[Portuguese] TFG - Cartazes da exposição "O Neues Bauen e a habitação social" / Exhibition posters

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o neues bauen e a habitação social O tema e a exposição

O movimento Neues Bauen (literalmente "Novo Construir", frequentemente traduzido como "Nova Arquitetura") caracterizou tanto um período quanto um desdobramento específico da arquitetura moderna alemã. Símbolo da República de Weimar (1918 1933), destoava fortemente de qualquer outra corrente do modernismo, por propôr uma completa ruptura em relação ao passado e não somente uma reinvenção sua,

2012, durante um intercâmbio com a Universidade de Stuttgart, comecei a pesquisar o Neues Bauen e, principalmente, os conjuntos habitacionais (Siedlungen), tidos como um dos principais símbolos da República de Weimar. O contraste do novo estilo com o que se vinha produzindo até então foi muito maior e mais impactante

na habitação e, pela primeira vez, ela começou a ser produzida em grande escala e expressando-se de uma maneira radical tanto na sua forma quanto na sua ideolo- através do financiamento público Entre 2012 e 2013, fotografei algumas obras do gia. A busca por um estilo internacional ou pelo que se convencionou a chamar "es- Neues Bauen e, em uma viagem de estudos entre o TFG I e o TFG II (fev. e mar. de tilo Bauhaus", que tanto marca o movimento, não é exclusiva ao caso alemão, po- 2014), com um objeto de estudo mais definido, fotografei diversos conjuntos, focandendo ser observada em países como França e Holanda. Mas as dimensões que o novo estilo tomou na Alemanha foram muito maiores e deveram-se, sobretudo, à politização do debate arquitetônico, que envolveu a sociedade de um modo mais abrangente.

do nos casos de Frankfurt e Berlim, cidades em que a habitação social no novo estilo se deu em larga escala. A análise dos conjuntos aqui apresentados é o foco desta exposição e consiste em: 1. identificá-los na cidade e no bairro, ressaltando a sua relação com a mancha urbana e o sistema de transporte; 2. identificar o conjunto e seu desenho urbano, além de possíveis equipamentos; 3. fotografar os prédios, separando-os em grupos distintos se necessário (fases de construção, arqui-

A ideia de uma exposição relacionada à habitação social no Neues Bauen surgiu da vontade de trazer o tema, ainda que de uma forma reduzida e sob um olhar espe- tetos, tipos de moradia, modo construtivo etc.); 4. indicar as fotos e plantas na imcífico, para a FAU, uma vez que uma literatura sobre o assunto praticamente inexis- plantação do conjunto, de modo que o espectador possa realizar uma espécie de te no Brasil. A intenção inicial era realizá-la no piso do museu, porém, devido às passeio por eles. Vale notar que apenas um dos conjuntos analisados, Falkenberg, condições atuais do prédio, esse espaço precisou ser repensado. Assim, a FAU foi construído antes da 1ª Guerra e, embora adiante alguns aspectos da arquitetura Maranhão gentilmente cedeu espaço para um trabalho final de graduação. Em habitacional do Neues Bauen, é colocado aqui como uma forma de comparação. As origens do estilo 2 revoluções estilísticas nas artes e na arquitetura alemãs no início do século XX

Casa de Peter Behrens, importante arquiteto e designer do modernismo alemão. Nota-se uma supressão da ornamentação, mas não uma ruptura com o passado (Künstler Kolonie, Darmstadt, 1901.).

pré-guerra: tentativas de ruptura com o ecletismo rebuscado produzido no século XIX; busca por uma simplificação das formas, mas sem necessariamente romper com as tradições e o historicismo; diversas correntes; pós-guerra: destaca-se o movimento liderado por Gropius, em direção ao international style; tentativas de completa ruptura com o passado;

Prédio da Secessão Vienense (1898), de Joseph Maria Olbrich, um dos líderes do Jugendstil, considerado o "Gustav Klimt da arqutietura".

Fábrica Fagus (Alfed an der Leine, 1911 - 1913). Adolf Meyer e Walter Gropius. Considerada uma das poucas obras do pré-guerra que de fato anteciparam o estilo do Neues Bauen.

tfg| bruna limoli silva | orientador: prof. renato cymbalista | junho 2014

Influências do movimento holandês De Stijl, principalmente na composição dos planos e cores. Acima, à esq, cadeira vermelho-azul de Gerrit Rietveld (1918/23). Acima, à dir, Composição VII, de Theo van Doesburg (1918). Abaixo, centro comercial e restaurante-café de van Doesburg e Cor Eesteren (1924).


1º pavimento

térreo

Acima, à esq. Moradia no porão de uma Mietskaserne. Sorauer Straße, Berlim, 1908. Acima, à dir. Planta de um pavimento de uma Mietskaserne em Berlim. Cada cor representa uma unidade habitacional, geralmente com apenas um cômodo (excluindo cozinha etoillette). À esq., diversas Mietskasernen em Berlim. 1900.

Plantas e foto da casa para trabalhadores da Firma Opel. Modelo para a exposição Hessische Landesausstellung für freie und angewandte Kunst. Joseph Maria Olbrich. Mathildenhöhe, Darmstadt, 1908.

Desde a metade do século XIX, com a explosão demográfica decorrente da Revolução Industrial tardia na Alemanha, a maior parte da população das grandes cidades vinha se aglomerando nas regiões centrais em espécies de cortiços (Mietskasernen - casebres de aluguel). Algumas poucas tentativas de proporcionar melhores condições de vida foram tomadas (sobretudo por cooperativas), mas somente após a guerra, quando o setor imobiliário faliu, é que a habitação social ganhou força, pelo novo governo (República de Weimar).

Da esq. para a dir.: Siedlung Georgsgarten, 1925; Siedlung Italienischer Garten, 1924, considerada o primeiro conjunto habitacional do Neues Bauen; Siedlung Blumläger Feld, 1925. Otto Haesler, o primeiro arquiteto radical empregado pela municipalidade na Alemanha, na cidade de Celle.

Embora a Bauhaus não tenha uma relação muito direta com a produção da habitação social em larga escala, ela desempenhou um papel muito importante por dois motivos: 1. fundada em 1919, a escola foi o primeiro patrocínio do Estado ao novo estilo, o que viria a ser, mais tarde, quando a economia se estabilizou e a construção foi retomada, uma das principais características desses conjuntos habitacionais; 2. o seu experimentalismo com volumes cúbicos e simples, organizados de um modo inovador, que influenciou bastante a habitação social (ainda que muitas vezes não tão radicalmente), gerou uma enorme controvérsia na conservadora cidade de Weimar, tanto pelo ensino de arquitetura quanto por duas exposições (um modelo de um conjunto habitacional e uma casa experimental). Se, por um lado, a polêmica expulsou a escola para Dessau, por outro, chamou atenção do resto da Alemanha e da Europa para o seu estilo

Acima, maquete de Gropius e seus estudantes para a exposição de1922, que, acusada de "não-germânica", gerou uma enorme polêmica em Weimar.

Acima, entrada da casa Moholy-Nagy (uma das casas para professores - Meisterhäuser). Dessau, Fevereiro/2014. Abaixo, conjunto habitacional Törten (1926-1928), coordenado por Gropius, durante a sua direção da Bauhaus. Dessau, 1929.

Ao lado, vista para a ala da escola técnica em primeiro plano e de oficinas ao fundo. Dessau, Fevereiro/2014.

À esq., foto e planta da casa experimental para a exposição de 1923. Projetada por George Muche e seus alunos. Haus am Horn, Weimar. Acima, estudo de volumes cúbicos de Gropius. 1922,


a importância dos experimentalismos do deutscher werkbund

Weißenhofsiedlung (1927).

Se, por um lado, a Bauhaus foi um indício de uma certa preferência do governo da República de Weimar pelo novo estilo, o Deutscher Werkbund, grupo fundado em 1907 por arquitetos, artistas e industriais, tornou-se muito importante ao incentivar o Neues Bauen em meados dos anos 20, através de, sobretudo, exposições e publicações. Dentre as exposições, destacam-se os modelos conjuntos habitacionais construídos tanto na Alemanha, quanto em outros países. O mais famoso e influente deles foi o conjunto de Weißenhof (Stuttgart, 1927), em que arquitetos de renome na época, como Gropius, Mies van der Rohe, Le Corbusier, J. J. P. Oud participaram e construíram habitações inovadoras, tanto nos edifícios em si quanto na sua organização espacial interna e no seu mobiliário. Menos influentes e famosos, mas não menos interessantes, outros conjuntos foram construídos pelo Werkbund em cidades como Brno (1928), Breslávia (1929), Viena (1932) e Praga (1932). Maquete do conjunto

5 casas geminadas de J. J. P. Oud

3 casas geminadas de Mart Stam

Maquete do conjunto Nový Dum (Nova casa). Brno, República Tcheca. 1928. o

Maquete do conjunto WuWa (Wohnung und Werkraum - Moradia e espaço de trabalho). Breslávia, Polônia. 1929. Le Corbusier. À esq., casa geminada (Doppelhaus) e móveis embutidos em seu interior. À dir., casa unifamiliar. Aplicação dos cinco pontos da Nova Arquitetura.

Werkbund de Viena: à esq., edifício de André Lurçat; à dir., edifício de Gerrit Rietveld. 1932.

Mies van der Rohe. Edifício multifamiliar em estrutura metálica. Plantas flexíveis. Conjunto Baba (Výstavní kolonie na Babe - conjunto de exposição Baba). Praga, República Tcheca. 1932.

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o caso de frankfurt Frankfurt foi a primeira cidade alemã em que o programa de habitação deu-se em larga escala e a única em que todo tipo de construção financiada pelo governo foi projetada por arquitetos radicais, que não encontraram uma resistência expressiva. A cidade já possuía tradição em planejamento urbano e leis de expropriação que permitiam a aquisição de terrenos para parques e habitações, além das sociedades de construção mais progressistas. Em 1925, Ernst May, arquiteto adepto do Neues Baues, foi escolhido pelo prefeito para coordenar o recém-criado departamento de construção (Dezernent für Bauwesen) e uma grande equipe de arquitetos. O escritório possuía uma grande liberdade de projeto, o escritório de May era responsável pelos pedidos de empréstimos federais e municipais para a construção. Mas a sua realização mais importante foi o programa Das Neue Frankfurt (1926 - 1930), que se responsabilizou por todas as áreas da construção pública, foi a construção de conjuntos habitacionais. Através do uso do novo estilo na arquitetura e no urbanismo, o programa buscou expressar uma "nova e definitiva metrópole cultural", atuando de maneira unificada em diversas escalas, desde os móveis e utensílios domésticos até planos de expansão urbana. Para promover as novas ideias do programa Das Neue Frankfurt, o escritório também editou diversos números do periódico de mesmo nome e produziu quatro filmes mudos sobre os temas: a habitação mínima, a cozinha de Frankfurt, o Neues Bauen na cidade e a "fábrica de casas" do programa (uma indústria munipal de pré-fabricados). Desde os primeiros conjuntos habitacionais, apesar de serem pequenos, já se percebia uma completa ruptura com as formas tradicionais: o uso de cobertura plana, empenas lisas, cores chapadas, edifícios distribuídos ao longo do comprimento da rua etc. Também, desde o início, May deixou clara a sua vontade de criar comunidades com um certo caráter suburbano, reforçado pelo seu plano para a ex-

Mapa de Frankfurt com todas os conjuntos habitacionais previstos pelo programa Das Neue Frankfurt e mancha urbana em 1930.

pansão da cidade, em que havia uma sucessão de anéis, separados um dos outros por parques e áreas cultiváveis, projeto que não foi realizado na escala pretendida. Esse desejo provavelmente deriva de seu contato com o movimento cidade-jardim na Inglaterra, onde trabalhou com Raymond Unwin. Outros fatores reforçam esse aspecto suburbano da maioria das Siedlungen em Frankfurt: predominam os edifícios baixos acompanhados por grandes jardins, destinados ao cultivo de alimentos (o que é bastante compreensível, dada a situação precária do pósguerra), os terrenos localizam-se nos limites da cidade. Além disso, foram previstos diversos equipamentos dentro ou nos arredores dos conjuntos (escolas, lojas, consultórios etc.). Porém, apesar da sua inserção urbana periférica, diferentemente das ideias do movimento cidade-jardim, não havia, no caso de May, uma intenção de que esses conjuntos fossem organismos independentes da cidade e nem de que se colocassem como uma forma de repúdio à cidade grande industrial.

Ernst May. Representação esquemática do desenvolvimento do desenho dos conjuntos habitacionais modernos

Acima, Siedlung Römerstadt, vista a partir do vale do rio Nidda. Ao lado, uma das revistas Das Neue Frankfurt, na qual se lê: Das Neue Frankfurt - periódico mensal para os problemas da nova organização cultural (cinco anos de construção de moradias em Frankfurt am Main). Vale notar que a famosa fonte tipográfica Futura, desenvolvida neste programa, foi utilizada nesses periódicos, bem como em cartazes de exposições, números das casas etc.

Escola Ebelfeldschule, construída pelo Das Neue Frankfurt, vizinha ao conjunto Praunheim. Foi a primeira escola com planta livre e organizada em pavilhões. Foto de 1930.

Lavanderia coletiva na Siedlung Westhausen.

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Uso misto: habitação e comércio no conjunto


O sucesso do programa Das Neue Frankfurt e a diminuição do déficit habitacio-nal devem-se a uma série de fatores. Em 1925, foi feito um plano de 10 anos, que previa a construção de 1.200 unidades habitacionais por ano, tendo essa meta aumentado para 4.000 em 1928. Em cinco anos (1926 - 1930), foram construídas 12.000 unidades, o dobro da meta inicial, sendo que, nesse período, 10% da população total da cidade morava em algum dos conjuntos produzidos pelo programa. Uma das principais formas de obtenção de verbas deve-se a uma lei de 1924, que previa que 44% dos impostos relativos à habitação arrecadados fossem repassados para o programa. Além disso, para que os aluguéis pudessem ser pagos também pelas camadas mais pobres, regulamentou-se que eles não deveriam ultrapassar 25% da renda familiar. Uma das medidas para baratear a construção e tornar o valor do aluguel o mais baixo possível, foi o

incentivo o uso de pré-

fabricados, que eram produzidos por uma fábrica municipal criada para próprio progra-ma, a um preço abaixo do valor de mercado. Não menos importante foi a ideia de unidades mínimas de habitação, que foi, em 1929, tema do 2º Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (Die Wohnung für das Existenzminimum - A moradia para o mínimo da existência), sediado em Frankfurt. A compactação das unidades habitacionais talvez tenha sido o único ponto que gerou alguma controvérsia na mídia, principalmente na proposta de móveis embutidos, mas não muito expressiva. A minimização dos espaços deu-se sobretudo nas áreas íntimas, dando um certo privilégio à sala de estar, onde deveriam acontecer as atividades da família, em relação aos outros espaços. May e sua equipe não só se responsabilizaram pela produção de elementos construtivos préfabricados, como também pelo design de diversos móveis e utensílios, pensados para "encaixar" nesses espaços mínimos. O mais emblemático exemplo, projetado pela arquiteta austríaca Margarete Schütte-Lihotzky, é a cozinha de Frankfurt,

Acima, montagem de painéis pré-fabricados de concreto em estrutura metálica em um conjunto de Frankfurt. Ao lado, primeiras casas com painéis pré-fabricados de concreto no conjunto Praunheim. 1926.

colocada como um espaço de trabalho, que deveria ser otimizado através de um desenho racional: estudaram-se os movimentos da dona-de-casa, desde o preparo dos alimentos até a organização e a limpeza, criando-se uma lógica espacial, dinamizada pelos armários embutidos, que economizasse tempo e força.

Acima, mobiliário de Ferdinand Kramer. Ao lado, da esquerda para a direita: luminárias de Christian Dell ; camas embutidas em armário com sofá.

cozinha de frankfurt

cozinha tradicional

A cozinha de Frankfurt. Da esq. para a dir.: foto de uma cozinha de Frankfurt típica; planta com o posicionamento de todos os móveis e equipamentos (pia, fogão, armários diversos, tábua de passar roupa, trilho para luminária de correr etc.); comparação com uma cozinha tradicional e as movimentações entre cozinhar e servir os alimentos em ambos os casos; foto atual de uma variação (Casa Ernst May, Römerstadt, Frankfurt - Março/2014).

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praunheim (1926 - 1929) Construído em uma época de expansão de Frankfurt, o conjunto de 1,5 km de comprimento situa-se nos limites da cidade e foi o primeiro do programa municipal Das neue Frankfurt. Enquanto as unidades habitacionais das duas primeiras fases, construídas pela prefeitura, foram por ela vendidas através de financiamentos, as da 3ª e última fase, construídas por uma cooperativa, foram, em sua maioria, alugadas. Nota-se um certo caráter experimental, tanto nas variadas tipologias quanto no uso de painéis de concreto pré-fabricados. Com 18 trabalhadores, era possível se levantar uma casa em um dia e meio. Durante o 2º CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna), realizado em Frankfurt em 1929 e coordenado por Ernst May, Praunheim foi um exemplo prático do conceito de habitação social daquele momento. A unidade de habitação mínima, tema do congresso (Wohnung für das Existenzminimum), é

encontrada sobretudo nos edifícios da terceira fase. Diferentemente dos conjuntos berlinenses, apenas algumas casas e prédios são protegidos como patrimônio histórico, possuindo uma das fachadas mais alteradas dos conjuntos habitacionais de Frankfurt. As cores são aqui utilizadas no sentido inverso ao do Weiße Stadt e do Siemensstadt: as paredes são coloridas, geralmente em azul e vermelho, enquanto os caixilhos são brancos.

dados do projeto arquitetos: Ernst May, Herbert Boehm, Wolfgang Bangert, Emmil Kaufmann, Adolf Meyer, L. becker, Anton Brenner, C.H. Ruddlof proprietário na época: município de Frankfurt (1ª e 2ª fases), ABG (3º fase) unidades habitacionais:1441 construídas (1550 planejadas), de 2 a 4 dormitórios área: 34 ha

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trem metropolitano (S-Bahn

20 km )

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Bonde elétrico (Straßenbahn)

Frankfurt, com mancha urbana e rede de transportes atuais e conjunto destacado em vermelho

À esq., vista aérea, destacando o conjunto e seus edifícios. Fonte: Google, 2009. À dir., vista aérea, cartão postal de 1929. Fonte: beta.ernst-may.de

À esq., edifício de Anton Brenner, visto do fundo, 1930. No meio, rua Am Ebelfeld, 1930. Fonte: UNGERS, Liselotte. Die Suche nach einer neuen Wohnform. Siedlungen der 20. Jahren damals und heute. À dir.:casas com terraço, na rua Damaschkeanger, 1927. Fonte: DREYSSE, D.W. May-Siedlungen Architekturführer durch acht Siedlungen des Neuen Frankfurt 1926 - 1930.

7 9 8 muthesiusweg

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ludwig-landmann-straße

tipos de habitação

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heerstraße

unifamiliar, 2 ou 3 andares

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unifamiliar, 2 andares, pré-fabricada 2

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unifamiliar, 3 andares, dependência

r straße hkeange damasc

multifamiliar

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outros usos previstos comércio e serviços

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am ebelfeld

plantas: exemplos de tipologias

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fotos acervo pessoal (março/2014) 3ª fase

2ª fase

1ª fase

2ª fase

Implantação do conjunto (sobre base recente): fases de construção e tipos de habitação. Nota-se que uma grande parte das áreas não-construídas do interior conjunto foram loteadas (hoje encontram-se ocupadas com habitação e comércio).

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Casa construída com painéis pré-fabricados, 2 dormitórios (55 m²)

Corte mostrando o esquema de encaixe das unidades. Intercalandose as unidades, pôdese obter um pé-direito maior para a área social

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sala de estar +.18

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cozinha

corredor

corredor

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Planta flexível: as áreas reservadas para os dormitórios podem ser tanto integradas à sala de estar quanto fechadas. Apartamento de 55 m².

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sala de estar

cozinha

Apartamento com planta flexível: possiblidade de 1 ou 2 dormitórios (41,5 m²)

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römerstadt (1927 - 1928) Também com cerca de 1,5 km de comprimento, o conjunto de Römerstadt foi desenhado paralelamente ao rio Nidda. Ao sul, a fim de que todas as casas pudessem ter uma vista para o rio, pelo menos do último pavimento, e utilizandose da acidentada topografia do vale, uma boa parte do terreno foi aterrada, sendo sustentada por um muro de contenção de 3m de altura, que praticamente não pode ser visto do interior do conjunto. Assim, o que viesse a ser construído futuramente ao redor dele não obstruiria tal vista.

conjunto, no qual predominam as habitações unifamiliares, de 2 andares (unidades de 2 e 3 dormitórios). Todas as unidades habitacionais possuíam a cozinha de Frankfurt, além de fogão elétrico e água quente com aquecimento elétrico na cozinha e no banheiro. Na época, o conjunto era uma grande novidade e simbolizou a chegada dos hábitos americanos à Alemanha, sendo conhecido como "Römerstadt elétrico". Além das moradias, foram projetados 10 lojas, 1 escola popular (Volksschule) e um edifício misto (comércio, habitação e serviços).

Ao norte, encontra-se uma das duas vias principais, na qual concentra-se o transporte público, ligando o conjunto ao centro, a 9 km de distância. A outra avenida, no sentido norte-sul, divide o conjunto em duas partes (hoje é uma via expressa elevada). Nas duas vias, predominam os edifícios multifamiliares de 3 a 4 andares (unidades de 1 e 2 dormitórios), de modo a "proteger" o interior do

dados do projeto arquitetos: Ernst May, Herbert Boehm, Wolfgang Bangert, Albert Winter, Walter Schütte, Karl Blattner, Martin Eslaesser, C.H. Ruddlof, Gustav Schaupp, Franz Schuster proprietário na época: ABG unidades habitacionais: 1182 construídas (1220 planejadas), de 1 a 3 dormitórios área: 35,9 ha

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20 km

trem metropolitano (S-Bahn

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Bonde elétrico (Straßenbahn)

Frankfurt, com mancha urbana e rede de transportes atuais e conjunto destacado em vermelho

À esq., vista aérea, destacando o conjunto e seus edifícios. Fonte: Google, 2009 À dir., vista aérea, 1930. Fonte: beta.ernst-may.de

Acima, à esq., aquarela de Hermann Treuner, 1929. Fonte: beta.ernst-may.de Abaixo, à esq., fotografia colorida, 1928. Fonte: Gartenschönheit. Ao meio, vista da rua Im Heidelfeld, 1934. Fonte: DREYSSE, D.W. May-Siedlungen Architekturführer durch acht Siedlungen des Neuen Frankfurt 1926 - 1930. À dir., foto a partir do rio Nidda. Fonte: UNGERS, L. Die Suche nach einer neuen Wohnform - Siedlungen der 20. Jahren damals und heute.

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outros usos previstos

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in der römerstadt 10

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comércio e serviços 11

plantas e cortes: exemplos de tipologias

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fotos acervo pessoal (março/2014)

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Implantação do conjunto (sobre base recente)

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Apartamentos de 48 m², 1 dormitório. Edifício multifamiliar de 4 andares.

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circulação

habitação

consultório

Exemplo de uso misto. 2º andar do edifício na rua Hadrianstraße.

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Corte - casas unifamiliares na rua Im Burgerfeld

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westhausen (1929 - 1931) Último do programa Das Neue Frankfurt, Westhausen teve de ser construído com um orçamento limitado, por causa da crise de 1929. Mais denso do que os anteriores, o conjunto possui um desenho urbano rígido, adaptando-se pouco à topografia e formado por uma malha perpendicular, retilínea e simples, assemelhando-se à parte oeste de Praunheim. O seu interior foi desenhado com poucas e pequenas ruas, que não dão acesso direto às unidades, diferente dos outros conjuntos. Nele, predominam as calçadas, juntas aos jardins, estando as moradias inseridas em uma área verde e calma.

Para que as moradias custassem o mínimo possível, as plantas das unidades foram alteradas; dormitórios, cozinhas e, principalmente, banheiros foram reduzidos. As menores unidades (40m²) foram criticadas em diversos jornais e revistas. Outros, no entanto, elogiaram o projeto dos móveis embu-

tidos (não só na cozinha, mas também nos outros cômodos) e sua economia de espaço. Este conjunto trouxe duas lições importantes para a época: a primeira, de que a pré-fabricação e a racionalização do espaço reduzem os custos, tanto que 75% das unidades do conjunto foram alugadas por operários, enquanto nos outros conjuntos, essa taxa era menor; a segunda, de que a rigidez e a uniformidade do traço não necessariamente geram espaços monótonos.

dados do projeto arquitetos: Ernst May, Herbert Boehm, Wolfgang Bangert, Emmil Kaufmann, Adolf Meyer, Anton Brenner, Ferdinand Kramer, Eugen Blank, Max Bromme, L. Becker proprietário na época: ABG na 1ª fase e nassauische heimstätte na 2ª fase unidades habitacionais:1116 construídas (1532 planejadas), de 2 a 3 dormitórios área: 11,4 ha

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20 km

trem metropolitano (S-Bahn

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metrô (U-Bahn

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Bonde elétrico (Straßenbahn)

Frankfurt, com mancha urbana e rede de transportes atuais e conjunto destacado em vermelho

À esq., vista aérea, destacando o conjunto e seus edifícios. Fonte: Google, 2009 À dir., vista aérea de 1931. Fonte: UNGERS, L. Die Suche nach einer neuen Wohnform. Siedlungen der 20. Jahren damals und heute.

1 2 a

pré-fabricados

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multifamiliares 4 56

fases de construção 1ª fase 2ª fase b+c

outros usos previstos lavanderia coletiva central de aquecimento

Acima, vista para noroeste, 1931. No meio, edifício multifamiliar, vistos a partir da rua Zillestraße, 1930. Abaixo, foto de 1977, com casas para duas famílias, ainda conservadas. Fonte: UNGERS, L. Die Suche nach einer neuen Wohnform. Siedlungen der 20. Jahren damals und heute.

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plantas: exemplos de tipologias 9

fotos acervo pessoal (março/2014) N

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Implantação do conjunto (sobre base recente)


depósito depósito

quarto de secagem

banho e lavanderia

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unidade de 2 dormitórios em edifício multifamiliar (cerca de 48 m²)

térreo

1º andar

casa para 2 famílias em 3 pavimentos (cerca de 42 m² cada unidade, sem contar o porão, de uso compartilhado)

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c pavimento-tipo de edifício com unidades de 2 dormitórios (cerca de 48 m² cada, exceto a terceira unidade, da esquerda p/ a direita)

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o caso de berlim Berlim, um dos polos culturais mais ativos da Europa durante os anos 20, era o centro de novas tendências da arquitetura, possuindo a maior quantidade de exemplares do Neues Bauen. Estes eram geralmente patrocinados pelo setor privado, uma vez que a municipalidade, predominantemente convervadora, não incentivou o novo estilo. Diferentemente de Frankfurt, a construção de habitação social não se deu por agências públicas, mas sim por diversas cooperativas, sendo muitas delas simpatizantes da nova arquitetura e coordenadas por arquitetos radicais. Em 1924, diversas delas juntaram-se e fundaram a GEHAG (Gemeinnützige Heimstätten-, Spar- und Bau-Aktiengesellschaft), que se tornou responsável por 70% dos conjuntos habitacionais do Neues Bauen em Berlim. Fundada por Martin Wagner, a GEHAG nomeou o radical Bruno Taut diretor dos projetos. O déficit habitacional em Berlim era maior do que em qualquer outra cidade grande e, em 1927, quando Wagner torna-se diretor do departamento de construção e planejamento de Berlim, ele tenta iniciar o programa Das Neue Berlin, semelhante ao de Ernst May em Frankfurt. Porém, o programa berlinense não conseguiu ser tão abrangente e unificado, dada a complexidade da cidade e de sua administração pública. Dessa maneira, a habitação social continuou a ser realizada majoritariamente pelas sociedades cooperativas de construção. Mapa de Berlim somente com as Siedlungen analisadas, todas patrimônios culturais da humanidade pela UNESCO desde 2008. Mancha urbana e rede de transporte atuais.

construção entre 1924 - 1931: 146.000 unidades habitacionais, sendo que metade delas estava distribuída em 17 grandes conjuntos habitacionais (média de 4.000 unidades cada) déficit habitacional: 1920 - 130.000 moradias 1929 - 200.000 moradias

Acima, média do número de pessoas em cada casa em diferentes grandes cidades: "Em cada casa moram em média: Haia - 6 pessoas Londres - 8 pessoas Nova Iorque - 20 pessoas Viena - 50 pessoas Berlim - 76 pessoas"

nº de habitantes 4.500.000 4.000.000 3.500.000 3.000.000 2.500.000 2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000

À dir., gráfico do crescimente populacional desde o século XVII em Berlim.

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2000 ano

Cartaz da sociedade de construção GAGFAH para a inauguração da Siedlung Fischtalgrund. Exposição construir e morar (Ausstellung Bauen und Wohnen).

Bloco de edifícios de Bruno Taut para o conjunto Onkel Toms-Hütte, no sudoeste de Berlim.

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Certamente, o crescimento desenfreado de Berlim foi o principal motivo para o aumento do déficit habitacional, apesar do ritmo de construção relativamente intenso. Em 1929, Wagner propõe elevar a taxa de construção para 70.000 moradias ao ano. Porém, além do fato do programa municipal não ter conseguido se estruturar bem, a sua imensa burocracia para a aprovação de um projeto, o qual deveria passar por trinta instâncias, tornou-se um obstáculo à construção de habitação social. Se, por um lado, isso pode desacelerado o processo, por outro, também permitiu que aqui o novo estilo fosse melhor desenvolvido, devido sobretudo a quatro instâncias de fiscalização (Baupolizei) e a duas comissões de estética (Komission für Ästhetik). O fato do programa de May ter tido mais sucesso do que o de Wagner, no sentido de unificar a construção de habitação social, não significa que a a construção em si tenha tido uma qualidade inferior em Berlim. Um melhor desenvolvimento estético-formal do Neues Bauen na habitação social berlinense pode ser percebido principalmente nas fachadas dos edifícios, em que houve estudos mais elaborados. Já em relação aos aspectos urbanos, há poucas diferenças entre os casos. Em sua maioria, esses conjuntos foram construídos em bairros periféricos, embora, em Frankfurt, isso tenha sido deliberado pelo programa municipal de expansão urbana, enquanto, em Berlim, ficou a critério das sociedades de

Uso de pré-fabricados no conjunto Splanemann. Friederichsfelde, Berlim, 1926.

construção e das possibilidades da época. A busca pela criação de uma comunidade e uma vida coletiva se fez presente do mesmo modo. Diversos equipamentos coletivos foram igualmente previstos. O mesmo acontece com o método construtivo: embora não houvesse em Berlim uma indústria municipal voltada para a produção de pré-fabricados, eles foram utilizados da mesma maneira pelas sociedades de construção.

passar

secagem pré-lavagem

pré-lavagem sala de controle

Lavanderia coletiva do conjunto Siemensstadt. Ao lado, planta com as várias funções. Acima, entrega das roupas, em frente à entrada.

Acima, à dir. Reconstrução das cores originais das fachadas no conjunto Weißestadt. À esq. e abaixo, Siedlung Onkel-Toms-Hütte: combinações de cores de fachadas e entre portas e paredes.

Lavanderia coletiva do conjunto Siemensstadt. Sala de espera para crianças.

Lavanderia coletiva do conjunto Siemensstadt. Sala de controle e pesagem das roupas.

Restaurante-café da Siedlung OnkelToms-Hütte.

Interior de apartamento de Hans Scharoun no conjunto Siemensstadt.

Creche do conjunto Weiße Stadt.

Lavanderia e central de aquecimento do conjunto Weiße Stadt.

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falkenberg (1913 - 1916) Localizado à sudeste de Berlim, nos limites da cidade, Falkenberg foi construído antes da Primeira Guerra Mundial, num período em que o déficit habitacional já era grande, mas nem se comparava à situação de pós-guerra. O conjunto apresenta um número reduzido de habitações, predominando os tipos unifamiliares, os quais, juntamente com sua inserção em uma área distante da cidade e muito pouco densa, mostram a força que o movimento cidadejardim ainda possuía antes da guerra. Nesse caso, os estudos de Bruno Taut, que propõem o uso da cor como uma forma de substituir os ornamentos de uma arquitetura rebuscada e cara que se costumava produzir na época, atingem sua máxima expressão. Criando-se uma composição com cores intensas e através de sequências, assimetrias etc, o arquiteto constrói uma estética dinâmica, confrontando o aspecto cinzento da

cidade industrial. Cada habitação, unifamiliar ou coletiva, possui um jardim próprio, variando de 135 a 600m², originalmente projetados para o cultivo de alimentos para os próprios moradores e, em alguns casos, para a criação de animais de pequeno porte, evidenciando um aspecto rural. Todas essas características diferem muito da arquitetura pensada para a habitação social do pósguerra, mas, apesar disso, há dois aspectos fundamentais para o desenvolvimento de uma nova arquitetura: a recusa do ornamento e o financiamento através de cooperativas de construção.

dados do projeto arquitetos: Bruno Taut, Heinrich Tessenow proprietário na época: berliner spar- und bauverein unidades habitacionais: 148, das quais 80 são unifamiliares. área: 4,4 ha

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Acima, foto de 1913. Fonte: Technische Universität Cottbus À esq., vista aérea, indicando o conjunto e seus edifícios. Fonte: Google, 2009

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5 a 4 3 2 1 Acima, à esq.: casas com jardim escalonado, na rua Gartenstadtweg. Foto de 1915. Acima, à dir.: casas na rua Gartenstadtweg. Foto de 1913. Abaixo, à esq.: foto de 1915, Akazienhof. Abaixo, à dir.: foto de 1930, Akazienhof.

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Fonte: Berliner Bau- und Wohnungsgenossenschaft von 1892, Berlim.

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Implantação do conjunto

plantas: exemplos de tipologias

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ban. (1,5m x 2,2m)

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1º andar

Planta de uma casa de dois dormitórios na rua Gartenstadtweg. Além do térreo e do 1º andar, a casa ainda possui um porão, onde há depósito e uma área de serviço, e também um sótão, acessado pelo maior dos dois dormitórios.

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schillerpark (1924 - 1931) O primeiro projeto de Bruno Taut após a 1ª guerra já possui características bem diferentes do seu anterior Falkenberg. Devido a uma viagem de estudos à Holanda, realizada no início dos anos 20, a influência da arquitetura holandesa contemporânea, principalmente através de J. P. Oud, manifesta-se no conjunto Schillerpark não só nos aspectos estéticos e construtivos, mas também no seu desenho urbano.

caráter expressionista, combinado com a precisão da nova arquitetura.

É nova também a ideia de áreas verdes semi-públicas, em que os prédios delimitam pátios, que, ao mesmo tempo, podem ser acessados por qualquer pedestre e conferem um senso de coletividade e pertencimento aos moradores. As relações com o entorno também são outras: Taut cria um corredor verde que leva ao parque em frente, construído pela O conjunto possui apenas edifícios mul- própria comunidade entre 1909 e 1913 e tifamiliares, em que as cores foram considerado o primeiro parque público substituídas pelo uso de tijolos cerâmi- de Berlim. cos vermelhos, fachadas padronizadas, cobertura plana, etc. Antes acentuado pelas fortes cores e disposição dos edifícios, agora o jogo formal se dá dados do projeto através da disposição das varandas, ora arquitetos: Bruno Taut (reconstrução nos incrustradas na fachada, ora projetando- anos 50 por Max Taut e Hans Hoffmann) se para fora dela. Estas são sustentadas proprietário na época: berliner spar- und por pilares de concreto armado e apa- bauverein rente, que ultrapassam a altura do pavi- unidades habitacionais: 290 mento, conferindo aos edifícios um certo área: 4,6 ha

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Berlim, com mancha urbana e rede de transportes atuais e conjunto destacado em vermelho

À esq., vista aérea, destacando o conjunto e seus edifícios. Fonte: Google, 2009

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À dir., foto de 1925, Schillerpark. Fonte: Mitte Museum, Bezirksamt von Berlin

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complemento e restauro na década de 50 (Max Taut e Hans Hoffmann)

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Acima, 1ª fase de desenvolvimento, na Bristolstraße. Foto de 1929. Abaixo, 2ª fase de desenvolvimento, Corker Straße. Foto de 1930. Fonte: Akademie der Kunst Berlin

Implantação do conjunto

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Apartamento de 2 dormitórios (cerca de 75 m²)

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Apartamento de 1 dormitório (cerca de 56 m²)

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hufeisensiedlung (1925 - 1930) Situado no distrito periférico Neukölln, é o maior dos conjuntos, tendo gerado moradia para 5.000 pessoas. Na época do projeto, a cooperativa GEHAG perdeu uma boa parte do terreno a ela destinada para uma outra cooperativa, DeGeWo, com um estilo mais tradicionalista, após uma série de reivindicações por membros da ala conservadora do parlamento. Por isso, o conjunto está situado em duas áreas separadas. Os limites entre os dois conjuntos são visualmente claros, uma vez que se optou por um massivo e extenso edifício delineando a avenida que os separam (Fritz-Reuter-Alle), conhecido como Rote Front (frente vermelha), que foi intencionalmente projetado para marcar as diferenças entre eles. Taut volta a utilizar cores intensas e a criar jogos formais com assimetrias e dispondo algumas casas geminadas em "zigue-zague". Integrando à topografia local a arquitetura e incumbido de com-

binar habitações unifamiliares e multifamiliares, respectivamente no interior e no perímetro das quadras, o arquiteto criou uma paisagem urbana ímpar, reunindo elementos das cidades-jardins e dos espaços coletivos e funcionais da habitação social da época. Harmonicamente inseridos no projeto, espaços coletivos, como lavanderias, depósitos de lixo padronizados, parques infantis e até mesmo áreas específicas para a limpeza de tapetes, mostram o cuidado com as necessidades dos seus habitantes. dados do projeto arquitetos: Bruno Taut e Martin Wagner data de construção: 1925 - 1930 proprietário na época: GEHAG unidades habitacionais: 1960 unidades habitacionais, das quais 675 são unifamiliares; de 1 a 4 dormitórios área: 37,1 ha

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Berlim, com mancha urbana e rede de transportes atuais e conjunto destacado em vermelho

À esq., vista aérea atual, destacando o conjunto e seus edifícios. Fonte: Google, 2009 À dir., vista aérea, cartão postal de 1930. Fonte: www.neukoellner.net

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1ª fase (1925 - 1926) 2ª fase (1926 - 1927) 3ª fase (1927 - 1928)

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Acima, acesso ao edifício principal, 1928. Fonte: Akademie der Kunst, Berlin No meio, 2ª fase, praça e habitações unifamiliares. Abaixo, Parchimer Allee, vista para o leste. Ambas as fotos da década de 30. Fonte: Bauhaus Archiv

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fotos acervo pessoal (fevereiro/2013 e fevereiro/2014) Implantação do conjunto


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Unidade-padrão do edifício em forma de ferradura, com 2 dormitórios (60 m²)

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Unidade das extremidades do edifício em forma de ferradura, com 3 dormitórios (96 m²)

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Apartamento de 1 dormitório (49 m²), pertecente à "Frente Vermelha" (1ª/2ª fases)

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1º andar Casa de 3 dormitórios com cerca de 60 m² (1ª fase)

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Apartamento de 2 dormitórios, 3ª fase (63 m²)

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Apartamento de 1 dormitório, 6ª fase (50 m²)

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térreo Casa de 2 dormitórios, 6ª fase (65 m²)

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carl legien (1928 - 1930) Dentre os seis, o conjunto Carl Legien foi construído na área mais densa e central, em que a lógica das Mietskasernen era dominante. Como uma forma de combatê-la e superar o elevado preço dos terrenos nessa região, Bruno Taut e Franz Hillinger, diretor do escritório da GEHAG, propõem apenas edifícios de 4 e 5 pavimentos, de modo a adensar o conjunto. Diferentemente dos outros, o desenho urbano deste projeto já estava sugerido pelo plano de desenvolvimento urbano de Berlim de Hobrecht (séc. XIX).

varandas que ora se fundem às fachadas, ora se projetam além delas, etc. A sequência de jardins no interior dos edifícios em forma de U cria uma ligação entre os espaços do conjunto, que gera uma identidade, tanto quanto reforça o senso de coletividade, como se pode observar no caso do pátio Akazienhof, em Falkenberg. Apesar de sua riqueza ao sintetizar princípios dos três conjuntos anteriores de Taut, de suas inovações e de, assim como os outros conjuntos berlineses analisados, também estar na lista da UNESCO como patrimônio Combinando-se edifícios organizados em cultural da humanidade, há uma grande fileiras, contornando o perímetro das dificuldade em se encontrar imagens de quadras, com generosos jardins semi- projeto, sobretudo dos apartamentos. públicos, foi possível dar a sensação de se viver em uma área verde, mesmo no dados do projeto denso centro berlinense. Enquanto a arquitetos: Bruno Taut e Franz Hillinger utilização das cores como elemento proprietário na época da construção: fundamental da arquitetura lembra o GEHAG projeto de Britz, a influência da habitação unidades habitacionais: 1149, de 1 a 4 social holandesa lembra o Schillerpark: dormitórios (80% até 2 dormitórios) áreas verdes como pátios semi-abertos, área: 4,6 ha

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Bonde elétrico (Straßenbahn)

Berlim, com mancha urbana e rede de transportes atuais e conjunto destacado em vermelho

À esq., vista aérea destacando conjunto e seus edifícios. Fonte: Google, 2009 À dir., vista aérea, 1930 Fonte: GEHAG, Berlin

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Acima, fotografia colorida de 1932, pátio com central de aquecimento e lavanderia coletiva. Fonte: Keimsche Mineralfarben, Lohwald. Abaixo, à esq., o conjunto em 1932. Fonte: Landesbildstelle, Berlin. Abaixo, a dir., foto da década de 30, Erich-Weinert-Straße esquina com Gubitz Straße. Fonte: Bauhaus Archiv

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Apartamento de 1 dormitório (56 m²)

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Apartamento de 2 dormitórios (62 m²)

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weiße stadt (1929 - 1931) Localizado a noroeste de Berlim, a cerca de 8 km de distância do centro, o conjunto habitacional Weiße Stadt (cidade branca) foi projetado sob a supervisão de Martin Wagner, conselheiro de desenvolvimento urbano do município. Racional e econômico, o projeto visava à padronização dos apartamentos e ao uso de pré-fabricados. Os blocos de edifícios, em geral, estão organizados em fileiras ou contornam o perímetro das quadras, cujo desenho é de Otto Rudolf Salvisberg e cujo interior, permeado por áreas verdes coletivas, desenhadas por Ludwig Lesser.

cores vibrantes, criam um contraste, tornando a clareza formal de suas marcantes estruturas cúbicas uma característica do projeto. A quantidade de equipamentos projetados é impressionante para os padrões tanto daquela época quanto para os atuais: 23 lojas, distribuídas de maneira descentralizada e de acordo com a quantidade de habitantes, 1 consultório médico, 1 creche, 2 lavanderias coletivas e 1 central de aquecimento, a qual, juntamente com uma das lavanderias, foi demolida nos anos 60.

Todos os edifícios possuem cobertura plana e, em sua maioria, 3 andares. Predominam os apartamentos de 45 m² a 55 m², com 1 ou 2 dormitórios, constituindo cerca de 80% do total. Diferentemente dos projetos coordenados por Bruno Taut, a cor branca predomina nas fachadas, enquanto os detalhes (calhas, portas, caixilhos, beirais etc.), em

dados do projeto arquitetos: Otto Rudolf Salvisberg, Bruno Ahrends e Wilhem Büning proprietário na época: gemeinnützige heimstättengesellschaft primus mbh unidades habitacionais: 1268, de 1 a 3 dormitórios (80% até 2 dormitórios) área: 14,3 ha

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Berlim, com mancha urbana e rede de transportes atuais e conjunto destacado em vermelho

À dir., foto aérea de 1957. Notam-se os terrenos vazios no entorno e a preservação das chaminés de uma antiga fábrica. Fonte: Bauhaus Archiv. À esq., vista aérea, indicando os o conjunto e seus edifícios. Fonte: Google, 2009

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Acima, vista p/ o leste, 1930. No meio, jardins entre edifícios de Salvisberg, 1930. Abaixo à esq., cozinha de um dos apartamentos. Abaixo à dir., situação após a 2ª Guerra. Fonte: Bauhaus Archiv

Implantação do conjunto

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Cada pavimento possui 6 apartamentos. Os da ponta com 45m², possuem apenas um dormitório, enquanto as unidades do meio (4), de 55 m², possuem dois e uma sala de estar maior (Salvisberg).

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Casa para 3 famílias (Salvisberg).

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Apartamento de 2 dormitórios de Salvisberg.

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Apartamento de 2 dormitórios e ampla sala de Ahrends.

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48m² Apartamento de 2 dormitórios de Ahrends.

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siemensstadt (1929 - 1934) Construído simultaneamente ao vizinho Weisse Stadt, antecipa ainda mais o modelo de cidade moderna, arejada e permeada por áreas verdes, de certa forma prevendo a arquitetura habitacional após a 2ª Guerra Mundial. Também é conhecido como Ringsiedlung, uma vez que, com exceção de Henning e Forbat, todos os arquitetos envolvidos eram integrantes do grupo de vanguarda berlinense Der Ring, cujo principal objetivo era promover a nova arquitetura.

desenvolvendo aqui pela primeira vez seu Leitmotiv de vizinhança, relacionando os espaços em que as pessoas vivem e integrando dois terrenos separados pela linha do trem. As relações dos edifícios com as áreas verdes, além dos pátios verdes entre eles e jardins privados, são reforçadas por um parque aberto, criado entre as seções projetadas por Henning e Häring, através do qual diversos caminhos levam aos edifícios no entorno. A mistura de diferentes tipos de áreas verdes gera uma Encomendado por uma cooperativa mu- alternância de espaços públicos, seminicipal voltada para a habitação social, públicos e privados. cada um dos sete arquitetos projetou edifícios individualmente, resultando em dados de projeto uma grande variedade de estilos, do arquitetos: Hans Scharoun, Walter funcionalismo de Gropius, ao organicis- Gropius, Otto Bartning, Fred Forbat, Hugo mo de Häring, abrangendo praticamente Häring, Paul Henning todas as vertentes da Neues Bauen. proprietário na época: gemeinnützige Hans Scharoun, que havia recentemente heimstättengesellschaft primus mbh rompido com o racionalismo e cujo estilo unidades habitacionais: 1370, de 1 a 3 varia do expressionismo ao organicismo, dormitórios (90% até 2) área: 19,3 ha é o responsável pelo desenho urbano,

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À esq., vista aérea, destacando o conjunto e seus edifícios. Fonte: Google,2009

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À dir., vista aérea, 1930, com fábrica da Siemens em primeiro plano. Fonte: Landesarchiv Berlin

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Implantação do conjunto

À esq., acima, isometria de Häring, mostrando terraços na cobertura. À esq., no meio, edifício de Bartning e central de aquecimento ao fundo. À esq., abaixo, apartamento de Scharoun. À dir., em cima. Desenho para reconstituição das cores originais. À dir., abaixo. Reconstrução, anos 50. Fonte: Bauhaus Archiv

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outros usos

arquitetos Hans Scharoun

Fred Forbat

comércio e serviços

Otto Bartning

Paul Henning

lavanderia coletiva

Walter Gropius

Hans Scharoun (década de 50)

central de aquecimento

Hugo Häring

plantas: exemplos de tipologias

fotos acervo pessoal (fevereiro/2014)


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Apartamento de 2 dormitórios (66 m²), Hans Scharoun.

Apartamento de 2 dormitórios (63 m²), Hans Scharoun.

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Apartamento de 3 dormitórios (72 m²), Walter Gropius.

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Apartamento de 2 dormitórios (58 m²), Hugo Häring.

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Apartamento de 2 dormitórios (57,6 m²), Fred Forbat

Apartamento de 1 dormitório (45 m²), Otto Bartning

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Apartamento de 2 dormitórios (52 m²), Paul Henning

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Apartamento de 2 dormitórios (72 m²), Paul Henning

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