Manual Brasileiro de Bikepacking.

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O bikepacking é um estilo de viagem em bicicletas. É a primeira modalidade de cicloturismo existente. Pegue uns trapos, corte do tamanho do quadro, costure, faça uma bolsa pra jogar alguns itens dentro. Amarre um saco no selim. Prenda mais alguns volumes no guidão. Vá para uma aventura. E assim nasceu o BIKEPACKING! Amarrar coisas em bicicletas e pegar a estrada não é nenhuma novidade. Nesse zine você vai aprender um pouco sobre a explosão/boom/ ascensão do bikepacking ao redor do mundo nos últimos 6 ou 7 anos (e ficar pronto pra viajar amanhã, se for preciso).

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O bikepacking é um deslocamento de bicicleta com, no mínimo, uma pernoite. É um desafio autossuficiente e com espaço de carga limitado. O bikepacking precisa de equipamento minimalista e dispensa confortos que acrescentam alguns gramas e volume na bagagem: é uma viagem que se leva só o essencial para comer, dormir e pedalar. É equiparado ao ultralight trekking, porém em bicicletas. O bikepacking moderno renasceu pra quebrar os recordes de travessias em bicicletas. Significa, ao pé da letra, colocar mochilas (super leves) nas bikes (+ tudo para sobreviver na estrada). Quando falamos de equipamento minimalista, não estamos falando de bicicletas em fibra de carbono, equipamento de ponta, tendas de uma dezena de gramas, fogareiros específicos e bags importadas. O bikepacking não é isso, principalmente aqui no Brasil. Acompanhando este zine, você vai aprender algumas dicas de como viajar mais leve gastando pouco dinheiro.

*Qual a bicicleta ideal para bikepacking?* Depende. Pra onde vai viajar? A bicicleta ideal para bikepacking é a bicicleta adequada às condições da tua viagem. Como citei ali em cima, o bikepacking é universal. Vai viajar por vias de pavimento de qualidade? Uma bicicleta de estrada serve. Vai viajar pelo meio do mato, navegando entre trilhas e pedras? Uma bicicleta de All-mountain serve. Vai viajar pela beira da praia e atravessar dunas? Uma fatbike serve. Vai viajar em terreno plano (ou não!!!!)? Uma bicicleta Fixed Gear serve. Resumindo, a melhor bicicleta para viajar é a que você já tem, basta planejar o roteiro do jeito certo. Um lembrete: preste atenção na relação de marchas, a bicicleta vai estar mais pesada e as subidas podem se tornar um inferno – e inclusive sobrecarregar a transmissão e os joelhos. O bikepacking é libertador. Te deixa livre pra passar por onde a imaginação e a bicicleta permitirem. Exige um pouco de esforço e de estudo na hora da escolha do equipamento adequado. Te faz ir mais longe, com menos pausas, com mais facilidade na transposição de obstáculos, na estrada ou fora dela. É de longe a maneira mais rápida de efetuar uma grande travessia ou completar um desafio de autossuficiência. É bom deixar pra trás itens supérfluos e descobrir que não há maior recompensa do que um banho de rio, um sanduíche no platô da montanha ou o amanhecer na beira da praia.

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REDUZ PESO As bags para bikepacking não necessitam de estruturas metálicas para a sua sustentação, ao contrário dos alforges, que além do peso deles próprios, precisam de uma estrutura em metal presa ao quadro para funcionar. AERODINÂMICO Esse é fácil de perceber. Não acredita? Existem testes científicos para comprovar. Encontre os links no blog*.

UNIVERSAL Bikepacking serve em qualquer bicicleta. Qualquer uma. Não precisa de olhais de bagageiro no quadro/ garfo. Está aqui outro estímulo para a ascensão da categoria: você pode viajar com bikepacking independente da bicicleta que você tem, desde a fixa sem freio à de XCO em fibra de carbono. FÁCIL Querendo, você mesmo pode construir as suas bags, organizar seu equipo e DAR NO PÉ!

* www.bikehandling.com.br/

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A CULPA É DOS IMPOSTOS. MAS POR QUE ELES EXISTEM MESMO? Os impostos existem pra nos proteger. Parece mentira, mas não é: o governo cobra imposto para incentivar o desenvolvimento, criação, produção e venda de produtos brasileiros. Ao dobrar/triplicar o valor final de um produto estrangeiro e praticamente inviabilizar a sua compra, nos faz buscar um produto nacional. Ao comprar algo desenvolvido e fabricado no Brasil, indiretamente, você gera empregos, circula o capital do seu país, valoriza o mercado interno, ajuda a desenvolver tecnologias, e ainda gera oportunidade de crescimento e exportação dos mesmos produtos. Diretamente, você tem acesso fácil à garantia e à assistência técnica do que comprou. Alguns economistas afirmam que a proteção em demasia de um produto pode fazer com que ele perca a qualidade, devido à falta de concorrência. E isso já ocorre aqui no Brasil. POR QUE A GENTE SEGUE COMPRANDO COISAS DO EXTERIOR? No nosso país, ainda não temos o investimento básico para a educação das nossas crianças, imagine em longa escala ter capacidade de “consumir da forma correta”. O consumidor brasileiro, em geral, não é exigente: não cobra a garantia e assistência dos produtos que compra (muitas vezes executa a boa e velha gambiarra para solucionar um problema de fábrica, quem nunca?). A nossa cultura e nossa remuneração média não nos permite comprar um produto de qualidade, duradouro e insistimos em praticar a famosa compra do “barato que sai caro”/”trocar o certo pelo duvidoso”.

O Brasil também não consegue produzir produtos de qualidade comparável à dos gringos(aqui falo de bicicleta). Nos falta mão de obra qualificada, tecnologia, investimento, falta que o governo reduza os impostos para a produção nacional. O que o governo faz é manter os impostos para os empresários brasileiros e além disso cobrar 50% de imposto sobre um produto importado: só quem ganha é o próprio Estado (o consumidor gasta, o empresário brasileiro não desenvolve, o gringo ganha igual, o governo fatura em ambas as compras). QUAL A SOLUÇÃO PARA ISSO TUDO? (NESTE CASO COM BICICLETAS) Qualificar o mercado através de educação, cultura, esportes, ciclovias e respeito no trânsito. Assim teremos mais ciclistas, mais necessidade de bicicletas e acessórios, mais empresas e marcas nacionais, um cliente mais exigente e crítico, mais investimento em tecnologia, um produto final mais barato e um mercado que é valorizado. E o que você pode fazer? Comprar do comerciante local, incentivar as pessoas ao seu redor que tem um pequeno negócio, consumir de perto, ter uma relação direta com o fabricante/idealizador do seu produto. Para isso, precisamos lutar e apoiar o nosso mercado! O governo jamais reduzirá os impostos, uma vez que para ele, não é vantajoso. Baixando os impostos, o governo: perde receita$$, pára de vender tantos carros (sim, o imposto aqui é mais caro para as bicis do que para os carros). Não é do interesse dele ter um povo com autonomia, que se exercita, exige respeito no trânsito e é independente das montadoras e petrolíferas. AUTONOMIA É A CHAVE DA LIBERDADE!

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Uma mountain bike pode te levar para lugares que outras bicicletas não conseguem chegar perto. Sem dúvida são as bicicletas mais rápidas quando estão no seu território: escalam paredes de cascalho, engolem os obstáculos da pista com facilidade e oferecem uma posição de pilotagem muito estável, principalmente nas descidas rápidas, que podem ser de pedras soltas, lama, single-tracks, cascalho, degraus ou estradas de chão (adicione curvas de 180 graus). Todas as mtbs estão aptas para uma viagem de bikepacking! Desde os modelos mais antigos em Cr-Mo, com garfos rígidos até as mais modernas full suspension, em fibra de carbono. Cada uma com as suas vantagens. Aqui no Brasil, você encontra mtbs usadas, dos anos 90, prontas para viajar, e o melhor: gastando muito pouco.

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Acessando o blog, você encontra exemplares de mtbs 90s que foram feitas para durar para o resto da vida, ou mais. Se você não é um experiente mtber, opte exclusivamente por relações com 3 coroas no pedivela, isso lhe dará uma amplitude de marchas maior do que necessário, inclusive com 7 velocidades atrás (use megarange!). Saiba navegar, o gps não vai funcionar lá. Desça devagar, depois que o trem embala, é difícil segurar. Pedalar na montanha em bikepacking exige um misto de experiência e cautela, por exemplo, você não pode tomar um tombo, não pode quebrar o cavalo ao meio, não pode se perder, não pode ficar sem água - ainda mais se estiver solo. Para o montanhista experiente, lembre-se: você está carregado!

Colocar uma parte da carga e da água nas costas, principalmente fora do asfalto, aprimora a pilotagem da bicicleta. Você vai transpor obstáculos, entrar nos estreitos single-tracks ou dar um salto com mais facilidade. Além disso, com a mochila nas costas, você pode se distanciar da bicicleta para entrar em um mercado para um lanche, ou um café, sem se preocupar com seus principais pertences (inclusive os mais frágeis). Outra vantagem é a hidratação e alimentação de fácil acesso, através dos bolsos e compartimentos especiais. Ajuste corretamente os engates de peito e de cintura. Escolha sempre uma mochila ventilada, confortável, confiável e que ofereça praticidade e facilidade de uso.

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Saiba identificar e lidar com os problemas frequentes da sua bicicleta numa aventura: analisar os furos de câmaras e investigar porquê ocorreram (para que não fure de novo), consertar uma corrente quebrada, alinhar (mesmo que grosseiramente) uma roda avariada,

aprender a transformar a sua bicicleta em single-speed (se o cambio quebrar), fazer um “bacalhau” em um pneu cortado, regular as marchas e freios, trocar as sapatas dos freios. Tenha afinidade com a bicicleta e os componentes que você vai viajar.

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A lista abaixo é uma base para que você possa planejar a sua viagem. Ela serve para te orientar e te tirar do sofá para que bote o pé na estrada. Só com algumas viagens cada indivíduo poderá identificar itens que deve adicionar. Nós não tiraríamos nenhum.

Programe a sua viagem na próxima página —>

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Nome:__________________________________________ Fone:(___)_______________ Bicicleta:________________ FOTO 3x4

Destino:_________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________

Corte aqui e leve para a viagem.

_______________________________________________ // QUARTO

// COZINHA

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// ROUPAS

// FERRAMENTAS

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// EXTRA

// COMIDA

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ALIMENTE-SE BEM! A ingestão de alimentos de qualidade, sem crueldade, feitos com amor e carinho, desprovidos de agrotóxicos e demais maléficos para a nossa saúde, é essencial. Deliciar-se com as calorias necessárias e preencher as lacunas de nutrientes, diariamente, é pré-requisito para quem viaja de bicicleta. Você precisa estar com a saúde em dia para chegar do ponto A ao ponto B. Cozinhe seu próprio alimento, compre direto do agricultor, coma vegetais. Quando não puder, conheça seus cozinheir@s, confie no trabalho dessas pessoas, tenha certeza que o fazem com amor. Uma alimentação balanceada na sua rotina, enquanto está na cidade, vai permitir que falhe em algumas situações na estrada: biscoitos, macarrão instantâneo (A.K.A. comida negativa) e alimento oriundo de lugares desconhecidos... Quem se alimenta assim diariamente, provavelmente terá um troço ao fazer força por alguns dias, na estrada. Tome água, sempre que puder: ela é o nosso fluído de motor.

Em Porto Alegre, conheça a equipe do Germina e da Donna Laura, responsáveis por boa parte da nossa alimentação.

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O Zine #1 fala sobre bikepacking e cicloturismo de aventura nos moldes do mercado e condições brasileiras. Esse projeto não se tornaria realidade sem as pessoas ao nosso redor, que constroem junto conosco, todos os dias, conhecimento e vontade para seguir adiante. As pessoas e marcas que nos ajudaram de alguma maneira a executar e distribuir o Zine merecem máximo agradecimento. Para que seja viável produzir mais edições, convidar mais pessoas para participar, testar mais equipamentos, adquirir mais experiência e poder trocar mais aprendizados com leitoras e leitores precisamos de visibilidade. Convidando alguns amigos para acessar o www.bikehandling.com.br você já está contribuindo para a construção e realização de um sonho: um publico aventureiro informado e preparado para montar, executar e avaliar todos os pontos positivos e negativos que a aventura(na cidade, na estrada ou na montanha) pode proporcionar. Queremos agradecer, individualmente: COLETIVO BRIO Design e Execução

IGOR, BLOG ABSORVA DISTÂNCIA Conteúdo da pág. 9

OSPREY PACKS E MÔNICA MORAIS Primeira grande marca a apoiar o projeto

GABÉ, DA ELEVEN BAGS Todos os kits de Bikepacking e costura

PEDAL EXPRESS Experiência, coletividade, força e sustento

EQUIPES GERMINA E DONNA LAURA Alimentação reforçada

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Queremos escrever o #2 Manual Brasileiro de Bikepacking. Isso só será possível através do teu feedback. Pensamos em dar um pontapé a partir do tópicos listados ali em cima, mas estamos abertos para incluir qualquer conteúdo relacionado a bikepacking no Brasil. Tem alguma dica do que gostaria de ler? Quer contribuir com um conteúdo? Manda aí um e-mail para: contato@bikehandling.com.br

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Esse projeto contou com 125 colaboradores no Catarse <3 Daniel Ramos Isadora Scopel Camilo Pacheco Rogério Costa Rodrigo Alonso Gabriel Gonçalves Glauber Lima Celso Silva Lucas Bittencourt Leandro Grando Alessandro Deretti Peterson Messias Patricia Kapla Carlos Wroblewski Eduardo Reis Luiz Testoni Kevin Brezolin Raquel Arouca Daniel Silva Guilherme Carlos Guilherme Michels Gustavo Silva Leo Dorfman Alberto Rabelot Árthur Cunha Juliana Oliveira Andrezza Tavares Marcelo Bruder Frederico Lopes Tiago Rosa Aresta Equipamentos Garupa Bicicletaria Regina Albuquerque Guilherme Garmatter Alice Marques Antônio Couto

Vitor Kremer Stephanie Pereira Gabriel Ribas Christoph Fanton André Vianna Tarcísio Rodrigues Paulo Carvalho Monica Silveira Zé Mário Paulo Nojento Julio Wilasco Luiz Schmitt Jose Junior Mariana Kober Leonardo Aragão João Reis Eduardo Guerreiro Neemias Alves Junior Simões Kelson Douglas Caio Augusto Edo Belleza Marina Giongo Tiago José Vanessa Ferreira Sylvio Sirangelo Paulo Martins Tiago Pires André Braga Ramon De Lima Thiago Santos William Cocentino Andre Salles Paulo Klein Via Escrita Editora Priscila Costa James Alarcao

220PSI FixedGear Luciano Rafal Fabiula Neubern Augusto Simão Bruno Andriotti José Carvalho Alberto Neto Vinicius Martins Diego Macedo Daniel Silva Luis Figueiredo LeviBeckhauser Caroline Hansel Emerson Santin Guilherme Tampieri Giovani Castelucci Fernando Duca Alisson Rocha Camila Bermúdez Vinnie Marchisio Damiao Santana Felipe Ruivo Bruno Villela Humberto Damilano Joao Brotto Augusto Bennemann Ílson Bolzan Rogério Pires Cadu Carvalho Alexandre Okamoto Bia Bouskela Isadora Victora Ricardo Pontes Petri Nocentini Michele Mamede Dominique Thomaz

REALIZAÇÃO

PROJETO GRÁFICO

APOIO


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