Além da Arquitetura:Relação Antropofágica entre Flávio de Carvalho e Casa Modernista Fazenda Capuava

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Imagem 0: Flรกvio de Carvalho desenhando. Fonte: ArquivoArq, sem data



ALÉM DA ARQUITETURA:

A RELAÇÃO ANTROPOFÁGICA ENTRE FLÁVIO DE CARVALHO E CASA MODERNISTA DA FAZENDA CAPUAVA


Bruno Gobi dos Santos + Prof. Dra. Tânia Cristina Bordon Mioto Silva

Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo - Universidade Anhembi Morumbi São Paulo, dezembro/2019



Sumário • 09

- Quem? - Flávio de Carvalho - Ah

• 14

Além da arte

• 19

O modernista de vanguarda

• 32

“Frescas no verão e quentes no

inverno”

• 39

Arte pela Arte: A criação do CAM

• 44

Arte pela Arte: Experiências

• 52

Arte pela Arte: Até o último suspiro

• 54

A casa sede da Fazenda Capuava: Casa

modernista de Flávio de Carvalho

• 93

Resistir/Reexistir: Reflexões sobre novo uso para a casa modernista. 1) Para quem?

• 98

Resistir/Reexistir: Reflexões sobre novo uso para a casa modernista. 2) CIA Pau-

lista, uma oportunidade de ligação

• 108

Resistir/Reexistir: Reflexões sobre novo uso para a casa modernista. 3) Proposta de uso para a Fazenda

• 119

Bibliografia

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- Quem?! - Flávio de Carvalho - Ah

Em conversas nos corredores da universidade com colegas de curso e professores, ou então na mesa do bar após uma aula cansativa, a surpresa é a mesma: “Quem é Flávio de Carvalho?”. Não diferente de meus colegas de turma, ou talvez, do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Anhembi Morumbi, também não conheci o trabalho ímpar de Flávio pela Universidade. Fui conhecer sua obra após dar início ao estágio, por um recorte de jornal onde havia sua foto mais icônica, de 1956, realizando o que chamou de “Experiencia nº 3” - na qual o artista caminha pelo centro de São Paulo usando saia. Escândalo!... Por ironia, atualmente uma das modas mais comentadas são as chamadas “Kilts”, saias masculinas.

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Não só de experiências viveu Flávio. De jeito nenhum. Flávio foi um multiartista. Arquiteto, engenheiro, pintor, artista plástico, cenógrafo, animador cultural, desenhista, escritor e teatrólogo. Foi inquieto e polêmico. Um dos maiores retratos do modernismo brasileiro e símbolo da vanguarda. Nesse sentido, a intenção deste trabalho é fazer a correlação entre Flávio de Carvalho e o modernismo, fazer uma investigação sobre sua relação com os modernistas, com o SPAM (Sociedade Pró-Arte Moderna)1, o CAM (Clube dos Artistas Modernos)2 e, principalmente, sobre suas obras arquitetônicas. Sobretudo, sua única obra que sobrevive sem descaracterização: a casa sede da Fazenda Capuava na cidade de Valinhos – SP, tombada pelo CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, sob resolução de tombamento de 12/05/1982 - processo nº 00286/73. 1 Sociedade criada por artistas modernos para manifestação independente de Arte. 2 Criado por Flávio de Carvalho para manifestação de Arte de forma menos elitista que o SPAM.

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A primeira parte desse percurso é entender o estado de arte da casa, os seus desdobramentos, suas causas, razões, sua inserção na cidade de Valinhos e a obra literária que foi gerada. Têm-se como objetivo o levantamento técnico da casa modernista, com estudos de viabilidade para um projeto de restauro, com uma nova proposta de uso e preservação digna. Indo de acordo com Lemos, 1981, esse trabalho se sustenta no “dever de patriotismo de preservar os recursos materiais e as condições ambientais em sua integridade, sendo exigidos métodos de intervenção capazes de respeitar o elenco de elementos componentes do Patrimônio Cultural”. Afinal, atualmente a residência está em estado de abandono pelos órgãos públicos. No artigo 9º da Carta de Veneza, 1964, consta que “a restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional”. Entende-se pelo autor destas linhas como excelência do restauro, a fidelidade aos materiais e a transparência entre o novo e o velho,

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caso existir, com o objetivo de “conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento” (Carta de Veneza, 1964, p. 2).

Imagem 1: Publicação da resolução de tombamento no Diário Oficial Fonte: Processo de tombamento da Casa Modernista

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Além da arte

Quando a arte encontra, em pequenos detalhes, a diferença, a incoerência, o contraste, a contradição; normalmente dá-se novos rumos a partir dessas novas-velhas linguagens e cria-se um novo “estilo artístico”. Seja nas artes plásticas, na música, no teatro ou na dança. Onde é que seja, a Arte precisa ser renovada. E assim é. A Arte não se estagna. Não paira. Não para. Continua. A arte se renova, sempre. Sem arte não há movimentos e não há melodias. Imaginar a vida sem arte é imaginar uma vida sem cor, sem canções, sem emoções. Emoção! Talvez essa seja uma das palavras que mais resume o que é arte! Agora, uma das pessoas que mais retratou o que é ‘emoção’, um “comedor de emoções” (TOLEDO, 1994) foi Flávio de Carvalho.

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Chamar alguém de ‘comedor de emoções’ pode ser que soe estranho e que incomode à priori, mas é impressionante como – se bem refletido– transpareça algo bonito, inversamente proporcional. Pode-se imaginar uma pessoa que ingere a emoção e a repele em uma tela branca, como uma pintura. Pintura! Talvez essa seja uma das palavras que retrata bem quem foi Flávio de Carvalho. Um artista que traçava os corpos femininos como um arquiteto traça um edifício sobre um terreno em declive. Talvez por conta de Flávio ser arquiteto, ou ser arquiteto por ser artista. Flávio resumiu tão bem o que é Arte, que a complicou de ser resumida. Assim como faz um filósofo. Filósofo... - Quem?. - AAAAAAHHHHHH!

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Imagem 2: Mulheres. CARVALHO, Flávio de. 1968 Nanquim e aquarela sobre papel. 49 x 69,1 cm Fonte: MAM, sem data

Imagem 3: Sem título. CARVALHO, Flávio de. 1955 Nanquim sobre papel. Fonte: Exposição "Flávio de Carvalho: O antropófago ideal. Autor, 2019

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Imagem 4: Autorretrato. CARVALHO, Flรกvio de. 1965 รณleo sobre tela. 90 x 67 cm Fonte: MAM, sem data

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O modernista de vanguarda

Nascido em Amparo da Barra Mansa, no Rio de Janeiro, em 10 de agosto de 1899 e falecido na cidade de Valinhos, região metropolitana de Campinas, em 04 de junho de 1973, Flávio Resende de Carvalho, artista inquieto e polêmico, foi um dos maiores representantes da vanguarda artística do século XX no Brasil3, junto a importantes

artistas como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Oswald e Mário de Andrade, Victor Brecheret, Sérgio Milliet, Di Cavalcanti, Alfredo Volpi, Lasar Segall e tantos outros nomes que contribuíram para o modernismo brasileiro. Todos estes artistas buscaram, através do modernismo, a liberdade artística com a valorização das soluções individuais ou coletivas dos artistas, a apreciação da cultura brasileira, a crítica política e o rompimento do tradicionalismo que vinha se seguindo até 3 Leite, Rui Moreira. Flávio de Carvalho, O artista total: SENAC, 2008.

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o final do século XIX com o Simbolismo4. Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, Flávio de Carvalho viveu a maior parte da sua vida no estado de São Paulo, após seus pais, Raul de Rezende Carvalho e Ophélia Crissiúma, em 1900, terem adquirido algumas fazendas para investimento na produção de café5. Dentre elas, foram adquiridas as fazendas Amazônia, Pinheiros e Rosário na cidade de Valinhos – região metropolitana de Campinas. Esta última viria a se tornar a fazenda Capuava, onde o artista construiu seu maior ícone arquitetônico: A casa sede da fazenda Capuava, em 1938. Segundo Toledo (1994, p. 6), amigo e biógrafo do artista, no livro Flávio de Carvalho: o comedor de emoções, as fazendas foram adquiridas por Raul, assessorado por seu irmão Getúlio, na “privilegiada região do 2º Distrito Cafeeiro do Estado, 4 O Simbolismo é entendido como movimento oposto ao realismo, com valor à religião, em prol ao pessimismo e à subjetividade. 5 O sucesso foi tamanho que Raul cria o primeiro jornal do mundo dedicado ao café. Lido no Brasil e na Europa. (TOLEDO, J.B. Flávio de Carvalho: O comedor de emoções, Unicamp Brasiliense, 1994)

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nas proximidades de Campinas”. Entre 11 e 12 anos de idade, em 1918, Flávio inicia seus estudos em Paris, mas finaliza na Inglaterra, após, em uma viagem à passeio, ter sido proibido de voltar por conta da Primeira Guerra Mundial6. Lá ingressa no curso de Engenharia Civil, na Universidade de Durham, e, simultaneamente, no curso de Belas Artes na King Edward the Seventh School7, iniciando sua vida de controvérsias e inquietação. Em 1922, pouco depois da Semana de Arte Moderna8 realizada no Teatro Municipal de São Paulo, Flávio regressa ao Brasil. Em seu retorno, se insere como engenheiro calculista de estruturas metálicas e de concreto em escritórios de arquitetura, destacando sua atuação no escritório de Ramos de Azevedo (1851 – 1928), principal nome do 6 Vídeo-documentário “Flávio de Carvalho (1988-1973) disponível em: < https://www. youtube.com/watch?v=v7bJnpl4fms&t=348s>. Acesso em outubro/2018 7 Leite, Rui Moreira. Flávio de Carvalho, O artista total: SENAC, 2008 8 Manifestação artística ocorrida no Theatro Municipal de São Paulo entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922.

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neoclassicismo e ecletismo brasileiro; autor de obras icônicas no estado de São Paulo como o Teatro Municipal, Casa das Rosas, Liceu de Artes e Ofícios, Catedral Metropolitana de Campinas e reforma da Catedral Nossa Senhora do Desterro em Jundiaí. Não diferente de toda a sua vida, no escritório técnico de Ramos de Azevedo, Flávio causou polêmica por, frequentemente, caminhar pelos corredores de shorts (considerado inapropriado na época). Os inquilinos do prédio fizeram um abaixo-assinado exigindo sua ‘expulsão’, mas Flávio respondeu: “Não vou sair daqui de jeito nenhum. Vocês só me tiram daqui a bala..., mas vai ser difícil, porque vou instalar uma metralhadora no meu ateliê” (ASSAD, 2013, p.65). Apesar de toda a sua rebeldia e ‘marginalização’, Flávio era muito apegado à sua mãe – diferente de seu pai, do qual Flávio mantinha uma relação fragilizada (TOLEDO, 1994, p. 354). Assim, em 1924, após o falecimento de sua avó materna, Flávio de Carvalho projeta uma casa na Fazenda ALÉM DA ARQUITETURA | 22 | BRUNO GOBI


Pinheiros, em Valinhos9, para confortar a família. A residência é sua primeira obra arquitetônica edificada. Formada com elementos influenciados pela vivência de Flávio na Europa e com um traçado rural tradicional. Tal qual não segue os preceitos modernistas do artista em seus projetos futuros. O projeto que estreia, de fato, Flávio de Carvalho à arquitetura moderna brasileira - tal qual vinha se iniciando com o manifesto “Acerca da arquitetura moderna”, de Gregori Warchavchik, publicado pelo jornal carioca ‘Correio da manhã’ em 1925 – é o concurso de fachadas para o Palácio do Governo do Estado de São Paulo em 1927. O projeto de Flávio é considerado o pioneiro da arquitetura moderna no Brasil.

9 TOLEDO, J.B. Flávio de Carvalho: O comedor de emoções, Unicamp Brasiliense, 1994

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Imagem 5 – Desenho da fachada para o Palácio do Governo do Estado de São Paulo feito por Flávio de Carvalho. Fonte: mcd . revista de arquitetura

Por influência de Le Corbusier (1887 – 1965), Flávio projeta o prédio do Palácio do Governo com blocos simétricos, sendo “uma fortaleza à prova de golpes com baterias antiaéreas”10 e plataformas para aterrisagem de aviões. Além de um salão para festas interno com painéis decorativos. Nessa obra, segundo Rui Moreira, a construção segue uma hierarquia proposta pelo artista. “Os volumes distribuem-se a partir do eixo de simetria representado pelo conjunto de

10 17º Bienal de São Paulo (1983) – Flávio de Carvalho. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1983 (Catálogo de exposição). Disponível em: https://issuu.com/bienal/ docs/namedc46c4/51; acesso em 17, fev, 2019.

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elevadores. A construção desenvolve-se em cinco planos: porão, rés-do-chão, parte nobre, moradia do presidente e base de aviação”. (LEITE, 1983, p. 46)

Em 1928 Flávio apresenta seu objeto de concurso e, utilizando-se do pseudônimo “Efficacia”, para que não seja divulgado seu nome, se destaca, repercutindo entre o público e imprensa. Os primeiros passos para sua inserção ao grupo dos modernistas antropofágicos - provocados por Oswald de Andrade (1890 – 1954) e Raul Bopp (1898 – 1984) - após Mário de Andrade (1893 – 1945) publicar três artigos sobre o projeto no Diário Nacional. No mesmo ano, participante de outro concurso, desta vez o Concurso Internacional do Farol de Colombo (este destinado à edificação de um monumento na República Dominicana), enobrecendo cores primárias, secundárias e formas inspiradas nas mitologias pré-colombianas, se inicia, diretamente, ao movimento antropofágico que tinha como proposta a junção de influências estrangeiras para criação de uma identidade

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brasileira, única. Foi criada por Tarsila do Amaral (1886 – 1973) e pelo escritor modernista Oswald de Andrade – até então o maior agitador cultural do século XX11. O projeto de Flávio de Carvalho combinava a linguagem futurista da edificação (caracterizada pela monumentalidade dos blocos de edifícios que cercam a torre imensa, apoiada sobre uma plataforma em arcos, travada por dois troncos de pirâmide), evocando os desenhos do arquiteto italiano Sant’Elia, com elementos decorativos internos – murais, painéis, cerâmicas – inspirados pelas culturas e civilizações pré-colombianas. (LEITE, Rui Moreira, 2004, p. 15) O mesmo formato de pirâmide pré-colombiana e pilone12 é replicado em 1938 na casa sede da fazenda Capuava. Na edificação de sua residência, a decoração “antropofágica” mostrava pinturas indígenas e imagens de totens. 11 ALMEIDA, Paulo Mendes de. De Anita ao Museu, terceiro nome, 2014 12 Porta monumental dos antigos templos egípcios em forma de trapézio.

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Imagem 6: Projeto para o Farol de Colombo, 1928 Fonte: 17ª Bienal de São Paulo (1983) - Flávio de Carvalho

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Imagem 7: Casa Modernista em Valinhos-SP, 1938 Fonte: Autor, 2019

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Imagem 8: Elementos estruturais. Formas semelhantes aos pilones (pórticos dos templos egípcios) Fonte: Foto do Autor, 2019

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Imagem 9: Pilone do templo de Hórus, em EDU. Entradas em forma de trapézio. Fonte: mafengwo, 2018 + intervenção realizada pelo autor.

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“Frescas no Verão e Quentes no Inverno” É desta maneira que Flávio anuncia seu conjunto de dezessete casas construídas entre 1936 e 1938 na esquina entre a Alameda Lorena e Alameda Ministro Rocha Azevedo no Jardins em São Paulo. Conhecida como Vila Modernista, o conjunto de casas foi executado com destino à locação. Cada casa tinha, aproximadamente, 100 m² e vinha com manual de instruções ou “modo de usar”, como vê-se no panfleto para os locadores. Não à toa, a casa vinha com um manual. As dicas amparavam o morador ao maior conforto e melhor aproveitamento do ‘sistema de moradia’ – é importante ressaltar que não se tratava de uma imposição ou prepotência construtiva, e sim da melhor maneira de utilização das residências. Através do “modo de usar” é possível perceber a preocupação de Flávio quanto ao conforto térmico, físico e, até mesmo, emo-

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cional dos moradores. “Assim, para ele, o conforto físico está associado ao maior volume de ar nas salas e às aberturas reguladas que permitem proporcionar ar fresco no verão e calor no inverno” (LEITE, 2004, p. 36). Já o conforto emocional se relaciona com a preocupação pelas cores escolhidas para evitar qualquer irritação ou melancolia.13 No panfleto, ainda, Flávio procurou instruir os moradores “sobre a utilização dos dispositivos inovadores que introduzira e provoca o comentário de que está distribuindo bulas das casas” (LEITE, 2004, p. 39). No trecho a seguir, Rui Moreira Leite intensifica ainda mais o que havia impresso nos panfletos. Nesse impresso, esclarece que o aro do guarda-sol do solário serve para a colocação de cortinas de lona ou para pendurar gaiolas com pássaros ou ainda vasos de flores, explica a maneira correta de abrir torneiras que funcionam com pinos de pressão, como obter a ventilação desejada 13 Péricles do Amaral, “S. Paulo tem dezessete casas verdadeiramente próprias para a gente morar!”, em Problemas, ano 1, nº 8, São Paulo, maio de 1938, p. 56. Apud Rui Moreira Leite, 2004

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e como usar os ferros da cortina colocados no meio da sala para dividi-la em duas. Há ainda espaço reservado para observar que as cortinas devem ser duplas – claras, na face exterior, e escuras, no interior – e que é mais estético, confortável e higiênico” (LEITE, 2004, p 39).

Apesar de harmoniosas, igualmente confortáveis e semelhantes, as casas não seguiam um padrão estético entre si. Melhor dizendo, não seguiam e impunham um padrão estético. Eram exclusivas e, igualmente, atrativas visualmente. Algumas propondo formas de rostos nas fachadas, instigando à percepção. Mais do que casas construídas para o conforto visual da burguesia, as residências foram projetadas, especialmente para

moradia de artistas com otimização dos espaços e boa circulação – preocupações essas ligadas ao movimento moderno. As salas não se separavam dos quartos sendo ‘divididas’ através do pé direito duplo. Tal disponibilidade poderia ser usada para outros usos, em ocasiões especiais ou ALÉM DA ARQUITETURA | 34 | BRUNO GOBI


adaptações14. Analisando desenhos do conjunto, tende-se a entender que as casas estão para a cidade, assim com a cidade está para as casas. Afinal, Flávio as projetou voltadas para as Alamedas. Uma rua interna (aberta e acessada por qualquer cidadão) que, sem preocupação, podem receber às costas das residências. Cinco residências eram voltadas para a Alameda Ministro Rocha Azevedo, cinco para a Alameda Lorena e sete voltadas para a rua interna. Quando concluídas, muitos dos moradores do bairro se revoltaram com a proposta. Até mesmo familiares de Flávio desaprovaram o projeto, inclusive seu pai. Após o aumento da urbanização, as casas foram sendo descaracterizadas ou mesmo derrubadas para a construção de edifícios. Não houve proteção e nem mesmo um trâmite para o tombamento do importante conjunto de 14 Leite, Rui Moreira. Flávio de Carvalho, O artista total: SENAC, 2008

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casas que representaram a força do modernismo brasileiro presente na cidade de São Paulo. As únicas que não foram totalmente descaracterizadas, são as casas da rua interna e uma casa da Alameda Ministro Rocha Azevedo que hoje abriga uma loja. Na sua fachada, a loja presta homenagem à Flávio de Carvalho, com fotografias e os dizeres “Casa da Vila Modernista”.

Imagem 10: Vila modernista - Rua Alameda Lorena (1936) Fonte: TOLEDO, 1994.

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Imagem 11: Panfleto com dicas de uso para os moradores Fonte: São Paulo Antiga, 2011

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Imagem 12: Plantas da casa nยบ 1052 da Alameda Ministro Rocha Azevedo e nยบ 1263 da Alameda Lorena, de acordo com os desenhos de Flรกvio de Carvalho. Fonte: Acervo pessoal de Rui M. Leite. apud Rossetti

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ARTE PELA ARTE 1: A criação do CAM

No fim da Revolução Constitucionalista de 1932, após uma safra ruim para os artistas modernos, e em contrapartida ótima para novos escritores e poetas15, funda-se, na casa modernista do arquiteto Gregori Warchavchik, na Vila Mariana (SP), a Sociedade Pró-Arte Moderna ou SPAM, afim de promover as manifestações modernistas de forma independente. A fundação deu-se por artistas como Lasar Segall, John Graz, Vittorio Gobbis, Paulo Mendes de Almeida, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, entre outros; por influência de Mario de Andrade. Um dia após a criação do SPAM, em 24 de novembro de 1932, o artista Flávio de Carvalho inaugura o Clube de Artistas Modernos, o CAM, para reuniões, exposições e discussões sobre arte. Apesar de ser materializada após 15 “(...) alguns dos quais, naquele momento estreates, são hoje nomes da primeira grandeza nos quadros da literatura nacional” ALMEIDA, Paulo Mendes de. De Anita ao Museu: Terceiro Nome, São Paulo, 2014, p. 69.

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o SPAM, a idealização surgiu antes, no salão de chá da antiga loja tradicional Mappin Stores, com uma conversa entre Flávio de Carvalho, Arnaldo Barbosa, Paulo Mendes de Almeida e Vittorio Gobbis16. O anseio para a fundação do CAM, após ter sido fundado o SPAM, foi por conta da preocupação de Flávio de que este último teria caráter elitista, no qual o artista não pretendia para o CAM. Portanto, juntamente com Di Cavalcanti, Carlos Prado e Antonio Gomide, Flávio tratou de preparar a ocupação de parte do edifício situado à rua Pedro Lessa, 2, onde já mantinham seus ateliês.17 Os quatro fundadores decidiram pintar, cada um, um painel nas paredes. Houve festa com vinho e barulhada, a festa se espalhava pelas janelas a fora e alcançava o passante logo em baixo; (...) Mais gente veio, Anita Malfatti, Osvaldo Sampaio, etc... e o Clube dos artistas modernos, solidamente fundado, progredia com rapidez (...)” (CARVALHO,

16 ibidem 17 ibidem

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Flávio de. Recordação do Clube dos Artistas Modernos, In: RASM (Revista Anual do Salão de Maio) N.1, São Paulo, 1939, n.p.. apud TOLEDO)

Tudo corria bem até que na primeira apresentação do ‘Teatro Experimental’ (O Bailado do Deus Morto) – ambas criadas por Flávio - guardas armados invadem a sala de teatro para censurarem o que ali estaria sendo realizadas “práticas indevidas”. Flávio, repugnando o ato policial, com discurso de defesa à liberdade de expressão grita com os policiais dizendo que as “leis garantem a liberdade de pensar, escrever e representar o que bem entendem; E que aquele ato era uma inominável violência policial” (TOLEDO, 1994, p. 196) Ao final do acontecimento, Flávio convida o delegado e os policiais a assistirem à peça. Apesar de tímidos, os mesmos aplaudem ao final e até fazem algumas declarações a favor do espetáculo e pedindo o “visto” da censura para a exibição. Tudo em vão, pois após o repórter Chico Sá – contra o Bailado do Deus Morto – fazer um artigo sobre a atitude

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policial de não suspender a peça, a polícia age novamente. Invade a peça, ordena que todos evacuem o local e lacram as portas.18 Artistas como Jorge Amado e moradores da cidade de São Paulo protestaram contra a censura do “Bailado do Deus Morto” que em nada adiantou. Após trancos e barrancos, no final de 1933 é encerrada às atividades do CAM.

Imagem 13: Réplicas das máscaras realizadas pelo Teatro Oficina Uzyna Uzona na ocasião da reencenação da peça O Bailado do Deus Morto em 2010. Fonte: Exposição Flávio de Carvalho: O antropófado ideal na galeria Almeida & Dale. foto: Autor, 2019

18 TOLEDO, J.B. Flávio de Carvalho: O comedor de emoções, Unicamp Brasiliense, 1994.

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Imagem 14: O Bailado do Deus Morto Reprodução: Romulo Frialdini Fonte : Enciclopédia Itau Cultura, sem data

Imagem 15: Cena do Bailado do deus morto desenhado por Flávio de Carvalho, 1933 . Fonte: ALMEIDA, 2014

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ARTE PELA ARTE 2: Experiências

Flávio se encantava pela psicanalise freudiana19, sua paixão era tanta que o artista lia todos os dias pela manhã20 como exercício mental, o que explica sua intelectualidade para com o comportamento pessoal e coletivo da sociedade. A curiosidade de Flávio pela psicologia o levou a escrever manifestos e projetar cidades como “A cidade do homem nú” (1930) onde ele projeta a cidade ideal do homem do futuro. Antropofágica. Uma metrópole que não seguiria dotes religiosos, muito menos teria um Deus, nem propriedade. Seria uma cidade sem tabus, com a quebra do conservadorismo do homem em relação ao corpo, na qual o “homem nu selecionaria ele mesmo suas formas de erótica, onde nenhuma 19 Referência à Sigmount Freud (1856 – 1939), neurologista e inventor da psicanálise. 20 TOLEDO, J.B. Flávio de Carvalho: O comedor de emoções, Unicamp Brasiliense, 1994

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restrição exigir-lhe-ia este ou aquele sacrifício” e que “Sua energia cerebral seria suficiente para controlar e selecionar seus desejos.” (CARVALHO, 1930). Flávio, ainda, relaciona o homem antropofágico ao homem nu e correlaciona a cidade do homem nu a cidade antropofágica. O homem antropofágico, quando despido de seus tabus assemelha-se no homem nu. A cidade do homem nu será sem dúvida uma habitação própria para o homem antropofágico (...) A cidade antropofágica satisfaz o homem nu porque ela suprime os tabus do matrimônio, e da propriedade, ela pertence a toda coletividade, ela é um imenso monolito funcionando homogeneamente, um gigantesco motor em movimento, transformando a energia das idéias em necessidades para o indivíduo, realizando o desejo coletivo, produzindo felicidade, isto é, a compreensão da vida ou movimento. (CARVALHO, 1930, A cidade do homem nú)

Ainda influenciado por Freud e Le Bon (1841 – 1931) - que afirmavam que pessoas, quando em multidões, tornam-se irracionais, intolerantes e insensíveis (TOLEDO, 1994,

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p. 103) – em 7 de junho de 1931 Carvalho instaura seu plano que ria “Experiência Nº 2”21, no qual em caminhar contra uma procissão Christi vestindo chapéu e como autor relata:

Flávio de se chamaconsistia de Corpus o próprio

Contemplei por algum tempo este movimento estranho de fé colorida quando me ocorreu fazer uma experiencia, desvendar a alma dos crentes por meio de um reagente qualquer que permitisse estudar a reação nas fisionomias, nos gestos, no passo, no olhar, sentir enfim o pulso do ambiente, palpar fisicamente a emoção tempestuosa da alma coletiva, registrar o escoamento dessa emoção, provocar a revolta para ver alguma coisa do inconsciente. Dei meia volta, subi rapidamente em direção à Catedral, tomei um elétrico e, meia hora depois, voltava munido de um boné. (CARVALHO, Flávio de. Experiência Nº 2, São Paulo, Irmãos Ferraz, 1931, p. 7.

21 “Quanto a experiência nº 1 , o artista teria confidenciado a amigos que consistiu em fingir que estava se afogando e gritar desesperadamente por socorro”. ALMEIDA, Paulo Mendes de. De Anita ao museu.São Paulo, 2004.

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Grandalhão como era, Flávio se destacava em meio à multidão de fiéis que o olhava estranhamente e cochichavam umas entre as outras sobre o ato. Acontece que após alguns minutos a multidão passou a exercer atos violentos, depois de uma das pessoas gritar irritado para que Flávio tirasse o chapéu. Após a procissão correr atrás de Flávio, ele consegue entrar em uma tradicional leiteria da rua São Bento (um dos poucos comércios abertos naquele domingo), quebra a claraboia da cozinha e se esconde em um mictório desativado no anexo exterior (TOLEDO,1994, p 107). No mesmo ano, em 1931 Flávio lança o livro intitulado “Experiência nº 2”. Mais de vinte anos após sua experiência na procissão de Corpus Christi, Flávio realiza a Experiência Nº 3, nomeado pelo artista de “New Look”, na qual o artista projeta um traje de verão masculino, composto por um blusão listrado de “malha aberta ou armada que não tocasse a pele. Sustentadas

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através de arandelas de arame – uma na cintura, outra nos ombros” (TOLEDO, 1994, p. 508), saia, meias ¾ e sandálias. No seu cartão de divulgação do traje, Flávio explica sobre a circulação de vento que o traje traz para maior conforto térmico, da facilidade de lavar em três minutos e secar em três horas e da melhora dos movimentos. Este último sendo tópico comparativo entre o New Look e os ternos em sua apresentação do traje em uma conferência.

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Imagem 16: Cartão de divulgação do traje de verão. Desenho: Flávio de Carvalho. Reprodução: Instituto de Estudos da Linguagem UNICAMP, sem data.

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Imagem 17: Flávio de Carvalho em sua Experiência nº 2: traje de verão. Fonte: Arquivo Manchete Press. Reprodução: Enciclopédia IItaú Cultural, sem data.

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ARTE PELA ARTE 3: Até o último suspiro

De todos os seus trabalhos artisticos, nenhum outro foi tão comentado, criticado e aclamado ao mesmo tempo como a série “minha mãe morrendo”, depois nomeada por “Série Trágica”, 1947. Nesta total quebra de tabus sobre a morte, Flávio retrata nove desenhos de sua mãe, Dona Ophélia, nos momentos agonizantes do leito de morte. Nos desenhos, Flávio transporta a dor e a tensão da morte de sua mãe, com representações fortes de sufocamentos e dor. Ao contrário de várias de suas obras repletas de cores vivas e vibrantes, a “Série Trágica” reflete totalmente o oposto: os desenhos feitos com grafite são sombrios e a principal atriz é a morte. A série foi apresentada pela primeira vez no Museu de Arte de São Paulo, MASP, em 1949 onde foi repúdiada pelo público. Hoje a ALÉM DA ARQUITETURA | 52 | BRUNO GOBI


série é uma das mais conhecidas do artista.

Imagem 18: Quatro das nove obras da ‘Série Trágica’ de Flávio de Carvalho. 69,4 x 50,4 cm Fonte: MAC USP, sem data.

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A Casa sede da Fazenda Capuava – Casa Modernista de Flávio de Carvalho

No início do século XX, Raul e Ophélia, pais de Flávio, compraram algumas fazendas no estado de São Paulo. Entre elas, a Fazenda Rosário – que viria a se tornar a Fazenda Capuava – antes, propriedade dos Barões de Atibaia22, para investimento na

produção de café. O que era a maior importância econômica do país na época. A enorme fazenda, de aproximadamente 230 hectares, se estendia até a divisa entre Valinhos e Campinas, mas com o passar dos anos, com a urbanização e industrialização que atingiam as cidades do interior de São Paulo, as fazendas foram sendo desmembradas para darem lugar à bairros residenciais com comércios e serviços. O mais preocupante é que atualmente alguns dos bairros como Jardim São Marcos e Jardim São Luiz (antes terras da fazenda Capuava), estão abrigando um 22 A Fazenda Capuava em Valinhos: Estudo de caso de evolução urbana. Souza, Rodrigo Henrique Busnardo de. 2009, Campinas.

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grande número de condomínios residenciais, o que se torna uma ameaça para a Fazenda por conta da especulação imobiliária.

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Mapa 1: Área da Fazenda Capuava. Fonte: Manchas feitas pelo autor em mapa base do Google Earth

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Mapa 2: Condomínios no entorno da Sede da Fazenda. Fonte: Manchas feitas pelo autor em mapa base do Google Earth

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Outras duas fazendas foram adquiridas pela família Carvalho na região: A Fazenda Amazônia e Fazenda Pinheiros. Esta última fazia divisa com a Capuava através do Ribeirão Pinheiros. Foi nela que em 1924 Flávio edifica seu primeiro projeto arquitetônico: uma residência inspirada no estilo europeu, mas seu projeto não teve repercussão e grandes desdobramentos.

Somente em 1938 que Flávio edifica seu ícone arquitetônico, sua ‘máquina de morar’, idealizada por Le Corbusier (1887 – 1965) pela residência Villa Savoye (França - década de 1920) e que foi seguido por arquitetos como Rodrigo Lefèvre, que projetou, entre outras, a residência Dino Zammataro no Butantã/SP na década de 1970.

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Imagem 19: Reprodução de desenhos da Villa Savoye, do arquiteto Le Corbusier. Fonte: Oll + MAG, sem data.

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Imagem 20: Residência Dino Zammataro – Arqº Rodrigo Lefèvre Fonte: Autor, 2018

Imagem 21: Plantas da residência Dino Zammataro, do arquiteto Rodrigo Lefèvre. Fonte: Arquitetura Brutalista, sem data.

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Projetada desde 1929 e construída em 1938, é com a casa sede da fazenda Capuava – fazenda, agora, muito reduzida após os desmembramentos – que o artista retrata o estilo modernista em concreto aparente, sem ornamentações nas fachadas – como era comum ao estilo neoclássico e eclético – fazendo das formas geométricas simples, um conjunto atrativo com uma implantação instigante. Destaca-se, ainda, a construção dos móveis internos, buscando a essência dos materiais (principalmente a madeira e o alumínio) e a artesania contemplada na elaboração manual dos armários e das maçanetas; assim como os externos que extraem as matérias naturais - à exemplo dos bancos e mesas feitos de pedra bruta e o pilar de apoio do vestiário – uma verdadeira ‘pilha de pedras’.

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Imagem 22: Entrada saguão Casa modernista Fonte: Autor, 2019

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Imagem 23: Parede revestida com alumínio - banheiro. Nesta imagem pode-se observar o encanamento original de ferro e um de plástico adicionado depois, provavlemente para superar algum problema rapidamente. Fonte: Autor, 2019 Imagem 24: Detalhe armário. Estrutura feita com tijolos cerâmicos porta de alumínio e batentes de madeira. Fonte: Autor, 2019

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Imagem 25: Um dos conjuntos de bancos e mesa de pedras feitos por Flรกvio de Carvalho Fonte: Autor, 2019

Imagem 26: Pilar de pedra que sustenta a cobertura do antigo vestiรกrio Fonte: Autor, 2019

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Com 650 m² de área construída, distribuídos em quatorze cômodos, a residência é a ‘máquina de morar’ pessoal de Flávio de Carvalho. Em uma entrevista à revista ‘Casa & Jardim’ em 195823, o artista diz que a planta foi executada para sua maneira pessoal de viver e que a arquitetura é sempre uma maneira de viver, expressa na alvenaria e nos materiais (CARVALHO, 1958). Essa ‘maneira de viver’ de Flávio de Carvalho é manifestada em uma arquitetura brutalista24 com referências exordiais, inspirada nos templos egípcios e pré-colombianos, mas, proporcionalmente filosófica e ‘jovial’, com ‘asas’ referenciando às de aviões, simetria e integrações entre interno e externo. Era um templo primitivo e ao mesmo tempo o que havia de mais atual em arquitetura. (CARVALHO, 1944) A reunião de materiais improváveis como o alumínio e a madeira, a escala dos

23 Disponível no processo de tombo do CONDEPHAAT 24 “Postura naturalista, sensualista, organicista, subjetivista/objetivista. Respeita a brutalidade da matéria”. TEMAKI, Teru. Arquitetura sob a luz da filosofia. São Paulo, 1997, Editora Parma, p 72.

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espaços, a preocupação com detalhes como o tipo e a forma das maçanetas e armários, a policromia dos tetos, paredes e colunas, a conexão entre portas e janelas nas quinas de alguns cômodos, a integração entre espaços internos e externos, o paisagismo, enfim, a totalidade arquitetônica foi dimensionada cuidadosamente por Flávio de Carvalho. Mais do que uma máquina de morar, ele conseguiu um ninho ao mesmo tempo primitivo e futurista. (OSÓRIO, 2009, p. 29-35)

Muito mais que um ícone da construção civil, a residência da Fazenda Capuava foi um verdadeiro “harém”, e mais do que isso, um símbolo de liberdade sexual e expressão corporal, onde artistas nacionais e internacionais se reuniam. Algumas práticas eram comumente utilizadas para advertir visitantes desavisados sobre as intimidades ali realizadas. Amigos de Flávio e ex-funcionários da residência relatam que Flávio hasteava uma bandeira para que ninguém ultrapasse os limites, pois na piscina estariam todos nus. Além disso na porteira de entrada havia uma placa com a inscrição “CAVE CANEN”, reme ALÉM DA ARQUITETURA | 68 | BRUNO GOBI


tendo às vilas romanas que utilizavam de tal frase para alertar sobre a a presença de um cão de guarda e afastar possíveis intrusos.

Imagem 27: Flávio de Carvalho pintando Isabel de Oliveira no jardim da Fazenda Capuava em Valinhos, maio de 1973. Fonte: TOLEDO, 1994

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Se com o volume central, a casa torna-se bruta, imponente e voluptuosa, é com extrema delicadeza que suas varandas às laterais quebram a brutalidade e oferecem leveza, em escala bem menor, propícia para abrigo do sol e permanência. Tal delicadeza reflete nos desenhos dos móveis internos, principalmente na mesa de jantar para acomodação de até quatorze pessoas projetada por Flávio, feita com pés de latão entrelaçados em curvas e com tampo de cristal belga de uma polegada de espessura. A iluminação, feita por velas, oferecia para as porcelanas e cristais “reflexos imprevistos” no tampo da mesa25. A entrada principal da residência é feita pelo enorme salão de 16,50 x 7,50 metros (comprimento x largura) e oito metros de altura com uma porta escultural de mesma altura coberta por faixas coloridas. O salão foi projetado para servir de encontro das artes como música, dança e teatro.

25 Revista Casa e Jardim, jan/fev 1958. Apud Processo de tombo CONDEPHAAT

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O pé direito alto induz ao visitante a sensação do teatro, com um mezanino acessado por meio de uma bela escada de madeira. A sensação após a subida ao mezanino, é de um artista que acaba de subir ao palco para uma apresentação, tendo como ponto de vista à “imensidão” do saguão, o que ao contrário se inverte, e do saguão, o mezanino, é o ponto de interesse visual. Um verdadeiro palco. No salão central, uma lareira escultórica não passa despercebida. Flávio uniu os elementos de água e fogo criando, desta forma, um objeto cenográfico. Uma cesta de ferro forjado é aquecida na face inferior pelas chamas, enquanto a face superior recebe jatos d’agua que, em contato com o metal aquecido, evaporam sob luzes coloridas, colocadas ali com a intenção de criar um efeito cenográfico. (LEITE, 2004, p 43).

A casa foi projetada com seis quartos para a recepção de seus visitantes - todos eles com uma cama nada convencional feita com estrados sobre uma base de tijolos e uma

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pia com revestimento de alumínio na parede para evitar a umidade. Importante salientar que nesta época Flávio mantinha uma fábrica de persianas de alumínio, chamada “Tropicalumínio” (TOLEDO, 1994, P. 355) na rua Dom José de Barros, 270 no centro de São Paulo, o que facilitava sua criação e o fazia utilizar o material de diversas maneiras. Na pequena fábrica, Flávio mantinha apenas um funcionário. Um marceneiro japonês, que por curiosamente havia participado de uma das histórias intrigantes de Flávio. Isso porque o marceneiro teria o ajudado a construir um sapato de madeira. Assim como explica J.B Toledo. (...) Na época, após um acidente, quando então um ônibus passou em cima de um de seus pés, Flávio ficara muito mal (...) O artista então projetou um impressionante sapatão, convocou o empregado japonês e mandou confecciona-lo em madeira... Como se pode imaginar, o bizarro aparato fizera extraordinário sucesso na cidade. Com sua altura exagerada, mancando e arrastando a engenhoca envernizada, Flávio

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não era exatamente uma pessoa que pudesse passar despercebida. (...) (...) Irritado com o assédio diário (...) o artista redigiu umas anotações (...) que se chamava A história do pé... e quando perguntado, simplesmente tirava um daqueles papéis do bolso e entregava ao curioso assustado. (TOLEDO, 1994, p. 336 – 337)

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Imagem 28: Casa Modernista. Porta escultural (8 metros) de entrada ao saguão, varandas às laterais e piscina. Fonte: Autor, 2019

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A casa modernista de Valinhos se dividia entre área para visitantes e área intima do proprietário com dois pontos de encontro: O bar e o saguão. A cozinha contava com um sistema incomum para passar os pratos de comida, o que evitava o excesso de pessoas entrando e saindo do cômodo. O sistema, feito por uma pequena passagem de, aproximadamente, 1,60 metros de altura do chão, possibilitava a transposições de pratos.

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Imagem 29: Setorização da Casa modernista Fonte: Feito peloa autor

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Imagem 30: Varanda Casa modernista Fonte: Autor, 2019

Imagem 31: Varanda Casa modernista Fonte: Autor, 2019

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Imagem 32: Saguão principal. À esquerda a lareira feita de alumínio. À frente porta escultórica de 8 metros de altura. O saguão é o local mais iluminado da casa. A porta principal está posicionada ao norte e devido ao aluminío na laje, em alguns momentos a iluminação natural gera sombras e reflexos imprevistos. Fonte: Autor, 2019

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Imagem 33: Lareira É possível ver parte da cesta de ferro que era aquecida por chamas e a parte superior que recebia jatos d’agua, desta forma gerando vapor e criando efeitos visuais. Além disso, nota-se o piso de pedra (provavelmente por conta da água que caía da parte superior), o detalhe de cerâmica no piso - funcionando como transição entre a diferenciação de material. Fonte: Autor, 2019

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Imagem 34: Escada do saguão para mezanino. A escada de madeira, na parte de trás do saguão, tem um desenho simples e muito confortável de subir. Fonte: Autor, 2019

Imagem 35: Detalhe desenho do corrimão feito de madeira. Fonte: Autor, 2019

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Imagem 36: Mezanino. O mezanino é um dos locais onde hoje tráz mais insegurança. Os pisos de madeira rangem por conta da deterioração e ameaçam afundar. Fonte: Autor, 2019

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Imagem 37: Vista do mezanino para porta principal. Parte do alumínio já descolou e foi, provisoriamente preso novamente por moradores locais. Fonte: Autor, 2019

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Imagem 38: Cama fixa, presente em todos os quartos. Base feita com alvenaria e cerâmica. Para o colchão, estrados de madeira e molas. Fonte: Autor, 2019

Imagem 39: Detalhe puxadores janelas basculantes Fonte: Autor, 2019

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Imagem 40: Transposição entre área intíma e saguão. O desenho de piso do corredor acompanha o mesmo desenho do desenho de piso da parte externa, das varandas. Indicando uma mesma linguagem para a relação dentro-fora. Fonte: Autor, 2019

Imagem 41: Transposição entre área intíma e saguão. Fonte: Autor, 2019

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Imagem 42: Paginação em baixo de uma das varandas. Mesma composição do corredor que interliga a área intima ao saguão artístico. Fonte: Autor, 2019

Apesar de desgastadas, além das patologias, pode-se notar a relação entre as cores. Nas vigas, predominância de azul e na laje e pilares, vermelho. Nas vigas expostas ao tempo, concreto aparente.

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Imagem 43: Deterioração de uma das paredes internas. Resultado de enorme quantidade de umidade. Fonte: Autor, 201 Imagem 44: Porta revista de ferro desenhado por Flávio de Carvalho. Fonte: Autor, 2019

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Imagem 45: Vista sala de estar. Fonte: Autor, 2019

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Atualmente, parte da fazenda está sob uso da Associação Cultural Educacional Social e Assistencial Capuava (ACESA Capuava). Uma instituição sem fins lucrativos fundada em 1995 pela Psicomotricista, já falecida, Heloísa de Carvalho Crissiúma - sobrinha e única herdeira de Flávio de Carvalho26. A instituição tem por objetivo o atendimento a pessoas com deficiência por meio de equoterapia, terapia ocupacional, psicologia e fisioterapia. Apesar da associação ter sua própria sede na Fazenda Capuava, a Casa Modernista sempre se manteve interligada à entidade para eventuais confraternizações, festas, reuniões e atividades terapêuticas. Os eventos são realizados nos pomares da casa modernista. Frequentemente os alunos colhem frutas dos pomares e praticam atividades artísticas nas varandas da casa modernista. Porém, pelo estado deteriorado, as atividades começam a ficar mais escassas. As mesas 26 Após seu falecimento, em 2006, a ACESA foi mantida por W de Carvalho Crissiúma por alguns anos.

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e bancos feitos de pedras estão quebrados, quase se misturando com o mato que invade o entorno de toda a casa. Para fins desse trabalho, o autor realizou uma entrevista concedida por Fernanda Teixeira, presidente da ACESA Capuava, em 9 de setembro de 2018. Questionada sobre as condições físicas da edificação, a situação com o CONDEPHAAT e a Prefeitura de Valinhos, Fernanda afirma que:

O Casarão precisa de cuidados e muitos reparos urgentes. Na verdade, ele precisaria de uma restauração completa. A família busca a aprovação para isso no CONDEPHAAT, mas por enquanto aprovaram apenas o projeto de incorporação da Fazenda (em torno do Casarão) e estamos na expectativa de iniciar em breve as obras na Fazenda. Entendo que haverá um processo paralelo com essa incorporação que acelerará o processo de restauro do casarão, nos cuidados da limpeza do Casarão e do jardim em torno,

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afinal temos um “quintal” com tanta riqueza e história que nos orgulha muito. Recebemos atualmente cerca de 200 pessoas que anualmente vem visitar o casarão, sejam alunos de arquitetura, como visitantes internacionais que conhecem e reconhecem o legado do Flavio de Carvalho, muito melhor que nós brasileiros. (Fernanda, presidente da ACESA Capuava)

Em alguns cômodos da residência há vestígios de estudos para uma possível restauração, não aprovada ou se quer requerida no CONDEPHAAT. Algumas peças foram trocadas sem o devido cuidado e aprovação. Após a morte de Heloísa, a associação ficou por um tempo sobre os cuidados de seu filho Ricardo de Carvalho Crissiúma, antes de passar por um momento de dificuldades financeiras e só não falir pela iniciativa de país dos alunos que ajudaram verbalmente, pela continuidade da atual presidente, Fernanda, juntamente com a equipe da ACESA e pela verba passada pela APAE. Pois a prefeitura não fomentou o trabalho.

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O descaso e descuido para com a Casa Modernista de Valinhos é alarmante. É preciso que a Casa Modernista de Valinhos seja inteiramente restaurada, que inspire e atenda os alunos da ACESA Capuava, tão quanto os moradores da cidade e visitantes externos. Portanto será objetivo deste trabalho propor alternativas que alimentem a Fazenda, rememorando a áurea artística que Flávio propagava, evitando o soterramento da obra arquitetônica.

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Resistir/Reexistir: Reflexões novo uso para a casa modernista

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1. Para quem? Diferente de sua atuação como pintor - que há centenas de obras vivas e rememoradas – ou então da atuação como filósofo e analista psicológico – na qual é eternizada em textos, livros e publicações - a casa de Valinhos é a única obra edificada viva e indissociável de Flávio de Carvalho como arquiteto, capaz de se tornar um monumento de sentimentos coletivos para a convivência social, o aprendizado e a transgressão da ideologia flaviana27. A desvalorização cultural de um Bem tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, CONDEPHAAT, de tamanha importância e com grande capacidade de auxiliar no desenvolvimento de atividades sociais na cidade de Valinhos, é incompreensível. O 27 Remete-se aos pensamentos de Flávio de Carvalho

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descaso é grave, a defesa não é feita, os recursos naturais e construtivos da Fazenda Capuava não são partilhados com a sociedade. Isso não pode mais ser ignorado. É necessário um projeto de restauro que atenda às necessidades previamente estudadas e que respeite os limites de intervenção; acima disso é necessário entender que, além de restaurar a casa, é necessário reinseri-la na Fazenda Capuava, com uso para a sociedade. (...) Com toda ação modificadora em um Bem cultural pressupõe o reconhecimento e o entendimento prévio de suas especificidades como premissa para fundamentar qualquer proposta, a valorização de artefatos cada vez mais complexos tem nos colocado diante de grandes desafios interpretativos e operacionais.” (RUFINONI, pag 17, 2013)

Tão quanto Flávio inspirava e reinventava, sua casa necessita ser e passar para quem a usufruirá. É necessário que haja compreensão de como era usada a casa, da separação entre área intima e compartilhada feita por anteparos sutis e a delicadeza ALÉM DA ARQUITETURA | 94 | BRUNO GOBI


entre área externa e interna concebidas por portas e janelas esculturais, que funcionavam como ‘vitrines’ para a paisagem. O desejo do renascimento da casa modernista é para que ela não seja inacessível, isolada no terreno e separada do convívio coletivo. Que haja interatividade entre todos os elementos constituintes da casa e do terreno no qual está inserida. Além de liberdade para o visitante percorrer o todo e utilizar dos equipamentos implementados. Experimentando! Além de tudo, após todos os estudos, fotografias e visitas, vimos que a restauração é urgente. O concreto está deteriorado, assim como muitos pisos - principalmente os externos. As paredes internas e externas estão com grande quantidade de umidade em estado avançado, os móveis fixos ameaçam cair (alguns já caíram), as esquadrias estão se deteriorando e grande parte dos vidros estão quebrados. Frequentemente invasores entram, quebrando portas ou a cobertura. Correm risco e prejudicam mais ainda o patrimônio.

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Imagem 46: Desenho da fachada frontal da casa modernista com as evidências de deterioração. 04/2019 Fonte: Feito pelo autor

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Resistir/Reexistir: Reflexões novo uso para a casa modernista

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2. CIA Paulista, uma oportunidade de ligação

Em 1864, quando a São Paulo Railway Company, responsável pela linha Santos – Jundiaí declarou estar impossibilitada de prolongar a ferrovia até Campinas, um grupo de fazendeiros - com o presidente da província de São Paulo, Conselheiro Joaquim Saldanha Marinho - fundam a Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais28. As obras se iniciaram de fato em 1870 e contemplavam 187 quilômetros de ferrovias a construir, além dos 2.150 quilômetros já existentes29. No mapa inserido no livro “Núcleos Coloniais e Construções Rurais” (2006) do arquiteto Eduardo Carlos Pereira é possível visualizar a relação entre as estra28 Prefeitura de Jundiaí. Disponível em: <https://cultura.jundiai.sp.gov.br/espacos-culturais/museu-da-cia-paulista/historico/>; acesso 19.03.2019 29 PEREIRA, Eduardo Carlos. Núcleos Coloniais e Construções Rurais, Editora Ricardo Ohtake, 2006, p 13

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das de ferro e vias fluviais projetadas e em construção. O arquiteto completa dizendo que “as diversas localidades e o Porto de Santos é uma complexa matriz tridimensional que relaciona as distâncias em quilômetros, altitudes em metros acima do nível do mar, e as temperaturas em graus centígrados” (PEREIRA, 2006).

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Mapa 3: Mapa da Provincia de São Paulo 1886 Fonte:| 101 PEREIRA, ALÉM DA ARQUITETURA | BRUNO2006 GOBI


A estrada de ferro da Companhia Paulista, em um trecho de Valinhos, está inserida ao lado da Fazenda Capuava, em paralelo a Rodovia Flávio de Carvalho. A relação é tão próxima entre ferrovia e fazenda que em um dos trechos da estrada de terra, é necessário passar em baixo de uma das passarelas do antigo percurso do trem. O trecho é estreito, suficiente, apenas, para a passagem de um carro por vez. A estrada de ferro da ligação Jundiaí a Campinas está sem utilização, apesar de ainda existir e de haver projetos do Governo do Estado de São Paulo para sua reutilização como extensão da linha Rubi – hoje interligação entre São Paulo e Jundiaí. Há, portanto, uma oportunidade de fazer da Fazenda Capuava, ponto turístico e cultural do percurso da linha Rubi, facilitando o acesso para interessados na visitação à fazenda.

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Imagem 47: Passagem para Fazenda Capuava, abaixo do trilho de trem Fonte: Autor, 2019

Imagem 48: Antiga ferrovia da CIA Paulista (sentido Jundiaí, hoje sem utilização. Fonte: Autor,2019

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Imagem 49: Trecho Ribeirão Pinheiros Fonte: Autor, 2019

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Mapa 4: Antiga ferrovia da CIA Paulista - Jundiaí a Campinas - atualmente sem uso. Fonte: Autor, 2019

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Mapa 5: - Relação entre Rodovia Flávio de Carvalho, Rodovia José Magalhães, Estrada de Ferro, Ribeirão Pinheiros e Fazenda Capuava. - Comparação entre área antes e depois dos desmembramentos feitos. Fonte: Autor, 2019

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Resistir/Reexistir: Reflexões novo uso para a casa modernista

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3. Proposta de uso para a Fazenda É necessário que a ACESA, além da utilização de sua sede já existente, usufrute da riqueza arquitetural da casa modernista. Um ponto importante para observarmos sobre a casa modernista é que, apesar de sua grande área (650 m²) para uma casa, a sua monumentalidade se perde quando pensamos em uma grande quantidade de pessoas caminhando pelos cômodos, principalmente nos corredores. Além de não ter infraestrutura suficiente para inserção de banheiros públicos, principalmente para pessoas com mobilidade reduzida. Tais fatos nos levam a pensar sobre a necessidade de um anexo que atenda às exigências de acessibilidade e que sirva como complemento das atividades que serão propostas na casa. Porém este anexo não pode e não deve ser uma barreira visual para a paisagem (casa e recursos naturais) ALÉM DA ARQUITETURA | 108 | BRUNO GOBI


e que impeรงa a linearidade do percurso ao visitante.

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Imagem 50: Simulação pessoas nos corredores da casa. Estreitamento, Relação de escala. Fonte: Autor, 2019

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Imagem 51: Simulação pessoas nos corredores da casa. Estreitamento, Relação de escala. Fonte: Autor, 2019

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“Como, então, criar um anexo que não desrespeite a construção principal?”

A casa modernista foi implantada na cota mais alta do terreno da fazenda, que funciona, praticamente, como um platô natural. Entre o nível mais baixo (considerado neste caso nível zero) e o mais alto (onde está implantada a casa) há o nivel da piscina, com aproximadamente 3,30 metros acima do nível zero. A profundidade do lado mais fundo da piscina tem, praticamente, a altura deste platô. Portanto, se imaginarmos um corte de terra rente ao chão da piscina - na maior profundidade – chegaremos justamente em nível para a cota abaixo, de acesso para a casa. Desta forma, conseguimos refletir sobre a oportunidade de usarmos um acesso subterrâneo para o anexo. ALÉM DA ARQUITETURA | 112 | BRUNO GOBI


Já nos foi apresentado por alguns arquitetos, soluções subterrâneas que atenderam muito bem a necessidade como, por exemplo, a Catedral de Brasilia projetada por Oscar Niemeyer, o Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia projetado por Paulo Mendes da Rocha e o Museu Maritímo Nacional da Dinamarca, projetado por Bjarke Ingels. No caso do anexo pretendido para a Fazenda Capuava, a intenção é gerar para o visitante uma entrada com escala apropriada e não monumental, que funcione como um ‘convite’ de passagem para a casa modernista, passando por dentro da piscina com destino às varandas da casa. Um mergulho na piscina de Flávio de Carvalho. É necessário sempre lembrarmos sobre monumentalidade da piscina, tão quanto a casa. A permeabilidade visual deverá ser respeitada, por isso a importância da escala baixa do anexo, do seu uso subterrâneo e com destino a casa, no ponto mais alto do terreno e mais importante.

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Imagem 52: Entrada Catedral de Brasilia - Arqยบ Oscar Niemeyer Fonte: eyeem, 2019

Imagem 53: Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia - Arqยบ Paulo Mendes da Rocha Fonte: Autor, 2017

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Imagem 54: Museu Marítimo Nacional Dinamarquês - Arqº Bjarke Ingels Fonte: Archdaily, 2013

Imagem 55: Corte Museu Marítimo Nacional Dinamarquês - Arqº Bjarke Ingels. Fonte: Archdaily, 2013

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Imagem 56: Piscina - monumentalidade Fonte:Autor, 2019

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“Qual será o uso? Quem vai utilizar?”

Após análises do mapa de atrativos turísticos elaborado e disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Valinhos, identificamos que há ausência de atrativos culturais que incentivam às artes e cultura. Neste mapa está inclusa a Casa Modernista da Fazenda Capuava e isso evidencia mais uma fragilidade deste mapa: - Valinhos entende a importância não só da Casa Modernista, mas sim de Flávio de Carvalho, mas o mapa indica uma potência turística subjetiva, pois quando se indica a Casa conota-se que tal atrativo tenha estrutura para receber todo e qualquer tipo de público - o que, absolutamente, não corresponde com a realidade atual. Nosso relatório fotográfico prova o contrário e mostra os riscos que a casa e ALÉM DA ARQUITETURA | 118 | BRUNO GOBI


os visitantes correm;

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Outro problema está no Mapa de Zoneamento da cidade, pois além de o Plano Diretor estar atrasado em quatro anos em sua revisão, não há nada no zoneamento que garanta proteção a um dos maiores Bens de Valinhos. A Fazenda está inserida na Zona Mista 1 (2a2) que permite qualquer tipo de construção até dois pavimentos. No mapa de unidades de conservação, também elaborado e divulgado pela Prefeitura, a grande área verde não está demarcada como uma das “áreas protegidas”.

Mapa 7: Mapa de Zoneamento da cidade de Valinhos/SP 2004 Fonte: Prefeitura Municipal de Valinhos, 2004

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Baseado nas análises dos mapas de atrativos, importância do Bem, na história de Flávio e de como a Fazenda funcionaca como estruturadora do movimentos artístico moderno, propomos a restauração da casa modernista de acordo com sua origem e com o uso dinâmico, artístico, que remeta aos frequentadores quase tudo o que foi Flávio, com liberdade. A casa do povo, no Bairro Bom Retiro em São Paulo, parte de uma politíca parecida: Ela resgata a memória dos judeus com atividades. É assim que Benjamin Seroussi, diretor da casa do povo, se refere ao edifício. “Um local que homenageia (os judeus) por meio de atividades e não por meio de um memorial onde você estocaria a memória dos judeus. Um monumento vivo. Um lugar vazio que têm que ser preenchido por meio de ações.” (SEROUSSI, 20)

A nossa proposta é parecida: Trazer para a casa atividades culturais e artísti ALÉM DA ARQUITETURA | 122 | BRUNO GOBI


cas que remetem à Flávio, mas que os grandes protagonistas sejam os visitantes. Tudo que é criado lá é para lá. Nos pomares serão plantados pés de urucuns, açafrão, entre outros, para a criação de tintas naturais em oficinas específicas. As tintas serão usadas em ateliês de pintura, escultura e criação de figurinos. Os figurinos serão utilizados em peças teatrias, as pinturas e esculturas serão expostas na sala de exposições que ficará “imerso” na antiga piscina, onde é a passagem principal, a entrada, o mergulho antes da chegada a casa - onde estarão implantados os ateliês. Tudo isso gera um ciclo que se desenvolve naturalmente conforme o uso dos visitantes e participantes. A casa estará sempre se rovando. O anexo servirá como apoio a casa. É lá que terão os banheiros, as exposições, as atividades, o café e o acervo.

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Reflexão sobre a cobertura do anexo/ piscina. Em exposição no MALBA - Buenos Aires, a exposição “Liminal” de Leandro Erlich retrata muito bem como desejamos relacionar a piscina como passagem. No MALBA, Erlich cria experiências para o expectador que desafiam a intuição e percepção, o incomum, a ilusão. Das vinte e uma instalações no museu, uma chama a atenção pela coincidência com o projeto para o anexo da casa modernista que propomos, pois o visitante que está dentro de uma piscina instalada entre o primeiro e segundo nível do museu, vê o visitante que está fora e vice-versa. Isso tudo através de uma película de vidro e água.

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Imagem 57: Liminal de Leandro Erlich Fonte: SeanKelly, 2019

Imagem 57: Liminal de Leandro Erlich Fonte: TN, 2019

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Outro fato que estrutura nosso projeto é que após uma conversa com o superintendente do IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Victor Hugo Mori, o mesmo informou sobre uma restauração aprovada para a casa modernista, o que seria uma ótima notícia e um passo importante para o reconhecimento desde Bem. Isso se não fosse pela notícia que Mori daria em seguida de que, na realidade, a restauração é para o uso de um condomínio. Ou seja, todos os riscos que apontamos sobre a invasão dos condomínio na fazenda se tornam reais. Victor Hugo Mori não soube responder sobre o que aconteceria com a ACESA Capuava. Gentilmente o superintendente do IPHAN disponibilizou seu parecer.

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA CONDEPHAAT

Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado

PROCESSO 75384/2015 Restauro da Casa de Flávio de Carvalho em Valinhos Interessado: Arquiteto Ricardo Leite Filho Data: 10/01/2019 Em abril de 2018 relatei dois processos que envolvem a restauração da Casa de Flávio de Carvalho em Valinhos. O primeiro era sobre o loteamento proposto na área da antiga Fazenda Capuava (Processo 75279/2015) e o segundo era o presente Processo 75384/2015 que trata do projeto de restauração da casa sede da Fazenda. O loteamento foi aprovado em conformidade com o meu relatório e o segundo processo o Conselho acompanhou o meu parecer para a emissão de comunique-se com sete itens em conformidade com o parecer da UPPH fls. 255 e 256. O arquiteto Ricardo Leite Filho atendeu satisfatoriamente todos os itens da diligência segundo o parecer do arquiteto Flávio Moraes da UPPH que se posicionou favoravelmente ao projeto. No nosso parecer anterior escrevemos que “a primeira fase da residência foi terminada em 1939 e foi sendo ampliada nos anos de 1940 e adquiriu a configuração definitiva no início dos anos de 1950. Felizmente o arquiteto contratado Ricardo Leite foi o autor de um importante registro fotográfico na década de 1980 quando a casa ainda não tinha sofrido o processo de degradação que se apresenta hoje”. Nesta versão final do projeto final ora apresentado, o autor do projeto defende a proposta de restaurar a configuração da casa no momento da morte do arquiteto Flávio de Carvalho. Decisão crítica acertada no meu entendimento, afinal a edificação nasceu com a intenção estética de ser moderna empregando técnicas construtivas arcaicas dissimuladas por platibandas e estuques e somente a partir da década de 1940 foi adquirindo a feição moderna que conhecemos hoje. Foi um projeto que se desenvolveu e se transformou ao longo da vida do autor. Com elogios ao projeto apresentado, apresento meu voto favorável à aprovação seguindo o parecer técnico da UPPH.

Arq. Victor Hugo Mori Representante IPHAN-SP

Imagem 58: Parecer de Victor Hugo Mori, representante do IPHAN. Fonte: Cedida gentilmente pelo Sr. Victor.

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A contradição está na continuidade desta conversa, quando Victor Hugo Mori informa sobre um suposto testemunho que Flávio deixou no IPHAN antes de sua morte. Na declaração Flávio pedia para que a casa se transformasse na “Fundação Flávio de Carvalho”, para que assim houvesse proteção da construção. O que aconteceu com essa declaração? Perante essas problemáticas e controvérsias, apresentamos nossa proposta para a

FUNDAÇÃO FLÁVIO DE CARVALHO!

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