Avifauna das restingas de Mongaguá/Itanhaém

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A avifauna das florestas de restinga de Itanhaém/Mongaguá, Estado de São Paulo, Brasil

ISSN 1981-8874

9 771981 887003

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Bruno Lima1 No litoral médio do Estado de São Paulo, a área de Itanhaém/Mongaguá foi recentemente considerada como uma área importante para a conservação das aves no Brasil (Bencke et al., 2006). Ela engloba a extensa planície arenosa localizada entre a rodovia Padre Manuel da Nóbrega (SP-55) e as encostas baixas adjacentes não protegidas pelo Parque Estadual da Serra do Mar sob as coordenadas: 24º06'S, 46º45'W. (Figura 1) Os municípios de Itanhaém/Mongaguá estão localizados na Região Metropolitana da Baixada Santista -SP, que engloba oito cidades: Bertioga, Guarujá, Santos, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe, onde originalmente esta vegetação estendia-se por um território de aproximadamente 423 km2. Da totalidade das florestas de restinga originalmente existentes na Baixada Santista restam, com estrutura fisionômica e composição florística preservadas, aproximadamente 22% (90km2) (Guedes et. al, 2006). Essa parte da planície litorânea paulista ainda apresenta remanescentes significativos de floresta de restinga, cujo dossel atinge até 20 m de altura nos trechos menos alterados (Buzzetti, 1996). Entretanto, o conhecimento sobre sua avifauna ainda é escasso, restringindo-se a um resumo publicado por Buzzetti (1996) no V Congresso Brasileiro de Ornitologia. Com a finalidade de divulgar o conhecimento qualitativo da avifauna dessas florestas de restinga, foram realizadas visitas à região, entre março de 2006 e maio de 2009. Os registros de aves basearam-se em observações visuais, feitas com o auxílio de binóculos Zeiss 10 X 50, além de identificação de vocalizações, registradas com um gravador Sony TCM-5000 EV, equipado com um microfone Azden ECZ-660. Foram feitas observações durante todos os períodos do dia, incluindo observações noturnas. Foram registradas 262 espécies de aves durante os levantamentos conduzidos no presente estudo (Figura 2). Estão compreendidas neste conjunto, desde espécies com populações localmente reduzidas até algumas que aparentemente apenas mais recentemente colonizaram a região. Foram encontradas 12 espécies ameaçadas: Crypturellus noctivagus, Aburria jacutinga, Leucopternis lacernulatus (Figura 3), Touit melanonotus, Amazona brasiliensis (Figura 4), Myrmotherula minor, Platyrinchus leucoryphus (Figura 6), Carpornis melanocephalus (Figura 5), Procnias nudicollis, Tangara peruviana (Figura 7), Sporophila frontalis e Sporophila falcirostris. Além disso, 12 fazem parte da categoria de quase-ameaçado:Tinamus solitarius, Triclaria malachitacea, Ramphodon naevius, Baillonius bailloni, Dysthamnus stictotoraxm, Myrmotherula unicolor (Figura 8), Merulaxis ater, Scytalopus indigoticus (Figura 9), Hemitriccus orbitatus, Phylloscartes paulista, Cyanocorax caeruleus (Figura 10) e Thraupis cyanoptera. As restingas da região também abrigam a população mais setentrional de Amazona brasiliensis (papagaio-de-cara-roxa), psitacídeo seriamente ameaçado, atualmente restrito a estreita faixa costeira entre Mongaguá e o litoral sul do Paraná (Martuscelli, 1995). Em citação de Buzzetti (1996), haviam pelo menos 80 indivíduos em Itanhaém em meados da década de 1990. Em censos realizados mais recentemente (2006-2009), foram encontrados 128 indivíduos, que habitam desde as restingas do Rio Aguapeú, em Mongaguá, até Peruíbe. A espécie reproduz-se nas proximidades do Rio Preto, em Itanhaém, onde também há um conhecido local de repouso coletivo.

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Figura 1. Mapa do Estado de São Paulo, localizando a Região Metropolitana da Baixada Santista. Em verde, a área de estudo.

Figura 3. Entre os gaviões, destaca-se o ameaçado gavião-pombo-pequeno (Foto: Rafael Bessa). Atualidades Ornitológicas On-line Nº 153 - Janeiro/Fevereiro 2010 - www.ao.com.br


Figura 2. Lista das aves das florestas de restinga de Itanhaém/Mongaguá-SP

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Figura 4. A região é o limite setentrional do papagaio-de-cara-roxa (Foto: Robson Silva & Silva).

Figura 5. O sabiá-pimenta é um Cotingídeo ameaçado, que tem nas matas da região um importante refúgio (Foto: Rafael Bessa).

Am: espécies ameaçadas de extinção, de acordo com a BirdLife International (http://www.birdlife.org/datazone/species/index.html) NT: espécies quase-ameaçadas(near threatened), de acordo com a IUCN (http://www.iucnredlist.org/static/categories_criteria_3_1) * : espécies incomuns para o litoral de São Paulo ** : primeiro registro documentado para o Estado de São Paulo E: provável escape ou soltura de cativeiro R: registrado por Buzzetti (1996) Atualidades Ornitológicas On-line Nº 153 - Janeiro/Fevereiro 2010 - www.ao.com.br

Figura 6. Raro, o patinho-grande habita o sub-bosque das matas de restinga (Foto: Rafael Bessa).

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Figura 11. Primeiro registro documentado de gavião-de-rabo-barrado para o Estado de São Paulo. Foto: Robson Silva & Silva.

Figura 7. A saíra-sapucaia é um ameaçado habitante das restingas da região (Foto: Públio Penha)

Figura 8. A choquinha-cinzenta pode ser ouvida com freqüência no sub-bosque (Foto:Rafael Bessa).

Figura 9. O discreto macuquinho ainda é comum na região (Foto: Alexandre Faitarone).

Neste local também foi realizado o primeiro registro documentado do gavião-de-rabo-barrado (Buteo albonotatus) (Figura 11) para o Estado de São Paulo, fotografado em 14/05/2009. Essa espécie já foi avistada anteriormente por alguns pesquisadores, mas ainda permanecia sem registros documentados. Segundo consta na “Lista das Aves do Estado de São Paulo” (CEO, versão 15/01/2009), o registro dessa espécie em São Carlos é questionado por Willis & Oniki (2003), que consideram poder tratar-se de Buteo albicaudatus. Há entretanto registros mais recentes na Ilha do Cardoso (Martusceli, Olmos & Galetti 2001), na Casa da Bocaina (Serra da Bocaina), Itapetininga e Morro Grande (CEO), Brotas em 2005 e 2006 (Marco Granzinolli, Ornitobr). Há uma comunicação pessoal de Fabio Olmos na Billings e outra em Pilar do Sul-SP, além da mais recente observação no Parque do Ibirapuera em São Paulo-SP, em 08/08/2009 (Fernando Igor, com.pess).Um registro documentado é, portanto, de interesse para a confirmação definitiva da ocorrência dessa espécie no estado, o que já é esperado por sua distribuição geográfica conhecida. Trata-se de uma área de extrema importância, principalmente devido à presença de populações de 11 espécies de aves ameaçadas, incluindo endemismos (ou quase endemismos) das florestas de baixada. A maioria dessas aves ocorre em poucas áreas protegidas na Mata Atlântica devido à exclusão sistemática das matas de baixada das unidades de conservação existentes (Aleixo & Galetti, 1997). No entanto, apesar de as formações florestais de restingas serem protegidas por diversos diplomas legais, em parte por serem consideradas Áreas de Preservação Permanente (APPs) pelo Código Florestal (Lei Federal nº 4.771) e pela Resolução nº 303/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), essa proteção, não constitui, por só uma garantia de proteção desse ecossistema, o qual deve ser preservado por meio da criação de reservas e unidades de conservação, públicas e privadas, de forma a assegurar sua perpetuação (Sampaio et al., 2005). Agradecimentos Muitos pesquisadores me ajudaram e contribuíram para o conhecimento da avifauna desta região: Antônio Silveira, André de Luca, Carlos Gussoni, Carlos Aulicino, Fábio Olmos, Fábio Schunck, Lafaiete Alarcon, Luiz Fernando de A. Figueiredo, Rafael Bessa, Robson Silva & Silva e Tatiana Pongiluppi. Referências Bibliográficas Aleixo, A. & M. Galetti (1997) The conservation of the avifauna in a lowland Atlantic Forest in south-east Brazil. Bird Conservation International, 7: 235-261 Bencke, G.A., G.N. Maurício, P.F. Develey & J.M. Goerck (2006) Áreas Importantes para a Conservação das aves no Brasil: parte I - estados do domínio da Mata Atlântica. São Paulo: SAVE Brasil. Buzzetti, D.R.C. (1996) Aves de floresta de restinga em Itanhaém, litoral sul do Estado de São Paulo, Brasil. Resumos do V Congresso Brasileiro de Ornitologia, Campinas, p.17. Guedes, D., M.L. Barbosa, E.S. Martins (2006). Composição florística e estrutura fitossociológica de dois fragmentos d floresta de restinga no Município de Bertioga, SP, Brasil. ACTA Botânica Brasílica, vol 20 (2): 299-311. Martuscelli, P. (1995) Ecology and conservation of the Red-tailed Amazon Amazona brasiliensis in southeastern Brazil. Bird Conserv. Internat. 5:405-420. Sampaio, D, V.C. Souza, A.A. Oliveira, J. Souza-Paula, R.R. Rodrigues (2005). Árvores da Restinga – Guia de Identificação. Editora Neotrópica. São Paulo-SP.

Figura 10. A gralha-azul é um típico habitante das matas de restinga (Foto: Robson Silva & Silva).

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1. Rua Teixeira de Freitas, 05, apt.13. Bairro: Campo Grande CEP:11075-720. Santos-SP e-mail: buiolima@gmail.com Atualidades Ornitológicas On-line Nº 153 - Janeiro/Fevereiro 2010 - www.ao.com.br


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