Fisiologia do exercicio 2008 pdf editora atlantica

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FISIOLOGIA volum e 0 7 - núm ero 0 1 • Jan/ Abr 2 0 0 8

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• Aspectos físicos e fisiológicos do jovem jogador de futebol

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• Identificação de riscos em adolescentes DO E X E R C Í C I O DO E X E R C Í C I O • Autopercepção da saúde após alongamento

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FISIOLOGIA volume 07 - número 03 • Set/Dez 2008

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• Exercícios resistidos em hipertensos • Adaptações ao destreinamento

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PERGUNTAS E RESPOSTAS

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Índice volume 7 número 1 - janeiro/abril 2008 EDITORIAL Carta ao leitor, Paulo Tarso Veras Farinatti ................................................................................................................... 3 ARTIGOS ORIGINAIS Correlação entre perfil lipídico e percentual de gordura de acordo com a característica dos sistemas energéticos glicolítico e oxidativo em indivíduos na faixa etária de 25 a 35 anos, Eduardo Fernandes de Miranda, Marco Antonio Freitas de Souza, Higor Lira Bastos, Daniele Bueno Godinho Ribeiro, Cesamar Fernandes de Miranda, João Bartholomeu Neto, Ricardo Yukio Asano, Max Luciano Dias Ferrão, Estélio Henrique Martin Dantas ......................................................................................... 4 Nutrição de futebolistas infantis e juvenis, Silvia Teixeira de Pinho, Daniel Medeiros Alves, Diego Vaz Vaguethi, Patrícia dos Santos Behling, Márcia Buchewaitz ..................................... 10 Educação nutricional aplicada para nadadores infantis de um clube do município de São Paulo, Juliana Oliveira Figueiredo, Tatiana Akemi Kondo, Eliane Araújo dos Santos Cristóvão, Renata Furlan Viebig........................................................................................... 16 REVISÕES Esteróides anabólicos no fisiculturismo, Marcus Vinicius Grecco, Charles Ricardo Morgan ............................................................................................................................................. 21 Aspectos físicos e fisiológicos do jovem jogador de futebol, Giovani dos Santos Cunha, Alvaro Reischak de Oliveira.............................................................................................. 29 Respostas fisiológicas ao remo competitivo, Rafael Reimann Baptista, Alvaro Reischak de Oliveira ......................................................................................................................................... 37 RELATO DE CASO Efeito do percurso sobre a freqüência cardíaca de um ciclista altamente treinado, Débora Wagner, Carlos Mota, Felipe Carpes .............................................................................................. 43 NORMAS DE PUBLICAÇÃO .................................................................................................................................. 49 EVENTOS ................................................................................................................................................................. 51

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Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Conselho Editorial Antonio Carlos Gomes (PR) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Douglas S. Brooks (EUA) Emerson Silami Garcia (MG) Fernando Pompeu (RJ) Francisco Martins (PB) Jacques Vanfraechem (BEL) Luiz Fernando Kruel (RS) Martim Bottaro (DF)

Patrícia Chakour Brum (SP) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Rolando Baccis Ceddia (CAN) Robert Robergs (USA) Rosane Rosendo (RJ) Sebastião Gobbi (SP) Steven Fleck (USA) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Vilmar Baldissera (SP)

Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu

Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Rua Teodoro Sampaio, 2550/cj 15 Pinheiros – 05406-200 – São Paulo – SP Tel: (11) )3816-6192 Recife Rua Dona Rita de Souza, 212 52061-480 – Recife – PE Tel.: (81) 3444-2083 Assinaturas 1 ano – R$ 175,00 Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 São Paulo: (11) 3361-5595 Email: melloassinaturas@uol.com.br Recife: (81) 3444-2083

Editora Assistente Guillermina Arias Editoração e arte Cristiana Ribas Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin jeanlouis@atlanticaeditora.com.br

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Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências, Nutrição Brasil e MN-Metabólica.

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Editorial Carta ao leitor Prof. Dr. Paulo Tarso Veras Farinatti

Editor-Chefe da RBFEx

É com prazer que apresentamos o primeiro número do volume 7 da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx). A partir de 2008, a revista volta a ser publicada com periodicidade quadrimestral, com a perspectiva de, progressivamente, aumentar o número de artigos em cada número. A quantidade de manuscritos submetidos vem crescendo sistematicamente. De fato, de 2006 a 2008 o número de textos enviados para avaliação elevou-se em quase 40%. Com isso, foi possível implementar um processo efetivo de revisão por pares, com a participação de um número expressivo de revisores. Além disso, projeta-se em prazo relativamente curto o aumento da periodicidade da revista, a fim de se veicular um quantitativo anual de artigos compatível com a indexação em bases de dados que permitam uma melhor classificação da RBFEx. Conforme apontado em ocasião anterior, estuda-se igualmente a possibilidade

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de se ampliar, a partir de 2009, a abrangência da revista. Para tanto, devem ser criadas seções específicas tratando dos diferentes ramos da fisiologia do exercício (básica, treinamento físico, nutrição etc). É claro que todos esses planos continuam dependendo da colaboração dos pesquisadores que acreditam no projeto da RBFEx, alimentando-a com os resultados de seus trabalhos. Somos de opinião de que a diversificação de veículos qualificados para divulgação do que se faz em termos de pesquisa é algo necessário para a popularização do consumo da produção de conhecimento da área em nosso país. Contamos com a ajuda de todos, agradecendo muito àqueles que enviaram manuscritos, investiram energia e tempo na seleção de artigos para publicação e que, enfim, vêm participando ativamente do processo de publicação da revista. Cordialmente.

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Artigo original Correlação entre perfil lipídico e percentual de gordura de acordo com a característica dos sistemas energéticos glicolítico e oxidativo em indivíduos na faixa etária de 25 a 35 anos Correlation between lipid profile and the percentage of fat according to the characteristics of the oxidative and glycolic energy systems in people between 25 and 35 years old Eduardo Fernandes de Miranda*, Marco Antonio Freitas de Souza**, Higor Lira Bastos**, Daniele Bueno Godinho Ribeiro***, Cesamar Fernandes de Miranda***, João Bartholomeu Neto****, Ricardo Yukio Asano****, Max Luciano Dias Ferrão*****, Estélio Henrique Martin Dantas****** *Especialista em Personal Training pela ESEFIC-SP, Professor da Faculdade UNIRG-TO, Laboratório do Exercício da Faculdade UNIRG-TO, **Acadêmico do curso de Educação Física da Faculdade UNIRG-TO, Bolsista do CNPq no Laboratório do Exercício da Faculdade UNIRG, ***Acadêmico do curso de Educação Física da Faculdade UNIRG-TO, Laboratório do Exercício da Faculdade UNIRG-TO, **** Professor da Faculdade UNIRG-TO, Laboratório do Exercício da Faculdade UNIRG-TO, *****Pesquisador do Laboratório de Biociências da Motricidade Humanas, Professor da Universidade Estácio de Sá, ******Professor Titular do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da UCB-RJ, Pesquisador do Laboratório de Biociências da Motricidade Humanas

Resumo

Abstract

Objetivo: Analisar a correlação do perfil lipídico e percentual de gordura de acordo com a característica do sistema energético (oxidativo e glicolítico). Amostra: Foram convidados 25 indivíduos de ambos o sexo, com idade entre 25 e 35 anos. Materiais e métodos: Utilizou-se exame de dermatoglifia para dividir os grupos de acordo com a prevalência do sistema energético, avaliação antropométrica para determinação da composição corporal e análise de sangue para determinação do perfil lipídico. Análise dos dados: Através de uma estatística descritiva que foi composta por medidas de tendência central e a estatística inferencial para correlação linear de Pearson. Os resultados não demonstraram perfeita correlação, nem se obteve inexistência correlativa em ambos os grupos. Apenas os grupos femininos apresentaram alta correlação como também significância p < 0,05 em algumas das variáveis do perfil lipídico. Grupo oxidativo: (TG = 0,8522; VLDL = 0,8572) grupo glicolítico: (LT = 0,8597; TG = 0,8759; VLDL = 0,8612). Conclusão: Os grupos femininos, tanto o de sensibilidade ao sistema energético oxidativo quanto o do sistema energético glicolítico, apresentaram maior tendência às disfunções lipídicas quando seu percentual de gordura estavam fora dos padrões normais.

Objective: To analyze the correlation of the lipid profile and percentage of fat according to the characteristic of the energy system (oxidative and glycolic). Samples: 25 people of both sexes aged between 25 and 35 were invited. Materials and methods: A dermatogliphy exam was used to divide the groups according to the prevalence of the energy system, anthropometric assessment to determine the body composition and blood analysis to determine the lipid profile. Data analysis: A descriptive statistic, which was composed by the measures of central tendency and the inferential statistics for the Pearson line correlation were needed. The results didn’t show perfect correlation and the correlative inexistence wasn’t reached in any of the sexes either. Only the female groups showed high correlation and significance p < 0.05 in some of the changes of the lipid profile. Oxidative group: (TG = 0.8522; VLDL = 0.8572) glycolic group: (LT = 0.8597; TG = 0.8759; VLDL = 0.8612). Conclusion: In the female groups the sensibility both to the oxidative energy system and to the glycolic energy system shows higher tendency to lipid dysfunctions when its fat percentage is off the normal patterns. Key-words: lipid profile, energy system, fat percentage.

Palavras-chave: perfil lipídico, sistema energético, percentual de gordura.

Recebido em 12 de maio de 2008; aceito em 23 de maio de 2008. Endereço para correspondência: Eduardo Fernandes de Miranda, Rua C 7, 134, 7735-070 Gurupi TO, Tel: 63-33125541, E-mail: eduardo251077@hotmail.com

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Introdução

Materiais e métodos

A obesidade é uma desordem metabólica e nutricional crônica que tem conseqüências graves, como aumento dos adipócitos, a hiperlipidemia e a resistência à insulina. Atualmente é considerada um dos mais graves problemas de saúde [1,2]. Sabe-se que tal desordem metabólica é de etiologia multicausal, ou seja, pode ser determinada por diversos fatores - genéticos, neuroendócrinos, metabólicos, dietéticos, ambientais, sociais, familiares, psicológicos e medicamentosos -, que proporciona acúmulo excessivo de energia no organismo, sob a forma de gordura [3]. O tratamento dietético da obesidade deve objetivar metas realistas quanto à velocidade de perda ponderal e à quantidade de peso perdido. Preconiza-se prescrição de dieta hipocalórica balanceada e enfatiza-se, inicialmente, a qualidade dos alimentos, seguindo modelo proposto pela pirâmide alimentar, com a intenção de que o paciente adquira critérios adequados de escolha e faça opções saudáveis [4]. A ingestão calórica excessiva provocará um acúmulo de gordura, que está relacionado a dislipidemias, difusão caracterizada por distúrbios nos níveis de lipídios circulantes associada a níveis séricos aumentados de colesterol total (CT); fração de colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL) e de triglicerídeos, que atuam como fatores de risco. Entretanto, o colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL), que atua como fator de proteção do sistema cardiovascular, sofrerá uma diminuição [5,6]. A pesquisa de Kannel [5] demonstra que, além do colesterol, as doenças coronarianas são precedidas por outras variáveis biologicamente plausíveis e correlação de fatores de predisposição de risco à saúde. As variáveis ambientais envolvidas na alteração do perfil lipídico incluem: tabagismo, sedentarismo e dieta, e estão associados posteriormente com lesões avançadas de aterosclerose [6]. Alguns estudos demonstraram a relação entre obesidade e o tipo de fibra muscular, pois pessoas com predominância de fibra tipo II (glicolíticas) terão maior probabilidade à obesidade; esse tipo de fibra apresenta uma baixa eficiência na utilização da gordura como fonte energética. Desse modo, o indivíduo que apresenta predominância de fibras tipo I (oxidativas) tem menor probabilidade de acúmulo de gordura por ter facilidade de utilizá-las como fonte de energia [7,8]. As fibras musculares do tipo I (oxidativa) possuem um conteúdo mais eficiente na captação de glicose (insulinaregulado) do que o metabolismo da glicose da fibra muscular do tipo II (glicolíticas) [9]. A partir dessas informações, por tal investigação, este trabalho visa verificar, a predominância do sistema energético e sua correlação entre perfil lipídico e o percentual de gordura em indivíduos entre 25 e 35 anos.

Amostra

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A amostra foi composta de 25 indivíduos na faixa etária de 25 a 35 anos, de ambos os sexos e residentes na cidade Gurupi/TO. Foram convidadas a serem voluntárias da pesquisa, as pessoas que estiveram presentes no Laboratório Labnort, no horário das 7 às 10 horas, nos meses de março e abril de 2007 e que apresentassem, em seu pedido de exame médico o perfil lipídico. A amostra foi dividida de acordo com as características dos desenhos dermatoglíficos em grupo de sistema energético oxidativo (Grupo I) e grupo de sistema energético glicolítico (Grupo II). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade UNIRG, em fevereiro de 2007.

Procedimentos Para que as metas propostas por este estudo fossem alcançadas, utilizamos para determinar as características antropométricas uma balança com estadiômetro, da marca Balmak. Para obtermos o percentual de gordura, utilizamos o protocolo de três dobras de Jackson e Pollock e, para isso, foi necessário um adipômetro da marca Lange Skinford Caliper. Através do kit Labtest, chegamos ao perfil lipídico das pessoas que participaram do estudo. Para a dermatoglifia, utilizouse o coletor da marca Print Matic e papel branco tamanho A4. O estudo de Abramova et al. [10] mostra um esquema de associações das impressões das digitais com as qualidades físicas, com a seguinte base: para o sistema energético glicolítico, a qualidade física de velocidade e a força explosiva são caracterizadas pelo aumento das presilhas (L > 7), diminuição dos verticilos (W < 3), presença de aumento dos arcos (A) e redução do somatório das quantidades totais de linhas (SQTL). Já no sistema energético oxidativo, a resistência e as atividades de combinações motoras complexas são caracterizadas pela diminuição dos A e L < 6, aumento dos W > 4 e maior contagem de SQTL. Com base em Silva et al. [11], podemos correlacionar os sistemas energéticos (glicolítico e oxidativo) com os parâmetros dermatoglíficos. Arco “A” – sem delta Presilha “L” – 1 delta Verticilo “W” – 2 delta

Análise estatística O tratamento estatístico foi realizado com o programa BioEstat 4.0 para determinar a característica descritiva da

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amostra, através dos cálculos de média e desvio padrão. Em seguida foi determinada a normalidade da amostra através do teste de Shapiro-Wilk. Então, utilizou-se o teste de Pearson para determinar a correlação entre as variáveis do perfil lipídico e o percentual de gordura.

Resultados A Tabela I apresenta os valores das médias e desvio padrão das variáveis que caracterizam as amostras masculina e feminina do grupo com predominância do sistema oxidativo. Utiliza-se o IMC como parâmetro de classificação da relação peso e altura dos sujeitos da pesquisa, que ficam classificados como em estado de sobrepeso. Adiante, verifica-se que o percentual de gordura dos indivíduos do sexo masculino se classifica em um estado ruim. Já quando se trata do público feminino, nesta pesquisa, os resultados ficam classificados como estar “abaixo da média” em relação de percentual de gordura subcutânea. Essa classificação indica que o público da pesquisa se encontra com a quantidade de gordura subcutânea acima dos valores considerados saudáveis.

que, de acordo com o gênero, encontrou-se uma prevalência maior de obesidade entre os jovens do sexo masculino quando comparados aos valores do sexo feminino no índice de massa corpórea, no mesmo estudo o autor apresenta o resultado da gordura subcutânea, cuja prevalência foi maior no %G no sexo feminino cerca de 92% e de 56% no sexo masculino, confirmando os escores do estudo expostos na Tabela II. Alicerçando aos resultados obtidos da pesquisa, Paula [13], em seu estudo com participação de adultos com idade superior a 20 anos (homens e mulheres), com enfermidades crônicas não transmissíveis (hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia), mostrou que, independentemente de tais enfermidades, 75% dos indivíduos estavam com IMC acima do normal, ditos em obesidade grau I (Organização Mundial de Saúde 1995, 1997). Conclui-se que as ECNT (enfermidades crônicas não transmissíveis) foram mais prevalentes dentre os indivíduos classificados como obesos e, no entanto, os indivíduos do sexo feminino estão mais susceptíveis a tais enfermidades. Tabela II - Comportamento médio das características do grupo II. Variáveis Indivíduos Índice massa corporal Percentual de gordura Lipídios totais Triglicerídeos Colesterol total HDL LDL VLDL

Tabela I - Comportamento médio das características do grupo I. Variáveis

Masculino

Indivíduos

5

Índice massa corporal

27,71 ±

Percentual de gordura Lipídios totais Triglicerídeos Colesterol total HDL LDL VLDL

26,10 ±

Feminino 6

4,78

b

7,75b

660,20 ± 239,04a 132,60 ± 70,97a 191,80 ± 63,54a 43,00 ± 7,48c 122,60 ± 48,42a 26,20 ± 13,81a

25,51 ± 29,70 ±

6,20

b

7,55b

668,83 ± 161,58a 117,33 ± 83,64a 200,50 ± 41,63a 55,17 ± 19,49a 122,00 ± 42,01a 23,33 ± 16,87a

Normalidades: a = dentro da normalidade; b = acima da normalidade; c

= abaixo da normalidade

A Tabela II apresenta os valores das médias e desvio padrão das variáveis que caracterizam a amostra masculina e feminina do grupo com predominância do sistema glicolítico. O IMC do grupo masculino aponta uma classificação de sobrepeso. Já a classificação do grupo feminino, dentro dos parâmetros do IMC, fica estabelecida como normal. Por conseguinte, apresentados os resultados dos valores de percentual de gordura da amostra, nota-se que tanto o grupo masculino quanto o grupo feminino estão classificados, segundo Pollok e Wilmore, como abaixo da média predita, ou seja, com valores acima do recomendado para uma população com essas características para a manutenção dos níveis de saúde. Com esses resultados expostos nas Tabelas I e II, o estudo de Pinto [12], que parte de uma análise do estudo nutricional em adolescentes na faixa etária entre 14 e 18 anos, demonstra

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Masculino 7 28,02 ± 3,38b

Feminino 7 23,47 ± 2,87ª

22,69 ± 8,78b

27,13 ±

656,70 ± 88,19a 150,43 ± 52,62a 185,57 ± 21,28a 46,00 ± 12,87c 95,40 ± 33,79a 29,89 ± 10,69a

6,30b

629,14 ± 121,09a 113,57 ± 45,21a 187,43 ± 32,12a 54,14 ± 9,65c 111,00 ± 26,94a 22,29 ± 9,20a

Normalidades: a = dentro da normalidade; b = acima da normalidade; c

= abaixo da normalidade

O Gráfico 1 apresenta os resultados da correlação entre percentual de gordura e perfil lipídico nos grupos masculino e feminino, para os que têm maior predominância para utilização da fonte energética oxidativa. É notória a diferença entre os sexos na correlação dos dados, pois no grupo masculino as variáveis analisadas que caracterizam o perfil lipídico foram: TG (triglicerídeos) e VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade), entre as quais se notou baixa correlação; já os LT (lipídios totais), o CT (colesterol total) e os LDL (lipídios de lipoproteína de baixa densidade) apresentaram média baixa correlação, sendo que na HDL (lipoproteína de alta densidade) foi determinada uma média correlação com o percentual de gordura. Adiante, observou-se que no grupo feminino ocorreu uma maior alteração nas correlações das variáveis do perfil lipídico, principalmente nos: TG, VLDL, que foram classificados por apresentar uma média alta correlação; nos LT, para os quais se notou uma média correlação; nos LDL, com média baixa correlação; e, por

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fim, as HDL, apresentaram uma baixa correlação com o percentual de gordura. No entanto, é possível afirmar, também, que os indivíduos do sexo feminino deste grupo demonstraram uma maior correlação em algumas das variáveis lipídicas com o percentual de gordura quando comparado com os dados dos indivíduos do sexo masculino, com isso exibem uma maior tendência a disfunções lipídicas.

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Gráfico 2 - Correlação entre percentual de gordura e perfil lipídico no grupo II

Gráfico 1 - Correlação entre percentual de gordura e perfil lipídico do grupo I.

*indica significância para p < 0,05. **indica significância para p < 0,01. LT: Lipidios totais. TG: Triglicerideos. HDL: Lipoproteína de alta densidade. LDL: Lipoproteína de baixa densidade. VLDL: Lipoproteína de muito baixa densidade.

Discussão

*indica significancia para p < 0,05. LT: Lipidios totais. TG: Triglicerideos. HDL: Lipoproteína de alta densidade. LDL: Lipoproteína de baixa densidade. VLDL: Lipoproteína de muito baixa densidade.

O Gráfico 2 apresenta os resultados da correlação entre percentual de gordura e perfil lipídico no grupo masculino e feminino, agora com predominância de fibras glicolíticas. Diante dos resultados, nota-se que, nos indivíduos do sexo masculino, as variáveis analisadas que caracterizam o perfil lipídico, tais como LT (lipídios totais), HDL (lipoproteína de alta densidade), e LDL (lipoproteína de baixa densidade), apresentam média baixa correlação com o percentual de gordura subcutânea; já entre os TG (triglicerídeos), a VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade) mostrou-se com baixa correlação; no entanto, em relação ao CT (colesterol total), verificou-se uma média correlação. Trataremos, agora, dos convocados do sexo feminino. Pode-se afirmar que as variáveis do perfil lipídico apresentaram uma maior correlação com o percentual de gordura, quando comparados com os resultados dos indivíduos do sexo masculino, pois os dados abaixo demonstram claramente tal afirmativa. Houve alta correlação entre LT, TG e VLDL; adiante, no CT e LDL percebeu-se média alta correlação e, por fim, no HDL, nota-se média baixa correlação. Portanto, nos resultados analisados dentro do universo da pesquisa, é valido dizer que existe correlação entre o perfil lipídico e o percentual de gordura, tanto nos indivíduos do sexo masculino quanto e, principalmente, nos do sexo feminino. Mesmo assim, é preciso salientar que não se obteve perfeita correlação nem se demonstrou inexistência nas classificações das estimativas de correlação.

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Diversos estudos foram realizados em diferentes regiões do país, com o intuito de detectar os níveis de sobrepeso e obesidade, mas tais informações que representam a população brasileira ainda são escassas devido à dimensão territorial, ficando os resultados restritos a estudos regionais [12]. Portanto, na região norte do nosso país, ainda existem poucos estudos sobre obesidade e sobrepeso, o que dificulta uma discussão mais aprofundada sobre os dados apresentados. Um estudo feito nas principais capitais do país, realizado pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição [13], evidenciou que 32% da população brasileira apresentam algum tipo de sobrepeso, destes, 8% são obesos, sendo tal prevalência maior entre as mulheres, as quais chegam a 38%, enquanto nos homens essa proporção chega a 27%. A proporção de sobrepeso e obesidade aumenta com a idade, principalmente entre os 45 e 55 anos: nos homens o índice chega a 37% e nas mulheres a 55%. Cerca de 60% das mulheres no período da menopausa ganham peso entre 2,5 kg a 5,0 kg rapidamente [14]. Portanto, dentro da faixa etária de 25 a 35 anos, a probabilidade de adquirir obesidade é menor, pois o metabolismo basal nesta faixa etária é mais elevado, quando comparado às faixas etárias posteriores. Após os 35 anos de idade, inicia-se a diminuição das variáveis orgânicas, como massa muscular, massa óssea, potência aeróbia e neuromuscular. A diminuição da massa muscular está relacionada à idade, que, por sua vez, está diretamente relacionada à diminuição do gasto calórico diário, aumentando assim as possibilidades de aumento de massa gorda [15]. Em estudo com a participação de adolescentes de ambos os sexos, verificou-se maior percentual de risco de sobrepeso no sexo masculino e de gordura corporal elevada, no feminino.

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Com isso, o percentual de gordura corporal apresentou uma tendência a ser significativamente maior no sexo feminino [16]. É nesse sentido que o estudo de Martins [17] investigou 237 mulheres portuguesas obesas com idade média de 31 ± 14 anos e IMC médio de 34,2 ± 6,0 kg/m2, e observou índices de hipercolesterolemia (200 mg/dl) de 36% e de hipertrigliceridemia (200 mg/dl) de 10%. Em outra investigação, Cercato [18], em São Paulo, estudou 412 mulheres obesas com idade média de 42,9 ± 13,4 anos e IMC médio de 38,9 ± 7,2 kg/ m2; observou freqüências maiores de hipercolesterolemia (colesterol 240 mg/dl em 53%) e de hipertrigliceridemia (triglicérides 200 mg/dl em 18,6%). Partindo desses achados e com a análise dos resultados dos indivíduos do sexo feminino do presente estudo, notou-se alta correlação em algumas das variáveis do perfil lipídico com o percentual de gordura. Do mesmo modo, os escores obtidos pelo grupo de predominância de fonte energética glicolítica apresentaram uma maior correlação em todas as variáveis do perfil lipídico do que as do grupo com predominância de utilização da fonte energética oxidativa. Esse fato pode ser justificado pelo tipo de sistema predominante na fibra muscular esquelética, entretanto não é o único determinante para obesidade. O sistema oxidativo geralmente tem uma atividade de enzima de oxidação mais alta do que o sistema glicolítico; na realidade, foi formado para possuir um conteúdo mais alto do transportador de glicose (insulina-regulado) e maior sensibilidade à insulina do que para metabolismo de glicose do que o sistema glicolítico [9]. Com os resultados expostos nos gráficos do estudo, pode-se dizer que houve correlações das variáveis do perfil lipídico com o percentual de gordura no grupo masculino e principalmente no público feminino, salientando que não apresentou inexistência, como também não atingiu perfeição correlativa. Entende-se que o fato ocorreu pelo baixo percentual de gordura, juntamente pela não constatação de valores do IMC com níveis de classificação que indicam obesidade no perfil da amostra. Estudo realizado em crianças gravemente obesas apresentou positividade na correlação com colesterol total (CT), triglicérides (TG), LDL e negativamente com HDL [19]. Com base no estudo de Quintão [20], a dislipidemia está relacionada a valores aumentados de colesterol total, valores aumentados de LDL, valores aumentados de triglicerídeos e valores diminuídos de HDL. Dessa forma, os achados da pesquisa expostos, não demonstraram alterações anormais relacionadas às dislipidemias, como pode ser visto nas Tabelas I e II.

Conclusão Os dados da pesquisa científica demonstraram que, nos grupos masculino e feminino, existem altas estimativas correlacionais entre o perfil lipídico e o percentual de gordura.

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No entanto, os escores correlacionais obtidos nos grupos do sexo feminino (oxidativo e glicolítico), apresentaram diferença entre si, quanto ao grau correlacional e de significância devido a predominância da fonte energética, assim o grupo feminino com predominância a utilização do sistema energético glicolítico atingiu alta estimativa de correlação assim como a significância (p < 0,05). Portanto, o grupo feminino, tanto com predominância do sistema energético oxidativo como do sistema energético glicolítico, tem uma maior tendência a disfunções lipídicas do que os indivíduos do sexo masculino com a mesma sensibilidade a utilização das fontes energéticas acima mencionadas. A investigação revela que, para obter resultados mais expressivos relacionados à estimativa de correlação, teríamos que selecionar um grupo com percentual de gordura mais elevado e com os níveis de IMC indicadores de obesidade. Por fim, estudos com o propósito de investigar a este assunto ainda são muito escassos no meio científico e, nesse sentido, existe a necessidade de outras investigações para que tais confirmações possam ser ampliadas e mais fundamentadas.

Agradecimentos Agradecemos aos Doutores Jusábdon Naves Cansado e Wanderly Fernandes de Miranda, proprietários do Laboratório Clínico Labnort, onde foi feito o exame de identificação do perfil lipídico. Também somos gratos aos acadêmicos de Educação Física da Faculdade UNIRG, que participaram como amostra da pesquisa e, em especial, ao acadêmico Marco Antonio Freitas Souza.

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Artigo original Nutrição de futebolistas infantis e juvenis Nutrition in sub-15 and sub-17 soccer players Silvia Teixeira de Pinho*, Daniel Medeiros Alves**, Diego Vaz Vaguethi ***, Patrícia dos Santos Behling****, Márcia Buchewaitz***** *Mestranda em Educação Física da ESEF – UFPEL, **Especialista em Treinamento Desportivo – UEL, Preparador Físico do Grêmio Esportivo Bagé, ***Graduado em Nutrição pela UFPEL, ****Graduada em Educação Física da ESEF – UFPEL, *****Professora e Diretora da Nutrição da UFPEL

Resumo

Abstract

O presente estudo teve como objetivo traçar o perfil nutricional de jogadores de futebol e discutir a adequação dietética com as necessidades para esse esporte. A amostra foi composta de 20 jogadores infantis e 20 jogadores juvenis. Para avaliar o hábito alimentar, aplicou-se o questionário recordatório alimentar e os dados foram analisados no software de análise de macro e micronutrientes (DietWin, 2003). Os resultados encontrados demonstraram uma adequação calórica em 40% dos atletas juvenis e apenas 20% dos atletas infantis. A adequação dos macronutrientes na categoria juvenil foi de 50% (CHO), 50% (proteínas) e 60% (lipídeos). Já a categoria infantil apresentou uma dieta hipolipídica (50%), hipoprotéica (80%) e hiperglicídica (50%). Sobre os micronutrientes encontrou-se um consumo abaixo do recomendado (< 70% adequação) em vitamina C, vitamina A, cálcio e cobre, além de uma ingestão excedente (> 110% adequação) de ferro para as duas categorias. Esses resultados permitem concluir que é necessário que se faça uma intervenção nutricional nesse grupo de atletas, tanto para otimizar o desempenho como para garantir uma prática mais saudável para os grupos estudados.

The aim of the present study was to draw the field soccer players’ corporal and feeding profile and to discuss the dietary adaptation with the needs of this sport. The sample was composed by 20 players 14 to 15 years old and 20 players 16 and 17 years old. To make the evaluation of feeding habits, we used the nutritional questionnaire, analyzed by DietWin 2003 software. The results pointed out a caloric adaptation on 40% of the sub-17 players and only 20% of the sub-15 players. An appropriation of macronutrients in the younger category was 50% (CHO), 50% (proteins) and 60% (fat). The sub-15 players presents a diet with less fat (50%) and protein (80%), and hyperglicidic (50%). About the micronutrients was found a consumption below the recommended level (< 70% adaptation) in vitamin C, vitamin A, calcium and copper and a spare (>110% adaptation) ingestion of iron in most of players of the two categories. The results showed that it is necessary to make a nutritional intervention in teenage soccer players to increase the sport performance as well as to obtain healthier dietary practices for those age groups. Key-words: soccer, nutrition, corporal composition, diet.

Palavras-chave: futebol, nutrição, composição corporal, dieta.

Recebido em 10 de dezembro de 2007; aceito 15 de fevereiro de 2008. Endereço para correspondência: Silvia Teixeira de Pinho, Rua Carlos Gotuzo Giacoboni, 1271, 96040-240 Pelotas RS, Tel: (53) 9157 3329, E-mail: silvia_esef@yahoo.com.br

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Introdução O futebol é um dos esportes mais praticados no mundo, e conseqüentemente no Brasil. Apesar disso, o futebol ainda carece de estudos científicos sobre os efeitos da prática dessa modalidade em crianças e adolescentes [1]. Embora os aspectos relacionados ao alto rendimento sejam amplamente discutidos na literatura mundial, os atletas em fase de formação raramente são objetos de estudo científicos. Segundo Ribas [2], o exercício altera as necessidades dietéticas do atleta, devido ao aumento na utilização de substratos energéticos. A falta de orientação nutricional pode levar a erros na reposição energética, comprometendo assim, não só a saúde, como também a performance do atleta. Uma aparente solução para resolver as possíveis deficiências alimentares de atletas é a suplementação. Porém, a escassez de estudos nutricionais para atletas, dificulta a adoção da melhor estratégia alimentar por parte dos profissionais atuantes na educação física e no esporte, impedindo afirmar se o uso de suplementos é adequado ou não. Acredita-se que a prática do futebol requisita dos atletas elevadas demandas energéticas que compreendem valores entre 3150 a 4300 kcal [3,4]. No entanto, diferentes estudos têm demonstrado que o gasto calórico pode ser de 2100 a 2520 kcal em uma única partida [5,6]. No que se refere à reposição calórica, os atletas de futebol ingerem menos calorias do que necessitam para a reposição de seu desgaste [5], ressaltando a importância da utilização de soluções ricas em carboidratos (CHO) com o intuito de retardar o início da fadiga muscular durante o exercício. Além disso, essa estratégia dietética tem a propriedade também de promover a reposição da perda hídrica devido ao desgaste imposto pelo exercício. O estabelecimento de uma dieta equilibrada possibilita ao atleta o aporte calórico e de macronutrientes compatíveis com o exercício, recuperando o desgaste ocorrido [7-9]. Nenhum alimento garante altos níveis de performance em todos os atletas [4], sendo necessário uma adequada orientação nutricional apoiada na experiência e no conhecimento científico, evitando problemas como a superestimação ou subestimação de nutrientes durante a dieta. Os cuidados nutricionais com atletas devem oportunizar um adequado desempenho esportivo e a reposição dos nutrientes utilizados durante a atividade, bem como proporcionar a reposição das perdas de vários nutrientes que ocorreram durante os exercícios. A adequada ingestão de carboidratos garante a reposição do glicogênio muscular e hepático utilizado durante a atividade física [10]. Após os exercícios, o carboidrato é utilizado para repor rapidamente os estoques de glicogênio, beneficiando assim a recuperação e a preparação dos mesmos músculos para atividades posteriores. Atletas que treinam diariamente de forma intensa devem ingerir de 60 a 70% do

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valor energético diário total ou de 6-10 g de carboidratos/kg de peso corporal/dia [4,6,11,12]. Ressalta-se que crianças e adolescentes esportistas demandam um cuidado especial no que se refere ao seu estado nutricional tendo em vista que estão em uma fase da vida sobre intenso crescimento e desenvolvimento e que a prática esportiva poderá provocar modificações de suas necessidades nutricionais normais. Dessa maneira, torna-se importante a realização de avaliação periódica de parâmetros de crescimento e desenvolvimento, bem como de aspectos nutricionais que possam sugerir risco à saúde [13]. O treinamento é capaz de estimular o crescimento muscular, porém sem uma dieta equilibrada, o resultado fica limitado. Segundo Miller [14], além de fatores genéticos e do treinamento, o principal fator que influência a performance é a dieta. Considerando as demandas fisiológicas decorrentes da prática do futebol e o papel da nutrição dos atletas para o fortalecimento desse esporte, o presente estudo objetivou analisar o perfil nutricional de jogadores infantis e juvenis de futebol de campo na cidade de Pelotas, e assim discutir a adequação dietética dos mesmos em comparação com as necessidades requeridas para esse esporte.

Material e métodos A amostra foi composta de 20 jogadores de futebol de campo com idades de 14 e 15 anos (categoria infantil) e 20 jogadores de 16 e 17 anos (categoria juvenil), de duas equipes classificadas para as semifinais do campeonato citadino, na cidade de Pelotas, RS, todos filiados à liga pelotense de futebol. A escolha pelos atletas se deu aleatoriamente, representando aproximadamente um terço da população total de cada equipe. A rotina de treinamento dos atletas constava de 5 sessões de treinamento semanais, com duração de aproximadamente 100 minutos para os infantis e 120 minutos para os juvenis. Para a avaliação não foram considerados os níveis de maturação biológica. Foram coletados dados de peso e altura dos jogadores e também as medidas das pregas cutâneas: triciptal (DTR) e subescapular (DSE), utilizando-se o compasso de dobras cutâneas. Para a análise do percentual de gordura utilizou-se a equação proposta por Slaughter [13].Os materiais utilizados foram: uma balança analógica e estadiômetro (marca Secca) para medir a estatura, um compasso de dobras cutâneas (marca Lange) para medir as dobras cutâneas. Os valores médios encontrados para estatura, peso, IMC e percentual de gordura encontram-se na Tabela I. Observa-se que o peso médio do grupo de jogadores juvenil apresentou valor superior ao grupo infantil o que é indicativo de ingestão alimentar maior.

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12 Tabela I - Caracterização da amostra.

Ida- Altu- Peso IMC DSE DTR % de ra Gord 16,4 1,75 58,2 21,1 8,7 8,9 13,8

Juve- Ménil dia Desv 0,6 0,06 7,3 1,9 Pad InMé- 14,4 1,69 55,9 19,9 fantil dia Desv 0,7 0,06 6,9 2,3 Pad

1,6

1,8

2,5

9,5

8,5

13,6

1,6

1,8

2,4

Para avaliar o hábito alimentar, aplicou-se o questionário recordatório alimentar de 24 horas, em 3 dias não consecutivos da semana (sendo 1 no fim de semana) para se obter uma amostra de consumo, representativa da dieta habitual de cada jogador conforme o procedimento apresentado por Willet [15]. O questionário foi aplicado por estudantes do curso de nutrição e de educação física da Universidade Federal de Pelotas, sob a orientação e supervisão de uma professora do curso de nutrição, sendo o mesmo aplicado em uma sala onde cada aluno era entrevistado individualmente antes das sessões de jogo. Os resultados dos dados de ingestão calórica de macro e micro-nutrientes foram representados pela média dos 3 dias de recordatório, analisados em software de análises de alimentos (DietWin, 2003) e expressos em percentuais. Os percentuais encontrados de consumo foram comparados às recomendações do Institute of Medicine’s Food and Nutrition Board que preconiza as Referências de Ingestão Dietética (DRI’s) [16] para todos os nutrientes. A estimativa do gasto energético dos jogadores foi determinada através da Taxa de Metabolismo Basal (TMB) dos mesmos, calculada pela equação 66,5 + (13,75 x kg) + (5,003 x cm) - (6,775 x age) [17]. Após a divisão do valor da TMB por hora, o resultado foi multiplicado pelas constantes metabólicas, considerando as atividades despendidas com as horas de treinamento físico e outras atividades consideradas leves e muito leves, segundo a Organização Mundial da Saúde [18]. Foram analisados os valores percentuais de adequação dietética para o consumo calórico, consumo de macronutrinetes e micronutrientes (vitaminas e minerais) nas categorias juvenil e infantil. Os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido antes da coleta de dados.

Resultados Observa-se na Figura I sobre a ingestão calórica total, que 40% dos jogadores da categoria juvenil consumiam dieta adequada e 30% acima do recomendado. Para a categoria infantil, observa-se que a grande maioria (70%), apresentou uma dieta hipercalórica.

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Figura 1 - Percentual de atletas em função do percentual de adequação da ingestão calórica total de futebolistas infantis e juvenis.

Os resultados demonstram um consumo excessivo dos jogadores, contrariando os estudos realizados por Rico-Sanz [5] e Leblanc et al. [19], onde a ingestão de energia total dos atletas investigados era insuficiente. A Tabela II apresenta a análise da adequação dos macronutrientes, respectivamente para as categorias juvenil e infantil. A dieta dos jogadores da categoria juvenil apresentou expressivo percentual de adequação de acordo com o recomendado para todos os nutrientes CHO (50%); proteínas (50%) e lipídeos (60%). Entretanto, pode-se observar também na Tabela II que a dieta dos jogadores da categoria infantil apresentou-se, em sua maioria: hiperglicídica (50% acima da adequação) hipoprotéica (80% abaixo do recomendado) e hipolipídica (50% abaixo do recomendado), respectivamente. Tabela II - Adequação do percentual de macronutrientes. Nutriente

Juvenil

Infantil

Carboidratos Proteínas Lipídeos Carboidratos Proteínas Lipídeos

Adequação Abaixo Recomendado 30% 50% 40% 50% 20% 60% 20% 30% 80% 20% 50% 30%

Acima 20% 10% 20% 50% 20%

*Percentual de adequação – CHO: 60 – 70 %; Proteínas: 12 – 15 %; Lipídeos: 25 – 30 %

No presente estudo, 50% dos jogadores da categoria juvenil apresentaram a proporção recomendada de consumo de CHO, entretanto uma parcela expressiva da amostra (30%) apresentou baixa adequação do consumo desse nutriente, confirmando os resultados observados na literatura para essa modalidade esportiva. Entretanto, a categoria infantil apresentou resultados opostos ao encontrado por Ruiz et al. [19], pois a maioria consumia CHO em proporções acima do recomendado (50%) ou em nível recomendado (30%). Com relação ao consumo de proteínas, observa-se que ocorreu adequação em metade dos jogadores da categoria juvenil (50%), entretanto parcela significativa apresentou dieta

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hipoprotéica (40%). O mesmo não aconteceu com a categoria infantil que em sua maioria apresentou dieta hipoprotéica (80%). No estudo de Rico-Sanz [5] foram encontrados percentuais de proteína de 14% e 14,4%, ressaltando um consumo de carboidratos abaixo do recomendado. Uma vez que a depleção de glicogênio é observada após as partidas de futebol [5], alimentos contendo grandes quantidades de carboidratos são importantes, pois auxiliam na reposição da reserva de glicogênio corporal. Os resultados demonstram que a quantidade de carboidratos ingerida pelos atletas da categoria juvenil está adequada ao recomendado (60 –70%). Já nos jogadores da categoria infantil, observa-se que a metade teve uma ingestão superior ao recomendado para carboidratos e uma ingestão inferior em proteínas. Este fato pode estar relacionado com um balanço nitrogenado negativo, comprometendo o crescimento e desenvolvimento dessa população de jogadores. A Tabela III indica o percentual de adequação das vitaminas consumido pelos jogadores. A análise da adequação de ingestão dos micronutrientes nas duas tabelas mostra que os percentuais de adequação são muito semelhantes para as duas categorias. Pode-se notar que uma parte dos jogadores da categoria infantil teve um consumo inadequado de vitaminas, sendo que todos (100%) ingeriram quantidade marginal (< 70% adequação) de vitamina C e 70%, de vitamina A. A maioria dos jogadores da categoria juvenil também não atingiu o percentual adequado para o consumo de vitamina A, sendo 70% com ingestão marginal (< 70% adequação). O mesmo observa-se quanto

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ao consumo de vitamina C, ressaltando que 80% tiveram adequação inferior a 70%. A ingestão insuficiente das vitaminas A e C pode comprometer o crescimento ósseo [20], fato relevante por se tratar de atletas em fase de crescimento. Além disso, essas vitaminas desempenham um papel importante no metabolismo aeróbio [21], e uma ingestão inadequada pode comprometer o desenvolvimento da capacidade aeróbia, importante para o bom rendimento no futebol [1]. Quanto às demais vitaminas, na dieta da categoria juvenil os maiores percentuais estavam acima do recomendado e para a categoria infantil os maiores percentuais encontraram-se adequados ou acima do recomendado. Com relação aos minerais, os resultados encontrados também apresentaram semelhanças entre as duas categorias. Na categoria juvenil (Tabela IV), constata-se que 70% dos jogadores não atingiram um consumo maior que 70% de adequação de cálcio. Igual resultado pôde ser constatado quanto ao consumo de cobre, já que 100% obtiveram um consumo marginal. Quanto aos jogadores da categoria infantil (Tabela IV), apresentaram uma ingestão inadequada para cálcio (80%) e cobre (100%) e um consumo superior em ferro (90%). Com relação à ingestão de ferro dos jogadores da categoria juvenil, verifica-se que a maior parte (60%) atingiu um percentual maior do que o recomendado.

Discussão Vários estudos realizados com atletas de futebol constataram que as gorduras têm importante participação na ingestão

Tabela III - Análise da adequação do consumo de vitaminas. Vitaminas

Vitamina C Vitamina B12 Vitamina B6 Vitamina A Vitamina B2 Vitamina B1 Vitamina E Niacina

Adequação < 70 % Juvenil Infantil 80% 100% 10% 40% 30% 70% 70% 20% 20% 30% 20% 20% 30% 20%

70 – 80 % Juvenil Infantil 20% 10% 10% 10% 10% 40% 20%

80 – 110 % Juvenil Infantil 10% 20% 30% 40% 10% 20% 30% 30% 30% 20% 20% 30% 40%

> 110 % Juvenil Infantil 20% 70% 70% 20% 20% 10% 20% 60% 50% 40% 20% 60% 80% 40% 20%

70 – 80 % Juvenil Infantil 10% 10% 10% 10% 10% 30% 20%

80 – 110 Juvenil Infantil 20% 20% 40% 20% 30% 20% 20% 30% 30% 30% 30%

> 110 % Juvenil Infantil 10% 60% 90% 30% 10% 60% 50% 20% 50% 40%

Tabela IV - Adequação do percentual de minerais. Minerais

Cálcio Cobre Ferro Folato Fósforo Magnésio Zinco

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Adequação < 70 % Juvenil Infantil 70% 80% 100% 100% 10% 40% 50% 10% 20% 40% 10% 20% 10%

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energética total desses atletas e ao mesmo tempo apresentam um baixo consumo de CHO [4,16,17]. Leblanc et al. [19], também verificaram em seu estudo que a dieta dos atletas apresentava uma ingestão na proporção de macronutrientes ingeridos oriundas das gorduras (29,1 a 34,1% do VCT) e ao mesmo tempo baixa em carboidratos (48,5 a 56,6% do VCT). Ruiz et al. [18], estudando jogadores de 14 anos de idade, mostraram que a contribuição de CHO na ingestão de nutrientes encontrava-se em torno de 47,4%. Apesar dos carboidratos e gorduras serem quantitativamente os combustíveis preferenciais para o exercício, alguns tipos de atividades podem aumentar a oxidação de aminoácidos, principalmente os de cadeia ramificada [22]. Como resultado do aumento da oxidação de aminoácidos, estes são irreversivelmente perdidos. No caso que esses aminoácidos não sejam repostos pela dieta, o processo normal de síntese protéica será prejudicado, o que resultaria em uma redução das proteínas corporais, podendo levar a uma perda crônica de massa muscular, que é relevante no desempenho do jogador de futebol [23]. Uma ingestão de 1,4 - 1,7 g/kg/dia de proteína estaria adequada para jogadores de futebol [21]. Outra recomendação seria de 12 – 15% da ingestão energética de proteínas para adolescentes esportistas [24], o que se pode observar na dieta da metade dos jogadores da categoria juvenil. A recomendação de consumo de gorduras na dieta é de 25 – 30% das calorias totais. Juntamente com o carboidrato, a gordura é a principal fonte de energia durante o exercício. O objetivo da utilização de gordura durante o exercício é poupar o uso do glicogênio muscular [25]. Neste estudo encontrou-se um consumo adequado de gordura em 60% dos jogadores da categoria juvenil, entretanto, metade dos jogadores da categoria infanto-juvenil teve uma ingestão abaixo do recomendado. A restrição excessiva do consumo de gorduras pode prejudicar o crescimento e desenvolvimento, por restringir o consumo energético e também a absorção de vitaminas lipossolúveis e carotenóides [26]. Em um estudo realizado com atletas nadadores com idades entre 13 e 21 anos [27], foi observado baixo consumo em vitamina A e elevada ingestão em ferro para os homens, dados que corroboram com os encontrados na presente pesquisa. Porém, a pesquisa realizada com atletas nadadores também constatou o consumo excedente em vitamina C, resultado esse que não foi verificado nesse estudo. Algumas vitaminas e minerais desempenham um papel chave no metabolismo energético [21]. A atividade física aumenta a necessidade do consumo de alguns destes nutrientes, o que pode ser alcançado mediante a ingestão de uma dieta adequada [11]. Estudos alertam que o aumento da ingestão de cálcio e vitamina E, diminui os efeitos provocados pelos radicais livres [28,29]. Ainda não há evidências científicas de que a suplementação de vitaminas e minerais promova um efeito ergogênico para os atletas. No entanto, a suplementação pode ser útil quando

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houver necessidade de compensar dietas deficitárias devido a aspectos, como: estilo de vida, desgaste físico devido ao treinamento intenso, correção de inadequação nutricional, adequando às recomendações [10]. No estudo feito por Leblanc et al. [19], também foi constatado um baixo consumo de cálcio e consumo satisfatório de ferro pelos atletas, igualmente encontrado no presente trabalho para as duas categorias de jogadores. Os estudos demonstram que a carência de cálcio pode levar à desmineralização óssea, havendo diminuição da calcemia, tornado os ossos mais predispostos à fraturas. A ingestão adequada de cálcio é importante para maximizar o depósito deste mineral do tecido ósseo [14]. Em outro estudo, realizado por Rico-Sanz et al. [5], foi verificado que as ingestões de cálcio também estavam abaixo do recomendado, o que reforça a importância de se ter um maior cuidado com esse nutriente, já que a amostra da presente pesquisa é composta por adolescentes e, em média, essa população consome quantidades menores do que a recomendação. Considerando as limitações deste estudo na área da reposição hídrica, na utilização de suplementos por parte dos atletas analisados e nos níveis de maturação biológica, o estudo contribuiu para apontar problemas e soluções práticas relativos aos aspectos nutricionais dos atletas analisados.

Conclusão Dentro dos objetivos propostos pelo estudo, foi possível constatar através dos resultados encontrados um elevado consumo de carboidratos, um baixo consumo de proteínas e gorduras dos jogadores da categoria infantil, sendo que a maioria destes obteve ingestão do valor calórico total acima do recomendado. Já nos jogadores da categoria juvenil, os percentuais de adequação de macronutrientes apresentaramse dentro da normalidade e a ingestão do valor calórico total estava adequada em 40% da amostra. Com relação aos micronutrientes, os resultados das duas categorias foram muito semelhantes, verificando-se ingestão marginal (< 70%) de vitamina C, vitamina A, cálcio e cobre nas duas categorias. No entanto, houve um elevado consumo de ferro, também observado nas duas categorias. Esse consumo inadequado das vitaminas A e C pode comprometer o desenvolvimento ósseo, fazendo-se necessária uma intervenção nutricional no sentido de garantir o crescimento de forma saudável desses atletas. Com base nesses resultados, é aconselhável uma educação nutricional a esses jogadores de futebol, sugerindo uma adequação calórica, adequação dos macronutrientes, vitaminas e minerais, não apenas com o intuito de melhorar o desempenho esportivo, mas também para promover hábitos alimentares mais saudáveis que persistam no decorrer da vida desses jogadores.

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Ainda é pequeno o número de estudos relacionados com atividades esportivas de adolescentes. Muitas das recomendações são originadas de estudos com adultos, o que reforça a necessidade de estudos direcionados para esta faixa etária. Portanto, sugere-se que novos estudos sejam realizados com o objetivo de difundir os conhecimentos referentes à nutrição aplicada ao esporte e em especial ao futebol.

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Artigo original Educação nutricional aplicada para nadadores infantis de um clube do município de São Paulo Nutritional education applied for young swimmers of a club in the city of São Paulo Juliana Oliveira Figueiredo*, Tatiana Akemi Kondo*, Eliane Araújo dos Santos Cristóvão*, Renata Furlan Viebig** *Graduandas do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo-SP, **Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica, Doutoranda em Medicina Preventiva pela FMUSP, Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo-SP

Resumo

Abstract

Objetivo: Demonstrar, por meio de gincanas aplicadas à população estudada, como as atividades educativas são importantes para introduzir a educação nutricional de atletas infantis, especialmente para o incentivo ao aumento do consumo de frutas, verduras e legumes. Materiais e métodos: O estudo foi realizado com 30 nadadores mirins e para estes foram aplicadas três gincanas educativas, focadas no tema “importância do consumo de frutas e hortaliças para nadadores”. Resultados: Na gincana sobre a importância das frutas, das perguntas realizadas durante a atividade houve 90% de acerto e 10% de erro, enquanto que na gincana sobre as verduras houve 75% de acerto e 25% de erro. Na gincana sobre legumes não houve perguntas. Conclusão: Quanto mais cedo forem instalados nas crianças fisicamente ativas hábitos alimentares saudáveis, direcionados para o desempenho no esporte, maior a probabilidade de que permaneçam na vida futura como uma garantia de melhores resultados nos eventos competitivos.

Objective: To demonstrate through education activities how is important to introduce nutritional education for young athletes, especially as an incentive to increase fruits and vegetables intake. Materials and methods: The sample was composed by 30 swimming children and were applied three educative activities, with focus in the theme importance of fruit and vegetables consumption for swimmers. Results: In the activities about the importance of fruits, of the asked questions during the activity, we observed 90% correct and 10% incorrect, while in the activities about vegetables, 75% were correct and 25% incorrect. On the second part of the activity about vegetables we did not make any questions. Conclusion: The earlier the nutritional healthy patterns are installed in the physically active children, aiming at sport’s performance, more probability that these remain in future life, as a guarantee of better results in competitive events.

Palavras-chave: educação nutricional, criança, frutas, hortaliças, atividade física.

Key-words: nutritional education, children, fruits, vegetables, physical activity.

Recebido em 10 de janeiro de 2008; aceito em 15 de março de 2008. Endereço para correspondência: Juliana Oliveira Figueiredo, Rua Benedito Jacinto Mendes, 163, 03922-000 São Paulo SP, Tel: (11) 6705-0284, E-mail: ju.oliveira20@gmail.com

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Introdução

Materiais e métodos

As crianças praticantes de atividades físicas necessitam de um maior cuidado com a alimentação, uma vez que esta deve suprir as necessidades da fase de desenvolvimento desses indivíduos, além de fornecer a energia adicional que é exigida pelo esporte [1,2]. A educação física tem forte ligação com a nutrição tanto na área de cunho mais pedagógico e escolar, como no treinamento em esportes, visando alto rendimento ou mesmo a promoção da saúde [2]. Os atletas jovens comumente adotam comportamentos alimentares inadequados, os quais podem comprometer o estado nutricional destes, bem como seu desempenho no esporte [3]. Estudos mostram que os atletas não prestam atenção à alimentação, e consequentemente, prejudicam seu rendimento [4,5]. Geralmente, os indivíduos não pensam na alimentação como uma fonte de energia para a execução de suas atividades diárias, ou de nutrientes para a constituição do seu corpo, mas, fundamentalmente, em termos de prazer gustativo, olfatório e visual [6]. Assim, percebe-se que a maioria dos atletas ignora qual seria sua nutrição adequada [4,7,8]. Nos últimos anos, notou-se que no Brasil os padrões alimentares modificaram-se, elucidando em partes o contínuo aumento de adiposidade nas crianças em geral, como o baixo consumo de frutas, hortaliças e leite, além do consumo elevado de guloseimas (bolachas recheadas, salgadinhos e doces) e refrigerantes, bem como a omissão do café da manhã [9]. Atualmente, estima-se que no Brasil o consumo de frutas e hortaliças seja inferior a metade do que é recomendado nutricionalmente [10]. Estes alimentos são fontes de vitaminas e minerais, os quais devem ter as necessidades atingidas com uma dieta quali-quantitativamente adequada, suprindo a demanda energética do treinamento [11]. Desta maneira, a escolha de uma alimentação adequada e principalmente equilibrada promove uma melhoria na resposta fisiológica do indivíduo praticante de exercícios físicos. Assume-se, assim, que a prescrição dietética, de acordo com o gasto energético, sexo, idade, o calendário de competição e treinamento e o momento de ingestão de uma refeição apropriada à prática desportiva, é essencial para a performance de atletas mirins [6]. Diante das práticas alimentares inadequadas destes indivíduos, a educação alimentar e nutricional torna-se fundamental para converter os hábitos errôneos em saudáveis, propiciando conhecimento, principalmente, sobre as vantagens do consumo de frutas e hortaliças para a saúde [12]. O presente estudo objetivou demonstrar, através de gincanas aplicadas à população estudada, como as atividades educativas são importantes para auxiliar na educação nutricional de atletas infantis, no incentivo ao aumento do consumo de frutas, verduras e legumes.

O estudo foi realizado com 33 nadadores mirins, meninos e meninas, com idade entre 6 e 10 anos, das equipes competitivas de um importante clube do município de São Paulo. Foram aplicadas 3 gincanas visando a educação nutricional dessa população, especificamente educativas, focadas no tema “importância do consumo de frutas e hortaliças para nadadores”. A seguir, são descritos os procedimentos empregados em cada uma das atividades educativas empreendidas.

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Gincana das frutas Objetivo: Realizar a abordagem inicial do assunto consumo de frutas com os nadadores, mostrando a importância destes alimentos na alimentação do atleta infantil. Executores: Estagiárias da área de Nutrição Esportiva.

Modo de conduzir: 1) breve preleção sobre a importância das frutas na alimentação de atletas; 2) jogaram-se na piscina bexigas numeradas e não numeradas com bolas de gude dentro, para que elas afundassem; 3) os participantes foram divididos em equipes diferentes; 4) as equipes entraram juntas na piscina para pegarem o maior número de bexigas que conseguirem em 20 segundos, sendo que cada participante pegou uma bexiga por vez, colocando-as em uma sacola que estava na borda da piscina com uma das estagiárias; 5) a equipe que pegou o maior número de bexigas ganhou 1 ponto e a que pegou o maior número de bexigas numeradas também ganhou 1 ponto; 6) cada equipe respondeu a pergunta relacionada ao número da bexiga, ganhando 1 ponto por acerto; 7) as bexigas numeradas que as equipes não pegaram foram divididas entre as equipes para que cada uma delas respondesse uma pergunta, ganhando 1 ponto por acerto; 8) foram computados os erros e acertos em cada questão realizada; 9) ganhou o prêmio a equipe que obteve o maior número de pontos; 10) prêmios: vencedores – 1 barra de cereal e 1 maçã; perdedores – 1 barra de cereal. 11) ao final da gincana foram entregues informativos sobre a importância das frutas (Figura 1), para as crianças entregarem aos pais/responsáveis. As crianças foram fotografadas durante a execução da atividade (Figura 2). Materiais utilizados: computador, impressora, papel sulfite, bexigas, bolas de gude, caneta, sacolas plásticas, barras de cereais e maçãs.

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Figura 1 - Informativo sobre a importância das frutas.

Modo de conduzir:

Figura 2 - Fotos da gincana de frutas.

1) breve preleção sobre a importância das verduras na alimentação de atletas; 2) os participantes foram divididos em equipes diferentes; 3) cada participante atravessou a piscina chegando até uma das estagiárias, a qual estava na borda da piscina esperando o participante para fazer uma pergunta relacionada à palestra sobre verduras; 4) o participante que respondesse a pergunta corretamente ganhava uma pulseira verde, a qual seria colocada no ato da resposta, mas se a pergunta fosse respondida errada ele ganhava uma pulseira vermelha; 5) após respondida a pergunta o integrante da equipe voltava para a outra ponta da piscina para que o outro componente de sua equipe atravessasse esta para responder a pergunta; 6) ganhou o prêmio a equipe que teve o maior número de pulseiras verdes no braço. 7) prêmios: vencedores – 1 barrinha com polpa de fruta e 1 caneta; perdedores – 1 barrinha com polpa de fruta; 8) ao final foram entregues informativos sobre a importância das verduras (Figura 3), para as crianças entregarem aos pais/responsáveis. Novamente as crianças foram fotografadas durante a execução da atividade (Figura 2). Materiais utilizados: computador, impressora, papel sulfite, pulseiras verdes e vermelhas, barrinhas com polpa de fruta e canetas. Figura 3 - Informativo sobre a importância das verduras.

Gincana das verduras Objetivo: Realizar a abordagem inicial do assunto consumo de verduras com os nadadores, mostrando a importância destes alimentos na alimentação do atleta infantil. Executores: Estagiárias da área de Nutrição Esportiva.

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Figura 4 - Fotos da gincana de verduras.

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Figura 5 - Informativo com orientações nutricionais para uma melhor performance dos atletas.

Gincana dos legumes Objetivo: Realizar a abordagem inicial do assunto consumo de legumes com os nadadores, mostrando a importância destes alimentos na alimentação do atleta infantil.

Modo de conduzir: 1) breve preleção sobre a importância dos legumes na alimentação; 2) os participantes foram divididos em equipes diferentes; 3) com os olhos vendados, cada participante sentia o cheiro do legume cozido e tentava adivinhar o que era, se acertasse ganhava 1 ponto; 4) após sentir o cheiro o participante que provasse o alimento ganhava 1 ponto, o que não quisesse provar não ganhava ponto; 5) ganhou o prêmio a equipe que obteve o maior número de pontos; 6) prêmios: vencedores – 1 certificado; perdedores – não houve prêmio; 7) por ser a última gincana, foram entregues informativos (Figura 5) com orientações nutricionais para uma melhor performance dos atletas, para as crianças entregarem aos pais/responsáveis. Materiais utilizados: computador, impressora, papel sulfite, batata, cenoura, chuchu e beterraba cozidos.

Resultados e discussão Participaram das atividades educativas 30 nadadores competitivos do clube, sendo 27% do sexo feminino e 73% do sexo masculino. A idade média das crianças foi de 11,06 anos. As gincanas foram preparadas de forma que fossem divertidas e ao mesmo tempo informativas, pois estas ajudaram os atletas na fixação do conteúdo dado na preleção antecedente à gincana.

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Na primeira gincana, sobre a importância das frutas, das perguntas realizadas durante a atividade, houve 90% de acerto e 10% de erro. Na gincana sobre as verduras, houve 75% de acerto e 25% de erro nas perguntas aplicadas. Dessa forma, considera-se que durante as gincanas os atletas mirins conseguiram aprender o conteúdo que foi ministrado, pois no momento das perguntas nas gincanas a grande maioria destes acertou-as. Na última gincana, sobre a importância dos legumes, não foram realizadas perguntas. No estudo de Jorge e Peres [13], realizado na cidade de Bauru, com crianças, foi demonstrada a importância da brincadeira para o aprendizado e entronização de novos conceitos. Os autores verificaram que a aplicação das atividades educativas foi um processo agradável tanto para quem o elaborou, como para quem participou dos procedimentos. Experiências anteriores mostram que o fornecimento apenas de orientações orais representa discursos vazios e repetitivos, falhos em promover mudanças na alimentação dos indivíduos [13,14]. Assim, a vivência dos conceitos, de forma lúdica e divertida é um facilitador no processo de aprendizado e aquisição de novos conhecimentos, especialmente por parte do público infantil.

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A educação para a saúde sempre foi vista como um conjunto de medidas que deve induzir as pessoas a atitudes tidas como desejáveis para a promoção da saúde e prevenção de doença, por isso a importância da utilização de estratégias que promovam o alcance dessa finalidade, entre elas, aulas demonstrativas [13,15].

Conclusão As atividades desenvolvidas neste trabalho envolveram a criatividade aliada ao conhecimento técnico científico, o qual foi transmitido de uma forma divertida e agradável, facilitando o aprendizado. Os atletas mirins representam um grupo no qual a adoção de hábitos alimentares adequados e saudáveis é determinante para o desempenho em competições. Assim, o presente estudo demonstrou como é importante a educação nutricional ser inserida desde a infância para os pequenos atletas, do mesmo modo como enfatizou a importância da realização de atividades educativas para o aprendizado, uma vez que estas auxiliam na fixação do conteúdo, além de ser uma forma de “aprender brincando”. Por todas essas considerações entende-se que quanto mais cedo forem instalados nas crianças fisicamente ativas hábitos alimentares saudáveis, voltados para a prática de atividade física e para a qualidade de vida, maior a probabilidade de que estes permaneçam na vida futura dos atletas, além de representar a garantia de melhores resultados nos eventos competitivos.

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Revisão Esteróides anabólicos no fisiculturismo Anabolic steroids in bodybuilding Marcus Vinicius Grecco*, Charles Ricardo Morgan** *Educador físico e fisioterapeuta, mestrando na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, **Fisioterapeuta, mestrando Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Resumo

Abstract

Os atletas de fisiculturismo utilizam os esteróides anabólicos com a finalidade declarada de aprimorar seu desempenho. A despeito dos avisos e alertas da comunidade científica e sanções impostas pelos órgãos administrativos de musculação, um número cada vez maior de atletas continua a tomar essas drogas. Adotando uma posição eticamente neutra na questão do uso da droga no esporte, este trabalho apresenta alguns fatos a respeito dos esteróides anabólicos assim como alguns posicionamentos éticos a favor e contra seu uso no esporte. Contudo, os problemas de dosagem, ciclos e marcas dos esteróides mais adequados para os fisicultores precisam de respostas, por isso análise criteriosa de dados clínicos é necessária. Pesquisas experimentais são importantes para tomada de decisão clínica com mais segurança e os atletas devem ser informados pelos profissionais que atuam na área esportiva.

Bodybuilding athletes use anabolic steroids with stated purpose of performance improvement. In spite of scientific community alerts and punishments imposed by administrative doping agencies, a higher number of athletes are still using thses drugs. Adopting an ethically neutral position regarding this question, this study present some facts about anabolic steroids as well as some ethical positioning the pros and the cons of its use in sport. The problems of quantity and traces of steroids cycles more appropriate for bodybuilding need answers, so careful review of clinical data are needed. Research experiments are important for clinical decision-making with more security. The athletes should be informed by professionals who work in sports. Key-words: bodybuilding, anabolic steroids.

Palavras-chave: fisiculturismo, esteróides anabólicos.

Recebido em 10 de outubro de 2007; aceito em 25 de março de 2008. Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Ribeiro de Barros, 81/31,Vila Pompéia, 05027-020 São Paulo SP, E-mail: mvgrecco@ig.com.br

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Introdução Os esteróides vieram para ficar. O tempo já provou isto, mas para conceituar-se esteróides, segundo Write [1], faz-se necessário o entendimento de certos termos como por exemplo o metabolismo, significando todas as funções do corpo envolvidas na produção, manutenção ou destruição de tecidos e das energias. Os processos de construção são citados como anabolismo enquanto catabolismo é o processo de quebra. Outro conceito que precisa ser entendido é anabolismo ou processos miotrópicos: que é o processo de reparação, construção e crescimento dos tecidos. Os efeitos anabólicos associados a esteróides dizem respeito à síntese de proteínas para esta reconstrução. Já o catabolismo nada mais é do que o oposto do anabolismo, ou seja, o processo de quebra ou de destruição do organismo. Os hormônios são substâncias químicas segregadas de certa glândula que agem em um tecido alvo gerando um efeito específico. Para o fisicultor o hormônio de maior interesse é a testosterona (hormônio sexual masculino). Esse hormônio tem duas funções básicas que é androgênica e anabólica. A androgênica regula o desenvolvimento das características secundarias masculina (timbre de voz, pêlos faciais, distribuição de gordura etc) e a anabólica regula a manutenção e desenvolvimento da musculatura. A produção deste hormônio no organismo masculino é de 17 mg/dia, enquanto no feminino é de 0,25 mg/dia, daí a diferença de volume muscular entre os sexos. Portanto, Write [1] define esteróides como: “compostos sintéticos de derivação anabólica que imitam os efeitos do hormônio testosterona (minimizando os efeitos androgênicos)”. Defendis [2] fala que o anabolismo é o que mais interessa aos atletas que utilizam esteróides, pois promove a síntese de proteínas para a recuperação e crescimento dos músculos, devendo-se dar preferência por esteróides mais anabólicos e menos androgênicos, pois, além da construção muscular (anabólicos), os efeitos colaterais são menores. Ainda, comenta o autor, que um dos mais importantes atributos ligados aos esteróides é a capacidade de retenção e armazenamento de nitrogênio, conseguida através da estimulação da síntese de proteínas. O nitrogênio é o componente básico da proteína, e o esteróide na corrente sangüínea contribui para ativar os genes responsáveis pela síntese protéica. Modificando o potencial dos genes, haverá modificação do metabolismo e conseqüentemente do anabolismo, influenciando na construção da massa muscular. Segundo Siegel [3], quando o fisicultor está em ciclo de esteróide deve ingerir bastantes vitaminas e minerais, pois se acredita que esses nutrientes estejam em sinergismo com a droga (ajudam ou facilitam os esteróides na síntese de proteínas), na retenção do nitrogênio. Os anabolizantes sozinhos são inúteis para promover aumento de força e volume muscular se a alimentação não for adequada, assim como um trabalho de musculação pesado.

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Hatfield [4] comenta que nem todas as moléculas dos esteróides atingem as células e permanecem flutuando na corrente sangüínea e ao passarem pelo fígado são hidrolizadas em 17 cetosteróides. A estrutura modificada da molécula de esteróide que permanece flutuando na corrente sanguínea, eventualmente, é recebida por outro tipo de receptor e pode influenciar diferentes mecanismos no corpo, e esta reação, não contribui para retenção e armazenamento de nitrogênio. Torna-se uma das razões de alguns efeitos colaterais causados por esteróides. Na opinião de Akis [5], o nível de massa muscular depende do potencial genético individual (quantidade de mitocôndrias nos músculos favorecendo a recuperação), e não, da maneira pela qual o atleta favorece o crescimento do músculo, intensificando os treinos ou usando drogas. As drogas não fazem nada além do que o treinamento bem orientado não faria. Wadler [6] diz que o metabolismo do carboidrato, da proteína, do lipídeo (gordura) e a eliminação, desintoxicação ou inativação de substâncias como a uréia, a bactéria, os hormônios (ex. esteróides anabólicos) e outras matérias nocivas são funções do fígado. Nos fisicultores que usam esteróides, os efeitos das interrupções das funções do fígado em longo prazo são desconhecidos. Os efeitos em curto prazo foram mínimos e reversíveis ao cessar o uso de esteróide. Contudo, pode ocorrer a hepatite tóxica causada pelo uso continuado do esteróide e diuréticos (amacidio). Viana [7] e Wadler [6], em seus estudos, comentam a relação da hipertensão como equilíbrio fluido/eletrólito, dizendo que, muitos dos fisicultores usuários de esteróides apresentam retenção de água (edema) no organismo, que variam de discreto a grave. Segundo Santarém [8], quando os fisicultores administram esteróides não existe mais necessidade de segregação da quantidade normal de testosterona, sem isso, os testículos se atrofiam e ocorre a eliminação na produção de espermatozóide. O autor também comenta que o excesso de drogas pode fazer surgir, no corpo do fisicultor, a ginecomastia, ou seja, a flacidez em torno dos mamilos acompanhados de nódulos e sensibilidade no local. Quando o esteróide tem alto teor de componente androgênio leva o atleta a ser muito agressivo por aumentar a taxa de testosterona sintética no organismo. Complementam outros efeitos de casos clínicos isolados: como queda de cabelo, câncer, náuseas, ossificação prematura, disfunção gastrointestinal, sonolências, epistaxe, interrupção tireodiana etc. Já Colgan [9] relata que nos homens as drogas podem ter efeitos virilizantes, incluindo funções como o crescimento da vesícula seminal, do pênis, da próstata, aumento da puberdade e libido, mas não se sabe ainda até que ponto estas alterações podem chegar. Na mulher pode acontecer aumento do clitóris e a amenorréia. McArdle & Katch [10] discutem um pouco sobre os males dos esteróides sobre o sistema músculo-esquelético, descrevem que quando os atletas iniciantes fazem uso de

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esteróides seus músculos aumentam de volume e os tecidos conectivos e tendinosos não acompanham a progressão podendo causar lesões. O volume anormal conseguido através das drogas pode tornar o músculo um tecido estruturalmente mais fraco. Adjudicam ainda, que usando drogas, as glândulas paratireóides – responsáveis pela distribuição do cálcio pelo organismo – podem trabalhar em excesso desviando o cálcio dos ossos para os músculos causando a osteoporose. Outro efeito apontado, quando termina o ciclo pode acontecer um enrijecimento nas articulações acometidas de dores, podendo causar a interrupção do treino. Em seu estudo, Brainun [11] aponta que os atletas normais e saudáveis adaptaram o uso de esteróides em casos terapêuticos, para facilitar o desempenho no esporte, pois a droga aumenta o volume e a força muscular. Certa quantidade de força pode ser conseguida através da ação histológica resultante do aumento de fluído celular (sarcoplasma) e edema em geral (retenção de água). Há ainda o aumento de volume muscular que é conseguido com o crescimento miofibrilar e o aumento do fluido celular. Entretanto, permanece como condição prévia: para o máximo aumento de força e volume deve haver um treinamento intenso e alimentação adequada. Salgado [12] relata que os fisicultores que tomam esteróides aumentam a agressividade positiva fazendo com que treinem com mais afinco; comenta também, que muitos deles, fazem uso de esteróides por achar que a massa muscular, a partir de um determinado estágio, não aumentará mais sem drogas. Wadler [6] aponta, ainda como benefícios, o uso de esteróides em casos terapêuticos, para combater anemia, repor hormônios, peso abaixo do normal, infecções, osteoporose, estimular cicatrização etc. Em curto prazo os esteróides são seguros desde que tomadas as devidas precauções determinadas na bula. Os fabricantes e médicos contra-indicam o uso para gestantes, portadores de nefrose, obstrução biliar, câncer, lesões hepáticas, cardíacos e diabéticos. Foram observados efeitos colaterais irreversíveis somente em mulheres devido ao abuso das drogas. Segundo Voy [13], o uso das drogas tornou-se altamente sofisticado através de casos de auto-experimentação, que deram aos atletas um conhecimento, muitas vezes superiores aos dos médicos (na área prática), tornando-se um modo de vida profundamente difundida dentro do esporte (musculação). O fato de que as drogas funcionam, tornou-se evidente a todos que pretendem aumentar a força e volume muscular e as tentativas legais de produção serviram para aumentar o problema do abuso. Segundo Everson [14], o uso de esteróides pode ser bom desde que miniminizado seu efeito negativo e maximizado seu efeito positivo. Quem consegue esses efeitos são os “pioneiros” que começaram a utilizar vários métodos de ciclos das drogas para minimizar os riscos, sempre alertas para as novas drogas ou métodos utilizados para melhorar suas performances. Os atletas reconhecem as limitações da ajuda ergogênica que

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estão adotando e tem como normas a assistência médica para a monitorização de seu organismo e melhorar técnicas de treino. Como pioneiros, os atletas avaliam cuidadosamente a relação vícios e benefícios, continuando com cautela e mente aberta ao usar esteróides. Yesalis [15] comenta alguns pontos sobre essa nova ética que ronda o fisiculturismo, fala que não se consegue benefício algum através de teste antidoping em competições, pois, os atletas mais sofisticados sempre encontram uma maneira de mascarar o uso de drogas, criando uma atitude mais desleal do que aquela que os testes pretendem eliminar. As formas de tentativa de ludibriar os testes são mais perigosas que as drogas anabolizantes em si. Write [1] fala que nenhuma pesquisa ou evidência mostra que os fins são maiores que as recompensas, mediante o uso adequado de esteróides. As drogas estão à disposição de todos e a solução é a educação e o avanço científico esclarecendo aos usuários, e não uma legislação contra o uso de esteróides. O uso da droga em um fisicultor normal e saudável pode melhorar seu desempenho, mas é duvidoso que esta mesma droga o fará mais saudável.

Dieta e alimentação Segundo Siegel [3], quando o fisicultor estiver usando droga a alimentação deve conter uma ingestão de 500 calorias a mais por dia, devendo ser rica em proteína para suprimento desta necessidade calórica extra e também rica em aminoácidos essenciais. O motivo desta quantidade de calorias a mais em uma dieta deve-se ao fato de a biossíntese muscular ser acelerada devido ao uso das drogas chegando a ganhar cerca de meio quilo por ciclo (nas primeiras semanas). O autor ainda recomenda que se devem reduzir os níveis de manutenção as calorias quando cessado o uso de esteróides. Cada refeição deverá conter farinhas integrais, cereais, vegetais, ovos, frutas e leite e seus derivados e fígado, para aumentar o volume de sangue no corpo. Suplementar a dieta com vitaminas, minerais e enzimas de boa qualidade, já que os alimentos ingeridos poderiam não ter os nutrientes necessários para potencializar os ganhos de volume muscular durante o ciclo. Recomenda fazer 6 refeições ao dia com os nutrientes básicos, pois facilita a absorção de alimentos. Yessis [16] comenta que existem produtos naturais que têm o mesmo efeito que os esteróides anabólicos (aumento de força e massa muscular), mas com a vantagem de não causarem efeitos colaterais. Os mais estudados foram: a tirosina, que produz a norepinefrina, um neurotransmissor com a capacidade de aumentar a atividade mental, reduzir a fadiga e depressão e funciona também como liberador do GH – hormônio de crescimento importante para a síntese protéica; a inosina que é um aminoácido que ativa o sistema nervoso e contrações musculares, produzindo uma força comparada à dos esteróides; GO – uma substância extraída do óleo de farelo de arroz que age sobre o hipotálamo e faz

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desenvolver a massa muscular. Este regula a glândula pituitária que é responsável pela liberação e produção de testosterona e estrogênio, entre outros.

Métodos para uso de esteróides anabólicos Para Fox & Matheus [17] existem várias maneiras para o fisicultor manipular as drogas, uma dessas formas é o Stacking, que é o ato de usar mais de um esteróide anabólico ao mesmo tempo, pois, acredita-se que as drogas agem em sinergismo, uma ajuda à outra em suas funções. Na maioria das vezes os atletas usam uma oral e a outra injetável. Há ainda uma segunda forma: o plateaning que segue um programa de ciclagem, não se usa a mesma por tempo suficiente para que o corpo se habitue, resolvendo o problema da estabilização – quando os atletas percebem que as drogas não estão fazendo mais efeito de ganho de massa muscular. Uma terceira forma de manipulação de drogas é o staggering, que é um método para evitar a estabilização de uma ou duas drogas. Os usuários optam por largarem estas e usarem outras, acreditando continuar o trabalho interrompido pela droga que estabilizou. Write [1] comenta sobre outros dois métodos usados, o taperig é o método mais seguro para não interromper o ciclo e parar repentinamente a dosagem e, sim, reduzir lentamente por um período de 4 a 6 semanas – sendo maior o tempo de uso, mais longo deverá ser o tempo de diminuição – e o shotgunning que é outro método (abusivo) que consiste em tomar vários tipos de drogas na esperança de que na falta de uma outra supra as necessidades. Segundo Voy [13] e Yesalis [15], embora existam diferenças nos esteróides, a coisa não funciona desta forma. O interesse principal do fisicultor é a retenção de nitrogênio para o crescimento muscular e nesta área todos os esteróides agem da mesma forma, sendo inútil a ingestão de vários. Cada esteróides tem uma “vida média”, que significa o período de tempo que a droga permanece ativa antes de ser aromatizada ou hidrolizada. Aqueles que fazem uso de esteróides desenvolveram a perigosa idéia de que quanto mais, melhor. Isto não é a crença correta, mesmo porque existem riscos potenciais gerados por super doses. Wadler [6] diz que a maneira eficiente para determinar a dosagem é através da manutenção de um relatório de treinamento diário, monitoração dos efeitos colaterais, tanto visualmente como por exame de sangue, e com assistência médica. São comuns os atletas que se dedicam a um treinamento intenso com peso regular e uso de esteróides com base na seguinte fórmula: 1 mg por quilo de peso corporal ao dia. Mas para Leibovitz [18] esta dosagem é considerada alta, e segundo o autor, já existem casos em que essas doses são triplicadas trazendo perigo ao usuário. Kawaushi [19] comenta que ciclo refere-se a manipulação da dosagem e tempo duração dos esteróides de acordo com o programa de treinamento. É impossível relacionar inúmeros ciclos que vem sendo utilizados através dos anos,

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bem como os motivos para que estes diferentes ciclos sejam aplicados. Defendis [2] cita alguns ciclos que obtiveram sucesso maximizando seus benefícios e minimizando os riscos das drogas usadas por vários fisiculturistas: o ciclo dura 6 semanas com um intervalo de 2 a 3 semanas entre eles. Durante 6 semanas, administra-se a droga, a partir deste tempo a dose é diminuída continuamente, permitindo ao corpo voltar gradualmente ao normal. Os benefícios conseguidos são de longa duração. Os ciclos curtos ou infreqüentes de altas doses produzem resultados que passam rapidamente, já que os aumentos de volume e força provêm da retenção de água/ fluido e da ação histológica. A ciclagem em longo prazo permite um aumento mais acentuado, em elementos miofibrilares da célula, o que permite maior volume. A maioria dos esteróides se estabiliza em 6 ou 7 semanas e o procedimento da primeira dose de esteróides deve ser injetável, pois os orais são mais tóxicos e possuem efeitos colaterais maiores, exceto aquele com menor porcentagem de androgênio que é menos tóxicos para o fígado. Os cientistas conseguiram manipular a estrutura química da molécula base da testosterona de tal forma que o efeito, antes de ser aromatizado ou hidrolizado, é prolongado no sistema, além disso, alguns esteróides orais tiveram sua estrutura modificada de tal forma que não aromatizam, por exemplo, Winstrol e Anavar. Hatfield [4] mostra, nos quadros 1 e 2, que após a competição deve utilizar-se um programa de dosagem para “fora de temporada”, ou seja, decrescente, a fim de “normalizar” as funções do corpo. Podem-se usar injeções de Primoblan e também um oral com taxa baixa de androgênio. (Ex. Anavar) nas últimas três semanas caso exista problema de redução do peso corporal.

Anabolizantes, marcas e procedências Everson [14] fala de algumas drogas injetáveis usadas pelos atletas, tais como Dianabol (EUA) conhecida também como Anadrol 50 e usada para o desenvolvimento de volume e força, possuindo 40% de teor androgênio; Maxibolin (EUA) e Winstrol (EUA), usada para o desenvolvimento de volume com 10% de androgênio; Primobolan e Equipoise (EUA) que são drogas veterinárias para garanhões com 20% de teor androgênio, Deca Durabolin, Durateston e Parabolan todos de origem norte-americana e que são as mais perigosas para o atleta, pois retém 40% de teor androgênio. Viana [7] cita drogas orais como, por exemplo, Halotestim (EUA) usado para o aumento de volume e força com 40% de androgênio. Winstrol usada para ganho de volume com 20% de teor androgênio; Maxibolin e Proviron (EUA) ambas com 20% de androgênio e usada somente para ganho de volume e a terceira é a Oxandrolone (EUA) com 40% de androgênio e usada para ganho de volume e força. O autor observa que os esteróides mais seguros em relação aos efeitos colaterais são os mais anabólicos e menos androgênicos.

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Quadro 1 - Ciclo para fora-de-temporada e pré-temporada. Período fora de temporada

Oral (ex. Anavar, Maxobolan ou Winstrol) 50 mg/dia

1 e 2 semanas (começar os exames de sangue) 3 e 4 semanas (exame de sangue) 25 mg/dia 5 e 6 semanas 0 7 e 8 semanas 0

Injetável (ex. Decadurabolin ou Primobolan) 300 mg/semana 200 mg/semana 100 mg/semana 0

Gonadotrofina coriônica

2cc a cada 2 dias

Quadro 2  9 Semanas: repetir o ciclo integralmente. Pré-temporada 6 semanas 5 semanas 4 semanas 3 semanas 2 semanas 1 semana

Oral 20 mg D.bol/dia 40 mg D.bol/dia 20 mg D.bol/dia 50 mg D.Androl/dia 100 mg Androl/dia 50 mg Androl/dia 10 mg Halotes/dia 50 mg Androl/dia 20 mg Halotestin

Injetável 100 mg/semana 200 mg/semana

300 mg/semana 400 mg/semana 1 mg não é necessário

Voy [13] comenta que na obsessão de alcançar o primeiro lugar, alguns fisicultores se submetem ao uso de produtos inconcebíveis, usam anabolizantes feito de substância tirada de hormônios de boi, de placenta de mulheres grávidas, de mamilos de cachorro no período do cio, entre outros. O autor cita também drogas auxiliares dos anabolizantes usadas pelos fisicultores: Periatrim é usado para aumentar o apetite, pois muitas drogas tiram a fome o que seria prejudicial para desenvolvimento. O Periatrim torna o apetite voraz, mas pode causar asma e glaucoma. Gonadotropina corionica e Clomid são usados pelos fisicultores para que as taxas de espermatozóides voltem ao normal depois de um ciclo e não usá-las mais do que 3 semanas após termino do ciclo. A dosagem deve ser de 2 cc por dia e enquanto a gonadotropina corionica atua diretamente nos testículos a Clomid atua na pituitária. McArdle & Katch [10] falam sobre outras drogas como: Sinemed, que é usada para aumentar o GH no organismo podendo causar náuseas e vômitos; Exobolina é uma droga alemã que é eficaz na síntese de proteína relacionada quimicamente com a vitamina B 12 não sendo considerado um esteróide; Wydase – ingerida subcutaneamente em vários pontos do corpo, onde há mais depósitos de gordura – é usada como “difusor” para outras drogas e reduz temporariamente a gordura subcutânea, tempo bastante para fazer um trabalho de definição muscular e competir, presume-se que seu efeito é de mobilizar líquidos nas células adiposas. Os autores continuam comentando que existem dezenas de drogas sendo utilizadas geralmente de forma indiscriminada na ânsia de melhorar a desempenho. A melhor forma de proceder é procurar um médico desportivo que informe tudo que o fisicultor precisa saber.

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Observação Caso seja necessário o uso de diuréticos antes das competições os fisicultores compensam com acrescímo de vitaminas protéicas e eletrólitos. Começam os preparativos para modelagem. Último dia: começam os diuréticos, quando com excesso de peso.

Passando pelo teste antidoping Sparkman [20] nos mostra métodos sofisticados para ludibriar o teste antidoping existente no esporte. Os dois métodos mais usados em conjunto são: o uso de drogas substitutivas e a ciclagem. Como exemplo cita a utilização da gonadotropina que eleva o teor da testosterona do organismo ao seu nível normal, de modo que a testosterona ingerida ou injetada não possa ser detectada. Cita outro exemplo que é o do GH, que vem sendo usado há muito tempo e não foi detectada até o momento. Muitos fisicultores, no final da quarta ou sexta semana de preparação para a competição, mudam para esteróides de curta duração, interrompendo também o uso destes com antecedência suficiente para eliminá-los do sistema. Salgado [12] diz que, como padrão, as drogas orais não são detectáveis se interrompidas 3 a 4 semanas antes, enquanto as injetáveis permanecem no corpo até 2 meses depois de sua administração. A probenecida é um produto usado pelos fisiculturistas na tentativa de mascarar a presença de drogas no organismo, mas sua eficiência não foi totalmente comprovada. Write [1], durante um campeonato Nacional de fisiculturismo nos EUA, em 1990, fez uma pesquisa sobre o uso de anabolizantes obtendo o seguinte resultado: dos 61 fisiculturistas entrevistados, 45 usavam esteróides (admitiram); um terço dos atletas acharam que o teste antidoping faz com que diminuam o consumo de esteróides; 70% deles têm usado outros métodos (anfetaminas, diuréticos e insulina); 20% usam GH; 80% falam que um nível de separação muscular e manutenção da massa não são conseguidos sem esteróides.

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O autor descobriu também que alguns fisiculturistas que ingerem vários tipos de anabolizantes, durante o período competitivo, tentam escapar dos testes antidoping reintroduzindo a urina que foi retirada antes do ciclo dentro de seus corpos. Outro grupo interessante descoberto é aquele que utiliza ciclos pesados fora de temporada competitiva e aumentam incrivelmente seu peso, então largam as drogas meses antes para que desapareçam do organismo; nesse período sem esteróides tentam manter seus pesos através de treinos e uma super alimentação. Wadler [6] tendo contato com fisiculturistas descobriu que 90% deles estão cientes sobre alguns aspectos importantes do uso das drogas. Os fisiculturistas utilizam um programa intermitente de dosagem decrescente dos esteróides injetáveis; administram drogas orais com intervalos, pois sabem que os efeitos colaterais são menos graves, e são difíceis de serem detectadas, quando interrompidas 3 a 4 semanas antes de competição. São orientados por médicos desportivos e têm consciência de que não adianta fazer ciclo se não tiverem uma alimentação e um treino intenso. Estão conscientes também de que as drogas podem acelerar a predisposição genética de doenças e as drogas orais, em doses exageradas, representam perigo maior de que qualquer outra forma de ingestão, pois submetem ao fígado uma carga de trabalho exagerado.

Como interpretar os resultados do exame de sangue Segundo Hatfield [4], o quadro 3 enumera vários componentes do sangue (soro) que são tipicamente incluídos dos exames de sangue pedidos antes da administração do esteróides ou da terapia com esteróides. Estão apresentadas as variações “normais” para cada componente. Existem poucos dados que permitam uma classificação como “normal” no caso de um fisicultor submetido a um treinamento intenso de musculação ou esforço extremo. A hipertrofia muscular, aumento de volume muscular, também tende a elevar algumas das taxas. Portanto, uma variação acima da “normal” seria adequada aos fisicultores. Em fisicultores submetidos a treinamento estressante são comuns os níveis de DHL e TGO estarem altos, mas não é comum haver taxas de 10% a 20% acima da variação “normal” para estas duas enzimas séricas. A taxa elevada se deve ao stress metabólico e não aos esteróides. Abaixo o autor explica o significado de cada um dos itens citados no quadro 3 de interesse para o fisiculturista, enquanto estiver fazendo uso de esteróides. Os aumentos e diminuições de cálcio no plasma sangüíneo se devem a muitos fatores diferentes, mas um dado significativo para o fisiculturista é o fato de que o uso freqüente de diuréticos, como Lasix, pode causar a diminuição deste. Uma taxa anormalmente alta pode indicar a ingestão de grandes doses de vitaminas D. O uso de esteróides não parece ser um fator relevante. A elevação de fósforo no sangue pode estar associada ao hipertiroidismo e secreção elevada de hormônios de cresci-

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mento. Nesta variação os esteróides parecem não ser fatores relevantes. Com relação à glicose, há que se frisar que os esteróides podem alterar significativamente a tolerância de açúcar no sangue. O nível elevado de glicose pode ser um sinal de condição diabética ou pré diabética. A uréia é um produto derivado da quebra de proteína no fígado, e é segregada pela urina. O alto nível de NUS pode ser sinal de insuficiência renal. O fisiculturista deve saber que a ingestão anormal de proteína pode causar uma discreta a moderada elevação do NUS, da mesma forma que o catabolismo excessivo da proteína. Elevações do ácido úrico podem significar gota, insuficiência renal, ou insuficiência cardíaca congestiva. Para o fisiculturista a consideração mais importante é que a hiperuricemia pode ser resultante de jejum ou uso de diuréticos. Os esteróides anabólicos parecem não alterar as concentrações de ácido úrico. A hipercolesterolemia, não concomitante com elevações de bilirrubina e fosfato alcalino, pode significar doença no fígado. Os esteróides anabólicos podem freqüentemente causar elevações no colesterol, ao mesmo tempo em que causa uma diminuição na alta densidade de lipoproteínas. Neste caso aumenta o risco de arteriosclerose. Através do processo de modificação eletrônica da solução sérica (eletroforese), as proteínas do sangue tendem a ser acamar, possibilitando a determinação precisa dos níveis. A variação normal entre a albumina e a globulina é de 3,2 - 4,5 mg/dl e 2,3 - 3,5 g/dl respectivamente. A elevação da globulina e diminuição da albumina, ou seja, a variação inversa AG, pode sugerir uma lesão crônica no fígado. Embora um nível normal de bilirrubina total elimine qualquer deficiência na função excretora do fígado, um nível elevado de bilirrubina total pode ser freqüentemente indicativo de icterícia obstrutiva. A bilirrubina é um produto derivado do metabolismo da hemoglobina e expelido pelo fígado. Da mesma forma que o colesterol, os triglicérides podem ser relacionados com a doença da coronária. A eletroforese é utilizada para distinguir as diferentes classificações da hiperlipidemia (o colesterol, os triglicérides, e fosfolipídios são classificados como lipídeos e circulam no sangue agregados a proteína, daí o termo “lipoproteínas”). Existem muitas causas para a taxa elevada de CF (Creatina Fosfoquinase), incluindo: injeções intramusculares; exercícios vigorosos; doença no músculo esquelético; infarto no miocárdio e isquemia cerebral e também hipertrofia muscular. Parece normal que os fisicultores que treinam musculação possuam valores elevados de CF, embora na presença de outros sintomas ou taxas sangüíneas elevadas estas devem ser checadas. Quando existe uma taxa extremamente alta de fosfatase alcalina juntamente com testes elevados de função do fígado, geralmente suspeita-se de uma doença hepática. Se a leitura fosfatase alcalina estiver alta sem a correspondente elevação

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dos testes de função do fígado, pode haver suspeita de doenças ósseas. A deidrogenase láctica é uma enzima envolvida na oxigenação dos ácidos lácticos e pirúvicos. Portanto é encontrada em muitos tecidos do corpo, especialmente nos músculos esqueléticos. Praticamente qualquer lesão nos tecidos provoca elevação nas leituras do DHL. A fonte exata da elevação da leitura pode ser detectada através da eletroforese. Como muitas doenças podem estar associadas às elevações de DHL, devem ser feitos testes adicionais, particularmente relacionados com distúrbios no fígado e no coração. A TGO é uma enzima que cataliza a conversão de aminoácidos em certos ácidos e vice-versa. É encontrada no coração, fígado, músculos esqueléticos, rim e ossos. As células danificadas provocam elevação nas taxas de TGO e o local exato da lesão pode geralmente ser determinado através de outras leituras elevadas dos testes. As taxas geralmente chegam ao pique nas 6 horas após a lesão, e voltam ao normal em mais ou menos 6 dias. Não são incomuns os níveis de TGO estarem elevados em atletas em treinamento intensivo, já que os músculos esqueléticos são submetidos a consideráveis traumas (distensões, contusões etc.). Os esteróides anabólicos imitam a ocorrência normal de testosterona, inibindo assim sua secreção. Não são incomuns os níveis de testosterona caírem para bem abaixo do normal durante o uso de esteróides (homens e mulheres). Este efeito é quase sempre reversível após a interrupção do uso da droga. Os eletrólitos em geral podem flutuar no corpo dependendo de vários fatores tais como ambiente, diversas drogas sendo usadas, existência de certas doenças etc. De importância para o fisicultor é o fato de que o uso de esteróides assim como o intenso calor pode causar desequilíbrio discreto ou grave de eletrólitos. O uso de diuréticos também provoca perda de eletrólitos, assim como drogas antiinflamatórias (ex. butazolidina). Como os eletrólitos desempenham um papel importante na função muscular, é comum ocorrer a perda de força durante o uso de antiinflamatórios e diuréticos. Hatfield [4] insiste que o fisicultor que está fazendo uso de esteróides anabólicos ou outras drogas, ou planejando usá-los, deve fazer um exame de sangue completo e procurar um médico especializado em medicina desportiva para a interpretação dos resultados do exame de sangue. A listagem acima foi somente para informar aos usuários em potencial de alguns perigos, armadilhas. Muitas das taxas estão relacionadas de formas complexas. Além do mais, os componentes do sangue podem variar consideravelmente de um dia para outro, dependendo da droga, dosagens e outros fatores. São importantes que este exame seja repetido inúmeras vezes, especialmente durante um ciclo pesado de uso da droga, como pode ocorrer pouco antes da competição. Os efeitos da maioria dos esteróides estão relacionados tanto com a dosagem como o tempo de uso, podendo causar flutuações variáveis em muitas taxas do sangue em períodos bastante curtos de tempo.

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Para Sparkman [20] é importante observar que a interrupção do uso da droga irá causar uma volta imediata aos níveis normais dos elementos sangüíneos. Além disso, existe prova científica de que as taxas do sangue não se elevam de modo significativo – e mesmo que isso ocorra, voltam ao normal rapidamente – durante o segmento de um programa de diminuição da dose com interrupções de esteróides anabólicos injetáveis. O ponto que tem sido enfatizado através de todo trabalho, é que o uso adequado dos esteróides pode certamente reduzir os perigos - somente um idiota se voltaria contra o que a ciência e a experiência têm para oferecer. Quadro 3  Descrição sobre a variação normal dos componentes sangüíneos. Item Cálcio Fosfato Inorgânico Glicose (Lm jejum) NUS (Nitrogênio Oléico no Sangue) Ácido Úrico Colesterol Proteína Total Bilirrubina Triglicérides Creatina Fosfoquinase Fosfatase Alcalina DHL (Dehidrogenase Láctica) TGO (Transaminase Glutamico Oxalo-Acético) TGP (Transaminase GlutamicoPerubico) Testosterona

Sódio Potássio

Variação normal 8,5 - 10,5 mg/dl 2.5 - 4,5 mg/dl 70 -110 mg/dl 10-26 mg/dl 2,1 - 7, 8, mg/dl (Homens) 2,0 - 6,4 mg/dl (Mulheres) 150-300 mg/dl 6,0 - 7,8 mg/dl 0,1 - 1,2 mg/dl 10 -190 mg/dl 55 - 170 Ul (Homens) 30 -135 Ul (Mulheres) 30 - 85 mU/dl 100 - 225 mU/dl 8 - 33 U/ml 1 - 36 U/ml 246 - 1238 mg/dl (Homens) 30 - 120 mg/dl (Mulheres) 136 - 142 mbq/l 3,8 - 5,0 mbq/l

Conclusão O uso de esteróides anabólicos tornou-se um modo de vida profundamente arraigado dentro do esporte e em todo o mundo. O fato de que funcionam, tornou-se evidente a todos os atletas que querem ganhar força e volume, chegando a ser mais predominante nos esportes de resistência para aumentar a resistência muscular. As tentativas de proibição legal serviram apenas para exacerbar o problema do abuso da droga. Podemos dizer que a educação é a única forma de minimizar o abuso da droga no esporte. A pouca pesquisa feita a respeito do uso de esteróides anabólicos no esporte demonstrou claramente a existência de

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algumas linhas de condutas que ajudam a minimizar os riscos envolvidos e manter os benefícios em nível de utilidade para os fisiculturistas. Estas linhas de conduta foram apresentadas neste trabalho, principalmente falando nos ciclos, dosagens, métodos de uso de esteróides e outras drogas que auxiliam no desempenho do fisicultor. Em sua procura de vencer, os atletas tentam enganar os testes que lhes são impostos pelas respectivas autoridades desportivas. Alguns dos métodos mais utilizados para falsear os testes foram enumerados, sendo que os principais são o uso de drogas substitutivas e o da ciclagem. A somatotropina (GH) é muito usada para ludibriar os testes, pois eleva a testosterona ao seu nível normal de modo que a testosterona ingerida ou injetada não possa ser detectada, já que a testosterona sintética diminui a testosterona endógena. Os esteróides orais são também muito usados, pois desaparecem rapidamente do sangue, mas são altamente tóxicos para o fígado. O que foi citado acima é o que está acontecendo no mundo dos esportes, não se podem desculpar estas práticas, mas pode-se chamar a atenção de todos os fisicultores que fazem uso ou pretendem usar drogas de qualquer tipo para que procurem a maneira mais eficaz para fazê-lo. Isto sempre implicará em: informar-se sobre as drogas a serem usadas; procurar auxílio de um médico competente em medicina desportiva e minimizar os riscos obtendo o máximo de benefícios.

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Revisão Aspectos físicos e fisiológicos do jovem jogador de futebol Physical and physiological aspects of young soccer player Giovani dos Santos Cunha*, Alvaro Reischak de Oliveira* *Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Escola de Educação Física - LAPEX - Porto Alegre/RS

Resumo

Abstract

O futebol é um dos esportes mais populares do mundo e seu desempenho depende de vários aspectos, como os fatores técnicos, táticos, físicos, fisiológicos e psicológicos. Durante uma partida de futebol, os jogadores percorrem em média 10 km, sendo a corrida a atividade predominante, mas exercícios de explosão como sprints, saltos, marcação e chute são importantes para o desempenho no futebol. A intensidade de trabalho durante uma partida de futebol é muito próxima do limiar anaeróbio (LAn). Os valores de LAn em jovens jogadores de futebol são compreendidos entre 80-90% da FCou entre 75-90% do VO2máx. Tradicionalmente, jovens jogadores máx de futebol possuem valores de VO2máx inferiores a 60 ml.kg-1.min-1, estes valores podem ser influenciados pela posição tática, tempo de treinamento e pelo processo de maturação biológica. A maturação biológica tem um impacto relevante no processo de detecção de talentos, pois é relacionada com o desempenho técnico e físico, no qual atletas mais avançados no processo maturacional possuem maiores níveis de força, potência e capacidade aeróbia em relação aos indivíduos menos avançados.

Soccer is one of the most popular sports in the world, and its performance depends on many aspects, such as technical, tactical, physical, physiological and psychological factors. During a soccer match, players cover distances around 10 km, with running as the predominant activity. But sprints, jumps, marking and kicking are other important aspects to soccer performance. Physical work intensity during a soccer match is very close to the anaerobic threshold (LAn). LAn values of young soccer players are between 80-90% of maximum heart rate or between 75-90% of VO2max. Traditionally, young soccer players have VO2max values less than 60 ml.kg-1.min-1, and these values may be influenced by tactic position, years of training and biological maturation process. Biological maturation has a relevant impact upon the process of talent detection because it is related to technical and physical performance. More advanced athletes in regard to biological maturation process have higher levels of strength, power and aerobic capacity in relation to less advanced individuals. Key-words: soccer, anaerobic threshold, maximal oxygen uptake.

Palavras-chave: futebol, limiar anaeróbio, consumo máximo de oxigênio.

Recebido em 12 de outubro de 2007; aceito em 15 de março de 2008. Endereço para correspondência: Giovani dos Santos Cunha, UFRGS/ESEF – LAPEX, Rua Felizardo, 750, 90690 -200 Porto Alegre RS, E-mail: giovanicunha@yahoo.com.br

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Introdução Atualmente existe uma limitação de estudos sobre os efeitos do exercício físico e do treinamento desportivo sobre o metabolismo das crianças e adolescentes [1-12]. Mais especificamente no futebol, que é um dos esportes mais populares do mundo [13], praticado por homens, mulheres e crianças com diferentes níveis de desempenho [14], a maioria dos estudos com crianças são referentes à força e velocidade [15-17], padrão de atividade física durante o jogo [18, 19] e consumo máximo de oxigênio (VO2máx) [18, 20-24]. O VO2máx de jogadores de futebol internacional varia de 50-75 ml.kg-1.min-1 [16,18,21-27], sendo que esta capacidade fisiológica está relacionada com a posição tática. Os valores de limiar anaeróbio (LAn) em jogadores de futebol são compreendidos entre aproximadamente 80% e 90% da freqüência cardíaca máxima (FCmáx). Estima-se que a intensidade de trabalho médio, mensurado como %FCmáx durante uma partida de futebol coincida como os valores de LAn [18,22,23,28,29]. Embora estes valores de VO2máx e LAn sejam evidentes em jogadores adultos, em jovens jogadores de futebol ainda não existe um consenso sobre o comportamento do VO2máx e do LAn principalmente durante o processo maturacional [30,31]. A maturação biológica é referida como o progresso em direção ao estado biologicamente adulto, que varia em timing e tempo [32] é um fator relevante na detecção de talentos e no treinamento [33,34]. Poucos estudos investigaram a relação entre o VO2máx e a maturação biológica [35], entretanto, algumas evidências sugerem que ela possa influenciar o VO2máx e o LAn [8,9,11,12,17,35-38]. Torna-se importante identificar o comportamento do VO2máx e do LAn durante o processo de maturação biológica em jovens jogadores de futebol, para podermos prescrever e controlar o treinamento de forma adequada a cada etapa do crescimento destes atletas, visto que, o VO2máx é considerado o melhor indicador de potência aeróbia [13,35,39] e o LAn é considerado o indicador mais sensível às alterações aeróbias em resposta ao treinamento [13, 40-42]. Neste sentido, devido a limitações de estudos sobre os aspectos físicos e fisiológicos do jovem jogador de futebol, esta revisão abordará aspectos referentes às demandas físicas do futebol e a influência da maturação biológica sobre o VO2máx e LAn em jovens jogadores de futebol.

Demandas físicas do futebol O desempenho no futebol é multifatorial, onde podemos citar de forma resumida os fatores técnicos, táticos, físicos, fisiológicos e psicológicos [43]. Especificamente, o futebol necessita de atividades físicas intermitentes, em que a seqüência de ações requer uma variedade de habilidades em diversas intensidades. A corrida é a atividade predominante, mas exercícios de explosão como sprints, saltos, marcação e

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chute são fatores importantes para o desempenho no futebol [15]. Outro fator importante para o futebol é à distância percorrida, que em uma partida de futebol de alto nível são da ordem de 9-12 km [23, 44-46] e 4 km para goleiros [43]. Muitos estudos têm apresentado que jogadores de meiocampo percorrem grandes distâncias durante o jogo e que jogadores profissionais percorrem maiores distâncias do que jogadores amadores [44]. No 2º tempo, a intensidade do jogo diminui em relação ao 1º tempo, onde a distância percorrida diminui de 5-10% [44, 45]. A posição tática dos jogadores influencia a distância percorrida durante uma partida, na qual os zagueiros percorrem aproximadamente 7700-9700 metros (m), meio-campistas de 9000-11000 m e atacantes 7700-11000 m [23,44-46]. A distância percorrida tem sido classificada como padrão de atividade física, como caminhar, trotar, correr, sprint e corrida de costas. Durante a partida, os jogadores percorrem caminhando aproximadamente 1000-3500 m, trotam 20006000 m, correm 1000-2000 m, sprint 300-500 m e corrida de costas 100-800 m [19, 44-46]. Durante o jogo, um sprint ocorre aproximadamente a cada 90 segundos (s), cada um dura em media de 2-4 s [47]. Os sprints constituem de 1-10% da distância percorrida total durante o jogo [44], que corresponde a 0,5-3,0% do tempo efetivo de jogo [47]. No contexto de endurance do jogo, cada jogador realiza entre 1000-1400 atividades de curta duração alternadas a cada 4-6 s [44,47]. As atividades realizadas no jogo são aproximadamente de 10-20 sprints, corridas de alta intensidade a cada 70 s, 15 desarmes, 10 cabeçadas, 50 envolvimentos com bola, 30 passes, além de mudanças de direção e grande esforço muscular para manter o equilíbrio e o controle da bola contra a pressão da defesa [47]. Mohr et al. [44] reportaram que laterais e atacantes realizam sprints em maiores distâncias do que zagueiros e meio-campistas. Da mesma forma que a distância percorrida, a capacidade de realizar sprint também diminui ao final da partida [44, 48]. A maioria dos resultados são referentes a jogadores profissionais, por isso, Castagna et al. [19] verificaram o padrão de atividade física de jovens jogadores de futebol durante os jogos (idade 11,8 anos), onde a duração de cada jogo era de 60 minutos e as medidas do campo eram de 100 x 65 m. Foi verificado que a distância percorrida total era de 6175 m, sendo que 1112 m e 32 m foram percorridos caminhando e caminhando de costas respectivamente. Em média os jogadores percorriam 3200 m em baixa intensidade, 986 m em intensidade moderada e 468 m em alta intensidade de corrida. Em média 34 sprints com duração de 2,3 s eram realizados durante a partida, com velocidades máximas de 18 km.h-1, o tempo entre cada sprint foi de 118,5 segundos. A distancia percorrida diminuía 5,53% entre o 1° e o 2° tempo. Os autores concluíram que o padrão de atividade de jovens jogadores de futebol é intermitente e às vezes desempenhado em alta intensidade (9% do tempo total da partida).

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Intensidade do jogo Por causa da duração do jogo, estima-se que o metabolismo aeróbio contribui com aproximadamente 90% do custo energético de uma partida de futebol [14]. A intensidade de trabalho médio, mensurada como %FCmáx durante os 90 minutos de uma partida de futebol é próximo do LAn, compreendido entre 80-90% da FCmáx dos jogadores [18,22,23,28,29]. Fisiologicamente, poderia ser impossível manter esta altíssima intensidade média por um longo período de tempo, principalmente devido ao acúmulo de lactato sangüíneo. Assim, a fadiga é um componente importante para o desempenho no futebol. Em recente revisão, Mohr et al.[49] relatam que a fadiga pode ocorrer em 3 diferentes momentos durante o jogo: após períodos de alta intensidade de exercício tanto no 1° como no 2° tempo de partida, no início do 2º tempo de partida e no final da partida. A fadiga temporária após exercícios de alta intensidade durante o jogo não parece estar relacionada diretamente com as concentrações de glicogênio muscular, acúmulo de lactato, acidose ou a quebra da creatina fosfato. No entanto, isto pode estar relacionado a distúrbios na homeostase iônica do músculo ou ainda a um desequilíbrio na excitação do sarcolema. O desempenho máximo dos jogadores de futebol é inibido no início do 2° tempo, provavelmente devido a uma diminuição da temperatura muscular quando comparado com o final do 1° tempo [49]. Realmente, as partidas de futebol apresentam períodos e situações de alta intensidade de exercício, nas quais ocorre um acúmulo de lactato sangüíneo localizado. Desta forma, os jogadores de futebol necessitam de períodos de baixa intensidade de exercício para poderem remover este lactato muscular acumulado. Em termos relativos, existe pouca ou nenhuma diferença entre a intensidade de exercício de jogadores profissionais e amadores, mas a intensidade absoluta é maior em jogadores profissionais [43]. Stroiyer et al.[18] estudaram as demandas fisiológicas do futebol em jovens futebolistas (idade 12-14 anos) verificaram que o VO2 durante a partida era em média maior no 1° tempo (50-58 ml.kg-1. min-1) do que no 2° tempo (48-54 ml.kg-1. min-1). Estes valores correspondem a 80-85% e 78-80% do VO2máx respectivamente. A FC média também era em média maior no 1° tempo (180 bpm) do que no 2° tempo (175 bpm). Estabelecendo a relação entre FC-VO2 em teste de esforço máximo, esta relação fornece uma mensuração indireta válida do VO2 durante uma partida de futebol. Estabelecendo a relação da FC-VO2 de cada atleta, esta pode refletir exatamente o gasto energético do exercício em estado de equilíbrio. Bangsbo [14] apresentou que a relação FC-VO2 é válida para exercícios intermitentes, verificada pela comparação de exercícios contínuos e intermitentes em testes de esteira em laboratório. A mesma relação FC-VO2 era estabelecida após um grande aumento de intensidade [14], estes dados são suportados por

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estudos recentes [50,51]. A relação entre FC-VO2 pode ser uma boa estimativa de gasto energético para o futebol [50]. Assumindo que a relação FC-VO2 é uma estimativa válida para o futebol, uma intensidade média de exercício de 85% da FCmáx poderia corresponder a aproximadamente 75% do VO2máx . Isto corresponde em média a 45, 48,8 e 52,5 de VO2 (ml.kg-1.min-1) para jogadores com 60, 65 e 70 de VO2máx (ml. kg-1.min-1) respectivamente, refletindo o gasto energético do futebol moderno [39].

VO2máx durante a maturação biológica em jovens jogadores de futebol Tradicionalmente, jovens jogadores de futebol apresentam valores de VO2máx inferiores a 60 ml.kg-1.min-1 [18,23,24]. Stroyer et al. [18] verificaram o VO2máx em 3 grupos de jovens jogadores de futebol, classificados como elite (12 anos), nãoelite (12 anos) e elite (14 anos). O VO2máx correspondia a 58,7, 58,6 e 63,7 ml.kg.-1.min-1 respectivamente, não apresentando diferenças significativas entre os grupos. Ao contrário, outros autores encontraram diferenças significativas no VO2máx, os valores correspondiam a 58,2 e 55,3 ml.kg-1.min-1 entre os grupos elite (12,3 anos) e não-elite (11,7 anos) de jogadores de futebol respectivamente [38]. Por outro lado, Chamari et al. [20] estabeleceram valores superiores (66,5 ml.kg-1.min-1, jogadores com 14 anos de idade) em comparação aos estudos citados anteriormente. Estudos transversais têm indicado que o VO2máx absoluto (ml.min-1) aumenta gradualmente e continuamente em meninos dos 8 aos 16 anos de idade. Após esta idade, o VO2máx continua a aumentar lentamente [12,36,52]. Resultados semelhantes foram encontrados em jovens jogadores de futebol, onde o VO2máx absoluto aumentava significativamente tanto no grupo elite (2,46 para 3,99 l.min-1, n=21) como no grupo não elite (2,10 para 2,99 l.min-1, n=28) ao longo de três anos e meio de acompanhamento [38]. Entretanto, durante o crescimento e a maturação biológica o VO2máx absoluto é altamente correlacionado com tamanho corporal, ocorrendo um aumento significativo dos componentes que determinam o VO2máx, como pulmões, coração e músculo esquelético [53]. Assim, os valores de VO2máx absoluto aumentam com o desenvolvimento das crianças, podendo aumentar de 1,2 l.min-1 para 2,7 l.min-1 dos 6 aos 12 anos de idade, este aumento acelerado é devido aos hormônios anabólicos secretados durante a puberdade [53]. Desta forma, para efeitos independentes da idade cronológica, maturação biológica e sexo sobre o VO2, é importante examinar a confusa influência do tamanho corporal, ajustando-o devidamente [9,53]. Uma forma amplamente utilizada na literatura para tentar ajustar o VO2máx ao tamanho corporal, é expressá-lo na forma relativa à massa corporal (ml.kg-1.min-1). Ao contrário da forma absoluta, quando o VO2máx é expresso na forma relativa, não existem incrementos com a idade cronológica nem

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com o estágio maturacional, ou seja, o VO2máx apresenta um comportamento relativamente constante durante o processo maturacional [11,36,53,54]. Recentemente, este método tradicional de expressar o VO2-1 (ml.kg .mim-1) tem sido contestado por não ajustar adequamáx damente os efeitos da massa corporal [6,9-12,20,27,36,53-58]. Durante os últimos anos, existe um importante debate sobre o melhor método para normalizar o VO2máx e ajustar os efeitos da massa corporal em adultos e crianças. Em recente revisão, Nevill et al. [55] exploram uma variedade de modelos utilizados para descrever variáveis fisiológicas e antropológicas que variam com o tamanho corporal e com outras variáveis de confusão, como por exemplo, a idade cronológica. Os autores concluíram que os modelos alométricos são superiores aos demais modelos. Sendo a alometria o método matemático que expressa a medida à qual uma variável (seja fisiológica, anatômica ou temporal) é relacionada com uma unidade de tamanho corporal, geralmente massa corporal em kg [53]. Entretanto, Welsman & Armstrong [59] enfatizam que não existe um método universalmente correto de normalizar o VO2máx e remover os efeitos da massa corporal. Todos os métodos apresentam suas limitações, sendo que a técnica de normalização depende da natureza da pesquisa e que sua validade seja observada dentro de um determinado contexto. Apesar disto, vários autores têm sugerido que para facilitar as comparações entre grupos heterogêneos em tamanho corporal, a maneira mais apropriada de remover os efeitos da massa corporal é utilizar a função potência (VO2max = aMb), onde (a) é uma constante de escala e (b) é a valor do expoente referente à massa corporal. O expoente pode ser estimado através da análise de regressão linear após obtermos o logaritmo da equação da função potência log e (VO2máx) = log a + b. log m. Atualmente existe um considerável debate sobre qual o valor que este expoente pode assumir (ex. b = 0,66; b = 0,75 ou b > 0,75) [11,53,55,56,60-62], sendo este expoente altamente específico de uma determinada amostra. Estudos com crianças demonstram que este expoente pode variar de b = 0,37 a b = 1,17 [37,53], com valor médio de b = 0,83 [53]. Tem sido sugerido que o tamanho da amostra, a composição corporal, o somatotipo, treinamento e o sexo podem ser responsáveis pela grande variação nos valores dos expoentes alométricos em crianças [53]. Vários autores têm utilizado o expoente alométrico b = 0,75 (VO2máx ml.kg-0,75.min-1) a fim de realizar comparações adequadas do VO2máx entre jogadores de futebol de diferentes massas corporais [16,21-23,27,50,53,63]. Diversos autores concordam com esta afirmação [53,56,60,64]. Neste sentido, Chamari et al.[20] compararam a capacidade aeróbia de jogadores de futebol jovens e adultos utilizando um procedimento alométrico. Quando o VO2 foi expresso de forma relativa (66,6 e 66,5 ml.kg-1.min-1 , respectivamente), os valores de adultos e jovens foram semelhantes, mas quando expresso na forma alométrica (216 e 206 ml.kg-0,72.min-1 respectivamente), foi 5% maior nos adultos do que nos jovens. Os autores concluíram

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que na comparação com jovens jogadores de futebol, o VO2máx de adultos era subestimado e a economia de movimento era superestimada quando expresso na forma relativa. Diferentemente da expressão relativa, quando o VO2max é expresso na forma alométrica, este apresenta um aumento progressivo conforme avançam os estágios maturacionais. Welsman et al.[54] utilizaram tanto a expressão relativa como a alométrica para remover os efeitos do tamanho corporal sobre o VO2máx dos grupos pré-púberes (n=24), púberes (n=26) e adultos (n=16). A expressão relativa estava de acordo com a literatura, demonstrando que não existia diferenças significativas no VO2máx (ml.kg-1.min-1) entre os grupos. Ao contrário, a análise alométrica (ml.kg-0,80.min-1) demonstrou um aumento progressivo do VO2máx entre os grupos. Estas descobertas alteram a interpretação convencional do comportamento do VO2máx durante o crescimento e a maturação biológica de crianças [35]. Embora a relação entre o VO2máx e o tamanho corporal seja bem documentada e algumas vezes mal interpretada, relativamente poucos estudos têm investigado a relação entre o VO2máx e a maturação biológica [11,35], principalmente em jogadores de futebol. Malina et al.[17] estimaram a contribuição da experiência, do tamanho corporal e do estágio maturacional nas variações das capacidades funcionais de jogadores de futebol com idades de 13,2 -15,1 anos. Os autores verificaram que a maturação biológica e o tempo de treinamento eram variáveis explicativas da resistência aeróbia em 21%. Armstrong et al. [65] argumentam que os estudos que não controlaram adequadamente a massa corporal pela alometria, esta relação entre o VO2máx e a maturação biológica pode ser obscurecida pelo uso inapropriado da normalização dos valores pela expressão relativa a massa corporal (ml.kg-1min-1). Os autores verificaram o VO2máx de 93 meninos e 83 meninas de 12 anos de idade e constataram que o VO2máx expresso na forma relativa permanecia constante com a maturação. Quando os dados eram expressos na forma alométrica, o VO2máx apresentava um aumento com a maturação em ambos os sexos e uma significativa influência da maturação biológica foi observada. Claramente, a expressão tradicional (VO2/massa) falha em remover totalmente os efeitos da massa corporal, sendo inapropriado para estudos epidemiológicos que desejam comparar o VO2máx entre grupos (ex. ativos e inativos ou crianças e adultos) que são associados ao tamanho corporal [10,54]. Atualmente, muitos autores concordam que os modelos alométricos são os mais indicados para ajustar corretamente o VO2máx à massa corporal [10-12,16,20-23,27,50,54,56,64,66-70].

Limiar anaeróbio em jovens jogadores de futebol Embora o metabolismo aeróbio seja predominante na ressíntese de energia durante uma partida de futebol, as ações

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mais importantes são desempenhadas por meio do metabolismo anaeróbio. A liberação de energia via metabolismo anaeróbio é exigida principalmente na execução de sprints, saltos e disputas pela bola. Estas ações são cruciais para o resultado da partida [71]. O padrão de lactato durante uma partida de futebol tem apresentado maiores valores no 1° tempo (4,1-7,0 mmol/L) do que no 2° tempo (2,7– 4,4 mmol/L) [47,49,72,73]. É importante notar que, a concentração de lactato em jogadores de futebol é largamente dependente do padrão de atividade do jogador. Realmente, tem sido apresentado que os valores de lactato são positivamente correlacionados com o aumento do trabalho realizado previamente antes da coleta de sangue [14]. McMillan et al. [42] têm indicado que a avaliação do lactato submáximo em jogadores de futebol pode ser utilizado com um indicador de alterações no desempenho de endurance em períodos específicos do treinamento. Estes autores indicam que as concentrações de lactato fixadas entre 2 e 4 mmol.L-1 podem ser utilizadas para avaliar as respostas aeróbias de jogadores de futebol. Os valores de LAn também podem ser expressos de várias maneiras, como por exemplo o método ventilatório (LV2), %FCmáx, %VO2máx ou ainda a valores correspondentes a FC (bpm) e VO2 (ml.min-1, ml.kg.-1.min-1, ml.kg.-0,75.min-1). Os valores de LV2 em jogadores de futebol são compreendidos entre aproximadamente 80% e 90% da FCmáx [18,22,23,28,29]. Quando o LV2 é expresso em %VO2máx, Hoff et al. [50] verificaram que este correspondia a 75% em jogadores com 22 anos de idade. Chamari et al. [20] identificaram que o LV2 correspondia a 88,8% e 90,1% para jogadores com 14 e 17 anos de idade respectivamente [22]. Helgerud et al.[23] demonstraram que este valor correspondia a 82,4 ± 3,1% em jogadores com 18 anos de idade. Identificamos uma limitação de estudos que verificaram os limiares ventilatórios (LV1 e LV2) em jovens jogadores de futebol, visto que, a intensidade de trabalho médio, mensurada como %FCmáx durante os 90 minutos de uma partida de futebol é muito próxima do LV2. Curiosamente, não encontramos nenhum estudo verificando o comportamento do LV1 e LV2 durante a maturação biológica em jogadores de futebol e nem se esta exerce algum efeito sobre o mesmo. Assim, a discussão sobre este tópico torna-se limitada. Klentrou et al. [74] compararam os limiares ventilatórios entre adultos e crianças praticantes de futebol. Quando os limiares ventilatórios eram expressos em %VO2máx, os valores correspondiam 64,9 ± 7,1% e 57,7 ± 8,0 para LV1 e 80,0 ± 3,8 e 77,3 ± 5,1 para LV2 em crianças e adultos respectivamente. Foi verificado que as crianças apresentavam um LV1 significativamente superior e LV2 semelhante ao dos adultos. Os autores atribuíram estas diferenças ao menor potencial enzimático da via glicolítica e ao padrão ventilatório em resposta ao exercício. Outras possíveis explicações acerca das diferenças nos limiares ventilatórios (LV1 e LV2) e VO2máx dos jovens jo-

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gadores de futebol poderiam ser atribuídas a alterações no padrão de utilização de substrato, metabolismo enzimático, distribuição do tipo de fibras musculares e aos estoques de glicogênio muscular.

Maturação biológica, VO2máx e LAn - perspectivas para o treinamento do futebol O desempenho no futebol é multifatorial e suas atividades físicas são de características intermitentes. A corrida é a atividade predominante, mas exercícios de explosão como sprints, saltos, marcação e chute são fatores importantes para o desempenho no futebol de alto nível [15]. Jogadores de futebol percorrem em uma partida cerca de 9-12 km [23,4446]. As atividades realizadas no jogo são aproximadamente de 10-20 sprints, que ocorrem aproximadamente a cada 90s e tem duração media de 2-4 s [47], corridas de alta intensidade a cada 70 s, cerca de 15 desarmes e 50 envolvimentos com bola, além de mudanças de direção e grande esforço muscular para manter o equilíbrio e o controle de bola contra a pressão do adversário [47]. Entretanto, os atletas necessitam recuperar suas reservas energéticas em pequenos intervalos de tempo ou ainda durante exercício de baixa intensidade. Durante este período, os níveis de ATP e PCr são restaurados em 70% em aproximadamente 30 s e totalmente restaurados dentro de aproximadamente 3 a 5 minutos [75]. Como no futebol uma atividade de alta intensidade ocorre aproximadamente a cada 70 s, o metabolismo anaeróbio poderia ser necessário para suprir estas demandas energéticas. A conseqüência metabólica é um aumento das concentrações H+, diminuição do pH, aumento das concentrações de lactato, que podem afetar o desempenho dos jogadores [75]. Tem sido sugerido que uma elevada capacidade aeróbia melhora a recuperação entre os exercícios intermitentes de alta intensidade, provavelmente por remover mais rapidamente o lactato sangüíneo e restaurar os níveis de ATP-PCr. Este fato demonstra a importância de um atleta possuir um elevado VO2máx e LAn. Provavelmente, estes atletas conseguiriam suportar exercícios de alta intensidade com uma menor parcela de energia proveniente da via anaeróbia, assim diminuindo as contrações de lactato e H+, resultando em uma melhor manutenção do desempenho físico. As adaptações induzidas pelo treinamento aeróbio têm sido extensivamente estudadas em adultos, entretanto, existem muitas controvérsias em relação às respostas do treinamento aeróbio em crianças e adolescentes. Tem sido sugerido que crianças não são aptas a aumentarem seu VO2máx com o treinamento aeróbio, principalmente antes da puberdade, ao contrário, tem sido verificado efeitos positivos do treinamento em crianças pré-púberes [76,77]. Baquet et al. [76] analisaram os procedimentos aplicados à prescrição e aos métodos de treinamento para verificarem o real impacto que o treinamento aeróbio exerce sobre o VO2máx

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de crianças e adolescentes. Os autores excluíram os estudos que não atendiam a certos critérios como, ausência de grupo controle, procedimentos estatísticos inadequados, tamanho amostral insuficiente, protocolo de treinamento inapropriado, populações especiais e estudos que não apresentavam os dados sobre VO2máx. Foi levado em consideração o controle da maturação biológica, constituição dos grupos, consistência entre o treinamento e os procedimentos, sendo que dos 51 estudos analisados, 21 apenas foram selecionados. Os resultados de maneira geral sugerem que o treinamento aeróbio aumenta o VO2máx de 5-6% em crianças e adolescentes independentemente de sexo ou estágio maturacional. Quando somente os estudos que apresentavam um significativo efeito do treinamento aeróbio eram considerados, o VO2máx aumentava de 8-10%. Os autores sugerem que as intensidades de treinamento sejam superiores a 80% da FCmáx para esperar um aumento significativo do VO2máx em crianças e adolescentes. Mais especificamente no futebol, McMillan et al. [21] verificaram que após 10 semanas de treinamento aeróbio específico para o futebol (90-95%Fcmáx), o VO2máx aumentava de 63,4 para 69,8 ml.kg-1min-1 em 11 jogadores (16,9 anos), sem que ocorresse prejuízos no desempenho de força, saltos ou sprints. Assumindo o pressuposto que crianças e adolescentes respondem positivamente ao treinamento aeróbio, onde aumentos no VO2máx de 5-10% têm sido verificados, este fato demonstra que o treinamento aeróbio é um componente importante para o desempenho do futebol moderno. Recentemente, tem sido apresentado que um aumento de 11% no VO2máx após 8 semanas de treinamento com jovens jogadores de futebol, reflete um incremento de 20% na distância percorrida total de uma partida, aumento de 23% nos envolvimentos com bola e um aumento de 100% no número de sprints realizados por cada jogador [23]. Estas são algumas das vantagens que demonstram a relação entre uma alta capacidade aeróbia e desempenho no futebol moderno [16]. A maturação biológica exerce um claro efeito sobre o VO2máx de jovens jogadores de futebol, sendo importante o seu controle, pois a maturação biológica é relacionada com o desempenho físico e atletas mais avançados no processo maturacional possuem níveis maiores de força, potência e capacidade aeróbia em relação aos indivíduos menos avançados. Recentemente, um efeito da maturação biológica sobre as habilidades específicas do futebol tem sido constatado em jovens jogadores de futebol [78,79]. Malina et al. [79] verificaram que a maturação biológica tem efeito positivo sobre as habilidades específicas do futebol, como o controle da bola, controle da bola com a cabeça, drible em velocidade com passe e chute. Os autores concluíram que indivíduos mais avançados no processo maturacional apresentam um melhor desempenho nestas 4 habilidades específicas. Este fato tem grande impacto na detecção de talentos, pois se a maturação biológica não for controlada, indivíduos com processo maturacional mais lento geralmente serão excluídos

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e indivíduos mais adiantados no processo maturacional serão favorecidos [33,34]. Visto que, o limiar anaeróbio é o indicador mais sensível às repostas do treinamento aeróbio e que a intensidade de trabalho médio, mensurada como %FCmáx durante os 90 minutos de uma partida de futebol é muito próxima deste limiar. Torna-se importante desenvolver esta variável com o treinamento, pois quanto mais elevado for o LV2, maior será a intensidade que o atleta poderá manter durante jogo sem a contribuição do metabolismo anaeróbio, conseqüentemente, diminuindo as contrações de lactato e H+, resultando em uma melhor manutenção do desempenho físico.

Conclusão O futebol é um esporte de desempenho multifatorial, sendo necessário conhecer o comportamento do VO2máx e do LAn durante o processo maturacional de jovens jogadores de futebol, visto que o VO2máx é considerado o melhor indicador de capacidade aeróbia e o LAn é considerado o indicador mais sensível às alterações do condicionamento aeróbio em resposta ao treinamento. A expressão tradicional (VO2máx ml.kg-1.min-1) falha em remover totalmente os efeitos da massa corporal, ocultando os efeitos da maturação biológica sobre o VO2máx, dificultando assim a comparação entre jovens jogadores de diferentes tamanhos corporais. A maturação biológica deve ser controlada durante o treinamento de futebol, principalmente no processo de detecção de talentos, pois influencia o VO2máx, LAn e as capacidades técnicas dos jovens jogadores.

Agradecimentos Ao CNPq pelo apoio financeiro a este trabalho.

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Revisão Respostas fisiológicas ao remo competitivo Physiological responses to competitive rowing Rafael Reimann Baptista*, Alvaro Reischak de Oliveira** *Curso de Educação Física da ULBRA Gravataí RS e Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto PUC-RS, **Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo

Abstract

No início de uma regata, o barco é acelerado e a força nos remos alcança entre 1000 e 1500 N. Durante a regata, a velocidade é mantida em um nível inferior com um pico de força de 500-700 N por meio de 210-230 remadas em torno de 6,5 min. Remadores utilizam um padrão fisiológico ímpar de ritmo de competição; eles iniciam o esforço com uma largada vigorosa a qual exige uma demanda excessiva do metabolismo anaeróbico, seguida de um severo estado estável aeróbico e um exaustivo sprint final. Os remadores estão adaptados a este esforço devido a uma grande massa muscular e uma alta capacidade metabólica. Remadores apresentam valores de VO2máx na ordem de 6,1 ± 0,6 L.min-1. Cálculos aeróbicos e anaeróbicos mostram que 70-75% da energia necessária para remar a distância padrão de 2000 m em homens é derivada da aerobiose enquanto que os 25-30% restantes são anaeróbicos. A respiração é sincronizada com a mecânica da remada, um fenômeno chamado de acoplamento respiratório-locomotor. O limiar de lactato de 4,0 mM superestima a intensidade correspondente a máxima fase estável de lactato (MLSS), enquanto que o limiar anaeróbico individual indica a MLSS durante um teste de exercício com carga progressiva.

At the start of a rowing race, the boat is accelerated and the force on the oars reaches between 1000 and 1500 N. During the race, the speed is maintained at a lower level with a peak rowing force of 500-700 N for 210-230 strokes for about 6.5 min. Rowers utilize a unique physiological pattern of race pacing; they begin exertion with a vigorous sprint which places excessive demands on anaerobic metabolism followed by a severely high aerobic steady-state and then an exhaustive sprint at the finish. Rowers are adapted to this effort by a large muscle mass and high metabolic capacity. Oarsmen have VO2max values of 6.1 ± 0.6 L.min-1. Aerobic and anaerobic calculations show that 70-75% of the energy necessary to row the standard 2000 m distance for men is derived from aerobiosis while the remaining 25-30% is anaerobic. The respiration is coupled with the mechanics of the rowing stroke, a phenomenon called locomotor-respiratory coupling. Lactate threshold of 4.0 mM overestimate the workload corresponding to maximal lactate steady state (MLSS), while individual anaerobic threshold presumably indicate the MLSS during an incremental workload test.

Palavras-chave: remo, fisiologia cardiovascular, fisiologia respiratória, lactato.

Key-words: rowing, cardiovascular physiology, respiratory physiology, lactate.

Recebido em 10 de outubro de 2007; aceito em 10 de março de 2008. Endereço para correspondência: Rafael Reimann Baptista, ULBRA Gravataí Curso de Educação Física, Av. Itacolomi 3600, 94170-240 Gravataí RS, Tel: (51) 3431 7677, E-mail: baptistarafael@terra.com.br

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Introdução O remo é um esporte em que o sistema aeróbico possui a maior parte da responsabilidade pela produção energética, entre 70 e 75% da produção total de energia [1]. Todavia, em uma competição oficial de remo, com a distância de 2000 m e a duração entre 5 a 7min, as rotas metabólicas anaeróbica lática e alática também são bastante requisitadas, na ordem de 25 a 30% da produção total de energia [1,2]. Normalmente os remadores realizam um esforço vigoroso nos primeiros 30 a 45 seg da prova, o que é necessário para iniciar o movimento e atingir uma velocidade de competição no barco, bem como nos 45 a 60 seg finais da competição [2]. Desta forma, os momentos iniciais e finais de uma regata apresentam uma predominância do metabolismo anaeróbico como fonte energética, enquanto durante a maior parte da prova a rota aeróbica é a principal fornecedora de ATP (Adenosina trifosfato) para a contração muscular. Tais características ficam bastante evidenciadas quando se verifica a produção de força nos diferentes momentos da regata. Steinacker [3] apresenta dados que mostram um pico de produção de força na ordem de 1000 a 1500 N nos momentos iniciais da regata, e entre 500 a 700 N no decorrer da mesma. No remo, bem como em outros esportes, o limiar de lactato é um dos parâmetros mais usados, tanto como indicador de desempenho físico quanto na prescrição do treinamento [4,5], podendo ser definido como o ponto de desequilíbrio entre a produção e remoção do lactato durante o fornecimento de energia para a execução de um exercício físico [6-8]. Além disso, as respostas fisiológicas máximas alcançadas em testes de campo e laboratório são largamente estudadas e empregadas como parâmetros de prescrição e controle do treinamento físico [9-12], existindo descrições na literatura de que o desempenho em atividades esportivas contínuas e prolongadas se correlacionam melhor com o limiar de lactato do que com a potência aeróbica máxima [13]. Desta forma o objetivo deste artigo foi revisar os aspectos fisiológicos do remo competitivo principalmente no que tange as respostas cardiovasculares e ventilatórias ao remo, bem como os aspectos metabólicos relacionados com o limiar anaeróbico e suas aplicações neste esporte.

Respostas cardiovasculares ao remo O remo é um esporte que possui um gesto esportivo extremamente peculiar, de modo que suas respostas fisiológicas acompanham estas características e se diferenciam de outras modalidades esportivas. Além disso, o ergômetro utilizado na avaliação do remo (remoergômetro), em função de seu gesto esportivo, requisita a utilização de membros superiores e inferiores, diferentemente da esteira ergométrica e do cicloergômetro que solicitam quase que exclusivamente a musculatura de membros inferiores.

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É bem aceito que durante um exercício progressivo, a FC e o débito cardíaco (DC) de indivíduos não-atletas aumentam linearmente enquanto que o volume sistólico (VS) normalmente alcança um platô a aproximadamente 40% do VO2 máx [14]. Em remadores, entretanto, Rosiello et al. [15] demonstraram que em uma remo ergometria, com incremento de carga progressiva, ocorria um aumento inicial no VS e subseqüentemente um declínio no mesmo, contrastando com a expectativa de um platô nesta variável como a encontrada em estudos clássicos em esteira e cicloergômetro, avaliando indivíduos ativos fisicamente, mas não-atletas [14,16,17]. A FC parece aumentar de forma similar em uma remo ergometria e em ciclo ergometria [18,19], embora Rosiello et al. [15] tenham verificado uma elevação progressivamente maior na FC em remoergômetro, à medida que a intensidade de exercício aumentava. Por outro lado, Rosiello et al. [15] verificaram valores de FC máximas similares entre os dois ergômetros, ao contrário do VS que foi significativamente menor durante o remo nas cargas mais elevadas de exercício. Ambos, VS e FC, são responsáveis pela produção do DC e provocam, portanto, durante uma remo ergometria uma redução no DC quando comparado ao cicloergômetro, como confirmam os achados de Cunningham et al. [19]. As explicações para estas diferenças foram relacionadas com a contratilidade ventricular e o mecanismo de Frank-Starling. Rosiello et al. [15] e Cunningham et al. [19] concordam que devido à mecânica do gesto esportivo no remo, as intensas contrações durante a remada interferem no retorno venoso, causando, portanto, as alterações citadas acima. A postura corporal, bem como a massa muscular envolvida em um exercício, influencia o retorno venoso e conseqüentemente o volume sangüíneo central, o que modifica as respostas da FC ao esforço [20]. Comparando as respostas da FC no remo com as respostas obtidas na corrida, Yoshiga e Higushi [21] verificaram que em jovens, tanto em intensidades submáximas quanto máximas, a FC no remo era menor do que na corrida. Entretanto, no mesmo estudo, o VO2 e o VO2máx foi maior no remo do que na corrida em todas as intensidades, bem como o lactato ao final do exercício. No estudo de Yoshiga e Higushi [21], a FC foi menor no remo do que na corrida em todas as intensidades estudadas. Mesmo na intensidade máxima a FC foi menor no remo 194 bpm do que a encontrada na corrida 198 bpm. As diferenças nas respostas da FC para estes dois tipos de exercícios são justificadas pelos autores em função da maior massa muscular envolvida no remo, o que proporciona uma maior bomba muscular aumentando o retorno venoso e atenuando a FC devido a um mecanismo de Frank-Starling aumentado, no caso da corrida, em função da posição ereta, o deslocamento de sangue para os membros inferiores em função da gravidade, requisita uma atividade simpática para controle da pressão arterial, o que aumenta as respostas de FC quando comparado ao remo [21].

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Respostas ventilatórias no remo Faria e Faria [22] verificaram que a FC, VO2 e a VE (ventilação) de remadoras em um teste de exercício não era significativamente diferente em um remoergômetro adaptado usando apenas membros superiores, apenas membros inferiores ou a combinação de ambos, a uma mesma intensidade relativa de 20% de três repetições máximas. Entretanto, esses autores realizaram também uma comparação em um modo recíproco, ou seja, com a remoergometria adaptada de membros superiores sendo realizada com a carga relativa dos membros inferiores e vice-versa. Nessa situação, embora o VO2 não tenha se mostrado significantemente diferente, a FC foi maior devido aos membros superiores estarem trabalhando próximos de sua capacidade máxima. Conseqüentemente, uma parte do débito cardíaco é direcionada para os membros superiores aumentando a resistência vascular periférica, causando um conflito no sistema circulatório bem como tônus simpático aumentado, o que segundo os autores explica estas diferenças na FC [22]. A análise das relações entre o VO2 e a produção de dióxido de carbono (VCO2) possibilita o estudo dos metabolismos energéticos predominantemente envolvidos em um determinado esporte. Diversos autores têm publicado diferentes posicionamentos quanto aos percentuais de contribuição das rotas aeróbicas e anaeróbicas de produção de energia durante a prática do remo, como pode ser observado na Tabela I. Tabela I - Compilação de estudos sobre rotas metabólicas no remo. Mäestu, 2004. Autor Russel et al. (1998) Hagerman et al. (1978) Hartmann (1987) Mickelson e Hagerman (1982) Roth et al. (1983) Secher et al. (1982) Messonier et al. (1997)

No de atletas 19 310 17

Aeróbica (%) 84 70 82

Anaeróbica (%) 16 30 18

25 10 7 13

72 67 70-86 86

28 33 30-14 14

Remadores adultos de elite possuem valores de VO2 máx absoluto na ordem de 6,1 L.min-1, enquanto que remadoras adultas de elite apresentam valores um pouco menores na ordem de 4,1 L.min-1 [1]. O VO2 máx absoluto tem se mostrado mais importante do que o relativo à massa corporal na avaliação da potência aeróbica de remadores, devido ao suporte da massa corporal pelo acento do barco e pela grande massa corporal apresentada pelos remadores comparada a outros atletas de resistência [2]. As contrações musculares periódicas envolvidas no movimento do remo elevam a pressão pleural, a qual reduz o retorno venoso, o volume diastólico final e o volume de ejeção do coração [15,23]. Além disso, a pressão intra-abdominal

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aumentada durante algumas fases do movimento da remada dificulta a ventilação. Essas mudanças fisiológicas são encaradas como limitantes da VE e do VO2 durante um exercício máximo no remo [15,19]. Contrariamente, Yoshiga e Higushi [24] comparando as respostas ventilatórias entre o remo e a corrida, encontraram maiores valores de VE máxima no remo (157 ± 16 L.min-1) do que na corrida (147 ± 13 L.min-1). Da mesma forma, o VO2máx se mostrou maior no remo (4,5 ± 0,5 L.min-1) do que na corrida (4,3 ± 0,4 L.min-1). A autora atribui essas diferenças à maior massa muscular envolvida na prática do remo, a qual exige um maior VO2 para os músculos ativos [24]. Tais diferenças parecem estar relacionadas também com um fenômeno característico no remo, o acoplamento da respiração com o movimento da remada [23]. O acoplamento da respiração com o gesto esportivo tem sido observado durante a prática de diferentes exercícios físicos de movimentos cíclicos por seres humanos como a corrida e o ciclismo por exemplo, mas é no remo que este acoplamento se torna mais evidente [23]. A despeito da variação interindividual, Siegmund et al. [23] encontraram indicações de um padrão respiratório de 2:1, ou seja, uma inspiração ocorrendo no início do movimento da remada e outra no final da mesma. Os resultados ventilatórios verificados por Siegmund et al. [23] sugerem que este seria um padrão preferencial de respiração pelos remadores e que esse padrão indica que os períodos citados no movimento da remada seriam vantajosos para maiores volumes de inspiração e expiração, o que pode ser usado pelos remadores para tirar vantagem do movimento. De fato, cinco anos mais tarde, Daffertshofer et al. [25] re-analisaram os dados publicados por Siegmund et al. [23] e concluíram, através de um estudo qualitativo da análise espectral dos dados ventilatórios, que o gasto energético expresso através do consumo de O2 era menor durante os episódios de acoplamento do que comparado aos episódios de não acoplamento, sugerindo que esse fenômeno é dependente da demanda aeróbica envolvida no exercício.

Limiar anaeróbico no remo Ao que tudo indica, o termo limiar anaeróbico foi primeiramente descrito na literatura por Wassermann e Mcilroy [26] ao estudarem as respostas de pacientes cardiopatas ao exercício, no qual o acúmulo de lactato foi diretamente relacionado à hipóxia muscular. O limiar anaeróbico foi, então, definido por alguns autores como sendo a intensidade de exercício acima da qual o consumo de oxigênio não consegue suprir totalmente a demanda metabólica, embora esta definição possa ser questionável [4]. Parece haver uma tendência entre os pesquisadores de uma definição mais contemporânea de limiar anaeróbico,

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direcionando essa definição a um termo como limiar de lactato, que estaria associado a uma intensidade de exercício relacionado a um aumento abrupto nas concentrações de lactato, devido a uma maior produção do mesmo pelo músculo em exercício frente à capacidade do organismo de remoção [4,13,27]. Atualmente, o limiar anaeróbico é um dos parâmetros mais usados tanto como indicador de desempenho físico quanto na prescrição do treinamento, existindo evidências de que o desempenho em atividades esportivas contínuas e prolongadas correlaciona-se melhor com o limiar anaeróbico do que com o VO2máx [4,5,13]. Apesar de não haver uma concordância na literatura entre as causas relacionadas com o acúmulo de lactato, em que basicamente dois grupos de pesquisadores parecem apresentar teorias antagônicas na explicação desse fenômeno, representados de um lado por uma visão mais conservadora, aceitando a relação do acúmulo de lactato com a anaerobiose [26,28-30] e de outro por uma abordagem mais revolucionária, que nega esta relação direta [6,31,32], o limiar anaeróbico representa uma ferramenta útil de avaliação e prescrição de treinamento [13]. O limiar anaeróbico pode ser avaliado por métodos invasivos (como a lactacidêmia) e não-invasivos (como o limiar ventilatório), cada qual apresentando prós e contras e determinando, normalmente em função do método adotado, uma nomenclatura específica. A determinação dos limiares ventilatórios, onde os trabalhos de Wassermann e Macilroy [26] e Wasserman et al. [30] demonstraram que os níveis de lactato apresentam uma forte correlação com a ventilação em função do tamponamento dos íons hidrogênio (H+) pelo íon bicarbonato (HCO3-), e subseqüente eliminação na forma de dióxido de carbono (CO2) pela respiração (H+ + HCO3- ↔ H2CO3 ↔ CO2 + H2O). Essas respostas podem ser avaliadas através da análise gráfica de parâmetros como a própria ventilação, a produção de dióxido de carbono, os equivalentes ventilatórios de O2 e CO2 e as pressões expiratórias de O2 e CO2, utilizando uma avaliação visual das quebras de linearidade nas curvas em relação às diferentes intensidades de trabalho [30]. No remo, entretanto, o acoplamento da respiração ao gesto esportivo apresentado pelos atletas [23,25] dificulta, e até impossibilita, a detecção dos limiares ventilatórios. Um método alternativo seria a lactacidemia. Existe na literatura uma grande diversidade de nomenclaturas no que diz respeito à detecção do limiar de lactato, como podemos observar na Tabela II. Podemos basicamente distinguir os métodos que usam concentrações fixas de lactato e os métodos que usam concentrações variáveis. A utilização da concentração fixa de lactato de 4 mM (AT4 – Anaerobic Threshold of 4 mM) adotada por autores como Heck et al. [33] e Urhaunsen et al. [34,35] é justificada como a máxima concentração estável de lactato em um teste em es-

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teira ergométrica, ou como muitas vezes é expresso na Língua Inglesa pela sigla MLSS (Maximal Lactate Steady State). A intensidade de exercício correspondente a esta concentração fixa, quando imposta aos atletas em um teste de carga fixa de 20 minutos, não apresenta um aumento maior do que 1 mM no lactato plasmático [33] e é denominada por outros autores como início do acúmulo de lactato sangüíneo ou como normalmente é referida pela sua sigla em inglês OBLA (Onset of Blood Lactate Accumulation) como referem Sjödin e Jacobs [36]. Tabela II - Nomenclaturas usadas por alguns estudos para descrever o limiar anaeróbico. Adaptado de Tokmakidis, 1989. Autor Wasserman & Mcilroy (1964) Wasserman et al. (1973) Farrel et al. (1979) Kindermann et al. (1979) Ivy et al. (1980) Sjödin e Jacobs (1981) Stegmann et al. (1981) Conconi et al. (1982) Heck et al. (1985) Cheng et al. (1992) Tegtbur et al. (1993)

Nomenclatura Limiar anaeróbico Limiar ventilatório Início do acúmulo de lactato plasmático Limiar aeróbico/anaeróbico Limiar de lactato Início do acúmulo de lactato sangüíneo Limiar anaerobico individual Limiar de freqüência cardíaca Máxima fase estável do lactato Distância máxima Velocidade de lactato mínimo

Uma crítica que pode ser feita ao método AT4 é a variabilidade dos níveis de lactato encontrado no trabalho original publicado por Heck et al. [33], que vão de 3,05 a 5,5 mM, possibilitando que indivíduos submetidos a esta intensidade não estejam trabalhando efetivamente no limiar, mas sim acima ou abaixo dele. No entanto, apesar dessa variabilidade, o método de AT4 ainda é considerado um dos mais utilizados na determinação do limiar de lactato no remo [37]. Talvez devido às limitações do uso de concentrações fixas de lactato na identificação do limiar anaeróbico, muitas são as propostas de individualização do mesmo. Partindo deste princípio, autores como Stegmann et al. [38], propõem a utilização de um limiar anaeróbico individual ou IAT (Individual Anaerobic Threshold). Este método baseiase na habilidade individual do atleta de manter um estado estável de lactato durante um exercício prolongado. De fato, em um estudo subseqüente realizado por Jacobs [39], a intensidade de exercício correspondente ao IAT mostrou ser a maior potência que pode ser mantida pelos atletas por um período de exercício entre 15 a 20 min, sem um aumento no acúmulo de lactato. Beneke [40], assim como Bourgois et al. [37] também refere que o limiar de AT4 é método mais comumente usado para a detecção de limiar de lactato em remadores, e

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juntamente com o IAT, parece ser bastante representativo do MLSS em corrida e ciclismo. Visando verificar se esses dois métodos também teriam uma boa correlação com o MLSS no remo, os pesquisadores usaram de um teste de exercício máximo em remoergômetro para comparar a potência de limiar entre os métodos AT4 e IAT. O estudo concluiu não haver diferenças significativas entre os dois métodos, todavia, as cargas de trabalho identificadas pelo AT4 foram sempre maiores que a carga de MLSS. Contrariamente, Urhaunsen et al. [35] avaliando ciclistas, triatletas e remadores verificaram que o IAT proposto por Stegmann et al. [38] é altamente correlacionado com o MLSS, mas uma vez que a intensidade de IAT seja excedida em apenas 5%, metade dos atletas estudados apresentou um aumento progressivo no acúmulo de lactato. No sentido de individualizar o limiar de lactato, um dos modelos relativamente recentes e de fácil aplicação encontrado na literatura é o método proposto inicialmente por Cheng et al. [41] e posteriormente utilizado também por Nicholson e Sleivert [42] e Zhou e Weston [43], intitulado Dmáx (maximal distance). Nessa proposta, os autores fizeram uso dos valores de lactato, VE, freqüência respiratória e produção de CO2, coletados durante um teste incremental em cicloergômetro, os quais foram plotados contra os valores de VO2, construindo-se uma linha de tendência exponencial. Essa curva demonstra o comportamento das respostas fisiológicas frente ao exercício realizado e apresenta um comportamento crescente em função do aumento da intensidade. Posteriormente, uma reta unindo o ponto inicial e final da curva é confeccionada e a maior distância entre a curva e a reta construída é considerada o limiar de lactato, daí o nome Dmáx. [41]. No estudo de Cheng et al. [41] ao se utilizar o método Dmáx. a partir das respostas de ventilação, freqüência respiratória, VCO2 e lactato, o limiar de lactato não se mostrou significativamente diferente daquele determinado pelos equivalentes ventilatórios e pelo OBLA. Além disso, quando as diferentes variáveis ventilatórias e metabólicas foram utilizadas no método Dmáx., não foram encontradas diferenças significativas na determinação do limiar de lactato. Alguns anos mais tarde, Nicholson e Sleivert [42] compararam a velocidade de limiar em corrida entre os métodos Dmáx. e AT4. Nesse estudo os autores verificaram que o método AT4 superestimou a intensidade de limiar quando comparado aos outros dois métodos. Os resultados provenientes da pesquisa de Nicholson e Sleivert [42] vão ao encontro de um estudo realizado pelo nosso laboratório [44], no qual o método AT4 superestimou a intensidade de limiar quando comparado ao método Dmáx. em remadores. Em nosso estudo, os valores de lactato, potência e freqüência cardíaca foram significativamente menores (P < 0,05) quando identificados no limiar de lactato pelo método Dmáx. do que pelo método AT4.

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Conclusão A fisiologia do remo enfatiza a especificidade das respostas ao treinamento. O trabalho muscular realizado resulta em respostas cardíacas, ventilatórias e metabólicas bastante diferenciadas. As evidências disponíveis sobre a fisiologia deste esporte reforçam que os remadores necessitam de uma grande potência muscular e potência aeróbica. A técnica de determinação do limiar de lactato Dmáx. parece ser a mais adequada para estes atletas.

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Relato de caso Efeito do percurso sobre a freqüência cardíaca de um ciclista altamente treinado Effects of course on heart rate response of a highly trained cyclist Débora Wagner*, Carlos Mota*, Felipe Carpes** *Universidade Federal de Santa Maria, Laboratório de Biomecânica, **Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Laboratório de Pesquisa do Exercício

Resumo

Abstract

O objetivo deste estudo foi descrever a intensidade do exercício de acordo com o percurso no ciclismo mountain-bike. Um atleta de destaque, 21 anos, consumo máximo de oxigênio de 75,42 ml/ kg/min, freqüência cardíaca (FC) máxima de 200 bpm, e posicionado entre os 5 melhores do ranking nacional teve uma sessão de treinamento monitorada. O atleta foi avaliado em laboratório para determinação do consumo máximo de oxigênio, FC máxima e limiar anaeróbico. A sessão teve duração de 251 minutos, FC média de 164 batimentos por minuto, correspondente a 82% da FC máxima em laboratório. A maior FC ocorreu no início do treino. O atleta sustentou 9 minutos (4% do tempo total) de exercício em intensidade superior a 90% da FC máxima (esforço anaeróbico). A intensidade entre 80% e 90% da FC máxima, de esforço intenso, foi suportada durante 178 minutos (71% do tempo total do treino). Intensidades abaixo ou muito próximas de 80% da FC máxima totalizaram 63 minutos (25% do tempo da corrida). Estes resultados comprovam a alta intensidade do exercício adotada no treinamento do ciclista mountain-bike, sendo que o atleta avaliado foi capaz de sustentar altas intensidades durante um tempo superior àquelas observadas em provas de ciclismo profissional de estrada.

The purpose of this study was to describe profile of exercise intensity related to cycling course for mountain-bike (MTB) cycling. One elite cyclist, 21 years old, maximal oxygen uptake of 75.42 ml/kg/min, maximal heart rate (HR) of 200 bpm, and positioned among the five MTB national top-ranking was evaluated during a training session. The cyclist was tested in laboratory to achieve the maximal oxygen uptake, maximal HR and anaerobic threshold. The training session had duration of 251 minutes and mean HR of 164 bpm, which was corresponding to 82% of HR maximal observed in laboratory. The highest HR was observed at the beginning of the training. The athlete was able to maintain 9 minutes (4% of the total time) at exercise intensity higher than 90% of HR maximal (anaerobic effort). The exercise intensity zone between 80%-90% of HR maximal was maintained during 178 min (71% of the total time). Intensity below 80% of HR maximal summed 63 minutes (25% of the total time). The result indicates the high exercise intensity of MTB cycling. The MTB exercise intensity is higher than observed on the road cycling, and the MTB athlete evaluated was able to support high exercise intensity during prolonged time.

Palavras-chave: treinamento, mountain bike, fisiologia do exercício, desempenho humano, ciclo ergômetro.

Key-words: training, mountain bike, exercise physiology, human performance, cycle ergometer.

Recebido em 10 de outubro de 2007; aceito em 12 de março de 2008. Endereço para correspondência: Felipe Pivetta Carpes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física Laboratório de Pesquisa do Exercício, Rua Felizardo, 750, 90690-200, Porto Alegre RS, Tel: 51-3308-5859, E-mail: felipecarpes@gmail.com

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Introdução A freqüência cardíaca (FC) reflete a quantidade de trabalho que o coração realiza para satisfazer as demandas aumentadas do corpo durante uma atividade [1], sendo controlada pela atividade do sistema nervoso autônomo através dos ramos simpático e parassimpático [2]. Seu monitoramento tem sido amplamente utilizado no treinamento esportivo e atualmente o uso de monitores cardíacos por parte dos atletas é comum e altamente funcional. Tudo isso porque o uso destes instrumentos facilita o controle da intensidade do treinamento, principalmente quando se conhece a freqüência cardíaca máxima [3]. A cinética da freqüência cardíaca (FC) durante o exercício tem sido utilizada para descrever o perfil da intensidade do esforço [4-6]. A sua fácil mensuração facilita a utilização em situações de campo, onde demais medidas fisiológicas se tornam difíceis devido à exigência de tecnologia específica para aquisição e armazenamento de dados que são comuns somente em ambiente laboratorial, como por exemplo, a medida do consumo de oxigênio, que é mais difícil de ser obtida em campo quando comparada a FC. Quando um atleta compete utilizando um analisador de gases portátil, por exemplo, o peso do equipamento e o desconforto acarretam um estresse desnecessário ao atleta. Um grande número de estudos tem descrito a intensidade do exercício com base na freqüência cardíaca durante o ciclismo de estrada [7-13], mas poucos têm o foco no ciclismo mountain-bike (MTB) [14-16]. O MTB caracteriza-se por ser um esporte de resistência praticado em trajetos com subidas e descidas em terrenos bastante irregulares e trilhas, onde os atletas suportam alta intensidade de exercício, inclusive superior ao observado no ciclismo de estrada [6]. Considerado esporte olímpico desde 1996 [6], a União Internacional de Ciclismo (UCI) sugere competições com duração de 105 a 135 minutos e calendários anuais incluindo um número máximo de 26 competições, no entanto a maioria dos atletas acaba por superar essas recomendações. Com base no prolongado tempo de exercício no ciclismo MTB, combinado ao terreno irregular enfrentado pelos atletas, este estudo teve por objetivo analisar o comportamento da FC durante uma sessão de treinamento de um atleta de elite com destaque nacional, relacionando a freqüência cardíaca ao percurso desenvolvido por um tempo prolongado (mais de 200 minutos).

Relato de caso Para o desenvolvimento deste estudo de caso, monitorou-se um atleta de elite de ciclismo mountain bike, do sexo masculino, com 12 anos de experiência em competições neste esporte, sendo 7 anos de participação como atleta federado em competições nacionais e internacionais, repetidas vezes campeão estadual e nacional, participante de competições a nível internacional

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como campeonatos Pan-Americanos e Mundiais, e na oportunidade posicionado em quarto lugar no ranking nacional, tendo sido campeão da Copa Internacional PowerBar Reebok no ano em que os dados foram coletados. Ele não apresentava sintomas de overtraining com base em informações sobre suas características de sono e rotina de treinamento. O atleta concordou em participar voluntariamente no estudo e submeteu-se aos procedimentos que foram empregados seguindo os preceitos do Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos da Instituição onde o estudo foi desenvolvido. O treinamento do ciclista avaliado cobria aproximadamente 400 km semanais realizados em trilhas e asfalto, com intensidade média de 75-90% FC máxima (FCmáx) avaliada previamente em laboratório. Suas características físicas e de desempenho estavam de acordo como reportado para ciclistas MTB competitivos de nível internacional [6-15-17], sendo melhor detalhadas em estudo anterior [4].

Avaliação em laboratório Na semana prévia a avaliação em campo, o ciclista foi avaliado em laboratório para obtenção de algumas características físicas e fisiológicas (Tabela I) que serviram como parâmetro para avaliação do desempenho em campo. Para determinação do consumo máximo de oxigênio (VO2máx) o ciclista foi submetido a um teste progressivo máximo em um ciclo ergômetro SRM com acurácia de ± 0,5% reportada pelo fabricante (SRM Science, Welldorf, Alemanha). Durante o teste, o ciclista pedalou com cadência entre 90 e 105 rpm [8-15]. Esta escolha da cadência durante a avaliação é explicada por experiências prévias em nosso laboratório onde este ciclista apresentou uma cadência preferida de 103 rpm durante uma simulação de ciclismo contra-relógio de 40 km e também pelo fato que ciclistas bem treinados preferem altas cadências a fim de minimizar a fadiga neuromuscular [18]. O teste incremental tinha carga inicial de 100W, com incrementos de 50W a cada três minutos. A exaustão foi definida como o ponto onde a manutenção da carga imposta não foi mais possível. O valor de consumo de oxigênio mais alto obtido durante 30 segundos foi considerado o VO2 de pico. A análise de gases foi feita a cada respiração, através de um ergo espirômetro VMAX 229 Séries (Sensor Medics, Yorba Linda, CA) que foi calibrado antes da sessão seguindo as recomendações do fabricante. Para a determinação da concentração de lactato sanguíneo em resposta à carga aplicada, amostras capilares de sangue foram coletadas do lóbulo da orelha direita antes do exercício, quando o ciclista permaneceu em repouso e durante o teste máximo a cada estágio de carga (cada 3 minutos). As amostras foram analisadas após o término do teste através de um analisador de lactato Biosen 5030-L (EKF, Barleben, Alemanha). Os dados do lactato sangüíneo foram usados para determinar a concentração de lactato no repouso, a concentração máxima do lactato e o ponto do limiar anaeróbico individual (LA)

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do ciclista [19]. A FC foi monitorada a cada cinco segundos durante o teste máximo empregando-se um monitor de FC Polar Accurex Plus (Polar Electro, Oy, Finland). Tabela I - Características físicas e de desempenho do ciclista avaliado. Idade Estatura Massa corporal Percentual de gordura VO2máx VO2máx LA%VO2máx FCLA FC de repouso FCmáx de laboratório FCmáx no campo Potência máxima produzida Razão Potência/massa Lactato no repouso Lactato máximo

21 anos 1,85 m 72,1 kg 6,63 % 5,43 L/min 75,3 ml/kg/min 89 % 177 bpm 51 bpm 200 bpm 182 bpm 475 W 6,59 W/kg 1,24 mmol/L 11,06 mmol/L

VO2máx: consumo máximo de oxigênio; LA%VO2max: limiar anaeróbico relativo ao consumo máximo de oxigênio; FCLA: freqüência cardíaca correspondente ao limiar de lactato; FC de repouso: freqüência cardíaca de repouso; FCmáx: freqüência cardíaca máxima.

Avaliação em campo O tempo total da prova foi de 4h11min, em um dia ensolarado, sem vento, e com temperatura de aproximadamente 24°C. A coleta de dados em campo foi realizada durante uma sessão de treinamento de ciclismo mountain-bike em um terreno que combinava 9 trechos de subidas e 9 trechos de descidas, continuamente, compreendendo aproximadamente 500 metros. A sessão monitorada teve a configuração de ida e volta, logo, os mesmos trechos que representavam subidas na ida, na volta eram descidas, e vice-versa, o que possibilitou a comparação entre as situações. A FC durante o exercício foi monitorada a cada cinco segundos com um Polar S725 (Polar Electro, Oy, Finlândia). Durante o treino, o ciclista adotou a posição característica do MTB – inclinação do tronco de aproximadamente 70º segurando o guidão com os cotovelos levemente flexionados. A adoção dessa postura minimizou os efeitos do posicionamento sobre a resposta da freqüência cardíaca [20]. O comprimento de pé-de-vela utilizado pelo ciclista foi de 172,5 mm em um sistema de pé-de-vela convencional montado com pedais de engate MTB em uma bicicleta Bianchi Carbon MTB do próprio atleta.

Análise estatística

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analisados em relação ao tempo total de prova. Os valores de FC reportados foram classificados de acordo com zonas de intensidade em percentual da FCmáx [4]. As quatro zonas de intensidade foram > 90% (anaeróbica), 80-90% (aeróbico intenso), 70-80% (aeróbico moderado) e < 70% FCmáx (aeróbico intermediário) [4-7-11-20-21]. O tempo em que o atleta sustentou cada zona de intensidade foi computado, assim como o tempo suportado em intensidade acima do limiar anaeróbico. Devido ao relevo do percurso, as variações da FC em reposta as descidas e subidas foram comparadas através de teste t de Student, seguindo um nível de significância de 0,05. O pacote estatístico utilizado foi o Statistica 5.1 (StatSoft Inc., EUA).

Resultados O ciclista avaliado suportou uma intensidade média de exercício correspondente a 82% da FCmáx observada previamente em laboratório, confirmando a expectativa de alta intensidade esperada para um evento como o estudado. A FC foi monitorada do início ao fim do exercício, sendo que a FC máxima foi de 182 bpm, alcançada logo no início do percurso, durante o primeiro aclive observado. A FC mínima foi de 119 bpm, reportada durante uma das descidas. A média da FCmáx e FCmin observada durante o percurso de ida foi de 175 bpm e 138 bpm, respectivamente, enquanto que a média da FCmáx e FCmin avaliada durante o trajeto de volta foi de 172 bpm e 136 bpm, respectivamente. Na Figura I o comportamento da FC ao longo do percurso é apresentado. Figura I - Comportamento da freqüência cardíaca ao longo do tempo da sessão de treinamento.

Foi observado que o atleta permaneceu 4% do tempo total do exercício em intensidade considerada como anaeróbica. Na Figura II é ilustrado o tempo em que o atleta manteve o exercício sob cada uma das zonas de intensidade utilizadas para a análise dos resultados.

Para a análise da FC mensurada durante o exercício, os dados foram agrupados em média para cada minuto, sendo

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Figura II - Tempo de exercício sustentado para cada uma das zonas de intensidade avaliadas.

A comparação da FC entre as subidas e descidas mostrou diferença estatisticamente significativa para a FC mínima, FC média e FC máxima (p < 0,05), sendo sempre a menor FC observada nas descidas (Figura III). A freqüência cardíaca média nas descidas apresentou diferença de aproximadamente 24 bpm abaixo do observado para subidas. Para os máximos e mínimos valores observados em subidas e descidas a diferença foi de 8 bpm e 23 bpm, respectivamente. Figura III - Freqüência cardíaca mínima, média e máxima observada para subidas e descidas ao longo do percurso. Valores médios. * p < 0,05 (diferença estatisticamente significativa em relação aos valores observados para subidas).

Discussão O objetivo deste estudo foi analisar o comportamento da freqüência cardíaca de um ciclista MTB de elite durante uma sessão de treinamento. As respostas específicas para subidas e descidas também foram analisadas. Os resultados indicam que o atleta de elite avaliado apresentou uma alta capacidade aeróbica, sendo capaz de suportar 71% do tempo total de exercício com intensidade correspondente a 80-90% FCmáx. Para as descidas, a FC foi sempre menor, seja ela a máxima, mínima ou média, comparada à subida. A capacidade do atleta avaliado em suportar alta intensidade de exercício pode estar relacionada ao tempo de treinamento, cerca de 12 anos, e o fato do referido atleta ter iniciado a

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participação em eventos competitivos em idade precoce, o que pode ter lhe rendido uma capacidade diferenciada de adaptação ao esforço [22]. O início do exercício acarretou grande variação na FC, o que pode ser explicado pelo fato da FC aumentar de acordo com o aumento na intensidade do exercício [1], e também porque é justamente no começo do treino ou competição que o atleta vai buscar a intensidade adequada para o seu ritmo durante o percurso. No início de uma competição MTB os atletas buscam uma largada mais rápida a fim de assumir a frente do pelotão, o que facilitará a entrada sozinho em trilhas e percursos mais difíceis [6], acarretando elevação abrupta na FC. A intensidade média suportada pelo atleta confirmou o reportado pela literatura [10], sobre a capacidade dos ciclistas de estrada em manter o exercício em intensidades elevadas, o que também é reportado para ciclistas mountain-bike [4-6]. Embora o treino avaliado tenha um predomínio de vias aeróbicas, durante uma parcela do exercício foi suportada uma intensidade anaeróbica, o que confere ao atleta a capacidade de suportar aumentos abruptos na intensidade em resposta a escapadas, onde o atleta se distância do pelotão repentinamente na busca de uma melhor posição, ou sprints, realizados geralmente no final da prova. Em dados coletados durante uma competição na mesma temporada deste estudo, este mesmo atleta foi capaz de suportar uma intensidade acima do seu limiar anaeróbico durante um tempo superior a 60 minutos [4]. Uma alta intensidade de exercício também foi reportada em 14 ciclistas amadores [21] durante uma competição de cicloturismo. Os autores utilizaram metodologia semelhante à empregada no presente estudo para avaliar a intensidade de exercício com base na FC. A intensidade média mantida durante o trajeto de 230 km foi correspondente a 77% FCmáx. Os resultados demonstraram que durante 18,5% do tempo total da competição (10h14min) o exercício foi mantido sob intensidade abaixo de 70% FCmáx, 28% do tempo total sob uma intensidade classificada como aeróbica moderada, 39,5% do tempo total em intensidade considerada como aeróbica intensa e 14% em intensidade considerada anaeróbica. O atleta avaliado no presente estudo sustentou 71% do tempo total de exercício sob intensidade correspondente a 80-90% FCmáx. No presente estudo, o fato do exercício ter uma duração substancialmente menor que a reportada para os 14 ciclistas [21] pode explicar as diferenças nas intensidades e no tempo para cada zona de intensidade avaliada. Nos trechos de subidas e descidas o comportamento da FC foi similar. A maior FC durante o percurso foi observada durante um trecho de subida. Embora a FC continuasse alta durante toda a prova, a FC máxima, mínima e média nas descidas foi menor do que nas subidas (p < 0,05), refletindo assim, a diminuição da intensidade

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do esforço durante a descida, o que ocorre pela baixa necessidade de produzir altas magnitudes de força, devido a aceleração da gravidade que favorece o ciclista em trajetos descendentes [24]. O fato de que os ciclistas comumente pedalam em pé para vencer uma subida pode influenciar a FC de maneira significativa, embora não afete a eficiência muscular quando comparadas a pedalada em pé com a sentada ou no ciclo ergômetro [25]. A FC observada para o atleta avaliado na subida foi semelhante ao relatado na literatura [26] para 14 ciclistas que mantiveram uma FC de 169,71 ± 7,64 bpm ao adotar uma baixa cadência e 170,79 ± 5,73 bpm quando uma alta cadência era mantida durante as subidas. As mudanças nas demandas fisiológicas dependem da reposta cardíaca [27] e isso faz com que durante a subida sejam observados os maiores valores de FC devido às mudanças na carga de trabalho. A FC tende a diminuir ao longo do tempo de exercício [6]. No entanto, isto não foi observado na sessão de treino do atleta avaliado, onde a FC apresentou sempre uma resposta similar, talvez pelo fato do trajeto envolver subidas, onde a FC aumentava, e descidas, onde a FC apresentava valores menores. Este é um resultado que também contraria o reportado por outros autores [21-28], os quais afirmam ocorrer diminuição da FC durante o percurso da corrida, baseados na hipótese de depleção do glicogênio durante atividades de duração prolongada.

Conclusão A intensidade registrada durante a sessão de treinamento mostrou que o atleta avaliado sustentou um exercício intenso ao longo de mais de 4 horas de atividade, o que corrobora o reportado pela literatura quanto à alta intensidade observada no ciclismo MTB. O atleta avaliado demonstrou um desempenho de alto nível competitivo ao sustentar uma intensidade de exercício classificada como de moderada a alta (80-90% FCmáx) durante 71% do tempo total de exercício. A capacidade física do atleta se deve a um treinamento de alta intensidade, podendo estar ligada também ao fato do atleta ter começado a participar em eventos competitivos em uma idade bastante precoce.

Agradecimentos Os autores gostariam de agradecer a disponibilidade do atleta avaliado ao longo da temporada competitiva em que foi monitorado e também a Polar Eletro Oy da Finlândia e Proximus Tecnologia do Brasil pelo suporte ao estudo.

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Normas de publicação Fisiologia do Exercício A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas.

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Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.

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PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para

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os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa - 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 - E-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br

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Calendário de eventos Setembro

Outubro

4 a 6 de setembro

9 a 11 de outubro

9th IHRSA - Fitness Brasil - Latin American Conference & Trade Show São Paulo, SP Informações: www.fitnessbrasil.com.br

XXXI Simpósio Internacional de Ciência do Esporte “Da teoria à prática: do fitness ao alto rendimento” São Paulo, SP Informações: www.celafiscs.org.br/

17 a 20 de setembro

10 a 12 de outubro

XII Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Lingua Portuguesa Ciências do Desporto e Educação Física: Paz, Direitos Humanos e Inclusão Social Porto Alegre, RS Informações: www.esef.ufrgs.br/xiipalops

8ª Convenção Norte-Nordeste Fitness Brasil Salvador, BA Informações: www.fitnessbrasil.com.br

Novembro 9 a 12 de novembro

V Congresso Brasileiro de História da Educação Aracajú, SE Informações: www.sbhe.org.br/

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Resenha Envelhecimento promoção de saúde e exercício Paulo de Tarso Veras Farinatti Editora Manole

Com o aumento da expectativa de vida, iniciativas que aumentem as chances de um envelhecimento saudável e autônomo tornam-se cada vez mais importantes. Envelhecimento, promoção da saúde e exercício aborda as características e precauções associadas ao planejamento e desenvolvimento de programas de atividades físicas para idosos, com destaque para suas bases teóricas e metodológicas. Este volume apresenta fundamentalmente: • Aspectos conceituais da promoção da saúde e do envelhecimento.

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• Estratégias para prescrição do exercício e apreciação da atividade física em idosos. • Impacto dos exercícios sobre a autonomia e a qualidade de vida. • Instrumentos de avaliação da aptidão física e da autonomia de forma geral Atualizada e voltada para a realidade da população brasileira, a obra será de grande aproveitamento para profissionais da área da saúde e esporte que trabalham com idosos.

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FISIOLOGIA DO

EXERCÍCIO

Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Índice

volume 7 número 2 - maio/agosto 2008 EDITORIAL Novos desafios, Walace D. Monteiro .......................................................................................................................... 55 ARTIGOS ORIGINAIS Perfil nutricional de praticantes de badminton, Heloá Urban Papadopoli, Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Nathalia Caldeira, Marcia Nacif ........................................................................ 56 Avaliação da qualidade de vida em pacientes submetidos à revascularização do miocárdio que realizaram reabilitação cardíaca fase I, Jaime Luiz Nunes de Aguiar, Fabiano Souza Barbosa, André Luis dos Santos Silva, Hélio Ricardo dos Santos, Lamara Laguardia V. Rocha, Natália Cardoso Lima, Daniel Almeida da Costa, Marcus Vinícius de Mello Pinto .................................................................................................................................. 60 Análise comparativa de testes laboratoriais de esteira e de campo para determinar a freqüência cardíaca máxima e o consumo máximo de oxigênio em mulheres saudáveis, Lawrens Fabrício Cardozo Makkai, Daniela Fantoni de Lima Alexandrino, Janaína Lubiana Altoé, Cintia Lúcia de Lima, João Carlos Bouzas Marins ................................................................... 67 Consumo de recursos ergogênicos farmacológicos por praticantes de musculação das academias de Santa Maria, RS, Cati Reckelberg Azambuja, Daniela Lopes dos Santos ........................................ 74 REVISÕES Treinamento de força muscular em portadores da síndrome da fibromialgia, Sérgio Siqueira Teotônio, José Sílvio de Oliveira Barbosa ............................................................................................. 81 Estudo sobre os fatores geradores de fadiga muscular, Daniela Silva Scalon, Vanessa Rodrigues Figueiredo, Dernival Bertoncello ................................................................................................... 93 OPINIÃO Protocolo de recondicionamento físico após lesão nas categorias de base de futebol no São Paulo Futebol Clube, Marco Aurélio Buchaim Regos, Marcus Vinicius Grecco ............................................................................................................................................ 100 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 106 EVENTOS ............................................................................................................................................................... 108


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FISIOLOGIA DO

EXERCÍCIO

Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Conselho Editorial Antonio Carlos Gomes (PR) Patrícia Chakour Brum (SP) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Rolando Baccis Ceddia (CAN) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Robert Robergs (USA) Douglas S. Brooks (EUA) Rosane Rosendo (RJ) Emerson Silami Garcia (MG) Sebastião Gobbi (SP) Fernando Pompeu (RJ) Steven Fleck (USA) Francisco Martins (PB) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Jacques Vanfraechem (BEL) Vilmar Baldissera (SP) Luiz Fernando Kruel (RS) Martim Bottaro (DF) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu

Atlântica Editora Rua Teodoro Sampaio, 2550/cj15 05406-200 – São Paulo – SP Atendimento e distribuição Shalon / Antonio Carlos Mello Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 – São Paulo – SP

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Editorial Novos desafios Walace D. Monteiro

Editor Associado da RBFEx

Este volume da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx) concretiza a retomada da proposta original de publicação trimestral do periódico. A partir de 2008 a revista retoma sua periodicidade, graças ao empenho de algumas pessoas que insistiram em não abandonar o projeto de criação da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício, da qual a RBFEx é órgão oficial. Além de manter a periodicidade da revista, o próximo desafio recai na indexação da mesma em algumas bases de dados para o seu crescimento. Esse trabalho já está sendo realizado, para que no próximo ano possamos aumentar o impacto das publicações, o que despertará maior interesse dos pesquisadores da área. Visando aumentar a demanda de artigos encaminhados à revista a partir de 2009, estamos criando áreas específicas relacionadas à fisiologia do exercício. Desta forma, a revista passará a conter sessões direcionadas aos seguintes aspectos: a) fisiologia do exercício aplicada ao treinamento de alto rendimento; b) fisiologia do exercício aplicada ao condicionamento físico de não-atletas; c) fisiologia do exercício aplicada à prescrição de exercícios para populações com necessidades especiais (criança, idosos, indivíduos com problemas de saúde); d) fisiologia do exercício e nutrição; e) fisiologia do exercício e morfologia corporal; f ) fisiologia básica. Também serão aceitos artigos de revisão sobre

temas aplicados as diferentes áreas que compõem a revista. Por fim, é importante destacar que estamos reformulando o sistema de envio de manuscritos através de submissão on-line, facilitando o envio dos trabalhos para a RBFEx. Novos revisores serão adicionados ao grupo existente para agilizar os pareceres dos trabalhos encaminhados, o que é fundamental para a manutenção da periodicidade e qualidade da revista. Todas essas inovações estão sendo possíveis devido à estrutura da Atlântica Editora, que sempre nos apoiou e incentivou. Além de melhorar a consistência do periódico, as inovações implementadas na RBFEx têm um desafio maior, que é fomentar a retomada das atividades da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício. Reconhecemos que esse é um passo mais ambicioso, contudo, viável de ser atingido e esperamos que a RBFEx possa contribuir. É claro, as mudanças implementadas de nada adiantarão sem a colaboração dos pesquisadores, enviando trabalhos para serem publicados. Acreditamos que a maior diversificação de áreas relacionadas à fisiologia do exercício, bem como a retomada da periodicidade da revista sejam passos nessa direção. Mais uma vez agradecemos aos que ajudaram e conclamamos os interessados para enviar estudos e sugestões para o aprimoramento da revista.


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Artigo original Perfil nutricional de praticantes de badminton Nutricional profile of badminton players Heloá Urban Papadopoli*, Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia*, Nathalia Caldeira*, Marcia Nacif, D.Sc. ** *Graduandas em nutrição pelo Centro Universitário São Camilo, **Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar pelo HC – FMUSP, Professora do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Paulista

Resumo

Abstract

Introdução: O badminton é um esporte individual ou de duplas, semelhante ao tênis, praticado com raquete e uma peteca. Esta atividade física é do tipo intermitente, e exige força, velocidade, agilidade, bons reflexos e resistência. O presente estudo teve como objetivo realizar a avaliação dos parâmetros antropométricos e nutricionais de atletas integrantes de uma equipe competitiva de badminton, filiados a um clube da zona sul de São Paulo. Métodos: A amostra foi composta por 6 atletas adolescentes, sendo verificados peso, altura, circunferências, dobras cutâneas e dados referentes ao consumo alimentar. Resultados: Segundo o índice de massa corpórea, 16,7% dos jogadores apresentaram sobrepeso, enquanto 83,3% estavam eutróficos. Em relação ao percentual de gordura corporal, 66,7% estavam acima dos padrões recomendados, e 33,33% apresentavam percentual de gordura adequado. O consumo médio de carboidratos, lipídios, ferro e cálcio estavam inadequados, enquanto ao consumo de proteínas, vitaminas A e C se mostraram adequados. Conclusão: São necessárias intervenções nutricionais, a fim de otimizar o desempenho atlético dos jogadores de badminton estudados.

Background: The badminton is a sport of individual or double, similar to tennis, practiced with racket and a shuttle. This physical activity is intermittent, and requires strength, speed, agility, good reflexes and endurance. This study aimed to carry out the evaluation of anthropometric and nutrition parameters of athletes members of a competitive team of badminton, affiliated to a club of the south area of São Paulo. Methods: The sample was composed of 6 athletes adolescents, and checked weight, height, circumferences, skinfold thickness and data on food consumption. Results: According to the body mass index, 16.7% of the players showed overweight, while 83.3% were normal. Regarding the percentage of body fat, 66.7% were above the recommended standards, and 33.33% had adequate percentage of fat. The average consumption of carbohydrates, lipids, iron and calcium were inadequate, while the consumption of protein, vitamins A and C were adequate. Conclusion: Nutritional interventions are needed, in order to optimize the performance of badminton players.

Palavras-chave: badminton, consumo alimentar, adolescente, antropometria.

Key-words: badminton, food consumption, teenager, anthropometry.

Recebido 12 de abril de 2008; aceito em 18 de agosto de 2008. Endereço para correspondência: Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Rua Doutor Roberto Zwicker, 78, 02835-010 São Paulo SP, E-mail: luiza.antoniazzi@terra.com.br


Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008

Introdução O badminton é um esporte individual ou de duplas, semelhante ao tênis, praticado com raquete e uma peteca ou volante. O objetivo do jogo é, usando a raquete, rebater a peteca sobre a rede para a quadra do adversário, sem deixar a peteca tocar no chão. Aquele que deixar a peteca cair dentro do seu lado da quadra, ou rebater a peteca para fora da quadra, perde a jogada. O jogo tem duração máxima de três “games”, o famoso melhor de três, sendo o vencedor do game aquele jogador que atingir antes 21 pontos [1]. Esta atividade física é do tipo intermitente e exige força, velocidade, agilidade, bons reflexos e resistência. Esse esporte que teve sua origem na Índia, atualmente é praticado por equipes de todos os continentes, sendo mais de 130 membros da Federação Intermacional de Badminton (IBF) [2]. Sua popularidade aumentou em decorrência de sua inclusão como esporte oficial nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992, nos Jogos Pan-Americanos de Mar del Plata, Argentina, em 1995, e principalmente no Brasil pelos Jogos Pan-Americanos Rio 2007 [3]. Praticantes de atividade física tem uma demanda energética aumentada pelo organismo, pois a energia correponde diretamente à capacidade do indivíduo realizar o trabalho. A avaliação nutricional e o cálculo das necessidades nutricionais, levando em consideração a modalidade praticada, a fase de treinamento e os objetivos da equipe são essenciais para uma boa performance do atleta [4]. A alimentação adequada de praticantes de atividade física e de atletas é essencial para a manutenção da saúde, controle do peso e da composição corporal, melhora do rendimento em treinamentos e competições. Os nutrientes fornecem a energia necessária para o trabalho realizado durante a atividade física, além de otimizar a obtenção e utilização dessa energia [5]. O excesso de peso e, mais especificamente, o excesso de gordura corporal podem ser vistos como um fator de limitação da performance dos atletas. As características da composição corporal dos atletas podem guiar os treinadores, preparadores físicos e fisiologistas do exercício com informações relevantes no decorrer de um processo de treinamento seja num determinado momento, seja durante toda uma temporada ou mesmo em toda sua vida atlética [6]. Tendo em vista a necessidade de se conhecer melhor as particularidades de um esporte cada vez mais em ascensão como o badminton e as características de seus atletas, o presente estudo teve como objetivo realizar a avaliação dos parâmetros antropométricos e nutricionais de atletas integrantes de uma equipe competitiva de badminton, filiados a um clube da zona sul de São Paulo – SP.

Material e métodos Estudo transversal realizado em um clube localizado na zona sul da cidade de São Paulo, com 6 adolescentes, 2 do

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sexo feminino e 4 do sexo masculino, com idades entre 14 a 19 anos, praticantes de badminton. Para a avaliação antropométrica, verificou-se o peso corporal a partir de balança digital (marca Gradiente®, com capacidade de 150 kg e intervalo 100 g) com a pessoa descalça, usando roupas leves e sem nenhum acessório. O adolescente foi orientado a ficar de costas para a balança, ereto, com os pés juntos e braços estendidos ao longo do corpo. A altura foi verificada utilizando-se uma fita métrica inelástica (milimetrada, da marca Fiber-glass Japan Butterfly) fixada na parede, sem relevos, onde o adolescente também permaneceu com os pés descalços, ereto, com os braços estendidos, cabeça livre de adereços e erguida. Os calcanhares, nádegas e ombros foram encostados na parede e a medição foi feita com auxílio de um esquadro (da marca AD Designer). Foram medidas as circunferências de braço, cintura, quadril e abdômen, com o auxílio de uma fita métrica inelástica (a mesma utilizada para verificar a estatura). As dobras cutâneas foram verificadas com o auxílio de adipômetro (da marca Cescorf – Equipamentos Ltda.). O IMC foi calculado através da fórmula P/h² (na qual, P = peso e h = altura). Os pontos de corte utilizados foram àqueles propostos pela curva de IMC/IDADE da Organização Mundial da Saúde [7]. O risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares foi estimado a partir dos valores de perímetro abdominal, segundo a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia [8] e os pontos de corte para análise do abdômen isolado são: mulheres com valores de CA acima de 80 cm e homens com valores de CA maiores a 94 cm foram classificados como apresentando um acúmulo de gordura abdominal considerado como risco associado ao desenvolvimento de doenças ligadas à obesidade. A porcentagem de gordura foi calculada segundo as equações de Slaughter [9] e classificada de acordo com os pontos de corte de Deurenberg [10]. Para a avaliação do consumo alimentar foi aplicado um recordatório de 24 horas aos atletas, a fim de avaliar a adequação nutricional, em relação ao valor calórico, macro e micronutrientes. Estes dados foram calculados por meio do software Avanutri. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo, por meio do documento 047/05.

Resultados Foram avaliados 6 atletas com idade média de 16 anos. Todos treinavam badminton com freqüência de 6 vezes na semana, tendo os treinos duração de 2 horas. Na tabela I podem ser observados os valores médios, mínimos e máximos e desvios-padrão obtidos na avaliação antropométrica dos atletas.


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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008

Tabela I - Valores médios, mínimos, máximos e desvios-padrão dos parâmetros antropométricos dos jogadores adolescentes de badminton. São Paulo, 2008. Parâmetros antropométricos Peso (kg) Estatura (cm) IMC (kg/m²) Circunferência do braço (cm) Circunferência abdominal (cm) Circunferência do quadril (cm) Circunferência da cintura (cm) Dobra cutânea triciptal (mm) Dobra cutânea biciptal (mm) Dobra cutânea suprailiaca (mm) Dobra cutânea abdominal (mm) Dobra cutânea subescapular (mm) % de gordura

ferro e cálcio está abaixo do recomendado pela Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte [4].

Média 60,5 165 22,2

Desviopadrão 5,43 7,38 1,08

MáxiMínimo mo 53,5 68 156 177 20,86 24,09

27,78

1,86

26

31,5

80,6

4,4

75,5

86,5

95,58

3,12

91,5

99,5

73,86

4,97

71

80,5

15,5

3,69

10

20

10,5

2,87

6

14

Discussão

15

4

9

21

20

6,83

11

31

10,8 21,38

1,46 4,28

9 14,6

13 25,7

A composição corporal e a força muscular podem tanto refletir no estado de saúde como predizer o desempenho em determinadas modalidades esportivas [12]. Tendo em vista a falta de estudos realizados com atletas e praticantes de badminton, é muito difícil precisar quais são as exigências fisiológicas ocasionadas pela prática deste esporte e os reflexos que essas exigências acarretarão na composição corporal dos jogadores. Os jogadores adolescentes de badminton, participantes do presente estudo, mostraram-se eutróficos em sua maioria em relação ao IMC, dado também observado por Nunes e Pazin [13], em estudo com jogadores adolescentes de tênis de campo. Em estudo com jogadores de basquete com idade média de 15,1 anos foi observado que 57,1% dos adolescentes apresentavam percentual de gordura corporal acima dos padrões recomendados, e nenhum atleta apresentava percentual de gordura baixo ou muito baixo [14]. No presente estudo foram observados 66,7% dos atletas com percentual de gordura acima dos padrões recomendados por Deurenberg et al. [10] e nenhum atleta apresentou percentual de gordura baixo ou muito baixo. A adequação do consumo energético e nutricional é essencial para a manutenção da performance, da composição corporal e da saúde desses indivíduos. A baixa ingestão de energia pode resultar em fornecimento insuficiente de importantes nutrientes relacionados ao metabolismo energético, à reparação tecidual, ao sistema antioxidante e à resposta imunológica [15]. O consumo energético médio encontrado foi de 2349,72 Kcal. Apesar de se considerar uma grande variação individual do gasto energético, estes valores merecem uma análise cuidadosa, pois desvios no consumo de energia trazem consigo alterações metabólicas e fisiológicas.

A avaliação do estado nutricional dos atletas, por meio do indicador IMC, mostrou que 16,7% (n = 1) dos jogadores apresentaram sobrepeso (classificados entre os percentis 85 e 97), enquanto 83,3% (n = 5) estavam eutróficos. Com relação aos valores de percentual de gordura corporal, verificou-se que 66,7 % (n = 4), estavam acima dos padrões recomendados por Deurenberg et al. [10], e 33,33% (n = 2) apresentavam percentual de gordura adequado. De acordo com a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia [8], nenhum atleta apresentou risco para doenças cardiovasculares. Na Tabela II podem ser observados valores médios e desvio-padrão de calorias, macronutrientes e micronutrientes do recordatório de 24h dos atletas de badminton. Em relação ao consumo alimentar pôde-se observar que o consumo médio de carboidratos dos atletas está abaixo do recomendado, que é de 60-70% do aporte calórico segundo a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, enquanto que a média do consumo de lipídios está acima dos 30% do VET recomendados por esta Instituição. Quanto à ingestão média de proteínas verificou-se que os valores consumidos pelos atletas estão de acordo com a recomendação de 1,2 a 1,6 g/kg/peso [4]. A média de ingestão das vitaminas A e C está adequada, segundo as DRIs [11]. De forma contrária, a ingestão de

Tabela II - Valores médios e desvios-padrão de calorias, macro e micronutrientes do recordatório de 24h dos jogadores adolescentes de badminton. São Paulo, 2008. Calorias, macro e micronutrientes Carboidrato (% VET*) Lipídio (% VET) Proteína (% VET) Caloria Vitamina A (μg) Vitamina C (mg) Ferro (mg) Cálcio (mg)

Média 49,79 34,3 15,92 2349,72 665,48 123,87 12,65 576,22

Desvio padrão 7,93 5,59 3,89 201,34 266,13 97,9 5,73 292,33

*VET = Valor Energético Total


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As recomendações de carboidratos para atletas são de 6-10 g/kg de peso corporal por dia ou 60-70% da ingestão energética diária; entretanto, a necessidade individual dependerá do gasto energético, da modalidade esportiva, do sexo e das condições ambientais. A média de consumo de carboidratos foi de 49,79% do VET neste estudo, estando abaixo do recomendado. O consumo adequado de carboidratos é fundamental para a otimização dos estoques iniciais de glicogênio muscular, a manutenção dos níveis de glicose sangüínea durante o exercício e a adequada reposição das reservas de glicogênio na fase de recuperação [4,15]. Em geral, a ingestão dietética de lipídios de atletas deve seguir as recomendações para a população geral, ou seja, não deve ultrapassar 30% do VET. No presente estudo observouse um consumo médio de 34,3% do VET, sendo este um valor acima da recomendação e que exige atenção, pois o elevado consumo de lipídios pode significar um déficit na ingestão de carboidratos, dado observado no presente estudo, representando menores quantidades de glicogênio e perda de performance [4,5]. As proteínas contribuem para o fornecimento de energia em exercício de endurance, sendo ainda necessária na síntese protéica muscular no pós-exercício. Atualmente, recomendase que os atletas de endurance tenham uma ingestão diária de proteínas entre 1,2 a 1,6 g/kg/peso corporal [4]. O consumo médio de proteínas encontrado foi de 15,92% do VET, estando adequado. As vitaminas e minerais participam de processos celulares relacionados ao metabolismo energético; contração, reparação e crescimento muscular; defesa antioxidante e resposta imune. Contudo, tanto o exercício agudo como o treinamento podem levar a alterações no metabolismo, na distribuição e na excreção de vitaminas e minerais. Em vista disso, as necessidades de micronutrientes específicos podem ser afetadas conforme as demandas fisiológicas, em resposta ao esforço [16]. A média de ingestão das vitaminas A e C estava adequada segundo as DRIs. A ingestão média de ferro e cálcio se mostrou insuficiente em todos os atletas. O consumo insuficiente de ferro causa fadiga e anemia, diminuindo o desempenho e interferindo no treinamento. Recomenda-se atenção especial ao consumo de alimentos com ferro, de elevada biodisponibilidade [4,16]. O consumo adequado de cálcio é particularmente importante para a mineralização adequada e manutenção do osso em crescimento, prevenindo a ocorrência de fraturas e também a osteoporose. Esta substância é perdida no suor e o exercício pode aumentar sua necessidade em atletas [16,17].

Conclusão Embora a maioria dos atletas tenha se apresentado eutrófico em relação ao IMC, houve elevada prevalência de indivíduos com porcentagem de gordura acima dos padrões recomendados.

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Analisando os dados de ingestão de macronutrientes e micronutrientes, acredita-se que sejam necessárias intervenções nutricionais, a fim de otimizar o desempenho atlético dos jogadores de badminton. Assim, são necessários mais estudos sobre avaliação do estado nutricional e de hábitos alimentares, e que visem a determinação do gasto energético e do perfil ideal de jogadores e praticantes desta modalidade esportiva.

Referências 1. Federação Portuguesa de Badminton. Badminton e a história. [citado 2008 Fev 17]. Disponível em: URL: http://www.fpbadminton.pt/BadmintoneaHistoria.pdf 2. Confederação Brasileira de Badminton. História do badminton. [citado 2008 Fev 13]. Disponível em: http://www.badminton. org.br/badminton.asp. 3. Manrique DC, Badillo JJG. Analysis of the characteristics of competitive badminton. Br J Sports Med 2003;37:62-66. 4. Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Rev Bras Med Esporte 2003;9:1-13. 5. Viebig RF, Nacif M. Recomendações nutricionais para a atividade física e o esporte. Rev Bras Educ Fís Esp 2006;1:2-14. 6. Neto AP, César MC. Avaliação da composição corporal de atletas de basquetebol do sexo masculino participantes da liga nacional 2003. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2005;7:35-44. 7. World Health Organization (WHO). WHO Reference 2007. [citado 2007 Fev 25]. Disponível em: http://www.who.int/ growthref/en/ 8. Sposito AC. IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol 2007;2-19. 9. Slaughter MH. Skinfolds equations for estimation of body fatness in children and youth. Am J Hum Biol 1988;60:709-723. 10. Deurenberg GP, Pieters JJ, Hautvast JG. The assessment of the body fat percentage by skin fold thickness measurements in childhood and young adolescence. Br J Nutr 1990;63:293-303. 11. Dietary Reference Intakes (DRIs). [citado 2007 Mar 13]. Disponível em: URL: http://www.nap.edu. 12. Schneider P, Meyer F. Avaliação antropométrica e da força muscular em nadadores pré-púberes e púberes. Rev Bras Med Esporte 2005;11:209-213. 13. Nunes JC, Pazin J. Utilização de técnica alométrica na análise de variáveis aplicadas ao tênis de campo infanto-juvenil. Revista Digital Efdeportes [serial online] 2006;11. 14. Viebig RF. Estado nutricional de atletas adolescentes praticantes de basquetebol de um clube de São Paulo. Cadernos Centro Universitário São Camilo 2005; 11:97-102. 15. Panza VP, Coelho MSPH, Pietro PFD, Assis MAA, Vasconcelos FAG. Consumo alimentar de atletas: reflexões sobre recomendações nutricionais, hábitos alimentares e métodos para avaliação do gasto e consumo energéticos. Rev Nutr 2007;20:681-692. 16. Raya MAC, Prieto MA, Viebig RF, Nacif, MAL. Recomendações nutricionais para crianças praticantes de atividade física. Revista Digital Efdeportes [serial online] 2007;110. 17. Ribeiro BG, Soares EA. Avaliação do estado nutricional de atletas de ginástica olímpica do Rio de Janeiro e São Paulo. Rev Nutr 2002;15:181-191.


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Artigo original Avaliação da qualidade de vida em pacientes submetidos à revascularização do miocárdio que realizaram reabilitação cardíaca fase I Evaluation of quality of life in patients submitted to myocardial revascularization that participated in a phase I cardiac rehabilitation program Jaime Luiz Nunes de Aguiar, Esp*, Fabiano Souza Barbosa, Esp*, André Luis dos Santos Silva, D.Sc.*, Hélio Ricardo dos Santos, D.Sc.*, Lamara Laguardia V. Rocha, M.Sc.*, Natália Cardoso Lima**, Daniel Almeida da Costa, Esp ***, Marcus Vinícius de Mello Pinto, D.Sc.**** *Fisioterapeutas, Professores da Faculdade de Minas (FAMINAS – MG), **Graduanda em Fisioterapia da Faculdade de Minas (FAMINAS – MG), ***Médico, Professor da Faculdade de Minas. FAMINAS – MG e Mestrando em Ciências da Reabilitação do Centro Universitário de Caratinga – MG, ****Professor e Pesquisador do Laboratório de Inflamação, Dor e Laser – LABIINFLA do Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação do Centro Universitário de Caratinga – MG

Resumo

Abstract

O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade de vida de pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio que participaram de um programa de reabilitação cardíaca fase I. Foram incluídos neste estudo 11 indivíduos de ambos os sexos (63,63% do sexo masculino e 36,36% do feminino) com faixa etária variando entre 33 e 73 anos e submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio, com quadro clínico estável, participantes do programa de reabilitação cardíaca fase I. Os dados foram obtidos após realização da cirurgia utilizando como instrumento o questionário WHOQOL-Bref. A análise dos resultados aponta um nível de satisfação elevada em várias modalidades avaliadas; 63,60% dos pacientes classificam sua qualidade de vida como boa e têm capacidade de locomoção funcional. Apesar de revelarem que a dor é um fator limitante de algumas atividades (45,40%) e que houve prejuízo em relação ao sono (45,40%); consideram-se satisfeitos na capacidade de realizar atividades diárias (63,60%). Este estudo sugere os benefícios da reabilitação cardíaca fase I, a qual proporcionou autoconfiança e retorno às atividades diárias.

The objective of this study was to evaluate quality of life of patients who underwent myocardial revascularization surgery and participated in a phase I cardiac rehabilitation program. 11 individuals of both genders (63.63% male and 36.36% female), aged 33-73 years old, were submitted to myocardial revascularization surgery, with stable clinical course, and carried out a phase I cardiac rehabilitation program. Data were obtained after a surgery’s procedure, by using a questionnaire WHOQOL-Bref. The results suggested a high level of treatments satisfaction; 63.60% of the patients classified their life quality as good and have locomotor capacity. Although they confirm that the most common activity limitation was pain (45.40%) and had some problems to sleep (45.40%) they were satisfied to perform daily activities (63.60%). This study suggests the benefits of phase I cardiac rehabilitation, which have provided self-confidence and return to daily activities. Key-words: myocardial revascularization, quality of life, cardiac rehabilitation.

Palavras-chave: revascularização do miocárdio, qualidade de vida, reabilitação cardíaca.

Recebido em 12 de março de 2008; aceito em 19 de agosto de 2008. Endereço para correspondência: Marcus Vinícius de Mello Pinto, E-mail: orofacial@funec.br


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Introdução A reabilitação cardíaca (RC) é o processo de desenvolvimento e manutenção do nível desejável de atividade física, social e psicológica após o início da doença coronária sintomática. Os maiores objetivos são: melhora da capacidade funcional e da qualidade de vida, mudança de hábitos após evento coronário, modificação dos fatores de risco e redução dos índices de mortalidade. Os benefícios ocorrem a partir de oito semanas, destacando-se os aumentos entre 30% e 40% do consumo máximo de oxigênio e entre 30% e 35% na capacidade de exercício. Melhora da qualidade de vida e estabilidade psicológica também são relatadas após período de 3 a 6 meses [1]. A avaliação da qualidade de vida (QV) é de suma importância, uma vez que permite perceber o impacto que a doença e as terapêuticas têm nas diferentes áreas de funcionamento do doente, estendendo-se desde o nível somático, com a avaliação dos sintomas físicos, a capacidade funcional e o sono, até à avaliação das respostas emocionais, da capacidade de recreação e sensação de bem-estar. A fase I da RC aplica-se ao paciente internado. É o passo inicial em direção a uma vida ativa e produtiva. Devem predominar a combinação de exercício físico de baixa intensidade, técnicas para o controle do estresse e programas de educação em relação aos fatores de risco. O programa, nesta fase, objetiva que o paciente tenha alta hospitalar com as melhores condições físicas e psicológicas possíveis, munido de informações referentes ao estilo saudável de vida. O presente estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de vida em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio que participaram do programa de reabilitação cardíaca fase I, através do questionário WHOQOL-Bref.

Fatores de risco para doença cardiovascular A doença cardiovascular (DC) é multifatorial e sistêmica, ligada a fatores hereditários, ambientais e de comportamento [2]. É nesse conjunto de fatores de risco que a RC atua, em nível primário tentando diminuir a incidência da doença arterial coronariana (DAC), e em nível secundário pela redução da morbidade e mortalidade. A prática de exercícios físicos, isoladamente, parece trazer benefício pequeno em relação à morbidade e mortalidade na DAC. Ocorre diminuição mais significativa destas taxas com a associação do exercício à correção dos vários fatores de risco cardiovasculares e mudanças dos hábitos de vida [3]. Um dos principais fatores de risco para complicações cardiovasculares é a hipertensão arterial sistêmica (HAS), pois atua diretamente na parede das artérias, podendo produzir lesões. Daí a importância do tratamento anti-hipertensivo na redução da morbidade e mortalidade cardiovasculares [4]. A HAS é o fator mais importante: 80% das mortes por acidente vascular cerebral estão associadas à hipertensão arte-

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rial, enquanto que 40% das mortes por doenças coronarianas se acompanham de hipertensão. Além disso, a doença hipertensiva causa diretamente a morte de 5% dos que morrem por doenças cardiovasculares [5].

Infarto agudo do miocárdio Entre as doenças cardiovasculares, a de maior incidência é a DAC cujas principais manifestações clínicas são a angina pectoris, o infarto agudo do miocárdio (IAM) e a morte súbita [3]. Aspectos como utilização de novas tecnologias de reconhecida eficácia, admissão em uma unidade de terapia intensiva, tempo decorrido entre o início dos sintomas e o primeiro atendimento têm mostrado importante impacto na redução da letalidade por IAM [6]. A indicação de cirurgia de revascularização do miocárdio (CRVM) precoce, realizada logo após o IAM, tem sido amplamente discutida com base em observações clínicas, sem que haja consenso sobre os riscos e benefícios deste procedimento, bem como, sobre o intervalo de tempo ideal entre o procedimento e o IAM. Durante muito tempo a revascularização precoce foi considerada de risco. Entretanto, mais recentemente, têm sido registrados baixos índices de morbi-mortalidade em pacientes operados nos primeiros dias ou semanas após o IAM [7].

Cirurgia de revascularização do miocárdio A introdução a CRVM, há mais de duas décadas, possibilitou uma nova e eficaz terapêutica a pacientes com doença arterosclerótica avançada, com alívio sintomático em grande número de pacientes e aumento da sobrevida em alguns subgrupos [8]. Na CRVM um vaso sangüíneo (geralmente a veia safena e/ou a artéria mamária interna) é anastomosado com a artéria coronária; distal ao ponto ocluído, e a aorta ascendente, de forma a isolar o local do vaso obstruído e restabelecer a perfusão da artéria coronária. O objetivo da revascularização do miocárdio é aliviar a angina e preservar a função do miocárdio [9]. A cirurgia é uma das opções no tratamento cirúrgico destes indivíduos e tem como objetivos: prolongar a vida, promover alívio da dor de angina e melhorar a qualidade de vida dos pacientes [10].

Reabilitação cardíaca Apesar de ser considerada modalidade terapêutica segura, no Brasil os benefícios dos programas estruturados de reabilitação são ainda pouco mobilizados em prol dos pacientes. [11] Os estudos atuais permitem afirmar que a RC tem resultados significativos tanto no prolongamento da sobrevida com qualidade, no controle das alterações patológicas, como na


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regressão da placa arterosclerótica do indivíduo com DAC. Isso permite o retorno mais rápido às atividades laborativas, redução no número de re-internações hospitalares e redução nos custos a longo prazo [12] Idealizada inicialmente para portadores de DAC, a RC abrange também os pacientes com HAS, doença arterial periférica, valvopatia, cardiopatia congênita, particularmente na sua fase pós-operatória e, mais recentemente, insuficiência cardíaca e transplante cardíaco [13]. Os programas de reabilitação cardiovascular normalmente compreendem três ou quatro fases distintas de atuação[14]. Inicialmente a fase I compreende o período de convalescença ou fase hospitalar. Esta deve ter sua duração em torno de 7 a 14 dias e tem seu início em até 24 horas após o desaparecimento dos sintomas ou de eventuais complicações. Sua finalidade é inspirar confiança ao paciente, reduzir a tensão e o medo, evitar a ocorrência de tromboses venosas, atelectasias pulmonares e reduzir os malefícios do repouso sobre a capacidade física [15]. Inicia-se após o paciente ter sido considerado compensado clinicamente. A fase II se inicia quando o paciente tem alta hospitalar e volta para casa. Nesta fase, o paciente deve ser submetido a trabalho de equipe multidisciplinar que objetive, além da prática orientada e supervisionada de exercícios, fornecer orientação nutricional e esclarecimentos [16]. Em relação à fase III da reabilitação cardiovascular, sugere-se também o emprego de atividades para o ganho de flexibilidade, elasticidade muscular, força e resistência muscular, capacidade cardiorespiratória, bem como da melhora da composição corporal. Tais atividades têm como finalidade gerar incrementos nos componentes da aptidão física, facilitando a realização das atividades físicas diárias [17]. A fase IV é considerada como sendo de manutenção a longo prazo. Nesta fase devem ser enfatizados tipos diferentes de exercícios de força e resistência muscular, bem como a independência do paciente [18].

Qualidade de vida A qualidade de vida (QV) está diretamente relacionada com a recuperação depois da cirurgia cardíaca, em especial à dimensão física. O indicador de uma baixa qualidade de vida após a cirurgia cardíaca é uma deficiente recuperação do estado funcional, ainda no período hospitalar [19]. A QV foi definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”[20]. Assim, inicialmente, foi desenvolvido um instrumento de avaliação de QV com 100 questões (o WHOQOL-100). O desenvolvimento do WHOQOL-100 seguiu a metodologia envolvendo a participação de vários países, representando diferentes culturas, tendo sido desenvolvida uma versão brasileira [21].

A necessidade de instrumentos curtos que demandem pouco tempo para seu preenchimento, mas com características psicométricas satisfatórias, fez com que o Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolvesse uma versão abreviada do WHOQOL-100, o WHOQOL-Bref [20]. Dados demonstram que o impacto do treinamento físico associado à mudança de estilo de vida diminuiu a mortalidade cardíaca de 20 a 35%. A redução na mortalidade aumenta a longevidade, aumentando a expectativa de vida; com isto a preocupação em estudar a qualidade de vida das pessoas [12].

Materiais e métodos Onze indivíduos de ambos os sexos com faixa etária compreendida entre 33 e 73 anos que foram submetidos à cirurgia de revascularização Miocárdica participaram do programa de reabilitação cardíaca fase I do Hospital Prontocor, Muriaé – MG. Foi entregue a todos os participantes o questionário autopreenchível, WHOQOL-Bref, composto de 26 questões, após a realização da CRVM. O questionário utilizado consta de 26 questões, sendo duas questões gerais de qualidade de vida e as demais 24 representam cada uma das 24 facetas que compõe o instrumento original [20]. Estas 24 questões são agrupadas em quatro domínios: físico (7 itens), psicológico (6 itens), relações sociais (3 itens) e meio ambiente (8 itens). O instrumento não admite um escore total de QV, portanto cada domínio é pontuado de forma independente, entretanto o questionário permite a obtenção de um escore bruto para cada domínio. Assim, após o cálculo do escore bruto é possível obter uma média geral de cada domínio e dessa forma, o escore pode variar de zero a cem, sendo que quanto maior o valor, melhor é o domínio de qualidade de vida avaliado. A pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética em Pesquisa do Hospital Prontocor e da Faculdade de Minas – FAMINAS.

Resultados A média de idade da população de estudo foi de 57.72 anos, sendo 63,64% do sexo masculino com média de idade de 61,85 anos e o restante 36,36% pertencentes ao sexo feminino com média de idade de 50,5 anos. Em relação ao preenchimento correto do questionário WHOQOL-Bref, 36,40% dos participantes foram capazes de realizar o preenchimento sem auxílio. Já 63,60% necessitaram do auxílio do entrevistador. Nas tabelas abaixo, pode-se observar a análise das perguntas presentes no questionário de acordo com as opções de resposta. Ao serem questionados sobre como avaliavam sua qualidade de vida, 63,6% dos pacientes classificam sua qualidade de vida como boa (Tabela I).


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Tabela I - Distribuição percentual frente à primeira questão do WHOQOL- Bref. Situação Muito ruim Como você avaliaria sua qualidade 0% de vida

Ruim 0%

Nem ruim nem boa 27,3%

Boa 63,6%

Muito Boa 9,1%

Tabela II - Distribuição percentual frente à segunda questão do WHOQOL-Bref. Situação

Muito insatisfeito 0%

Satisfação com a sua saúde

Insatisfeito 0%

Nem satisfeito nem insatisfeito 9,1%

Satisfeito

Muito satisfeito

63,6%

27,3%

Tabela III - Distribuição percentual frente às questões de 3 a 9 do WHOQOL-Bref. Situação

Nada

Muito pouco

Dor como fator limitante Necessidade tratamento médico O quanto você aproveita a vida Sua vida tem sentido Capacidade de concentração Segurança com vida diária Quão saudável é o seu ambiente físico

0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

27,30% 18,20% 27,30% 9,10% 9,10% 36,30% 0%

Mais ou menos 27,30% 18,20% 36,30% 9,10% 54,50% 27,30% 18,20%

Bastante

Extremamente

45,40% 54,50% 27,30% 36,40% 27,30% 27,30% 36,40%

0% 9,10% 9,10% 45,40% 9,10% 9,10% 45,40%

Tabela IV - Distribuição percentual frente às questões de 10 a 14 do WHOQOL-Bref. Situação Energia suficiente para seu dia-a-dia Você é capaz de aceitar sua aparência física Dinheiro suficiente para suas necessidades Informações disponíveis para seu dia-a-dia Oportunidades de atividade de lazer

Nada 0% 9,10% 0% 0% 9,10%

Muito pouco 0% 0% 27,30% 0% 27,30%

Médio 63,60% 27,30% 45,40% 9,10% 9,10%

Muito 36,40% 36,30% 18,20% 63,30% 54,40%

Completamente 0% 27,30% 9,10% 27,30% 10,00%

Tabela V - Distribuição percentual frente à décima quinta questão do WHOQOL-Bref. Situação Capacidade de locomoção

Muito ruim 0%

Ruim 0%

Nem ruim nem bom 18,20%

Bom 18,20%

Muito bom 63,30%

Tabela VI - Distribuição percentual frente às questões 16 a 25 do WHOQOL-Bref. Situação

Muito insatisfeito Satisfação com sono 0% Satisfação no desempenho atividades vida diária 0% Capacidade para trabalho 18,20% Quão satisfeito (a) você está consigo mesmo 0% Satisfação com suas relações pessoais 0% Quão satisfeito (a) você está com sua vida 0% sexual Satisfação com apoio dos amigos 0% Satisfação com moradia 0% Satisfação com acessoao serviço de saúde 0% Satisfação com meio deTransporte 0%

Insatisfeito 27,30% 18,20% 27,30% 0% 0% 18,20%

Nem satisfeito nem insatisfeito 45,40% 63,60% 36,30% 0% 9,10% 18,20%

Satisfeito 18,20% 18,20% 18,20% 90,90% 54,40% 9,10%

Muito satisfeito 9,10% 0% 0% 9,10% 36,40% 0%

0% 0% 0% 0%

9,10% 0% 27,30% 27,40%

54,40% 63,60% 45,40% 36,30%

36,40% 36,40% 27,30% 36,30%

Tabela VII - Distribuição percentual frente a vigésima sexta do WHOQOL-Bref. Situação Freqüência de sentimentos negativos

Nunca 45,40%

Algumas vezes Freqüentemente 45,40% 9,20%

Muito freqüentemente 0%

Sempre 0%


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Em relação à satisfação com sua saúde, os pacientes revelam satisfação, já que 63,3% assinalaram essa alternativa e 27,3% se consideram muito satisfeitos (Tabela II). As questões de 3 a 9 apresentam como opção de resposta nada-muito-mais ou menos-bastante e extremamente. O percentual geral obtido em cada questão se apresenta na Tabela III. As questões de 10 a 14 têm como opção de resposta: nada-muito pouco-médio-muito e completamente, assim, na Tabela IV, apresentamos os percentuais gerais obtidos nessas questões. Em relação à capacidade de locomoção, esse não foi um fator que obteve prejuízo após a CRVM, já que 63,60% dos pacientes revelaram que sua capacidade para locomoção está muito boa (Tabela V). As questões de 16 a 25 têm como opção de resposta muito insatisfeito-insatisfeito-nem satisfeito, nem insatisfeitosatisfeito-muito satisfeito. As respostas obtidas se mostram na forma de percentuais gerais, conforme Tabela VI. Quando questionados em relação à freqüência com que sentem sentimentos negativos, tais como ansiedade e depressão, observa-se que apenas 9,20% dos pacientes têm esses sentimentos frequentemente e 45,40% nunca ou algumas vezes. (Tabela VII) Em relação à pontuação frente aos domínios do questionário utilizado, realizou-se a distribuição da pontuação obtida por cada indivíduo (Tabela VIII).

Tabela IX - Média (desvio padrão) do escore bruto de cada domínio, segundo sexo. Domínios Físico Psicológico Relações sociais Meio ambiente

Sexo Masculino 20 (2.08) 23.4 (1.90) 10.4 (2.93) 31.1 (4.52)

Feminino 23.2 (3.09) 22 (0.81) 9.7 (2.62) 29. (5.74)

Ao estratificar por gênero percebe-se que os indivíduos do sexo masculino mostraram índices maiores de qualidade de vida com relação ao sexo oposto, entretanto esses valores permaneceram muito próximos demonstrando qualidade de vida adequada para ambos os sexos (Gráfico 1). Gráfico 1 - Média geral do somatório dos domínios, estratificado por sexo.

Tabela VIII - Distribuição absoluta dos escores brutos frente a cada domínio. Físico

Psicológico

Relações sociais

Meio ambiente

Indivíduo 1

21

26

8

40

Indivíduo 2

25

23

12

37

Indivíduo 3

18

24

8

27

Indivíduo 4

18

24

8

27

Indivíduo 5

26

22

11

25

Indivíduo 6

19

21

6

25

Indivíduo 7

23

25

12

33

Indivíduo 8

18

23

11

29

Indivíduo 9

20

21

10

30

Indivíduo 10

23

22

10

31

Indivíduo 11

22

21

16

32

Ao dicotomizar por faixa etária percebe-se que os indivíduos acima de 60 anos relataram melhor qualidade de vida em relação aos menores que 60 anos (Gráfico 2). Gráfico 2 - Média geral do somatório dos domínios após dicotomização por idade.

A Tabela IX mostra a média do escore bruto obtido em cada domínio de acordo com o sexo. Ao examinar cada dimensão, observa-se que o maior escore dentre os domínios foi alcançado pelo escore meio ambiente, com média de 30,5%. Logo após, o domínio relações pessoais com média 22,5%. O domínio psicológico e o domínio


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físico se mostram posteriormente com médias de 20,18% e 10,18%, respectivamente. Gráfico 3 - Média do escore bruto para cada domínio.

A média e a mediana do escore geral foram 84,81 (dp = 8,37) e 84 pontos, respectivamente, demonstrando boa qualidade de vida entre os participantes. A faixa de pontuação obtida nos escores brutos do WHOQOL variou de 71 a 97.

Discussão Apesar dos receios provenientes da cirurgia e de todo o processo pós-operatório, observou-se, após a realização da cirurgia, que os pacientes sentiam-se satisfeitos de forma geral. Estes resultados suportam os achados, que estudaram 862 pacientes provenientes de CRVM e submetidos à fase I da RC [22]. Em relação à satisfação com sua saúde, este estudo identifica a mesma porcentagem em relação à satisfação com a qualidade de vida. O autor ainda revela que tais pacientes haviam retornado às atividades diárias mais rapidamente por sentirem-se preparados fisicamente para este retorno e emocionalmente estáveis, semelhantes aos nossos resultados. É relatado que os pacientes que passaram pela reabilitação cardíaca não perceberam benefícios além daqueles decorrentes do procedimento cirúrgico [23]. Tais pacientes foram entrevistados 6 meses e 1 ano após a cirurgia e tiveram suas respostas equiparadas aos pacientes que não passaram pela reabilitação. Em nosso estudo, observa-se que a dor física ainda é um limitante das atividades. A dor do paciente reduz a movimentação, evita respiração profunda, e interrompe o sono, provocando desgaste físico e menor motivação para o tratamento [24]. Observou-se que os pacientes que passaram pela reabilitação cardíaca no período hospitalar, relataram ganhos no campo emocional mesmo tendo sido entrevistados 6 meses após a cirurgia [25]. De acordo com um determinado estudo, os pacientes relataram (12%) comprometimento de funções intelectuais,

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como a memória [14]. Em nosso estudo, esta não foi uma variável que mostra insatisfação por parte dos pacientes. Com relação à alteração no padrão de humor, relatada no grupo estudado como tristeza, depressão e desânimo, alguns autores referem que no período pós-operatório do paciente revascularizado são comuns crises de choro e momentos de tristeza por se tratar de um tempo de reflexão para o doente que costuma analisar sua vida anterior [26]. Em nosso estudo a grande maioria revela nunca ter sentimentos negativos. Este é um resultado que leva em consideração o bom nível de satisfação revelado em outros aspectos, tais como: segurança no dia-a-dia, condições favoráveis de moradia e transporte, acesso aos serviços de saúde e apoio de amigos e familiares. Na categoria locomoção, os pacientes revelam que estão satisfeitos. Por isso, a importância da reabilitação cardíaca em todos os aspectos, incluindo realização de um plano educacional e orientação para alta hospitalar, além disso, o paciente ao receber alta hospitalar, deve estar confiante em sua capacidade de enfrentar a situação doméstica [13]. No presente estudo os pacientes revelam insatisfação moderada em relação à capacidade de trabalho por não estarem aptos ao retorno de suas atividades. Quanto às atividades sexuais, revela-se que após cirurgia de RVM, há tendência ao não retorno à vida sexual na população estudada [18]. Esta situação pode ser evidenciada em nosso estudo, já que entre aqueles que responderam esse quesito, apenas uma pequena parcela mostra-se satisfeito com sua vida sexual.

Conclusão Após um mês da realização da cirurgia de revascularização miocárdica, a avaliação de qualidade de vida dos participantes deste estudo revela que a autoconfiança foi devolvida, trazendo melhor perspectiva de vida e segurança para a retomada das atividades da vida diária. Os participantes encontravam-se física e emocionalmente melhores, referindo benefícios trazidos pela reabilitação cardíaca. Isto leva a concluir a importância de estudos qualitativos e quantitativos para orientar a elaboração de demais estratégias que maximizem os efeitos da reabilitação cardíaca em todos os grupos de pacientes.

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Artigo original Análise comparativa de testes laboratoriais de esteira e de campo para determinar a freqüência cardíaca máxima e o consumo máximo de oxigênio em mulheres saudáveis Comparative analysis between treadmill laboratory tests and field tests to determine the maximum heart rate and maximal oxygen uptake in healthy women Lawrens Fabrício Cardozo Makkai*, Daniela Fantoni de Lima Alexandrino**, Janaína Lubiana Altoé***, Cintia Lúcia de Lima****, João Carlos Bouzas Marins, D.Sc.***** *Especialista em avaliação e prescrição de atividades motoras para portadores de necessidades especiais e grupos especiais (em andamento) pela UNIFOA e participante do Grupo de Pesquisa - Aspectos Biodinâmicos do Movimento Humano (UFJF), **Especialista em musculação e personal trainer (UCB), Especialista em organização e administração da recreação e do lazer (em andamento) pela UFJF e participante do grupo de pesquisa Corpo e Diversidade cadastrado no CNPq pela FAEFID (UFJF), ***Educação Física, Universidade Federal de Viçosa (UFV), ****Educação Física, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Especialista em Educação pela UNIPAC e participante do Grupo de Pesquisa Corpo e Diversidade cadastrado no CNPq pela FAEFID (UFJF),*****Professor Adjunto e coordenador do Laboratório de Performance Humana (LAPEH) do departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Resumo

Abstract

Os objetivos deste estudo foram comparar e analisar as respostas da FCmáx e do VO2máx de dois protocolos máximos de esteira (Bruce e Balke) e dois de campo (Cureton 1600 m e Cooper 2400 m), além de comparar os dados da FCmáx obtida com a predita pelas equações de estimação da FCmáx de Tanaka e Marins. Foram avaliadas mulheres (n = 30) com idade média 22,4 ± 1,44 anos. Para determinar as diferenças entre VO2máx e FCmáx (obtida e estimada) optou-se pelo teste de análise da variância Anova One Way, múltiplas comparações – Tukey. Os resultados do VO2máx indicam haver diferença significativa entre os protocolos, exceto entre Balke e Cureton. Concluímos que o protocolo de Balke proporciona o registro do maior VO2máx e Cooper a maior FCMáx. A equação de Tanaka é mais indicada para predizer a FCmáx na população estudada, nos quatro protocolos avaliados.

The present study aims at comparing and analyzing the responses of the HRmax and VO2max from two treadmill maximum protocols performed in laboratory (Bruce and Balke) and two of field (Cureton 1600 m and Cooper 2400 m), as well as comparing the HRmax data obtained from these tests to the prediction equations suggested by Tanaka and Marins. The sample comprised women (n = 30) aged 22.4 ± 1.44 years. The One Way Analysis of Variance, multiple comparisons - Tukey was chosen in order to determine the differences between HRmax and VO2max (obtained and estimated ones). The results regarding the VO2max show a significant difference between Balke and Cureton protocols. Therefore, we can conclude that Balke protocol provides the register of the highest VO2max and Cooper as well as the highest HRmax. Tanaka equation showed to be the most adequate one to predict the HRmax in the studied sample, in all of the four protocols analyzed.

Palavras-chave: freqüência cardíaca, consumo de oxigênio, equação de predição.

Key-words: heart rate, oxygen consumption, prediction equations.

Recebido em 15 de maio de 2008; aceito em 20 de agosto de 2008. Endereço para correspondência: Lawrens Fabrício Cardozo Makkai, Av. Independência 2320/1301, 36025-290 Juiz de Fora MG, Tel: (32) 3241 3792, E-mail: makkaiefi@yahoo.com.br


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Introdução Para a avaliação do componente cardiorrespiratório tem-se o teste de esforço máximo, como sendo um dos exames não invasivos mais utilizados para avaliar atletas, pessoas aparentemente saudáveis e pessoas com doença cardiovascular suspeita ou conhecida [1]. Essa avaliação física determina entre outros dados a freqüência cardíaca máxima (FCmáx) e o consumo máximo de oxigênio (VO2máx), parâmetros esses importantes para a prescrição de exercícios aeróbicos de forma precisa. Esses parâmetros podem ser identificados avaliando a capacidade cardiorrespiratória em testes de esteira ergométrica, sendo importante devido a sua homogeneização das condições de avaliação e reprodutibilidade em laboratório. Contudo, esse tipo de procedimento apresenta limitações, como o custo elevado, utilização de aparelhagem sofisticada e inviável para avaliar grandes grupos [2-4]. Como alternativa, têm sido proposto protocolos de campo, devido à redução de custos e a aplicação em vários indivíduos em um período curto de tempo. Esses testes foram difundidos no mundo inteiro por sua praticidade, sendo utilizados para avaliar escolares, atletas e a população em geral, fornecendo dados para a prescrição de exercícios, seleção esportiva, avaliação da progressão do treinamento e testes físicos para exércitos em diversos países do mundo [5]. Os objetivos de um teste de esforço variam conforme a interpretação do avaliador. Em um diagnóstico médico, o enfoque principal é identificar possíveis disfunções miocárdicas, distúrbios hemodinâmicos esforço-induzidos e prognosticar doenças cardiovasculares que venham a limitar ou mesmo impedir determinados níveis de atividades físicas [6]. Especificamente no campo da Educação Física um teste de esforço terá como principais pontos, avaliar a progressão da preparação física, estabelecer a FCmáx e as zonas metabólicas de treinamento, identificar o limiar anaeróbico, auxiliando assim, a correta prescrição do exercício [7]. O profissional de educação física utiliza-se deste tipo de teste para direcionar e periodizar o seu trabalho atendendo os objetivos do indivíduo com segurança e eficiência. A forma de aplicação de um teste de esforço inclui ergômetro de braço, cicloergômetro de membros inferiores e esteira rolante, usualmente empregados em laboratório [8]. Contudo, testes de campo são alternativas usuais para determinar o VO2máx e a FCmáx, além de possuir a vantagem de reproduzir as condições em exercício mais próximas do ambiente real, como a temperatura externa e correntes de ar. Cabe ainda destacar que o valor máximo da FC seja determinado individualmente [9], sendo que os testes de campo são uma excelente forma de monitoramento constante da FCMax [10,11]. Quando não se torna possível a realização do teste de esforço máximo por um professor de Educação Física, devido a fatores estruturais, idade elevada, problemas ortopédicos, coronarianos, obesidade mórbida entre outros, torna-se necessário o emprego de equações que predizem a FCmáx, sendo

uma alternativa interessante para prescrição de exercício [2], visto que, atualmente existem equações que predizem a FCmáx com margens de erros mínimas de 1,6 a 1,8 bpm para uma prova máxima [11]. Em contrapartida, a seleção de uma equação inadequada pode gerar interpretações errôneas sobre o desenvolvimento do teste. Contudo, é necessário observar que existem várias equações propostas, sendo validadas em populações de perfil totalmente diferente, além de fatores como tipo de ergômetro, estado de saúde, gênero e idade [10]. Estabelecer a equação mais fidedigna para cada perfil populacional significa prescrever exercícios com mais segurança e qualidade nos resultados. Comparando mulheres e homens fisicamente saudáveis no que tange a FCmáx, parece não existir diferenças significativas dos seus valores na literatura [11-14]. As mulheres geralmente apresentam em cada nível de esforço submáximo uma FC mais alta do que os homens, este fato se associa a um menor volume sistólico [15]. Considerando o VO2máx, foi demonstrado que as diferenças dos valores encontrados entre homens e mulheres, podem, em parte, ser explicado pela maior porcentagem de gordura corporal nas mulheres e menores taxas de hemoglobina no sangue, acarretando assim, em uma redução da capacidade de transporte de oxigênio em relação aos homens agindo de forma negativa no resultado final do VO2máx [16]. Assim, os objetivos deste estudo foram comparar as respostas da FCmáx e do VO2máx obtidos em testes de esteira segundo protocolos de Balke [7] e Bruce et al. [17] e os testes de campo de 1600 m de Cureton et al.[18] e 2.400 m de Cooper [5], além de validar as equações de Tanaka et al.[19] [FCmáx = 208,75 – 0,73 (idade)] e Marins [20] [FCmáx = 222,2 – 1,155 (idade)] para estimar a freqüência cardíaca máxima em exercício máximo na esteira e teste de campo. Por último, pretendeu-se verificar se as equações de Bruce et al. [17] [VO2máx = 42,9 – 0,312 (idade)] e Neto et al. [21] [VO2máx = 58,684 – 0,3124 (idade)] ambas para mulheres ativas estimam o VO2máx de maneira adequada em jovens aparentemente saudáveis.

Material e métodos

Sujeitos A amostra foi composta por um total de 30 indivíduos do gênero feminino, estudantes universitárias, com idade entre 19 e 27 anos (média de 22,4 ± 1,44 anos), saudáveis e fisicamente ativas, que se apresentaram como voluntárias para a realização deste estudo. Todas tinham plena consciência dos riscos envolvidos na realização dos testes e eram livres para abandonar a pesquisa em qualquer momento. Ao longo de todo o estudo, foram adotadas as normativas brasileiras para estudos com seres humanos. Para melhor visualização da amostra, a Tabela I traz referências do grupo em questão.


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Tabela I - Características dos indivíduos estudados. Média Desvio-padrão Máximo Mínimo

Idade (anos) 22,4 1,44 27 19

%G* 21,60 4,68 32,2 14,5

MCM ( kg) 44,87 3,55 55,16 37,23

GT (kg) 12,57 3,7 21,28 1,59

* Cálculo estimado do percentual de gordura (%G) pela técnica de Jackson e Pollock [32]. MCM = massa corporal magra; GT = gordura total.

Procedimentos O estudo foi desenvolvido a partir da coleta de dados no Laboratório de Performance Humana (LAPEH - UFV), além de uma pista oficial de 400 m de atletismo. Cada um dos indivíduos foi submetido à realização de quatro testes distintos de esforço máximo. Não houve uma ordem predeterminada para aplicação dos testes, sendo feita de forma totalmente aleatória. Na fase que antecedeu os testes, os indivíduos foram instruídos a abster-se de comida pelo menos entre duas ou três horas antes dos testes, a manter a hidratação de forma a não se super-hidratarem, a evitar o álcool, a ter pelo menos 8 horas de sono na noite anterior ao teste e estarem com vestimentas confortáveis e tênis. As avaliadas responderam ao PAR-Q proposto por Thomas et al. [22] e receberam um termo de consentimento, revelando todos os riscos possíveis de ocorrer durante a realização dos testes, devendo ser assinado pela voluntária caso estivesse de acordo. Foram fornecidas informações prévias a respeito de cada protocolo a ser aplicado, sendo as avaliadas instruídas a evitar segurar-se no corrimão da esteira e a manter o ritmo de corrida no caso do teste de campo. Foi apresentada a cada uma a escala do índice de percepção de esforço (IPE) que compreende valores entre 6 e 20, proposta por Borg [23]. Quatro diferentes protocolos de teste de esforço máximo foram aplicados. Nos testes realizados em laboratório foi utilizada uma esteira rolante (Ecafix EG 700X®). O teste de campo foi aplicado na pista de atletismo de 400 metros do Departamento de Educação Física da UFV. A FC foi registrada por meio de monitores cardíacos da marca Polar® S 610i, e a pressão arterial (PA) monitorada com um esfigmomanômetro de coluna de mercúrio da marca Tycos® e um estetoscópio da marca Wan Méd®. A FCmáx prevista foi calculada por meio da equação de Tanaka et al. Fatores ambientais como temperatura e umidade relativa do ar, no laboratório, foram controlados, sendo mantidos valores entre 21 e 23 °C e aproximadamente 60 a 80% de umidade. Foram empregados protocolos máximos em esteira rolante de Bruce et al. e Balke, e no campo através dos protocolos de 1600 m de Cureton et al. e 2.400 m de Cooper. Os quatro testes foram realizados exclusivamente na parte da manhã, caso o primeiro tenha sido feito nesse período, ou exclusiva-

mente na parte da tarde, caso o primeiro tenha sido realizado no período da tarde. Antes de iniciar os testes, o indivíduo permanecia um tempo assentado em repouso (entre 5 e 15 minutos), para serem coletados o menor valor de FC e pressão arterial (PA) inicial. Para desenvolvimento do protocolo, valores de segurança para essas variáveis foram preestabelecidos, como FC < 100 bpm, PA diastólica < 90 mmHg e PA sitólica < 140 mmHg, representando uma ação mais conservadora que a indicada pela SBC [6]. As avaliações foram realizadas com intervalos de pelo menos 48 horas. Para os testes de esteira rolante foi feito um aquecimento de três minutos, com velocidade de 3,0 milhas por hora (mph), sem inclinação. No caso dos testes de campo, o aquecimento foi feito por meio da realização de três voltas na pista de atletismo, sendo uma caminhada rápida na primeira e um trote nas duas últimas, mantendo em todas as situações a FC abaixo de 140 bpm. Na esteira, a FC foi registrada a cada minuto, a PA e o IPE no final de cada estágio, desde o aquecimento até o final dos testes. Na pista, a FC foi monitorada no final de cada volta. O tratamento estatístico deste estudo empregou uma estatística descritiva, com a média, desvio-padrão, valor máximo e valor mínimo para cada um dos parâmetros obtidos durante os quatro testes. Para determinar a existência de diferenças significativas do VO2máx ml(kg.min)-1 e FCmáx calculado e obtido, optou-se pelo teste de análise de variância Anova One Way, múltiplas comparações – Tukey, sendo considerado um nível de significância de p < 0,05 para considerar válida a hipótese estatística. Utilizou-se o programa estatístico Software Sigma Start®, versão 2.0. As equações utilizadas para estimar a FC foram de Tanaka et al., que corresponde a [208,75 - (0,73 x idade)], e Marins [222,2 - (1,155 x idade)]. Já para estimar o VO2máx adotou-se as equações de Bruce et al. [VO2máx = 42,9 – 0,312 x idade] e Neto et al. [VO2máx = 58,684 – 0,3124 x idade].

Resultados e discussão Na Tabela II são apresentados os resultados encontrados para a FCmáx. Já a Tabela III mostra o resultado do teste estatístico, indicando a existência ou não de diferenças significativas entre as FCmáx obtidas e estimadas.


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Tabela II - FCmáx obtida nos quatro protocolos de esforço máximo de Balke, Bruce, Cureton e Cooper e estimada por Tanaka et al. [19] e Marins [7].

Média DP Máximo Mínimo

Balke

Bruce

192,2 7,31 204 178

189,5 6,35 205 179

Cureton 1600 m 192,6 6,42 206 179

Cooper 2400 m 194,1 6,08 204 180

Tanaka et al. [19] 208,75 - (0,73 x id) 192,4 1,54 195 189

Marins [7] 222,2 - (1,155 x id) 196,3 2,29 200 191

id = idade; m = metros; DP = desvio-padrão.

Tabela III - Níveis de significância das médias de FCmáx (bpm) obtidas e estimadas. Diferença Grupos

FCmáx (bpm)

Marins vs. Balke Marins Bruce Marins vs. Tanaka Marins vs. Cureton 1600 m Marins vs. Cooper 2400 m Cooper 2400 m vs. Balke Cooper 2400 m vs. Bruce Cooper 2400 m vs. Tanaka Cooper 2400 m vs. Cureton 1600 m Cureton 1600 m vs. Balke Cureton 1600 m vs. Bruce Cureton 1600 m vs. Tanaka Tanaka vs. Balke Tanaka vs. Bruce Bruce vs Balke

196,3 196,3 196,3 196,3 196,3 194,1 194,1 194,1

192,2 189,5 192,4 192,6 194,1 192,2 189,5 192,4

entre médias 4,0* 6,7* 3,9* 3,7 2,2 1,8 4,5* 1,7

194,1

192,6

1,5

192,6 192,6 192,6 192,4 192,4 189,5

192,2 189,5 192,4 192,2 189,5 192,2

0,3 3,0 0,2 0,1 2,8 2,7

* Diferença significativa p < 0,05; bpm = batimento por minuto.

Os dados estatísticos mostram que a equação de Marins pode ser empregada para estimar a FCmáx somente nos testes de campo de 1600 m e 2.400 m. Já a equação de Tanaka et al. mostrou ser adequada tanto para os testes de campo deste estudo como para os de esteira de Balke e Bruce et al., concordando com os estudos de Marins e Fernandez [10,11] em estudantes universitários de que a fórmula proposta por Tanaka et al. é a mais adequada. Cabe destacar que a equação de Marins não foi testada nos referidos estudos. Ao comparar as médias da FCmáx obtidas em cada protocolo, observa-se que o valor mais alto registrado (194,1 ± 6,08 bpm) para essa variável foi encontrado no protocolo de 2.400 m de Cooper apontando não existir diferença significativa entre os protocolos, exceto entre Bruce et al. vs. Cooper onde ocorreu essa diferença. Esses resultados estão de acordo com os encontrados por Froelicher et al. [24], que ao compara-

rem a FCmáx em dois protocolos máximos em esteira (Bruce vs. Balke), não observaram diferenças significativas entre os valores da mesma. Entre os protocolos realizados em esteira rolante, o grupo apresentou valor médio mais elevado em Balke (192,2 ± 7,31 bpm). Assim como nesse estudo, já se observou em outras pesquisas que os testes de campo tendem a provocar maior FCmáx em relação aos de laboratório [8,9]. É possível especular que o valor mais alto obtido em pista foi decorrente das condições ambientais, incontroláveis no teste de campo, levando o sistema cardiovascular a um maior estresse físico [25]. Já nos testes realizados em laboratório, as condições ambientais controladas minimizaram a influência da temperatura e da umidade nas respostas cronotrópicas dos avaliados. Todos os protocolos apresentaram característica de um teste máximo segundo as considerações feitas por Lazzoli [26], de que testes que levassem o avaliado a atingir patamares superiores a 85% da FCmáx calculada seriam considerados máximos. Outro critério para validação é a verificação dos valores apresentados no último registro da FC com variação de 10 bpm em relação a FCmáx calculada [27]. Portanto, todas as voluntárias envolvidas neste trabalho apresentaram respostas condizentes com as considerações dos referidos autores. Para indicar o emprego de uma equação estimativa da FCmáx, Robergs e Landwehr [28] estabeleceram limites de ± 3 bpm para testes máximos e ± 8 bpm para prescrição de exercícios. Neste estudo a equação de Tanaka et al. registrou intervalo de + 0,1 bpm a + 2,8 bpm e Marins com intervalo de + 2,2 bpm a + 6,7 bpm em relação aos quatro protocolos. Quando comparados os resultados da FCmáx estimada, em relação à idade, pelas equações de Tanaka et al. e Marins, encontrou-se diferença estatisticamente significativa (p < 0,05) entre elas, percebeu-se que os valores estimados por Tanaka et al. se encontravam em maior porcentagem dentro da faixa de flutuação de ± 8 bpm (tabela IV), corroborando com os valores encontrados no estudo de Marins e Fernandez [11] obtendo 81% da amostra dentro da faixa, em comparação a Marins visto na Tabela V.


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Tabela IV - Comparação da faixa de flutuação de ± 8 bpm da FCmáx obtida nos quatro protocolos com a predita pela equação de Tanaka et al. [19]. Teste Balke Bruce Cureton 1600 m Cooper 2400 m

Abaixo da faixa de ± 8 bpm 15% 5% 10% 6,66%

Dentro da faixa de ± 8 bpm 75% 90% 83,33% 76,66%

Acima da faixa de ± 8 bpm 10% 5% 6,66% 16,66%

Tabela V - Comparação da faixa de flutuação de ± 8 bpm da FCmáx obtida nos quatro protocolos com a predita pela equação de Marins [7]. Teste Balke Bruce Cureton 1600 m Cooper 2400 m

Abaixo da faixa de ± 8 bpm 30% 30% 23,33% 13,33%

Dentro da faixa de ± 8 bpm 70% 70% 73,33% 86,66%

Acima da faixa de ± 8 bpm 0% 0% 3,33% 0%

Assim, fisiologicamente, a equação de Tanaka et al. é mais recomendada para sujeitos com características semelhantes às deste grupo estudado. Quanto à equação estimativa desenvolvida por Marins, foi encontrada diferença significativa ao ser comparada com os protocolos de Balke e Bruce et al., sendo adequada aos protocolos de Cureton et al. 1600 metros e Cooper 2400 metros, retomando, assim, sua proposta inicial tendo em vista que foi desenvolvida tomando como base resultados de FCmáx obtida no teste de Cooper 2400 m. Os resultados obtidos ratificam as indicações de Marins [20] para o uso da sua equação para o teste de Cooper de 2.400 m. Contudo, o uso da equação de Tanaka et al. aponta ser superior para uso deste grupo. Para o grupo avaliado, ambas as equações são ferramentas importantes, Tanaka et al. tanto para a interpretação dos testes ergométricos como para prescrição de exercícios e Marins utilizada para prescrição de exercícios e para os protocolos de pista. Sendo assim, deve existir por parte do avaliador uma análise para selecionar uma fórmula adequada para determinado teste, evitando assim, mascarar a real intensidade da faixa de treinamento

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do indivíduo podendo gerar resultados desfavoráveis quanto aos seus objetivos.

Consumo máximo de oxigênio Na Tabela VI são apresentados os valores de média, desviopadrão, máximo e mínimo, assim como a classificação do VO2máx ml(kg.min)-1, obtidos nos quatro protocolos empregados, indicando haver diferença estatisticamente significativa na predição do VO2máx entre eles, com exceção apenas entre os protocolos de Balke vs. Cureton et al. Os resultados obtidos de VO2máx nos quatro protocolos também foram comparados aos resultados do VO2máx estimados pelas equações de Bruce et al. e Neto et al. para mulheres ativas. Os dados indicam que a equação de Bruce et al. tem uma tendência a subestimar os valores da capacidade aeróbica quando comparados com os obtidos nos protocolos, exceto para o teste de Cooper onde houve uma proximidade nos resultados, 36,29 ml(kg.min)-1 representado por Cooper contra 36,05 ml(kg.min)-1 da equação. Já a equação de Neto et al. que foi criada para a população brasileira, apresentou valores superestimados em todos os protocolos do VO2máx 51,69 ml(kg.min)-1 contra o maior valor entre os protocolos 44,88 ml(kg.min)-1 obtido em Balke. Robergs & Landwehr [28] destacam que o erro de estimativa para propósitos de prescrição de exercícios aceitáveis na determinação do VO2máx deve ser abaixo de 3 ml(kg.min)-1. Em relação às equações preditivas do VO2máx deste estudo, deve-se ter precaução ao afirmar que as fórmulas subestimaram ou superestimaram o VO2máx final, devido ao fato de não ter sido utilizado a espirometria direta ou ergoespirometria para análise de gases espirados. O protocolo de Bruce et al., entretanto, parece ser o mais indicado para pessoas bem condicionadas, com o intuito de conhecer as respostas fisiológicas, determinar a capacidade funcional e obter parâmetros para prescrição de exercício físico. Na literatura, este protocolo e o de Ellestad são os mais indicados para indivíduos fisicamente ativos e/ou jovens aparentemente saudáveis [6]. Entretanto, o protocolo de Bruce et al. que obteve VO2máx 39,48 ± 4,71 ml(kg.min)-1 para a população deste estudo não seria indicado, tendo em vista os relatos da maioria das avaliadas, ao apresentarem fadiga periférica antes que ocorre-se fadiga central, fator este

Tabela VI - Resultados do VO2máx ml(kg.min)-1 obtido e estimado pelas equações de Bruce et al. [17] e Neto et al. [21] e a classificação segundo o AHA [33].

VO2máx Classificação DP Máximo Mínimo

Balke

Bruce

Cureton 1600 m

Cooper 2400 m

44,88 Boa 4,53 52,45 36,56

39,48 Boa 4,71 48,1 31,3

43,59 Boa 3,0 50,11 37,12

36,29 Regular 3,15 43,91 30,94

Bruce et al. [17] VO2máx = 42,9 – 0,312 x idade 35,91 X 0,83 39,4 35,1

Neto et al. [21] VO2máx = 58,684 – 0,3124 x idade 51,69 X 0,60 52,74 50,24


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responsável pela interrupção do teste reduzindo possivelmente os valores reais do VO2máx do grupo. No trabalho de Kang et al.[29] verificou-se valores próximos a deste estudo 40,84 ml(kg.min)-1. Testes mais curtos acarretam em valores menores de VO2máx, possivelmente por causa de limitações musculares causadas por elevada intensidade de esforço [21]. Os resultados deste estudo sinalizam que uma anamnese prévia auxilia a estabelecer qual tipo de teste poderá ser mais indicado. Em mulheres corredoras com hábito de corrida o teste de esteira de Bruce et al. poderá ser o mais indicado. Por outro lado, o teste de esteira de Balke será recomendado em mulheres ativas, porém, não corredoras minimizando o risco de interrupção do teste por fadiga periférica. Quanto aos protocolos de Cureton et al. e Cooper, observaram-se valores médios para a capacidade aeróbica de 43,59 ± 3,0 ml(kg.min)-1 e 36,29 ± 3,15 ml(kg.min)-1 respectivamente, confirmando os resultados encontrados por Makkai [25], para esses protocolos, possivelmente esta diferença entre os testes se deva ao fato do protocolo de Cureton et al. ter um tempo de duração menor, sendo assim, o resultado pode ter sido influenciado pelo componente anaeróbico. Outro propósito está relacionado com a temperatura ambiente e a umidade do ar, que no caso, poderia afetar o desempenho negativamente no teste de Cooper por este ser mais longo, expondo a avaliada a um maior desgaste físico durante a avaliação. É imprescindível que sejam padronizadas as aplicações no que diz respeito principalmente ao horário do dia. Pollock e Wilmore [30] sugerem então, que para a realização de um teste de campo seja feito um período de adaptação para que o avaliado experimente o percurso e ritmo do teste, sabendo, dessa forma, o seu tempo médio por volta, apresentando assim, um melhor desempenho aeróbico, mais próximo do real. No presente estudo, a maior parte das avaliadas já possuía este conhecimento, contudo em poucos casos foi possível observar avaliadas com dificuldade em administrar um ritmo de corrida constante. Um ponto importante a ser ressaltado é em relação ao tempo de duração do protocolo que segundo a literatura, a faixa recomendável concentra-se entre 8 a 15 minutos [7,30,31]. Contrariando esses autores Astorino et al. [12] investigou sobre tempo ideal para duração de protocolos máximos para homens e mulheres em idade universitária, verificou que protocolos com tempo acima de 13 minutos causavam menores resultados de VO2máx 3,45 ± 0,79 L.min-1 versus 3.58 ± 0,83 L.min-1 do protocolo com 10 minutos de duração, concluiu seus achados determinando um tempo entre 10 ± 2 minutos como sendo ideal para aquisição do VO2máx e que tempos acima de 13 minutos causariam redução de 4 a 5 % do mesmo. Para este estudo o protocolo de Balke obteve o valor médio mais elevado para o consumo máximo de oxigênio 44,88 ± 4,53 ml(kg.min)-1, porém, a duração da avaliação na esteira para este teste oscilou de 19 a 22 minutos, ultrapassando excessivamente o limite recomendado. Para solucionar este

problema quanto à aplicação deste protocolo, sugere-se iniciar o teste desconsiderando os estágios iniciais visando manter a avaliação dentro da faixa de tempo predita como ideal, para a amostra deste estudo recomenda-se partir entre o sétimo e décimo estágio do protocolo de Balke.

Conclusão Ao comparar as médias da FCmáx obtidas em cada protocolo, observa-se que os valores foram próximos, sendo o protocolo de 2.400 m de Cooper tendendo apresentar a maior FCmáx. Dos quatro protocolos de esforço máximo aplicados, os resultados indicam haver diferença estatisticamente significativa na predição do VO2máx entre os protocolos, com exceção apenas entre os protocolos de Balke vs. Cureton et al., onde não existiu essa diferença. Conclui-se que a equação de Tanaka et al. tem aplicabilidade aceitável para ser usada nos quatro protocolos, já a desenvolvida por Marins teve resultados consideráveis para o seu emprego nos testes de campo deste estudo. A equação de predição do VO2máx de Bruce et al. apresentou resultados que tendem a subestimar o VO2máx obtido, exceto em Cooper, já a equação de Neto et al. revelou valores que superestimam o VO2máx em todos os protocolos para a população analisada neste trabalho, porém, para concretização destes resultados deve ser aplicado o teste máximo com analisador de gases.

Agradecimentos Estudo parcialmente financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

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Artigo original Consumo de recursos ergogênicos farmacológicos por praticantes de musculação das academias de Santa Maria RS Pharmacological ergogenic resources consumption among gymnastic academy performers in Santa Maria RS Cati Reckelberg Azambuja*, Daniela Lopes dos Santos* *Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS

Resumo

Abstract

O objetivo deste trabalho foi verificar como ocorre o uso de recursos ergogênicos farmacológicos por praticantes de musculação das academias da cidade de Santa Maria, RS. A amostra estratificada proporcional constituiu-se de 236 indivíduos, escolhidos aleatoriamente, de ambos os sexos, das academias de Santa Maria, RS. O instrumento de coleta de dados foi um questionário, previamente validado, composto por 22 questões sobre o uso de recursos ergogênicos farmacológicos, tipos mais utilizados, faixa etária, nível de escolaridade, renda, metodologia adotada para o treino, orientação, finalidade de uso, efeitos adversos e controle bioquímico. Os dados foram analisados através de percentuais, médias e desvios padrão. A média de idade da amostra foi de 24,4 ± 7,04 anos, sendo que a maioria dos pesquisados foi do sexo masculino (77,12%), com nível de escolaridade superior incompleto (36,44%) e sem renda própria (56,36%). Os resultados indicaram médio consumo de recursos ergogênicos (n = 10; 4,24%). Deca-Durabolin (60%), Durateston (50%) e Hemogenim (40%) foram as substâncias mais citadas, motivados pelo aumento no desempenho (60%) e de peso (50%), sendo que, 50% por vontade própria e 30% por indicação do professor da academia. A aquisição destes ocorreu em farmácias (50%) e através de professores (20%). A maioria dos usuários administrou a substância na forma injetável (50%) e oral (50%), com freqüência de uso diário (40%). Apesar de 80% dos entrevistados que utilizaram ergogênicos terem conhecimento dos possíveis efeitos adversos, somente 10% realizaram exames bioquímicos de controle das alterações hormonais. Os efeitos colaterais relatados foram irritação (50%), euforia e agressividade (40%); e a média do valor gasto mensalmente na aquisição de REF foi de R$ 236,50 ± 168,05.

The aim of this work was to verify how the use of pharmacological ergogenic resources occurs when bodybuilder performers adopt them in the gymnastic academies of Santa Maria, RS, Brazil. The ratio of the stratified sample is constituted of 236 individuals, randomly chosen, both sexes, from Santa Maria, in RS – Brazil, gymnastic academies. The means through which data was collected was a previously validated questionnaire, containing 22 questions about the use of the pharmacological ergogenic resources, much adopted types of those resources, age range, education level, income, training methodology used, orientation, usage target, adverse effects and biochemical control. Data was examined using percentage, averages and pattern deflections. Sample average age was from 24.4 ± 7.04 years, mostly men (77.12%), incomplete third grade education level (36.44%), who did not have their own income (56.36%). The results indicated medium consumption of ergogenic resources (n = 10; 4.24%). Most mentioned substances were Deca-Durabolin (60%), Durateston (50%) and Hemogenim (40%), mainly because of their effect in the performance increase (60%) and in weight (50%), and considering that 50% were choosing themselves those products while 30% were using those products after their being indicated by the coach. The purchasing of those products occurred through shopping them in the drugstores (50%) and through coaches (20%). Most users took the substance in the form of shots (50%) and orally (50%), of daily usage (40%). Among the sample group, 80% of the interviewed who were using ergogenics had known of the possible adverse effects and even so, only 10% took biochemical control testing on hormonal alterations. The side effects reported were irritation (50%), euphoria and aggressiveness (40%); and the monthly average expenditure in the acquisition of pharmacological ergogenic resource was of R$ 236.50 ± 168.05 (R$ = Reais, Brazilian currency).

Palavras-chave: recursos ergogênicos, dopagem, musculação.

Key-words: ergogenic resources, doping, bodybuilder.

Recebido em 12 de novembro de 2007; aceito em 17 agosto de 2008. Endereço para correspondência: Cati Reckelberg Azambuja, Rua Araújo Viana, 111/303, Centro, 97.015-040 Santa Maria RS, Tel: (55) 30280078, E-mail: cati.reckelberg@pop.com.br


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Introdução A busca pelo corpo perfeito, tão evidenciado pela mídia, a falta de organização em relação às atividades diárias e conseqüentemente a ilusão de resultados rápidos e facilitados e a necessidade de melhor desempenho em competições são apenas alguns dos motivos que tem levado as pessoas a utilizarem meios ilícitos para alcançar seus objetivos físicos [1]. A crescente comercialização observada no meio esportivo aumentou a pressão sobre o atleta para alcançar o seu rendimento máximo a curto prazo [2]. No caso de atletas de alto nível, o uso de drogas transcende a questão da saúde individual. As drogas que favorecem o desempenho nas diversas modalidades são consideradas, eticamente, indesejáveis e, portanto, ilícitas, independentemente de produzirem danos para a saúde [3]. O American College of Sports Medicine ACSM apóia princípios éticos e deplora o uso de esteróides anabólicos androgênicos pelos atletas. Mais preocupante do que este fato, é o de que os freqüentadores de academias têm dividido com os atletas os percentuais de uso destas drogas que, em sua maioria, são substâncias de procedência duvidosa, muitas vezes, manipuladas sem cuidados adequados de higiene, proporcionando, inclusive, doenças infecto-contagiosas [4,5]. Os recursos ergogênicos farmacológicos, condenados pelo Comitê Olímpico Internacional - COI são drogas destinadas a funcionar como hormônios ou neurotransmissores encontrados naturalmente no corpo humano. Eles podem intensificar a potência física, afetar a força mental e o limite mecânico, o que tem despertado preocupação, visto que o consumo vem persistindo e seu uso é considerado como doping [6]. A utilização de substâncias químicas com o propósito da dopagem traz conseqüências nocivas para quem faz uso destas. O exercício e o estresse físico e emocional causam alterações bioquímicas e funcionais importantes que podem modificar o efeito da substância [7]. Portanto, este estudo buscou averiguar como ocorre o uso de recursos ergogênicos farmacológicos - REF nos praticantes de musculação das academias de Santa Maria, RS.

Recursos ergogênicos farmacológicos Ergogênicos são aquelas substâncias ou fenômenos que melhoram o desempenho de um atleta [8]. Os recursos ergogênicos farmacológicos fazem parte da Toxicologia Social que, segundo Oga [9], é a área da Toxicologia que estuda os efeitos nocivos decorrentes do uso não médico de fármacos ou drogas, causando danos não somente ao indivíduo mas também a sociedade. Por fármaco entende-se uma substância de estrutura química definida que, quando em contato ou introduzida em um sistema biológico, modifica uma ou mais de suas funções. Droga é a matéria prima de origem mineral, vegetal ou animal que contém um ou mais fármacos [10].

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Poucas são as substâncias disponíveis no mercado que realmente possuem propriedades ergogênicas ou capazes de produzir fenômenos supostamente ergogênicos [11]. Para que uma substância seja legitimamente classificada como ergogênica, é necessário a comprovação da melhora no desempenho pela mesma [8]. Segundo Silva [2], as substâncias consideradas de uso proibido são agrupadas de acordo com suas propriedades farmacológicas. A lista do COI contém os seguintes grupos: 1) estimulantes; 2) analgésicos narcóticos; 3) hormônios peptídicos e análogos; 4) bloqueadores beta-adrenérgicos; 5) diuréticos e 6) esteróides anabólicos. Estimulantes são todas as substâncias utilizadas voluntariamente com a finalidade de obtenção de estados alterados de consciência, caracterizados por euforia decorrente da estimulação do Sistema Nervoso Central – SNC [12] e podem causar aumento da pressão arterial e da freqüência cardíaca, propensão a arritmias cardíacas, espasmos coronarianos e isquemia miocárdica em pessoas suscetíveis, distúrbios do sono, tremores, agitação e falta de coordenação motora. Os analgésicos narcóticos são indicados, terapeuticamente, para analgesia profunda, o que pode auxiliar os praticantes anônimos de atividades físicas e atletas que utilizam a morfina e a heroína como recurso ergogênico. Porém, entre os vários potenciais riscos para a saúde dos usuários se encontra a inibição perigosa da dor em atletas, o que pode agravar muito uma lesão instalada; risco de dependência física e síndrome de abstinência ocasionada pela cessão do uso da substância [13]. Hormônios peptídicos e análogos têm como função principal alterar as velocidades de reações celulares específicas de ‘células alvo’ também específicas [3]. Essa modificação pode ser conseguida através da alteração da velocidade da síntese protéica intracelular, da mudança do ritmo da atividade enzimática, da modificação do transporte através da membrana plasmática e pela indução da atividade secretória. Os bloqueadores beta-adrenérgicos, como agente de dopagem, são utilizados para reduzir o tremor muscular e o estresse, principalmente, nas modalidades esportivas de pouca atividade física e que exigem precisão e exatidão para a sua prática [2]. A ação destes fármacos pode depreciar os sistemas nervoso central, cardiovascular, endócrino, respiratório e digestivo [14]. Diuréticos são substâncias sintéticas, com estruturas químicas bastante variadas e que, na sua maioria, atuam diretamente nos rins sobre a função tubolar, aumentando a formação da urina. Considerando que os rins desempenham uma função fundamental para a manutenção da homeostase, torna-se evidente a grande importância dos diuréticos como possíveis agentes tóxicos [7]. Contudo, dentre os recursos ergogênicos farmacológicos, os esteróides anabólicos ocupam o lugar principal. Seu potente efeito anabolizante associado à prática de exercícios com pesos, acena com a promessa do record para o atleta e do “corpo


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perfeito” para o praticante de musculação que possui objetivos estéticos. Infelizmente, cada vez mais o efeito terapêutico dos anabolizantes é desvirtuado a ponto da própria concepção leiga do seu nome ser associada a um perigo iminente, o que de fato se justifica em decorrência dos abusos cometidos e dos episódios trágicos freqüentemente relatados [15].

Materiais e métodos A coleta de dados ocorreu entre os meses de setembro e novembro de 2004, sendo que a amostra estratificada proporcional constituiu-se de 236 indivíduos, escolhidos aleatoriamente, de ambos os sexos, das academias inscritas no Departamento de Estágios de Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria. O instrumento utilizado para avaliar o objetivo proposto foi um questionário, previamente validado, composto por 22 questões sobre o uso de recursos ergogênicos farmacológicos, tipos mais utilizados, faixa etária, nível de escolaridade, renda, metodologia adotada para o treino, orientação, finalidade de uso, efeitos adversos e controle bioquímico, acompanhado de termo de consentimento livre e esclarecido. A análise dos dados foi realizada através de estatística descritiva [16] para determinação da média aritmética, desvio padrão e percentuais e de forma qualitativa, conforme os objetivos da pesquisa.

Resultados e discussão Os resultados obtidos por meio do instrumento de pesquisa indicaram que os praticantes de musculação das academias de Santa Maria (RS), que participaram desta pesquisa, tinham idade entre 15 e 53 anos, com média de 24,4 ± 7,04. Constatou-se que 70,34% tinham entre 15 e 24 anos. No estudo realizado com freqüentadores de academias no RS, verificou-se que 77,5% encontravam-se na faixa etária entre 16 e 25 anos [17]. Já, a pesquisa nas academias de Vitória (ES) encontrou a média de 27,5 anos entre os alunos pesquisados [18]. O perfil da amostra aponta, ainda, que a maioria dos pesquisados era do sexo masculino. A característica de freqüentadores de academias de ginástica do Rio Grande do Sul é essencialmente do sexo feminino (62,11%) [17]. Entretanto, é importante ressaltar que este estudo restringiu-se aos alunos das salas de musculação da cidade de Santa Maria (RS). Apesar de ter aumentado o número de mulheres adeptas, a especulação de que a musculação pode masculinizá-las ainda persiste. A maioria dos pesquisados não possuía renda própria (56,36%), o que é condizente com o grau de escolaridade assinalado por 36,44% dos entrevistados - Ensino Superior Incompleto, o que permite inferir que a maioria dos pesquisados eram estudantes universitários. Em segundo e terceiro lugar, respectivamente, ficaram os Ensinos Médio Completo e Superior Completo. Este dado encontra-se em conformidade com a média da idade verificada e com a informação de que a maioria não possuía renda própria. Outro dado interessante,

é que 66 indivíduos (27,96%) possuíam Ensino Superior Completo, dos quais, 24 (10,16%) possuíam algum nível de Pós-Graduação. Verificou-se que a maioria dos entrevistados praticava musculação há menos de um ano. Porém, identificou-se um grupo com maior adesão, dos quais 35,08% o faziam há mais de dois anos. No estudo de Rufino et al. [17], encontrou-se um grupo flutuante, com até 6 meses de tempo de prática, de 70,63%. A adesão aos programas de musculação pode sofrer influência direta de vários fatores, como, por exemplo, o desejo de alcançar os objetivos propostos a curto prazo. A amostra optou pela musculação, como exercício físico, com a intenção de promover a saúde e em função da estética. Isso indica que a amostra preocupava-se com a aparência física, mas não ignorava as questões relacionadas à saúde e qualidade de vida. A mesma relação entre estética e qualidade de vida foi observada no estudo de Rufino et al. [17]. Pesquisas têm demonstrado que tanto homens como mulheres tem grande interesse em modificar o corpo e, assim, a musculação contribui significativamente [19]. Outra questão importante se refere à visão de promoção da saúde e melhor qualidade de vida, veiculada pela mídia, muitas vezes, de forma equivocada, confundida com parâmetros puramente estéticos, o que pode deformar estes conceitos. Destaca-se que entre os outros motivos relacionados, os que se referem ao alívio do estresse diário e de tensões profissionais, bem como preparação específica para esportes. O exercício físico se constitui em importante agente repressor do estresse. Pesquisadores sugerem que o efeito positivo do exercício físico na diminuição do estresse pode estar relacionado ao aumento da concentração de endorfina no sangue devido à secreção desta substância pela glândula pituitária durante o exercício físico [20]. O principal objetivo mencionado pelos alunos, praticantes de musculação, foi a hipertrofia muscular (50%), seguido pela definição muscular (48,73%). Como esta amostra foi composta 77,12% por pessoas do sexo masculino, justifica-se um percentual tão alto para os dois objetivos mais citados, visto que, a preferência masculina está relacionada à visão de corpos fortes e musculosos [21]. Cabe ressaltar que das 60 marcações atribuídas ao emagrecimento, 75% foram feitas por mulheres. Os treinos de musculação aconteciam 5 ou mais dias por semana (61,47%), com prevalência de 5 vezes na semana (27,97%), provavelmente porque a amostra pesquisada, na maioria, estudantes, possuía maior disponibilidade de tempo para praticar exercícios físicos. Dantas [22] recomenda, para programas de treinamento de sedentários e para a manutenção das condições de saúde, a freqüência de três a cinco vezes por semana, pois considera esta, uma faixa suficiente de treinabilidade das qualidades físicas, ao mesmo tempo em que o risco de lesões se mantém em níveis aceitáveis. Verificou-se que os treinos de musculação eram divididos em rotinas diferentes (68,64%), preferencialmente em A e B,


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em dias alternados de prática. Sobre este aspecto, dois pontos devem ser analisados: rotinas diferentes, em dias alternados permitem não sobrecarregar o número de horas destinadas ao treino e, também, a permitir intervalos de recuperação de 48 horas para os grupos musculares trabalhados [22]. O alongamento é uma parte da sessão de treinamento na musculação, assim como em qualquer outra modalidade e a amostra tinha o hábito de realizá-los. Segundo Dantas [22], a hipertrofia muscular e a hipertonicidade resultantes do treinamento de musculação, se não forem trabalhadas complementamente, por meio de alongamento e flexionamento, poderão provocar uma diminuição do arco articular de alguns movimentos. Entretanto, Tubino [23] declara que “deve-se evitar a aplicação, logo após as sessões de musculação, de exercícios de flexibilidade que impliquem em estiramentos musculares fortes, pois haverá um grande risco de tensões nas fibras musculares”. Portanto, é oportuna a diferenciação entre flexionamento, em que pode haver um razoável risco de distensão e, alongamento, o qual atua com níveis de segurança mais confiáveis. Os resultados deste trabalho também indicaram que 4,24% (n = 10) dos alunos do grupo estudado utilizavam recursos ergogênicos farmacológicos. Segundo pesquisa realizada nas academias de Goiânia (GO), 9% de desportistas consumiam REF, com predominância dos esteróides anabolizantes androgênicos - EAA, sendo considerado, pelos autores, um percentual elevado de usuários [24]. Em Porto Alegre (RS), Conceição et al. [25] constataram em seu estudo que 24,3% dos praticantes de musculação das academias desta capital faziam uso de EAA. Em outro estudo aplicado nas academias americanas encontrou-se de 4 a 11% de usuários de algum tipo de anabolizante, o que demonstrou, segundo Yesalis et al. [26], um alto consumo destas substâncias. Importante ressaltar que o percentual de usuários de REF encontrado nesta pesquisa localiza-se no limite inferior do que pode ser considerado alto. Portanto, baseado nos percentuais de outros estudos, concluí-se que o consumo destas substâncias, pelos praticantes de musculação das academias de Santa Maria (RS), encontra-se num padrão que pode ser considerado de médio para alto. Ressalta-se, ainda, que em apenas 5 academias (41,67%) foram detectados sujeitos que utilizavam REF. Tal achado permite inferir que há academias que estão mais predispostas a esta prática. Outro detalhe a ser destacado, refere-se aos percentuais individuais de cada estrato onde foram achados questionários positivos para o uso de REF, representando de 0,5 a 20% da amostra individual, o que pode ser considerado um alto percentual em algumas delas. O pequeno número de usuários de REF impossibilitou o emprego de teste estatístico para avaliar significativamente a faixa etária na qual se concentrou o maior consumo do produto. Entretanto, contatou-se que este grupo possuía idade entre 23 e 44 anos, com média de 29 ± 7,47, sendo, todos, do sexo masculino. No Brasil, o consumidor preferencial de

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EAA encontra-se entre 18 e 34 anos de idade e, em geral, é do sexo masculino [21]. O nível de escolaridade entre os usuários concentrou-se no Ensino Superior Completo (50%), diferentemente do percentual encontrado na amostra total deste estudo e da pesquisa de Araújo et al. [24] relatando que os usuários de EAA, entre os praticantes de musculação das academias de Goiânia (GO) possuíam, na maioria, Ensino Fundamental ou Médio. Analisando-se a renda individual, constatou-se que 80% (n = 8) dos usuários recebiam entre 3 e 6 salários mínimos. Diante destes dados, infere-se que os usuários de REF possuíam independência financeira, o que lhes permitiu comprometer, mensalmente, entre R$ 24,00 a 580,00, com média de R$ 236,50 ± 168,05 dos seus salários na aquisição dos produtos. O tempo de prática de musculação dos usuários de REF acompanha a tendência da amostra total, porém, é mais homogênea. Há de se destacar que 90% encontram-se na faixa que compreende até 3 anos de prática, dos quais 30% no grupo com menos de 1 ano de prática, que pode ser considerado como flutuante, enfatizando que muitos usuários utilizam-se de REF para alcançar os objetivos a curto prazo. A maioria dos usuários mencionou ter optado pela musculação, como exercício físico, com fins estéticos (50%). Verificou-se que o objetivo principal dos usuários de recursos ergogênicos era hipertrofia muscular (70%). Estes dados, analisados de forma simultânea, reforçam a idéia de que cada dia mais as pessoas acreditam que ergogênicos nutricionais e farmacológicos podem ser usados, de forma indiscriminada, como parte do treinamento físico. Conforme Courtine [1], as últimas décadas ascenderam a valorização do corpo e ditaram o modelo “ideal” de físico, desprezando o aspecto saúde, na obtenção do mesmo. O registro crescente de consumo de substâncias ergogênicas, principalmente entre jovens, demonstra que não há limites para a aquisição de padrões estéticos. Quanto a freqüência de treino, 90% dos usuários de recursos realizavam as rotinas de musculação, mais do que 4 dias na semana. Segundo Dantas [22], levando-se em consideração que o objetivo principal da maioria dos usuários era a hipertrofia, verifica-se que a freqüência semanal de treinos encontrava-se em conformidade com os princípios científicos do treinamento desportivo. Santos & Santos [18] encontraram em seu estudo 56% de praticantes com freqüência semanal de 5 vezes. Também pode-se perceber que 90% dos usuários de recursos ergogênicos dividiam as sessões em rotinas diferentes (A e B ou A, B e C) em dias alternados de prática, caracterizando, desta forma, estrutura de treinos mais avançados e intensos, condizentes com o objetivo de hipertrofia e a freqüência de mais de 4 dias na semana, verificados anteriormente [27]. Os usuários de REF, às vezes, realizavam alongamentos (70%) quando praticavam a musculação. Como argumentado anteriormente, a problemática conceitual, metodológica e


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fisiológica entre alongamento e flexionamento repercute de forma negativa entre aqueles que realizam exercícios físicos com a intenção hipertrófica, ressaltando-se que, segundo Guiselini [27], músculos muito encurtados podem exercer uma pressão muito grande em partes do corpo mais suscetíveis a tensões. Os REF mais citados, entre os usuários, foram os classificados no grupo de EAA – Hemogenim, Deca-Durabolin e Durateston, seguidos por Winstrol e Testosterona, (Tabela I). O estudo realizado por Iriart & Andrade [21], em Salvador (BA), verificou a predominância do uso de Testosterona e Nandrolona, além da combinação de Testosterona e Estradiol. Segundo Araújo et al. [24], dos 17 usuários de EAA das academias de Goiânia (GO), 66% utilizavam Hemogenim e Testosteron.

dologia “mista”. Foi identificado entre os pesquisados um que adotava o “ciclo” (cycling), que usava o EAA por 8 semanas consecutivas e, após um intervalo não definido, retomava a administração.

Tabela I - Distribuição da freqüência e percentagem de usuários, segundo o tipo de REF usado pelos praticantes de musculação das academias de Santa Maria (RS), 2004.

Observou-se que a grande maioria das pessoas que relataram o uso de recursos ergogênicos, especificamente os EAA, afirmaram que a motivação se deu pelo aumento no desempenho (60%) e do peso corporal (50%). A utilização de anabolizantes está associada àqueles que possuem neurose pelo corpo e são, freqüentemente, compulsivos pelo exercício e desejam resultados a curto prazo [19]. Possivelmente, o aumento de peso corporal, associado ao uso de esteróides anabolizantes, está relacionado às sínteses de proteínas no músculo esquelético, principalmente devido à regulação da transcrição do RNA ribossômico, quando aplicado por períodos curtos; porém, estes efeitos, provavelmente, perdem-se ou diminuem após algumas semanas, ou mesmo pelo uso continuado da droga [28]. Entre as respostas para o resultado que os usuários observaram, pode-se citar: “Estou mais forte!”; “ganhei peso e aumentei a massa muscular”; “a recuperação é mais rápida”; “estou mais definido”. Diante dessas afirmações é cabível a citação de Iriart & Andrade [21]: “O anabolizante é visto então, como uma droga poderosa que permite ao organismo trabalhar mais rapidamente, proporcionando resultados quase mágicos, e recompensando imediatamente o suor despendido na malhação”. Quando questionados sobre quem orientou o uso dos produtos - REF, as informações concentraram-se em por vontade própria (50%) e por orientação médica (30%). Oportuno esclarecer, que o percentual verificado na indicação de REF por médicos não representam significativamente a realidade dos profissionais desta área, que desempenham suas atividades na cidade de Santa Maria (RS). No estudo realizado por Araújo et al. [24], a fonte mais utilizada para indicação de anabolizantes foram o professor (11%) e por intermédio de amigos (11%). Segundo o trabalho realizado por Rocha & Pereira [29], 63% receberam orientação para o consumo, dos quais 41% por profissionais da saúde e 59% através de professores, amigos e leitura sobre o assunto. A aquisição destas substâncias ocorreu, preferencialmente, em farmácias (50%) e através do professor da academia

Recurso ergogênico farmacológico Deca-Durabolin Durateston Hemogenim Winstrol Testosterona Cocaína Ecstasy

f 6 5 4 3 3 2 3

%* 60.00 50.00 40.00 30.00 30.00 20.00 30.00

*A soma dos percentuais não totaliza 100% por ter sido permitido a marcação de mais de uma opção.

A Tabela II demonstra que as formas de administração mais utilizadas foram oral e injetável. Iriart & Andrade [21] relataram no seu estudo que a via de administração injetável é preferida por ser mais barata e produzir efeito imediato. Foi verificado, também, que 70% dos usuários da amostra fazem uso combinado de REF, na tentativa de potencializar os efeitos anabólicos e, muitas vezes, minimizar os efeitos androgênicos e adversos [4]. Tabela II - Distribuição da freqüência e percentagem de usuários, segundo a forma de administração de REF usado entre os praticantes de musculação das academias de Santa Maria (RS), 2004. Formas de Administração REF Oral Injetável Supositório Adesivo

f 5 5 2 1

%* 50.00 50.00 20.00 10.00

A soma dos percentuais não totaliza 100% por ter sido permitido a marcação de mais de uma opção

Quanto a freqüência de uso dos ergogênicos, na Tabela III, verifica-se que houve predominância da aplicação diária e semanal que, reforçada pela combinação de uso oral e injetável que, segundo Lise et al. [4], caracterizaram a meto-

Tabela III - Distribuição do número e percentagem de usuários, segundo a freqüência de uso de REF pelos praticantes de musculação das academias de Santa Maria (RS), 2004. Freqüência de uso REF Somente em dias de treino Diário Semanal Quinzenal Não definido Total

n 1 4 3 1 1 10

% 10.00 40.00 30.00 10.00 10.00 100.00


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(20%). Outra importante ressalva faz-se necessária, visto que se verificou que nem todos os instrutores de musculação das academias de Santa Maria (RS) são profissionais formados em Educação Física. Pesquisas têm demonstrado que, além dos farmacológicos, recursos ergogênicos nutricionais têm sido indicados por instrutores e professores das academias [24,18,30]. Segundo o Código de Ética do Conselho Federal de Educação Física - CONFEF [31], esta prática caracteriza exercício irregular da profissão e demonstra uma atitude antiética destes profissionais. Os usuários de REF também foram questionados quanto aos problemas relacionados à ingestão dos produtos avaliados. Foram relatados, principalmente, irritação, euforia e agressividade (Tabela IV). Lise et al. [4] considera a euforia e a irritação como efeitos adversos comuns. Segundo o estudo de Araújo et al. [24], os usuários de anabolizantes referiram-se à euforia (81%) e aumento de cravos e espinhas (94%). Tabela IV - Distribuição da freqüência e percentagem dos efeitos adversos causados pelo uso de REF por praticantes de musculação das academias de Santa Maria (RS), 2004. Efeito adverso Irritação Euforia Agressividade Hálito forte Cãimbras Tremores

f 5 4 4 4 2 2

%* 50.00 40.00 40.00 40.00 20.00 20.00

A soma dos percentuais não totaliza 100% por ter sido permitido a marcação de mais de uma opção.

A maioria dos usuários (80%) afirmou ter conhecimento sobre os possíveis efeitos colaterais que costumam ocorrer. Apesar de alarmante, este dado confirma os achados discutidos anteriormente: usuários com maior grau de escolaridade e independência financeira deixaram-se iludir pelos benefícios ergogênicos imediatos, para alcançar objetivos puramente estéticos, menosprezando os potenciais riscos para a saúde, a qualquer tempo. Entretanto, segundo Iriart & Andrade [21], no estudo realizado entre jovens de um bairro popular de Salvador (BA), foi observado que “de maneira geral, os fisiculturistas entrevistados não demonstraram bom nível de informação sobre os danos causados à saúde pelos anabolizantes que utilizam”. Ressalta-se a falta de informação em relação às propriedades farmacológicas dos EAA, o conhecimento informal através de experiências próprias ou de amigos e a tolerância aos sintomas mais comuns que não refletem os efeitos a longo prazo. Confirmando o exposto anteriormente e, apesar dos usuários terem afirmado possuir conhecimento sobre os efeitos adversos causados pelo uso de REF, 90% destes não realizam exames bioquímicos para controlar as possíveis alterações metabólicas, demonstrando que talvez este conhecimento restrinja-se aos efeitos mais comuns e menos preocupantes.

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Apesar de não ser objeto de estudo desta pesquisa, é importante registrar que 3,39% (n = 8) informaram o uso de suplementos nutricionais, demonstrando o desconhecimento, por parte dos usuários, do tipo de recurso ergogênico que utilizavam. Os recursos ergogênicos nutricionais - REN citados foram Creatina, L-Carnitina, Albumina, Proteína de Soja Texturizada e Levedura de Cerveja, motivados por melhora de desempenho e pela vontade de emagrecer. Foi verificado que a indicação ocorreu por vontade própria, através de amigos e familiares e por informações obtidas por meio de publicações especializadas. A grande maioria relatou que adquiriu os produtos em lojas do ramo e em farmácias. A administração acontecia na forma oral, líquidos, cápsulas e em pó, diariamente ou somente em dias de treino. Os resultados obtidos com o uso de REN foram diversos, desde emagrecimento, maior disposição para treinar e aumento de massa muscular, até o não reconhecimento de nenhum efeito. Os usuários de REN afirmaram possuir conhecimento sobre os efeitos adversos, porém, o único relatado foi cefaléia esporádica e não realizam exames bioquímicos de controle. Em relação ao gasto mensal na aquisição dos suplementos, verificou-se que estes se encontram numa faixa de valores bem inferior a dos REF, concentrando-se em aproximadamente R$ 20,00.

Conclusão Os dados produzidos neste estudo permitem concluir que o uso de recursos ergogênicos farmacológicos por praticantes de musculação nas academias de Santa Maria, RS é considerado de médio para alto quando comparado às pesquisas consultadas, representando 4,24% da amostra estudada. Entre os recursos ergogênicos farmacológicos mais utilizados, os esteróides anabolizantes androgênicos ganharam destaque, sendo, o Deca-Durabolin, Hemogenin e Durateston, os mais citados. Todos os usuários eram do sexo masculino e, a maioria deles, tinha idade entre 23 e 28 anos, nível de escolaridade superior, renda até 6 salários mínimos e comprometiam entre R$ 136,00 e R$ 248,00 mensais na aquisição dos REF. A estética foi a maior motivação entre os usuários para praticar a musculação. O tempo de treino variou até três anos, sendo a hipertrofia, o principal objetivo. A maior parte dos usuários treinava de quatro a seis dias por semana, em rotinas subdivididas e às vezes incluíam alongamentos à sessão. Melhor desempenho físico foi o motivo que levou os usuários a utilizarem os REF, por vontade própria, adquiridos, principalmente, em farmácias. A administração ocorria nas formas oral e injetável, diariamente, e verificou-se alguns relatos positivos de resultados. Contudo, os usuários de REF admitiram ter conhecimento sobre os efeitos colaterais e não realizarem exames bioquímicos de controle. Euforia, irritação e agressividade foram os efeitos adversos mais assinalados.


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Diante da pouca literatura encontrada sobre o consumo de REF entre os praticantes de exercícios físicos brasileiros, faz-se necessário a realização de outros trabalhos para identificar com maior precisão o consumo destas substâncias pelos freqüentadores de academias de ginástica. Considera-se de suma importância a divulgação das conseqüências do uso de REF e orientação das pessoas diretamente envolvidas na prática esportiva, visto que o consumo deste tipo de substância apresenta-se significativa.

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Revisão Treinamento de força muscular em portadores da síndrome da fibromialgia Muscle strength training in patients with fibromyalgia syndrome Sérgio Siqueira Teotônio*, José Sílvio de Oliveira Barbosa** *Licenciatura Plena em Educação Física e Desportos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, **Orientador, UERJ

Resumo

Abstract

A Síndrome da Fibromialgia (SFM) é uma condição dolorosa generalizada, crônica, não-inflamatória. É considerada síndrome pela razão de englobar uma série de manifestações clínicas, como dor, fadiga, indisposição, distúrbios do sono, entre outras. Apesar de a SFM poder apresentar-se de forma extremamente dolorosa e incapacitante, ela não ocasiona comprometimento articular inflamatório ou restritivo. A dor muscular é uma manifestação muito freqüente na fibromialgia, podendo ser difusa ou acometer preferencialmente algumas regiões, como o pescoço e os ombros. Os exercícios físicos geralmente são incluídos no programa de reabilitação de pacientes com SFM. Apesar de haver muitos estudos examinando o efeito do treinamento aeróbio, relaxamento muscular e alongamentos, o treinamento de força (TF) como meio de tratamento foi pouco estudado. Apenas recentemente, os pesquisadores têm avaliado e incluído o TF em programas de exercício físico para indivíduos com fibromialgia. Assim, o TF vem surgindo como mais uma estratégia de intervenção ou opção de tratamento, no sentido de intervir positivamente no tratamento da SFM, minimizando o quadro miálgico, bem como melhorando a qualidade de vida dos indivíduos por ela afetados.

The Fibromyalgia Syndrome (FMS) is a non-inflammatory chronic pain condition. It is considered a syndrome due to clinical symptoms: musculoskeletal pain, fatigue, tiredness, sleep disturbances and headache. Although FMS maybe extremely painful, there is no inflammatory or restrictive findings. Pain may be diffuse or focused in determined points on the body as neck and shoulders. Physical exercises are included in rehabilitation program for FMS. There are several studies analyzing effects of aerobic training, muscular relaxation, stretching on FMS, but few researches focused on resistance training (RT) as treatment tool for FMS. There are recent studies including RT in physical exercises programs for FMS, so that RT appears as an auxiliary tool for FMS treatment. Exercises are commonly included. Treatment plans must be individualized to respond to the patient’s needs and lifestyle. Several studies show the effect of aerobic treatment, muscular relaxing and extension. Exercise has proven to be beneficial and essential as a natural treatment for fibromyalgia. Strength training as a treatment for fibromyalgia has not been much studied. Nowadays it has been included as another way of treatment and can produce great improvements in overall health.

Palavras-chave: treinamento, força, fibromialgia.

Key-words: training, strength, fibromyalgia.

Recebido em 26 de maio de 2008; aceito em 22 de agosto de 2008. Endereço para correspondência: Sérgio Siqueira Teotônio, Rua Júlio de Castilho, Lt 06, Qd 12, Parque São Judas Tadeu, 25540-330 São João de Meriti RJ


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Introdução A Educação Física vem ampliando seu campo de ação e se especializando em diferentes áreas em função da crescente demanda por atividades preventivas e terapêuticas. A prescrição de exercícios está buscando cada vez mais atender às peculiaridades de cada indivíduo. Para pessoas portadoras de doenças crônicas isso não é diferente. Como veremos mais adiante, diversos estudos vêm sinalizando para a importância da inclusão de exercícios físicos, em suas rotinas de vida, auxiliando a prevenção e ao tratamento. Há uma crescente demanda por estas atividades, ainda mais por possuírem efeitos terapêuticos sobre a dor [1]. Dentre as patologias que apresentam dor crônica, a Síndrome da Fibromialgia (SFM) – ou, simplesmente, fibromialgia – vem despertando cada vez mais interesse de pesquisadores pela necessidade de respostas a diversas questões que continuam parcialmente respondidas e pelo grande número de pessoas que procuram clínicas, ambulatórios, centros esportivos, clubes e academias em busca de exercícios físicos adaptados a suas necessidades. Vale ressaltar o aumento da pesquisa e melhoria da qualidade científica de estudos sobre SFM e exercícios físicos nos últimos 20 anos [2]. Para que possa ser oferecida mais uma variedade de atividade física ao portador de fibromialgia, possibilitando mais um auxílio ao controle de seu quadro clínico e ainda melhorando sua qualidade de vida, buscou-se através desta revisão de literatura, identificar os prováveis benefícios proporcionados pelo treinamento de força, ainda hoje carente de um número maior de publicações sobre sua efetividade, benefícios e mecanismos. Sabendo que a fibromialgia é uma patologia que acomete o músculo esquelético, torna-se necessário saber sobre sua estrutura e funcionamento, como ele se compõe, assim como sobre a síndrome e da possível contribuição do treinamento de força no controle do quadro clínico e melhora da qualidade de vida de seus portadores. Este trabalho divide-se, portanto, em quatro partes: a primeira faz uma descrição da síndrome da fibromialgia; em seguida, uma breve abordagem sobre os aspectos musculares do corpo humano; depois, as possíveis contribuições do treinamento de força para os portadores da síndrome; e por fim, são apresentadas algumas sugestões para prescrição de um programa de treinamento de força. Para o desenvolvimento deste estudo, optou-se pela pesquisa bibliográfica, em função desta demonstrar diferentes metodologias empregadas no treinamento da força muscular em portadores da SFM e seus respectivos resultados, auxiliando para uma futura prescrição de exercícios mais segura e com alguma perspectiva.

A síndrome da fibromialgia Dor difusa não é um sintoma novo. A partir dos anos 70, do século passado, ela passou a ser estudada com maior

interesse. Um grupo específico de pacientes com quadro de dor difusa foi melhor caracterizado clinicamente recebendo então a denominação de Síndrome da Fibromialgia (SFM). Desde então houve grande divulgação desta enfermidade e suas particularidades, assim como das crenças que não apresentavam o menor fundamento. Durante um determinado período houve um questionamento por parte de alguns membros da comunidade médica reumatológica acerca do diagnóstico da SFM, isso, antes do estabelecimento dos critérios de diagnóstico; principalmente pela crença de que tal enfermidade apresentava etiologia psicogênica [3]. Felizmente, essa visão vem decrescendo aceleradamente à medida que clinicamente a fibromialgia tem sido melhor caracterizada e o conhecimento dos possíveis mecanismos envolvidos na sua sintomatologia tem avançado. O reconhecimento das vias aferentes, das vias inibitórias de dor e da ação de neurotransmissores permitiu compreender melhor os mecanismos que controlam o processamento central da dor. Alterações do fluxo sangüíneo cerebral bem como sua atividade metabólica em pacientes com dor crônica corroboram a hipótese da presença de alterações no processamento central da dor e que justificam a alodínea e hiperalgesia observadas nestes pacientes [1]. A musculatura esquelética representa um importante alvo na SFM, pois muitos pacientes relatam ser o local onde sentem maior dor e rigidez [4]. Isso ocorre devido ao fato da dor muscular ser o sintoma principal da síndrome. Por esse motivo, os estudos sobre a musculatura esquelética recebem a atenção de muitos investigadores. Atualmente sabe-se que a fibromialgia é uma forma de reumatismo associada à sensibilidade do indivíduo frente a um estímulo doloroso. O termo reumatismo pode ser justificado pelo fato de a fibromialgia envolver músculos, tendões e ligamentos. O que não quer dizer que acarrete deformidade física ou outros tipos de seqüela [3]. A fibromialgia tem despertado crescente interesse da classe médica em diferentes especialidades, pois suas manifestações vêm associadas geralmente a outras doenças. Portanto, se uma pessoa apresentar queixas de dor muscular por um período maior que três meses consecutivos, aconselha-se que ela procure o seu médico para que o diagnóstico correto seja estabelecido [5]. Uma patologia crônica como a SFM, necessita de uma abordagem multidisciplinar [1]. Portanto, a abordagem atual do indivíduo com SFM baseia-se na associação de terapêuticas medicamentosa, psicológica e de reabilitação física, dependendo da gravidade dos sintomas, das caracterísicas físicas e psicológicas do paciente, da presença ou não de doenças concomitantes e de fatores agravantes. O tratamento da SFM deve objetivar o controle e até mesmo uma possível redução dos sintomas no quadro fibromiálgico. Dentre os resultados identificadores de sucesso no tratamento, pode-se citar a redução da dor, principal característica da síndrome; e a melhoria do sono, sendo que distúrbios do sono são rela-


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tados na maioria dos casos [6]. Assim, o tratamento da SFM ajuda o fibromiálgico a lidar com as tarefas da vida diária de maneira mais eficiente. Após o diagnóstico e a avaliação do médico, bem como a identificação de qualquer doença associada, o próximo passo é estabelecer os objetivos em curto, médio e longo prazo. Segundo Norm e Hanson [7], o objetivo imediato é educar e informar o paciente sobre sua doença, assegurando-lhe que seus sintomas são reais e podem ser controlados. Em seguida a isso, a terapêutica pode ser dividida em nãomedicamentosa e medicamentosa. Na realidade, as duas são aplicadas concomitantemente e se complementam [1]. Apenas 25 a 45% dos pacientes respondem, contudo, ao tratamento com drogas [8]. Após cinco anos, mais de 80% continuam sintomáticos [9]. Sendo assim, a terapia medicamentosa sozinha é insuficiente no tratamento de pacientes fibromiálgicos. As formas de tratamento não medicamentoso atualmente utilizadas são: acupuntura, tratamento cognitivo comportamental, biofeedback (técnica de relaxamento e reeducação corporal na qual o indivíduo monitora sua contração e relaxamento por meio de eletroneuromiografia – EMG) e exercícios físicos [1].

Definição e breve histórico No início do século XX, pessoas que apresentavam dor generalizada e uma série de queixas mal definidas não tinham sua condição tratada como sendo sua patologia a fibromialgia. Por vezes, diagnósticos envolvendo problemas emocionais consideravam tais problemas como fator determinante desse quadro ou então um diagnóstico errôneo estabelecia como “fibrosite”, inflamação das fibras musculares. Isso ocorria, pois se acreditava que houvesse o envolvimento de um processo inflamatório muscular, daí a terminação “ite” [10]. Atualmente sabe-se que as dores difusas – com recorrência durante determinado tempo – não estão somente relacionadas com problemas emocionais ou estresse da vida diária, como é o caso da Síndrome da Fibromialgia [11].

Epidemiologia Com base em pesquisas internacionais, a freqüência da fibromialgia é de 1 a 5% na população em geral [11]. Nos serviços de clínica médica, essa freqüência é em torno de 5%, e nos indivíduos hospitalizados, 7.5%. Em clínicas de reumatologia, por sua vez, essa síndrome é detectada entre 14% dos atendimentos. No Brasil, uma pesquisa feita com as populações de Porto Alegre, Fortaleza e Rio de Janeiro, em 1982, observou que 10% da população total destes estados era portadora de fibromialgia, além de ressaltar a influência de fatores sócio-econômicos [1]. A fibromialgia é mais freqüente no sexo feminino, que corresponde a 80% dos casos [11]. As estimativas de prevalência variam de acordo com os estudos, a população avaliada e a

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metodologia aplicada, mas, de maneira geral, a fibromialgia afeta indivíduos do sexo feminino, entre 80 e 90% dos casos detectados. Cerca de 10 % das mulheres adultas jovens entre 20 e 49 anos são afetadas, sendo que a prevalência tende a se elevar com a idade, alcançando cerca de 23% das mulheres na sétima década de vida [12-14]. Em média, a idade do seu início varia entre 29 e 37 anos, sendo a idade de seu diagnóstico entre 34 e 57 anos, pois em geral tardiamente o paciente consegue encontrar um profissional que lhe dê um diagnóstico preciso. Os sintomas de dor, fadiga e distúrbios do sono tendem a instalar-se lentamente na vida adulta. No entanto, 25% dos casos referem apresentar estes sintomas desde a infância [11].

Manifestações clínicas comumente encontradas A principal queixa dos pacientes com fibromialgia é a dor difusa e crônica, muitas vezes difícil de ser localizada ou caracterizada com precisão [15]. Os distúrbios do sono e a fadiga são relatados por 75% dos casos, fadiga esta que tem início logo ao despertar e duração maior do que uma hora, reaparecendo no meio da tarde. Os pacientes referem, ainda, rigidez matinal e sensação de sono não restaurador, apesar de terem dormido de 8 a 10 horas. O sono é superficial, tendo os pacientes, facilidade de acordar frente a qualquer estímulo, além de apresentar um despertar precoce [6]. Embora os distúrbios do humor estejam presentes em grande parte dos indivíduos com fibromialgia, em pelo menos 25% não se encontra indício algum de distúrbio emocional. Tal dado contraria a origem psíquica da fibromialgia. Sabese hoje que a sensibilidade dolorosa apresenta dois componentes, o discriminativo e o comportamental. Este último sofre influência constante de nosso estado do humor. Esta interação entre o componente comportamental da dor e o estado emotivo nos possibilita entender como os distúrbios do humor influenciam a sensibilidade dolorosa. Cerca de 50% dos pacientes possuem depressão. Ansiedade, alteração do humor e do comportamento, irritabilidade ou outros distúrbios psicológicos acompanham aproximadamente 1/3 destes pacientes, embora o modelo psicopatológico não justifique a presença da fibromialgia [16]. Apesar de a fibromialgia poder apresentar-se de forma extremamente dolorosa e incapacitante, ela não ocasiona comprometimento articular inflamatório ou restritivo [17]. A presença dos pontos dolorosos é um achado importante do exame físico, não se observando edema ou sinovite, a não ser na concomitância de patologias como a osteoartrite ou artrite reumatóide [18]. A fraqueza muscular, o adormecimento e tremor em extremidades, embora referidos por 75% dos pacientes, não são comprovados ao exame neurológico [19]. Outros achados do exame físico incluem o espasmo muscular localizado, referidos como nódulos, a sensibilidade cutânea ao pregueamento (alodinia) ou dermografismo, após compressão local. A sensibilidade ao frio também pode estar


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presente e manifestar-se como “cutis marmorata” em especial nos membros inferiores [20]. A dor muscular, apesar de difusa, pode acometer preferencialmente algumas regiões, como o pescoço e os ombros e então propagar-se para outras áreas do corpo. O indivíduo descreve sua sensação de dor das mais diferentes formas, desde um leve incômodo até uma condição incapacitante. Por vezes relata ardência, dor em pontadas, rigidez, câimbras [21].

bios do sono) poderiam ativar nociceptores e meconoceptores, que ocasionariam excitação na neurotransmissão da dor por meio do Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Simpático (SNS); a dor e a inatividade conduziriam ao descondicionamento do músculo e à fadiga, ficando o músculo mais exposto ao microtrauma. Os distúrbios do sono e outras condições orgânicas ou psicológicas poderiam agravar o microtrauma muscular.

Possíveis fatores desencadeantes

Diagnóstico

A fibromialgia está relacionada à interação de fatores genéticos, neuroendócrinos, psicológicos e distúrbios do sono [22]. Frente a processos dolorosos, a esforços repetitivos, à artrite crônica, a situações estressantes como cirurgias ou traumas, processos infecciosos, condições psicológicas e até retirada de medicações, como corticosteróides, pode haver alterações nos mecanismos de percepção da dor, predispondo o indivíduo à fibromialgia [24,25]. Assim sendo, uma infecção, um episódio de gripe ou um acidente de carro pode estimular o aparecimento dessa síndrome. Por outro lado, os sintomas de fibromialgia podem provocar alterações no humor e diminuição da atividade física, o que agrava a condição de dor. Pode-se observar, portanto, uma “via de mão dupla” nesta doença [11]. Não se pode afirmar que a fibromialgia seja uma condição psiquiátrica primária, porém fatores psicológicos apresentam atuação importante em alguns pacientes [26,27]. Parece que os distúrbios psicológicos como a ansiedade, depressão e estresse atuam como fatores de retro-alimentação positiva à condição dolorosa crônica em portadores da SFM [24]. Doenças crônicas, como as artropatias inflamatórias, devem, muitas vezes, ser encaradas dentro de um contexto biopsicossocial, uma vez que não existe um processo biológico único envolvido em sua origem, no entanto, evidências de lesão tecidual estão presentes. O termo “síndromes disfuncionais” foi proposto por Yunus [24] para melhor compreender os mecanismos biofisiológicos envolvidos em síndromes crônicas nas quais não se detecta lesão tecidual. Pela denominação “mecanismos biofisiológicos”, entende-se a natureza de uma determinada entidade clínica, suas causas, processos e conseqüências. Este modelo integrado é o que melhor se aplica ao estudo da fibromialgia. Uma idéia bastante razoável sugerida por Feldman [28], para explicar como o músculo esquelético é afetado pela SFM, engloba, entre outros fatores, a microcirculação muscular e o microtrauma repetitivo do músculo. Fatores preexistentes (alterações nos receptores de serotonina, endorfina) e fatores precipitantes (trauma repetitivo, descondicionamento, distúr-

Estudos demonstram que a definição do diagnóstico bem como a melhor compreensão por parte do paciente sobre a natureza da sua doença contribuem para aliviar seu “comportamento doentio”, aliviar sua sintomatologia complexa e conseqüentemente reduzir sua procura por serviços médicos diminuindo os gastos com a saúde. Estes pacientes adquirem melhores condições de enfrentamento de situações adversas apresentando uma evolução mais favorável [29]. Como não existem exames complementares que por si só confirmem o diagnóstico, a experiência clínica do profissional que avalia o indivíduo com fibromialgia é fundamental para o sucesso do diagnóstico e do tratamento. Porém, é importante ressaltar que a boa descrição dos sintomas – em detalhes – e da duração dos mesmos são fatores também determinantes para um diagnóstico efetivo [30]. Há pesquisas que indicam, ainda, que o portador da SFM pode apresentar problemas cardiorrespiratórios [31]. Em 1990 foram elaborados critérios diagnósticos que, embora sejam atualmente criticados, ainda são muito utilizados, sobretudo em estudos de pesquisa clínica. Esses critérios auxiliam no diagnóstico dessa síndrome, diferenciando-a de outras condições que acarretem dor muscular ou óssea. Eles valorizam a questão da dor difusa por um período maior que três meses e a presença de pontos dolorosos padronizados [3235]. Esses pontos são considerados presentes quando, ao serem pressionados pelo médico a uma certa intensidade (4 kgf de pressão máxima), o indivíduo refere dor [36]. A presença de sensibilidade dolorosa em determinados sítios anatômicos, é um achado clínico importante e são chamados de “tender points” [37] ou “pontos dolorosos”. Faz-se importante ressaltar que os “pontos dolorosos” não são geralmente conhecidos pelos pacientes, e normalmente não se situam na zona central de dor por eles referida. Os critérios de resposta dolorosa em pelo menos 11 desses 18 pontos é recomendado como proposta de classificação, mas não deve ser considerado como essencial para o diagnóstico. Alguns pacientes com menos de 11 sítios dolorosos podem ser classificados como portadores de fibromialgia [38].


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Figura 1 - “Tender Points” ou “Pontos Dolorosos”.

Desde 1990 esses critérios estabelecidos pelo Colégio Americano de Reumatologia (ACR) são adotados internacionalmente para o diagnóstico da fibromialgia [39].

Fatores moduladores As manifestações de dor podem variar de acordo com o horário do dia, intensidade dos esforços físicos realizados, condições climáticas, aspectos emocionais e ligados ao padrão do sono [40]. Os principais fatores geradores e também moduladores são: estresse emocional, processos infecciosos (principalmente virais) e traumas físicos (DORT, cervicalgia pós-acidente, cirurgias de grande porte). As situações de estresse, falta de condicionamento físico e a reação psicológica às doenças poderiam atuar como amplificadores nociceptivos e perpetuadores dos sintomas dessa síndrome [1].

A dor Devido ao fato de a dor muscular ser o sintoma principal desta condição, os estudos do músculo tem recebido atenção de muitos investigadores. Durante os últimos anos, os estudos controlados, comparando a estrutura e a função muscular desses pacientes, apresentaram resultados controversos. Os achados histológicos nesses pacientes, tanto por microscopia ótica como por microscopia eletrônica, têm se mostrado normais ou com alterações estruturais não-específicas, que também são encontradas nos pacientes-controle [41-44]. A isquemia ou o distúrbio metabólico parece exercer influência, pelo menos nos sítios denominados “tender points”, pois os estudos do metabolismo muscular concluíram que existem anormalidades de oxigenação nesses pontos musculares [45,46]. Contudo, não foi provado ainda se tal anormalidade seria uma alteração primária do músculo, ou

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seria secundário ao descondicionamento físico aeróbio desses indivíduos, uma vez que cerca de 80% dos fibromiálgicos apresentam níveis abaixo da média nos estudos de condicionamento aeróbio [47]. Uma antiga hipótese sobre a possibilidade de que “a hipóxia produziria espasmo muscular e isquemia, que conseqüentemente aumentaria a dor causando mais espasmos, e assim formaria um ciclo vicioso”, não se sustentou pela falta de evidência eletrofisiológica de espasmo muscular nestes pacientes [43]. A força e o desempenho muscular de pacientes portadores de SFM são comparáveis aos das pessoas normais [48,49]. Porém, existe uma diminuição da contração voluntária máxima (provavelmente pela falta de esforço voluntário) e, em alguns casos, uma diminuição na capacidade de relaxamento durante os intervalos de contração muscular dinâmica [43,50,51]. Trabalhos recentes aplicando a técnica de espectroscopia por ressonância magnética nuclear utilizando fósforo (P31), no intuito de estudar o metabolismo muscular na fibromialgia, não conseguiram demonstrar anormalidades, tanto nos “tender points” como em sítios não-dolorosos [52,53]. Os estudos de fluxo sangüíneo muscular demonstram alterações que podem ser justificadas apenas pelo descondicionamento físico [47]. Outra hipótese sugere que a origem da dor nesta síndrome seria por tensão muscular excessiva, que conduziria a uma excitabilidade elevada de seus nociceptores, ocasionando um aumento no tônus muscular, juntamente com uma disfunção simpática que levaria a um distúrbio na microcirculação e, novamente, a uma excitação de nociceptores [54]. Entretanto, estudos de eletroneuromiografia não demonstraram tensão muscular excessiva ou qualquer disfunção nervosa simpática [55-59]. Há também hipótese bastante razoável, em que são consideradas alterações centrais (sistema nervoso central) e periféricas (musculatura) na fibromialgia, que engloba, dentre outros fatores, a microcirculação muscular e o microtrauma repetitivo no músculo. Fatores genéticos (alterações nos receptores de serotonina, endorfina) e fatores precipitantes (trauma repetitivo, descondicionamento, distúrbios do sono) poderiam levar os nociceptores e mecanoceptores, que ocasionariam excitação na neurotransmissão da dor através SNC e do sistema nervoso simpático, a dor e a inatividade, que conduziriam ao descondicionamento do músculo e a fadiga, ficando o músculo mais exposto ao microtrauma. Os distúrbios do sono e outras condições orgânicas ou psicológicas poderiam agravar o microtrauma muscular [47]. Como se percebe, então, essa hipótese envolve também fatores centrais, como o estado psicológico ou as alterações nos neurotransmissores. Yunus [60] propõe um modelo de fisiopatologia que integram muitas das idéias publicadas e que sugere que o distúrbio primário na fibromialgia seria uma alteração em algum mecanismo central de controle da dor, o qual poderia resultar de uma disfunção de neurotransmissores.


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Tal disfunção neuro-hormonal incluiria uma deficiência de neurotransmissores inibitórios em níveis espinhais ou supraespinhas (serotonina, encefalina, norepinefrina e outros), ou uma hiperatividade de neurotransmissores excitatórios (substâncias P, glutamato, bradimicina e outros peptídeos), ou ainda ambas as condições poderiam ser geneticamente predeterminadas e talvez desencadeadas por algum estresse não-específico como, por exemplo, uma infecção viral, estresse mental ou trauma físico. Uma excelente revisão foi publicada discutindo as anormalidades do eixo hipófise-hipotálamo-adrenal e o sistema nervoso simpático, que são os principais sistemas de resposta ao estresse, e suas interações com outras disfunções neuro-hormonais, e que podem todas contribuir para essa síndrome dolorosa crônica. Neste trabalho, sugere-se que a vulnerabilidade ao desenvolvimento de fibromialgia possa ser influenciada por fatores genéticos, ambientais e hormonais, causando alterações nos receptores neuro-hormonais; algum fator estressante agudo poderia desencadear o desenvolvimento de perturbação do eixo hipófise-hipotálamo-adrenal por mecanismos ainda não esclarecidos, mas que poderia envolver o sistema nervoso simpático e o sistema serotoninérgico. Talvez, então, o eixo hipófise-hipotálamo-adrenal possa desempenhar um papel na mediação e na perpetuação dos sintomas da síndrome da fibromialgia [61]. Evidências de anormalidades centrais e neuro-hormonais têm sido declaradas desde os primeiros estudos de polisonografia em fibromialgia que reportaram um padrão anormal de instrução de ondas alfa durante os estágios 2, 3 e 4 do sono não-REM, conhecido como traçado “alfa no delta” [6,62]. Esse achado corresponde a um aumento da tonicidade muscular global, a um aumento na freqüência respiratória e ao aparecimento de mioclonias. Convém lembrar que esses achados não são exclusivos da fibromialgia, podendo ocorrer na síndrome da fadiga crônica, na artrite reumatóide, na depressão e em outras condições ou, até mesmo, em pessoas saudáveis. Apesar da incerteza quanto à causa dos distúrbios do sono na fibromialgia, sabe-se que alterações nos neuro-hormônios modulares da dor exercem influência na fisiologia do sono e nos sintomas desta síndrome. A deficiência de serotonina, um neuro-hormônio inibitório da dor, pode contribuir para as anomalias do sono, depressão e amplificação da dor [63]. A liberação de sustância-P, um neuro-hormônio excitatório, é influenciada pela deficiência de serotonina, seja no sistema nervoso central, seja no sistema nervoso periférico e pode causar um aumento na percepção da dor [63]. Alguns acreditam que o triptofano, um precursor da serotonina e também um neuromodulador, e outros nove aminoácidos teriam sua concentração plasmática diminuída na fibromialgia e ainda, que existiria uma maior afinidade na

ligação de imipramina aos receptores serotonérgicos plaquetários nesses pacientes [34]. Pesquisas também evidenciaram uma diminuição dos níveis de triptofano e de outros aminoácidos, e um aumento da concentração de substância-P, endorfinas e ácido 5-hidroxi-indolacético no sangue e no líquor de portadores de fibromialgia [33,34,60,63]. Em contraste com os estudos dos neuropeptídios moduladores da dor, pouca atenção foi dada a investigação das estruturas do SNC que estão envolvidas na percepção da dor. Os primeiros estudos neste sentido empregaram a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), no sentido de estudar fluxo sanguíneo cerebral. Em um deles constatou-se uma diminuição significativa do fluxo sanguíneo nas regiões bilaterais do tálamo e do núcleo caudado cerebral dos portadores da fibromialgia quando comparados com indivíduos saudáveis [64]. Esses achados trazem implicações importantes, uma vez que o tálamo exerce papel essencial na integração dos sinais da dor e nas gerações de sinais que regulam o eixo hipófise-hipotálamo-adrenal e, por sua vez, o núcleo caudado também está envolvido na percepção da dor, pois se demonstrou que uma quantidade expressiva de neurônios nociceptores específicos estão sitiados no núcleo caudado [65]. Em outro estudo, os resultados mostraram uma média normal de fluxo sangüíneo local e demonstrou reduções principalmente em áreas frontais, e também em regiões temporais, centrais e/ou parietais do córtex cerebral, sendo algumas de envolvimento bilateral [66]. Este trabalho pode ser interpretado como uma possibilidade da fibromialgia estar correlacionada com os distúrbios discretos, primários e/ou secundários, da função cerebral e com uma acentuação da disfunção em regiões corticais frontais. Ambos os estudos sustentam a hipótese de que a anormalidade de percepção da dor, que ocorre na fibromilagia, possa ser o resultado de um distúrbio funcional em estruturas cerebrais. As mais diversas anormalidades têm sido observadas nos portadores dessa síndrome músculo-esquelética crônica. Dentre elas as mais importantes são a substância-P elevada no líquor, a serotonina reduzida nas plaquetas; um nível baixo de triptofano e de adenosina e um metabolismo anormal de carboidratos nas hemácias; regulação da produção de cortisol; e diminuição de fluxo a sangüíneo em determinadas estruturas cerebrais [66]. Nenhumas dessas disfunções são específicas, portanto não devem ser empregadas para fins diagnósticos. Contudo, elas vêm possibilitando um melhor discernimento desta moléstia e conduzindo as diferentes atitudes terapêuticas em relação a seus portadores. A figura a seguir é proposta como um esquema resumido da hipótese neuro-hormonal da fisiopatologia da fibromialgia adaptada por Crofford e Demitrack.


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Figura 2 - Esquema resumido da hipótese neuro-hormonal da fisiopatologia da fibromialgia – adaptado de Crofford e Demitrack [1].

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venções não-farmacológicas [2]; apenas 5 foram encontrados analisando treino de força isoladamente. Apesar das evidências relatadas em estudos científicos demonstrarem um efeito benéfico do trabalho de força, ainda são necessários estudos que aprofundem os conhecimentos sobre os verdadeiros mecanismos que podem estar gerando esses efeitos positivos, assim como o estabelecimento de dose-resposta (freqüência, intensidade e volume) adequada e os efeitos crônicos. Com isso, são necessárias pesquisas com uma amostra maior, que possa comprovar a efetividade do treinamento de força. Tudo isso dará um maior embasamento teórico à prática dessa atividade.

Treinamento da força muscular na síndrome da fibromialgia

Exercícios e a fibromialgia Um dos primeiros investigadores a observar a relação entre dor e exercício foi Moldofsky [6]. Este estudo demonstrou que a privação do sono diminui o limiar de dor em sedentários, mas o mesmo não acontece em indivíduos treinados. Apenas uma década mais tarde, ensaios clínicos foram publicados demonstrando que exercícios aeróbios e o treinamento de força contribuem na diminuição da dor na fibromialgia [3,35,67]. Tendo referência no quadro apresentado, obtemos um somatório de resultados que ajudam a perceber o quanto pode o treinamento de força vir a contribuir na melhoria do quadro da SFM, pois foram encontradas melhora na força muscular; no quadro de depressão; uma melhora significativa da força muscular, sem aumento do quadro de dor proporcionado pela síndrome; e ainda, possivelmente ser responsável por melhoria do quadro clínico. De acordo com o levantamento bibliográfico, consultando artigos de periódicos nacionais, internacionais e eletrônicos no sistema Medline e Scielo e livros recentemente publicados, foram publicados nos últimos 20 anos: 30 ensaios clínicos sobre exercício físico no tratamento da fibromialgia, incluindo aproximadamente 1500 indivíduos: 12 avaliaram o condicionamento aeróbio; 10 estudaram programas combinados ou associados ao tratamento medicamentoso ou outras inter-

Poucos estudos, com amostras pequenas, têm sido publicados sobre o fortalecimento muscular na fibromialgia. Estes demonstraram que o treino de força promove um conjunto maior de benefícios comparado com o treino de flexibilidade [69,71]. Além disso, estudos comprovam que o treinamento de força é seguro, não aumentando os sintomas de dor e nem provocando lesão, quando bem dirigido [71,72]. Mais estudos com relação ao treinamento de força são necessários, para haver maior garantia de sua seguridade e de seus benefícios à qualidade de vida [35,55]. Pacientes com SFM parecem necessitar de um período maior e mais esforço pessoal para adaptação a um programa de exercício. Por isso a progressão da carga deve ser mais lenta que o habitual. Além disso, alguns autores notaram que alguns pacientes podem até piorar nas primeiras 8 semanas de atividade física [76]. Este fato pode explicar porque ensaios de curta duração não demonstraram nenhuma melhora na qualidade de vida, enquanto, programas mais longos, com mais de 15 semanas, conseguiram observar melhora em vários aspectos, inclusive qualidade de vida. Um estudo piloto feito por Rooks et al. [72], em que se treinaram exercícios de força e aeróbios em portadores da SFM, observou melhoria geral de força e dos sintomas da SFM, sem ocorrência de lesões, e o que é destacado como mais importante: integração social, companheirismo, diversão também são alcançados durante o treinamento de força, além de todos os benefícios físicos adquiridos. Também foi observado que, com estímulo apropriado, a força pode ser desenvolvida, trabalhando-se com intensidades baixas inicialmente. Posteriormente, poderá ocorrer aumento gradual da carga (intensidade) de trabalho, com a garantia de poderem retornar a valores mais baixos caso não se adaptassem. Enfim, tal opção ficou por conta das próprias participantes. Esta estratégia deu segurança aos participantes e acredita-se que foi responsável pelos resultados obtidos. Acredita-se ainda que o excesso de cautela na determinação das intensidades em estudos anteriores, como a utilização de pesos inferiores àqueles que poderiam ser trabalhados para prevenir lesão


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Tabela I - Principais estudos encontrados envolvendo treinamento de força e portadores da SFM Autor Martin et al. [68]

Häkkinen et al. [69]

Jones et al. [70]

Geel et al. [71]

Rooks et al. [72] Häkkinen et al. [73]

Valkeinen et al. [74] Kingsley et al [75]

Exercício

Freqüência

Intensidade

A = 3x semana A = exercício aeróbico, força 6 semanas e flexibilidade B = 1x semana 60-80% FCmáx. B = relaxamento 6 semanas A = Treinamento de força B = Controle (sem treinamento) C = Indivíduos Saudáveis (com treinamento) A = fortalecimento progressivo B = flexibilidade estática A = musculação B = controle (sem treinamento) Treinamento de força e exercício aeróbio A = treinamento de força B = controle (sem treinamento) C = Indivíduos saudáveis (com treinamento) A = musculação B = controle (sem treinamento) A = Treinamento de força B = Controle (sem treinamento)

Sujeitos Resultados A = 18 B = 20

Melhora significativa nos pontos de dor, escore de mialgia e condicionamento aeróbio do grupo A.

A = 11 B = 10 C = 12

Melhora da força muscular e do quadro de depressão em A comparado a B.

2x semana 21 semanas

Cargas crescentes

12 semanas

0,5 a 1,5 kg

A = 28 B = 28

Melhora significativa da força 2x mais em A comparado a B, sem aumento da dor.

2x semana 8 semanas

60-70% de 1RM

A = 10 B=6

Redução dos sintomas clínicos e melhoria da força muscular.

Cargas progressivas

N = 15

Treinamento de força é seguro.

21 semanas

Cargas crescentes

A = 11 B = 10 C = 12

Magnitude e o tempo de curso de adaptação neromuscular compatíveis entre os grupos A e C.

2x semana 21 semanas

Cargas progressivas

A = 13 B = 11

Aumento de 33% na força de extensão de perna e de 13% na flexão no grupo A em relação a B.

2x semana 12 semanas

40-80% 1 RM

A =15 B =14

Melhoria da força e do quadro clínico.

20 semanas

durante o estudo, foi responsável pela não ocorrência de alterações fisiológicas. Chegou-se a conclusão que o treinamento de força pode ser seguro, viável e benéfico para portadores de SFM e que mulheres com esta síndrome podem executar exercícios submáximos a uma intensidade suficiente para estimular adaptações fisiológicas na força muscular, sendo a aderência e a progressão do exercício fatores fundamentais para este processo. Os resultados obtidos sugerem a inclusão do treinamento de força nos programas de exercícios voltados aos portadores de SFM. Outro estudo realizado por King et al. [77] foi de grande importância para a constatação de como pode ser benéfico o treinamento de força para melhoria do quadro da SFM. Em um estudo randomizado, com treinamento de força isolado e uma baixa evasão (9%), concluiu-se que mulheres com SFM podem participar de um programa de treinamento de força especialmente delineado e obterem uma melhoria geral em seu quadro clínico, sem exacerbação dos sintomas por conta dos exercícios e sem aumento na utilização de medicamentos. Existem pesquisas que compararam a força de mulheres com fibromialgia e mulheres saudáveis e verificou-se que, em ambas,

o sistema neuromuscular possui a mesma capacidade para se exercitar, mostrando também que este treino trouxe resultados positivos no tratamento dos sintomas da síndrome [28].

Programa de treinamento para portadores de fibromialgia Antes de iniciar um programa de exercícios é importante realizar uma avaliação funcional e cardiovascular para identificar condições que possam interferir no desempenho e na resposta ao exercício ou oferecer risco como doença coronariana e hipotensão postural. As co-morbidades musculoesqueléticas podem limitar o treinamento e devem ser tratadas previamente [32]. A anamnese também deve conter informações da história pregressa de hábito de atividade física – freqüência, modalidade, preferência, tolerância e comportamento familiar em relação ao exercício. Estas informações ajudam a individualizar a prescrição e aumentar a adesão [2]. A prescrição do exercício deve detalhar orientações sobre a intensidade inicial do treino e como aumentar progressiva-


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mente a carga. Para adequada prescrição individual é importante considerar as preferências do indivíduo, co-morbidades, uso de medicamentos e capacidade funcional [79]. Estudos que buscam identificar os benefícios trazidos pelo treinamento de força no controle da fibromialgia, utilizando o alongamento como intervenção-controle, deveriam procurar um método menos questionável, pois foi observada alguma melhora na utilização de alongamento para o controle do quadro fibromiálgico [24]. A sugestão aqui oferecida sobre o programa de treinamento levou em consideração alguns aspectos do posicionamento oficial do American College of Sports Medicine [37] sobre o treinamento de força, para adultos saudáveis. Foram feitas algumas adaptações para a população com fibromialgia [1]: Freqüência das sessões de musculação: duas a três vezes por semana para alunos iniciantes, ou seja, para aqueles que nunca tiveram contato com exercícios físicos ou há muito tempo não os pratica; e de quatro a cinco vezes por semana para alunos que já tenham completado a fase de adaptação ou já vêm vindo de uma prática de atividade física recente, isto é, não iniciantes. Intensidade: evitar cargas excessivas. Iniciar com um trabalho muscular em torno de 40 a 60% da carga máxima (1 RM) ou da carga que possibilite o aluno a executar o número limite de repetições prescritas, ou seja, um treinamento de resistência muscular localizada. Volume: evitar grande número de repetições e séries extensas. Usar entre 10 a 15 repetições, com uma a três séries por exercício. O número de exercícios deve ser reduzido e devem ser usados exercícios, principalmente, para os grandes grupos musculares no princípio (cinco). A quantidade de exercícios deverá aumentar conforme a resposta fisiológica de cada aluno, com o desenvolvimento da força muscular e melhoria de seu quadro clínico. Seqüência dos exercícios: colocar primeiro os grupos musculares maiores e depois os menores, e priorizar os exercícios multiarticulares e depois os mono articulares. Velocidade de contração moderada: 1-2 segundos na fase concêntrica e 1-2 segundos na fase excêntrica (lembre-se: não enfatize a fase excêntrica). Intervalo: usar intervalos de descanso entre 60 a 120 segundos. Tipos de exercícios contra-indicados: Microlesões em fibras musculares foram observados após treinamento excêntrico e com pré-estiramento. Cabe ressaltar que a recuperação do dano causado nas fibras musculares durante o treinamento não segue o mesmo padrão temporal da dor pós-exercício - “dor tardia” - sentida por quem praticou a atividade: as fibras se recuperam, mas a dor ainda se encontra presente. Provavelmente, o dano da fibra muscular em si pode não ser a única causa da dor pós-exercício; outros fatores, tais como edema, inchaço ou inflamação, causados conjuntamente, poderão também estar relacionados [78]. Assim, exercícios com componente excêntrico elevado e exercícios com pré-

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estiramento devem ser evitados para se evitar que, somado ao quadro de dor da SFM, acabe também por acarretar a “dor tardia” devido a estes tipos de exercícios, como descrito anteriormente. Progressão: aumentar o peso, gradativamente, entre 2 a 10% quando o aluno conseguir executar uma ou duas repetições a mais do que o número de repetições prescrito. Respiração: usar a respiração de forma natural ou passiva eletiva (expira na fase concêntrica e inspira na fase excêntrica). Material: elástico ou garrote (reduz o efeito da fase excêntrica), pesos livres, máquinas de musculação de resistência variável. O profissional que for ministrar o treinamento de força para portadores da SFM deve providenciar sua integração em uma equipe multidisciplinar: mantendo contato com médicos (reumatologista, endocrinologista), psicólogo, fisioterapeuta, massagista, acupunturista etc. É importante a troca de informações entre especialistas da área da saúde ou áreas afins, pois a SFM é uma patologia muito complexa e única em cada indivíduo, o que torna muito difícil o estabelecimento de uma única forma de tratamento. Monte, se possível, uma aula específica para um grupo com indivíduos portadores de SFM: a participação em grupo ajuda a encorajar, pois o sucesso de um contagia e motiva os demais. Lembre-se de que estes indivíduos sentem dor mesmo quando estão parados, então, a tendência é que, cada vez mais, eles diminuam seu nível de atividade física. Isso ocorre porque imaginam que a dor pode aumentar se fizerem esforço físico, quando na realidade, acontece o contrário; o baixo condicionamento físico pode agravar ainda mais os sintomas da SFM. Portanto, seu papel é estimulá-los. O programa deve incluir educação sobre a SFM: esclarecimentos sobre a doença irão ajudar seu aluno a compreender melhor suas limitações e possibilidades. O indivíduo precisa se sentir seguro e confiante. Monte um ciclo de palestras em sua academia com especialistas no assunto a fim de enriquecer seu trabalho e para que os alunos possam esclarecer as dúvidas. Isso ajudará e estimulará os bons resultados. Avaliação: primeiramente, seu aluno deve ser avaliado e diagnosticado pelo médico. O médico irá verificar, também, se o indivíduo não tem nenhuma outra patologia associada, que geralmente irá influenciar a gravidade dos sintomas da SFM. Após a liberação médica para a prática de exercícios físicos, o profissional de Educação Física, atento às avaliações e diagnósticos médico, deverá fazer uma anamnese de seu aluno portador da SFM, a fim de obter informações sobre seu nível de atividade física, sua experiência motora anterior e suas expectativas. O educador físico poderá pedir auxílio aos médicos ou psicólogos quanto à aplicação de questionários específicos para SFM, que possam complementar sua avaliação dos resultados com os indivíduos. Exemplos são Arthritis Impact Measurement (AIMS) e o Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ), que é o mais usado no Brasil, avaliados


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como válidos em uma população com SFM, ou mesmo o Short-Form Health Survey (SF-36), instrumento genérico que avalia a incapacidade física e para o trabalho. Estabelecer os objetivos de seu programa: informar aos portadores da SFM que o tratamento que irá propor é mais paliativo, ou seja, tem como objetivo maior o de amenizar seu quadro clínico, e não de provocar um desaparecimento por completo dos sintomas, pois ainda não há cura para a SFM. É importante estabelecer objetivos em curto, médio e longo prazos. Dentre os principais objetivos do programa de treinamento estão a redução do quadro miálgico, a melhora do sono e da capacidade funcional, o reforço muscular, o aumento da resistência aeróbia e o alívio do estresse.

Conclusão O treinamento de força (TF) foi pouco pesquisado em portadores da Síndrome da Fibromialgia (SFM). Apenas recentemente o TF tem sido reconhecido como um recurso para promover saúde e melhoria da qualidade de vida em pessoas acometidas por doenças crônicas, porém ainda são poucos os estudos que buscaram obter seus efeitos em portadores da SFM, além disso, as amostras estudadas foram pequenas e o tempo de intervenção curto. Portanto, há necessidade de um número maior de estudos sobre a eficácia e efetividade, os benefícios e mecanismos do treinamento de força para portadores de fibromialgia, assim como estudos com maiores amostras, maior tempo de intervenção, e entre outras, questões metodológicas que possam interferir nas evidências produzidas. Pesquisas com relação à aplicação dos princípios do treinamento tornam-se necessárias, para maior seguridade no ato da prescrição dos exercícios. Tendo em vista que é uma síndrome que acomete grande porcentagem da população nacional, precisa ser mais divulgada nos meios acadêmicos, para que haja maior número de profissionais preparados para atender a demanda. Todavia, a literatura existente informa que o treinamento de força pode ser recomendado e utilizado, pois é eficaz e parece não acarretar lesão para os portadores da Síndrome da Fibromialgia (SFM), quando bem direcionado.

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Revisão Estudo sobre os fatores geradores de fadiga muscular A study about the factors involved in muscle fatigue Daniela Silva Scalon*, Vanessa Rodrigues Figueiredo*, Dernival Bertoncello, Ft., D.Sc.** *Acadêmicas do curso de Fisioterapia da Universidade de Uberaba, **Docente responsável pelo Laboratório de Bioengenharia e disciplina de Ciências Fisiológicas da Universidade de Uberaba, Uberaba – MG

Resumo

Abstract

A fadiga é um processo fisiológico em que ocorre depleção das reservas energéticas associada ao acúmulo de catabólitos no organismo ou a outros fatores. Isto dificulta a continuação da atividade física, podendo provocar até incapacidade temporária para o exercício e/ou para o desempenho psicológico do indivíduo. Pode ser encarada como um elemento importante ou até mesmo essencial do estímulo global para os músculos aprimorarem sua força ou fazerem outras adaptações estruturais e metabólicas. A fadiga parece preceder uma lesão funcionando como mecanismo de proteção para evitar o esgotamento total das reservas físicas. Este estudo teve o objetivo de avaliar os fatores geradores de fadiga muscular, procurando identificar aqueles que envolvem aspectos clínicos. Para isso, foram realizadas buscas em bases de dados que contemplam periódicos científicos, como Medline, Pubmed e Lilacs. O período tomado como base para coleta de artigos científicos foi dos últimos 10 anos. A pesquisa também tomou como base livros e textos de caráter didático relacionados ao tema. Conclui-se com esta pesquisa quais os principais agentes metabólicos que levam à fadiga, seja ela de origem central ou periférica. Procurou-se elucidar a função deste processo não como falha do organismo, mas sim como agente protetor de lesões.

Fatigue is a physiological process in which there is a depletion of energy reserves related to the accumulation of catabolites in the organism or to other factors. It makes it hard to continue the physical activity and it can even cause temporary incapacity to physical exercise and/or psychological performance. It can be considered as an important or even an essential factor to global stimulus in order to make muscles gain strength and make structural and metabolic adaptations. Fatigue seems to be a lesion working as a mechanism of protection to avoid the total debility of physical reserves. This study aims at evaluating the factors responsible for muscular fatigue, trying to identify those which involve clinical aspects. To accomplish it, our research database included data from scientific publications, such as Medline, Pubmed and Lilacs. The articles consulted were published within ten years. The research was also based on textbooks related to the subject. This research points the main metabolic agents that lead to central or peripheral fatigue. We tried to elucidate the function of this process not as a failure of the organism, but as a protecting agent against muscular damage. Key-words: muscle fatigue, muscle damage, central fatigue, peripheral fatigue.

Palavras-chave: fadiga muscular, lesões musculares, fadiga central, fadiga periférica.

Recebido em 12 de janeiro de 2008; aceito em 20 de agosto de 2008. Endereço para correspondência: Daniela Silva Scalon, Rua Silva Jardim, 358, 38190-000 Sacramento MG, E-mail: daniscalon@ yahoo.com.br


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Introdução Na fisiologia do exercício a fadiga muscular tem se destacado como um dos temas mais estudados [1]. Durante este processo, ocorre esgotamento das reservas energéticas e redução da atividade enzimática, os quais provocam o acúmulo de catabólitos e leva a distúrbios hídricos, alterações nas trocas eletrolíticas, na coordenação (inter e intramuscular), na percepção sensorial, além de diminuição na produção do neurotransmissor presente no neurônio motor somático [2]. Dentre os fatores geradores desse processo, estão a movimentação de íons potássio (K+), sódio (Na+), cloro (Cl-), magnésio (Mg++) em suas atividades intra e extracelulares; modificações de pH, temperatura e do fluxo sangüíneo, além de resultados metabólicos da hidrólise, como a adenosina monofostato (AMP), adenosina difosfato (ADP), inosina monofosfato (IMP), fosfato inorgânico (Pi) e amônia; lesão muscular, destacando aquela ocorrida por exercício predominantemente em contrações excêntricas; também, o stress oxidativo ou a perda da homeostasia do íons cálcio (Ca++) [1,3]. Da mesma forma, ocorre queda na produção hormonal, em especial de corticóides e adrenalina e acúmulo ou falta de acetilcolina nas sinapses, essenciais para realização da atividade física [4]. Essas modificações fisiológicas fazem com que haja queda da capacidade de desempenho físico e/ou psicológico; ainda assim sendo possível a manutenção da carga mesmo que isto custe maior gasto energético. Podem surgir distúrbios na atenção, na concentração e no pensamento em conjunto com atenuação de vontade e aumento do tempo de reação [3-8]. Até 1977, Guyton [9] definia a fadiga como um processo com origem apenas sobre a depleção de ATP nas fibras musculares, de modo que o trabalho nervoso continuaria a funcionar – os impulsos nervosos seriam transmitidos, normalmente, da junção neuromuscular para a fibra muscular e os potenciais de ação naturalmente se propagariam pelo músculo. Em conceito mais atual, Pires e Grosso [10] conceituaram a fadiga como falência da propagação do potencial de ação e do acoplamento do sistema de contração-relaxamento. Pode-se encontrar esse resultado através da eletroestimulação neuromuscular de baixa e média freqüência. É mais apropriado conceituar a fadiga como um mecanismo protetor da vida por prevenir o início de aumento de força muscular irresponsável e suas conseqüentes e numerosas lesões desportivas, além de proteger os processos de recuperações subseqüentes [8,11]. Os dois principais processos implicados no surgimento do fenômeno da fadiga, que são constituídos da transmissão do sinal nervoso e da cadeia energética metabólica, interagem fortemente e se sobrepõem constantemente, constituindo em tal modo, seja singular ou sinergicamente, a causa desencadeante deste fenômeno [12]. Outro fator relacionado à fadiga é a emoção intensa que acompanha competições importantes, pois são capazes de

desencadear os fatores psicológicos e emocionais que devem ser considerados tanto na análise da estrutura quanto na metodologia do desenvolvimento da resistência à fadiga [13]. A fadiga muscular pode acontecer em quase todos os exercícios físicos, sejam eles realizados por indivíduos sadios ou por indivíduos debilitados. O presente estudo procurou oferecer embasamento teórico sobre os fatores desencadeadores de fadiga, os quais poderão contribuir para outros trabalhos e para melhores avaliações de pacientes e atletas. Assim, este estudo teve o objetivo de identificar os fatores geradores de fadiga muscular procurando relacionar aqueles que envolvem aspectos práticos.

Material e métodos Foram utilizados neste estudo buscas em bases de dados, que contemplam periódicos científicos, como Medline e Bireme, usando as combinações de palavras: fadiga muscular (muscle fatigue), fadiga física (physical fatigue), exercícios e fadiga (fatigue and exercise) Os artigos selecionados foram os compreendidos no período de 1994-2006, com destaque aos nacionais. A partir dessas informações, foi elaborado um texto de revisão no qual foram discutidos os aspectos da fadiga muscular periférica, fadiga central e os instrumentos de avaliação da fadiga.

Fatores determinantes do processo de fadiga Ascensão et al. [1] citam que a ocorrência de fadiga pode ser influenciada pela idade, sexo e pela prevalência dos padrões de ativação e coativação de alguns grupos musculares. O sistema neuromuscular possui características importantes como a capacidade de adaptação crônica de acordo com os diferentes estímulos recebidos. A fadiga muscular é um exemplo comum de adaptação às alterações agudas que ocorrem em exercícios intensos e suas manifestações podem ocorrer durante e após o exercício, seja ele máximo ou submáximo [1,3]. Adicionalmente, os mecanismos responsáveis pela fadiga dependem de fatores como intensidade, tipo (aeróbico ou anaeróbico) e duração do exercício, atividade contrátil, composição fibrosa do músculo em contração – as fibras do tipo II se fadigam mais facilmente que as fibras tipo I – e nível de condicionamento individual [5,8,14,15]. Em exercício físico intenso e prolongado, a fadiga está relacionada à hipoglicemia –diminuição da glicose e conseqüente diminuição da oxidação de carboidratos. Já em exercícios com intensidade alta (90% de VO2máx) e de curta duração, uma parte da energia, que seria destinada para a atividade física, é utilizada na produção de metabólitos como o lactato, íons hidrogênio (H+), Pi e ADP que acabam por acumular-se levando à diminuição do rendimento, mesmo tendo sido utilizados os fosfatos de alta energia e preservado o glicogênio [5].


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Pinto et al. [16] afirmam que o aumento da temperatura corporal, gerado pelo metabolismo na atividade física e/ou influência ambiental, como também o estado de hidratação do indivíduo, poderiam acelerar o início da fadiga. Os mecanismos capazes de diminuir a elevação da temperatura corporal em ambientes quentes podem ser: a umidificação da pele; resfriamento facial; o uso de roupas especiais; a exposição prévia a ambientes frios e a imersão em água fria poderiam provocar mais tolerância ao esforço [17,18]. A fadiga possui causas multifatoriais e pode ser dividida em dois componentes principais: a fadiga periférica, ou local, e a fadiga central. Na fadiga periférica ocorrem as modificações fisiológicas já descritas e que resultam em disfunção no processo de contração. Esta alteração é levada ao sistema nervoso central através de nervos sensoriais (fadiga central) que, por sua vez, transmite sinais inibitórios provocando um declínio ou queda total do desempenho físico cujo objetivo é preservar a integridade estrutural da fibra muscular, prevenindo possíveis danos irreversíveis à mesma [6,18]. Porém, também pode resultar de decréscimo progressivo da velocidade e freqüência de condução em impulso voluntário na atividade física (fadiga predominantemente central) [1]. Segundo Santos, Dezan e Sarraf [8], a fadiga central acontece quando é afetada a parte nervosa da contração muscular, e a periférica, quando se verifica deterioração dos processos bioquímicos e contráteis.

Fadiga periférica Um erro, ou uma limitação em um ou mais processos na unidade motora – neurônios motores, nervos periféricos, nas ligações neuromusculares ou fibras musculares – leva à fadiga periférica [8]. A fadiga sináptica ocorre quando o período de excitação é progressivamente prolongado e intensificado, reduzindo gradualmente a transmissão sináptica, tornando deprimida a sensibilidade dos circuitos neuronais [19]. A acetilcolina é um neurotransmissor que possui como principal precursor a colina, cujo consumo reduzido parece provocar a diminuição da capacidade dos impulsos nos músculos esqueléticos [8]. O início desse modo de fadiga depende do tipo de fibra muscular utilizada no exercício, pois as fibras de contração rápida (tipo II) têm melhor desempenho anaeróbico favorecendo maior capacidade de formar ácido lático. Contudo, o acúmulo de ácido lático poderia dificultar a função muscular através de dois mecanismos fisiológicos. Por um lado, o aumento de H+ reduz o pH intracelular deteriorando o processo de excitação-contração por reduzir a quantidade de Ca++ liberada pelo retículo sarcoplasmático (RS) de modo que interfere na capacidade de fixação cálcio-troponina. Por outro lado, uma maior concentração de H+ torna a glicólise mais lenta, reduzindo, por conseguinte, a disponibilidade de ATP na produção de energia [8].

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Já as fibras de contração lenta (tipo I), têm o sistema oxidativo mais desenvolvido na produção energética e, em estudos com animais, verificou-se que a redução da força deste tipo de fibra seria devido a alterações miofibrilares e no RS [6]. Uma das hipóteses para a causa da fadiga periférica é a da “depleção de glicogênio”, uma das principais formas de armazenamento energético. O glicogênio normalmente é quebrado para formar moléculas de ATP, a qual representa a energia potencial para a realização dos diversos trabalhos biológicos que necessitam energia, por exemplo, a contração muscular [5]. A quebra da creatina fosfato e a degradação do glicogênio muscular a ácido lático ocorrem durante o exercício de alta intensidade sendo as maiores vias de fornecimento de ATP. Com a diminuição do glicogênio e da creatina, a energia anaeróbica e o desempenho do exercício podem diminuir [3]. Durante a contração muscular, ocorre hidrólise do ATP em ADP e o seu retorno à ATP (refosforilação) acontece durante processos aeróbicos ou oxidativos, como também em exercícios anaeróbicos de alta intensidade. Cada dois ADPs geram um ATP e um AMP. Quando há déficit nessa refosforilação, aumenta o número de ADP e AMP. Este último é quebrado a IMP em atividade moderada, liberando amônia durante a reação, que é vinculada tanto à fadiga central como à periférica. O aumento da sua concentração na atividade física tem relação com a composição das fibras musculares, com a intensidade e o tempo de exercício [5]. Durante a realização de séries repetidas, o nível de fosfocreatina (CP) e sua ressíntese sofrem redução em vista de sua utilização na formação de ATP durante as séries acarretando em queda na ressíntese de ATP e levando à fadiga [17]. Quando ocorre a ressíntese de ATP e de CP há incorporação de H+ às reações. Com aumento dessas ressínteses, então, aumenta-se o consumo de H+ evitando a queda de pH e prevenindo a instalação da fadiga [17]. A formação de IMP e amônia no exercício intenso e prolongado é inversamente proporcional à degradação do glicogênio intramuscular, o qual leva à deficiência de energia no nucleotídeo de adenina [5]. Neste mesmo tipo de atividade, ocorre acúmulo de lactato acarretando queda do pH. Esta condição de acidose inibe a enzima PFK (fosfofrutoquinase) e reduz o processo de glicólise prevenindo, desta forma, a acidez para que não aconteça morte celular ou a fadiga precoce [5,8]. Pode ainda ocorrer diminuição na geração máxima de força devido ao acúmulo de ácido láctico. Isso constitui um dos principais fatores causadores da fadiga. A acidose por aumento do H+ interfere na contração muscular ou no processo de excitação-contração. O declínio na geração de força contrátil no músculo via efeito metabólico nas proteínas contráteis e a redução da liberação de Ca++ do retículo sarcoplasmático são fatores que geram fadiga. Este processo pode ter início pelas altas con-


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centrações de lactato por aumentar a concentração de íons H+ diminuindo o pH [3]. Essas alterações no retículo sarcoplasmático podem ser críticas, pois ele atua como local de armazenamento de Ca++ e ainda controla as concentrações citoplasmáticas deste íon, a qual regula a força das contrações. A redução de Ca++ pode causar dificuldade no relaxamento e a redução da força perante a fadiga [3]. A análise do lactato plasmático permite verificar as fases aeróbica e anaeróbica durante o esforço físico e definir o momento em que o indivíduo estará mais predisposto à fadiga [5]. É possível ainda, predizer o treinamento ideal e, assim, permitir que a pessoa tenha melhora da performance sem prejudicar suas funções corporais.

Fadiga central A importância do metabolismo de proteínas e aminoácidos para o desempenho em atividades prolongadas permaneceu relegada a segundo plano por muitos anos [5]. Pode-se dizer que a fadiga central ocorre por queda da condução do impulso nervoso de forma voluntária ou involuntária, causando redução relativa de unidades motoras e da freqüência de ativação dos motoneurônios. Para estudar o papel do sistema nervoso central na produção da fadiga, utilizam-se exercícios em contrações interpoladas nos quais se promove, através da eletroestimulação, uma contração maior que a máxima e, assim, compara-se com a máxima gerada pelo indivíduo. Nesta situação ocorre feedback reflexo advindo de mecanoceptores – fusos neuromusculares, e/ou órgãos tendinosos de Golgi, ou terminações nervosas do tipo III e IV – sensíveis ao acúmulo de alguns metabólitos que, por isso, inibem a taxa de descarga dos motoneurônios durante a fadiga. Além disso, ocorre déficit na condução do impulso nervoso a partir das regiões superiores do cérebro [1]. Quando ocorre em nível supra-espinhal é através da inibição aferente desde os fusos neuromusculares, sendo que pode acontecer redução de sensibilidade causada pela excessiva utilização da maior parte dos circuitos neurais [8]. O neurotransmissor dopamina foi o primeiro a ser estudado em sua relação com a fadiga central. Possivelmente ela inibe parte das sínteses de metabolismo da serotonina (5-HT) retardando a fadiga central. Baixas concentrações de dopamina possivelmente diminuem a coordenação e leva à perda de motivação. O aumento da dopamina em relação a 5-HT, em algumas regiões do cérebro, pode levar ao desenvolvimento de motivação, estimulação e coordenação muscular. Entretanto, quando a serotonina está em maior concentração em relação à dopamina, é possível a ocorrência de fadiga [5,8]. Alguns esportistas passaram a ingerir drogas dopaminérgicas a fim de aumentar o desempenho por melhorar a função motora. Além disso, utilizou-se para a perda de

peso por ser um agente também anorético e supressor de apetite [5]. Tem sido estudada a comparação do tempo de exercício até a exaustão com a variação da síntese e liberação, no cérebro, de alguns neurotransmissores, os mesmos, associados à motivação, à atenção, ao humor, à depressão, e à coordenação neuromuscular. Por exemplo, a razão serotonina/dopamina, o papel da cafeína – bloqueia receptores da adenosina, a qual é um potente inibidor excitatório do SNC – em exercícios de longa duração [1,5]. Conforme Kreider apud Rogero, Mendes e Tirapegui [20], quando há diminuição dos estoques de energia como conseqüência da redução do glicogênio muscular, pode ocorrer estimulação da oxidação intramuscular de aminoácidos de cadeia ramificada (AACR), como a leucina, isoleucina e valina, os quais competem com o triptofano livre pela ligação a um mesmo transportador de aminoácidos neutros na barreira hemato-encefálica fazendo com que haja sua diminuição plasmática. Isto facilitaria a captação hipotalâmica de triptofano e, a partir deste, ocorreria maior produção de serotonina estabelecendo-se a fadiga central caracterizada, principalmente, pela desmotivação [8,17,20,21]. Portanto, a fadiga que ocorre por aumento da atividade serotonérgica no cérebro é chamada fadiga central [5], visto que a modulação da serotonina relaciona-se diretamente com a regulação da dor, comportamento alimentar, humor, fadiga e sono [17,20,21]. A amônia (NH3) em acúmulo no cérebro pode prejudicar a coordenação, o controle motor e o sistema oxidativo local. Pode ser resultado do catabolismo dos AACR associado à fadiga central [8]. O triptofano (TPF) é encontrado no plasma de forma livre ou ligado à albumina. No exercício prolongado, há aumento da forma livre, pois os ácidos graxos, que estão em maiores concentrações, competem com o TPF para ligaremse à albumina. O TPF é transportado através da barreira hemato-encefálica em sua forma livre, ou seja, quando não está ligado à albumina, gerando um acréscimo na síntese cerebral de serotonina [1,17,20,21]. Alguns estudos, por isso, sugerem a suplementação ergogênica com AACR já que concorrem com o TPF pela entrada no cérebro podendo retardar a fadiga em exercícios de longa duração [1]. A acetilcolina é um neurotransmissor produzido de acordo com a disponibilidade de seu precursor, a colina, sendo normalmente relacionada com a produção de força muscular. Portanto, há relação entre a queda plasmática de colina e o início da fadiga em exercícios de longa duração, mesmo que ainda não esteja determinado se esta é um tipo de fadiga central ou de fadiga periférica. Contudo, não houve sucesso em estudo conduzido por Spector et al. , citado por Ascensão [1], com suplementação oral de bitartrato de colina, pois não houve como resultado aumento do tempo de exercício até a exaustão ou aumento plasmático de colina.


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Métodos de avaliação da fadiga Muitos modelos experimentais são utilizados visando o entendimento das causas da incapacidade de manutenção de um nível de performance. Dentre esses modelos, pode-se citar os estudos in vitro na busca da verificação da função das estruturas celulares, por exemplo, o sarcolema, o retículo sarcoplasmático (RS), as mitocôndrias ou o aparelho miofibrilar. Neste tipo de estudo, também, pode-se verificar alterações metabólicas de adenosina trifosfato (ATP), ADP, Pi, potencial de hidrogênio iônico (pH) e íons cálcio, relacionados à fadiga [1]. Da mesma forma, o tecido muscular pode ser estudado in vitro. Neste caso, são estudadas fibras individuais (com sarcolema intacto ou removido), onde são impostas a diferentes protocolos de estimulação elétrica para se obter a relação entre as mudanças nas condições do meio e a tensão gerada pelas fibras. Outro tipo de estudo possível é o in situ, de unidades motoras isoladas estimulando-se o nervo motor de animais anestesiados. Este tipo de estudo, assim como os do tipo in vitro não permitem recrutar de forma relativa as fibras musculares de acordo com seu nível de fadiga. Os trabalhos in vivo são os que se destacam no estudo da fadiga, visto que há uma análise das ações orgânicas e sistêmicas na atividade e na recuperação. Para isso, podem ser realizadas biópsias musculares rapidamente, durante e imediatamente após a finalização do exercício [1]. A eletromiografia (EMG) é uma técnica que possibilita o registro dos sinais elétricos que são gerados pela despolarização das células musculares possibilitando estudo in vivo. Assim, a EMG possibilita o registro da atividade muscular durante o movimento. No entanto, essa técnica não fornece informação a respeito do torque e é preciso ter entendimento quanto à utilização e limitações do equipamento e é realizada freqüentemente em condições isométricas, mesmo que a fadiga possa ser induzida por qualquer outro tipo de exercício. Portanto, a EMG é uma técnica para avaliação da fadiga muscular e representa o instrumento eletrodiagnóstico mais utilizado em procedimento clínico [1,16,22]. O limiar de fadiga pode ser observado através da relação limiar entre intensidade e a taxa de aumento da atividade eletromiográfica. O limiar de fadiga seria a intensidade do exercício, a qual poderia ser mantida indefinidamente sem alterações na ativação neuromuscular, ou seja, sem aumento dos sinais eletromiográficos ao longo do tempo [23]. Através do sinal mioeletétrico, pode ser observado o comportamento temporal da amplitude e da freqüência. Pela velocidade de propagação dos potenciais de ação das fibras musculares, pode-se também observar as mudanças na permeabilidade do sarcolema em função do acúmulo de metabólitos e, conseqüentemente, nas suas propriedades em relação à propagação dos potenciais de ação das fibras musculares [22]. A redução da freqüência na fadiga muscular, segundo Ascensão et al. [1], parece ser influenciada, predominantemente,

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pela diminuição da velocidade de condução do potencial de ação por conseqüência, pelo menos em parte, do aumento da concentração de ácido lático no exercício levando à diminuição do pH. O aumento da amplitude do sinal do EMG na situação de fadiga muscular parece ocorrer devido ao aumento da amplitude do potencial de ação, mudança na ordem de recrutamento das unidades motoras, aumento do recrutamento de unidades motoras ou pela elevação das taxas de disparo do neurônio motor. Isto ocorre com o objetivo de compensar a redução da função motora [24,25]. Outro método para análise é através da lactacidemia. A partir de uma determinada intensidade de trabalho, a concentração sanguínea de lactato aumenta devido à intensificação da via glicolítica resultando na conversão do piruvato em lactado [26]. Como existe relação entre fadiga e depleção das reservas de gliocogênio, a diminuição da velocidade em que ocorre o limiar de lactacidemia sugere maior possibilidade de fadiga. Assim sendo, a medida do lactato pode ser usada como instrumento de avaliação da fadiga. No entanto, não deve ser o único parâmetro utilizado para analisar a aproximação da fadiga periférica [5]. Um dos métodos utilizados na quantificação da lactacidemia é a espectroscopia de Raman, que consiste em uma técnica de espectroscopia vibracional usada para determinação da estrutura molecular e para a identificação e quantificação de materiais. É utilizada como uma possível ferramenta para identificação de metabólitos como o ácido láctico no sangue ou em músculo esquelético, in vivo, e de uma forma não-invasiva, baseados no fato de que cada componente bioquímico apresenta um espectro vibracional característico, com bandas estreitas e bem resolvidas. Em trabalho realizado por Souza et al. [27], com ratos Wistar machos, utilizando a técnica de forma in vivo e in vitro, houve confirmação de que este método apresenta informações da presença de ácido láctico quando há aumento de sua concentração na musculatura. Porém, trata-se ainda de uma tecnologia em desenvolvimento. O dinamômetro isocinético também tem se apresentando como um equipamento de grande importância para se identificar o momento em que o indivíduo tem queda da performance do movimento e, assim, identificar índice de fadiga [28,29]. No entanto, o custo ainda elevado do equipamento dificulta sua aplicabilidade em situações de avaliação e/ou tratamento. Também, utiliza-se de procedimentos de ressonância nuclear magnética para uma análise mais precisa da situação metabólica no músculo induzida pelo exercício. A eletromiografia constitui outra técnica que busca analisar a fadiga através de alguns dos seus indicadores [1]. Cada parâmetro avaliado, a fim de se considerar o índice ou grau de fadiga, pode ser complementado por análise subjetiva, como a proposta pela escala de Borg, em que o indivíduo sinaliza sua percepção do esforço em determina-


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do momento [23,30]. A escala analógica de dor também é apresentada como uma ferramenta útil na prática clínica, a fim de considerar o fator dor como sinal da presença de fadiga [31,32].

Implicações da fadiga para a clínica Através da eletroestimulação (EE) pode-se promover fortalecimento e hipertrofia muscular, ajudando como um complemento no processo e facilitando a conduta fisioterapêutica. É realizada através de corrente elétrica fazendo com que ocorra contração muscular. Porém, devido à fadiga, a maior limitação da EE é a queda precoce da força muscular. Binder Mac Leond e Mc Dermond apud Pires e Grosso [10] afirmam que os fatores determinantes da força muscular são a intensidade e a freqüência, propondo que quanto maior a freqüência, maior a fadiga muscular. Os segundos autores indicam a corrente de média freqüência para produzir maior força e menor fadiga musculares. A fadiga muscular induzida pela EE pode ser avaliada pela análise da atividade do sinal eletromiográfico e também pela escala visual analógica [10]. A mensuração da eletromiografia, dos metabólitos e da força durante um exercício cansativo, possibilita a identificação dos possíveis fatores causadores da fadiga [6]. Em relação aos atletas de alta performance, as lesões provenientes do processo de supertreinamento comumente ocorre após sucessivas manifestações de fadiga. Os métodos para avaliação e identificação do overtraining são pouco utilizados. No entanto, se o treinador conhecer os mecanismos geradores de fadiga, pode identificar o momento de parar ou diminuir a carga de treinamento, através dos sinais e sintomas apresentados pelo atleta [33-36]. Na clínica geral ou de especialidades, os fatores geradores de fadiga podem ser indicativos da presença de doença, já instalada ou em vias de desenvolvimento. Um exemplo é das manifestações clínicas da fibromialgia, cujos sinais e sintomas são muitas vezes decorrentes do processo de fadiga física [37,38]. Visto que os fatores desencadeantes da fadiga muscular sofrem a influência do estado emocional do indivíduo, há que se sugerir a estimulação verbal, na qual parece ser necessário certo apelo psicológico no intuito de elevar o limiar de fadiga por tornar forte a vontade de realizar e vencer a atividade imposta. Isso pode ser conseguido com frases imperativas de incentivo cuidando para que não haja aumento, por essa influência, da “auto-cobrança”, pois esta poderia, de forma equívoca, atrapalhar o desempenho. Também, estímulos táteis na atividade ativo-assistida poderiam incentivar positivamente, pois assim é demonstrado que com um pouco mais de vontade, pode-se chegar ao movimento máximo sem que ocorra a fadiga. Outra condição seria evitar o excesso de treinamento que, portanto, deverá ser quantificado e qualificado indivi-

dualmente de modo que o terapeuta deverá estar atento às características e aos objetivos do tratamento ou treinamento. Um indivíduo melhor condicionado parece ter um limiar de fadiga mais elevado comparando-se àquele descondicionado considerando a melhor capacidade anaeróbica ou metabólica em geral.

Conclusão A redução, principalmente, de fosfocreatina e glicogênio além de alterações em outros compostos desempenham papel-chave no desencadeamento da fadiga. Não obstante, é influente o aspecto psicológico ou de motivação individual, os quais imperam no desempenho físico de forma voluntária ou involuntariamente. Novas pesquisas devem ser realizadas no intuito de desvendar como alguns outros componentes, não citados neste trabalho, estão relacionados a esse processo, por exemplo, o monóxido de azoto, os radicais livres e magnésio. Ao finalizar essa revisão pode-se concluir que a fadiga é representada por fenômenos sucessivos e interdependentes e, mesmo sem saber qual o fator desencadeante inicial, este processo acontece na cadeia fisiológica da contração muscular visando à proteção. Desta forma, funciona como mecanismo protetor da atividade celular por prevenir o início de aumento de força muscular excessivo e suas conseqüentes e numerosas lesões desportivas. Além disso, protege os processos de recuperações subseqüentes.

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Opinião Protocolo de recondicionamento físico após lesão nas categorias de base de futebol no São Paulo Futebol Clube Physical reconditioning protocol after injury in soccer players of São Paulo Football Club Marco Aurélio Buchaim Regos*, Marcus Vinicius Grecco** *Preparador Físico do Centro de Formação de Atletas do São Paulo Futebol Clube, Especialista em Fisiologia do Exercício pela UNIFESP e Especializando em Treinamento Desportivo pela UNIFESP, **Mestrando em Fisiopatologia das Afecções Músculo-Esquelética da Faculdade de Medicina da USP

Resumo

Abstract

Uma das áreas mais desafiadoras da reabilitação desportiva é o recondicionamento do atleta após lesão atlética. O objetivo de qualquer programa de recondicionamento físico é levar o atleta ao estado ideal anterior à lesão e elaborar um programa de manutenção preventiva capaz de minimizar a possibilidade de o atleta ter nova lesão. Os protocolos mostrados neste trabalho ajudam o preparador físico a ter constância e continuidade durante todo o processo de recondicionamento físico, lembrando que se trata apenas de diretrizes, pois sabemos que cada atleta tem suas necessidades específicas quando se trata de futebol. Portanto, são essenciais as avaliações iniciais e as reavaliações subseqüentes ao programa de recondicionamento físico para o controle da sobrecarga.

One of the most challenging areas of sports rehabilitation is the athlete reconditioning after athletic injury. The objective of any program of physical reconditioning is to take the athlete to previous ideal state of the injury and to elaborate a program of preventive maintenance capable to minimize the possibility to have new injury. The protocols shown in this work, help the physical instructor to have constancy and continuity during all the process of physical reconditioning, remembering that these are only some procedures, because we know that each athlete has its specific needs when we are talking about soccer. Therefore, it is essential the initial evaluations and the subsequent reevaluation to the physical reconditioning program for the overload control.

Palavras-chave: recondicionamento físico, lesão, futebol.

Key-words: physical reconditioning, injury, soccer.

Recebido em 12 de fevereiro de 2008; aceito em 12 de agosto de 2008. Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Ribeiro de Barros 81/31, Vila 05027-020 Pompéia SP, E-mail: mvgrecco@ig.com.br


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Introdução O atleta, após a reabilitação fisioterápica, estará clinicamente recuperado, mas, dependendo do grau da lesão e do tempo que o atleta esteve em recuperação, ele não estará apto a suportar as cargas de treinamento e competição. De um modo geral, na Fisioterapia, o foco principal é restabelecer clinicamente o membro lesionado, fazendo com que haja um déficit de coordenação intra e intermuscular nos demais grupos musculares não lesionados. Para que este déficit seja minimizado, torna-se necessário um período de recondicionamento físico para que o atleta tenha condições físicas e psicológicas de voltar a trabalhar em grupo. Antes de o atleta entrar em um programa de recondicionamento físico, será preciso seguir os critérios provenientes de uma avaliação detalhada da equipe de medicina esportiva, composta por médicos e fisioterapeutas: • ter amplitude normal do movimento da coluna e extremidades; • força muscular até 20% de diferença com o lado não cometido, sendo o ideal situar-se entre 0 e 10%; • exame neurológico sem anormalidades; • edema não persistente; • estabilidade articular adequada; • sem dor ao movimento; • sem uso de medicamento. O condicionamento físico (CF) pode ser entendido como exercícios orientados, que visam aumentar qualitativa e ou quantitativamente o desempenho físico. A função do CF não se embasa exclusivamente no aumento de rendimento físico do atleta, mas também na prevenção de lesões, manutenção da saúde do atleta e da capacidade funcional do movimento. Em geral, o CF indica modificação do rendimento físico, refletido na performance geral dos atletas. O objetivo principal do CF é o desenvolvimento das capacidades motoras (condicionais e coordenativas) do atleta, necessárias para obter um melhor rendimento motor, que se faz por meio de exercícios corporais. Na prática, traduz-se pela execução variada de exercícios apropriados para fins de performance educacional no movimento esportivo. O CF é pautado por uma visão de totalidade que reconhece, na dinâmica da organização dos diversos sistemas corporais envolvidos na prática de exercícios, a capacidade de interação com o meio ambiente, possibilitando uma via de desenvolvimento do potencial atlético. A plasticidade humana, funcional ou estrutural, caracteriza-se como um grande diferencial no processo de adaptação ao treinamento, demonstrando a capacidade de interação de organismo humano e meio ambiente, resultando, dessa maneira, na organização e obtenção de novos patamares de estabilidade atingidos [1-3]. O grande mérito do CF, com intuito reabilitativo, é fazer com que o atleta retorne às suas atividades nas mesmas condições prévias a uma lesão, promovendo também a prevenção de lesões e estabelecendo a manutenção e progressão para um CF ideal de alto rendimento. No entanto, a estrutura

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deve estar baseada em uma equipe interdisciplinar (médico, fisioterapeuta, educador físico, nutricionista etc.) e recursos materiais (espaço físico, material esportivo e de avaliação etc.) que proporcionarão condições para que a prescrição do recondicionamento físico possa ser realizada e cumprida com êxito frente a todos os aspectos envolvidos no retorno ao esporte competitivo. O São Paulo Futebol Clube é um centro de excelência no que diz respeito à reabilitação e preparação física de atletas de futebol. Seu departamento médico realiza, além do diagnóstico e tratamento, avaliações e orientações de condicionamento físico e aptidão física, que servirão como parâmetros mensuráveis e objetivos da evolução, estado clínico e resultados esportivos. Por se tratar de categorias de base no futebol competitivo, o condicionamento físico (CF) tem que ser respaldado, além de avaliações fisiológicas e de aptidão física, de uma boa avaliação maturacional para controle adequado de sobrecarga de treino, que se resume na averiguação dos seguintes itens: • idade de espemarca, desenvolvimento dos genitais e pêlos pubianos; • análise percentual de maturação das cartilagens de crescimento nas imagens radiológicas de punho e mão; • análise laboratorial de dosagens plasmáticas dos hormônios adrenal desidroepiandrosterona que indicado para avaliar a maturidade dos meninos; • idade dental. Os protocolos, que serão apresentados, foram elaborados pelo preparador físico responsável pelo recondicionamento físico destes atletas das categorias de base de futebol do São Paulo Futebol Clube. O objetivo dos protocolos é reintegrar o atleta ao grupo em condições de suportar as cargas de treino e competição sem ter que trabalhar separado do grupo e não dividir o foco do preparador físico de cada categoria com trabalhos paralelos ao trabalho do grupo. Sendo assim, o trabalho de recondicionamento físico que se inicia após a alta da fisioterapia irá abordar capacidades físicas latentes ao bom desempenho do atleta dentro de campo [1,4,3].

Força Quando o treinamento de força é diminuído ou cessado, ocorre uma perturbação no estado biológico das células musculares e órgãos do corpo. Isso resulta em uma diminuição acentuada no bem estar fisiológico e na produção física do atleta [5]. A falta do treinamento de força diminui progressivamente a força de contração muscular e, toda vez isso ocorre, o mesmo acontece com velocidade, potência e rapidez nas mudanças de direção. Para atletas inativos, a taxa de perda de força por dia pode ser, grosso modo, de 3 a 4% na primeira semana. Para alguns atletas, especialmente no futebol onde a força e velocidade dominam, esta pode ser uma perda substancial [2]. Quando esta interrupção chega a 2 ou 3 semanas, podem causar um aumento de perturbações psicológicas, como ce-


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faléias, insônia, sensação de exaustão, maior tensão, maiores oscilações de humor, falta de apetite e depressão psicológica, podendo qualquer atleta sofrer um desses sintomas ou uma combinação deles. Todos os sintomas estão relacionados à queda nos níveis de testosterona e à beta-endorfina, um composto neuroendócrino que é o principal precursor das sensações de euforia após os exercícios [6,5,7]. Esses sintomas não são patológicos e podem ser revertidos com um reinício rápido do treinamento. O trabalho de força será orientado apenas para sua manifestação de resistência de força, utilizando os exercícios e métodos aplicados na sua própria categoria.

da corrida, precisando de estímulos proprioceptivos para recuperar seu padrão normal de movimento. O estímulo de velocidade sem sobrecargas adicionais e recuperação completa é muito importante para a coordenação intramuscular (sincronização das unidades motoras) e intermuscular, pois exige maiores amplitudes articulares e alta freqüência de execução, atuando seletivamente sobre as fibras musculares IIb [2,11].

Coordenação A Coordenação está presente em todas as capacidades citadas acima, pois todas elas estão intimamente ligadas entre si (Figura 1).

Resistência A resistência cardiovascular (VO2) é visivelmente afetada por médias e longas fases de inatividade. Estudos têm mostrado uma queda de 6% no VO2, após 2-4 semanas de inatividade, e declínios de 15% após uma interrupção de 3 meses [2]. A manutenção da resistência cardiovascular é mais difícil quando o treinamento regular é interrompido, em comparação com a força, velocidade e agilidade. Estudos mostram que o treinamento de resistência cardiovascular deve ser realizado 3 vezes por semana, para que não haja declínio nos valores de VO2máx [8,9]. O trabalho de resistência poderá ser orientado para a capacidade aeróbia, potência aeróbia e resistência mista aeróbiaanaeróbia, de acordo com a necessidade do atleta e do tempo em que esteve parado. Propõe-se a corrida contínua com o objetivo exclusivamente regenerativo nos dias seguintes aos treinos de força e coordenação. Os métodos de treinamento intervalado e as corridas com variação de velocidade serão utilizados de acordo com a evolução individual de cada atleta.

Velocidade A velocidade tende a ser a primeira capacidade a ser afetada pela inatividade, já que o rompimento da proteína e a degeneração das unidades motoras diminuem as capacidades de potência da contração muscular. A velocidade requer um alto nível de adaptação das células nervosas. Sua perda pode, em princípio, estar relacionada à sensibilidade do Sistema Nervoso à inatividade [10]. Uma melhora da velocidade está, igualmente, ligada à da força. O trabalho de velocidade será orientado para o aspecto coordenativo da corrida de velocidade e salto, com prioridade para a primeira. Os estímulos de velocidade são os exercícios educativos e coordenativos de corrida, exercícios de agilidade e mudanças de direção em espaços pequenos, multisaltos, pliometria com os dois pés ou um pé só. São empregados tempos de recuperação completa entre os exercícios e séries, enfatizando sempre a qualidade do movimento. Os atletas que ficam afastados muito tempo têm uma alteração no padrão da marcha ou

Figura 1 - Interrelação da coordenação com outras qualidades físicas.

A coordenação é a capacidade de um atleta acionar diferentes grupos musculares para produzir um determinado movimento específico. Os atletas com capacidades coordenativas bem desenvolvidas otimizam suas capacidades físicas e obtêm uma melhor performance na sua modalidade esportiva [12]. São utilizados exercícios de propriocepção e equilíbrio, exercícios cognitivos e exercícios combinados. Os exercícios e métodos aplicados serão adotados de acordo com o protocolo utilizado em cada categoria.

Tempo de recondicionamento físico Sugere-se para os atletas que disputam competições: a) 1 semana na Fisioterapia = volta direto para a equipe; b) passando de 1 semana: recondicionamento físico = tempo de Fisioterapia ÷ 2. A liberação do atleta pode ocorrer antes ou depois deste prazo, dependendo da resposta individual de cada um. As tabelas 1 a 3 apresentam exemplos de atletas que ficaram 8 semanas apenas sendo tratados na fisioterapia. Nota-se que o prazo máximo que se deveria submeter um atleta ao recondicionamento físico é de 8 semanas, ou seja, se o atleta ficar inativo por 20 semanas, ele será submetido a ‘apenas’ 8 semanas de recondicionamento físico. Contudo, frisamos que nos referimos apenas a diretrizes mais gerais. A sensibilidade


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do preparador físico é fundamental no acompanhamento e na prescrição dos exercícios. Nas Tabelas, o soccer test refere-se a uma medida de resistência aeróbica contendo 4 níveis de intensidade, cada um deles com 60 metros. Entre um nível e outro aumentase a velocidade da corrida por estimulo auditivo. Ao final de cada nível há um intervalo de 10 segundos para se passar para o próximo nivel. Ao final do 4º nível, caso o atleta consiga

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alcançá-lo, afere-se a freqüência cardíaca. O treino contínuo refere-se ao treinamento de resistencia aeróbia, mantendose uma intensidade estável determinada pelo treinador. A potência aeróbia-treino intervalado (4x2, significa 4 minutos em velocidade baixa e 2 minutos em velocidade alta) determinando-se a intensidade do treino através do soccer test e aplicada para aumentar o limiar anaeróbio.

Tabela I - Protocolo de recondicionamento físico (Categoria Sub 15). 2a. Feira

3a. Feira * Avaliação matura1o. Microciclo cional Força (peso corporal / Resistência contínuo Treinamento funcional Esteira (20 minutos) 70% / musculação). 70% FC Soccer Test* da carga utilizada pelo Atleta na Categoria 2a. Feira 3a. Feira * Avaliação matura2o. Microciclo cional Força (peso corporal / Treinamento funcional / Resistência contínuo musculação) + coorCampo ** (30 minutos) denação 80% da carga 80% FC Soccer Test utilizada pelo Atleta na Categoria 2a. Feira 3a. Feira * Avaliação matura3o. Microciclo cional Força (peso corporal / treinamento funcional / Potência aeróbia 4x musculação) + coor(5x2)*** (28 minutos) denação 90% da carga 90% FC Soccer Test utilizada pelo atleta na categoria 2a. Feira 3a. Feira * Avaliação Matura4o. Microciclo cional Força (peso corporal / Potência aeróbia 3x (8x2) Treinamento funcional / musculação) + coorde(30 minutos) 90% FC Soccer test + flexibilinação 100% da carga utilizada pelo atleta na dade categoria

4a. Feira

5a. Feira

6a. Feira

Resistência contínuo Campo (30 minutos) 70% FC Soccer Test

Coordenação + flexibilidade

Resistência intervalado - Esteira FartLek 3x1 (20 minutos) 70% x 85% FC Soccer Test

4a. Feira

5a. Feira

Resistência intervalado - Esteira FartLek 3x1 (20 minutos) 75% x 85% FC Soccer Test

Velocidade (sem bola)

4a. Feira

5a. Feira

6a. Feira * Avaliação maturacional Força (Peso Corporal / Treinamento Funcional / Musculação) + Coordenação 80% da carga utilizada pelo Atleta naCategoria 6a. Feira

Coordenação + agilidaResistência contínuocampo (30 minutos) 80% de + velocidade (com Trabalho técnico FC Soccer Test bola) 4a. Feira

5a. Feira

6a. Feira

Resistência contínuocampo (30 minutos) 80% FC Soccer Test + flexibilidade

Agilidade + coordenação + velocidade com mudanças de direção

Trabalho técnico


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Tabela II - Protocolo de recondicionamento físico (Categoria Sub 17). 2a. Feira 1o. Microciclo

3a. Feira

Força (treinamento Resistência contínuo funcional / musculação). esteira (20 minutos) 70% 70% da carga utilizada FC Soccer Test pelo atleta na categoria 2a. Feira 3a. Feira 2o. Microciclo Força (treinamento Resistência contínuo funcional / musculação) campo (30 minutos) 80% + coordenação 80% FC Soccer Test da carga utilizada pelo Atleta na Categoria 2a. Feira 3a. Feira 3o. Microciclo Força (Treinamento Potência aeróbia 4x (5x2) funcional / musculação) (28 minutos) 85% FC + coordenação 90% da carga utilizada pelo Soccer Test atleta na categoria 2a. Feira 3a. Feira 4o. Microciclo Força (treinamento Potência aeróbia 3x (8x2) funcional / musculação) (30 minutos) 90% FC + coordenação 100% Soccer Test + flexibilida carga utilizada pelo dade atleta na categoria

4ª. Feira

5a. Feira

Resistência contínuo Campo (30 minutos) . 70% FC Soccer Test

Coordenação + flexibilidade

4ª. Feira

5a. Feira

Resistência intervalado - esteira FartLek 3x1 (20 minutos) 70% x 85% FC Soccer Test

Velocidade (sem bola)

4ª. Feira

5a. Feira

6a. Feira Resistência intervalado - esteira FartLek 3x1 (20 minutos) 70% x 85% FC Soccer Test 6a. Feira Força (treinamento funcional / musculação) + coordenação 80% da carga utilizada pelo atleta na categoria 6a. Feira

Força (treinamento Resistência contínuoCoordenação + agilida- funcional / musculação) + coordenação 100% campo (30 minutos) 70% de + velocidade (com da carga utilizada pelo FC Soccer Test bola) atleta na categoria 4ª. Feira 5a. Feira 6a. Feira Resistência contínuocampo (30 minutos) 80% FC Soccer Test + flexibilidade

Agilidade + coordenação + velocidade com mudanças de direção

Trabalho técnico

5a. Feira

6a. Feira

Tabela III - Protocolo de recondicionamento físico (Categoria Sub 20). 2a. Feira 1o. Microciclo

3a. Feira

Força (treinamento Resistência contínuo funcional / musculação) esteira (30 minutos) 70% 70% da carga utilizada FC Soccer Test pelo atleta na categoria 2a. Feira 3a. Feira 2o. Microciclo Força (treinamento Resistência intervalado funcional / musculação) - Esteira FartLek 2x3 (30 + coordenação 80% minutos) 70% x 85% FC da carga utilizada pelo Soccer Test atleta na categoria 2a. Feira 3a. Feira 3o. Microciclo Força (Treinamento Potência Aeróbia 5x (4x1 funcional / musculação) / 5x2 / 6x3 / 7x4) (32 + Coordenação 90% minutos) 85% FC Soccer da carga utilizada pelo Test + flexibilidade atleta na categoria 2a. Feira 3a. Feira 4o. Microciclo Potência aeróbia 4x (7x3) Força (treinamento (35 minutos) 90% FC funcional / musculação) Soccer Test + flexibili100% da carga utilizada dade pelo atleta na categoria

4ª. Feira

Resistência contínuo Coordenação + flexibicampo (30 minutos) 70% lidade FC Soccer Test 4ª. Feira

5a. Feira

Resistência contínuo campo (30 minutos) 80% Velocidade (sem bola) FC Soccer Test 4ª. Feira Força (treinamento funcional / musculação) + Coordenação 90% da carga utilizada pelo atleta na categoria 4ª. Feira Resistência intermitente (30 minutos) 75% a 90% FC Soccer Test + flexibilidade

5a. Feira Resistência intermitente (30 minutos) 75% a 90% FC Soccer Test + flexibilidade 5a. Feira Agilidade + coordenação + pliometria + velocidade com mudanças de direção

Resistência intervalado - esteira FartLek 3x2 (30 minutos) 70% x 85% FC Soccer Test 6a. Feira Força (treinamento funcional / musculação) + coordenação 80% da carga utilizada pelo atleta na categoria 6a. Feira Força (treinamento funcional / musculação) + coordenação 100% da carga utilizada pelo atleta na categoria 6a. Feira

Trabalho técnico


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Normas de publicação Fisiologia do Exercício A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas.

Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.


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PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para

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os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa - 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 - E-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br


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Calendário de eventos 2008

2009 Novembro

Janeiro

9 a 12 de novembro

10 a 14 de janeiro

5 a 8 de dezembro

11 a 14 de fevereiro

V Congresso Brasileiro de História da Educação Aracajú, SE Informações: http://www.sbhe.org.br/ Australian and New Zealand Society for Comparative Physiology and Biochemistry University of Sydney http://www.zoo.latrobe.edu.au/anzscpb/ E-mail: Mike.Thompson@bio.usyd.edu.au

24º. Congresso Internacional de Educação Física Foz de Iguaçu, PR Informações: www.congressofiep.com XIII Simpósio Brasileiro de Fisiologia Cardiovascular Ouro Preto, MG Informação: www.xiiisbfc.ufop.br


R e v i s t a

B r a s i l e i r a

d e

FISIOLOGIA DO

EXERCÍCIO

Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Índice volume 7 número 3 - setembro/dezembro 2008 EDITORIAL Que 2009 possa nos sorrir a todos! Paulo Tarso Veras Farinatti............................................................................... 111 ARTIGOS ORIGINAIS Identificação precoce de riscos em adolescentes sugere exclusão em programas de exercícios, Akinori Cardozo Nagato, Frank Silva Bezerra, Eduardo Tavares Lima Trajano, Marco Aurélio dos Santos Silva, Éric Machado Guimarães, Samuel Santos Valença ..................................................................................................... 112 A influência aguda de uma sessão de Jump Fit no desempenho dos exercícios resistidos, Adriana Lemos, Roberto Simão, Humberto Miranda, Jefferson da Silva Novaes .......................................................................................................... 118 Autopercepção da saúde de mulheres acima de 30 anos após participação em programa de alongamento estático voltado para promoção da saúde, Josenei Braga dos Santos, Everton Silveira Campos, André Junqueira Xavier ............................................................ 123 Efeitos do exercício de natação em ratas com suplementação nutricional de sacarose, Danilo Aparecido Rodrigues, Faissal Serhan, Mariana Rotta Bonfim, Ricardo Zacharias, Renato Pedroso, Susimary, Trevizan Padulla, Regina Miranda Burneiko, Ivânia Garavello, Ethel L B Novelli ................................................................................. 127 O efeito da crioterapia na fase inflamatória da lesão muscular em ratos (Rattus norvegicus), Maria Paula Mellito da Silveira, Renato Claudino, Karla Denise de Alcantara Evaristo ............................................................................................................................ 133 REVISÕES Características funcionais e fisiológicas do destreinamento – respostas hormonais e cardiovasculares, Michel Arias Brentano, Tiago Santi ......................................................................... 139 A importância dos exercícios resistidos em pacientes hipertensos, Graziela Rodrigues da Costa, Elaine Cristina Martinez Teodoro ................................................................................ 145 PERGUNTAS E RESPOSTAS Treinamento da força para idosos, Paulo de Tarso Veras Farinatti, Nádia Souza Lima da Silva ........................................................................................................................................ 151 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................... 158 EVENTOS ............................................................................................................................................................... 160

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R e v i s t a

B r a s i l e i r a

d e

FISIOLOGIA DO

EXERCÍCIO

Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Conselho Editorial Antonio Carlos Gomes (PR) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Douglas S. Brooks (EUA) Emerson Silami Garcia (MG) Fernando Pompeu (RJ) Francisco Martins (PB) Jacques Vanfraechem (BEL) Luiz Fernando Kruel (RS)

Martim Bottaro (DF) Patrícia Chakour Brum (SP) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Rolando Baccis Ceddia (CAN) Robert Robergs (USA) Rosane Rosendo (RJ) Sebastião Gobbi (SP) Steven Fleck (USA) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Vilmar Baldissera (SP)

Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu

Administração e vendas Antonio Carlos Mello Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Atendimento

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Editorial Que 2009 possa nos sorrir a todos! Prof. Dr. Paulo Tarso Veras Farinatti

Editor-Chefe da RBFEx

Chegamos ao final de 2008 e apresentamos, conforme planejado, o terceiro número deste volume da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx). É com prazer que retomamos a periodicidade normal de nossa revista. O volume de artigos recebidos e atualmente em avaliação permite acreditar que 2009 será um ano de consolidação. Logramos êxito na implantação de um sistema de revisão por pares, o corpo editorial passa por um processo de renovação, pretendemos ampliar a quantidade de consultores ad hoc. Houve, além disso, um importante aporte de assinantes da revista, o que denota estar ela cumprindo seu papel de aproximar a produção de conhecimentos dos profissionais que o utilizam em sua prática cotidiana. Enfim, faz parte dos planos para 2009 a solicitação de apoio a órgãos de fomento à pesquisa, bem como buscar a indexação da RBFEx em bancos de dados que aumentem sua credibilidade e pontuação na classificação Qualis da CAPES. Nada disso seria possível sem a confiança dos pesquisadores que encaminharam seus manuscritos para avaliação ou sem a colaboração voluntária daqueles que trabalharam para que o órgão oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício voltasse a circular. Em época de fim de ano, não é demais agradecer nominalmente àqueles que investiram tempo e energia na RBFEx. Especial agradecimento vai

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para os editores associados, Pedro Paulo Soares (UFF) e, a partir de 2009, Walace Monteiro (UERJ). Suas idéias são e serão importantes para a evolução da revista. O apoio da Sra. Guillermina Arias, nossa editora assistente vem sendo fundamental – arrisco dizer que, sem a sua competência teria sido muito difícil fazer voltar a RBFEx. No que diz respeito especificamente ao presente número da RBFEx, além das habituais seções com artigos originais e revisões da literatura, iniciamos a título experimental uma nova seção, intitulada de “Perguntas e Respostas”. Sua proposta é convidar um especialista em determinada área a travar um diálogo entre a teoria e a prática, por meio de perguntas e respostas. As perguntas procuram remeter a temática na qual o pesquisador milita a aspectos eminentemente relacionados com a aplicação do conhecimento na perspectiva da intervenção profissional. É claro, isso sem abdicar do rigor científico e da qualidade argumentativa. Cremos que essa nova seção vai ao encontro das características da RBFEx e, uma vez o retorno por parte dos leitores revelando-se positivo, a intenção é repeti-la ao menos uma vez por ano. Finalmente, resta-nos desejar a todos um excelente final de ano, em paz e harmonia junto de suas famílias e entes queridos. Que 2009 possa nos sorrir a todos, sendo um ano pleno de alegrias e realizações! Cordialmente.

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Artigo original Identificação precoce de riscos em adolescentes sugere exclusão em programas de exercícios Identification of initial risks in teens suggests exercise program exclusion Akinori Cardozo Nagato*, Frank Silva Bezerra**, Eduardo Tavares Lima Trajano***, Marco Aurélio dos Santos Silva***, Éric Machado Guimarães***, Samuel Santos Valença**** *Laboratório de Reparo Tecidual – Departamento de Histologia e Embriologia – Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Pós-Graduação em Fisioterapia Cardio-Respiratória e Pneumo-Funcional – Universidade Castelo Branco, **Pós-Graduação em Ciências Morfológicas – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Curso de Fisioterapia – Universidade Severino Sombra, Curso de Fisioterapia – Universidade Severino Sombra, ***Curso de Fisioterapia – Universidade Severino Sombra, **** Laboratório de Reparo Tecidual – Departamento de Histologia e Embriologia – Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes – Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo

Abstract

Atualmente, a premissa dos estudos preventivos tem se direcionado a um estilo de vida saudável, incluindo a participação precoce em programas de exercícios, sob uma orientação profissional. As triagens precoces de saúde permitem a elaboração de prescrições mais apropriada e efetiva destes programas. O presente estudo teve como objetivo investigar se adolescentes de duas instituições da rede particular de ensino da cidade de Vassouras (RJ) estavam aptos para a inclusão direta em um programa de exercício, segundo as orientações do The American College of Sports Medicine. Para isto, foi utilizado um questionário baseado nos critérios da The Canadian Society of Exercise Physiology, o Physical Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q). Os resultados revelaram: relatos de desconforto torácico durante a prática de exercício físico (15,9%), perda do equilíbrio em virtude de uma tonteira ou perda da consciência (28,7%) e problemas ósseos ou articulares (16,5%). A maior parte dos adolescentes (53%) apresentava indicação direta para uma orientação prévia antes da inclusão em um programa de exercício físico. Observou-se que, embora a prática de exercício físico seja freqüente, os resultados obtidos sugerem inaptidão dos adolescentes para inclusão direta, sem orientação profissional, em um programa de exercício físico.

The premise of preventive studies has been currently directed to a healthy lifestyle, including early participation in exercise programs under a professional care. The health preliminary trials allow most appropriate and effective requirements for development of programs. Our aim was to investigate the prospective exercise program for direct inclusion of teens from private schools in the city of Vassouras (RJ) according to the guidelines of The American College of Sports Medicine. We used a questionnaire based in The Canadian Society for Exercise Physiology (Physical Activity Readiness Questionnaire - PAR-Q). After or during physical exercise we found reports of chest distress (15.9%), misbalance and faint (28.7%) and joint problems (16.5%). Some teens (53%) presented direct indication for orientation prior to inclusion in a physical exercise program. We observed in teens frequent physical exercise practice. However, our results suggest unfitness for inclusion of teens unaccompanied by professional supervision in a physical exercise program. Key-words: exercise program, teens, care identification.

Palavras-chave: programa de exercício, adolescentes, identificação de riscos.

Endereço para correspondência: Samuel Santos Valença, LRT/DHE/IBRAG/UERJ, Av. Prof. Manuel de Abreu, 444, 20550-170 Rio de

Janeiro RJ, Tel: 2587-6509

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Introdução A relação inversa entre a prática de exercícios e a prevalência de doenças crônicas tem sido destacada em vários estudos [1-4]. Os mais recentes têm considerado, ainda, que uma vida sedentária na infância pode estar associada às doenças cardiovasculares durante a vida adulta [5-7]. A verdade é que não há dificuldades em selecionar evidências de cunho biológico ou psicoemocional quanto às vantagens dos adolescentes se tornarem adequadamente ativos fisicamente [8]. A prática de educação física, tida como um componente curricular da educação básica, prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), hoje integra à proposta pedagógica da escola, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar. Porém, é difícil avaliar a atividade física, principalmente quando restrita às crianças e adolescentes, por haverem fatores de interferências como falta de pessoal capacitado para a coleta de dados e dificuldades de apoio financeiro para custeio desse tipo de estudo. Trabalhos recentes têm utilizado padrões referenciados por critérios como inquérito de aptidão física [9-14], onde colaboram ao encorajar os profissionais da saúde em estabelecer programas de triagem de saúde que interceptam mais precocemente os fatores positivos que contra-indicam os indivíduos para os exercícios. A triagem de saúde é importante por aprimorar a segurança durante a participação de uma atividade física, assim como permite elaborar uma prescrição mais apropriada e efetiva da mesma. Esta investigação deve ser aplicada por recursos válidos, custo efetivo e eficiente do ponto de vista temporal, devendo ainda a monitorização dessas tendências se dar de forma prática [9,8]. Sob estes aspectos, os questionários autoadministrativos têm se demonstrado valiosos no auxílio aos estudos sobre a atividade física [15,16]. O presente estudo teve como objetivo investigar se adolescentes de duas instituições da rede particular de ensino da cidade de Vassouras (RJ) estavam aptos para a inclusão direta em um programa de exercício, segundo as orientações do Colégio Americano de Medicina Esportiva [17,18].

Material e métodos O presente estudo, tipo inquérito, foi realizado após aprovação do projeto de pesquisa “Triagem de saúde e relação de riscos precoces à aptidão para inclusão em um programa de exercícios”, supervisionado pela Universidade Severino Sombra e seu respectivo comitê de ética para trabalhos científicos com seres humanos. Foram selecionadas duas entidades de ensino da cidade de Vassouras reconhecidas pelo Ministério da Educação, intituladas Colégio Sul-Fluminense de Aplicação (CA) e Colégio dos Santos Anjos (CSA). A opção pelo envolvimento dessas escolas se deu pela similaridade quanto às práticas administrativas (escolas da rede privada que oferecem o ensino médio),

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a localização geográfica (escolas próximas e localizadas no centro da cidade de Vassouras), ao perfil socioeconômico de seus alunos e à similaridade quanto ao tempo destinado para a disciplina de educação física, aproximadamente 50 minutos por aula dividida em duas aulas semanais. Foram selecionados para essa pesquisa os estudantes devidamente matriculados nas 1ª, 2ª, e 3ª série do ensino médio das escolas citadas, que demonstraram desejo em participar da pesquisa e que estiveram presentes no dia de visita dos pesquisadores. Inicialmente, essa amostra era composta de 166 alunos. Destes, apenas dois apresentava idade < 15 anos, o que foi sugestivo para exclusão dos mesmos para análise, uma vez que não atendiam as recomendações da Sociedade Canadense para Fisiologia do Exercício como critério inicial para responderem o Physical Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q), onde se recomenda um limite de idade compreendido entre 15 e 69 anos (Tabela I) [19]. Tabela I - Número de adolescentes que participaram do estudo respondendo o PAR-Q. Idade 15 anos 16 anos 17 anos 18 anos 19 anos 15 - 19 anos

Feminino n % 22 26,8% 41 50,0% 13 15,9% 4 4,9% 2 2,4%

Masculino n % 29 35,4% 31 37,8% 18 22,0% 4 4,9% 0 0,0%

Total n 51 72 31 8 2

82

82

164

100%

100%

% 31,1% 43,9% 18,9% 4,9% 1,2%

O questionário, validado e proposto para inclusão, direta ou sob orientação médica, em uma atividade física foi aplicado a 164 escolares, 82 do sexo masculino e 82 do sexo feminino, cuja média da idade e desvio padrão foi, respectivamente: 15,96 ± 0,88 e 16,06 ± 0,92. Além das questões relacionadas ao PAR-Q, os estudantes foram indagados sobre suas respectivas idades, sexo, dados antropométricos (altura e peso), e quatro questões específicas que apresentavam somente duas alternativas de resposta, uma para afirmação (sim) e outra para negação (não). As questões formuladas foram: 1. A instituição de ensino oferece a prática de educação física? 2. Você participa das aulas de educação física? 3. Você considera importante a prática de exercícios? 4. Fora das dependências da sua instituição de ensino você pratica alguma atividade física? Para a aplicação do PAR-Q os adolescentes foram reunidos em uma sala de aula na proporção de 15-20 estudantes para cada examinador a fim de que eventuais dúvidas pudessem ser prontamente esclarecidas. Foram veiculadas com o questionário instruções e recomendações para o seu preenchimento. Não foi estabelecido limite de tempo para o preenchimento do questionário, e durante sua aplicação os adolescentes permaneceram sem comunicação paralela a fim de que não houvesse

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possíveis interferências nas respostas. Foram considerados os critérios estabelecidos no próprio instrumento de investigação (PAR-Q) para a sugestão quanto à indicação ou não de uma orientação prévia para a participação de uma atividade física. Os questionários foram conduzidos para análise dos dados do grupo amostral a partir da equação IMC = peso (kg)/altura (m)2. O IMC específico para adolescentes foi estabelecido como baixo peso (BP) - 17,5 kg/m2, excesso de peso (EP) compreendido entre 25 kg/m2 e 30 kg/m2 e obesidade (OB) valores maiores que 30 kg/m2[20]. Os dados são apresentados em tabelas e gráfico. Para o cálculo da distribuição de freqüência do IMC e PAR-Q+ e PAR-Q– utilizou-se o teste qui-quadrado (Tabela VI). Para comparar as médias do IMC entre os alunos que apresentaram PAR-Q+ e PAR-Q– utilizou-se o teste t com a correção de Welch. Em ambos os casos a diferença estatística foi considerada quando valor de p ≤ 0,05.

Resultados O perfil antropométrico dos adolescentes que participaram do estudo está representado na Tabela II. As observações destes dados não evidenciaram diferenças significativas entre os dois grupos amostrais estudados. A idade média (anos), o peso (kg), a altura (m) e o IMC (kg/m2) dos adolescentes de

ambas as instituições foram, respectivamente, 16,01 ± 0,91, 61,32 ± 9,74, 1,70 ± 0,07 e 21,09. Ambas as instituições que participaram do estudo ofereciam a prática de atividade física em seu programa curricular, dado confirmado pelos adolescentes em 99,4%. A maior parte dos matriculados estava inserido em um programa de exercícios (90,9%). Do total de adolescentes, 98,8% consideraram a atividade física importante, ainda que grande parte dos mesmos relatou não praticar nenhuma atividade física fora das dependências da escola (40,2% - Tabela III). Os adolescentes entrevistados apresentaram um perfil de aptidão para a atividade física bastante heterogênea, se consideramos os critérios do Colégio Americano de Medicina Esportiva propostos no PAR-Q. Considerando os dados de ambas as instituições (CA e CSA) representadas na Tabela IV, percebemos que os relatos sugestivos de maior sugestão de inaptidão para a inclusão direta em uma prática de exercícios foram: 1. presença de desconforto torácico durante a prática de atividade física (15,9%); 2. perda do equilíbrio em virtude de uma tonteira ou perda da consciência (28,7%); 3. sofrimento de algum tipo de problema ósseo ou articular com possibilidade de piora por uma mudança em sua atividade física (16,5%).

Tabela II - Dados antropométricos dos adolescentes das duas instituições particulares de ensino de Vassouras,RJ. CA n Idade (anos): (d) Peso(Kg): (d) Altura (m) (d) IMC (Kg/m2) Sexo masculino 40 16,05 0,90 68,48 9,02 1,78 0,06 21,66 Sexo feminino 44 16,02 0,85 54,13 7,45 1,64 0,06 20,15 total 84 16,04 0,88 61,30 8,23 1,71 0,06 20,90 CSA Sexo masculino 42 15,88 0,86 65,75 10,28 1,75 0,07 21,51 Sexo feminino 38 16,11 1,01 56,93 12,20 1,65 0,07 21,03 total 80 15,99 0,93 61,34 11,24 1,70 0,07 21,27 CA + CSA 164 16,01 0,91 61,32 9,74 1,70 0,07 21,09 CA = Colégio de Aplicação; CSA= Colégio dos Santos Anjos; (d)= desvio padrão. Os dados foram expressos em média ±desvio padrão da média.

Tabela III - Distribuição de freqüências do número de adolescentes que responderam ‘SIM’ OU ‘NÃO’ às perguntas sobre a atividade física. I sim n 43 40 83

II sim n 35 37 72

III sim n 44 38 82

IV sim n 15 31 46

não não não não CA % n % % n % % n % % n % Feminino 97,7% 1 2,3% 79,5% 9 20,5% 100,0% 0 0,0% 34,1% 29 65,9% Masculino 100,0% 0 0,0% 92,5% 3 7,5% 95,0% 2 5,0% 77,5% 9 22,5% CA 98,8% 1 1,2% 85,7% 12 14,3% 97,6% 2 2,4% 54,8% 38 45,2% CSA Feminino 38 100,0% 0 0,0% 35 92,1% 3 7,9% 38 100,0% 0 0,0% 17 44,7% 21 55,3% Masculino 42 100,0% 0 0,0% 42 100,0% 0 0,0% 42 100,0% 0 0,0% 35 83,3% 7 16,7% CSA 80 100,0% 0 0,0% 77 96,3% 3 3,8% 80 100,0% 0 0,0% 52 65,0% 28 35,0% CA + CSA 163 99,4% 1 0,6% 149 90,9% 15 9,1% 162 98,8% 2 1,2% 98 59,8% 66 40,2% I - oferece a prática de educação física? II - Você participa das aulas de educação física? III - você considera importante a prática de exercícios? IV - fora das dependências da sua instituição de ensino você pratica alguma atividade física?

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Tabela IV - Distribuição de freqüência do número de indivíduos que responderam ‘sim’ ou ‘não’ aos questionamentos do PAR-Q. CA Feminino sim

CSA Feminino sim

não

n

%

n

%

n

%

n

não

%

n

%

n

%

n %

n

%

n

%

n

%

I

1

2,3%

43

97,7%

2

5,0%

II

8

18,2%

36

81,8%

7

17,5%

38

95,0%

1

2,6%

37

97,4%

1

2,4%

41

97,6%

5

3,0%

159

97,0%

33

82,5%

8

21,1%

30

78,9%

3

7,1%

39

92,9%

26

15,9%

138

III

5

11,4%

39

88,6%

3

7,5%

84,1%

37

92,5%

5

13,2%

33

86,8%

3

7,1%

39

92,9%

16

9,8%

148

90,2%

Masculino sim não

CA + CSA Masculino sim não

sim

não

IV

16

36,4%

28

63,6%

11

27,5%

29

72,5%

13 34,2%

25

65,8%

7

16,7%

35

83,3%

47

28,7%

117

71,3%

V

11

25,0%

33

75,0%

8

20,0%

32

80,0%

5

13,2%

33

86,8%

3

7,1%

39

92,9%

27

16,5%

137

83,5%

VI

1

2,3%

43

97,7%

0

0,0%

40

100,0% 1

2,6%

37

97,4%

0

0,0%

42

100,0%

2

1,2%

162

98,8%

VII

3

6,8%

41

93,2%

5

12,5%

35

87,5%

15,8%

32

84,2%

1

2,4%

41

97,6%

15

9,1%

149

90,9%

6

I - Seu médico já lhe disse que você é portador de uma afecção cardíaca e que somente deve realizar a atividade física recomendada por um médico? II - Você sente dor no tórax quando realiza uma atividade física? III - No último mês, você teve dor torácica quando não estava realizando uma atividade física?IV - Você perdeu o equilíbrio em virtude de uma tonteira ou já perdeu a consciência? V - Você sofre algum tipo de problema ósseo ou articular que poderia ser agravado por uma mudança em sua atividade física? VI - Seu médico está lhe receitando atualmente medicamentos (por exemplo, diuréticos) para a pressão arterial ou alguma condição cardíaca? VII - Você está a par de alguma outra razão pela qual não deveria realizar uma atividade física?

Tabela V - Distribuição de freqüência do número de adolescentes que responderam ‘não’ a todas as questões do PAR-Q ou ‘sim’ a pelo menos uma ou mais questões do PAR-Q. CA Feminino Masculino Total n % n % SIM’ para uma ou mais questões 29 65,9% 23 57,5% 52 61,9% NÃO’ a todas as questões 15 34,1% 17 42,5% 32 38,1% CA = Colégio de Aplicação; CSA = Colégio dos Santos Anjos

Cabe ressalvar que 9,1% dos entrevistados ainda afirmaram desconhecer alguma outra razão pela qual não deveriam realizar uma atividade física. A Tabela V apresenta a porcentagem de adolescentes que responderam “não” à todas as sete perguntas do PAR-Q (ou seja, estavam aptos para a inclusão direta em um programa de exercício físico). Pode-se observar que somente 47,0% dos adolescentes representavam esta parcela, enquanto a maior parte (53%) apresentava indicação direta para uma orientação prévia antes da inclusão em um programa de exercício físico – ou seja: aqueles que responderam “sim” a pelo menos uma das questões. A análise do teste qui-quadrado mostrou diferença significativa (p < 0,03) ao investigar a distribuição de freqüência do número de adolescentes que apresentaram PAR-Q+ (PAR-Q positivo = adolescentes que responderam “sim” a uma ou mais questões) e PAR-Q- (PAR-Q negativo = adolescentes que responderam “não” a todas as questões) segundo o IMC (Tabela VI). Finalmente as médias dos IMC dos adolescentes que relataram dor torácica durante a prática de atividade física com PAR-Q+ foi significativamente menor (p < 0,002) comparado aqueles identificados como “aptos” para a inclusão direta (PAR-Q-) em um programa de exercícios (Figura 1).

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CSA Feminino n % 19 50,0% 19 50,0%

CA + CSA Masculino n % 16 38,1% 26 61,9%

Total 35 41,7% 45 53,6%

n % 87 53,0% 77 47,0%

Tabela VI - Distribuição de freqüência do número de adolescentes que apresentaram PAR-Q positivo e PAR-Q negativo segundo o IMC

IMC (Kg/m2)

<17,5 17,5 - 25

PAR-Q + 15 60

7 63

10 5 25-30 >30 0 4 PAR-Q + = adolescentes que responderam “sim” a uma ou mais questões, e que sugere-se uma orientação prévia de um profissional da saúde para a inclusão em um programa de exercício. PAR-Q - = adolescentes que responderam “não” a todas as questões e estão aptos para a inclusão direta em um programa de exercício.

Discussão Inúmeros benefícios sobre a prática de exercícios físicos podem ser encontrados na literatura, tais como: diminuir o risco de aterosclerose e suas conseqüências (angina, infarto do miocárdio, doença vascular cerebral), ajudar no controle da obesidade, hipertensão arterial, diabetes, osteoporose, dislipidemias, ansiedade, depressão, doença pulmonar obstrutiva

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Figura 1 - Média do IMC dos adolescentes que já apresentaram dor torácica por conta de uma atividade física.

crônica, asma; diminuir o risco de afecções osteomusculares e de alguns tipos de câncer (colo e de mama), além de proporcionar melhor auto-estima e ajudar no bem-estar e socialização do indivíduo [17,21-25]. Apesar da amplitude destes benefícios, e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) colocar a Educação Física como componente curricular, no Brasil quase a metade dos escolares não tem aulas regulares de educação física [26]. Um estudo realizado em escolas públicas no Rio de Janeiro apontou índice de sedentarismo de 85% entre adolescentes do sexo masculino e de 94% nos do sexo feminino [27]. Tem-se observado que a participação em atividades físicas vem declinando consideravelmente com o crescimento, especialmente da adolescência para o adulto jovem [28]. Neste contexto, nosso estudo pôde identificar que a realidade das escolas particulares do município de Vassouras (CA e CSA) apresenta-se em disparidade quanto às demais instituições públicas do estado, apresentando uma representativa participação dos adolescentes na prática de educação física (90,9%). Parece ainda estar inserida nesse contexto a concepção da importância de participar de um programa de exercício, visto que 98,8% dos adolescentes consideravam importante a prática de exercícios. Nosso estudo sugere também que uma parcela dos adolescentes está efetivamente participando destes programas. No entanto, ainda são ineficazes os instrumentos de avaliação da atividade física e escassos os instrumentos que apontem preventivamente para uma inserção equivocada nestes programas de exercícios. Identificou-se na literatura que a utilização do PAR-Q, sob a perspectiva de liberação prévia para a prática de exercício físico, foi aplicado, precocemente a grupos variados de adultos [29,30]. Entretanto, em adolescentes, este estudo foi o primeiro a especificamente a relatar esta importância. Identificamos, através da sua utilização, que mais da metade dos adolescentes responderam positivamente a uma ou mais

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questões do PAR-Q, sugerindo uma orientação prévia de um profissional da área médica para estes se tornarem fisicamente mais ativos. Acreditamos que nossos esforços em buscar relações entre os dados antropométricos e a dor torácica e tonteira relatada pelos adolescentes esteve dificultada pelos inúmeros fatores intervenientes que não pudemos controlar, como, por exemplo: tipo de hábito alimentar e nível de estresse. Entretanto, esta dificuldade parece estar constantemente presente em estudos com adolescentes, pois ao contrário do que ocorre em adultos, não há consenso sobre os critérios antropométricos mais adequados para classificar sobrepeso e obesidade na infância e adolescência, mesmo se tendo utilizado, para esta finalidade diversos parâmetros, como: tabelas de crescimento, curvas de referência do IMC para a idade, IMC percentual, índice de massa corporal magra e medidas de pregas cutâneas; o que dificulta claramente a comparação de resultados. Em conclusão, grande parte dos adolescentes observados exibiu, em diferentes graus, inaptidão inclusão direta, sem supervisão profissional ou avaliação médica, em programas de exercício físico.

Conclusão A prática de exercício físico é freqüente nas instituições estudadas, estando grande parte dos adolescentes inseridos na prática de educação física e ainda praticando algum exercício físico extracurricular. Apesar de uma grande parcela dos adolescentes considerarem a prática de exercício físico importante, os resultados obtidos no presente estudo sugerem inaptidão dos adolescentes para inclusão direta (sem orientação de um profissional da saúde) em um programa de exercício físico. Isto nos leva a um questionamento fundamental: Estariam todos estes adolescentes corretamente incluídos em um programa de exercícios? Assim, outros estudos deveriam dedicar-se especificamente à proposição de instrumentos de investigação precoce de riscos relacionados à prática de exercícios. Como atualmente a premissa dos estudos preventivos tem se direcionado a um estilo de vida que se relaciona diretamente aos fatores de riscos precoces, comportamentos indesejáveis na adolescência podem afetar negativamente a saúde na vida adulta. Dentre esses hábitos, destaca-se a prática inadequada de exercício físico.

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Artigo original A influência aguda de uma sessão de Jump Fit no desempenho dos exercicios resistidos Acute influence of a Jump Fit class in resistive training performance Adriana Lemos*, Roberto Simão*, Humberto Miranda*, Jefferson da Silva Novaes* *Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Educação Física e Desportes

Resumo

Abstract

Existem evidências de que o treinamento de resistência antecedendo os exercícios resistidos (ER) pode influenciar no desempenho deste último. O objetivo deste estudo foi verificar a influência de uma aula de Jump Fit sobre o número de repetições em uma seqüência nos ER. A amostra foi de sete mulheres (23,7 ± 2,2 anos; 162,1 ± 5,7 cm; 54 ± 5,3 kg, praticantes de ER e Jump Fit. O estudo envolveu quatro visitas com intervalo de 48 horas entre as mesmas. Na primeira visita, foram avaliados a freqüência cardíaca em repouso, medidas antropométricas e o teste de 10 repetições máximas (10 RM). Após 48 horas realizamos um re-teste de 10 RM. Nos dois dias seguintes, após a obtenção das cargas, os indivíduos foram submetidos a duas sessões de treinamento, organizada em duas formas seqüenciais (SEQ A e SEQ B): SEQA – leg press 450, cadeira extensora e cadeira flexora, sendo três séries com cargas de 10RM, e intervalos de dois minutos entre as séries e exercícios. A SEQB – consistia primeiramente na aula de Jump Fit e em seguida a realização dos ER na mesma ordenação da SEQA. A realização das seqüências foi definida pelo balance cross-over design. Para verificar o comportamento do número de repetições, realizou-se uma ANOVA fatorial de duas entradas, seguida do teste post-hoc de Tuckey (p < 0,05). Comparando o número total de repetições dos ER sem a execução prévia do Jump Fit e após o Jump Fit, todas as séries comparadas apresentaram redução no número de repetições, com exceção da 1a série da flexão do joelho. Verificamos que a aula de Jump Fit influencia negativamente no desempenho dos ER.

There are evidences that endurance training, if applied before resistive training (RT), may influence the performance of the last one. This study intends to verify the influence of a Jump Fit class over the number of repetitions in an RT sequence. The sample we have used included seven women (23.7 ± 2.2 yrs; 162.1 ± 5.7 cm; 54 ± 5.3 kg), who practice RT and Jump Fit. The study has included four visits, with a 48-hour interval between them. In the first visit we have evaluated the heart frequency at rest, anthropometrics and the maximum weight in 10 maximum repetitions (10RM). Forty-eight hours after obtaining the load in 10 RM the re-test was made. After two days, the individuals were submitted to two training sessions, organized in two types of sequences (SEQ A and SEQ B): SEQA – leg press 450, leg extension and leg curl, of which 3 sets using 10 RM weights, and 2-minute intervals between sets and exercises. The SEQB – consisted of a Jump Fit class, followed by the performance of RT in the same order of SEQA. The way sequences were performed was defined by balance cross-over design. In order to verify the behavior of the number of repetitions, we have used a ANOVA two-way followed by the Tuckey post-hoc (p < 0.05) test. We have used the software Statistica 5.5 (Statsoft ®, USA). When we compared the number of RT repetitions, without previous Jump Fit exercise and after Jump Fit, all the sets compared have shown a reduction in the number of repetitions; with the exception of the first set of leg curl. We have verified that the Jump Fit class has a negative influence in RT performance. However, when the objective includes cardio resistance, Jump Fit training may be recommended as a good practice for fitness centers.

Palavras-chave: treinamento aeróbio, treinamento de força, treinamento concorrente, fadiga.

Key-words: aerobic training, strength training, concurrent training, fatigue.

Endereço para correspondência: Roberto Simão, E-mail: robertosimao@ufrj.br

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Introdução Os exercícios resistidos (ER) são constituintes importantes nos programas de condicionamento físico direcionados a promoção da saúde [1,2]. Sua prática continuada provoca adaptações fisiológicas favoráveis que podem variar em função de aspectos como intensidade da carga, número de repetições, freqüência semanal, ordem dos exercícios, intervalo entre as séries e sessões e período de duração do treino [2]. Tais diferenças podem ou não resultar em ganhos de força e hipertrofia muscular [2]. O treinamento aeróbio tem sido apontado como responsável por promover aumentos na densidade mitocondrial, enzimas oxidativas, mioglobina, consumo máximo de oxigênio e a capacidade de desempenhar trabalhos prolongados sem associação ao aumento de força e hipertrofia muscular [3,4]. Contudo, o treinamento simultâneo de exercícios aeróbios e de força parece modificar o curso destas respostas, interferindo positivamente, ou até comprometendo o desenvolvimento de tais valências [4,5]. Alguns autores [6,7] argumentaram que a realização de um treinamento combinado envolvendo trabalho de força e aeróbio acarreta menores ganhos de força em comparação com indivíduos que realizam somente o treinamento de força. No entanto, outros estudos [4,8,9] revelaram que há ainda uma grande indefinição sobre os reais efeitos fisiológicos, morfológicos e neuromusculares decorrentes deste tipo de treinamento. Sendo assim, sua interpretação depende de vários fatores, incluindo o nível de condicionamento dos indivíduos, o volume e a freqüência de treinamento, além da experiência motora e da forma como os dois métodos estão integrados. Uma das novas atividades que desenvolvem aptidão aeróbia e atualmente tem sido muito procurada nas academias é o Jump Fit, que constitui um programa de exercícios ritmados de membros superiores e inferiores sobre um mini trampolim. Seus benefícios são basicamente os mesmos que os alcançados pela prática regular dos exercícios aeróbios [10]. Contudo, não possuímos nenhuma evidência cientifica sobre o real comportamento dos ER após a metodologia de treino pré-coreografado. Desta forma, o objetivo deste estudo foi verificar a influência de uma sessão de Jump Fit no desempenho dos ER para membros inferiores em mulheres treinadas.

Materiais e métodos

Amostra Fizeram parte da amostra, sete mulheres (23,7 ± 2,2 anos; 162,1 ± 5,7 cm; 54 ± 5,3 kg), praticantes de ER e Jump Fit. Para seleção da amostra respeitaram-se os seguintes critérios de inclusão: a) prática regular de atividades no Jump Fit e ER pelo menos seis meses, com freqüência semanal míni-

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ma de três vezes; b) índice de massa corpórea ≤ 21 kg/m-2, evitando-se níveis de sobrepeso que comprometessem a qualidade de execução dos movimentos; c) questionário PAR-Q negativo; d) ausência de problemas osteomioarticulares que viessem limitar a realização dos exercícios propostos. Todas as voluntárias assinaram um termo de consentimento pósinformado, conforme sugerido pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, após aprovação pelo Comitê de Ética da Instituição.

Coleta de dados O estudo envolveu quatro dias de coleta de dados com intervalo de 48 horas entre as mesmas. Na primeira visita, foi avaliada a freqüência cardíaca em repouso, composição corporal e medidas de estatura, massa corporal e a carga em um teste de 10 repetições máximas (10 RM) [11]. As voluntárias foram aconselhadas a não praticar exercícios físicos nas 48 horas anteriores aos testes. Na segunda visita, realizou-se um re-teste de 10 RM para verificar a reprodutibilidade das cargas alcançadas nos testes. Diferenças superiores a 5% nas cargas obtidas em ambos os testes não poderiam ser utilizadas. A obtenção de cargas no teste de 10 RM constou dos seguintes exercícios: leg-press 450, cadeira extensora e cadeira flexora, em função da sua grande utilização em academias e facilidade de execução. Objetivando reduzir a margem de erro no teste de 10 RM, foram adotados os seguintes procedimentos: a) instruções padronizadas foram fornecidas antes do teste, de modo que o avaliado estivesse ciente de toda a rotina que envolvia a coleta de dados; b) o avaliado foi instruído sobre a técnica de execução do exercício; c) o avaliador permanecia atento quanto à posição adotada pelo praticante no momento da medida, pois pequenas variações no posicionamento das articulações envolvidas no movimento poderiam acionar outros músculos, levando a interpretações errôneas dos escores obtidos; d) estímulos verbais foram realizados a fim de manter alto nível de estimulação. Foram executadas até cinco tentativas na obtenção das cargas para 10 RM. Os intervalos entre as tentativas em cada exercício durante o teste foram fixados entre dois a cinco minutos. Após a obtenção da carga em 10 RM em determinado exercício, intervalos não inferiores a 10 minutos foram aplicados. Na 3a e 4a visitas, após 48 horas da obtenção das cargas nos testes de 10 RM, os indivíduos foram submetidos a duas sessões de treinamento, com intervalo de 48 horas entre as mesmas. Nos intervalos entre as sessões não foi permitida a realização de exercícios que pudessem influenciar nos dados. A condução do treinamento durante as sessões foi realizada através de duas formas seqüenciais: seqüência A (SEQA) – consistia realização dos ER na seguinte ordem: leg press 450, cadeira extensora e cadeira flexora. Eram realizadas três séries, com cargas de 10 RM até a falha concêntrica.

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Os intervalos entre as séries e exercícios eram fixados em dois minutos. A capacidade de desempenho nas repetições foi determinada pela exaustão ou incapacidade de manter o padrão do movimento. Todos os exercícios supracitados foram realizados em equipamentos da marca Technogym@ selection. A seqüência B (SEQB): consistia na realização da coreografia da aula de Jump Fit e logo em seguida a realização dos ER na mesma ordenação da SEQA. Antes da aula de Jump Fit, todas as avaliadas permaneceram sentadas em repouso durante 10 minutos em uma sala isolada. A temperatura situou-se entre 18º e 21º centígrados e a umidade relativa do ar entre 43 a 65%. A inclusão dos indivíduos nas distintas seqüências de exercícios foi definida pelo balance cross-over design. O aquecimento na SEQA consistiu em trabalho específico de 12 repetições com 40% da carga de 10RM. Esse procedimento foi adotado apenas no primeiro exercício da seqüência. Já na SEQB, o aquecimento respeitava o padrão da aula do Jump Fit, descrito a seguir. O Jump Fit consiste em rotinas coreográficas que envolvem exercícios de corrida, polichinelos, deslocamentos, e elevações de joelhos e calcanhares, combinados com movimentos dos braços, e executados sobre um mini trampolim. O equipamento permite a realização de exercícios que envolvem a força da gravidade, além da aceleração e desaceleração, devido à sua superfície elástica e sistema de fixação de molas de especial resistência, que permitem atingir uma alta performance na execução dos exercícios. Os exercícios propostos são apresentados em forma de coreografias simples e de fácil execução, iniciando com uma coreografia no solo, seguido de um estágio de aquecimento (pre-training), entrando na parte principal, também denominada cardio-training. Sua fase final é composta por movimentos suaves utilizados para volta à calma.

Análise estatística

Figura 1 - Número de repetições para o exercício leg-press 450 realizado sem a execução do Jump Fit (coluna cinza) e após a execução do Jump Fit (coluna diagonal).

*Diferença significativa para a série correspondente realizada sem a execução do Jump Fit.

Figura 2 - Número de repetições para a flexão do joelho realizado sem a execução do Jump Fit (coluna cinza) e após a execução do Jump Fit (coluna diagonal).

* Diferença significativa para a série correspondente realizada sem a execução do Jump Fit.

Figura 3 - Número de repetições para o exercício extensão do joelho realizado sem a execução do Jump Fit (coluna cinza) e após a execução do Jump Fit (coluna diagonal).

Para verificar a influencia da aula de Jump Fit no número de repetições nos ER, realizou-se uma ANOVA de duas entradas com medidas repetidas, seguida do teste post-hoc de Tukey. Utilizou-se como significância estatística, p < 0,05. Os dados foram tratados no software Statistica 5.5 (Statsoft ®, USA).

Resultados Ao comparar o número de repetições dos ER sem execução prévia do Jump Fit com a execução após sessão Jump Fit, observou-se uma redução do número de repetições em todos os exercícios estudados, exceto na primeira série da cadeira flexora. No que diz respeito a influência da sessão de Jump Fit nas distintas séries em cada exercício, observaram-se reduções significativas na terceira série do leg press 450 e cadeira flexora (Figuras 1 e 2, respectivamente), na segunda e terceira série da cadeira extensora (Figura 3).

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*Diferença significativa para a série correspondente realizada sem a execução do jump-fit

Discussão Alguns estudos demonstram que os exercícios aeróbios realizados previamente aos ER exercem efeitos deletérios neste último, como a redução do desempenho agudo em testes espe-

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cíficos [12,13]. Uma possível explicação para tal fato é que uma sessão de trabalho aeróbio promoveria mudanças metabólicas agudas durante a sessão dos ER subseqüentes [4,14]. Vale ressaltar que a literatura sugere um comprometimento das adaptações decorrentes dos ER em virtude da realização prévia do treinamento aeróbio [6,15]. O contrário, porém, parece não ser constatado em alguns experimentos [9,13]. Existem diferentes posicionamentos sobre a interferência da combinação do treinamento aeróbio de intensidade elevada nos programas de ER [16]. A natureza do treinamento aeróbio também difere muito nos estudos. Corrida [6,17], ciclismo [7,12,18], remo [4,8], arremesso [5] e a combinação de corrida com ciclismo [19] têm sido apresentados como constituintes do treinamento aeróbio de estudos sobre treinamento concorrente. Alguns autores [17,20] sugerem que o treinamento aeróbio possivelmente interfira na capacidade do sistema neuromuscular em gerar a força máxima, hipótese associada diretamente ao efeito agudo. Embora um número considerável de estudos tenha relacionado às adaptações no desempenho com o treinamento concorrente, poucos analisaram os mecanismos fisiológicos marcantes responsáveis pela inibição da força [6,7,9]. O treinamento aeróbio previamente aos ER compromete as adaptações decorrentes do estímulo de força através da alteração do padrão de recrutamento muscular e/ou da atenuação da hipertrofia [14]. Segundo Kraemer et al. [6], há uma diminuição na hipertrofia de fibras do tipo II quando o treinamento aeróbio é conjugado ao treinamento de força. A maior diferença na metodologia do presente estudo em relação aos obtidos na literatura existente parece que a maior diferença reside na especificidade do treinamento aeróbio aplicado previamente a uma seqüência de ER. Não foi encontrado na literatura nenhum material referente à utilização do Jump Fit antecedendo uma seqüência de ER. Entretanto, nossos achados parecem concordar com diversos estudos que utilizaram outros exercícios de treinamento aeróbio, que demonstraram a influência negativa do treinamento contínuo de longa duração precedendo os ER no desempenho da força [12,13]. Após sessão de Jump Fit em todos os exercícios e séries, exceto na primeira série de flexão de joelhos, observou-se uma redução no número de repetições em cada série, quando comparados à mesma seqüência sem o Jump Fit. Os estudos que demonstram a influência dos exercícios aeróbios antecedendo aos ER possuem uma duração média entre 21 a 160 minutos [14]. Parece claro que exercícios com essa faixa de duração influenciam negativamente no desempenho dos ER. Os fatores influenciadores mais prováveis na fadiga podem ser: o estresse térmico, a desidratação, o percentual do VO2pico no qual se exercita, o limiar de lactato do indivíduo, a percentagem de fibras do tipo I recrutadas, a biomecânica de execução e o conteúdo de glicogênio muscular [5,6,14]. No presente estudo, observamos que os exercícios realizados no mini-trampolim, durante 60 minutos antes dos ER, influenciaram negativamente no desempenho. Tal fato

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pode estar relacionado à intensidade da aula, caracterizada em recente estudo [10] como de intensidade moderada para alta. Nesse caso o trabalho correspondeu aproximadamente à 75% do VO2pico. Outro fator importante que pode ter influenciado no desempenho dos ER foi a fadiga de membros inferiores, principalmente nas séries da cadeira extensora, onde observouse redução significativa do número de repetições na segunda e terceira séries, quando comparada as séries executadas sem o treinamento prévio do Jump Fit. Isso nos leva a crer que a aula de Jump Fit pode exercer uma forte fadiga na musculatura do quadríceps, visto que na realização da extensão de pernas, a redução no número de repetições ficou mais evidente. Em estudo proposto por Leveritt et al.[16], 26 estudantes foram divididos em três grupos selecionados de forma aleatória. O primeiro grupo realizou somente ER. Já o segundo, realizou somente o treinamento aeróbio, enquanto o terceiro, realizou simultaneamente trabalho aeróbio e ER. O programa nos ER consistia nos exercícios leg-press, extensão de pernas, flexão de pernas, supino horizontal, puxada no pulley, flexão de cotovelos, elevação lateral dos braços e abdominais. Os sujeitos treinaram por seis semanas, três vezes semanais, com cargas de 4-8 RM e intervalo entre as séries de três minutos. O treinamento de resistência no ciclo-ergômetro consistia em períodos de cinco minutos nas intensidades de 40, 60, 80, 100% do VO2depico com intervalos de cinco minutos leves para recuperação. Utilizou-se o teste de 1 RM para avaliação da carga. Após seis semanas de treinamento, os resultados demonstraram que os grupos que realizaram somente os ER e o treinamento simultâneo aumentaram a força significativamente no teste de 1 RM, mas o grupo que treinou somente força teve maior ganho. Em compensação, o grupo que treinou somente treinamento aeróbio não aumentou força de forma significativa. Isso demonstra que sessões de treinamento aeróbio de longa duração, conjugados aos ER podem trazer prejuízos ao desempenho da força. Em outro estudo que verificou os efeitos crônicos do treinamento aeróbio sobre o desempenho da força, os resultados foram similares. Jolpe et al. [3] verificaram a influência de um treinamento de corrida no desempenho da força. As voluntárias foram divididas em três grupos. Um treinava somente ER, enquanto o segundo fazia 25 minutos de corrida a 75% da FC de reserva acompanhado por ER. Já o terceiro grupo serviu como controle. Os ER consistiam de 10 exercícios, sendo quatro para membros inferiores (leg press, extensão de pernas, flexão de pernas e panturrilha) e seis para membros superiores. As voluntárias treinaram durante nove semanas, uma hora por dia, três vezes semanais (2a, 4a e 6a), de forma periodizada de acordo com o modelo de Stone e O’Bryant [21]. Os testes de força eram realizados a cada duas semanas no exercício leg-press. Como resultado, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos que treinaram somente ER e o treinamento simultâneo. Apesar das diferenças metodológicas na aplicação do treinamento e na forma de coleta de dados entre os dois últimos experimentos, os resultados foram similares.

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No que diz respeito aos efeitos agudos do treinamento concorrente envolvendo trabalho aeróbio e de força, isso também parece ocorrer. Em nossos achados, verificamos que o treinamento trouxe uma redução do número de repetições em praticamente todos os exercícios. Como pode ser visto nas figuras 1, 2 e 3, o desempenho nos ER, expresso pelo número de repetições máximas nos exercícios, foi menor com a prática do Jump Fit antes. Isso se mostrou mais evidente, principalmente com a evolução das séries. Nesse caso, pode-se observar que na terceira série do leg-press e cadeira flexora, bem como na segunda e terceira séries da cadeira extensora, a queda do desempenho foi mais evidente. Com base nos resultados supracitados, podemos acreditar que ganhos de força podem sofrer prejuízo no treinamento simultâneo envolvendo Jump Fit e ER. Porém, se o objetivo primordial recair no ganho de força, seria melhor treinar os ER antes do Jump Fit, devido à menor possibilidade de fadiga. Em contrapartida, se o objetivo recair na melhora do condicionamento cardiorrespiratório, o treinamento simultâneo iniciado com o treinamento aeróbio parece ser aceitável. Na sessão de Jump Fit, cujo modelo do programa é fixo nos tempos musicais, verificou-se uma FC média em esforço de 166 bpm, o que pode ser considerado elevado, ainda mais para uma duração do esforço em 60 minutos. Dessa forma, devido aos elevados graus de intensidade e volume de trabalho em uma sessão de Jump Fit, acredita-se que possa haver uma fadiga local, afetando o treinamento posterior.

Conclusão Com base nos resultados encontrados no presente estudo, pode-se concluir que a aula de Jump Fit apresenta alta intensidade e volume de trabalho, trazendo como efeito agudo a influencia negativa no desempenho da força em mulheres treinadas, quando realizada antes dos ER. Contudo, quando o objetivo principal do treinamento recair na melhoria do condicionamento cardiorespiratório, o treinamento de Jump Fit parece ser uma atividade indicada como opção de aula nas academias. Importante também destacar, que a magnitude da influência das aulas de Jump Fit no desempenho agudo da força tende a ser mais pronunciada com a evolução das séries. Nesse sentido, em uma sessão de exercícios realizados com séries simples, a aula de Jump Fit parece não exercer influência negativa no desempenho da força. Estudos futuros necessitam ser conduzidos para melhor investigar a influência das sessões de Jump Fit sobre o desempenho dos ER.

Agradecimentos À professora Cida Conti pelo seu apoio e incentivo nas pesquisas relacionadas ao Jump Fit; à academia Companhia Athletica (RJ-Brasil), pelo apoio ao estudo; aos professores Cid Queiroz e Grazielle Bonato, pelo apoio na coleta de dados.

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Artigo original Autopercepção da saúde de mulheres acima de 30 anos após participação em programa de alongamento estático voltado para promoção da saúde Health self-perception of women above 30 years after participation in a static stretching program directed toward health promotion Josenei Braga dos Santos, M.Sc.*, Everton Silveira Campos, M.Sc.**, André Junqueira Xavier, D.Sc.*** *Engenharia de Produção (Área de Concentração – Ergonomia/UFSC), Educação Física – Universidade Regional de Blumenau (FURB), Lótus Fisioterapia e Serviços na Área da Saúde, **Engenharia de Produção (Área de Concentração - Ergonomia/UFSC), Fisioterapia – Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Lótus Fisioterapia e Serviços na Área da Saúde, ***Informática em Saúde (UNIFESP/EPM), Medicina – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Resumo

Abstract

O objetivo deste estudo foi avaliar a autopercepção de saúde de mulheres acima de 30 anos participantes de um programa de alongamento estático voltado para a promoção da saúde. A amostra foi composta por dez sujeitos do sexo feminino, entre 30 e 55 anos, que apresentavam desconfortos corporais, sendo que três relataram ter algum problema de saúde. O estudo obedeceu a três etapas: pré-teste - questionário sobre as condições de saúde, avaliação da flexibilidade por meio do Teste de Sentar e Alcançar (TSA) e classificação conforme Canadian Society of Exercise Physiology – CSEP; intervenção - 26 sessões de alongamento estático, por quatro meses, duas vezes por semana em dias alternados, com duração de 30 a 45 minutos cada sessão, três repetições de exercícios para cada articulação (pescoço, ombros, coluna vertebral, quadril, joelhos e tornozelos) com duração de 15 a 30 segundos em cada posição, exercícios de resistência muscular localizada, três séries de 10 repetições, orientações sobre hábitos de saúde, postura corporal, técnicas de respiração e relaxamento; e pós-teste os mesmos procedimentos do pré-teste mais avaliação qualitativa dos sujeitos. Os resultados mostraram que antes da intervenção, a flexibilidade de 10% dos sujeitos estava em situação excelente, 30% em situação boa, 40% em situação regular e 20% precisava melhorar. Após a intervenção, 10% estavam em situação excelente, 50% em situação boa, 30% em situação regular e 10% precisavam melhorar. Assim, percebeu-se que as sessões ajudaram os sujeitos a manter a flexibilidade e até melhorá-la em alguns casos, bem como, auxiliou os sujeitos que estavam com problema de saúde a mudarem seus hábitos de vida.

The aim of this study was to evaluate the self-perception of women health above 30 years who were participants of a static stretching program directed toward health promotion. The sample was composed by ten female subjects, age group 30-55 years, who showed body discomforts, three of them reported to have health problems. The study followed three stages: pre-test - questionnaire on health conditions, evaluation of flexibility by seat-and-reach test and classification according to Canadian Society of Exercise Physiology - CSEP; intervention - 26 sessions of static stretching for four months, two times per week in alternated days, duration 30-45 minutes each session, three repetitions of exercises for each joint (neck, shoulders, vertebral column, hip, knees and ankles) duration of 15-30 seconds in each position, exercises of located muscular resistance, three series of 10 repetitions, orientation on health habits, body posture, techniques of breath and relaxation; and post-test - same procedures of pre-test and subjects qualitative evaluation. The results showed that before intervention, flexibility of 10% of the subjects was excellent, 30% good, 40% regular and 20% needed to improve. After intervention, 10% were in excellent condition, 50% in good condition, 30% in regular and 10% needed to improve. Thus, one concludes that the sessions helped the subjects to keep the flexibility and improve in some cases, and also helped those who had health problems to change life habits. Key-words: static stretching, flexibility, empowerment.

Palavras-chave: alongamento estático, flexibilidade, empoderamento.

Endereço para correspondência: Josinei Braga dos Santos, Rua Prof. Bento Águido Vieira 340/102, 88036-410 Florianópolis SC, Tel:

(48) 3334-0010, E-mail: jobrs7@yahoo.com.br

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Introdução Segundo Cyrino et al. e Araújo [1,2], o uso de exercícios de flexibilidade dentro dos programas de atividade física que visam à prevenção e a promoção da saúde representam um componente para a melhoria da aptidão física. Para Nahas, Porto et al., Terra, Lima e Gobbi, Bertazolli, Achour-Júnior e Nieman [3-8], uma boa condição física facilita no desenvolvimento das atividades diárias (AVD), melhora a integração das pessoas através de atividades esportivas/recreativas, evitam a fadiga e os desconfortos posturais, diminuem a tensão e o estresse, reduzem o risco de lesões musculares e articulares, desenvolve a manutenção do equilíbrio musculoesquelético e, conseqüentemente, ajudam no funcionamento músculo-articular. Já Coelho e Araújo [9] vão mais além, afirmando que os programas de atividades físicas também têm sido utilizados para melhoria da saúde pública e que diferentes estratégias têm sido utilizadas para que as pessoas tenham mais acesso aos programas de exercícios. Em virtude destas afirmações, pretendeu-se, neste estudo, trabalhar com o alongamento estático que é uma técnica simples, barata e de fácil aplicação para melhora da flexibilidade, redução das dores musculares e desconfortos posturais na busca pela promoção de saúde, qualidade de vida, bem estar e autonomia das pessoas. Segundo Achour-Júnior e Teixeira [10,11], esta técnica é uma das mais utilizadas nos programas de treinamento para a aptidão física objetivando saúde e, conseqüentemente, melhora da flexibilidade pelo fato de alongar de modo lento e progressivo o grupamento muscular até a maior amplitude articular confortável. De acordo com estes autores, ela deve ser praticada em dias alternados, sem desconforto insuportável, buscando sustentar nesta posição durante 20 a 30 segundos. Sabe-se que as maiores amplitudes são obtidas nos 15-20 segundos iniciais, por isso, deve-se repetir de duas a quatro vezes cada principal grande articulação e seus movimentos básicos, em virtude do risco de lesão ser baixo, requerendo pouco tempo e nenhum auxílio externo, e que seus objetivos estão voltados para diminuição da tensão muscular e a pressão sanguínea, melhorando o aproveitamento da energia mecânica, o que dá comodidade ao movimento e facilita a aprendizagem das posições. Entende-se por flexibilidade uma qualidade física que é responsável pela execução voluntária de movimentos de grande amplitude (movimentação articular), ou sob forças externas dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesão em torno das articulações [3,8,12-16]. Segundo Ciryno et al. [1] considerando que a flexibilidade de uma articulação é dependente do seu nível de utilização, o envolvimento em programas regulares de exercícios físicos pode favorecer a melhoria dos níveis de flexibilidade, principalmente de sujeitos sedentários, uma vez que as articulações, até então pouco utilizadas e, provavelmente, encurtadas, passarão a receber um estímulo progressivo que acarretará adaptações bastante positivas em médio ou longo prazo.

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Com isto, é extremamente importante que se priorize, amplie e desenvolva exercícios de flexibilidade, o que para Campos e Coraucci-Neto, Guiselini e Nahas [3,17,18], tem relação direta com o aumento da produção de força dos músculos devido à relação força-comprimento exibida pelo tecido muscular. Sendo assim, objetiva-se neste estudo avaliar a autopercepção de saúde de mulheres acima de 30 anos praticantes de um programa de alongamento estático voltado para promoção da saúde. Para seu desenvolvimento, adotou-se como referência duas fundamentações teóricas: a) Morin [19,20] quando fala em educação sobre a importância da inteligência geral para resolução de problemas do ser humano, do conhecimento, da consciência de sua identidade complexa e comum a todos os outros humanos; e b) a cultura de empoderamento na saúde, proposta pela Organização Panamericana de Saúde [21], ou seja, ajudá-las a gerenciar sua própria saúde por meio da prática de exercício físico.

Materiais e métodos A amostra foi composta por um grupo de dez sujeitos (sexo feminino), com faixa etária entre 30 a 55 anos (43,9 ± 10,02), que relataram ser sedentárias e apresentavam queixas de dores musculares e desconfortos posturais. Destas, três relataram ter algum problema de saúde: a) sujeito 2 apresentava sintomas de depressão controlada por medicamento, fazia acompanhamento médico e tinha obesidade grau I; b) sujeito 4 sofria de asma, possuía condromalacia nos joelhos e fazia tratamento com sessões de reeducação postural global (RPG); e c) sujeito 8 tinha artropatia mecânica na região lombar, controlada por medicamento, apesar da indicação de tratamento cirúrgico, fazia acompanhamento médico e apresentava obesidade grau I. A pesquisa obedeceu a três etapas: 1ª. etapa (pré-teste) - questionário sobre as condições de saúde e avaliação da flexibilidade por meio do teste de sentar e alcançar (TSA), proposto por Wells e Dillon [22] e classificação conforme Canadian Society of Exercise Physiology – CSEP [23], 2ª. etapa (intervenção) - 26 sessões de alongamento estático, por um período de quatro meses, praticados duas vezes por semana em dias alternados, com duração de 30 a 45 minutos cada sessão, na qual foram realizadas três repetições de exercícios para cada articulação: pescoço, ombros, coluna vertebral, quadril, joelhos e tornozelos com tempo de permanência de 15 a 30 segundos em cada posição. Também se desenvolveu um trabalho de resistência muscular localizada por meio de exercícios abdominais, três séries de 10 repetições e orientações sobre hábitos de saúde, postura corporal, técnicas de respiração e relaxamento e 3ª. etapa (pós-teste) - questionário sobre as condições de saúde, avaliação da flexibilidade por meio do (TSA) e avaliação qualitativa para saber os benefícios causados pelos exercícios físicos praticados. Para desenvolvimento do estudo, seguiu-se a resolução específica do Conselho Nacional de Saúde [24]. No que se

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refere ao termo de consentimento livre e esclarecido, todas assinaram, confirmando que estavam cientes dos propósitos da investigação e dos procedimentos que seriam utilizados e autorizaram a publicação dos dados obtidos.

Análise estatística Os resultados do questionário e do TSA foram digitados em uma planilha eletrônica do programa Microsoft Office Excel® 2003, seguida da conferência manual para identificação de outliers, na qual foram observados os valores extremos e corrigidos, se necessário. Para análise dos dados, utilizou-se a estatística descritiva tomando como referência mostrar os níveis de flexibilidade (pré e pós) do grupo, assim como, apresentar o percentual (%) de melhora do maior para o menor valor numérico.

Resultados Como pode ser observado, na Tabela I, apresenta-se a avaliação do nível de flexibilidade das mulheres acima de 30 anos mostrando as alterações ocorridas durante o período de quatro meses. Após o desenvolvimento das sessões, identificou-se que os sujeitos obtiveram 80,38% de participação. No que se referiu à flexibilidade antes da intervenção, segundo a CSEP [23], um sujeito estava em situação excelente (10%), três sujeitos em situação boa (30%), quatro em situação regular (40%) e dois precisavam melhorar (20%). Após a intervenção, um sujeito permaneceu na situação excelente (10%), cinco em situação boa (50%), três em situação regular (30%) e um precisava melhorar (10%).

Discussão Como pode ser observado, houve mudança em duas classificações após a intervenção. A primeira podendo ser explicada pelo fato do sujeito 1 relatar que durante o período de inter-

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venção passou a praticar musculação como complemento da atividade e a segunda pelo fato do sujeito 4, começar a praticar caminhadas durante a semana. Estes resultados refletem o que diz Ciryno et al. [1], quando afirmam que a prática regular de programas de exercícios físicos voltados para o desenvolvimento ou manutenção da aptidão física relacionada à saúde pode exercer papel fundamental ao longo da vida das pessoas. Outro fator apontado por estes autores é que o treinamento com pesos pode contribuir efetivamente para a preservação ou melhoria dos níveis de flexibilidade. Em virtude do número de participantes do grupo ser pequeno, neste estudo, não se pode mostrar diferenças estatisticamente significativas entre o pré e o pós-teste, mas observa-se que houve melhora nos valores de flexibilidade de sete sujeitos, bem como, manutenção das classificações, o que pode ser considerado como um fator benéfico para a saúde destes sujeitos. Em um estudo parecido, só que com idosos, desenvolvido por Rebelatto et al. [25], mostrou que quando eles estudaram a influência de um programa de exercícios físicos prolongados sobre a flexibilidade, os idosos mantiveram a classificação, evitando assim, perdas naturais que o processo de senescência determina, mas não conseguiram mostrar diferenças estatisticamente significativas entre as medidas no decorrer deste período. Já nas pesquisas de Candeloro e Caromano [26] quando verificaram o efeito de um programa de hidroterapia na flexibilidade de idosas saudáveis e sedentárias, comprovaram que o programa foi eficiente com diminuição da distância punho-tornozelo no teste de flexão anterior de tronco e na distância dedo-dedo no teste de envergadura. Enquanto que Souza e Silva, Albertini e Costa [27] quando analisaram as diferenças nas capacidades físicas de adultos com idades entre 45 a 75 anos (grupos de indivíduos treinados e sedentários), identificaram um melhor parâmetro de flexibilidade nos indivíduos treinados (24,8 ± 11,8 cm) do que nos indivíduos sedentários (17,5 ± 5,1 cm). De acordo com o que está preconizado na literatura, consegue-se perceber que a prática de exercícios físicos que

Tabela I – Avaliação do nível de flexibilidade de mulheres acima de 30 anos durante o período de quatro meses. Sujeito 1 2* 3 4* 5 6 7 10 9 10* Média DP

Total de sessões Idade 20 51 19 43 23 49 17 31 21 30 23 55 14 47 25 30 26 55 21 48 20,9 43,9 3,63 10,02

Testes Pré (cm) 18 11 30 31,4 33 30,3 27,8 44 28,7 29,3 28,35 8,77

Classificação Melhorar Melhorar Bom Regular Bom Bom Regular Excelente Regular Regular

Pós (cm) 31,7 14,6 32 32,5 34 30,6 28 43,5 27,5 27 30,14 7,21

Classificação Bom Melhorar Bom Bom Bom Bom Regular Excelente Regular Regular

Melhora (%) 76,11 32,72 6,66 3,50 3,03 0,99 0,71 - 1,13 - 4,18 - 7,84

Classificação Boa - CSEP (1998) 30 a 39 anos (32 a 35 cm) 40 a 49 anos (30 a 33 cm) 50 a 59 anos (30 a 32 cm) *Sujeitos que relataram ter problemas de saúde

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visam melhora da flexibilidade, têm uma relação direta com a saúde, contribuindo para melhora da promoção de saúde, qualidade de vida, bem estar e autonomia das pessoas. Com relação aos sujeitos que estavam com problema de saúde, o sujeito 2 decidiu, junto com seu médico, diminuir a medicação e mudar os hábitos alimentares, o sujeito 4 afirmou que as sessões ajudaram a controlar as dores no joelho, passando a praticar caminhadas durante a semana e o sujeito 10 adotou como estratégia, controlar as dores por meio de sessões de fisioterapia com abordagem mecânica, parou de tomar medicação e começou a fazer acompanhamento nutricional para redução do peso corporal. No que se refere à avaliação qualitativa, todos relataram perceber aumento da flexibilidade, redução das dores musculares e desconfortos posturais, maior disposição, melhora na qualidade do sono, auto-estima, concentração e consciência corporal e buscaram ampliar esta prática para seus familiares e para suas atividades profissionais. Estes relatos caracterizam bem o que dizem Guiselini, Nahas e Coelho e Araújo [3,9,18], quando afirmam que um estilo de vida ativo estimula positivamente mudanças de comportamentos que se refletem na melhoria da saúde, qualidade de vida e bem estar das pessoas, proporcionando mais autonomia para a vida.

Conclusão Este estudo mostrou que a prática destes tipos de exercícios físicos (alongamento estático e resistência muscular localizada) mais o acréscimo da cultura de empoderamento tiveram um impacto positivo sobre a saúde e qualidade de vida desses sujeitos, ajudando-os a manter a flexibilidade e até melhorála em alguns casos e estimulou para a adoção de um estilo de vida mais ativo durante este período. Outro ponto de destaque e de grande importância foi que a atividade em grupo, além de auxiliar no processo de integração, comunicação e cooperação, também colaborou para a tomada de decisão dos sujeitos que estavam com problema de saúde a mudarem seus hábitos. Cabe ressaltar que o período de quatro meses com intervenção, demonstrou ser um tempo suficiente para ajudá-las a manter suas classificações e fazer com que as participantes entendessem um pouco mais sobre como gerenciar sua saúde.

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Artigo original Efeitos do exercício de natação em ratas com suplementação nutricional de sacarose Effects of swimming in rats with sucrose dietary supplementation of sucrose Danilo Aparecido Rodrigues*, Faissal Serhan*, Mariana Rotta Bonfim*, Ricardo Zacharias**, Renato Pedroso**, Susimary, Trevizan Padulla, D.Sc.***, Regina Miranda Burneiko***, Ivânia Garavello***, Ethel L B Novelli**** *Acadêmicos do Curso de Educação Física da FCT-UNESP-Presidente Prudente,**Acadêmicos do Curso de Fisioterapia da FCTUNESP-Presidente Prudente, ***Profa do Departamento de Fisioterapia da FCT-UNESP-Presidente Prudente, ****Profa Titular do Departamento de Química e Bioquímica do IB-UNESP, Botucatu

Resumo

Abstract

O objetivo deste trabalho foi determinar o efeito do exercício de natação sobre a glicose e triacilglicerol (TG) sanguíneos, morfometria e metabolismo energético do músculo sóleo de ratas que receberam suplementação nutricional com sacarose. Ratas Wistar com peso médio de 76 g foram divididas em: grupo controle sedentário (CS); grupo controle exercitado (CE); grupo suplementado sedentário (SS); grupo suplementado exercitado (SE). Aos grupos suplementados foi oferecida solução aquosa de sacarose 30% e dieta basal ad libitum. Os grupos controle receberam dieta basal e água ad libitum. Os animais nadaram uma hora três dias por semana. As análises sanguíneas mostraram aumentos da glicose no grupo SS e do TG nos grupos SS e SE. Houve redução do TG muscular no grupo CE, elevação do hidroperóxido de lipídio (HP) no grupo SS e da citrato sintase nos grupos SS e SE em relação aos seus respectivos controles. O grupo CE apresentou aumento significativo dos diâmetros das fibras. Conclui-se que dieta balanceada associada à prática de exercícios físicos está relacionada a uma diminuição do conteúdo lipídico intramuscular, associado a um aumento das fibras musculares e utilização de TG como fonte energética.

The objective of this study was to determinate the effect of the swimming exercise on glucose and triacylglycerol (TG), morphological and energy metabolism in the muscle soleo of female rats that received nutritional supplementation with sucrose. Female Wistar rats with medium weight of 76 g were divided into: sedentary control group (SC); exercised control group (EC); sedentary supplemented group (SS); exercised supplemented group (ES). 30% sucrose aqueous solution and basal diet ad libitum were offered to the supplemented groups. The control groups received basal diet and water ad libitum. The animals swam three times a week for one hour. Blood analysis showed an increase in blood glucose in groups SS and of TG in groups SS and SE. It was found a muscle reduction of TG in group EC, higher levels of lipid hydroperoxide (HP) in group SS and citrate synthase in group SS and ES in relation to respective controls. Group EC showed a significant increase on fiber diameters. We conclude that a combination of balanced diet and physical exercise is connected to a decrease in intramuscular lipid content associated to an increase of muscle fibers and use of TG as energetic source.

Palavras-chave: exercício, sacarose, metabolismo energético.

Key-words: exercise, sucrose, energetic metabolism.

Endereço para correspondência: Regina Miranda Burneiko, Rua Roberto Simonsen, 305, 19060-900 Presidente Prudente SP, Tel:

(18)3229-5356 Ramal: 214, E-mail: re.miranda@fct.unesp.br

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Introdução

Materiais e métodos

Historicamente, a atividade física teve papel relevante para a sobrevivência do homem. Entretanto, com o advento da modernidade, inúmeras facilidades materiais incorporadas ao dia-a-dia tornaram o homem cada vez mais sedentário [1]. Da mesma forma, a evolução da tecnologia alterou os hábitos alimentares da população, induzindo um consumo excessivo de dietas ricas em lipídeos e açúcares e conseqüentemente a um desequilíbrio entre a energia ingerida e o dispêndio de energia necessário ao organismo [2,3]. A ingestão de bebidas ricas em sacarose associadas ao consumo de alimentos sólidos de alta caloria, parece induzir um balanço energético positivo na dieta [4], bem como uma redução no controle do apetite [5,6]. Estudos de Parks et al. [7] relatam que as estratégias dietéticas com restrições no consumo de gorduras e alta ingestão de carboidratos, induzem a hipertrigliceridemia, reduzindo o colesterol de alta densidade (HDL), aumentando o colesterol de densidade muito baixa (VLDL), a glicemia e a insulinemia no período pós-prandial. A inadequação dietética e o sedentarismo estão associados à obesidade, diabetes mellitus e dislipidemia, sendo que alguns estudos apontam que dietas ricas em carboidratos podem desenvolver resistência à insulina, hipertrigliceridemia, hipertensão arterial, estresse oxidativo e acentuado ganho de peso em animais [5,8]. Tais fatores estão associados à ocorrência de doenças cardiovasculares (DCV) e desenvolvimento de distúrbios músculo-esqueléticos [9-12]. Nesse sentido, como medida de interação terapêutica para combater os efeitos nocivos advindos do sedentarismo e da ingestão de dietas hipercalóricas, tem sido recomendada a prática regular de atividades físicas aeróbias. Os efeitos positivos do exercício físico podem ser observados na função cardíaca, circulação periférica, função pulmonar e musculatura esquelética [13]. Há evidências de que a musculatura esquelética é um importante alvo terapêutico nas doenças cardiovasculares e metabólicas, sendo considerado por alguns autores um “órgão endócrino”, devido à sua ação primária na melhora da tolerância à glicose, na resistência insulínica e na dislipidemia [14] A prática regular de atividade física está relacionada a alterações benéficas e estruturais da musculatura esquelética, bem como à adequação de parâmetros bioquímicos séricos [15,16]. Entretanto, ainda não estão totalmente estabelecidos os efeitos do exercício físico associados ao hábito diário de ingestão de sacarose. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi verificar o efeito do exercício físico de natação sobre a glicose e triacilglicerol sanguíneo, morfometria e metabolismo energético do músculo sóleo de ratas recém-desmamadas, até a idade adulta.

Foram utilizadas 24 ratas Wistar, recém desmamadas, com peso aproximado de 76 g, provenientes do Biotério Central da UNESP “Campus de Botucatu” e transferidas para o Biotério da FCT/UNESP, Campus de Presidente Prudente, mantidas em gaiolas individuais onde permaneceram à temperatura de 23°C, umidade 60 ± 5 % e período claro-escuro de 12 horas. Os animais foram divididos aleatoriamente em 4 grupos contendo 6 animais. O grupo controle sedentário (CS) recebeu dieta padrão e água; grupo controle exercitado (CE) recebeu dieta padrão, água e realizou exercício de natação. O grupo sacarose sedentário (SS) recebeu dieta padrão e solução aquosa com sacarose 30%; grupo sacarose exercitado (SE) recebeu dieta padrão, solução aquosa com sacarose 30% e realizou exercício de natação. Todos os animais receberam dieta basal (Purina) que contem 3,0 kcal/g, água e/ou solução aquosa de sacarose 30% ad libitum e foram pesados semanalmente durante os 12 meses de experimento. O exercício realizado foi a natação, em tanques coletivos medindo 100 X 80 X 80 cm contendo água aquecida na temperatura mantida entre 32 e 34°C e trocada após cada sessão. Na primeira semana, os animais se adaptaram ao meio aquático durante 15 minutos. A partir da segunda semana os animais nadaram uma hora, três vezes por semana durante o período de 11 semanas. Após 24 horas da última sessão de exercício e 12 horas de jejum foram realizadas análises de glicose (G) e triacilglicerol (TG) por punção caudal e lido por meio do glicosímetro (Boehringer Mannheim, Eli Lilly do Brasil, São Paulo) e com o aparelho digital Accutrend GCT® (Roche Brasil, Rio de Janeiro, Brasil). Imediatamente após, os animais foram anestesiados (Xilazina (0,7 ml/kg) e Ketamina 10% (1 ml/ kg) e sacrificados por decapitação. Amostras do músculo sóleo foram rapidamente retiradas e congeladas em nitrogênio líquido. Foram realizados cortes histológicos de 8 μm, corados a partir do método Hematoxilina e Eosina [16] para mensuração do tamanho das fibras musculares (μm), seguindo os critérios de Dubowitz e Brooke [17] e utilizando o software Image Pro-Plus® em sistema de análise de imagem computadorizada. Amostras do músculo sóleo foram homogeneizadas e centrifugadas a 10.000 rpm por 15 minutos em centrífuga refrigerada a –4oC [18]. Os sobrenadantes foram utilizados para a determinação das concentrações de proteínas totais, de triacilglicerol através de kits CELM© (Companhia de Equipamentos Laboratoriais Modernos, São Paulo, Brasil). A análise do estresse oxidativo foi realizada através da concentração de substâncias antioxidantes totais (SAT) e do hidroperóxido de lipídio (HP). As SAT foram determinadas através da capacidade de antioxidantes inibirem a oxidação de ácido 2,2’- azinobis

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(3-etilbenzetiazilcolina-sulfonico) (ABTS) [19,20]. O HP foi determinado através da oxidação do Fe2+ (sulfato ferroso amoniacal) a 560 nm. O Fe3+ formado reage com alaranjado de xilenol formando composto colorido [21]. O metabolismo energético [21] foi analisado através das enzimas reguladoras das vias metabólicas, beta-hidroxi-acil CoA desidrogenase (OHADH, E.C.1.1.1.35.), relacionada a oxidação dos ácidos graxos; lactato desidrogenase (LDH, E.C.1.1.1.27.) associada à glicólise e ao metabolismo anaeróbico, bem como da citrato sintase (CS, E.C.4.1.3.7.), reguladora do fluxo de metabólitos através do Ciclo de Krebs e marcadora do metabolismo aeróbio [22]. A atividade da OHADH foi determinada em meio contendo acetoacetil CoA 0,05 mM e NADH 0,1 mM [22]. A atividade da LDH foi determinada pela velocidade de consumo de NADH, medida a 340 nm, tendo como substrato o piruvato [23]. A atividade da CS foi determinada em tampão tris-HCl 50 mM, pH 8.0, contendo acetil CoA 0,1 mM, dithiobis-2-nitrobenzoato 0,1 mM (DTNB) e oxaloacetato 0,5 mM [22]. As leituras foram realizadas em espectrofotômetro com controle de temperatura (UV/visível Ultrospec 5,000 com Swift II software, Cambridge, England, UK) e em leitor de microplaca (μQuant-MQX 200 Bio-Tech Instruments, Inc., Winooski, VT, USA) com controle através do software Kcjúnior (Bio-Tech Instruments, Inc., Winooski, VT, USA).

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O consumo alimentar de ração, de líquidos e a energia ingerida foram calculados com base na quantidade consumida e na energia metabolizável da dieta. A análise estatística foi realizada através da análise de variância (ANOVA). Para se determinar a diferença entre os tratamentos foi aplicado o pós-teste de Tukey, com nível de significância de 5% [24].

Resultados

Análises do peso e consumo alimentar O peso inicial dos animais apresentou-se aumentado nos grupos CS e SE. Não houve diferença entre os grupos na avaliação do peso final e ganho de peso ao final do experimento (Tabela I). Animais suplementados com sacarose ingeriram maior quantidade de líquido e reduziram o consumo de ração em relação aos seus respectivos grupos controle. A energia ingerida foi maior no grupo SE em relação aos grupos CE (Tabela I).

Análise sangüínea Na Tabela I observa-se que a concentração de triacilglicerol dos grupos SS e SE foi significativamente maior que a encontrada nos seus respectivos controles. Animais sedentários su-

Tabela I - Peso inicial, peso final, ganho de peso corporal, consumo de ração, ingestão de líquidos, energia ingerida, triacilglicerol e glicose sanguínea dos grupos: (CS) ratas ingerindo dieta padrão, água e sedentário, (CE) ratas ingerindo dieta padrão, água e realizando exercício de natação, (SS) ratas ingerindo dieta padrão, solução aquosa com sacarose 30% e sedentário, (SE) ratas ingerindo dieta padrão, solução aquosa com sacarose 30% e realizando exercício de natação. Grupos Peso inicial(g) Peso final (g) Ganho de peso (g) Ingestão de líquido (ml/dia) Consumo alimentar (g/dia) Energia ingerida (kcal/dia) Triacilglicerol (mg/dl) Glicose (mg/dl)

CS 76,17 ± 0,81AC 309,83 ± 32,28A 233,66 ± 21,92A 32,52 ± 3,11A 17,49 ± 1,07A 40,68 ± 2,44AC 166,66 ± 6.06A 84,17 ± 2,32 A

CE 73,13 ± 0,71B 295,88 ± 23,82A 222,75 ± 24,52A 31,55 ± 3,19 A 18,29 ± 1,04A 39,78 ± 2,25A 165,62 ± 13.78 A 90,50 ± 4,63AB

SS 71,17 ± 0,69B 311,67 ± 34,16A 240,5 ± 27,51A 42,19 ± 2,36 B 5,97 ± 0,40B 46,81 ± 4,45BC 218,16 ± 14.04B 100,33 ± 1,24B

SE 76,63 ± 0,92A 322,5 ± 37,8A 245,87 ± 26,72A 43,07 ± 4,12 B 6,57 ± 0,60B 49,25 ± 3,21B 237,12 ± 16.14C 89,88 ± 8,15AB

Resultados expressos como média ± desvio-padrão. Letras diferentes indicam diferenças significantes entre os grupos, p < 0,05.

Tabela II - Concentrações musculares de proteína, triacilglicerol (TG), hidroperóxido de lipídio (HP) e atividades da beta-hidroxiacil coenzima A desidrogenase (OHADH), lactato desidrogenase (LDH) e citrato sintase dos grupos: (CS) ratas ingerindo dieta padrão, água e sedentário, (CE) ratas ingerindo dieta padrão, água e realizando exercício de natação, (SS) ratas ingerindo dieta padrão, solução aquosa com sacarose 30% e sedentário, (SE) ratas ingerindo dieta padrão, solução aquosa com sacarose 30% e realizando exercício de natação. Grupos CS CE SS SE Proteína (%) TG (%) HP (nmol/g tecido) OHADH (nmol/mg tecido) LDH (nmol/mg tecido) Citrato Sintase (nmol/mg tecido)

14,84 ± 1,48A 1,07 ± 0,1A 73,79 ± 5,11A 7,06 ± 3,63A 10,36 ± 2,51A 23,82 ± 3,11A

14,69 ± 1,38A 0,82 ± 0,12B 74,49 ± 1,0A 7,19 ± 2,71A 10,51 ± 2,03A 25,95 ± 1,75AB

17,90 ± 3A 1,12 ± 0,26A 110,36 ± 17B 7,32 ± 4,25A 10,78 ± 3,19A 28,97 ± 1,88B

16,00 ± 3,62A 1,15 ± 0,276A 84,19 ± 9,97A 7,76 ± 3,2A 11,56 ± 1,72A 33,32 ± 4,01C

Resultados expressos como média ± desvio-padrão. Letras diferentes indicam diferenças significantes entre os grupos, p < 0,05.

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plementados com sacarose (SS) apresentaram maior glicemia de jejum em relação ao grupo sedentário controle (CS).

Análises musculares Os parâmetros bioquímicos musculares estão apresentados na Tabela II, onde se pode observar que não houve alteração significativa na concentração de proteínas totais entre os grupos estudados. Com relação às concentrações de triacilglicerol (TG), verifica-se que o grupo CE apresentou as menores concentrações em relação aos outros grupos. O grupo SS apresentou elevação significativa na concentração de hidroperóxido de lipídio (HP). Não foram observadas alterações significantes nas atividades das enzimas betahidroxiacil coenzima A desidrogenase (OHADH) e lactato desidrogenase (LDH) nos diferentes grupos estudados. A atividade da citrato sintase, mostrou-se elevada no grupo SS em relação ao CS. Animais do grupo SE apresentaram atividades da citrato sintase mais elevadas em relação aos demais grupos.

Análise histológica Verificou-se que os valores morfométricos do músculo sóleo apresentam diferenças estatisticamente significantes entre todos os grupos. Os animais do grupo CE apresentaram fibras de maiores diâmetros, seguidos pelo grupo SS, grupo SE e grupo CS. Os resultados encontrados podem ser visualizados na Figura 1. Figura 1 - Análise morfométrica das fibras do músculo sóleo dos grupos: (CS) ratas ingerindo dieta padrão, água e sedentário, (CE) ratas ingerindo dieta padrão, água e realizando exercício de natação, (SS) ratas ingerindo dieta padrão, solução aquosa com sacarose 30% e sedentário, (SE) ratas ingerindo dieta padrão, solução aquosa com sacarose 30% e realizando exercício de natação.

Discussão Os resultados deste estudo mostraram que dieta com sacarose não induziu alteração no ganho de peso corporal nos animais suplementados em relação ao grupo controle, durante o período pós-desmame até a idade adulta.

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Este fato pode estar associado à reduzida eficiência alimentar dos grupos SS e SE ao longo do experimento. A menor ingestão de ração foi compensada pelo alto consumo de energia proveniente das calorias adicionais da sacarose. É interessante notar que os animais suplementados com sacarose apresentaram menor consumo alimentar que seu respectivo controle, independente de pertencerem ao grupo sedentário ou exercitado e mantiveram pesos corporais finais semelhantes (Tabela I). Mahan e Escott-Stump [25] verificaram que no período pós-atividade, a refeição ofertada deve ser à base de carboidratos complexos, visando manter a massa corporal magra. Estudo realizado por Lima et al. [26] mostrou que o tratamento com carboidratos complexos proporcionou maior peso corporal, sugerindo a contribuição da massa corporal magra nos valores do peso corporal. De maneira geral, quando a energia ingerida excede o gasto energético, o excesso de energia é depositado como gordura, caracterizando, a obesidade [27]. Considerando desta maneira simplista, desde que obesidade é observada quando a energia ingerida excede o gasto energético, intuitivamente a perda de peso seria obtida quando a ingestão calórica fosse menor que o gasto energético, independentemente dos componentes da dieta. Entretanto, a variação nos componentes da dieta, além do conteúdo calórico, bem como o número de refeições diárias influencia consideravelmente o ganho de peso [28] e os parâmetros metabólicos a ela associados [29]. Neste estudo, os animais que receberam suplementação com sacarose apresentaram consumo alimentar reduzido, porém, a ingestão de líquidos foi significativamente elevada. Estes achados podem estar relacionados à palatabilidade das dietas. Resultados semelhantes foram encontrados por Burneiko et al. [30] em estudos associando dieta hipercalórica ao exercício de natação em ratos. Segundo Himaya et al. [31] o consumo alimentar reduzido, compensado pela ingestão elevada de líquidos, está relacionado à regulação do nível de saciedade. Níveis séricos elevados de glicose, de triglicerídeos e de colesterol estimulam receptores hipotalâmicos reguladores da fome e da saciedade. Embora não tenha sido observado ganho de peso em nenhum dos grupos estudados, sacarose e exercício induziram significantes alterações bioquímicas na glicose e triacilglicerol séricos. Dieta rica em sacarose elevou a glicemia dos animais no grupo SS. Esses resultados concordam com o estudo realizado por Holloszy [32], o qual afirma que após a ingestão de dietas com elevado teor de carboidratos, a redução de glicose sérica é menos provável de ser verificada na análise glicêmica. De acordo com estudos previamente publicados, a combinação de inatividade física com o consumo de dietas hipercalóricas estão associados ao aumento significativo na glicemia de ratos sedentários [12,29,33]. Desta forma, sugere-se que a elevada ingestão de sacarose está associada a alterações na resposta

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insulínica, sendo que sua associação ao sedentarismo atuou como fator deletério ao organismo. No estudo desenvolvido por Rique et al.[34] verificou-se que após a prática de exercícios aeróbios diários, a captação de glicose pelo músculo continua e intensifica-se, demonstrando aumento da sensibilidade à insulina enquanto o glicogênio é ressintetizado. Entretanto, exercícios três vezes por semana não apresentaram o mesmo efeito, sugerindo que não houve melhora na resposta insulínica induzida pelo programa de exercícios nestes animais. A energia ingerida e o dispêndio de energia necessário ao organismo são determinantes do perfil lipídico [35]. Dieta suplementada com sacarose elevou significativamente a concentração de triacilglicerol (TG) sanguíneo dos animais, e exercícios de natação três dias por semana não foram eficazes para reduzir este aumento. Estudos de Burneiko et al.[30] mostraram que concentrações do triacilglicerol sérico elevadas em animais suplementados com dieta hipercalórica não foram reduzidas nos grupos que realizavam exercícios intermitentes, duas vezes por semana, apenas nos animais exercitados diariamente. Animais do grupo SE comparados ao SS mantiveram os valores de trigliceridemia elevados, sugerindo menor captação muscular. A manutenção da concentração de TG muscular no grupo exercitado pode estar associada à sua utilização como fonte de energia, demonstrada pela elevação da citrato sintase. Constituído por uma molécula de glicerol e três de ácidos graxos, o triacilglicerol é considerado um eficaz armazenador de energia no tecido adiposo dos seres vivos [36] O aumento do TG sérico no grupo SS disponibilizou mais energia para a função muscular, mesmo nos animais sedentários. A elevação da citrato sintase e a manutenção dos valores de triacilglicerol muscular indicaram que o triacilglicerol foi oxidado no ciclo do citrato [26,37]. Desde que a função da enzima citrato sintase é medir o fluxo de metabólitos pelo ciclo de Krebs, podemos verificar que, nestas condições o fluxo de elétrons na cadeia respiratória resultou em aumento de espécies reativas do oxigênio (ERO), culminando com a elevação do HP. Os valores reduzidos de TG muscular no grupo CE podem estar relacionados à maior utilização de lipídios como fonte energética para a prática do exercício físico, uma vez que as contrações isoladas no músculo esquelético podem estimular a captação, a hidrólise e a oxidação dos triacilglicerídeos intramiocelulares e sanguíneos [36]. O exercício normalizou o HP muscular no grupo suplementado, indicando que o fluxo de metabolitos pelo ciclo do citrato e na cadeia respiratória foi convertido em energia para contração muscular, sem a formação de ERO observada no grupo SS. Supõe-se, portanto, que o exercício de natação foi suficiente para melhorar a capacidade mitocondrial dos animais do grupo SE, desde que houve aumento da citrato sintase associado à redução de HP. De forma semelhante, estudos de

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Bruce e colaboradores [38] verificaram que indivíduos obesos submetidos à atividade física apresentaram uma melhora na capacidade mitocondrial para captação e oxidação de ácidos graxos, entretanto sem modificação no TG muscular, o que também pôde ser verificado no presente estudo. Os resultados obtidos na análise morfométrica do músculo sóleo mostraram um aumento do diâmetro das fibras no grupo CE associado à redução na concentração de TG e a manutenção dos demais parâmetros bioquímicos. Desta forma, o aumento das fibras pode estar associado à hipertrofia muscular que, segundo Boonyarom [39], é uma das respostas adaptativas da musculatura esquelética ao exercício e está associada a um aumento de volume das fibras musculares nos grupos exercitados. Resultados semelhantes foram observados no estudo de Camargo Filho et al.[40] no qual ratos foram submetidos a sessões de natação e suplementação ou não com esteróide anabólico. Verificou-se que os animais placebo exercitados pela natação apresentaram valores de diâmetro de fibras musculares maiores que os animais controle, sendo tal fato relacionado à hipertrofia muscular.

Conclusão Verificou-se que uma dieta balanceada associada à prática de exercícios físicos está relacionada a uma diminuição do conteúdo lipídico intramuscular, associado a um aumento das fibras musculares e utilização de TG como fonte energética. O consumo de TG como fonte de energia ocorreu mantendo HP e, portanto o equilíbrio entre os sistemas oxidantes e antioxidantes celulares. Desta forma, podemos concluir que o protocolo de exercício utilizado, nas duas condições alimentares, teve efeito benéfico. Na dieta padrão diminuiu o TG muscular e na dieta rica em sacarose, aumentou o metabolismo aeróbico e reduziu o estresse oxidativo.

Agradecimentos Ao Sidney Siqueira Leirião, técnico do laboratório de histologia e biotério da FCT –UNESP Campus de Presidente Prudente, aos pós-graduandos do laboratório de química e bioquímica do Instituto de Biociências da UNESP Campus de Botucatu.

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Artigo original O efeito da crioterapia na fase inflamatória da lesão muscular em ratos (Rattus norvegicus) The effect of criotherapy in the acute phase of muscular injury in rats (Rattus norvegicus) Maria Paula Mellito da Silveira, D.Sc.*, Renato Claudino**, Karla Denise de Alcantara Evaristo*** *Oceanografia Biológica, **Especialista em Fisioterapia Geriátrica, ***Especialista em Exercício Físico Aplicado à Reabilitação Cardíaca e a Grupos Especiais

Resumo

Abstract

A aplicação do gelo para fins terapêuticos é utilizada há centenas de anos, o qual se insere amplamente nos protocolos de tratamento de diversas patologias. Porém há contradições sobre o tempo de aplicação da crioterapia na fase aguda da lesão muscular e seus possíveis efeitos na reparação deste tecido. O objetivo deste estudo foi comparar células inflamatórias (neutrófilos e macrófagos) de forma quantitativa e eventos vasculares de forma qualitativa em até 48 h de tratamento com crioterapia após lesão tecidual induzida. Foram utilizados 42 ratos distribuídos aleatoriamente em 2 grupos (controle e tratado), sendo subdivididos em 7 grupos de três animais para cada hora pré-determinada. Foi realizada uma lesão perfuro-cortante na pata traseira esquerda dos animais (controle e tratado). Após a lesão, foi aplicada criomassagem por um período de 7 minutos, nas horas acima citadas, nos grupos tratados. O grupo controle não recebeu a técnica de criomassagem. Os resultados encontrados nos achados histológicos evidenciaram que o grupo submetido à técnica de criomassagem apresentou significativa redução tanto dos neutrófilos quanto de macrófagos, durante as 48 horas de tratamento. Podemos concluir que a crioterapia aplicada na inflamação aguda do músculo esquelético minimiza a presença de neutrófilos e macrófagos na área lesionada.

Ice therapy has been used for hundreds years and is well accepted in many protocols of different pathologies. However there are contradictions about the time of appliance of cryotherapy in the acute stage of muscle lesion and its possible effects to repair tissue. The purpose of this study was to compare inflammatory cells (neutrophils and macrophages) in a quantitative and qualitative way and vascular events up to 48 hours of treatment with cryotherapy after tissue injury induced. We used 42 rats randomized into 2 groups (control and treated) which are divided into 7 groups of three animals for each predetermined hour. We performed a sharp-edged injury in the animals left hindfoot (control and treated). Thereafter, a cryomassage was applied for 7 minutes, during the mentioned hours, in the treated groups. The control group did not receive the cryomassage technique. The histological findings showed that the group using the cryomassage technique showed significant reduction on both neutrophils and macrophages, during 48 hours treatment. We can conclude that the cryotherapy applied in acute inflammation of skeletal muscle minimizes the presence of neutrophils and macrophages in the injured area. Key-words: inflammation, muscle injury, skeletal muscle, cryotherapy.

Palavras-chave: inflamação, lesão muscular, músculo esquelético, crioterapia.

Endereço para correspondência: Renato Claudino, Rua Alameda Bela Aliança, 763, Jardim America, 89160-000 Rio do Sul SC, Tel:

(47) 9909-9307, Email: rugal_7@yahoo.com.br

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Introdução O músculo esquelético constitui o maior tecido do organismo, correspondendo a cerca de 40% do peso corporal. Sua função primária é prover mobilidade ao esqueleto ósseo, pela contração de suas fibras [1]. No entanto, esta função pode ser prejudicada por vários tipos de lesões. As lesões do sistema musculoesquelético dependem da intensidade, da energia do agente agressor, da localização e da extensão de lesão [2]. Estas lesões ocasionam modificações dos padrões neuromusculares, irritação local, dor e incapacidade [2-5]. A primeira resposta do organismo a esta lesão é o desenvolvimento de um processo inflamatório, com o objetivo de livrar o organismo tanto da causa inicial da agressão celular, quanto do dano causado por esta agressão. De acordo com Brasileiro Filho [2], a inflamação é a primeira resposta do organismo a reação dos tecidos vascularizados, com o objetivo de livrar o organismo tanto da causa inicial da agressão celular, quanto do dano causado por esta agressão a um agente agressor, caracterizada pela saída de líquidos e de células do sangue para o interstício. A histamina liberada após dano tecidual produz vasodilatação, acarretando um aumento drástico no fluxo sangüíneo [6]. O efeito global desse processo é o surgimento e a manutenção de grandes quantidades de líquido edematoso [6,7]. Os neutrófilos são as primeiras células a chegarem ao local da lesão, penetrando no tecido, e imediatamente iniciam a fagocitose através de seus pseudópodes, englobando a partícula estranha. Entretanto, possuem um tempo de vida curto e morrem no local da inflamação formando pus [8-10]. Assim, cada vez que ocorre uma lesão tecidual no organismo, a reparação tecidual é feita por um conjunto de fenômenos que leva à integridade funcional e estética do tecido, ou seja, a regeneração [9]. Os macrófagos são células de vida longa e são capazes de sintetizar um sistema fagócito oxidase, possuindo uma segunda via de radicais livres [10,11]. Entre outras funções podemos destacar a ativação da coagulação, estímulo à proliferação dos fibroblastos e degradação de material necrótico pela liberação de colagenase e proteoglicanos [9-11] e pela fagocitose de agentes físicos, químicos ou biológicos [12]. Sendo assim, a inflamação tem como objetivo defender a área lesionada contra substâncias estranhas, removendo o tecido morto ou necrosado de modo que a cicatriz possa acontecer e promover a regeneração normal [13,14]. A regeneração é um processo complexo, porém essencial, sem o qual o corpo seria incapaz de sobreviver [14,16]. Qualquer tecido danificado por uma agressão ou enfermidade é capaz de reparar sua estrutura e função, envolvendo a reposição do tecido destruído por um novo tecido, semelhante quanto à sua natureza ao tecido original [16]. O remodelamento da matriz do tecido imaturo começa quase ao mesmo tempo em que se forma um novo tecido. A matriz é gradualmente substituída e remodelada nos meses

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e anos subseqüentes à medida que o tecido cicatricial amadurece [9]. Progressivamente observa-se a diminuição de células inflamatórias, a rede vascular normaliza-se, a produção de colágeno estabiliza-se, reduzindo o tipo III, deixando lugar para fibras do tipo I de elastina, para proporcionar elasticidade e solidez à ferida, assim os miofibroblastos são eliminados por morte celular programada, desaparecendo por apoptose, os núcleos se tornam compactos diminuindo de tamanho, sendo fagocitados [9,11]. A cicatrização pode ser compreendida como resultado final do processo de restauração, no qual observamos necessariamente a ocorrência de fibrose, pela formação de um tecido de granulação envolvido por pequenos vasos sanguíneos [17]. Segundo Knight [18], crioterapia significa, literalmente, terapia com frio. Todo e qualquer uso do gelo ou aplicação de frio para fins terapêuticos é crioterapia. A ação do frio durante o tratamento imediato nas lesões agudas reduz o tempo de reabilitação e promove um retorno mais rápido as atividades. Estes efeitos são denominados pelas seguintes variáveis: redução da inflamação, redução da hipóxia secundária, redução do edema e do hematoma, e diminuição do metabolismo. Podendo dar início ao processo de reparação mais rapidamente e com menor tempo para reabilitação [19,20]. Quando utilizada de modo adequado, as técnicas de crioterapia são instrumentos poderosos para o tratamento de patologias musculoesqueléticas, seja na fase de atendimento inicial em trauma agudo, seja durante a reabilitação de patologias musculoesqueléticas variadas [15]. Segundo Rodrigues e Guimarães e Andrews et al. [6,20], o maior benefício da aplicação de crioterapia na fase aguda é a diminuição da dor e do espasmo muscular, permitindo a mobilização precoce, acelerando o processo de recuperação e retorno precoce às atividades. Entretanto, o tempo de aplicação da crioterapia é ainda muito controverso. Conforme Tepperman [21], a técnica recomenda aplicação do frio durante 20 a 30 min., com intervalo de 2 horas, nos tecidos moles lesados. A aplicação deve ser realizada durante as primeiras 24 a 48 horas após a lesão, para minimizar o edema, o espasmo muscular e a dor. De acordo com Guirro et al. [9], o efeito da crioterapia atua nas primeiras doze a vinte e quatro horas após a lesão. No entanto, a crioterapia exerce seus efeitos benéficos quando aplicada em até 48 horas após a lesão, segundo Tepperman e Kisner [19,21]. O tempo de aplicação da crioterapia também pode variar de acordo com a técnica aplicada. Para bolsas de gelo é recomendada aplicações de 10 a 30 minutos; para pacotes de gel, recomenda-se aplicações inferiores a 10 minutos; para compressas frias químicas, o tempo deve ser de 30 minutos; para imersão, o tempo de aplicação varia entre 10 a 20 minutos. E finalmente, o tempo de aplicação para massagem com gelo varia de 7 a 10 minutos afirma Stamford [23].

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Materiais e métodos O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Fisiologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, na cidade de Itajaí, Santa Catarina. A amostra foi constituída de 42 ratos machos (Rattus norvegicus albinus), da linhagem Wistar, com peso corpóreo variando entre 180 a 200 gramas, procedentes do Biotério da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, SC. Os animais foram confinados em gaiolas com assoalho recoberto de serragem, com dieta livre do tipo ração sólida e água à vontade, em sala com temperatura ambiente, ciclo dia-noite natural. Para realização do experimento os animais foram divididos aleatoriamente em dois grupos: Grupo Tratado e o Grupo Controle. Cada grupo perfazendo um total de 21 animais, que foram subdivididos em sete subgrupos. Cada subgrupo com três animais. Os subgrupos foram classificados respectivamente por tempo de lesão e aplicação da crioterapia, ou seja, o grupo I tratado foi lesionado, aplicado crioterapia e sacrificado na hora zero, já o grupo II tratado foi lesionado na hora zero e aplicado crioterapia, três horas depois foi aplicado crioterapia novamente e sacrificado, o grupo III tratado, foi lesionado na hora zero, aplicado crioterapia, após três horas foi aplicado crioterapia novamente e após mais três horas foi aplicado crioterapia e sacrificado, e assim foi realizado até o grupo VII tratado. O grupo controle seguiu os mesmos critérios do grupo tratado, porém sem aplicação da crioterapia. Todos os animais foram anestesiados com éter etílico e submetidos à tricotomia da pata traseira esquerda, região correspondente ao músculo gastrocnêmico. Seguiu-se então de anti-sepsia com álcool iodado 70%, e assim o uso de um objeto perfuro-cortante, o qual apresentava 2,7 mm de diâmetro na base e 0,9 mm de diâmetro no ápice. O comprimento delimitado da lesão foi de 4 mm. O tratamento foi realizado após a lesão muscular, nos intervalos de tempo determinado para cada subgrupo do grupo tratado, conforme Tabela I. Tabela I - Horário de aplicação da crioterapia - Grupo Tratado. Horário Subgrupo I Subgrupo II Subgrupo III Subgrupo IV Subgrupo V Subgrupo VI Subgrupo VII

0h x x x x x x x

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3h

6h

9h

12h

24h

48h

x x x x x x

x x x x x

x x x x

x x x

x x

x

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De acordo com cada intervalo de tempo determinado na Tabela I, aplicou-se massagem com gelo na pata traseira esquerda do animal tratado, em movimentos circulares sobre a lesão (Figura 1). Cada aplicação da crioterapia teve a duração de 7 minutos, segundo Stamford [25]. O sacrifício foi realizado imediatamente após a última aplicação de crioterapia de cada subgrupo tratado. Embora os subgrupos controle não recebessem crioterapia, foram sacrificados no mesmo horário dos subgrupos tratados correspondentes. Imediatamente após o sacrifício foi realizado a dissecção do músculo gastrocnêmico, para procedimento de análise histológica. Todos os fragmentos do músculo gastrocnêmio em experimento foram fixados em formol 10%, e posteriormente transferidos para álcool 70%, sendo depois desidratados em álcool, diafanizados em xilol, impregnados e incluídos em parafina. Os cortes histológicos foram feitos com aproximadamente 7 micrômetros de espessura, em secções longitudinais, corados com hematoxilina-eosina. As análises foram efetuadas em microscópio óptico, sendo realizada a contagem de neutrófilos, macrófagos e fibroblastos, em três campos aleatoriamente escolhidos em cada lâmina. Os resultados foram comparados entre o grupo de animais controle e o grupo de animais tratados, e analisados através do teste t para os números de células encontradas.

Resultados Na análise histológica, foram considerados neutrófilos, células com núcleos constituídos de dois a quatro lóbulos interconectados. Os macrófagos foram considerados células com núcleos ovóides, com citoplasma claro e superfície irregular. Quanto às células gigantes, visto que as mesmas envolvem a fusão de muitos macrófagos, foram consideradas aquelas com tamanho evidentemente maior e que possuíam diversos núcleos. Quanto aos fibroblastos, foram consideradas as células mais alongadas, fusiformes, com prolongamento citoplasmático irregulares, núcleo claro, grande, de forma ovóide e evidente. Considerando a contagem de neutrófilos e macrófagos, através do teste t, foi possível verificar diferenças significativas para p < 0,05, nos horários mostrados nas Tabelas II e III. Para fibroblastos, no entanto, o teste não mostrou diferença significativa em nenhum dos momentos de coleta Conforme Tabela II, houve uma redução considerável de neutrófilos nos animais tratados em relação aos animais controle. Sendo que esta redução se manteve em todos os períodos de aplicação. Os dados podem, também, ser visualizados na Figura 1.

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Tabela II - Média ± desvio-padrão do número de neutrófilos nos vários momentos de coleta; valor obtido no teste t e sua respectiva significância e variações a menor no número de células após aplicação de crioterapia. Hora 0h 3h 6h 9h 12h 24h

Com gelo 14,55 ± 7,60* 29,33 ± 12,61* 39,66 ± 16,48* 31,88 ± 8,23* 36,77 ± 16,84 49,11 ± 32,01*

Sem gelo 46,66 ± 17,54 52,88 ± 22,12 63,88 ± 25,71 75,22 ± 26,22 57,66 ± 31,83 132,55 ± 45,35

t 5,03 2,77 2,37 4,72 1,73 4,50

p 0,000121 0,013528 0,030141 0,000227 0,101216 0,000357

Taxa de variância < 3,2 < 1,8 < 1,6 < 2,35 < 1,5 < 2,7

48h

41,11 ± 15,53

57,66 ± 31,24

1,42

0,173843

< 1,4

Tabela III - Média ± desvio-padrão do número de macrófagos nos vários momentos de coleta; valor obtido no teste t e sua respectiva significância e variações a menor no número de células após aplicação de crioterapia. Hora 0h 3h 6h 9h 12h 24h

Com gelo 2,11 ± 1,05* 3,33 ± 2,87* 3,00 ± 1,69* 9,11 ± 3,95 8,77 ± 2,86 16,33 ± 9,04

Sem gelo 10,55 ± 5,91 6,66 ± 4,03 16,89 ± 13,29 12,11 ± 12,06 12,66 ± 5,50 22,55 ± 8,70

t 4,21 2,02 3,09 0,70 1,88 1,48

p 0,000659 0,060419 0,006936 0,488642 0,078211 0,156386

Taxa de Variância <5 <2 < 5,6 < 1,3 < 1,4 < 1,4

48h

22,22 ± 8,87*

52,33 ± 28,19

3,05

0,007542

< 2,35

Figura 1 - Médias e intervalos de confiança para número de neutrófilos em todos os momentos de coleta, com e sem tratamento.

Figura 2 - Médias e intervalos de confiança para número de macrófagos em todos os momentos de coleta, com e sem tratamento.

O número de macrófagos analisados, microscopicamente, também apresentou redução significativa do grupo tratado em relação ao grupo controle. Seu pico de redução máximo foi nas primeiras 6 horas, conforme Figura 2.

Em relação aos fibroblastos, não houve diferença estatisticamente significativa. A vascularização, analisada qualitativamente através de microscópio óptico, apresentou-se aumentada no grupo controle. Já no grupo tratado houve significativa redução.

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Discussão Segundo Knight [18], o tempo de aplicação da crioterapia, para promover efeito significativo na inflamação aguda, deve ser de aproximadamente 30 minutos. Para as áreas de grandes massas musculares deve-se aplicar por 40 minutos, a cada duas horas. Recomenda também que a aplicação seja realizada num período de 12 a 72 horas, ou até que a tendência ao edema tenha desaparecido. O tempo de aplicação utilizado para realização deste trabalho foi de 7 minutos, conforme Stamford [23], por um período de 48 horas, com intervalo de 3 horas a cada aplicação. Em relação à periodicidade, este é um dado não muito claro na literatura. Porém, os resultados microscópicos obtidos mostraram que o intervalo de três horas para cada aplicação foi suficiente para reduzir a intensidade da resposta inflamatória aguda. A massagem com gelo foi a técnica utilizada para realização da pesquisa. Segundo Knight [18], a técnica pode sofrer influência quando comparada com as outras técnicas de crioterapia. Conforme a área é massageada, o gelo fica em contato com uma região específica do tecido apenas brevemente, a seguir o tecido é exposto a temperatura ambiente. Isto é uma desvantagem quando o objetivo é de reduzir a temperatura do tecido. Embora apresente algumas desvantagens, a opção por esta técnica é justificada por se tratar de uma área de lesão muito pequena, haja vista a reduzida dimensão do músculo gastrocnêmio do rato. Assim, a área tratada, não perdia o contato com o gelo, mantendo sempre a temperatura de resfriamento. Obviamente, quando realizada em grandes áreas, talvez não seja a técnica mais adequada. Porém, com os resultados obtidos, a técnica mostrou-se eficaz na redução da resposta inflamatória aguda. De acordo com os dados obtidos, pode-se comprovar estatisticamente que houve redução significativa no número de células inflamatórias (neutrófilos e macrófagos) mediante a aplicação de crioterapia. Embora qualitativamente, também se pode observar a redução circulatória na área lesada mediante aplicação de crioterapia. Em situações normais, onde haja uma inflamação aguda, os neutrófilos e os macrófagos são as primeiras células a chegarem ao local da lesão, penetrando no tecido, e imediatamente começam a fagocitose [9]. A migração dessas células da luz do vaso ao foco inflamatório, não se faz de modo aleatório. De fato, os polimorfonucleares neutrófilos (PMNs) são as células dominantes nas primeiras 24 horas a 48 horas após a agressão. Segundo Brasileiro Filho [2], os fatores que retardam o processo cicatricial são aqueles que mantêm a reação inflamatória em atividade. Para Andrade [13], enquanto houver inflamação ativa, o processo de cicatrização não se completa. Em situações onde haja aplicação de crioterapia, há poucas evidências literárias sobre os eventos celulares ocorridos durante a inflamação aguda. Segundo Rodrigues e Guimarães

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[20], a aplicação da crioterapia atua diretamente na permeabilidade capilar e a resposta celular varia diretamente com a temperatura. Knight [18] afirma que a aplicação do frio diminui a temperatura do tecido, os vasos sanguíneos são resfriados e constringem-se, reduzindo a permeabilidade e, portanto, limitando a hemorragia para o tecido, diminuindo a passagem de células inflamatórias para o tecido lesado. Esta redução no número de células inflamatórias contribui para redução da resposta inflamatória exacerbada. Para Jass [24], os principais locais de armazenamento da histamina são os mastócitos, basófitos e as plaquetas. O principal efeito da histamina no processo inflamatório agudo inclui aumento da permeabilidade vascular e a quimiotaxia dos neutrófilos. Neste contexto, o frio atua na reação inflamatória, reduzindo a liberação de histamina. Logo, o desenvolvimento da inflamação – liberação de histamina, aumento da permeabilidade capilar, liberação de detritos e mais reações secundárias – estará controlado. Este controle é muito importante na lesão aguda, pois o resfriamento imediato do local lesado impede a instalação do processo inflamatório [25]. Os fibroblastos, característicos do processo inflamatório crônico, originam-se dos fibrócitos em repouso situados nas margens da lesão, migrando para dentro dela em resposta à atração de agentes químicos e físicos. Os fibroblastos têm seu pico máximo de 4 a 6 dias após a lesão [26]. Em relação à contagem celular de fibroblastos, os dados mostraram-se insignificantes estatisticamente. Segundo o trabalho realizado por Feix e Tribess [29], uma alteração na presença de fibroblastos ocorre de forma lenta e gradual, atingindo seu valor máximo por volta de 8 a 10 dias. O número reduzido de células observadas no experimento, explica o fato de não haver significância estatística para este tipo de célula entre o grupo controle e o grupo tratado. Os resultados deixam indícios que, a técnica de crioterapia apresentou grande habilidade de redução na migração de neutrófilos e macrófagos no processo inflamatório agudo. Uma vez que a redução acentuada no número de neutrófilos e macrófagos analisados sugere isto.

Conclusão De acordo com os dados obtidos, podem-se evidenciar os efeitos da crioterapia no controle de um dos eventos da resposta inflamatória aguda. Embora haja pouquíssimas evidências na literatura a respeito da atuação da crioterapia nos eventos celulares do processo inflamatório agudo, os dados comprovam a redução do número de células inflamatórias. Assim, com a redução do processo inflamatório, a cicatrização inicia mais rapidamente, e conseqüentemente uma diminuição do tempo total de cicatrização. Estes dados são de fundamental importância para os fisioterapeutas, pois dessa forma, ficou comprovado que a crioterapia atua diretamente na redução da resposta inflamatória, diminuindo o influxo de neutrófilos e macrófagos

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na área lesionada, podendo então ser optada como recurso de tratamento para auxiliar no processo de recuperação de lesões musculares. No entanto, vale ressaltar a necessidade de novas pesquisas, a fim de comprovar se a diminuição da resposta inflamatória exerce influência sobre a remodelação total do tecido lesado. Para tanto, seria indicado um experimento que comprovasse o efeito da crioterapia no tempo total de reparação tecidual após uma lesão, necessitando para isto, um procedimento experimental de maior duração.

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Revisão Características funcionais e fisiológicas do destreinamento – respostas hormonais e cardiovasculares Physiologic and functional characteristics of detraining – hormonal and cardiovascular responses Michel Arias Brentano, M.Sc.*, Tiago Santi** *Ciências de Movimento Humano, **Educação Física

Resumo

Abstract

Estudos têm demonstrado que o destreinamento causa reversões nas adaptações morfológicas e fisiológicas alcançadas com o treinamento. Em um período médio/longo percebem-se ainda reduções no VO2máx, além de um aumento na ventilação, quociente respiratório e utilização de glicogênio como fonte energética. Além disso, ocorrem aumentos na freqüência cardíaca e na pressão arterial de repouso. Paralelo às reduções no desempenho aeróbio, existe uma redução na atividade das enzimas oxidativas e expressão mitocondrial. Porém, algumas enzimas glicolíticas não são alteradas em indivíduos treinados em endurance. Em indivíduos treinados em força ocorre uma elevação da relação testosterona x cortisol após o destreino, provavelmente pela tentativa de manutenção da massa muscular. Em atletas de endurance, os níveis de catecolaminas tendem a aumentar, provavelmente pela maior utilização de glicogênio como substrato.

Studies have shown that detraining leads to a reversal of the morphological and physiological adaptations achieved through training. In the medium/long term reductions are perceived in the VO2max as well as increases in ventilation, respiratory quotient and the use of glycogen as an energy source. Add to that, there is a rise in heart rate and blood pressure. Together with the reductions in aerobic performance, there is a reduction in oxidative enzyme activity and mitochondrial expression. However, some glycolytic enzymes remain unaltered in endurance trained individuals. Strength training individuals show an increase in testosterone x cortisol ratio after detraining, probably to preserve the lean body mass. Endurance athletes show higher catecholamine levels after detraining, probably because the higher glycogen utilization during exercise. Key-words: detraining adaptations, exercise, inactivity, cardiovascular and endocrine adaptations.

Palavras-chave: adaptações ao destreinamento, exercício físico, inatividade, adaptações cardiovasculares e hormonais.

Endereço para correspondência: Michel Arias Brentano, Laboratório de Pesquisa do Exercício, GPAT, UFRGS, Rua Felizardo, 750,

90690-200 Porto Alegre RS, Tel: (51)3308-5820. E-mail: michel.brentano@terra.com.br

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Introdução Quando se interrompe ou se reduz o treinamento, seja em seu volume, intensidade ou freqüência, ou mesmo uma associação destes, esta interrupção poderá implicar destreinamento, sendo este, um processo de descondicionamento que afeta o desempenho através da diminuição da capacidade fisiológica [1]. Esta interrupção pode ser espontânea, ou condicionada devido a uma lesão, às vezes passível de imobilização. Como resultado do destreinamento verificamos reduções nas adaptações cardiovasculares (VO2máx, capilarização, FC de repouso) e hormonais que influenciam de forma negativa o desempenho de atletas. Sendo assim, o objetivo do presente estudo é revisar as principais características funcionais e fisiológicas acarretadas pelo destreinamento, causado pela interrupção treinamento.

O destreinamento Uma das mais importantes características do músculo esquelético é a sua capacidade de adaptação a variados estados e demandas funcionais, atividades neuromusculares e estímulos hormonais [2]. O treinamento físico implica em estresse fisiológico, que provoca adaptações funcionais no músculo para resistir a tal estresse. Por outro lado, o processo inverso, ou seja, o destreinamento gera a reversão total ou parcial das adaptações funcionais alcançadas em treinamento hormonais [2]. Em relação ao treinamento de força, a diminuição na massa magra é mediada pela diminuição no tamanho e/ou número de células musculares, especialmente as fibras tipo II [3]. Teoricamente, a atrofia de fibras musculares extremamente hipertrofiadas – como é o caso de atletas altamente treinados em força –, especialmente fibras do tipo II, causa diminuições na força muscular. Alterações hormonais podem também contribuir para a atrofia. Por outro lado, uma redução na condução neural das unidades motoras pode reduzir a força máxima sem atrofia muscular [3]. Também é conhecido que em destreinamento ocorrem diminuições na ativação voluntária máxima do músculo, e na força em adultos jovens, acompanhadas de atrofia muscular [3]. Em relação às modalidades esportivas essencialmente aeróbias – também conhecidas como esportes de endurance –, reduções no consumo máximo de oxigênio (VO2máx) em destreinamento são associadas a reduções na performance em endurance [4-8]. Estas alterações são acompanhadas por fatores como redução na atividade de enzimas oxidativas [4-6,8-11], alterações cardiovasculares e respiratórias [4,6,7,10,12]. Como as adaptações decorrentes do destreinamento são variadas, a seguir, elas serão apresentadas separadamente.

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Consumo máximo de oxigênio e respostas cardiovasculares Em adolescentes e jogadores de futebol, o destreinamento de 6 meses, reduziu o VO2 máx (volume máximo de oxigênio), aos valores pré-treinamento, tanto para jogadores treinados em endurance, como em sprint [5]. Também são observadas reduções significativas no VO2máx em atletas de endurance, destreinados por longos [6] e curtos períodos [9] (Tabela I), juntamente com a redução do limiar de lactato. O mesmo resultado foi verificado em indivíduos não-atletas após três [8,10] e oito semanas [4] de abstenção da atividade aeróbica. Costill et al. [12] verificaram um grande declínio da capacidade respiratória muscular (QO2) (Tabela I), após uma semana de destreinamento em nadadores, sugerindo que o QO2 pode não ter uma relação com o VO2máx, já que este não apresenta alterações em um período tão curto (entre 5-12 dias) [11,12]. Esta rápida redução estaria associada a reduções na atividade enzimática mitocondrial após o destreinamento. Madsen et al. [13] não verificaram reduções do VO2máx de atletas de endurance após quatro semanas de destreinamento, apesar de relatarem uma grande diminuição no tempo de exaustão em exercício submáximo. Esta resposta foi atribuída a um aumento de Mg²+ muscular nos sujeitos destreinados, que poderia ter causado a exaustão, pois, um grande volume de Mg2+ livre, inibiria o retorno de Ca2+ para o retículo sarcoplásmatico; e com menos cálcio disponível, a interação da actina-miosina poderia ser prejudicada. Entretanto, durante o período de destreinamento, os atletas não permaneceram totalmente inativos, realizando um trabalho de alta intensidade (95% da freqüência cardíaca máxima), com um volume semanal de treinamento bastante reduzido (de ± 8.3 h/semana para 35 min/semana). Talvez este treinamento tenha contribuído para a não alteração em parâmetros como o VO2máx, densidade capilar, ventilação e concentração de lactato, assim como já havia servido para manter a atividade da citrato sintase constante após as quatro semanas. A freqüência cardíaca sub-máxima [6,7,13], a ventilação [6], e o quociente respiratório (RER) de indivíduos treinados em endurance, são aumentados após o destreinamento. Particularmente em relação ao RER, esse aumento parece estar associado à maior utilização de carboidratos como substrato energético [6,10,13], que também aumenta após um destreinamento em atletas de endurance. Houston et al. [9] inclusive, verificaram aumentos na freqüência cardíaca máxima após 15 dias de destreinamento em corredores de elite, enquanto Madsen et al. [13] não relataram alterações na freqüência cardíaca máxima e na ventilação após 4 semanas sem treinamento (Tabela I). A pressão arterial apresentou aumentos em seu valor, que foram acompanhados pelo aumento da tensão vascular periférica, em exercício sub-máximo, após um período de destreinamento em corredores [7]. Ainda, a freqüência cardíaca submáxima de indivíduos não-atletas

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Tabela I - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações cardiovasculares, Onde: A = aeróbio; VO2 máx = consumo máximo de oxigênio; QO2 = capacidade respiratória muscular; D cap = densidade capilar; RER = quociente respiratório; VS = volume sistólico; VE = volume de ejeção; DC = débito cardíaco; PA = pressão arterial total; TVP = tensão vascular periférica; FC Max = freqüência cardíaca máxima; FC sub = freqüência cardíaca sub-máxima; n.s.= não significativo. Referência Houston et al [9] Klausen et al [4] Fournier et al [5] Costill et al [12] Coyle et al [6] Coyle et al [7] Moore et al [10] Wibom et al [8] McCoy et al [11]

Condições Período Treino 15 dias A 8 sem A 6 meses A 4 sem A 12 sem A 4 sem A 3 sem A 3 sem A 10 dias A

Adaptações cardiorrespiratórias RER VO2 máx QO2 D cap n.s. -15% -11% -50% -15% n.s. 6% n.s. -

VS - 9% -

VE -12% -

DC -8,9% -

PA +7% -

TVP -

FCmáx + 4 bpm n.s. -

-

FCsub - 10% +5,1% n.s. n.s. -

Tabela II - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações metabólicas e nos substratos energéticos. Onde: LAC = lactato; GLI = glicose; GLC = glicogênio muscular; AGL = ácidos graxos; ns = não significativo. Condições

Alterações metabólicas

Substratos energéticos

Período

Treino

pH

LAC

GLI

GLCG

AGL

Houston et al [9]

15 dias 4 semanas 12 semanas 3 semanas

aeróbio aeróbio aeróbio aeróbio

- 1% -

n.s. + 131% + 68% n.s.

- 26,1% -

- 39,2% -

n.s. -

McCoy et al [11]

10 dias

aeróbio

-

-

n.s.

-

-

Madsen et al [13] Costill et al [12] Coyle et al [6]

treinados aerobicamente apresenta um aumento após o destreinamento [4] ou não se altera [8]. O destreinamento pode causar uma redução no volume de ejeção cardíaca [7]. O volume sanguíneo também parece sofrer influência do destreinamento, sendo reduzido em 4 semanas, com uma maior redução no volume de plasma em comparação ao volume de eritrócitos, sendo este fator considerado como um dos principais responsáveis pela redução da performance em destreinamento de curto/médio prazo [7]. Justificando esta afirmação, no trabalho citado, os sujeitos realizaram o mesmo teste ao final do destreinamento, após a elevação artificial de seu volume sanguíneo, resultando em reversões de várias variáveis prejudicadas pela inatividade, como volume de ejeção, freqüência cardíaca e tensão vascular periférica, sendo a última, responsável pela retomada dos valores normais de pressão arterial, sugerindo que o volume sanguíneo influencia diversos aspectos da regulação cardiovascular durante o exercício, provavelmente afetando receptores de baixa pressão, sensíveis ao retorno venoso para o coração [7].

Capilarização Em duas a três semanas de inatividade, a densidade capilar no músculo diminui [2,4]; apesar da redução observada por Klausen et al. [4] não apresentar uma implicação prática, pois foi acompanhada por atrofia das fibras musculares, o que ocasionou um número de capilares por mm² de fibra idêntico

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ao inicial. Madsen et al. [13], em contraste, não verificaram alterações na capilarização das fibras musculares após quatro semanas de destreinamento em endurance. A diferença artério-venosa de O2 também parece diminuir com 3-8 semanas de destreinamento em atletas de endurance [2].

Alterações bioenergéticas e atividade enzimática Verificou-se que, em períodos de inatividade, os níveis de lactato dehidrogenase aumentaram em ciclistas e corredores após 7-12 semanas de destreinamento [6,14], enquanto outros pesquisadores [9,13,15] relataram modificações em sua atividade. Atletas de endurance, após um período de inatividade de longa duração, apresentam um aumento da concentração de lactato sanguíneo [6,12], acompanhada por um aumento da utilização de carboidrato como fonte energética, sendo esta alteração evidente já no 21° dia de destreinamento [6]; porém em períodos menores de destreinamento (15 dias) não se verificou nenhuma alteração na concentração de lactato sanguíneo [9,13]. Apesar das alterações de lactato e redução no bicarbonato sanguíneo verificadas por Costill et al. [12], não houve uma alteração significativa no pH sanguíneo (Tabela II). Já indivíduos não atletas, não apresentam alterações após três semanas de destreinamento subseqüentes ao treinamento de endurance [9], ou podem aumentar a concentração de lactato sanguíneo [10,16].

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Com o destreinamento, atletas de endurance não demonstraram alterações na glicose plasmática [6,11,13] e ácidos graxos livres [6]; porém o conteúdo muscular de glicogênio parece sofrer reduções significantes [12-14]. Madsen et al. [13] observaram uma alta concentração de ácidos graxos livres, durante o exercício, após o período de destreinamento, sem nenhuma alteração no glicerol plasmático, atribuindo este fator a uma redução da oxidação de ácidos graxos e não a um aumento de sua mobilização, já que o glicerol é um indicador desta mobilização. Este resultado pode ter sido causado pela baixa atividade da enzima beta-hidroxiacil CoA dehidrogenase e/ou um menor transporte de ácidos graxos na membrana da mitocôndria pelo sistema carnitina-palmitil transferase. Para atletas e não-atletas treinados aerobicamente, o destreinamento parece reduzir a atividade de enzimas oxidativas (Tabela III), como a citrato sintase [6,8,10,11,16], a succinato desidrogenase [4-6,9,16], a beta-hidroxiacil-CoA dehidrogenase [6,13,16] a citocromo oxidase [4], a malato dehidrogenase mitocondrial [8,16] e a glutamato dehidrogenase [8]. Entretanto, alguns autores não observam essas respostas, particularmente em relação à malato dehidrogenase citoplasmática, sucinato citocromo c redutase, NADH citocromo c

redutase e betahidroxiacil-CoA dehidrogenase [8,13] e citrato cintase [13]. Essas respostas podem ser influenciadas, em parte, por um destreinamento caracterizado pela prática de treinamento de alta intensidade com um volume muito mais baixo que o normal [13]. Essa possibilidade é sustentada pelos resultados de Fournier et al.[5], que verificaram uma resposta da sucinato dehidrogenase diferente em destreinamento após treinamento de endurance e de sprint, reduzindo no primeiro caso, e permanecendo igual no segundo. Entretanto, Houston et al. [15], avaliando sujeitos treinados em força, não verificaram alterações na atividade da succinato desidrogenase e da após 12 semanas de inatividade. As avaliações com enzimas glicolíticas (Tabela IV) mostram que a hexoquinase apresenta uma redução em sua atividade com o destreinamento para treinados em endurance [6,16], mas não se altera para treinados em força [15]; enquanto a fosfofrutoquinase [6,12,15,16], a fosforilase [6,9,12,16], a beta-hidroxibutirato dehidrogenase [16], a frutose bi-fosfatase [16], a adenilato quinase [16] e a creatina quinase [16] não foram alteradas pelo destreinamento em indivíduos treinados em endurance. Entretanto, para atletas de força, destreinados por períodos de longa duração, há uma redução na concentração plasmática de creatina quinase [18], isto, segundo

Tabela III - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações enzimáticas 2. Onde: CS = citrato sintase; cMDH = malato dehidrogenase citoplasmática; mMDH = malato dehidrogenase mitocondrial; GDH = glutamato dehidrogenase; HAD = beta-hidroxiacilCoA dehidrogenase; SCR = sucinato citocromo c redutase; NCR = NADH citocromo c redutase; COX = citocromo c oxidase; SDH = sucinato dehidrogenase; n.s.= não significativo. Referência Houston et al [15] Klausen et al [4] Fournier et al [5] Chi et al [14] Houston et al [9] Coyle et al [6] Moore et al [10] Wibom et al [8] McCoy et al [11]

Condições Período 15 dias 8 semanas 6 meses 7 semanas 12 semanas 12 semanas 3 semanas 3 semanas 10 dias

Treino aeróbio aeróbio aeróbio aeróbio força aeróbio aeróbio aeróbio aeróbio

Proteínas e enzimas oxidativas GLUT-4 CS cMDH mMDH - 35% - 39% - 28% - 40% n.s. - 35,7% - 10% n.s. - 28% - 33,2% - 28,6% -

GDH - 17% -

HAD - 17% n.s. n.s. n.s. -

SCR n.s. -

NCR n.s. -

COX n.s. -

SDH - 24% - 40% - 42% - 28% n.s. - 25% -

Tabela IV - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações enzimáticas 1. Onde: HK = hexoquinase; PFK = fosfofrutoquinase; PRHL = fosforilase; LDH = lactato dehidrogenase; CK = creatina quinase; Beta-H = beta-hidroxibutirato dehidrogenase; Frut-bifos = frutose bi-fosfato; ADEN = adenilato quinase; n.s .= não significativo. Referência Houston et al [9] Klausen et al [4] Fournier et al [5] Chi et al [14] Houston et al [15] Costill et al [12] Coyle et al [6] Wibom et al [8] Hortobagyi et al [18]

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Condições Período 15 dias 8 semanas 6 meses 7 semanas 12 semanas 4 semanas 12 semanas 3 semanas 12 semanas

Treino aeróbio aeróbio aeróbio aeróbio força aeróbio aeróbio aeróbio força

Enzimas anaeróbicas HK PFK PHRL n.s. n.s. n.s. - 21% n.s n.s. n.s. n.s n.s. n.s. n.s. - 20% n.s. + 16% -

Beta- H n.s. -

Frut-bifos n.s. -

ADEN n.s. -

LDH - 13% - 10% + 21,1% n.s. + 20% -

CK n.s. n.s. - 82,3%

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Tabela V - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e as adaptações hormonais. Onde: I=insulina; C = cortisol; GH = hormônio do crescimento; T = testosterona; A = adrenalina; N = noradrenalina; ns = não significativo. Condições Madsen et al [13] Costill et al [12] Coyle et al [6] Houston et al [15] Hortobagyi et al [18] McCoy et al [11]

Período 15 dias 4 semanas 12 semanas 3 semanas 12 semanas 10 dias

Adaptações hormonais Treino aeróbio aeróbio aeróbio aeróbio força aeróbio

I n.s. n.s.

Clarkson apud Hortobagyi et al. [18], pode indicar uma reorganização miofibrilar. Entretanto Houston et al. [9] não relataram alterações na sua atividade após 12 semanas de inatividade subseqüentes ao treinamento de força. Em contraste a estes resultados, Klausen et al. [4] verificaram uma redução na atividade da fosfofrutoquinase após destreinamento, assim como Fournier et al. [5] para treinados em sprint - porém a atividade não se alterou quando o treinamento priorizou a endurance - enquanto Wibon et al. [8] verificaram um aumento da atividade da fosfofrutoquinase após destreinamento. Paralelo as reduzidas atividades enzimáticas, Wibon et al. [8] observaram reduções na quantidade de mitocôndrias musculares com o destreinamento em sujeitos sedentários, o mesmo sendo sugerido por Moore et al. [10]. Além disso, McCoy et al. [11] verificaram um sensível decréscimo de GLUT-4 após 10 dias de destreinamento em triatletas, paralelo e altamente correlacionado a uma redução na atividade da citrato cintase (Tabela IV).

Alterações hormonais Em indivíduos altamente treinados em força muscular, o destreinamento causa um aumento da concentração basal de hormônio de crescimento (GH) e testosterona, com uma diminuição do cortisol plasmático (Tabela V), alterando a relação testosterona x cortisol [18], estes dados sugerem um aumento dos processos anabólicos, possivelmente como feedback de resposta aos processos catabólicos causados pelo destreinamento, entretanto, isto não indica necessariamente um aumento no anabolismo muscular. Em atletas de endurance, a insulina não apresenta variação na sua concentração após períodos curtos [11,14] ou longos de destreinamento [6]. Apesar disso, mesmo em reduzidos períodos de destreinamento, a sensitividade do organismo à ação da insulina parece ser alterada [11,14], alterando a utilização de substrato energético durante o exercício. Os níveis de adrenalina e noradrenalina não apresentaram variação nas três primeiras semanas de destreinamento, mas ao final de 12 semanas, seus níveis plasmáticos aumentaram em atletas de endurance, entretanto os mesmos níveis não se alteraram após um teste em intensidade submáxima (75% do VO2máx), permanecendo os mesmos encontrados no teste antes do destreinamento [6]. Esse aumento na concentração

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C + 21,5% -

GH + 58,3% -

T + 19,2% -

A + 99% -

N + 65% -

de catecolaminas circulante pode ser relacionado em alguns fatores observados no destreinamento, entre eles, uma maior utilização de glicogênio como fonte energética, e um aumento da freqüência cardíaca e pressão arterial [6].

Conclusão Verifica-se que as reduções no VO2máx nas primeiras semanas de destreinamento, podem ser devido a redução do débito cardíaco [6,19] e, após este período inicial, contribuições como a redução na diferença artério-venosa de O2 [6,19], reduções na capilarização e atividade das enzimas oxidativas [4] podem ser as principais responsáveis pela queda do consumo máximo de O2. Entretanto o VO2máx não necessariamente se modifica na mesma magnitude que as alterações das enzimas oxidativas, sendo que estas últimas apresentam variações muito maiores que o VO2máx [6,7,9,10]. Modificações na atividade enzimática são apontadas como uma das principais responsáveis pela diminuição do desempenho aeróbio, sendo que essas alterações parecem ser mais importantes nas fibras musculares do tipo I [28]. A queda no débito cardíaco seria mediada pela queda no volume de ejeção, e esta, mediada pela redução do volume sanguíneo – o destreinamento parece reverter rapidamente a hipervolemia de estado treinado ದ, dos reflexos cardiovasculares e/ou do retorno venoso [19]. A redução no VO2máx através deste mecanismo, poderia ser compensada pelo aumento da freqüência cardíaca máxima, apontado em alguns estudos, o que contribuiria para que esta redução fosse pequena. Além disso, esta redução no volume de ejeção poderia ser responsável por uma redução do volume ventricular esquerdo, porém esta redução não é claramente confirmada. Também se atribui a responsabilidade das alterações nas respostas metabólicas e cardiovasculares ao aumento da atividade simpato adrenal, já que os aumentos nos níveis plasmáticos de catecolaminas podem contribuir para grandes aumentos na freqüência cardíaca, ventilação, e concentração de lactato sanguíneo, devido ao maior uso de substrato energético derivado de carboidrato. Porém deve-se ressalvar que no estudo citado, os maiores aumentos na freqüência cardíaca e concentração de lactato sanguíneo ocorreram nos primeiros 21 dias, e os níveis de catecolaminas permaneceram praticamente inalterados neste período, mostrando

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uma alteração consistente apenas em períodos mais longos de destreinamento. Além disso, verifica-se que aumentos da pressão arterial, após destreinamento, podem ser causados pela queda da pressão das veias centrais, que causam a vasoconstrição da pele, músculos inativos e outras áreas periféricas aumentando a tensão vascular periférica. Este aumento da pressão arterial, por sua vez, pode contribuir para as reduções no volume de ejeção cardíaco, por causar de uma sobrecarga na sístole.

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Revisão A importância dos exercícios resistidos em pacientes hipertensos The importance of resistance exercise in hypertensive patients Graziela Rodrigues da Costa*, Elaine Cristina Martinez Teodoro, M.Sc.** *

Fisioterapeuta, Faculdade de Pindamonhangaba – FAPI, Pindamonhangaba - SP, **Fisioterapeuta, Especialista em Fisiologia do Exercício (UNIFESP/EPM), Doutoranda em Engenharia Mecânica, Departamento de Mecânica – Universidade Estadual Paulista (UNESP) Guaratinguetá – SP

Resumo

Abstract

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) pode ser conceituada como uma patologia multifatorial capaz de acometer os chamados órgãos-alvo, tais como: coração, rins, aorta, cérebro e olhos. Sua prevalência no Brasil é alta, o que a torna um grande problema de saúde pública. A HAS é considerada um grande fator de risco para as doenças cardíacas e vasculares. Desse modo, o presente trabalho aborda a importância da realização dos exercícios resistidos em pacientes hipertensos, e que são definidos como qualquer forma de exercício ativo, no qual a contração muscular estática ou dinâmica é resistida por uma força externa que pode ser aplicada manual ou mecanicamente. Conclui-se que a realização de um treinamento resistido com cargas leves promove grandes benefícios para a saúde dos portadores de HAS, reduzindo o índice de mortalidade e morbidade destes pacientes.

Systemic Arterial Hypertension (SAH) can be considered a multifactor pathology affecting target organs such as heart, kidneys, aorta, brain and eyes. Its prevalence in Brazil is high, making it a considerable problem of public health. SAH is considered a serious factor of risk for heart and vascular disease. The present study addresses the importance of performing resistance exercises on hypertensive patients. Such exercises are defined as any form of active exercise in which static or dynamic muscular contraction is resisted by an external force, which can be applied either manually or mechanically. It was concluded that performing resistance training with light loads offers considerable benefits to the health of patients with SAH, reducing mortality and morbidity rates. Key-words: blood pressure, hypertension, resistance exercise, risk factors.

Palavras-chave: pressão arterial, hipertensão arterial sistêmica, exercício resistido, fatores de risco.

Endereço para correspondência: Elaine Cristina Martinez Teodoro,Avenida Osvaldo Aranha, 1961, 12600-000 Lorena SP, Tel: (12)

3152-8023, E-mail: elaine.cristina@feg.unesp.br

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Introdução A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é definida como uma patologia multifatorial e multicausal, sendo conceituada como uma síndrome caracterizada pela presença de níveis tensionais elevados, associados às alterações metabólicas, hormonais e fenômenos tróficos, tais como hipertrofia cardíaca e vascular [1]. Sua presença pode contribuir para lesão dos chamados órgãos-alvo, como coração, cérebro, vasos sanguíneos, rins e retina [2]. A pressão arterial é a pressão que o sangue exerce contra as paredes das artérias, sendo geralmente expressa em milímetros de mercúrio (mmHg). A HAS é representada pelo aumento da pressão sistólica acima dos valores de 139 mmHg, e acima de 89 mmHg para diastólica [3]. À medida que a população envelhece e se torna mais obesa, a incidência de hipertensão continua a aumentar, em todas as sociedades desenvolvidas e naquelas em desenvolvimento [2]. Sua prevalência no Brasil é alta e está presente em cerca de 15 (10%) a 30 (20%) milhões de pessoas, atingindo quase 65% dos idosos. Os negros (38%) têm maior prevalência do que os brancos (29%) e os homens (33%) uma prevalência maior do que as mulheres (27%), até aproximadamente os cinqüenta anos. Após esta idade, a doença torna-se mais comum nas mulheres. Embora seja predominante na fase adulta, sua prevalência em crianças e adolescentes não é desprezível, representando 7% [2]. A HAS é um fator de risco para várias doenças cardíacas e vasculares. São muitos os fatores que contribuem para o seu desenvolvimento, tais como: alimentação inadequada, fatores genéticos, alcoolismo, obesidade, sedentarismo, estresse, tabagismo, dislipidemia, diabetes mellitus, idade acima de sessenta anos e sexo [2]. Desse modo, tornam-se necessárias mudanças no estilo de vida, como alimentação adequada e a realização de exercícios físicos, visto que alguns estudos têm demonstrado efeitos benéficos tanto dos exercícios aeróbicos como os de resistência para a diminuição dos fatores de risco. Entretanto, o exercício de resistência, além de reduzir os níveis pressóricos, mantém e aumenta a massa muscular magra do indivíduo [1]. Para a realização do exercício físico, o indivíduo deve ser avaliado, a fim de obter parâmetros para uma prescrição adequada, possibilitando melhor aproveitamento dos benefícios dos mesmos [1]. Portanto, este estudo tem como objetivo analisar as respostas hemodinâmicas, os ajustes fisiológicos e a importância do exercício de resistência em pacientes hipertensos.

Hipertensão arterial sistêmica

mantidos cronicamente em valores iguais ou superiores a 140 mmHg, para a pressão arterial sistólica e ou 90 mmHg para a pressão arterial diastólica [5]. A HAS é reconhecida como um dos principais fatores de risco de doenças cardiovasculares e a primeira causa de morte nos países industrializados e no Brasil [6]. Alguns dados epidemiológicos indicam que, no mundo, um em cada cinco indivíduos com idade superior a 18 anos apresenta hipertensão arterial. Os dados estatísticos revelam que 22% a 44% da população adulta são portadoras desta síndrome [5]. Estudos populacionais realizados em algumas cidades brasileiras mostram a prevalência da hipertensão arterial com níveis pressóricos mantidos acima de 140/90 mmHg em 22,3% a 43,9% da população e de 160/95 mmHg em 11,3% a 32,7% [6]. Os fatores associados são: excesso de peso, sedentarismo, envelhecimento, raça e sexo. Enfatiza-se ainda o aumento da circunferência abdominal e a baixa estatura das mulheres [7]. Segundo algumas pesquisas, 50% dos hipertensos morrem por doença arterial coronariana ou insuficiência cardíaca, sendo 33% por acidente vascular encefálico e 10% a 15% por insuficiência renal crônica [3]. No Brasil, em 2003, 27,4% dos óbitos foram decorrentes de doenças cardiovasculares, atingindo 37% quando são excluídos os óbitos associados às doenças sem diagnóstico e à violência. A principal causa de morte em todas as regiões do país é o acidente vascular cerebral, acometendo as mulheres em maior proporção [8]. Quanto à raça, o impacto da hipertensão não é uniforme, os negros apresentam os maiores níveis pressóricos, possivelmente relacionados à maior ingestão de sal, quando comparados entre si e com outras raças, sendo esta prevalência 1,77% maior que nos brancos [9].

Classificação A HAS pode ser classificada em sistólica e diastólica, conforme ilustram as Tabelas I e II. [4]. Tabela I - Classificação diagnóstica da hipertensão arterial diastólica (> 18 anos de idade). PAD < 85 85 – 90 90 – 99 100 – 109 ≥ 110 < 90

Classificação Normal Normal limítrofe Hipertensão leve (estágio I) Hipertensão moderada (estágio II) Hipertensão grave (estágio III) Hipertensão sistólica isolada

Fonte: III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (1999).

O indivíduo é considerado hipertenso quando, na ausência da terapia anti-hipertensiva, seus níveis pressóricos são

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Tabela II - Classificação diagnóstica da hipertensão arterial sistólica (> 18 anos de idade). PAS < 130 130 – 139 140 – 159 160 – 179 ≥ 180 ≥ 140

Classificação Normal Normal limítrofe Hipertensão leve (estágio I) Hipertensão moderada (estágio II) Hipertensão grave (estágio III) Hipertensão sistólica isolada

Fonte: III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (1999).

Fisiopatologia Os determinantes da pressão arterial são o débito cardíaco e a resistência vascular periférica: qualquer alteração em um ou outro, ou em ambos, interfere na manutenção dos níveis pressóricos normais [7]. No indivíduo hipertenso, a interação de fatores genéticos e fatores ambientais levam ao desequilíbrio desses sistemas, que resulta no aumento da pressão arterial associado à maior incidência de morbidade e mortalidade [7]. A manutenção, bem como a variação momento a momento da pressão arterial, depende de mecanismos complexos e redundantes que determinam ajustes apropriados da freqüência e da contratilidade cardíaca, do estado contrátil dos vasos de resistência e de capacitância e da distribuição de fluido dentro e fora dos vasos [10]. A regulação neuro-hormonal da pressão arterial funciona como um arco-reflexo envolvendo receptores, aferências, centros de intregação, eferências e efetores, além de ações hormonais [11]. Os barorreceptores arteriais são um dos principais responsáveis pelo ajuste da pressão. Trata-se de mecanorreceptores constituídos por terminações nervosas livres que se situam na camada adventícia de grandes vasos e que são estimulados por deformações de suas paredes, normalmente provocadas pela onda de pressão e pelas características mecano-elásticas da parede [12]. O controle da pressão arterial também ocorre por meio do sistema renina-angiotensina-aldosterona, que causa vasoconstrição, estimula mecanismos centrais que favorecem a hipertensão e aumenta a absorção tubular de sódio, enquanto sua inibição tem efeitos contrários. A angiotensina II também influencia a hemodinâmica renal e exerce efeitos tróficos sobre os vasos e o coração, que favorecem o aumento da resistência vascular e a hipertrofia cardíaca [13].

Diagnóstico A medida da pressão arterial é o elemento chave para o estabelecimento do diagnóstico de hipertensão arterial e avaliação da eficácia do tratamento [8]. O método mais utilizado para aferição na prática clínica é o indireto, com técnica auscultatória e esfignomanômetro de coluna ou aneróide [8].

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O diagnóstico da HAS é realizado quando são detectados valores pressóricos maiores ou iguais a 140 mmHg para a pressão sistólica e ou 90 mmHg para a diastólica [14]. Além de cuidados com a aferição correta, o exame físico geral deve ser realizado de maneira minuciosa e completa, sempre com o intuito de se identificar lesões de órgãos-alvo e eventuais causas secundárias de hipertensão arterial [15]. Sua confirmação depende fundamentalmente dos cuidados dispendidos durante as aferições para minimizar os riscos de falsos diagnósticos, tanto de hipertensão quanto de normotensão, e suas repercussões na saúde dos indivíduos e no custo social envolvido [8].

Exercício resistido Os exercícios resistidos caracterizam-se por atividades nas quais ocorrem contrações voluntárias da musculatura esquelética de um determinado segmento corporal contra alguma resistência externa, ou seja, contra uma força que se opõe ao movimento, sendo que essa oposição pode ser oferecida pela própria massa corporal, por pesos livres ou por outros equipamentos, como aparelhos de musculação, objetos elásticos ou de resistência manual [16].

Efeitos fisiológicos Os exercícios resistidos apresentam efeitos cardiovasculares diferentes em função de sua intensidade, sendo a atividade de intensidade alta responsável por picos pressóricos extremamente elevados, oferecendo risco potencial ao paciente. Já as atividades de baixa intensidade parecem promover aumentos seguros da pressão arterial durante o exercício, e podem ser indicativos de um potencial hipotensor pós-exercício [16]. A análise de alguns estudos concluiu que o treinamento de resistência diminui a pressão arterial sistêmica com uma redução da resistência vascular, onde o sistema nervoso simpático e o sistema renina-angiotensina parecem estar envolvidos e concomitantemente afetam de maneira favorável os fatores de risco das doenças cardiovasculares [17]. O exercício físico de resistência apresenta efeitos tanto fisiológicos quanto psicológicos como: diminuição do estresse, melhora da função cardiorrespiratória, remoção de fatores como tabagismo, melhora da circulação sistêmica e aumento da circulação colateral [18]. O exercício intenso de resistência pode ser prejudicial para os indivíduos que sofrem de doenças cardíacas e vasculares, principalmente para os destreinados, pois o mesmo produz um aumento na tensão, principalmente na fase concêntrica da contração muscular e comprime o sistema arterial periférico, fazendo com que haja uma diminuição na perfusão muscular e um aumento da resistência vascular periférica total. Como conseqüência, há um aumento na atividade do sistema nervoso simpático, no débito cardíaco e na pressão arterial média, como tentativa de restaurar o fluxo sangüíneo

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muscular. Desse modo, para pessoas com hipertensão arterial sistêmica, são indicadas formas mais rítmicas de exercício moderado [1]. Os mecanismos apontados como possíveis responsáveis pelo aumento da pressão arterial nos exercícios de alta intensidade são a pressão mecânica da musculatura contraída sobre os vasos sanguíneos esqueléticos e a elevação da pressão intratorácica gerada pela manobra de valsalva, cuja realização é inevitável quando o exercício é feito em intensidade acima de 75% a 80% da carga voluntária máxima [16]. Durante o exercício de resistência, a pressão arterial sistêmica reduz em média 5 a 7 mmHg, imediatamente após uma sessão. O efeito hipotensor pode ocorrer por até 22 horas pós-atividade [19].

amplitude específica de movimento, uma única vez e com execução correta [23]. O ACMS preconiza que o treinamento de resistência seja parte integrante de um programa de aptidão física para adultos e idosos. Suas recomendações incluem pelo menos uma série de oito a dez exercícios para os principais grupos musculares, com freqüência de duas a três vezes por semana. Cada exercício deve envolver dez a quinze repetições e a duração das sessões deve ser de 20 a 60 minutos no máximo, pois estudos comprovaram resultados satisfatórios durante este período [1]. Segundo Lopes, Barreto-Filho e Riccio [24] o exercício de resistência muscular localizada pode ser realizado com sobrecarga que não ultrapasse 50% da contração voluntária máxima.

Benefícios Método Atualmente, esse tipo de atividade tem sofrido uma série de investigações, devido à importância que atingiu no desenvolvimento do condicionamento cardiorrespiratório e neuromuscular. Dentre as atividades físicas que podem melhorar a saúde, a prática de exercícios resistidos tem sido recomendada pelas principais agências normativas de atividade física, como o American College of Sports Medicine (ACMS), e a American Heart Association (AHA), devido a sua relativa segurança, mesmo em populações ditas especiais [20]. Os exercícios resistidos trazem benefícios como adaptações neuromusculares, aumento de força e resistência muscular, aumento da capacidade de realizar atividades de vida diária, supressão de queda de força relacionada à idade, atenuação das respostas cardiovasculares ao esforço e diminuição de risco de doença coronariana [21].

Prescrição De acordo com Cléroux, Feldman e Petrella [22], as pessoas com hipertensão leve devem praticar exercícios de intensidade moderada de 50 a 60 minutos, 3 a 4 vezes por semana, para redução da pressão arterial. O exercício físico deve ser prescrito como um adjunto à terapia medicamentosa, e pessoas que apresentam hipertensão devem participar de exercícios regulares, uma vez que o mesmo irá diminuir a pressão arterial e reduzir o risco de doenças coronarianas. Este treinamento pode ser prescrito como um adjunto à atividade aeróbica, devido ao fato deste tipo de exercício ajudar a manter e construir a massa muscular, especialmente em um corpo envelhecido. Entretanto, o exercício de resistência não deve servir como atividade preliminar, pois não tem os mesmos efeitos anti-hipertensivos que o exercício aeróbico [19]. Para o controle da intensidade do exercício, é necessária a realização do teste de uma repetição máxima, o qual é definido como a maior carga que pode ser movida por uma

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Trata-se de uma revisão bibliográfica constituída por artigos científicos que utilizou os seguintes bancos de dados: Bireme, Pubmed e Comut da Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, FEG – UNESP. As bases de dados consultadas foram Medline, Scielo e Lilacs. Foi realizado um levantamento bibliográfico utilizando as seguintes palavras-chave: pressão arterial, hipertensão arterial sistêmica, exercício resistido, fatores de risco, blood pressure, hypertension, resisted exercise, risk factors. Foram selecionados apenas artigos publicados nos idiomas inglês e português, com ano de publicação compreendido entre 1991 a 2007.

Discussão Dentre as condutas não farmacológicas, a prática regular de exercícios físicos tem sido utilizada por profissionais da área da saúde devido às evidências clínicas encontradas na literatura, as quais demonstram sua eficácia para a redução dos níveis da pressão arterial em pacientes hipertensos, além da diminuição dos efeitos colaterais provocados pelo tratamento farmacológico, reduzindo a resposta pressórica diante de estímulos fisiológicos, como no exercício físico submáximo e em situações de estresse mental [25]. Segundo Forjaz et al. [16], o exercício de resistência reduz os níveis pressóricos pós-exercício tanto em sujeitos normotensos como em hipertensos, proporcionando cronicamente uma série de adaptações fisiológicas, tais como: hipertrofia, aumento de força muscular e densidade óssea, reduzindo assim a prevalência da osteoporose. O mesmo foi observado por Parise, Brose e Tarnopolsky [26], os quais concluíram também um aumento de força e hipertrofia das fibras musculares, após realizarem um estudo com 30 indivíduos, em um programa de treinamento resistido. De acordo com Braith e Stewart [25], o exercício de resistência vem sendo incluído como parte de um programa de

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promoção à saúde e prevenção do risco de doenças cardiovasculares, aprovado pela American Heart Association, American College of Sports Medicine e American Diabetes Association, funcionando como um complemento ao exercício aeróbio para prevenção, tratamento e controle da hipertensão arterial, o que condiz com as afirmações de Laterza e Rondon [27], os quais abordam que os exercícios de resistência devem ser empregados somente como forma complementar ao exercício aeróbio. Kelley [28] realizou um estudo com 259 indivíduos, com o objetivo de analisar os efeitos fisiológicos do exercício de resistência aplicado ao paciente hipertenso, tendo como resultado reduções de 3 a 4% das pressões arteriais sistólica e diastólica, concordando com os resultados obtidos em outros estudos, como no de Mediano, Paravidino, Simão, Pontes e Polito [29], que realizaram um experimento com 20 indivíduos de ambos os gêneros, portadores de hipertensão controlada por fármacos e participantes de um programa de exercícios para treinamento de força, os quais concluíram que uma sessão de exercício resistido pode promover reduções significativas dos níveis sistólicos da pressão arterial. Este efeito também pode ser observado nos estudos de Fagard, Franklin e Pescatello [30], onde foi realizada uma análise dos efeitos do treinamento de resistência sobre a pressão arterial em 320 indivíduos, os quais apresentaram reduções significativas de cerca de 3 mmHg para as pressões sistólica e diastólica. Para Lopes, Barreto Filho e Riccio [24], o exercício resistido com carga moderada promove alterações hemodinâmicas, autonômicas e neuro-humorais que reduzem a pressão arterial no pós-exercício imediato e de maneira sustentada quando sua prática é regular, porém, exercícios com cargas elevadas parecem não promover os mesmos efeitos benéficos, podendo levar a uma alteração autonômica. Marceau, Kouame, Lacourciere, Cleroux [31] realizaram um estudo com exercício resistido utilizando intensidades de leve a moderada, sendo 50% a 70% de uma repetição máxima respectivamente, e obtiveram como resultado reduções de cerca de 5 mmHg em ambas as pressões o que condiz com a V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial [8], onde preconiza-se que os exercícios de resistência em sujeitos hipertensos devem ser realizados com sobrecarga de até 50% a 60% de 1 repetição máxima, sendo o mesmo interrompido quando a velocidade diminuir antes da fadiga concêntrica surgir. Laterza, Rondon e Negrão [5] recomendam que os exercícios de resistência aplicados ao paciente hipertenso devem ser realizados com freqüência de três ou mais vezes por semana e com 50% a 60% da carga voluntária máxima, sendo estes exercícios realizados como forma complementar ao exercício aeróbio, condizendo com o trabalho de Chintanadilok e Lowenthal [32], os quais relatam que os exercícios de resistência devem constar de três a cinco dias por semana, 20 a 30 minutos por sessão, utilizando 50% a 70% da carga voluntária máxima.

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Com relação ao número de séries e repetições dos exercícios resistidos, Howley [33] sugere uma série de 8 a 12 repetições para adultos com até 50 anos de idade e 10 a 15 repetições para indivíduos com mais de 50 anos, com intensidade de 95% da carga voluntaria máxima, o que contradiz com as propostas de Fagard e Cornelissen [34], os quais sugerem que os exercícios resistidos devem ser realizados com intensidade de 40% a 60% da carga voluntária máxima, condizendo também com os estudos de Simões, Dionísio e Mazzonetto [3], os quais afirmam que estes valores de carga voluntária máxima (40 a 60%) podem ser utilizados, pois não impõem riscos aos indivíduos hipertensos. Braith e Stewart [27] recomendam que o treinamento de resistência deve utilizar uma intensidade moderada que varia de 30% a 40% a partir do teste de uma repetição máxima, para os exercícios de membros superiores, e 50% a 60% para os membros inferiores, com no mínimo oito a dez repetições, contradizendo os estudos de Fargard e Tipton [35], que recomendam que os exercícios resistidos sejam realizados com intensidade de 50% a 70% da carga voluntária máxima, independente do membro que será exercitado. Segundo Forjaz et al. [16], os exercícios resistidos podem ser executados em diferentes intensidades, tais como: leves com 40% a 60% da carga voluntária máxima, com 20 a 30 repetições, os quais resultam num aumento da resistência da musculatura envolvida no exercício. Por outro lado, quando os exercícios são realizados em intensidades mais elevadas, acima de 70% da carga voluntária máxima, o número de repetições não pode ser muito alto, cerca de 8 a 12 são suficientes e resultam no aumento da massa muscular envolvida no exercício. Simões, Dionísio e Mazzoneto [3] realizaram um estudo envolvendo seis indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 50 e 60 anos, divididos em dois grupos, sendo um grupo submetido a atividades aeróbias e o outro a atividades anaeróbias, com intensidade de 50% da carga voluntária máxima. Eles realizaram cinco tipos de atividades, com 3 séries de 12 repetições para cada uma, e obtiveram como resultado, maior queda da pressão arterial sistólica após a aplicação do exercício anaeróbio e da pressão arterial diastólica após o exercício aeróbio. Estes resultados apóiam aqueles encontrados por Mediano, Paravidino, Simão, Pontes e Polito [29], os quais afirmam que o exercício de força com intensidade de 50% da carga voluntária máxima pode reduzir a pressão arterial sistólica pós-esforço, tanto em indivíduos normotensos como naqueles hipertensos, o que também condiz com as afirmações de Lopes, Barreto-Filho e Riccio [24], que recomendam que a atividade física constituída por exercício de resistência muscular localizado pode ser realizada com sobrecarga que não ultrapasse 50% da contração voluntária máxima. Forjaz et al. [16] concluem que o treinamento resistido de baixa e moderada intensidade é indicado ao paciente hipertenso em complemento ao exercício aeróbio, enquanto o treinamento resistido de alta intensidade deve ser evitado pelos mesmos.

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Conclusão O presente trabalho conclui que a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma patologia multicausal, associada a um alto índice de comprometimentos sistêmicos. Sua ocorrência está intimamente relacionada a alterações metabólicas, hormonais e a fenômenos cardiotróficos. Quanto à perspectiva de atuação dos exercícios de resistência, conclui-se que os mesmos podem ser considerados uma importante ferramenta para o tratamento não farmacológico da HAS. Seus efeitos fisiológicos incluem desde a melhora na função muscular, como a redução dos níveis pressóricos, porém em valores menos expressivos que os exercícios aeróbicos. Eles devem ser realizados em intensidades leves a moderadas para não proporcionar picos hipertensivos, os quais podem elevar ainda mais o risco cardiovascular destes pacientes. Portanto, pode-se concluir que os exercícios resistidos promovem grandes benefícios aos indivíduos hipertensos, devendo ser utilizado como um adjunto aos exercícios aeróbicos para diminuir os fatores de risco, melhorar a capacidade funcional, reduzir o risco de doenças cardíacas e vasculares, bem como proporcionar uma melhora na qualidade de vida destes pacientes.

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Perguntas e respostas Treinamento da força para idosos Aging and strength training Paulo de Tarso Veras Farinatti*, Nádia Souza Lima da Silva** *Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Instituto de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Mestrado em Ciências da Atividade Física, Universidade Salgado de Oliveira, ** Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Instituto de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo

Abstract

Este texto teve por objetivo responder a questões freqüentemente levantadas por aqueles que trabalham com prescrição de exercícios para idosos, especificamente no que toca ao treinamento da força muscular. Como estratégia metodológica optou-se por enunciar dez perguntas sobre diversos temas e respondê-las em linguagem simples, mas procurando não se afastar do rigor científico. Os seguintes aspectos foram abordados: a) possíveis benefícios e riscos do treinamento de força para idosos; b) características da elaboração do treinamento de força para esta população; c) comparação com o treinamento aeróbio no controle do peso e prevenção de doenças; d) relação do treinamento da força com doenças crônico-degenerativas. Concluiu-se que o treinamento de força pode ser realizado por idosos com segurança, com efeitos positivos não apenas no ganho de força, mas também em uma melhor capacidade de realização das atividades cotidianas e na manutenção da massa magra, contribuindo com a prevenção do acúmulo de gordura corporal. Isso, por si só, tende a diminuir os riscos de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas, como a hipertensão arterial ou diabetes.

The aim of the study was to review the literature on aging and strength training. The adopted methodological strategy was to pick up frequently asked questions by those who deal with exercise prescription for the elderly, especially in which concerns the strength training. All the questions were formulated and answered in a simple and direct language, but based on scientific framework. The following aspects were addressed: a) possible benefits and risks of strength training for the elderly; b) characteristics of strength training design for this population; c) comparison with aerobic training on weight control and disease prevention; d) relationship of strength training with chronic and degenerative diseases. In conclusion, the review suggests that strength training can be safe for elderly subjects, with positive effects on the muscle strength profile and daily living activities execution performance, as well on the prevention of lean body mass decrease. Strength training can be considered as an effective strategy to improve physical capacity, contributing to prevent cardiovascular and metabolic diseases as hypertension and diabetes.

Palavras-chave: força, envelhecimento, treinamento, saúde.

Key-words: strength, aging, training, health.

Endereço para correspondência: Paulo Farinatti, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Rua São Francisco Xavier 524,

sala 8133-F, 20550-013 Rio de Janeiro RJ, E-mail: farinatt@uerj.br ou pfarinatti@gmail.com.

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Introdução Faz parte das preocupações do Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde (LABSAU) a disseminação de informações sobre temas relativos à prática de atividades físicas pelos idosos. Recentemente, tem ocupado certo espaço na mídia o fato de pessoas de idade iniciarem treinamento contra-resistência – ou musculação – em centros como academias de ginástica, clubes e Universidades. Muito é falado e discutido sobre os possíveis benefícios e riscos que podem estar associados a essa prática, despertando a curiosidade dos profissionais que trabalham com esta população e, por que não dizer, dos próprios idosos. Nesse contexto, o LABSAU desenvolve projeto de atividades físicas para pessoas com mais de 60 anos – um projeto de extensão denominado ‘Idosos em Movimento: mantendo a autonomia (Projeto IMMA)’. Esse projeto oferece aos idosos um programa variado, buscando, de forma lúdica e por meio da interação social, trabalhar qualidades físicas necessárias à manutenção da independência funcional. A quantidade de questões que são colocadas nas aulas do Projeto IMMA (tanto pelos idosos participantes quanto pelos estagiários), motivounos a escrever esse texto. Seu objetivo é fazer um apanhado do que apresentam os estudos disponíveis na literatura sobre treinamento da força e envelhecimento. Não se trata de um estudo de revisão, mas de um diálogo do tipo Frequent Asked Questions, no qual foram selecionadas dez questões que se apresentam comumente entre os participantes do Projeto IMMA. Apesar de terem sido trabalhadas em linguagem simples, buscou-se ao mesmo tempo não se afastar do rigor científico. Espera-se, com isso, contribuir para o esclarecimento de dúvidas que profissionais que trabalham junto a pessoas de idade avançada possam ter, dentro de uma abordagem coerente com o que se espera de intervenções junto aos idosos e cursos de formação e extensão universitária, como as conduzidas pelo Projeto IMMA.

Musculação para idosos: dez perguntas e respostas Até pouco tempo, atividade física para idosos era mais associada a exercícios aeróbios. Quando e por que se começou a recomendar também a musculação? De fato, embora o treinamento de força seja aceito há muito como meio para desenvolver a massa e a força muscular, seus benefícios em outras esferas da saúde só foram reconhecidos recentemente. Em um passado próximo, costumava-se contra-indicar este tipo de atividade para hipertensos, cardiopatas, idosos e outros grupos considerados como especiais. Por exemplo, até 1990 os exercícios de força não constavam das recomendações para exercício e reabilitação da American Heart Association ou do American College of Sports Medicine (ACSM), duas das mais reputadas entidades associadas ao

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exercício físico. As atividades aeróbias, por sua clara relação com diminuição dos fatores de risco para uma série de doenças, eram praticamente a única opção aconselhada. Em 1990, o ACSM reconheceu o treinamento da força como um componente importante da aptidão física referenciada à saúde para adultos de todas as idades, tendo efeitos sobre aspectos tão diversos como a mineralização óssea, sensibilidade à insulina, tolerância à glicose e capacidade cardiovascular [1]. Além disso, revela-se um aliado importante no controle do peso, contribuindo com o aumento da massa muscular e do metabolismo de repouso. Finalmente, há evidências de que o risco de intercorrência cardiovascular no treinamento de força não seria grande, quando comparado ao associado às atividades aeróbias [2,3]. A aceitação deste tipo de treinamento, com isso, veio aumentando paulatinamente, ao ponto em que, no ano 2000, a American Heart Association publicou um posicionamento defendendo e fornecendo recomendações para o treinamento contra-resistência em indivíduos com e sem doença cardiovascular [4]. É claro que isso refletiu sobre todos os grupos antes considerados “de risco” para este tipo de atividade, inclusive os idosos. Hoje, acumulam-se os estudos que demonstram os benefícios que as pessoas de idade avançada podem obter com o treinamento da força muscular, desde prevenção de fatores de risco para doenças variadas até efeitos psicológicos, como a melhoria da auto-estima, passando por aspectos importantes, como a manutenção da autonomia funcional.

Quais os benefícios dos exercícios aeróbios e da musculação para essa população? Ambas as atividades trazem benefícios. Os exercícios aeróbios têm uma repercussão maior sobre o sistema cardiorrespiratório – capacidade de trabalho do coração, capacidade de consumo de oxigênio –, levando a uma melhoria do potencial geral de trabalho físico. Isso é importante, quando se sabe que a capacidade aeróbia declina com o envelhecimento, podendo chegar a comprometer a autonomia funcional em idades avançadas. De fato, uma boa capacidade aeróbia é importante para uma vida independente, pois relaciona-se à produção da energia necessária aos processos metabólicos. Se, na juventude, as atividades cotidianas não representam demandas excessivas, as diferenças entre os indivíduos mal ou bem condicionados fisicamente tornam-se evidentes com a idade: o esforço relativo imposto por tarefas como subir escadas, transportar pesos ou caminhar longas distâncias pode aproximar-se perigosamente da capacidade máxima de trabalho. Finalmente, em longo prazo as atividades aeróbias estão associadas à diminuição de fatores de risco para doenças cardiovasculares e metabólicas (como a doença coronariana e o diabetes), em razão de alterações positivas do perfil lipídico sangüíneo, da sensibilidade à insulina e da morfologia corporal [5,6]. Quanto à força, sabe-se que uma das características mais marcantes do processo de envelhecimento é o declínio

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gradual da capacidade de desempenho muscular, fenômeno que constitui uma das causas principais da perda da independência funcional dos idosos. Efetivamente, a reserva funcional de força pode vir a ser tão reduzida nos idosos, que perdas à primeira vista sem importância podem representar a diferença entre uma vida autônoma ou não – a função muscular é, inegavelmente, importante para um grande número de atividades do dia a dia. Níveis moderados de força fazem-se necessários para caminhar, transportar compras, subir escadas, subir e descer de transportes coletivos, cozinhar, assim como em várias atividades profissionais e de lazer. A manutenção da força muscular contribui para prevenir a instabilidade articular e a osteoporose [7-10], diminuir o risco de quedas [11,12] e mesmo para uma melhor auto-estima [13]. É importante dizer que os dois tipos de atividades podem ter influências mútuas. Por exemplo, o aumento da força muscular pode contribuir para a manutenção da capacidade de consumo de oxigênio [14,15]. Além disso, como a massa muscular é o tecido metabolicamente mais ativo do organismo, mantê-la significa elevar o metabolismo de repouso e os gastos calóricos diários, ajudando a evitar que o percentual de gordura aumente [16,5]. Isso é importante em programas visando promoção da saúde.

Qual é o mais vantajoso e por quê? Com base no exposto na questão anterior, é difícil definir qual o tipo mais vantajoso de atividade. Por um lado, deve-se reconhecer que as atividades aeróbias têm um efeito mais global, associando-se tanto à melhoria da aptidão físico-funcional quanto à prevenção de fatores de risco para doenças típicas da velhice. Porém, também é verdade que um dos fenômenos mais marcantes do processo de envelhecimento é a perda da massa muscular, o que pode ser um fator limitante para as próprias atividades aeróbias. A prescrição de uma ou outra atividade depende dos objetivos que se desejam alcançar. Um programa de exercícios para idosos deveria combinar atividades aeróbias com certa exigência de força ou contemplar um equilíbrio entre as atividades propostas.

Pode-se optar por um tipo em detrimento de outro? Sim, claro que se pode optar por quaisquer das atividades. Contudo, como dito, o ideal seria combiná-las, uma vez tendo efeitos benéficos mútuos e ambas as qualidades físicas sendo importantes para a manutenção da autonomia funcional. Por outro lado, caso não haja alternativa senão a de indicar apenas uma delas, a opção deveria ser feita pelas atividades aeróbias de intensidade moderada. Isso porque, para a maioria dos idosos, as exigências de força neste tipo de atividade, aliada às atividades cotidianas, já poderia representar uma sobrecarga suficiente para manter a massa muscular [17,18].

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Há estudos que comparem benefícios como condição cardiovascular, perda de peso e gordura, ganho de massa muscular, força e flexibilidade, em exercícios aeróbios e musculação com idosos? Há estudos que demonstram que tanto os exercícios aeróbios quanto os de força acarretam benefícios mútuos, extensíveis a outras qualidades físicas, em idosos como em qualquer outro grupo. Os temas dessa questão serão discutidos separadamente, para facilitar o entendimento: a) condição cardiovascular: os exercícios aeróbios são os mais indicados com este objetivo, já que são específicos para tanto. No entanto, o aumento da massa muscular, com treinamento da força, pode favorecer ao aumento do potencial de consumo de oxigênio, já que se aumenta o volume de tecido responsável por este consumo. O trabalho isolado de musculação, no entanto, dificilmente vai ter efeitos importantes sobre a condição cardiovascular, a não ser em indivíduos extremamente sedentários [19,20]; b) perda de peso e gordura: ambas as atividades trazem benefícios neste aspecto. As atividades aeróbias podem ser consideradas como grandes consumidoras de calorias, enquanto a musculação contribui com o aumento da massa muscular e, portanto, diminuição do percentual de gordura. É importante dizer que os dois tipos de atividades podem estar associados a uma elevação do metabolismo de repouso em médio prazo, o que é fundamental para a perda de peso e a sua manutenção nos níveis desejados [5,19]; c) ganho de força: evidentemente, a musculação é superior neste sentido. No entanto, atividades aeróbias estão associadas ao ganho de força em indivíduos sedentários, como é o caso freqüente de idosos. Mais ainda, os ganhos de força, mesmo que pequenos, muitas vezes têm grande impacto sobre a autonomia funcional, sobre a capacidade de se realizar as atividades cotidianas [21,22]. De fato, muitas vezes nota-se uma melhoria do potencial para a realização das atividades diárias – velocidade e padrão da marcha, equilíbrio dinâmico, levantar-se e sentar-se etc. –, dependentes das qualidades físicas trabalhadas (força, flexibilidade, capacidade aeróbia), mesmo quando não se consegue perceber variações destas últimas. Ou seja, os efeitos do treinamento em idosos não precisam necessariamente fazer-se sentir em nível micro para que suas influências positivas manifestemse em nível macro; d) flexibilidade: em geral, quanto mais ativa a pessoa, maiores as amplitudes de movimento que pode realizar [23]. Logo, em princípio, o indivíduo ativo tende a exibir maior flexibilidade que o sedentário [24]. Isso é bom para o idoso, já que a flexibilidade é uma das primeiras qualidades físicas que declina com o envelhecimento [25,26]. Cabe lembrar, no entanto, que nem sempre as atividades aeróbias e de musculação envolvem amplitudes de movimento que contribuam à manutenção da flexibilidade. Assim, seria sempre aconselhável a realização de exercícios de alongamento após

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as sessões de treinamento, sem procurar atingir amplitudes limites de movimento.

Todos os idosos podem exercitar-se? Todos podem fazer musculação? Em princípio, todos os idosos podem exercitar-se, na medida de suas capacidades. É preciso realçar que, quando se fala em exercício, isso compreende um grande espectro de volumes de treinamento, associando intensidade, freqüência e duração das atividades. Assim, raros são os casos em que não se consegue adequar a prescrição às necessidades e potencialidades do praticante. No caso da musculação, a não ser na presença de problemas ósteo-mio-articulares sérios, ao ponto de impedir a execução dos gestos dos exercícios, não há por que pensar em contra-indicações. Alguns problemas típicos da idade avançada, como varizes, mialgias ou equilíbrio deficiente podem ser minorados pela adoção de posições favoráveis de execução dos exercícios ou pela administração de cargas leves. Os riscos cardiovasculares, freqüentemente apontados como motivo para contra-indicar a atividade, na verdade são reduzidos. A sobrecarga miocárdica está associada ao aumento da pressão arterial e da freqüência cardíaca no exercício – o produto entre estas duas variáveis define o que se denomina duplo-produto. Pois bem, o duplo-produto é mais reduzido em exercícios dinâmicos contra-resistência do que em exercícios aeróbios [27,3]. As prováveis razões para isso são um menor pico de freqüência cardíaca no exercício de força e uma melhor perfusão subendocárdica associadas à alternância de fases dinâmica e estática no exercício [4]. Apesar de o risco de intercorrência cardiovascular em praticantes de musculação ser reduzido, isso não quer dizer que não exista. Seria, então, aconselhável um exame clínico antes do engajamento em programas de treinamento da força, como de resto para qualquer programa de atividades físicas. Da mesma forma, e isso ganha importância quando se trata de grupos com necessidades especiais (como os idosos), o programa deveria ser elaborado por profissional de educação física com qualificação e experiência específica.

Existe uma preferência dos idosos por um ou outro tipo de exercício? Freqüentemente, a principal motivação do idoso em engajar-se em programas de atividades físicas é a busca por atividades em grupo, a interação social com outros de mesma idade [28]. Dificilmente atividades individuais atingem uma adesão prolongada, o que, aliás, acontece em muitos locais que tentam atrair a clientela dos idosos. A musculação, particularmente, tem esse problema, é uma atividade extremamente solitária – muito da motivação dos que a praticam é o resultado obtido, principalmente em termos estéticos, objetivos estes que, a literatura demonstra,

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são secundários para os idosos [29]. Deveriam ser traçadas estratégias de engajamento dos idosos em grupos nos quais se sintam bem, com que possam interagir durante as sessões de treinamento, sob pena de fracasso em longo prazo.

A prescrição de exercícios de força para idosos é muito diferente da feita para adultos jovens? O que difere basicamente? Não há grandes diferenças na prescrição de exercícios de força entre adultos jovens e idosos. A administração de sobrecargas, ordenação dos exercícios e técnicas de execução são basicamente as mesmas. A única observação que se poderia fazer é que, como as séries de musculação estão associadas à produção de ácido lático, metabolizado mais lentamente pelos idosos, os períodos de recuperação dentro da sessão podem ser maiores. O que permanece indefinido, porém, é a forma pela qual os idosos respondem ao treinamento da força, ou seja, até que ponto vai a sua treinabilidade. A literatura indica que programas de exercícios contra-resistência para idosos são altamente eficazes, principalmente em razão de que, freqüentemente, seu estado de treinamento é muito baixo. Assim, alguns estudos puderam relatar aumentos da força em músculos como o quadríceps, da ordem de 150 a 240% em oito a dez semanas [30-32]. Acontece que, em um período inicial, os ganhos de força se dão principalmente pela otimização da coordenação neuromuscular (o que se chama componente neural da força) e não por aumento do volume da musculatura (componente hipertrófico) [33]. Este segundo componente começaria a predominar após cerca de dez semanas de treinamento, quando os ganhos de força passam a ser sensivelmente mais lentos. O que não se sabe, hoje, é se os idosos têm potencial para ganhar força em treinamentos de prazo longo, ou seja, se têm boa treinabilidade quando o componente hipertrófico predomina. São poucos os estudos com amostragem e tempo suficientes para que se chegue a uma conclusão: alguns sugerem que haja um platô, outros que a melhoria, apesar de lenta, continua [16,34,35]. Assim, geralmente, os idosos exibem ganhos muito rápidos no início dos programas de treinamento, o que vai declinando até o ponto que, em programas de longo prazo, torna-se francamente mais lenta do que em adultos jovens. Deve-se estar preparado para o fato de os indivíduos, a partir de determinado estágio de treinamento, demorarem mais a exibir efeitos observáveis. Isso deve ser levado em conta no planejamento e avaliação das atividades. Sabendo-se disso, uma boa estratégia seria a variação dos exercícios, trabalhando múltiplos grupamentos musculares, mudando a ênfase da aplicação das cargas assim que se constatasse uma estabilização prolongada da força em um exercício qualquer. Um outro benefício disso, no caso de desmineralização óssea, seria a variação dos vetores de força, favorecendo o reforço do osso em diferentes angulações.

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As cargas podem ser altas para os idosos? Sim, as cargas podem ser altas para os idosos. Aliás, como a prescrição do exercício é basicamente a mesma, elas são semelhantes à de adultos jovens, ao menos em termos relativos. Quer dizer, um determinado percentual da carga máxima pode corresponder a pesos absolutos menores, mas a cargas relativas similares. Isso é determinado em função do estado físico individual, não da idade. Um comentário adicional que pode ser feito, diz respeito à contraposição que se faz entre poucas repetições e cargas altas e muitas repetições com cargas baixas. Na verdade, uma prescrição mais segura deveria afastar-se destes extremos. Cargas muito elevadas, com poucas repetições, impõem um estresse demasiado à estrutura ósteoarticular dos idosos, não raro mais frágil que a de jovens. Além disso, cargas elevadas representam contrações isométricas longas, o que pode levar a picos hipertensivos [36]. Por outro lado, cargas baixas com demasiadas repetições podem aumentar o risco de lesões por estresse de repetição. Outro risco associado a esse tipo de prescrição é o aumento da carga imposta ao miocárdio [3], o que não seria desejável. O treinamento da força é uma atividade razoavelmente segura, em virtude de seu caráter intermitente, mas muitas repetições induzem a uma situação semelhante à observada nas atividades de longa duração, aumentando as necessidades de monitorização do exercício. Idealmente, é indicado trabalhar com cargas intermediárias, que possam melhorar igualmente a força máxima e a resistência muscular, com riscos reduzidos de intercorrências cardiovasculares e/ou ósteo-mio-articulares.

O risco de lesões e acidentes é maior entre idosos? Como prevenir? Em virtude dos efeitos do processo de envelhecimento sobre a estrutura óssea, articular e cardiovascular, o risco de lesões é maior entre idosos. Isso se torna ainda mais evidente quando se sabe que os períodos de recuperação entre as sessões de treinamento tendem a ser mais longos para este grupo. Se precauções não forem tomadas, situações de supertreinamento (overtraining) podem ocorrer, potencializando o risco de lesões. Muitas providências podem ser tomadas para prevenir os riscos de lesões em idosos praticantes de musculação. É importante realizar um exame clínico, levantando principalmente as condições ósseas, articulares, musculares e cardiovasculares. O profissional de educação física deve levar em consideração estas informações não apenas para liberação dos praticantes para a atividade, mas para planejá-las. Algumas situações patológicas específicas, com a respectiva providência para diminuir o risco de acidentes são listadas a seguir [23,37,38]: a) Osteoporose: evitar atividades com impacto excessivo. Aumentar as cargas gradativamente, dedicando especial atenção à técnica de execução dos movimentos, para otimizar os vetores de força sobre os ossos e diminuir os riscos de fraturas.

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No entanto, deve-se lembrar que cargas altas são necessárias para se ter algum efeito sobre a mineralização óssea; b) Artrose: enfatizar a condução dos movimentos de forma lenta, até o máximo possível de sua amplitude e respeitando os limites da dor. Nestes casos, a administração das cargas é secundária, devendo-se valorizar a manutenção do arco funcional de movimento; c) Varizes: optar sempre pela posição de realização dos exercícios que mais facilite o retorno venoso. Como isso, freqüentemente, está relacionado à posição deitada, ter atenção aos riscos de hipotensão postural. Evitar cargas muito altas, associadas a contrações estáticas ou demasiadamente longas; d) Hipertensão: os níveis de pressão arterial devem estar obrigatoriamente controlados. Evitar cargas altas, pois contrações intensas, longas ou estáticas, provocam picos hipertensivos indesejáveis; e) Diabetes: a glicemia deve estar obrigatoriamente controlada. Observar atentamente sinais de hipoglicemia durante as sessões, principalmente na parte da manhã. O diabético deveria evitar tomar insulina cuja ação máxima coincida com o momento do treinamento, além de ser aconselhável não injetá-la na musculatura que será trabalhada naquela sessão; f ) Cardiopatias: apesar do pouco risco de intercorrências em cargas moderadas e número não excessivo de repetições, o cardiopata deveria realizar o treinamento da força em clínicas especializadas, com capacidade de monitorização cardíaca do esforço e de intervenção imediata. As cargas são, em geral, moderadas. O número de repetições não deve ser excessivo, devido à maior sobrecarga miocárdica. Uma boa opção é dividir as séries em duas partes, intercalando períodos de repouso freqüentes entre elas. Fora isso, pode-se mencionar algumas recomendações gerais: Evitar cargas ou repetições demasiadamente altas. Trabalhar com faixas intermediárias, de 8 a 12 repetições máximas; De forma geral, ordenar os exercícios dos grandes para os pequenos grupamentos musculares. Nos idosos, isso parece diminuir o acúmulo de ácido lático e a fadiga durante a sessão, com repercussão sobre a percepção do esforço realizado; Evitar interferir no tempo de recuperação entre as séries e os exercícios, alongando-os tanto quanto possível. Lembrar que a recuperação do idoso é mais lenta; Realizar os movimentos em uma velocidade de conforto. Velocidades altas aumentam os riscos de lesão articular, dificultando uma execução com boa qualidade técnica; Evitar mudanças bruscas de posição (sentado, deitado, em pé) devido aos riscos de hipotensão postural; Evitar exercícios com equilíbrio instável (tipo agachamento), em razão do risco aumentado de quedas; Evitar bloquear a respiração quando da aplicação da tensão muscular (manobra de Valsalva), em virtude do aumento a da pressão arterial e da pressão intratorácica, com elevação da

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sobrecarga cardíaca e limitação do retorno venoso durante a execução do exercício; Observar a evolução dos ganhos de força, variando os exercícios quando constatada uma estabilização por longos períodos.

Conclusão Conclui-se que o trabalho de força direcionado aos idosos, quando bem administrado, traz efeitos positivos não apenas no nível dos ganhos de força, mas também em uma melhor capacidade de realização das atividades cotidianas. Uma maior reserva de força nas tarefas do dia-a-dia, certamente, terá influências no perfil de autonomia funcional do indivíduo que envelhece. Além disso, a manutenção da massa magra, provavelmente, tem repercussões positivas sobre as taxas metabólicas basais, contribuindo com a prevenção do acúmulo de gordura corporal. Isso, por si só, tende a diminuir os riscos para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas, como a hipertensão e o diabetes. Vem sendo demonstrado que o trabalho com pesos em níveis moderados, longe dos extremos de repetição ou carga, implica menos riscos para intercorrências cardiovasculares que as próprias atividades aeróbias. Assim, o treinamento da força vem sendo aceito – e até indicado – para populações para as quais era contra-indicado até um passado recente. É comum ver centros em que pacientes hipertensos, cardiopatas, diabéticos, portadores de osteoporose realizam atividades dessa natureza. O mesmo é observado em indivíduos idosos. No entanto, em sendo uma prática recente, muitas dúvidas ainda persistem, como as referentes às possibilidades de treinabilidade da força em longo prazo. Por outro lado, algumas certezas já se configuram – dentre elas, o fato de que o treinamento da força é uma atividade em que os benefícios superam, em muito, os riscos que porventura possam existir.

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Normas de publicação Fisiologia do Exercício A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas.

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Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.

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PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para

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os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - E-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br

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Calendário de eventos Abril

2009 3 a 7 de abril

Janeiro

35º ENAPEF Capão da Canoa, RS Informações: www.apefrs.com.br

10 a 14 de janeiro

XXIVº Congresso Internacional de Educação Física Foz de Iguaçu, PR Informações: www.congressofiep.com

Junho 11 a 13 de junho de 2009

Fevereiro

XIIIo Congresso Paulista de Educação Física Jundiai, São Paulo Informações: www.editorafontoura.com.br

11 a 14 de fevereiro

XIIIo Simpósio Brasileiro de Fisiologia Cardiovascular Ouro Preto, MG Informações: www.xiiisbfc.ufop.br

Novembro 6 a 8 de novembro

Março 26 a 29 de março

Saúde Sport e Fitness Centro de Convenções de Goiânia Informações: (61) 3349-0101 E-mail:contato@bsbfitness.com.br

XIIIº Simpósio Internacional de Atividades Físicas do Rio de Janeiro - SIAFis RJ Rio de Janeiro, RJ Informações: 2295-5340, www.ipcfex.ensino.eb.br 24 a 25 de novembro

III Seminário de Pesquisa em Ciências da Atividade Física da Universo Niterói, RJ Tel: (021) 3604-6396

Cursos Janeiro

Julho

24 a 31 de janeiro

18 a 26 de julho

CTE- Centro de Treinamento Esportivo Tel: (11) 2714-5677/2714-5664 Informações: www.institutophorte.com.br E-mail: phorte@phorte.com

VI Encontro Internacional Esporte e Atividade Física Informações: (011) 2714-5678 Site: www.encontrophorte.com.br E-mail: encontro@institutophorte.com.br

Abril 11 a 17 de abril

Ciências da Performance Humana UFRJ - Especialização Latu Sensu EEFD / UFRJ Informações: (21) 2562-6803 / 2562-6826 / 8122-0060 E-mail: ladebio@eefd.ufrj.br

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