IMPERMANÊNCIAS: Ensaios de Urbanismo Tático no Centro de São Paulo

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2016

IMPERMANÊNCIAS

FAUUSP

ENSAIOS DE URBANISMO TÁTICO NO CENTRO DE SÃO PAULO

BRUNA SATO

TFG


Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Trabalho Final de Graduação Orientador: Prof. Dr. Eugênio Queiroga São Paulo. Novembro de 2016


AGRADECIMENTOS Ao professor Eugênio, pela dedicação e entusiasmo pelo meu trabalho. Por me fazer persistir no tema e ir mais a fundo, pela clareza, paciência e leveza com que conduzia nossas conversas de manhã. Elas fizeram toda a diferença no espírito de uma aluna ansiosa. Aos professores que compõem a banca, Luís Antônio Jorge e Sergio Sandler, que gentilmente aceitaram o convite e disponibilizaram seu tempo para ler meu trabalho. Às professoras Marta Bogéa e Karina Leitão, pelos encontros no começo dessa jornada quando ainda não sabia que caminho seguir, sendo imprescindíveis para que eu o encontrasse. À Isadora Marchi e Eduardo Pompeo por disponibilizarem de seu tempo para conversas e sanarem todas as minhas inúmeras dúvidas com muita paciência. Aos amigos que o intercâmbio em Londres me trouxe, que estavam presentes onde todo esse trabalho se iniciou, obrigada por terem feito daquela cidade cinzenta, um lar. Sinto saudades todo dia do 26, 27, 28, de nós e do melhor ano da minha vida. A todos os meus amigos da FAU, obrigada por todos os momentos, conversas, festas e perrengues que vou levar para sempre. Em especial a João Pedro Gozzo, que guardo com saudade em mim. A Alexandre Campaneli por toda a ajuda, apoio e conversas durantes todos esses anos de FAU. Aos que ajudaram diretamente nesse trabalho, Tamires Lima e Patricia Tsunoushi, obrigada pelas importantes considerações e revisões,. Thiago Rocha Ribeiro, pela amizade e cuidado com o meu caderno, a quem devo incontáveis jantares e cervejas. À Ana Mamede, Bruna Dedini, Gabriela Piccinini e Gustavo Wierman, por serem a melhor família que poderia escolher. Desses anos de faculdade, a melhor parte foi ter conhecido e convivido com vocês. Nem imagino como poderia ser de outro jeito. À FAU, por me proporcionar os melhores 7 anos da minha vida, os melhores amigos, as melhores histórias, os melhores mentores e uma nova forma de ser. A minha família por todo apoio, amor e dedicação em sempre me fazer sentir como a típica caçula da família. Em especial, a minha incrível mãe, a quem dedico não só esse trabalho mas toda a minha vida, minha admiração, gratidão e amor. Obrigada por ser tudo.



SUMÁRIO p. 08

Introdução

p. 12

Motivação

p. 16

Urbanismo Tático

p. 22

Urbanismo Tático em São Paulo

p. 30

Diretrizes de uma Política Pública

p. 42

Ensaios Projetuais

p. 80

Considerações Finais

p. 82

Bibliografia



The Right to the City, 2008

David Harvey

The right to the city is far more than the individual liberty to access urban resources: it is a right to change ourselves by changing the city. It is, moreover, a common rather than an individual right since this transformation inevitably depends upon the exercise of a collective power to reshape the processes of urbanization. The freedom to make and remake our cities and ourselves is, I want to argue, one of the most precious yet most neglected of our human rights.


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INTRODUÇÃO

C

idades do mundo inteiro estão vivenciando uma nova dinâmica urbana, consequência de novas relações e comportamentos sociais da geração atual, os millennials, que, segundo sociólogos, apresentam uma postura imediatista e necessidade de compartilhar e adquirir informações de forma rápida e instantânea, possibilitada pelo acesso à tecnologia disponível. Nos espaços urbanos, os millennials passaram a protagonizar e agir na cidade, ao invés de esperar ações sancionadas e convencionais, de processos demorados, burocráticos e, muitas vezes, não atendendo as reais demandas do contexto urbano e dos cidadãos. Essa mudança comportamental explica o surgimento de inúmeras ações independentes de grupos, coletivos e cidadãos comuns que passaram a interferir na cidade, muitas delas provocando discussão e evidenciando problemas urbanos e sociais. Essa onda de “ativismo civil” e o surgimento de demandas de uma nova geração, provoca uma reflexão no campo da arquitetura e uma busca por caminhos para atender essas necessidades de forma rápida, eficaz e adequada à dinâmica social contemporânea. Novas formas de projetar e planejar vêm ganhando força nos últimos anos, evidenciando que a arquitetura não se resume apenas à edificações permanentes, se afastando do conceito convencional de uma arquitetura como espaço construído, de caráter monumental, localização fixa e longa duração. Uma arquitetura que vem provocando debates e reflexões sobre o modo como lidamos com a cidade e o seu planejamento, é rápida e fugaz: comércios pop-up, food trucks, parklets, parques pop-up, etc. Uma resposta apropriada para uma sociedade em constante fluxo como a que vivemos hoje. (Arieff, 2011)


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O espaço é a essência da arquitetura, no entanto, o espaço relacionado ao tempo é pouco explorado nesse campo, se levarmos esse fator em conta, podemos enxergar a arquitetura nas mais diversas formas que ela pode tomar, como algo flexível, que se adeque às mudanças e necessidades sociais e físicas de seu contexto, como parte de um processo e pesquisa, como solução à demandas emergenciais e como um catalisador de discussões urbanas e mobilizações comunitárias. Este Trabalho Final de Graduação tem como intuito explorar o projeto como experimento urbano, quase transformando a cidade em um laboratório. Transformações que começam em pequenas escalas, de comunidade, de bairro, quadra, rua, e de duração finita, provocando crescentes melhorias que vão gradualmente atingindo escalas maiores e contando com investimentos cada vez mais substanciais e projetos a longo prazo. Esse processo de experiência de projeto permite erros e que se teste conceitos antes de um comprometimento substancial no âmbito político e financeiro, além de ser uma forma mais eficaz de projeto participativo, pois começa na escala do pedestre, debaixo pra cima, facilitando a aproximação, apropriação e reconhecimento do espaço pelos próprios usuários, além de abrir uma canal para discussão, atraindo os cidadãos para o debate sobre os problemas da cidade. Nos últimos anos, vertentes informais de produção econômica e culturais vêm ressurgindo, principalmente em cidades globais dos Estados Unidos e Europa. Vendedores de rua têm sido cada vez mais tolerados e até mesmo englobados por políticas urbanas como parte de estratégias de desenvolvimento. Notase o surgimento cada vez mais crescente de apropriação temporária do espaço em muitas cidades do mundo, através de comércio pop-up, feiras orgânicas, feiras cíclicas associadas a feriados e eventos que exploram a cultura DIY (Do It Yourself),

aproximando os consumidores dos produtores e artesãos locais. (Glick, 2012) Na cidade de São Paulo já se nota a mesma tendência de usos temporários para impulsionar áreas subutilizadas, não só em projetos para ativação de espaços públicos, como é o caso do Centro Aberto, mas também em lotes privados que fazem uso dessa estratégia para atrair o interesse e a atenção de investidores e possíveis proprietários para futuros empreendimentos a serem construídos no local. O surgimento cada vez mais frequentes dessas práticas, deixa mais evidente o crescimento de uma cultura do efêmero, que também pode se tratar não apenas do espaço físico, mas também de uso, como é o caso do Minhocão e da Paulista Aberta. As políticas de fechamento dessas vias em determinados horários e dias da semana começaram como medidas temporárias, como um teste, no entanto, a grande adesão e aceitação da população fez com que se tornassem medidas permanentes nos dois casos. A via não sofreu nenhuma reforma, alteração ou investimento em novas infraestruturas, um simples bloqueio feito para a interdição de veículos motorizados transforma suas oito faixas em uma espécie de grande parque urbano de asfalto, onde acontecem as mais diversas atividades espontâneas. Este trabalho procura entender do que se trata essa nova estratégia de urbanismo através da leitura dos teóricos que abordam o assunto, dos agentes atuantes do urbanismo tático no mundo e dos exemplos de projetos já implementados e então, analisa como essa nova estratégia de planejamento urbano poderia se transformar em uma ferramenta de transformação na cidade de São Paulo, começando pelo Centro da cidade, mais especificamente, os distritos da Sé e República.



Small Change: About the Art of Practice and the Limits of Planning in Cities, 2004

Nabeel Hamdi

“[…] in order to do something big, to think globally and act globally, one starts with something small and one starts where it counts. Practice, then, is about making the ordinary special and the special more widely accessible – expanding the boundaries of understanding and possibility with vision and common sense. It is about building densely interconnected networks, crafting linkages between unlikely partners and organizations, and making plans without the usual preponderance of planning. It is about getting it right for now and at the same time being tactical and strategic about later. This is not about forecasting, nor about making decisions about the future. But it is about the long range, about making sure that one plus one equals two or three, about being politically connected and grounded, and about disturbing the order of things in the interests of change.”


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MOTIVAÇÃO

O

principal motivo que catalisou toda a inquietação em compreender a aplicação da dimensão tempo na prática arquitetônica e começar a pensar no projeto como parte de um processo, foram as experiências adquiridas durante o intercâmbio de um ano realizado em Londres, entre 2014 a 2015. Na disciplina de projeto da faculdade, apresentei uma proposta de uma estrutura DIY, completamente flexível e itinerante, que permitia a ocupação de vazios urbanos. No processo de pesquisa, me envolvi com estudos sobre estruturas e culturas nômades, tradicionais e urbanas, um campo, até então desconhecido por mim, de uma arquitetura não-permanente e não-monumental. Durante todos os anos de aprendizado na FAU USP, fui levada a construir uma idéia de que a arquitetura deveria durar muitos anos, tanto estruturalmente quanto seu uso e seu programa de edifício. A dinâmica do seu entorno ao longo do tempo ou a capacidade de flexibilidade do projeto era raramente foco de debate. Nas cidades européias é muito comum a presença de projetos que duram de acordo com a necessidade dos cidadãos, a mudança de estações ou eventos específicos. Por exemplo, no verão, em algumas cidades, são construídos bancos de areia, para que as pessoas aproveitem o sol, e durante o inverno, é fácil encontrar feiras de natal ou pistas de patinação que duram um certo período. Somado a essas reflexões e vivências urbanas, trabalhei no Sharat Ganapati (2012)

Entre os meses de julho e agosto, uma praia artificial é instalada na beira do Rio Sena todo ano em Paris, para que parisienses possam aproveitar o verão. Essa iniciativa ocorre desde 2002 pela Prefeitura da cidade. Algumas infraestruturas para o uso livre são fornecidas, bares, playgrounds, além de mobiliários como guarda-sóis, cadeiras e espreguiçadeiras.


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Pista de patinação no gelo do Hyde Park, Londres, 2014. Anualmente, uma feira de natal temporária é instalada em uma das maiores áreas verdes da cidade, funcionando entre os meses de novembro e janeiro.

Autor desconhecido

coletivo francês EXYZT, como estágio de verão. O principal manifesto do grupo consiste em agir em áreas residuais urbanas, lotes abandonados e, através da construção de um projeto temporário com técnicas e ideologias DIY, reaver o potencial de espaço de lazer, convívio e encontro dos bairros e devolvê-los à comunidade. Durantes os meses em que trabalhei com o coletivo, a metodologia de projeto era sempre pela prática, com o objetivo de experimentar e sanar todas as dúvidas de desenho e propostas através da sua execução real. O que me fez começar a pensar sobre arquitetura, sobre o espaço e a cidade com uma nova ótica e, através de pesquisas e aprofundamento sobre o tema, me deparei com uma nova tática de planejamento urbano aplicada em inúmeras cidades no mundo, apresentando resultados muito positivos, utilizando a lógica do efêmero, do projeto como processo e experimento, na escala da cidade, como parte de uma política pública de ações sancionadas temporárias, mas com foco em transformações permanentes.



My architectural philosophy? Bring the community into the process, 2014.

Alejandro Aravena

“Participatory design is not a hippie, romantic, let’s-all-dream-together-about- the-future-ofthe-city kind of thing. It is actually not even with the families trying to find the right answer. It is mainly trying to identify with precision what is the right question. There is nothing worse than answering well the wrong question. “

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URBANISMO TÁTICO

SURGIMENTO DE UMA ESTRATÉGIA URBANÍSTICA

A

s terminologias e os debates que envolvem o urbanismo tático são recentes, no entanto, não se trata de um fenômeno novo. A arquitetura temporária e portátil tem sido usada em inúmeros aspectos da atividade humana, como em atendimentos médicos, airstreams trailers e na habitação, desde as tendas Yurts dos povos nômades da Mongólia até as casas de papelão de Shigeru-Ban para vítimas de fenômenos naturais. No campo das artes podemos encontrar inúmeros exemplos de pavilhões de exposição e instalações artísticas temporárias, como o Serpentine Pavilion. (Rieff, 2011)

Apesar de terem se tornado mais populares ao longo dos últimos anos, a idéia dos comércios pop-up já existe há séculos. Os Bouquinistes, em Paris, começaram a praticar a venda não autorizada de livros ao longo do Rio Sena no início do século XVI, até os proprietários de grandes livrarias se mobilizarem para que a prática fosse proibida em 1649. A popularidade desses comerciantes era tão grande que a cidade se viu obrigada a voltar atrás na sua ação e permitir sua presença, porém sob a seguinte condição: cada, cada “loja” deveria se compactar em uma caixa no fim do dia. (Lydon. 2012) Esse tipo de comércio se mostrou tão característico para a cidade que sua relevância fez com que, em 1992, fossem considerados patrimônio mundial da UNESCO. Lydon considera o caso dos Bouquinistes na França, o exemplo de urbanismo tático mais demorado e bem-sucedido da história.

Serpentine Pavilion de 2016, Londres. Projetado por Bjarke Ingels Group. Takanobu Sakuma (1995)

Casas Paper Log para vítimas de terremoto, projeto de Shigeru Ban. Kobe, Japão.

Tenda Yurt, habitação típica dos povos nômades da Mongólia.

Alexander Podshivalov

Iwan Baan


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Em relação ao cenário contemporâneo, Bishop e Williams (2012, em Pfeifer, 2013, p. 17) destacam alguns fatores que aumentaram o interesse em relação aos usos temporários. Primeiramente, a crescente incerteza econômica, política e ambiental, em segundo, a desindustrialização das cidades, sobretudo nos países centrais do capitalismo, que levaram ao aumento de espaços vazios e tendências emergentes, trazendo novas abordagens na forma em como utilizamos o espaço. Tudo isso somado ao ritmo lento do planejamento urbano e à ineficiência burocrática, acaba por atingir a sociedade atual, - acostumada (graças ao desenvolvimento da tecnologia) com a rapidez, o imediatismo, facilidade de acesso a informações, relações e comunicações – provocando um desejo de agir por conta própria.

Entre 2008-2009, a Grande Recessão nos EUA motivou uma redução no ritmo de desenvolvimento urbano de grande escala, abrindo espaço para que uma grande gama de agentes pudesse participar na transformação da cidade através do recurso DIY. Movimentos independentes de ativismo como a Jardinagem de Guerrilha [1] e o Yarn Bombing [2], por exemplo, começaram a ganhar mais força e adeptos ao promoverem ações pontuais espalhadas pelas cidades através da jardinagem e da arte, respectivamente, intervindo diretamente no espaço e por conta própria. Outras iniciativas também surgiram, com destaque para o Park(ing) e o Build a Better Block, revelando uma tendência de organização e mobilização de pessoas que tinham o intuito de agir, provocando transformações na sua rua, quadra e bairro. Esses movimentos se proliferaram pelo mundo inteiro e inspiraram muitas outras iniciativas.

Eugène Atget

Em 2010, dois grupos de urbanistas nova-iorquinos publicaram uma espécie de Manual do Urbanismo Tático [3] , o material foi disponibilizado online e teve um altíssimo número de acessos, compartilhamentos e downloads – produzida pelo grupo Street Plans Collaborative em conjunto com Next Generation of New Urbanists, ou NextGen, como gostam de ser chamados -, nele há uma gama de exemplos de transformações urbanas por mobilização comunitária, a maioria situada nos EUA. O sucesso da primeira edição levou o grupo a publicar mais 3 manuais online e um livro sobre o tema. Bouquinistes, Place de la Bastille, Paris. 1910. Park(ing) Day, São Francisco, EUA. 2013.

Autor Desconhecido

Autor Desconhecido

Lorna Watt

Yarn Bombing em São Francisco, EUA. 2014.

Na primeira edição, Lydon esclarece a diferença entre DIY e Urbanismo Tático, pontua que nem todo urbanismo tático é DIY, e nem todo urbanismo DIY é tático. Urbanismo DIY é a expressão do indivíduo ou de um pequeno grupo de agentes, e nem sempre visa resultados de longo-prazo, o foco é comunicar uma mensagem política ou social. O urbanismo tático visa testar soluções temporárias com a intenção de provocar mudanças permanentes, além de muitas vezes contar com a iniciativa de órgãos públicos, planejadores urbanos, ONGs, entre outros. Definem Urbanismo Tático como:

Emanuele Rizo Guerrilla Gardening no Largo Podgora, Catania, Itália. 2015

Fase de aproximação que instiga mudanças

Oferta de idéias locais para desafios de planejamento locais

Comprometimento a curto-prazo e expectativas realistas

Baixo risco com a possibilidade de alta recompensa

Desenvolvimento de um capital social entre cidadãos e construção de uma capacidade organizacional entre instituições públicas, privadas, ONGs, e seus constituintes.

Praça construída pela iniciativa do grupo “Build a Better Block” em Akron, Ohio, EUA. 2015.

[1] Mais conhecido como Guerrilla Gardening, é um movimento de ativismo político onde jardineiros plantam em locais onde não possuem direito legal para utilização. Sua origem é motivo de debate, alguns defendem que remete ao século XVII, na Grã-Bretanha, quando os chamados “escavadores” lutavam pelo direito à terras cultiváveis. Outros dizem originou do movimento hippie nos anos 60. Algumas ações na história têm destaque, como em 1973, em Nova Iorque, a artista Liz Christy mobilizou amigos e vizinhos para um mutirão de limpeza de um lote abandonado, removendo o lixo e revitalizando o solo. Flores, árvores e uma horta foram cultivadas no local, assim como workshops de jardinagem foram promovidos. Através de uma petição pública à Prefeitura de Nova Iorque, Liz conseguiu que a área fosse reconhecida como jardim comunitário e assim, permanece até hoje. Disponível em < news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/scotland/8548005.stm >, acesso em 10/01/2016 [2] Yarn Bombing consiste em intervenções em locais públicos da cidade através do tricô, como forma de ativismo e reivindicação, personalizando espaços públicos estéreis e frios. Foi popularizado no século XXI com o grupo europeu Knit the City. Disponível em < lounge.obviousmag.org/sobre_lacos_/2013/10/yarn-bombing-a-nova-guerrilha-urbana.html >, acesso em 10/01/2016 [3] LYDON, Mike. Tactical Urbanism: Short-term action, long-term change. Nova Iorque. 2010.


18 URBANISMO TÁTICO

Ainda de acordo com Lydon (2012), a propagação do fenômeno do urbanismo DIY deu-se pela desaceleração do crescimento econômico norte americano que forçou cidadãos, órgãos públicos e urbanistas a protagonizarem na cidade, concentrando seus esforços em ações pequenas e eficazes. Tal momento econômico no país é, segundo o autor, um dos três fatores que contribuíram para a propagação de intervenções DIY. Os outros dois fatores são devidos a quantidade cada vez maior de pessoas – em especial, jovens e aposentados – habitando áreas não muito valorizadas, interessadas em promover melhorias em seus bairros, e a internet sendo usada como ferramenta para promover ações táticas, facilitando a publicação de manuais para pessoas se tornarem agentes em seu próprio bairro ou até mesmo para o alcance de financiamento para a realização de projetos. Alguns críticos possuem ressalvas quanto ao material publicado em NY, como o artigo, “The Interventionist’s Toolkit: 3”, de Mimi Zeiger. Segundo ela, as ideologias do NextGen [4] vêm sendo criticadas há anos por promover valores neo tradicionalistas e “greenfield development” [5], e questiona se não seria um caso de uma organização “velha” com o intuito de associar sua imagem a uma tendência progressiva de uma nova geração ou se é sinal de uma mudança real de valores pela presença de uma nova geração dentro da organização. Ainda reflete sobre a definição de urbanismo tático apresentada pela publicação, “Desenvolvimento de um capital social entre cidadãos e construção de uma capacidade organizacional entre instituições públicas, privadas, ONGs, e seus constituintes.” [6] essa relação entre público e privado, pode significar uma relação de benefício mútuo ou, para olhares mais radicais, a comercialização desse “novo urbanismo”.

URBANISMO TÁTICO HOJE Projetos de uso temporário encontram inúmeras barreiras para sua implementação, isso deve-se ao ultrapassado modelo de sistema de propriedade da terra, burocrático e inflexível. Németh e Langhorst (2013) acreditam que para facilitar a implementação de usos temporários de forma mais generalizada, devem ser revistos os recursos regulatórios do uso da terra para que o processo seja confortável para os proprietários, projetistas e órgãos públicos. Através dos meios tradicionais, esses projetos gastam tempo e dinheiro para serem aprovados por todas as etapas burocráticas, o que contraria a lógica básica das intervenções de uso temporário, rápidos resultados e baixos investimentos. Taylor e Silvia Lindtner (2014, em Smith, 2015, p. 619) sugerem que a prática DIY exista em uma relação parasita positiva com o Estado, “alterando o sistema por dentro, contribuindo para nosso entendimento da relação entre tecnologia, uso, produção, sociedade, ativismo e o Estado” (Lindtner, 2014, em Smith, 2015, p. 619, tradução própria).

Usos temporários têm a capacidade de expor conflitos existentes no local, sejam eles econômicos, sociais, ecológicos e culturais. Se forem bem-sucedidos, e durarem o suficiente a ponto da comunidade se apropriar do espaço, poderão motivar uma postura de resistência por parte dos usuários a quaisquer futuras incorporações no local, o que pode aumentar o receio de proprietários em permitir a implantação de projetos temporários. Em contraponto, os usos temporários podem gerar valorização de uma área rapidamente sem aquisição de terras, beneficiando incorporadoras e donos de lotes. (NEMETH e LANGHORST, 2013) Por sinal, esse é um dos pontos alvo de críticas do urbanismo DIY, pois se implantado sem um macro planejamento urbano a longo prazo, pode se tornar um dos principais agentes gentrificadores. A propagação da prática DIY, aumenta a preocupação por parte de urbanistas sobre aplicações amadoras, informais e sem foco sociopolítico. Alguns casos que se enquadram nesse perfil são os projetos de uso temporário financiados por certas empresas privadas que só visam a divulgação de sua marca e o benefício de sua imagem, promovendo intervenções apenas em áreas ricas, de interesse imobiliário ou aplicando intervenções de uso temporário de forma negligente. Outros teóricos são céticos em relação ao urbanismo DIY se tornar uma ferramenta do Estado. Para Finn (em Smith, 2015) essa associação pode prejudicar a capacidade de crítica e independência, além de se distanciar do seu caráter original rebelde, de guerrilha, ativista, mas, por outro lado, se o urbanismo DIY tem como objetivo manter a postura crítica em relação ao urbanismo tradicional do Estado, então sua existência é interdependente ao urbanismo que problematiza, o que torna a segregação da “pureza” das intervenções DIY do urbanismo tradicional, um problema insolúvel. Do ponto de vista como solução a curto-prazo, quase não há desvantagens sobre o uso efêmero, porém, na perspectiva dos grupos engajados nas atividades de ocupação temporária, há pouca segurança de investimento. Mesmo que o valor investido seja baixo, pode se tornar um problema político se a atividade deslocada é valorizada na comunidade do entorno da ocupação. Esse problema, contudo, pode ser resolvido com negociações e contratos, mas não deixa de ser uma barreira a mais para a implantação de projetos DIY. (Németh e Langhorst, 2013, p. 6) Zeiger acrescenta que o urbanismo DIY possui um apelo romântico e um senso de empoderamento na perspectiva de reconstruirmos a cidade por nós mesmos, no entanto, sua preocupação se volta em saber como qualificar intervenções temporárias e informais, considerando a ampla gama de diversidade apresentada pelo urbanismo DIY e, sob qual perspectiva. Seria estilo de vida ou ativismo? Acentua a necessidade de avaliarmos tanto as experiências que obtiveram sucesso quanto as que falharam, revelando-se superficiais, feias e caras. Para a autora, a avaliação está longe de ser neutra ou sistemática, mas inevitavelmente subjetiva e complicada, além disso, se trata de um movimento contemporâneo cujas consequências e resultados ainda estão por vir. Conclui que

[4] Next Generation of New Urbanists, fundado em 2004. [5] Projeto de desenvolvimento no território externo ao tecido urbano previamente existente [6] LYDON, Mike. Tactical Urbanism: Short-term action, long-term change. Nova Iorque. 2010. p. 01. (tradução própria)


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o sucesso do urbanismo tático acontecerá quando pudermos avaliar o movimento baseado no seu impacto na economia, mobilização comunitária, empreendedorismo, sustentabilidade e desenho. ESTRATÉGIA X TÁTICA O termo “tático” foi cuidadosamente escolhido para contrastar com o termo “estratégia”, fazendo-se uso da semântica dessas palavras através do entendimento do filósofo francês Michel de Certeau [7], primeiro a fazer a distinção entre os dois termos, ao qual argumenta que “estratégia é a ferramenta formal dos poderosos (governo), e tática se apresenta como a resposta do vulnerável (cidadãos)” (Lydon, 2012, p. 9, tradução própria) “Tática é, assim como ‘estratégia’, um termo de contexto militar que se refere a planejamento de batalha a curto prazo, em contraste ao planejamento a longo prazo, menos flexível. ‘Tática’ significa uma abordagem pela parte mais fraca. Não está na posição de ditar condições para um adversário, mas é compelido a tentar explorar relações para sua vantagem, se por à espera de uma oportunidade e explorá-la com flexibilidade e rapidez. Táticos têm de trabalhar em locais alheios. O equivalente de tática no planejamento urbano é o uso temporário.” [8] “Estratégia significa uma abordagem que emerge da mesa de planejamento, funciona a partir de uma situação de poder em posição para forçar seus oponentes a aceitar suas condições e ignorar as limitações impostas pelas circunstâncias. Estratégia planeja seu próprio espaço, que se trata de um espaço de autonomia, onde os objetos, soldados próprios e inimigos, podem ser manipulados à vontade. O equivalente de estratégia no planejamento urbano é o plano diretor.” [9]

De acordo com as definições, tática atua no cenário imposto a ela, fazendo parte de um quadro estratégico maior. Mas quem são os táticos? As guerrilhas são consideradas por Artl (2006) os táticos clássicos, pois se tratam de pessoas que operam no âmbito local e por isso, estão familiarizados com as condições da área de atuação. Os táticos sempre são associados à indivíduos subversivos, no entanto, é cada vez mais crescente a iniciativa de projetos temporários por organizações, comerciantes, artistas, empreendedores, arquitetos, designers, empresários, entre outros. A grande discussão rodeia sobre qual seria o papel do planejador urbano nesse processo, eles poderiam se tornar táticos? Artl (2006, citado por Pfeifer, 2013, p. 10) acredita que objetivos devem ser formulados e parcerias realizadas para a implementação de planejamento urbano tático com semelhantes, ou pelo menos compatíveis, metas. Sugerindo que planejadores podem ser considerados táticos e que tática e estratégia são apenas diferentes aspectos do mesmo processo (Pfeifer, 2013). Planos estratégicos maiores e consistentes podem ser úteis para a elaboração de um quadro maior dentro do qual, projetos táticos mais imediatos possam atuar com mais facilidade e de forma mais eficaz. Muitos planejadores incorporam projetos táticos a curto-prazo em estratégias maiores que planejam transformações a longo-prazo. (Pfeifer, 2013) Lydon (2011) defende ser essa a principal essência do urbanismo tático, pois permite que tanto iniciativas “bottom-up” [10] e “top-down” [11] se proliferem, acreditando ser esse o melhor caminho para que as experiências obtenham êxito e transformações consistentes sejam feitas na cidade.

TEMPORALIDADE O conceito de “temporário” é, de certa forma, abstrato, afinal todos os usos podem ser considerados temporários. Bishop e Williams argumentam que o uso temporário não pode ser “baseado na natureza do uso, se o aluguel é pago, ou se o uso se classifica como formal ou informal, nem mesmo na escala, longevidade ou resistência do uso temporário, mas sim a intenção do usuário, construtor ou projetista, de que o uso deveria ser temporário”. (2012, citado por Németh & Langhorst, 2013, p. 2, tradução própria). Segundo os autores, o uso temporário se define pela sua natureza de uso limitado de forma explícita e intencional, o consideram a manifestação de um urbanismo mais dinâmico, flexível, e adaptável, que contribui para tornar a cidade mais receptiva a novas necessidades, exigências e preferências de seus usuários. Robert Temel (2006, citado por Pfeifer, 2013, p. 12) distingue uso efêmero (usos com vida útil curta) de uso provisório (substitutivo ou primeira etapa de um uso mais permanente), e argumenta que o uso temporário se encaixa entre os dois conceitos. Para ele, apesar dos usos temporários terem um caráter provisório por natureza, não podem ser considerados apenas como uma

medida paliativa para alcançar um fim, mas sim considerar que os projetos temporários possuem vantagens e qualidades específicas que projetos permanentes não possuem. Em um cenário de incertezas políticas e econômicas, o uso temporário e flexível pode ser vantajoso. Em meio a crises, projetos que exigem compromissos, responsabilidades e obrigações a longoprazo encontram uma certa relutância para serem realizados. O uso temporário se mostra como uma alternativa coerente ao abalar certas noções do urbanismo tradicional, como a supremacia do estável e intervir em áreas de alto valor imobiliário, sem causar conflitos de interesse sobre o uso da terra. Essas práticas provocam questões sobre a real eficácia do inflexível planejamento urbano tradicional ao qual estamos acostumados. (Bishop e Williams, em Németh e Langhorst, 2013, p. 4). No entanto, é fato que a mudança de paradigma entre permanente e temporário leve um tempo considerável para que ferramentas de regularização sejam adequadas, mas quanto mais os projetos temporários forem bem-sucedidos, mais eles encontram seu caminho à serem incorporados às práticas usuais.

7. DE CERTEAU, Michel. The Practice of Everyday Life, trans. Steven Rendall, University of California Press, Berkeley, 1984. 8. HAYDN, F. & TEMEL, R. Temporary Urban Spaces: Concepts for the use of city spaces. Basel. Ed. Birkhäuser. 2006. p. 16 9. Idem 10. Iniciativa de “baixo para cima”, da comunidade para os órgãos públicos. 11. Iniciativa de “cima para baixo”, dos órgãos públicos para a comunidade.



Tactical Urbanism and the Role of Planners, 2013

Andres Power, ex-planejador urbano de São Francisco, EUA

“You have to be smart and informed about what you do, but it’s better to try and succeed 80% of the time then not to try at all because you’re afraid of falling with that 20%.”


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URBANISMO TÁTICO EM SÃO PAULO S

e a disseminação de práticas DIY nas cidades da Europa e Estados Unidos foram frutos de insatisfação dos cidadãos em relação à qualidade dos espaços urbanos, no Brasil, um país em desenvolvimento, onde a infraestrutura de base é precária, o quadro não seria diferente. Na falta de saneamento, iluminação, pavimentação, problemas de segurança, mobilidade, para não nomear inúmeros outros problemas comuns em cidades brasileiras, algumas vocações sociais e estéticas acabam ficando em segundo plano, despertando na população o desejo de intervir na cidade, o mesmo fenômeno observado no resto do mundo.

vez mais se organizando em grupos, coletivos e ONGs, para promover ações diretas. Contudo, mesmo com a grande quantidade de intervenções temporárias, poucas se classificam como tática, a maioria não visa transformações a longo prazo, tampouco estão atreladas a um planejamento urbano mais macro. O caso mais significativo de projeto tático é o Centro Aberto, implantado em 2013 pela Prefeitura de São Paulo e coordenado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) e SP Urbanismo.

Em São Paulo, é muito comum nos depararmos com inúmeros projetos DIY nos espaços da cidade, pessoas têm cada

Acunpuntura Urbana

OMOMO

Intervenção do coletivo MUDA no Minhocão, São Paulo. 2012.

Autor Desconhecido

Intervenção no Largo da Batata pelo coletivo A Batata Precisa de Você.

Vitor Delaqua

Coletivo MUDA

Pintura de um skyline gigante no chão do Terminal Bandeira pelo grupo Acupuntura Urbana.

Balanços do coletivo Basurama no Vale do Anhangabaú, instalado para a Virada Cultural de São Paulo. 2013.


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CENTRO ABERTO O objetivo do projeto é pesquisar, analisar, debater e atuar na área central de São Paulo, buscando encontrar alternativas e desenvolver projetos para a qualificação das áreas públicas da região. O projeto temporário foi uma ferramenta utilizada como primeira fase do programa para funcionar como catalisador de debates e assumir um caráter de experimentação, um projeto piloto para transformações posteriores de longo-prazo. Uma forma de promover diálogo com a população e envolvimento da comunidade, engajando usuários para participarem no processo de transformação da cidade de acordo com as suas demandas.

INÍCIO DO PROJETO

PMSP, 2015, p. 70.

CONCEITUAÇÃO INICIAL: VISÃO

PESQUISA “ANTES”: AVALIAÇÃO DE USOS E CONTAGEM DE PEDESTRES

DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

IMPLANTAÇÃO PERMANENTE DO PROJETO

AVALIAÇÃO

FAZER MUDANÇAS

da cidade são desperdiçadas, considerando a disponibilidade de amplo serviço de transporte público, oferta de empregos, presença de comércios e serviços diversos, patrimônio histórico, órgãos do governo e espaços públicos. As atividades de ação do programa iniciaram-se com três workshops realizados em abril, agosto e novembro de 2013, com a participação de entidades da sociedade civil com atuação no centro, arquitetos, urbanistas, estudantes e diversos órgãos de da administração municipal, organizado pela SP Urbanismo e sob consultoria do escritório Gehl Architects. Durante os workshops-oficinas, espaços públicos no centro da cidade foram analisados, problemas e potenciais soluções foram identificadas, utilizando-se a metodologia dos 12 critérios de qualidade frequentemente utilizada por Gehl. No primeiro encontro, foram discutidas e levantadas algumas considerações para a primeira fase do programa Centro Aberto. Posteriormente, apenas duas foram escolhidas para execução de um projetopiloto: o Largo Paissandú e a Av. São João; Largo São Francisco e Praça do Ouvidor Pacheco.

PESQUISA “DEPOIS”: AVALIAÇÃO DE USOS E CONTAGEM DE PEDESTRES

PROTEÇÃO

FASE DE IMPLANTAÇÃO: TESTE EM ESCALA 1:1

TRÂNSITO MOTORIZADO

EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS NEGATIVAS

CONVIDATIVO PARA CAMINHAR

CONVIDATIVO PARA PARAR/ FICAR

CONVIDATIVO PARA SENTAR

CONTATO VISUAL E AUDITIVO

USO DIA E NOITE/ VARIAÇÃO DURANTE O ANO

ATIVIDADES LÚDICAS, RECREATIVAS E INTERAÇÃO

ASPECTOS POSITIVOS DO CLIMA

ESTÉTICO E SENSORIAL

CRIME E VIOLÊNCIA

CONFORTO

O projeto Centro Aberto {...} não busca construir novos espaços, mas, sobretudo transformar as estruturas preexistentes, permitindo atividades de celebração. Os projetos buscam a ativação do espaço público através da renovação de suas formas de uso. Promover a diversificação das atividades - envolvendo um número maior de grupos de usuários, em faixa de tempo também ampliadas - constitui-se em um instrumento fundamental para a construção do domínio público sobre os espaços. Esse processo é capaz de promover, além da melhoria na percepção de segurança, o reforço no sentido de pertencimento e identificação da população com o Centro. (PMSP, 2015, p. 3) PMSP, 2015, p. 9.

A escolha pela região central deu-se, segundo a cartilha do Projeto Centro Aberto (2015) disponibilizado pela Prefeitura, pelo seu caráter de passagem e não de permanência, resultado de diversos processos históricos de desvalorização da área. As potencialidades e qualidades históricas de um setor privilegiado

PRAZER

CONSTRUÍDO NA ESCALA HUMANA`


24 URBANISMO TÁTICO EM SÃO PAULO

Os projetos priorizaram 3 estratégias para a ativação do espaço público, sendo elas: 1. Proteção e priorização de pedestres e ciclistas: foco em melhorar a acessibilidade e segurança de pedestres e ciclistas, através do aprimoramento de acessos, passagens e sinalização, além da introdução de ciclovias e faixas de pedestres. 2. Suporte à permanência nos espaços públicos: criação de pontos de encontro e locais de descanso e lazer, buscando promover convívio entre usuários. Tem como objetivo de incentivar o senso de comunidade e apropriação do espaço. 3. Novos usos e atividades: 3 tipos de ações, cultural (cinema ao ar livre, artistas de rua, coletivos), comercial (comida de rua, floriculturas e feiras) e atividades físicas (esportes e brincadeiras)

LARGO DO PAISSANDÚ Pesquisa mostrou a necessidade de melhorar o acesso e permanência do local, cujo isolamento e dificuldade de acesso ao espaço interior é explicado pelo fato do local ser ponto de confluência do transporte público. Assim, todas as ruas do entorno sofreram adaptações visando melhorar o fluxo de pedestres. O projeto ainda contou com um tablado circular (para receber apresentações artísticas), um playground para crianças e a implantação de áreas de permanência (um deck) e mobiliários urbanos. Além da intervenção espacial, foi planejado para o local uma série de atividades, apresentações de teatro, rodas de música e dança, comida de rua, roda de contos de histórias, eventos de empréstimos e trocas de livros, entre outras. (PMSP, 2015)

MANUTENÇÃO

-Zeladoria: garantir que os equipamentos estejam limpos

espaços

e

-Monitoria: contribuir com informações sobre o projeto, sanando dúvidas dos usuários. Receber críticas, sugestões e orientar a utilização do espaço. -Operação do Mobiliário Portátil: responsável pela disponibilização do mobiliário portátil e orientação de seu empréstimo.

Heloisa Ballarini

- Apoio às equipes de campo

Divulgação SMDU

Cada espaço de intervenção do Centro Aberto contava com a presença de uma unidade feita de container onde atuava o operador do espaço, agente responsável pela (PMSP, 2015):

LARGO SÃO FRANCISCO O projeto proporcionou assentos, sombras e atividades adicionais, além da instalação de Wi-Fi Livre e banheiros públicos (ambos disponíveis 24 horas por dia). Um grande deck de madeira, que sugere a permanência dos usuários, se adapta à inclinação do terreno existente, configurando, ao mesmo tempo, diferentes espaços para uso, como uma mesa de refeições ao livre, uma espécie de arquibancada e espaço para apresentações artísticas. As ações previstas para a área foram priorizadas para os horários do almoço e fim de tarde, devido a grande presença de escritórios no entorno. Por possuir um caráter de funcionamento comercial, o local sofria esvaziamento no período noturno e no fim de semana. Devido a esses fatores, a programação de eventos planejados para o Largo São Francisco tinham como objetivo incentivar o uso durante esses períodos, cinema ao ar livre e karaokê a noite e festas de rua aberta nos fim de semana, foram realizadas. Aconteceram também apresentações musicais e teatrais de artistas de rua, além de comidas de rua, principalmente nos horários de almoço. (PMSP, 2015)


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A pesquisa realizada pela ONG Cidade Ativa após a implantação dos projetos, indicou: 94% dos entrevistados aprovaram a intervenção 16% dos comerciantes locais notaram o aumento de vendas 93% dos comerciantes locais classificaram o espaço como “bom” ou “muito bom”

Everton Ballardin

Os dados comparativos de cada projeto identificaram: LARGO PAISSANDÚ

-PESQUISA ANTES E DEPOIS

O playground instalado tem uso contínuo pelas crianças, inclusive à noite, contribuindo para a sensação de segurança nesse local durante esse horário. Os mobiliários fixos e portáteis se mostraram como maior destaque de aprovação nas pesquisas com os usuários. Em geral, foi notado um aumento de 35,6% de permanência de pessoas

É imprescindível para o sucesso de uma intervenção tática, uma extensa análise pré e pós implantação para que seja possível medir os efeitos das mudanças aplicadas. No caso do Centro Aberto, foram realizadas observações e enquetes para detectar mudanças de comportamento dos usuários em relação aos espaços. Os seguintes fatores foram analisados: - - -

aumento de atividades número de pedestres menos travessias fora da faixa

Outras avaliações foram realizadas sob duas perspectivas: a da cidade e a do usuário. A primeira se mostra mais focada nos problemas gerais e condições específicas do local e, a partir deste ponto, considera as consequências positivas e negativas da implantação do projeto, a relação do programa e do espaço, além de observações e oportunidades que não foram consideradas, como possíveis parcerias, programação de eventos, ocupações espontâneas, entre outros. Já as avaliações sob perspectiva do usuário buscam ter o conhecimento do impacto do projeto na vida da população e qual seu papel na relação entre as pessoas e o lugar, além da adequação do mobiliário e das atividades propostas. Nessa etapa é feito um grande esforço de incentivo à participação e opinião popular, através de painéis de interativos, entrevistas e medições de campo. (PMSP, 2015) Durante os 3 meses de duração do projeto, foram coletados dados e informações e ficou claro a mudança de percepção do público em relação às intervenções. Antes da implementação, as pessoas se encontravam céticas quanto à capacidade de transformação dos projetos pilotos. A maioria via o local como problemático, alegavam a inexistência de uma cultura de se utilizar espaços públicos no Brasil, outros garantiam que os mobiliários móveis seriam roubados na primeira semana, ou que o playground ficaria inutilizado pois não havia crianças na região. (Nassif e Pompeo, 2015)

PMSP, 2015, p. 41

Os resultados das contagens apresentaram uma queda na média de travessias fora da faixa de pedestres de 49,5% em comparação à situação anterior, graças ao projeto de melhoramento e ampliações de áreas e faixas de pedestres. 100% dos comerciantes locais avaliaram a intervenção como boa ou muito boa. 18% dos mesmos comerciantes entrevistados afirmaram ter aumento nas vendas após a intervenção. (PMSP, 2015)


26 URBANISMO TÁTICO EM SÃO PAULO

LARGO SÃO FRANCISCO Antes, notava-se a falta de locais adequados para sentar, após o projeto houve um aumento de 215% no número de pessoas sentadas, sendo apenas 5% em locais improvisados. 62% dos usuários elegeram o mobiliário portátil como o elemento favorito da intervenção. Foi criada uma faixa de pedestres entre a Praça Ouvidor Pacheco e Silva e o Largo São Francisco que, juntamente com a coincidente instalação de dois pontos de ônibus em frente ao Largo, aumentou o número da média de travessias de 95 para 162 pessoas por hora. O índice de permanência aumentou 122%, notando-se além de uma diversidade de atividades na intervenção, a diversidade de grupos de usuários na praça com a presença de mulheres, idosos e crianças (bons indicadores de percepção de segurança e qualidade de espaços públicos)

PMSP, 2015, p. 66

Apesar do retorno positivo da população sobre o projeto, muitos obstáculos legais e dificuldades de implantação dos projetos temporários foram enfrentados durante o processo. Após conversas com envolvidos no programa Centro Aberto, foi possível ter uma dimensão maior do que deu certo e o que não. Em outros países, onde a aplicação de projetos temporários é mais comum, as etapas de planejamento, aprovação e execução desse tipo de intervenção é realizada pelo departamento de tráfego. Contudo, esse órgão em São Paulo não possui autonomia nem iniciativa suficiente para isso, portanto, o projeto tem que passar por inúmeros órgãos municipais até ser aprovado e, durante esse percurso, vai sendo podado e limitado, algumas vezes por motivos burocráticos. PMSP, 2015, p. 59.

Um gráfico comparativo de permanências indica o aumento de pessoas na praça e extensão de permanência no período noturno.

Novamente, torna-se um problema o fato de nosso sistema de regularização e aprovação de projetos ser limitada e conservadora, pois não prevê, nem possui abertura para a realização de projetos experimentais que trabalham com o efêmero, além disso, a temporalidade e velocidade que os


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processos de licitação e aprovação trabalham, é muito diferente da rapidez que a lógica do urbanismo tático demanda. Muita das aplicações do Centro Aberto passaram como “evento” para aprovação mais rápida, o que de um lado era benéfico pois era uma forma de acelerar o processo de licitação, de outro, essa “classificação” instituía limites para o projeto. A jurisdição sobre o espaço também envolvia inúmeros órgãos distintos, o que apresentava ser um grande empecilho de projeto e atraso no processo de construção. Cada elemento passível de intervenção pelo projeto no espaço público deveria ter aprovação ou ser comunicado aos órgãos ou empresas responsáveis. Por exemplo, o uso do poste de luz deveria ser comunicado à empresa de energia, o orelhão de responsabilidade da empresa de telefonia, a rede de esgoto à Sabesp, e assim em adiante, calçada, ponto de ônibus, banca de jornal, entre outros. Muitos agentes foram envolvidos na implantação dos projetos pilotos:

Coordenação: SP Urbanismo e SMDU Financiamento: Itaú Consultoria: Gehl architects Produção e organização de eventos: ENTRE e Elástica Pesquisa de pós ocupação: Cidade Ativa Execução do projeto: METRO arquitetos

Quanto à participação da iniciativa privada como financiadora do projeto, nesse caso, a parceria beneficiou a execução do projeto, não só pelo investimento - R$ 1 milhão aplicado nos dois projetos da primeira fase do Centro Aberto-, mas também por evitar ainda mais burocracia, que teria que ser encarada caso a verba fosse proveniente de fundos públicos. Ao mesmo tempo, por ser atrelada a uma empresa, houve um interesse de exposição da imagem de uma organização privada sobre um espaço público que entrava em conflito com as leis da Cidade Limpa (nº 14.223). A segunda etapa do Centro Aberto está dividida em duas partes: 2A e 2B. A primeira intervirá no Largo São Bento, Rua dos Ingleses e Galvão Bueno. E a segunda, no Largo General Osório e na Baixada do Glicério. O financiamento desses projetos não terá participação de nenhuma iniciativa privada, como ocorreu na primeira etapa do programa, toda a verba será pública.



Tactical Urbanism and the Role of Planners, 2013

Emily Weindenhof, Diretora do Plaza Program de NY

“We see ourselves as a resource and a mechanism for community groups. We provide a certain set of expertise regarding the design of the public realm and the funding to build public space. But then we want to step out of the way and allow each community to take charge in making their plaza meet their local needs.�


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DIRETRIZES DE UMA POLÍTICA PÚBLICA A

proposta deste Trabalho Final de Graduação, é provocar um debate sobre a arquitetura temporária e formas de como poderia promover transformações permanentes na cidade de São Paulo. Como parte do discurso, estabeleço um conjunto de diretrizes de uma possível política pública de ação tática no Centro da cidade, através de projetos temporários e participativos. A idéia é que sirva como uma extensão do programa Centro Aberto, disseminando mais profundamente a lógica de todo esse processo de ativação de espaços residuais através do efêmero, incorporando nas diretrizes do programa, novas formas e possibilidades de ocupação e intervenção. Para entender e embasar preceitos para uma política pública de ação no Centro de São Paulo através da lógica do urbanismo tático, pesquisei e procurei analisar experiências já realizadas por outras cidades, de forma a incorporar as lógicas estabelecidas, aprendendo com os erros e acertos de programas e projetos já existentes. Cidades nos Estados Unidos, Canadá, Europa e Austrália já se encontram em um estágio mais avançado de discussão sobre urbanismo tático, inúmeras iniciativas de intervenção urbana, tanto sancionadas como não-sancionadas, foram implantadas nesses locais e, em alguns casos mais bem-sucedidos, serviram de inspiração para a implantação de iniciativas parecidas em vários outros países do mundo. Como já abordado, a essência do urbanismo tático se baseia na execução de experiências de curto-prazo, que permitem resultados rápidos e esclarecedores, mas com foco em um cenário maior, mais permanente e substancial, associado a um planejamento urbano de longo-prazo. Para a execução dessa tática de um modo mais efetivo na cidade de São Paulo, é preciso reavaliar e reformular as políticas públicas existentes, convencionais e inflexíveis, possibilitando a execução de projetos alternativos que não sigam a lógica do planejamento tradicional. Vale ressaltar que as diretrizes propostas se baseiam em uma análise do cenário da área Central de São Paulo, escolhida por já receber as ações do Centro Aberto, no qual a discussão sobre o urbanismo tático já foi iniciada nesse espaço. Achei relevante fazer uso de uma área onde fosse possível analisar


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as experiências de intervenções já realizadas pela Prefeitura Municipal de São Paulo, as dificuldades de implementação (tanto de execução física, quanto burocrática), as opiniões da população, as metodologias de análise do espaço, o impacto dos projetos e a discussão provocada por eles. Contudo, o debate deve ser estendido à outras áreas mais críticas da cidade, o urbanismo tático poderia ser uma ferramenta para a criação de áreas públicas de qualidade e catalisador econômico em áreas da periferia, principalmente se considerarmos o grande déficit de espaços de qualidade, equipamentos, infraestrutura e áreas de lazer, além de problemas urbanos, sociais e econômicos presentes nessas zonas.

evitadas parcerias com iniciativas privadas ou com grupos interessados de maneira comercial. A metodologia de análise comparativa do entorno, espaço e usuários, antes e depois da implantação da intervenção, realizada nos projetos do Centro Aberto - a observação do comportamento das pessoas, dinâmica do entorno, cálculo de fluxos, cruzamentos e pesquisa de opinião -, é imprescindível para o entendimento sobre o que funcionou e o que não, para basear o desenvolvimento de planos e projetos futuros para a área, que corrsponde a lógica do urbanismo tático. As intervenções focariam em 3 tipos de espaços:

A emergência de ações e programas para qualificar essas áreas da cidade pode ser considerada maior que em áreas centrais, já providas de infraestrutura e com economia mais consistente, porém a discussão sobre o urbanismo tático em áreas periféricas deve seguir um caminho diferente das áreas do centro, pois se trata de uma outra dinâmica e inúmeros outros fatores devem ser considerados, o cenário é bastante complexo.

1. ESPAÇOS PÚBLICOS

A princípio, estruturei as diretrizes em dois momentos diferentes de ação do programa tático a ser implementado no Centro: medidas que focam alcançar metas a curto-prazo; e ações a longo-prazo, que seriam implantadas posteriormente à primeira etapa.

Os espaços públicos têm um pertencimento coletivo, democrático e acessível a diversas classes sociais. São espaços de representação de toda a sociedade, palco de atividades culturais, manifestações populares e políticas. Por isso, o impacto do projeto temporário nesses locais seria bastante expressivo, tanto na cidade, quanto na dinâmica do entorno. Os dados coletados e a análise feita seriam de grande utilidade para futuras ações sobre como reativar espaços públicos. O plano é realizar projetos-pilotos para experimentação, mobilização e discussão para um futuro projeto de caráter mais permanente.

CURTO-PRAZO Por se tratar de uma lógica não convencional de planejamento urbano e pouco difundida no Brasil, seriam necessárias a implantação de projetos táticos que iniciem e catalisem um debate sobre as potencialidades do projeto temporário como primeiras ações. O objetivo seria implantar no urbanismo tradicional, as primeiras ideias de urbanismo tático e envolver a população para a participação nas discussões urbanas, ensaiando iniciativas e criando um senso comunitário maior. Durante todo o processo, antes, durante e após a criação dos espaços, a Prefeitura deve organizar workshops, oficinas e eventos para envolver a comunidade e ouvir o que ela tem a dizer, criando um canal de comunicação direto entre planejadores, gestores e cidadãos, para que juntos possam encontrar soluções para problemas da cidade. Nesse primeiro momento, os órgãos públicos seriam os agentes de todo o processo de implantação, planejamento, acompanhamento e gestão dos projetos, dessa forma, com suporte em experiências reais, a estruturação de uma parte legal e técnica para embasar esses projetos seria desenvolvida para que futuros processos de aplicação de iniciativas civis fossem possíveis, dando o direito de intervir na cidade a quem o pertence, os cidadãos. Seguindo essa linha de raciocínio, seriam

Nota-se a grande necessidade de revitalização dos espaços públicos no Centro, muitos desses locais foram descaracterizados, tornando-se ilhas viárias, se resumindo a locais de passagem, desperdiçando todo potencial de uso de uma vida cotidiana em uma escala de bairro.

O Centro Aberto contempla essa classificação de espaço com projetos executados no Largo São Francisco, Largo do Paissandú e Largo São Bento, por enquanto. 2. LOTES VAGOS Lotes vagos[12] sempre foram encarados por planejadores urbanos como um problema a ser resolvido, mas com seu crescimento - devido ao processo de desindustrialização que algumas cidades no mundo estão sofrendo, e também devido a algumas vivenciarem o fenômeno chamado “shrinking cities”[13]-, muitas práticas de planejamento urbano que assumem essas áreas “vazias” como recursos urbanos, estão se tornando cada vez mais populares, proporcionalmente ao reconhecimento do seu potencial como ferramenta de transformação social e ecológica. (Németh & Langhorst, 2013) Németh e Langhorst (2013) enumeram diversos motivos para que, ao invés de focarmos os esforços em como extinguir os lotes vagos das cidades, possamos explorar seu potencial, primeiramente, como oportunidade de criação de espaços abertos, públicos e verdes na cidade. Lotes vagos quando

[12]. Pagano e Bowman (2000, citado por Németh e Langhorst, 2013, p. 2) definem lote vago como propriedade não utilizada por humanos, quando não há infraestrutura. Caso contrário, quando há infraestrutura no local mas alegam estar abandonada, consideram lote vago quando inocupado por 60 dias, outros usam 120 dias ou mais. [13]. Nome dado ao fenômeno quando uma cidade é afetada por uma notável perda da sua população muitas vezes causada por uma forte onde migratória e de motivos diversos. A infraestrutura criada para aquela massa populacional fica subutilizada e culmina em problemas para a manutenção dos mesmos.


32 DIRETRIZES DE UMA POLÍTICA PÚBLICA

completamente negligenciados podem ser pontos de lixo, resíduos e, consequentemente, provocar desvalorização do seu entorno. Mas possuem o potencial de serem agentes de congregação entre moradores, usuários e entidades envolvidas na região, criando e fortalecendo um senso comunitário. Tais áreas vazias tendem a se concentrar nas partes mais marginalizadas da cidade, nesse contexto, focar preocupações em torno dos lotes vagos, pode expor e chamar a atenção para os problemas sociais e urbanos presentes. Considerando esses pontos, seria interessante o programa se expandir aos lotes vagos, no entanto, intervindo apenas nos terrenos de propriedade municipal durante a primeira fase, pelo processo contratual e burocrático ser mais simplificado. 2. Rua

vias, é essencial que uma programação de eventos seja oferecida para atrair a população, além da oferta de infraestruturas portáteis e mobiliários móveis para que os cidadãos possam intervir e compor o espaço.

Mobiliário de rua proposto para a Bienal de Urbanismo Paisagístico, em Bat-Yam, Israel, 2010. O projeto nomeado como The Roaming Forest, é de autoria do Project Studio, tem a intenção de ser uma paisagem itinerante, onde o usuário compõe os elementos de acordo com a sua necessidade. As árvores são transplantadas em estrutura de madeira sobre rodas e qaudno atingirem um nível de desenvolvimento, são plantadas em um local fixo permanentemente.

A rua é um importante espaço público, não se resume apenas a uma via de passagem, possuindo grandes potenciais de uso de lazer e permanência, vide exemplo do Minhocão e Avenida Paulista, em São Paulo. O compartilhamento de usos de vias se mostra uma alternativa para se fazer uso de toda a sua capacidade tanto para mobilidade e transporte, quanto para espaço público. A segunda etapa do Centro Aberto contemplará esse tipo de intervenção temporária, na Rua Galvão Bueno. Segundo um dos arquitetos envolvidos no projeto, o número de pedestres que cruzam a rua durante um dia é superior à contagem do número de pedestres que cruzam no mesmo dia da semana no MASP. Considerando que 58% do espaço é caracterizado como leito viário, percebe-se que o espaço de calçadas para a demanda desse fluxo é inadequada. A solução mais óbvia seria o fechamento da rua para carros, transformando-a em uma rua de pedestres, no entanto, deve-se se considerar os inúmeros fatores que poderão ser impactados, a dinâmica do comércio, os locais de carga e descarga de mercadorias, etc.

Durante os dias da semana, a necessidade de transporte, fluxo, mobilidade de carros e pessoas, é maior que a demanda dos fins de semana. Nesses dias, as ruas se encontram vazias ou bem abaixo de sua capacidade, por isso, seu fechamento durante esse período não causaria grandes impactos no trânsito da cidade. Para ocupar as ruas, é preciso pouquíssima infraestrutura, mas para garantir que diversos usos e atividades sejam realizados nas

Autor Desconhecido

Como projeto piloto, decidiu-se promover o fechamento das ruas durante o fim-de-semana para o uso apenas de pedestres, e durante os dias da semana, a remoção de todas as vagas de estacionamento e ampliação da calçada com pintura e instalação de mobiliários urbanos.


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LONGO-PRAZO Esta etapa é considerada de longo-prazo levando em conta as transformações e o tempo de implantação das políticas públicas de urbanismo tático na cidade, mas as intervenções em si continuam tendo um caráter de projeto-piloto. Espera-se que, a esta altura, a cidade esteja familiarizada com as lógicas e objetivos do urbanismo tático, para que seja possível implantar medidas que avancem e arrisquem outros tipos de morfologias espaciais para apropriação.

de imóveis não-edificados ou subutilizados, esse prazo de um ano pode ser para comunicar o protocolamento do pedido de alvará de aprovação e execução de projeto de edificação ou parcelamento do lote. Após a expedição do alvará, terá dois anos para comunicar o início das obras de edificação ou parcelamento, e depois 5 anos para concluir as obras. Caso não cumpra esses prazos, será cobrado IPTU progressivo no tempo e, após 5 anos de cobrança, o imóvel será desapropriado.

O objetivo dessa etapa é dar o protagonismo de ação na cidade para os cidadãos, o direito de intervir na cidade. O papel dos órgãos públicos passa de agente a mediador, conectando diferentes partes interessadas com o mesmo objetivo. Cabe à Prefeitura, a responsabilidade de fiscalizar e garantir que os projetos atendam uma série de pré-requisitos de desenho, processo, envolvimento comunitário, segurança, gestão e manutenção, e apresentem os documentos e permissões legais necessárias para seleção e aprovação dos projetos temporários, obedecendo o processo de aplicação desenvolvido pelos planejadores após as experiências adquiridas com a primeira parte do programa.

A rapidez e o baixo custo que os projetos temporários exigem se apresentam como alternativas para essas situações onde o proprietário necessita dar um uso para seu imóvel no prazo de um ano a partir da notificação e não está preparado para fazer grandes investimentos e se comprometer a longo prazo com certos empreendimentos. Uma intervenção temporária exerce a função social do imóvel, evitando futuras notificações, até que um futuro investimento mais concreto e substancial seja realizado e, enquanto isso, a população usufrui de espaços abertos de qualidade.

O programa se torna mais aberto às novas parcerias, inclusive a privada, mas sempre através de um processo democrático que traga benefícios à cidade, e não atenda apenas interesses de um grupo específico. As ações se focariam em diferentes morfologias espaciais: 1. IMÓVEIS QUE NÃO CUMPREM SUA FUNÇÃO SOCIAL A função social da propriedade é uma exigência institucional, prevista na Constituição Federal de 1988, e se efetiva com sua utilização compatível com seu contexto socioeconômico e ambiental. Para que o cumprimento dessa função seja garantido, foram criados três instrumentos urbanísticos que devem ser aplicados sucessivamente: parcelamento, edificação e utilização compulsórios (PEUC), IPTU progressivo no tempo e desapropriação mediante pagamento em títulos da dívida pública. Os dois últimos são utilizados somente em casos onde o proprietário do imóvel insista em mantê-lo sem uso após a notificação. O novo Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (Lei Municipal 16.050/2014) define as características dos imóveis que não cumprem sua função social: imóveis não-edificados; imóveis subutilizados e imóveis não utilizados. Nesses casos, o proprietário é notificado e tem o prazo de um ano para comunicar a Prefeitura o início da utilização do imóvel. No caso

1.1. IMÓVEIS NÃO EDIFICADOS, IMÓVEIS SUBUTILIZADOS e LOTES VAGOS Como já abordado na primeira parte do programa, os lotes vagos podem ser um problema urbano ou uma ferramenta importante para a criação de espaços de qualidade no meio da malha urbana. Na segunda etapa do programa, a abertura é dada para as intervenções em terrenos vazios ou subutilizados tanto através de iniciativas comunitárias, quanto de iniciativas privadas. Durante a conversa com um dos planejadores do Centro Aberto, foi citado uma maior facilidade de implantação nas áreas privadas [14], pois nas áreas públicas há muito mais conflitos de interesses - entre moradores, população, ciclistas, pedestres, motoristas, comerciantes, empresários -, do que as áreas pertencentes a uma empresa ou proprietário. Um menor número de envolvidos na jurisdição do espaço facilita o processo. Imóveis não edificados são aqueles que possuem uma área maior que 500 m² e coeficiente de aproveitamento utilizado igual a zero, segundo o Plano Diretor (16.050/2014). Já os imóveis subutilizados, possuem área maior que 500 m² e coeficiente de aproveitamento menor do que o mínimo definido para a zona que se encontra. Os lotes que se enquadram nesse perfil, são notificados pela Prefeitura, no entanto, o programa deve abordar também os lotes vagos que não estão passíveis de medidas legais como essa, por apresentarem uma metragem inferior, mas

[14]. o projeto do Centro Aberto no Largo São Francisco teve uma área cedida pela Companhia de Metrô por comodato


34 URBANISMO TÁTICO

possuem um potencial de transformação urbano tão grande quanto os terrenos desse porte.

O próprio proprietário pode financiar um projeto temporário no terreno, incentivos fiscais ou acordo de dívidas públicas poderão ser negociados com donos de lote que transformarem seu terreno em espaços públicos de qualidade. No caso de imóveis notificados, a instalação de projetos temporários traz benefícios ao proprietário ao cumprirem a função social do terreno, evitando que esses proprietários tenham que pagar IPTU progressivo e, em alguns casos, uma futura desapropriação. Independente da iniciativa, as propostas de projetos devem apresentar relevância para o contexto urbano e para a população local, além de um plano de implantação, orçamento, gestão e manutenção a fim de serem aprovados, cabe a Prefeitura discernir quais propostas de projetos estão aptos a construção. Seria necessário também um acompanhamento periódico dos projetos, a cada fim de gestão municipal deveria ser feita uma análise pelos órgãos públicos, uma pesquisa com a comunidade para avaliar a relevância do espaço ou se novas demandas exigem que o proprietário assuma o compromisso de iniciar empreendimentos em seu lote. O interesse é de perpetuação da política pública de projetos temporários, mas não o espaço vazio em si.

Renew Newcastle

No caso da iniciativa comunitária, um acordo deve ser feito com o proprietário do lote e, após seu consentimento, medidas legais devem ser tomadas para sancionar a ação. Assim que o dono do lote tiver a intenção de iniciar a construção de algum empreendimento no terreno ou de vendê-lo, um comunicado prévio é feito e o desmonte da intervenção temporária é realizado para liberar o local.

Mapa dos usos temporários em imóveis vazios do programa Renew Newcastle de 2012.

A estrutura do programa australiano foi utilizada como referência para a criação de diretrizes de uso de frentes de lojas vazios no Centro de São Paulo propostas a seguir: 1.2.1. CONDIÇÃO FÍSICA DO IMÓVEL Pelo fato de muitos prédios do Centro da cidade serem antigos, um laudo técnico seria realizado por parte da Prefeitura para certificar que as condições mínimas de segurança e infraestrutura para o uso estivessem assegurados. Assim que liberado o imóvel, o locatário e o proprietário do imóvel assinariam um contrato especial de locação, onde o primeiro se comprometeria em entregar o imóvel em condições melhores do que encontrou, além de realizar as manutenções mínimas necessárias como pintura, consertos e reparos.

1.2. FRENTES DE LOJA VAZIOS 1.2.2. USO Muitos imóveis em São Paulo se encontram abandonados ou vazios por problemas judiciais e fiscais. Nesses casos, as ações demoram muito para se concluir, o que impossibilita definir qualquer finalidade de uso para o imóvel durante esse processo. As frentes de lojas vazias ou abandonadas apresentam-se como um desperdício de área útil, que poderiam ser usadas para abrigar atividades comerciais e de serviço, as quais trariam grandes benefícios ao seu contexto urbano e serviriam como uma ferramenta de ativação de ruas. A cidade de Newcastle, na Austrália, sofria com esse mesmo problema, as frentes de lojas vazias desvalorizavam bairros e esvaziavam ruas, a solução encontrada foi desenvolver tipos de contratos de locação específicos dos imóveis vazios para empreendimentos de caráter artístico. O programa foi tão bemsucedido que ganhou abrangência nacional, o Renew Australia.

A prioridade de locação seria dada à grupos e coletivos da área das artes e empreendimentos criativos, independentes ou comunitários. Incentivando uma atividade de caráter mais cultural e beneficiando o comércio da produção por comunidades mais vulneráveis. 1.2.3. VALOR DE CONTRIBUIÇÃO Os grupos que usufruírem do espaço terão que contribuir com um taxa mínima de participação, previamente combinada. No entanto, cada imóvel deve ser avaliado individualmente por apresentar problemas judiciais e burocráticos distintos. Em casos de não cumprimento de função social do imóvel, por exemplo, o proprietário pode escolher entre ceder a área para esse tipo


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específico de locação, ou o processo previsto pela Constituição Federal, IPTU progressivo e depois, desapropriação. Ou em casos de imóveis que apresentem problemas por dívidas fiscais, uma negociação poderia ser feita. 2. ESPAÇOS PÚBLICOS Assim como a primeira parte do programa, projetos-pilotos seriam realizados em espaços públicos, a diferença seria a abertura para iniciativas civis. Os projetos que seguirem o processo de aplicação para sua implantação, terão que obedecer a uma série de requisitos e prioridades que serão estabelecidas para a seleção de projetos. A localização da praça será levada em conta, serão prioridades as áreas sócio-economicamente mais vulneráveis e com maior déficit de espaços verdes ou maior distância do espaço público mais próximo. A relevância do projeto e o poder de transformação no contexto urbano que se insere, também são fatores importantes a serem considerados. O processo de implantação dos projetos selecionados deve incluir a apresentação do projeto para a comunidade, para o seu consentimento (cartas de aprovação de organizações, grupos, associações ou qualquer tipo de representação comunitária, devem estar anexados nos documentos do processo de licitação do projeto), e também workshops, para mobilizar e incluir a participação comunitária. Os aplicantes devem apresentar um plano de manutenção, administração e gestão do espaço (limpeza, consertos, cuidado com as plantas, etc.), assim, definem-se as responsabilidades do município e da comunidade sobre o local. Ainda como parte do processo de aplicação, deve se desenvolver uma proposta de programação de eventos que deverão ocorrer após a conclusão do projeto, como forma de ativação do novo espaço. Um grande acompanhamento, pesquisa de opinião de usuários e comerciantes locais, análise de uso, fluxos e economia do contexto urbano do projeto devem ser feitos antes, durante e depois da intervenção para compreensão do impacto do projeto e avaliação sobre quais as próximas medidas a serem tomadas no espaço e, posteriormente o desenvolvimento de um plano ou projeto permanente.


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DIRETRIZES DE UMA POLÍTICA PÚBLICA V

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A lógica do urbanismo tático pode abranger os mais diversos tipos de espaços. As morfologias a seguir, não terão medidas de ação previstas pelo programa proposto neste TFG, mas ainda assim, são passíveis de intervenções, pois possuem muito potencial de uso.

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ESTACIONAMENTOS

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Há um grande número de estacionamentos no Centro de São Paulo, esses terrenos são considerados imóveis que não exercem sua função social, segundo o Plano Diretor (16.050/2014), por isso estão sujeitos às medidas legais estabelecidas para esse tipo de propriedade. Só serão considerados com função social os edifícios-garagem ou estacionamentos de uso misto (que disponham de lojas ou residências). Portanto, ficou proibida uma prática comum no setor de construção: a instalação de estacionamento em terrenos vagos que esperam a aprovação de projetos ou investimentos.

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Essa definição estabelecida pelo Plano Diretor causou incômodo aos incorporadores da cidade por causa da nova legislação a qual os estacionamentos estão sujeitos. Muitos alegam não investir em novos empreendimentos devido à baixa demanda por imóveis novos e encontram na atividade de estacionamentos, uma forma de tornar o terreno rentável, sem muitos custos e investimentos em infraestrutura.

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A ideia é que se mude o conceito de estacionamento como único uso a se conceber em lotes vazios, a criação de áreas públicas em terrenos privados não é apenas uma alternativa para evitar impostos e punições fiscais, mas também é uma forma de tornar o terreno rentável. Há inúmeras atividades que podem ser instaladas no local que podem trazer lucro. Um projeto temporário pode contemplar espaço para food park, feiras, eventos, dessa forma, pode ser cobrado um valor de aluguel pelo espaço.

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38 DIRETRIZES DE UMA POLÍTICA PÚBLICA

Bruna Faria

COBERTURAS E INFRAESTRUTURAS

O aeroporto que já foi usado pelas tropas nazistas e serviu de oficina, manutenção de aeronaves e abrigo durante a Segunda Guerra Mundial, hoje, tem sua preservação garantida por lei. No complexo, inúmeras atividades são realizadas atualmente pela população, servindo como área de piquenique, parque, pista de corrida e ciclismo, windsurfing, skate, patins, entre inúmera outras. Além disso, alguns eventos específicos já se estabeleceram nas instalações como concertos, festivais de músicas, feiras comerciais e de moda. (Fahey, 2015)

Instalação Oásis de Bruno Faria, onde o artista cria um espaço público na cobertura do Centro Cultural de São Paulo. 2009.

Frank’s Café, bar temporário que funciona durante os meses de verão em Londres, instalado na cobertura de um edifício-garagem.

Flannels

As coberturas de edifícios são raramente utilizadas, mas poderiam ser ótimos lugares de lazer, com bares, restaurantes e até mesmo praças. Por se encontrarem em cotas mais elevadas, oferecem uma vista privilegiada e condições de insolação e ventilação vantajosas. Algumas infraestruturas abandonadas ou desativadas também podem se apresentar como ótimos espaços para abrigar usos alternativos ao qual foram planejados originalmente. O aeroporto de Tempelhof em Berlim, por exemplo, foi desativado em 2008 e hoje é aberto a população como maior parque da cidade. A princípio, a intenção dos agentes municipais era construir habitação de interesse social no lugar do aeroporto, um referendo foi convocado e 64,3% da população votou por deixar Tempelhof nas condições em que se encontra, evitando a sua demolição.

Sessão de cinema na cobertura de um prédio em Londres. The Rooftop Film Club. 2016.

TimeOut


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Alliance

FINANCIAMENTO Tempelhof Field, Berlim, 2016.

O programa deve prever os diferentes processos necessários para diferentes tipos de financiamento dos projetos: 1. PRIVADA: deve ser apresentada uma proposta de projeto, a sua relevância e adequação às necessidades do contexto, tanto urbano quanto social, serão levadas em conta. Um plano de implantação, de gestão e manutenção do espaço deve ser apresentado.

Autor desconhecido

Festival de música em Berlim, 2013.

Jardim e horta em Tempelhof.

Philip Koschel

2. PÚBLICA: seriam selecionados um número de projetos por ano para financiamento público. Cartas de apoio ao projeto por organizações e associações da comunidade do local da intervenção proposta devem ser anexadas à aplicação. Se o projeto for selecionado, workshops e reuniões entre a Prefeitura e a comunidade deverão ser realizados, um trabalho de incentivo à participação comunitária, desenvolvendo conjuntamente entre técnicos, profissionais, comerciantes, comunidade, aplicantes e Prefeitura e um projeto para o espaço. Um plano de orçamento deve ser desenvolvido, juntamente com um plano de gestão, acompanhamento e programação de eventos e, após a implantação do projeto, um relatório periódico de acompanhamento deve ser enviado à Prefeitura pelos aplicantes. 3. MISTA: A Prefeitura seleciona um número de projetos para financiar parcialmente, seja cobrindo uma parte do material ou porcentagem do custo do projeto.



Tactical Urbanism: Short-term action, long-term change, 2010

Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba

“The lack of resources is no longer an excuse not to act. The idea that action should only be taken after all the answers and the resources have been found is a sure recipe for paralysis. The planning of a city is a process that allows for corrections; it is supremely arrogant to believe that planning can be done only after every possible variable has been controlled.�


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laborei dois ensaios de projeto temporário em três terrenos distintos. O processo de escolha deu-se inicialmente através de um levantamento por imagens de satélite, dos lotes vazios e espaços públicos residuais em uma área de análise préestabelecida, Sé e República.

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A intenção era propor uma intervenção em um lote vago e outra em um espaço público, como parte da etapa de curto prazo das diretrizes propostas, por este trabalho, de urbanismo tático no centro de São Paulo. Alguns terrenos foram considerados para intervenção, após uma análise de prioridades e potencialidades de cada um: contexto social e urbano ao que estão inseridos, distância do espaço público mais próximo, potencial de transformação do projeto em relação ao seu entorno, além de visitas e levantamentos de campo (observação das dinâmicas, atividades do entorno e usuários do locall). As opções então, se reduziram a três terrenos para a aplicação de dois projetos de escalas distintas.

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44 ENSAIOS PROJETUAIS

LOTE VAGO DO RESPIRO DO METRÔ

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primeiro ensaio é localizado na Av. Ipiranga, na quadra entre os cruzamento da Av. Rio Branco e Rua Santa Ifigênia. O Lote possui cerca de 700 m2 e pertence ao Metrô [15], onde, em uma parte dele, foi instalado um edifício de ventilação e saída de emergência (VSE) da linha amarela do metrô, criando áreas sem uso do que sobrou do terreno. Uma parte do lote foi murado, se encontra alguns entulhos no local e uma vegetação ruderal. Analisando o entorno, através de um levantamento do uso do solo dos edifícios vizinhos e visitas recorrentes ao local em horários e dias da semana distintos, percebe-se uma forte dinâmica comercial na Av. Ipiranga e nas ruas que cruzam (principalmente a Rua Santa Ifigênia), promovendo um fluxo alto de pessoas durante horários comerciais, de segunda a sábado. No domingo, é perceptível o forte esvaziamento da área, devido ao fechamento dos estabelecimentos.

[15] Segundo os dados disponíveis no site GeoSampa da Prefeitura de SP: geosampa.prefeitura.sp.gov.br


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ENTORNO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO [área hachurada: lote vago do respiro do metrô]


46 ENSAIOS PROJETUAIS

VISTA DA RUA


VISTA DENTRO DO LOTE


48 ENSAIOS PROJETUAIS

ÁREA DE INTERVENÇÃO

PARTIDO PROJETUAL


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PROPOSTA DE PROJETO

A idéia da intervenção é qualificar uma área negligenciada, pequena, invisível aos olhos de pedestres desatentos, com a presença de um edifício de caráter estritamente técnico como o VSE, sem relação nenhuma com a rua ou o pedestre, somada a um lote anexo formado por retalhos espaciais. As condições do local, o terreno murado e escondido no fundo do lote, não garantiam uma qualidade do espaço, a dificuldade era criar uma área que provocasse curiosidade e atraísse os pedestres para dentro do mesmo. O projeto então, propõe uma sala de estar urbana, onde seria um refúgio, uma quebra de ritmo do alto fluxo provocado pelos comércios na Av. Ipiranga, provocando surpresa e curiosidade aos transeuntes para se refugiarem nas áreas de descanso no miolo do lote, de caráter mais íntimo, privado, bloqueado da visão direta da rua devido a presença do VSE. Como forma de provocação maior em relação ao lote vago murado, decidi manter o máximo de parede que limita o terreno, procurando formas mais interessantes de dissolvê-la ao invés de simplesmente demolir. A proposta é que se eleve a praça com uma estrutura de andaimes, passando por cima do muro, dessa forma, cria-se uma conexão e visibilidade maior ao espaço, tornando-o mais convidativo.


50 ENSAIOS PROJETUAIS

MOBILIÁRIO

PISO DE MADEIRA

VIGA DE MADEIRA

ESTRUTURA DE ANDAIME


51

A elevação da praça cria as condições necessárias para a criação de uma rampa de um lado e de patamares de estar, do outro. Se propõe que a rampa seja inteira revestida de grama artificial (devido ao caráter temporário da instalação) não apenas no piso, mas também na paredes, criando um “corredor de vegetação” que convida o pedestre e que se dissolve, conforme se adentra no espaço. O piso em níveis, ensaiando uma arquibancada, é proposto a fim de se poder observar a dinâmica da rua, estando próxima a ela, e, ao mesmo tempo, alheia ao que acontece, se mantendo no seu papel de observador, de terceiro, em uma atmosfera muito mais desacelerada que dos que são observados. Um grafitti de algum grupo local é previsto para compor as empenas altas e de um material bruto, frio, dos prédios vizinhos.


52 ENSAIOS PROJETUAIS


VISTA DO INTERIOR DA PRAÇA


54 ENSAIOS PROJETUAIS


VISTA DA RUA


56 ENSAIOS PROJETUAIS

LOTE VAGO E PRAÇA ESTAÇÃO DA LUZ

O

segundo ensaio é de escala muito diferente do primeiro. Aqui se trata da experiência da experiência, o uso da lógica da arquitetura temporária, geralmente utilizada em espaços pontuais, de pequena escala, em uma área de grande porte. Um desafio projetual, além de uma provocação para a discussão sobre os limites de aplicação do urbanismo tático. Neste caso, se trata nada mais do que uma abstração do mundo das idéias, uma vez que só poderia se desenvolver um debate válido através das análises e experiências da implantação real de um projeto temporário dessa escala. Se trata de uma praça existente, localizada do lado da estação da Luz, sob administração da Linha 4 – Amarela do Metrô. O local possui muitas áreas livres sem uso, mal planejadas, espaços formados do que sobrou das áreas técnicas, construídas para o funcionamento da estação. Muitos respiros, fossos de iluminação, áreas de manutenção e administração do metrô, funcionam como obstáculos no espaço, somado com a falta de planejamento de áreas de lazer ou estar para a população, resultam em uma praça formada por recortes espaciais mal conformados no contexto. A praça de mais de 8.000 m2, possui apenas 6 bancos fixos, sendo que poucos são providos de sombra, fazendo com que as pessoas que usufruem o local, improvisem outros espaços para repousar, como o chão, muretas e nos degraus da escada existente. A princípio, a intervenção seria proposta apenas na praça existente, no entanto, nota-se a presença de uma grande lote vazio vizinho à praça, murado e com vegetação ruderal, pertencente também ao metrô [16], com cerca de 5.700 m2. No futuro, muito provável que o terreno cederá espaço para algum empreendimento, tornando-se inevitável considerar seu caráter “pedagógico” para futuros investimentos no local. O uso desse lote murado para criação de um novo espaço de apropriação pública associado à praça existente, em uma das hipóteses, pode vir a influenciar a relação do futuro empreendimento com a rua, a praça vizinha e a cidade. O reconhecimento da área foi feito através da observação e conversa com comerciantes locais. Visitas diárias em diferentes horários e dias da semana foram realizadas, onde o foco era entender a dinâmica no espaço em condições diversas. Procurei voltar o olhar à vida cotidiana, não apenas aos elementos, dados e condições técnicas do local, mas sim na relação de cada usuário na praça, seu comportamento no espaço.

[16] Segundo os dados disponíveis no site GeoSampa da Prefeitura de SP: geosampa.prefeitura.sp.gov.br


57

ENTORNO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO [área hachurada: lote vago e praça Estação da Luz]


58 ENSAIOS PROJETUAIS


OBSERVAÇÕES: dias da semana


60 ENSAIOS PROJETUAIS


OBSERVAÇÕES: fim de semana


62 URBANISMO TÁTICO ENSAIOS PROJETUAIS

As situações que observava, os padrões de comportamento e uso, me fizeram entender um pouco mais de como aquele espaço influenciava a vivência das pessoas. E certas indagações me fizeram tirar conclusões que poderiam ser testadas no projeto proposto, afinal, a arquitetura temporária tem o intuito de ser experimental mas, até a discussão passível de ser testada espacialmente, deriva de uma série de estudos e decisões projetuais. As constantes visitas diárias ao terreno, provocaram uma série de reflexões sobre o comportamento cotidiano naquele lugar:

1

. Um banco, em particular, era o mais disputado, sempre havia mais de 7 pessoas em sua volta, enquanto os outros tinham cerca de 2 pessoas em média, isso quando não se encontravam vazios. Uma explicação provável deve-se a sua localização, o mais próximo da rua mais movimentada (Av. Cásper Líbero), para onde todos os olhares, dos que se encontravam sentados, se direcionavam. Outro ponto, deve-se à presença de sombra, o banco se abrigava na sombra da árvore mais folhosa da praça.

2

. A falta de espaços de permanência na praça forçavam o uso improvisado de muretas, canteiros e até mesmo o chão, como superfícies de repouso. O canteiro curvado, era o mais escolhido para esse fim. Desconhecidos se distribuíam ao longo da mureta para descansar, se distanciando cerca de 1,5 ou 2 metros um dos outros, como se houvesse uma convenção social pré-estabelecida para casos como esses.

3

. Os usuários eram majoritariamente homens, e desse grupo, a maioria idoso. Os jovens sentavam por certa de 15 a 20 minutos, apenas para descansar do ritmo que estavam e para logo depois retomá-lo. Já os mais velhos, ficavam por longos períodos de tempo na praça, observando o movimento ou conversando com grupos de conhecidos.

4

. Poucas mulheres frequentavam o local, a presença delas era de passagem ou de permanência rápida. Raramente ficavam sozinhas, o que pode ser um indicador de falta de segurança no espaço.

5

. Poucas crianças e famílias frequentando o local tanto nos dias da semana quanto nos fins de semana, mesmo com a presença de duas grandes ocupações nas proximidades. A ocupação Mauá e a ocupação Prestes Maia, com 237 famílias e 400 famílias, respectivamente.

6

. Os locais de sombra de árvores não possuem bancos e os locais de bancos, não possuem sombras de ávores (com exceção de um banco), o que faziam muitos usuários preferirem sentar no chão do que nos mobiliários ensolarados.

7

. Durante o fim-de-semana o fluxo de pessoas diminui bastante, os comércios se encontram fechados e apenas os bares abertos. Nota-se um uso da praça pelos moradores da região: jogos de futebol, pessoas andando de bicicleta, jovens reunidos escutando música, pessoas bebendo nos bares do entorno.


63

A partir do reconhecimento do uso no espaço existente, propus intervenções pontuais em locais diversos da praça do metrô, de modo a discutir o espaço existente e o que pode vir a ser no futuro. Já a praça proposta no lote vago anexo, tem uma proposta diferente de debate, afinal, as duas, apesar de temporárias, possuem temporalidades distintas, uma continuará como praça, espaço público, a outra, muito provavelmente, cederá espaço para algum empreendimento particular no futuro. Na praça do metrô, se discute o espaço público e a sua qualidade como praça, de como torná-la mais democrática, segura e conectada com seu entorno. A praça proposta no lote vago, se volta para a problemática dos lotes vagos na cidade que não cumprem sua função social, mostrando o potencial de transformação desses espaços. Como intenção de projeto, a praça do lote vago, foi encarada como um espaço de suporte para a ativação da praça existente, promovendo uma relação simbiótica entre as duas. A distribuição programática do projeto deu-se pela seguinte lógica: intervenções para a criação de espaços adequados para usos detectados durante as visitas e observações na praça do metrô, enquanto na praça em anexo, espaços para abrigar atividades e eventos culturais que farão parte do processo de ativação e apropriação do espaço e da praça vizinha


64 ENSAIOS PROJETUAIS

ocupação Prestes Maia

saída Estação Luz linha 4 - Amarela

ocupação Mauá

Situação atual da área de intervenção: praça do metrô e lote vago vizinho. O fluxo principal de pedestres é notável na direção longitudinal da praça. O espaço é inteiro cercado por grades, com apenas 3 aberturas para facilitar o controle, já que o espaço fica fechado das 19:00 até as 6:00, todos os dias. Já o lote vago é inteiro cercado por muros altos.

A intervenção proposta respeita o fluxo principal da praça e propõe um novo, transversal, com a retirada das grades que cercam o espaço.


65

Entende-se que a praça existente possui apenas fluxos, carecendo de espaços de permanência, enquanto a praça proposta no lote anexo, criou um novo fluxo, antes impossibilitado pela presença dos muros. Uma é o inverso da outra, enquanto uma não havia por onde ficar, só passar, o projeto propõe espaços para quebrar esse ritmo. Enquanto a outra, não havia por onde passar, não havia nenhuma conexão por estar entre muros, o projeto visa conectá-la ao seu entorno e com a praça vizinha, concedendo-lhe uma dinâmica.

A praça no lote vago pode ter conexões entre os espaços edificados e livres privados do futuro empreendimento e os espaços livres da praça atual.


66 ENSAIOS PROJETUAIS I PLANTA

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LEGENDA 1. MOBILIÁRIO MÓVEL 2. PLAYGROUND 3. DECK 4. MINI-QUADRA 5. UNIDADE CENTRO ABERTO 6. MOBILIÁRIO FIXO 7. ÁREA DE LAZER GRAMADA 8. ÁREA PARA FEIRA 9. UNIDADE CENTRO ABERTO + FABLAB 10. MARCENARIA 11. ARQUIBANCADA 12. PALCO

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68 ENSAIOS PROJETUAIS I PLANTA OCUPAÇÃO ESPONTÂNEA


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Vista da esquina entre os cruzamentos da Rua Mauá e Rua Brigadeiro Tobias

As intervenções da praça do metrô foram pensadas para adequar atividades cotidianas observadas durante as análises de campo. Na parte da praça que se conecta com a Rua Mauá, a declividade da rampa foi coberta por um deck elevado que se mantém na altura do piso da praça e, posteriormente, se rebaixa ao nível da calçada através de escadas e arquibancadas para se comunicar melhor com o seu entorno imediato, a banca e os inúmeros bares da Rua Mauá. O deck tem o intuito de ser ocupado por mesas e cadeiras nos fins de semana, dias quais os bares da área se encontram bastante frequentados. A arquibancada pode servir para o repouso de transeuntes ou frequentadores da banca. Já a esquina que se conecta com essa mesma rua, pequenos mobiliários de madeira transformam alguns espaços da escadaria existente em lugares adequados para sentar. Logo acima, um espaço que sobrou da implantação de respiros do metrô, se mostrou adequado para a implantação de uma mini quadra, resolvida com tinta, apenas. Grades basculantes são propostas para cercar o espaço para o uso da quadra, ao mesmo tempo que permite a passagem quando a mesma não está sendo usada.


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Vista do Playground

Mais no miolo da praça, um playground de estrutura de andaime foi planejado, junto com um espaço onde se propõe um sistema de mobiliário móvel. A intenção do desenho do playground foi de criar um percurso para as crianças, com obstáculos, balanços, cama e rede, escorregadores, ao longo do caminho. A área é cercada por paredes inclinadas para escalada, de forma a criar um espaço mais íntimo para brincadeiras


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Em anexo ao playground, foi proposto uma área com sistema de móbiliário sob trilhos, com o intuito de dar o protagonismo do espaço a seus usuários. Os elementos móveis tem alturas e desenhos diferenciados para, dependendo de como estão distribuídos no espaço, podem compor espaços distintos, de repouso, áreas de convivência, um pequeno anfiteatro, mesas para estudos e refeições.

Vista dos mobiliários móveis

William Whyte, em seu documentário The Social Life of Small Urban Spaces, observa que mobiliários móveis funcionam melhor que os fixos, pois dá ao usuário a opção de escolha e decisão. As entrevistas de pós ocupação realizadas no Centro Aberto confirmam essa hipótese, a maioria dos entrevistados indicaram esse tipo de mobiliário como o elemento preferido das intervenções. No caso desta proposta projetual, o intuito desses elementos sob trilhos não se trata apenas de dinamizar o espaço, mas como uma estratégia de análise do mesmo para discussões futuras. A idéia é que durante o acompanhamento de pós ocupação do projeto - parte de todo o processo de ação do Centro Aberto -, seja observada a composição espacial de acordo com o dia, hora, clima e até a dinâmica social do contexto que influenciou as escolhas de posicionamento dos elementos pelos usuários. A área escolhida para esse sistema de trilhos não foi arbitrária, deve-se ao grande número de encontros e reuniões que se estabelecem nessa região da praça. Outro fator foi a presença mais concentrada de árvores nessa parte, que fornecerão sombras agradáveis, e, por último, a quantidade de pequenos estabelecimentos de comida na Avenida Cásper Líbero fez-se necessário considerar mesas para refeições como parte do sistema de elementos móveis, observando-se que, a maioria deles, não existem áreas para o consumo de seus produtos dentro de seus estabelecimentos, devido a falta de espaço e sua proposta de “comida de rua”.


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Vista das áreas de lazer, refeição e feira

A praça anexa implantada no lote vago, se conecta com a praça do metrô através de caminhos transversais que procuram vencer os obstáculos causados pelos elementos existentes, desviando de pequenos respiros, caixas técnicas e os diferentes níveis das muretas, guiando o usuário da praça existente para os fluxos propostos na praça anexa, formalizados pelo desenho dos decks. A vegetação que se encontra é o vestígio do lote vago, ruderal, reforçando a necessidade de se construir caminhos ao longo do lote. Na parte da praça voltada para a Avenida Cásper Líbero, um recuo foi projetado, com o intuito de criar um espaço convidativo aos pedestres e para feiras de rua. Um espaço com mesas e bancos fixos foram pensados para o caso da realização de feiras de comida, e em um outro recuo, um pouco mais no miolo do terreno, garantindo um ambiente com aspecto um pouco mais intimista, propõe-se uma área de gramado com relevos, planos inclinados desenhados para funcionar como mobiliários de vegetação


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Marcenaria da Vila Itororó e projetos construídos no espaço. Foto: autoria própria


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Na extremidade oposta do projeto, uma arquibancada com estrutura de andaimes se volta para um palco projetado para pequenas apresentações ao ar livre, ambos são estrategicamente implantados para que a empena do prédio vizinho possa servir para projeções, cujos espectadores poderão se acomodar adequadamente nessa mesma arquibancada. Por último, uma unidade pequena do Fablab Livre SP e uma marcenaria seriam implantados no terreno com o intuito de oferecer oficinas, cursos e palestras para a comunidade. Os elementos construídos em conjunto com a mesma, durante esses cursos ministrados serviriam para habitar a praça, ao mesmo tempo que se mostram como uma forma de contar com a participação de moradores locais na construção do espaço público em questão. Algo similar ao que ocorre na Vila Itororó, que conta com uma unidade pequena do FabLab Livre SP[17] - equipada com uma minifresadora e uma impressora 3D -, e uma marcenaria, onde os mobiliários, canteiros, pistas de skate, entre outras produções realizadas no espaço, compõem os galpões da Vila. A diferença é que o Fablab e a marcenaria proposta no projeto sejam móveis, por isso o uso do container como estrutura para abrigar essas atividades. Levando em conta um quadro geral do plano de urbanismo tático em São Paulo, a idéia é que o Fablab e a marcenaria itinerante auxiliem na construção e ativação dos espaços públicos que fazem parte do programa do Centro Aberto, atuando como uma espécie de “polinizadores” urbanos: implantados em uma intervenção temporária, auxiliando na construção desse espaço e no engajamento da comunidade local e, posteriormente, sendo realocado para a ativação de um novo espaço, assim por diante. Considerando que cada espaço teria uma configuração diferente da outro, consequentemente os containeres teriam que ser passíveis de serem implantados em diversas combinações para se adequar a cada situação espacial, sendo necessário uma modulação de estruturas e cortes para aberturas.

unidade Centro Aberto

marcenaria

FabLab

No contexto do projeto, a marcenaria foi alocada no térreo, devido à logística de instalação de máquinas grandes e pesadas (a marcenaria e o Fablab da Vila Itororó serviram como referência sobre a dimensão do espaço e máquinas necessárias). Para compor o espaço, 3 containeres do tipo 40 pés e 1 container de 20 pés foram combinados, obedecendo uma modulação de corte e com o objetivo de criar um espaço de estar a céu aberto da oficina. O Fablab, contudo, foi alocado para o segundo piso, cujo acesso é dado pela arquibancada que ganha uma extensão com a cobertura da marcenaria, e divide espaço de 2 containeres de 40 pés com a unidade de manutenção do Centro Aberto, que forneceria mobiliários móvei e guarda-sóis, como empréstimo, para os usuários da praça habitarem o local.

[17] FabLab Livre SP é uma rede de laboratório público de fabricação digital, programa da Prefeitura Municipal de São Paulo que conta com 12 unidades espalhadas pela cidade. Oferecem mensalmente cursos e oficinas gratuitos e são equipadas com impressoras 3D, cortadoras a laser, fresadoras, e outros equipamentos. Fonte: site da PMSP. Acessado 23 Nov 2016. <www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/servicos/inclusao_digital/index. php?p=194463>



Tactical Urbanism and the Role of Planners, 2013

Mark Lakeman, fundador da organização City Repair

“The role of a planner… is to be facilitative. Not just to accomplish a project, but to facilitate the development of the literacy of the population so that everyone can start to become familiar with design principles and design practices… they become better participants.”


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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obre a arquitetura e a sociedade contemporânea

Me aprofundar sobre um tema tão atual como trabalho final me concedeu perspectivas sobre, não somente a arquitetura, mas a sociedade em que vivemos. O reconhecimento e compreensão de novas dinâmicas sociais contemporâneas foram imprescindíveis para o entendimento das propostas e intenções dessa arquitetura temporária e, ao mesmo tempo, me voltar para as próprias análises e reflexões sobre como uma nova arquitetura pode responder a esses novos anseios sociais, se adequar a essas novas conexões humanas. Divagações foram feitas sobre o real papel do arquiteto, de como exercer a profissão, intervir nos espaços públicos, e ao mesmo tempo democratizar a arquitetura e o urbanismo, tirando o protagonismo e o direito de intervir na cidade dos planejadores e devolvendo à comunidade. Penso ser necessário que o debate sobre o futuro das cidades seja acessível, envolva a comunidade e não se limite apenas ao círculo dos profissionais envolvidos no assunto. Como melhorar uma cidade quando os cidadãos que a habitam são excluídos da discussão? Se não democratizarmos o conhecimento sobre arquitetura e urbanismo, mais superficiais serão as exigências sobre a qualidade dos espaços da cidade. Sem referências ou boas vivências reais na cidade, como as pessoas irão reinvindicar sobre algo que não lhes é familiar ou que não têm conhecimento sobre? Os espaços públicos têm um papel pedagógico e transformador, experiências de qualidade podem mudar a percepção e olhar do usuário em relação aos lugares, a cidade, elevando o seu nível de exigência em relação à qualidade dos espaços que frequenta e dos que compõem o urbano.


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Com o estudo da arquitetura temporária, passei a valorizar o processo tanto quanto o produto final. A qualidade espacial de um projeto é de suma importância para o seu sucesso, no entanto, não é o suficiente. As etapas que o concebem são importantíssimas para torná-lo mais participativo e pertinente ao entorno e a comunidade local. No caso dos espaços públicos, o projeto não acaba após sua implantação, uma programação cultural, de eventos, parcerias com grupos, manutenção, são de extrema importância para que o projeto seja habitado. Deve-se levar em conta que no momento em que se foca em discutir o espaço, mesmo nas intervenções temporárias que não mostram resultados esperados ou satisfatórios, algo sempre se aprende com o processo, deve-se analisar, reformular e intervir novamente de uma forma melhor. No Brasil, não temos a cultura da experiência, do valor do processo, espera-se dos projetos e políticas públicas o total êxito imediato, onde a abertura é quase inexistente para propostas que fogem da abordagem convencional de planejamento, as poucas que são realizadas encontram resistência. A intenção experimental que permeia a lógica do urbanismo tático, não é para céticos, no entanto, podemos deparar com vários deles quando se trata da discussão da cidade, propostas de programas e projetos com abordagens unusuais, geralmente, só avançam quando se garante que em outros países foi bem sucedido, quase sempre importamos idéias, descrentes demais para investirmos em propostas inéditas.

Durante todo curso de graduação, me deparava com um tradicional método de análise da área em que iria projetar, estudo da insolação, direção dos ventos, levantamento do uso do solo e altura dos prédios do entorno, visitas de campo, estudo das condições do terreno, contagem de fluxo, estudo da população, entre outros, no entanto, sempre foram dados frios, distantes da vida real que acontece ali, na calçada, na escala do observador, com uma conexão real com os usuários do espaço. Após um sopro de elucidação com o documentário de William Whyte, somado com o conhecimento do estudo sensível de pré e pós ocupação realizada pelo Centro Aberto nas intervenções e experiências de projeto durante o intercâmbio, passei a focar minhas análises sobre as relações invisíveis que acontecem numa escala muito íntima dos usuários. Minhas tardes de observação no terreno, caçando esses pequenos detalhes imperceptíveis aos desatentos, passaram a ser muito mais interessantes. O simples ato de observar me ensinou muito sobre a influência do espaço sobre as pessoas e até mesmo o meu olhar para com a cidade, onde caminho achando divertido observar as interações sociais e as relações invisíveis que acontecem ao meu redor.

obre práticas experimentais

obre um novo jeito de olhar os espaços


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BIBLIOGRAFIA

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