LITERÁRIA #1
TRANS
Bal ada Liter รกria w w w. b a l a d a l i t e r a r i a . c o m . b r H b l i t e r a r i a @ g m a i l . c o m
Cardápio POEMA, Lenora de BarroS_Capa e miolo Laertemorfose, por Joca Reiners Terron_09 O outro que sou uma, por Ronaldo Bressane_14 Manifesto (Falo por minha diferença), por Pedro Lemebel_26 Kirchner na Boca, por Washington Cucurto_38 Carmen Cohen, por Leandro Sarmatz_52 homem com sorte, por Alberto Guerra Naranjo_60 Nem lá nem cá, por Ana Maria Gonçalves_68 Shazam!, Vários autores_74 programação da balada literária_90 anotações_105
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Oitava badalada da Balada No calendário cultural paulistano desde 2006, a Balada Literária, evento tocado na raça e de graça pelo escritor pernambucano Marcelino Freire, chega à oitava edição do modo como surgiu: independente e plural. Nascida sob o signo da boemia no berço esplêndido da Vila Madalena, em 2013 a Balada se dissemina por outros bairros da cidade e por outras cidades, nos esquentas em Salvador e Recife. Sem contar a Balada Literária Mix, que, pelo segundo ano, ocorre dentro do Festival MixBrasil de Cultura da Diversidade. O signo da boemia se inscreve como tradição de beber, comer, falar, praticar a literatura de modo apaixonado e festivo, nada solene nem acadêmico. Tirar a literatura do pedestal e servi-la à mesa, fresca como cerveja, densa como feijoada, ou seja lá que petiscos e riscos você prefira: esta ideia moveu Marcelino e comparsas para que a Balada não se mumificasse ou, pior, se fechasse só a quem tivesse grana para declarar-se leitor e escritor. A Balada é de todos e todos são da Balada: Raduan Nassar, Caetano Veloso, Adélia Prado, Lygia Fagundes Telles, Tom Zé, Augusto de Campos, Adriana Calcanhotto, Mario Prata, Geni Guimarães, José Luandino Vieira, Jorge Furtado, Glauco Mattoso, Tatiana Belinky, Adriana Falcão, Binho, Miró da Muribeca, Luiz Fernando Verissimo, Mario Bellatin, João Ubaldo Ribeiro — e tantos outros nomes que seria impossível citar todos aqui. Neste ano o homenageado da Balada é o artista gráfico Laerte. E como você verá, tanto a programação quanto a primeira edição da revista foram pautadas pela ética e estética trans do cartunista paulistano. Tem o ensaio de J. R. Duran 6
com escritores(as) envergando papéis surpreendentes. Tem a ficção provocadora do gaúcho Leandro Sarmatz, do cubano Alberto Guerra Naranjo, do argentino Washington Cucurto. O poema-manifesto de Pedro Lemebel, tornado bandeira pelo movimento gay do mundo todo. Tem o artigo sobre as dificuldades de academizar o transgênero, pela mineira Ana Maria Gonçalves. Tem as pin-ups de oito superquadrinistas da nova geração, astros da Q-Balada, guerra entre cartunistas-heróis imaginada pelos curadores Gabriel Güeiros e Rafael Coutinho — este, não por acaso, filho de Laerte, e, de certa forma, continuador de sua obra. Porque tudo o que é diverso e independente se multiplica, na vida e na arte. Boa Balada. (Ronaldo Bressane) BALADA #1 publisher Marcelino Freire edição Ronaldo Bressane arte Renata Zincone artista convidada Lenora de Barros Fotógrafo convidado J. R. Duran textos Alberto Guerra Naranjo, Ana Maria Gonçalves, Joca Reiners Terron, Leandro Sarmatz, Pedro Lemebel, Washington Cucurto QUADRINISTAS Amilcar Pinna, Chiquinha, Gabriel Góes, Guazzelli, Júlia Bax, Mateus Acioli, Rafael Coutinho, Tiago El Cerdo curadoria HQ Gabriel Güeiros produção Jarbas Galhardo tratamento de imagem Régis panato/photouch caracterização e beleza Letícia de Carvalho (ao lado, com laerte) agradecimentos Fabiana de barros (registro fotográfico do poema de lenora de barros), fred Melo Paiva, Gabriel Pinheiro, jairo da rocha, jan bitencourt, márcia Fortunato, Vanderley Mendonça e Gráfica Ya’wara 7
CERVEJA
Laertemorfose o Big Bang na carreira do artista paulistano não pode ser encontrado na rede nem em livro: localiza-se na sequência de strips metafísicos iniciada em 2005 — quando Laerte também abria seu surpreendente strip-tease físico por Joca Reiners Terron | retrato J. R. Duran
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Para apreciar a frequente transformação da obra de Laerte, basta ler suas compilações de quadrinhos. São muitas, e estão resumidas no Google. Um tapa em [ ENTER ] e está quase tudo lá. Também é possível verificar suas metamorfoses físicas através do Google Images. Outro tapa e surgirão: Laerte menino de cabelo escovinha, Laerte sindicalista e cabeludo de bolsa tipo carteiro a tiracolo, Laerte às gargalhadas numa prancheta de redação, Laerte de brinco nos anos 80, Laerte mais dois amigos, Laerte rodeado dos cães da TV Colosso, Laerte no teatro capitaneando Piratas do Tietê, Laerte alegre, Laerte tristonho, Laerte mulher. Cabe aqui breve reflexão a respeito da forma em Laerte. O desenho de laerte sempre pareceu pronto. simples assim Comparando-o a Glauco e Angeli, dois de seus companheiros de geração, desde o início Laerte teve um traço único, intransferível. Sua forma essencial, portanto, seu DNA, nunca mudou. É um desenho rápido, sinuoso e exato, que lembra pincelada (apesar de ser feito com caneta Pilot). Glauco precisou suar para atingir a economia quase infantil de seu estilo, em uma árdua operação de subtração. E déca10
das foram necessárias para Angeli alcançar seu atual estágio como desenhista, antes inimaginável em sua assimilação punk de Robert Crumb. Mas Laerte não, seu desenho sempre pareceu pronto. Surgiu assim. se laerte opera com duas formas tão fixas, como o resultado é tão multiforme? Exceto pelas incursões nas HQs mais longas da época da Circo Editorial (final dos 80), na qual editou o gibi Piratas do Tietê, Laerte também pouco alterou sua sintaxe, com predominância da tira de jornal. A temática, sim, variou: infantil em Suriá, crônica autobiográfica em Laertevisão, além da profusão de personagens reunidos na série publicada na Chiclete com Banana e na Ilustrada desde 1991. No entanto, se Laerte opera com duas formas tão fixas — o traço e a tira — como o resultado pode ser tão multiforme? Existe um buraco negro na carreira do artista paulistano que não pode ser encontrado na internet nem em livro. Corresponde (para permanecermos nas metáforas astronômicas) ao Big Bang em sua produção. É a sequência iniciada em 2005 e que coincide com a perda de seu filho Diogo. Essa série costuma ser identificada por leitores como “tiras 11
filosóficas”. A relação com a filosofia é inegável, inclusive na brevidade aforística. Nesses quadrinhos, Laerte abandonou a antiga relação de causa e efeito dos trabalhos anteriores. Produzir piadas não fazia mais sentido, muito menos prosseguir com a camisa-de-força humorística representada pela fórmula da tira. a perpétua busca de laerte pela forma não se restringiu ao campo da arte: burlou padrões impositivos de comportamento Ideias complexas, pensamento abstrato, silêncio em profusão, nonsense, uso da cor para transmissão da proposta, reflexão gráfica sobre a precariedade do meio, inclusive das limitações da técnica de impressão do jornal que veicula a tira, tudo isso impregnado de profundas inquietações existenciais: assim passou a ser a HQ de Laerte. O uso do tempo também se modificou, assim como o abandono da muleta narrativa representada pelos personagens, que simplesmente deixaram de existir. Não limitando-se aos tradicionais três acordes da tira, cuja finalidade era culminar em tirada (virá daí o termo “tira” ou será o contrário?), as séries progrediram espacial e temporalmente, estendendo-se por 12
vários dias. Era pura música visual. Nesse período, a página de quadrinhos da Folha voltou a ser o espaço mais nobre do jornal, lembrando, em sua densa inventividade, Krazy Kat (1913-1944), de George Herriman, e Peanuts (1950-2000), de Charles Schulz, dois cumes da história do meio. Contudo, a perpétua busca de Laerte pela forma não se restringiu ao campo da arte. Burlando padrões impositivos de comportamento, Laerte aderiu ao crossdressing em 2010. Com isso, levou o público a considerar que talvez a forma deva se estender às nossas vidas,s afinal, e que estilo pessoal e intransferível é o resultado da luta contra a herança que nos é imposta. E não consigo ver maior aspiração na obra de um artista do que este: alterar a maneira com que uma geração inteira compreende a realidade.
Cuiabano safra 1968, vivendo em São Paulo desde 1995, Joca Reiners Terron é editor, poeta, prosador e artista gráfico. Publicou, entre outros, A tristeza extraordinária do leopardo-das-neves (romance, 2013), Sonho interrompido por guilhotina (contos, 2006) e Guia de ruas sem saída (romance ilustrado por André Ducci, 2012). 13
ARAK
O outro que sou uma Onde termina o poema e começa o romance? quais as fronteiras entre mulher e homem? Ou: por que o transgênero pode se tornar um caminho provocador para a arte do século 21 por Ronaldo Bressane | ensaio J. R. Duran
para Lou Reed, in memoriam 14
Quando despertou de sonhos intranquilos, Laerte viu-se metamorfoseado em uma fábula chamada Sônia; e viu que era bom. Quando nasceu, o romance era um conto de barriga dilatada, de cujo umbigo flutuavam flunfos em forma de dente-de-leão também chamados de poemas; e também viu que estava tudo muito bom. Quando partiu-se em duas, a frase se tornou masculina e feminina, e logo se decompôs em outras frases, e já então não eram frases: eram uma discussão de relacionamento. Quando, na Odisseia, Menelau persegue o deus egípcio Proteu, este transforma-se em leão, em serpente, em pantera, em javali, em uma árvore e em água. Também o ente alemão chamado Baldanders — cujo nome significa “já” (bald) “outro” (anders) — se transgenerava: foi estátua, foi homem, foi um carvalho, foi uma porca, foi um salsichão, foi um prado coberto de trevos, de esterco, de flores, de uma amoreira, de uma tapeçaria de seda, de muitas outras coisas e seres até voltar afinal a ser um homem, ou quem sabe uma mulher. E Baldanders sugeriu que praticássemos a suprema arte de conversar com as coisas mudas, tais como cadeiras e bancos, panelas e jarros, pênis e vaginas e peitos 16
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e cus, e que conversássemos com elas na primeira, na segunda ou na terceira pessoas; e anunciou que seu brasão é a inconstante lua — que, em alemão, é palavra tão masculina quanto o sangue declina-se feminino em espanhol. Assim como há quem acorde mulher e durma homem e acorde com mulheres e durma com homens, Baldanders é um ser em contínua metamorfose no tempo: no mesmo dia pode ter cabeça de sátiro, torso de homem, asas de pássaro e cauda de peixe e pata de cabra e garra de abutre e sexo de mulher. Baldanders teria gostado de praticar charadas com a esfinge grega, que tinha cabeça e seios femininos, asas de pássaro, pés de leão, corpo de cão e cauda de serpente, e que certa vez perguntou a Édipo: — Onde termina o poema e começa o romance? quais as fronteiras entre mulher e homem? o que limita a tragédia da comédia, a narrativa do ensaio, o realismo do fantástico, a epopeia da pornopopeia? Sem saber como responder, Édipo fugiu para o colo da mamãe e aí foi aquele drama. Quando despertou de um acidente misterioso após bater a cabeça, Jorge Luis Borges, 18
que até então só havia escrito poemas e artigos, resolveu tentar algo diferente enquanto se recuperava. Borges era cego mas não era bobo (a descrição do Baldanders aí de cima é sampleada de seu Livro de Seres Imaginários) e, embora em poesia fosse amante das formas fixas, em prosa estava atento às ambivalências — que ora arquivam um texto como verbete de enciclopédia, ora o encapsulam sob as orelhas de um livro de fábula. das mulheres guerreiras das canções de gesta do século 15 às travestis das canções-contos de lou reed, passando por orlando, divine, callie e as futanari dos hentai japoneses, há uma longa tradição trans na arte Daí que, restabelecendo-se de uma septicemia derivada da concussão, ainda no hospital anotou “Pierre Menard, autor de Quixote”, sobre um sujeito cuja obra era ser Cervantes, primeiro exemplar de uma literatura realmente nova, que se dobra sobre si mesma. Vieram na sequência textos ambíguos como a ficção científica antropológica “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius” e outras intersecções entre conto e ensaio, narrativa e reflexão. A influência dessa perspectiva literária borgiana, 20
que colide trama e crítica, é extensa. Pode ser sentida na maneira como W. G. Sebald faz dialogar memória e História (e “Tlön” é citado nos Anéis de Saturno), como Enrique VilaMatas usa personagens, temas e problemas literários para criar ficções (como em Bartleby e Cia.) ou como Stanislaw Lem aproxima a ficção científica da especulação metafísica. Desde o meio do século 20 a transa entre jornalismo e outras escritas tem ao mesmo tempo magnificado sua potência na descrição da realidade e derrubado o mito da objetividade. Do romance de não-ficção de Truman Capote ao de Dave Eggers, o flerte do registro objetivo com a percepção subjetiva pode ser captado tanto no exagerado gonzo de Hunter S. Thompson quanto no refinado humor de Geoff Dyer. Do outro lado da escrita, partindo do literário na direção do jornalístico, há os ensaios-reportagens de David Foster Wallace em Ficando longe do fato de estar meio que longe de tudo, que ao deformar a realidade, propõe informar com mais profundidade do que o moribundo jornal. Para além da forma, o trans na arte tem longa tradição enquanto objeto e tema. Guimarães Rosa foi buscar inspiração para sua Diadorim nas mulheres guerreiras das canções e novelas de gesta do século 15. Contemporaneamente, seguindo-se à imortal Orlando de Virginia Woolf, a drag queen 22
Divine de Jean Genet e as travestis nas canções-contos de Lou Reed, há os seres sexualmente diáfanos de João Gilberto Noll, a Callie no Middlesex de Jeffrey Eugenides, o casal de órgãos sexuais trocados no Cock&Bull de Will Self ou as futanari dos hentai japoneses — garotinhas peitudas cujas caixas de Pandora incluem paus gigantes. Tema para futuro trans-ensaio: o choque (ou melhor, o amálgama) do trans na forma com o trans no conteúdo — eis um caminho provocativamente político, e por enquanto pouco fertilizado, para a literatura/crítica/jornalística do século 21. Fica a dica. Porque hoje, quando o leitor desperta de sonhos intranquilos, o dinossauro continua ali: seu nome é Bolsonaro, Feliciano, legião; e eis que embora o dinossauro tenha muitos nomes, todos os rostos são tediosamente iguais, tão iguais quanto o fantasma que afinal se demonstrará ser — logo antes que seu ectoplasma se desvaneça, como uma língua pálida e medrosa, por uma fresta para dentro do armário. Escritor, jornalista e editor, Ronaldo Bressane (São Paulo, 1970) é autor de O Impostor (poesia, ciência do Acidente, 2002), Céu de Lúcifer (contos, azougue, 2003) e do roteiro da graphic novel V.I.S.H.N.U. (companhia das letras, 2012) OS(AS) TRANS: PAULO LINS, IVANA ARRUDA LEITE, REINALDO MORAES, Índigo, AndrÉa del fuego e marcelino freire 24
PISCO SOUR
Manifesto (Falo por minha diferenรงa) 1 por Pedro Lemebel
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Não sou Pasolini pedindo explicações Não sou Ginsberg expulso de Cuba Não sou uma bicha disfarçada de poeta Não preciso de disfarces Aqui está minha cara Falo por minha diferença Defendo o que sou E não sou tão esquisito Me repugna a injustiça E suspeito dessa dança democrática Mas não me fale do proletariado Porque ser pobre e bicha é pior Há que ser ácido para suportar É ter que dar voltas nos machinhos da esquina É um pai que te odeia Porque o filho desmunheca É ter uma mãe de mãos marcadas pelo cloro Envelhecidas de limpeza Embalando de doença Por maus modos Por má sorte Como a ditadura Pior que a ditadura 28
Porque a ditadura passa E vem a democracia E desvia para o socialismo E então? Que farão com nossos companheiros? Irão nos amarrar às tranças em fardos com destino a um sidário2 cubano? Irão nos enfiar em algum trem para parte alguma Como no barco do general Ibáñez Onde aprendemos a nadar Mas ninguém chegou até a costa Por isso Valparaíso apagou suas luzes vermelhas Por isso as casas de caramba3 Brindaram com uma lágrima negra Aos carneiros comidos pelos caranguejos
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Este texto foi lido como intervenção em um ato político da esquerda em setembro
de 1986, em Santiago, Chile. Leia o poema original em lemebel.blogspot.com.br/2005/11/ manifiesto-hablo-por-mi-diferencia.html. 2
Apesar de Sidario ser um nome próprio muito comum no Chile, o autor o usa como
substantivo para denominar clínicas para tratamento de soropositivos, como se nota em seu livro de crônicas Loco afán: crónicas de sidario, com textos que tratam, sobretudo, da marginalização de travestis e AIDS. 3
Casas onde se cantam tonadillas. O termo alude à cantora tonadillera do século
XVIII Maria Antónia Fernández, cujo apelido era Caramba.
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Este ano que a Comissão de Direitos Humanos Não lembra Por isso companheiro te pergunto Existe ainda o trem siberiano da propaganda reacionária? Esse trem que passa por suas pupilas Quando minha voz fala demasiado doce E você? Que fará com essa lembrança de meninos Nos pajeando e outras coisas Nas férias de Cartagena? O futuro será em preto e branco? O tempo correrá noite e dia sem ambiguidades? Não haverá uma bichona em alguma esquina desequilibrando o futuro de seu novo homem? Vão nos deixar bordar pássaros nas bandeiras da pátria livre? O fuzil eu deixo a você Que tem o sangue frio E não é medo O medo foi indo embora de mim Atacando com facadas 30
Nos inferninhos sexuais onde andei E não se sinta agredido Se te falo dessas coisas E te olho o volume Não sou hipócrita Acaso os peitos de uma mulher Não o fazem baixar os olhos? Você não acredita Que sozinhos na serra Algo nos aconteceria? Embora depois me odiasse Por corromper sua moral revolucionária Tem medo que se homossexualize a vida? E não falo de te enfiar e tirar e tirar e te enfiar somente Falo de ternura, companheiro Você não sabe Como custa encontrar o amor Nestas condições Você não sabe O que é carregar essa lepra As pessoas ficam a distância As pessoas compreendem e dizem: 31
É viado mas escreve bem É viado mas é um bom amigo Super-boa-onda 4 Eu não sou boa-onda Eu aceito o mundo Sem lhe pedir essa boa-onda Mas ainda assim riem Tenho cicatrizes de risos nas costas Você acredita que eu penso com o pau E que à primeira parrillada 5 da CNI 6 Eu ia soltar tudo Não sabe que a masculinidade Nunca a aprendi nos quartéis Minha masculinidade me ensinou a noite Atrás de um poste Essa masculinidade de que você se gaba Te enfiaram em um regimento Um milico assassino Desses que ainda estão no poder Minha masculinidade não recebi do partido Porque me rechaçaram com risadinhas Muitas vezes Minha masculinidade aprendi militando 32
Na dureza desses anos E riram da minha voz afeminada Gritando: vai cair, vai cair E embora você grite como homem Não conseguiu que caísse Minha masculinidade foi amordaçada Não fui ao estádio E me peguei aos trancos pelo Colo Colo 7 O futebol é outra homossexualidade encoberta Como o boxe, a política e o vinho Minha masculinidade foi morder as provocações Engolir a raiva para não matar todo mundo Minha masculinidade é me aceitar diferente Ser covarde é muito mais duro
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No original “buena-onda”, um trocadilho: alegre/ fresco.
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Prato típico chileno com diversos tipos de carne e frutos do mar, naturalmente no
poema se trata de um trocadilho. 6
CNI – Central Nacional de Informaciones de Chile – foi um organismo de inteligência
do regime militar chileno. Criada em 1977, foi responsável por inúmeros casos de infiltração política, assassinatos, sequestros e tortura aos opositores do regime, além de estar relacionada ao roubo de banco e o tráfico de drogas e armas. Foi dissolvida em 1990, pouco antes do retorno da democracia. Muitos de seus agentes então foram realocados em outros cargos públicos, inclusive de segurança. 7
Time de futebol chileno.
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Eu não dou a outra face Dou o cu, companheiro E esta é a minha vingança Minha masculinidade espera paciente Que os machos fiquem velhos Porque a esta altura do campeonato A esquerda corta seu cu flácido No parlamento Minha masculinidade foi difícil Por isso não subo nesse trem Sem saber aonde vai Eu não vou mudar pelo marxismo Que me rechaçou tantas vezes Não preciso mudar Sou mais subversivo que vocês Não vou mudar somente Pelos pobres pelos ricos Ou outro cachorro com esse osso Tampouco porque o capitalismo é injusto Em Nova York as bichas de beijam na rua Mas esta parte deixo para você Que tanto se interessa Que a revolução não se apodreça completamente 34
A vocês entrego esta mensagem E não é por mim Eu estou velho E sua utopia é para as gerações futuras Há tantas crianças que vão nascer com a asinha quebrada E eu quero que voem, companheiro Que sua revolução Dê a eles um pedaço de céu vermelho Para que possam voar
O chileno Pedro Lemebel (Santiago, 1955) é ensaísta, cronista e romancista. Conhecido por sua crítica ao autoritarismo e suas representações humorísticas da cultura popular chilena, a partir de uma perspectiva não-convencional, é autor de livros como De perlas y cicatrices (1998), Tengo miedo torero (2001) e Zanjón de la Aguada (2003). (Tradução de Nina Rizzi, especial para a Revista Ellenismos, 27) 35
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VINHO TETRA
Kirchner na Boca Omarcito nos contou que Néstor estava louco, passava as tardes olhando o Obelisco, dizendo coisas às meninas de Tribunales, jogando na calçada em um colchão nojento. E agora diz que tem um plano para voltar a ser presidente e ocupar as Malvinas por Washington Cucurto
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Uma tarde no bairro da Boca chegou Néstor. A gente, que não tinha nada a ver com isso, estava cortando papelão e escutando cumbia. Cada vez que uma turista passava em frente à papelaria a gente gritava. Lembro bem quando chegou Néstor porque veio com o Omarcito, o catador, expiloto da guerra das Malvinas, e também chegou por trás deles, como esquecer disso!, o caminhão dos nhoques e das empanadas. O carreto chegava uma vez por semana e esses vagabundos da La Salteña começavam a repartir pelo bairro os produtos vencidos. Rango que é pra jogar fora na Boca repartem entre a chinelagem que engole qualquer coisa! “A Sinergesia Capitalista Internacionalista faz isso para baixar o número de habitantes no mundo, velhas e crianças e sobretudo pobres.” “Não comam isso!”, nos disse Néstor logo de cara. Mas esse foi o começo do fim; este é o começo de um sonho e a verdadeira verdade de por que nos fizemos um pouco kirchneristas. Juliancito Gonzales, outro alienígena do papelão, nos contava que andava escrevendo um livro intitulado com uma frase famosa: “Driblando mijadas de dinossauros”. Todo cair da tarde nos lia um poema ou algum de seus cantos longuíssimos. Pode ser que Juliancito já esteja mijado pelos dinossau39
ros. Mas a morte não é tonta e não fica amiga dos babacas. O que Juliancito tem não é azar, e sim um espírito ferido e uma preguiça que não reconhece cama para se meter. Dormir a sesta para ele é o mais precioso da vida! Mas não sou merda nenhuma para tirar o couro de ninguém. E continuo. Ou melhor dizendo me alio, me abraço, ou sigo com o PRO1. Estou pouco me fodendo, se me dão um trabalho, me vou com o PRO e faço do amarelo a minha cor. “Tudo vai dar certo”, “Baires é de todos”, “Buenos Aires é vocês”. Caguei montão para a análise da estúpida cartelerística que se pode sacar em qualquer van. Se tem trampo, eu PROssigo. Não fode, pô! A Ursa pintava de branco as capas, Ricki Comediata cortava o papelão sempre torcido e tudo transcorria dentro da normalidade no ateliê de papelaria gráfica. (De agora em diante Oficina.) Nessa editora artesanal e, além disso, preciosa, estão encadernados em papelão Folhas de Relva, de Whitman, Vinte poemas do ex-poeta, de Cuevas; Esteban Echeverría e seu formidável Matadero; um conto imperdível de Piglia... E acampanhando esta alta literatura que ingressava à força do trabalho nos cérebros do bairro, soava a todo volume 40
Omar Shané. Tudo transcorria em paz entre os turistas, os estudantes de jornalismo da escola de Alivertia ou TEA, a disciplina de sociologia de UBA, todos vinham pegar nossos livrinhos coloridos de papelão; poetas e narradores do boom vinham com seu continho debaixo do braço para que o editássemos. Uma vez veio também Roberto Bolaño, com um conto que se chamava “O gaúcho assassino” e o rechaçamos. Não nos caía bem a literatura antiargentina escrita por um chileno rancoroso. Na porta vibrava um cartaz exultante: “Um livro de papelão não se nega a ninguém. Só pedimos que colabore”. Ao pobre Roberto o negamos. No meio dessa selva de perdedores apareceu Omarcito para cumprir a promessa que nos vinha prometendo fazia meses: trazer Néstor à oficina. E apareceu atrás dele, alto e com barba e muito magro, Néstor. Era ele, não tinha como não dizer Omarcito não quis ficar no time ao lado de seus companheiros ex-combatentes que se instalaram com barracas na
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PRO: Abreviatura do partido político argentino Propuesta Republicana, agremiação
de centro-direita simbolizada pela cor amarela.
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Plaza de Mayo, já faz vários anos. “Pedir ao Estado um direito óbvio como ter defendido a soberania da pátria me parece uma humilhação. Eu pilotei sozinho no meio do oceano e detonei três Harries e o Estado não apareceu nunca”, nos dizia como se afirmasse outra verdade verdadeira imutável. — Olá, damas do mundo. Que honra. Olá, jovenzinhos do mundo, estudantes. Que honra. Catadores fuleiros. O prometido: trouxe Néstor. Por azar uma das meninas disse seu nome, Cecília. — Igual à filha da puta da minha filha — soltou Omarcito. — Oh, dama européia, muito prazer — disse em seguida a uma documentarista francesa que tira fotos. Estendeu-lhe a mão cheia de merda e beijou a mão perfumada da gringa. Merda perfumada ou perfume de merda. Um gentleman do lixo e do tetra2. Anda descalço e de cueca, tem tatuado um Pucará 340 3 no ombro. Vai saber o que mais tem na cabeça. Mora em um carro que não é mais que um carrinho de supermercado cheio de papéis e papelões. Carrega duas mantas. Nos traz três cadeiras quebradas que encontrou na rua e um pacote de papelões molhados pela chuva ou pelo mijo dos cachorros. Para desculpar-se, diz: — Trouxe três cadeiras de presente para que possam se sentar e pintar melhor as capas, seus catadores fuleiros. 42
Mas fora isso trouxe o amigo, pra que vejam que Néstor vive. Néstor vive!, caramba, me dêem dois copos de manguaça — voltou a repetir, levantando as mãos nojentas. E apareceu atrás dele, alto e com barba e muito mais magro, Néstor. Era ele, não tinha como não dizer. Para musicalizar a aparição, corri até o som e coloquei Shané, o Evangelista da Cumbia. Ricky tapou os ouvidos claramente com nojo. Não me esqueço mais, o cara tinha uma luz ao redor, como uma auréola não celestial, mas sim multicolorida, mais como uma luz de cabaré, que lhe caía muito bem. Se tivessem visto a cara dos meninos da universidade que faziam uma reportagem sobre nós para a disciplina “Espetacularidades papeleiras internacionais”! Ficaram de olho arregalado! — Senhor Presidente? É você? — conseguiu balbuciar um estudante. Ali me dei conta de que Néstor devia ser nosso segredo, coisa para poucos. E o agarrei pelo braço e o meti num banheiro. Olhei-o nos olhos e era ele. — Fique aqui, não se mexa — mandei, e além disso lhe dei
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Abreviatura de tetrapak: refere-se ao vinho de caixinha vagabundo que os mora-
dores de rua bebem. 3
Avião argentino famoso por ser usado na guerra das Malvinas.
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um beijo. Voltei para os outros. — Desencanem desse cara. É um fanfarrão, um bêbado que pedem pra tratá-lo assim, um tonto imitador, outro Falso Diego com quem os turistas tiram foto... Omarcito, o catador, ex-piloto da guerra das Malvinas, excombatente caído em desgraça, abandonado, ao chegar das ilhas, pela mulher e três filhas, Cecília, Celeste e Melissa, que o provocavam dizendo-lhe: “Cuidado, zé-bucetinha, aí vêm os ghurkas4 comer teu cu”. E foi se distanciando para sempre do apartamento de três ambientes de Caballito. Abandonou a postura classe média de sua família e suas filhas que namoravam com advogados, administradores de empresas ou dentistas de merda. “E voei e lutei contra os ghurkas de argolas nas orelhas! Se tivesse um brinco na esquerda gostavam de homens; se tinham na direita gostavam de penetrar à esquerda e à direita, bem políticos: penetrados ou penetradores, sem volta. Voei debaixo dos radares no difícil Atlântico Sul.” Omarcito nos contou por que trouxe o prepotente. — Não posso mais deixá-lo na marquise porque os caras vão comer ele vivo. Passa o dia falando da Argentina e do peronismo. Já resgatei ele uma vez antes que lhe metessem faca. Já não posso deixar ele sozinho. Com quinze tetras por dia qualquer um perde os parafusos. 44
O ex-herói das Malvinas sentou-se no meio da oficina, pediu um crivo e nos falou que ia nos contar como o conheceu. Mas antes nos disse que Néstor precisava de alguém que o bancasse e essa devia ser nossa missão. — Vou falar com o sacristão da Igreja das Ondas Celestiais de Deus! — disse a Ursa. Omarcito não permitiu: — Não quero nada com esses evangélicos! Ricki Comedieta, excitado por conhecê-lo, me disse, quando todos se foram e fechamos a oficina: — Vai, traz o cara, tira ele do banheiro que quero ver ele direito. Bora levar ele pro Argerich! — Nada de médicos, que são tudo uns dedo-duros — alguém disse. No calor da conversa, sem saber que destino tomar com o sujeito, alguém propôs que o levassem ao edifício do sindicato dos gráficos, que está deserto e cheio de trastes de Perón e Evita e máquinas da década de 50. — Até têm ali um carro familiar peronista idealizado por Perón para que todos os trabalhadores tivessem seu carro de família! Está em exibição ali e desde já lhes garanto que ainda funúncia — outro disse.
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Soldados nepaleses que servem à Inglaterra; lutaram na guerra das Malvinas.
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— Lógico que sim — se entusiasmou o ex-piloto da guerra das Malvinas —, e tenho certeza que conseguimos dar a partida! Entendo de motor de avião e podemos fazer uma adaptação pra que seja o avião de Néstor! — O avião de Néstor? — perguntamos todos. — Sim. Não sabiam? Néstor planejava recuperar as Malvinas — nos disse Omarcito. — Caramba, mas antes de avançar, nos diz de onde resgatou o cara. — Da rua, de onde seria? Encontrei ele camuflado, com barba, pedindo moedas na esquina da Talcahuano com a Corrientes. A cada fechada de semáforo se tirava vinte mangos no mínimo. As pessoas acreditavam que era um imitador e quase ninguém o percebia. Omarcito nos contou que Néstor estava louco, passava as tardes olhando o Obelisco, dizendo coisas às meninas de Tribunales, jogando na calçada em um colchão nojento. E agora diz que tem um plano para voltar a ser presidente e ocupar as Malvinas. Passava horas manguaçando pelas ruas do centro como um tripulante a mais do furgão castigado de Buenos Aires. Tomava banho nas igrejas e nos restaurantes. Comia o que encontrava nas latas de lixo do McDonald’s e da pizzaria Güerrín. Os recrutas tiravam o quepe e o saudavam com afeto: “Que tá pegando, Néstor?”. E era o único, o verdadeiro. O 46
patriota, o militante Néstor, pau pra toda obra! — Se largava numas pingaiadas bárbaras, uns peidos desopilantes em que falava de Perón, Santucho e contava como Firmenich chupava sua pica, e assim nos fizemos amigos. Às vezes dava na louca e se abacanava até ficar lindo, dobrava o colchão, o metia numa lixeira de reciclagem dessas que o Macri5 instalou e comprava um terno cinza na Mac Gregor e saía pra dar uma volta, sonhando com um país de verdade. Comia uma porção de muçarela e molho de tomate, dois sanduichinhos de presunto e queijo e se tivesse tempo metia um pó em um apartamento muquiado e voltava de novo para o colchão que, tenho certeza, já estaria ocupado por um amigo, um tal de Néstor, um outro, um magrinho que desmunhecava e com quem eu não ia com a cara, sempre me olhava a pica. Acho que Néstor dava uma cutucada nele! “Vem, meu nego, vamos conhecer a Rosa de Luxemburgo”, me dizia Néstor e uma vez me animei e fui, sob a luz do Obelisco, jogado em um colchão na rua, estava a tal Rosa... era um magrinho sem dentes, seminu, que gaguejava em portunhol, esperava ele para dormirem juntos no colchão! Mas pra mim esse sujeito era um espião. Nessa época já corria o boato que ele estava vivo e mandaram capangas matar ele. Porque Néstor 5
Maurício Macri, atual prefeito de Buenos Aires.
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tinha feito seus erros, mas era um prócer, um patriota total. Omarcito nos contou que o magrinho dizia que era poeta, Néstor o conheceu em uma vila quando pisou em um 59 e no hospital uma enfermeira se apaixonou por ele à primeira vista, o limpou, o desinfetou e lhe deu alta e o fodeu. Ele o leva porque a enfermeira sabe que é procurado pelos espiões por conta da triste lei 123. Cuidou dele, o protegeu e o envolveu em uma manta feita com os retalhos da tela de Once em uma vila que, prodigamente, lhe tinham posto Néstor Kirchner. — E daí, o que rolou? — perguntamos todos quando apareceu detrás de nós, recém-saído do banheiro, Néstor em pessoa. Nos disse: — Fugi porque essa mulher estava muito louca. Pensei que podia estar melhor com Omarcito, que me levou pra calçada, mas seus “amigos bebinhos” já não me suportam. Ficamos em silêncio olhando para ele. Não podíamos crer que Néstor estivesse sentado com a gente. Usava um terno cinzento, todo enrugado, a gravata vermelha. Levantou-se e agarrou um livro de Gonzalo Millán da estante. Murmurou algo como se o conhecesse, que o tinha visto uma vez em Valdivia. Leu um poema de Millán que fala de desaparecidos, não me lembro bem. 48
— Rapazes — nos disse, grave —, nesta oficina restam os últimos seis patriotas e um aviador. Devemos recuperar a pátria das garras do campo, Clarín e os Estados Unidos... Olhamos para ele como se estivesse felizmente louco. Louco e maravilhosamente louco. O escutamos convencidos, entusiasmados, dispostos a tudo. Então Néstor parou e levantou ele mesmo as persianas. O sol da Boca entrou com tudo. — Nesta oficina se cria a Primeira Agremiação Patriótica Néstor Perlongher — nos disse. — Vamos ao sindicato dos gráficos e vamos pegar esse carro familiar peronista. Chegou a hora de lutar. Vamos recuperar o país! E saímos em fila, direto à avenida Leandro N. Alem. Continua.
Também conhecido como SantiAgo Vega, o argentino Washington Cucurto (Quilmes, 1973) é autor de Coisa de negros (Rocco), entre outros. Expoente do realismo autolondrado, espécie de realismo aditivado com birita e cumbia, Cucurto é fundador da Eloisa Cartonera, editora que publica autores clássicos e contemporâneos usando como capas peças de papelão recicladas pelos catadores callereros; a bem-sucedida experiência rendeu várias editoras-réplicas pela América Latina: em Asunción, há a Yiyi Jambo, em São Paulo a Dulcinéia Catadora. Este conto, inédito em livro, originalmente foi publicado no jornal Página/12. (Tradução de Ronaldo Bressane)
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NEGRONI
Carmen Cohen Começou a apresentá-lo para donos de clubes e empresários de teatros não mais como o ator delicado do teatro iídiche de Varsóvia, mas na condição do maior imitador europeu de Carmen Miranda, o artista que sobrevivera ao inferno enquanto sambava com bananas na cabeça por Leandro Sarmatz
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Meu tio Chaim Cohen, o maior imitador de Carmen Miranda durante os anos conturbados do pós-guerra, foi um sujeito interessante. Havia alguma coisa no fundo dos olhos, em torno deles — cílios alongados —, a pequena boca em forma de coração. Também algo no porte: não chegava a ter grande altura, mas era proporcional, sem magreza excessiva, equilíbrio que se refletia mesmo em seu andar leve, compassado, agradável de ser observado. A pele era alva. O cabelo, de um negrume denso que parecia produzir reflexos quando a cabeça passava sob um poste de luz, era bastante liso. Raspava todos os outros pelos do corpo. Contava que desembarcou no Rio de Janeiro às 7h de uma manhã de abril de 1948. Não conhecia ninguém naquela cidade. Melhor dizendo: há muito tempo havia feito teste numa montagem de um compatriota seu que, e isso ouvira dizer ainda no Lager, emigrara para o Brasil e trabalhava com atores brasileiros. Polonês também. Gente de teatro. Queria deixar tudo para trás: as sombras do gueto, a agonia, a morte em vida. Antes que a maquiagem derretesse, refugiou-se sob a marquise de um prédio na Praça Mauá. Havia cartazes, retratos de atores e atrizes, saudações em caixa-alta que lhe eram indecifráveis. Estava claro, porém, 53
que se tratava de algum tipo de representação teatral. E cômica, a julgar pelos esgares do atores e pela atitude sorridente das atrizes retratadas. Costumava dizer, anos depois, que não podia imaginar que havia teatro no Brasil. Aliás, não sabia que poderia existir uma cidade como aquela. Ouvira falar de Buenos Aires, dos cafés, cinemas e do tango. Era sua única informação sobre a América do Sul. O resto, imaginava, era a selva mais escura. Metade dos espectadores se retirou antes do fim ultrajada, outros ficaram apenas porque tinham dificuldade de locomoção Zanzando pelas ruas, viu cinemas, restaurantes, pessoas vendendo frutas em pequenos carrinhos de madeira. Ficou fascinado. Mas estava suado, exausto, quase desesperado de fome. Se não achasse o endereço no Leme que lhe deram, ainda no navio, estaria perdido. Andou durante horas. Mostrava o papel com o endereço, as pessoas gesticulavam bastante, e então ele seguiu seu rumo até conseguir chegar. O sol já tinha se posto quando entrou no prédio de Pinkas Horowitz, o antigo proprietário de uma vasta cadeia de teatros em Varsóvia. Estavam todos se preparando para uma 54
noitada no cinema. Deram-lhe pão, mostraram-lhe o caminho do banheiro e disseram que faziam questão que fosse com eles ao cinema. Iam ver uma fita com mulher mais graciosa do mundo, Carmen Miranda. Saiu do filme transtornado. Pinkas, que estava tentando voltar ao negócio do teatro enquanto ganhava a vida numa pequena ferragem da rua Gustavo Sampaio, ficou empolgado. Talvez estivesse ali a chance de retornar ao mundo das estreias, dos palcos, das bilheterias forradas de moedas. Alugou um quarto para ele numa pensão do Catete, comprou-lhe roupas e adereços, o levou para conhecer os teatros, inferninhos e boates da região central. Tinha alguns contatos. Começou a apresentá-lo para donos de clubes e empresários de teatros não mais como o ator delicado do teatro iídiche de Varsóvia, mas na condição do maior imitador europeu de Carmen Miranda, o artista que sobrevivera ao inferno enquanto sambava com bananas na cabeça. Não se entusiasmaram muito. A guerra já estava no passado, esses polaquinhos mal falavam o português, quem iria se interessar por alguém assim imitando a Pequena Notável? Ademais, o Carnaval estava longe demais no horizonte. Pinkas não o deixava fraquejar. Conseguiu, por fim, uma noitada num clube israelita na Tijuca. Ninguém estava 55
preparado para o espetáculo. Metade dos espectadores se retirou antes do fim absolutamente ultrajada, outros ficaram apenas porque tinham dificuldade de locomoção. Teriam morrido na hora se, em vez de Carmen Cohen, chamas estivessem consumindo o palco. Foi parar num puteiro do Mangue. Ali, entre travestis e putinhas, pode aprimorar suas imitações. Os frequentadores (funcionários públicos, estrangeiros e alguns literatos) começaram a apreciar suas performances. Seu nome de guerra começava a ficar famoso e já figurava em alguns cartazes pela zona: CARMEN COHEN, A FRANCESA QUE IMITA A PEQUENA NOTÁVEL. A parte sobre ser francesa tinha a ver com o fascínio pelos exemplares vindos Paris no Rio de Janeiro de então. Meu tio ficou amigo de Grande Otelo, de Manuel Bandeira, de José Lewgoy. Mas também de Madame Satã e outras figuras que tentavam ganhar a vida entre aquelas escuras ruas de pecado na Capital da República. Melhorou de vida, foi para outros palcos. Não sem polêmica, e isso até hoje, pois o Cemitério Israelita recusou-se receber seus restos mortais. Está sepultado no Caju, sem referência alguma a seus anos de fama. Uma lápide simples, com seu nome em caracteres latinos. Às vezes, durante o Dia de Finados, velhos 56
admiradores passam por ali e deixam algumas flores, retratos amarelados do passado, caixas de bombom. Passou os últimos anos no Retiro dos Artistas, desmemoriado, banguela, portando-se como uma virgenzinha. Apenas uma camisola de seda cobria sua genitália. Todos, antigos e desmazelados atores, enfermeiras, faxineiras o chamavam de Dona Carmen. Gostava da velhice feminina. Lia revistas de fofocas, ouvia fitas k7 com gravações da Carmen Miranda original, rememorava — numa mistura de carioquês e iídiche — seus anos de glória, já em Copacabana e em boates e salões de refinados hotéis. Foi por duas vezes rainha do Carnaval no Gala Gay. Nada mal, eu penso, para quem viveu entre ratos nos esgotos do Gueto de Varsóvia.
Poeta, contista e dramaturgo, Leandro Sarmatz (Porto Alegre, 1973) é jornalista, autor de logocausto (editora da casa, 2009), uma fome (record, 2010), editor da Companhia das Letras e pai da Irina. este conto foi escrito especialmente para nossa primeira edição. 57
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RUM
homem com sorte Vou subir em um avião pela primeira vez, e o acaso também existe, e minha bicicleta vai descansar de mim por um tempo, e o talento existe, e meus olhos ficam úmidos, e vale a pena o trabalho, e não posso chorar, e a honestidade, e não devo chorar, e meus nervos, e a mão do ministro, e felicidades
por Alberto Guerra Naranjo
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e a boa sorte existe, e o acaso também existe, e esse amplo salão, e os funcionários lá na presidência, e todo esse público, e M.G. com sua mulher, e o ministro da cultura, e alguns amigos, e eu sentado aqui no fundo, e a escritora com seus oclinhos na ponta do nariz pronta para ler o discurso, e o diretor da revista, e alguns inimigos, e o adido cultural do México, e o azar, e a fraude, e o companheiro do Partido de província, e as piadas, e os presentes postos sobre uma mesinha, e os concursos arranjados, e a companheira secretária da União dos Jovens Comunistas, e os prejuízos, e os jurados honestos, e México em um lago, e a chuva lá fora, e Emilio Varona pavoneante em sua presidência, e a menina que repartirá os presentes, e os jurados desonestos, e as caixinhas com frango que os garçons preparam, e os convidados especiais na primeira fila, e o amiguismo, e o Presidente da Associação dos Jovens Artistas, e a passagem grátis na aviação mexicana, e o gangsterismo literário, e o pigarrear à frente do microfone da escritora que vai ler o discurso, e os nervos de todos os presentes, e o silêncio quando a escritora diz Discurso, e as múltiplas miradas aos lábios da escritora que repete Discurso, e os nervos, e seus lábios que dizem Participaram mais de trezentos contos neste concurso, e os nervos, e a alta qualidade dos trabalhos apresentados se61
gundo a escritora, e os nervos, e os oclinhos a ponto de cair do nariz da escritora, e as risadas, e o silêncio, e sua voz, e meus nervos, e o microfone agora tem problemas, e não dá pra ouvir direito, e alguém grita Não dá pra ouvir direito, e o técnico de som se aproxima, e o microfone apita, e volta o silêncio, e os nervos, e a escritora disse Sergio Navarro, e Sergio Navarro sou eu, minha mãe, e não consigo acreditar, e quem consegue acreditar, ninguém consegue acreditar, e aplaudem, e fecho os olhos, e afinal existo, e me pego, e não é um sonho, e me levanto, e me aplaudem mais forte, e não sei o que fazer, e me dão tapinhas nas costas quando avanço, e ando devagar, e meus amigos me querem, e tenho um nó tremendo na garganta, e meus inimigos me odeiam, e minha vida mudou, e me aplaudem, e me sorriem, e ando, e a boa sorte existe, e vou subir em um avião pela primeira vez, e o acaso também existe, e minha bicicleta vai descansar de mim por um tempo, e o talento existe, e meus olhos ficam úmidos, e vale a pena o trabalho, e não posso chorar, e a honestidade, e não devo chorar, e meus nervos, e a mão do ministro, e felicidades, e as mãos de todos, e a minha mão nas de todos, e a 62
presidência, e Emilio Varona faz um esforço, e eu não esperava por isso, e ninguém esperava, e o adido cultural do México me chama de lado, e me felicitam muito, e sou um homem com sorte, e me entregam mil pesos, e troquei de vida, e vão publicar mais rápido meu conto, e me caem muito bem os mil pesos, e a escritora não terminou de ler o discurso, e eu falo a ela, e todos fazem silêncio, e estou frente ao público, e ela menciona outros nomes, e também os aplaudem, e vão se aproximando, e as garotas me beijam, e mencionam meu amigo M. G., e o aplaudem, e ele anda nervoso, e eu o aplaudo, e parecem felizes os escritores finalistas, e abraço M. G., e saúdo os outros, e vejo M. G. triste, e sinto pena por ele, e a escritora abandona o microfone, e termina o ato, e os oclinhos caem finalmente, e os recolho do chão, e os cozinheiros repartem caixinhas com frango, e a escritora também me saúda, gostamos tanto de seu conto, me diz, e eu digo obrigado, e vêm outros falar comigo, e todos comem, todos conversam e comem, e já não vejo cozinheiros repartindo caixinhas, e eu animo M. G., e outros me chamam, e se me descuido perco minha caixinha com frango, e meu amigo para olhando, e a mulher de M. G. me dá um beijo, e me sinto triste, e a vida é de mamãe, e alguém me traz a caixinha com frango, e estou feliz mas triste, e não trouxe minha mulher 63
porque não esperava este prêmio, e me sinto nervoso, e não posso comer meu frango, e me saúdam, ainda me saúdam, e graças ao conto que eu escrevi minha vida muda, e graças a J. L. por ter-me contado, e a M. G. por tê-lo escrito primeiro, e a mim por poder escrevê-lo, e a minha mulher por me suportar, aos mortos, e ao meu pai, e aos vivos, e à minha mãe, e ao país, e ao meu avô Tiburcio Navarro, e ao meu bairro, e às minhas irmãs, e aos meus amigos, e aos meus inimigos, e prefiro estar sozinho, e caminho, e me encontro na rua, e não importa que ainda chova com força, e pedalo veloz, e me molho, e quero chegar logo à minha casa, e acordar minha mulher, e contar tudo isso, e amá-la como nunca, e a boa sorte existe, e as ruas com buracos, e o acaso, e aquele salão amplo, e meu prêmio, e os jurados honestos, e eu.
Este texto do escritor cubano Alberto Guerra Naranjo (!961) originalmente é o capítulo 14, “Um prêmio literário”, do romance La soledad del tiempo (Ediciones Unión). Trata-se da vida, obra e perrengues de três escritores jovens da excluída geração dos novíssimos, movimento underground de artistas cubanos nascidos nos anos 60 e 70: os personagens M.G., J.L. e Sergio Navarro, que protagonizam um relato de marginalidade, fome, sofrimento, inveja — e até amizade. (Tradução de Ronaldo Bressane.)
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CAFÉ
Nem lá nem cá O corpo trans talvez seja aquele que mais desafiou o binarismo fixo e específico dos gêneros. É um gênero emergente, nem futurista, nem virtual, nem ideologizado: é presente e incorporado por Ana Maria Gonçalves
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Tive a sorte de estar em Berlim, para uma feira literária, onde assisti às mesas de abertura de um congresso para feministas de cor (FemoCo, Feminists of Color, rede de nãocaucasianos: negros, índios, latinos, árabes, asiáticos, etc.). Chocou-me ver na prática algo que venho observando há alguns anos, desde que comecei a pesquisar e escrever um livro cujo protagonista é um transgênero masculino: uma das feministas retirou-se da mesa porque havia homens trans na plateia de um evento aberto apenas para mulheres. Houve manifestações contra (“ao investir em um corpo masculino, você passa para o outro lado”) e a favor (“são minorias e brigam por espaço, como nós”), inclusive veementes protestos de uns cinco ou seis rapazes que, apoiados por feministas mais novas, conseguiram o que queriam: inclusão. Na hora lembrei-me de um comentário que ouvi de uma mulher quando disse que trabalhava em um livro sobre um FTM (Female to Male): “Até entendo homem querer virar mulher, mas nunca uma mulher querer virar homem”. Há uma complexidade por trás desse processo que pouca gente entende: não é uma questão de “virar” homem ou mulher. A simplificação — que define todo preconceito — acaba gerando discriminação de minorias dentro de minorias já melhor estabelecidas social, cultural e/ou politicamente num determi69
nado contexto; e isso vale para qualquer movimento, seja de mulheres, negros, homossexuais, deficientes, pobres, etc. Estudos transgêneros têm mais a ver com estudos feministas do que nos deixa pensar a sigla LGBT Falo aqui (apenas toco no assunto, imenso para tal espaço) de feminismo e transfeminismo depois da leitura de dois livros bem interessantes: Assuming a Body — Transgender and the Rhetorics of Materiality, de Gayle Salamon, e The Black Body, de Meri Nana-Ama Danquah. Mesmo tratando de assuntos aparentemente díspares, explicam meu interesse pelos dois temas: a questão da in- e da visibilidade dos corpos negro e trans, de acordo com a conveniência do observador. Assim como o corpo (em sua materialidade e representação) da mulher, os corpos negros e trans continuam sendo “zados” das mais diversas formas: generalizados, racializados, fetichizados, romantizados, demonizados, infantilizados, criminalizados, desumanizados, sexualizados, ostracizados, ritualizados, etc. São corpos-objeto, de acordo com Danquah (que fala apenas do corpo negro, a inclusão dos outros é minha), os quais, para existirem em espaços 70
brancos (masculinos e cisgêneros), têm que se transformar para aceitá-los ou rejeitá-los. Há que se fazer estudos em outras áreas. Mas Salamon dá algumas dicas de por que o feminismo ainda não aceitou bem o transgenderismo. (Ressalto que estudos transgêneros têm mais a ver com estudos feministas do que nos deixa pensar a sigla LGBT: LGB se relaciona à sexualidade, T se relaciona à construção/ desconstrução de papéis atribuídos aos gêneros). Primeiro: desafia o caráter universalista do movimento, como já fizeram mulheres negras, lésbicas, queers, etc. Segundo: transgenderismo é visto por algumas feministas como desarticulador da categoria, por requerer uma rearticulação da relação entre sexo e gênero, entre masculino e feminino. Terceiro: “a categoria mulher, mesmo entendida como interseccional e historicamente contingente, deve oferecer certa persistência e coerência para que seja não apenas o objeto de estudo mas a fundação de uma disciplina; e o surgimento de um sujeito que descreve uma posição de resistência referencial não deve ser facilmente incorporado em tal esquema”. Porém, a própria Salamon oferece luz ao impasse. “Tal sujeito [trans], no entanto, prova-se útil [ao feminismo] à medida em que incorporou e literalizou uma posição perpetualmente fora do sistema referencial de gênero.” 71
Ou seja, o corpo trans talvez seja aquele que mais desafiou o binarismo fixo e específico dos gêneros. É um gênero não-normativo. É um gênero emergente, nem futurista, nem virtual, nem ideologizado: é presente e incorporado — embora às vezes invisível. Coincidentemente, 20 de novembro, início desta Balada Literária, é o dia nacional de consciência negra — e também o internacional da memória trans. Portanto, celebremos juntos e lutemos. Axé, baladeiros! Salve, Laerte!
Ana Maria Gonçalves nasceu em Ibiá (MG), em 1970. Publicou os romances Ao lado e à margem do que sentes por mim (disponível em anamariagoncalves.blogspot.com) e Um defeito de cor (Record), ganhador do Prêmio Casa de las Américas. Após ter sido writer-in-residence em Tulane University (2007), Stanford University (2008) e Middlebury College (2009), mora em New Orleans (EUA), onde escreve um livro de ficção sobre a transformação de um transgender e um livro de não-ficção comparando relações raciais no Brasil e EUA.
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nan q uim
Shazam! oito super-cartunistas da nova geração
seu herói: Cannibal Fuckface seu vilão: Mad Madam Min sua maior aventura: Constelações inebriantes de atividade sináptica sua identidade secreta: Fabiane Langona sua palavra mágica: KARMADHARMA!! sua arma especial: TELECINESE sua kryptonita: Pêssego em calda
chiquinha
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seu herói: Mario, encanador extraordinaire seu vilão: King Bowser Koopa sua maior aventura: Aprender a pintar sua identidade secreta: Economista sua palavra mágica: FUSÃO! sua arma especial: Pincel de Marta Kolinsky sua kryptonita: Papel 50% algodão
julia BAX
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seu herói: Katsuhiro Otomo seu vilão: Majin Boo sua maior aventura: O dia que atravessou o espelho e foi parar em uma realidade paralela sua identidade secreta: Quadrinista sua palavra mágica: Grassadeus sua arma especial: Hadouken sua kryptonita: Camarão
AMILCAR PINNA
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seu herói: Jack Kirby seu vilão: procrastinação sua maior aventura: o futuro sua identidade secreta: Gabriel Góes sua palavra mágica: Tacos! sua arma especial: meu cruzado de direita sua kryptonita: sertanejo universitário
GABRIEL GÓES
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seu herรณi: Risco Man seu vilรฃo: Mr Deadline sua maior aventura: Criar universos sua identidade secreta: Tatuador sua palavra mรกgica: Brainstorm sua arma especial: Portais Dimensionais sua kryptonita: A cor branca
GUAZZELLI
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seu herói: Torpedo 1936 seu vilão: Diabolik sua maior aventura: Caçar cogumelos espaciais em alto-mar sua identidade secreta: George L. Costanza sua palavra mágica: Peste! sua arma especial: Tommy Gun sua kryptonita: Dúvida
MATEUS ACIOLI
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seu herói: Groo, o errante seu vilão: Mancha Negra sua maior aventura: meus cadernos de viagens sua identidade secreta: Tiago Lacerda sua palavra mágica: Beleléuuuu sua arma especial: estojinho de bolso de aquarela da winsor & newton sua kryptonita: açúcar
TIAGO EL CERDO
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seu herói: Minha vó seu vilão: Meu estômago sua maior aventura: La Paz, Bolívia. Eu e um restaurante tailandês, chapas de raio-x e a PolÍcia Federal sua identidade secreta: ator pornô com amor sua palavra mágica: bolovo sua arma especial: o abismo sináptico sua kryptonita: o neo-malufismo tatuado
RAFAEL COUTINHO
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PROGRAMAÇÃO BALADA LITERÁRIA 2013 XVIII edição 20 a 24 de novembro HOMENAGEADO: LAERTE 20 de novembro (quarta) 18h00 – SESC Pinheiros: Show “COR, AÇÃO DO BRASIL”: FABIANA COZZA convida ALOÍSIO MENEZES, ÁUREA MARTINS, LUCAS DOS PRAZERES, MONARCO DA PORTELA, SAPOPEMBA e SÉRGIO PERERÊ 21 de novembro (quinta) 11h00 – Livraria da Vila: DEUS - homenagem ao cartunista LAERTE _JOCA REINERS TERRON conversa com LAERTE ao lado de ANGELI, JOÃO SILVÉRIO TREVISAN e SÉRGIO GOMES _Abertura da exposição de J. R. DURAN 14h30 – Livraria da Vila: MISTER G - literatura e sexualidade _LIMA TRINDADE, LUANA CHNAIDERMAN DE ALMEIDA e THIAGO BARBALHO conversam com JOÃO SILVÉRIO TREVISAN 16h00 – Livraria da Vila: PIRATAS DO TIETÊ – Famílias literárias 90
_SANTIAGO NAZARIAN conversa com ELISA NAZARIAN, ESTRELA RUIZ LEMINSKI e RICARDO RAMOS FILHO 18h00 – Livraria da Vila: CAPITÃO DOUGLAS – Literatura pop e policial _JOMARD MUNIZ DE BRITTO conversa com J. R. DURAN e paULO LINS 19h30 – Livraria da Vila: SURIÁ – música e literatura _IVANA ARRUDa leite conversa COM VANESSA DA MATA 21h00 – Centro Cultural b_arco: _AuTORES EM CENA com o poeta ALLAN JONNES, direção do NÚCLEO BARTOLOMEU DE DEPOIMENTOS _Performance poética com ESTRELA RUIZ LEMINSKI e TÉO RUIZ _Lançamento de “Nois É Ponte e Atravessa Qualquer Rio”, de Marco Pezão; “Gramática da Ira”, de Nelson Maca; “A Vida em Três Tempos”, de Márcio Vidal; e “Uma História de Amor para Maria Tereza e Guilherme”, de Adrienne Myrtes _Recital com ELIAKIN RUFINO, MARCO PEZÃO e MIRÓ DA MURIBECA 91
22 de novembro (sexta) 11h00 – Livraria da Vila: OVERMAN – Quando os escritores mudam de gênero _CRISTHIANO AGUIAR conversa com CADÃO VOLPATO, CAROLA SAAVEDRA, DANIEL PELLIZZARI e JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA 14h30 – Livraria da Vila: _LOS 3 AMIGOS – Cruzando as fronteiras HECTOR BISI e NELSON MACA conversam COM o cubano ALBERTO GUERRA NARANJO 16h00 – Livraria da Vila: SÍNDICO – Quem cuida da casa dos escritores _CLAUDINEY FERREIRA conversa com LUIZ SCHWARCZ 17h30 – Livraria da Vila: LAERTEVISÃO – O novo jornalismo _RONALDO BRESSANE conversa com BRUNO TORTURRA, FRED MELO PAIVA e LEANDRO SARMATZ 19h30 – BALADA NO ESPAÇO PARLAPATÕES: _Show com o cantor RUBI _Peça “A Casa Amarela”, com GERO CAMILO e direção de Márcia Abujamra 92
_Show “Pauladas” com _PAULA COHEN e participação especial de PHEDRA DE CORDOBA _Ação artística “Transcendentidade”, com FAFI PRADO e PEDRO GUIMARÃES _Lançamento de “O Estranho Mundo de Hugo Guimarães”, de Hugo Guimarães; e “Rachas”, de Andrea Moraes _Lançamento da revista Acrobata, editada por Aristides Oliveira, Demetrios Galvão, Meire Fernandes e Thiago E _Apresentação do livro Diário A, de Adriana Versiani dos Anjos, Alessandra M. Soares, Cláudio Santos Rodrigues, Clô Paoliello, Glória Campos e Mário Azevedo 23 de novembro (sábado) 11h00 – Livraria da Vila: OS OUTROS PIRATAS – Quem faz a literatura acontecer _SUZANA VARGAS conversa com CARLOS HENRIQUE SCHROEDER (DO Festival Nacional do Conto), MAURO MUNHOZ (DA Flip) e SÉRGIO VAZ (DA Cooperifa) 13h30 – Espaço PlInio Marcos: _Recital especial com os poetas ELIAKIN RUFINO e MIRÓ DA MURIBECA 93
14h00 – Biblioteca Alceu Amoroso Lima: HERÓI – Quem ensina literatura _EDUARDO ARAÚJO conversa com ALEJANDRA LAURENCICH (da Argentina), ANTONIO CARLOS VIANA, RITA COUTO e ROBERTO TADDEI _Participação do escritor BRUNO AZEVÊDO 15h30 – Biblioteca Alceu Amoroso Lima: MESSIAS – Conversando e versando _AMANDA BRUNO (MG), LAURA CASTRO (BA), MARCOS BASSINI (RJ) e VICTOR RODRIGUES (SP) conversam com FREDERICO BARBOSA _Participação da poeta TULA PILAR 17h00 – Biblioteca Alceu Amoroso Lima: FLYING CAT – Voos literários _LUIZ BRAS conversa com EUCANaà ferraz, josé LUIZ PASSOS e NOEMI JAFFE, finalistas do Prêmio PORTUGAL TELECOM 2013 19h00 – Biblioteca Alceu Amoroso Lima: _Edição especial do MENOR SLAM DO MUNDO, com DANIEL MINCHONI, GÊ LADERA e SINHÁ _Participação do poeta FELIPE CHOCO 20h30 – Biblioteca Alceu Amoroso Lima Show com ALICE RUIZ e ALZIRA E _Abertura da exposição de LAURA CASTRO 94
22h00 – FESTA DA BALADA no BAMBU BRASIL BAR: _Show com VINICIUS CALDERONI _Show com a banda O TEU PAI JÁ SABE? _Apresentação de três livros das Edições Sem Chancela: “Mais ou Menos Fatal”, de Alvinho Valverde e Letícia Cajuína; “Pequena História de Espaços”, de Gilberto Mariotti; e “Instruções para Belisa”, de Iuri Pereira _Performances de lançamento da revista Rosa e dos projetos Boca Santa e DORITOS _Lançamento do livro “O CaOS do Acaso”, de Mauro Nunes; e das antologias “Proibido ParA” e “Edifício Marquês de Sade” 24 de novembro (domingo) 11h30 – Livraria da Vila: MIGUELITO – O exemplo portenho _ALLAN DA ROSA, LÚCIA ROSA, TENÓRIO TELLES e VANDERLEY MENDONÇA conversam com o escritor argentino e criador da editora Eloísa Cartonera WASHINGTON CUCURTO 14h00 – Livraria da Vila: _Lançamento do livro “um Menino, sua amiga, um fichário e dois preás”, de mirna pinsky, editora ftd 95
em seguida, a partir das 15 horas, Contação de histórias COM ANALU LACOMBE 14h30 – Centro Cultural b_arco: Q BALADA – Um evento repleto de atrações simultâneas _Uma disputa-batalha entre os quadrinistas: AMILCAR PINNA (SP), CHIQUINHA (RJ), ELOAR GUAZZELLI (RS), GABRIEL GÓES (DF), JULIA BAX (SP), MATEUS ACIOLI (SP), RAFFA COUTINHO (SP) e TIAGO EL CERDO (RJ) _WILSON FREIRE conversa com os rappers CENA7 e RENAN INQUÉRITO e os poetas BRUNO AZEVÊDO, ELIAKIN RUFINO e ÉSIO RAFAEL _luciana miranda penna, marcela lordy, Martha Nowill e uma convidada especiaL sabatinam o ator PAULO CéSAR PEREIO _Shows de ADEMIR ASSUNÇÃO e de MÁRIO BORTOLOTTO _Exibição dos vídeos “O Tato do Olho” e “No País da Língua Grande, Dai Carne a Quem Quer Carne”, de LENORA DE BARROS _Pré-estreia do filme “A Vida Não Basta”, de CAIO TOZZI e PEDRO FERRARINI _Apresentação da peça “Réquiem para um Rapaz Triste”, uma homenagem ao escritor Caio Fernando Abreu, com o ator RODOLFO LIMA 96
_Lançamento da antologia “Achados e Perdidos”, organizada por Regina Junqueira e com as autoras Concha Celestino, Cris Gonzales, Deborah Dornellas, Eliana Castro, Fátima Oliveira, Flávia Helena, Gabriela Colombo, Gabriela Fonseca, Izilda Bichara, Lucimar Mutarelli, Paula Bajer Fernandes, Regina Junqueira e Teresinha Theodoro RESSACA LITERÁRIA 27 de novembro (quarta) 19h30 – Centro Cultural b_arco: _FERRÉZ e LOURENÇO MUTARELLI conversam com ARNALDO ANTUNES _Show do PASSO TORTO, com KIKO DINUCCI, MARCELO CABRAL, RODRIGO CAMPOS e ROMULO FRÓES Balada Literária Mix dentro do Festival MixBrasil dE CULTURA DA Diversidade, Centro Cultural São Paulo: 14 de novembro (quinta) - 19 h: Performance com o escritor chileno PEDRO LEMEBEL 15 de novembro (sexta) - 19 h _MARCELINO FREIRE CONVERSA COM OS ESCRITORES hugo guimarÃes, jorge antônio ribeiro e thiago barbalho 97
ESPECIAL OFICINAS GRATUITAS No ISE Vera Cruz - Rua Baumann, 73, Vila Leopoldina, fone 3838-5992 (das 13h às 22h): _ “Pós-Jornalismo: Oficina Literária em Não-Ficção”, com RONALDO BRESSANE: 18 de novembro (segunda): 18 às 22h00 21 de novembro (quinta): 18 às 22h00 _“Em Busca do Sentido Incerto: Oficina de Conto”, com JOSÉ CARLOS DE SOUZA: 18 de novembro (segunda): 18 às 22h00 19 de novembro (terça): 18 às 22h00 30 vagas para cada oficina. Inscrições até 8 de novembro. Informações e inscrições: ise@veracruz.edu.br No Itaú Cultural – Av. Paulista, 149: _ “Oficina de Conto”, com o escritor ANTONIO CARLOS VIANA: 21 de novembro (quinta): 14 às 17h00 _ “A Construção de um Conto, Passo a Passo”, com a escritora argentina ALEJANDRA LAURENCICH: 22 de novembro (sexta): 14 às 17h00 25 vagas para cada oficina. Inscrições abertas a partir de 5 de novembro. Informações e inscrições: (11) 2168-1876, de segunda a sexta, das 10 às 18h00 98
INFORMAÇÕES GERAIS _Todo o evento tem ENTRADA FRANCA (exceto a festa no bambu brasil bar) _ será respeitado o limite de lotação das salas _Para saber mais sobre os convidados e verificar se houve alguma alteração na programação, e ainda para saber sobre a Pré-Balada Literária, dentro do Festival Satyrianas, acesse: www.baladaliteraria.com.br _Siga o evento no Twitter: www.twitter.com/baladaliteraria _No FaceBook: www.facebook.com/baladaliteraria
EQUIPE da Balada Literária Criação, Curadoria e Direção Geral MARCELINO FREIRE Produção ANNA ZÊPA, EDITH, GALILEO GAGLIARDI, JARBAS GALHARDO, MARCELO CAMARGO, OLÍVIA ARAÚJO, TÂNIA REIS Mídias Sociais e Assistência de Curadoria LUCIANA MIRANDA PENNA Assistência de Mídias Sociais JAPA TRATANTE Produção Fotográfica MARIO MIRANDA FILHO Assessoria de Imprensa ANALU ANDRIGUETI e JULIANA GOLA Site BRUNO BRUM e MOZART BRUM (BR1 DESIGN) Twitter ANA PELUSO Vídeos Acervo DAVID VIDAD 99
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