_Glitch _meio do erro Breno Bitencourt Prado Orientador: Prof. Dr. Dorival Campos Rossi 1
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Câmpus de Bauru Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação
Núcleo de Pesquisas P.I.P.O.L Projetos Integrados de Pesquisas Online
Glitch, meio do erro Breno Bitencourt Prado
Orientador: Prof. Dr. Dorival Campos Rossi
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BAURU 2014
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_Mapa _nem fim nem começo Este mapa que não é somente de geografia, é um mapa de intensidade CsO, onde as barragens designam limiares, e as linhas, ondas ou fluxos. Este é o mapa aberto de um estudo que não começa nem termina, perca-se comigo no meio destas linhas abstratas.
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_Agradece _o meu ‘muito obrigado’ A todos os ruídos que sendo pessoa, evento, ensinamento e afeto rompem a linearidade do meu código e ajudam a desenrolar esse mapa sobre o qual eu respiro e me descontruo.
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Resumo
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Introdução
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Glitch
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A arte Glitch
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Errata
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Rizoma
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Erro-tempo
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No meio do meio
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Games
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Finalmente
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Bibliografia
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Links
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_Sumário 8
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Breno Bitencourt, 2013 Bit sobre caos utilizando Audacity
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_Resumo O Glitch e seu potencial criativo. “Não é fácil perceber as coisas pelo meio, e não de cima para baixo, da esquerda para a direita ou inversamente: tentem e verão que tudo muda. Não é fácil ver a erva nas coisas e nas palavras.” Construção de um mapa do Glitch Design pelo meio, o erro como momento de tradução e nos Glitchers a potência ativa de tradução do espaço liso para o espaço estriado de Gilles Deleuze que os conduz para a criação do próprio corpo sem orgãos sobre o qual algo além da chamada Glitch art pode suceder, emergir em um fluxo de intensidades outras: o software esquizofrênico, o game. Este trabalho investiga o Glitch como processo criativo alternativo, a desconstrução criadora, a fuga dos procedimentos pré-estabelecidos e sua desconstrução, como ‘meio’ desta forma de criar. A mudança de plano, da sequencialidade para o mapa de intensidades; da criação organizadora para a liberdade da desconstrução, a liberdade do criar.
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Steven H. Silberg Imagem criada em ‘Pixel-Lapse Photo Booth’, University de Maryland, 2008.
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_Introdução _onde começa o que não termina Segundo Deleuze, existem “um conjunto de questões simultâneas: as oposições simples entre os dois espaços; as diferenças complexas; as misturas de fato, e passagens de um a outro” Mil platôs 5 – Pag. 158 Além de um breve histórico da definição e do surgimento do Glitch, aqui vamos falar dessas questões e entender como o Glitch as entende na tradução dos dados de arquivos digitais (lisos e estriados), e onde está contido o momento do Glitch dentro deste âmbito. Sobre a prática do glitch, tentaremos entender o ‘porquê’ desta busca e também o ‘como’. E concluiremos com a investigação do corpo sem orgãos como intensidade ultima do Glitch. Este projeto também é o início da construção do meu corpo sem orgãos, você encontrará no site deste projeto muitas postagens com atualizações do caminho que estou percorrendo sobre este espaço riemaniano dos fluxos de dados. Ao que tudo indica, estamos caminhando para um paradigma diferente de tudo já visto, criar universos, realidades. E com o Glitch como máquina, podemos criar as mais terrivelmente lindas já imaginadas, puro campo fértil da imaginação artificial.
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Iman Moradi Glitch Lab studies 20010.
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_Glitch _tente de novo mais tarde Aqui utilizamos mais a palavra Glitch para definir o ato de corromper arquivos de dados, em alguns momentos será utilizado o termo Glitch art para haver a separação entre o movimento de uso do Glitch que acontece hoje no mundo da definição que propomos do Glitch, que também entendemos como um Glitch Design. A rigor, a palavra Glitch deriva do termo alemão “glitsh” que significa algo como “deslizar” em português, “slippery” em inglês. A título de entendimento da origem do termo e sua relação com a chamada Glitch art é interessante analisar a definição do Dictionary.com -------------------------------------------------Glitch glitch [glich] noun Defeito ou mal funcionamento de uma máquina ou plano. Computadores: Qualquer erro, mal funcionamento, or problema. “bug” . Uma breve ou repentina interrupção or sobretensão na voltagem de um circuito elétrico. Verbo (usado com objeto) Causar ‘glitch’ em: “an accident that glitched our plans.” --------------------------------------------------
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Um glitch é um breve erro num sistema (curto). É usado normalmente para descrever um erro que corrige a si mesmo, e é entretando difícil de ser solucionado. O termo é particularmente comum na industria da computação e electronica e fabricação de circuitos, também entre jogadores de video games, entretanto ele é aplicado a todos os tipos de sistemas, incluindo organizações humanas e natureza. “Dictionary.com”. Acessado em 15/10/2012 “Online Etymology Dictionary”. Acessado em 15/10/2012
_Glitchs temporários ou transitórios e glitchs permanentes ou exponenciais Os diferentes tipos de glitchs podem ser classificados em dois enormes grupos. Os glitchs temporários, como o prórpio nome já indica, são erros que presupoem na linha do tempo, um início e um fim, ou seja: o fluxo de dados se inicia normalmente, algo interrompe o correto fluxo de dados por determinado momento e logo se reestabelece o fluxo original desses dados. Já os glitchs exponenciais, são permanentes do sentido de inicarem um fluxo que se incrementa segundo determinada regra ou desvio e segue esta linha que o leva para a transformação completa do espaço estriado do arquivo em espaço liso. “é um espaço liso que é capturado, envolvido por um espaço estriado, ou é um espaço estriado que se dissolve num espaço liso, que permite que se desenvolva um espaço liso?” Mil platôs 5 – Pag. 158 Entretando o conceito de definição talvez se mostre incoerente ou contraditório por se tratar de uma prática de transformação de definição em indefinições. Os Glitchers aparentemente buscam os limites da defnição (por mais que isso pareça absurdo). Agentes transformadores de espaço estriado em espaço liso. Corruptores dos orgãos, criadores de corpos sem orgãos. Os Glitchers são de fato autenticos rebeldes das organizações de
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arquivos digitais. Mais adiante, Deleuze nos dá um vislumbre do que pode ser o “objetivo ultimo” dos Glitchers ao descrever as características do Feltro em oposição ao Tecido: “é infinito de direito, aberto ou ilimitado em todas as direções; não tem direito nem avesso, nem centro; não estabelece fixos e móveis, mas antes distribui uma variação contínua“ Seria essa a busca dos Glitchers? A transformação dos dados hierarquizados, centrados, estabelecidos segundo normas estruturais rígidas em um deserto de informação: espaço liso no mais completo sentido da palavra? Independentemente do seu intuito, podemos observar que os Glitchers atuam como tradutores do espaço estriado em espaço liso, são uma espécie de vórtice que libertam a informação de sua hierarquia e assim conectam-se a elas. Hoje os fluxos de informação tem a necessidade de serem cada vez mais evidentes, e essas linhas que eles traçam emergem e se desdobram em agenciamentos de diversas naturezas. Os infográficos são uma maneira linear, e podemos dizer que até ‘arborescente’ de se fazer design a partir de fluxos de informação, não em sua atualização que pode ocorrer de diversas maneiras, como um gráfico atualizado em tempo real por estes fluxos, mas pelo seu processo criativo onde linearmente um fluxo de dados é representado como uma linha, uma forma geométrica, um elemento que se modifica em relação a modificação de intensidade no gráfico extensivamente (e não intensiva). Existe essa necessidade de visualização de fluxos ocultos, e nessa tarefa os infográficos cumprem a função com primazia, considerando que boa parte da demanda por informação busca um número ou valor fixo para os fluxos que de maneira nenhuma são fixos. Por exemplo em um gráfico meteorológico, a título de compreensão e utilização prática, as pessoas não teriam interesse algum em saber a intensidade das formações de nuvem, como se articulam as correntes de ar que se relacionam em determinado posicionamento global, ou mesmo sua relação com o território sobre o qual estas pairam. As pessoas querem saber se vai haver chuva, e para isso basta um ícone estático que representa uma nuvem carregada. Este tipo de representação não é o que buscamos, e tampouco é este o nosso objetivo na observação dos fenômenos naturais. Não sabemos bem onde começa uma chuva, e onde
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começa um dia de sol, mas temos uma necessidade de colocar estes ‘eventos’ que são próprios de um espaço liso, numa condição de espaço estriado. Falando de uma maneira simples, impor os limites de onde termina o sol, e onde começa a chuva. Neste processo, o Glitch é um fluxo estranho, um desencadeiamento elétrico que passar sobre a linha que une estas duas entidades sol e chuva, separadas pelo Jornal Nacional. Mais que isso, o meio desse ruído não pode ser de maneira alguma outro, o Glitch habita entre eles e assim propaga sua potência, seu raio. De maneira alguma queremos dizer com isso que os infográficos são desnecessários ou uma maneira torpe de se ‘medir’ e fazer máquinas de representação dos fluxos da vida. Mas queremos sim diferenciar, e evidenciar o processo de criação linear presente no exemplo do infográfico, com produções rizomáticas como presumimos vir a ser o Glitch, a chamada Glitch art. O raio é um Glitch exponencial, que transforma, traduz e converte energias de fluxos de natureza completamente diferentes.
diagrama representando o processo do Glitch 18
Como poderiamos medir fenômenos tão complexos e imprevisíveis como as condições climáticas através de ícones estáticos, que compreendem um prazo tão grande de tempo? Em um dia, muitas gotas cairam, e não fez chuva. Ou antes: qual é plano em que a humidade se faz gota, que a gota se faz nuvem e que a chuva se dá? Qual o ‘Quando’ em que isso ocorre? Será possível um valor estático e pensado de maneira isolada me trazer esse input? A potência de tradução, a intensidade da ruptura que o Glitch causa, pode ser visto entre todos esses lugares. O Glitch não é senão o elo invisível, o vão que compreende essa conexão entre o formado e o ainda não formado. No processo de criação do Glitch não existem valores estáticos e também não existe a linearidade. O Glitch opera como rizoma. Fazemos o tempo todo isso de converter os espaços lisos em espaços estriados, algumas vezes fazemos o inverso também, essa tradução está presente em nós. Podemos escolher sermos Glitchs, Glitchers. O primeiro passo, é sem dúvidas a compreensão de que as coisas não tem bordas, que os fluxos se entrecruzam e no nosso processo criativo não fazemos mais do que intervir em diversos fluxos e fazê-los correrem, povoar-se de intensidades. Essa interferencia de maneira nenhuma é previsível, nunca saberemos o que a nossa presença pode gerar nas sucessivas linhas de tradução nas quais percorremos. Por isso, assumir a posição de raio que rompe com essa falsa estriagem é algo mais que uma atitude lógica (irônico, não?). Enquanto Glitch, podemos dispor apenas de uma coisa como arma, ferramenta: nossa singularidade. E esta é o proprio mapa que criamos a cada processo, a cada linha de fuga, a cada tradução. O mapa constitui a intensidade do raio de ruptura, o Glitch. E essa de maneira alguma de define por força ou luminosidade, mas por infinitas conexões, por afetos, por série infinitas (e indefiníveis) de brotamentos. Pode resultar numa chuva, ou num lindo dia de sol. Mas serão esses fins neles mesmos? No meio da linha rígidas da segmentação chuva-sol, entre o levar capa de chuva ou protetor solar, o Glitch leva arco-iris.
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Experimento no qual utilizei um modelo 3D criado no Cinema 4D para criar um render, uma animação que você pode ver alguns frames no quadro acima. A técnica utilizada foi frestyle nos codigos usando editor HEX
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_A arte Glitch _o underground da net art É referido normalmente como arte glitch a provocação intencional ou apropriação de um glitch por um artista. Os Glitchers investigam e capturam Glitches para fazer trabalhos em vários meios (som, web, imagens, videos, performances de audio em tempo real, instalações, textos, games, softwares, etc) por muitas diferentes razões (para explorar esteticamente e conceitualmente o potencial dos Glitchs, para examinar a política inserida nos sistemas tecnológicos, para criar experiencias digitais psicodélicas ou sinestésicas, para praticar o Hacktivismo, para explorar temas de falha, chance, memória, nostalgia, entropia, etc.)
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_ferramentas para começar a criar seus prórpios Glitchs Embora isso seja uma espécie de contradição à prática proposta aqui para o chamado Glitch Design, existem diversas ferramentas que ajudam na compreensão do método de criação proposto pelo Glitch, e podem ser de grande utilidade para o início ds explorações desse mundo onde o erro é muito apreciado. Uma forma fácil e rápida de começar a causar Glitchs de verdade em arquivos digitais é utilizando um editor de HEX. Este editor permite que você consiga manipular o código que é a estrutura do arquivo de uma maneira mais simples do que manipulando os códigos binários diretamente. Existem softwares de edição do código Hex gratuitos e você pode baixar o XVI32 por exemplo. Segue um tutorial do Evan Meaney com uma demonstração de como causar um Glitch em arquivos de imagem. HEX EDIT GLITCH by Evan Meaney http://www.youtube.com/watch?v=y03SsJqjluk#t=339 Muito comum também é a utilização do Audacity como ferramenta para causar supostos Glitchs, que eu sua realidade são melhor classificados como DataBending, existem diversos tutoriais para expor essa falha no Audacity, separei um interessante para começar Databending utilizando o Audacity http://www.hellocatfood.com/databending-using-audacity/ Download do Audacity http://audacity.sourceforge.net/download/
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_databending Sabemos que a imagem também é composta de um numero delimitado de pixels de largura e de altura, e isso é uma limitação técnica crucial na tradução que alguns artistas utilizam para corromper arquivos .RAW utilizando o Photoshop como meio tradutor. Como descreve Rosa Menkman no trabalho “A vernacular of files formats – A guide to databend compression design”: “The file header of a RAW image typically contains information concerning the byte-ordering of the file, the camera sensor information and other image metadata like exposure setting, camera/scanner/lens model, date (and, optionally, place) of shoot/ scan, format, size, number of colors, and other information needed to display the image. “ “It is possible to save a RAW image file without a header (choose header=0). When the interleaved RAW image is saved without a header the computer doesnʼt know the dimensions or any other crucial information that is needed to reconstruct the image out of the image data. Rosa Menkman - “A vernacular of files formats – A guide to databend compression design Pag. 3 O header do arquivo .RAW atua como o quadro da urdidura a configuração deste tipo de compressão de arquivo impõe a sua necessidade que delimita (como é próprio de um espaço estriado) as dimensões do arquivo, dentre outras configurações pré-determinadas. Aos artistas resta romper com esta delimitação do espaço estriado da compressão .RAW e o reconfigurando este espaço conseguem um novo desdobramento para o output desta mensagem imagética, isso é chamado de “Databending”, uma espécie de desterritorilização do fios da urdidura da imagem digital sobre um novo plano antes alterado pelo Glitcher. Uma boa definição Deleuzeana do Databending poderia ser: “virar um arquivo do avesso.”
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_databendeando com o breno Primeiro você pega um arquivo de imagem qualquer, vou usar como exemplo uma foto tirada numa festa há umas semanas atrás
Está imagem está no formato de compressão .jpg, é um formato bastante usual, mas não é neste estado que vamos trabalhar com essa imagem. Vou utilizar nessa experiencia um software bastante antigo que contem algumas falhas de interpretação que são fundamentais para que possamos mexer com os dados em outro espaço O software é o Audacity, normalmente utilizado para tratar arquivos de audio. A mutreta aqui, é que utilizaremos um arquivo de imagem ‘disfarçado’ de arquivo de audio. E isso é possível salvando o arquivo .jpg em formato .raw. A diferença básica entre os dois, além do método de compressão, é que o arquivo .raw em seu código não tem um ‘header’, um trecho inicial do código que o categoriza, define alguns parametros importante para sua leitura.
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Sem o header, o Audacity não consegue saber se o arquivo importado trata-se de uma imagem ou audio, e isso permite que trabalhamos com a imagem em formato de som. Ao importar o arquivo no Audacity, usamos uma ferramenta de importação de dados brutos, o chamado .raw. Ele entende o arquivo a ser importado como dados unicamente, o que faz com que o campo de código da imagem ganhe uma perpectiva completamente diferente, em que o arquivo projetado para uma determinada sequencia de leitura seja pego de surpresa e revirado do avesso em formato sonoro.
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Alguns parâmetros precisam ser ajustados para que você não tenha problemas de compatibilidade. Esses ajustes ajudam a maquiar o arquivo intruso no programa, e ele passa a entendê-lo como uma espécie específica de som. Agora é que começa a parte divertida, livre dentro do ambiente de tratamento de som, você pode explorar diversos recursos de modificação dos pixels de maneiras bastante inesperadas. Os scripts do software são projetados para tratamento de audio, ou seja, modificar padrões de ondas, e a imagem não é uma onda sintetizada, ela é feita de blocos sequenciais de pixels, essa tradução deixa tudo muito inesperado e interessante de se brincar. Num dado momento, você perceberá que esse ‘meio’ do processo, é a parte que nos interessa no Glitch.
Acima você pode ver que transformamos a imagem em uma onda sonora, como é intuitivo pensar (e fazer), você pode tentar ouvir esse som. Mas receio que a interpretação da imagem em som seja muito ruídosa (MUITO MESMO) para qualquer tipo
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de apreciação, é um turbilhão de chiados e ‘crecs’ muito intenso, de qualquer maneira tu és livre para experimentar. O espaço estriado da imagem é convertida num ruído branco, num espaço liso do ruído. Sem função, sem sentido, nem cortes. Ao contrário, ele é o próprio corte, só há cortes e meios pelos quais os intervalos se tornam melodia.
Existem diversar maneiras divertidas de brincar com o código, aviso: você salvará muitas vezes, criará milhares de versões desse código quebrado, algumas serão apenas borrões, manchas sem nenhuma semelhança com a foto original, coisas extremamente deconexas e sem sentido, e isso é demais!
Esse é o som após algumas alterações feitas a esmo. Aos poucos, você começa a compreender qual é a brisa de corromper arquivos, é uma espécie de viagem dentro desse espaço que faz você entender muito sobre a composição da imagem em bits e de como os scripts do software funcionam, como processam os dados e como a imagem capta uma série de UNIVERSOS PARALELOS, que não acessamos pelo ‘software padrão’, o software funcional. O uso da imagem pelo software de audio, e vice-versa, a função que não se dá ao trabalho, o des-orgão que fazemos com essa ferramenta, ocupando esse orgão com um fluxo outro, linhas abstratas com funções completamente esquizo.
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Quando você tentar exportar seu arquivo pela primeira vez, receberá uma nota do software, avisando que o que você fez é muito feio, e o correto e seguro seria exportar arquivos de audio, com uma estensão como .wav ou .mp3. MAS, não buscamos o correto e seguro, estamos nessa por outra onda, queremos o inesperado, por isso desobedeça e exporte em .raw mesmo assim. Agora, depois desse mergulho em terras desconhecidas sonoras, nosso querido arquivo .jpg precisa voltar para se reconhecer no seu ambiente natural. Vamos reabrir o arquivo modificado num software de imagem, pode ser o Photoshop. É importante que você sabia qual é a dimensão original do arquivo origem, pois no momento em que for abrir este arquivo raw, por não ter o header e nem nenhuma informação sobre como o arquivo ‘deve ser’, ele pedirá alguns inputs. Existem ainda maneiras de alterar isso, abrir o arquivo com dimensões diferentes e assim alterar ainda mais sua disposição, alguns testes que eu fiz tiveram resultados interessantes diminuindo um ou dois pixels da lateral na hora de abrir, rola um efeito em cascata de má interpretação dos dados que deixa tudo bem legal. Você pode também brincar alternando a quantidade de canais e bits. Geralmente a imagem comum tem 3 canais o Vermelho, Verde e Azuk, RGB. Se você abre uma imagem de 3 canais como uma de um só, ou seja, P&B, ou 2, ou sei lá quantos, você pode ter resultados legais também, tente, tente e tente de novo.
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É claro que em muitos momentos o software de dirá “Você não pode fazer isso”, “Deseja realmente fazer isso?”, “Seu arquivo não parece correto”, “Parece que seu arquivo está corrompido, deseja abrí-lo mesmo assim?” e todo tipo de questionamento que te desestimule a prosseguir no seu experimento. Isso é natural, ele não foi projetado para pensar fora do fluxo normal de dados, ele foi feito para cumprir determinadas ordens que estamos quebrando, por isso não dê ouvidos, prossiga sempre. Na página seguir você pode ver alguns resultados rápidos.
O Audacity dispoe de uma infinidade de scripts projetados para manipular o audio de várias maneiras, isso nos dá possibilidades absurdamente vastas de experimentação com a imagem, aqui vou abordar apenas um desses vários script, que é o meu preferido pela total falta de controle em sua manipulação, e pela grande opção de modificadores, o que torna tudo bastante abstrato e ao mesmo tempo expoe algumas caracteristicas não-objetivas da imagem que talvez emerja do seu devir som.
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Essa é a interface do GVERB, meu script preferido. Agora é só brincar, combinar os modificadores e alucinar exportando milhares de vezes, testando, explorando, somando resultados em faizas separadas, montando efeitos que possam ser somados futuramente, terra sem lei, destrua toda essa imagenzinha cara. Apesar da linearidade dos modificadores do GVERB, eles foram projetados para parametros de som, então na imagem surtem efeitos completamente a-lineares, e que combinados ficam ainda mais imprevisíveis. Percebi com todos meus experimentos, que o importante no GVERB é a relação ente a posição de cada slider e não seu número absoluto. Como da pra perceber, ele é projetado para criar uma reverberação no som, meu exercício nesses mergulhos sempre foi o de imaginar uma superfície líquida na qual a imagem está projetada, e nessa janelinha do reverbe criar o impacto que transformará a imagem, como escolher uma pedra de um tamanho e formato específico para criar a onda exata que você quer ver passar pelo seu reflexo na água. A seguir mais experimentos feitos a partir desta mesma imagem usada como arquivo origem neste breve tutorial.
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Breno Bitencourt Crocke utilizando Audacity 2013
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Errata _o erro sobre o glitch O Glitch vai além da estética do erro como acreditam alguns supostos Glitchers e é muito comum confundirem a prática de causar Glitch com a utilização de filtros em imagens ou scripts que processam imagens segundo parâmetros pré-definidos (ainda que por comandos ditos ‘randômicos’ que em verdade são predefinidos numa margem tão ampla que se tornam matematicamente considerados aleatórios) e até mesmo produções utilizando ambientes de manipulação de imagem como o Adobe Photoshop. Sobre o erro e a diferença na utilização do Glitch Rosa Menkman em seu Glitch studies manifesto diz: “Get away from the established action scripts and join the avant-garde of the unknown. Become a nomad of noise artifacts!” “Mantenha-se longe dos procedimentos e rotinas prontas e junte-se para a vanguarda do desconhecido. Tone-se um nômade dos artefatos ruidosos!” Glitch studies manifesto pag. 4
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É importante observar que o Glitch é sempre visto como um estudo, uma maneira de explorar determinado sistema, em que o Hacker, em uma espécie de devir Shiva o destrói para construir realidades novas e mais poéticas ou estéticas. Esta ‘destruição criadora conecta duas interessantes faces do design: o processo de criação e o erro.
Rosa Menkman, 2010 Aqui você pode ver uma entrevista com Rosa Menkman http://rhizome.org/editorial/2011/oct/20/artist-profile-rosa-menkmen/ Nos leva a pensar que ser um Glitcher significa mergulhar no desconhecido, desvendar as estruturas dos orgãos/arquivos/ sistemas e desordená-los, traduzir suas estruturas originais para criar o inesperado novo, traduzir o espaço estriado em liso para o surgimento de futuras novas estrias deste espaço. Isso nos coloca em oposição às práticas que utilizam-se de softwares para causar Glitch e até mesmo nos tutoriais sobre o tema, visto dessa maneira não são mais que uma grande contradição pois nos guiam por um decalque já percorrido, e não
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pelo mapa de um território sempre novo do desconhecido, da exploração pelo qual se caracteriza a chamada Glitch Art.
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Mathias Gmachl GCTTCATT CD Cover, 2001
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_Rizoma _onde os ruídos se tocam Atraído pela estética de ruptura que o Glitch exprime, comecei uma pesquisa nessa area de arte de internet e vi na chamada Glitch Art um grande numero de pessoas com a vontade legítima de alcançar no Design seu o Corpo sem Orgãos através da quebra das estruturas dos códigos para convertê-lo em Rizoma e o tranformar em uma não-estrutura em que faça circular partículas assignificantes, intensidades puras. O Glitcher neste processo encontra-se no lugar de agente transformador, exatamente situado em cima do elemento tempo, e foi muito oportuno considerar a diferenciação Deleuzeana entre o espaço liso e estriado para entender qual é a matéria prima do Glitcher, e qual a sua alquimia. Este projeto consiste na criação de um mapa de estudo amplo do Glitch, seu contexto atual e a tentativa de desvendar a sua importancia como processo criativo e como metodologia foram utilizadas todas as ‘formas’ de Glitch que artistas de todo mundo, que chamarei de Glitchers, vem utilizando. Bem verdade que o uso deste tipo de decalque soa contraditório para um projeto que almeja alcançar o mapa, “Não há diferença entre aquilo de que um livro fala e a maneira como é feito.” Podemos dizer o mesmo sobre o Glitch, entretanto este método foi uti-
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lizado em seu início como parte inicial da construção do mapa, como uma tentativa de entender o caminho percorrido pelos Glitchers até o presente momento. Foram também explorados todos os níveis de Glitch e analisados do ponto de vista técnico e conceitual. Existem já alguns teóricos a quem tem interessado essa mesma temática, estes autores foram revisados e neste projeto eu os cito e procuro compreender e considerar a ótica do Glitch pelos olhos desses autores. O Glitch é um Agenciamento, como define Deleuze “todo conjunto de singularidades e de traços extraídos do fluxo — selecionados, organizados, estratificados — de maneira a convergir (consistência) artificialmente e naturalmente: um agenciamento, nesse sentido, é uma verdadeira invenção.” Considerado como agenciamento, ele está somente em conexão com outros agenciamentos, em relação com outros corpos sem órgãos. Não se perguntará nunca o que ele quer dizer, significado ou significante, não se buscará nada compreender num Glitch, perguntar-se-á com o que ele funciona, em conexão com o que ele faz ou não passar intensidades, em que multiplicidades ele se introduz e metamorfoseia a sua, com que corpos sem órgãos ele faz convergir o seu.
FOR WHOM THE BELL TOLLS (1943) Filmes inteiros comprimidos em uma sequencia curta de bits http://moviebarcode.tumblr.com/
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Quando falamos em corromper arquivos, ou desconfigurar fluxos de imagens que geram imagens lineares, de maneira alguma estamos falando em recompor imagens, ou u ma espécie de remodelagem estética. Falamos exclusivamente de multiplicidade, linhas, estratos e segmentaridades, linhas de fuga e intensidades, agenciamentos maquínicos e seus diferentes tipos, os corpos sem órgãos e sua construção, sua seleção, o plano de consistência, as unidades de medida em cada caso. O Glitch nada tem a ver com significar, mas com agrimensar, cartografar, mesmo que sejam regiões ainda por vir. Isso significa que a prática do Glitch não tem uma sintaxe visual, ou um certo ou errado estético. O Glitch é meio, é espaço liso, é puro ruído. São os dados em sua forma mais natural. Glitchear é mergulhar dentro da realidade da imagem em sua forma mais pura e caótica, é um mapa criado para dentro de uma estrutura em descontrução contínua. Na prática do Glitch não se pinta como o faz um pintor compondo as cores que estão fora do quadro a seu bel prazer nos lugares e com as intensidades que a sua vontade faz operar. O Glitch é uma atualização inesperada e não intencional do ponto de vista da determinação. Quando se faz Glitch é preciso fazer o múltiplo, não acrescentando sempre uma dimensão superior, mas, ao contrário, da maneira simples, no nível das dimensões de que se dispõe, sempre n-1 (é somente assim que o uno faz parte do múltiplo, estando sempre subtraído dele segundo Deleuze). Subtrair o único da multiplicidade a ser constituída; assim o Glitcher se apodera de fragmentos e ordens estabelecidas segundo determinada função entre os códigos que compoem uma imagem e as joga num vórtice de indeterminismo para que opere segundo sua própria vontade de caos. Um tal sistema poderia ser chamado de rizoma? Um rizoma como haste subterrânea distingue-se absolutamente das raízes e radículas. Entretanto não é possível ainda ver Rizoma no Glitch se tomarmos como comparativo o Glitch em imagens, ou arquivos de audio. Entretanto alguns artistas procuram induzir o Glitch em códigos mais complexos, como softwares, algoritmos que se articulam sobre outros sistemas, aí sim, talvez alcançaremos esse objetivo. A maior parte dos métodos modernos para fazer proliferar séries ou para fazer crescer uma multiplicidade valem perfeitamente numa direção, por exemplo, linear, enquanto que uma unidade de totalização se afirma tanto mais numa outra dimensão, a de um círculo ou de um ciclo. Corrompendo uma
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imagem, geram-se diversar ‘versões’ ou uma série de possibilidades de erros, muitas vezes articuláveis entre sí como soma, subtração, ou transcódigo. A direção que essas séries percorrem, evidentemente é pra para fora do próprio código, ou para dentro (muitas vezes uma estranha mistura entre o dentro e o fora, uma dobra). Desta maneira, utilizando fontes de código diferentes, podemos gerar novas paisagens fora de qualquer pré-concepção imaginável, procurando alcançar o primeiro princípio da estrutura Rizomática. “Princípios de conexão e de heterogeneidade: qualquer ponto de um rizoma pode ser conectado a qualquer outro e deve sêlo. É muito diferente da árvore ou da raiz que fixam um ponto, uma ordem.” O Glitch quando busca a desconstrução do output de um fluxo de dados, código, de imagem, busca também uma suposta dsconfiguração do fluxo de pensamentos que as concebeu. O pensamento que projeta a imagem é subvertido e o procedimento arborescente transfigurado em Rizoma. As imagens-decalque dão lugar as multiplicidades de fluxos de código. As multiplicidades são rizomáticas e denunciam as pseudomultiplicidades arborescentes das imagens de composição. O Glitch ganha um papel de vilão, desordeiro, pixador, vândalo digital por este espírito curioso de desmontar para desdobrar as ordens. No Glitch está contída um grande ímpeto de levante. Que não é apenas conceitual, como a posição pode sugerir, mas subverte o seu próprio meio, seu proprio metiê. “o levante sugere a possibilidade de um movimento fora e além da espiral hegeliana do “progresso”, que secretamente não passa de um ciclo vicioso. Surgo: levante, revolta. Insurgo: rebelar-se, levantar-se. Uma ação de independência. Um adeus a essa miserável paródia da roda kármica, histórica futilidade revolucionária.” TAZ - ZONA AUTÔNOMA TEMPORÁRIA - Hakim Bey Pag. 3 A revolta Glitch, a revolta para corromper o que já não tem mais razão de ser justo vem para a grande transformação do espaço digital num espaço livre, um espaço liso. O Glitch sonha com um mundo perfeito: somente determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que mude de natureza (as leis de combinação dos códigos abertos crescem então com a multiplicidade).
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Um agenciamento é precisamente este crescimento das dimensões numa multiplicidade que muda necessariamente de natureza à medida que ela aumenta suas conexões (do código consigo mesmo, e de suas versões uma com a outra). Em outras palavras, o Glitcher só quer buscar essa natureza outra da multiplicidade que é o código em estado puro, não queremos bagunça, não queremos desordem (embora Glitch seja o estado de plena desordem) “Não existem pontos ou posições num rizoma como se encontra numa estrutura, numa árvore, numa raiz.” Existem somente linhas, linhas de fuga do próprio código para o seu reencontro com sí mesmo, e para fora de sí mesmo. Essa contradição, da imagem como rizoma é a motivação do Glitcher sincero. A imagem que não é decalque, a imagem que não representa, que é janela de um mundo mágico a-significante, janela que vai nos levar para o nenhum lugar. Todas as artes Glitch, assim como as multiplicidades são planas, uma vez que elas preenchem, ocupam todas as suas dimensões: falar-se-á então de um plano de consistência das multiplicidades, que não deve ser considerado bidimensional pois este “plano” é feito de dimensões crescentes segundo o número de conexões que se estabelecem nele, multidimensional. Talvez seja essa a grande busca dos Glitchers, o chamado plano de consistência onde poderíamos fazer esses fluxos a-significantes circularem livremente num espaço liso. O plano de consistência é o fora de todas as multiplicidades. E como fora, está ligado, conectado amplamente com a estrutura Glitcheada (e é parte fundamental de sua desconstrução). O Glitch de maneira nenhuma representa uma ruptura significante dos códigos, por isso é difícil relacionar a arte Glitch com algum tipo de criação intencional, significativa. Ela está contra os cortes demasiado significantes que separam as estruturas, ou que atravessam uma estrutura. “Um rizoma pode ser rompido, quebrado em um lugar qualquer, e também retoma segundo uma ou outra de suas linhas e segundo outras linhas.” E assim também quer devir o Glitch. O Glitch é um vislumbre, uma vontade da imagem ser rizoma. O Glitch em sí mesmo, nada mais é do que uma transfiguração, um transcódigo, uma desinterpretação do código estruturado e pré-existente em uma possível estrutura outra que não sabe (e nem quer saber) porque existe, de onde veio e pra onde vai. Sendo assim, o Glitch é uma composição de códigos relativos, é puro design relacional em sua essência. Como é possível que os movimentos de desterritorialização e os pro-
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cessos de reterritorialização não fossem relativos, não estivessem em perpétua ramificação, presos uns aos outros? Como diz Deleuze sobre esse tipo de relação, o devir: “A orquídea se desterritorializa, formando uma imagem, um decalque de vespa; mas a vespa se reterritorializa sobre esta imagem. A vespa se desterritorializa, no entanto, tornando-se ela mesma uma peça no aparelho de reprodução da orquídea; mas ela reterritorializa a orquídea, transportando o pólen. A vespa e a orquídea fazem rizoma em sua heterogeneidade.” Assim o Glitch o é também: agenciamentos de puro devir entre fluxos errantes. Quando um erro é colocado na estrutura de um código, parte dele se relaciona por imposição com outra que nada teria a ver (segundo a intenção de quem o concebeu) e faz assim, devir outro esse código. Metamorfosear-se em outra linha, em outro fluxo. Trazendo vários bits consigo em seu fluxo errante. Esses códigos de manera alguma estariam fadados a viver ‘errados’ até o fim de sua existencia (que aliás nem é sabida), mas estão ao contrário, sujeitos a uma constante mudança de território, constante metaformose dentro da explosão de seu próprio código, evolução a-paralela. “Evolução a-paralela de dois seres que não têm absolutamente nada a ver um com o outro”. O rizoma é uma antigenealogia. E a despeito disso, tentam os teóricos da transcrição genérica em códigos manipuláveis ‘genealogizar’ o código. A antigenealogia do Rizoma presente no Glitch clama por uma não-linearidade das versões, dos desdobramentos do código. É um simples, não ter começo nem fim do processo de mapear a desconstrução dos códigos. “A Pantera Cor-de-rosa nada imita, nada reproduz; ela pinta o mundo com sua cor, rosa sobre rosa, é o seu devir-mundo, de forma a tornar-se ela mesma imperceptível, ela mesma a-significante, fazendo sua ruptura, sua linha de fuga, levando até o fim sua “evolução a-paralela”.” Faria a Pantera Cor-de-rosa Glitch com ela mesma? Seria esta a função ultima do Glitcher, transpor seu próprio código em um devir-mundo imperceptível? Os Glitchers fazem rizoma consigo mesmo, pq o código já é parte deles próprios enquanto território digital, e por aí nessas andanças cibernéticas, dobram e se desdobram em curtos, tilts, que emergem realidades pos-
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síveis, universos paralelos de puro fluxo, forças e intensidade. Espaço livre de desejo, espaço onde o desejo é o nosso maior vetor de movimento. Querem os Glitchers apenas conjugar os fluxos desterritorializados, isto é, que os fluxos de dados se libertem das estruturas as quais foram condicionados e saiam pelo mundo cantando, pintando o mundo segundo a sua própria natureza, pintando de ruído, pq essa é a cor do Glitch. Escrever (o código de programação, afinal hoje em dia essa é o idioma que nos une, e nos une também com os mapas), fazer rizoma, aumentar seu território por desterritorialização, estender a linha de fuga até o ponto em que ela cubra todo o plano de consistência em uma máquina abstrata. “Primeiro, caminhe até tua primeira planta e lá observe atentamente como escoa a água de torrente a partir deste ponto. A chuva deve ter transportado os grãos para longe. Siga as valas que a água escavou, e assim conhecerá a direção do escoamento. Busque então a planta que, nesta direção, encontra-se o mais afastado da tua. Todas aquelas que crescem entre estas duas são para ti. Mais tarde, quando esta últimas derem por sua vez grãos, tu poderás, seguindo o curso das águas, a partir de cada uma destas plantas, aumentar teu território6”. Carlos Castaneda, L’herbe du diable et la petite fumée, Soleil noir, p. 160. Toda lógica da árvore é uma lógica do decalque e da reprodução. Diferente é o rizoma, mapa e não decalque. A orquídea não reproduz o decalque da vespa, ela compõe um mapa com a vespa no seio de um rizoma. Se o mapa se opõe ao decalque é por estar inteiramente voltado para uma experimentação ancorada no real e não o contrário. O mapa não reproduz um inconsciente fechado sobre ele mesmo, ele o constrói, e isso pode soar estranho para os que veem o Glitch unicamente como destruição (destruir para criar?). Ele contribui para a conexão dos campos, para o desbloqueio dos corpos sem órgãos, para sua abertura máxima sobre um plano de consistência. Ele faz parte do rizoma. O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente. O Glitch não busca um aprimoramento do código da imagem, mas ao contrário, um avanço pra dentro do espaço Riemaniano que reside na natureza Rizomática do código em espaço
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liso. Fazer o mapa, não o decalque. Por isso os aplicativos de estilizar imagens como decalques da imagem original não são mais que uma imensa contradição em sua funcionalidade. Um mapa tem múltiplas entradas contrariamente ao decalque que volta sempre “ao mesmo”. Um mapa é uma questão de performance, enquanto que o decalque remete sempre a uma presumida “competência”. O pseudo-Glitch que alguns desses aplicativos induzem não são mais que uma estilização da imagem-origem, isso nada tem a ver com o mapa e com o fundamento ultimo da arte Glitch. Com a popularidade que esses tipos de ‘efeitos’ trazem nos dias de hoje faz com que cada vez mais sejam procurados aplicativos de dispositivos móveis que deêm um aspecto ‘Glitcheado’ para as suas fotos, mas isso de maneira alguma é um Glitch, um mapa, muito menos um Rizoma. Essa é a oposição extrema ao rizoma, é puro decalque travestido de Glitch. É sempre o imitador quem cria seu modelo e o atrai. O decalque já traduziu o mapa em imagem, e o Glitch na realidade procura traduzir a imagem em mapa, assim é oposição ao movimento do decalque. O decalque organizou, estabilizou, neutralizou as multiplicidades segundo eixos de significância e de subjetivação que são os seus. Ele gerou, estruturalizou o rizoma, e o decalque já não reproduz senão ele mesmo quando crê reproduzir outra coisa. Por isto procurar o Glitch por via desses aplicativos é tão perigoso. O que o decalque reproduz do mapa ou do rizoma são somente os impasses, os bloqueios, os germes de pivô ou os pontos de estruturação. Da mesma forma os aplicativos e ferramentas que prometer esse Glitch automático estão em realidade fazendo o extremo oposto do que se propoem. Transformam a possibilidade latente do Glitch em imagem de glitch. Quando um rizoma é fechado, arborificado, acabou, do desejo nada mais passa; porque é sempre por rizoma que o desejo se move e produz. O glitch só existe enquanto aberto, ele só faz sentido estando aberto. Sendo máquina do desejo de descobrir os espaços lisos que estão por vir. Toda vez que o desejo segue uma árvore acontecem as quedas internas que o fazem declinar e o conduzem à morte, se enterra o Glitch no exato momento do Save as, no momento em que se conclue a sua busca pelo desconhecido. A erva existe exclusivamente entre os grandes espaços não
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cultivados. Ela preenche os vazios. Ela cresce entre e no meio das outras coisas. A flor é bela, o repolho útil, a papoula enlouquece. Mas a erva é transbordamento, ela é uma lição de moral.
_Guia alquimista para a tradução do software funcional em software esquizofrênico “O que vale é que tudo o que aconteceu de importante, tudo o que acontece de importante, procede por rizoma americano: beatnik, underground, subterrâneos, bandos e gangues, empuxos laterais sucessivos em conexão imediata com um fora.” O software esquizofrênico não é feito de unidades, mas de dimensões, ou antes de direções movediças. E também linha de fuga ou de desterritorialização como dimensão máxima segundo a qual, em seguindo-a, a multiplicidade se metamorfoseia, mudando de natureza. O software esquizofrênico é um sistema a-centrado não hierárquico e não significante, sem General, sem memória organizadora ou autômato central, unicamente definido por uma circulação de estados. Software esquizofrênico trata-se de uma região contínua de intensidades, vibrando sobre ela mesma, e que se desenvolve evitando toda orientação sobre um ponto culminante ou em direção a uma finalidade exterior. Com a fabricação de um Software esquizofrênico buscamos “Um tipo de platô contínuo de intensidade substitui o orgasmo”, a guerra ou um ponto culminante. Por exemplo, uma vez que um software é feito de funções, ele possui seus pontos culminantes, seus pontos de conclusão. Contrariamente, o que acontece a um Software esquizofrênico feito de “platôs” que se comunicam uns com os outros através de microfendas, como num cérebro? Chamamos “platô” toda multiplicidade conectável com outras hastes subterrâneas su-
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perficiais de maneira a formar e estender um rizoma. Não reconhecer nem cientificidade nem ideologia, somente agenciamentos Glitchs, saltos à esmo. Expressões em forma de Software esquizofrênico. Não se tem mais uma tripartição entre um campo de realidade, o mundo, um campo de representação, o livro, e um campo de subjetividade, o autor. Mas um agenciamento põe em conexão certas multiplicidades tomadas em cada uma destas ordens, de tal maneira que um livro não tem sua continuação no livro seguinte, nem seu objeto no mundo nem seu sujeito em um ou em vários autores. Escrever a n, n-1, escrever por intermédio de slogans: faça rizoma e não raiz, nunca plante! Não semeie, pique! Não seja nem uno nem múltiplo, seja multiplicidades! Faça a linha e nunca o ponto! A velocidade transforma o ponto em linha22! Seja rápido, mesmo parado! Linha de chance, jogo de cintura, linha de fuga. Nunca suscite um General em você! Nunca idéias justas, justo uma idéia (Godard). Tenha idéias curtas. Faça mapas, nunca fotos nem desenhos. Um rizoma não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo. Assim, quando o game tem uma finalidade, um objetivo, uma conclusão, ele deixa de ser o esquizo-código e passa a ser uma espécie de mimetismo das rotinas da vida cotidiana, uma caricatura dos projetos reais da vida. A árvore é filiação, mas o rizoma é aliança, unicamente aliança. A árvore impõe o verbo “ser”, mas o rizoma tem como tecido a conjunção “e... e... e...” Na sequencialidade dos glitches que formam esse esquizo-projeto, esse game que não se dá o trabalho, devenos nos atentar para o papel fundamental que tem a ‘conexão’, um verdadeiro alquimista do espaço liso jamais cria hierarquias em suas conexões. Para onde vai você? De onde você vem? Aonde quer chegar? São questões inúteis. É que o meio não é uma média; ao contrário, é o lugar onde as coisas adquirem velocidade.
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_Erro-tempo _O ruído dos dados lisos e a sintaxe dos dados estriados Deleuze ao definir o tecido como espaço estriado descreve também a “malha” da configuração digital da imagem “Em primeiro lugar, ele é constituído por dois tipos de elementos paralelos: no caso mais simples, uns são verticais, os outros horizontais, e ambos se entrecruzam perpendicularmente. Em segundo lugar, os dois tipos de elementos não têm a mesma função; uns são fixos, os outros móveis, passando sob e sobre os fixos.” - Mil platôs 5 – Pag. 158 um tabuleiro de pixels entrecruzados perpendicularmente, com a simples diferença de que no caso dos pixels os elementos verticais e horizontais cumprem a mesma função: todos são fixos. E essa propriedade é imprescindível para que se cumpra a função última do espaço imagético estriado outrora espaço liso capturado: a transmissão da mensagem visual de determinada imagem pelo sentido da visão. Neste ponto é importante esclarecer que não devemos confundir o espaço liso com a ideia de um campo homogêneo, Deleuze nos explica isso usando o Patchwork como exemplo: “ O espaço liso do patchwork mostra bastante bem que “liso” não quer dizer homogêneo; ao contrário, é um espaço amorfo,
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informal, e que prefigura a op’art.” - Mil platôs 5 – Pag. 160 Com esse esclarecimento, podemos fugir da ideia de que causar o Glitch significa ‘destruir’ a imagem constituida, ou estragar o arquivo simplesmente, pois não se trata de bater todos os pixels no liquidificador com a intenção de transformar a imagem organizada em uma massa homogênea, este não é e nunca foi a intenção dos Glitchers. Temos que ter claro em nossa mente que a busca pelo espaço liso não significa de maneira alguma a destruição da imagem já constituida e organizada, mas pode sim, essa ser uma consequencia da prática do Glitch em alguns casos. Pode o Glitcher atravessar a imagem para conseguir aterrissar em seu espaço liso. Ainda sobre o tecido, devemos aqui fazer uma distinção importante entre a configuração técnica da imagem e seu espaço estriado: Deleuze continua: “Um tal espaço estriado está necessariamente delimitado, fechado ao menos de um lado: o tecido pode ser infinito em comprimento, mas não na sua largura, definida pelo quadro da urdidura; a necessidade de um vai-e-vem implica um espaço fechado (e as figuras circulares ou cilíndricas já são elas mesmas fechadas).” - Mil platôs 5 – Pag. 158 No estudo do Glitch você traça caminhos, trajetos abstratos. Não como os trajetos dos nômades, um trajeto abstrato. Deleuze diz também que estes ‘trajetos’ são inseparáveis da velocidade naquele espaço. “Em conformidade com a migração e seu grau de afinidade com o nomadismo, o patchwork tomará não apenas nomes de trajetos, mas “representará” trajetos, será inseparável da velocidade ou do movimento num espaço aberto.” - Mil platôs 5 – Pag. 207 Pela própria natureza das produções artísticas de Glitch se basearem num arquivo ou origem de fluxos de dados base, que origina diversas possibilidades, versões deste arquivo-origem. Poderíamos também chamá-las de mutações, visto que não se trata de algo diferente de como a mutação genética produz suas gerações subsequentes. O Glitch tem ser grau de afinidade nômade online, no espaço estriado da internet (um espaço ainda mais aberto, riemaniano). Os territórios que visitamos são construídos por códigos e estes são a matéria-prima da arte Glitch. Sendo assim, os Glitchers não apenas são nômades como os citados por Deleuze no trecho acima sobre o patchwork, mas também desconstroem
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e reconstroem o território por onde passam e como se não fosse já o bastante, o multiplica, o desdobra em uma série de filiações desta atualização territorial através de suas mutações. As criações tem vida, e uma vida que se desdobra como rizoma e não uma filiação sequencial.
O corte singular: módulos, frequência e repetição Erra fatalmente quem pensa que o Glitch é visual, ou de alguma maneira pictórico ou imagético. O glitch é código, cortes em fluxos de intensidade. Frequências distribuídas em intervalos, entre cortes ou estatísticamente, como define Deleuze os cortes regulares e irregulares. “no primeiro caso será chamada “módulo” a razão de distribuição dos cortes e intervalos, razão que pode ser constante e fixa (espaço estriado reto), ou variável, de maneira regular ou irregular (espaços estriados curvos, focalizados se o módulo for variável regularmente, não focalizados se for irregular). Mas quando não há módulo, a distribuição das freqüências não tem corte: torna-se “estatística”, numa porção de espaço, por pequeno que seja; nem por isso deixa de ter dois aspectos, dependendo se a distribuição é igual (espaço liso não dirigido), ou mais ou menos raro, mais ou menos denso (espaço liso dirigido).” Mil platôs 5 – Pag. 161 Os cortes aparentemente distingue o Glitch do patchwork, e num certo ambito os opõe. Enquanto o patchwork se trata de um arranjo ilimitado de retalhos, tecidos multiplos de territórios diferentes inseparáveis deste trajeto. O Glitch faz cortes nesses retalhos, e os compoem em um nível mais profundo de complexidade onde o espaço já não existe mais como ele é aqui fora. Esses retalhos de código são trançados, dobrados, traduzidos, construídos e destruídos para criar sua singularidade e assim são geradas mutações deste corte singular. Pensando deste modo, podemos chegar a conclusão de que o espaço estriado dos arquivos sem ruído é constituído de cortes projetados pelos seus compiladores, e que no caso do
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Glitch lhes é imposto obstáculos ao cumprimento destes intervalos, modulos, cortes que dão nova configuração (ou seria uma desconfiguração?). Entretanto, a arte Glitch então seria idealmente composta por corte nenhum ou ao contrátio, seria puro corte, puro intermezzo? O glitch em sua ultima instância não se assemelharia a um corpo sem orgãos? É claro que é difícil mensurar qual seria a consequência final deste fenômeno recente, ou então qual seria o objetivo ou onde pode culminar essa busca. Entretanto a fome de destrição das estruturas que o Glitch trás, nos leva a crer que a des-organização é seu objetivo ultimo. Dados puros? Fluxos intensivos? Vale lembrar umas poucas palavras de Deleuze sobre o espaço liso “O liso é a variação contínua, é o desenvolvimento contínuo da forma.” Mil platôs 5 – Pag. 162 O liso e o estriado se distinguem em primeiro lugar pela relação inversa do ponto e da linha (a linha entre dois pontos no caso do estriado, o ponto entre duas linhas no caso do liso).
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_No meio do meio _Intensidade última do Glitch “Será tão triste e perigoso não mais suportar os olhos para ver, os pulmões para respirar, a boca para engolir, a língua para falar, o cérebro para pensar, o ânus e a laringe, a cabeça e as pernas? Por que não caminhar com a cabeça, cantar com o sinus, ver com a pele, respirar com o ventre, Coisa simples, Entidade, Corpo pleno, Viagem imóvel, Anorexia, Visão cutânea, Yoga, Krishna, Love, Experimentação. Onde a psicanálise diz: Pare, reencontre o seu eu, seria preciso dizer: vamos mais longe, não encontramos ainda nosso CsO, não desfizemos ainda suficientemente nosso eu. Substituir a anamnese pelo esquecimento, a interpretação pela experimentação. Encontre seu corpo sem órgãos, saiba fazê-lo, é uma questão de vida ou de morte, de juventude e de velhice, de tristeza e de alegria. É aí que tudo se decide.”
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Deleuze define de maneira resumida o plano de consistencia e assim resume também o Manifesto Glitch, desde sua aversão as estruturas arborescentes, à propriedade do linguagem de programação e sua propriedade de se dividir mudando de natureza. Também é interessante mencionar que o glitch como mensagem veiculada através do código é uma espécie de metalinguagem, na qual o código se abre para mostrar suas entranhas através da interface amigável. Diríamos, a cada vez, que um corpo sem órgãos, para a produção de intensidades a partir de um grau zero, para a matéria da variação, para o meio do devir ou da transformação, para o alisamento do espaço. Poderosa vida não orgânica que escapa dos estratos, atravessa os agenciamentos, e traça uma linha abstrata sem contorno, linha da arte nômade. No caso do Glitch, a arte oficial do nomadismo digital. “Com efeito o modo de conexão, proporciona a maneira de eliminar os corpos vazios e cancerosos que rivalizam com os corpos sem órgãos; de rejeitar as superfícies homogêneas que recobrem o espaço liso; de neutralizar as linhas de morte e de destruição que desviam a linha de fuga. Só é retido e conservado, portanto criado, só tem consistência, aquilo que aumenta o número de conexões a cada nível da divisão ou da composição, por conseguinte, tanto na ordem decrescente como na crescente (o que não se divide sem mudar de natureza, o que não se compõe sem mudar de critério de comparação...).” Parafraseando Deleuze: uma experimentação inevitável, já feita no momento em que você a empreende, não ainda efetuada se você não a começou. Não é tranqüilizador, porque você pode falhar, e deve falhar por a falha é o tempero do processo criativo, ou antes o ingrediente fundamental, que o diferencia da mímese. O Glitch não é uma noção, um conceito, apesar de o termos delimitado e tentado definir por razões didáticas, mas antes uma prática, um conjunto de práticas. Ao Corpo sem Órgãos não se chega, não se pode chegar, nunca se acaba de chegar a ele, é um limite. E assim tambem é com o Glitch. O CsO é o que resta quando tudo foi retirado. E o que se retira é justamente o fantasma, o conjunto de significâncias e subjetivações. Poderíamos dizer que o Glitch busca esse esvaziamento através da destruição das estruturas de um arquivo, remover todo o fantasma que ele engendra. Livre de todas significâncias e subjetivações, os dados estão livres para dançar
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em um espaço heterogêneo liso, esse é o momento em que é alcançada a intensidade última na prática do Glitch. Assim como qualquer sistema, o corpo é tão-somente um conjunto de válvulas, represas, comportas, taças ou vasos comunicantes. Nosso corpo de trabalho na chamada arte digital é um sistema digital que mimetiza de certa maneira um corpo orgânico, mas convém agora perguntarmo-nos: O que povoa, o que passa e o que bloqueia? Este corpo físico tem também a sua contra-parte digital, feita a sua imagem e semelhança, o software, o conjunto de ações de um programa é igualmente um órgão, ou um sistema organizado que é manejado por um chicote que regula o que passa e o que bloqueia, true or false. Como seria concebido um software, um sistema de ações e tarefas, tal qual a mesa esquizofrênica, que não se dá ao trabalho, não cumpre a sua função? Um CsO é feito de tal maneira que ele só pode ser ocupado, povoado por intensidades. Somente as intensidades passam e circulam. O CsO que o Glitch busca se baseia antes na transformação dos dados e ordens em pura intensidade, em números abstratos, sem a função ordenada e significância do que antes era corpo. Mas o CsO não é uma cena, um lugar, nem mesmo um suporte onde aconteceria algo. Nada a ver com um fantasma, nada a interpretar. O CsO faz passar intensidades, ele as produz e as distribui num spatium ele mesmo intensivo, não extenso. Aparentemente o Glitch precisa ser uma atividade dinâmica, espírito vivo e em constante movimento para fazer circular as intensidades pelas quais é povoado de maneira contínua. A interpretação dos dados não se fazem necessárias, por sua propriedade de multiplicidade eles precisam estar em estado de pureza, de pura intensidade para serem combinados e recombinados. Ele não é espaço e nem está no espaço, é matéria que ocupará o espaço em tal ou qual grau — grau que corresponde às intensidades produzidas. Ele é a matéria intensa e não formada, não estratificada, a matriz intensiva, a intensidade = O, mas nada há de negativo neste zero, não existem intensidades negativas nem contrárias. Fazemos uma diferenciação nesse momento em que o Glitch parece ter alcançado o objetivo, ao contrário da matéria inten-
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sa e não formada, o Glitch faz a matéria já formada retornar ao estado de não estratificação. Ele é o ponto de recuo, o Ritornello do processo de organização dos dados, é a conversão em Desórgão. Matéria igual a energia. Por isto tratamos o ato do Glitch como o ovo pleno anterior à extensão do organismo e à organização dos órgãos, antes da formação dos estratos, o ovo intenso que se define por eixos e vetores, gradientes e limiares, tendências dinâmicas com mutação de energia, movimentos cinemáticos com deslocamento de grupos, migrações, tudo isto independentemente das formas acessórias, pois os órgãos somente aparecem e funcionam aqui como intensidades puras. A finalidade ultima dos Glitchers parece ser o meio do processo de criação sempre, ou seja, com a atividade Glitch não se busca o que está além, ou o final do projeto mas o seu meio, podemos chamar este lugar de Corpo sem rgãos por essa ânsia em atingir o ponto anterior a extensão do organismo e a organização de seus orgãos. Essa curiosidade rumo ao caminho inverso, a desprogramação, o arquivo apenas delimitado por eixos e vetores, gradientes e limiares, tendências dinâmicas com mutação de energias (Glitch), movimentos cinemáticos com deslocamento de grupos, migrações. Tudo isso independente das formas acessórias dos orgãos, por nesse ponto máximo de desorganização eles funcionam como intensidade pura. Ovo tântrico. Em suma, o Glitcher serve-se do erro como um meio para constituir um corpo sem órgãos e depreender um plano de consistência do desejo. O Glitcher serve-se da desconstrução, da destruição das hierarquias do arquivo como um meio para construir um Corpo sem Órgãos. De fato, trata-se menos de uma destruição do que de uma troca e de uma circulação. O objetivo do Glitchers é buscar os outros canais pelos quais o fluxo de dados por circular, e seu desejo o de dançar com esses fluxos migratórios em tempo real, como que transmutando suas energias através dessa des-programação. Uma série explode na outra, cria circuito com outra: aumento de potência ou circuito de intensidades.
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Se trata menos de uma destruição dos códigos que uma conversão das forças e a inversão dos signos (invertendo ou corrompendo as estruturas pré-estabelecidas do programa). O Glitcher construiu um agenciamento que traça e preenche ao mesmo tempo o campo de imanência do desejo, constituindo consigo, com o arquivo e com o fluxo de dados um corpo sem órgãos ou plano de consistência. A prática do Glitch trata-se basicamente de criar um corpo sem órgãos ali onde as intensidades passem e façam com que não haja mais nem eu nem o outro. Tornar-se uno com o fluxo de dados digitais, fazer so software uma continuidade do seu próprio ser. Não no sentido de uma de uma maior extensão, mas em virtude de singularidades que não podem mais ser consideradas pessoais, intensidades que não se pode mais chamar de extensivas. O que conta somente no Glitch, é que o prazer seja o fluxo do próprio desejo, em outras palavras, existe uma mudança de foco aqui. A Imanência, no lugar de uma medida que viria interrompê-lo, ou seja a desconstrução da lógica de começo-meiofim das ordens dadas pelo software em favor do pleno fluxo de dados não significantes. Non-sense continuum. Ora, as questões são múltiplas: não somente como criar para si um CsO, mas também como produzir as intensidades correspondentes sem as quais ele permaneceria vazio? como chegar ao plano de consistência? Como reunir todos os CsO? Se é possível, isto também só se fará conjugando as intensidades produzidas sobre cada CsO, fazendo um continuum de todas as continuidades intensivas.
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_Games softwares esquizofrênicos Antes de mais nada, devemos criar uma diferenciação importante aqui. Esse processo de ‘gamificação’ do Glitch nada tem a ver com o chamado “ludificação” Que se caracteriza pelo uso de técnicas de design de jogos para enriquecer contextos diversos normalmente não relacionados a jogos. Tipicamente aplica-se ludificação a processos e aplicações com o objetivo de incentivar as pessoas a adotá-lo ou influenciar a maneira como são usados. Este tem sim a ver com aquele no sentido de que ambos orbitam o público aficcionado por games e realidades alternativas, entretando tem uma diferenciação importante em seu ‘como’ e também em seu objetivo último, que tem foco na circulação de intensidades, e não em direcionar um comportamento fora do game. Chegamos a um ponto interessante nessa viagem, o Glitch não esperaria de maneira alguma que ele tendo sido gerado den-
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tro de uma realidade tão degenerada, pudesse florescer como algo tão belo. Os softwares que ‘não se dão ao trabalho’, ganham uma nobre característica quando os analisamos povoados por intensidades de desejo que não obedecem mais nenhuma linearidade ou hierarquia que o sobrepões, a de brincadeira. Brincadeira, brinquedo, game. Um código guiado pela criação através da diferença, só poderia culminar em forma de ‘diversão’. São necessários agenciamentos para fabricar cada CsO, seria necessário uma grande Máquina abstrata para construir o plano de consistência? Sim, e essa grande máquina abstrata emerge em forma de console, e é guiada por outros nortes. Percebemos pouco a pouco que o que chamamos de CsO não é de modo algum o contrário dos órgãos e suas funções. Seus inimigos não são os órgãos. O inimigo é o organismo. O CsO não se opõe aos órgãos, mas a essa organização dos órgãos que se chama organismo. Assim também podemos perceber que apenas corromper os dados não seria por sí só suficiente para fabricar um autêntico Glitch Design, mas ao contrário, nos servindo das funções, colocando-as para trabalhar em função de um devir outro sim conseguiremos criar um admirável mundo novo. Uma espécie de vanguarda no desenvolvimento dos softwares esquizofrênicos. Os organismos são os inimigos do corpo. O CsO não se opõe aos órgãos, mas, com seus “órgãos verdadeiros” que devem ser compostos e colocados, ele se opõe ao organismo, à organização orgânica dos órgãos. Essa organização organica dos outros sem dúvida alguma é parte do resquício deixado pela experiencia do mundo chamado de real, o mundo onde o Glitch é erro e deve ser punido. Nos games, o Glitch como entedimento corrente, é o tilt, a falha do sistema. Mas como peça conceitual na construção dessas máquinas subjetivas de criação é parte integrante e fundamental da filosofia gamer. O organismo não é o corpo, o CsO, mas um estrato sobre o CsO, quer dizer um fenômeno de acumulação, de coagulação, de sedimentação que lhe impõe formas, funções, ligações, organizações dominantes e hierarquizadas, transcendências organizadas para extrair um trabalho útil. Mais uma vez parafraseando Deleuze: código grita: fizeram-me um organismo! dobraram-me indevidamente! roubaram meu corpo! O programador/ designer arranca-o de sua imanência, e
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lhe constrói um organismo, uma significação, um sujeito. É ele o estratificado. Assim, ele oscila entre dois pólos: de um lado, as superfícies de estratificação sobre as quais ele é rebaixado e submetido ao juízo, e, por outro lado, o plano de consistência no qual ele se desenrola e se abre à experimentação (glitch). Consideremos os três grandes estratos relacionados a nós, quer dizer, aqueles que nos amarram mais diretamente: o organismo, a significância e a subjetivação. “A superfície de organismo, o ângulo de significância e de interpretação, o ponto de subjetivação ou de sujeição. Você será organizado, você será um organismo, articulará seu corpo — senão você será um depravado. Você será significante e significado, intérprete e interpretado — senão será desviante. Você será sujeito e, como tal, fixado, sujeito de enunciação rebatido sobre um sujeito de enunciado — senão você será apenas um vagabundo.” Ao conjunto dos estratos, o CsO opõe a desarticulação como propriedade do plano de consistência, a experimentação como operação sobre este plano (nada de significante, não interprete nunca!), o nomadismo como movimento (inclusive no mesmo lugar, ande, não pare de andar, viagem imóvel, dessubjetivação.) O que quer dizer desarticular, parar de ser um organismo? romper com as intenções do sistema? corromper o objetivo do próprio projeto? Inventam-se autodestruições que não se confundem com a pulsão de morte. Desfazer o organismo nunca foi matar-se, mas abrir o corpo a conexões que supõem todo um agenciamento, circuitos, conjunções, superposições e limiares, passagens e distribuições de intensidade, territórios e desterritorializações medidas à maneira de um agrimensor. No limite, desfazer o organismo não é mais difícil do que desfazer os outros estratos, significância ou subjetivação. Arrancar a consciência do sujeito para fazer dela um meio de exploração, arrancar o inconsciente da significância e da interpretação para fazer dele uma verdadeira produção, não é seguramente nem mais nem menos difícil do que arrancar o corpo do organismo. Eis então o que seria necessário fazer: instalar-se sobre um sistema já estabelecido, experimentar as oportunidades que ele nos oferece, buscar aí um lugar favorável, eventuais
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movimentos de desterritorialização, linhas de fuga possíveis, vivenciá-las, assegurar aqui e ali conjunções de fluxos, experimentar segmento por segmento dos contínuos de intensidades, ter sempre um pequeno pedaço de uma nova terra. É seguindo uma relação meticulosa com as linhas do sistema que se consegue liberar as linhas de fuga, fazer passar e fugir os fluxos conjugados, desprender intensidades contínuas para um meio de criação, Glitch. Conectar, conjugar, continuar: todo um “diagrama” contra os programas ainda significantes e subjetivos. Estamos numa formação social; ver primeiramente como ela é estabelecida para nós, em nós, no lugar onde estamos; ir dos sistemas competentes aos erros mais profundo em que estamos envolvidos. É somente aí que o meio do Glitch se revela pelo que ele é, conexão de desejos, conjunção de fluxos, continuum de ntensidades. Você terá construído sua pequena máquina privada, pronta, segundo as circunstâncias, para ramificar-se em outras máquinas coletivas. Porque o meio do Glitch é tudo isto: necessariamente um Lugar, necessariamente um Plano, necessariamente um Coletivo, porque não existe “meu” corpo sem órgãos, mas “eu” sobre ele, o que resta de mim, inalterável e cambiante de forma, transpondo limiares). Ele é o organismo e também tudo o que é organizado e organizador; mas ele é ainda a significância, tudo o que é significante e significado, tudo o que é suscetível de interpretação, de explicação, tudo o que é memorizável, sob a forma de algo que lembra outra coisa; enfim, ele é o Eu, o sujeito, a pessoa, individual, social ou histórica, e todos os sentimentos correspondentes. E é o mesmo todo, mas em condições tais que o glitch substitui o projeto, a experimentação substitui toda interpretação da qual ela não tem mais necessidade. Os fluxos de intensidades, seus fluidos, suas fibras, seus contínuos substituíram o mundo do sujeito. O Glitch, ao contrário do processo contínuo de organização dos códigos-softwares, desfaz as próprias linhas. Não é mais um código que funciona, mas um game esquizofrênico que se constrói.
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_Finalmente _do meio para o meio O Glitch inicia um processo interessante que vai da tradução do espaço estriado em espaço liso, para a criação do corpo sem orgãos por sua vez vazio, povoando-se de intensidades culmina na criação de máquinas abstratas, softwares esquizofrênicos ou podemos dizer de maneira mais simples, games. Não se atinge o CsO e seu plano de consistência desestratificando grosseiramente. Assim também não se atingirá o estado de Glitch, ou do Design Glitch simplesmente desfazendo as conexões pré-estabelecidas entre as funções do código. O CsO é o ovo. Mas ele não é o retrocesso do software formado a sua suposta essência: ao contrário, ele é contemporâneo por excelência, carrega-se sempre consigo, como seu próprio meio de experimentação, seu meio associado. O ovo é o meio de intensidade pura, o spatium e não a extensio, a intensidade Zero como princípio de produção. Assim, como o meio do erro, o Glitch Design emerge, contendo todas as características do rizoma, construindo um CsO pelo qual vai fazer circular suas intensidades e gerando um sistema que não se dá ao trabalho, um sistema de fazer circular desejo.
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Se ele está ligado à infância, não o está no sentido de uma regressão do adulto à criança, e da criança à Mãe, mas no sentido em que a criança, ao contrário, sua ruptura perpétua com o passado, sua experiência, sua experimentação atuais. O CsO é bloco de infância, devir, o contrário da recordação de infância. Assim o Game também o é, fazendo com que qualquer associação com brincadeira de criança seja verdade, afinal as crianças sabem muito mais sobre desejos que nós e nossas funções demasiadamente petrificadas, no entando um game aberto a todas as idades, e além disso, aberto por excelência. O CsO como game é precisamente este germe intenso onde não há e não pode existir nem pais nem filhos, não existindo também funcionalidade ou um objetivo ou meta. O artefato indefinido é o condutor do desejo. Assim, quando a sequencia de bits, ou as linhas de um código se ‘organizam’, se perde a melhor de suas qualidades, a de CsO. O game esquizofrênico é sem dúvida alguma o único objetivo dos Glitchers, se é que ele cabe nessa definição de ‘objetivo’. Não se trata absolutamente de um corpo despedaçado, esfacelado, ou de órgãos sem corpos que seria o que a primeira vista a definição da Glitch art, arquivos corrompidos, arquivos quebrados, mal formados. O Glitch é exatamente o contrário. Não há arquivos despedaçados em relação a uma unidade perdida, nem retorno ao indiferenciado em relação a uma totalidade diferenciável. Existe, isto sim, distribuição das razões intensivas de órgãos, no interior de um coletivo ou de uma multiplicidade, num agenciamento e segundo conexões maquínicas operando sobre um CsO. Ela nada compreendia acerca do ovo, nem dos artigos indefinidos, nem sobre a contemporaneidade de um meio que não pára de se fazer. O game é desejo, é ele e por ele que se deseja.
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