TFG - O Espaço Público como Instrumento de Inclusão Social: Praça / Centralidade Comercial

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O ESPAÇO PÚBLICO COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL: PRAÇA NA REGIÃO SUL DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA



BRUNA DE ARAÚJO BEZERRA

O ESPAÇO PÚBLICO COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL: PRAÇA NA REGIÃO SUL DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA

CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO DE ENSINO OCTÁVIO BASTOS SÃO JOÃO DA BOA VISTA, SP 2019


BRUNA DE ARAÚJO BEZERRA RA: 15002302

O ESPAÇO PÚBLICO COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL: PRAÇA NA REGIÃO SUL DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA

Trabalho apresentado como requisito da disciplina Trabalho Final de Graduação, do curso de Arquitetura e Urbanismo, ao Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos, sob a orientação do Prof. Valdir Carlos Fogarolli Junior

SÃO JOÃO DA BOA VISTA, SP 2019


BRUNA DE ARAÚJO BEZERRA

O ESPAÇO PÚBLICO COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL: PRAÇA NA REGIÃO SUL DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA: DATA DE APROVAÇÃO: _____ /_____ /_____ ____________________________________________________________________________________________________________________________________

NOME DO ORIENTADOR:

____________________________________________________________________________________________________________________________________

ASSINATURA DO ORIENTADOR:

____________________________________________________________________________________________________________________________________

NOME DO 1º AVALIADOR:

____________________________________________________________________________________________________________________________________

ASSINATURA DO 1º AVALIADOR:

____________________________________________________________________________________________________________________________________

NOME DO 2º AVALIADOR:

____________________________________________________________________________________________________________________________________

ASSINATURA DO 2º AVALIADOR:

CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO DE ENSINO OCTÁVIO BASTOS SÃO JOÃO DA BOA VISTA, 2019



“ Primeiro nós moldamos as cidades – então, elas nos moldam. ” Jan Gehl


DEDICATÓRIA A todos os meus professores da faculdade, que foram tão importantes na minha vida acadêmica, em especial aos professores Júnior e Valdir, que tiveram papel fundamental na realização desse TFG. Aos meus amigos, pelo incentivo, pelo apoio constante e pelos momentos de risadas e descontração. E principalmente à minha família, pela sua capacidade de sempre acreditar em mim e incentivar os meus estudos. Amo vocês mais que tudo.


AGRADECIMENTOS Agradeço a todos aqueles que estiveram comigo nessa jornada me incentivando e me impedindo de desanimar. Aos meus pais Josinete e Marcelo, que depositaram em mim toda confiança, carinho e incentivo, e a quem devo todas as minhas conquistas. Com eles aprendi valores muito maiores que qualquer lição acadêmica. Às minhas amigas e futuras parceiras de profissão Brenda, Gabrielle e Ingrid, por todo apoio ao longo desses cinco anos. Obrigada por todas as risadas e companheirismo nas noites e madrugadas fazendo trabalhos da faculdade. Sou muito grata ao curso por ter me dado a oportunidade de conhecer vocês. Sou grata ao meu namorado Otávio por me apoiar e fazer eu me sentir a melhor arquiteta, independente das minhas inseguranças. Obrigada por me acompanhar em todos os momentos, inclusive nas visitas em campo. À instituição de ensino UNIFEOB, pela oportunidade de realizar o curso, e aos professores que tanto contribuíram para minha vida acadêmica, profissional e pessoal ao longo desses últimos cinco anos.


RESUMO Muitas cidades brasileiras vêm sendo marcadas pela segregação socioespacial presente em seus territórios, o município de São João da Boa Vista – SP não foge desta realidade, podendo perceber cada vez mais o aumento de bairros com infraestruturas precárias e mal distribuídas nas periferias da cidade. Dentre os problemas que este fenômeno acarreta, pode-se destacar o esvaziamento dos espaços públicos, pois os moradores precisam se deslocar de suas residências para ter acesso às infraestruturas da cidade. O presente trabalho tem a finalidade de apresentar o estudo de viabilização de um projeto que busca amenizar as carências da região mais afetada por esta situação, através da implantação de um espaço público multifuncional que equipe o bairro com serviço, comércio, e que também funcione como palco para as mais diversas manifestações humanas. O embasamento das informações aqui citadas será apresentado ao longo deste documento. PALAVRAS-CHAVE: SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL, MULTIFUNCIONALIDADE, ESPAÇOS PÚBLICOS

ABSTRACT A lot of Brazilian cities have been marked by the socio-spatial segregation present in their territories, the city of São João da Boa Vista - SP does not escape from this reality, being able to perceive more and more the increase of districts with poorly distributed and precarious infrastructure on the city peripheries. Among the problems that this phenomenon causes, we can emphasize the emptying of public spaces, because residents need to move from their homes to have access to the city's infrastructure.This work has the purpose of presenting the feasibility study of a project that seeks to alleviate the needs of the region most affected by this situation, through the implementation of a multifunctional public space that equips the district with service, commerce, and that also works as a stage for the most diverse human manifestations. The basis of the informations cited here will be presented throughout this document. KEYWORDS: SOCIO-SPATIAL SEGREGATION, MULTIFUNCTIONALITY, PUBLIC SPACES


LISTA DE FIGURAS: Figura 1 – Diagrama da localização da região de estudo em relação ao país, estado e cidade............................................................................03

Figura 17– Praça da Liberdade na década de 1920 - Belo Horizonte, MG........................................................................................................23

Figura 2 – Esquema de funcionamento de uma cidade compacta....05

Figura 18 – Praça do Ministério do Exército, Brasília..........................24

Figura 3 – Colagem casas padrão popular...........................................09

Figura 19 – Rua da Cidadania Pinheirinho – Curitiba, PR....................25

Figura 4 – Bairro periférico em São João da Boa Vista – SP................10

Figura 20 – Figura 19: Praça Victor Civita – São Paulo, SP..................25

Figura 5 – Bairros monofuncionais do Programa Minha Casa Minha Vida.......................................................................................................12

Figura 21 – Identificação das praças...................................................28

Figura 6 – Espaço público utilizado pela população – Union Square, Nova York, EUA....................................................................................13 Figura 7 – Willoughby Plaza - Brooklyn, Nova York, EUA....................14 Figura 8 – Perth Cultural Centre, Perth, Austrália...............................14 Figura 9 – Times Square, em 2009, antes e depois de retirarem os automóveis...........................................................................................15

Figura 22 – Praça Joaquim José - Centro.............................................28 Figura 23 – Praça Ana Paina Zanetti – Jardim Nova República II........28 Figura 24 – Rua da Cidadania Boa Vista..............................................31 Figura 25 – Brasil > Paraná > Curitiba > Rua da Cidadania Boa Vista.33 Figura 26 – Análise do entorno Rua da Cidadania Boa Vista..............33 Figura 27 – Perspectivas Rua da Cidadania Boa Vista.........................34

Figura 10 – O que faz um espaço público bem-sucedido?.................17

Figura 28 – Setorização Rua da Cidadania Boa Vista..........................35

Figura 11 – Representação da Ágora da antiga Atenas......................20

Figura 29 – Circulação Rua da Cidadania Boa Vista............................37

Figura 12 – Reconstrução digital do Fórum romano...........................20

Figura 30 – Corte demonstrando os acessos do projeto....................37

Figura 13 – Piazza del campo – Siena, Itália........................................21

Figura 31 – Distribuição da direção do vento da cidade de Curitiba em %...........................................................................................................38

Figura 14 – Piazza della Santissima Annunziata– Florença, Itália.......21 Figura 15 – Praça da República e antiga Igreja Matriz de Santos – SP, antes de ser demolida em 1908..........................................................22 Figura 16 – Praça da República na década de 1910, Recife –PE.........23

Figura 32 – Ventos Predominantes Rua da Cidadania Boa Vista........39 Figura 33 – Incidência Solar Rua da Cidadania Boa Vista....................40 Figura 34 – UVA El Paraíso...................................................................41


Figura 35 – Croqui ideia inicial.............................................................42 Figura 36 – Logotipo da empresa........................................................42 Figura 37 – Colômbia > Antioquia > Medellín > UVA El Paraíso.........43 Figura 38 – Análise do entorno............................................................43 Figura 39 – Esboço de ideias feito pela comunidade..........................44 Figura 40 – Diagrama de ideias feito pelos autores do projeto..........44 Figura 41 – Visão geral da UVA no terreno.........................................45 Figura 42 – Diagrama de estudo da forma..........................................45 Figura 43 – Programa de necessidades – UVA....................................46 Figura 44 – Corte em perspectiva.......................................................47

Figura 54 – Detalhe superior da Praça Central de Naberezhnye Chelny...................................................................................................53 Figura 55 – DROM................................................................................53 Figura 56 – Rússia > Tartaristão > Naberejnye Chelny........................54 Figura 57 – Entorno do projeto antes das intervenções.....................54 Figura 58 – Esquematização do entorno do projeto antes das intervenções.........................................................................................54 Figura 59 – Esquematização do entorno do projeto após intervenções 2............................................................................................................55 Figura 60 – Esquematização do entorno do projeto após intervenções 3............................................................................................................55

Figura 45 – Corredor interno...............................................................47

Figura 61 – Esquematização do entorno do projeto após intervenções 4............................................................................................................56

Figura 46 – Academia interna..............................................................47

Figura 62 – Plataforma de observação em espiral..............................57

Figura 47 – Ludoteca............................................................................47

Figura 63 – Anfiteatro triangular com um café embaixo....................57

Figura 48 – Diagrama de circulação....................................................48

Figura 64 – Piscina redonda que funciona em conjunto com a fonte original..................................................................................................57

Figura 49 – Distribuição da direção do vento da cidade de Medellín em %.....................................................................................................49

Figura 65 – Instalações do eixo lateral................................................58

Figura 50 – Esquematização dos ventos.............................................50

Figura 66 – Mobiliário urbano utilizado na praça...............................59

Figura 51 – Incidência solar nas principais fachadas..........................50

Figura 67 – Mobiliário urbano utilizado na praça 2............................59

Figura 52 – Vista da academia ao ar livre............................................51

Figura 68 – Diferentes pavimentações e vegetação da praça............60

Figura 53 – Praça Central de Naberezhnye Chelny.............................52

Figura 69 – Diferentes pavimentações e vegetação da praça / vista superior................................................................................................60


Figura 70 – Perspectiva geral da praça................................................61

Figura 89 – Setorização........................................................................73

Figura 71 – Praça pública em Zhengzhou, China................................62

Figura 90 – Evolução da área urbanizada............................................73

Figura 72 – China > Província de Henan > Zhengzhou........................63

Figura 91 – Renda média domiciliar (em R$)......................................73

Figura 73 – Etapas da praça de Zhengzhou Vanke City......................63

Figura 92 – Praças em São João da Boa Vista......................................74

Figura 74 – Praça Inferior....................................................................64

Figura 93 – Praças no setor sul de São João da Boa Vista...................77

Figura 75 – Praça Superior...................................................................64

Figura 94 – Praça do Jardim São Paulo................................................78

Figura 76 – Logotipo Locus Associates................................................64

Figura 95 – Praça Nicolau T. Nascimento............................................78

Figura 77 – Implantação da praça inferior..........................................65

Figura 96 – Praça Benedito Diniz.........................................................79

Figura 78 – Frente da praça e entrada principal da galeria................66

Figura 97 – Praça Benedito Galli..........................................................79

Figura 79 – Frente da praça.................................................................66

Figura 98 – Praça do Jardim Nova República 2...................................80

Figura 80 – Jardim Zen.........................................................................66

Figura 99 – Praça Ana Paina Zanetti....................................................80

Figura 81 – Pátio com água.................................................................66

Figura 100 – Praça Nelson Melleti.......................................................81

Figura 82 – Implantação da praça superior.........................................67

Figura 101 – Praça Prof.º Antônio M. Carvalho..................................81

Figura 83 – Elementos de recreação, canteiros e tipos de bancos da praça superior......................................................................................68

Figura 102 – Praça do Jardim Vale do Sol............................................82

Figura 84 – Pista de patinação e parede de escalada.........................68 Figura 85 – Crianças brincando nas fontes secas................................68 Figura 86 – Mesas, cadeiras e guarda-sóis no deck de madeira........68 Figura 87 – Praça superior ao anoitecer.............................................69 Figura 88 – São João da Boa Vista, SP.................................................71

Figura 103 – Praça Isaura Vasconcellos...............................................82 Figura 104 – Localização dos terrenos escolhidos..............................85 Figura 105 – Terreno 1........................................................................86 Figura 106 – Terreno 2........................................................................86 Figura 107 – Terreno 3........................................................................86 Figura 108 – Terreno 4........................................................................86


Figura 109 – Posicionamento da câmera............................................88

Figura 129 – Imagem aérea...............................................................108

Figura 110 – Levantamento fotográfico..............................................88

Figura 130 – Praça do lazer...............................................................108

Figura 111 – Isótopas – a pé................................................................89

Figura 131 – Praça comércio e eventos............................................108

Figura 112 – Isótopas – bicicleta.........................................................90

Figura 132 – Quadra recreativa.........................................................109

Figura 113 – Isótopas – automóvel.....................................................91

Figura 133 – Quadra de areia............................................................109

Figura 114 – Fluxos e mobilidade do entorno do projeto..................92

Figura 134 – Pista de skate................................................................110

Figura 115 – Uso e ocupação do solo do entorno do projeto............93

Figura 135 – Playground....................................................................110

Figura 116 – Cheios e vazios no entorno do projeto..........................94

Figura 136 – Academia ao ar livre.....................................................111

Figura 117 – Gabarito de altura no entorno do projeto.....................95

Figura 137 – Mesas de jogos.............................................................111

Figura 118 – Topografia do entorno do projeto.................................96

Figura 138 – Vista aérea do edifício..................................................112

Figura 119 – Vista panorâmica do entorno do projeto.......................97

Figura 139 – Perspectiva do edifício 1...............................................112

Figura 120 – Palavras-chave................................................................99

Figura 140 – Perspectivado edifício 2...............................................112

Figura 121 – Setorização 1.................................................................102

Figura 141 – Praça de alimentação...................................................113

Figura 122 – Setorização 2.................................................................103

Figura 142 – Mobiliário para descanso e sociabilização...................113

Figura 123 – Setorização 3.................................................................103

Figura 143 – Passarela destacada......................................................114

Figura 124 – Localização do terreno adicionado ao projeto............104

Figura 144 – Auditório ao ar livre......................................................114

Figura 125 – Vista do terreno adicionado ao projeto.......................104

Figura 145 – Topografia e Circulação................................................115

Figura 126 – Diagrama da setorização definitiva..............................105

Figura 146 – Cortes e elevações........................................................116

Figura 127 – Conceito e Partido Arquitetônico.................................106

Figura 147 – Placa drenante..............................................................117

Figura 128 – Implantação final..........................................................107

Figura 148 – Piso de concreto polido................................................117


Figura 149 – Areia média tratada......................................................117

Figura 160 – Planta de iluminação....................................................121

Figura 150 – Piso ecológico emborrachado......................................117

Figura 161 – Planta do edifício comércio / serviços e localização no terreno...............................................................................................122

Figura 151 – Grama São Carlos..........................................................117 Figura 152 – Arborização...................................................................118 Figura 153 – Sibipiruna......................................................................119 Figura 154 – Aroeira Salsa.................................................................119 Figura 155 – Jacarandá Mimoso........................................................119 Figura 156 – Quaresmeira.................................................................119 Figura 157 – Resedá...........................................................................119 Figura 158 – Pitanga..........................................................................119 Figura 159 – Mobiliário Urbano........................................................120

Figura 162 – Corte A-A.......................................................................123 Figura 163 – Corte B-B.......................................................................123 Figura 164 – Materialidade do edifício.............................................124 Figura 165 – Casa G...........................................................................125 Figura 166 – Fontana Square.............................................................125 Figura 167 – Campus Umea University.............................................125 Figura 168 – Bellitalia Street Furniture.............................................125 Figura 169 – Entrada da cidade em Chatenay Malabry....................125 Figura 170 – Playground in Göttibach...............................................125 Figura 171 – Imagem final.................................................................128


LISTA DE QUADROS: Quadro 1 – Parque ou Praça?..............................................................04 Quadro 2 – 12 critérios de qualidade com respeito à paisagem do pedestre...............................................................................................16 Quadro 3 – Evolução das praças brasileiras........................................26 Quadro 4 – Matriz de proximidade Rua da Cidadania Boa Vista........36 Quadro 5 – Direção, probabilidade, velocidade do vento e temperatura do ar em Curitiba...........................................................38 Quadro 6 – Matriz de Proximidades – UVA.........................................46

Quadro 7 – Direção, probabilidade, velocidade do vento e temperatura do ar em Medellín..........................................................49 Quadro 8 – Identificação das praças em São João da Boa Vista.........75 Quadro 9 – Distribuição das praças de São João da Boa Vista (por setor)....................................................................................................76 Quadro 10 – Classificação das praças da região sul de São João da Boa Vista......................................................................................................83 Quadro 11 – Pré-dimensionamento do projeto...............................100

LISTA DE GRÁFICOS: Gráfico 1 – Área de praças por setor (em porcentagem)...................76 Gráfico 2 – Área de praças por pessoa (em m²)..................................76

Gráfico 3 – Classificação das praças da região sul de São João da Boa Vista......................................................................................................84


SUMÁRIO


1.

APRESENTAÇÃO.....................................01

1.1. Introdução.................................................................02 1.2. Justificativas...............................................................03 1.3. Objetivo geral............................................................06 1.4. Objetivos específicos.................................................06

2.2.2. Critérios que definem um espaço público de qualidade......................................................................15

2.3. A praça e o urbano.....................................................19 2.3.1. Considerações gerais.................................................19 2.3.2. Contextualização histórica........................................20 2.3.3. Origem e evolução das praças brasileiras..................22

1.5. Metodologia..............................................................07

2.3.4. A praça na periferia....................................................27

2.

3.

REFERENCIAL TEÓRICO..........................08

2.1. Segregação, periferização e monofuncionalidade....09

ESTUDOS DE CASO..................................29

3.1. Apresentação............................................................30

2.1.1. Centro X periferia.......................................................09

3.2. Rua da Cidadania - Boa Vista......................................31

2.1.2. A segregação em cidades pequenas..........................10

3.3. Unidade de Vida Articulada – UVA El Paraíso...........41

2.1.3. Consequências da segregação para a população de baixa renda...................................................................11 2.1.4. Políticas habitacionais e suas contribuições.............11

3.4. Praça Central de Naberezhnye Chelny, Rússia..........52 3.5. Praça pública em Zhengzhou Vanke City, China........62

2.1.5. O problema da monofuncionalidade.........................12

4.

2.2. Espaços públicos........................................................14

4.1. A cidade.....................................................................71

2.2.1. Definição e importância para a vida coletiva.............14

4.1.1. Evolução urbana e segregação..................................72

LEVANTAMENTO.....................................70


4.1.2. Praças em São João da Boa Vista...............................74

5.2. Setorização inicial....................................................102

4.1.3. Praças no Setor Sul....................................................77

5.3. Alterações................................................................104

4.1.4. Considerações finais sobre as praças no Setor Sul de

5.4. Setorização definitiva..............................................105

São João da Boa Vista...................................................84

5.5. Conceito e partido arquitetônico............................106

4.2. O local........................................................................85

5.6. Implantação.............................................................107

4.2.1. Análise de possíveis terrenos....................................85

5.7. Imagens do projeto.................................................108

4.2.2. Levantamento fotográfico.........................................88

5.8. Topografia e circulação...........................................115

4.2.3. Distâncias a partir do local.........................................92 4.2.4. Hierarquia viária........................................................93 4.2.5. Uso e ocupação do solo.............................................94 4.2.6. Cheios e vazios...........................................................95

5.9. Materialidade..........................................................117 5.10. Arborização............................................................118 5.11. Mobiliário urbano..................................................120

4.2.7. Gabarito de altura......................................................96

5.12. Iluminação.............................................................121

4.2.8. Topografia.................................................................97

5.13. Prédio comercial....................................................122

4.3. Considerações gerais.................................................97

5.14. Painel de referências..............................................125

5.

6. 7.

PROJETO.................................................98

5.1. Proposta....................................................................99

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................126 REFERÊNCIAS.......................................129


1. APRESENTAÇÃO


1.1. INTRODUÇÃO Há muitas abordagens sobre como medir a qualidade de vida de uma

vazios e dificultando a utilização dos espaços públicos pela população.

cidade, alguns estudiosos da área do urbanismo acreditam que uma boa

Jane Jacobs (2011) confirma isso no livro “Morte e Vida de Grandes

maneira de a medir é através da vitalidade de seus espaços públicos.

Cidades”, dizendo que nos distritos com mais de uma função há vida e

Historicamente, os espaços públicos serviram como símbolo de poder,

segurança nas ruas em diferentes horários do dia. Um exemplo é o que

palco de manifestações políticas, trocas comerciais e ostentação de

ocorre nos centros comerciais, que perdem a vitalidade no período

riquezas. Mas acima de tudo, o espaço público é o lugar livre, de lazer,

noturno, quando se fecham as lojas e escritórios, e o esvaziamento

descanso,

diurno nos bairros estritamente residências, quando os adultos estão

contemplação,

circulação,

troca

de

experiências

e

conhecimento, é capaz de unir o coletivo sem distinguir o individual

trabalhando e as crianças nas escolas.

(BORJA, 2013). Sendo assim, privar o cidadão de um espaço público de

O problema de bairros desertos vem sendo agravado pela

qualidade é o privar do seu direito à cidade.

marginalização da população de renda mais baixa, que são inseridos em

De acordo com Simone Gatti (2013), um bom projeto não é o suficiente

áreas com pouca infraestrutura e sem diversidade no solo. De acordo

para garantir que a população se aproprie destes espaços, é necessário

com a arquiteta e urbanista Ermínia Maricato (2013), há uma eterna luta

entender a dinâmica do local e perceber as reais necessidades dos

de classes no meio urbano e os menos favorecidos, que historicamente

usuários. Um fator importante para o sucesso do espaço público é a

ocupam lugares periféricos do município, têm o seu acesso a

diversidade do seu entorno, em locais onde o uso do solo não é

infraestrutura negado ou dificultado, perdendo assim o seu direito à uma

diversificado perde-se a vitalidade da cidade, acarretando em bairros

cidade urbanizada e de qualidade.

vazio

2


1.2. JUSTIFICATIVAS O palco do estudo será a cidade de São João da Boa Vista, localizada no interior do estado de São Paulo, a 220 km da capital. Apesar de ser uma cidade de grande importância regional e com um alto índice de desenvolvimento humano, o tecido urbano de São João da Boa Vista vem perdendo sua coesão devido ao alargamento de sua mancha urbana, gerando o afastamento geográfico entre classes sociais, e entre o território de renda mais baixa do local de maior concentração de oportunidades. Este fenômeno ameaça o equilíbrio funcional da cidade e a qualidade de vida dos seus residentes. O setor sul do município de São João da Boa Vista (figura 1) é o mais

infraestruturas existente no local não está acompanhando o aumento da

afetado pelo espraiamento urbano presente na cidade e pela

população na região. Este desequilíbrio no uso do solo urbano faz com

concentração de serviços e comércio na região central. Ocupado

que as pessoas tenham que se deslocar ao centro da cidade para ter

predominantemente por bairros residenciais de classe média/baixa, a

acesso à equipamentos públicos, comércio, serviços e lazer, trazendo

região sul está em constante expansão, e a quantidade de

problemas como a criação de bairros desertos.

Figura 1 – Diagrama da localização da região de estudo em relação ao país, estado e cidade

Fonte: FGMF, 2014, adaptado pela autora

3


Bairros desertos desencorajam o caminhar e permanência das pessoas nos espaços públicos, dificultam as interações sociais e provocam uma sensação de não pertencimento à cidade. Com isso, nota-se a necessidade da criação de um equipamento que promova encontros, trocas de experiências e laços comunitários nos bairros. Após analisar os tipos de espaços livres de uso público, optou-se em projetar uma praça pela forte relação que este equipamento tem com a sociedade. Ao contrário dos parques, as praças são necessariamente dependentes do local onde estão inseridas, elas se interagem com os outros espaços ou edifícios do seu entorno e possibilitam o cruzamento de pessoas e encontros casuais. Além de servirem como lugar para diversas práticas sociais como políticas, religiosas, comerciais, recreativas, culturais, entre outras. O quadro abaixo (quadro 1) resume as principais diferenças entre praças e parques, justificando a importância das praças como lugar de inclusão social. Quadro 1 – Parque ou praça?

Fonte: Degreas, 2010, adaptado pela autora

4


Juntamente com a praça, propõe-se um equipamento com comércio e

públicos, áreas verdes e sistemas de lazer, confirma também a

serviços que atenda as carências da população local e sirva como uma

possibilidade da criação de uma subcentralidade e estímulo ao uso do

centralidade no bairro, o dotando com as infraestruturas necessárias ao

solo misto nas áreas perifericas monofuncionais:

cotidiano da população. Bairros multifuncionais estimulam o convívio

Art. 102 -São objetivos da Política Urbana do Município relativas ao ordenamento territorial: [...] V. dotar as áreas urbanizadas periféricas de centralidades de bairro com atividades comerciais e serviços básicos, concretizando as diretrizes para a consolidação da cidade compacta sustentável; (PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO, 2019, p. 45).

entre as pessoas em diferentes ambientes, fortalecem o sentido de identidade, tolerância e respeito mútuo, além de diminuir a necessidade de deslocamentos. A importância da escolha do tema é embasada nas diretrizes apresentadas no Plano Diretor Estratégico de São João da Boa Vista - Lei

Estas diretrizes previstas no PDE visam uma cidade mais compacta, onde

nº 4516/2019 - que promove ações para garantir equidade na

a distância mais curta entre as atividades traz um uso mais humano do

distribuição dos equipamentos sociais na cidade:

espaço público, maior convívio e menores desperdícios de tempo e

Art. 80 -A política de desenvolvimento social visando à inclusão social e ao acesso às oportunidades tem por objetivos: I. a redução das desigualdades socioespaciais, suprindo carências de equipamentos sociais e infraestrutura urbana nos bairros com maior vulnerabilidade social; [..] VI. a ampliação de acesso e uso aos equipamentos comunitários e sociais pela oferta de instalações com usos múltiplos; (PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO, 2019, p. 35).

recursos no cotidiano dos habitantes (figura 2).

O documento confirma a necessidade de reduzir as desigualdades presentes na cidade, promover a inclusão social através da justa

Figura 2 – Esquema de funcionamento de uma cidade compacta Fonte: Rogers e Gumuchdjain, 1997

distribuição de infraestruturas e ampliar e requalificar os espaços 5


1.3. OBJETIVO GERAL:

1.4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Propor a criação de uma subcentralidade equipada com os principais

comércios e serviços básicos, além de promover um espaço público com

Induzir a diversidade de uso e ocupação do solo no local trabalhado através da mistura de usos.

qualidade, funcionalidade e que sirva como local de incentivo às relações sociais dos habitantes da região sul de São João da Boa Vista, trazendo-

Melhorar a mobilidade urbana ao reduzir a necessidade de idas ao centro da cidade.

os uma sensação de acolhimento e pertencimento à cidade.

Conceber espaços destinados à confraternização e manifestações culturais.

Assegurar qualidade ambiental e conforto através do projeto paisagístico.

Transformar lugares ociosos em lugares ativos através da ocupação de lotes vazios.

6


1.5. METODOLOGIA: 

Identificação da problemática

para amenizar o problema. É estudado mais a fundo como a evolução de São João da Boa Vista contribuiu para a segregação socioespacial

Identificação de um problema social, arquitetônico ou urbanístico que

presente em seu território, e o cenário atual das praças da cidade,

possa ser solucionado através de um projeto de edificação, utilizando as

através da análise da distribuição e qualidade das infraestruturas destes

técnicas e conhecimento aprendido no período acadêmico. Dessa

equipamentos.

maneira, é abordado o problema do esvaziamento dos espaços públicos

em locais segregados socioespacialmente, com foco na região sul de São

Análise de possíveis terrenos

João da Boa Vista, SP.

Levantamento de terrenos vazios na região mais afetada pelo problema

abordado para auxiliar e embasar a escolha do terreno que mais se

Embasamento teórico

encaixa no objetivo de se tornar uma centralidade de bairro. Busca por autores e estudos relevantes que confirmem o problema da

segregação socioespacial no Brasil, e importância dos espaços públicos

Diagnóstico do terreno escolhido

para as cidades, tendo como foco as praças por sua grande carga social.

Análise minuciosa das condições do terreno e entorno imediato para

melhor compreensão das potencialidades do local, através de visitas in

Estudos de caso

loco e mapeamentos. Pesquisa de projetos semelhantes a nível nacional e internacional que

obtiveram resultados positivos, e análise das estratégias e soluções

Proposta

utilizadas nesses locais.

Etapa em que se procura reunir aquilo que foi estudado para a realização

de uma proposta de intervenção que alcance os objetivos almejados. O

Diagnóstico da cidade

desenvolvimento da proposta final é demonstrado através de diagramas,

Análise urbana do local de estudo escolhido a fim de coletar dados e

croquis, desenhos e textos.

informações para embasar a problemática e justificar a diretriz tomada

7


2. REFERENCIAL TEÓRICO

8


2.1. SEGREGAÇÃO, PERIFERIZAÇÃO E MONOFUNCIONALIDADE 2.1.1. Centro X Periferia Muitas cidades brasileiras são marcadas pela separação espacial das diferentes classes sociais, criando assim áreas segregadas e muitos distintas entre si. Villaça (2001, p.142) define a segregação como “ [...] um processo segundo o qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros da metrópole. ” A forma mais conhecida de segregação no Brasil é o centro x periferia, onde o primeiro é ocupado pela população de classe de renda mais alta e onde se concentra a maior quantidade de comércio, serviço e infraestrutura, cabendo a periferia abrigar os excluídos em espaços subequipados. Villaça (2001) continua dizendo que a segregação pode ser voluntária, quando o indivíduo por sua própria iniciativa prefere morar com outras pessoas de sua classe, exemplo do que acontece nos condomínios fechados, e involuntária, quando o indivíduo se vê obrigado a morar ou deixar de morar em determinado setor ou bairro da cidade. Este padrão de segregação centro x periferia surgiu com a consolidação do centro da cidade como o principal local de concentração de serviços públicos e particulares. Estes serviços expulsaram as residências do Figura 3 – Colagem casas padrão popular Fonte: Sumally, 2019

9


centro, e este passou a ser o local de compras e emprego da população

2.1.2. A segregação em cidades pequenas

de renda mais alta. Com isso, surgiu o interesse em morar nas

Mesmo que a maioria dos estudos brasileiros sobre o tema tenham foco

vizinhanças do centro e o aumento do valor da terra nestas regiões. Esta

nas metrópoles, este fenômeno também pode ser visto nas cidades

valorização expulsou a população de renda mais baixa para os subúrbios

médias e pequenas do país (figura 4). De acordo com Moreira Junior

da cidade, e fortaleceu a segregação entre classes (VILLAÇA, 2001).

(2010), a maioria da população brasileira mora em cidades pequenas e todas as cidades possuem problemáticas parecidas, com diferenciação

A cidade reflete a luta de classes presente em nossa sociedade, onde o

na escala e intensidade. A segregação socioespacial não se limita às

lado com o menor poder tem o seu direito aos bens urbanos dificultado

grandes metrópoles, pois os problemas encontrados no espaço urbano

ou negado, cabendo à essa população ocupar os locais que lhe forem

são o reflexo dos problemas da sociedade atual, cada vez mais

impostos. Locais estes subequipados e longe das infraestruturas

concentradora de terra, renda e poder. Nas cidades pequenas muitas

normalmente encontradas em maior escala nas regiões centrais das

vezes as áreas habitadas pela população de renda mais baixa são maiores

cidades.

em extensão e população do que as áreas dos centros urbanos Figura 4 – Bairro periférico em São João da Boa Vista - SP

(MOREIRA JUNIOR, 2010). Entre as semelhanças da segregação socioespacial nas metrópoles e cidades pequenas, Roma (2008), destaca a separação entre os ricos e pobres através de condomínios fechados e favelas, ausência da qualidade e quantidade dos equipamentos e serviços urbanos, e uma má opinião coletiva sobre morar nas periferias segregadas. A autora aponta como diferença a forte relação de compadrio e favorecimento entre os agentes sociais nas cidades pequenas, as relações entre o rural e o urbano, e aponta também que as desigualdades sociais são mais visíveis

Fonte: Google Earth, 2019

10


na paisagem de pequenas cidades pela proximidade entre os espaços e

populações desses bairros precisam fazer grandes deslocamentos

pessoas.

diários para ter acesso aos seus empregos, saúde e educação.

2.1.3. Consequências da segregação para a população de baixa renda

2.1.4. Políticas Habitacionais e suas contribuições

De acordo com Negri (2008), habitar em um bairro periférico e de baixa

Outro fator que contribuiu para o aumento da separação de pessoas de

renda significa muito mais do que apenas ser segregado, significa ter

classes sociais distintas foram as políticas habitacionais implementadas

oportunidades desiguais em nível econômico, social, educacional e

não apenas nas metrópoles, mas em cidades de diferentes portes por

cultural.

todo o Brasil (figura 5).

O autor afirma que os moradores dos locais periféricos têm poucas

Um bom exemplo é o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), que

condições de melhorar economicamente ou socialmente, e isto

de acordo com Hirata (2009), foi anunciado em 2009 pelo governo

acontece, pois, a maioria dos investimentos públicos é voltada para os

federal com o objetivo de reduzir o déficit de moradia nacional e aquecer

bairros da classe de renda mais alta. Como a população de classe mais

o setor da construção civil gerando empregos, renda e crescimento

baixa localiza-se, em sua maioria, distante dos centros e das classes altas,

econômico.

os investimentos públicos acabam chegando de forma precária para esta

A distribuição dos recursos foi feita analisando o déficit das regiões do

população, e isto reflete nos índices de instrução, saúde, etc. “ [...] estas

país e também o déficit por faixas de renda. No Brasil, 90,9% da falta de

pessoas estão fadadas a perpetuar o ciclo vicioso da pobreza, da miséria,

moradia concentrava-se nas famílias com renda de até 3 salários

da violência, aliada à falta de um Estado capaz de suprir todas as

mínimos, para esta faixa houve subsídio integral e isenção do seguro

necessidades dessa população” (NEGRI, 2008, p.136).

obrigatório. Porém, não foi o governo federal quem definiu onde se

A proliferação de bairros cada vez mais periféricos também traz

localizariam as obras, mas sim os proprietários imobiliários,

problemas na mobilidade urbana, uma vez que longe dos centros

incorporadores e empreiteiras, assim as residências destinadas a

urbanos onde se concentra a maioria dos equipamentos e serviços, as

população de faixa de renda mais baixa foram construídas em áreas

11


Figura 5 – Bairros monofuncionais do Programa Minha Casa Minha Vida

periféricas onde o m² é mais barato pela falta de infraestrutura consolidada e oportunidades de trabalho (HIRATA, 2009). Em entrevista concedida à BBC Brasil em 2018, a urbanista e ex secretária executiva do Ministério das Cidades, Ermínia Maricato, comenta que a construção de residências em áreas distantes dos centros urbanos foi um problema sério. Dentre os problemas do Programa Minha Casa Minha Vida ela destaca a necessidade de precisar estender as redes água, esgoto e transporte até os bairros novos, a dificuldade de policiar estas áreas, e com isso a vulnerabilidade ao crime organizado, a necessidade de deslocamentos ao centro urbano para ter acesso a

Fonte: Diário Bahia, 2016

comércio e serviços, e a falta de vitalidade nos bairros pela sua monofuncionalidade. Por mais que o programa tenha sido bem aceito pela população e muitas pessoas estejam satisfeitas em sair do aluguel e ter a sua casa própria, as críticas em relação à localização periférica e monofuncionalidade dos bairros destinados a população de renda mais baixa são válidas, pois contribuíram para a ascensão da segregação socioespacial. 2.1.5. O problema da monofuncionalidade Ao explorar as periferias das cidades pode-se perceber cada vez mais o aumento da tipologia de bairros com baixa densidade demográfica,

Fonte: G1, 2016

majoritariamente residenciais e desertos. De acordo com Raquel Rolnik 12


(2000), esta falta de multifuncionalidade nas cidades provoca a perda

usuários, bem como de edificações e estados de conservação variados,

de possibilidades e contatos humanos que caracteriza a cidade mais

como a única maneira de garantir a vitalidade urbana. Segundo Jacobs,

pública. O aumento da monofuncionalidade provocou o esvaziamento

a falta de contato nos espaços públicos e a sensação de insegurança

do espaço público, e este perdeu a sua função de acolhimento,

nas ruas tem relação direta com a segregação e discriminação: “ É difícil

diversidade, integração e troca social. Para Rolnik (2000), é necessário

superar a discriminação espacial onde as pessoas não tenham como

implementar uma política que retome e incentive a vida pública através

manter uma vida pública civilizada sobre uma base pública

da multifuncionalidade de usos, conectando funções e pessoas

fundamentalmente digna e uma vida privada sobre uma base privada”

diferentes de maneira democrática e sustentável.

(JACOBS, 2011, p. 77). A autora também fala que mesmo aparentemente despretensiosa, aleatória e sem propósitos, as trocas

“Para melhorar o espaço público há necessidade de uma política

antiexclusão,

o

que

significa

organizar

sociais nos espaços públicos constituem a pequena mudança a partir

a

da qual pode florescer a fascinante vida coletiva da cidade (figura 6).

heterogeneidade, não fugir dela. Significa organizar, defender e fomentar a convivência entre pessoas diferentes,

Figura 6 – Espaço público utilizado pela população – Union Square, Nova York, EUA

diminuindo a segregação e as distâncias sociais, suprimindo os guetos, atuando com solidariedade, como uma coletividade que amplie, incentive e aumente a comunicação entre os projetos de vida pessoais e coletivos”. (ROLNIK, 2000, p.5)

A importância da diversidade de usos e vitalidade como instrumento de inclusão social também foi discutida por Jane Jacobs no livro referência mundial “Morte e Vida de Grandes Cidades”, lançado em 1961. Neste, a autora critica a setorização, ou organização espacial da cidade seguindo funções predeterminadas e defende a mescla de usos e

Fonte: Placemaking Brasil, 2016

13


2.2. ESPAÇOS PÚBLICOS 2.2.1. Definição e importância para a vida coletiva Figura 7 – Willoughby Plaza - Brooklyn, Nova York, EUA

calçadas, praças, jardins, canteiros, estacionamentos, entre outros (figuras 7 e 8). Nas cidades brasileiras, suas formas costumam surgir de resíduos que sobram de sistemas viários e desmembramentos de glebas urbanas, muitas vezes não seguindo legislações e zoneamentos. A importância dos espaços públicos para a cidade é grande, pois é onde a vida urbana de materializa, essas áreas ligam os espaços privados e a vida pública promovendo o encontro e interação entre as pessoas

Figura 8 – Perth Cultural Centre, Perth, Australia

(DEGREAS e RAMOS, 2015). Silva (2009, p.40), confirma esta ideia dizendo que: “a relevância de espaços públicos dentro de uma cidade está relacionada, em grande parte, ao fato de permitir o convívio dos diferentes, o contato visual e físico, a tomada de consciência da heterogeneidade e da diversidade”. Porém, para que os espaços públicos contribuem para o aumento do senso de comunidade e o senso de pertencimento à cidade é necessário

Fonte: Placemaking Brasil, 2016

oferecer condições adequadas para que os habitantes se sintam atraídos

De acordo com Degreas e Ramos (2015), os espaços públicos podem ser

a frequentar tais locais. Espaços públicos ociosos, desinteressantes e

definidos como áreas não edificadas, inseridas no meio urbano e que

com infraestruturas precárias podem servir como locais para práticas

possuem tamanhos, formatos, distribuição e localização variáveis. As

criminosas e levar a sensação de inseguranças aos moradores.

tipologias mais comuns de espaços públicos nas cidades são as ruas,

14


2.2.2. Critérios que definem um espaço público de qualidade Os critérios necessários para que os espaços públicos cumprem a sua

pessoas em todos os horários do dia. Gehl (2013) também fala em

função de promover encontros e servir como palco para as diversas

priorizar pedestre aos automóveis, pois as cidades atuais dedicam mais

atividades humanas foi discutida pelo arquiteto e urbanista dinamarquês

espaços para os carros do que para a circulação e convivência das

Jan Gehl (2013) no livro “Cidades para Pessoas”, neste o autor destaca a

pessoas. As imagens abaixo (figura 9), foram divulgadas no livro “Cidade

importância de priorizar a dimensão urbana e focar nas necessidades das

para Pessoas” e mostram como uma intervenção que priorize os

pessoas que utilizam o espaço:

pedestres pode garantir uma cidade mais viva e multifacetada. Figura 9 – Times Square, em 2009, antes e depois de retirarem os automóveis

“As cidades devem pressionar os urbanistas e os arquitetos a reforçaram as áreas de pedestres como uma política urbana integrada para desenvolver cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis. Igualmente urgente é reforçar a função social do espaço da cidade como local de encontro que contribui para os objetivos de sustentabilidade social e para uma sociedade democrática aberta. ” (GEHL, 2013, p.6)

De acordo com Gehl (2013), a cidade torna-se viva sempre que mais pessoas se sentem incentivadas à caminhar, utilizar e permanecer nos espaços públicos. As cidades devem oferecer condições adequadas para atrair as pessoas para rua como: estrutura que permita curtas distâncias a pé, paisagens atrativas, edifícios que respeitam a escala humana e o campo de visão do usuário, e assim como Jane Jacobs, o autor confirma a importância da diversidade de funções para garantir circulação de

Fonte: Gehl, 2013, p.22

15


O quadro a seguir (quadro 2) também disponível no livro “Cidade para

usuários, além de proteção contra o tráfego, insegurança e ferimentos

Pessoas” simplifica as diretrizes a serem seguidas para garantir um

físicos. Também é necessário que os espaços atraiam os usuários para os

espaço público bem-sucedido através de 12 critérios. Segundo o autor,

mais diversos tipos de atividades como caminhar, permanecer em pé,

a primeira questão a ser atendida é garantir conforto ambiental para os

sentar-se, ver, ouvir, conversar e praticar atividades físicas. Os espaços

Quadro 2 – 12 critérios de qualidade com respeito à paisagem do pedestre

públicos também são mais atrativos quando respeitam a dimensão humana, oferecem oportunidades de aproveitar o clima da região e oferecem também experiências sensoriais positivas. Todos os melhores e mais funcionais espaços públicos atendem aos critérios levantados, e nada deve ser deixado de lado. (GEHL, 2013). Os critérios de avaliação do espaço público também foram trabalhados pela Project for Publics Spaces (PPS), organização sem fins lucrativos de Nova York, fundada em 1975 com o objetivo de expandir o trabalho de William H. Whyte – autor de “The Social Life of Small Urban Spaces”. A PPS se dedica a ajudar as pessoas a criar e manter os espaços públicos e assim construírem comunidades mais fortes. Depois de analisar diversos espaços públicos pelo mundo, a organização chegou em quatro qualidades fundamentais que definem um espaço público bemsucedido: sociabilidade, acessibilidade, conforto e usos. A partir dessas informações, foi elaborado um diagrama pela PPS (figura 10) que permite que qualquer pessoa possa avaliar se um espaço é bom ou ruim. (PROJECT FOR PUBLIC SPACES, 2019).

Fonte: Gehl, 2013, p. 239

16


Figura 10 – O que faz um espaço público bem-sucedido?

Acesso e conexões: Espaços acessíveis possuem uma boa relação com o seu entorno, podem ser utilizados por todas as pessoas, incentivam o caminhar e a permeabilidade urbana.

Conforto e imagem: Este item está relacionado com o estado físico do

lugar.

A

segurança

e

atratividade

promovida

pela

movimentação das pessoas tem grande importância na geração do bem-estar e potencializa o espaço público. 

Usos e atividades: Espaços públicos alegres e ativos incentivam cada vez mais pessoas a utilizá-los e mantê-los, quando não há atividades nos espaços eles ficam vazios e levam sensação de insegurança.

Sociabilidade: Quando um lugar incentiva e possibilita as trocas sociais entre as pessoas, elas tendem a sentir um forte senso de lugar ou apego à sua comunidade. Fonte: Project for Public Spaces, traduzido por Daniel Benevides, 2016

17


Através do estudo e análise das características que compõem um espaço

público de qualidade, levantou-se algumas diretrizes que serão retomadas no processo projetual da praça pública e edifício proposto

paisagens interessantes para se contemplar. 

neste trabalho final de graduação: 

Incentivar o uso da praça como palco para interações sociais através da

Propor uma multifuncionalidade de funções para que o espaço público

Levar segurança para o pedestre através do incentivo à movimentação

Criar relações e conexões com o entorno, assim como propor soluções pautadas conforme o contexto local.

Garantir conforto ambiental, proteção contra experiências sensoriais desagradáveis, acessibilidade e proteção contra o tráfego.

tenha fluxo de usuários em todos os horários do dia. 

Respeitar a escala humana e campo de visão do pedestre para que os mesmos se sintam abrigados e acolhidos pelo projeto.

diversidade de atividades destinadas à diferentes faixas etárias. 

Estimular as pessoas à utilizarem os espaços propostos através de

Assegurar mobiliário público confortável, direcionado à locais atrativos e que incentive as interações humanas.

de pessoas e iluminação pública.

18


2.3. A PRAÇA E O URBANO 2.3.1. Considerações gerais De uma maneira geral, pode-se dizer que as praças são espaços públicos

De acordo com Minda (2009), as praças já abrigaram as mais diversas

urbanos que possuem uma grande relação com o local onde estão

funções desde discursos políticos, execuções públicas, ócio, lazer e

inseridas: “Simultaneamente uma construção e um vazio, a praça não é

contemplação. Com o tempo, as praças perderam algumas de suas

apenas um espaço físico aberto, mas também um centro social integrado

funções históricas, mas o seu caráter social permanece como a sua

ao tecido urbano”, (ALEX, 2011, p.23). Nota-se que as praças têm uma

qualidade de maior valor:

grande carga social, estimulam o convívio entre seus usuários e podem

“ A praça como espaço urbano de encontro e socialização está

ser usadas como palco para as mais diversas atividades humanas, Robba

arraigada à cultura popular e é o veículo para o fortalecimento

e Macedo (2003, p. 12) confirmam esta ideia dizendo que: “a praça é,

da cidadania. Em tal sentido, nas cidades deve-se garantir o

por excelência, um centro, um ponto de convergência da população, que

acesso público e o uso coletivo destes espaços sob umas

a ela ocorre para o ócio, para comerciar, para trocar ideias, para

adequadas condições espaciais e ambientais. A praça,

encontros românticos e políticos, enfim, para o desempenho da vida

articulada ao tecido urbano e integrada ao entorno, joga um

urbana ao ar livre”.

papel fundamental no desenvolvimento e construção da cidade” (MINDA, 2009, p.42).

As praças têm um grande valor simbólico e histórico para a sociedade, o Além de suas qualidades sociais, as praças também trazem melhorias

primeiro modelo deste tipo de espaço público no Brasil foram os pátios

ambientais na circulação do ar, insolação, controle da temperatura,

das igrejas no período da colonização, nos quais, os edifícios e

sombreamento, melhoria na drenagem das águas pluviais, por conta de

equipamentos mais significativos se desenvolviam ao seu redor. Minda

suas áreas permeáveis, proteção do solo contra erosão e proteção dos

(2009, p.39), afirma que: “A maioria das cidades latino-americanas foram

cursos de água contra a contaminação do solo. Em alguns bairros, as

desenvolvidas a partir de uma praça central que cumpre o papel

praças são a única opção de espaço recreativo para os habitantes,

simbólico de centro ou de “coração” da cidade”. 19


fortalecendo os laços com a comunidade em que está inserida. Estes

tornam objetos referenciais na paisagem da cidade, transformando-se

espaços também têm um grande valor estético e simbólico, pois se

na identidade do bairro (ROBBA; MACEDO, 2003).

Figura 11 – Representação da Ágora da antiga Atenas

2.3.2. Contextualização histórica A ideia que hoje tem-se de praça originou-se da Ágora grega (figura 11) e posteriormente dos Fóruns romanos (figura 12). A Ágora grega funcionava como lugar onde os cidadãos livres exerciam e discutiam sobre a política e cultura, era o ponto central da civilização e situava-se em locais onde podia ser visualizada por toda a comunidade, cercada de edifícios sagrados, comerciais e institucionais, “essa praça representava Fonte: The Athens Key, 2019 Figura 12 – Reconstrução digital do Fórum romano

o lugar do domínio político” (CALDEIRA, 2007, p.17).

Figura 14: Representação da Ágora da antiga Atenas

Assim como na Ágora, o Fórum romano também desempenhava um papel central na vida urbana, era palco para encontros políticos, assembleias populares, disputas atléticas, discursos, atividades comerciais, cultos religiosos e funcionava como lugar onde administravam-se as cidades. O Fórum se destacava na paisagem pelo seu conjunto arquitetônico monumental. Uma das diferenças entre a Ágora grega e o Fórum romano é que no Fórum se materializava o poder

Fonte: Digitales Forum Romanum, 2019.

20


Figura 13 – Piazza del campo – Siena, Itália

do Estado Romano, já a Ágora era independente da figura de um governante. Ambos espaços representavam o lugar da vida cívica e encontro dos cidadãos: “Na condição de nó, centro vital da cidade, esses espaços mantiveram-se presentes na estrutura das cidades ocidentais, constituindo-se como verdadeiros centros da vida social” (CALDEIRA, 2007, p.22). As praças na Idade Média (figura 13) também tinham grande importância social e papel central nas cidades: “[...] a praça medieval representou o espaço de interação

Fonte: World Wide Italy, 2019

social. Articulada à escala urbana, a configuração da praça

Figura 14 – Piazza della Santissima Annunziata– Florença, Itália

medieval definiu-se pelo contraste do vazio com a densa paisagem, estruturando uma diversidade de espaços: praças de mercado, praça da igreja, praça cívica, praça de entrada, praça central, ou mesmo conjunto de praças”. (SITTE, 1889, p.24 apud CALDEIRA, 2007, p.23)

As praças medievais abrigavam diversas atividades, além de lugar para encontros sociais elas também eram utilizadas para demonstrar o poder das leis, palco para festas, feiras, procissões, representações artísticas, além de julgamentos e execuções públicas. De acordo com Caldeira (2007), no período do Renascimento (figura 14) as praças passaram a ter importância estética, buscando disciplina e ordenação, em contraste Fonte: Teggelaar, 2019

21


com a espontaneidade do desenho da cidade medieval. As ruas, avenidas

primeiros espaços livres de uso público brasileiro: os pátios das igrejas.

e praças sofreram alterações baseada na geometrização e regularidade.

Com o aumento da população, o pátio da igreja se fortaleceu como conexão entre a paróquia e a comunidade, e a sua importância atraiu

Segundo Sun Alex (2011), a partir do Renascimento, as praças se inserem

para o seu entorno prédios públicos, comércio e residências de valor

permanentemente na estrutura urbana das mais importantes cidades

significativo (figura 15). As praças brasileiras coloniais permitiam que

europeias e tornam-se referência de desenho urbano, boa arquitetura,

atividades religiosas, profanas e militares acontecessem do mesmo

lugar e estilo de vida. As renascentistas piazza italiana, plaza mayor

lugar: “Era ali que a população colonial manifestava sua territorialidade,

espanhola e place royale francesa se estabeleceram como os modelos

os fiéis demonstravam sua fé, os poderosos, seu poder, e os pobres, sua

mais importantes de praça do século XVII. Delas derivou-se o square

pobreza” (ROBBA; MACEDO, 2003, p.22)

inglês: ilhas verdes, delimitadas por construções em todos os lados,

Figura 15 – Praça da República e antiga Igreja Matriz de Santos – SP, antes de ser demolida em 1908

separados do sistema viário existente e destinados exclusivamente a residência da nobreza, abastados e burgueses, e dos squares se originaram os parques públicos. 2.3.3. Origem e evolução das praças brasileiras Segundo Robba e Macedo (2003), é importante ressaltar a importância das praças europeias como espaços de manifestação popular, vitalidade urbana e centro cívico, porém a morfologia destes espaços difere muito da realidade brasileira. Segundo os autores, a praça como elemento urbano nasceu no Brasil junto com a cidade colonial. Naquela época, as cidades se formavam em volta da capela, e essa estruturação gerou os

Fonte: Arculano, 2013

22


No final do século XVIII, houve a ascensão de um novo modelo de espaço

apropriação de vários estilos e é considerado como o padrão paisagístico

público na Europa: os espaços ajardinados de uso coletivo. Estes jardins

de maior expressão no Brasil e sua influência pode ser percebida até

eram utilizados pela burguesia para demonstração de poder: “O jardim

hoje, poucos espaços públicos brasileiros não fazem uso da vegetação.

representava a metáfora do Éden, atraindo para si uma imagem do

Figura 16 – Praça da República na década de 1910, Recife -PE

paraíso e de tranquilidade celestial” (ROBBA; MACEDO, 2003, p.23). A influência da cultura europeia e a necessidade de se conectar com a nova ordem social e econômica global da virada do século XIX levou as cidades brasileiras à adotarem um processo de reestruturação urbana que visava a salubridade e embelezamento das cidades. Dessa maneira, as cidades coloniais foram transformadas em cidades republicanas, e neste contexto, surge uma nova tipologia de espaço urbano: a praça ajardinada (figuras 16 e 17). Fonte: Revista Algo Mais, 2018

Segundo os autores, na praça ajardinada o uso militar e comercial, típico

0 Figura 17 – Praça da Liberdade na década de 1920 - Belo Horizonte, MG

das praças coloniais, são minimizados, passando a ser um local para descanso, recreação, contemplação da natureza e convivência das elites. Neste momento também, as praças passam a ser objeto de projetos paisagísticos, ao contrário dos pátios e largos que eram configurados pelas edificações do seu entorno. Devido à influência europeia, os projetos das praças ajardinadas seguem uma linha de projetos da arquitetura paisagística brasileira chamada de Ecletismo. Esse modelo de projeto tem como característica a Fonte: Bonfioli, 2018

23

0


Com a expansão dos núcleos urbanos brasileiros na segunda década do

Dessa maneira, os parques e praças se consolidaram como locais de lazer

século XX, decorrente do modelo de produção industrial e adensamento

ativo e começaram a receber equipamentos como quadras esportivas,

populacional, o preço da terra urbana eleva-se em função da demanda

brinquedos, pistas para caminhada, entre outros. Essa nova tendência

e faz com que os espaços livres públicos se tornem cada vez mais

paisagística que quebra os padrões das praças ecletistas foi denominada

escassos. A cidade populosa, motorizada, e moderna já não comporta

Modernismo. Nas praças modernas (figura 18), os projetistas tinham

mais os padrões urbanísticos ecléticos: “O espaço urbano moderno devia

mais liberdade de criação, pois não precisavam mais seguir as regras de

ser planejado funcionalmente, suprindo as necessidades da cidade

composição estabelecidas pelo Ecletismo, além disso, as praças no

relativas a habitação, trabalho, lazer e circulação”. (ROBBA; MACEDO,

Modernismo eram idealizadas visando a permanência dos usuários e não

2003, p.35).

apenas a circulação.

Figura 18 – Praça do Ministério do Exército, Brasília. Roberto Burle Marx, Haruyoshi Ono e José Tabacow

Porém, de acordo com Robba e Macedo (2003), no final do século XX,

0

com a influência de projetos paisagísticos americanos, espanhóis, japoneses e franceses e como forma de se adequar aos problemas urbanos da época – grande contingente populacional e de automóveis, violência urbana, degradação do meio ambiente e diminuição da qualidade de vida – o programa das praças é reformulada novamente, permitindo ainda mais liberdade de projeto para se adequar ao contexto de cada local de implantação. As praças contemporâneas voltam a abrigar as mais diversas atividades humanas, como o lazer, contemplação, convívio social, trocas comerciais, circulação de pedestres, entre outros:

Fonte: Vitruvius, 2010.

24


“A liberdade contemporânea permite que uma praça

Figura 19 – Rua da Cidadania Pinheirinho – Curitiba, PR

possa especializar-se em determinado uso ou possa ser

0

um espaço multifuncional e adaptável; isto depende diretamente

do

diagnóstico

de

vocação

e

das

necessidades do setor onde se está inserido a praça” (MINDA, 2009, p. 45) As imagens ao lado mostram exemplos de praças contemporâneas brasileiras que possuem multifuncionalidade de funções, e que se adaptam às necessidades da população e ao contexto do local em que estão inseridas. A Rua da Cidadania Pinheirinho, em Curitiba (figura 19),

Fonte: The Cities, 2019

funciona como local de contemplação e lazer, mas também abriga comércio e serviços públicos, atuando como um centro de bairro. A

0 Figura 20 – Praça Victor Civita – São Paulo, SP

Praça Victor Civita, localizada em São Paulo (figura 20), insere-se em uma

0

área recuperada da contaminação e degradação, e entre outras coisas, seu programa de atividade possui equipamentos destinados a educação sócio-ambiental. Com estes exemplos, nota-se que as praças atuais não se limitam à uma atividade específica. Esta nova realidade, que se conecta com o contexto do local de inserção e possui uma maior flexibilidade de ocupação, tem a capacidade de atrair e incentivar cada vez mais pessoas à utilizarem os espaços públicos como elas quiserem.

Fonte: Archdaily, 2011 0

25


Quadro 3 – Evolução das praças brasileiras Período

Função Social das Praças

0

Colonial

Eclético

Moderno

Contemporâneo

Convívio social

Contemplação

Contemplação

Contemplação

Uso religioso

Passeio

Recreação

Recreação

Uso militar

Convívio social

Lazer esportivo

Lazer esportivo

Comércio e feiras

Cenário

Lazer cultural

Lazer cultural

Circulação

Convívio social

Convívio social

Recreação

Cenário

Comércio Serviços Circulação Cenário

Desenho pré-elaborado sobre uma

Principais características do desenho

reticula regular

Linha Clássica: Rigidez geométrica de seu

Formas orgânicas, geométricas e mistas.

traçado e plantio. Ortogonalidade, eixos,

Liberdade na composição formal,

simetria, centralização

respeitando os dogmas modernistas

Presença de um templo e de edifícios

Linha Romântica: traçado orgânico e

representativos em seu entorno. A cidade

sinuoso, passeio que percorrem toda a

cresce a partir deste núcleo

área, utilização cênica da vegetação

Circulação estruturada por sequência de estares

Formalismo gráfico como contraponto à praça ajardinada.

Reconfiguração e mudanças estruturais

Vegetação utilizada como elemento Pouca presença de vegetação

Ajardinamento dos espaços livres

tridimensional de configuração de

Colagem decorativa e irreverência

espaços. Valorização da flora nativa. Direcionamento do uso para passagem de pedestres e a circulação, com a criação de esplanadas e a valorização da praça seca Criação de espaços multifuncionais e adaptáveis, para ser usados pela população das mais diversas formas

Fonte: Robba e Macedo, 2003, adaptado por Minda, 2009 e com diagramação da autora. 0

O quadro acima (quadro 3) resume em tópicos, e de forma didática, as principais funções que as praças brasileiras tiveram ao longo do tempo e suas principais características de desenho, desde a época colonial até os dias de hoje.

26


2.3.4. A praça na periferia As praças têm um grande papel nas periferias das cidades, pois muitas

praças nos bairros centrais e nobres, enquanto os bairros nas áreas

vezes são os únicos equipamentos públicos existentes nestes locais.

menos consolidadas recebem projetos mais simples, genéricos e de

Porém, um projeto arquitetônico genérico e que não atende as

baixo orçamento.

necessidades da população local pode acabar transformando as praças

A desconsideração de questões importantes como a acessibilidade dos

em locais ociosos e transmitir sensação de insegurança para a

espaços públicos dentro do tecido urbano, vitalidade do entorno da

população.

implantação do projeto e a importância de um programa de

Para Robba e Macedo (2003), a promoção de praças nas periferias

necessidades direcionado para beneficiar e atender as necessidades da

também trazem benefícios para o poder público. A grande visibilidade

comunidade que usará este espaço, transforma as praças das periferias

das praças e sua grande importância no meio urbano transformam estes

em locais ermos, sem apropriação pública e “fadados ao esquecimento”

espaços públicos em propaganda política. A criação e manutenção

(ROBBA; MACEDO, 2003, p. 48).

destes locais na cidade tem um efeito muito positivo na aprovação da

As imagens abaixo demostram a diferença do padrão de praças em

administração pela opinião pública: “Em anos que antecedem as eleições

regiões periféricas e no centro da cidade de São João da Boa Vista,

municipais é comum que as prefeituras invistam nas reformas dos

confirmando a ideia trabalhada por Robba e Macedo (2003). Pode-se

espaços públicos para chamar a atenção do eleitor. ” (ROBBA; MACEDO,

perceber que na praça da região central (figura 22) há maior

p.47).

manutenção e qualidade na infraestrutura, enquanto que na praça

Normalmente, a criação de novas praças acontece nos bairros

periférica (figura 23) há um grande problema de falta de manutenção e

periféricos, onde o preço da terra é mais barato. Porém, os maiores

originalidade no projeto.

investimentos são destinados à reforma e manutenção das grandes

27


Figura 22 – Praça Joaquim José - Centro 0

Fonte: Solutudo, 2019 0

Figura 23 – Praça Ana Paina Zanetti – Jardim Nova República II 0

Figura 21 – Identificação das praças Fonte: Cadastro Municipal, 2014. FGMF, 2014. Adaptado pela autora, 2019

Fonte: Acervo pessoal, 2019

28

9 0


29

3. ESTUDOS DE CASO


3.1. APRESENTAÇÃO Os estudos de casos de projetos bem-sucedidos são de suma

oferecendo para a população equipamentos de lazer e espaços para as

importância para compreensão do tema, através desta metodologia é

mais variadas atividades humanas.

possível conhecer o que está sendo, ou já foi desenvolvido ao redor do

O segundo estudo de caso é a Unidade de Vida Articulada El Paraíso,

mundo, e a partir disto, criar diretrizes a serem seguidas embasadas nos

localizada na cidade colombiana Medellín, referência por incentivar a

acertos dos projetos estudados. Neste capítulo, serão analisadas duas

vida em comunidade através de um projeto que funciona como um clube

obras arquitetônicas que foram criadas procurando atender as carências

no bairro, o dotando com espaços que incentivam o encontro entre os

da comunidade em que estão inseridas, mas também oferecer um

cidadãos, promovem o esporte, recreação e cultura. O projeto se localiza

espaço público democrático destinado à interação e trocas sociais da

em uma zona carente da cidade e se tornou a única oferta de serviços da

população, e dois projetos paisagísticos de praças públicas que possuem

comunidade, o que gerou na população um sentimento de

não apenas valor estético, mas também oferecem uma variedade de

pertencimento e propriedade do lugar.

funções. Os últimos dois estudos de caso são praças públicas nas cidades de O primeiro estudo de caso é a Rua da Cidadania Boa Vista, localizada na

Naberezhnye Chelny, Rússia e Zhengzhou, China. Ambos os projetos são

cidade de Curitiba, Brasil. O motivo da escolha do projeto é o seu

inseridos em locais com edifícios importantes para a região, oferecem

objetivo de oferecer aos bairros periféricos um equipamento que

opções de lazer para as pessoas de todas as idades e seguem um estilo

contêm os principais comércios e serviços necessários ao cotidiano da

paisagístico contemporâneo com pavimentação e mobiliário urbano

população, e assim descentralizar a infraestrutura existente na cidade.

únicos.

Além disso, o projeto também procura estimular a vida em comunidade,

30


3.2. Rua da Cidadania - Boa Vista Figura 24 – Rua da Cidadania Boa Vista Fonte: Blog Fotografando Curitiba, 2018

31


Definição:

Contexto:

As Ruas da Cidadania são edifícios de uso misto instalados nos bairros

O processo de descentralização industrial no sudeste do Brasil, ao longo

periféricos da cidade de Curitiba com o principal objetivo de

dos anos 90, incentivou a instalação de indústrias automotivas no sul do

descentralização política-administrativa. Estes equipamentos abrigam

país, com isso a cidade e região metropolitana de Curitiba passou por um

unidades administrativas de diversos órgãos e entidades municipais,

importante período de industrialização que acarretou em grandes

estaduais e federais, e também contam com espaços destinados ao

transformações urbanas. O crescimento de Curitiba ocorreu de maneira

esporte, lazer e rede de comércio. “A Rua da Cidadania tornou-se

desordenada: enquanto que nos principais eixos estruturais houve um

referência como polo aglutinador de todos os tipos de manifestação:

grande aumento na concentração de edifícios de alto padrão, bem

cultural,

e

equipados com serviços e infraestruturas, nas periferias da cidade houve

reclamações, oportunizando um expressivo exercício da cidadania,

uma proliferação de habitações populares com grande carência de

servindo de apoio estratégico à descentralização da administração

serviços básicos de uma sociedade equilibrada. “Verifica-se cada vez

pública”. (PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA, 2019)

mais na metrópole o fenômeno de exclusão espacial e social, visto que o

esportiva,

participação

comunitária,

reivindicações

planejamento urbano não acompanhou, no mesmo ritmo, o crescimento

De acordo com Barbosa (2005), além de diminuir as distâncias entre o

da cidade”. (BARBOSA, 2005, p.55)

cidadão e a administração pública, a Rua da Cidadania procura refazer o sentido de comunidade aproximando os indivíduos e oferecendo um

Neste contexto, as Ruas da Cidadania foram implantadas como tentativa

espaço para convívio e manifestações sociais, culturais e de lazer.

de diminuir as carências de oferecimento de infraestruturas e serviços

Mostra-se ser um espaço público democrático e de fácil apropriação pela

nos bairros periféricos de Curitiba. De acordo com a prefeitura de

população, uma vez que, diferente dos centros de lazer atuais que

Curitiba, atualmente a cidade conta com dez Ruas da Cidadania: Bairro

filtram o seu acesso pelas condições econômicas (parques temáticos,

Novo, Boqueirão, Cajuru, CIC, Matriz, Pinheirinho, Fazendinha, Santa

shoppings centers) os indivíduos tornam-se atores e não consumidores

Felicidade, Tatuquara e Boa Vista, que será o objeto de estudo deste

do espaço.

trabalho.

32


Rua da Cidadania Boa Vista: Figura 26 – Análise do entorno Rua da Cidadania Boa Vista

Figura 25 – Brasil > Paraná > Curitiba > Rua da Cidadania Boa Vista Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora, 2019

De acordo com a Prefeitura Municipal de Curitiba (2019), a Rua da Cidadania Boa Vista abrange cerca de doze bairros, sendo eles: Abranches, Atuba, Bacacheri, Bairro Alto, Barreirinha, Boa Vista, Cachoeira, Pilarzinho, Santa Cândida, São Lourenço, Taboão e Tingui, atendendo cerca de 250.000 habitantes. Em relação à infraestrutura de seu entorno, a Rua da Cidadania Boa Vista localiza-se paralelamente ao eixo estrutural norte, importante via de Curitiba que faz ligação com a região central e outros bairros da cidade, e possui corredores exclusivos para transporte público. O projeto também se localiza em uma área bem equipada com comércio, serviços e lazer, funcionando como uma centralidade administrativa da região.

33


Partido Arquitetônico:

A concepção formal das Ruas da Cidadania visa reafirmar o papel do Estado na malha urbana, através de uma arquitetura diferenciada, monumental e com cores chamativas, além disto, estes equipamentos costumam ser formulados a partir de eixos centrais à edificação, de onde são distribuídos os ambientes para um lado e para o outro, visando um equilíbrio através da simetria. A Rua da Cidadania Boa Vista é uma exceção à esta concepção formal, uma vez que não há um eixo central à edificação - o projeto é definido pelo eixo estrutural da via de circulação - dessa maneira, os ambientes pertencentes a Rua da Cidadania Boa Vista estão voltados para o exterior e se integram com a malha urbana, e o espaço central é definido por uma praça interna. Outra característica em relação à concepção formal deste equipamento é que cada função está relacionada a um elemento diferente: os serviços e comércio são agrupados em grandes massas volumétricas; e a circulação e o lazer são evidenciados por uma cobertura metálica colorida e curva que se destaca no conjunto.

Figura 27 – Perspectivas Rua da Cidadania Boa Vista

Fonte: Google Earth, 2019

34


Figura 28 - Setorização Rua da Cidadania Boa Vista

Programa de Necessidades:

As Ruas da Cidadania abrigam uma gama de atividades. Na unidade Boa Vista pode ser encontrado: uma sede da Administração Regional, Unidade Básica de Saúde, Secretaria Municipal de Finanças, Fundação Cultural de Curitiba, Conselho Tutelar, Secretaria Municipal da Educação, Secretaria Municipal do Trabalho e Emprego, Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude, Companhia de Saneamento, Companhia de Energia, Procon, caixas eletrônicos, xerox, entre outros serviços. O comércio do equipamento também é bastante diversificado, contendo lojas de roupas, calçados, utilidades, banca de jornal, quitanda, lanchonetes etc. Além de ser um instrumento de descentralização, as Ruas da Cidadania também servem como local de lazer, e trocas sociais da população, contendo uma quadra poliesportiva pública, espaço para ginástica, e uma praça interna, que funciona como espaço para Fonte: Barbosa, 2005, adaptado pela autora

encontros, mas também circulação. 35


Através do estudo do programa de necessidades da Rua da Cidadania Boa Quadro 4 – Matriz de proximidade Rua da Cidadania Boa Vista

Vista, elaborou-se o quadro ao lado que mostra a relação de proximidade

MATRIZ DE PROXIMIDADE

P = PERTO

P P L P P P L

L = LONGE

P P P P P P

P P P P P

P P L P P P P P P

P P P P P P P

P P P

P P

P P P P P P P P P

estacionamento

P P P P P P

canteiro

P P P P

praça

P P P

sanitários

L L

lazer

L P P P P P P P

serviços

P L P P P P P P P

serviços públicos

P

eventos

comércio alimentação eventos serviços públicos serviços sanitários lazer praça canteiro estacionamento

alimentação

comércio

entre os ambientes do projeto. Considerou-se como “perto” os espaços que

P P L P P P P P P

são de fácil acesso, tanto por corredores e circulação vertical, e que possuem relação direta, e “longe” os espaços que possuem barreiras físicas entre eles, ou que os usuários precisam se locomover mais para acessá-los. Pode-se constatar que como o programa do projeto se ordena em volta de uma praça central, os ambientes são pertos um do outro, com poucas exceções. A Rua da Cidadania tem como objetivo facilitar a vida dos moradores, concentrando em um só local uma gama de serviços para a comunidade. A disposição dos ambientes desta maneira favoreceu a agilidade e integração que é proposto por este equipamento.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

36


Figura 29 – Circulação Rua da Cidadania Boa Vista

 Circulação: A circulação da Rua da Cidadania Boa Vista é predominantemente horizontal, com exceção de algumas escadas e rampas. Por causa do desnível do terreno, o projeto pode ser acessado pelo térreo e pelo pavimento superior também, através de duas avenidas importantes. Pelo nível térreo, é possível acessar a maioria dos comércios e estacionamento, e pelo pavimento superior é acessada a quadra poliesportiva e grande parte dos serviços. Mesmo com o desnível existente, o fluxo do projeto é facilitado pelo importante eixo que cruza o mesmo, e pela disposição dos ambientes ao redor de uma praça interna. Figura 30 – Corte demonstrando os acessos do projeto

Fonte: Barbosa, 2005.

Fonte: Barbosa, 2005, adaptado pela autora

37


Clima:

Através da análise e resultados apresentados (figura 31 e quadro 5) da

Figura 31 – Distribuição da direção do vento da cidade de Curitiba em %

ventilação predominante feitos pelo site Windfinder, foi possível montar uma esquematização dos ventos em relação ao projeto (figura 32). Nota-se que os ventos predominantes partem das direções leste (E) e lés-sudeste (ESE). Em relação à temperatura média do ar, na cidade de Curitiba, a temperatura média do mês mais quente é de 23⁰C, e a do mais frio 15⁰C, sendo considerada a capital mais fria do Brasil. Estas informações mostram que o projeto não necessita de estratégias contra a insolação, mas sim promover o recebimento de incidência solar para o aquecimento ambiental da edificação.

Fonte: Windfinder, 2019

Quadro 5 – Direção, probabilidade, velocidade do vento e temperatura do ar em Curitiba

Fonte: Windfinder, 2019

38


Figura 32 – Ventos Predominantes Rua da Cidadania Boa Vista

Ao analisar a direção dos ventos predominantes no projeto, nota-se que por conta do desnível do terreno, o pavimento superior é o mais favorecido em relação à ventilação, porém a existência de vegetação nas calçadas acaba filtrando uma parte destes ventos. Em relação aos ambientes, a quadra poliesportiva, parte do eixo de circulação e o bloco com fachada voltada para leste recebem mais ventilação. Como este bloco não possui grandes aberturas - o que dificulta a circulação do vento - a praça interna, e grande parte dos comércios não recebem tanta ventilação vinda da orientação predominante.

Fonte: Barbosa, 2005, adaptado pela autora

39


Figura 33 – Incidência Solar Rua da Cidadania Boa Vista

Incidência solar:

A imagem ao lado mostra a incidência solar nas fachadas mais expostas ao sol da Rua da Cidadania Boa Vista. Como Curitiba não possui altas temperaturas ao longo de todo o ano, não foi necessárias estratégias bioclimáticas para a proteção solar do edifício, pelo contrário, a incidência solar no projeto é muito bem-vinda nas épocas mais frias do ano em Curitiba.

Fonte: Barbosa, 2005, adaptado pela autora

Considerações sobre o projeto:

Após analisar o projeto Rua da Cidadania Boa Vista, pode-se destacar como ponto forte do projeto o seu objetivo de descentralizar o comércio e serviços da cidade, levando para os bairros periféricos os benefícios de uma cidade com distribuição de infraestrutura democrática e igualitária. Outro ponto importante que merece ser destacado, é que, além de procurar sanar as carências da região, a Rua da Cidadania procura refazer o sentido de comunidade, oferecendo aos indivíduos um espaço destinado para convívio, manifestações sociais, culturais e de lazer. Este conceito de centro de bairro que a Rua da Cidadania oferece é um dos principais objetivos que o projeto à ser proposto neste Trabalho Final de Graduação procura alcançar.

40


3.3. Unidade de Vida Articulada – UVA El Paraíso

Figura 34 – UVA El Paraíso Fonte: Archdaily, 2016

41


Arquitetos: EDU – Empresa de Desarrollo Urbano de Medellín Localização: Medellín, Colômbia Área: 3.880 m² Ano do projeto: 2015 Cliente: INDER (Instituto de Deportes y Recreación) Alcadía de Medellín

Figura 35 – Croqui ideia inicial Fonte: Archdaily, 2016

As Unidades de Vida Articulada (UVA) são intervenções urbanas nos bairros de Medellín construídas para incentivar encontros entre os cidadãos, promover o esporte, recreação e cultura. A UVA El paraíso foi concebida para funcionar como um clube no bairro, é localizada em uma zona carente e se tornou a única oferta de serviços da comunidade. O projeto teve um alto grau de participação comunitária, gerando um sentimento de pertencimento e propriedade do lugar (EDU, 2016). 

Arquitetos:

Figura 36 – Logotipo da empresa

A Empresa de Desarrollo Urbano, EDU, criada na década de 90, é uma entidade descentralizada da Prefeitura de Medellín, e dedica-se à gestão, desenvolvimento, execução, assessoria e consultoria de planos, programas e projetos urbanos e imobiliários, nas esferas municipal, departamental, nacional e internacional. Estiveram envolvidos em vários projetos de desenvolvimento e integração Fonte: Empresa de Desarrollo Urbano de Medellín, 2019.

comunitária promovidos pela cidade de Medellín (EDU, 2019).

42


Figura 37 – Colômbia > Antioquia > Medellín > UVA El Paraíso Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Contexto:

Nas décadas de 80 e 90, o narcotráfico se apossou de grande parte da cidade colombiana Medellín, os índices de homicídios a colocavam como a cidade mais violenta do mundo. Porém ao longo dos últimos quinze anos, Medellín passou por uma série de transformações urbanas e sociais e tonou-se referência urbanística mundial. O início do processo de requalificação urbana começou na administração de Sergio Fajardo Valderrama (2004-2007), e tinha como foco principal o espaço público, assim implementou-se diversas políticas e novos Figura 38 – Análise do entorno.

planos visando garantir o direito da população à cidade. As gestões seguintes seguiram com os projetos de intervenções em locais precários como modo de lidar com a violência no território, intensificada na cidade por conta do abandono do Estado (ANTONUCCI e BUENO, 2018). A Unidade de Vida Articulada – UVA El Paraíso (figura 38) é um destes equipamentos que foram criados visando a convivência e desenvolvimento da comunidade. O projeto localiza-se em uma comunidade rural e em expansão, que necessitava de investimento em atividades culturais, esportivas e musicais. A UVA e a Biblioteca Parque San Antonio de Prado, localizada em frente ao projeto, fazem parte de um programa estratégico de centralidades urbanas e funcionam

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora, 2019.

como um clube no bairro (EDU, 2016).

43


Partido Arquitetônico:

“Arquiteturas que valorizam e aumentam a vida cotidiana no bairro, observar pela sacada, brincar na rua, conversar nos terraços, tomar um café: o bairro tem nos ensinado a apreciar esta riqueza cultural e trazê-la aos nossos projetos” (EDU, 2016)

A UVA El Paraíso foi concebida para tornar-se referência no bairro, através de atividades culturais, esportivas e recreativas e assim incentivar a socialização entre os moradores. Gerar um sentimento de pertencimento e apropriação da comunidade com o projeto também foi uma das diretrizes dos arquitetos, assim o desenho e programa do edifício surgiram a partir da coleta de ideias da população, que exerceu o seu papel de protagonista e pediu por locais para esportes, músicas e danças. A falta de lotes livres para a geração de novos equipamentos públicos em Medellín foi um empecilho para a equipe do EDU, os levando a projetar um edifício que abriga uma praça em sua cobertura, e assim otimizar ao máximo o espaço destinado ao encontro dos cidadãos. Dessa maneira, a cobertura da UVA tornou-se um espaço para contemplar a cidade, de maneira pública e acessível e integrou em um único equipamento uma grande gama de atividades. (EDU, 2016)

Figura 39 – Esboço de ideias feito pela comunidade

Fonte: Archdaily, 2016

Figura 40 – Diagrama de ideias feito pelos autores do projeto

Fonte: Archdaily, 2016

44


Forma:

Figura 41 – Visão geral da UVA no terreno

De acordo com os arquitetos da EDU, a singular forma do edifício originou-se a partir de três premissas básicas: acolher a quadra de futebol existente no terreno; promover a criação de um espaço público democrático e respeitar as características do entorno. Dessa maneira, criaram um edifício de forma orgânica que parece abraçar o terreno em que está inserido. Os programas do projeto foram distribuídos em quatro novos volumes que envolvem a quadra já existente e a transforma em um centro articulador. A questão do espaço público foi resolvida criando uma praça elevada, de fácil acesso a todos os usuários e que também gera uma vista ampla da cidade. A forma da UVA El Paraíso também foi planejada para conservar as árvores de importância paisagística e dois cursos d’água que atravessam o terreno, mostrando um respeito não só com a comunidade, mas também com o meio ambiente.

Fonte: Archdaily, 2016

Figura 42 – Diagrama de estudo da forma

Fonte: Archdaily, 2016, adaptado pela autora

45


Programa de Necessidades:

O programa de necessidades da UVA El Paraíso foi desenvolvido em conjunto com a comunidade, visando atendar a alta demanda local em atividades esportivas, culturais e sociais. Assim, o projeto possui pista de skate, playground, espaço interativo com água, arena para eventos comunitários, academia, salas de música, centro esportivo, salas de dança, ludoteca, café, entre outras coisas. O quadro abaixo mostra a relação de proximidade entre os ambientes do projeto, considerou-se como “perto” os espaços que são de fácil acesso, tanto por corredores e circulação vertical, e que possuem relação direta, e “longe” os espaços em que os usuários precisam se locomover mais para acessá-los e que contam com barreiras entre eles. Quadro 6 – Matriz de Proximidades - UVA MATRIZ DE PROXIMIDADES 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

L P L L P L L L L L

P = PERTO

2 L P P P L P L P P L

3 P P P P P L L P P L

4 L P P P L L L P P L

5 L P P P L L L P P P

6 P L P L L L L L L L

7 L P L L L L P P L P

8 L L L L L L P L L P

9 L P P P P L P L P P

10 L P P P P L L L P

11 L L L L P L P P P L

L

L = LONGE

Fonte: Elaborado pela autora

Através da análise de proximidade do projeto, nota-se a preocupação dos autores em isolar os ambientes que geram mais ruído, como ginásios, academia e pista de skate, e integrar espaços como praças e terraços.

Figura 43 – Programa de necessidades – UVA Fonte: Archdaily, 2016, adaptado pela autora 0

46


Sistema construtivo: Em relação ao sistema e material construtivo da UVA El Paraíso, o concreto é o grande destaque. Além de sua utilização estrutural (lajes, vigas e pilares) o mesmo também tem uma grande importância em relação à estética do projeto. Os autores da UVA optaram em usar o concreto aparente em todos os ambientes e fachadas do edifício. Para criar um destaque e levar alegria para o projeto, a brutalidade deste material é contrastada com o uso de muitos elementos Figura 44 – Corte em perspectiva Fonte: Archdaily, 2016

coloridos, incluindo os brises metálicos que também viraram marca do edifício.

Relação do interior com o exterior:

Figura 45 – Corredor interno

Figura 46 – Academia interna

Figura 47 – Ludoteca

Fonte: Archdaily, 2016

Fonte: Archdaily, 2016

Fonte: Archdaily, 2016

As imagens dos ambientes internos do edifício confirmam a intenção dos arquitetos de utilizar cores quentes e chamativas para contrastar com a seriedade do concreto aparente, além do brise vertical vermelho e amarelo (escolhido pela população), as cores também foram utilizadas nos mobiliários, portas, janelas e corrimão das escadas. 47


Circulação:

Figura 48 – Diagrama de circulação

Fonte: Archdaily, 2016, adaptado pela autora.

A circulação da UVA El Paraíso é feita predominantemente por rampas e passarelas, nota-se a ausência de elevadores e pouca existência de escadas. O fluxo do projeto é feito de forma linear e conduzido, com os corredores acompanhando a forma do edifício e contornando os ambientes. A praça e os outros dois pavimentos da UVA podem ser acessados por passagens independentes, porém todos os ambientes são conectados de forma fácil e acessível, mostrando que a circulação e fluxo do projeto também foram um fator decisivo na elaboração da forma e distribuição dos ambientes no edifício.

48


Clima: Através da análise e resultados apresentados (figura 49 e quadro 7) da

Figura 49 – Distribuição da direção do vento da cidade de Medellín em %

ventilação predominante feitos pelo site Windfinder, foi possível montar uma esquematização dos ventos em relação ao projeto. Nota-se que os ventos predominantes partem das direções norte (N) e nor-nordeste (NNE), e que a área não possui ocorrência de ventos fortes. Em relação à temperatura média do ar, percebe-se que quase não há variação, com média de 24⁰C, e máxima de 25⁰C. Por conta disso, pode-se considerar que a cidade de Medellín possui um clima ameno em todos os períodos do ano, sem a necessidade de grandes medidas contra a insolação para garantir conforto aos usuários. Fonte: Windfinder, 2019 Quadro 7 – Direção, probabilidade, velocidade do vento e temperatura do ar em Medellín

Fonte: Windfinder, 2019

49


Figura 50 – Esquematização dos ventos predominantes

Ao analisar os ventos predominantes da cidade de inserção do projeto, percebe-se que a maioria dos blocos possuem aberturas voltadas para a direção que recebe maior ventilação ao longo do ano, e em todos os principais ambientes há ventilação cruzada, com destaque para as quadras esportivas. A praça elevada é a maior privilegiada pela ventilação, pois a ausência de grandes edificações em seu entorno possibilita a livre

Fonte: Archdaily, 2016, adaptado pela autora.

circulação do ar.

Incidência solar: A imagem ao lado mostra a incidência solar nas fachadas

Figura 51 – Incidência solar nas principais fachadas

mais expostas ao sol da UVA El Paraíso. Como Medellín possui um clima ameno ao longo de todo o ano, os autores utilizaram algumas estratégias simples para garantir conforto aos usuários do projeto, como a utilização de árvores para filtrar a luz solar e garantir sombreamento, e os chamativos brises verticais metálicos, que além da função estética, também foi pensando como estratégia bioclimática para a proteção solar do edifício.

Fonte: Archdaily, 2016, adaptado pela autora.

50


Considerações sobre o projeto:

Figura 52 – Vista da academia ao ar livre

Após o estudo feito sobre a Unidade de Vida Articulada – UVA El Paraíso, pode-se destacar o seu grande apelo social como a principal característica do projeto. A UVA foi concebida sobre a premissa de virar um centro no bairro e incentivar a vida coletiva do local, o dotando de atividades recreativas e culturais. Além do edifício, que fornece atividades que a comunidade carecia, os arquitetos também presentearam a região com um espaço 100% público e acessível, com programas voltados às pessoas de todas as idades. A ideia de oferecer um projeto que atenda as carências locais, mas que também funcione como um local de encontro da população é um dos objetivos à ser alcançado com o projeto proposto neste Trabalho Final de Graduação. Fonte: Archdaily, 2016

51


3.4. Praça Central de Naberezhnye Chelny, Rússia 52

Figura 53 – Praça Central de Naberezhnye Chelny Fonte: DROM, 2019


Figura 54 – Detalhe superior da Praça Central de Naberezhnye Chelny

Arquitetos: DROM Localização: Naberezhnye Chelny, Rússia Área: 7.8000 m² Ano do projeto: 2019 Status: 2 de 3 fases completas Fonte: DROM, 2019

Figura 55 – DROM

“O nosso projeto de renovação da praça pública principal de Nabrezhnye Chelnye, uma cidade soviética construída no final dos anos 70 em torno da famosa fábrica de caminhões Kamaz, é uma nova forma de assumir o papel do espaço público numa cidade monoindustrial”. (DROM, 2019)

Sobre o escritório:

DROM é uma equipe de urbanistas, arquitetos e designers que opera a partir de Roterdã em projetos ao redor do mundo, independentemente do tipo ou escala. O escritório se define como um coletivo de diversos pensadores com experiência em exposições, arquitetura a planos diretores, sempre se envolvendo com cada novo projeto com pesquisa crítica e analítica. Eles possuem interesse nos temas de ambientes produtivos, novos modelos de cidades e materialização da arquitetura. Fonte: DROM, 2019

53


Contexto: Naberejnye Chelny é a segunda maior cidade da República do Tartaristão, na Rússia. Localiza-se no nordeste da república, e é uma das áreas mais industrializadas

do Tartaristão,

com

destaque

para

a indústria

automobilística e a indústria química. A praça central de Naberejnye Chelny original (figura 57 e 58) foi projetada em torno de um eixo central formal que pretendia conectar o prédio da prefeitura ao museu de Lenin. Como o último nunca foi construído, o eixo perdeu seu significado. A praça Figura 56 – Rússia > Tartaristão > Naberejnye Chelny Fonte: Elaborado pela autora, 2019

permaneceu formal e monótona; “uma relíquia do passado soviético que foi subutilizada e desconectada da cidade e de sua vida pública”. (DROM, 2019)

Figura 57 – Entorno do projeto antes das intervenções

Figura 58 – Esquematização do entorno do projeto antes das intervenções

Fonte: DROM, 2019

Fonte: DROM, 2019, adaptado pela autora

54


Partido Arquitetônico:

A ideia dos arquitetos foi mudar estrategicamente o eixo central para a borda da praça, para uma fileira existente de árvores densamente plantadas, e assim retirar sua base ideológica. No lugar do antigo eixo central, criaram o que chamaram de “tapete urbano” que funciona como três praças, cada uma com seu caráter único: A “Praça de Eventos” é um espaço urbano pavimentado que também é usado para mercados externos semanais. A "Praça Verde" é para relaxar no gramado e apreciar o paisagismo sazonal do departamento de plantio da cidade. A “Praça da Cultura” tem uma fonte renovada e uma nova piscina rasa para os usuários brincarem na água nos dias quentes.

Figura 59 – Esquematização do entorno do projeto após intervenções 2

Figura 60 – Esquematização do entorno do projeto após intervenções 3

Fonte: DROM, 2019, adaptado pela autora

Fonte: DROM, 2019, adaptado pela autora

55


“Transformamos a praça em um espaço público dinâmico e cativante, com ambientes de características múltiplas e qualidades inclusivas para todos os diferentes grupos de pessoas. ” (DROM, 2019)

Figura 61 – Esquematização do entorno do projeto após intervenções 4 Fonte: DROM, 2019

56


Figura 62 – Plataforma de observação em espiral

Instalações da praça:

Na interseção com o eixo lateral cada praça é contemplada por um programa de ancoragem: um anfiteatro que funciona como um café, uma plataforma de observação em espiral, pintada na cor laranja emblemática da empresa de caminhões Kamaz, que acrescenta uma dimensão vertical e um conjunto de fontes circular que se transforma em uma pista de patinação no gelo no inverno.

Fonte: DROM, 2019 Figura 63 – Anfiteatro triangular com um café embaixo

Figura 64 – Piscina redonda que funciona em conjunto com a fonte original

Fonte: DROM, 2019

Fonte: DROM, 2019

57


Além das instalações citadas anteriormente, o eixo lateral também conta com uma série de outras instalações menores ao longo de todo o caminho, que foram inseridas para intensificar a atividade do eixo. Dessa maneira, o mesmo não possui apenas função de circulação, mas também lazer. Figura 65 – Instalações do eixo lateral Fonte: DROM, 2019, adaptado pela autora

58


Figura 67 – Mobiliário urbano utilizado na praça 2

Figura 66 – Mobiliário urbano utilizado na praça 1

Fonte: DROM, 2019

Mobiliário Urbano:

Os mobiliários urbanos utilizados na praça foram desenvolvidos e produzidos por fabricantes locais. Alguns transformaram suas linhas de produção para o propósito do projeto, criando um novo nicho na economia da cidade. Por exemplo, a principal estrutura de suporte para a “espiral” foi feita com a mesma tecnologia que é utilizada na fabricação de tubulações de gás. Os bancos foram feitos em uma fábrica de concreto local, e as lâmpadas foram feitas usando perfis de aço padrão. Fonte: DROM, 2019

59


Pavimentação e Vegetação:

Os arquitetos desenvolveram um padrão de pavimentação único para cada uma das praças e espaços integrados de descanso, que estão protegidos dos fortes ventos cruzados e do sol por "colinas" estrategicamente posicionadas com espécies locais de árvores. Também consideraram cuidadosamente o ecossistema existente, deixando a maior parte da vegetação e adicionando novas árvores. Todos esses aspectos ajudaram a reduzir as emoções negativas sobre a enorme transformação no centro da cidade, tornando o projeto mais sustentável, resiliente e financeiramente viável.

Figura 68 – Diferentes pavimentações e vegetação da praça

Figura 69 – Diferentes pavimentações e vegetação da praça / vista superior

Fonte: DROM, 2019

Fonte: DROM, 2019

60


Considerações sobre o projeto:

Após o estudo da Praça Central de Naberezhnye Chelny, pode-se destacar a sua funcionalidade como ponto forte do projeto. Ao contrário de muitos projetos, esta praça não possui apenas valor estético, contando com diversos programas setorizados voltados às pessoas de todas as faixas etárias. Porém, mesmo com esta setorização, a praça é conectada por um eixo de circulação lateral que também possui diversas instalações, trazendo ainda mais dinamismo para a praça. Outro ponto a ser destacado é que diferentemente das praças brasileiras, onde a vegetação possui o maior papel na ornamentação, a beleza desta praça fica por conta das suas diferentes pavimentações e mobiliário urbano autêntico. A ideia de oferecer uma diversidade de funções e trabalhar a estética da praça de formas variadas é algo interessante para ser abordado neste Trabalho Final de Graduação.

Figura 70 – Perspectiva geral da praça Fonte: DROM, 2019

61


3.5. Praça pública em Zhengzhou Vanke City, China Figura 71 – Praça pública em Zhengzhou, China Fonte: Landezine, 2014

62


Contexto:

Figura 72 – China > Província de Henan > Zhengzhou Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Localizada na Zona de Desenvolvimento Industrial de Alta Tecnologia de Zhengzhou, Vanke City é um dos maiores novos empreendimentos urbanos da China. Possui uma área bruta de mais de 3,4 milhões de metros quadrados de programas residenciais, escritórios e comércio. Vanke City estará liderando o crescimento econômico de Zhengzhou, transformando rapidamente suas terras áridas atuais em uma nova cidade autossustentável. Um dos projetos desenvolvidos em Vanke City foi uma grande praça pública, lançada em duas etapas e concluída no final de 2014, concebida com o objetivo de oferecer um espaço público que sirva como ponto de encontro para os moradores se reunirem, interagirem e brincarem no bairro por muitos anos. A praça abriga uma galeria comercial que Figura 73 – Etapas da praça de Zhengzhou Vanke City Fonte: Landezine, 2014, adaptado pela autora

futuramente será transformada em um centro comunitário

63


Figura 74 – Praça Inferior

Figura 75 – Praça Superior v

Fonte: Landezine, 2014

Fonte: Landezine, 2014

PRAÇA INFERIOR

PRAÇA SUPERIOR

Arquitetos: Locus Associates Localização: Zhengzhou, China Área: 18.000 m² Ano de conclusão: 2013

Arquitetos: Locus Associates Localização: Zhengzhou, China Área: 10.500 m² Ano de conclusão: 2014

Sobre o escritório:

LOCUS é um escritório chinês de consultoria de design arquitetônico e paisagístico que se empenha com a integração entre história cultural, tradição local e contexto físico na arte de propor lugares; criando espaços que se conectam e “ressoam”. Eles trabalham com projetos de arquitetura, paisagem, marterplanning e interiores. Figura 76 – Logotipo Locus Associates Fonte: Locus Associates, 2014

64


Praça Inferior:

A praça inferior, também conhecida como “Praça da Chegada”, e

funciona como marco visual, jardins zen, decks, e esculturas espalhadas

primeira a ser construída, funciona como acesso principal da galeria

pelo terreno.

comercial existente no terreno. Seu programa de necessidades é mais

O design paisagístico da praça inferior segue dois estilos distintos, o

simples do que a praça construída posteriormente, contando com

projeto possui elementos com uma linha pós-industrial que conversa

canteiros elevados, fontes secas, piscina refletora, uma grande torre que

com a arquitetura da galeria, mas também possui elementos típicos da arquitetura oriental. O design pós-industrial pode ser visto nos caminhos irregulares da frente da praça, que envolvem e guiam o grande fluxo de tráfego de pedestres, nos canteiros elevados, que geram uma paisagem em constante mudança para os visitantes, na grande piscina que procura refletir a multifacetada fachada arquitetônica da galeria comercial, e nas ornamentações metálicas das árvores, que harmonizam com as fachadas refletoras da galeria. A grande piscina que envolve o edifício existente no projeto também separa a praça contemporânea dos ambientes íntimos mais ao fundo. Estes ambientes quebram o estilo pós-industrial da praça seguindo um estilo zen e tranquilo, com elementos como a água, decks de madeira e pedras. Outra diferença entre os ambientes é que a praça funciona principalmente como local de circulação, enquanto que os jardins funcionam como espaços para convívio e descanso.

Figura 77 – Implantação da praça inferior Fonte: Landezine, 2014, adaptado pela autora

65


Figura 78 – Frente da praça e entrada principal da galeria

Figura 79 – Frente da praça

v

v

Fonte: Landezine, 2014, adaptado pela autora

Fonte: Landezine, 2014, adaptado pela autora

Figura 80 – Jardim Zen

Figura 81 – Pátio com água

v

v

Fonte: Landezine, 2014, adaptado pela autora

Fonte: Landezine, 2014, adaptado pela autora

66


Praça Superior:

A praça superior também conhecida como “Praça Central” visou

espaços rebaixados se tornaram uma pista de patinação, parede de

oferecer um centro popular, memorável e importante para todos os que

escalada para crianças e playground

frequentam a região. Ao contrário da praça construída anteriormente,

o ELEMENTOS COM ÁGUA: Assim como a outra praça, os espaços possuem

esta etapa do projeto tem o seu programa de necessidades baseado na

uma infinidade de elementos com água. Uma fonte seca e um jardim de

recreação e lazer. De acordo com os autores do projeto seu desenho foi

neblina criam espaços interativos para as crianças, enquanto que as

feito seguindo algumas diretrizes:

piscinas refletoras com decks ao ar livre formam espaços mais tranquilos.

o PROGRAMAÇÃO: A Praça Central é o centro mais ativo da cidade de

o ADAPTAÇÃO: Um banco em formato de serpentina, feito para conectar a fonte seca, o jardim de névoa e as pedras, acabou se tornando uma

Zhengzhou Vanke. O objetivo foi atrair pessoas de todas as faixas etárias

passarela adaptada para as crianças brincarem.

para participar de vários programas ativos e passivos neste espaço cívico. o DEFINIÇÃO ESPACIAL: Os programas foram divididos criando atalhos que resultaram na forma inicial da praça. Com uma rede complexa de rotas, caminhos longos e trabalhosos foram evitados. o FLUXO DE CANALIZAÇÃO: Aproveitando o entorno significativo, os arquitetos canalizaram um fluxo adicional de energia ao projeto vinda de uma rua comercial a leste, introduziram um caminho chamado de “Star Promenade” com uma pavimentação destacada. o FORMAÇÃO DO SOLO: A terra for empurrada e puxada para criar canteiros com diferentes formas de relevo. Ao contrário da praça inferior, esta movimentação de terra não possui apenas função estética:

Figura 82 – Implantação da praça superior Fonte: Landezine, 2014, adaptado pela autora

as bordas dos canteiros elevados se tornaram bancos longos, e os

67


Figura 83 – Elementos de recreação, canteiros e tipos de bancos da praça superior

Figura 84 – Pista de patinação e parede de escalada

v

v

Fonte: Landezine, 2014, adaptado pela autora

Fonte: Landezine, 2014, adaptado pela autora

Figura 85 – Crianças brincando nas fontes secas

Figura 86 – Mesas, cadeiras e guarda-sóis no deck de madeira

v

v

Fonte: Landezine, 2014, adaptado pela autora

Fonte: Landezine, 2014, adaptado pela autora

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Considerações sobre o projeto:

A Praça Pública de Zhengzhou Vanke City se destaca como referência por vários motivos. O primeiro deles é como a praça conversa com a galeria comercial existente no projeto ao incorporar elementos do edifício em seu desenho, como a assimetria e materiais refletores. Essa assimetria é um ponto a ser destacado, pois a sua utilização nos canteiros trouxe uma paisagem em constante movimento para os visitantes, e também foi aproveitada para criar bancos longos e interativos. Outra característica é a diversidade de funções que a praça possui, servindo como local de circulação, acesso, descanso e lazer para pessoas de todas as idades. Figura 87 – Praça superior ao anoitecer Fonte: Landezine, 2014

69


70

4. LEVANTAMENTO


4.1. A CIDADE Fundada em 1821 por Antônio Machado de Oliveira, o município de São João da Boa Vista, localizado na região Centro-Leste do Estado de São Paulo, possui uma área total de 516,42 km², sendo 396,69 km² de área rural e 42,85 km² de área urbana. Com cerca de 90.637 habitantes e IDH de 0,797, classificado como acima da média, a cidade pode ser considerada equilibrada, com comércio, educação, saúde e cultura de alcance regional. Neste contexto, a infraestrutura de São João da Boa Vista atende cerca de 13 outras cidades em sua microrregião, e é polarizada por outras 6 cidades de porte maior como Campinas, Poços de Caldas e Ribeirão Preto. São João tem como identidade as suas belas paisagens naturais, e seu aspecto interiorano, mesclando sua grande potência social e econômica, com a tranquilidade e feições de uma cidade pacata. (RELATÓRIO DE ANÁLISE INTRAURBANA, 2014)

Figura 88 - São João da Boa Vista, SP Fonte: Jornal O Município (2018)

71


4.1.1. Evolução urbana e Segregação: Dividida em seis setores (figura 89), São João da Boa Vista teve como

em expansão, com novos loteamentos previstos para o Setor Leste, e

elementos limitadores de sua ocupação territorial o Rio Jaguari-Mirim,

principalmente, para o Setor Sul. O Mapa de Renda Média Domiciliar

Rio da Prata e a ferrovia, conformando o núcleo central da cidade entre

(figura 91), mostra que este alargamento da mancha urbana está

esses elementos. Assim como na maioria dos municípios brasileiros, São

provocando um padrão de segregação espacial baseada em renda na

João cresceu sem um planejamento prévio, o que acarretou em

cidade, uma vez que a população de classe mais alta se concentra

problemas urbanos, e até sociais.

principalmente no leste do município, enquanto a população de baixa renda ocupa a região sul, separados espacialmente pela rodovia SP-342,

O relatório de análise intraurbana realizado em São João da Boa Vista, e

que seciona São João da Boa Vista.

o Mapa da Evolução da Área Urbanizada (figura 90), confirma o assentamento do primeiro povoado da cidade entre o entroncamento

A SP-342 também separa o Setor Sul da região central da cidade, onde

de dois rios, em 1903, após isso, o crescimento deu-se no sentido sul, e

há a maior concentração de infraestruturas. Somado a isso, a

manteve-se contido entre esses dois núcleos até a década de 1940, onde

monofuncionalidade do uso do solo urbano da região sul, problema que

a cidade passou a se expandir também ao sentido sudoeste até os anos

caracteriza os loteamentos de baixa densidade proveniente de

1970. A partir de então, houve um notável espraiamento, com destaque

programas habitacionais, impõe aos moradores a necessidade de

nos sentidos leste e sul, que configuram a área urbana atual.

deslocamentos para ter acesso à comércio, emprego, lazer, cultura e outras atividades básicas.

Poe este mesmo mapa, pode-se observar que a cidade ainda se encontra

72


Figura 89 – Setorização

Figura 90 – Evolução da área urbanizada

Fonte: Cadastro Municipal, 2014. FGMF, 2014. Adaptado pela autora, 2019

Fonte: Cadastro Municipal, 2014. FGMF, 2014

Figura 91 – Renda média domiciliar (em R$)

O crescimento periférico baseado em renda na cidade impede as trocas sociais entre classes distintas, possibilitando a gentrificação e a criação de guetos. Essa situação diminui a dinâmica dos espaços públicos, que caracterizam uma cidade mais humana, agradável, segura e eficiente.

Fonte: Urban System, 2014. Cadastro Municipal, 2014. FGMF, 2014

73


4.1.2. Praças em São João da Boa Vista: Figura 92 – Praças em São João da Boa Vista

Ao longo deste trabalho, foi discutida a importância dos espaços públicos como locais de encontros e trocas sociais, com foco nas praças. Para entender melhor a situação das praças na área urbanizada de São João da Boa Vista foi realizado

um

estudo

da

quantidade

e

distribuição deste equipamento na cidade. Considerou-se

como

praça

apenas

os

equipamentos de lazer de uso livre e público em todos os horários dos dias, desconsiderando equipamentos

cercados

e

com

entrada

controlada. Assim, através de mapeamento contabilizou-se 47 praças na cidade, identificadas na imagem ao lado (figura 92). Enquanto que as informações específicas como nome, área e endereço de cada praça encontram-se no quadro a seguir. Fonte: Cadastro Municipal, 2014. FGMF, 2014. Adaptado pela autora, 2019

74


Quadro 8 – Identificação das praças em São João da Boa Vista Setor Norte P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11

Setor Leste

Nome

Bairro

Área (m²)

Praça da Viola Praça Leonor M. Cirto Praça João Pires Praça Joaquim Praça Júlio Mesquita Praça I rene Cândido Praça Juscelino Kubitschek Praça Antônio Valentim

Jardim Europa Jardim Nov a Horizonte Jardim I ndustrial Vila Nossa Sra. De Fátima Jardim Cledirna Vila Conceição Vila Primeiro de Maio Vila Operária Jardim Del Plata Vila Valentim Jardim Guanabara

10.525 600 720 2.707 4.161 35.887 3.360 254 8.330 808 1.400

P32 P33 P34 P35 P36 P37

Setor Centro P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 P26 P27 P28 P29 P30 P31

Nome Praça Bento Gonçalv es Largo do Rosário Praça Cristo Redentor Praça Ruy Barbosa Praça Anésia Martins Mattos Praça Dr. Boa Vista Praça da Catedral Praça Gov ernador Armando Salles Praça Joaquim José Praça Joaquim Cândido Praça Roque Fiori Praça Monselhor Ramalho Praça Amadeu de Oliv eira Praça Marli Ev angeline Praça do Santuário Praça José Pires Praça da Bandeira Praça da Bíblia Praça Efrain N. Filho Praça da Cóncordia

Bairro Rosário Rosário Vila Adélia Centro Centro Centro Centro Centro Centro Centro Centro Centro São Lázaro Centro Centro Centro Centro Vila Loyola Jardim Bela Vista Vila Conrado

Área (m²) 320 688 880 2.165 717 1.460 3.176 7.397 6.536 560 1.305 487 4.436 240 3.616 1200 1200 250 500 767

P38 P39 P40 P41 P42 P43 P44 P45 P46 P47

Nome Praça Weldo V. Westin Praça Waldemar Ferreira Praça Octáv io da Silv a Bastos Praça Santa Cruz

Bairro Jardim Santo André Jardim Santo André Jardim Santa Clara Riv ieira de São João Bairro Alegre Bairro Alegre

Área (m²) 114 3.013 5.501 356 755 970

Setor Sul Nome Bairro Área (m²) Jardim São Paulo 331 Praça Nicolau T. Nascimento Jardim São Paulo 932 Praça Benedito Diniz Jardim Nov a República 1.238 Praça Benedito Galli Jardim Nov a República 3 3.713 Jardim Nov a República 2 2.850 Praça Ana Paina Zanetti Jardim Nov a República 2 863 Praça Nelson Meletti Jardim Crepúsculo 487 Praça Prfº Antônio M. Carv alho Jardim Crepúsculo 2.207 Jardim Vale do Sol 6.430 Praça I saura Vasconcellos Jardim Progresso 3.606

O quadro mostra que o setor centro é o mais privilegiado pela quantidade de praças com 20 destes equipamentos distribuídos em seu território, seguido pelo setor norte com 11, setor sul 10 e setor leste com 6.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

75


Distribuição das praças por setor Setor Área (em m²) População m² por pessoa Setor Norte 68.752 19.395 3,5 Setor Centro 37.900 21.507 1,8 Setor Sul 22.660 31.955 0,7 Setor Leste 10.710 12.576 0,9 Total 140.022 85.433 1,6

Gráfico 1 – Área de praças por setor (em porcentagem)

Quadro 9 – Distribuição das praças de São João da Boa Vista (por setor) Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Em relação a área das praças da São João (quadro 9), nota-se que a cidade possui um total de 140.022 m² (setor norte: 68.752m², Gráfico 2 – Área de praças por pessoa (em m²)

setor centro: 37.900m², setor sul: 22.660m² e setor leste: 10.710m²), e através do gráfico 1, pode-se perceber a relação (em porcentagem) da distribuição das praças nos setores, mostrando que o setor norte possui a maior área de praças, enquanto o setor leste possui a menor. Porém, ao analisar a área de praça por habitante de cada setor (gráfico 2), chega-se na conclusão de que o setor sul é o mais precário com apenas 0,7m² de praça por habitante. Enquanto que o setor leste possui 0,9m², setor centro 1,8m² e setor norte 3,5m².

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

76


4.1.3. Praças no Setor Sul: Figura 93 – Praças no setor sul de São João da Boa Vista

O estudo quantitativo sobre as praças de São João da Boa Vista confirmou a precariedade deste equipamento na região sul, uma vez que o local possui a menor metragem quadrada de praças por pessoa da cidade. Através do mapa ao lado (figura 93), pode-se perceber também que as 10 praças existentes na região se encontram agrupadas em um único núcleo, enquanto que as regiões com assentamento mais recente são extremamente carentes destes equipamentos. As praças são de grande importância nas periferias, pois muitas vezes elas são a única opção de lazer, descanso e convívio destas regiões. Com isto, também será analisada a condição destes espaços públicos no setor sul de São João da Boa Vista para criar diretrizes a serem seguidas na elaboração da praça pública proposta neste trabalho, embasando-se nos possíveis erros ou acertos dos projetos estudados.

Fonte: Cadastro Municipal, 2014. FGMF, 2014. Adaptado pela autora, 2019

77


Figura 94 – Praça do Jardim São Paulo

P38

Praça do Jardim São Paulo:

Localizada na rua Delvo de Oliveira Westim e com apenas 330m², esta praça tem como ponto forte a sua vegetação em abundância com árvores de médio porte, canteiros gramados e arbustos. Em relação ao mobiliário, a mesma conta com poucos bancos e mesas feitos com o mesmo material da pavimentação: blocos de pedra, podendo considerar este o ponto fraco da praça. Outra característica a ser destacada, é que a mesma possui um entorno diversificado com comércio, serviços, residências, escolas, etc. E no dia da visita in loco era a praça com a maior quantidade de usuários. Fonte: Acervo Pessoal, 2019 Figura 95 – Praça Nicolau T. Nascimento

P39

Praça Nicolau T. Nascimento:

Esta praça localiza-se entre as ruas Nemencio Gonçalves, Tancredo de Almeida neves e Isac Pipano, também no bairro Jardim São Paulo e possui 932m². Ela passou por reforma a poucos anos, porém notase que os equipamentos da mesma não se encontram em bom estado de conservação, com bancos, playground e lâmpadas quebradas. Outro ponto negativo é que a vegetação desta praça possui poucas árvores que geram sombra, deixando os bancos expostos ao sol, fator que pode ter dificultado a apropriação da Praça Nicolau T. Nascimento pela população. Fonte: Acervo Pessoal, 2019

78


Figura 96 – Praça Benedito Diniz

P40

Praça Benedito Diniz:

Com 1.238m², a Praça Benedito Diniz localiza-se entre as ruas Tancredo de Almeida Neves, Teotônio Vilela e Olga Cardoso Michelazo. Esta praça possui playground e mesas para jogos, o que se pode destacar como ponto positivo. Assim como a praça anterior, este espaço público também sofreu reforma recente, porém seus equipamentos ainda se encontram em bom estado de conservação. Acredita-se que isto pode ter ocorrido pela presença de árvores de médio e grande porte que geram sombreamento e transformam esta praça em um local confortável para seus usuários. Fonte: Acervo Pessoal, 2019 Figura 97 – Praça Benedito Galli

P41

Praça Benedito Galli:

Esta praça de 3.713m² localiza-se no bairro Jardim Nova República 3, entre as ruas Hélio Simon e Antônio A. Neder. Seu programa é composto por mesas de jogos, equipamentos de ginástica e um auditório ao ar livre que recebe pequenos eventos culturais. A sua linearidade e localização transformaram esta praça em um local de circulação, por conta disto, os equipamentos de lazer da mesma não são utilizados com tanta frequência e não recebem manutenção. A imagem ao lado demonstra o local onde já abrigou um playground e que hoje está vazio. Fonte: Acervo Pessoal, 2019

79


Figura 98 – Praça do Jardim Nova República 2

P42

Praça do Jardim Nova República 2:

Com 2.850m² e localizada entre as ruas Benedito Vaz Rodrigues e José Donizete Colbano, esta praça apresenta vegetação concentrada em apenas um local, deixando muitas áreas expostas totalmente ao sol. Outro ponto negativo é a sua falta de caminhos pavimentados, além da falta de equipamentos urbanos. O espaço da praça mais utilizado pela população é um campo de futebol improvisado, exposto na foto ao lado. Um projeto paisagístico adequado, aumentaria ainda mais a utilização da praça pelos seus usuários.

Fonte: Acervo Pessoal, 2019 Figura 99 – Praça Ana Paina Zanetti

P43

Praça Ana Paina Zanetti:

Também localizada no bairro Jardim Nova República 2, entre as ruas Paulo Osvaldo Costa, Aparecida Ventura Rocha e João Sibim, esta praça de 863m² apresenta muitos problemas. Nota-se que a mesma não possui caminhos definidos, a pavimentação existente e os gramados se encontram em mau estado de conservação, além de possuir apenas três bancos e duas árvores de grande porte. Com estas deficiências a Praça Ana Paina Zanetti representa bem o descaso com os espaços públicos nos bairros periféricos das cidades.  Fonte: Acervo Pessoal, 2019

80


Figura 100 – Praça Nelson Melleti

P44

Praça Nelson Melleti:

Esta praça de 487m² localiza-se na rua Alfredo Guedes, no bairro Jardim Crepúsculo. Através da imagem ao lado, nota-se a presença de entulhos, pavimentação, mobiliário e gramados em mau estado de conservação, o que demonstra que a praça em questão não recebe manutenção. Apesar destas deficiências, o espaço ainda é utilizado pela população. Acredita-se que isto ocorre devido a sua localização elevada ao nível da rua, o que proporciona uma visão panorâmica do entorno. O grande potencial da praça torna o seu abandono pelo poder público um problema ainda mais grave. Fonte: Acervo Pessoal, 2019 Figura 101 – Praça Prof.º Antônio M. Carvalho

P45

Praça Prof.º Antônio M. Carvalho:

Com 2.207m², a Praça Prof.º Antonio M. Carvalho localiza-se entre as ruas Sebastião Camargo, Benedito B. de Oliveira e Henrique Martarello. Esta praça possui como ponte forte a sua quadra poliesportiva, mesmo não se encontrando em bom estado, a mesma ainda é bastante utilizada e é uma das únicas quadras abertas na região. Sua arborização também pode ser considerada um ponto positivo, porém suas demais infraestruturas deixam muito a desejar, uma vez que a praça em questão possui apenas um banco, grama alta e pavimentação deficiente. Fonte: Acervo Pessoal, 2019

81


Figura 102 – Praça do Jardim Vale do Sol

P46

Praça do Jardim Vale do Sol:

Localizada entre as ruas Onófre de Carvalho e Benedito Melo, esta praça é a maior da região com 6.430m². Seu programa de necessidades é o mais diversificado, contando com playground, equipamentos de ginástica, mesa de jogos e quadra poliesportiva. A mesma também possui pavimentação diferenciada e caminhos bem marcados. Esta praça se encontra em um local isolado entre grandes vazios urbanos. Esta falta de visibilidade a levou a ser utilizada apenas pela população do entorno, não atendendo a carência da região. Fonte: Acervo Pessoal, 2019 Figura 103 – Praça Isaura Vasconcellos

P47

Praça Isaura Vasconcellos

Esta praça de 3.606m² localiza-se na rua Henrique Cabral de Vasconcelos, a principal via da região sul, responsável por fazer a ligação dos bairros periféricos entre si e com a região central, além de funcionar como o maior eixo comercial do setor. O projeto linear da praça e sua localização a transformam em um importante local de circulação, a sua arborização com árvores de portes variados a ajuda a cumprir este papel. Porém a mesma se encontra com pavimentação danificada em alguns pontos, sendo este um ponto negativo de muita gravidade devido a este seu contexto. Fonte: Acervo Pessoal, 2019

82


Com este levantamento sobre as praças do setor sul de São João da Boa Vista, foi realizada uma classificação quanto a qualidade das infraestruturas básicas e equipamentos mais presentes nas praças apresentadas. Dessa maneira, categorizou-se em ótimo, bom, regular, ruim e inexistente a arborização, bancos e mesas, pavimentação, playground, quadra poliesportiva, equipamentos de ginástica e mesa de jogos. Os critérios utilizados nessa classificação foram adaptados da Metodologia para levantamento, cadastramento, diagnóstico e avaliação das praças no Brasil, desenvolvida por De Angelis, Castro e De Angelis Neto (2004). Dessa maneira, os critérios estabelecidos para pautar a avaliação feita sobre as praças foram: 

Arborização: estado geral; escolha e locação das diferentes espécies; criatividade; inserção do ‘verde’ no conjunto.

se em área reservada e protegida; conservação. 

Bancos e mesas: estado de conservação; material empregado em sua confecção; conforto; distribuição espacial - se em áreas

Quadra Poliesportiva: conservação; material empregado; localização; cercada.

sombreadas ou não; desenho; quantidade; distanciamento. 

Playground: brinquedos que o compõem; material empregado;

Pavimentação: material empregado; funcionalidade e segurança;

Equipamentos de Ginástica: tipo e quantidade; material empregado; conservação.

conservação, traçado dos caminhos, largura; manutenção.

Mesa de Jogos: quantidade; conservação; material empregado; localização.

Quadro 10 – Classificação das praças da região sul de São João da Boa Vista Quadro 10 – Classificação das infraestruturas das praças do setor sul de e São João da Boa Vista Trocar tabelaMesas de Bancos Quadra Equipamentos Arborização Pav imentação Playgrounds Vista Mesas poliesportiv a de Ginástica Jogos ● ● ● P38 ● ● ● ● ● P39 Praça Nicolau T. Nascimento P40 Praça Benedito Diniz ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● P41 Praça Benedito Galli ● ● ● ● P42 ● ● ● P43 Praça Ana Paina Zanetti ● ● ● P44 Praça Nelson Meletti ● ● ● ● P45 Praça Prfº Antônio M. Carv alho ● ● ● ● ● ● ● P46 ● ● ● ● P47 Praça I saura Vasconcellos Fonte: Elaborado pela autora, 2019

83

Legenda ● ótimo ● bom ● regular ● ruim - inexistente


4.1.4. Considerações finais sobre as praças no Setor Sul de

Gráfico 3 – Classificação das praças da região sul de São João da Boa Vista

São João da Boa Vista:

0

O gráfico ao lado demonstra os resultados alcançados com

Arborização

a classificação da qualidade das infraestruturas das 10

Bancos e Mesas

praças da região sul de São João da Boa Vista. As principais precariedades levantadas com este estudo foram a má

Playgrounds

manutenção e não acessível e mobiliários em pouca

Quadra poliesportiva

da

arborização,

pavimentação

quantidade, mal posicionados e quebrados. Outra característica importante a ser comentada é a falta

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Pavimentação

sem

distribuição

1

Equipamentos de Ginástica Mesas de Jogos

de apropriação destas praças estudadas pela população ótimo

local, o que pode ter gerado a falta de zelo e com isso a

bom

regular

ruim

inexistente

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

existência de muitos equipamentos quebrados. Como já

mencionado anteriormente, diversos fatores podem contribuir para o fracasso de um espaço público, em relação às praças do setor sul de São João, acredita-se que o motivo desta falta de apropriação pública aconteceu pela não adequação ao contexto local, uma vez que muitas praças surgiram de áreas residuais provenientes da ocupação e receberam um projeto padrão típico de bairros pobres e periféricos, onde a falta de atratividade, má qualidade dos equipamentos, mobiliários, arborização e pavimentação desestimularam as pessoas à ocuparem estes espaços. Com isso, a praça pública proposta neste trabalho fugirá das praças padrões encontradas nas periferias ao propor um desenho original e contemporâneo, mas que acima de tudo, proporcione ao moradores locais um espaço público multifuncional que amenize as carências da população de todas as idades e respeite o contexto em que está inserida.

84


4.2. O LOCAL 4.2.1. Análise de possíveis terrenos: Figura 104 – Localização dos terrenos escolhidos

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora, 2019

85


Figura 105 – Terreno 1

Figura 106 – Terreno 2

Fonte: Acervo pessoal, 2019

Fonte: Acervo pessoal, 2019

Figura 107 – Terreno 3

Figura 108 – Terreno 4

Fonte: Acervo pessoal, 2019

Fonte: Acervo pessoal, 2019

86


Como já apresentado nas justificativas deste trabalho e embasado nas

O terreno 2 (figura 106) também é privilegiado por localizar-se na Av.

informações dos capítulos anteriores, o local escolhido para o

Profa. Isette Corrêa Fontão e possuir posição de centralidade entre os

desenvolvimento do projeto foi o setor sul de São João da Boa Vista -

bairros da região. Porém, a sua proximidade com grandes lotes

setor periférico, marcado pela monofuncionalidade do seu solo, e

particulares impossibilita a abertura de vias que seriam fundamentais

segregado socioespacialmente pela rodovia SP-342.

para garantir o acesso à praça.

A escolha dos possíveis terrenos para a implantação do projeto foi

O terceiro terreno (figura 107) está localizado próximo à um Centro de

focada na região com assentamento mais recente do setor sul, por ser a

Educação Complementar, único sistema de lazer desta área. Em um

região mais afetada pela má distribuição de infraestruturas do setor.

primeiro momento, pensou-se em incorporar o projeto proposto ao

Outro critério utilizado na escolha foi a dimensão do terreno e

equipamento já existente, porém através de pesquisa in loco notou-se

proximidade com as principais vias de acesso da região. Com base nestes

que o equipamento possui acesso controlado, o que não condiz com o

parâmetros, chegou-se em quatro terrenos com potencial de abrigar o

objetivo de propor um espaço público de uso livre, além do terreno

projeto proposto, apresentados nas imagens anteriores (figura 104).

possuir topografia íngreme e muita vegetação nativa.

O terreno 1 (figura 105) está localizado na Av. Profa. Isette Corrêa

O último dos quatro terrenos (figura 108), área foco deste estudo,

Fontão, via comercial ainda em desenvolvimento que também serve

também é próximo da Av. Profa. Isette Corrêa Fontão. A principal

como ligação entre os bairros da região. Este local é atrativo pelo seu

diferença entre este terreno e os outros três, é a sua conexão com o

fácil acesso e potencial econômico, porém a extensão significativa do

lugar onde está inserido, podendo ser facilmente acessado em qualquer

terreno, a predominância de elementos naturais como vegetação e

direção. Outro ponto forte é a diversidade do uso do solo urbano do seu

corpos d’agua e a falta de dependência com o seu entorno faz o mesmo

entorno, o que possibilita a circulação de pessoas em diferentes horários

se adequar mais ao projeto de um parque urbano do que à uma praça.

do dia. Além disso, o terreno não precisa de grandes intervenções como os terrenos anteriores.

87


4.2.2. Levantamento Fotográfico: O terreno escolhido, localizado no bairro Lucas Teixeira, possui cerca de 7.800m² e pode ser considerado um dos maiores lotes vazios daquela região. Através de visita in loco realizada no dia 11/04/2019 foram registradas imagens que ajudam a demonstrar as características do local e suas relações com o entorno. Nota-se que o terreno não possui grande inclinação e nem vegetação alta, o que incentivou os moradores a improvisarem um caminho para atravessarem o lote. Esta utilização pelos moradores também foi incentivada pelos vários pontos de interesse localizados no entorno do terreno, como equipamentos de saúde, educação, e alguns estabelecimentos comerciais, este último ainda encontrado timidamente, mas com grande potencial de desenvolvimento. Através das imagens também pode-se perceber que mesmo com a importância local do terreno, o mesmo se encontra em condições precárias, com ausência de calçada e presença de entulho. Figura 109 – Posicionamento da câmera

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora, 2019

Figura 110 – Levantamento fotográfico

Fonte: Acervo pessoal, 2019

88


Figura 111 – Isótopas – a pé

4.2.3. Distâncias a partir do local 

Isótopas - a pé:

Isótopas são raios simples utilizadas para analisar o alcance de diferentes modais de transporte em determinados intervalos de tempo. Para viagens a pé, adotou-se uma velocidade média de 3,75 km/h e intervalos de 5, 10, 15, 30 e 60 minutos. Através do mapa ao lado, nota-se que o local escolhido abrange grande parte dos novos loteamentos da região, com uma viagem de aproximadamente 2km. Mostrando ser um local que se bem equipado, possui chances de se tornar uma centralidade nos

novos

bairros,

infraestrutura é maior.

Fonte: Cadastro Municipal, 2014. FGMF, 2014. Adaptado pela autora, 2019

89

onde

a

falta

de


Figura 112 – Isótopas - bicicleta

Isótopas - bicicleta

O mapa ao lado demonstra o alcance de uma viagem de bicicleta com velocidade média de 15 km/h, e intervalos de 5, 10, 15 e 20 minutos. Nota-se que com viagem de bicicleta, o raio de alcance do projeto alcança toda região sul em apenas 15 minutos, mostrando que o local escolhido para o projeto pode ser acessado facilmente pela população da região através deste modal de transporte.

Fonte: Cadastro Municipal, 2014. FGMF, 2014. Adaptado pela autora, 2019

90


Figura 113 – Isótopas - automóvel

Isótopas - automóvel

Para viagens de automóvel adotou-se uma velocidade média de 25 km/h, com intervalos de 5, 10 e 15 minutos. O raio de alcance do automóvel é o mais abrangente, de acordo com o mapa, em 5 minutos de viagem, este modal alcança toda a área dos últimos loteamentos já implantados, em 10 minutos alcança toda a região sul, e em 15 minutos abrande praticamente a cidade inteira, mesmo que o foco do projeto seja amenizar as carências da região sul.

Fonte: Cadastro Municipal, 2014. FGMF, 2014. Adaptado pela autora, 2019

91


Figura 114 – Fluxos e mobilidade do entorno do projeto

4.2.4. Hierarquia viária O mapa ao lado representa a hierarquia da rede viária no entorno do terreno escolhido para o projeto, onde foi adotado um raio de 400m para análise. Nota-se que a maioria das vias tem funções locais, porém o terreno possui fácil ligação com a Avenida Prof.ª Isette Corrêa Fontão, importante via com função estrutural que liga os bairros da região, é o principal eixo comercial do entorno e também funciona como pista de caminhada. O entorno do terreno escolhido também contempla várias paradas de ônibus, facilitando a acessibilidade ao local. Estas características demonstram que a localização do projeto permite que o mesmo se torne uma centralidade na sua vizinhança, mas que também seja acessado sem grandes impedimentos pela população com moradia mais afastada do local.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

92


Figura 115 – Uso e ocupação do solo do entorno do projeto

4.2.5. Uso e ocupação do solo: Em relação à ocupação do local, percebe-se a predominância do uso residencial, com uma centralidade linear de comércios e construções de uso misto - marcada pela grande quantidade de estabelecimentos destinados à construção civil, por ser uma região em expansão. A área também possui um eixo institucional adjacente ao terreno, o qual abriga escolas públicas - que atendem crianças e jovens em todos as fases escolares - e uma Unidade Básica de Saúde. Este eixo começa na Av. Prof.ª Isette Corrêa Fontão e termina em uma área destinada ao lazer, que comporta apenas um Centro de Educação Complementar – equipamento de acesso controlado que atende principalmente os alunos das escolas adjacentes. Estas informações também confirmam que mesmo com a monofuncionalidade da região, a localização do terreno escolhido tem grande potencial de se tornar uma centralidade local.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

93


Figura 116 – Cheios e vazios no entorno do projeto

4.2.6. Cheios e vazios: Através do mapa de cheios e vazios do entorno, nota-se que o local possui quadras longas majoritariamente ocupado por lotes pequenos destinados às edificações unifamiliares. Os bairros à direita do terreno escolhido já são mais consolidados, com pouca presença de lotes vazios e mais adensados, porém nos bairros restantes há uma grande quantidade de lotes ainda a ocupar, mostrando a possibilidade de desenvolvimento da área. Acredita-se que a implementação de um equipamento que estimule a consolidação da área como um centro

multifuncional

poderá

estimular

também este possível desenvolvimento do local.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

94


Figura 117 – Gabarito de altura no entorno do projeto

4.2.7. Gabarito de altura: No que diz respeito à altura das edificações do recorte geográfico escolhido para análise, pode-se dizer que a área é caracterizada por possuir gabarito baixo, com apenas 1 ou 2 pavimentos. Isto acontece, pois, a região é ocupada predominantemente por edificações unifamiliares. Esta característica demonstra que a área não possui barreiras contra o recebimento

de

insolação,

ventilação,

sombreamento, e nem barreiras visuais. Demonstra também que as intervenções na paisagem ponderação

devem

ser

para

não

realizadas

descaracterizar

horizontalidade marcante do município.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

95

com a


Figura 118 – Topografia do entorno do projeto

4.2.8. Topografia: Ao analisar as curvas de nível do local, sendo as vermelhas as curvas mestras e tendo a distância de cinco metros entre elas, pode-se perceber que a área se trata de um morro, sendo a cota 813 a mais alta. A partir deste ponto, há um declive na direção da Av. Prof.ª Isette Corrêa Fontão, e outro na direção contrária. Em relação ao terreno escolhido para o projeto, nota-se que o mesmo possui um desnível de aproximadamente

oito

metros,

o

que

corresponde a 8%. Demonstrando que mesmo não sento muito íngreme, o mesmo ainda necessita de intervenções consideráveis em sua topografia.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

96


4.3. Considerações gerais: A imagem abaixo expressa a relação do local escolhido para o projeto através de uma visão panorâmica da região. Pode-se perceber a posição de centralidade do terreno, e sua localização entre equipamentos institucionais e comerciais. A imagem também confirma que a área possui uma grande quantidade de lotes vazios, com potencial de ocupação, e a falta de locais destinados ao lazer e encontro da comunidade. A partir disto, acredita ser necessária a implantação de um projeto que equipe ainda mais a região com comércio, serviços e espaços públicos, incentivando o seu desenvolvimento, e incentivando também a sensação de acolhimento e pertencimento à cidade.

Figura 119 – Vista panorâmica do entorno do projeto Fonte: Prefeitura Municipal de São João da Boa Vista. Adaptado pela autora, 2019

97


98

5. PROJETO


5.1. PROPROSTA A proposta iniciou-se com a criação de uma nuvem de palavras-chaves (figura 120) que reúne os principais conceitos que o projeto pretende trabalhar. A partir desta organização de ideias, chegou-se no objetivo principal de proporcionar aos moradores um espaço público e democrático, que sirva como palco para mais diversas atividades humanas individuais e coletivas, como o caminhar, permanecer, contemplar, festejar, exercitar, brincar, descansar, interagir e ocupar. O projeto proposto também visa transformar este espaço público em um centro de bairro dotado com os principais serviços necessários ao cotidiano, para que a população local não se veja obrigada a deslocar-se de sua comunidade para ter acesso a uma cidade urbanizada e de qualidade, e assim, incentivar a diversidade de usos e vitalidade na região. Para alcançar o objetivo de fornecer um centro de bairro para a população local, o projeto proposto contará com estabelecimentos de comércio e serviços voltados a atender as necessidades costumeiras da população, como por exemplo farmácia, padaria, loja de roupas, papelaria, etc., além de estabelecimentos que prestam serviços essenciais, como lotérica, despachante e correio.

Figura 120 - Palavras-chave Fonte: Elaborado pela autora, 2019

99


Em relação ao espaço público que englobará os estabelecimentos de

Outra característica local percebida, foi a presença de alguns comércios

comércio e serviços, pensou-se em fornecer uma grande praça com os

voltados à alimentação, a partir disto, também se propõe a criação de

mais diversos equipamentos de lazer para garantir a ocupação de

praças de alimentação para fortalecer esta atividade no local.

pessoas de todas as faixas etárias durante o dia e à noite, e assim gerar

A utilização destes espaços propostos também será incentivada

uma sensação de segurança e incentivar a apropriação e a vida em

utilizando estratégias que ofereçam conforto ambiental aos usuários,

comunidade.

acesso desimpedido ao público, espaços integrados e com paisagens

Também é proposta a criação de espaços para possíveis manifestações

atrativas, além de escala acolhedora, para que as pessoas se sintam

populares, espaços destinados à contemplação com mobiliários urbanos

atraídas a visitar e frequentar o local.

confortáveis e posicionados de maneira a permitir o descanso ou

A partir destas diretrizes, foi desenvolvido o seguinte programa de

interação entre as pessoas.

necessidades e um pré-dimensionamento baseado nas particularidades

Através da pesquisa e reconhecimento do terreno, notou-se a existência

e importância de cada ambiente para alcançar os objetivos propostos

de um caminho improvisado pela população, mostrando ser necessário

pelo projeto da praça.

também pensar na praça como um equipamento de circulação, garantindo pavimentação acessível e calçadas generosas. Quadro 11 – Pré-dimensionamento inicial

SETOR

PROG. NECESSIDADES

ÁREA

Circulação (2.300m²)

Calçada

900 m²

Caminho interno

1.400 m²

Contemplação / Permanência (2.000m²)

Áreas com mobiliário para descanso, contemplação e sociabilização

2.000 m²

Playground

200 m²

Academia ao ar livre

200 m²

Mesas de jogos

200 m²

Lazer (1.450m²)

100


Quadra recreativa

450 m²

Pista de skate

400 m²

Padaria

40 m²

Quitanda

40 m²

Pastelaria

40 m²

Lanchonete

40 m²

Restaurante

40 m²

Sorveteria

40 m²

Loja de roupas

40 m²

Loja de calçados

40 m²

Eletrônicos

40 m²

Utilidades

40 m²

Drogaria

40 m²

Papelaria

40 m²

Lan House

40 m²

Lotérica

40 m²

Caixas eletrônicos

40 m²

Correio

40 m²

Despachante

40 m²

Salão de Beleza

40 m²

Apoio

100 m²

Área livre para feiras

500 m²

Anfiteatro

300 m²

Alimentação (280m²)

Bancos e mesas

280 m²

Apoio (150m²)

Estacionamento

150 m²

Comércio e Serviços (820m²)

Eventos (800m²)

ÁREA TOTAL Fonte: Elaborado pela autora, 2019

101

7.800 m²


5.2. SETORIZAÇÃO INICIAL

Após a definição do programa de necessidades e pré-dimensionamento dos principais ambientes, realizou-se alguns estudos de setorização Figura 121 – Setorização 1

feitos a partir das condicionantes do terreno escolhido para o projeto. No primeiro estudo (figura 121), pensou-se em implantar o edifício comercial/serviços no centro da praça, com o caminho já existente no terreno sendo o principal acesso a este edifício. Também se pensou em implantar o playground próximo da escola, junto com a academia ao ar livre e mesa de jogos, protegendo estes ambientes contra a insolação solar recebida na fachada norte do terreno. Outra ideia foi ligar a quadra poliesportiva e pista de skate, por serem os equipamentos que mais geram ruídos. Considera-se como ponto forte desta setorização a valorização da intervenção feita no terreno pela população e relação dos equipamentos de lazer com o entorno, porém o edifício localizado no

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

centro da praça perde a sua visibilidade da rua, característica importante para garantir o uso dos estabelecimentos comerciais e facilidade de acesso aos usuários.

102


Figura 122 – Setorização 2

Na segunda setorização proposta (figura 122), procurou-se manter a localização do playground, academia ao ar livre e mesa de jogos próximos a escola, além da ligação da quadra poliesportiva e pista de skate. Porém os edifícios comerciais foram implantados com as fachadas voltadas para rua, aumentando a visibilidade do projeto. Além disso, os Fonte: Elaborado pela autora, 2019 Figura 123 – Setorização 3

edifícios foram localizados na parte mais alta do terreno, permitindo uma visão privilegiada do restante da praça. A partir desta setorização, optou-se em propor um modelo (figura 123) no qual o anfiteatro também recebesse um papel de destaque pela sua importância para a população, pois este equipamento pode abrigar as mais diversas atividades da comunidade.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

103


Figura 124 – Localização do terreno adicionado ao projeto

5.3. ALTERAÇÕES

Após os comentários sobre a setorização proposta, adotou-se a sugestão de incorporar ao projeto o terreno localizado em frente a área escolhida inicialmente. O terreno em questão, faz divisa com a Escola estadual Isaura Teixeira Vasconcellos, que abriga cerca de 600 alunos nos anos finais do ensino fundamental, ensino médio e educação especial. Esta modificação no projeto permite integrar ainda mais a população

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora, 2019 Figura 125 – Vista do terreno adicionado ao projeto

frequentadora da escola à praça proposta e trará um uso para este espaço ocioso, além de trazer também uma organização melhor dos setores e possibilitar a criação de espaços mais generosos. Em relação às características do terreno, o mesmo possui cerca de 5.410 m² e um desnível de 10%, mostrando ser necessário adotar estratégias consideráveis para adequação da topografia.

Fonte: Acervo pessoal, 2019

104


5.4. SETORIZAÇÃO DEFINITIVA

Figura 126 – Diagrama da setorização definitiva

Após a mudança na área de projeto, foi realizada uma nova setorização, mas seguindo algumas estratégias levantadas anteriormente. O terreno adjacente a escola ficou responsável em abrigar os equipamentos de lazer, como o playground, academia ao ar livre, mesa de jogos, pista de skate e quadra recreativa. Como estes dois últimos geram mais ruídos, foram mantidos no fundo do terreno, longe das salas de aula e perto da quadra poliesportiva já existente na escola. O terreno da escola também possuía uma área ociosa e com grande potencial, dessa maneira, pensando em gerar ainda mais espaços de lazer para a população, é proposta a utilização deste espaço para a criação de uma quadra de areia. O terreno já escolhido inicialmente abriga os equipamentos voltados ao comércio, serviço e eventos. Assim como na outra setorização proposta, os edifícios foram implantados com as fachadas voltadas para Fonte: Elaborado pela autora, 2019 rua, garantindo a sua visibilidade e fácil acesso, porém, nesta nova setorização, eles são implantados na cota mais baixa do terreno, para respeitar a escala do entorno e poder utilizar a cobertura como extensão da praça, gerando uma integração ainda maior. O anfiteatro está localizado em uma cota intermediária para usar o desnível do terreno como arquibancada, estratégia também utilizada na quadra recreativa. A intervenção feita no terreno pela população também é valorizada, recebendo uma pavimentação com cor destacada para se concretizar como local de travessia dos moradores, mas também poderá servir para abrigar possíveis feiras e eventos locais. Nessa setorização, a praça de alimentação proposta se localiza integrada ao edifício de comércio e serviços, e ambos os terrenos receberam espaços com mesas e bancos para proporcionar a socialização dos frequentadores. 105


5.5. CONCEITO E PARTIDO ARQUITETÔNICO A forma do projeto foi pensada com o objetivo de criar um desenho marcante e único para o local, fugindo da tipologia de praça padrão utilizado nas periferias, mas também que fosse funcional e adequado ao terreno íngreme escolhido. O partido arquitetônico adotado pode ser explicado utilizando os seguintes conceitos: ADAPTAÇÃO: Criação de platôs em concordância com a morfologia do terreno e inserção do edifício em uma cota que respeita o campo de visão humana. CONEXÃO: Platôs conectados por elementos de circulação e edifício como extensão da praça. MOVIMENTO: Percursos criados com uma sequência de platôs e formas pontiagudas com linhas não ortogonais que criam visuais dinâmicos.

Figura 127 – Conceito e Partido Arquitetônico Fonte: Elaborado pela autora, 2019

106


5.6. IMPLANTAÇÃO Definida a setorização, este foi o resultado final obtido após todas as intervenções topográficas e paisagísticas no terreno para o adequar aos objetivos almejados com o projeto.

. Figura 128 – Implantação final Fonte: Elaborado pela autora, 2019

107


5.7. IMAGENS DO PROJETO

Figura 129 – Imagem aérea Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Figura 130 – Praça do lazer Fonte: Elaborado pela autora, 2019

108

Figura 131 – Praça comércio, serviços e eventos Fonte: Elaborado pela autora, 2019


Figura 132 – Quadra recreativa Fonte: Elaborado pela autora, 2019

109

Figura 133 – Quadra de areia Fonte: Elaborado pela autora, 2019


Figura 134 – Pista de skate Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Figura 135 – Playground Fonte: Elaborado pela autora, 2019

110


Figura 136 – Academia ao ar livre Fonte: Elaborado pela autora, 2019

111

Figura 137 – Mesas de jogos Fonte: Elaborado pela autora, 2019


Figura 138 – Vista aérea do edifício Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Figura 139 – Perspectiva do edifício 1 Fonte: Elaborado pela autora, 2019

112

Figura 140 – Perspectiva do edifício 2 Fonte: Elaborado pela autora, 2019


Figura 141 – Praça de alimentação Fonte: Elaborado pela autora, 2019

113

Figura 142 – Mobiliário para descanso e sociabilização Fonte: Elaborado pela autora, 2019


Figura 143 – Passarela destacada Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Figura 144 – Auditório ao ar livre Fonte: Elaborado pela autora, 2019

114


5.8. TOPOGRAFIA E CIRCULAÇÃO Como abordado anteriormente, a estratégia utilizada para resolver o desnível do terreno foi a criação de platôs conectados por elementos de circulação que também definem o programa de necessidades. A cota mais baixa do terreno é a 779.5 que abriga as quadras recreativas e conecta-se com o platô superior através de rampas e escadas que também funcionam como arquibancada. Os platôs 782.5, 783.5, 784.5 e 785.5 funcionam respectivamente como área para skate, playground, academia ao ar livre, e mesas de jogos, este último conectado ao platô superior (787.5) que funciona como área de contemplação, com mobiliário voltado para ambas as praças. Outra maneira de aproveitar o desnível do local foi instalar o térreo do prédio na cota 789 e utilizar a cobertura do mesmo como extensão do platô 793, os conectando por escadaria externa e pelos platôs 790, 791 e 792 que também funcionam como locais de socialização e contemplação. Já o platô 793, atua como uma esplanada, terreno amplo e descoberto que pode servir como local de circulação

e

abrigar

pequenas

feiras

e

eventos. O auditório foi instalado na cota 794 e se conecta aos platôs 795 e 796 por meio de rampas e escadas que funcionam como arquibancadas. E por fim, como a cota 796 é a mais alta de todo o projeto recebeu um banco com vista panorâmica do entorno. Figura 145 – Topografia e Circulação Fonte: Elaborado pela autora, 2019

115


Figura 146 – Cortes e elevações Fonte: Elaborado pela autora, 2019

116


5.9. MATERIALIDADE Em relação aos materiais utilizados para compor o desenho da praça, a placa drenante de concreto poroso é a grande destaque, sendo utilizada nas cores natural, grafite e terracota. Este tipo de piso é considerado o mais ecológico do mercado atualmente e permite um escoamento da água da chuva mais eficiente, diminuindo enxurradas, e ajudando a combater enchentes e inundações. Outros benefícios são a sua composição feita de materiais não poluentes, baixo impacto ambiental, maior segurança de rolamento por ser antiderrapante e melhor conforto aos usuários por ser atérmico. (RHINO PISOS, 2019). Outros materiais utilizados na pavimentação foram o piso de concreto polido na quadra recreativa, pista de skate e cobertura transitável do edifício de comercio e serviços; piso ecológico emborrachado no playground lúdico e areia média tratada na quadra e caixa de areia. Em relação aos canteiros, a vegetação escolhida para eles foi a grama São Carlos (Axonopus Compressus) que se adapta muito bem tanto a ambientes ensolarados como a meia-sombra e possui uma aparência única, com folhas largas e coloração verde escura. Figura 147 – Placa drenante

Fonte: Rhino Pisos, 2019

Figura 148 – Piso de concreto polido

Figura 150 – Piso ecológico emborrachado

Fonte: Pace Pisos e Pedras, 2019

Fonte: CVT pisos, 2019

Figura 149 – Areia média tratada

Figura 151 – Grama São Carlos

Fonte: CR Pavimentos, 2019

Fonte: Ito Grass, 2016

117


5.10. ARBORIZAÇÃO A escolha de espécies para compor o paisagismo da praça foi pensada de maneira a levar conforto térmico aos usuários através do sombreamento, e conforto visual com árvores que respeitam a escala de visão humana. Dessa maneira, foi utilizada árvores de grande porte apenas na cota mais baixa do projeto, e no restante da praça árvores médio ou pequeno porte. O diagrama abaixo demonstra como ficou à disposição da arborização nos terrenos, e a seguir informações técnicas sobre as espécies escolhidas, optando em priorizar espécies usuais na região de São João da Boa Vista.

Figura 152 – Arborização Fonte: Elaborado pela autora, 2019

118


Figura 156 – Quaresmeira

Figura 153 – Sibipiruna Nome Cientifico: Caesalpinia peltophoroides Nomes Populares: Sibipiruna, Coração-de-negro, Sibipira Origem: América do Sul Altura: Até 25 metros Diâmetro: Até 15 metros Luminosidade: Sol Pleno Ciclo de Vida: Perene Época de Floração: Setembro a novembro

Nome Cientifico: Tibouchina granulosa Nomes Populares: Quaresmeira, Flor-de-quaresma Origem: América do Sul Altura: 12 metros Diâmetro: 7 metros Luminosidade: Sol Pleno Ciclo de Vida: Perene Época de Floração: Primavera, Verão, Outono, Inverno

Fonte: Odair Plantas, 2019 Figura 154 – Aroeira Salsa

Fonte: Construindo Decor, 2019 Figura 157 – Resedá Nome Cientifico: Lagerstroemia indica Nomes Populares: Resedá, Extremosa, Flor-de-merenda Origem: Ásia Altura: 5 metros Diâmetro: 3 metros Luminosidade: Sol Pleno Ciclo de Vida: Perene Época de Floração: Primavera, Verão

Nome Cientifico: Schinus molle Nome Popular: Aroeira salsa Origem: América do Sul Altura: 10 metros Diâmetro: 15 metros Luminosidade: Sol Pleno Ciclo de Vida: Perene Época de Floração: Agosto a novembro

Fonte: Odair Plantas, 2019 Figura 158 – Pitanga

Fonte: Flores e Floragens, 2019 Figura 155 – Jacarandá Mimoso Nome Cientifico: Eugenia uniflora Nomes Populares: Pitanga, Pitangueira Origem: América do Sul Altura: 10 metros Diâmetro: 4 metros Luminosidade: Sol Pleno Ciclo de Vida: Perene Época de Floração: Primavera, Inverno

Nome Cientifico: Jacaranda mimosifolia Nomes Populares: Jacarandámimoso, Jacarandá Origem: América do Sul Altura: 15 metros Diâmetro: 10 metros Luminosidade: Sol Pleno Ciclo de Vida: Perene Época de Floração: Verão

Fonte: Árvores Cariocas, 2014

Fonte: Só Flor, 2019

119


5.11. MOBILIÁRIO URBANO Os bancos e mesas das praças foram pensados para serem utilizados da maneira que o usuário decidir, por isso possuem variações de formatos, desenhos e tipologias. Podendo variar em banco de concreto com paraciclo, banco de concreto sem encosto, banco de concreto com encosto em madeira, etc. O espaço para skate recebeu equipamentos de concreto moldado in loco, o playground lúdico recebeu brinquedos de plástico e borracha, a academia e playground para criança maiores equipamentos de aço inoxidável e praça de alimentação mesas móveis com guarda-sol.

Figura 159 – Mobiliário Urbano Fonte: Elaborado pela autora, 2019

120


5.12. ILUMINAÇÃO Um ponto muito debatido ao longo do projeto foi o objetivo de proporcionar para a população uma subcentralidade que diversificasse o uso do solo da região e com isso trazer maior vitalidade nos espaços públicos. Para garantir o uso do projeto em todos os horários do dia, o projeto de iluminação artificial foi muito importante. Ao redor das praças, utilizou-se postes de iluminação com uma pétala de 7 metros de altura voltada para a rua e uma pétala de 4 metros direcionada para calçada, com exceção do estacionamento, onde optou-se em colocar postes com quatro pétalas para maior iluminação. Dentro das praças, foi utilizado postes com altura de 4 metros, balizador no espelho de todas as escadas, fitas de LED nos canteiros e rampas. Além de refletores com 7 metros nas quadras recreativas e refletores de chão direcionados para o edifício com o objetivo de melhor efeito visual.

Figura 160 – Planta de iluminação Fonte: Elaborado pela autora, 2019

121


5.13. PRÉDIO COMERCIAL  PLANTA DE PAVIMENTO E LOCALIZAÇÃO NO TERRENO

Figura 161 – Planta do edifício comércio / serviços e localização no terreno Fonte: Elaborado pela autora, 2019

122


 CORTES

Figura 162 – Corte A-A Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Figura 163 – Corte B-B Fonte: Elaborado pela autora, 2019

123


 CONCEPÇÃO FORMAL E ESTRUTURAL O edifício é formado por dois blocos conectados por uma cobertura

as vigas possuem 80 cm de altura e a laje 20 cm. Como uma das

transitável que também os conectam com a praça. O bloco principal

estratégias utilizadas no projeto foi usar a cobertura do edifício como

possui 12 estabelecimentos de 26.15 m² a 39.5m² voltados ao comércio

extensão

e alimentação, como loja de roupas, calçados, drogaria, lanchonete,

impermeabilizante para não comprometer a estrutura e trazer conforto

restaurante, etc. E o segundo bloco, localizado no subsolo da praça,

aos usuários.

recebeu 6 estabelecimentos de 35m² voltados ao serviço, como lotérica,

da

praça,

a

laje

recebeu

tratamento

térmico

e

Outro método utilizado para garantir este conforto foi amenizar a

correios, etc. além de banheiro masculino e feminino.

incidência solar dentro dos estabelecimentos com o uso de beirais, vidro

A forma do edifício foi pensada de maneira a criar movimento nas

duplo nas fachadas envidraçadas e proteção horizontal e vertical nas

fachadas e proporcionar um núcleo entre os dois blocos, onde foi

esquadrias. Figura 164 – Materialidade do edifício

instalada uma praça de alimentação aberta de 300 m². O dinamismo do projeto também é alcançado pela materialidade adotada: concreto aparente, fachadas envidraçadas, revestimento externo em arenito vermelho e aço nos caixilhos das aberturas, guarda-corpo e cobogó do banheiro. Os materiais utilizados nos ambientes internos foram o piso de cimento queimado, forro de gesso acartonado e as paredes internas de alvenaria receberam acabamento em concreto aparente. Em relação a concepção estrutural do edifício, adotou-se o concreto armado em toda a estrutura. Os pilares possuem seção de 20 por 40 cm,

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

124


5.14. PAINEL DE REFERÊNCIAS Além dos estudos de caso, as imagens abaixo demonstram projetos que foram utilizados como referência na concepção formal deste Trabalho Final de Graduação. Os projetos inspiraram a maneira como foi trabalhado o desnível da praça, o uso de diferentes materiais e mobiliário urbano. Figura 165 – Casa G

Figura 166 – Fontana Square

Figura 167 – Campus Umea University

Fonte: Archdaily, 2016

Fonte: Labics, 2019

Fonte: Landezine, 2013

Figura 168 – Bellitalia Street Furniture

Figura 169 – Entrada da cidade em Chatenay Malabry

Figura 170 – Playground in Göttibach

Fonte: Landezine, 2018

Fonte: Archdaily, 2017

Fonte: Landschaftsarchitekten, 2012

125


6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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O Trabalho Final de Graduação aqui apresentado abordou um dos

foram criados platôs que seguem a morfologia do terreno e que são

problemas mais presentes nas cidades brasileiras atualmente: a

conectados por elementos de circulação inclusivos e generosos.

separação espacial das diferentes classes sociais. Está situação pode ser

O projeto proposto também procurou seguir diretrizes para o tornar

observada no município de São João da Boa Vista, uma vez que a

atrativo e garantir o seu uso e manutenção. Assim, cada platô inserido

população de maior renda média se encontra nas regiões centro e leste,

no projeto possui uma atividade diferente, variando entre locais para

enquanto que a região sul vem sofrendo um aumento de bairros de

prática de esportes, brincadeiras, contemplação, descanso, atividades

classe média/baixa em suas periferias. Isto faz com que os moradores

artísticas e quaisquer outras manifestações que os moradores desejem

precisem se deslocar de suas residências para ter acesso a uma cidade

praticar. Além disso, um dos platôs abriga um edifício com

de qualidade, acarretando no esvaziamento dos bairros e com isso a

estabelecimentos necessários ao cotidiano da população local,

perda de vitalidade nos espaços públicos.

incentivando ainda mais a circulação de pessoas.

A partir da problemática, notou-se a necessidade da criação de um

A criação de uma linguagem projetual baseada em um conceito de

equipamento que fomentasse a diversidade no uso do solo na região,

identidade do local também é um dos fatores que diferenciam o projeto

incentivando a população a se apropriarem deste espaço, promovendo

das demais praças das periferias. Foi adotado um desenho formado por

encontros e trocas de experiências entre os moradores. Dessa maneira,

linhas pontiagudas e não ortogonais que trazem um movimento e

foi proposta uma grande praça pública abastecida com equipamentos de

dinamismo em todo o projeto.

lazer, sociabilização e um edifício que funciona como uma subcentralidade, equipado com os principais comércios e serviços

Também podem ser citadas outras estratégias utilizadas que fazem este

básicos.

projeto ter a possibilidade de se tornar uma referência local de espaço público bem recebido pela população, como a preocupação em propor

Diferentemente dos projetos de praças padrões existentes nas periferias

um projeto de iluminação para garantir o uso noturno, escolha e

da cidade, a concepção da praça aqui apresentada foi inteiramente

localização de espécies arbóreas que seguem uma lógica baseada no

pensada no local onde está inserida. Por se tratar de um local íngreme,

contexto climático da cidade, mobiliário diferenciado que podem ser 127


utilizados da maneira que o usuário decidir e criação de paisagens

subcentralidade com diversas funções, fazendo com que a população

interessantes para se contemplar. Com isso, conclui-se que o problema

não precise se deslocar de seu bairro para ter acesso à equipamentos

apresentado na fase de pesquisa pode ser amenizado pela proposta de

básicos urbanos e assim se sinta incluída na cidade.

projeto desenvolvida, uma vez que traz para a periferia uma

Figura 171 – Imagem final Fonte: Elaborado pela autora, 2019

128


129

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