Aqui & Ali - Um Ensaio Projetual Sobre Inclusão em Itajobi | TFG Breno Quaioti

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um ensaio projetual sobre inclusão em Itajobi

faculdade de arquitetura e urbanismo univesidade presbiteriana mackenzie trabalho final de graduação, 2020 Breno Quaioti



aqui e ali um ensaio projetual sobre inclusão em Itajobi



Breno Quaioti orientadores:

Lucas Fehr e Angelo Cecco

AQUI E ALI um ensaio projetual sobre inclusão em Itajobi

Trabalho final de graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade Presbiteriana Mackenzie

São Paulo, 2020


Agradeço,

Primeiramente ao meu pai, pelo apoio incondicional desde o primeiro dia e por sempre acreditar em mim. Termino essa etapa da minha vida e começo outra ainda maior. “A vida é uma eterna escola”. Obrigado a você e a Susi, pelo carinho e por me trazerem sempre de volta pra casa. A minha mãe, pelo amor imensurável que por vezes escapa aos olhos e pelas longas conversas noite à dentro... Não poderíamos estar mais próximos. Obrigado a você e ao Fábio, que me ensinam tanto sobre amar e cuidar. A minha irmã, quem tanto me inspirou a sempre aprender mais a cada dia simplesmente sendo um exemplo a ser seguido. Me vejo muito em você.


Agradeço aos meus professores Angelo e Lucas, que fizeram deste trabalho possível e sempre me incentivaram a ir mais longe. Agradeço também as amizades feitas nesses quase 7 anos: Em especial a A.A.A. Arquitetura Mackenzie, que me proporcionou os melhores momentos na faculdade e tanto me ensinou nas gestões de 2015 e 2016. Junto à Atlética, agradeço ao time de Handebol pelo amadurecimento construído e pela raça conquistada nos anos em quadra! Handebrothers fez história! Pela irmandade restaurada toda quarta à noite e agora marcada na pele, Gabriel, Mauricio e Vander. Obrigado pelo videocrema. Agradeço especialmente a Julia, Mauricio, Raul, Renata e Sofia pela sincronia, parceria e pelo porto seguro que se tornaram nesse caminho! Fumumtit! Aos que me acolheram e tanto me ensinaram. Pela parceria de ouro que extrapolou os limites do espaço de trabalho, agradeço às incansáveis aulas na Rua Dr. Sodré de Vitor Zanatta, Vinicius Figueiredo e Victor Piza. Que nossa parceria siga trazendo bons resultados sempre! Aos atuais companheiros de apartamento que tanto me inspiram e fazem das tardes da praça Roosevelt mais leves: Mamá, mestre Zulian e velho Gabriel. As melhores histórias de camaradagem, resenha, tit, noites no Kenzie e bons momentos, agradeço ao Xorume! Em especial Futema, Digo, Déds, Tuts, Gihad, Maga, Magris e Marinho. A singela, embora barulhenta excursão pelo centro histórico de SP, agradeço ao café com leite. Por fim, todo meu carinho e gratidão à pessoa que fez este trabalho possível. Pelo acolhimento caloroso nos últimos meses, por toda troca de amor, riso, lealdade e aprendizado. Por me fazer uma pessoa melhor todos estes anos, seja em Barcelona, Porto Alegre ou São Paulo. Obrigado Lonas!

Muito obrigado!



SUMARIO _ INTRODUÇÃO

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_ APRESENTAÇÃO

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PARTE 01 RURALISMO (S)

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PARTE 02 APROXIMAÇÕES A cidade grande A cidade pequena

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PARTE 03 REFLEXOS DO ABANDONO

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PARTE 04 DIFERENTES INTERPRETAÇÕES DE UMA PANDEMIA

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PARTE 05 NOVO NORMAL

74 86 87 92 102

PARTE 06 O ENSAIO 06.1 WASHINGTON LUÍS 06.2 LEITURA URBANA 06.3 INSERÇÃO DO PROJETO O projeto urbano O parque cultural 06.4 PROGRAMA

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PARTE 07 CONCLUSÃO

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BIBLIOGRAFIA

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introdução O presente trabalho final de graduação em arquitetura e urbanismo tem como objetivo de pesquisa explorar o espaço rural brasileiro. Com o enfoque crítico na cidade de Itajobi – SP, o trabalho toma partido de análises recentes de arquitetos já consagrados sobre o espaço rural para então concluir com um projeto urbano e arquitetônico de intervenção na cidade. Enquanto os arquitetos se ocupavam com as complexidades metropolitanas, o campo, como introduzido no início desta pesquisa, desenvolveu-se por conta própria e de diferentes maneiras ao longo dos anos. O presente trabalho, portanto, dedica-se ao território inexplorado brasileiro e – no que se preza como trabalho urbano – relaciona pontualmente o desenho urbano existente com condições sociais recorrentes hoje e de origem tradicional neste pequeno centro urbano. Em uma conclusiva aproximação à cidade de Itajobi é apresentado o projeto arquitetônico e urbano, proposto como um convite à inclusão de novas culturas para os limites daquela cidade rural. O campo, que para muitos é tido como um local de atraso, mostra suas riquezas e potencialidades para o desenvolvimento mais humano e sadio do país. O presente trabalho busca este resgate.

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apresentação Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda traz um panorama da formação e estruturação do território brasileiro. Segundo o autor, desde os primórdios do período colonial até a segunda metade do século XVIII, o desenvolvimento espacial brasileiro era configurado por uma robustez do domínio rural em contraponto com um frágil cenário urbano. Em um panorama geral, o domínio do ambiente rural neste caso é característico da colonização portuguesa, que via os territórios de colônias como passagem para enriquecimento e nunca como uma extensão da metrópole. De acordo com Darcy Ribeiro, em “O Povo Brasileiro – a formação e o sentido do Brasil” a formação do Estado de São Paulo sofreu grande influência a partir das expedições Bandeirantes, que em suas andanças desbravavam partes longínquas das terras brasileiras e muitas vezes acabaram por se fixar em regiões distintas, tornando-se criadores de gado ou lavradores. Ainda segundo Darcy Ribeiro, um traço importante da formação da população “caipira” – como designada pelo autor – é a não ascensão dos grupos tribais à civilização, “mas sim a edificação [...] de uma entidade étnica emergente que nasce umbilicalmente ligada a sociedade e a uma cultura exógena por ela conformada e dele dependente”. Mas o autor caracteriza a população paulista como uma constante mistura entre as populações índias e os primeiros imigrantes brasileiros, se tornando fortemente miscigenada e até mais tolerante que o restante do Brasil. Isto, segundo o autor, se mantém até 1950, quando ocorre uma forte vinda de estrangeiros, principalmente italianos, para o Estado de São Paulo - se tornando inclusive mais numerosos que os “paulistas antigos”. Esta nova leva de imigrantes europeus trouxe também um novo eurocentrismo para a população.

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[01] Croqui de residência rural. Desenho do autor.

Em questões de funcionamento social, a sociedade colonial brasileira era pautada pelo patriarcado como ditador da lei doméstica, muitas vezes sobrepondo a instituição jurídica. O ambiente doméstico, particularista e antipolítica predomina na vida social da cidade rural, operando uma invasão do público pelo privado - aspecto este que ainda mostra suas similaridades na sociedade atual, através do populismo e da figura “paternal” que muitos políticos assumem e, no ambiente rural, na sobreposição do particular ao estado, por vezes referenciado como “neo-coronelismo”, que comanda as pequenas cidades rurais.

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A partir da vinda da Corte Portuguesa para o Brasil em 1808 é iniciada uma transição gradativa do domínio rural para o urbano. Trazendo costumes europeus, a decadência dos senhores rurais se dá em concomitância com a ascensão das profissões do meio urbano, como os liberais, os políticos e a burocracia. Inicialmente, estes novos postos profissionais são ocupados justamente pelos senhores mais influentes dentro daquele meio, ou seja, aqueles ligados às lavouras e aos engenhos. Consequentemente, com a passagem dos anos, estes mesmos senhores passam a ser atraídos à vida urbana, levando consigo suas mentalidades, valores e preconceitos.

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[02] Embarque da Família Real Portuguesa. Nicolas Louis Albert Delerive, 1807 – 1818


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Com estes primeiros avanços do ambiente urbano no território nacional e o consequente aparecimento de seus primeiros problemas, surge a visão romântica e idílica do mundo rural, que de certo modo persiste até hoje como o principal cenário do escapismo urbano. Um oásis inatingível ainda preservado das mazelas da urbanização com a imagem do homem feudal envolto em uma aura de pureza e simplicidade. A idealização saudosista deste cenário, portanto, já seria uma prova da constatação nacional do novo rumo econômico que seguiria o país. Ainda segundo Sérgio Buarque de Holanda, as dificuldades e a lentidão da transposição da mentalidade da casa-grade para às cidades e suas profissões se tornam mais compreensíveis quando se considera que no Brasil, assim como na maioria dos países de história colonial recente, não existiam estabelecimentos intermediários entre os meios urbanos e as propriedades rurais produtoras. O país desenvolveria suas pequenas cidades apenas posteriormente, a partir das necessidades desses habitantes rurais que vivem em comunidade e se equipararem comercialmente com os grandes centros.

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A partir do rápido progresso urbano e decremento da sociedade rural ocasionado pela proibição do tráfego negreiro, a cidade grande ganha maior protagonismo e o interior gradativamente assume a identidade majoritária de produtor, perdendo seu propósito residencial e político. Neste momento, enfim, aquela reputação nostálgica do interior passa a perder progressivamente sua força para a ideia de um interior retrógrado, abandonado e com tecnologias ultrapassadas ou residuais da cidade grande. [03]

As cidades rurais brasileiras precisam de um novo olhar, enxergando suas potencialidades e suas necessidades, de forma a capacitá-las para um futuro em que não seja mais necessário viver nas grandes cidades para ter ofertas variadas de trabalho, estudo ou ter grandes ofertas culturais. A cidade rural precisa ser vista como uma alternativa ao estilo de vida urbano, tão qualificado quanto.

Este é um convite à aproximação. 18

[03] Fazenda (Ilustração para “Pau Brasil), 1925. Tarsila do Amaral. [04] Cidade (Ilustração para “Pau Brasil),1925. Tarsila do Amaral. [04]


10 ETRAP )S(OMSILARUR otiecnoc od snegadroba setnerefid


PARTE 01 RURALISMO(S) diferentes abordagens do conceito

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O espaço rural é um assunto ainda pouco abordado na academia e nos livros de arquitetura. Para que se entenda melhor o campo em que este trabalho irá se dedicar, neste capítulo é apresentado o termo “ruralismo”, que abrange diversos cenários e diferentes discursos. No dicionário, sua definição varia desde “utilização de cenas do campo na arte” até “conjunto de princípios básicos de um sistema que preconiza a melhor maneira de vida no campo; doutrina dos ruralistas; movimento com o objetivo de implantar esse sistema, de defender essa doutrina”, mostrando o alcance do termo e também uma sua indefinição. Seu uso predominante é aquele que caracteriza a vida no ambiente rural - de algo mais simples e rústico do que a vida na cidade. No presente trabalho, o termo ruralismo será definido como o movimento que busca a retomada e a valorização do ambiente rural como uma alternativa ao estilo de vida das metrópoles, buscando a qualificação do campo e tornando-o atrativo para seus moradores atuais e futuros. Nesta análise inicial, os autores mencionados trazem em suas pesquisas panoramas internacionais de uma condição do espaço rural ainda, segundo o autor deste trabalho, distante da realidade brasileira. A análise predominantemente centrada no hemisfério norte apresenta um espaço rural tecnológico, com poucos habitantes e distante daquele antigo ambiente nostálgico.

[05] < Guggenhein, 2020. Imagem de @socle.studio modificada pelo autor [06] “Haying”, 1909. Fonte: Arcervo OMA 21


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Quase quatro décadas depois da publicação de Nova York Delirante - o grande manifesto da cidade como um organismo vivo que comanda e rege sua arquitetura -, Rem Koolhaas volta seu olhar, em 2010, para o campo, como o ambiente de atuação dos arquitetos para as próximas gerações. O arquiteto é um dos fundadores do Office for Metropolitan Architecture (OMA) e codiretor do AMO – setor de pesquisa do escritório, além de professor titular da Universidade de Harvard. Koolhaas aborda em sua pesquisa vários pontos que estão causando mudanças no perfil do campo: o “emagrecimento” dos vilarejos – aumento da área povoada, mas com diminuição da intensidade de uso; a perda do que era tradicional e peculiar de cada povoado devido a globalização e a padronização geral da sociedade, seja através de imigrantes ou de importação de tendências; a mecanização do campo, pois segundo ele o cultivo e a pecuária hoje já são práticas digitais que podem ser realizadas a partir de qualquer local.

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Expansão das cidades rurais, 2010

Garotas da zona rural russa, 1909

Lely Orbiter Feeding Robot, 2010

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Através destes três pontos, Koolhaas embasa sua teoria de que o mundo rural está mudando de forma muito significativa e que estas alterações estão passando despercebidas pela maior parte da população. Nas publicações relacionadas a arquitetura é inegável a onipresença da condição urbana e a negligência ao restante do planeta. Um universo anteriormente ditado pelas estações do ano e pela

organização da agricultura agora é uma mistura tóxica de experimentos genéticos, ciência, nostalgia industrial, imigração sazonal, facilidade de compra de terras, subsídios maciços, habitação incidental, incentivos fiscais, investimentos, turbulência política, em outras palavras, mais volátil que a cidade mais acelerada. O campo é uma amálgama de tendências que estão fora de nossa visão geral e fora de nossa consciência. Nossa obsessão atual apenas pela cidade é altamente irresponsável, porque não é possível entender a cidade sem entender o campo. Agora estamos apenas começando a aumentar nossa compreensão das condições que antes eram inexploradas – um processo para continuar mais. (KOOLHAAS, 2014, tradução nossa)

Em fevereiro deste ano (2020) Rem Koolhaas e Samir Bantal, juntamente ao AMO, lançaram uma exposição no Museu Guggenheim em Nova York intitulada Countryside, the future (Campo, o futuro). A exposição é o resultado de 10 anos de investigação sobre as áreas rurais com o objetivo de trazer visibilidade para esta área, segundo o arquiteto, esquecida pela arquitetura.

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Nas últimas décadas, eu tenho percebido que enquanto grande parte das nossas energias e inteligência estiveram focadas nas áreas urbanas do planeta – sob a influência do aquecimento global, a economia de mercado, companhias de tecnologia americanas, iniciativas africanas e europeias, politicas chinesas e outras forças – o campo foi alterado de forma quase irreconhecível. (KOOLHAAS, 2020, tradução nossa).

A pesquisa de Koolhaas apresenta o espaço rural como uma área completamente nova e inexplorada. A mudança da paisagem do campo apresentada pelo arquiteto mostra como os hábitos do trabalhador rural mudaram e como todo ambiente se alterou drasticamente nos últimos anos. De acordo com uma nota de imprensa divulgada pelo museu, a exposição pretende marcar uma mudança no foco do urbano para o rural, o remoto, o deserto e o selvagem; os 98% do planeta que não são ocupados por cidades.

[10] Coutryside: The Future, 2020. Solomon R. Guggenheim Museum

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[11] Villa di Livia + Landsat 8 Satellite. Samir Bantal, 2020

[12] Qatar Countryside + Granger. Samir Bantal, 2020 26


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Koolhaas não conclui sua pesquisa com um objetivo certeiro a ser seguido pelo espaço rural – sua investigação se propõe a apresentar este novo cenário e suas tecnologias para que dela se desperte o interesse à aproximação. Efetivamente, esta pesquisa já vem sido citada repetidamente como base de pesquisa para inúmeros arquitetos. Este é o caso de Christopher Lee, também professor titular em Harvard GSD (Graduate School Of Design) no setor de Design Urbano, onde leciona o curso intitulado “The Countryside as a City”. Lee também é um dos fundadores do escritório internacional Serie Architects, onde também trabalha constantemente com a exploração de novas ideias tipológicas para cidades do mundo todo. Com enfoques teóricos, inúmeras publicações e projetos de larga escala construídos em diversos continentes, em 2018 o escritório levou o primeiro prêmio no concurso proposto pelas Nações Unidas “Sustainable Cities and Human Settlements Awards” (SCAHSA) – que buscava propor metas de desenvolvimento urbano sustentável para serem implantadas em 2030. Na academia, a proposta do curso ministrado por Lee é investigar formas alternativas de urbanização em resposta aos desafios das cidades em desenvolvimento na China. Essa investigação se dá através de projetos para transformar vilarejos rurais chineses em pequenas cidades que combinem as necessidades rurais e a cultura local com a inserção da tecnologia e indústria. A proposta de projeto da disciplina é embasada por um programa do governo Chinês que já está em curso no país para tornar as áreas rurais atrativas, sendo assim uma alternativa às saturadas e insalubres metrópoles. Desta forma, espacialmente semelhante às modernas propostas das “cidades jardim”, o projeto apresentado por Lee configura esta nova tipologia de cidade rural em “frames” (requadros) que setorizam a organizam o espaço de adensamento enquanto se mimetizam na paisagem rural existente:

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[13] Dentro do frame: O campo como uma cidade Implantação: O frame externo consiste no programa industrial e de infraestrutura. O frame intermediário contém 550 residências unifamiliares com quintais interligados. O frame central contém 270 conjuntos habitacionais, com 4 torres de 6 andares – acolhendo um total de 1000 unidades residenciais em todo o projeto. Imagem: Harvard GSD, 2014.

[14] O frame central: Este contém os conjuntos habitacionais em apartamentos, também servindo à rua mais movimentada do complexo – é o principal caminho de circulação em que os usuários podem caminhar de sua casa para todas as comodidades. Imagem: Harvard GSD, 2014 28


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[15] Frame central detalhado: Ao delinear quatro arestas, a estratégia de delimitação não é promover um núcleo urbano denso, mas usar o frame como um artefato arquitetônico forte, simples e claro para criar um objeto estético e produtivo através do uso da paisagem. Imagem: Harvard GSD, 2014

[16] Frame como limite: O frame internaliza o amplo campo agrícola em um espaço coletivo delineado para agricultura e vida. Vendo o projeto do exterior, a extensão do campo agrícola é ininterrupta. A moldura permite a continuidade e a porosidade da borda com um leve toque no chão. Imagem: Harvard GSD, 2014

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Na China, em 2011, foi atingida a marca de 51% da população vivendo em áreas urbanas. A partir deste marco, houve a decisão de priorizar os investimentos e projetos governamentais na urbanização e na qualificação das áreas rurais em detrimento da expansão de cidades já consolidadas. O objetivo deste projeto é tornar as áreas rurais novamente atraentes para a população - para garantir a produção de alimentos necessários através da melhora da qualidade de vida dos ambientes rurais. Alguns projetos que estão acontecendo na China incluem a reconstrução de casas de baixo padrão nos vilarejos e até a demolição total de alguns povoados e sua reconstrução de forma agrupada, proporcionando maior adensamento e novas ofertas de serviços comunitários. Além de melhorar a infraestrutura básica e sanitária dos povoados rurais, o objetivo das propostas é de desenvolver novas tipologias habitacionais e urbanas autossuficientes que possam suportar uma economia dinâmica no campo, provendo ofertas culturais e intelectuais para seus moradores. Neste cenário, algumas propostas urbanísticas já vêm sendo desenvolvidas no país, como a ousada aposta de construir a Nova Área de Xiongan – uma nova capital chinesa criada do zero à 100km de distância de Beijing e Tianjin, na província de Hebei. A proposta, que já está em execução, é fruto de um extenso trabalho chinês sobre como se construir uma cidade desta escala autossuficiente, sustentável e preparada para os desafios metropolitanos do futuro. Arquitetonicamente, o projeto da cidade surgiu de um concurso fechado, financiado pelo próprio governo chinês, realizado em 2018 – no qual o autor deste trabalho participou juntamente ao escritório Ricardo Bofill Taller de Arquitectura em Barcelona.

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[17] The Rooftop, 2018. Imagem: MIR.

Além da problemática chinesa a respeito da saturação de suas metrópoles, o influente estudo de Koolhaas também fora citado em uma recente publicação a respeito do espaço rural europeu por Vanessa Carlow, diretora do Instituto de Urbanismo Sustentável da Technische Universitat Braunschweig. Carlow também foi uma das fundadoras de um dos maiores escritórios de arquitetura dinamarquês intitulado COBE – sua obra publicada apresenta visões globais a respeito do campo, mas se debruça mais a finco na situação local. Em seu livro “RURALISM: The Future of Villages and Small Towns in na Urbanizing World” a autora reitera a mudança drástica na paisagem rural apresentada pelo AMO anteriormente e reforça com uma série de artigos de diferentes autores sobre o tema, suas potencialidades, deficiências e até projetos já desenvolvidos. 31


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Em um mundo urbanizado, a cidade é considerada como o modelo e a medida de todas as coisas. A atenção dos arquitetos e urbanistas esteve quase totalmente focada na cidade por muitos anos, enquanto o espaço rural quase sempre esteve associado a visões de declínio econômico, estagnação e resignação. Entretanto, os espaços rurais estão sofrendo transformações tão radicais quanto as cidades. Além disso, espaços rurais tem um papel decisivo no desenvolvimento sustentável do nosso ambiente – indissociavelmente interligado a cidade como recurso ou reserva. O campo anteriormente segregado é agora atravessado por fluxos globais e regionais de pessoas, bens, resíduos, energia e informação, vinculando-o aos sistemas urbanos e permitindo que eles funcionem em primeiro lugar. (CARLOW, 2016, tradução nossa)

[18] ^ Westland – o cluster hortícola holandês e o “Vale do Silício” para o cultivo de plantas e inovação verde. Foto: Luca Locatelli

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Segundo a autora, as pequenas cidades rurais se estruturaram nos últimos anos com tecnologias secundárias que não tinham mais uso na metrópole. Em questões urbanísticas, é apresentado como poucos projetos feitos nas academias metropolitanas foram desenvolvidos considerando adaptações para uma realidade mais pacata e conservadora. Para ela, os impactos desta realidade do campo resultaram na formação de um espaço de expressiva concentração de renda, conservadorismo político, pouca presença do Estado e o abandono populacional, que abdicaram dos muitos potenciais que seriam explorados naquele local. Por basear seus estudos principalmente na região rural da Dinamarca, a realidade do campo em um país de proporções tão pequenas em comparação com o Brasil é muito diferente. A pesquisa, assim como a de Koolhaas, entende o espaço rural como o ambiente que mais se alterou nos últimos anos e, assim, a autora propõe um modelo de desenvolvimento independente do campo, voltado à sustentabilidade, complementando as cidades grandes com o acesso à matéria prima, reservatórios naturais e campos abertos de pesquisa e lazer, no qual a proximidade com as grandes cidades possibilitaria e facilitaria essa integração. A respeito das tecnologias referidas em todos os cenários apresentados, um exemplo desta nova condição é o norte da Europa, onde as condições climáticas e a falta de espaço físico de plantio impossibilitam a produção tradicional de alimentos. Neste cenário, a Holanda se destaca. Com uma área menor que a do estado do Rio de Janeiro, menor reserva de água e uso reduzido de pesticidas, o país conseguiu aumentar a sua produção agrícola de tal maneira a se tornar hoje o segundo maior exportador de alimentos do mundo, segundo o Centraal Bureau voor de Statistiek (Instituto Central de Estatística dos Países Baixos, CBS). O país é referência em produção de hortaliças, frutas, queijos, lácteos e diversos outros alimentos de altíssima qualidade, se caracterizando por produzir e vender produtos de alto valor agregado.

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síntese

A visão de ruralismo dos três arquitetos mencionados tem em comum o mesmo ponto de partida: evidenciar as mudanças ocorridas no cenário rural nos últimos anos, que passaram “despercebidas” para a maior parte da população, e frisar a importância de trazer este ambiente como objeto central de uma discussão arquitetônica. Pensar nas pequenas cidades e vilarejos rurais como uma alternativa viável e sustentável para o crescimento desproporcional e desenfreado que se vê hoje nas metrópoles. [19] ^ Koppert Cress, The Netherlands, 2011. Ambientes altamente artificiais e estéreis são propostos para criar a amostra orgânica ideal. As casas de vidro de hoje contêm todos os ingredientes essenciais da vida, mas nenhum dos despedimentos: sol, solo e água são emulados, otimizados e automatizados. Foto: Pieternel van Velden 34


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Evidenciando as mudanças constatadas pelos autores, os projetos a serem desenvolvdos devem dedicar-se à qualificação das cidades rurais de forma de torná-las atraentes e receptivas tanto para seus habitantes quanto para futuros moradores. Isto é, capacitar os remanescentes 98% do território global a fim de não se repetir os equívocos do desenvolvimento desenfreado e sem planejamento experienciados no passado. Além disso, é vital a diversificação de oportunidades nas pequenas cidades, seja para manter e incentivar a produção e o cultivo de alimentos, mas também para que estas cidades sejam vistas como alternativas de habitação para pessoas que buscam um estilo de vida diferente do que hoje é oferecido pelas metrópoles. 35


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parte 01: créditos iconográficos [05] Fonte: Printscreen da publicação do escritório @socle.studio em 23/06/2020. Fonte: Instagram modificada pelo autor. [06 e 07] Fonte: Acervo AMO/ OMA (modificado) [08 e 09] Fonte: Acervo AMO/ OMA (modificado) [10] Foto: Laurian Ghinitoiu [11 e 12] Fonte: Disponível em: < https://frieze.com/article/ rem-koolhaas-new-rural-sublime?language=en >. Disponível em 27 jun. 2020. [13 a 16] Fonte: Harvard GSD. Disponível em: < https://archinect.com/nicleedesign/project/within-the-frame-the-countryside-as-a-city>. Disponível em 27 jun. 2020. [17] Fonte: Printscreen da publicação do escritório @bofillarchitectura em 20/06/2020. Fonte: Instagram. [18] Fonte: Acervo AMO/ OMA [19] Fonte: Acervo AMO/ OMA


20 ETRAP SEÕÇAMIXORPA otnemicnetrep e sedadic


PARTE 02 APROXIMAÇÕES cidades e pertencimento

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[20] < Hospital de la Santa Creu, 2018. Foto do autor. [21] Ver a cidade, CCCB, 2018. Foto: Laura Tonding

As discussões a respeito de novas formas de se compreender e habitar a cidade não são recentes. A partir da década de cinquenta, foram diversos os intelectuais e movimentos culturais que trouxeram novas perspectivas para defender formas inovadoras de se ocupar as cidades, em oposição à vanguarda modernista, com seu modelo cartesiano. Esta, derivada do zoneamento da cidade funcional, gerava espaços urbanos ociosos e pouco convidativos em seu contexto. Ideais deste movimento já haviam sido expressos nos três últimos congressos internacionais de arquitetura moderna (CIAM) na Europa em 1951, 53 e 55 – onde se abordava uma preocupação com uma cidade menos maquínica, mais humanizada e vivenciável, diferente dos anos anteriores. 39


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Para elucidar essa nova tendência de valores urbanos, Jane Jacobs lança em 1961 seu livro “Death and Life of Great American Cities” (traduzido 40 anos depois para “Morte e Vida das Grandes Cidades”) instaurando novos princípios que consideram a diversidade de usos e de pessoas como a principal maneira de trazer vitalidade para os espaços, sendo a complexidade urbana a responsável por construir uma vida rica e densa de significados, ao contrário do urbanismo racional e setorizado das cidades americanas até então. Ela [a diversidade] é antídoto para grande parte dos ma les urbanos que ocorrem com o uso monofuncional. Diversidade de usos, de nível sócio econômico da população, de tipologia das edificações, de raças, etc. (Nesse sentido, a segregação é uma contradição com o bem-estar). Mais importante do que a polícia, para garantir a segurança de determinada rua, bairro ou distrito, por exemplo, é o trânsito ininterrupto de usuários, além da existência do que a autora chama de “proprietários naturais da rua”. Donos de padarias, mercearias, lojas, pequenos serviços, são os muitos “olhos atentos”, mais eficazes do que a iluminação pública. Trata-se da “figura pública autonomeada”, a quem os moradores podem recorrer para deixar um recado, uma chave, uma encomenda. A vida pública informal impulsiona a vida pública formal e associativa. Algumas pessoas acumulam relações e conhecimento, elas são únicas. A autogestão democrática é que garante o sucesso dos bairros e distritos que apresentam maior vitalidade e segurança. Isso significa a permanência de pessoas que forjaram uma rede de relações: “Essas redes são o capital social urbano insubstituível”. (MARICATO, 2001)

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A exemplo de diversidade, o bairro Raval em Barcelona celebra anualmente, por meio de intervenções artísticas, a presença de seus imigrantes que ocupam a área central da parte velha da cidade. A cidade de Barcelona, e principalmente a cidade velha, são por si só exemplos de espaços densos, movimentados e seguros onde os “olhos atentos” mantem a segurança espacial. Em 2018 fora celebrada, no natal, uma destas homenagem aos imigrantes por meio da iniciativa da fundação Tot Raval – um coletivo de cerca de cinquenta entidades sociais, escolas, instituições culturais, associações comerciais e pessoas ligadas ao Raval que trabalham em rede para melhorar a coesão social, coexistência e qualidade de vida no bairro. A homenagem fazia parte de um projeto de intervenção urbana chamado de Els Llums 2018 (As luzes, 2018) e consistia em luzes similares às tradicionais decorações de natal da cidade, mas retratando diferentes famílias e figuras conhecidas do bairro, além de uma exposição fotográfica das pessoas que serviram como modelo para as luzes. A iniciativa foi fruto de uma parceria entre uma fundação do bairro (#RavalKm0), a companhia de iluminação pública da cidade e os designers Curro Claret e Maria Güell Ordis (responsáveis pela conceituação) e uma série de comerciantes locais. Todos os grupos envolvidos trabalharam de forma voluntária para promover a revitalização comercial e social da Raval, gerando oportunidades de treinamento e emprego no bairro. [22] < Rua desenhadas para as pessoas, 2018. Rambla de Fabra i Puig. Foto do autor

[23] Els Llums, 2018. Foto: Acervo Fundació Tot Raval

[24] Carrer Riera Alta, Barcelona, 2018. Foto do autor

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2.1 a cidade grande Segundo o senso de 2010, São Paulo é a cidade mais populosa do Brasil. Fundada em 1554 quando rezada a primeira missa pelos jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta no então “Colégio São Paulo de Piratininga”, hoje Pátio do Colégio, São Paulo cresceu a se tornar a capital econômica do país, e por este motivo a cidade mais diversa, que mais atrai e oferece recursos a seus moradores.

Em uma escala monumental, São Paulo é estruturada em uma complexa malha de pequenos bairros distintos que comportam diferentes núcleos em meio ao funcionamento dessa megaestrutura que é a cidade. Os bairros, formados através dessas trocas ao longo do tempo, qualificam por fim uma identidade à cada região, seja por compartilharem um gabarito próprio, um uso determinado, um padrão de arquitetura, uma classe social, uma religião própria ou até uma língua ou herança histórica. Uma das principais características de uma metrópole, portanto, é a existência de aglomerados com características em comum, mas principalmente, a constante troca entre esses diferentes locais, gostos e agentes. 42


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Em vias de funcionamento, vale ressaltar que a metrópole se sustenta sobre uma complexa malha de infraestrutura urbana e metropolitana. A definição de infraestrutura urbana, segundo Milton Braga, é aquilo que abrange a vida cotidiana da cidade em suportes diretos, como os serviços e vias públicas, passarelas e praças, além de serviços de coleta de esgoto, abastecimento de água e rede elétrica. A infraestrutura metropolitana corresponde às demandas necessárias para a escala da cidade e sua conexão com as cidades vizinhas, como a rede de transporte coletivo (ônibus, CPTM e metrô) e vias expressas.

[25] < Vão livre do MASP. Fonte: FERRAZ, Marcelo Carvalho [org.] Lina Bo Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e PM Bardi, 1933

Em resultado do constante deslocamento das pessoas para diferentes bairros e dentro do seu próprio, diversas relações com os espaços são criadas. Bairros mais densos e com ruas movimentadas, que mesclam habitação e comércios ativos, eventualmente trazem a seus moradores um sentimento mais expressivo de pertencimento a aquele espaço. Em bairros mais corporativos, por outro lado, onde a relação é exclusivamente laboral, o fluxo de pessoas é quase idêntico dia a dia – o espaço de circulação intensa em horários de pico se torna, à noite e aos finais de semana, um ambiente irreconhecível, findo. O mesmo fenômeno está presente em regiões predominantemente residenciais onde a rua, cercada de altos muros, guaritas e iluminação baixa, torna o caminhar público uma atividade quase que hostil para os menos corajosos. Aquele ambiente, em consequência de seu desenho e ocupação, não criará vínculos afetivos com nada a seu redor, e consequentemente pouco será valorizado e cuidado. 43


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[26] Festa da Achiropita no Bairro d Bixiga. Crédito: Divulgação CatracaLivre

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a l i [27] Liberdade. Foto: @ig.hud

A imigração em São Paulo possui diversos pontos focais que envolvem diferentes grupos. No centro da cidade, mais precisamente no bairro da República, comunidades africanas diversas se apropriaram daquele lugar ao longo dos últimos anos e, graças aos calçadões, espaços abertos e parques, encontraram naquela região seu local de expressão. Por meio de movimentos culturais, expressões artísticas e comércio de rua, a cultura africana hoje é parte central na composição daquela paisagem. Assim, aos poucos, os imigrantes não mais são estranhos naquela região, mas possuem um papel fundamental na construção de uma sociedade mais tolerante, plural e diversa.

Na Praça da República, todas as segundas-feiras a partir das 19h, há uma cerimônia muçulmana com tambores africanos, em que homens dançam e cantam para Alá, usando elementos da cultura do continente, o que faz os rituais serem confundidos com vodu. Mas essa vertente do Islã é chamada de Muridismo e é praticada principalmente no Senegal. (DIAS, 2019)

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[28] República vira pequena África, 2019. Foto: Heitor Salatiel

Ao longo de toda sua trajetória, São Paulo manejou de forma muito eficaz a apropriação de seus espaços públicos de maneira a fortalecer sua própria imagem. Em uma metrópole com mais de 12 milhões de habitantes, a cidade só pode crescer graças a pulsante insistência de diversos grupos em se expressar – ocupar a cidade para poderem ver e serem vistos. Caso esta ocupação não existisse, pouco ou nada novo surgiria na capital. A livre expressão dos diferentes gostos existentes são o que permitem a ela se inserir em um cenário global, conectado e em constante mudança.

O que enriquece a metrópole são os encontros.

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2.2 a cidade pequena A história de Itajobi começa em 1884, quando é doada a “Fazenda Campo Alegre” e loteada em pequenas parcelas, para que o adensamento das famílias rurais criasse um conforto coletivo e uma comunidade próspera. Passados dez anos a cidade mostra seu primeiro grande salto em desenvolvimento com a vinda de imigrantes italianos, alemães e sírios, que impulsionaram a agricultura de café e o comércio local. A partir desta massa imigratória e do crescimento acelerado, em 1907 este então nomeado “Campo Alegre das Pedras” torna-se “Vila Itajuby” e passa a apresentar nos anos seguintes os primeiros sinais de infraestrutura urbana em praticamente todo o seu perímetro. Finalmente, em 1919 fora fundado o município de Itajobi, comarca de Itapolis.

[29] Itajobi com ruas traçadas; ao fundo, a igreja matriz. Fonte: arquivo pessoal Dra. Lourdinha Bórsio Bataglia 46


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[30] “Novos chegados em Itajobi”. Arquivo pessoal: Aparecida Mancuso

Itajobi provem do Tupi para: Ita: pedra (itaúna) Juby: preciosa ou boa A cidade, hoje com pouco mais de 14 mil habitantes, teve seu crescimento ordenado de forma bastante similar as outras cidades do interior brasileiro. Com densidade populacional muito baixa e com vínculos interpessoais bastante fortes, a cidade se destacou nos últimos anos pelo plantio de frutas cítricas, especialmente o Limão do tipo Tahiti (em 2018, Itajobi e região representavam cerca de 80% de toda a produção brasileira). A cidade, embora próspera, não crescera de forma proporcional ao crescimento econômico – se não fosse por políticas habitacionais, estaria em déficit habitacional e sua população em nada seria diversificada. Itajobi não atrai novos habitantes, mas tem o corriqueiro hábito de trazer de volta seus antigos moradores que saíram de casa quando jovens para “ganhar a vida” em outras cidades e agora voltam em sua fase adulta para se aproximar de seus familiares que permaneceram na cidade.

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Urbanisticamente, a cidade fora planejada em etapas muito distintas e pouco coesas – diferente da capital do estado, Itajobi não possui uma malha urbana desenhada pela aglomeração de pessoas de mesmo gostos. Seu traçado original foi desenhado para acolher os imigrantes estrangeiros e, passado isso, sua expansão se deu quase que de forma mecânica – novas pessoas viriam e assim novos loteamentos seriam feitos. Nessa fórmula, nunca se prezara por de fato desenhar novos bairros. O centro já estava consolidado com toda a infraestrutura urbana em meados do século XX e o que viria a seguir, não importasse a distância deste, seriam apenas casas isoladas. [31]Diferença da malha urbana. Diagrama do autor.

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[32] > Cotidiano,2019. Foto do autor


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A relação afetiva então presente nestes bairros, portanto, são bastante semelhantes: por trás das grades residenciais é comum se ver em primeiro plano a atalaia - uma singela varanda onde ficam os remanescentes vigilantes da rua, à espreita para qualquer situação cotidiana. Na rua, cercada de carros prateados, o baixo movimento de pessoas deixa o velho vigilante entediado pois aquilo pouco se parece com as ruas de outrora. As manifestações culturais que tomavam conta da praça pública estão longe demais dali – a ponto de não se ouvir mais seu movimento, mesmo em uma cidade tão pacata – e aquela rua possui poucos atrativos capazes de enchê-la de vida novamente. Em uma recente experiência de diversidade, Itajobi recebera em sua parte mais ao norte 102 unidades habitacionais da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) voltadas as famílias brasileiras em situação vulnerável de todo o país. A inserção destas novas famílias trouxe, quase que de forma mandatória, um conjunto de novas culturas (muitas vezes desconhecidas) para o convívio diário daquelas famílias tradicionais que habitavam a cidade de forma tão despreocupada. O resultado imediato desta, e de outras intervenções anteriores, não poderiam ter sido diferentes: o acolhimento popular desejado, que nunca houvera sido estimulado, resultara em um cenário de estranhamento na cidade – o que eventualmente passou a atribuir a violência, o desemprego e o tumulto em geral à vinda destes forasteiros para este ambiente conservador.

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Itajobi ainda peca por bons espaços de convívio. Para estes novos residentes da cidade, a tarefa de entender o contexto no qual agora se encontravam fora difícil – nesta nova cidade não existiam (e ainda não existem) centros públicos que enaltecem a história local, ou ao menos bibliotecas públicas e museus para uma consulta mais ampla sobre conhecimentos gerais e sobre a própria história de Itajobi. O que viriam a conhecer de Itajobi nos anos seguintes, portanto, viria do convívio social natural – e a cidade não seria para eles um agente facilitador. Estranhamente, em resultado desta política de habitação desprendida de cuidados de inclusão, a cidade de Itajobi se viu em uma condição não muito favorável de envelhecimento: por um lado, a vinda de novos habitantes fez da cidade um centro mais diversificado e com mais visibilidade, mas ao mesmo tempo pareceu enfraquecer a identidade cultural da cidade; por outro lado, caso não fosse incentivado o adensamento local, a cidade estaria em constante inércia no cenário global – desprendida da onda de desenvolvimento e globalização atual. A solução, talvez, para a reversão deste ciclo vicioso, seja primeiro engrandecer as tradições e histórias locais para que estas não se percam e, assim, permitir que novos enredos sejam adicionados a esta história, favorecendo a cena cultural para livre expressão de todos os novos e velhos moradores. Assim, como mencionado no caso do centro das metrópoles, cada grupo se apropriará de seu território e juntos complementarão a paisagem local. Este estudo de pesquisa e projeto arquitetônico busca, portanto, oferecer o acolhimento e o encontro.

[33] < Comércio de rua em Itajobi, 2019. Foto do autor 51


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parte 02: créditos iconográficos [20] Fonte: Acervo pessoal, ilustração do autor [21] Fonte: Acervo pessoal. [22] Fonte: Acervo pessoal. Foto do autor [23] Fonte: Acervo Fundação Tot Raval [24] Fonte: Acervo pessoal. Foto do autor [25] Fonte: FERRAZ, Marcelo Carvalho [org.] Lina Bo Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e PM Bardi, 1933 [26] Fonte: Disponível em: < https://catracalivre.com.br/agenda/festa-nossa-senhora-achiropita-bixiga-sp/ >. Disponível em 27 jun. 2020. [27] Fonte: Printscreen da publicação de @ig.hud em 28/06/2020. Fonte: Instagram. [28] Fonte: Disponível em: < https://www.cartacapital.com.br/blogs/guia-negro/ no-centro-de-sao-paulo-surge-uma-pequena-africa/ >. Disponível em 10 jul. 2020. [29] Fonte: Arquivo pessoal Dra. Lourdinha Bórsio Bataglia [30] Fonte: Arquivo pessoal: Aparecida Mancuso [31] Fonte: Diagrama do autor [32] Fonte: Foto do autor [33] Fonte: Foto do autor


30 ETRAP ONODNABA OD OXELFER acitílop oãçapicname


PARTE 03 REFLEXOS DOS ABANDONO emancipação política

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[34] < Desfile político, 2014. Foto do autor

Retomando à obra de Sérgio Buarque, em um contexto histórico, a formação política do povo brasileiro fora tumultuada desde sua origem. Como menciona o autor, desde os primórdios da história nacional já existia a figura paternal antipolítica - como um trauma surgido da exploração colonial. Um Estado desmoralizado, eventualmente, encontrara sua maneira de exercer o poder na República Velha, com o auxílio dos latifundiários – quem de fato retinha maior influência frente a população. Neste momento surgia a figura do coronel no Brasil. O termo coronelismo é um brasileirismo criado na República Velha para definir uma complexa estrutura de poder oriunda da hipertrofia da força privada (o coronel fazendeiro) sobre o poder público (o Estado). Muito comum até o começo do século XX, o sistema consistia em os coronéis se usarem de diversos recursos para manipular as eleições e manterem aqueles que melhor representavam seus interesses próprios no poder. Em suma, estes recursos ficaram conhecidos como o voto de cabresto, a fraude nas urnas, a política do café-com-leite e principalmente a Política dos Governadores: política na qual os governadores dos estados e o presidente da República faziam acordos políticos, na base da troca de favores, para governarem de forma tranquila. Os governadores e seus íntimos coronéis não faziam oposição ao governo central e ganhavam, em troca deste apoio, liberação de verbas federais. Esta prática foi criada pelo presidente Campos Sales (1898-1902) e fortaleceu o poder dos coronéis em seus estados. Apesar do proclamado fim destas práticas em 1930 com a eleição de Getúlio Vargas, algumas heranças ficaram e ainda prevalecem desta prática histórica. A compra e coerção de votos e a fraude eleitoral ainda são hábitos presentes nas eleições nacionais. Para muitos, o voto em branco e nulo, apesar seu viés de protesto, também são tidos como marcas destas práticas antigas para possibilitar a entrada de determinado candidato no poder - já que reduzem a quantidade de votos necessários para a eleição. Involuntariamente, uma herança bastante significativa desta época foi a crença de que, em locais onde o Estado já é menos presente, os maiores empregadores locais deveriam usar de sua influência popular para manipulação política e criação de tendências a seu favor. 55


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Segundo retrato de LEAL, 1997, a “decomposição do coronelismo só será completa, quando se tiver operado uma alteração fundamental em nossa estrutura agrária”. Contudo, como essa ação não se dá rapidamente nem de forma contínua, além de apresentar contradições, ainda não foi possível uma solução final satisfatória. O autor ainda afirma que o “atraso cívico e cultural” do povo, e especificamente da população rural, seria um dos maiores fatores de impedimento das mudanças políticas no Brasil.

[35] ^ As Próximas Eleições... “De Cabresto”. Fonte: Storni, Careta, 1927. Apud: Renato Lemos (org) 56


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[36] < Grito do Ipiranga às Margens do Pendotiba. Fonte: J. Carlos, 1921

Aproximando este cenário aos dias atuais, a figura do coronel se desenvolve em um novo contexto. O território inexplorado permite naquele espaço o fenômeno da distorção infrene de informações políticas e tendenciosas, provindas daqueles que hoje “dominam” certa região – aqueles que empregam nas lavouras parte significativa da população e concentram assim a maior parte da renda. Fenômeno este de manipulação desgovernada se esperaria ter sido barrado com o atual amplo acesso a informações, mas recentemente provou-se ineficaz e justamente contrário – a disseminação em massa de informação gera também a maior distorção possível da mesma. Em seu mais recente estudo, Countryside – The Future, Rem Koolhaas afirma:

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Outra “terra incógnita” é sem dúvida de que temos uma situação de “tabula rasa” com poucas informações a respeito. Existem pouquíssimas pessoas verificando a legitimidade das informações ou dos discursos propagados no campo ou em áreas não urbanas... então o espaço rural se torna uma página em branco na qual qualquer narrativa pode ser proferida sem o menor policiamento tanto para um viés de extrema esquerda quanto de extrema direita. Portanto, ao mesmo tempo em que favorece os banqueiros, o espaço se torna totalmente suscetível à especulação, assim como um território de produção abundante de alimentos pode se tornar um ambiente de fome extrema... (KOOLHAAS, 2012)

A figura do coronel hoje, portanto, não é comprovadamente associada a acordos políticos como na República Velha, mas sim à desmoralização da máquina do Estado. O movimento liberal, de crescente ascensão mundial nos últimos anos, favorece este Estado-mínimo e assim credita maior responsabilidade na figura do empresário/ latifundiário/ empregador local – quer este a almeje ou não. O resultado desta condição atribui à cidade rural o status de terra de especulação, onde seus moradores não reparam nessa problemática e vivem a frágil ilusão do populismo na qual “alguém está fazendo algo por nós”. O governo despreparado que esta nova figura exerce não é arquitetado para melhorar a realidade local (certamente

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não a longo prazo) – suas frases de efeito com o tempo se desvendarão em discursos de campanha e seus projetos, ricos em boas intenções, facilmente cairão no abandono eminente. Vale ressaltar, brevemente, em que contexto este discurso é propagado do palanque: aquele com o microfone usa de sua familiaridade com o público para apresentar “respostas” bastante pontuais, falando a linguagem informal, sem se aprofundar muito em nenhuma medida específica. Todo o desenrolar do apresentador visa tornar o grande público suscetível as condições que ele mesmo cria e apresenta, sem que a população possa reconhecer suas verdadeiras necessidades. A realidade daquele no palanque é outra: ele, diferente do público a quem se direciona, não é dependente exclusivo das escolas ou hospitais locais por exemplo – ele possui os recursos necessários para se estruturar independente do êxito de suas promessas, e em momento algum deixaria isso transparecer. Contudo, influência do coronel e a desinformação da população por interesses próprios não são exclusividades da condição rural. A bancada ruralista, junto à influência do agronegócio tem presença nos debates das metrópoles e participação em muitas decisões políticas de âmbito nacional e mundial. O que cabe à cidade rural e vilarejos de baixa população é a emancipação política para que se reconheçam suas reais necessidades e carências e assim se garanta maior participação estatal. Faltam espaços de debate na cidade rural. Falta voltar os olhos para sua própria história no país e condição real na atualidade para que se projete seu papel no futuro. O empoderamento da população para a geração dessas discussões dentro de sua própria cidade é fundamental, e neste cenário a arquitetura e o urbanismo tem seu dever a cumprir. Espaço algum neste país deve ser deixado a deriva ou ser menosprezado.

[37] < “terra incógnita”, 2011. O espaço não urbano no mundo (modificado). Fonte: acervo OMA

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parte 03: créditos iconográficos [34] Fonte: Acervo pessoal, foto do autor [35] Fonte: Storni, Careta, 1927. Apud: Renato Lemos (org) [36] Fonte: J. Carlos, 1921 [37] Fonte: acervo OMA


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PARTE 04 DIFERENTES INTERPRETAÇÕES DE UMA PANDEMIA sintomas de um vírus

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[38] < “Nova Iorque fantasma em horário de pico”, 2020. Foto: Jeenah Moon/ Reuters

pt. 04 [39] “ 3 de fevereiro em Wuhan, China”, 2020. Foto: Acervo National Geographic

No dia 1 de dezembro de 2019 surgiu um novo vírus em Wuhan, cidade na província de Hubei, na República Popular da China. O vírus COVID-19 (do inglês, Corona Virus Desease 2019) tem sintomas similares a uma gripe comum, mas pode evoluir de forma grave e ainda não possui nenhum tratamento de eficácia comprovada. Muito contagioso, o vírus é letal principalmente para aqueles que se enquadram no denominado “grupo de risco”, ou seja, idosos, imunodeprimidos, diabéticos, hipertensos, quem tem insuficiência renal crônica, doenças respiratórias crônicas ou doenças cardiovasculares. O primeiro caso reportado foi no dia 31 de dezembro de 2019 e a partir de então, na mesma semana já estariam confirmados mais de 40 casos na cidade de Wuhan. A primeira morte decorrente da epidemia ocorreu dez dias depois de seu primeiro diagnóstico. Em janeiro, o vírus já se espalhava de forma descontrolada para outras cidades da China. Em 23 de janeiro de 2020, Wuhan foi colocada em quarentena, sendo a primeira cidade a decretar esta medida de extrema emergência, em uma tentativa de se isolar o vírus para conter seu contágio. No dia seguinte, entretanto, a Europa confirma seu primeiro caso – na França -, confirmando a globalização do vírus. Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde toma sua primeira medida de urgência e declara o surto uma pandemia – termo que caracteriza a doença como global e em grande propagação.

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4.1 a doença no Brasil Dia 25 de fevereiro, em plena ressaca de carnaval, foi anunciado o primeiro caso de COVID-19 no Brasil - um homem de 61 anos, do estado de São Paulo e que retornava de uma viagem à Itália. A partir deste primeiro caso, e seguindo as curvas de disseminação que estavam sendo registradas em outros países, mais casos começaram a aparecer progressivamente. Os primeiros casos consistiam em pessoas que estavam voltando de viagens internacionais de países com alto número de infectados ou que haviam entrado em contato com alguém que havia retornado. A situação no país se agravou na segunda semana de março de 2020 quando a comitiva do presidente Jair Bolsonaro retorno de uma viagem aos EUA com muitos integrantes infectados pelo vírus. Na mesma semana foi declarado que o vírus já estava na fase de transmissão comunitária em São Paulo e no Rio de Janeiro (quando não é mais possível conectar o infectado a sua origem, como uma viagem ou outra pessoa infectada). Três dias depois, em meio ao aumento da tensão nacional com a pandemia, o presidente, contrariando as indicações sanitárias de diversos órgãos, foi às ruas em apoio a um ato pró-governo e contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.

[40] < “O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta manifestantes em frente ao Palácio do Planalto.”, 2020. Foto: Sérgio Lima/ AFP

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A partir desta manifestação o clima muda radicalmente. Na semana seguinte (16 de março), grandes empresas começam a adotar o trabalho remoto, comércios fecham suas portas e mercados lotam com a busca de suprimentos básicos. No final da semana, o governador do Estado de São Paulo, João Dória (PSDB), decreta quarentena no Estado, inicialmente por 15 dias, mas que se estenderia, devido ao agravamento da situação, até o atual momento de redação - quatro meses depois – com variados graus de restrições a depender dos números de casos, óbitos e a capacidade do sistema de saúde.

[41] Sabado na praça Roosevelt em quarentena. Foto do autor.

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Passados mais de 100 dias de enfrentamento da pandemia, 1,5 milhão de casos confirmados e mais de 60 mil vidas perdidas, o combate ao novo coronavírus gerou também consequências em outros campos do cenário nacional. Hoje, no início de julho de 2020, o Brasil enfrenta uma grave crise política com um presidente com altos níveis de rejeição e atualmente sem partido político. Em meio a pandemia, dois Ministros da Saúde pediram exoneração do cargo por não conseguirem implantar suas políticas de forma satisfatória e serem constantemente contrariados pelo próprio presidente; a pasta está a cerca de 50 dias sem a indicação de um novo ministro, com um general tendo assumido o cargo de forma interina. A pasta da Secretaria da Cultura também foi trocada duas vezes neste período; o Ministério da Educação também fora abandonado duas vezes e ainda segue sem nenhum responsável. Ainda em meio ao caos, o ex-juiz Sérgio Moro abandonou o cargo de Ministro da Justiça, acusando o presidente de estar envolvido em casos de corrupção e manipulação da Polícia Federal, fragilizando em muito a imagem do presidente, que desde então segue sendo acusado de envolvimento em cada vez mais casos de corrupção, manipulação e disseminação de notícias falsas.

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4.2 a disseminação da notícia Até o atual momento a única forma comprovadamente eficaz de se combater o vírus é o distanciamento social. Achatar a curva de disseminação da doença é a única maneira de se garantir leitos para o atendimento da população – os tratamentos existentes são experimentais, demorados e requerem extrema dedicação dos profissionais da saúde. Esta ação preventiva, que fora adotada na grande maioria dos países, obviamente tem seu impacto na economia, e por esse motivo foi alvo de muita crítica e relutância. Sendo o Brasil o primeiro país subdesenvolvido afetado em larga escala pelo vírus, abriu-se a discussão de que, aqui, as consequências econômicas causadas pelas medidas restritivas adotadas serão mais prejudiciais do que o próprio vírus. “O Brasil não pode parar dessa maneira, o Brasil não tem essa condição. As consequências [econômicas] serão muito maiores do que as pessoas que vão morrer por conta do coronavírus” - afirmou Junior Durski, dono da rede de hamburguerias Madero. O próprio presidente Bolsonaro se posicionou ao longo dos primeiros meses abertamente contrário às medidas sugeridas pela OMS, defendendo de forma inconsequente a volta à normalidade dos trabalhos e escolas. O principal argumento adotado se baseia na baixa mortalidade do vírus e na crença da eficiência de medicamentos como a hidroxicloroquina, mesmo sem qualquer comprovação científica e sem o apoio da Organização Mundial da Saúde, que recentemente encerrou os testes com o medicamento por não comprovar nenhuma grande eficácia no tratamento. “O vírus chegou, está sendo enfrentado por nós e brevemente passará. Nossa vida tem que continuar, empregos devem ser mantidos, o sustento das famílias deve ser preservado, devemos, sim, voltar à normalidade” disse o presidente em 24/03 na rede aberta de televisão. [42] < Casos confirmados de covid-19 em países selecionados. Apresentando números de casos desde o 100º caso registrado. Números de 5 jul 2020. Fonte: The Guardian 67


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O acesso à informação e a mobilização coletiva como a única maneira de salvar milhares de vidas é o que traz este tema para o trabalho. Todas as informações de prevenção e contenção da doença foram divulgadas abertamente e de forma didática ao público para que se entendesse que o esforço de fechar empresas e desacelerar a economia seria um sacrifício necessário nos dias de crise - sempre salientando que perdas econômicas ocorreriam e seriam difíceis, mas que o mais importante é a preservação das vidas. Apesar de todos os esforços, em muitos lugares foram formados grupos de relutância e descrença das informações científicas, fortalecidos pela crise política e com alto poder de discriminação de fake news.

[43] Apoiadores de intervenção militar se aglomeram durante discurso do presidente Jair Bolsonaro em Brasília (19. abr.2020). Foto: Gabriela Biló/ Estadão Conteúdo.

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O país que se encontra em um estado de extrema polarização criara nos últimos anos o hábito de questionar não a notícia, mas o noticiário. O posicionamento político de cada plataforma de informação tornara-se cada vez mais explícito e por esta razão parte significativa da população passou a recorrer a meios de informação alternativos. A figura do coronel, apresentada no capítulo anterior deste trabalho, é um exemplo claro de formador de opinião que ganhara bastante visibilidade neste tipo de cenário. Em cidades rurais a beira do colapso emocional e econômico, por exemplo, este novo “coronel”, que poderia ser um latifundiário de renome na cidade, mal sentiria o impacto econômico da crise. Este poderia então usar de sua influência para manipular as informações ao seu favor, fortalecendo a figura do presidente em detrimento do Estado, desacreditando a gravidade da doença e as informações trazidas pela mídia profissional e tradicional. Em avalanches de mensagens pelo aplicativo whatsapp (outra importante fonte de disseminação de informações, nem sempre verdadeiras) empresários, políticos e acionistas também instauraram o caos e problematizam as condições de superação desta pandemia – a título de exemplo, em abril deste ano o vereador do Rio de Janeiro e filho “02” do presidente, Carlos Bolsonaro, foi identificado pela Policia Federal como articulador de um esquema criminoso de fake news utilizado para atacar e acuar ministros do STF e integrantes do Congresso. Em todo o Brasil, o uso de informações e desinformações vem sendo substancial na tentativa de se manter a ordem no país. Na capital paulista, onde ocorrem constantes debates sobre o uso da cidade, o isolamento segue ocorrendo há 132 dias e os números de óbitos pelo vírus seguem crescendo de forma controlada. Por outro lado, no interior do estado, a situação mostra sinais críticos: considerado o novo epicentro da epidemia, em 25 de junho o interior registrou pela primeira vez um número total de óbitos e de casos superior ao da capital. Nestas cidades, em sua grande maioria, a adesão às políticas de isolamento é significantemente menor que na capital e não se vê nenhum sinal de mudança próxima, mas ao contrário, cresce uma recorrente pressão pela reabertura do comércio, serviços e para o retorno “à normalidade”.

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A “normalidade” referida, todavia, vem se mostrando ultrapassada à medida em que a população mundial vem se adaptando às novas rotinas de trabalho. O exercício remoto, passada a fase de adaptação, permitiu à população se atentar aos males rotineiros que já haviam se naturalizado em suas atividades laborais pré-pandemia - como as exaustivas jornadas de locomoção ao trabalho e o distanciamento constante da família e a sua moradia. A título de exemplo, o próprio desenvolvimento deste trabalho de monografia e toda a rotina de seu autor se alteraram drasticamente para se adequar a esta realidade do “novo normal”. Todo este projeto de conclusão de curso fora concluído longe do instituto acadêmico de formação, fora da capital São Paulo (mais precisamente em Porto Alegre – RS e em Americana –SP) e sempre com atendimentos virtuais programados.

Curiosamente, esta medida mencionada de regressar da capital para o interior não fora uma exclusividade do autor. Seja para economizar no aluguel ou para se aproximar dos familiares, acredita-se que uma quantidade significativa de brasileiros optou por deixar os grandes centros e voltar – mesmo que temporariamente – para suas cidades de origem. Em tempos de tamanha tensão social no país, o sossego predominante em 70


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cidades menores e a reaproximação com entes queridos surgiu como uma alternativa agradável para se tomar proveito de uma situação tão excepcional como esta. A que se preza esta pesquisa, este exercício de trabalho remoto é compreendido como uma oportunidade única de se “redescobrir” a vida no interior. Contanto que se estabeleça o acesso à internet, as atividades laborais antes exclusivas às grandes capitais poderão agora ser exercidas remotamente em acordo com uma qualidade de vida mais pacata, típica de cidades menores. Novas relações de adensamento urbano tanto em grandes capitais quanto em pequenas cidades certamente serão um legado deixado pela pandemia. Além dos problemas pontuados anteriormente a respeito das condições sociais de ocupação na metrópole, o espaço urbano desta também vinha mostrado seus sinais de saturação: Os tumultos diários na rede de transporte público, os engavetamentos nas avenidas, a baixa qualidade do ar e a especulação imobiliária são exemplos desta constatação, que vinha se agravando nos últimos anos e agora, neste cenário atual de extrema exceção talvez encontre uma solução a ser trabalhada. Não se sabe quando exatamente o Brasil retomará suas atividades públicas livremente. Hoje, no início de julho, já estão atuantes em muitos centros do país as primeiras medidas de volta à livre circulação de pessoas e a retomada gradual do comercio de rua - ainda que com os cuidados necessários. A pandemia que marca o ano de 2020, por fim, terá suas consequências trabalhadas por muitos anos à frente e este trabalho, ao que lhe cabe, busca trazer um cenário de oportunidade criativa para que aprendamos com os erros passados e elaboremos então soluções melhores.

[44] < Aeroporto Internacional de Guarulhos deserto em abril de 2020. Foto do autor. 71


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parte 04: créditos iconográficos [38] Fonte: “Imagem de cidade fantasma se repete enquanto Nova York caminha para pico da pandemia”. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/mundo/ nova-york-se-transforma-em-cidade-fantasma-diante-dos-efeitos-do-novo-coronavirus-1-24342291 > Disponível em 15 jun. 2020. [39] Fonte: acervo Getty Image/ National Geographic [40] Fonte: “Orientação para aglomeração é ‘não’ a todos, diz ministro da Saúde sobre Bolsonaro”. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/03/orientacao-para-aglomeracao-e-nao-a-todos-diz-ministro-da-saude-sobre-bolsonaro.shtml > Disponível em 25 jun 2020. [41] Fonte: acervo pessoal, foto do autor [42] Fonte: The Guardian/ Johns Hopkins CSSE. Disponível em: < https://www. theguardian.com/world/2020/jul/12/coronavirus world-map-which-countries-have-the-most-covid-19-cases-and-deaths -world-map-which-countries-have-the-most-covid-19-cases-and-deaths> Disponível em 05 jul 2020. [43] Fonte: Disponível em: < https://www.cnnbrasil.com.br/politica/2020/04/20/ pedido-de-inquerito-sobre-atos-pro-intervencao-cita-deputados-mas-nao-bolsonaro > Disponível em 05 jul 2020. [44] Fonte: acervo pessoal. Foto do autor.


50 ETRAP LAMRON OVON levátnetsus edadic


PARTE 05 NOVO NORMAL cidade sustentável

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05 O adensamento urbano, enaltecido desde a argumentação proposta por Jane Jacobs em 1961, nem sempre fora a solução mais trabalhada entre os arquitetos. Passada a Primeira Revolução Industrial e a mudança radical do funcionamento da cidade americana, muitos arquitetos se debruçaram a se adaptar a este novo cenário, formando a cidade tradicional, enquanto outros tornaram a critica-la. Em 1932, Frank Lloyd Wright apresenta sua análise principal publicando o livro “The Disappearing City” e, três anos depois expõe ao público - por meio de uma maquete em grande escala exibida no Rockefeller Center, em Nova Iorque – seu plano para uma cidade ideal: The Broadacre City.

[45] < Poluição em Nova York, 2016. Foto de autoria desconhecida modificada pelo autor. [46] Frank Lloyd Wright examina o modelo físico. Fonte: Frank Lloyd Wright Foundation, 1935

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O icônico projeto apresentado por Wright consistia fundamentalmente em questionar o rumo de desenvolvimento tomado pelas cidades americanas. “Wright gostava de citar Emerson*, poeta e filósofo americano, que dizia que “as cidades forçam o crescimento e tornam os homens loquazes e divertidos, no entanto, artificiais”. Wright, embora fosse do interior, nunca foi exatamente introvertido ou casmurro, mas também não era artificial. Wright julgava que a artificialidade era o resultado da vida antinatural e a grande e tumultuosa metrópole industrial era fundamentalmente antinatural.”

O nosso destino democrático não pode ser cumprido pelo simples industrialismo, por maior que ele seja [...] somos dotados, por natureza, de uma vasta agronomia. Na proporção humana do industrialismo e da agronomia, produziremos a cultura que cabe à democracia orgânica... (BLAKE, 1966)

Portanto Wright propunha em seu manifesto o modelo oposto ao adensamento da cidade - segundo o arquiteto o ser humano só poderia se desenvolver em sua totalidade quando em contato constante com a natureza. Pensamento de extrema pertinência na época, uma vez que, no início da Revolução Industrial, a presença das fabricas nas cidades – o que era visto como grande marco da civilização - havia tornado aquele espaço um ambiente insalubre, de péssima qualidade do ar. Assim, a vida no campo passou a ser idealizada, sobretudo pelas classes sociais não diretamente envolvidas na produção agrícola e a partir deste cenário surgira a proposta urbana. O projeto de Wright acontece em uma comunidade hipotética de 10km² e seria uma declaração de planejamento e um esquema sócio-político inspirado em Henry George, pelo qual cada família dos EUA receberia um lote de 1 hectare de terra. Como descreve Françoise Choay em seu livro “O Urbanismo”:

[47] > The Broadacre City. Fonte: Frank Lloyd Wright Foundation, 1935 76


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A natureza volta a ser ali um meio contínuo no qual todas as funções urbanas estão dispersas e isoladas sob a forma de unidades reduzidas. O alojamento é individual: não há apartamentos, mas casas particulares, cada uma com pelo menos quatro acres de terreno, que os ocupantes dedicam à agricultura (atividade privilegiada da civilização dos prazeres, segundo F. L. Wright) e aos lazeres diversos. Ora o trabalho está situado ao lado do alojamento (oficinas, laboratórios e escritórios particulares), ora se integra em pequenos centros especializados; unidades industriais ou comerciais são cada vez mais reduzidas ao maior volume considerado viável, destinadas a um mínimo de pessoas. Acontecendo o mesmo com os centros hospitalares e culturais, cujo número compensa a dispersão e a escala geralmente reduzida. Todas essas células (individuais e sociais) estão ligadas e religadas entre si por uma abundante rede de rotas terrestres e aéreas: o isolamento só tem sentido se pode ser rompido a qualquer momento. (CHOAY, 1939) 77


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Portanto a Broadacre City se apoia no partido de baixas densidades habitacionais e na descentralização de processos industriais e agrícolas, além de explorar as possibilidades de lazer no campo e de uma complexa estrutura de locomoção urbana. Segundo Philip Gunn, a obra de Frank Lloyd Wright é “o último de uma longa lista de críticos que protestaram contra o patológico mundo urbano das grandes cidades contemporâneas, pregando o retorno às origens rurais da Federação Americana.” (GUNN, 1989).

[48, 49, 50] Exposição Broadacre City, The Living City, 1958. Desenhos: Frank Lloyd Wright, 1958 [48]

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Passadas décadas de desenvolvimento urbano e feita a inclusão da indústria no contexto urbano de maneira menos nociva, o crescimento populacional e fabril dos últimos anos mostram hoje consequências menos palpáveis que o “ar irrespirável” de Nova Iorque da década de 30, mas consequências globais muito maiores – as quais devemos nos atentar no desenho da cidade. O desenvolvimento sustentável é um dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) estipulados pelas Nações Unidas na virada do ano 2000, em Nova Iorque. Reinterpretar as cidades e a própria maneira de se viver, consequentemente, são partes cruciais deste processo. Neste contexto, estudos mais recentes como aquele mencionado de Christopher Lee (Within The Frame: The Countryside as a City, 2014) tornam-se fundamentais para que se explore alternativas do morar e do projetar. Inserindo a obra de Wright nos dias atuais, certamente a produção e o consumo do alimento próprio, tal como a ampla área permeável, seriam soluções que reduziriam em muito as emissões de carbono por habitante da cidade. Em contrapartida, o baixo adensamento e a locomoção por meio de transportes motorizados a qualquer estabelecimento de necessidade própria seriam questões questionáveis da proposta, justamente por se aproximarem da atual condição de uma série de cidades rurais e subúrbios no mundo. Em Cidades Caminháveis, 2012, Jeff Speck cita o recente estudo apresentado por Scott Bernstein no “Centro de Tecnologia das Comunidades”, em Chicago. No final deste estudo são apresentados uma série de mapas referentes a emissão de carbono por residência em comparação com o preço local de imóveis e o tamanho dos quarteirões.

[52] Relação de gastos em transporte e moradia em diferentes cidades. Fonte: Scott Bernstein: Reconnecting the Nation: Meeting the Challenge of Rapid Ramp-up by Counting the Benefits of Livable Communities & Regions. 80


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[51] Mapa 01: Relação do tamanho de quadras de cada região. Mapa 02: Relação de CO2 emitido por cada familia em cada região. Fonte: Scott Bernstein: Reconnecting the Nation: Meeting the Challenge of Rapid Ramp-up by Counting the Benefits of Livable Communities & Regions.

Como se vê nos esquemas, as regiões da periferia com maiores quarteirões e famílias que se locomovem diariamente até o centro da cidade à trabalho, consequentemente, são regiões com maiores emissões individuais de carbono. Além do impacto ambiental, em questões monetárias, embora uma residência unifamiliar na periferia da cidade seja mais acessível do que um apartamento no centro, os gastos gerais se equiparam quando considerado o gasto em locomoção diária.

porcentagem da renda gasta em transporte

porcentagem da renda gasta em moradia 81


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Atribuindo este estudo à condição rural, ainda citando Jeff Speck, na maioria dos mapeamentos de carbono existentes, o campo aparece como a região menos poluente enquanto os grandes centros urbanos são facilmente identificados pela mancha de poluição.

[53]

Porém esta lógica de medição de poluentes não é completamente confiável. A medição de carbono deveria ocorrer em uma escala pessoal, assim como fez Bernstein, para que se entenda o quão sustentáveis são os hábitos das pessoas em determinada região. Os lugares devem ser julgados não pela quantidade de carbono que emitem, mas pela quantidade de carbono que nos fazem emitir. Em um dado momento, há um determinado número de pessoas nos Estados Unidos que podem ser encorajadas a viver onde deixam o menor impacto ambiental. E este lugar é a cidade – quanto mais densa, melhor. (SPECK, 2012)

Cidades rurais, portanto, por mais que não concentrem em si uma grande massa de gases poluentes como na metrópole, exigem de seus habitantes que pratiquem hábitos muito mais poluentes do que aqueles na grande cidade. Prova de que estes hábitos pessoais são os verdadeiros determinantes na condição dos poluentes - a mesma análise de satélite (retratada acima, imagem 53) que trouxe essa mancha de calor nas capitais em abril do ano passado (2019) fez a mesma análise no ano seguinte (2020) em meio a quarentena causada pela pandemia do Coronavírus (imagem 54). 82


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As cidades que mais prosperarão no século XXI serão aquelas autossuficientes, bem adensadas e com um convívio social seguro e fluido. Enquanto não existem tecnologias acessíveis para viabilizar um transporte eficiente e ecológico que permita o espraiamento urbano, o adensamento e a vida na rua seguirão sendo a melhor alternativa para o melhor funcionamento de pequenas e grandes cidades. O “novo normal” a ser adotado após a pandemia de 2020 deve ser aquele que priorize a qualidade de vida de seus habitantes, com hábitos saudáveis, e entenda as cidades – independentemente de sua escala – como um organismo em constante trabalho que compõe um cenário global muito maior.

[53] Manchas de poluição sobre São Paulo e Rio de Janeiro capturadas por imagens de satélite em abril, 2019. Fonte: Seeg [54] Manchas de poluição sobre São Paulo e Rio de Janeiro capturadas por imagens de satélite em abril, 2020. Fonte: Seeg 83


parte 05: créditos iconográficos [45] Fonte: Disponível em: < http://i.huffpost.com/gen/1240209/thumbs/o -POLLUTION-facebook.jpg > Disponível em 13 jul 2020. [46] Fonte: acervo Frank Lloyd Wright Foundation, 1935 [47] Fonte: acervo Frank Lloyd Wright Foundation, 1935 [48, 49, 50] Fonte: Disponível em: < http://www.mediaarchitecture.at/architekturtheorie/broadacre_city/2011_illustration_005_en.shtml > Disponível em 13 jul 2020. [51] Fonte: Scott Bernstein: Reconnecting the Nation: Meeting the Challenge of Rapid Ramp-up by Counting the Benefits of Livable Communities & Regions. [52] Fonte: Scott Bernstein: Reconnecting the Nation: Meeting the Challenge of Rapid Ramp-up by Counting the Benefits of Livable Communities & Regions. [53] Fonte: Seeg (Sindicato Empregados Estacionamento Garagem Estado São Paulo) [54] Fonte: Seeg (Sindicato Empregados Estacionamento Garagem Estado São Paulo)


60 ETRAP OIASNE O lautejorp oãçnevretni


PARTE 06 O ENSAIO intervenção projetual


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6.1 washington luís

Não nasci em Itajobi. Muito menos tive a pretensão ou sonho reprendido de morar lá. Sempre foi – e ainda é – a cidade onde meus pais, tios e avós nasceram e cresceram. É para onde todos eles voltam suas orações diariamente e onde grande parte reside até hoje. Quanto a mim, a minha relação com a cidade se resume a viagens breves ou a algumas estadias um pouco mais longas. Eu vou explicar: Eu nasci e cresci em Americana, São Paulo. Sempre morei em edifícios altos - com vistas para outros edifícios altos - em um bairro central, bastante estruturado na cidade. Minha infância ali se resumia a fazer esportes no térreo murado do Edifício Marrocos (na época o maior da cidade), jogar vídeo games na casa de amigos do condomínio ou ir para a casa de outros amigos, em bairros residenciais para também jogar vídeo game ou – raramente - brincar na rua. Uma infância privilegiada e, no entanto, muito diferente daquela que meus primos itajobienses tiveram. [55] Implantação explodida do projeto. Imagem do autor.

[56] Rancho cafundó, 2014. Desenho do autor. 87


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Minhas passagens por Itajobi sempre foram pontuais. De 95 até 2010 minha relação com a cidade dependia do esforço dos meus pais em tirar um final de semana para visitar a família. Esse esforço se resumia em dirigir por 3 horas na Rodovia Anhanguera e Washington Luís na sexta-feira à noite, passar o final de semana com a família e velhos amigos e depois, no domingo logo depois do futebol, encarar as mesmas 3 horas para voltar. A partir de 2010 creio que minhas visitas se tornaram mais frequentes – ou talvez só mais significativas – pois agora minha mãe havia se mudado pra lá, o que trouxe um novo significado para aquela cidade e tudo o que representa. Foram nessas viagens que eu conheci a unidade da minha criação. Conhecer Itajobi significou conhecer melhor, também, Americana. Meus primos de lá (com a exceção de um) não jogavam vídeo game, não moravam em prédios altos e mal tinham muros em suas casas. Lembro de passar tardes vendo provas a cavalo, com o barulho alto do locutor, o cheiro forte de churrasco e cigarro impregnados na camisa e bota e os copos de plástico com cerveja. Lembro também de sair de caminhonete com o meu tio para pescar em um lago perto da cidade, o que nos ocupava até o sol se pôr – em uma paisagem fantástica do horizonte limpo com nada além de plantações de limão, cana ou eucalipto. As festas juninas eram especialmente únicas, com a fogueira de São João, a oração do Terço e o levantamento do mastro em homenagem aos 3 santos católicos homenageados naquele mês: São Pedro, São João e Santo Antônio.

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Naquele cenário não pareciam haver motivos para ficar em casa, mas ainda assim, ironicamente, minhas maiores memórias ali são na verdade em lugares privados. Ainda com o filtro do olhar de uma criança, confesso que na maioria das vezes o usual era ficar recluso durante a tarde, seja para receber pessoas na sala ou para correr na grama da chácara, e no final do dia sair pra comer um lanche no Floresta ou uma pizza no Grégio. Conversando então com os meus primos, descobri que a rotina deles em dias de semana realmente se limitava aos contatos dentro do espaço escolar e depois na casa de algum amigo, se não fossem pelos seus avós que ainda mantinham o habito de sentar na calçada para ver o movimento na rua e saudar os vizinhos, pouco ou nada acontecia em espaços públicos. Essa rotina sim, não se diferenciava muito daquela vivida em Americana. Uma vez que as ruas já não eram consideradas tão seguras, brincar desprotegido não poderia ser mais uma opção em lugar nenhum. Aquele romantismo que cresci ouvindo dos meus pais em brincar na rua, ir em quermesses e no “baile da cidade” foi cada vez mais desvendado como coisa do passado, nostálgica. Aquela cidade saudosa já não passava de um cenário idealizado que por algum motivo se perdeu ao longo dos anos. O salão de festas havia caído em desuso, o clube privado de acesso limitado perdera seu objetivo de lazer já que agora as reuniões familiares aconteciam nos espaços residenciais unifamiliares, em sítios ou quintais. As quermesses aconteciam cada vez menos e o fluxo na praça central já não era mais tão convidativo.

[57] < Lagoa do bairro do monjolinho. Foto: Raul Oliveira 89


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Nada naquele lugar se assemelhava à cidade das histórias onde meu pai formou sua primeira banda, a Estilo 6, em 1969 no auge dos Beatles para tocar em bailes enormes do agora falido clube. A oferta de entretenimento jovem certamente era outra – meu pai, os pais dele e seus colegas participaram de grupos de teatro, escolas de samba da ala jovem, carnaval de desfile de rua e inúmeros bailes abertos da cidade. Ambiente de festa este que nada se aproximou a minha rasa adolescência em Itajobi, que se resumia em frequentar chácaras isoladas da cidade com um som alto, mas principalmente em circular de carro pela cidade como um sinal de presença na noite, para que daí surgisse o convite para qualquer que fosse a chácara da vez.

[58] Banda Estilo 6, 1969. Acervo pessoal.

Então minha investigação em projeto surge dessa análise cronológica, desde essa cidade ideal resgatada da memória familiar, passando pelas cidades de Itajobi e Americana vividas desde 1995, a chegar na minha mudança para São Paulo, em 2013, onde finalmente entendi o papel que o Estado, as pessoas e o arquiteto poderiam obter na formação e incentivo do espaço público. Itajobi é rica em história, e esse trabalho visa explorar e resgatar esta herança. 90


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[59] O ipê e o limão do cafundó. Foto do autor. 91


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6.2 leitura urbana A malha urbana de Itajobi possui um formato muito singular. Singular no sentido de ser inconfundível. Seu desenho carrega em si a história de formação da cidade; seus limites evidenciam suas barreiras geográficas; sua malha, o processo de crescimento. Tecnicamente essa não se destaca de inúmeras outras cidades do Brasil e do mundo, a cidade possui 502m² de área total, sendo desses apenas 1% ocupado pelo perímetro urbano. Muito dependente das cidades vizinhas (principalmente Catanduva), a população de aproximadamente 14 mil habitantes (IBGE, 2010) possui uma faixa etária maior que a média nacional e pouco investe nas próprias infraestruturas urbanas. A densidade é de aproximadamente 28 hab/km², o que confere a esta o status de pouquíssimo densa dentro dos parâmetros de comparação – fenômeno bastante normal em cidades majoritariamente rurais. A singularidade aqui é formal. O perímetro urbano de Itajobi é desenhado pelos cursos de seus 3 principais canais d’água. Estes são: o Rio Monjolinho, que cruza todo o perímetro urbano no sentido norte e sul, o Córrego Cisterna, que segue sentido Oeste limitando esta face do perímetro e o Córrego do Barreiro, que segue sentido Leste, fechando esta outra face. O encontro destes 3 dá sentido ao Ribeirão Três Pontes, próximo a Matriz e onde fora fundada a cidade em 1919. [59] Perímetro urbano de Itajobi com os cursos d’água. Imagem do autor. 92


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Próximo a este marco-zero da cidade está o conjunto mais tradicional do município, com infraestruturas de maior valor e onde tudo funciona de maneira mais “caminhável”. Esta região planejada fica bastante evidente no olhar de satélite, onde se nota a malha regular e quarteirões ordenados e quadrados. Naturalmente estes cursos d’água causam uma deformação topográfica na paisagem. Itajobi se comporta como um vale de duas quedas causado pelo curso do Rio Monjolinho, que cruza a cidade longitudinalmente e é interpretado de diferentes maneiras ao longo de seu curso. O ponto mais baixo deste vale é no centro da cidade, onde o Monjolinho é canalizado, e assim permite completar a paisagem conectando quadras com um lindo desenho de piso em suas margens, favorecendo o pedestre e conectando as ruas do centro.

[60] Centro de Itajobi, 2020. Foto do autor. [61] Varzea do rio Monjolinho, 2019. Foto do autor. [62] Rio Monjolinho, 2019. Foto do autor.

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Á duas quadras dali, no bairro Jardim Ferreira, o Monjolinho ainda é canalizado, porém seu entorno segue como área verde permeável. O córrego complementa o maior - e praticamente único - parque verde da cidade, a Praça Nossa Senhora da Paz, entre as ruas Expedicionários e José Belarmino. Deste ponto em diante a água perde seu caráter paisagístico e passa a se tornar uma barreira entre dois lados da cidade. A água segue seu curso sem canalização e suas margens são ocupadas pela mata ciliar natural, alta e abandonada. A partir daqui a água já tem seu volume bastante reduzido e as casas vizinhas, que viram suas costas ao curso d’água, tem em seus fundos de quintal uma área muitas vezes cercada, abandonada e de nenhuma circulação e permanência pública.

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Em relação a áreas públicas permeáveis de Itajobi, o mapa da cidade evidencia uma grande carência de parques verdes planejados. A única referência da cidade é a já mencionada praça Nossa Senhora da Paz, localizada no bairro do centro, sendo o único parque desenhado da cidade. O projeto deste parque integra as margens do rio monjolinho às áreas de convívio, e mantém a maioria de sua ocupação permeável e fluida, além de oferecer equipamentos de academia pública e uma passarela de madeira que transcende o rio, conectando os dois lados da cidade. Este projeto é referência por sua aceitação na cidade e por sua abordagem pioneira em explorar as margens do maior patrimônio da cidade, o rio monjolinho.

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As duas principais praças do município são secas e possuem alguma homenagem histórica à cidade, sendo essas a praça Nove de Julho, com o Memorial dos Sertanejos e a Praça Padre Victor, com a Paróquia Matriz de São Pedro. As ruas com maior circulação de pessoas são, naturalmente, aquelas com mais comercio instalados nela (Rua Pedro de Toledo, Rua Mal. Deodoro e Avenida Catanduva). Com a exceção destes eixos, praticamente todo o resto do perímetro urbano é ocupado por residências unifamiliares, indústrias ou equipamentos urbanos. O gabarito predominante na cidade é praticamente nivelado, sendo hoje as maiores edificações da cidade casas com 2 ou 3 pavimentos, que pouco se destacam na paisagem. Em paralelo a este cenário, Itajobi e outras cidades rurais vem acompanhando em seu perímetro o surgimento de conhecidos fenômenos urbanos da cidade grande: o surgimento de condomínios fechados e o espraiamento descontrolado das cidades. Murar um conjunto residencial significa excluir aqueles moradores do convívio da cidade e renunciar completamente a rua externa, deteriorando em muito o passeio público e seu contexto. A consequência desta intervenção compromete em muito a vida urbana e, à longo prazo, compromete também o padrão de segurança da cidade como um todo. A monstruosa realidade dos bairros fechados aponta para um mundo neofeudal, de uns poucos que mantém seus privilégios amuralhados pela força e pelo controle. Uma urbanização que instaura um “mundo fortaleza”, onde os ricos se desentendem do resto da população, como se acreditasse que é possível se proteger dos efeitos da deterioração do meio-ambiente e dos problemas derivados da injustiça social e econômica. (MONTANER, Josep. MUXI, Zaida. 2014. pg 71)

[63] < Áreas permeáveis de Itajobi. Diagrama do autor. 97


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Ainda longe do centro de Itajobi, em maio de 2018 foram entregues 141 casas em um conjunto habitacional formado às margens da então asfaltada Avenida Pedro Ronchi – o conjunto F, José Segundo, do “Programa Morar Bem, Viver Melhor” da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). O programa previu residências unifamiliares de 56m² em um loteamento totalmente novo, construído entre a avenida e o córrego Monjolinho. Feito o loteamento e já com seus moradores (em sua maioria, vindos de Pernambuco), a nova região da cidade muito carece de infraestrutura urbana - ali não existem escolas, farmácias, padarias ou qualquer serviço de uso diário de seus moradores – apenas casas idênticas replicadas em paralelo - uma evidencia do desinteresse com qualquer estratégia de planejamento urbano.

[64] ^ Governador Marcio França anunciando a entrega das casas pelo plano “Morar Bem Viver Melhor”, 2018. Foto: Acervo prefeitura de Itajobi

[65] ^ Moradias do plano “Morar Bem Viver Melhor”, 2018. Foto: Acervo prefeitura de Itajobi

Assim, o impacto social deste e de outros programas habitacionais na cidade foram curiosamente semelhantes: os novos habitantes, que vinham de uma situação de extrema vulnerabilidade, estão em geral contentes com a política; agora possuem a casa própria e a oferta de trabalho nas industrias ou no campo - com o transporte rural garantido diariamente. Por outro lado, o morador tradicional de Itajobi pouco reconheceu ganho com essa ação – este passou a ver nos últimos anos sua cidade mudar de identidade significativamente: [66] Churrasco em Itajobi, 2019. Foto do autor. 98

[67] Vista do bairro Itajobi F José Segundo, 2019. Foto do autor.

[68] Residência rural, 2019. Foto do autor.


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Aos olhos deste morador tradicional de Itajobi, a cidade sempre fora um campo seguro para sua criação – um ambiente com fortes vínculos interpessoais, famílias conhecidas, pouca variedade de sobrenomes e as mesmas ruas de sempre. A vinda repentina de imigrantes representou, para este grupo, uma mudança expressiva nos hábitos já consolidados naquele espaço – seriam novos hábitos, novas famílias e toda uma nova cultura que agora se juntava a eles. A cidade consagrada naquele local merecia uma moeda de troca que favorecesse as duas partes - a maneira como fora implantado este loteamento é prova de que a política não visava o conforto destas famílias e muito menos o favorecimento da cidade – Itajobi então criara sua periferia, tão conhecida em cidades grandes.

Para explicar melhor este cenário, desenho:

[69] Analogia da intervenção. Desenho do autor 100


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a q u i suponhamos que Itajobi seja um MacBook pro

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a l i pt. 06 suponhamos entao que você 02 precise conectar um HD externo ao seu MacBook pro. Neste caso o HD seriam os imigrantes

O MacBook é um dos computadores com mais potencial no mercado. Do tanto que ele oferece, acredita-se que a maioria das pessoas desconhece de todo seu potencial

Este HD externo vai te oferecer um milhão de novas possibilidades, seria muito bom pra você te-lo plugado por que assim o inimaginável estaria ao seu alcance!

que o MacBook pro não tem 03 só entrada USB

04 O adaptador USB no caso seria o equipamento público cultural

Chega a parecer irônico, afinal a entrada USB é Apesar de todas as suas potencialidades, o Macbook pro simplismente não tem entrada USB bem conhecida! Talvez nem todos saibam que da pra plugar um HD externo nela! mesmo. É necessário um adaptador.

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Estranho que, para algumas pessoas, o Macbook pro sem adaptador ainda deixa um pouco a desejar

Apesar de todo o seu potencial existente, o adaptador é fundamental pra que novas informações entrem. Sem ele não tem como colocar o HD.

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E por fim, juntas, as peças se completam

Nenhuma dessas peças funciona muito bem sozinhas, mas quando trabalhadas juntas e com calma, seu potencial é incrível 101


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6.3 inserção do projeto O projeto responde à esta condição imigratória existente tomando partido do maior patrimônio da cidade de Itajobi: O rio Monjolinho. Em um olhar macro, percorrendo todo o limite urbano de norte a sul, o córrego carrega um grande potencial geográfico de conectar ambas as extremidades de cidade: do extremo sul - onde surgiu a cidade, onde habitam as famílias mais tradicionais dessa história - com o Norte - onde as novas famílias estão sendo instaladas e a cidade ainda está por se estruturar. Portanto, para se entender a cidade e assim formular um programa ideal do projeto, foram feitas uma seria de entrevistas com moradores de variadas idades, origens e bairros. Como resultado esperado, diferentes grupos pontuaram diferentes carências em cada bairro: - De forma geral, o estudo evidenciou a carência de espaços de socialização para o público jovem em toda a cidade (semelhante ao papel que o clube exercera no passado), além de segurança, áreas culturais, áreas verdes e espaços de trabalho; - A população residente nos novos conjuntos habitacionais pontuou a falta do sentimento de segurança, a falta de comercio, áreas verdes, espaços de convívio e escolas; - Os residentes da região mais central da cidade também pontuaram a falta de espaços culturais e áreas verdes, além de áreas esportivas e creches; - No sul da cidade o mais notável foi a falta, também, do sentimento de segurança, falta de espaços culturais, além de uma melhor manutenção da infraestrutura urbana e do clube, que segue abandonado;

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DIAGRAMA DE

Ocupação do espaço no tempo

[70] Diagrama de uso em horas do dia. Desenho do autor


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Assim, a fim de elaborar um projeto urbano consistente que respeite essa leitura social e urbana de Itajobi, a proposta se divide em duas escalas de detalhamento. Escala Macro: O projeto urbano Primeiro, a estratégia de conectar ambas as partes - velha e nova - da cidade e forçar o encontro entre os diferentes grupos, assumindo diferentes pontos de atuação ao longo do trajeto da água.

Assim, a intervenção longitudinal urbana assume 3 pontos de atuação ao longo do leito: um na região sul - no bairro do centro - um no centro geográfico da cidade - junto aos novos conjuntos habitacionais - e o último no extremo norte - no anel viário, próximo ao eixo industrial da cidade. O partido visa interligar estes pontos de interesse trazendo maior fluidez para a cidade e uma unidade e senso de comunidade entre os habitantes de Itajobi. 104


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pt. 06 [71] Diagramas sequenciais de estratégia de intervenção. Desenho do autor

No bairro do centro, ponto 03 do mapa abaixo, onde já se encontra a infraestrutura urbana que atende a população, o projeto objetiva instalar habitações sociais para novos moradores da cidade. Inserindo estes em um centro consolidado e estruturado; a estratégia é estimular o encontro entre este público novo e os moradores tradicionais daquele bairro.

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Em méritos projetuais, esta região possui uma deficiência por ser uma região alagável pelo encontro dos 3 principais córregos municipais, e por isso, entende-se que o ideal seria verticalizar este adensamento, estruturando-o em pilotis que respeitem o entorno e a altura ideal. Já no extremo norte da cidade, ponto 01 do mapa, entre o bairro do Parque Industrial Abel Pasiani e o Monjolinho, entende-se que por seu afastamento das regiões mais adensadas da cidade e a localização em uma estrada de fluxo rápido de carros, o ideal seria a instalação aqui de um espaço de uso público com restaurantes, refeitórios para os trabalhadores das indústrias, salão de festas e eventos municipais que atendesse à demanda populacional e principalmente jovem. Este não substituiria o atual edifício do clube na região mais central da cidade (embora abandonado), mas receberia eventos de maior porte, não comportados pela antiga edificação. O clube, por sua vez, possui uma localização privilegiada de muito fácil acesso e carrega uma herança histórica e uma bagagem emocional que deve ser restaurada e incentivada, esforço que cabe à diretoria do mesmo. Entre os dois pontos, em meio ao leito do Monjolinho e os novos conjuntos habitacionais, o córrego ainda não possui uma identidade com seu entorno, ali (como já mencionado) a água deixa de ser uma potencialidade e se torna uma deficiência no funcionamento da cidade. Os 6 bairros que tangenciam o terreno de interesse projetual não se conectam fisicamente e muito menos socialmente. O abandono desta área ambiental, o rio poluído e o mato alto fazem deste espaço um ambiente hostil – uma barreira no meio da cidade. Eis o terceiro e principal ponto de intervenção, que será trabalhado em uma escala mais aproximada.

106


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e

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pt. 06 [72] Diagramas de intervenções longitudinais. Desenho do autor

01

espaço coberto de lazer jovem alternativa ao recinto de boiadeiro e ao abandonado clube da cidade

cultural 02 parque de Itajobi

área pública nas margens do rio monjolinho que supre a carência de áreas verdes municipais. centros culturais para exaltar a história local e estruturas hoteleiras para receber novos moradores e conectar os existentes módulos comerciais, escolas e restaurantes para qualificar o bairro

03 habitações sociais verticais

conjuntos habitacionais de baixo gabarito para adensar o centro da cidade e tomar proveito da infraestrutura aqui existente

107


pt. 06

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e

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Escala Micro: O parque cultural da cidade Onde a cidade é mais antiga, o córrego já fora pensado de maneira a se encaixar na malha urbana, compondo a paisagem e criando espaços de convivência em harmonia com as unidades comerciais. Assim, é evidente que o curso d’água esbanja reconhecimento positivo como patrimônio dentro da história da cidade – basta o cuidado e investimento para torna-lo palpável.

[73] Situação atual do rio Monjolinho. Desenho do autor

108


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e

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pt. 06 [74] Costurar a cidade. Diagramas de intervenção viária conectando os bairros. Desenho do autor

O projeto toma partido desta condição para, em uma primeira fase de implantação, preservar o rio e construir pontes entre os dois lados do vale, interligando os bairros, melhorando a circulação e delimitando o lote de intervenção.

Feita a conexão entre ambas as partes do vale e analisado os entrevistados, o projeto parte para qualificar e adensar esta região de maneira responsiva à condição atual da região e da cidade

109


pt. 06

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e

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O projeto do parque foi pensado para se instalar no centro geográfico da cidade, entre a avenida Augusto Apendino e avenida Pedro Ronchi. O terreno dispõe de 11,3 hectares (113 mil m²) e se comporta como um vale, tendo o Córrego do Monjolinho cruzando seu eixo, formando um desnível deste ponto até suas laterais Leste e Oeste de 10 e 15,5 metros, respectivamente.

[76] Desenho do autor

Assim sendo, o projeto abriga nesta área uma série de usos elegidos a partir do levantamento presencial feito in loco na cidade, além das unidades comerciais como instrumentos articuladores; desta forma, todos estes elementos estão dispostos de maneira a se aproximarem com o entorno urbano existente e se relacionarem entre si por meio de uma passarela elevada que percorre todo o lote, trazendo unidade à intervenção;

[77] Desenho do autor 110


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pt. 06 [75] ^ Masterplan de intervenção. Desenho do autor

hotel lojas mercado museu

galeria

feira

boulevard

biblioteca escola infantil

quadra

policia

[78] Desenho do autor

111


6.4 programa

0.1

0.2

0.1 Boulevard Comercial 0.2 Escola Infantil + Creche 0.3 Quadra Poliesportiva + Vestiário e Cantina 0.4 Recepção + Base Policial 0.5 Módulos Comerciais 0.6 Biblioteca 0.7 Área reservada a eventos itinerantes 0.8 Complexo Cultural / Museu + Galeria de Artes 0.9 Mercado + Horta 0.10 Hotel 0.11 Módulos Comerciais

0.3

111.20

0.4

0.5


0.11

0.10

0.8

0.9

0.7

0.6

0

25

50

100

200


pt. 06

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PASSARELA “Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia. ” (ROSA, Guimarães. 1994, p.86)

A passarela representa a união dos diferentes grupos de Itajobi em torno do maior patrimônio ecológico da cidade, o Rio Monjolinho e sua mata ciliar. Como um marco, ela também exerce a função de evidenciar o terreno residual, emoldurando-o e valorizando-o como mirante, de onde se vê o patrimônio natural e também a cidade, sem barreiras ou distrações. O processo de travessia pela passarela é o principal objetivo desta instalação – ver a cidade por diferentes perspectivas e proporcionar encontros. A passarela naquele momento se torna um monumento, simbolizando o futuro tecnológico reservado ao campo, enquanto ressalta o passado tradicional de sua natureza característica. Aos olhos externos, a ponte monocromática impõe um aspecto monolítico em sua forma, com sua estrutura leve, modular e “flutuante”. Em sua tectônica, a passarela é estruturada em módulos de 3 x 4,8m soldados entre si que se repetem por todo o percurso, de maneira a facilitar a execução em obra. A estrutura metálica de perfis C com alma dupla e altura de 1,65 metros vencem vãos de até 24m, apoiados em uma coroa em “V” soldada nos pilares cilíndricos de concreto - que possuem diferentes alturas dependendo do desnível do terreno. A estrutura possui um percurso quadrado de 206,4 metros em cada lado - sendo interrompida somente no momento em que encontra o nível de acesso em um lado e o terraço da biblioteca em outro - e 4 pontos de acesso intermediários: a rampa que envolve o posto policial, a arquibancada das quadras esportivas, a escadaria do complexo escolar e o acesso principal do museu. Nestes casos isolados a passarela deixa de ser um espaço de circulação de 2,4m de largura e se torna um espaço de permanência e aglomeração. Em momento algum a passarela varia de nível, independente do caimento do terreno; [79] Perspectiva ilustrada da passarela. Desenho do autor 114



pt. 06

a q u i

a l i

3.00 .30

2.40

.30

Suporte metálico para luminária LED .10

.21 .05 1.00

.54

Alma metálica duplicada Piso em pranchas de madeira azombé

.30

Viga metálica perfil "C" sentido longitudinal

.25

.08

.10

Argamassa niveladora incl. 2%

1.65

3.00 2.40

.21

.30

.75

Suportes metálicos das tábuas de piso

Estrutura metálica em perfís "C" contínuos 4,8 x 1,65

.30 .05 .09 .16

Guarda-corpo em pranchas de mandeira azobé e suporte de ferro

Cantoneira metálica com suporte para iluminação LED rpo em de Vigas metálicas em azobé e "V" soldadas nos e ferro apoios do peitoril e metálicos encaixe do pilar de piso

.05 .12 .15

.65

etálico ária LED

Estrutura metálica em perfís "C" contínuos 4,8 x 1,65Tirantes intertravados em sentido "X" Alma metálica duplicada

.30

49

1.00

.54

1.

Piso em pranchas de madeira azombé Viga metálica perfil "C" sentido longitudinal

.65

.25 .43

incl. 2%

45°

.08.03 .21

.10

.75

.30

1.65

.10

.21 .05

.05 .09 .16

.05 .12 .15

a metálica te para LED álicas em as nos peitoril e pilar

45°

.43

.03

1.

.30

0 .1

Tirantes intertravados em sentido "X"

49

a

e

0 .1

.3

.5

1

[80] Corte transversal da passarela. Desenho do autor 116

.3

.5


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e

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pt. 06

1.2

.02 .1

2.4

4.8

1.2 2.4

.26

.06 .02

.1 .02

.76

1.2

.05

.25

.65

.25

.1 .1

1

.8

.1

1.2

.3

1.2

1.5

[81] Modulação construtiva da passarela. Desenho do autor 117


pt. 06

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BIBLIOTECA MUNICIPAL Itajobi hoje não possui nenhuma biblioteca municipal de endereço próprio. A antiga hoje divide espaço com a antiga rodoviária e sede do “espaço do cidadão” de Itajobi. A ausência deste elemento é sentida pelos moradores, que hoje não possuem um espaço de trabalho público e aberto. A edificação proposta marca o principal acesso à passarela e ao parque, simbolizando o acesso a informação e a educação de todos como o caminho a ser seguido. Locada no ponto de maior visibilidade do complexo, a biblioteca é um volume semienterrado, que se mimetiza no desnível do terreno, dando protagonismo à passarela. A forma da edificação é fruto do alinhamento das duas ruas tangentes, enquanto seu eixo de circulação interno é a projeção do sentido da passarela. O pavilhão central visa direcionar a principal sala de acervo ao centro do parque, homenageando a paisagem existente, enquanto o outro é direcionado à passarela e à rua, privilegiando esta paisagem.

[82] Isométrica ilustrada da biblioteca. Desenho do autor 118


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pt. 06

[83] Maquina de imprimir livros e midiateca. Desenho do autor 119


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e

a l i BB

CC

pt. 06

107.50 PD 5,5

110.00 PD 3m

107.50 PD 5,5m

107.50 PD 5,5

107.50 PD 7m

106.90 PD 7,5m 108,75 PD 6,25

AA

1.6

110.00 PD 4,5

1

1.13 2.0 1.4

110.00 PD 4,5

1

2.0 1.2

1

2.0

0.0 Estacionamento 1.0 1.1 1.2 1.3 1.4

Acesso área coberta Controle de acesso Balcão de recepção e controle 120 Lockers Computadores de consulta

1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11

Sala administração Área de leitura de jornais Sanitários Corredor com acervo Área rebaixada - infantil Área de estudos Salas de reuniões

1.12 ADM / Depósito 1.13 Plataforma elevatória 2.0 Unidades Comerciais

110.00 PD 4,5m

BB

0.0

CC

1.1


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1.8

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pt. 06

110.00 PD 3m

110.00 PD 3m

1.7

e

1.7 1.9

1.10

1.12

109.40 PD 3,6m

AA

1.11

1.9

1.5

1.11 0.0

1.11

1.3

1.0 0.0

0

5

10

20

[84] Planta térreo biblioteca. Desenho do autor 121


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e

a l i BB

CC

pt. 06

2.2 2.1

107.50 PD 5,5m

2.0

107.50 PD 5,5m

2.1

2.3

2.3

2.2

2.1

2.0

107.50 PD 5,5m

2.5

107.50 PD 5,5m

1.1

106.90 PD 7,5m 108,75 PD 6,25

107.50 PD 7m

2.4

AA

1.0

3.0

3.0

1.0 Mezanino 1.1 Multimídia - Impressão de Livros

2.4 Plataforma elevatória 2.5 Arquibancada de leitura

2.0 2.1 2.2 2.3

3.0 2.1 2.2 2.3

Acervo Área de leitura 122descoberta de leitura Área Circulação principal

Unidades Comerciais Área de leitura Área descoberta de leitura Circulação principal

BB

CC

3.0


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e

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pt. 06

AA

[85] Planta térreo inferior biblioteca. Desenho do autor

0

5

10

20

123


pt. 06

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e

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Todo o fechamento do edifício é autoportante. Os muros de arrimo suportam a laje – em sua maior parte, caminhável – e fazem o fechamento das empenas. Ambos os pavilhões de acervo são estruturados por lajes alveolares pré-moldadas de 12m de comprimento e não possuem nenhum pilar. A iluminação e a ventilação são controladas para a melhor preservação do acervo, dispondo de apensa 3 aberturas, uma em cada extremidade de cada pavilhão e outra em frente ao nível de acesso.

124


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[86] SEC AA_biblioteca. Desenho do autor

TRANSPARENCIA VIDROS: 75 (tem 2 aqui)

0

e

1

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3

pt. 06

10

20

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pt. 06

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e

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O edifício oferece duas salas de acervo, um salão de trabalho, 3 salas de reunião, espaço de recreação infantil, área de leitura e midiateca – com impressão instantânea de livros. A divisão dos ambientes é feita exclusivamente pela alteração de níveis, de forma a respeitar o desnível do terreno e manter os ambientes amplos e conectados; em resposta a esta condição, o pé direito tem diferentes alturas em diferentes situações.

BB

126


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e

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pt. 06

1:150

TRANSPARENCIA VIDROS: 75 (tem 2 aqui)

0

1

3

10

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[86] SEC CC_biblioteca. Desenho do autor [87] SEC BB_biblioteca. Desenho do autor

0

1

3

10

20

127


pt. 06

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COMPLEXO ESCOLAR E BOULEVARD COMERCIAL A inclusão de uma creche e escola infantil no projeto busca a conexão das gerações futuras desde o início do convívio social, para que as crianças possam ser ensinadas de forma conjunta e com as mesmas condições e oportunidades. Este complexo educacional é dividido em 6 blocos de ensino e 2 níveis de acesso, sendo o primeiro a recepção da creche, seguido da sala de atividades com pé-direito duplo e em seguida o bloco com a transposição. No andar superior o primeiro bloco comporta a recepção e administração da escola, em seguida está a primeira sala de atividades, então o pátio aberto e por fim a segunda sala de atividades. [88] Desenho do autor [89] Vista aérea boulevard. Desenho do autor

128


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pt. 06

129


pt. 06

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e

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108.30

108.30

0.0

AA

0.0 Módulo comercial 1.0 Recepção do boulevard 1.1 Bicicletário 1.2 Sanitários e Vestiários 130 2.0 Acesso ao complexo escolar

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7

Recepção creche Sala de amamentação Sanitários Sala de atividades Sala de educação dos pais Sala de leite Sanitário infantil

2.8 Sala de saúde 2.9 Área de funcionários


a q u i

1.1

105.80

2.0 2.1 1.1

1.2

[90] Planta térreo inferior da escola_ creche. Desenho do autor

1.2

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pt. 06

2.5

110.00

1.0

e

2.4 2.2

2.8 105.80

AA

2.6

2.9

2.7

2.3

0

5

10

20

131


pt. 06

a q u i

e

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3.4

3.5 109.00

AA

3.2

3.6 3.7

3.8

3.1 3.0

3.0 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6

Acesso à escola Recepção / Sala de espera Sala de diretoria Depósito Sala dos professores 132 Sanitário professores Sala de atividades

3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12 3.13

Apoio de mochilas Depósito de brinquedos Sanitários infantis Pátio descoberto Acesso Controlado Sala de informática Livraria infantil

3.3

3.9

4.0 Acesso público 4.1 Livraria pública 4.2 Café/ bar público 4.3 Sala de apoio à livraria 4.4 Controle de acesso em dias de aula


a q u i

3.10

3.6

e

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pt. 06

3.14

3.11 3.7

3.8

AA

3.12

3.9 3.13 4.4 4.2

4.1

4.3

4.0

[91] Planta térreo superior da escola_ escola infantil. Desenho do autor

0

5

10

20

133


100.00

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105.00

110.00

2.0 0.0

105.00

AA

1.0 0.0

0.0

0.0

0.0

2.1

2.1

0.0

109.00

0.0

2.1

112.50

1.0

2.2

111.50 110.00

0.0

0.0

0.0

0.1

2.3 0.0

0.1 0.1

0.1 0.1

111.00

112.50

115.00

0.0 0.1 0.2 0.3

Módulo Comercial Módulo de Restaurantes Livraria Café 134

1.0 Creche 1.1 Escola Infantil 2.0 2.1 2.2 2.3

Estacionamento Acesso à escola Boulevard comercial Sanitários/ bebedouro


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pt. 06

106.00 AA

1.1

1.1

1.1

0.3 0.2

2.2

0.0 0.0

110.00

[92] Boulevard comercial e complexo escolar. Desenho do autor

0

10

25

50

135


pt. 06

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Todo este complexo está imerso no novo boulevard comercial da cidade – uma tentativa de aproximar a população ao parque - se destacando dos módulos comerciais por seus telhados característicos. Cada bloco mencionado é coberto por um telhado de madeira e telhas de barro que se estruturam de maneira a permitir a entrada de luz natural por meio de um shed voltado à face sul. Passados os 4 blocos térreos, o conjunto linear forma uma curva, alinhando-se com o sentido da passarela e obtendo novo partido. Aqui estão a sala de informática e biblioteca infantil, que tem acesso exclusivo à escola em horários de aula, e área de leitura. Passada a biblioteca infantil está a outra fachada, que é de caráter de acesso público, oferecendo uma livraria aberta, café e área de leitura. Nos finais de semana este ambiente é integrado à sala de informática, aberta ao público, e à biblioteca infantil. A área educacional é de livre acesso, aberta a todos de forma gratuita e democrática.

136


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TRANSPARENCIA CHAPA TRAPEZOEDAL: 60 VIDRO ENTRE PREDIOS (SÃO 2BLOCOS ): 60 TRANSPARENCIA VIDROS: 75

[93] SEC AA_ escola infantil. Desenho do autor

e

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0

5

10

20

137


pt. 06

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pt. 06

[94] Perspectiva da escola infantil. Desenho do autor 139


pt. 06

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CENTRO ESPORTIVO O centro esportivo complementa o complexo educacional, se propondo a criar esta conexão também nas gerações já formadas, possibilitando um espaço para a convivência entre todos da cidade de forma saudável e com atividades que ressaltam o poder integrador do esporte. Vale ressaltar a localização do centro esportivo e educacional no meio urbano; ambos são locados na fachada leste do complexo de maneira a ocupar as empenas residenciais existentes, e usarem os terrenos baldios como vias de acessos convidativas ao parque. A ideia de conectar esta faixa leste com o centro comercial e de educação infantil visa aproximar as diferentes faixas etárias de ensino básico, se aproximando das escolas existentes EMEF Ruth Dalva, colégio Objetivo e ainda aos novos loteamentos da CDHU, que atualmente não possuem nenhuma estrutura voltada ao esporte ou educação.

[95] Quadra poliesportiva. Desenho do autor

140


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pt. 06

ADMINISTRAÇÃO E POSTO POLICIAL

O posto policial e recepção do parque são medidas responsivas à demanda da população. Esta edificação ocupa a fachada sudoeste do parque e oferece uma rampa para o acesso universal ao nível da passarela e, junto a ela, vagas abertas de automóveis para visitantes e módulos comerciais estratégicos em uma avenida arterial da cidade – a avenida Augusto Apendino. MÓDULOS COMERCIAIS O comércio tem papel crucial dentro do projeto. Entendido como uma engrenagem que mantem todos os polos ativos, funcionais e atrativos, os diversos módulos comerciais propostos têm como objetivo a qualificação e a diversificação de oferta ao público alvo, da CDHU e suas proximidades. Em sua implantação, os módulos comerciais são locados transversalmente à rua existente no novo bairro da cidade – desta forma estes elementos nivelam em platôs o desnível existente e não agem como barreira visual ao parque, tornando-o convidativo. [96] Módulos comerciais. Desenho do autor

141


pt. 06

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e

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MERCADO, HORTA E HOTEL O mercado, a horta orgânica e o espaço de feira também se encaixam neste contexto de qualificar a oferta comercial do entorno do projeto. A implantação estratégica à oeste do terreno tem a intenção de se conectar com os recentes loteamentos da região e ainda oferecer melhor acesso com a avenida Pedro Ronchi. No aspecto programático, a intenção é criar um microciclo da alimentação, possibilitando que crianças e outros estudantes possam acompanhar as origens, o tratamento e a comercialização dos seus alimentos. A feira, em específico, também visa a inclusão do pequeno produtor (agricultor familiar) no espaço de convívio urbano, já que hoje este não tem visibilidade dentro da cidade ou um espaço para vender seus produtos de forma direta e apreciativa. Assim, entre os dois extremos da passarela, está reservada uma área para receber estruturas itinerantes de comércio, como eventos gastronômicos ou outras atividades culturais.

[97] Mercado e Hotel. Desenho do autor

142


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pt. 06

[98] Horta pública. Desenho do autor

143


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AA

pt. 06

1.3 1.1 BB

118.95

1.3

1.0

118.95

1.3

1.2

AA

115.95

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6

Acesso ao mercado Estantes de produtos Área de espera para os caixas Estacionamento carrinhos Açougue (vista externa) 144 (acesso e vista externa) Padaria Frigorífico

0.7 Loja venda produtos locais da horta 0.8 Espaço de depósito da feira 1.0 1.1 1.2 1.3

Recepção do hotel Bicicletário Playground Espaço público coberto


e

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pt. 06

CC

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118.95

0.8 0.3

0.0

0.2

0.1

BB

0.1

0.1

0.7

0.4

0.5

118.95

CC

0.6

[99] Planta térreo mercado e hotel. Desenho do autor

0

5

10

20

145


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118.95

118.95

0.4

1.0 0.5

AA

115.95

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6

Acesso principal Sala ADM 01 Sala ADM 02 Sala ADM 03 Acesso serviço 146 funcionários Copa Laboratório tratamento mudas

0.7 Espaço plantio mudas - Horta 1.0 Core central hotel


e

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CC

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0.6

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0.7

121.95

0.0

0.1 BB

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0.7 0.2 0.3

121.95

0.6

0.7

CC

0.7

[100] Planta 1 pavim. mercado e hotel. Desenho do autor

0

5

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20

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AA

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0.5 1.0

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1.1 1.2

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0.5

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1.3

115.95

0.7

AA

0.6

2.1

2.1

2.1

2.1

2.1

2.0

2.0

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6

Pista acesso estacionamento Controle de acesso Elevadores principais Acesso de serviço Área de descarga caminhões 148 Depósito mercado e horta Passagem peatonal - escadaria

0.7 Fachada ativa - Módulos comerciais 1.0 1.1 1.2 1.3

Acesso estacionamento hotel Drop-off Hall de acesso Depósitos

2.0 Praça seca (peatonal) 2.1 Circulação controlada de carros


e

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pt. 06

CC

a q u i

BB

0.2

0.1 0.7

114.25

0.0

0.7

CC

115.00

2.1

[101] Planta subsolo mercado e hotel. Desenho do autor

2.1

2.1

0

5

10

20

149


pt. 06

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Arquitetonicamente, o mercado funciona no térreo da edificação e o andar superior comporta o laboratório de tratamento de sementes, mudas e a horta de plantação planejada. Esta, por sua vez, compõe a fachada da edificação e também pode ser vista desde o interior do mercado por meio da pele de vidro que cerca o pé-direito duplo do ambiente; evidenciar a plantação do alimento é uma maneira de conscientizar a população sobre o consumo consciente do alimento.

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[102] SEC AA_ mercado. Desenho do autor

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HOTEL O hotel divide espaço com a piazza do mercado e responde a uma deficiência da cidade em oferecer um espaço de qualidade para receber seus visitantes. A edificação representa a conexão da cidade com o todo, a possibilidade de receber novas pessoas. O edifício assume o papel de ponto de referência dentro do complexo por sua altura frente ao entorno existe – esta seria a mais alta edificação da cidade, um novo mirante da cidade para os itajobienses e seus convidados. A planta do hotel é inteira modulada em uma malha de 1,5 x 1,5 metros, assim foi possível espelhar a mesma disposição simetricamente encaixando os apoios de concreto, shafts e áreas molhadas por todo o edifício. Este, por sua vez, está estruturado em um core central de concreto e outros 31 apoios, que vencem vãos de 3 metros e descarregam seus esforços em 8 apoios térreos mais o core, resultando assim em uma planta baixa livre de pilares e com balanços de 3 metros em toda sua extremidade.

[103] Planta tipo A_ hotel. Desenho do autor 152

[104] Planta tipo B_ hotel. Desenho do autor

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[104] 153


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O subsolo do edifício do hotel divide a laje com o subsolo do mercado. Essa estrutura é uma solução para vencer o desnível existente entre o térreo dessas edificações com a queda de nível natural do terreno, além de suprir a necessidade de garagem para os hospedes do hotel, consumidores do mercado e visitantes da praça. A empena do pavimento inferior, que naturalmente seria uma superfície cega criada pela garagem, é ocupada por módulos comerciais voltados à parte seca do complexo projetual. Dos 11,3 hectares de intervenção, o projeto mantém 60% desta área permeável, livre de intervenções projetuais e ocupa a porcentagem remanescente com edificações ou pavimentações secas. Entre essas, a área de intermédio entre o mercado, o hotel e o museu foi especialmente destinada à praça cívica do parque da cidade – onde seriam realizadas atividades recreativas impraticáveis em solo permeável e ainda manteriam a paisagem livre para a contemplação da arquitetura proposta.

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[105] SEC BB_ hotel. Desenho do autor

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[106] SEC CC_ hotel e mercado. Desenho do autor

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1

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20 TRANSPARENCIA VIDROS: 75 (segundo andar + açogue e padaria)

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[107] Perspectiva externa do hotel. Desenho do autor


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MUSEU DE ITAJOBI O museu de Itajobi é criado com a proposta de, assim como o Museu Histórico de Bacurau (filme de 2019 de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles), criar um espaço legítimo para que a cidade fale de si mesma para o resto do mundo. As exposições trariam diversos objetos e utensílios do cotidiano da população para representar a realidade de Itajobi e seus moradores. O espaço dependeria diretamente da vontade e da interpretação que a população local faz de si mesma, exaltando memórias, saberes, crenças e líderes. O ato de registrar a história da cidade é também uma forma de criar segurança de que o passado é valorizado e que as mudanças culturais e populacionais que estão sendo inseridas na cidade, não irão apagar esta memória, mas sim criar e enriquecer novos capítulos. Além de registrar a história da cidade, o museu tem como objetivo integrar seus moradores ao território e ao tempo, principalmente em um cenário marcado pela xenofobia, a possibilidade de entender o espaço e se sentir pertencente a uma história é forma de inclusão e resistência.

[108] Desenho do autor.

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[109] Perspectiva interna do museu de Itajobi. Desenho do autor

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AA

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2.0

109.00

2.0

105.00

2.1

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1.1

108.20

CC

AA

1.3

1.0 Acesso ao complexo (nível da passarela) 1.1 Exposições 1.2 Acesso à galeria inferior 1.3 Áreas externas 160 externa inclinada 1.4 Praça 1.5 Praça externa plana

2.0 Acesso à galeria


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pt. 06 1.4

110.98

CC

1.4

BB

1.1

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1.3 1.0

1.4 108.20

108.20

1.5

102.50

0

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[110] Planta museu de Itajobi. Desenho do autor 161


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AA

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105.00

2.2 2.1

BB

2.1

2.6

2.12

2.7

CC

AA

102.50

2.0 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6

Acesso à galeria (nível +109,00m) Galeria de artes Recepção/ Depósito Sanitários Secretaria 162 Administração Camarim 01

2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12

Camarim 02 Foyer / Café Auditório Palco elevado Área externa Coxia/ Bastidores


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CC

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2.3

2.3

2.4

BB

105.00

2.5

2.1

105.00

2.8 2.9

102.00

2.10 102.50

2.11

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[111] Planta da galeria de arte de Itajobi. Desenho do autor. 163


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A galeria de arte e sua cobertura funcionam de forma conjunta ao museu. Os dois espaços oferecem, além de suas funções tradicionais de lazer e cultura, um palco para a livre expressão dos moradores da cidade. A cobertura da galeria é um espaço livre de ampla vista para o vale - ambiente propício para que as pessoas se apropriem, vejam e sejam vistas. Sob esta cobertura estão os espaços expositivos da galeria, com acesso controlado para exposições itinerantes. O espaço conta ainda um teatro, com camarins e estruturas necessárias para apresentações cênicas, permitindo, também sua abertura para a contemplação do parque.

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Dino. (2020)

Dino. (2020)

[112] SEC AA_ complexo cultural. Desenho do autor.

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1

3

10

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TRANSPARENCIA VIDROS: 75

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Juntos, o museu e a galeria compõem um complexo cultural de 1900 m². O museu assume a forma de um pavilhão que complementa o percurso da passarela e se estende por mais 21,6 metros em balanço livre. Essa robusta estrutura é estabilizada por uma treliça metálica que se apoia no complexo da galeria e então se estende de forma independente. A galeria, por outro lado, se encaixa nesse contexto de forma semelhante à biblioteca – mimetizada no desnível do terreno favorecendo sua cobertura como espaço de contemplação do parque e da cidade.

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6.3

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2.7

6.3

2.7

6.6

2.7

4

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2.7

27

2.7

2.7

6.1

2

6.3

8.1

9.

9.

2.7 9.

Dino.

2.7

9.

(2020)

4.4 9.

1

9.

9.

2.7 9.

2.7

2.7

4.4

1

4 6.1

2

[113] SEC BB_ complexo cultural. Desenho do autor.

0

1

3

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TRANSPARENCIA VIDROS: 75

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a l i 3.6 7.2

3.6

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7.2

4

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7.2

72

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3.6

7.2 1.8 1.8

3.6

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.9

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.9

3.6

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.9 .9

6.6

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Dino. (2020)

[114] SEC CC_ complexo cultural. Desenho do autor.

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1

3

10

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TRANSPARENCIA VIDROS: 75

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[115] Perspectiva externa do complexo cultural. Desenho do autor


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parte 06: créditos iconográficos [55] Fonte: diagrama do autor [56] Fonte: desenho do autor [57] Fonte: acervo pessoal. Foto: Raul Oliveira [58] Fonte: acervo pessoal [59] Fonte: diagrama do autor [60, 61, 62] Fonte: fotos do autor [63] Fonte: diagrama do autor [64, 65] Fonte: acervo prefeitura de Itajobi [66, 67, 68] Fonte: fotos do autor [69, 70, 71, 72] Fonte: desenhos do autor [60, 61, 62] Fonte: fotos do autor [73] Fonte: foto do autor [74 a 115] Fonte: desenhos do autor.


70 ETRAP OÃSULCNOC


PARTE 07 CONCLUSÃO


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pt. 07

07 Os pavilhões previstos para ocupar o Parque da Cidade procuram de maneira responsiva atender ao partido do projeto, enquanto expressam sua própria identidade frente ao entorno. O parque, portanto, é um experimento de implantações diversas que gozam da condição de se projetar baseando-se nas deficiências ou potencialidades do local, que hora se mimetizam em meio ao desnível – como a biblioteca e a galeria de arte – e hora se impõem frente à paisagem – como a passarela e o museu. Mesmo de baixo gabarito, o complexo criado pretende “gritar” sua representatividade frente ao cenário existente. Sua estrutura de identidade própria se destaca da paisagem, convida e abraça a população na experiência de se desvendar o novo. O cenário apresentado sobre Itajobi se repete na vasta maioria das cidades do interior do Brasil. Ricas em suas próprias histórias, estas cidades rurais vivem uma condição quase que nostálgica, onde pouco se fala sobre seu papel no futuro e pouco se extrai sobre suas potencialidades próprias. O sentimento de não pertencimento dessas cidades no debate político nacional vem trazendo consequências desastrosas na formação do povo brasileiro, uma cidade que não se sente parte de um país, é incapaz de valorizar seus próprios espaços e moradores e também incapaz de contribuir para a melhoria do país como um todo. O exercício de projeto acadêmico aqui não se limitou em esforços orçamentários, mas ousou experimentar baseando-se em todo o potencial encontrado em histórias e tradições de uma cidade rural no interior do Estado de São Paulo. Uma cidade pode ser projetada por arquitetos e urbanistas, mas ela só é realmente construída a partir de memórias, de encontros e de pessoas. Nós, como arquitetos, podemos apenas tentar criar os espaços para que estes laços sejam formados e assim, nossos projetos construídos.

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Itajobi, 2020 ilustração do autor


Breno Quaioti São Paulo, 2020


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