lua vermelha
Oração à lua vermelha Só tem essa Corisco pra beber Meu filho aprendeu a dizer o teu nome Sobre algum de teus mares um tapa-olho Esta montanha que habito escancara a ti dentes cariados De um mar grafite imóvel milhares de setas vermelhas para ti apontam Disseram de um ciclone com nome de mulher – tu segues ímpar anônima Lua bucaneira me guarda com teu rubro olho de osso enquanto durmo para reaver o meu nome
Estratégia de branding Demarca território neste couro com os dentes escreve nome sobrenome vermelho roxo verde pro teu logo Com as unhas anota instruções para este uso o que é teu embala com sangue suor saliva nesta página escande ou rasura a tua serifa Demarca território neste couro só não repõe no mercado este produto – antes ruminado em fogo de marfim que reciclado em brechó ou camelô Se der na telha rasga frita come : só não o devolve nunca sem teu nome
Outro domingo 2 Sol das seis o ácido ainda faz efeito Só o som das rodinhas do carrinho do meu único filho O sol se arma de cima a baixo na praça gritos de pássaros e cortadores de grama e latidos de cães presos nas mansões e cheiro verde e sexy das árvores na pele e o sol nos cabelos do menino Quase ninguém então a hora dos mocorongos – devagar eles surgindo detrás das árvores com suas parelhas de totós e leggings verde-limão e peles celulíticas e varizes de fitness e suores frios e poses artríticas devagar duros eles solos concentração olhos baixos : os velhos e seus últimos músculos
O zelador de uma mansão chicoteia um cachorrão branco até que ele volte com um pedaço de pau entre os dentes Uma senhora estaciona a cadeira de rodas ao lado do carrinho do meu filho o sol doura sua dentadura Perdeusse cão beje labrador de pelajem cumprida atende por Nêne gratificasse quem encontrar 3898 8263 9155 8674 3081 7100 Acendo um cigarro dou um pedaço de pão pro meu filho ninguém se cumprimenta a não ser seus cães seus cus Só o vigia armado me diz – Dia Cada vez mais eles se exercitam cada vez mais altos os latidos cada vez mais alto o sol Na volta meu filho morde o miolo de pão com seu dente único de sabre
Este poema se autodestruirá O reino da Dinamarca fica tão longe o cheiro de podre não chegará aqui meu filho constrói castelos de Lego devo não nego pago quando puder as saudades que invento de Londrina a oitocentos quilômetros da retina se sente mais o fogo de um escorpião I think I made you up inside my head Kim Jong Il brinca no mar de Big Bang e eu que nunca fui fã de Nara Leão cismei de ouvir bossanova e levitar enquanto meu filho destrói castelos Kim Jong Il aperta o botão da bomba e Nara manda notas safadas do Paraná Nuvens de metal escurecem o horizonte e as peças do castelo de Lego se tornam versos de um poema que vou explodir 41.279 graus norte 129.087 graus leste Mas mesmo que a bomba coreana devaste nosso reino dinamarquês e pulverize toda a saudade que tenho nada importará à ácida garoa daqui
Neste domingo de Lego e Sylvia Plath só quero recriar o perfume de Londrina Les Paradis Artificiels na cama estreita I shut my eyes and all the world drops dead.
O cacto e o perfume Encontro um cacto em uma gaveta calmo e arisco e verde deixo a gaveta aberta logo floriram nele uns pontos vermelhos Enquanto o furacão se insinua na TV minha vodca se dissolvia junto às pedras de gelo e eu jogarei dados buscando compor um símile A chuva não passaria entanto eu e o cacto víssemos o céu sempre azul Os vidros da sala criariam estrias alvas enquanto as músicas se escondessem em aleatórios envelopes Melhor morrer de vodca que de perfume, sorrirá o cacto – voz de acaso, de espinho Estaciona-se hoje pela hora da morte o preço de uma vaga é superior a um apartamento de luxo e em minha casa se formará uma névoa grossa que corto entre e-mail e outro com uma faca Ginsu Meus ouvidos captarão trovões o cacto me diz serem as sandálias da vizinha do andar de cima
Descascava-se a parede e os dados rolavam e os ralos rugiam as janelas brigavam atrás de minha geladeira os sapatos se enregelavam e as flores vermelhas do cacto criariam mamilos frios tentáculos nas paredes As pessoas estão doentes de pressa já eu sigo vago na mesma gaveta rezando ansioso que meu mestre nunca me feche de novo lá dentro
Sister Siren Tão linda suspensa na amurada Seus pés minhas mãos recriam os caminhos Espiar um ao outro com a íris da língua navegando sobre as sirenes da Cidade-Olho O beijo que te dei volta mascado o beijo que te dei volta um segundo antes de entrar na última ilha Lua e areias negras suas fronteiras Seus olhos fechados um tsunami tanto que me amarro aos rochedos Mas você permanece suspensa suspensa na íris da língua
Ontem em Buenos Aires Felizes frente ao cemitério Pedimos a última Quilmes Está linda nessa digital, digo Ao lado da tumba de Evita Nem se percebe quem é quem Você se levanta rebolando O sol reboa nas cruzes por sobre os muros E o garçom sem gorjeta chia Um beijo atrás da placa art decô do metrô Mas você some no subterrâneo Te amarei como nunca, agora Que já é ficção
Piscina vazia Lembro de você num vestido prateado um spot de luz bem sobre onde estava sentada no palco sorrindo os pés flutuam os pés nus flutuam entre palco e platéia Desconhecia se era a peça ou a vida entre palco e platéia seus pés flutuam você prestes a saltar na piscina vazia prateada o sorriso e os pés que flutuam
Beira De musa não se abusa eu já devia supor beber chá pela flor espiar lua no subsolo devagar com o andor que o abismo ali flora no seio do precipício onde outro ritmo rui cru muito íntimo ou o amor apavora em jazz de pétalas mim sem ti sintaxe solta seco ar de sustos clara fulô sabe a sol sobe ao sul sépalas dissolvidas da pele perfume na língua muda
Ciclo das águas Acordo às cinco da manhã as narinas sangram meu filho mijou na cama outra vez não consigo acordá-lo vou à sala vazia o dia é frio e preto ainda outra vez preparo um café em meu cacto surgem pontos vermelhos devo banhá-lo e espio pela janela um avião surge prateado entre nuvens meu filho surge na sala pergunta se ainda é noite não sei o que responder devo banhá-lo antes disso ele diz não vou fazer outra vez e ainda antes disso nas janelas gotas de chuva
Dentro da noite O bebê chorando a mulher chorando a gata no cio – o cão na lua – a certeza de que uma verdade dolorosamente bela acontecia dentro da noite [mas você jamais estaria lá]
Samba 747 Lua eclipse de janeiro Quem vai atirar primeiro? À mesa os dedos num samba no batente é que se suicida Conselho de um marinheiro de dentro do casaco de lã Quando não se quer mais nada melhor procurar a saída Ir e não voltar nunca mais está bem mais perto do que o cinzeiro Uma nuvem celacanto vem engole a lua antes que suma Gatos passeiam na mesa alguém assobia Greensleeves Vento frio o som de um avião um halo de luz a nuvem saiu Nem sempre se pode esperar que o escuro te lave e te leve Ir e não voltar nunca mais está bem mais perto do que o cinzeiro
Pisando em uvas Às seis da manhã você me chama volta pra cama vem deixa disso Da janela vejo um cara pisar em latas como quem pisa em uvas ou ovos peão da Roma antiga Sísifo-de-obra Alcanço outra taça outro cara passa atira latas pro catador de alumínios que se abaixa e pega pisa e guarda Fecha essa janela você só reclama uma concubina romana Messalina a me espremer olhos miolos ovos oh nós otários sectários de Dioniso Vou e venho cato minhas sobras me reciclo a ti em trigo daí cismo de pular no colchão feito menino você ri só que logo se dobra destroço pés que esmagam seios você escama ossos estalam vísceras trituradas minha cama vindima de leite e sangue e te bebo dos olhos um límpido vinho
Assim nascem os oxímoros Quando menos se espera sua casa é uma mulher barbada e você dá carona aos cactos e bananas às câmeras no elevador Bom dia banco 24 horas insuficientes para minha vida inteira As ruas foram obturadas antes do dilúvio mas você assistia ao giro dos frangos na TV enquanto amamentava debêntures e begônias indiferente aos talismãs que tentam te vender Por favor esqueci a minha senha me deixem entrar
Just do Bin No lixo o cio em anticristo espia da gaveta sombras nos olhos uma uzi na panela no microondas o biquíni Quando então os gênios do vento fecham suas portas e caminhões labutam léxicos novos descendo a garganta até as árvores do fundo Passos no peito na película a cama no lodo a dama e o cadarço fechando o pescoço – um despenhadeiro de isqueiros vermelhos – na rua o osso
French fries dream Minha mãe caiu na estrada Foi morar na cidade de Kerouac Lowell Massachusetts USA Dali Kerouac fugiu mas voltou para buscar sua mãe e só aí morrer Ali minha mãe acorda todo dia cedo Esquece as dores nos joelhos esquece que nunca viu o seu neto e que tem medo só de ir ao correio e vai alegre fritar batatas na Wendy’s Enquanto pensa que tem um emprego enquanto pensa que se existe Jesus não é o mesmo de Kerouac e Bush suas batatas reluzem no óleo estáticas clandestinas órfãs queimam
Metafísica prática Pai o que é o infinito O infinito o infinito hummm um número tão grande que a gente nem consegue contar Então não existe Existe Mas se não dá pra contar não existe Claro que existe hmm só que a gente não consegue ver hmm é como se não existisse Então existem coisas que existem mas não existem Hummm acho que sim Acho que sim quer dizer é e não é É Então não é Não é e é Então o infinito é invisível Acho que sim Se é invisível ele está aqui mas a gente não está vendo Hummm é Se a gente não está vendo ele é porque a gente não consegue ver ou é por que ele não existe Filho termina a sua comida sim Hummm que comida?
Quintal crescente Em suas marés todos os sangues confluem da pele nuvem dos passos em eclipse ao verbo que vagalume a voz Folha bolacha bola ilha sobrancelha se o espelho sideral é seu playground seja ao menino o mundo a lua o outro lado que é este
Enquanto uma música de bytes minimalistas cortados por um trompete suicida O filho acorda de madrugada E vai dormir na minha cama Desperta faltando quinze para as sete Que era a hora em que o alarme estava ativado O bloco de notas e a caneta caindo no chão fazem um som estranho Depois me levanto Banho Corro pra não ser multado Dor no peito Jejum Ônibus da escola para o acampamento Ele se despede com os olhos limpos Talvez tristes Ou é mera impressão Corro pra não ser multado Brigo com a ex ao celular Brigo com a secretária da escola ao celular Brigo com o gerente do banco ao celular Brigo com o personagem da matéria ao celular Brigo com a vendedora do telemarketing ao celular Mas nada nem era muito importante No meio tempo tirei sangue no laboratório Ressabiado
Então compro o jornal para ler o que eu já sabia Mais tarde cortar o cabelo às 10h20 A cabeleireira conta que também corta o cabelo da Céu Acima da cabeça há nuvens pretas Dentro da cabeça uma canção de Shiva Las Vegas Como a coruja ama a trave e o bacurau ama o luar Como esse mundo teme se acabar Ei-de comê-la Troca de SMS safadas com Nara Coisas sobre sua bunda e o jeito como geme Pelo Setestrelo eu firmo essa intenção Sob o selo de Salomão Há de me amar Penso que estou doente da geometria desses dias falsamente retos ou descrer em si é só mera superstição a que se apega para tentar a todo custo se sentir salvo Tomo banho Astronome Domine Estou sob o signo do deus Shuffle Nunca sei que música pode acontecer Mas no trabalho nenhuma surpresa Apenas reuniões idiotas e conversas fiadas A não ser um belo almoço cheio de risos cachaças comida boa e de ganhar uma gata de uma amiga judia depois de ter conversado com outra amiga judia e ter ficado meio apaixonado por uma ruiva que parece judia também e trabalha na sala ao lado
e uma loura que trabalha na sala acima e uma morena cujo nome é um segredo ou uma receita ou mera cacofonia E agora completamente louco e sentindo-me péssimo e só ansiando por Nara que chega amanhã e talvez me salve para alguma humanidade Como há quem tema ataques de ladrões nas ruas temo me converter em cyborg de mim mesmo Afinal ouço vozes que me mandam fazer coisas e nem sempre elas falam a minha língua Comunication breakdown A ruiva intrigante e a loura de olhos brilhantes e a morena matemática somem Saio do trabalho às 22h Cansado pensando vagamente em fazer algo ou nada instalo a gata em sua nova casa Onde ontem um menino onde agora dois animais Resolvo não ir à festa de aniversário do amigo cantor entedio-me a gata entedia-se no copo as pedras entediam-se e se dissolvem ligo o som que agora vem com Fellini eu vejo as ruas e você o tempo não pára de correr o espaço comprimido e você os nossos vizinhos como mar
um vulcão particular Quase vivo quase morto em novembro dia nove para o dia dez as mulheres que nada humildemente amei desfilam por meus olhos ovelhas negras que me fazem perder o sono há dezoito anos começava a namorar Geenie há dez anos começava a namorar Mariana que depois de quase me fazer perder o primeiro livro agora é de novo minha amiga ela diz que o marido é esquizofrênico e ouve vozes e se sente perseguido ora me conte uma notícia nova como as doenças são comuns entre os caras que namora e como o tempo se mistura na minha cabeça with whisky and grass and cigarettes and a silent cat in tha house você é música Harley Davidsons pilotadas por gerentes de banco cortam o silêncio da noite Like a Hurricane vem e lembro de Min ela costumava me chamar assim in a crowded hazy bar me lembro de Rosario com quem havia sonhado esta madrugada ela docemente matava sua sede em mim no meio da rua todas tão doce e violentamente mataram sua sede em mim em ruas hoje frias e ouço Love Street com Jim Morrison e o shuffle desliga sozinho
O bloco de notas e a caneta no chão fazem um silêncio estranho Penso em dormir mas não posso pois tenho medo de o dia não ter valido nada porque o tempo não pára de correr e às sete da manhã não virá a redenção sempre esperada e sim um samba de um prego único perfurando uma parede uma música de bytes minimalistas cortados por um trompete suicida
Shhh cada vez que ela diz xis shhh quero morrer entre a promessa do não-dito e o interdito da promessa – No me adora bisbisea el fuego para la salamandra shhh
Prometeu no Bradesco Sete da manhã de terça o termômetro marca 7 graus Na frente do Bradesco do Copan sete corpos estendidos na calçada Um cobertor laranja outro xadrez um farrapo cinza noutro um cão se enrola em volta duma garrafa O Bradesco só abre dali a três horas mas os corpos na calçada já na fila pruma misteriosa operação financeira Uma manta marrom outra rosa um lençol azul um jornal de empregos Trabalhadores rumam ao largo invejam os corpos ainda largados que roncam O ‘banco que põe você sempre à frente’ mandou instalar vitrôs negros pra que os corpos não dormissem de lado esticados frente às janelas pra que seus clientes não vissem corpos flutuando sobre seus limites de crédito Sete corpos estendidos na calçada Um de boca aberta atravessado de banda numa cadeira executiva rota de três pernas segura um saco de pipocas que caem em seu colo
pros bicos das pombas bradescas – as aves que aqui rapinam um Prometeu sem fogo nem deuses
Nós os super-homens Este é o meu corpo este que aqui se excrucia suando na esteira da academia Vós que observais daí de baixo da rua mortal que andais a pé não sabereis das dores e sacrifícios a que eu e meus irmãos de vício nos submetemos neste zoológico Hamsters teleguiados olhamos à frente corremos parados a mente noutro lugar ouvidos plugados a cordões umbilicais sempre estamos e nunca estamos aqui em segredo vos invejo irmão mortal pois passeias enquanto somos torturados por carrascos que nós mesmos contratamos para que sejamos belos e fortes e poderosos para que admireis nossa super-humanidade Nós que aqui estamos por vós esperamos
Depois de amanhã para Joca Reiners Terron, Xico Sá, Marcelino Freire, Daniel Galera, Marçal Aquino, Mário Bortolotto e Marcos Behute E aí vem essa estranheza de estar o tempo todo fazendo coisas criando ficções e eventos e relações entre os sentidos e o mundo e subitamente perceber que essa ligação é absolutamente impossível pois já foi para sempre perdida essa plenitude de pedra digital sustada sem conexão alguma além do fato de ela ser pacificado minério – porque por enquanto pedras rolando depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será a não ser evidentemente as latas de cerveja e as bitucas de cigarro amassadas despojos de nossa guerra particular contra o tempo
Outro domingo 3 O céu claro sem nuvens reflete as bombásticas recordações de uma semana inócua na TV duas louras rebolam a bunda no nariz de uma dupla de anões a amiga afunda o pé no acelerador com elegância no closet um casal brinca de roleta russa enquanto as nuvens pintadas no muro do cemitério passam tão rápido Um domingo de sol é uma espada a separar passado e futuro abismo e abismo esfíncter e esfinge lama e mel o dia divino uma ponte pênsil entre zero e um as mãos do cantor tremem ao te servir cerveja e ainda que o time da infância ganhe de três a zero o sol afundará teus olhos pra dentro I gonna take you higher é o refrão que ritmas no abismo duplo com os mesmos dedos com que desbastas a carcaça de um caranguejo porém nenhuma fome se extingue sob o verão meridiano pois domingo é o mais cruel dos dias as raízes do sol se enterram no húmus da memória e o que sobrou da semana passada senão um brechó sem estilo e o que será da próxima senão adiamentos de bandeiras negras Que doce agrado seria o mar vis à vis
sem cismar em sismos sem buzinas nem sinos de igrejas bêbadas ou celulares pedindo tua atenção para o cheiro de carne queimada o mais vil desse abismo é ser bis o mergulho incessante sem sair do lugar como um domingo insolente por indeciso – o vento demais azul do final de tarde é só mais um truque
Nevermind Neverland Faz sol chove venta garoa e nuvens voam velozes como nas telas de Turner sinto fome sono saudade gente grita em mongrego hebrárabe aimarusso e até inglês viro estátua em Kensington Peter Pan ergue braços pretos me sopra mind your mind esquilos me pedem rango gringos exilados pedem rango o guitarrista do tube pede rango e uma banana custa um dólar no meu país compraria dúzias uma nova tropicália em Hoxton os risos dos amigos apagam as 52 cruzes de King’s Cross sete do sete uma santidade ímpia severa como os parques londrinos há virgens com véus nos cabelos e putas com véus nos olhos todas com bundas tristes hoje almoço uma Guinness gente grita em tupinésio
teutocoreo italoruba vietinglês falsofarsi portuñol salvaje não estou aqui e ainda estou como em um sonho de outro em todo canto há placas informando aonde não ir em todo canto há câmeras informando que sou ator no filme de um ser anônimo Londres é um parque temático e avós espiam minha mochila please dont’ you be very long please don’t belong me pede George no iPod o exílio é só pra quem pode e é proibido fumar nos pubs os dias passam velozes fome saudade libras somem minha barba cresce atroz os pés viram cascos de cavalo viro planta no Hyde Park viro bomba no Eros de Piccadilly viro aramaia afrisânscrito mandatim viro o Thames a cor dos teus olhos I wish I was at the Big Bang nevermind the gap diz Peter Pan
Lengua extraña Yo abandoné esto en tu oreja para cuando tú despertares Una lengua una hambre una batalla de ser comprendido Yo abandoné esto en tu orilla para cuando tú despertares La extraña sensación de quedarse perdida en tu barrio Yo abandoné esto en tu ordeña para cuando tú despertares Para que sientas mi susto como si fuera tu mismo gusto Yo abandoné esto en tu oración para cuando tú despertares La palabra que dulcinea a nosotros una mentira salvaje Yo abandoné esto en tu origen para cuando tú despertares El deseo que ya te vayas y yo te olvides por todo siempre Yo abandoné esto en tu orina para cuando tú despertares El hijo que tendríamos si tú fueras más puta y no tan pura Yo me abandoné todo en tu orbita indócil pero tu jamás despiertas y así seguimos vecinos de cama espaldas uno para el otro sueños que solo se tocan en abandono
Luna ondula sus mareas Tenderly desintégrame esta noche estoy pronto si tú estás you’re with that tartan of kryptonite I’m just that guy outside who writes Luna ondula sus mareas En la nube nueve sé lo que tú eres la rainha diaba a anunciar felices nuevas en la tele y sonríes perversa y entonces macérame tenderly Luna ondula sus mareas The guy who writes es solo un fontanero tiene de comunicar vasos ríos corrientes fluir mierdas aguas alcoholes leches Luna ondula sus mareas Lo que puedo hablar de tu olor que no sea leviatan cuando sobre la nube nueve me follas en el tartan y bisbisea ‘voy a sumergirte’ Luna ondula sus mareas Oferta tus senos como vino tus cabellos mi texto cada libro un ladrillo creando su precipicio sangre es la única voz que escribe Luna ondula sus mareas
Tenderly desintĂŠgrame keep your teeth over my veins keep kryptonite inside your tongue keep my blood playing the words Luna ondula sus mareas
Espinha tento te cuspir você não sai esqueceu a escova e os dentes brancos na cômoda no espelho esfrego a língua a pele o osso a espuma clara descendo pelo ralo teu cabelo ruído branco ainda sua nos meus dentes tento te cuspir você não sai
Não é você sou eu Ela bate o portão e abre a sombrinha Dois cães fuçam rango no meio-fio Rápido ela atravessa a rua molhada O ar da noite aos poucos se secando em blues automático uma nostalgia Carros passam derrapam buzinam Seu gosto ainda na boca se dissipa na velha fome sempre incompleta Ela parece feliz dobrando a esquina E os cães brigam por um hot-dog frio
Nova deve ser gravidade a lei do que move sem largar pegadas vai minando dentro e fora faz satélite nada disso é tanto ando sem palavras pra nomear silêncio quando o não o sim que cada passo some e entre aí e aqui o ar onde se esconde tão outras de si que só os vastos vazios toda ela existe