e Terezinha Pires – de São Paulo, Brasil*

A Praça da Sé, no centro de São Paulo, foi fundada na época colonial e, na década de 1970, passou por uma reforma que substituiu a igreja pela catedral metropolitana que temos hoje. Em seu entorno, podemos ainda visualizar obras paisagísticas que tiveram que ser pensadas e desenvolvidas no momento da construção da estação de metrô – que, aliás, é uma das mais movimentadas da cidade. O largo da Sé, como era chamado antigamente, é um símbolo histórico de São Paulo, maior metrópole do Brasil, e na praça ainda se encontra o marco zero da cidade. Nos dias que correm, porém, a Praça da Sé não desfruta do mesmo “valor social” daquele do século passado – e é mal vista por muitos devido ao crescente número de moradores em situação de rua que se encontram na mesma. Os moradores em situação de rua fazem da Praça da Sé, do espaço público, o seu abrigo: local onde vivem praticamente 24 horas do dia. Nesse espaço público, encontramos as suas histórias de vida, repletas de conflitos sociais que se agravam a cada momento vivido na rua. Inúmeras são as histórias contadas por eles. São, no entanto, semelhantes: violência física, se-

xual, fome, solidão, necessidade das drogas, dor e sofrimento. Enquanto estudantes do sétimo semestre do curso de Enfermagem da Universidade Sant’Anna, deparamo-nos com aqueles olhares apáticos, rostos sujos marcados pela violência, pelo preconceito da sociedade; alguns não sabem o significado da própria existência, conformados com o anonimato. Pessoas invisíveis. Como universitárias, sentimos necessidade de vivenciar esse ambiente, de saber como vive essa população, mais especificamente mulheres como nós que, por diversos motivos, se encontram nessa condição. Partindo deste ponto escolhemos a Praça da Sé para ser o local de nossa pesquisa, focando a mulher como o centro de toda uma discussão: o modo como elas vivem na rua; como obtêm acesso aos serviços de saúde; que necessidade de saúde elas buscam; como obtém a saúde reprodutiva tanto aclamada pelo Ministério da Saúde. Com grande surpresa, fomos recebidas calorosamente. Percebemos que as mulheres nos viam como um elo para chegar à saúde; uma oportunidade na busca de solução para os seus problemas, não somente aqueles ligados à realidade da mulher, mas também de aspecto geral.

Procuramos acolher e olhar as mulheres como um todo, partindo de princípios adquiridos ao longo de nossa formação acadêmica. Assim, conseguimos uma aproximação tranquila. Quando questionadas sobre o que observam em seus corpos, se procuram identificar possíveis problemas, retornavam um olhar de desconfiança e insegurança, porém respondiam. Das entrevistadas, a grande maioria disse utilizar o SUS para consultas e quaisquer outras ocorrências, o que consideramos, sem dúvida, como ponto positivo. Pelo o que obtivemos nesse primeiro contato, algumas das mulheres tinham certa consciência no que diz respeito à saúde e higiene e, mesmo estando em situação de rua, não perderam sua feminilidade, a essência de ser mulher. No entanto, outras na mesma situação de rua se encontravam à deriva, à mercê da própria sorte, pois tomadas pelas drogas nesse espaço público de uma grande cidade brasileira encontravam-se desconectadas do mundo real, sem qualquer possibilidade de reivindicar seus direitos. Embora possuam problemas semelhantes, a saída dessa situação com certeza não será igual para todas e a magia em ser mulher poderá nunca mais voltar.

COMO PARTICIPAR? Conectando é um projeto desenvolvido pelo Brasil Observer que visa colocar em prática o conceito de comunicação ‘glocal’, ou seja, uma história local pode se tornar global, ser ouvida e lida em diferentes partes do mundo. Mande sua história para nós! Saiba como participar entrando em contato pelo conectando@brasilobserver.co.uk

MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

Praça da Sé, no centro de São Paulo, concentra moradores em situação de rua na maior cidade do país

g

As alunas estiveram no centro da cidade, sob a supervisão da doutora em Enfermagem Soraya El Hakim, como parte de um projeto de pesquisa sobre mulheres em situação de rua.


brasilobserver.co.uk 15

Brasil Observer

GUIDE PHOTO: DIVULGATION

N O D N O L IN A M E IN C N IA AMAZON The first Amazon Film Festival gets underway London and to celebrate, the Brasil Observer has an exclusive interview with Vanessa Gabriel-Robinson, one of the event’s organisers who explains the ideas behind the project and what we can expect. >> Read on pages 16 and 17

Chega a Londres a primeira edição do Amazon Film Festival e o Brasil Observer traz uma entrevista exclusiva com Vanessa Gabriel-Robinson, que explica as razões do projeto e o que podemos esperar. >> Leia nas páginas 16 e 17


16 brasilobserver.co.uk

FROM THE TROPICAL FOREST TO THE SCREENS OF LONDON By Gabriela Lobianco

The first Amazon Film Festival in London will take place between 10-12 July at Rich Mix, in the east side of the capital. Seeking to capitalise on the current interest in Brazil during the World Cup, including the fact that the Amazonian city of Manaus was host to the England team’s debut in the tournament, this festival has been perfectly timed. Produced by Instituto BR, a nongovernmental organisation whose motto is to ‘promote Brazil in the 21st century’, the event is part of the Joga Bola! - A free Brazilian Cultural Festival. Abroad and even within Brazil, little is known about the northern region of the country. Using this as a starting point, the festival reveals the rich culture of Manaus, capital of Amazonas State, and local productions of the State of Pará for foreigners and also Brazilians. The results are a feast of films, documentaries, animations and shorts, produced by local filmmakers in the region. A cultural and social showcase through environmental issues and policy in the Amazon rainforest are among the topics covered. On the 12 July, the festival closes with a free screening of the animated film The Wave - Party at Pororoca (directed by Cassio Tavernard), recommended for the family from 2pm. After the movie, parents and children can enjoy a program of fun activities - including face painting with Amazonian animals and a creative workshop. An integral part of the festival is the affiliated free photographic exhibition Visions of the Amazon in the Lower Café Gallery, at Rich Mix, which is open from 14 to 31 July. To better understand the purpose of this first edition of the Amazon Film Festival, Brasil Observer exclusively interviewed one of the organizers, Vanessa Gabriel-Robinson. How was the project born? In London, I saw several events that evoked the Amazon, always in a very exotic way. We must show the area from another perspective. We have a very interesting and rich culture, the result of a blending of Indians, Portuguese, African, Lebanese, Japanese and many other cultures. There is rich audiovisual production in the region, even with little financing. And this is audiovisual production that helps keep alive the memory of the Amazon. So why not? Did you receive any kind of sponsorship? No. We tried, but were unable to gain

government support. This is a shame, because I see a few projects done by Brazilians in the North. Renata Peppl, my business partner, and I understand that the project needs to happen. Now, we have an Indiegogo [crowdfunding] campaign to help us to pay some major expenses of the festival, such as the license for movies, subtitles for two films, the production team and the materials for the exhibition we will show at Rich Mix.

Corumbiara, directed by Vicent Carelli, documents the heart-warming contact between the researchers and a family of Canoé Indians, and contains unique footage of one of the last survivors of an unknown tribe (When: Friday, 11 July, from 6pm)

Why is it important to bring films from the Amazon to London? I believe that gives opportunity to the directors of the region tell their story and provides a voice to local filmmakers. The festival is a showcase and an opportunity for the talents of audiovisual production in the region, to have success and tell a good story. Above all, I think these people need opportunity. There are very interesting and unique narratives that form a quilt patchwork of diversity. What was the selection process for the programme? The idea for the festival came from the very premise that beautiful stories about the region that should be counted. I knew that there were some films I wanted to put in and some filmmakers with whom I wanted to work with. Furthermore, it was very important that people like Dani Franco and Alfonso Galindo, from Belém, and Fernanda of the Festicine Amazônia, from Rondônia who are part of the region’s audiovisual sector and updated me on the production. I did not want to build the program alone. In order to show a new perspective on the region, it is necessary to have the nominations and suggestions of filmmakers, producers and critics. Documentary films dominate the festival, is there any specific reason? Is this the type of local production or a more realistic reading of the regional culture? The main factor is economic. In terms of fiction, there is a predominance of short films directed and produced very well throughout the region. One must understand that only in the last four or five years has it been made easier to make a film in this region. Until recently, many filmmakers in the region were languishing to get a good camera, a good sound system, and production for which they did not have to pay exorbitant prices. Making a short film is less costly than a full feature. The crew and cast meet, shoot for a week, often work for free and with local support, then hopes to be selected to

showcase the work throughout Brazil. Fictional feature films requires a big investment and cities that are outside the Rio-São Paulo circuit, which do not rely on local public encouragement, still some suffer to put their ideas on the big screen. With these considerations, the documentary format is much more affordable. In the event of the festival, it was easier to find documentaries subtitled in English. We could not commit the resources and time to subtitle films. Are all the films are produced by people from the Amazon? The main objective of the festival is to show the place through local narratives. But in addition to this, there is a production that is not local, which focuses on the social problems of the region and is presented in a very interesting way. So, our decision was to have a very intense focus on cultural issues in the north and choose the state of Pará that is, above all, very symbolic for all cultural production that State is not only for the region but for the country. You can see this diversity watching movies Brega S/A, by Vladimir Cunha and Gustavo Godinho, Daughters of Chiquita, by Priscila do Brasil, and Driven by Faith

and Juliana fights the jambo-tree of the Devil for John Baptist’s Heart, by Fernando Segtowick and Roger Ellarrat, respectively. All address the culture of the state of Pará region from different angles, with a very critical and innovative look. On the second day, the festival turns to productions that focus on social and political issue in the region, something that cannot be ignored. Corumbiara and Toxic are strong, compelling films. We also have a film by Gavin Andrews, a Canadian who has lived for more than ten years in Amapá, and shows the difficulties that coastal communities have in communicating with the town and as a radio program, which has existed for 50 years, tries to reduce this distance. Do you think the Brits receptive to this culture? British people are very curious and this is always very good for those who are doing something for the first time. The Rich Mix loved the idea from the first moment a year ago when we started talking, and it was a very strong indication that we were on the right track. The most important thing is to show our diversity to new audiences.


brasilobserver.co.uk 17

DA FLORESTA TROPICAL PARA AS TELONAS DE LONDRES Vocês têm algum tipo de patrocínio?

DIVULGATION

1ST AMAZON FILM FEST 10th, 11th, 12th July at Rich Mix Prices for adults screenings: £5, conc. £3, day pass £8 Children screening, Amazonian Party and Exhibition: FREE Info: www.richmix.org.uk

Não. Tentamos, mas não conseguimos apoio governamental. O que é uma pena, pois vejo poucos projetos feitos por brasileiros sobre a região Norte. Eu e a Renata Peppl, minha sócia, entendemos que o projeto precisa acontecer. Agora, estamos com uma campanha no Indiegogo para pagarmos algumas despesas importantes do festival, como a licença para os filmes, legendas para dois filmes, equipe de produção e o material da exposição que iremos fazer no Rich Mix. Qual a importância de trazer o cinema da Amazônia para cá? Primeiro, acredito que dá oportunidade ao realizador da região contar sua própria história e dar voz aos realizadores locais. Vejo o festival como uma vitrine e uma oportunidade de mostrar o talento da produção audiovisual da região, a capacidade de fazer bem feito e de contar uma boa história. Acima de tudo, acho que essas pessoas precisam de oportunidade. São narrativas muito interessantes e únicas que formam uma colcha de retalhos diversa e interessante. Como foi o processo seletivo para montar a grade de exibição?

Por Gabriela Lobianco

Aproveitando a evidência do Brasil com a Copa do Mundo, além do fato de a cidade de Manaus ter recebido a estreia da Inglaterra no Mundial, chega a Londres o primeiro Amazon Film Festival, que acontecerá de 10 a 12 de julho no Rich Mix, no lado leste da capital. O festival é produzido pelo Instituto BR, uma organização não governamental cujo lema é promover o Brasil do século 21, e faz parte do Joga Bola! – A free Brazilian Cultural Festival. No exterior e até mesmo dentro do Brasil, pouco se sabe sobre a região norte do país; com esse mote, o festival descortina para os estrangeiros e também para os brasileiros a rica cultura de Manaus, capital do Estado do Amazonas, além de produções locais do Estado do Pará. Ou seja, um banquete de filmes, documentários, animações e curtas-metragens produzidos na região por cineastas locais. Dentre os temas que serão exibidos, uma vitrine cultural e social, passando por questões de meio ambiente e política na floresta amazônica. No dia 12, o festival encerra suas atividades com a exibição gratuita do filme de animação The Wave – Party at Pororoca (dirigido por Cássio Tavernard), recomen-

dado para um dia em família, a partir das 14h. Após o filme, pais e crianças poderão desfrutar de um programa de atividades divertidas - incluindo pintura de rosto com a imagem de animais da Amazônia e workshop de reciclagem. Parte integrante do festival, a exposição fotográfica Visions of the Amazon tem entrada gratuita no Lower Café Gallery, também no Rich Mix, e fica aberta entre os dias 14 e 31 de julho. Para entender melhor a proposta dessa primeira edição do Amazon Film Festival, o Brasil Observer entrevistou com exclusividade uma das responsáveis pelo evento, Vanessa Gabriel-Robinson. Confira: Como surgiu o projeto? Em Londres, vi vários eventos que evocavam a Amazônia sempre de maneira muito exótica. É preciso mostrar a região de outra perspectiva. Temos uma cultura muito interessante e rica, fruto de uma miscigenação de índios, portugueses, africanos, libaneses, japoneses e tantas outras culturas. Há uma produção audiovisual rica na região, mesmo com pouco incentivo. E é essa produção audiovisual que ajuda a manter viva a memória da Amazônia. Então, por que não apresentar a nossa versão sobre a região Norte?

A ideia de fazer o festival veio muito da premissa de que havia histórias lindas sobre a região que deveriam ser contadas. Eu já sabia que existiam alguns filmes que eu queria colocar, de alguns realizadores com os quais eu queria trabalhar. Além disso, foi muito importante a curadoria de pessoas que fazem parte do setor audiovisual da região e me atualizaram sobre a produção, como a Dani Franco e o Afonso Galindo, de Belém, e a Fernanda do Festicine Amazônia, de Rondônia. Não queria construir a programação sozinha. Se eu quero mostrar uma perspectiva nova sobre a região, é preciso contar com a indicação e sugestão de realizadores, produtores de festivais, críticos... E daí fazer um balanço que inclui tema abordado, qualidade da produção e diversidade. Filmes do gênero documentário predominam no festival; tem algum motivo específico? Trata-se do tipo de produção local ou uma leitura mais realista da cultura regional? O principal fator é o econômico. Em termos de ficção, há uma predominância de curtas-metragens muito bem dirigidos e produzidos em toda a região. É preciso entender que somente há quatro ou cinco anos realizar um filme ficou mais fácil. Até pouco tempo atrás, muitos realizadores da região penavam para conseguir uma boa câmera, um bom equipamento de som, uma ilha de produção que não se pagasse diárias exorbitantes. Eu sou ainda do tempo que a gente importava a câmera da Funarte do Rio para Belém para fazermos um curta! Isso no

início dos anos 2000. Fazer um curta de ficção é menos oneroso que fazer longa de ficção. A gente se reúne, filma por uma semana, muitas vezes trabalha de graça e conta com apoio local, e espera ser selecionado para mostrar o trabalho Brasil afora. Longa ficcional exige um grande investimento e cidades que estão fora do eixo Rio-São Paulo, que não contam com o incentivo público local, ainda sofrem pra colocar suas ideias na tela grande. Nesse caso, o formato documental é muito mais acessível. No caso do festival, foi mais fácil encontrar documentários da região legendados em inglês. Não poderíamos nos comprometer a legendar o filme e não conseguir finalizar a tempo para o festival. Gostaria muito de dar a legenda para o realizador, mas não foi possível. Todos os filmes são de produção local da Amazônia? O principal objetivo do festival é mostrar o olhar local e as narrativas locais. Mas, além disso, há uma produção que não é local, que foca os problemas sociais da região de uma maneira muito interessante e atual. Então, nossa decisão foi focar na questão cultural muito intensa no Norte do país e escolher o estado do Pará que é, acima de tudo, muito simbólico por tudo que produção cultural desse Estado representa não apenas para a região, mas para o país. Você pode ver essa diversidade assistindo aos filmes Brega S/A, de Vladimir Cunha e Gustavo Godinho, Filhas da Chiquita, da Priscila Brasil, e Movido pela Fé e Juliana contra o Jambeiro do Diabo, do Fernando Segtowick e do Roger Ellarrat, respectivamente. Todos abordam a cultura da região do Estado do Pará de diferentes ângulos, com um olhar muito bem apurado, crítico e inovador. No segundo dia, o festival se volta para produções que focam na questão social e política da região, algo que não pode ser ignorado. Corumbiara e Toxic são filmes fortes, contundentes. Já o filme do Gavin Andrews, um canadense que mora há mais de dez anos no Amapá, mostra as dificuldades que as comunidades ribeirinhas têm em de se comunicar com a cidade e como um programa de rádio, que existe há 50 anos, tenta diminuir essa distância. Os ingleses são receptivos a essa cultura tão singular? Acho os ingleses curiosos por tudo e a curiosidade é sempre muito boa para quem está fazendo algo pela primeira vez. O Rich Mix, por exemplo, adorou a ideia desde o primeiro momento, um ano atrás, quando começamos a conversar, e isso foi uma indicação muito forte de que a gente estava no caminho certo. Meu marido é um produtor musical inglês e quando foi a Belém e a Macapá pela primeira vez me disse: por que a gente não conhece esse lado da região de vocês? O mais importante é a nossa tentativa de mostrar a nossa diversidade.


18 brasilobserver.co.uk

NINETEEN EIGHT-FOUR

LISTENING TO THE NEW BRAZIL By Ricardo Somera

Ah, the globalised world... Thanks to the internet, I can be at home in São Paulo and following what’s going on in London’s underground scene. Although I have to say, it’s not the same as being in the city, it’s great to be part of this growing dialogue between Brazil and the UK which is largely played out in music with ‘gringos’ discovering more of our sounds. The Brazilian independent music scene is increasingly gaining ground inside and outside the country due to its great diversity, for not being so centred on the Rio-São Paulo circuit and also because of the facilities that is discovering new sounds in a post-Napster era. Talking to my editors to decide the subject of this column, I learned that Mais Um Discos (www.maisumdiscos.com), an independent label headed by Lewis Robinson, is about to release a new album: Rolê: New Sounds of Brazil. The launch will take place on 9 July at Rich Mix, with a performance of the Brazilian singer Tulipa Ruiz, as part of the festival Joga Bola! festival, which, indeed, has a sensational line up (you can read more on the next page). But first let’s talk about the new album from Mais Um Discos. First, I must say that the album matched my expectations as Robinson has shown for some time now that he is very well connected in Brazil’s music scene. This was evident in the previous two releases: Oi! A Nova Música Brasileira and Daora: Underground Sounds of Urban Brazil. In this latest compilation features 43 tracks from 22 different artists and bands, the groups who best represent the new scene, in my opinion, Bixiga 70 (who create Brazilian instrumental music connected with the Afro-beat and Afro-samba rhythms) and Do Amor (a great band from Rio de Janeiro with strong influences from the Northern State of Pará). Another two of my favourites are Cícero and Metá Metá. Each from Rio and São Paulo who

have won my ears for a long time. Cícero, with his first album (Canções de Apartamento), proved to be a rare one-man-band, and with the second one (Sábado) became an icon of the soft Popular Brazilian Music. Metá Metá represents the cultural mixed and ritualistic Brazil, the band formed by major talents of the new generation: Kiko Dinucci, Juçara Marçal and Thiago França.

OUVINDO O NOVO BRASIL Por Ricardo Somera

DIVULGATION

SURPRISES AND ODDITIES There are also some great surprises on the album. Wado, with his samba songs, is one of my great discoveries this year. I got addicted with his songs “Cordão de Isolamento” and “Fortalece Aí”. Psilosamples is an artist I first discovered with some friends from Curitiba, at a party in a waterfall in the south of Minas Gerais State. It’s a kind of electronic music with influences from the countryside. Not great for dancing but enjoyable and good for travelling. The down points of the records came from Arnaldo Antunes and Rodrigo Amarante. Including Antunes was a lazy choice on an album that’s supposed to showcase emerging talent because he has been well recognised among the greatest Brazilian artists for a long time now. As for Amarante, after being part of one of the most influential Brazilian bands in decades, Los Hermanos (of which I am a fan), he joined Fabrizio Moretti (from The Strokes) to form the cute Little Joy act and now resurfaces with his worst job ever: Cavalo. He did not deserve to be among so many new talents. IN LONDON In addition to Tulipa Ruiz, Mais Um Discos also bring the band Graveola to London, who perform at at Rich Mix on 4 July. I do not know a lot about their music, but it sounded very interesting, perhaps more tuned to watching the sunsets in Rio de Janeiro but it should work in east London just as good.

Mais Um Discos release their new album

Ah, o mundo globalizado... Nem preciso estar em Londres para saber o que está rolando na cena underground daí! Se bem que, convenhamos, não seria nada mal passar mais um tempinho por essas bandas... Devaneios à parte, vamos ao que interessa! Música! Ou melhor: música brasileira que os gringos estão descobrindo! Conversando com meus editores para decidir a pauta deste texto, fiquei sabendo que a Mais Um Discos, selo independente liderado por Lewis Robinson, está prestes a lançar mais um álbum: Rolê: New Sounds Of Brazil. O lançamento acontece dia 9 de julho no Rich Mix, com apresentação da cantora Tulipa Ruiz, dentro do festival Joga Bola! – que, aliás, está sensacional (leia mais na página ao lado). Bom, mas falemos então do novo álbum da Mais Um Discos. Primeiro, devo dizer que não me surpreendo, pois o Lewis tem mostrado há algum tempo que está bem conectado com a cena musical brasileira. Isso ficou claro nos dois lançamentos anteriores: Oi! A Nova Música Brasileira e Daora: Underground Sounds Of Urban Brazil. A cena brasileira de música independente cada dia mais ganha espaço dentro e fora do país devido a sua grande diversidade, por não estar tão centralizada no eixo Rio-São Paulo e também por causa da facilidade que é descobrir novos sons num mundo pós-Napster. Dessa seleção mais recente de Lewis (que traz nada mais nada menos do que 43 faixas de 22 artistas e bandas diferentes), quem representa melhor a nova cena, em minha opinião, são os grupos Bixiga 70 – com o resgate da música instrumental brasileira que flerta com o Afro-beat e o Afro-samba – e Do Amor – uma banda do Rio de Janeiro com ótimas e fortes influências do Estado do Pará. Dois selecionados estão entre meus favoritos da atualidade: Cícero e Metá Metá. É uma dobradinha RJ-SP que ganhou meus

ouvidos há tempos. Cícero, com seu primeiro álbum (Canções de Apartamento), provou ser um raro one-man-band e, com o segundo (Sábado), virou ícone da MPB fofa. Já o Metá Metá é a cara do Brasil mestiço, dançante e ritualístico; uma banda formada por grandes talentos da nova geração paulista: Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França. SURPRESAS E ESTRANHEZAS As duas grandes surpresas são Wado e Psilosamples. Wado, com seu samba MPB “catarinese-alagoano”, é uma das minhas grandes descobertas deste ano. Viciei nas músicas “Cordão de Isolamento” e “Fortalece Aí”. Já o Psilosamples é um artista que conheci por uns amigos de Curitiba, que conheceram o som em uma festa numa cachoeira no sul de Minas Gerais. Música eletrônica com influências do interior. Não é muito pra dançar, mas para curtir e viajar. A estranheza veio por conta de Arnaldo Antunes e Rodrigo Amarante. Antunes pelo quesito novidade, já que é um veteraníssimo de guerra e há algumas décadas é reconhecido entre os grandes artistas brasileiros. E o Amarante? Bom, depois de se consagrar na maior banda brasileira das últimas décadas, o Los Hermanos (que sou fã de carteirinha), juntou-se ao Fabrizio Moretti (The Strokes) no bonitinho Little Joy e agora ressurge com o seu pior trabalho EVER: Cavalo. Sinceramente, não merecia estar entre tantos novos talentos. EM LONDRES Além de Tulipa Ruiz, a Mais Um Discos traz para Londres a banda Graveola, que se apresenta no dia 4 de julho, também no Rich Mix. Conheço pouco o som deles, mas me pareceu bem interessante: música para escutar vendo o por do sol no arpoador, Rio de Janeiro. Para mais informações sobre o álbum Rolê: New Sounds Of Brazil, acesse o site www.maisumdiscos.com.


brasilobserver.co.uk 19

GOING OUT PHOTOS: DIVULGATION

LONDON’S BRAZILIAN LOVE AFFAIR Until 13 July Where Rich Mix | Tickets Free >> www.richmix.org.uk

In line with Rich Mix’s aim to deliver an artistic programme that reflects the diverse communities living in East London, Joga Bola! Festival presents the cream of the local Brazilian scene. Celebrating their 20th anniversary Da Lata brings their mix of Afro-Brazilian music and soul-jazz and former Smoke City songstress Nina Miranda debuts her new live band project. More traditional North Eastern music is represented by Pe-De-Jurema (photo) and the long running Maracatu Estrela Do Norte. There’s also a chance to a wit-

ness authentic choro from Rio with Clube do Choro UK who perform in a ‘roda’ - the musicians sat in a circle jamming. DJs representing the labels spearheading the new sounds of Brazil, including Mr Bongo, Far Out Recordings, Mais Um Discos and the influential Soul Jazz Records plus two of the keys DJs who pioneered Brazilian music in London since the 1980s – John Armstrong and Patrick Forge, as well as the new wave of London tropicalistas such as cut-master D.VyZor, Movimientos’ Cal Jader and B-Mundo Discos’ Pedro D-Lita.

Where Barbican Hall | Tickets £15 - £22 plus

Where Sadler’s Wells | Tickets £55

Where Art at Lloyds Club | Tickets Free

booking fee >> www.barbican.org.uk

>> www.sadlerswells.com

>> www.lloydsclub.co.uk

MARIA GADÚ AT BARBICAN HALL

B R AS I L B R AS I L E I R O AT SA D L E R ’ S W E L L S L A T I N A M E R I C A N C O N S C I O U S N E S S

28 June

8 – 27 July

Until 10 September

Following on the footsteps of greats such as Caetano Veloso, at only 27 Maria Gadu is widely recognised as the brightest new star to emerge in Música Popular Brasileira over the last decade. Nominated twice for a Latin Grammy Award – for ‘Best Artist’ and ‘Best Songwriter’ – her self-titled debut album was certified platinum in Brazil and gold in Italy. Her eclectic sound incorporates the rootsy acoustic sound of her São Paulo hometown with a brave new blend of samba, Afro-beat, and funk.

The exuberance and energy of Brazil returns to Sadler’s Wells this summer as 38 performers from Rio de Janeiro bring alive the spirit that makes Brazil so unique in the smash hit Brasil Brasileiro. Famed for its sizzling, feelgood dance heritage, this is a country where the musical culture of Africa and Europe merge with dance to create the infectious rhythms of samba. Brasil Brasileiro features an incredible live band, and shows samba in all its forms: from the lightning footwork of the forro to the agility of capoeira and the groovy moves of batucada

Conscientia: Latin American Consciousness, a group exhibition of colonial and contemporary painting and sculpture, curated by Art at Lloyds’ Programme Manager Lavinia Freitas and Braziliality Founder Alicia Bastos. Conscientia offers a journey through Latin American consciousness and the historical, political and cultural developments that have shaped it. The exhibition includes a selection of colonial art and works by Beatriz Milhazes, Carlos Cruz-Diez, Cipriano Martinez, among others.

“Desde 1992 servindo a Comunidade Brasileira”

Mudança segura e personalizada! Horário de Atendimento: Segunda a Sexta das 08:00h às 19:00h Sábados das 09:00h às 12:00h Escritórios em Portugal e Espanha: E-mail: info@packandgo.co.uk

+44 (0)1895 420303 EE1 0660 PackAndGo_50x254mm_w_Portuguese_Local.indd 1

Mudança Doméstica e Internacional

Importação e Exportação de Frete Comercial

Serviço Aéreo, Marítimo e Rodoviário

Armazenagem e Empacotamento

Serviço Especializado para Antiguidades

Serviço Porta a Porta para qualquer lugar do Brasil

20 anos

Aniversário em 2012 – Vamos celebrar! Garantia do melhor preço. Entre em contato conosco para mais detalhes.

www.packandgo.co.uk 31/08/2012 23:05


20 brasilobserver.co.uk

TRAVEL

CADU GOMES / FOTOS PUBLICAS

WORLD CUP POSTCARDS FROM BRAZIL

AGNALDO OLIVEIRA JÚNIOR / PORTAL DA COPA

Whether you’re a Brazilian living in the UK or just a lover of football and fun, no doubt you’re wishing you were at the World Cup in Brazil.

Brasília - DF IVO GONCALVES / PMPA DIEGO GALBA / PREFEITURA DE OLINDA

Porto Alegre - RS

Manaus - AM

ALEXANDRE MACIEIRA / RIOTUR

Olinda - PE ALEXANDRE MACIEIRA / RIOTUR

Rio de Janeiro - RJ

Just one week in and there have been so many memorable games and just as everyone had hoped, Brazil has been the stage for hundreds of great moments off the pitch. From England’s Daniel Sturridge dancing capoeira in Rocinha to the crowds of different nationalities coming together in Brazil’s cities, to the vibrant sights and sounds as whole streets have been covered in green and yellow flags. Here’s some snapshots of our favourite moments so far...

Rio de Janeiro - RJ g

Do you have a great World Cup photo to share? We’d love to see them! Send it to us via Facebook or Twitter (@brasilobserver) for a chance for it to appear on our site or in the newspaper.


brasilobserver.co.uk 21

CARTÃO POSTAL DA COPA DO MUNDO DO BRASIL

CARLOS SEVERO / FOTOS PÚBLICAS

RICARDO STUCKERT / CBF

Se você é um brasileiro radicado no Reino Unido ou apenas um amante do futebol, sem dúvida deve pensar que desejaria estar na Copa do Mundo no Brasil. Apenas uma semana e já houve tantos jogos memoráveis e assim como todos esperavam, o Brasil tem sido palco de centenas de grandes momentos dentro e fora de campo. Direto da Inglaterra, Daniel Sturridge dançando capoeira na Rocinha para as multidões de diferentes nacionalidades que se reúnem nas cidades do Brasil, ou atrações e sons vibrantes como ruas inteiras que foram cobertas de bandeiras verdes e amarelas. Aqui estão algumas fotos de nossos momentos favoritos até agora... g

Sāo Paulo - SP

RICARDO STUCKERT / CBF

Sāo Paulo - SP DIVULGATION

Fortaleza - CE

GIL LEONARDI/ IMPRENSA MG

Curitiba - PR

DIVULGATION

Belo Horizonte - MG

From England’s Daniel Sturridge dancing capoeira in Rocinha

Você tem uma foto grande Copa do Mundo para compartilhar? Gostaríamos muito de vê-los! Envie para nós via Facebook ou Twitter (@ brasilobserver) por uma chance para que ele apareça em nosso site ou no jornal.


22 brasilobserver.co.uk

DAILY TELEGRAPH

WIN A Y A HOLID ZIL RA.com/ TO B rswells sadle omp brazilc

155 High Road Willesden Green London - NW10 2SG

BUSES - 52, 98, 260, 266, 302, 460 WILLESDEN BUS GARAGE

OPENS 8 JULY

For 3 weeks only!


brasilobserver.co.uk 23

100 95 75

25 5 0

lh4u_ad_world_cup sexta-feira, 13 de junho de 2014 11:22:36


24 brasilobserver.co.uk

MUSIC TO WEAR

ALTERNATIVE WORLD CUP STYLE IN AND OUTSIDE BRAZIL

ESTILO COPA DO MUNDO DENTRO E FORA DO BRASIL

By Marielle Machado

Por Marielle Machado Marielle Machado: Green and yellow are not the best colours together, but blue and white is always cool | Verde e amarelo não são as melhores cores, mas azul e branco sempre fica legal

In six years living in the UK, I’ve never seen so much about Brazil as I’m seeing now. Almost every programme on TV is about the World Cup host, from David Beckham trying to find the meaning of life in the Amazon to documentaries about Rio’s favelas. And it’s not only media that can’t get enough of Brazil. All the clothing shops have been literally painted green and yellow. But do we need to be dressed like a giant flag to cheer for the Brazilian team? This week, we had the idea of trying to come up with World Cup themed, without being cheesy, although it has to be said that the colours on our flag don’t really make this task easy. I didn’t want to wear a football shirt (I don’t even own one), so I decided to create coordinated outfits in the colours of Brazil. Unintentionally, my two outfits ended up being similar to the seleção’s home and away kits - green and yellow and the blue and white, perhaps they too have been trying to find a way of updating their look!

Nos seis anos que moro fora, nunca ouvi falar tanto no Brasil como agora. Na TV inglesa, há desde David Beckham tentando encontrar o sentido da vida no meio da Amazônia até documentários sobre as favelas do Rio. Mas não é só na mídia que falam do Brasil. As lojas de roupas também se jogaram no verde e amarelo, literalmente. Mas será que a gente precisa se vestir de bandeira para torcer pela Seleção com dignidade? Foi daí que tivemos a ideia de tentar fazer combinações não bregas com a Copa como tema, mesmo que as cores da nossa bandeira não ajudem muito. Eu não queria fazer combinações com camisa de futebol, até porque não tenho nenhuma. Então fui pegando de dentro do armário tudo que eu via nas cores da bandeira. Sem querer querendo, minhas duas combinações ficaram meio que inspiradas nos uniformes da seleção – o oficial verde e amarelo e o segundo azul e branco. Por Bianca Brunow

By Bianca Brunow

Even here in Brazil, green and yellow is a rare fashion combination if you’re not on a football pitch. Our flag has very unique colours which have become completely synonymous with the country. To be honest, I never really liked those colours together, but I recently started to give it a bit more credit. I am now working at the Liverpub in Vitoria, and even though I’m not the most excited person about the World Cup, the bar will be screening for the matches. So it’s only fair to get into the mood and put on my yellow eyeliner and while I might not go as far as donning a Brazil shirt, there are other ways of showing my support through fashion. None of the World Cup inspired clothes in the shops have won my heart. So I decided to get the “green and yellow spirit” from my existing wardrobe and put together two outfits that capture the vibe of the Copa but that I would wear any other day.

Bianca Brunow: A good excuse to wear this matching outfit, and it’s always good to add a bit of sparkle too | Pretexto ideal para usar esse conjuntinho: tem que ter brilho até para torcer

Aqui no Brasil, o verde e amarelo é combinação rara – a não ser, é claro, dentro de campo. Nossa bandeira tem cores bem características, então é muito comum associar a combinação do verde, amarelo e azul à bandeira do Brasil. Sempre torci um pouco o nariz para esse jogo de cores. Mas tenho prestado mais atenção. Agora trabalho no Liverpub, em Vitória. E, por mais que eu não seja lá a pessoa mais animada da Copa, abriremos para receber alguns clientes. Então nada mais justo que entrar no clima e lançar mão do delineador amarelo, camiseta do Brasil e... ops... Não dá pra mim. Definitivamente nada que eu tenha visto para “uniformizar” as moçoilas durante essa Copa fez verão no meu coração. Então resolvi tirar do meu armário mesmo o meu “espírito verde e amarelo”, tentando não cair em clichês, e juntando peças que eu usaria de boa em qualquer outro dia.


brasilobserver.co.uk 25

NEW CANVAS OVER OLD

WORLD CUP FEVER IN THE MARVELLOUS CITY

COPA DO MUNDO FERVE NA CIDADE MARAVILHOSA By Kate Rintoul

By the time you read this a lot of you will have seen the short film This is what Sao Paulo sounds like when Brazil score, which has gone viral since the opening game against Croatia. I can tell you now that this footage captures only a fraction of the noise and jubilation that I witnessed in Rio. Fireworks had been going off pretty much all day in the run-up to the game and somehow just as each goal went in (except Marcelo’s own one, of course), lots more crackers could be heard. The reaction seemed so fast that I can only assume that some Brazilians with a penchant for pyrotechnics watch football with a rocket in their hand. I watched the first half in a bar with seats in the street in my neighbourhood and made my way up the steep hills to meet friends at the legendary Bar de Gomez in Santa Teresa for the second. There was a real party atmosphere in Santa Teresa that was also totally different to what we’d seen before, an international crowd dressed in ironic slogan t-shirts like “Fifa Terrorista” or vintage style kits were out to mingle as much as they were there to see the game. The night of excess and dancing that followed meant I watched the games at home the next day, although it’s still a pretty communal activity as I can hear the cheers and commentator’s shrieks of “Gooooooaaaaaal” from the boteco next door and flats above. Since last week the city has been flooded with different nationalities, it’s been incredible to see and amazing to watch people coming together to celebrate. Ahead of Argentina’s game in Rio, the first of the tournament played at the Maracana, it seemed like there

were more Argentines than Cariocas in the city. We met a car-load of fans who had driven for three days with five of them squashed in a hatchback to witness the likes of Messi and Aguero play at the ‘Temple of Football’. Considering this dedication, we thought we could stretch ourselves to make the 15 minute metro journey to Copacabana to watch the game at a Fifa Fan Fest - a huge open air stage on the beach. While it was amazing to be part of such a huge collective of people, the fact that it got pretty dark and Argentina played pretty badly meant it wasn’t the wholly jubilant experience I was hoping for. I am not that great with crowds and as my enthusiasm for the game diminished, I felt increasingly like I had been temporarily incarcerated with only Coca Cola, compulsive smokers and drunk people with no spatial awareness as company. I’m sure we’ll be back again for a daytime game when the sun is out and you can really enjoy that special beach vibe but this time we left during the half time break as I had some cooking to do as I am cooking as many World Cup nation foods during the tournament to raise money for the Action For Brazil’s Children Trust (coma-na-copa.tumblr.com). So far I have cooked between one and three nations per day and I’m definitely having the happiest World Cup of my life as I throw myself into the research, cooking and tasting of so many different cuisines. No matter what the final result is (I’m rooting for Brazil, of course), I know that I am going to look back on this World Cup with the fondest of memories. It’s incredible to be in this magical country, meeting amazing people each day and doing the things that I love most.

By Kate Rintoul

By the time you read this a lot of you will have seen the short film This is what Sao Paulo sounds like when Brazil score, which has gone viral since the opening game against Croatia. I can tell you now that this footage captures only a fraction of the noise and jubilation that I witnessed in Rio. Fireworks had been going off pretty much all day in the run-up to the game and somehow just as each goal went in (except Marcelo’s own one, of course), lots more crackers could be heard. The reaction seemed so fast that I can only assume that some Brazilians with a penchant for pyrotechnics watch football with a rocket in their hand. I watched the first half in a bar with seats in the street in my neighbourhood and made my way up the steep hills to meet friends at the legendary Bar de Gomez in Santa Teresa for the second. There was a real party atmosphere in Santa Teresa that was also totally different to what we’d seen before, an international crowd dressed in ironic slogan t-shirts like “Fifa Terrorista” or vintage style kits were out to mingle as much as they were there to see the game. The night of excess and dancing that followed meant I watched the games at home the next day, although it’s still a pretty communal activity as I can hear the cheers and commentator’s shrieks of “Gooooooaaaaaal” from the boteco next door and flats above. Since last week the city has been flooded with different nationalities, it’s been incredible to see and amazing to watch people coming together to celebrate. Ahead of Argentina’s game in Rio, the first of the tournament played at the Maracana, it seemed like there

were more Argentines than Cariocas in the city. We met a car-load of fans who had driven for three days with five of them squashed in a hatchback to witness the likes of Messi and Aguero play at the ‘Temple of Football’. Considering this dedication, we thought we could stretch ourselves to make the 15 minute metro journey to Copacabana to watch the game at a Fifa Fan Fest - a huge open air stage on the beach. While it was amazing to be part of such a huge collective of people, the fact that it got pretty dark and Argentina played pretty badly meant it wasn’t the wholly jubilant experience I was hoping for. I am not that great with crowds and as my enthusiasm for the game diminished, I felt increasingly like I had been temporarily incarcerated with only Coca Cola, compulsive smokers and drunk people with no spatial awareness as company. I’m sure we’ll be back again for a daytime game when the sun is out and you can really enjoy that special beach vibe but this time we left during the half time break as I had some cooking to do as I am cooking as many World Cup nation foods during the tournament to raise money for the Action For Brazil’s Children Trust (coma-na-copa.tumblr.com). So far I have cooked between one and three nations per day and I’m definitely having the happiest World Cup of my life as I throw myself into the research, cooking and tasting of so many different cuisines. No matter what the final result is (I’m rooting for Brazil, of course), I know that I am going to look back on this World Cup with the fondest of memories. It’s incredible to be in this magical country, meeting amazing people each day and doing the things that I love most.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.