CAPITALISMO DE LAÇOS: OS DONOS DO BRASIL E SUAS CONEXÕES
Sérgio G. Lazzarini Insper Instituto de Ensino e Pesquisa
: Britcham Maio de 2011
RELAÇÕES COMPLEXAS OBSERVADAS A PARTIR DA ESTRUTURA SOCIETÁRIA DAS EMPRESAS…
EMBRAER
VALE
Firmas
Previ
Bozano
Bradesco
Oppenheimer
Proprietários
BNDES
Mitsui
CAPITALISMO DE LAÇOS
Contatos, alianças e estratégias de apoio gravitando em torno de interesses políticos e econômicos
Expressos como...
Relações de propriedade/controle no mundo corporativo.
EMBRAER
VALE
Firmas
Previ
Bozano
Bradesco
Oppenheimer
Proprietários
BNDES
Mitsui
“Aglomeração”
EMBRAER
VALE
Firmas
Previ
Bozano
Bradesco
Oppenheimer
Proprietários
BNDES
Mitsui
“Atores de ligação” Mundo pequeno (small world): Aglomerações conectadas entre si por meio de atores de ligação (Milgram, 1967; Watts, 1999; Kogut e Walker, 2001)
MUNDO PEQUENO EM SALA DE AULA DO INSPER
REDE DE VENDEDORES EM UM VAREJISTA NO BRASIL (CLARO E LABAN, 2008)
Nota: Os laรงos indicam se dois vendedores se relacionam socialmente no dia-a-dia.
COMO MUDARAM AS REDES DE PROPRIEDADE NO BRASIL NAS ÚLTIMAS DÉCADAS?
EMBRAER
VALE
Firmas
Previ
Bozano
Bradesco
Oppenheimer
Proprietários
BNDES
Mitsui
A análise é feita para 804 empresas no Brasil e seus proprietários, observados em três anos: 1996, 2003 e 2009.
AS PRIVATIZAÇÕES NO BRASIL
Privatização da Telebrás (julho de 1998) Fonte: Veja
Mais protestos em 2007 Fonte: midiaindependente.org
EMPRESAS PRIVATIZADAS NO BRASIL (1991-2002)
50 Sistema Telebrรกs
45 40
Vale, CPFL
CESP, COELCE
35 30
Financeiras
25
Nรฃo-financeiras Total
20 Usiminas
15
Light
CSN Embraer
Banespa, BEMGE
10 5 0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Fonte: BNDES
A FORTE PRESENÇA DO CAPITAL ESTRANGEIRO 45000
40000
35000
30000
25000 1990-94 20000
1995-02
15000
10000
5000
0 Firmas domésticas
Fonte: BNDES
Empresas financeiras
Investidores individuais
Fundos de pensão
Investidores estrangeiros
MAIS RECENTEMENTE, NOVAS EMPRESAS EM BOLSA (IPOs) 60000
70
BM&F, Bovespa, MPX, Redecard 60
50000
40 30000
MMX, Gafisa
30
20000
Gol, Natura
Visanet
Nossa Caixa, Cosan OGX
10000
20
10
0
0 2000
2001
2002
2003
2004
Volume captado (R$ milhões)
Fonte: BM&FBovespa
2005
2006
2007
Número de empresas
2008
2009
Número de empresas
Volume (R$ milhões)
50 40000
QUE MUDANÇAS ESPERARÍAMOS NO MUNDO (PEQUENO) CORPORATIVO?
Novos grupos, novos empreendedores: possível rearranjo (e esfacelamento) das aglomerações.
Mudança nos atores de ligação: menos governo, mais novos investidores, empreendedores, empresas estrangeiras.
Possível reversão da “grande reversão” (Rajan & Zingales, 1998)?
EXPANDINDO A ANÁLISE DE MUNDOS PEQUENOS PARA REDES DE NÓS DUPLOS Proprietários
Carlos Jereissati
BNDES
Previ
Oi (Telemar Norte Leste)
Vale
Embraer
Firmas
Bozano
… QUE SIMPLIFICAM AS COMPLEXAS PIRÂMIDES SOCIETÁRIAS OBSERVADAS NO BRASIL
Funcef
Petros
União Federal
BNDESPar
Funcesp
Litel
Previ
Mitsui
Opportunity
Eletron
Cidade de Deus Part.
Espírito Santo
Bradespar
Valepar
VALE
Em amarelo vemos os donos últimos da Vale em 2009. São consideradas ações com direito a voto (ordinárias).
ÍNDICE DE MUNDO PEQUENO EM REDES DE NÓS DUPLOS
Proprietários
Carlos Jereissati
BNDES
Previ
Oi (Telemar Norte Leste)
Vale
Embraer
Bozano
Firmas
Índice mede o grau com que a rede exibe laços cruzados, sem perda de conectividade dos atores, em relação a uma rede equivalente simulada (aleatória)
BRASIL: EVOLUÇÃO DO ÍNDICE DE MUNDO PEQUENO NAS REDES DE PROPRIETÁRIOS 45.0
40.0
35.0
30.0
25.0
20.0 1996
2003
2009
COMPARAÇÃO INTERNACIONAL (The Small World of Corporate Governance, no prelo, editado por Bruce Kogut)
Índice de mundo pequeno no Brasil (em 2003):
Similar ao México
2,8 vezes superior à Coreia do Sul
5,1 vezes superior à Itália
7,8 vezes maior que o do Chile
12,2 vezes acima dos Estados Unidos
OS CONSÓRCIOS: PROPRIETÁRIOS APARECENDO CONJUNTAMENTE EM MÚLTIPLAS FIRMAS
Nippon Usiminas, 14% Bozano, Simonsen, 8%
Outros, 38%
Caixa dos Empregados da Usiminas, 10%
“Bloco de controle”
Valia, 8% Vale do Rio Doce, 15% Previ, 15%
Usiminas, no começo da década de 90
Regido pelo acordo de acionistas
O CONSÓRCIO DE BELO MONTE
Previ + Iberdrola (Neonergia)
Com a saída do grupo Bertin (Gaia), estudase a entrada de novas empresas (como a Vale e a Andrade Gutierrez) Fonte: Valor Econômico, 15/07/2010
GRUPOS ECONÔMICOS CSN Cimentos
Samarco
MRS Logística
Albrás
Vicunha Têxtil CSN Energia
Firmas
MBR
VALE
CSN
Grupos
Previ Bradesco Fanília Steinbruch BNDES
Proprietários
Mitsui
LAÇOS ENTRE GRUPOS (2009)
Equatorial
Votorantim
Eletrobras
Nippon AES
Vicunha Vale
Cemig
Andrade Gutierrez Gerdau Camargo Correa
Banco do Brasil
Bradesco Iberdrola
Jereissati Itau
Monteiro Aranha Unibanco
Ultra
QUEM MAIS GARANTE CONECTIVIDADE ENTRE AS AGLOMERAÇÕES?
EMBRAER
VALE
Firmas
Previ
Bozano
Bradesco
Oppenheimer
Proprietários
BNDES
Mitsui
Vamos agora analisar a rede projetada de donos (nós únicos)
ATORES DE LIGAÇÃO
Centralidade de poder ou de Bonacich: leva em conta não somente os contatos diretos, mas os contatos indiretos (“amigos dos amigos” e assim por diante)
CENTRALIDADE DE BONACICH NAS REDES DE PROPRIEDADE BRASILEIRAS 1000%
800%
600%
400%
200%
0%
-200% 1996
2003
Entidades governamentais (incluindo BNDES) Investidores institucionais e fundos privados Indivíduos, famílias e firmas locais
2009 Fundos de pensão de estatais Firmas e investidores estrangeiros
DONOS QUE MAIS EXIBIRAM GANHO DE CENTRALIDADE (19962009)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Proprietário Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) União Federal (inclui BNDES) Petros (fundo de pensão dos funcionários da Petrobras) Funcef (fundo de pensão dos funcionários na Caixa Econômica) Participações Morro Vermelho (grupo Camargo Corrêa) Banco Opportunity (banco nacional) Família Moreira Salles (grupo Unibanco) JP Morgan Chase (banco internacional) Família Villela/Setubal (grupo Itaú) Família Ermírio de Moraes (grupo Votorantim)
Nota. Ganhos calculados com base em variações absolutas do indicador de centralidade normalizado de Bonacich (1987).
EMPRESAS ESTRANGEIRAS: IMPERIALISTAS OU INOCENTES EM TERRA DESCONHECIDA? Opportunity Fundos de Telesystem Internaitional Wireless (Canadá)
Opportunity (Brasil)
49%
27%
Fundos de pensão (Brasil)
Telemig Participações
Teleamapá Celular
49% Newtel 51%
Telepart Participações 52%
Telma Celular
51%
49%
52%
Tele Norte Participações
pensão (Brasil)
24%
Telepart Participações 52%
Telesystem Internaitional Wireless (Canadá)
(Brasil)
Telemig Celular
Tele Norte Participações
Telma Celular
Teleamazon Celular
Teleamapá Celular
Telepará Celular
Teleamazon Celular
Telaima Celular
Telepará Celular
52% Telemig Participações
Telemig Celular
Telaima Celular
Opportunity muda a pirâmide para obter controle
Fonte: Perkins, Morck e Yeung (2008), analyzing the privatization of telecoms in Brazil in the late 1990s.
UMA DECLARAÇÃO DE UM EXECUTIVO DO SETOR DE TELEFONIA SOBRE ESSE CASO
“São sempre as estruturas de propriedade. É tudo sempre sobre como estruturar os acordos. A Telemig [da TIW] não teve sucesso no Brasil porque eles não sabiam como trabalhar com os brasileiros. Eles não entendiam de leis corporativas e como operar esse sistema” (citado em Perkins, Morck e Yeung, 2008).
MAS… A USIMINAS Nippon Usiminas, 14% Bozano, Simonsen, 8%
Outros, 38%
Caixa dos Empregados da Usiminas, 10% Valia, 8% Vale do Rio Doce, 15% Previ, 15%
Depoimento: “(...) a USIMINAS se aproximando da Nippon Steel, os empregados se aproximando da Nippon Steel, nós teríamos cerca de 25%. Já era um cacife que a gente tinha. Vinha aqui, por exemplo, Belgo-Mineira para comprar a USIMINAS. Falávamos: ‘oh [tapa na mesa], eu tenho 25%, então, você entra com 26%, nós vamos ter o controle, 51%.’” (citado em Pardini, Gonçalves e
Alves, 2009).
CAPITALISMO DE LAÇOS NO BRASIL
Grupos econômicos domésticos
Sistema político
Empresas estrangeiras
Governo e entidades públicas
LIGAÇÕES PERIGOSAS?
Influência Sistema político
Doações
Governo
Alinhamento estratégico
Direitos de controle
Entidades governamentais
Empresas privadas Capital
IMPLICAÇÕES
Característica Aglomeração de proprietários em consórcios e grupos entrelaçados.
Atores diretamente ou indiretamente ligados ao governo como elementos centrais.
Aspectos positivos Junção de recursos e redução de risco sob condições de infraestrutura e crédito escassos.
Capital de longo-prazo, a menor custo, para suportar projetos de larga escala.
Aspectos negativos Conflitos societários. Menos competição.
Má alocação potencial: estratégias empresariais influenciadas pelo governo em exercício e emergência de canais clientelistas.
O QUE FAZER?
Mais transparência: alocações públicas (BNDES), estruturas societárias (pirâmides).
Mais isolamento político: na estratégia das empresas, na governança das entidades governamentais e nas relações entre empresas e partidos.
Redução generalizada de custos de transação: facilitando entrada e renovação do capital.
Combate a condutas anti-competitivas, com ênfase em ligações cruzadas.
OBRIGADO!
SergioGL1@insper.edu.br