Revista Ixpía

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Ishpecialí Meyer Filho

A poética do artista

a cultura mané

O manezêsh ilustrado

1º EDIÇÃO -DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

A arte do Dezarranjo Ilhéu

BOI DE MAMÃO, UMA BRINCADEIRA DE RUA


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ô mô queridu, Taix bonzinho taix? Tu só pegasse essa revista por que é de graça seu istôpo?! Mas fica ligado seu triste, tem côsa boa por aqui, não é por que é de graça que tu não vaish da uma ixpíada boa nesse negocio aqui seu amarelo da goiaba. E se não tash entendendo o que é isso aqui, deixa eu me apresentar mash direitinho pra ti, seu coxa colada. Me chamoTibica, no tem? E é cô zóio cheio d’agua, barbaridade ô, côsa linda mexmu que apresento a primeira edição da revista ixpía. Ólha, quando me contaram que iam fazer uma revista pros manezinhos, e não só pra mostra prus turista, an an , eu não contei tempo, no tem? Peguei a borça e vim aqui fazer uma participação especiali, vê só que proza que, to vê só! Até porque, quando eu começo a falar desse jeito rapidinho no tem? A rapaziada daqui parece um bando de banzo, não intende nada, côsa mash maluca, e quando é turista então, esses quiridus são uma tristeza mô nego intende pior ainda. Ai achei bem importante mostra bem certinho, como é essa cultura pra vocês, tá bom nego? Tu vaish achar de tudo aqui queridu, narrativas como crônicas e contos, vê só que côsa linda! Tem entrevistas também, e receitas de lambuzar os beços. Mas uma sessão bem aperfeiçoda que preciso falar pra ti nego, é “vash lá ó”. Purque assim, todo mundo sabe que um lugar conta muito sobre a cultura de um povo, no tem? Tem muita história nossa em cada detalhinho né queridu, dai nessa edição nós trocemo dois lugares côsa mash linda, olha, só se tu vê, a igreja Nossa Senhora da Lapa e vila da Freguesia, ús dox no Ribeirão da Ilha. Então essa revista é pra vocês, môs stimados, manezinhos que sabem de tudo da cultura, praqueles que não sabem de nada, pras pessoa que viéru pra cá e se sente mané também no tem? E praqueles que simpatizaru cá minha pessoa, bem feitinha. Até porque se pensas que eu só apareço aqui, an an, tash tolo tash?! E aah, antes que eu me esqueça, tem pessoas muito especialis que preciso agradecer : A Monica Prim, a pessoa por trás da istimáda Dona Maricotinha que bateu um papo com a gente, côsa mash quirida mexmu; O Designer Alexandre Wisintainer que mandou suas fotos da arquitetura do centro, és um mostru, só fotáço ô, e tantas outras pessoas que mandaram suas fotos e deram idéias prax matériax. E claro, as pessoas por trás de toda a revista, as estudantes de design gráfico Bruna Goddini e Gabriela Soares, as coitadas passaru um perengue, côsa medonha, mas no fim trouxeram essa côsa linda que vocês tão vendu, essa edição tão querida que vocês vão acompanhar a seguir. Até a próxima seus boca mole,


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Conteúdo

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Fala Istepô

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# IXPÍA

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Curiós

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Dona Maricotinha

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Igreja Nossa Senhora da Lapa

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Freguesia do Ribeirão

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Antes e Depois- Beira Mar Norte

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Mundo do Sul

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Pirão, uma obra conjunta

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Sirva o berbigão

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Porquê manezinho

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Boi de mamão

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Festa do divino

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Ritual da Festa

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Dazaranha

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O manezêsh ilustrado

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A poética de Meyer Filho

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Detalhe Mané

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Agenda de junho

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Agenda de julho

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Agenda de agosto

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Jogo do Mané

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Vocabularí

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Chega másh

EDITORA E DIRETORA RESPONSÁVEL Gabriela Soares REDAÇÃO Bruna Goddini e Gabriela Soares REVISÃO Bruna Goddini EDITORA DE ARTE Gabriela Soares ASSISTENTE DE ARTE Gabriela Soares

FALA ISTEPÔ @lusilvasouza estou adorando a sessão queshcumé? da revista #ixpía, aqui em casa todo mundo está aprovando! E estamos aguardando ansiosamente as próximas! ô nega, não vai deixa esse fogo artu, e queima essa coizarada toda, côsa medonha, fica ligada que tem côsa boa de lambuzar os beços lá istepôra.

IXPÍA - REVISTA DA CULTURA MANEZINHA Osmar Cunha, 705, Centro Florianópolis - SC - CEP 88033-000 TEL 48 3385-3395 / FAX 48 22853386 ONLINE www.revistaixpia.com.br twitter.com/revistaixpia facebook.com/revistaixpia MATÉRIAS E SUGESTÕES DE PAUTA redação@revistaixpia.com.br CARTAS cartas@revista íxpia.com.br PARA ASSINAR assineixpía@editoracatarina.com PARA ANUNCIAR thiago@revistaixpía.com.br

@vitorbonateli esses queridos da revista #ixpía, falando de lugares maravilhosos da ilha, to gostando de ver galera, muito bom, recomendo essa turma boa! ô mô querido, que bom que taix gostando dessas côsa que nox tamu preparando com tanto carinho, no tem?! te ishtimo seu amarelo da goiaba.

@marialuizawil queria falar dessa personagem que criaram na revista #ixpía, ela é demais, adoro o jeito manézinho dela, to amando, A Tibica é um sarro.

A revista Ixpía é uma revista trimestral distribuída gratuitamente pela Fundação Catarinense de Cultura.

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olhó, que linda, fiquei até com ô zóio cheio de lagrima no tem? vou até separar uns trilho de renda que eu fiz dijaôge pra da de presente.


# IXPÍA Os leitores Ixpía foram convocados a fotografar o último verão e compartilhá-los usando a hastag #revistaixpia1. O resultado você acompanha aqui. Fique atento para a próxima edição!

Julia Braga

Zoraide Silva Vitória Soares


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Curiós Por Norma Bruno

Era fim de outono, começo de inverno. O dia amanheceu bonito, mas no final da manhã fechou de repente como resultado de uma frente fria vinda na garupa do vento sul. Eu me dirigia ao Centro, de ônibus. A chuva caiu. Chuva com vento é “fogo-na-rôpa”, não tem escapatória. Não tem sombrinha, casaco, nem cabelo que cumpram sua função. Cada vivente que entrava vinha encharcado e reclamando. O ônibus apinhado e o cobrador pedindo: – Um passinho à frente aí, fazendo favor… (na época entrava-se pela porta de trás, por isso “o passinho à frente”). De repente, ali na altura do antigo Hospital da Marinha, ele entrou. Eu o conhecia desde os meus quinze anos (lá se vão algumas décadas), quando eu estudava no Coração de Jesus. Era magro, de estatura mediana, o cabelo ralo sempre bem penteado, muito simpático e educado. Todos os dias, na saída do Colégio, depois, é claro, de pentear os cabelos, passar batom e saborear uma bala Pipper, rotina de todas as moças que tinham namorado encostado no muro à espera, eu passava na banca de revistas onde ele trabalhava. Olhava tudo e, quando a mesada permitia, até comprava alguma coisa, mas ele não se importava com isso e sempre puxava um dedo de prosa. Entrou no ônibus encharcado, desgrenhado, tiritando de frio, os lábios roxos, o pouco cabelo escorrendo água. Chamava a atenção o fato de estar só de camiseta, os pêlos das axilas à mostra, daquelas que os velhinhos usam por baixo da roupa “pra proteger o peito da friaj”. Todos olhavam, uns descaradamente, outros de soslaio, o detalhe insuspeitado. Na mão, ele trazia uma gaiola protegida da chuva e do vento por um blusão de lã. Pensei: – Aí está. Um homem e seu curió! Ali, para quem quisesse ver, sem necessidade de uma única palavra, a imagem acabada do cuidado amoroso. Aquela cena o absolvia, de antemão, de toda e qualquer culpa pelo cárcere privado fosse o tribunal de Deus ou dos homens. Naquele momento compreendi que existem coisas que transcendem nossa noção de certo e de errado, independendo de onde estamos observando e do que trazemos no farnel, na trouxa, no balaio de nossas vivências e saberes. Fiquei enternecida e grata pela lição. Ainda fico. Crônica publicada no livro A Minha Aldeia (Editora Papa-Livro, 2004). Versão reduzida.


Si tu dish

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Dona Maricotinha “Tu dix!?” Sim, eles dizem. E com velocidade impressionante. Se a identidade de um povo é expressa através da cultura, não há elemento cultural mais eficaz do que a linguagem para diferenciar os manezinhos da Ilha dos nativos de qualquer outra parte do mundo. E tal qual era antigamente ou “di primêru”- como preferir o leitor- a vida e os costumes manés se mantêm preservados e repassados às novas gerações de várias formas, e a mais pretigiada e divertida delas é a arte cênica. A representação dos tipos mais peculiares, que há décadas conquistam o público ilhéu e do continente, é feita hoje por dezenas de artistas. Mais que fazer rir, personagens como Dona Maricotinha cultiva mesmo a tradição açoriana, percebida claramente pelas roupas, sotaque, maneiras, costumes, ingenuidade e simplicidade. Ela é uma senhora simples, nascida e criada no Ribeirão da Ilha, em Florianópolis, que é dona de casa, rendeira, e adora contar suas histórias, falar de sua vida e dar conselhos. Porém, além disso Dona Maricotinha tem o seu lado religioso., é uma excelente benzedeira, já curou muita gente de olho grande, mau jeito ( carne quebrada e nervo torto) e berruga. Há oito anos a Dona Maricotinha conta seus causos na Rádio Regional FM. “No começo, o Luizinho [Luiz Carlos Goedert] teve uma sacada de jogar umas vinhetas na rádio e pegou, hoje há uma ligação bem forte entre a personagem e a emissora”, conta. A atriz considera que a rádio expandiu o alcance da Dona Maricotinha, já que é mais fácil chegar às casas, mais do que somente com as apresentações. São nos intervalos comerciais que a personagem conta alguns causos da própria vida, com o marido Tibério e os seis filhos: o Dionei, o Claudinei, o Sidnei, o Rudnei, o Volnei e o Vanderlei. A pessoa por trás dessa figura é Mônica Prim, que tem suas raízes em Palhoça, SC. Formada em administração, sempre teve o gosto por interpretar, participando constantemente de peças teatrais na sua escola e comunidade. Confira a seguir o resultado de uma conversa sobre o projeto, a recepção do público, entre outros.


Si tu dish

1- Como você notou a necessidade da criação do personagem, e colocou em pratica o projeto? Na verdade tudo aconteceu de uma forma bem natural. Eu fazia parte do coral Encantos do Instituto Estadual de Educação, e numa noite preparamos um concerto denominado Noite Açoriana, onde iríamos homenagear com nossos cantos, esta cultura tão rica vinda dos açores, em que hoje chamamos seus descendentes de manezinhos. Para tornar a noite mais especial, fui convidada para interpretar uma destas manezinhas da vida. Este convite se deu devido a tantas imitações já feitas nos bastidores dos ensaios. Aceitei prontamente, embora achasse que seria tão somente uma única apresentação, naquela noite. Mas para minha feliz surpresa, aquilo que tinha imaginado ser por uma noite, passou a fazer parte de minha vida e desde então, a dona Maricotinha nunca mais se afastou de mim. Após este evento recebi vários convites para apresentações em festas de todos os tipos, seminários, bares, aniversários, casamentos, enfim, no próximo dia 28 de agosto completamos 15 anos juntas, levando alegria, descontração e motivação à milhares de pessoas.. 2- O nome da sua personagem tem alguma história? O nome “dona Maricotinha” surgiu exatamente porque a pessoa que me emprestou as roupas, para me apresentar neste evento, se chamava Maricotinha, desta forma, quis homenageá-la, não sabendo que hoje seríamos tão intimas. 3- qual é a importância que você vê desse trabalho para a cultura manézinha? Interpretar uma manezinha significa para mim, além de uma forma de homenagear e não deixar esquecer a cultura açoriana, também uma paixão pelos costumes e hábitos desta tão rica cultura. Dona Maricotinha é uma senhora simples, nascida e criada no Ribeirão da Ilha, dona de casa, rendeira, lavadeira e benzedeira que adora contar causos do seu dia a dia, falar de sua rotina, dar conselhos, enfim, através de sua maneira de falar e de vestir, dos seus costumes, sotaque, ingenuidade e simplicidade. Preza por seu lado religioso, além de ser uma

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excelente benzedeira, e com sua fé já curou muita gente de olho gordo, arca caída, mau jeito, carne quebrada e nervo torto.O foco desta personagem é cultivar a tradição açoriana, para que esta riqueza possa sempre ser revivida. 4- Como você é recebida pelo público que é manézinho? Dona Maricotinha é sempre recebida com muito carinho e entusiasmo, pois há uma forte identidade com o dia a dia de cada um. Nela, os manezinhos revivem histórias semelhantes e hilárias que de alguma forma já ocorreu no convívio de sua família e/ ou amigos. Ao final de cada apresentação, as pessoas me procuram dando seu testemunho de que a personagem os trouxe lembranças de como vivia ou vive ainda a sua mãe, irmã, tia, avó, vizinha, enfim, é muito forte o carinho e a identificação e isso muito me alegra e muitas vezes me emociona. Esse é o propósito e sinto que estou no caminho certo. 5- E o turista, qual a diferença? O Turista fica encantado com a nossa cultura e performance. Para ele é uma aula dos nossos costumes. Sempre muito atento, analisa cada detalhe do figurino, faz muitas perguntas dos textos, pois todo bom manezinho que se presa, fala tão rápido, que muitas vezes é preciso de explicação para entender o contexto da situação. Infelizmente existe uma carência na programação da nossa cidade em relação às apresentações culturais neste sentido. 6- Onde você consegue as histórias do espetáculo? As histórias são criadas por meio de pesquisas e de conversas com os manés. O melhor laboratório de onde surgem estas histórias é ouvir a realidade do cotidiano das pessoas mais antigas que habitam no litoral, tais como: pescadores, historiadores, rendeiras, benzedeiras, etc. 7- Seu espetáculo segue um roteiro? ou você improvisa? O repertório se divide entre histórias consideradas como base do espetáculo e muito improviso. Na comédia é preciso estar atento a tudo o que


“As histórias são criadas por meio de pesquisas e de conversas com os manés.” acontece ao seu redor e sempre tirar uma piada improvisada que envolve o público. O solo de comédia se torna muito mais interessante e divertido quando há uma interação com a platéia. 8- Na vida pessoal você encontra seu personagem em você? relate alguns costumes! Sim. Acho que somos muito iguais, o que no torna diferentes é a caracterização. Cresci sobre a influência dos mesmos costumes e no meu dia a dia me torno uma Mônicotinha, uma mistura de Mônica com Maricotinha. Gostamos de saborear um bom peixinho frito com pirão d’água, somos irreverentes, temos as mesmas crenças religiosas, superstições, temos fé nas benzeduras, falamos tão cantado e ligeiro que as vezes me perguntam quem está aí?, eu ou ela? enfim, estamos sempre juntas e misturadas e isso nos faz sermos muito felizes e agradecida a Deus. 9- Atualmente existem outros personagens manézinhos interpretados, como por exemplo Dona Bilica e o Darci. Qual a diferença você vê da Dona Maricotinha para os outros? Acredito que todos os que interpretam os “manés” tem a intenção de valorizar a cultura açoriana e cultivar nossos costumes. A caracterização destes personagens segue uma linha comum, no entanto, o que diferencia é a forma como cada um aborda seus textos. No caso da dona Maricotinha, ela conta causos ligados ao seu dia a dia em relação ao seu casamento e na criação de seus filhos, ou seja, vivências de uma família típica manezinha. Sempre procurando adequar as histórias de acordo com o público.

1- Ô QUERIDA, TASH BOAZINHA, ME CONTA O QUE ANDAS FAZENDO DE BOM? Ô minha extimada, tô meio arriada, com um amargo de boca, embrulhada do ixtâmi, já ando sempre com uma carcinha limpinha na bolsa, quando vô pra cidade, vá qui mi dá um ruim e tenho qui sê internada... sô pobre máx sô limpinha!!! A minha divertição tem sido catá piolho dox rapazi.... domingo de tardizinha o Tibério vai encher ox córnu de cachaça e eu fico em casa colocando neucid na cabeça delex, passo o pente fino e cai cada calhau, adipôx coloco vinagre e puxo as lêndax, côsa boa é uma lêndea viva quando ixtóra, a água vem na boca. Sô muito curriquêra, adoro butá o rabo na extrada... pégo o onx no TIARROMBA, sarto no TIVIRA, tóco pro TIRRALA e chego no TILASCA... ando por tudo e só vô pra casa na boca da noite... é uma cosarada medonha!!! 2- TEUX FILHÔ TÃO BONZINHO TÃO? Ox rapázi tão indo... ax vêgi de onx, ax vêgi a pé, depende do tempo.Tão tudo na escola... di manhazinha faço uma pão cagado com margarina e uma caneca de café cabeludo pra cada um e ex si tócam... ôtru dia o Rudinei chegô em casa e me disse: manhê, aprendi uma palavra nova na escola, e eu perguntê: quali foi a palavra que aprendesse, mô filho? ele me disse: a mãe sabe o que é NUDEX?? Ô respondi: Mô filho, a mãe só fez a quarta forte e a mãe não sabe o que é nudex, a mãe só sabe de uma côsa: MAX VÁLI NUDEX DO QUE NU NÓSSU!!!!! 3- E TEU MARIDO MÔ NEGA, COMO É QUE TÁ, AQUELE ABOBADO? O Tibério??? Homi tanso, mô Deux! Só qué fazê bobiça toda noiti, uma consumição...Tem diax cô tô tão enjuriada da minha vida, cô digo pra ele, na hora de fazê marcriação: MÔ FILHUU, QUÉX TÁ AÍ, QUANDO ACABÁ MI CHAMA PRA LAVÁ! 4 - SOUBE DE UMA HISTÓRIA MALUCA QUE VIVESSE AI, ME CONTA DIREITINHO ISSO NEGA? Ô rapariga, hixtóra não mi farta! Ôtro dia o Tibério pegô um siri, daquelex da guelrra azul, nô tem?? Passei-lhe a mão no siri e coloquê na geladêra, pra no ôtru dia fazê prox rapazi, quandu mi alivantê di manhazinha, fui deréto pegá o siri na geladêra.... tu não vági acreditá, o ixtepô do siri comeu doix bife de paleta e tomô a bandeja toda de orguti dox rapazi!! tava até de bigódi!! Ah, não contê tempo, buliê o bicho loooonge!!!


Vash l谩 贸

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IGREJA NOSSA SENHORA DA LAPA

Localizada em Ribeirão da Ilha, a igreja é uma das várias heranças portuguesas Ponto de referência de arte sacra do século 18, Florianópolis abriga em seus altares obras de valor incalculável que excedem sua função religiosa e guardam a memória cultural da cidade desde a colonização portuguesa. Erguida nessa época, a Igreja Nossa Senhora da Lapa abriga um vasto repertório de memórias.


Vash lá ó

C

onstruída em 1763 e sagrada em 1806, a Igreja Nossa Senhora da Lapa, situada no Distrito de Ribeirão da Ilha, passou por muitas intervenções até se tornar realmente apropriada para celebrações. Em 1840, por exemplo, foram solicitados recursos financeiros ao então presidente da Província “para atender a reparos urgentes no telhado e na sacristia da Igreja, quase em ruínas”. No entanto, durante a visita de D. Pedro II, em 1845, o imperador doou à Igreja a quantia de 400 mil réis, o que contribuiu na realização de novas obras e reparos à Paróquia. Dois anos mais tarde, o mesmo dinheiro ainda foi utilizado para pinturas e reformas. Até o século atual, novas e desastrosas intervenções foram feitas, embora, felizmente, a Igreja ainda conserve algumas de suas características originais. Seguindo um partido arquitetônico colonial, a fachada principal da Igreja Nossa Senhora da Lapa apresenta frontão triangular. Atrás, erguem-se duas torres, uma cega e outra sineira. Esta possui dois sinos, balaustradas no contorno e pináculos no centro da cobertura, de forma piramidal. Sobre a portada, três janelas, todas com vergas arqueadas e requadros em madeira maciça, além de decoração em estuque, na qual a sobreverga afeta forma triangular. Todas as portas são almofadadas e as janelas apresentam, por fora, guilhotina em vidro de caixilho pequeno. No vértice superior do frontão, encimado por cruz de ferro, decoração em volutas. Aos fundos, simetricamente, à direita e à esquerda do corpo principal, as duas sacristias, cujas portas de entrada são encimadas por vergas arqueadas. Essas construções são arrematadas por platibanda. As fachadas laterais apresentam três janelas altas, retangulares, com vidraças e porta, com requadros em madeira, encimadas por vergas e sobrevergas em arco abatido.Internamente, a clássica divisão nave e capela-mor, separadas pelo arco cruzeiro e com paredes de 80 cm de espessura. As três portas da nave (a principal e duas laterais) apresentam dobradiças em cachimbo, possivelmente da época da construção. A porta principal do templo é almofadada e possui uma interessante aldraba original. No teto da nave, pintura representando, ao centro, a Sagrada Família, a visita dos Reis Magos e o Cristo crucificado. Na parede sobre o arco cruzeiro, a representação de Cristo e São João Batista. Na parede do coro, singela pintura representa Santa Cecília. A capela-mor, com um belo altar em branco dourado, colunas salomônicas, volutas e concheados de inspiração barroca, guarda belos exemplos de arte sacra dos séculos XVIII e XIX. Ainda na capela-mor, duas janelas em cada lateral, abrindo-se de um lado para a sacristia e de outro para a residência do vigário. No teto pintado, um medalhão com anjos. Os retábulos do cruzeiro são do mesmo estilo do altar-mor, possuindo, na sua parte mais alta, delicados baldaquinos de madeira.

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CÔSA MASH ISTIMADA

FREGUESIA DO RIBEIRÃO

Uma volta ao tempo

A Freguesia do Ribeirão da Ilha é um dos lugares imperdíveis de Florianópolis. Sua população é simples e ainda preserva a herança dos antepassados açorianos como a pesca, a colheita da ostra na pedra e a confecção de canoas artesanais. Mas o principal atrativo é a gastronomia típica. Os restaurantes especializados em frutos do mar e ostra estão espalhados na rua principal, sendo chamado de o Caminho das Ostras. Você pode avistar no mar fazendas de ostras. São em média 60 criadores de ostras na localidade. E, a maioria fazem os seus próprios materiais utilizados para o cultivo, como as lanternas e parreiras. Tudo conhecimento passado de pai para filho.

Localizado a 36 quilômetros do centro, a Freguesia do ribeirão da Ilha é um dos mais antigos povoados de Florianópolis. Segundo alguns autores, o nome “Ribeirão” que fora dado a todo o Distrito, provém de um pequeno rio ou ribeira, o qual nasce de uma forte cachoeira no alto de Santo Estevão (Alto Ribeirão). Registros indicam que em 1526 o espanhol Sebastião Caboto aportou ali e alguns de seus comandados se juntaram aos náufragos de uma expedição de Dias de Solis, datada de 1515. O Ribeirão é composto por várias pequenas praias, de águas calmas e areia grossa. É um passeio que vale pela viagem no tempo.


Vash lá ó

BEIRA MAR NORTE

As mudanças com o passar do tempo, são bem apreciadas em nossas vidas, o que trazemos nessa edição de mudança da nossa querida cidade manézinha, é a avenida beira mar norte, que com o passar dos anos sofreu bastante alterações, sendo hoje, a principal avenida da cidade. A mesma trata-se de uma avenida que corre junto ao mar, construída sobre um aterro na década de 1960, e na década de 1980 foi ampliada . A Avenida Beira Mar Norte possui três pistas paralelas, de modo que a mais externa dá acesso ao sul da cidade e às pontes que levam à região continental da cidade, a do meio corre no sentido oposto, levando ao norte da cidade e em direção á região da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e a pista mais interna corre no mesmo sentido, dando acesso ao bairro Agronômica. Ela é famosa, ainda, por ser uma das regiões mais valorizadas da cidade. Uma cobertura, por exemplo, só pode ser comprada com valor acima de 1 milhão de reais. A principal festa de ano-novo em Florianópolis ocorre na Beira-Mar. A festa é uma das maiores do Brasil.

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1990

1970


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Arrombacish

MUNDO DO SUL

Projeto inovador para se localizar no sul da ilha Estudante de Design Gráfico da Universidade do Estado de Santa Catarina, Fellipe Vill fã das praias do sul,tentou de um jeito detalhado resgatar toda essa riqueza esquecida no sul da ilha, e comunicar as pessoas que aquela localidade ainda existe. O projeto vem com uma proposta de estratégica de marca e sua identidade, para restaurar e divulgar a raiz cultural,e o espirito praieiro que só existem no sul da ilha. O mesmo tenta fazer uma ligação de itens, para melhor localizar as pessoas que vão visitar esse território. Essa direção se encontra desde como pegar o ônibus para chegar no sul da ilha, ou direcionamentos de onde ir para praticar esportes como, Surf e derivados, lugares para fazer Trilhas, e até mesmo como procurar restaurantes com a gas-tronomia local, tudo isso com enfoque maior de contato com a natureza. O criador do projeto conseguiu trazer de uma forma positiva a implantação de um Guia para o povo em geral, que por muitas vezes por falta de informação e por não saber como chegar nesse novo lugar, acabam deixando de lado, e nem sabem que perderam um passeio increível. Além de deixar todos antenados por onde ir no sul da ilha, ele ainda traz um embasamento teórico sobre a cultura local e ai vai ficar fora dessa? Se localiza!! Projeto Mundo do Sul te da essa nova direção!

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Pirão,

Uma obra conjunta A mistura do pirão na tradicional cultura açorina toma conta da cidade de florianópolis, com a junção e a integração do cardárpio de várias famílias do litoral catarinense ao longo de várias gerações, acompanhe uma deliciosa receita de pirão de caldo de peixe. O pirão é uma papa de farinha de mandioca feita quando se mistura esta com água ou caldo quente. No Brasil, o pirão pode ser preparado com diferentes tipos de caldos. O pirão mais comum é feito com a mistura da farinha de mandioca com a água em que foram cozidos peixes, formando uma papa viscosa que é comida como acompanhamento do prato principal. Um

pirão d’água bem escaldado quase transparente acompanhado de uma pescada branca frita ou assada é mesmo uma delícia. Aliás, não importa o nome do peixe, o que importa é que tenha o acompanhamento. Costuma ser dito que é um “costume açoriano”, que não é a mais pura mentira, porém outra cultura foi bastante importante na criação dessa especiaria. O preparo dessa iguaria é simples e nada mais é do que uma “papa” dessa farinha misturada com água ou diferentes tipos de caldos, porém a sua história não é tão simples, descubra a seguir.


QUESHCUMÊ?

A

cultura manezinha teve uma profunda influência cultural dos povoadores açorianos aqui chegados entre 1748 a 1756. Mas os créditos desse acompanhamento típico não deve ser apenas atribuído a eles. Na verdade, os nossos povoadores açorianos do séc XVIII não trouxeram na sua bagagem o hábito de comer farinha de mandioca porque nos Açores não tinham este costume. E eles não conheciam a mandioca. E, até os dias de hoje não têm este hábito. Então, de lá não veio… Mas, temos a outra face da história... O uso da mandioca é uma herança da cultura indígena. Os açorianos usavam o trigo. Chegaram aqui e tentaram muito cultivar o trigo que era base do seu sustento ao lado dos nhames, das batatas, dos peixes de alto mar e da carne. Trouxeram na sua bagagem a tecnologia dos engenhos. Infelizmente, não alcançaram o resultado esperado esperado por eles e pelo Rei de Portugal. Porque a terra não era boa para o cultivo do trigo. Passaram a plantar a mandioca e produziram uma farinha tão fina quanto o trigo. Basta observar e constatar que a farinha de mandioca da ilha é famosa em todo o Brasil por sua qualidade e textura suave. Assim, com os índios, aprenderam o uso da mandioca na alimentação como o pirão d’agua, o bijú, entre outros pratos e daí em diante foram desenvolvendo uma culinária local típica, misturando os seus saberes das noves ilhas vulcânicas do além do mar com os saberes dos nossos índios. Tanto é a mais pura verdade que em 1797 havia em Desterro 17 atafonas de moer trigo e 87 engenhos de mandioca. Contasta-se assim, a insistência dos açorianos com o cultivo do trigo, a sua tradição cultural e a crescente transformação cultural e a crescente transformação da mandioca em farinha, que era uma cultura nativa, herdada dos indígenas. Podemos dizer que os nosso engenhos de mandioca foram desenvolvido a partir da tecnologia dos indígenas no manejo da raiz de mandioca com o conhecimento dos moinhos de trigo pelos açorianos. Conclui-se que os nosso ilhéus e seus ancestrais aqui chegados cultivaram hábito de comer farinha de mandioca e, sem dúvida, que a excelência da nossa saborosa farinha se deve ao aperfeiçoamento do processo de moagem de mandioca dos indígenas pelos povoadores açorianos, que eram detentores de larga experiência com o trigo lá no Açores, no Atlântico Norte. O preparo dessa iguaria é simples e nada mais é do que uma “papa” dessa farinha misturada com água ou diferentes tipos de caldos.

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Pirão de caldo de peixe Prato de preparo simples, sendo que é nada mais que o nada que uma “papa” dessa farinha misturada com o caldo de peixe. Para acompanhamento, o peixe de sua preferência. Ingredientes (para 6 pessoas) 2 cabeças de peixe (namorado, robalo) 1 cebola pequena 1 pimentão verde pequeno 1 tomate pequeno sem casca e semente coentro 1 limão Sal Pimenta 2 xícaras de água 2 colheres (sopa) de extrato de tomate 2 xícaras de farinha de mandioca cruaou coentro picado Modo de preparo 1. Limpe a cabeça do peixe e a tempere com pimenta, sal, limão e um pouco de coentro por cerca de 30 minutos 2. Feito isso coloque-a para ferver em fogo baixo e misture a cebola cortada em cubinhos até dourar 3. Misture o pimentão e a pimenta, jogando água para que esse mistura faça um caldo. 4. Esse processo deve ser repetido até que a cabeça esteja bem cozida 5. Retire a cabeça do peixe e reserve o caldo formado 6. Feito isso, pegue pedaços do peixe desfiados e sem espinhos, acrescente ao caldo feito anteriormente, deixe ferver mais um pouco 7. Jogue a farinha aos poucos, sempre mexendo para que não embole 8. Acrescente sal a gosto e por último o coentro


QUESHCUMÊ?

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SIRVA O BERBIGÃO

Um dos frutos do mar mais abundante no litoral de Santa Catarina, o berbigão tem seu sabor marcante e bem pronunciado.A história dessa especiaria começa com os índios Carijós, que descobriram no berbigão uma fonte regular de alimento que lhes permitiu deixar a condição nômade para se fixarem no litoral. Assim surgiram os sambaquis, regiões onde predomina o acúmulo de cascas de moluscos. Seu consumo e utilização em restaurantes da região ainda é tímido, se comparado à onipresente ostra, mas com seu gosto naturalmente picante e salgado, tem conquistado cada vez mais espaço nos menus. Trazemos então a tradicional receita espaguete ao berbigão.

espaguete ao berbigão Ingredientes 50ml de azeite de oliva 3 dentes de alho bem picados 1 cebola média picada 400g de berbigão com casca 150g de berbigão sem casca 250ml de vinho branco 300g de espaguete cozido Salsinha picada Sal a gosto

NÃO VAI QUEMÁ ISTEPÔ

Preparo 1. Pré-aqueça o azeite e coloque o alho. 2. Mexa até ficar dourado. 3. Acrescente a cebola e mexa até ficar transparente. 4. É a vez do berbigão com casca. Mexa um pouco para misturar bem. 5. Acrescente o vinho. 6. Tampe a panela e deixe por cerca de três minutos. 7. Nesse ponto as cascas do berbigão devem estar abertas. 8. Acrescente o berbigão sem casca e mexa mais um pouco, até atingir o ponto de cozimento. 9. O berbigão está pronto. Monte o prato com o espaguete e use a salsinha para finalizar.


ólhólhó

PORQUÊ MANEZINHO?

Hoje em dia ser mané é uma questão de orgulho, mas há 25 anos a história era muito diferente. Mané era as pessoas do interior, que visitavam o centro de vez em quando, de pé pela picada ou em cima de cavalo ou burro pra vender ou comprar, como era o caso da rendeira, do pombeiro, ou um vendedor ambulante. Assim, os habitantes de vilarejos em regiões praieiras da ilha, afastadas do centro urbano eram chamados pejorativamente de manezinhos da ilha, caracterizados pelo falar rápido e cantante, com pronúncia peculiar. A transformação da figura ocorreu a partir da década de 1980, quando foi criado por iniciativa do carnavalesco Aldírio Simões, um verdadeiro manezinho, o Troféu Manezinho da Ilha, com o objetivo de resgatar o orgulho e o sentimento ilhéu. Também foi criado o “Dia do Manezinho”, instituído pela lei municipal da cidade de Florianópolis nº 6.764”, sancionada no dia 2 de setembro de 2005, como sendo o primeiro sábado do mês de junho. Também se faz importante citar o trabalho desenvolvido pela atriz Vanderléia Will , que desde 1991 personifica uma tipica rendeira, lavadeira e benzedeira de uma vila pesqueira da ilha de Santa Catarina. Seu trabalho enaltece e valoriza a imagem dos antigos moradores. De forma cômica e interativa vem se apresentando por diversos teatros , divulgando o folclore ilhéu. Há 3 anos realiza o Projeto Dona Bilica e Convidados, uma verdadeira homenagem as raízes açorianas. Além disso o termo ganhou notóridade nacional quando o maior tenista brasileiro, Gustavo Kuerten se declarou manezinho da ilha, após vencer o Torneio de Roland Garros, dignificando este termo. É provável que “mané”, do qual “manezinho” seria o diminutivo, derive de “Manuel”, nome ibérico de origem hebraico-cristã outrora comum em Florianópolis/Nossa Senhora do Desterro e principalmente nos Açores, e em Portugal.

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Boi de mamão, uma brincadeira de rua

Uma das brincadeiras mais populares de Santa Catarina, o Boi de mamão traz em seu universo toda a tradição catarinense. De origem comum a outros “bois” brasileiros, o daqui é realmente manezinho. A dança do Boi de Mamão é a brincadeira mais cultivada e, por isso mesmo, a mais apreciada dança folclórica da região. É uma das tradições folclóricas mais antigas de Santa Catarina, principalmente nas regiões litorâneas, recebendo maior destaque entre o Natal e o Carnaval. É uma manifestação cultural rica de significados. A fala do povo, as imagens dos personagens, a dança, a comida, a cantoria compõem o universo simbólico de uma tradição catarinense. Se em outros estados do Brasil, existem Boi-Bumbá, Bumba-meu-boi, Boi-Calembra, Boi-da-Cara-preta, a tradição daqui se diferencia por um caráter mais gracioso do que dramático. De qualquer maneira, os estudiosos tendem a concordar sobre serem, as diversas formas existentes, apenas variantes locais de uma mesma e única manifestação. A descrição mais antiga que temos do Boi-de-Mamão em Boiteux, em 1871, é na verdade, uma descrição do Bumba-meu-Boi, indicando a filiação nordestina do nosso folguedo local que, com o passar dos anos, acabou por ganhar características próprias, com a modificação de certos aspectos da apresentação, a supressão de determinados elementos e a introdução de outros. Basicamente, o trágico e o dramático cederam aqui lugar ao cômico e ao lúdico no decorrer do tempo, criando um Boi-de-Mamão alegre. A “ terrível” bernúncia, que “ comeu Mané João e come tudo que lhe dão”, versão local do Grande Dragão Celeste Chinês, e a Maricota, figura de mulher gigantesca, hoje indispensáveis nas apresentações do folguedo, são introduções

relativamente recentes, dos últimos quarenta anos, que contribuem para a distinção do Boi-de-Mamão, de suas formas afins de outras regiões. Segundo Câmara Cascudo, a Bernúnça foi introduzida em São José da terra Firme por volta de 1923. O “bicho” teria sido “inventado” por um indivíduo das paragens do Estaleirinho (praia),quando aquela localidade ainda pertencia ao município, que procurou fazê-lo o mais grotesco possível. Dai que, antes dele exibir o bicho na dança do Boi de Mamão local, foi mostrar para sua velha tia ver. Ao mostrar a boca aberta do bicho pra velha, o susto dela foi tão grande que tremendo de nervosa esconjurou, repetindo o sinal da cruz varias vezes no peito dizendo: “Abrenúncio! (Satanás), Abrenúncio! (Satanás).” E assim, não sabia a velha senhora que acabaria de nomear o bicho de “Bernúncia” ou como diz o manezinho, “Bernúnça”. Já a Maricota, passou a ser figurante no Boi-de-mamão. Acredita-se ter sido baseada num componente circense, durante a apresentação de um circo na Ilha, na década de 20. Era esta uma mulher muito alta, que interagia com dois palhaços que a disputavam. Essa interação acontecia de uma forma bem violenta. A mulher ficava distribuindo bofetadas nos palhaços e esses tentavam fugir de seus golpes. Em alguns grupos aparece o pai João, em outros o Anão, ambos pretendentes da Maricota. Inicialmente, o Boi-de-Mamão era denominado de O Folguedo do Boi Falso ou Boi de Pano da Ilha de Santa Catarina e, somente na década de 1930,


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Maricota A Dona Maricota, com seus três metros de altura, ensina para as crianças que “tamanho não é documento”, pois com seus braços longos e mãos espalmadas, vai distribuindo muitas carícias - existiram grupos onde a Maricota era personagem que zangada distribuía tapas em quem estivesse ao seu alcance

Bernúnça “Dragão do mal” com uma boca gigante que corre em direção ao público na tentativa de engoli-lo. De acordo com a tradição, Bernúnça comeria as crianças desobedientes ou não-batizadas e a criança passaria, então, a fazer parte de seu corpo. Sua origem deve-se à Coca, um monstro que desfilava em festas católicas na região da Galícia, atual cidade de Allaris.

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Cavalinho Embora a maioria das pessoas não perceba, é a figura mais compenetrada em seu papel, apresentando movimentos perfeitos. Seus rodopios são calculados, seus movimentos são rápidos, boleando ou em volta do boi ou investindo sutilmente contra a platéia. O ponto culminante desse folguedo é a cena do laço. Quando o Vaqueiro laça o boi, após sua ressurreição, toda a platéia aplaude. Já o boi, que pressente o laço, corcoveia, sendo que o Vaqueiro deve envolver as aspas do boi, puxando-o para fora do salão fazendo sua retirada, antes que machuque alguém.

Boi de mamão Personagem principal, da brincadeira. Ao estar muito doente, seu dono o leva ao veterinário. Termina com sua cura e com o ginete em seu cavalinho laçando o boi. A origem do nome é que na hora da fabricação da cabeça de boi, havia uma certa pressa e foi nesse momento que utilizaram um mamão verboi de na fervura, às pressas, para a cabeça de um boi.

recebe o nome atual. A hipótese mais corrente para explicar a origem do nome é que na hora da fabricação da cabeça de boi, havia uma certa pressa e foi nesse momento que utilizaram um mamão verde na fervura, às pressas, para a cabeça de um boi. O Folguedo, em resumo, conta a história de um boi que está muito doente e deve ser levado ao veterinário - Seo Doutor. Esse, com poucos remédios e sua benzedura, livra o boi da agonia da morte. Termina com sua cura e com o ginete em seu cavalinho laçando o boi. Todos os personagens dançam ao som da cantoria e com o chamador que canta os versos para chamá-los. As cantorias diferem, havendo muita improvisação por parte dos músicos que tem no pandeiro, violão e na gaita, seus principais instrumentos musicais, bem como entre eles o Chamador que tem a responsabilidade pela cantoria. Ao lado, o Coro de vozes, acompanhando todas as melodias entoadas pelo chamador. A cantoria e os músicos vão na frente, seguidos do boi, cavalinho, cabra, bernúnça e as outras figuras. O grupo vem vindo, o chamador diversificando os versos e a cantoria, respondendo em coro, até chegar ao lugar da apresentação. Defronte a casa forma-se um grande círculo com cantadores, músicos e espectadores. Os bichos ficam um pouco retirados do círculo. Os instrumentos tocam, o Vaqueiro e o Mateus surgem no meio do círculo para dançar, e o chamador entoa a musica do boi. O boi entra no meio do círculo com sua dança, rodopia, ameaça investir contra os presentes e brinca com o Mateus e o vaqueiro até que para no centro e fica estático, parecendo morto. Entra em cena o doutor, que bate nas costas do boi, levanta o rabo, examina e sacode o boi. Tira da maleta um ramo de erva, um vidro de água, despeja na boca do boi e o benze. O doutor manda que o Mateus fique com o ouvido encostado na testa do boi para escutar se ele geme e, ao Vaqueiro, é ordenado dar um sopro abaixo da cola do boi. O boi, ao sentir o sopro, dá uma guinada para frente, jogando o Mateus no chão. O doutor diz que o boi está melhorando e benze outra vez. Aí forma-se uma confusão entre o Vaqueiro e o Mateus pra entregar o dinheiro, até que finalmente o doutor pega as notas e as guarda na maleta. Entra o cavalinho que laça o boi e retira-o do salão. Entram em cena os demais componentes da brincadeira cada qual acompanhada de seu tema musical até a retirada do último componente. Ao final é realizado desfile geral e agradecimentos finais dando assim encerramento ao espetáculo. De alguns anos para cá a brincadeira sofreu mudanças na entrada - inicia e termina com desfile geral, e a inclusão da Benzedeira na brincadeira logo após a tentativa em vão do Seo Doutô. Com as apresentações fechadas em ginásios, quadras e arenas, em eventos empresariais ou escolares, mesmo em festas populares onde acontece a maioria das apresentações, as transformações foram uma forma de ajustar a encenação a espaços antes abertos para ambientes reduzidos.


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FESTA DO DIVINO

A festa de tradição açoriana em florianópolis A festa do divino espirito santo é um dos maiores símbolos da presença açoriana no contexto religioso de florianópolis. Força emblemática de devoção e crença, manifestou-se pela primeira vez na ilha de santa catarina em 1776, em 1806 realizou-se a primeira festa da coroação, na paróquia nossa senhora do desterro, sendo o imperador o capitão Manoel Francisco da Costa.


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Ritual da Festa Escolha do imperador O imperador é a pessoa que preside a festa do divino, e que cria condições para que a população devota manifeste seu louvor e fé. É eleito pelos festeiros e pela comunidade, segundo condições preestabelecidas dentro de cada paróquia. Formação da corte Compreende a corte: o imperador, a imperatriz e um conjunto de oito pares de meninos e meninas que desempenham o papel de pajens e damas da corte. Todos portam trajes da época, confeccionado e bordados com tecidos nobres. Cerimônias Tradicionalmente, a novena antecede a festa do divino, sendo considerada a mais importante das manifestações. São também realizadas missas na sede da paróquia, a missa da coroação é sempre em um domingo, sendo que ao termino do culto é coroado o imperador atual e anunciado o próximo casal imperial.

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Pãezinhos do Espírito Santo os leilões das massas de promessas ( pães em formato de membros órgãos do corpo) são realizados em agradecimento ao divino espírito, em louvor á graça alcançada. durante esses dias da festa, estes pães são abençoados, leiloados e vendidos aos fiéis como prova de afeição. Bandeira a bandeira do divino percorre toda a jurisdição da paróquia, a partir da segunda feira após a páscoa até a véspera do dia de pentecostes. A bandeira entra de casa em casa acompanhada por um grupo de foliões coletando donativos, prendas e sendo beijada por todos os presentes. Festejos opulares cada comunidade tem sua maneira própria de realizar os folguedos populares. é uma festa muito bonita e alegre, onde todos se divertem em uma intensa programação


Significados Cetro e a Coroa Contra a história que a rainhas isabel de aragão prometeu instituir um dia de culto caso o espírito santo apaziguasse as desavenças entre seu marido, Dom Diniz, e seu filho. Tendo sido seu pedido atendido, passou a coroar nas comemorações de pentecostes um mendigo, que se tornava rei um dia no ano. Também servia comida aos carentes, dando início á doutrina da era do espírito santo, mais tarde, ainda como pagamento de sua promessa, doou sua coroa e cetro ao divino espírito santo, coroando aquele mendigo como imperador e disseminando o costume por todo o reino. simbolicamente, transferia o poder real ao divino espírito santo, representado por um homem comum. Pomba A pomba representa a ave que anunciou à noé a descida das águas. Igualmente no episódio do batismo no rio jordão é espírito santo em forma de pomba que pousa sobre jesus. Na festa do divino a pomba simboliza o próprio espírito santo - mais especificamente a terceira pessoa da santíssima trindade.

Fitas As fitas multicoloridas são afixadas na ponda do mastro da bandeira do divino geralmente doadas como pagamento de promessas, podem também, ao final da festa, serem retiradas pelos fiéis para cura e veneração. Bandeira A cor vermelha de tradição portuguesa, traz consigo o simbolismo de evitar o azar e ter poderes de cura. a bandeira do divino é confeccionada na cor vermelha com uma pomba branca bordada ao centro, sustentada por um mastro em cuja ponta figura uma pombinha branca, enfeitada de flores e fitas multicoloridas, nas visitas peditórias para arrecadações é a bandeira que assume o papel principal de elemento sagrado. conhecida também como “ folia do divino”, representa a alegria daqueles que a bandeira na intenção de cura e veneração.e fitas multicoloridas, nas visitas peditórias para arrecadações é a bandeira que assume o papel principal de elemento sagrado. conhecida também como “ folia do divino”, representa a alegria daqueles que a bandeira na intenção de cura e veneração.


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m dia um garoto chamado João decide fugir de casa, tendo como destino a casa de sua vó, conhecida como uma bruxa na Costa da Lagoa. No caminho conhece Zé, um menino nativo que se torna seu parceiro e guia nesse desafio. Os dois iniciam uma amizade e uma aventura repleta de descobrimentos pela Costa da Lagoa como paisagem de fundo, cheia de mistérios e fantasias, que ficam ainda mais vívidos aos olhos e dúvidas de duas crianças. É assim a trama de Taí ó, contemplado pelo Edital Catarinense de Cinema.Esse é o primeiro filme infantil dirigido por ele que dividiu a autoria do roteiro com Gil Guzzo: “Essa também foi a primeira vez que escrevi um roteiro infantil. Foi desafiador, mas mergulhei num universo fantástico. Nesse roteiro pude ter uma experiência que me agrada muito: misturar as lendas assimiladas pela cultura popular com outras que fui criando no processo da escrita”, conta Guzzo. A história é fácil de se identificar, seja pela visão de alguém acostumado com a cidade ou com a natureza. Adultos facilmente se lembrarão das lendas que ouviam quando crianças, enquanto estas têm a chance de conhecer essa vasta cultura manézinha. Além disso, uma das grandes proezas do curta é mostrar temas tão complexos da forma mais simples. Desde o ciúme do filho ao ganhar um irmãozinho que é trabalhado desde o começo, a quebra de esteriótipo de uma forma bem leve, como nem todas as bruxas são iguais. Mas além de tudo, desperta a curiosidade e o carinho com o ambiente, algo que na ilha não falta.

Os atores infantis João Vitor Nilo Tomé e Nicolas Pereira Albino, ambos com apenas onze anos, moram na comunidade e foram escolhidos para os papéis principais depois de um teste de elenco. O fato de conhecerem de perto a Costa e conviverem na vizinhança também contou pontos. “Aqui tem muitas histórias de bruxas e lobisomens. Na nossa vizinhança mesmo dizem que… não, não posso contar”, Nicolas ri contando, e João Vitor logo emenda: “Eu sempre acreditei nessas histórias, mas agora acho que não acredito mais”. Os dois amigos cresceram juntos e esse entrosamento também ajudou na hora da seleção dos atores. Para mostrar que o dilema da chegada de um bebê na família é algo que faz parte do dia a dia das questões infantis, os dois que são filhos caçulas dizem: “Eu não quero um irmãozinho”, falando realmente sério. João e Nicolas ficaram entusiasmados com as filmagens e dizem que querem mais. Nas brincadeiras de rotina já produzem seus próprios filmes e até roteiro estão exercitando na escola. Os adultos do filme são todos profissionais conhecidos do teatro e do cinema. Margarida Baird, atriz que completou 50 anos de carreira no ano passado, é a Vó Zilda (a Bruxa para alguns), Berna Sant’Anna faz o papel da avó do garoto nativo e Jack Moa é o pai do menino que foge de casa. Taí ó tem participação de outro veterano, Severo Cruz, que traz experiência para a interpretação. Ele, que já morou na Costa da Lagoa, faz o papel de tio do menino local e é barqueiro que leva e traz os moradores para seus destinos.


DIJAÔGE

DAZARANHA a banda que tem a cara de floripa

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Dazaranha iniciou suas atividades no ano de 1992 atuando em bares e casas noturnas da Grande Florianópolis. Devido a sempre ótima qualidade de som, a banda começou a ser reconhecida na região, lotando os locais de suas apresentações e cativando muitos fãs. Logo em seguida, dois anos após o início, a banda lança o seu primeiro trabalho fonográfico, com a participação da música Retroprojetor na coletânea Ilha de Todos os Sons lançada em 1994 pela RBS Discos. Dois anos depois vem o lançamento do primeiro álbum Seja Bem Vindo, também pela RBS Discos, que alcança o status de clássico e vira sucesso de vendas. As músicas deste CD, produzido pelo baixista Adauto Charnesky e pelo violinista Fernando Sulzbacher, são lembradas até hoje pelo público nos shows da banda e reproduzidas em palco. Logo após o percussionista Gerry deixa a banda, que segue como sexteto. Em 2001 o álbum é relançado com cinco faixas bônus, entre elas, O Cubo, Mario César, Tsé Tsé e uma nova roupagem para Galheta e Novos Ditados. Em 1998 chega a consagração do trabalho do Dazaranha. A banda lança o disco Tribo da Lua que contém, entre outros clássicos, o grande hit Vagabundo Confesso além da grande participação especial de Jorge Ben Jor na faixa Te Liga, os teclados de Cláudio Tranjan (Placa Luminosa), percussão de Zé Roberto “Baixinho” (Novos Baianos) e da produção de Luiz Carlini. Com este trabalho, várias portas se abrem para a banda e os leva a ganhar um prêmio de disco de ouro, o primeiro da história de uma banda catarinense, após uma vendagem superior a 50 mil cópias. No ano seguinte, a segunda baixa, o então baterista Zé Caetano deixa a banda e dá lugar ao novo integrante Adriano Barvik, que segue os trabalhos junto ao grupo. Com tamanho reconhecimento no seu trabalho, a banda resolve construir o seu próprio estúdio chamado Caixa d’Água, montado em uma velha caixa dágua, onde posteriormente seria gravado no ano de 2004 o CD Nossa Barulheira produzido pelo violinista Fernando Sulzbacher e pela banda. O CD teve como single a música Salão de Festa a Vapor, mantendo o mesmo nível nas composições mas com

guitarras mais marcantes e pesadas nas músicas, o qual levaria o Dazaranha a mais um feito inédito, vencer o Prêmio Claro de Música Independente em 2006 como melhor álbum pop, ficando a frente de nada mais nada menos que o ex-mutante Arnaldo Baptista que concorria com o seu Let it Bed, além do retorno do percussionista Gerry Costa. Com toda a bagagem e conhecimento musical alcançados ao longo de 15 anos de carreira, em 2007 o Dazaranha alça vôos mais altos na produção da sua mais nova obra, o disco Paralisa produzido por Ricardo Vidal (O Rappa) e que conta com uma modernização no já consagrado estilo da banda, maior sofisticação e a maciça participação do Trio Santo Amaro nos metais que desde então, passam a acompanhar a banda nos shows. Destaque para as faixas Carolina, Durma Bem e Ô Mané (com participação especial de vários nomes da música local). No ano de 2008, mais uma mudança de integrantes. O baterista Adriano Barvik larga as baquetas e dá lugar a J.C. Basañez, ex-integrante da banda catarinense Mary Black. Após muita espera, um antigo sonho dos fãs do Dazaranha é enfim realizado. Em um memorável show realizado em dezembro de 2008 no Teatro Ademir Rosa (CIC), nasce o primeiro DVD lançado em 2010 pela Universal Music com os maiores sucessos da história do Daza (como a banda é carinhosamente conhecida pelos fãs). Destaque para a participação especial do cantor Armandinho na faixa Salão de Festa a Vapor e faixas inéditas como Dia Lindo, Pra Ficar e Motoboy, além do making-off e um documentário gravado no estúdio Caixa d’Água onde os integrantes contam um pouco da história da banda. Uma grande equipe de profissionais é unida para realizar o DVD: realização e produção de Dazaranha e Orth Produções, Vídeo de Heron Domingues (HD), áudio de Ricardo Vidal (Studio55) e mais o documentário assinado por Mártin Carvalho (Cristal Broadcast). Em 2012, durante a comemoração de seus 20 anos, lançam um box set com todos os discos, mais o DVD. É a primeira vez que uma banda catarinense brinda o público com um produto desta magnitude.


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O MANEZÊSH ILUSTRADO A ilha de um jeito que você nunca viu

Sempre teve o dom e gosto pelo desenho e artes visuais. Graduado em Design Gráfico, Douglas Pereira Ferreira arranjou um jeito de juntar seu dom ao trabalho, fazendo exatamente o que gosta. Há algum tempo, tinha em mente um projeto de fazer desenhos e ilustrações que mostrassem um pouco mais da sua cultura e da cidade onde nasceu e vive. Com isso ele criou o “ Dezarranjo Ihéu”, uma série de ilustrações com as falas e situações mais comuns dos manézinhos. Esse projeto é todo baseado em causos, histórias e falas típicas da cidade da grande Florianópolis. Estas vêm acompanhadas de ilustrações caricatas que traduzem o cotidiano e as figuras da cidade - sejam as tainhas, os peixeiros, os idosos e até os patrimônios históricos. “O cotidiano e as novas culturas que vem somando à cidade ao longo dos tempos fizeram com que os hábitos das famílias vindas da Ilha do Açores viessem a se perder. Acho que a geração ilhéu mais jovem tem essa carência da cultura e vivências daqui, por isso resolvi criar o Dezarranjo” afirma o criador do projeto. O ilustrador Douglas criou em setembro de 2014 a página do “Dezarranjo Ilhéu”, e conquistou somente na primeira semana de existência 1.000 curtidas.Hoje, a página já conta com mais de 7.600. “ Desenho desde criança. Certo dia desenhei uma

pomba em um balaio e divulguei o trabalho na rede social. O feedback do público foi grande”, conta o designer, que também criou um personagem bufão tipicamente mané da ilha para interagir as pessoas virtualmente. As cores dos desenhos também não foram escolhidas aleatoriamente: são produzidos com três tons de azul, que procuram remeter as porcelanas e os azulejos dos portugueses que colonizaram a cidade. “Quero trazer essa memória para incentivar as pessoas a terem orgulho de ser ilhéu. Valorizar nossa identidade é importante. Florianópolis não é só praias, festas e mulheres bonitas”, observa o ilustrador. Os desenhos do “Dezarranjo Ilhéu” são enquadrados e também comercializados. As ilustrações também são impressas em canecas, que junto com os quadros, são vendidos através de um site próprio do projeto e também em estandes na Feira da Alfaias, no bairro Santo Antônio de Lisboa, na Feira da Freguesia, no Centro Histórico de São José, no Circo da Dona Bilica, no Sul da ilha, e na loja de artesanato Casa Catarina. Ainda neste ano a linha de produtos do projeto será estendida: serão criadas azulejos. A seguir, trazemos uma entrevista com o autor do projeto, dizendo como começou na área da ilustração á mão e digital, e como surgiu a ideia.


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Há quanto tempo você já faz esse tipo de ilustração? Sempre gostei de desenhar, desde de criança, isso foi uma coisa que sempre tive gosto em fazer. Aos 12 anos, comecei a fazer os primeiros testes digitalmente falando, no paint, Rsrsrs. Mas foi só em 2009 que fui ter a primeira experiência com softwares específicos para desenho digital e uma mesa digitalizadora, desde então não parei. Como surgiu a ideia de criar ilustrações com falas e situações típicas da ilha? Surgiu de repente, assim do nada…não tem? Na verdade, a ideias inicial era fazer cenas do folclore ilhéu com um aspecto mais sombrio, narradas por personagens fictícios. Falando de bruxas, lobisomem, boi tatás, etc… Mas nunca consegui achar um estilo que eu curtisse. Depois de um tempo, comprei um pacote de brushs para o photoshop, e testando alguns, veio a ideia de fazer a pombinha dentro da balaia, como naquela expressão aqui de Florianópolis que diz “mofas com a pomba na balaia”. E ficou engraçadinho até. Daí veio a ideia de fazer essas cenas de forma mais humorada. E o resultado ficou bem legal. Como foi sua evolução na ilustração (mão/digital), e como você chegou a seu estilo atual? Ainda estou no processo de evolução, sempre na verdade. Ainda (e sempre) acho que tenho muuuito o que evoluir, seja no tradicional ou no digital.

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Eu sempre achava que não tinha um estilo definido, apesar das pessoas falarem que meu estilo era muito legal. Há muito temo eu vinha “copiando” outros ilustradores que eu admirava na esperança de desenvolver um estilo legal. Mas foi só quando eu parei de me preocupar em fazer um estilo diferente que o Dezarranjo nasceu. Pensei: “Ah, vou fazer de qualquer jeito mesmo, e o estilo veio sozinho…” Onde você busca inspirações para fazer suas ilustrações? O que me inspira bastante são as histórias e causos que meu pai e meus tios contavam, e como nasci na ilha, sempre tive contato com gente que falavam o “manezêsh”, então isso sempre me inspirou. Quando penso no que desenhar, as ideias aparecem uma trás da outra, como uma diarréia… não dá pra segurar. Daí que surgiu o nome do projeto: Dezarranjo Ilhéu. Qual a importância que essas ilustrações tem para seu portifólio? É importante para o meu portifólio, porque é algo relacionado ao lugar onde nasci e vivo, e a maioria dos trabalhos que pego como freelancer são daqui, isto me dá uma visibilidade maior na área. E tam-


bém já aconteceu casos de pessoas que queriam fazer alguma arte para os seus negócio com o estilo do Dezarranjo. Como está a aceitação do público em relação à suas ilustrações? Do Dezarranjo? Está tendo uma aceitação muito legal. Acho que esse tipo de ilustração ganha mais força quando vem acompanhada de uma mensagem, e no caso do Dezarranjo, muitas pessoas se identificam com os dizeres que aplico lá, pois são da cultura e do cotidiano de muita gente. Acho que isso é que faz as pessoas gostarem. Você pretende partir para a área comercial, que produtos você pretende fazer? Sim, já parti na verdade. Hoje já estou comercializando canecas e quadrinhos. Mas pretendemos lançar também camisetas, porta copos, cartões, chaveiro. Produtos que são para presentear alguém que você gosta, e também para decorar casas e até mesmo estabelecimentos comerciais. Existe outro projeto em mente além do Dezarranjo? No momento não…Esse já está dando bastante trabalho, mas quem sabe pro futuro não surja algum outro projeto. No momento estou me dedicando só ao Dezarranjo Ilhéu.


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A POÉTICA DE MEYER FILHO

O artista plástico Meyer Filho nasceu em Itajaí, Santa Catarina, vindo a residir em Florianópolis quatro anos depois. Autodidata sobre arte, sua formação foi em Ciências Contábeis. Aprendeu sobre desenho, pintura, ilustração, história da arte e história natural através de manuais e livros sobre o assunto. Em 1946, época em que residia em Curitiba, assumiu com força sua verve artística, após ver uma exposição de trabalhos modernistas feitos por artistas franceses. No final da década de 40, o movimento de arte moderna iniciado em 1922 em São Paulo, teve seus primeiros sinais em Florianópolis, através de manifestações artísticas conduzidas pelo Grupo Sul do qual faziam parte escritores, poetas, pintores, cineastas. Meyer Filho ingressou após seu retorno da cidade de Curitiba, no início dos anos 50. Posteriormente, Meyer Filho realizou, em 1957, juntamente com o artista plástico Hassis (1926-2001), a primeira exposição de Pintura e Desenhos de Motivos Catarinenses.Em 1958, realizou a primeira individual de um artista catarinense no Museu de Arte Moderna de Florianópolis, atual Museu de Arte de Santa Catarina. Durante toda sua trajetória artística, Meyer filho manteve seu ativismo cultural, participando de exposições individuais e coletivas em Santa Catarina, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, além de Buenos Aires. Possui obras em Museus de Arte de Florianópolis, Belo Horizonte, Joinville, Porto Alegre, São Paulo e coleções particulares no Brasil e no exterior. Sua trajetória está registrada no livro Meyer Filho, vida e arte, organizado por Carlos Damião e publicado em 1996 pela Fundação Catarinense de Cultura. Em 2004 foi criado o Instituto Meyer Filho, associação cultural sem fins econômicos, com a finalidade de organizar e divulgar a obra do artista. Seu universo criativo tem servido como fonte inspiradora para inúmeros trabalhos artísticos em vídeo, fotografia, artes plásticas teatro, musica e dança.


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importante obra de Meyer Filho já foi abordada sob diferentes aspectos, mas seus desenhos em preto e branco aparecem como uma lacuna em seu conjunto. Talvez, por constituírem anotações de estudos, no entanto, representam uma contribuição significativa para compreensão de sua obra como um todo, estabelecendo a partir deles alguns enfoques dominantes em sua estética pessoal e as condições de sua interferência na cena artística local. O modernismo no Brasil foi introduzido através de um longo processo que, iniciado na década de 20, somente se consolidou nos anos 50, tendo como eixo as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Outras regiões se incorporaram a esse movimento; de forma particular, em Santa Catarina, sua entrada ocorreu com a chegada a Florianópolis da exposição itinerante de artistas modernos, organizada por Marques Rabelo. Ali encontrou terreno fértil e apoio do grupo de intelectuais do Círculo de Arte Moderna, responsáveis pela criação da Revista Sul, em 1948, e pelo Museu de Arte Moderna de Florianópolis (MAMF), em 1949. Contando com um importante acervo de importantes artistas brasileiros modernistas na sua coleção, o MAMF teve participação significativa na consolidação do movimento no Estado. Nesse núcleo se encontravam jovens artistas que tentava, a duras penas, criar em Florianópolis um movimento artístico fora dos grandes centros do País, dentre eles Meyer Filho, que desenvolveu sua formação autodidata e colaborou com ilustrações para revista Sul. A lenta consolidação do movimento pode ser verificada no fato de que somente em 1958 foi inaugurada uma exposição de um artista catarinense no Museu, sendo esta de Meyer Filho. O artista impulsionou a renovação, tanto como ativador cultural como por sua produção inovadora e ousada, dentro de um ambiente de modernidade moderna tardia, onde era lenta a absorção do movimento. Bastante elogiado por seu trabalho, Meyer Filho era criticado pela sua inconstância e por seu comportamento que fugia aos padrões conservadores locais. O desenho enquanto categoria artística assumiu na Arte Moderna um protagonismo que não detinha no mundo acadêmico, deixando de ser um mero espaço de apontamentos e estudos para se constituir em obra em si mesmo. No caso de Meyer Filho, o desenho tem importância fundamental, uma vez que, como funcionário do Banco do Brasil, não dispunha

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de tempo integral para sua atividade criadora. Assim, ele encontra nessa prática um meio rápido e de fácil transporte para apontar suas ideias e desenvolver suas proposições. Os seus desenhos devem ser percebidos como espaços de expressão mais livres e espontâneos, ao mesmo tempo mais singelos e desprovidos de aprimoramento e finalizações. Os desenhos desempenharam importante papel no desenvolvimento de sua pesquisa artística em busca de um repertório imagético, ao mesmo tempo pessoal e articulado aos mitos e tradições de sua realidade vivencial. Na análise de seus desenhos iniciais, dos anos 50, momento de sua primeira exposição individual, observa-se que ele se identifica com a simplificação das linhas e com os temas regionais típicos do modernismo, focando seu interesse no folclore da ilha e em seus tipos populares. Data dessa época aquele que ele mesmo denomina o seu “primeiro desenho surrealista”, desmontando uma identificação consciente da arte moderna que pouca repercussão encontrou no meio artístico brasileiro, o que demonstra uma opção singular de Meyer Filho, fugindo às tendências dominantes. Nesses trabalhos, registram-se momentos bastante informais, com apontamentos e observações pessoais, onde se tornaram centrais em sua trajetória como, por exemplo, figuras com furos, que remetem a estilemas surrealistas, bem como unicórneos e outros elementos de um imaginário onírico. A partir dos anos 70, o desenho a nanquim, de dimensões um pouco maiores, tornou-se o espaço de consolidação de sua poética pessoal. São apontamentos que se desdobravam como centro da sua estética, linhas e composições que a pintura em cores viria somente complementar. Meyer Filho ligou-se definitivamente à vertente surrealista, nutrida pela literatura fantástica e pela arte bruta, dando continuidade à sua produção calcada em temáticas fabulosas, que remetem a mitos de diferentes origens. Suas obras misturam fantasia e realidade em um fabulária que o artista cria de forma inventiva e com muitos detalhes. Um universo particular, em que as imagens se repetem e se transformam, dispersam-se e multiplicam-se. Seus relatos vinsuais fazem-se pela interconexão entre as diferentes unidades de uma série, suas cenas não se passam em um tempo lógico, sucessivo e linear, mas cada momento contém os anteriores,cada desenho é parte de uma totalidade. A conti-

nuidade firme da linha do desenho integra formas e tempos variados, orientando a compreensão de seus elementos visuais, aparentemente descontínuos e heterogêneos. A sistemática do desenho em séries, com temas e soluções formais recorrentes, evidencia também a sua gênese. Os desdobramentos de tempos e de acontecimento de uma narrativa em tempo presente. A composição adotada revela-se, na maioria das vezes, tradicional e equilibrada, onde a complexidade da imagem é integrada por um desenho forte que estabelece os inúmeros detalhes que constroem a narrativa. A linha nos seus desenhos é contínua e sinuosa, funcionando na definição das imagens e dos planos como elementos decisivo de formulação do espaço imagético. O compromisso formal emana dessa fluidez estruturada onde um inesperado encontro de ingenuidade e ousadia parece ser buscado pelo artista como marca de sua trajetória. É impossível deixar de observar a frequência de um imagético folclórico, peculiar a Florianópolis, aliado a uma forte vertente surrealista nas obras de Meyer Filho, que rebate em Flankiln Cascaes, Jarina Menezes, Eli Heil e, mais recentemente, em uma genealogia que articula o conjunto de obras a uma tradição. Assumir essa memória é reconhecer sia participação de forma individual e coletiva.


ENSAIO

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Detalhe Mané

Observando o tipo das casas de origem açorianas, nossa cidade apesar das demolições pelo avanço das construções modernas, se notam ainda as diversas características dessa influência das cidades portuguesas. É que, com a vinda dos casais açorianos a colonizar nosso litoral, o governo português determina a construção das povoações sempre dentro de um formato: praça central, tendo numa das faces da igreja e noutra a casa do governo; dessa praça, sairiam ruas paralelas com certo número de palmos para cada família. Os açorianos, chegando à Desterro em 1748, em levas sucessivas até 1756, localizaram-se aqui ou espalharam-se para Enseada de Brito, Laguna, São Miguel, São José, Sto. Antônio, Rio Tavares, Lagoa, Ribeirão, Canasvieiras, Trindade. A arquitetura açoriana em Florianópolis conseguiu introduzir detalhes dessa cultura rica e incrível, com sofisticação, guarda em um grande acervo ao ar livre, casarões e lugares históricos, podendo ser visto no cotidiano de quem mora na ilha, ou visita a cidade. O ensaio “ detalhe mané “ por Alexandre Wisintainer, vem mostrar de uma forma sutil essa arquitetura belíssima. O mesmo introduziu no coração da cidade, imagens profundas, e ricas de detalhismo, classificando a ideia que podemos apreciar aqui mesmo, um pouco do que encontramos no centro da cidade da capital de Santa Catarina. Confira a seguir, um pouco desse ensaio surpreendente.


ENSAIO

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ADEPÔSH

AGENDA DE JUNHO

PEDRO IVO - Teatro 01/06/2015 - 20h: Isso Não é Uma Ilusão

CIC - Teatro

05/06/2015 - 19h30min: Christian Brenner Jazz Quintet - TAC 7:30 - Jurerê Jazz Festival 07/06/2015 - 21h: Show Marco Audino

01 e 02/06/2015 – 21h: Eri Pinta Johnson Borda

08/06/2015 - 19h30min: Projeto Levando Minha Mãe ao Teatro

03/06/2015 – 20h: Egberto Gismonti e Osquestra a Base de Sopro de Curitiba

11/06/2015 - 19h30min: Projeto Levando Minha Mãe ao Teatro

06/06/2015 – 20h30min: Noite das Guitarras II - CIC 8:30 - Grandes Encontros

12/06/2015 - 19h30min: Moods Funk Jazz - TAC 7:30 Jurerê Jazz Festival

09/06/2015 – 21: Um Olhar para a Eternidade 10/06/2015 – 20h: Um Olhar para a Eternidade 12/06/2015 – 19h30: Associação Coral de Florianópolis - Projeto Levando Minha Mãe ao Teatro

TAC - Teatro

14/06/2015 - 20h: Projeto GRIOT 2014 – Balanço

16/06/2015 – 21h: Madeleine Peyroux - Jurerê Jazz Festival 18/06/2015 – 21h: Buena Vista Social Club - Adiós Tour - Jurerê Jazz Festival 19/06/2015 – 20h: Homenagem ao Sr. Brasiliano dos Santos 22/06/2015 – 21h: Camerata de Florianópolis 23 a 27/05/2015: 9º Festival Internacional de Teatro de Animação (FITA) 30/06/2015 – 20h: Cinema& audiovisual - UNISUL 31/06/2015 – 18h: Uma Amor de Renúncia

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19/06/2015 - 19h30min: Dona Maricotinha e seus Causos - TAC 7:30 20/06/2015 - 20h: Show com Juraildes da Cruz - Jóia do Serrado 22/06/2015 - 20h: Gruppo de Dança Folk - Circolo Trentino di Rodeio 26/06/2015 - 19h30min: A Jornada de Kim - TAC 7:30 - 9° FITA 23 a 30/06/2015 - 9° FITA – Festival Internacional de Teatro e Animação


no CIC, 30/06


ADEPÔSH

AGENDA DE JULHO CIC - Teatro

TAC - Teatro

01 e 02/07/2015 – 21h: Eri Pinta Johnson Borda

01 e 02/06/2015 – 21h: Eri Pinta Johnson Borda

03/07/2015 – 20h: Egberto Gismonti e Osquestra a Base de Sopro de Curitiba

03/07/2015 – 20h: Egberto Gismonti e Osquestra a Base de Sopro de Curitiba

06/07/2015 – 20h30min: Noite das Guitarras II - CIC 8:30 - Grandes Encontros

06/07/2015 – 20h30min: ABC Design 09/07/2015 – 21: Um Olhar para a Eternidade

09/07/2015 – 21: Um Olhar para a Eternidade 10/07/2015 – 20h: Um Olhar para a Eternidade 10/07/2015 – 20h: Um Olhar para a Eternidade 12/07/2015 – 19h30: Associação Coral de Florianópolis - Projeto Levando Minha Mãe ao Teatro 16/07/2015 – 21h: Madeleine Peyroux - Jurerê Jazz Festival 18/07/2015 – 21h: Buena Vista Social Club - Adiós Tour - Jurerê Jazz Festival

12/07/2015 – 19h30: Associação Coral de Florianópolis - Projeto Levando Minha Mãe ao Teatro 16/07/2015 – 21h: Madeleine Peyroux - Jurerê Jazz Festival 18/07/2015 – 21h: Buena Vista Social Club - Adiós Tour - Jurerê Jazz Festival 19/07/2015 – 20h: Homenagem ao Sr. Brasiliano dos

19/07/2015 – 20h: Homenagem ao Sr. Brasiliano dos Santos

22/07/2015 – 21h: Camerata de Florianópolis (9º Festival Internacional de Teatro)

25 e 26/07/2015 - 21h: Natiruts no Show #No Filter 30/07/2015 – 20h: Cinema& audiovisual - UNISUL 27/07/2015 - 19h e 21h30min: Across the Univer. 31/07/2015 – 18h: Uma Amor de Renúncia 30/07/2015 – 20h: Cinema& audiovisual - UNISUL

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PEDRO IVO - Teatro 02/07/2015 - 20h: Homem Torto, de Eduardo Fukushima

19/07/2015 - 21h: Chão de Giz | Zeca Baleiro canta Zé Ramalho

05 e 07/06/2015 - 21h: Show de humor com Tom Cavalcante

20/07/2015 - 21h: Gustavo Mendes - Um Show com Tudo Dentro

10/07/2015 - 20h30min: Pérolas Musicais homenagem a compositores brasileiros - CIC 8:30

21/07/2015 - 20h: Gustavo Mendes - Um Show com Tudo Dentro

14/07/2015 - 20h: Acústico Brognoli

23/07/2015 - 20h: Brazilian Clinic Tour 2015 Steve Vai

16/07/2015 - 21h: Polyphonia Khoros 15 Anos

27/07/2015 - 19h e 21h30min: Across the Universe.

18/07/2015 - 21h: Camerata Florianópolis


ADEPÔSH

AGENDA DE AGOSTO CIC - Teatro

TAC - Teatro

01 e 02/08/2015 – 21h: Eri Pinta Johnson Borda

01 e 02/08/2015 – 21h: Eri Pinta Johnson Borda

03/08/2015 – 20h: Egberto Gismonti e Osquestra a Base de Sopro de Curitiba

03/08/2015 – 20h: Egberto Gismonti e Osquestra a Base de Sopro de Curitiba

06/08/2015 – 20h30min: Noite das Guitarras II - CIC 8:30 - Grandes Encontros

06/08/2015 – 20h30min: ABC Design 09/08/2015 – 21: Um Olhar para a Eternidade

09/08/2015 – 21: Um Olhar para a Eternidade 10/08/2015 – 20h: Um Olhar para a Eternidade 10/08/2015 – 20h: Um Olhar para a Eternidade 12/08/2015 – 19h30: Associação Coral de Florianópolis - Projeto Levando Minha Mãe ao Teatro

12/08/2015 – 19h30: Associação Coral de Florianópolis - Projeto Levando Minha Mãe ao Teatro 16/08/2015 – 21h: Feira da esperança

16/08/2015 – 21h: Madeleine Peyroux - Jurerê Jazz Festival

18/08/2015 – 21h: Buena Vista Social Club - Adiós Tour - Jurerê Jazz Festival

18/08/2015 – 21h: Buena Vista Social Club - Adiós Tour - Jurerê Jazz Festival

19/08/2015 – 20h: Homenagem ao Sr. Brasiliano 22/08/2015 – 21h: Camerata de Florianópolis

19/08/2015 – 20h: Homenagem ao Sr. Brasiliano dos Santos

30/08/2015 – 20h: Dona Maricotinha

25 e 26/08/2015 - 21h: Natiruts no Show #No

31/08/2015 – 18h: Uma Amor de Renúncia

27/06/2015 - 19h e 21h30min: Across the Univer. 30/06/2015 – 20h: Cinema& audiovisual - UNISUL

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PEDRO IVO - Teatro

05 e 06/08/2015 - 21h: Show de humor com Tom Cavalcante

19/08/2015 - 21h: Chão de Giz | Zeca Baleiro canta Zé Ramalho

10/08/2015 - 20h30min: Pérolas Musicais homenagem a compositores brasileiros - CIC 8:30

20/08/2015 - 21h: Gustavo Mendes - Um Show com Tudo Dentro

14/08/2015 - 20h: Acústico Brognoli

21/08/2015 - 20h: Gustavo Mendes - Um Show com Tudo Dentro

16/08/2015 - 21h: Polyphonia Khoros 15 Anos 23/08/2015 - 20h: Brazilian Clinic Tour 2015 Steve Vai 18/08/2015 - 21h: Camerata Florianópolis 27/08/2015 - 19h e 21h30min: Across the Universe.


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CONTO

AO ENTARDECER

Maria de Lourdes Krieger

A chuva bate nas costas desnudas dos pescadores a puxarem os cabos da rede do arrastão. Alguns veranistas abrigam-se sob improvisados guarda-chuvas. As crianças entram no mar, cercam a rede e recolhem os peixes que escapam das malhas; misturam-se: crianças, peixes e água. Os pescadores andam de costas, em gritos e risos, num código só deles, corpo arcado para trás, calcanhares se firmando na areia, a cada passada. Ignoram o vozerio dos espectadores que se agrupam, em prévia disputa. - Me reserva uma pescadinha, Zé. - Que vier de lula eu fico. - Olhaí uma raia. Como dá raia, hein? Diz que tem quem come elas, que tu achas? A rede na beira da praia, o pedido: Pra trás, faz favor! Os pescadores se juntam, redobram esforços. O tropeço dos veranistas, a disputa pela minguada colheita, a bulha das crianças, recolhendo sardinhas que lhes escapam das mãos, o ploc-ploc dos peixes se debatendo na areia. - Não se esquece eu, Zé! - todos são Zé. Até Onofre,durante décadas de vigia de pesca - ele preferia olheiro, estava mais de ajuste com sua função-, o melhor das praias todas da ilha, é o que diziam. Ele não carecia subir no costão ou se esticar na ponta dos pés, largando os olhos inquietos pela extensão do mar, em busca das manchas reveladoras. Era na praia mesmo que ele ficava. Como se apreciasse a paisagem. E apreciava: a água além parecendo imóvel; próxima, em movimentos ondulantes, se espreguiçando na areia. O verde de uma ilha, de um costão, outras praias ao longe. Na contemplação amorosa, percebia mais rapidamente que qualquer outro um cardume, a sombra que o denunciava. Nos ranchos dos barcos, os pescadores, acocorados, aguardavam seu grito, numa conversa pontuada de silêncio. Precisavam ficar atentos: nunca sabiam quando o aviso chegaria. Se chegasse. Além disso, eles nem sempre tinham o quê ou o por quê conversar.

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Era o olheiro identificar a manta de peixes ao longe, lançar o aviso e o grupo de pescadores correr até os barcos já à espera, na beira do mar, para cercarem o cardume, com a rede que depois seria arrastada de volta à praia. Onofre não pode dizer que gosta das pequenas mudanças que o verão traz: turistas e alarido, corpos desnudos, costumes estranhos. Mas pressente que ainda vive um tempo bom. Seu amigo de nome estranho avisara sobre o que está por vir. Culpa do próprio homem, que derruba a mata, avança pelo mar com ganância, em seus barcos potentes. “ Veja os manguezais, verdadeiros criadores de peixes, onde eles desovam e se alimentam.” Os manguezais estão aterrados. Cada dia mais. Seu amigo aparecia de repente, folhas de papel e lápis numa pasta de couro, ouvido atento e mão incansável. As pessoas falavam do que sabiam, tinham visto ou ouvido; conversas antigas de feitiços e festas, das andanças de bruxas, ah, quantas bruxas! Em arrancos de medo, histórias fantásticas surgiam, juradas como verdade, garantidas pelo testemunho do narrador. Aconteceu comigo…Foi com meu pai…O amigo ajeitava os óculos, fazia perguntas, anotações. Com ele Onofre aprendeu sobre o mar e o mundo. A valorizar o chão de onde brota o garapuvu, que oferece beleza - e utilidade, nos barcos que não afundam. A lutar para que o passado permaneça na memória dos jovens; para que a ilha não se torne “ embruxada pelo capitalismo e pelos gananciosos”. - É uma forma de tornar bom o tempo em que vive. - Zé, me arruma um grande, pro jantar da família. - Olha, com o cação eu fico. A gurizada gosta… Os pedidos se confundindo, o vozerio aumentando, a chuva caindo. A miudeza: arraias, baiacus (Olha lá, pega um baiacu pra gente brincar!), alguém descobre um polvo. - Mãe, polvo pensa? Se pensa, tá pensando como

veio parar aqui, hein, mãe? Todo cheio de pernas, enrolado na rede…. - Seu Zé, pega aquele peixe? Não, o outro, isso…. Eu güento ele e você faz o preço. - Tem peixe maior, não? - Quanta lula! Meu irmão gosta de lula. Foi-se embora ele, senão até que eu levava. O pessoal pedindo, regateando, as crianças brincando. O vento juntando-se à chuva. Então retornam os veranistas, apressados, a suas casas. Ficam os pescadores, agora dividindo o lucro, as sobras, ajeitando os pertences. Onofre ajuda a enrolar os cabos da rede. Pensa no amigo, que uma vez se misturou a eles, tentando puxar a rede. Riram de seus esforços: faltava prática, ele entendia mesmo era de conversas bruxólicas. Escureceu. Tudo ajeitado, os pescadores se afastam. O vigia de pesca se detém um pouco, a olhar em volta, como à procura do amigo. Julga a ver, no mar, Maria da Terra Firme metamorfoseada em bruxa, “de vela alçada aos ventos”, dentor do sapato esquerdo de Sabiano - Uma das tantas histórias que aprendeu com ele. Onofre procura visualizá-las, como forma de conservar perto de si o amigo, que nunca mais encontrará. Pensa que, se ele acompanha os arrastões, com o pouco que a rede entrega, depois de tanta luta dos pescadores - luta que ele bem conhece, pois foram pescadores seus próprios antepassados - estará murmurando: Vejam os manguezais… Uma, entre tantas causas que ele apontava, para o esvaziamento do mar. Alguém ouviu? O olheiro sorri. Quê! Seu amigo Franklin deve é estar contando suas histórias fantásticas para aquela a quem rendia homenagens: Nossa Senhora do Desterro. A chuva passou. Onofre se apressa, ao encontro dos companheiro. Desapareceram todos, na escuridão da praia. Agora, há somente o vento. Na areia, baiacus estourados, águas-vivas e algumas sardinhas esperam a maré cheia.


EXTRAS

JOGO DO MANÉ

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1- “ o significado de bucica” quer dizer ... - sapo - menina - cadela - bicho berno

4- Não intizica, significa ... - não fique triste - não incomoda - não dance - não escove os dentes

2- Quando te chamam de “coxa colada” querem dizer... - ... não consegues fugir do perigo. - ... só fala mal dos outros. - ... é um boca mole, mesmo. - ... perdeu no futebol da fima

5- quando falam “ mofax com a pomba na balaia” significa que ... - pegasse várias pássaros e levasse no cesto. - vais ficar esperando, e nada vai acontecer. - vais sair pra olhar os pombos na praça XV. - vais ganhar dinheiro vendendo qualquer coisa.

3- O cara te fez um grande favor, vais agradecer dizendo ... - és um istepô! - és um escangalhado! - és um monstro! - és um boca mole!

6- a expressão mais usada pra indicar onde é o local ... - segue ali na frente querido - segue que tem um lugar bem legal ax direita - segue toda vida reto - fica aqui esperando istopô


COCOROESTE RETOTODAVIDA LAMBUJA ÓLHÓLHÓ ÉSMAIÓ

BERNUÇA ESPECIALI LOROTA PEIXE LADINO INTIZICA

GAVIOTA BUCICA IXPÍA ISTÔPO DIJAÔGE


Vocabularí

Si quéx, quéx. Si não quéx, dix! Uma expressão que pode ser ouvida frequentemente. Ela é muito usada para aquele momento em que uma pessoa está indecisa, não sabe o que quer ou qual decisão tomar. O bom mané, querendo logo uma decisão - ou mesmo só para chamar atenção do “istepô” indeciso, logo fala: “Si quéx, quéx. Si não quéx, dix!” Ou seja, se você quer, tudo bem. Agora, se você não quer, avisa logo, ô!

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