ENTRE HOMEM E NATUREZA AGROECOLOGIA, PRODUÇÃO E SOCIABILIDADE NO PDS SANTA HELENA
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO ENTRE HOMEM E NATUREZA : AGROECOLOGIA, PRODUÇÃO E SOCIABILIDADE BRUNIELI FERREIRA MORI SÃO CARLOS
ENTRE HOMEM E NATUREZA : AGROECOLOGIA, PRODUÇÃO E SOCIABILIDADE
COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO PERMANENTE (CAP) PROF. DR. DAVID MORENO SPERLING PROF. DR. JOUBERT JOSÉ LANCHA PROF. DRA. LÚCIA ZANIN SHIMBO PROF DRA. LUCIANA BONGOVANNI M. SHCHENK COORDENADORES DE GRUPO DE TRABALHO (GT) PROF DRA. LUCIANA BONGOVANNI M. SHCHENK PROF. DR. TOMÁS ANTONIO MOREIRA
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ÍNDICE INTRODUÇÃO.
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REFERÊNCIAS.
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LOCAL. 15 PROPOSTA. 27
INTRODUÇÃO
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MOTIVAÇÃO A motivação para a realização desse projeto se deu principalmente pela oportunidade que tive nos últimos anos de conhecer outras realidades mais de perto, entre elas, as que mais me impactaram foram: a construção de casas de emergência em periferias de São Paulo, junto com a ONG TETO, e o projeto de educação popular desenvolvido em Nazaré, comunidade ribeirinha em Rondônia, junto ao NAPRA (Núcleo de Apoio as Populações Ribeirinhas da Amazonia). Ambas experiências me fizeram compreender os diferentes modos de vida da realidade de populações que não possuem acesso a diretos básicos, as quais estão inseridas no contexto social brasileiro da extrema desigualdade. Juntamente a isso, a realização dos cursos de Design de Permacultura e Bioconstrução, me permitiram uma nova visão sobre a interação do homem com a natureza, e de como trabalhar essa relação de uma maneira mais harmônica. Um dos momentos que me guiou na escolha do tema foi a visita feita ao Acampamento Capão das Antas em São Carlos, realizado pela optativa de Políticas Públicas. A visita me permitiu conhecer e compreender um pouco mais da luta das pessoas que desejam que o direto da vida seja garantido, através da terra, para que possam plantar, colher e dela viver. Durante esse percurso, tive a oportunidade de conhecer outros assentamentos em São Carlos, entre eles o que mais me chamou atenção foi o Assentamento Santa Helena. O primeiro contato realizado foi com Lindamira, antiga presidente da Associação do Assentamento Santa Helena, na feira realizada no Serena Terra. Após esse primeiro contato, realizei a primeira visita ao assentamento, no qual tive a oportunidade de conhecer o local, alguns de seus moradores e suas histórias. Dessa maneira o seguinte trabalho consiste na reunião de dados obtidos a partir de conversas com os moradores e de desejos pessoais, para a implementação de um espaço no que venham a utilizar os princípios de bioarquitetura e agroecologia, em busca de construir de novas formas de compreender e de reapropriar a natureza, rediscutindo a relação entre o homem e a natureza.
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CONTEXTUALIZAÇÃO A partir da década de 1950 a política governamental de desenvolvimento no Brasil , privilegiou os investimentos na expansão industrial das cidades e na modernização do campo. O modelo agropecuário produtivista implantado, de caráter extensivo e de monocultura, intensificou ainda mais concentração fundiária, promovendo a expropriação e a expulsão de muitas de famílias do campo e o crescimento das cidades. Durante o regime militar foi instituído o Estatuto da Terra, em 1964, com o intuito transformar a estrutura fundiária do país, assegurando a todos oportunidade de acessar a terra. A transformação da estrutura fundiária seria realizada através da política de reforma agrária, no entanto, dada a não execução do Estatuto, os trabalhadores rurais ou pequenos agricultores, na busca pelo direito de morar e produzir, intensificaram a luta pela terra, reivindicando a democratização de uso e posse, como meio possível de mudança social. Atualmente, reforma agrária no Brasil se da através de ações do INCRA- Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o processo consiste na demarcação e distribuição de terras, por meio de assentamentos e acampamentos. Esses são considerados a principal forma de concretização da luta pelo direito à terra, uma vez que representam o esforço, por parte do poder público, em responder a questão de falta de acesso a terra, resultado da concentração fundiaria no país. As ocupações tornaram-se um importante meio de enfrentamento a desigualdade, tão naturalizada no nosso país. Dessa forma, trabalhadores do campo buscam melhores condições de vida e trabalho, além da garantia dos seus direitos, através de uma reforma que possibilite a distribuição da terra de uma maneira mais igualitária, garantido àqueles que nela estão, o direito de produção de alimentos e de trabalho, baseado principalmente na agricultura familiar.
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A agricultura de base familiar, proveniente dos assentamentos rurais no Brasil, é fundamental para garantia e manutenção da segurança alimentar da população geral. Em grande parte dos assentamentos vem sendo promovida uma agricultura de baixo impacto ambiental, através da incorporação de praticas sustentáveis, que auxiliam na conservação e na recomposição dos recursos naturais degradados pelas atividades agropecuárias de caráter intensivo de grande parte dos solos brasileiros . Nesse sentido, o trabalho a seguir tem como principal objetivo diminuir a distância que separa o ambiente rural do urbano, através de uma integração entre campo e cidade , possibilitando a criação de novas formas de sociabilidade , que levem em consideração o meio ambiente, por meio da utilização dos princípios da bioarquitetura e da agroecologia, para que seja possível dessa maneira, romper a dicotomia entre homem e natureza.
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS TEÓRICAS BIOARQUITETURA A construção civil é atualmente apontada como um dos setores mais impactantes no meio ambiente, devido ao alto consumo dos recursos naturais e pela grande geração de resíduos. Além dos impactos ambientais, é possível observar também, a exploração do trabalho na área de construção civil , marcada por longas horas de jornada associada a péssimas condições de segurança e baixa remuneração. Nesse contexto , a bioarquitetura, surge como alternativa na construção de edificações mais sustentáveis que levem em consideração a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente. A bioarquitetura promove uma construção mais ecológica, que prioriza o emprego de materiais locais e de fontes de energia renováveis associados a técnicas construtivas tradicionais que integram o homem à natureza. A bioarquitetura considera não apenas os aspectos técnicos e construtivos, mas toda a cadeia de produção, desde a extração da matéria-prima até sua transformação, seu transporte, sua durabilidade, degradação e sua reintegração à natureza. Levando em consideração o ciclo de vida dos materiais , adotando sistemas de iluminação e ventilação naturais, captando água da chuva, contribuindo para diminuição do impacto da construção sobre a natureza, permitindo manter assim, uma relação mais harmônica com o meio ambiente. A iniciativa de aplicação das técnicas da bioarquitetura, tem o objetivo de reascender as discussões sobre as possibilidades de construir sustentávelmente, minimizando impactos e resgatando autonomia tecnológica junto à sociedade, comunidades urbanas ou rurais e movimentos organizados.
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AGROECOLOGIA A agricultura, considerada uma das atividades mais impactantes na natureza, teve nos últimos tempos seus impactos ainda mais acentuados. O sistema agrícola, desenvolvido sobre o modelo tecnológico do agronegócio, caterizou-se pela monocultura em grandes propriedades visando o aumento da produtividade agrícola, contribuindo para a redução do número de variedades de cultivos, diminuindo a biodiversidade e degrando o meio ambiente Nesse contexto, a agroecologia aparece como uma resposta - entre outras possíveis- a crise da agricultura modernizada. Considera-se a Agroecologia como ciência de natureza multidiciplinar, cujos preceitos pretendem contribuir na construção de uma agricultura sustentável, baseada na visão sistêmica e holística da Ecologia , buscando unir produção à preservação do meio ambiente, por meio da valorização da biodiversidade e da cultura tradicional. A Agroecologia, visa valorizar os modelos baseados no conhecimento tradicional e em formas de manejo não degradantes, tendo na agricultura familiar e na pequena propriedade suas principais raízes. É uma ferramenta para a autosubsistência e segurança alimentar das comunidades, que promove inclusão social e garante melhores condições aos agricultores, através da geração de renda. Dessa maneira, a agroecologia se torna, um importante instrumento para a luta política que busca construir experiências produtivas alternativas ao modelo dominante. Um recurso da Agroecologia muito utilizado é o Sistema Agroflorestal (SAF’s). O SAF consiste em um sistema de produção agrícola que trabalha seguindo a dinâmica da natureza, consiorciando as culturas de valor econômico com a vegetação nativa, buscando o equilíbrio e a sustentabilidade produtiva, podendo ainda ser utilizado para restaurar florestas e recuperar áreas degradas.
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REFERÊNCIAS PROJETUAIS ANEXO DA ESCOLA DE GANDO (2008)
A Escola de Gando, localizada em Burkina Faso, foi projetada por Diébédo Francis Kéré, o primeiro morador a sair da comunidade. A partir da demanda de mais espaço na Escola de Gando, surge a necessidade de uma ampliação. O Anexo da escola, assim como a escola, foi autoconstruído utilizando a mão de obra dos moradores da comunidade de Gando, e utilizando principalmente materiais locais (blocos de terra comprimida feitos à mão). Isso contribuiu para que que o edifício tornasse um símbolo importante de identificação na região e para a própria comunidade em si.
Imagem : ArchDaily (Erik-Jan Ouwerkerk)
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ESCOLA FLORESTAN FERNANDES (2008)
A Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), localizada em Guararema, é um centro de educação e formação, idealizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
O projeto arquitetônico das cinco edificações que compõem a escola é da arquiteta Lilian Avivia Lubochinski. A ENFF foi inteiramente construída com tijolos de solo cimento, fabricados na própria escola, seguindo assim um princípio fundamental para o MST: preservar e utilizar racionalmente os recursos naturais. “O espaço físico é muito amplo e arejado. Tudo tem dimensão pedagógica, tudo foi planejado de forma a atender a chamada educação para libertação.” (TEIXEIRA, 2010, p.4)
Imagem : http://www.mstbrazil.org
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GREEN SCHOOL OF BALI (2007)
O projeto da Green School localizado em Bali, Indonésia, foi desenvolvido a partir da criação de sistemas orgânicos, com intuito de motivar um meio de vida mais sustentável.
Projetada por John e Cynthia Hardy, a escola segue os princípios de uma arquitetura sustentável. Os edifícios são construídos principalmente com recursos renováveis locais, como o bambu e as paredes de terra. Além disso, os recursos naturais são utilizados com responsabilidade, por isso, a escola possui seu próprio sistema de produção de energia e de alimentos , com hortas orgânicas, criação de animais, além de um sistema de tratamento de água e compostagem, visando sempre uma integração da comunidade com a natureza .
Imagem : ArchDaily (PT Bambu)
LOCAL
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A CIDADE DE SÃO CARLOS A partir dos questionamentos levantados, foi identificado o assentamento Santa Helena, localizado no nordeste da cidade de São Carlos, como possível local para o desenvolvimento do projeto. São Carlos está localizada no interior do estado de São Paulo, à 230 km da capital. A cidade possui uma população de 230 mil habitantes, e dentre os quais, segundo o Plano Diretor de São Carlos (2005), “apenas 5% da população reside na zona rural, que ocupa 94% do território municipal. Por outro lado, 95% da população mora em zona urbana, ocupando os 6% restantes da área de todo o município.” A cidade de São Carlos, foi fundada em 1857, e se consolidou no contexto da expansão da lavoura cafeeira. Porém, a crise cafeeira de 1929, levou a população a deixar o meio rural, passando a trabalhar no centro urbano. No entanto, mesmo após a crise, o café ainda foi por muito tempo a principal produção agrícola do município, que mantem a maior parte de sua área tomada por fazendas produtoras, especialmente de cana de açúcar, laranja e milho.
SÃO CARLOS
IMAGEM 1 - LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS
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LOCALIZAÇÃO E ACESSO
IMAGEM 2 - LOCALIZAÇÃO DO ASSENTAMENTO
ÁREA DE PROJETO ESTRADA GUILHERME SCATENA
A partir dos questionamentos levantados, identifiquei o Assentamento Santa Helena, localizado na zona rural da cidade de São Carlos, como possível local para o desenvolvimento do projeto. O assentamento está localizado fora do perímetro urbano de São Carlos, à 15 km do centro da cidade . O acesso ao local é se da pela Estrada Guilherme Scatena. Para se locomover do assentamento para a cidade, os moradores recorrem ao transporte próprio, ou a caronas, pois não existe transporte público para essa região.
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ZONEAMENTO
IMAGEM 3 - ZONEAMENTO DO MUNICÍPIO SÃO CARLOS
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ÁREA DE PROJETO
De acordo com o macrozoneamento proposto pelo Plano Diretor (2005) , o território de São Carlos é divido em Macrozona Urbana e Macrozona de Uso Multifuncional Rural. A região em questão se encontra na Macrozona de Uso Multifuncional Rural, mas especificamente na Zona 7, caracterizada como Zona de Uso Predominantemente Agrícola. A zona apresenta grande diversidade de produção agrícola, abundância em recursos hídricos e potencial turístico.
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ÁREAS ESPECIAL DE INTERESSE
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AEI TURÍSTICO, HISTÓRICO E ECOLÓGICO ÁREA DE PROJETO
IMAGEM 4 - ÁREAS ESPECIAL DE INTERESSE NA MACROZONA DE USO MUNTIFUNCIONAL RURAL
Por se encontrar numa Área Especial de Interesse Turístico, Histórico e Ecológico, segundo o Plano Diretor do Município de São Carlos Art. 55, nessa zona “deve ser incentivado o plantio de espécies vegetais floríferas ou paisagisticamente atraentes ao longo das estradas e caminhos, incrementando o potencial dos atributos naturais e assegurando a visibilidade e a qualidade cênica paisagística da região”.
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HIDROGRAFIA
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SUB-BACIA DO QUILOMBO PDS SANTA HELENA
IMAGEM 5 - BACIAS HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS
A cidade de São Carlos possuí uma vasta rede hídrica, representada por 2 bacias hidrográficas. A área em questão está localizada na Sub-bacia do Rio Quilombo, pertencente a Bacia do Mogi-Guaçu. Uma das principais ações antrópicas que atingem esta bacia, de forma direta ou indireta, é o desenvolvimento de grandes monoculturas de cana-de-açúcar e laranja, que utilizam uma enorme quantidade de insumos agrícolas , causando a poluição das águas.
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Represa do Bom Retiro
Represa do 29
IMAGEM 6 - ENTORNO DA ÁREA DE PROJETO
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE ÁREA RESIDENCIAL RESERVA LEGAL PDS SANTA HELENA ESTRADA GUILHERME SCATENA
O Santa Helena está situado entre Represa do Bom Retiro e a Represa do 29, do ribeirão dos Negros, afluente do rio Quilombo. Em ambas há a presença de barragens, que garantem o funcionamento da Usina Capão Preto. A região também apresenta significativa área de vegetação natural, protegidas por áreas de Reserva Legal e APP’s. Nas proximidades há uma área residencial de pequenas propriedades , em sua maioria chácaras de lazer.
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O ASSENTAMENTO
IMAGEM 7 - LOCALIZAÇÃO DO ASSENTAMENTO
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PDS SANTA HELENA
O Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Santa Helena contempla 12 famílias assentadas pelo INCRA. O assentamento rural possuiu uma área total de 102,5 ha, cada família possui uma área produtiva de 5,4 ha , o restante do terreno foi dividido em uma área de reserva legal medindo 6,54 ha e uma Área de Preservação Permanente (APPs) com 4,28 ha.
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O PDS SANTA HELENA Antes da existência do assentamento, a área era denominada Fazenda Santa Helena e era arrendada para a Usina Ipiranga (COPERSUCAR) para o plantio de cana de açúcar e para a exploração de avicultura de corte. O grupo de famílias que reivindicava esse espaço, vinha de uma longa jornada de caminhada de luta pela terra. A primeira ocupação da Fazenda Santa Helena ocorreu no ano de 2004, no entanto, nesse mesmo ano as famílias foram despejadas do local. A segunda ocupação ocorreu em 2005, e nesse mesmo ano, o INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - oficializou o assentamento.
Via principal do Santa Helena.
Por estar localizado em um local de grande importância ambiental referente ao Aquífero Guarani ,houve certa resistência para autorizar a criação do assentamento. Sua instauração só foi possível devido ao acordo de tornar aquela região um Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS). O PDS é uma das modalidades de assentamentos criada pelo INCRA. Mesmo após a aprovação do Assentamento, grande parte das famílias permaneceram vivendo em barracos de lona dentro dos seus lotes até o ano de 2007, quando conseguiram ser os recursos do Projeto Habitação e
Vista da Escola Novo Horizonte
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a partir dos recursos disponibilizados, conseguiram construir suas casas (MATEUS, 2016). Por ser um PDS, o assentamento é considerado um espaço modelo de desenvolvimento sustentável em todos os seus aspectos. Isso significa que os princípios destes projetos são baseados no associativismo e na agroecologia como condição básica para a concessão do uso da terra e para o consequentemente acesso ao crédito.
dução diversificada, voltada principalmente para o cultivo de hortaliças, alguns grãos e frutas e a criação de animais em pequena escala. No assentamento há a Associação dos Produtores Rurais Nova Santa Helena, criada em 2011 com o intuito de fortalecer as atividades coletivas, bem como obter recursos externos para a melhoria da infraestrutura para produção e moradia.
Dessa maneira, os produtores e produtoras do assentamento realizam um cultivo agrícola sustentável de preservação ambiental, e de pro-
O percurso vivido pelo moradores mostra a luta ao romper cotidianamente com obstáculos que tentam limitar as suas ações pela busca da permanência no campo.
Reserva Legal ao fundo.
Primeiro lote do assentamento.
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A ESCOLA NOVO HORIZONTE No Projeto de Desenvolvimento Sustentável Santa Helena, foi inaugurado em 2012 o Salão Comunitário do Assentamento Santa Helena. O salão foi construído “com recursos advindos de um acordo realizado em uma Ação Civil Pública que tramitou pela 3a Vara do Trabalho de Campinas/SP, na qual um supermercado efetuou a doação de R$ 31.000 “ (MATEUS, 2016, p.175) . O projeto foi feito em parceria com a ONG Ramudá, o espaço conta com uma sala de aula, 2 banheiros e 1 biblioteca/escritório. Toda a parte de alvenaria foi feita em regime de mutirão pelos moradores do assentamento. O projeto consistiu em um espaço para realização de atividades de formação e educação com o intuito de gerar uma maior socialização do conhecimento. Nesse espaço funciona o projeto MOVA (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos ). A escola é tida como uma parte importante da convivência do assentamento, aonde os alunos podem interagir , aprender, ensinar e trocar experiências. No entanto, as crianças , ainda precisam se deslocar para o distrito de Água Vermelha, para terem acesso ao Ensino fundamental, enquanto os mais velhos, frequentam as turmas de Ensino Médio na cidade de São Carlos.
Escola Novo Horizonte,
Barracão ao lado da escola.
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PRODUÇÃO E ESCOAMENTO O principal modo de comercialização da produção do assentamento é através de feiras livres. Às terças os moradores se deslocam até a Praça dos Ipês, no bairro Santa Felicia e às quartas no Serena Terra. Além das feiras, o assentamento conta com o projeto Rede Agroecológica Santa Helena, desenvolvido junto ao grupo ENACTUS da USP. O projeto consiste na venda de cestas de alimentos, que são entregues dentro da USP toda segunda-feira. Tudo isso contribuiu para uma ligação direta entre produtores e consumidores, conciliando produção e economia de responsabilidade social, valorizando assim a agricultura familiar. Alguns lotes do PDS Santa Helena, também tem grande parte da sua produção destinada para o Restaurante Universitário da Ufscar.
Locais de escoamento da produção.
Projeto da Rede Agroecológica Santa Helena.
PROJETO
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DIVISÃO ATUAL
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IMAGEM 8 - ATUAL DIVISÃO DO ASSENTAMENTO
ÁREA COMUNITÁRIA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE ESCOLA NOVO HORIZONTE RESERVA LEGAL RESIDÊNCIAS DIVISÃO DE LOTES
O PDS Santa Helena foi divido em 12 lotes, o parcelamento no projeto dO assentamento rural em questão segue o formato dos loteamentos urbanos, adotando a lógica de lotes retangulares organizados ao longo de uma via já existente. O projeto também destinou parte da área para duas áreas comunitárias, uma reserva legal e uma APP. No local, há uma represa, no entanto só os lotes mais próximos conseguem ter acesso essa água. A partir da análise dos dados juntamente com as conversas realizadas, é proposto a criação de um cenário ambiental formado por 4 zonas.
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NOVO ZONEAMENTO
IMAGEM 9 - PROPOSTA DE ZONEAMENTO PARA O PDS SANTA HELENA
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ZONA 1 ZONA 2 ZONA 3 ZONA 4
1)ZONA DE PRESERVAÇÃO : contemplada pela Reserva legal e Área de Preservação Permanente. 2)ZONA DE PRODUÇÃO E RECUPERAÇÃO: Implantação de SAF`s e apicultura. 3)ZONA DE PRODUÇÃO E HABITAÇÃO: Local onde se encontram as residências e suas respectivas produções individuais em hortas e pasto. 4)ZONA DE MULTIFUNCIONALIDADE: expansão da área comunitária, onde estará localizado o Centro de Educação Ambiental, o Restaurante, hortas, agrofloresta e espaço para feiras.
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PROPOSTA
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A proposta em questão surge da parte dos diálogos estabelecidos com os moradores do local, visando desenvolver um projeto um pouco mais compatível com a realidade apresentada. A projeto consiste na a criação de uma zona de uso multifuncional - zona 4 - a partir de uma expansão da área comunitária central, para a implementação de um Centro de Educação Ambiental (CEA) e um Restaurante. A escolha dessa zona se deu devido a pré existência da escola Novo Horizonte no local, preservando dessa maneira, a memória da luta e também devido a sua centralidade, visando facilitar o acesso de todos os moradores. A expansão da área comunitária, acarretará em uma redução no tamanho de alguns lotes da parte superior,todavia, esse fator será compensado através da implementação de SAF’s nos lotes, que além de se tornar parte significativa da produção dos assentados, também auxiliará a recuperar áreas as degradadas e ampliar a biodiversidade. A passagem da Zona de Multifuncionalidade para a Zona de Produção e Habitação será marcada por uma arborização na região frontal dos lotes, a fim de garantir maior privacidade e aumentar a vegetação.
IMAGEM 10 - IMPLANTAÇÃO GERAL
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FLUXOS
IMAGEM 11 - FLUXOS PROPOSTOS PARA O LOCAL
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VEICÚLOS PESSOAS PRODUÇÃO
Em relação aos acessos, foi mantida via principal de acesso já existente e proposta uma segunda via que dá acesso aos lotes e ao espaço destinado ao Centro de Educação Ambiental , ao Restaurante e as outras facilidades com compõe a área. Além de disso, são propostas vias de acesso aos lotes que seguem as curvas de nível, com a finalidade de facilitar o escoamento da produção.
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ZONA MULTIFUNCIONAL
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IMAGEM 12 - IMPLANTAÇÃO DA ZONA MULTIFUNCIONAL
1.CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 2.ALOJAMENTO 3.AGROFLORESTA 4.MIRANTE/ CISTERNA 5.HORTA 6.GALPÃO DE ARMAZENAMENTO
7.ÁREA PARA FEIRA 8.RESTAURANTE 9. ESPAÇO DE LAZER/PLAYGROUND 10.LAGOA 11.ESTACIONAMENTO 12.VIVEIRO DE MUDAS/GALINHEIRO
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Para a zona multifuncional a ideia é criar um local de referência em produção agrícola e conscientização ambiental, com responsabilidade social, cultural e ecológica, através da concepção de um espaço agradável para os moradores e para os demais visitantes. O Centro de Educação Ambiental (1) foi alocado aonde já existe a Escola Novo Horizonte, como proposta de ampliação da mesma. O CEA conta salas de aula, alojamento (2) e toda a infraestrura necessária para os cursos que serão oferecidos. A agrofloresta (3) e a horta (5) dão suporte a experiência prática de aprendizagem, e sua produção é destinada ao restaurante. O restaurante (8) foi posicionado junto ao um espaço livre (9) , que se conecta com a lagoa (10) por meio de caminhos arborizados, de maneira a aproveitar o potencial paisagístico do local. Ao lado do restaurante, uma área foi destinada para alocar feiras (7) dentro do assentamento. A implantação de uma cisterna (4) visa garantir a irrigação da agrofloresta e da horta, tanto da zona multifuncional, quanto a dos moradores dos lotes superiores, buscando dessa maneira, aumentar o acesso a água dos lotes mais distantes do açude. O objetivo da zona multifuncional é alterar a dinâmica do assentamento, promovendo o desenvolvimento local, através da aproximação dos habitantes da cidade com o campo, propiciando novas formas de sociabilidade e garantindo a sustentabilidade em todos seus aspectos.
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TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS A proposta consiste na utilização dos princípios da bioarquitetura pra a construção do Centro de Educação Ambiental, do Alojamento e do Restaurante, e na implementação de tecnologias, que visam diminuir os impactos no meio ambiente , integrando o homem a natureza. As tecnologias alternativas a serem implementadas são: 1.Banheiros Seco 2.Círculo de Bananeira - Tratamento das águas cinzas 3.Cisternas - Captação e reaproveitamento da água da chuva. 4.Compostagem de Alimentos 5.Painéis Solares Fotovoltaicos, a fim de garantir a eficiência energética. 6.Fossa Biodigestora - Tratamento das águas negras 7.Gestão de Resíduos Sólidos 8.Teto verde
Círculo de Bananeiras
Painéis Fotovoltaicos
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre : Editora da UFRGS, 2004. CAVALARO, Juliana. Bioarquitetura. EDUCERE - Revista da Educação, Umuarama, v. 13, n. 1, p. 129-140, 2013. FILHO, José Prado Alves. Dinâmicas dos modos de vida e saúde ambiental no campo: os projetos de desenvolvimento sustentável em assentamentos rurais no Estado de São Paulo, São Paulo, 2012. FRANCO, Maria de Assunção Ribeiro. Desenho ambiental: Uma introdução à arquitetura da paisagem e paradigma ecológico, Ed. Anna Blume, São Paulo, 1997. JACINTHO, Cláudio Rocha dos Santos. A agroecologia, a permacultura e o paradigma ecológico na extensão rural : Uma experiencia no assentamento Colonia I, BrasÍlia , 2007. MOLLISON, Bill. Introdução à Permacultura, 1989. LENGEN, John Van . Manual do Arquiteto Descalço. Rio de Janeiro: Tibá Livros, 2004. LYLE, John. Design for Human Ecosystems. Nova Iorque, 1985. LOPES, Paulo Rogério. Problematização participativa da realidade local do assentamento agroecológico PDS Santa Helena – São Carlos/SP. cadernos de agroecologia, v.9. n.4. 2014. MATEUS, Kergilêda Ambrosio de Oliveira. Modos de vida e convívio escolar : o Assentamento Rural Santa Helena - São Carlos - SP, São Carlos, 2016. TEIXEIRA, Clayton Erik, NANNI, Roseli Margarete de Almeida . A Educação no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) – Escola Nacional Florestan Fernandes, São Paulo, 2014. ZUQUIM, Maria de Lourdes. Os caminhos do rural: uma questão agrária e ambiental , Editora SENAC São Paulo, 2007. Lei nº 13691/05 -Institui o Plano Diretor de São Carlos disponivel em : http://www.saocarlos. sp.gov.br/index.php/utilidade-publica/plano-diretor.html
URL CONSULTADOS http://www.archdaily.com.br/br/01-51359/escola-verde-pt-bambu http://www.mstbrazil.org/content/florestan-fernandes-national-school http://www.archdaily.com.br/br/787376/anexo-da-escola-primaria-de-gando-kere-architecture